Artigo Mestrado Epistemologia JoaoCaldas
Artigo Mestrado Epistemologia JoaoCaldas
Resumo
Este artigo propõe uma reflexão crítica sobre a relação entre sociedade e natureza no pensamento
geográfico, analisando suas bases epistemológicas e sua evolução histórica. O artigo estrutura-se em
quatro eixos principais: (1) um resgate histórico das concepções de natureza no pensamento ocidental,
evidenciando sua evolução nas matrizes epistemológicas; (2) uma análise dos paradigmas da
geografia moderna, com foco nas contribuições de Forster e Kant; (3) uma discussão sobre a relação
sociedade-natureza no materialismo histórico e dialético, enfatizando sua manifestação no modelo
capitalista de produção; e (4) uma articulação entre autores para explorar as perspectivas
epistemológicas atuais sobre a relação sociedade-natureza na geografia. O objetivo é promover uma
compreensão mais profunda e crítica das dinâmicas entre sociedade e natureza, destacando a
necessidade de superar dicotomias e hierarquias que ainda permeiam o pensamento geográfico, em
direção a abordagens mais integradas e dialéticas.
Abstract
This article proposes a critical reflection on the relationship between society and nature in geographic
thought, analyzing its epistemological foundations and historical evolution. The article is structured
around four main axes: (1) a historical overview of the conceptions of nature in Western thought,
highlighting their evolution within epistemological frameworks; (2) an analysis of the paradigms of
modern geography, focusing on the contributions of Forster and Kant; (3) a discussion on the
society-nature relationship within historical and dialectical materialism, emphasizing its manifestation
in the capitalist mode of production; and (4) an articulation of authors to explore current
epistemological perspectives on the society-nature relationship in geography. The aim is to promote a
deeper and more critical understanding of the dynamics between society and nature, emphasizing the
need to overcome dichotomies and hierarchies that still permeate geographic thought, moving toward
more integrated and dialectical approaches.
Introdução
A construção do pensamento geográfico contemporâneo está diretamente atrelado às
relações entre sociedade-natureza, sendo influenciado por diferentes concepções
teórico-epistemológicas do pensamento ocidental, principalmente as advindas do pensamento
1
Mestrando do Programa de Pós Graduação em Geografia, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC-Rio,
Bolsista CNPq.
grego-romano e judaico-cristã (PORTO-GONÇALVES, 2011). Por sua vez, esses
pensamentos influenciaram fortemente a construção do pensamento geográfico de Foster,
Kant, Humboldt, Ritter, Vidal de La Blache, Ratzel, Tricart dentre outros geógrafos
precursores (MOREIRA, 2011).
O debate sobre a relação sociedade-natureza se desenvolve desde a Antiguidade até o
período medieval, atravessando o Iluminismo e se estendendo à sociedade ocidental
contemporânea. Esse percurso é construído a partir das diferentes interpretações sobre o
termo “natureza” e sobre a “relação sociedade-natureza”, sendo, por vezes, abordado dentro
de um espaço ontológico, em busca de um entendimento fundamental do tema, até análises
teórico-metodológicas, que se articulam com direcionamentos mais práticos, os quais se
evidenciam hoje nas relações e contradições da produção capitalista do espaço.
(RODRIGUES et al, 2014).
Neste contexto introdutório, o presente artigo tem como objetivo promover uma
reflexão sobre a relação entre sociedade e natureza no pensamento geográfico, utilizando
como ferramenta analítica as epistemologias abordadas ao longo da disciplina “Teoria e
Epistemologia da Geografia”, ofertada no programa de pós-graduação em Geografia da
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e ministrada pelo professor Dr. Gustavo
Godinho em 2024. Além da bibliografia abordada em sala de aula, serão também utilizados
autores externos, com o objetivo de enriquecer a discussão proposta neste artigo.
