Decálogo – 10 Mandamentos da Lei
de Deus
Os dez mandamentos de Deus são as suas ordens e conselhos ao mesmo
tempo. Deus os deu ao seu povo que estava a caminho para uma vida livre na
Terra Prometida (Canaã). A observância dos mandamentos preservaria-o do
perigo de não cair novamente na escravidão. Essa Lei da vida nova foi dada
por intermédio de Moisés, no Monte Sinai (Dt 31,9-24). Foi-nos transmitida no
Livro do Êxodo (Ex 20,1-17) e no do Deuteronômio (Dt 5,6-22). Os
mandamentos não foram pensados por Deus como um jugo pesado para limitar
a liberdade e a felicidade do homem. Pelo contrário, eles são o caminho seguro
para a felicidade e para a realização humana (Dt 30,16; Mt 5,17;19,16-
19;22,37-40; J 12,50).
O Decálogo forma uma unidade inseparável. Transgredir um dos mandamentos
é infringir todos os outros (Tg 2,10-11). Todos eles são imutáveis e sua
obrigação vale sempre, e em toda a parte. Ninguém pode dispensar-se deles.
A transgressão de qualquer um dos mandamentos, sendo a desobediência
explícita a Deus, é considerada como pecado grave, que rompe a comunhão
com Deus.
Toda a Lei do Antigo Testamento Jesus resumiu em apenas dois
mandamentos, ou seja, num Grande Mandamento de Amor: “Amarás o Senhor
teu Deus de todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as suas
forças e com todo o teu entendimento; e amarás o próximo como a ti mesmo”.
Esses são os Mandamentos de Deus:
1. Amar a Deus sobre todas as coisas.
2. Não tomar o Seu santo Nome em vão.
3. Guardar os domingos e dias santos.
4. Honrar pai e mãe.
5. Não matar.
6. Não pecar contra a castidade.
7. Não furtar.
8. Não levantar falso testemunho.
9. Não desejar a mulher do próximo.
10. Não cobiçar as coisas alheias.
Segue uma breve explicação de cada mandamento:
1º – AMAR A DEUS SOBRE TODAS AS COISAS.
Veja Dt 6,4-5. Este mandamento coincide com o 1º artigo do Credo: CREIO EM
UM SÓ DEUS.
Sim, não se deve adorar outros deuses. Os vícios, a ganância, o esporte, a
família, os negócios e outras realidades da vida, para muitos seres humanos,
ocupam o lugar de Deus, pretendendo-lhes o interesse exclusivo e
escravizando-lhes o coração. Hoje também a religião quer conduzir o homem
para fora do “Egito” que o escraviza. A religião deseja libertar, “a fim de que
Deus seja tudo em todos” (1Cor 15,28). Quanto à veneração de imagens,
diremos que Deus não proibiu as imagens. Ele até mandou fazer imagens para
o templo de Jerusalém. Veja: Ex 25, 17-20; Nm 21,8; 1Rs 6,28. O que Deus
proibiu é “ter outros deuses diante de mim”, por exemplo, fazer imagens que
sejam adoradas como a Deus.
2º – NÃO TOMAR SEU SANTO NOME EM VÃO.
“Não transferirás o nome de Javé, teu Deus, para uma vaidade, porque Javé
não poupará aquele que transferir o Seu nome para uma coisa vã”.
Podemos formulá-lo assim: DEUS é infinitamente santo e digno de toda a
adoração. Por isso, devemos falar de Deus e de Jesus com respeito e santificar
Seu Nome. Não gostamos que o nome da gente ande de boca em boca.
Queremos o nosso nome respeitado, como também o nome do nosso pai e de
nossa mãe. O nome significa a pessoa toda. Quem rebaixa ou suja o nome de
alguém, humilha e ofende a própria pessoa. Por isso devemos também
respeitar e honrar o nome de Deus, porque Ele é Santo. E só podemos jurar
por Deus em circunstâncias muito graves e para afirmar uma palavra que
corresponda à verdade (Cf. Eclo 23,9).
3º – GUARDAR OS DOMINGOS E FESTAS DE GUARDA.
“Lembra-te do dia do descanso para guardá-lo. Seis dias trabalharás e farás os
teus afazeres. O sétimo dia, porém, é o descanso em homenagem a Javé, teu
Deus”.
