RECURSO ESPECIAL Nº 998.
031 - SP (2005/0072290-4)
RELATÓRIO
MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS: Maria Carmem
Jimenez faleceu, deixando aos seus filhos, em testamento, imóveis gravados com cláusulas de
impenhorabilidade e inalienabilidade.
Em execução movida contra o espólio da falecida, foram penhorados tais
bens. O inventariante requereu a baixa da penhora, alegando que o gravame instituído pela
autora da herança impedia a constrição judicial.
O pedido foi acolhido e a decisão confirmada pelo extinto TACiv-SP, em
acórdão com a seguinte ementa:
"Impenhorabilidade - Bens imóveis com cláusula de inalienabilidade
por disposição de última vontade - Testamento - Artigo 1.676 do Código
Civil de 1916 - Penhora tornada insubsistente pela r. decisão agravada -
Decisão que merece ser mantida - Ausência de fraude à execução,
assim como de instituição do gravame em benefício próprio do seu
instituidor - Negado provimento ao recurso." (fls. 633/634)
O exeqüente, Unibanco, interpôs recurso especial pela alínea 'a', apontando
ofensa aos Arts. 1.676 e 1.722, do Código Beviláqua. Alegou, em síntese, que:
1) o Art. 1.676 do Código Civil garante apenas que os bens deixados em
herança, com cláusula de impenhorabilidade, não responderão pelas dívidas próprias dos
herdeiros;
2) o Art. 1.722, também do Código Civil, estabelece que serão antes
abatidas as dívidas do falecido, para depois se estabelecer o quanto do patrimônio deixado
tocará aos herdeiros.
Pede a reforma do acórdão recorrido, para que seja restabelecida a
penhora.
Sem contra-razões. Na origem, o juízo de admissibilidade foi negativo. Dei
provimento ao Ag 678.098/SP e determinei sua conversão em recurso especial, o que
possibilitou este julgamento colegiado.
RECURSO ESPECIAL Nº 998.031 - SP (2005/0072290-4)
RECURSO ESPECIAL. SUCESSÃO. DÍVIDAS DO
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MORTO. TESTAMENTO QUE GRAVA OS IMÓVEIS
DEIXADOS COM CLÁUSULAS DE
INALIENABILIDADE E IMPENHORABILIDADE.
POSSIBILIDADE DE PENHORA, EM EXECUÇÃO
MOVIDA POR CREDOR DO DE CUJUS.
1. Os bens deixados em herança, ainda que gravados com
cláusula de inalienabilidade ou de impenhorabilidade,
respondem pelas dívidas do morto.
2. Por força do Art. 1.676 do Código Civil de 1916, as
dívidas dos herdeiros não serão pagas com os bens que lhes
foram transmitidos em herança, quando gravados com
cláusulas de inalienabilidade e impenhorabilidade, por
disposição de última vontade. Tais bens respondem,
entretanto, pelas dívidas contraídas pelo autor da herança.
3. A cláusula testamentária de inalienabilidade não impede a
penhora em execução contra o espólio.
VOTO
MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS (Relator): O
Tribunal de origem valeu-se, unicamente, do Art. 1.676 do Código Beviláqua, que diz:
Art. 1.676. A cláusula de inalienabilidade temporária, ou vitalícia,
imposta aos bens pelos testadores ou doadores, não poderá, em caso
algum, salvo os de expropriação por necessidade ou utilidade pública, e
de execução por dívidas provenientes de impostos relativos aos
respectivos imóveis, ser invalidada ou dispensada por atos judiciais de
qualquer espécie, sob pena de nulidade.
Certamente, não foi a intenção do legislador escancarar uma porta para as
fraudes.
Os gravames instituídos pelo testador atingem os bens deixados aos
herdeiros, para que as dívidas destes não alcancem o quanto lhes fora transmitido por herança.
Mas as dívidas do morto serão pagas com o patrimônio por ele deixado,
independentemente de se terem gravados os bens com incomunicabilidade, inalienabilidade ou
impenhorabilidade.
Pagas as dívidas do morto, o que sobrar do patrimônio será dividido pelos
herdeiros. Sobre o restante é que incidirão os gravames instituídos em testamento, para que
não responda por dívidas próprias dos herdeiros.
Dou provimento ao recurso especial para restabelecer a penhora.
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