Para isso, o artigo se desdobra em quatro tópicos fundamentais: O primeiro
consistindo em um resgate do pensamento ocidental sobre natureza ao longo do tempo,
buscando demonstrar a evolução das suas concepções dentro das matrizes epistemológicas
ocidentais; o segundo é relativo a abordagem dos paradigmas da geografia moderna acerca da
natureza, usando como base principal o pensamento de Forster e Kant debatido
principalmente no artigo de Ruy Moreira (2006); o terceiro tópico é relacionado relação entre
sociedade-natureza dentro do materialismo histórico e dialético e sua manifestação no
modelo capitalista de produção; e no quarto momento temos uma tentativa de articulação
entre autores sobre as perspectivas geográficas epistemológicas da relação
sociedade-natureza na contemporaneidade.
As raízes dessa separação remonta da Grécia antiga, onde uma matriz filosófica se
desenvolve e frutifica com os pensadores Tales, Parmênides e Zenão, dentro de um
entendimento segundo o qual o universo, considerado aqui como natureza, se constitui como
ser único, imutável, imovel e perfeitamente estável (PORTO-GONÇALVES, 2011). Esses
pensadores germinaram para o pensamento contemporâneo o aspecto dualista, fragmentado e
de separação predominante no pensamento atual. Morin (2008) apresenta a gênese da
construção do pensamento grego em relação a divisão dos aspectos elementares que
compõem a natureza:
“O mito grego dissocia cronologicamente o caos original, espécie de universo
monstruoso onde Urano, o Furioso, copula com a mãe. Gaia, e destroi os filhos, do
cosmo, universo organizado onde reina a regra e a ordem. Esquecendo Heraclito, o
pensamento grego clássico opunha logicamente Ubris, a desmedida arrebatada, à
Diké, a lei e o equilíbrio. Nós somos herdeiros deste pensamento dissociativo. Aliás,
esquecemos a Ubris e o Caos. A ciência clássica não sabia que fazer com um caos
original num universo eterno e substancialmente ordenado. Chegara até, no princípio
do século XX, a dissolver a ideia de cosmo, isto é, dum universo constitutivo de uma
totalidade singular, em proveito duma matéria/energia física, indestrutível e incriada,
que se estende até ao infinito. Nesta física, como já disse, a ideia grega de physis rica
de um princípio imanente de organização desaparecera e o conceito de organização
estava ausente (MORIN, 2008, p.59)”.
Nesse sentido, como apresentado por Morin (2008) na passagem acima, “Nós somos
herdeiros deste pensamento dissociativo”, condicionados a compreender as relações de forma
separada e objetificando a natureza enquanto unicamente material e objetiva.
Com Aristóteles e Platão, tem-se o desenvolvimento inicial do que viria a ser o
pensamento moderno sobre a natureza (PORTO-GONÇALVES, 2011), promovendo uma
compreensão hierarquizada do pensamento humano em relação à natureza, que passa a ser
vista unicamente como recurso material disponível. Nesse contexto, são excluídos os
aspectos naturais, espirituais e de totalidade que compunham a natureza, o que favorece a
percepção de uma separação entre o humano e o natural. Porto-Gonçalves (2011) expressa
essa ideia da seguinte forma: “É com Platão e Aristóteles que se começa a assistir a um certo
“desprezo pelas pedras e pelas plantas” e a um privilegiamento do homem e da ideia.”
Durante a ideia média temos o encontro do pensamento grego com o pensamento
judaico-cristã, consequentemente, o encontro de novas abordagens epistemológicas faz com
que o conceito de natureza atravesse um processo de remodelação. Com a força da igreja
católica presente, os novos dogmas do cristinismo perpetuaram a compreensão da separação
entre humano e natureza, caracterizada na doutrina como a separação entre espírito e matéria
(PORTO-GONÇALVES, 2011). Porto-Gonçalves (2011) expõe da seguinte forma essa
dinâmica:
“[...] Mas foi sobretudo com a influência judaico-cristã que a oposição
homem-natureza e espírito-matéria adquiriu maior dimensão. Os cristãos vão afirmar
decididamente que "Deus criou o homem à sua imagem e semelhança". Note bem: o
homem foi criado à imagem e semelhança de Deus (Deus aqui aparece com letra
maiuscula e não como para os pré-socráticos). O homem é, assim, dotado do
privilégio. Com o cristanismo no Ocidente, Deus sobe aos céus e, de fora, passa a
agir sobre o mundo imperfeito do dia-a-dia dos mortos. Localizado num lugar
privilegiado, estratégico, do alto, Deus a tudo vê e controla. A assimilação aristotélica
platônica que o crstianismo fará em toda a Idade Média leva à cristalização da
separação entre espírito e matéria [...] (PORTO-GONÇALVES, 2011, p.32).”