Podemos sintetizar o 3º mandamento assim: O próprio Deus ordenou que um
dia da semana fosse destinado ao descanso e ao culto divino. No Antigo
Testamento, esse dia era o sétimo dia da semana, o sábado. No Novo
Testamento, dedicamos ao Senhor o primeiro dia da semana, que chamamos
de domingo, porque foi no primeiro dia da semana que Nosso Senhor
ressuscitou glorioso dos mortos. Foi também num domingo que enviou o
Espírito Santo. É por isso que os cristãos consagram, desde o tempo dos
apóstolos, o primeiro dia da semana, O DOMINGO, ao Senhor. Como é bom
ter um dia livre, não dever trabalhar, nem ter compromisso! Isto dá uma
sensação divina! Esta é a finalidade do domingo. O homem precisa do domingo
para refazer as energias gastas no trabalho e para encontrar-se com Deus e
com seus irmãos. No domingo também toda a comunidade paroquial se reúne
na igreja. Adultos, jovens e crianças, todos juntos, louvam e agradecem ao Pai,
criador do céu e da terra, participando da Santa Missa. É o ponto alto. Domingo
sem Missa não é domingo. Muitos perguntam: é pecado grave faltar à Missa do
domingo? Missa no domingo não é tanto problema de pecado, mas é, antes,
problema de fé e de amor. No entanto, é também uma obrigação grave.
4º – HONRAR PAI E MÃE.
“Honra teu pai e tua mãe, para que se prolonguem os teus dias sobre a terra
que Javé, teu Deus, te concede”.
Os pais nos introduziram na vida, nos deram educação e formação para entrar
no mundo e nos agregaram ao povo de Deus. São, portanto, as pessoas mais
dignas do nosso carinho, amor e gratidão.
OS FILHOS DEVEM AOS PAIS: Respeito: tratando-os com atenção e estima;
amor: proporcionando
lhes pequenas alegrias; obediência: obedecer com alegria, como Cristo era
submisso a seus pais em Nazaré. Os pais, por outro lado, devem educar os
filhos dando-lhes a educação física, cultural, moral, religiosa, que as
circunstâncias da vida e a sociedade de hoje requerem.
EMPREGADOR E EMPREGADO: o empregador deve tratar dos seus súditos
com amor como filhos de Deus, respeitando a sua dignidade humana e dando-
lhes um salário justo pelo seu trabalho.
5º – NÃO MATAR.
“Não cometerás homicídio”.
Recebemos a nossa vida de Deus como um presente. E Ele tem o direito de
retomá-la. O homem é obrigado a cuidar de seu corpo, de sua saúde. Todo
exagero no beber, no viver, no esporte… tudo o que prejudica a saúde, chega
a ser pecado. “São infames as seguintes coisas: Homicídio, genocídio, aborto,
eutanásia, suicídio, mutilações, tormentos corporais e mentais, prisões
arbitrárias, as deportações, a escravidão, a prostituição, as condições
degradantes de trabalho…” (GS 27).
6º – NÃO COMETER ADULTÉRIO.
“Não cometerás adultério”.
Este mandamento da Lei de Deus é a proteção do matrimônio e da própria
família. O catecismo deu a este Mandamento esta formulação: “Não pecar
contra a castidade”, baseado em textos bíblicos, como por exemplo: “O corpo
não é para a impureza, ele é para o Senhor, e o Senhor é para o corpo” (1Cor
6, 13). O Corpo humano é realmente uma obra de arte de Deus. Nele tudo é
bom e valioso. Nele não existe nada que seja desprezível. Ele é o templo do
Espírito Santo. Pelos sacramentos, ele foi consagrado ao Senhor. Guardar a
castidade, portanto, significa fazer um reto uso das faculdades sexuais que
Deus colocou no nosso corpo. É ter uma atitude correta diante do sexo. O sexo
está em função de um valor superior, que é o amor e a procriação de um ser
humano. Não é ponto de partida do amor. Ao contrário, é conseqüência do
amor, que tem a sua expressão mais viva no ato matrimonial. O sexo é válido e
meritório quando usado dentro do Plano de Deus, que é doação espiritual e
física entre homem e mulher dentro do matrimônio, para provar seu amor e
para gerar nova vida humana. Em nossos dias existe a “ditadura” do sexo que
prega uma liberdade desenfreada, amor livre, filmes e revistas pornográficas,
etc. Entretanto, o sexo é um simples dom de Deus. Entre o homem e a mulher
deve haver sempre uma atitude de sinceridade e de respeito.
7º – NÃO FURTAR.
“Não furtarás”.
Todos os que possuem bens devem repartir o pão com os menos favorecidos.
Não só o supérfluo, mas também o que lhes é necessário. O mundo atual,
apesar do seu progresso na ciência e na técnica, apresenta um número cada
vez maior de vítimas da pobreza e da violência, quase sempre causadas pelas
estruturas da injustiça da sociedade moderna. Por exemplo: desigualdades
excessivas entre classes sociais, corrupções, especulação, poderes públicos
insensíveis à miséria do povo, somas fabulosas aplicadas na fabricação de
armas bélicas, etc.
Existem várias maneiras de roubar e prejudicar o próximo:
1. apoderar-se injustamente de um bem alheio, ao qual não tem direito;
2. deixar, de má fé, de entregar coisas achadas ou restituir coisas recebidas de
empréstimos;
3. não pagar as suas dívidas;
4. não pagar um justo salário a seus empregados;
5. enganar aos outros usando peso, medidas ou moedas falsas;
6. cobrar pelo seu trabalho acima do seu valor;
7. chegar em atraso ou perder tempo no seu trabalho;
8. estragar ou deixar que estraguem bens públicos e alheios.
OBS.: Para o roubo ser perdoado, deve restituí-lo ao dono ou aos seus
herdeiros e reparar os danos na medida do possível (Cf. Lc 19,8-10; Lv 19,35-
36; Mc 10,19).
8º – NÃO LEVANTAR FALSO TESTEMUNHO.
“Não prestarás falso testemunho contra o teu próximo”.
O 2º Mandamento visa respeitar o nome de Deus, ao passo que o 8º
mandamento nos manda amar
muito a verdade e a sinceridade. Jesus disse: seja vossa linguagem “sim, sim”
“não, não”. Este mandamento nos proíbe de mentir e falar mal do próximo e, de
modo especial, proíbe caluniar, isto é, inventar contra o próximo um mal que
ele não cometeu. A boa fama é um grande bem, é um direito que a pessoa
tem. O mais importante, porém, será o valor que possuímos aos olhos de
Deus. Este nosso valor real ninguém nos poderá tirar.
9º – NÃO DESEJAR A MULHER DO TEU PRÓXIMO.
“Não cobiçarás a mulher do próximo, nem o seu escravo, nem a sua
escrava”. Ensinou Jesus: “Eu, porém, vos digo: todo aquele que olhar uma
mulher com mau desejo, já com ela cometeu adultério no seu coração” (Mt 5,
27-29).
Neste mandamento, Deus defende a união da família. Deus quer cortar o mal
na sua raiz, pois o adultério começa no coração. Facilmente o coração se deixa
seduzir. O pensamento gera o desejo e o desejo concebido gera o pecado, o
adultério. E o adultério é uma grave injustiça ao cônjuge. Esquece-se da
santidade do sacramento, da promessa de fidelidade. Esquece-se dos filhos…
A PROSTITUIÇÃO: Meretrício, ou prostituição, é o estado de uma mulher que
se entrega a todos os que a desejam, seja por lucro ou por prazer. Por maior
que seja a nossa compreensão e compaixão para com as prostitutas, é preciso
dizer que a prostituição é uma ofensa à dignidade humana. “Não sabeis que
vossos corpos são membros de Cristo? Tomarei, então, os membros de Cristo
e os farei membros de uma prostituta? De maneira alguma” (1Cor 6, 15-16).
10º – NÃO COBIÇAR AS COISAS ALHEIAS.
“Não cobiçarás a casa do teu próximo… nem o seu gado, o seu jumento e tudo
o que pertence ao teu próximo”.
O apóstolo Paulo nos diz: “Nada trouxemos ao mundo, como tampouco nada
poderemos levar. Tendo alimento e vestuário, fiquemos satisfeitos. Os que
desejam enriquecer-se caem em tentações e armadilhas, em muitas cobiças
irracionais e perniciosas que mergulham os homens na perdição ruinosa. Sim,
a raiz de todos os males é o amor ao dinheiro. Por se terem deixado levar por
ele, muitos se extraviaram da fé e se atormentam com muitos sofrimentos”
(1Tm 6, 6-10).