A ciência moderna parte desse paradigma para uma forma de desenvolvimento
direcionado para o aspecto pragmático e funcional, e o século XIX constituirá esse momento
de consolidação do pensamento moderno científico ocidental e catalização do processo
capitalista de produção e acumulação através do desenvolvimento técnicas cada vez mais
complexas e artificiais, Santos (2006) discorre que, segundo Simondon (1958, 1989), "quanto
mais próximo da natureza é o objeto, mais ele é imperfeito e, quanto mais tecnicizado, mais
perfeito, permitindo desse modo um comando mais eficaz do homem sobre ele. Assim, o
"objeto técnico concreto" acaba por ser mais perfeito que a própria natureza.”
2
Foi um astrônomo, matemático e geógrafo egípcio, responsável por sintetizar e matematizar a obra de seus predecessores. Criou um sistema cosmológico,
baseado na teoria geocêntrica de Aristóteles, descrito no tratado: "A grande síntese", geralmente citada com o título árabe, "Almagesto", sua mais conhecida
obra (Retirado do Acervo Museológico dos Laboratórios de Ensino de Física da UFRGS. [Consult. 2025-02-02] Disponível em
https://www.ufrgs.br/amlef/glossario/claudio-ptolomeu/
3
Geógrafo holandês, nascido em 1622 e falecido em 1650, foi na Alemanha que publicou Geographia Generalis, obra com grande importância no
desenvolvimento do pensamento geográfico nos séculos XVII e XVIII, onde faz uma distinção clara entre os dois ramos da geografia - a geografia geral e a
geografia regional. Considerado um precursor da geografia moderna, sintetizou os conhecimentos geográficos que se foram acumulando desde os
Descobrimentos e aceitou plenamente a concepção copernicana do Universo (Porto Editora – Bernardo Varenius na Infopédia . Porto: Porto Editora. [consult.
2025-01-14 18:26:01]. Disponível em https://www.infopedia.pt/$bernardo-varenius
Forster estabelece o caráter teórico-metodológico da geografia moderna, promovendo
uma “arrumação sistemática”. Seu método se consolida a partir da observação detalhada dos
fenômenos, sua classificação e comparação, estudando minuciosamente a superfície terrestre
e sistematizando as informações dentro de categorias analíticas, dando curso ao projeto
modernizante da geografia dentro de um entendimento epistemológico consolidado entre a
separação homem-natureza. Moreira (2006) aponta que Tatham (1959) resume as ideias de
Forster da seguinte forma:
“Forster considerava a geografia do ponto de vista prático. Despertava-se-lhe o
interesse apenas pelo contato direto com uma variedade de naturezas em diversas
partes da terra, e sua contribuição é o método adotado por ele no tratamento dos
dados arrecadados. Dotado de acurados dotes de observação, assim como científica
tendência de espírito, colecionava fatos, comparava-os e classificava-os, e extraia
dessa classificação generalidades com as quais procurava, então, a explicação da
causa. O tratamento sistemático da matéria é sobejamente demonstrado na
classificação de suas observações no Mares do Sul [...]” (Tatham, 1959, p.204 citado
por Moreira, 2006, p.15).