É o pecado da cobiça. O 7º mandamento visa a apropriação indevida e ilegal
da propriedade alheia, enquanto que no 10º mandamento proíbe-se a inveja e
a cobiça como primeiros passos duma possível apropriação violenta e injusta.
Deus tenciona afastar o perigo iminente do roubo. Jesus ensina a pobreza
espiritual. “Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus” (Mt
5, 3). Veja também: Mt 6, 19-21; 19, 21; Lc 12, 19-21; 16, 1-13; 16, 19-31.
Jesus resumiu os dez mandamentos assim:
“AMARÁS AO SENHOR TEU DEUS DE TODO O TEU CORAÇÃO, COM
TODA A TUA ALMA E COM TODO O TEU ENTENDIMENTO… AMARÁS O
PRÓXIMO COMO A TI MESMO” (Mt 22,37-39).
Respeito da pessoa humana
27. Vindo a conclusões práticas e mais urgentes, o Concílio recomenda a
reverência para com o homem, de maneira que cada um deve considerar o
próximo, sem excepção, como um «outro eu», tendo em conta, antes de
mais, a sua vida e os meios necessários para a levar dignamente (8), não
imitando aquele homem rico que não fez caso algum do pobre Lázaro (9).
Sobretudo em nossos dias, urge a obrigação de nos tornarmos o próximo de
todo e qualquer homem, e de o servir efectivamente quando vem ao nosso .
encontro - quer seja o ancião, abandonado de todos, ou o operário
estrangeiro injustamente desprezado, ou o exilado, ou o filho duma união
ilegítima que sofre injustamente por causa dum pecado que não cometeu,
ou o indigente que interpela a nossa consciência, recordando a palavra do
Senhor: «todas as vezes que o fizestes a um destes meus irmãos mais
pequeninos, a mim o fizestes» (Mt. 25,40).
Além disso, são infames as seguintes coisas: tudo quanto se opõe à vida,
como seja toda a espécie de homicídio, genocídio, aborto, eutanásia e
suicídio voluntário; tudo o que viola a integridade da pessoa humana, como
as mutilações, os tormentos corporais e mentais e as tentativas para
violentar as próprias consciências; tudo quanto ofende a dignidade da
pessoa humana, como as condições de vida infra-humanas, as prisões
arbitrárias, as deportações, a escravidão, a prostituição, o comércio de
mulheres e jovens; e também as condições degradantes de trabalho; em
que os operários são tratados como meros instrumentos de lucro e não
como pessoas livres e responsáveis. Todas estas coisas e outras
semelhantes são infamantes; ao mesmo tempo que corrompem a civilização
humana, desonram mais aqueles que assim procedem, do que os que
padecem injustamente; e ofendem gravemente a honra devida ao Criador.
Respeito e amor dos adversários
28. O nosso respeito e amor devem estender-se também àqueles que
pensam ou actuam diferentemente de nós em matéria social, política ou até
religiosa. Aliás, quanto mais intimamente compreendermos, com delicadeza
e caridade, a sua maneira de ver, tanto mais fàcilmente poderemos com
eles dialogar.
Evidentemente, este amor e benevolência de modo algum nos devem
tornar indiferentes perante a verdade e o bem. Pelo contrário, é o próprio
amor que incita os discípulos de Cristo a anunciar a todos a verdade
salvadora. Mas deve distinguir-se entre o erro, sempre de rejeitar, e aquele
que erra, o qual conserva sempre a dignidade própria de pessoas, mesmo
quando está atingido por ideias religiosas falsas ou menos exactas (10). Só
Deus é juiz e penetra os corações; por esse motivo, proibe-nos Ele de julgar
da culpabilidade interna de qualquer pessoa (11).
A doutrina de Cristo exige que também perdoemos as injúrias (12), e
estende a todos os inimigos o preceito do amor, que é o mandamento da lei
nova: «ouvistes que foi dito: amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo.
Mas eu digo-vos: amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam e
orai pelos que vos perseguem e caluniam» (Mt. 5, 43-44).
Igualdade essencial entre todos os homens
29. A igualdade fundamental entre todos os homens deve ser cada vez mais
reconhecida, uma vez que, dotados de alma racional e criados à imagem de
Deus, todos têm a mesma natureza e origem; e, remidos por Cristo, todos
têm a mesma vocação e destino divinos.
Sem dúvida, os homens não são todos iguais quanto à capacidade física e
forças intelectuais e morais, variadas e diferentes em cada um. Mas deve
superar-se e eliminar-se, como contrária à vontade de Deus, qualquer forma
social ou cultural de discriminação, quanto aos direitos fundamentais da
pessoa, por razão do sexo, raça, cor, condição social, língua ou religião. É
realmente de lamentar que esses direitos fundamentais da pessoa ainda
não sejam respeitados em toda a parte. Por exemplo, quando se nega à
mulher o poder de escolher livremente o esposo ou o estado de vida ou de
conseguir uma educação e cultura iguais às do homem.
Gaudim et spes
Os Dez Mandamentos escritos no coração humano
Os Dez Mandamentos não são lei arbitrárias e antiquadas que, nestes “novos
tempos”, podem ser modificadas. Eles foram escritos por Deus não só nas tábuas
da Lei, mas também no próprio ser das coisas.
16215954
A história deste curso sobre os Dez Mandamentos, que é, sem dúvida, um
dos mais importantes do nosso apostolado, começou há uns onze anos. Foi
nessa época que comecei a meditar mais detidamente a respeito da salvação
e do caminho de santidade, reparando, mesmo sendo padre, que não tinha
recebido uma formação adequada. No fundo, embora me achasse católico,
minha cabeça raciocinava como a de um luterano; ou, para melhor dizer, de
um nominalista.
Afirmei, agora vou explicar. Um sujeito chamado Guilherme de Ockham, autor
medieval, fez o seguinte arrazoado: Deus, que é onipotente, fez o ser
humano; mas esse ser humano não tem substancialidade, não possui uma
natureza. Na prática, segundo essa visão, o homem pode ser qualquer coisa.
Ora, só não estamos diante de um ideólogo do gênero porque Ockham,
sendo medieval, não dizia que o homem pode ser, conforme seu arbítrio,
mulher, cachorro ou girassol. Dizia que o homem pode, sim, ser qualquer
coisa, mas de acordo com a vontade de Deus.
Por exemplo: para ele, o Primeiro Mandamento, que é “amar a Deus sobre
todas as coisas”, podia se transformar, se assim quisesse o Criador, em
“odiar a Deus sobre todas as coisas”. Se Deus dissesse, de súbito, que matar
é bom, bom seria o homem que matasse. Se afirmasse que adulterar é
virtuoso, bem-aventurados seriam os adúlteros. E assim por diante.
Veja que toda a sua ideia parte da premissa de que a lei moral está
pendurada unicamente na vontade de Deus, e isso é profundamente errado.
As coisas não são boas ou más porque Deus assim o decretou. Claro que a
fonte primeira é a vontade de Deus, mas uma vontade criadora que fez o ser
humano com uma determinada natureza. Nós, dotados de inteligência e
vontade, somos naturalmente feitos para amar o Criador. E desde que nos
criou assim — eis a fé católica —, nem Deus pode nos impor o contrário,
mandando que o odiemos para alcançarmos a felicidade.
Para entender isso, imagine um copo. Ele foi pensado por um engenheiro,
que dispôs os meios materiais e técnicos para construí-lo, a fim de que ele
servisse como um recipiente de líquidos frios. Essa é a natureza do copo, a
sua substância.
É também assim com o ser humano: fomos pensados por Deus para buscar a
verdade e o bem, nos quais está a nossa felicidade. Ora, sendo Deus a
verdade e o bem, somos plenamente felizes quando o conhecemos e o
amamos. Não é possível ser de outra maneira. Essa é a nossa constituição
substancial, aquilo que fomos feitos para ser.
O Mandamento “Amar a Deus sobre todas as coisas” está gravado na
estrutura da realidade. Ockham achava que não. Achava que se tratava
simplesmente de um decreto jurídico divino: “Deus disse: ‘é pecado’, então
virou pecado; se dissesse: ‘não é mais pecado’, pecado já não seria”. É um
arbítrio divino. Por isso Lutero, filhote do ockhamismo, tem um conceito
jurídico do pecado e da justificação.
Nós, católicos, cremos que quando Deus perdoa o pecado realiza-se no
homem uma modificação. O pecador fica restaurado. É como refazer um
motor fundido ou recapear um pneu furado. Para Lutero, essa mudança não
acontece. O pecador continua pecador. É Deus quem decreta, conforme a fé
do homem, que o sujeito não está mais no pecado. As coisas são e deixam
de ser segundo a vontade de Deus.