4
Médico e naturalista sueco, estudou na Universidade de Upsala e dedicou-se aos estudos botânicos em primeiro lugar. Membro de diversas academias
científicas, em contato com cientistas holandeses e franceses como os naturalistas do Jardin des Plantes de Paris, celebrizou-se por ter proposto um sistema de
classificação das espécies em sua obra Systema Naturae, cuja primeira versão data de 1735 (Arquivo Nacional. [consult. 2025-02-02 15:53:24] Disponível
emhttp://www.historiacolonial.arquivonacional.gov.br/glossario/index.php/verbetes-de-a-a-z/32-verbetes-iniciados-em-l/836-lineu-carl-von-1707-1788
Para Kant, o papel da geografia no mundo se focaliza na observação e descrição do
mundo, deslocando seu olhar de forma exclusiva para sua objetividade material. Moreira
(2006) expõe da seguinte forma abordagem kantiana na geografia:
“Daí que para Kant a geografia possa descrever e a história narrar os fenômenos que
formam o mundo: a geografia na ordem da distribuição das coisas na extensão que
nos cerca…Kant relacionada a geografia, portanto, a percepção espacial dos
fenômenos. E por isso a classifica com uma ciência da natureza. Entende-se por
natureza, nos tempos de Kant, algo diferente do entendimento atual. Natureza é todo
o mundo na percepção sensível, o mundo objetivo…”(MOREIRA, 2006, p.19).
A "brecha metabólica" descrita por Marx e retomada por Fraser (2014) evidencia os
impactos profundos e muitas vezes irreversíveis desse modelo de desenvolvimento para a
natureza. Portanto, é necessário direcionar nossos esforços epistemológicos para alternativas
que reconheçam a interdependência entre seres humanos e ecossistemas, valorizando práticas
sustentáveis e saberes tradicionais que promovam uma convivência mais harmoniosa e justa
com o planeta.
Para conduzir a análise da transformação entre sociedade e natureza, e as inscrições e
marcas na superfície da terra que emergem desse processo, a geografia cultural saueriana se
apoia profundamente no conceito de paisagem. Suertegaray (2019) aponta que, para Sauer, a
paisagem seria um complexo de influências, resultante de fatores culturais e naturais em
intervenção, derivando em feições materiais, associadas a processos históricos de constituição
(SUERTEGARAY, 2019). A autora ainda ainda discorre que na Geografia Cultural a
concepção de paisagem se relacionada diretamente com a forma, sendo analisada dentro de
uma condição de funcionalidade, estando ligada, nesse sentido, a fatores ecológicos, mas
moldada dentro diversidade cultural a partir dos múltiplos usos e modos de vida existentes
(SUERTEGARAY, 2019).
Na Geografia Decolonial, encontramos uma corrente de pensamento que busca
questionar as bases eurocêntricas e colonialistas que fundamentaram a ciência ocidental.
Surgindo a partir do pensamento decolonial, essa abordagem tem como foco principal a
crítica à colonialidade do poder e a valorização de outras formas de conhecimento e práticas
que emergem de povos historicamente marginalizados, como as populações tradicionais.
Essas epistemologias e modos de vida oferecem perspectivas alternativas para entender e
vivenciar a relação entre sociedade e natureza, desafiando as estruturas dominantes e
propondo a observação de outros caminhos possíveis.
Nessa perspectiva, compreendemos que a crise civilizatória que vivemos atualmente
está diretamente atrelada à crise ambiental. Enrique Leff (2019, p.19) faz a seguinte reflexão:
“A crise ambiental é uma crise do conhecimento: da dissociação entre o ser e o ente à lógica
autocentrada da ciência e ao processo de racionalização da modernidade guiada pelos
imperativos da racionalidade econômica e instrumental. O saber que emerge dessa crise, no
campo da externalidade das ciências, questiona os paradigmas estabelecidos, abrindo as
portas do conhecimento para o saber negado. Desta maneira, o saber ambiental vai
derrubando certezas e abrindo raciocínios.”