Acontece que esse pensamento atravessou os tempos e espalhou-se, nas
últimas décadas, dentro da Igreja Católica. No seminário, os padres têm
recebido uma teologia moral de raiz nominalista, desenraizada da natureza
das coisas. Não existe moral natural. Existe senão a moral dos costumes, das
decisões humanas. Por isso, hoje se diz: “Para mim, não é pecado”. Eis a
consequência dos erros intelectuais. Na Idade Média quem decretava o bem
e o mal era a vontade divina. No mundo moderno, é a vontade humana.
Recapitulando, então: este curso deriva dos estudos de moral que tenho
empreendido nos últimos onze anos. Estudos que iniciei já com vinte anos de
padre. E comecei porque percebi que minha formação moral era muito
precária. Embora nunca tenha sido um padre maluco, herético, revolucionário,
ainda não tinha compreendido que o certo e o errado, o bom e o mau, são
realidades que percebemos ao refletir sobre o ser do homem, o ser de Deus e
sobre a relação entre os dois. O homem é bom quando se volta para o Sumo
Bem, que é Deus, e é mau quando vira as costas para Ele. Essa é a intuição
básica deste curso.
Ora, nosso curso é sobre os Dez Mandamentos porque eles são a expressão
divina que nos ajuda a compreender a estrutura mesma do ser humano. No
Antigo Testamento, encontramos uma série de leis. Temos as leis naturais,
contidas nos Dez Mandamentos; temos as leis rituais, que versam sobre a
construção do Templo, sobre a veste dos sacerdotes, sobre a realização dos
sacrifícios e das purificações; e temos as leis político-sociais que serviam
para organizar as Doze Tribos de Israel. Lei natural, lei ritual e lei política.
Ora, no Novo Testamento, Cristo aboliu a lei política e reformou a lei ritual
pela realidade dos sacramentos. Ficamos somente com a lei natural. Ficamos
justamente com aquela que é imutável, porque está inscrita na natureza das
coisas. Os ritos mudam. Por exemplo, na Páscoa antiga era preciso tomar um
cordeiro sem mancha e imolá-lo no altar. Jesus, na instituição da Santa
Eucaristia, disse que dali para diante o sacrifício seria feito com o Pão e o
Vinho. Foi uma decisão livre de Deus, porque os ritos podem ser alterados; a
lei natural, não.
Interessante que a moral natural, tema deste curso, pode ser alcançada pela
nossa inteligência. Podemos, filosoficamente, estudar e deduzir que não é
lícito matar a não ser o injusto agressor, porque tudo isso está baseado no
ser da coisa. Todavia, Deus, sabendo que o pecado original embaça a nossa
inteligência, deu, nos Dez Mandamentos, naquelas duas tábuas, um
compêndio, um resumo do que devemos fazer. Deu-nos as balizas para que
pudéssemos, pelo estudo, enxergar essa realidade com maior nitidez.
Vamos, pois, empreender essa reflexão, sem nunca perder de vista que o
Ser, que a fonte de tudo, é o Deus de amor. Deus é amor infinito e isso para
nós é a fonte da nossa felicidade e da nossa realização. Portanto, estudar a
moral é estudar a trilha que nos leva para a felicidade, para nos encontrar
com Deus e permanecermos com Ele.
O ser humano é uma tarefa. Como a rosa em botão precisa desabrochar para
ser em plenitude, nós homens nascemos para conhecer e amar a Deus, para
unir-se a Ele conhecendo-o e amando-o. Essa é nossa a tarefa. Tarefa que
pode e deve ser realizada. E pode e deve ser realizada por meio daquilo que
é a natureza humana — e claro, para nós cristãos, com o auxílio da graça.
Deus tem um sonho para nós. Assim como um engenheiro que planeja como
deve funcionar determinada máquina, Deus, num sonho de Pai, nos imaginou
e planejou. Quando esse sonho não se realiza, damos o nome de mal, de
pecado; quando se realiza, chamamos de bem, de virtude. O bem e o mal,
portanto, não são relativos nem arbitrários, porque Deus nos sonhou com
uma natureza imutável. Sonhou-nos para que fôssemos felizes, plenamente
felizes, unidos a Ele.