A abordagem epistemológica pós-estruturalista, dentro do pensamento geográfico
contemporâneo e das ciências sociais como um todo, tem como emergência uma crítica às
visões estruturalistas e a busca por uma superação dessas estruturas, questionando relações,
os aspectos dicotômicos e valorizando a multiplicidade das relações sociais e naturais. A
abordagem pós-estruturalista percebe a separação sociedade-natureza como algo construído
pela modernidade ocidental, não fazendo sentido para outras culturas que possuem
abordagens mais integradoras.
Um aspecto interessante trazido por essa corrente de pensamento é a ideia de que não
apenas os humanos têm agência, entendida como a capacidade de agir e influenciar. Autores
como Bruno Latour (1996) (na Teoria Ator-Rede) argumentam que não-humanos (animais,
plantas, rios, tecnologias etc.) também têm agência e participam ativamente das redes
socioambientais.
Dessa forma, podemos perceber que as epistemologias contemporâneas do
pensamento geográfico têm avançado na compreensão da relação entre sociedade - natureza
como um processo dinâmico, complexo e interdependente. Essas abordagens desafiam visões
dualistas e destacam a necessidade de integrar saberes científicos, tradicionais e críticos para
enfrentar os desafios socioambientais do século XXI. A natureza não é mais vista como um
recurso passivo, mas como um ativo participante nas redes de vida, exigindo novas formas de
pensar e agir.
Conclusão
A reflexão acerca da relação sociedade-natureza é desafiadora em vários níveis,
transcendendo para muito além do debate puramente científico e epistemológico. A
diversidade de interpretações e conceituações torna seu estudo complexo, acrescentado ainda
de um processo atual de intensas transformações advindas do momento antropocêntrico que
vivemos, remodelando e transformando as relações de forma nunca antes vivenciada.
Revistar o passado pode ser uma ferramenta valiosa para entender a construção
epistemológica que fundamentou a ruptura entre sociedade e natureza, base do pensamento
moderno ocidental dominante. Essa dicotomia, no entanto, não se limita ao pensamento geral,
ela também se reflete no saber geográfico, manifestando-se na própria divisão da ciência
geográfica ao longo da modernidade, o que acabou ajudando a colocar geógrafos físicos e
humanos em lados opostos.
Compreender como se consolidaram essas perspectivas universalizantes, herdeiras do
positivismo, nos permite identificar rupturas, contradições e problemáticas que impulsionam
a busca urgente por outras abordagens ontológicas e epistemológicas. O pensamento
moderno, em crise, sustenta-se na busca por uma verdade objetiva que exclui o sujeito da
relação, confiando no método científico racional para desvendar e dominar os mistérios da
natureza, colocando o homem dentro de uma postura de superioridade e permitindo sua
dominação frente aos outros seres da Terra (PORTO-GONÇALVES, 2011). No entanto, essa
visão já não dá conta das complexidades que emergem no mundo contemporâneo.
Porto-Gonçalves (2011) aponta para o seguinte direcionamento:
É preciso, pois, desenvolver um outro modo de pensar e de agir que incorpore uma
outra relação com a natureza-mulher; a natureza-negro; a natureza-índio; a
natureza-criança; a natureza adolescente; a natureza-velho; a natureza-homossexual;
a natureza operário; a natureza-camponês, enfim, com a natureza-natureza,
sobretudo, com a natureza-homem, que sabemos é independentedependente do seu
ecossistema. Em suma, é de uma outra cultura que falamos, partindo, é claro, da
situação histórico-concreta em que vivemos, com seu conceito de natureza instituída
e instituinte. Eis a questão maior que os movimentos ecológicos apontam ainda que
de maneira diferenciada: como abordar as diferenças da natureza sem transformá-las
em hierarquias? Assim, trata-se de um outro projeto de sociedade; de um outro
sentido para o viver; de uma outra cultura que subordine as técnicas aos seus fins e
não fique subordinada a elas. Afinal, um outro modo de vida exige um outro modo de
produzi-Ia (PORTO-GONÇALVES, 2011, p.135).
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