A maioria de nós já ouviu falar nos dez mandamentos da Lei de Deus ou
Decálogo. A Bíblia tem um nome para estes mandamentos; “As Dez Palavras
de Javé”(cf. 34,28;Dt 4,13 e 10,4) ou tábuas da Lei. Estes mandamentos
formam a base da aliança de Deus com o Povo reunido no monte Sinai. O
número dez não tem sentido ou valor simbólico, mas sim pedagógico, pois
permite decorar estes mandamentos contando-os pelos dedos das mãos. Nos
Evangelhos Jesus se refere a estes mandamentos e os apóstolos os indicam
como obrigatórios na nova ordem da salvação trazida por Jesus Cristo ( cf. Mt
19,17,Mc 10, 19; Lc 18,20; Rm 13,9, etc).
O decálogo tem valor universal como síntese dos valores religiosos e morais.
Mas hoje na sociedade que vivemos, eles estão esquecidos. Vale a pena
recordar quais são estes dez mandamentos da lei de Deus: 1. Amar a Deus
sobre todas as coisas. 2. Não tomar seu santo nome em vão. 3.Descansar nos
domingos e festas. 4.Honrar pai e mãe. 5. Não matar. 6. Não cometer adultério.
7.Não roubar. 8.Não levantar falso testemunho. 9. Não desejar a mulher do
próximo. 10. Não cobiçar as coisas alheias.
Estes mandamentos são entregues a Moisés por um Deus que se apresenta
como libertador. Ele tirou o povo da escravidão do Egito. Se o povo não quiser
voltar a ser escravo, deve observar estes mandamentos. Eles são expressão
da vontade do próprio Deus. Mais do que preceitos éticos e morais, estes
mandamentos indicam a pertença ao povo de Deus. Quando o indivíduo
observa-os, ele está dentro do povo de Deus, ao não observá-los ele se coloca
fora, rompe com a aliança, com a comunhão com Deus e com a comunidade
de pertença.
Mas o que significam estes mandamentos em nossa época onde predomina o
relativismo, que pretende ser o homem não só capaz de pensar a verdade,
mas fazer sua própria verdade ou seja, cada um é lei para si mesmo e para os
outros. Então para que o Decálogo? Para nos fazer recuperar a inocência
original, na qual fomos criados por Deus e que perdemos pelo pecado. Pecado
que é construir uma sociedade com base no egoísmo e não no amor, o qual o
ser humano intui ser a lei maior que rege o universo, como escreve o poeta
Dante na sua “Divina Comédia”: “Amor que move o sol e as estrelas”.
No fundo do coração de cada ser humano está escrita a lei natural, a lei do
amor, a consciência do bem e do mal, consciência perdida pela desagregação
interna da pessoa. Porém ao entregar o Decálogo a Moisés, Deus confirma a
lei natural inscrita na consciência de cada ser humano, por mais que ele tente
negar que a vida plena está em fazer o bem e evitar o mal. No fundo de sua
consciência o homem descobre uma lei que ele não se impôs, mas que vem de
fora, é a voz da consciência, a voz de Deus.
Os dez mandamentos não são um jugo para maltratar o homem, mas caminho
de crescimento e libertação, eles possibilitam uma vida mais humana, digna e
honrada: “Minha lei será a vossa alegria e delícia”(Ez 36,24). O que seria a
humanidade sem leis justas que mostram e facilitam o caminho da liberdade
para todos? Os dez mandamentos são os marcos que indicam ao homem o
caminho para a verdade, liberdade e felicidade.
Aos poucos eles estão sendo relegados ao passado e esquecidos. Portanto é
bom lembrar o que escreveu G. K. Chesterton: “As civilizações no seu apogeu
declinam, porque esquecem as coisas evidentes”.
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Quais são os 10 mandamentos?
Esta é a lista dos 10 mandamentos:
1. Amar a Deus sobre todas as coisas .
2. Não tomar seu santo nome em vão .
3. Guardar domingos e festas .
4. Honrar pai e mãe.
5. Não matarás.
6. Não pecar contra a castidade .
7. Não furtar.
8. Não levantar falso testemunho .
9. Não desejar a mulher do próximo .
10. Não cobiçar as coisas alheias.
As duas versões dos 10 mandamentos
As diferenças entre as versões dos 10 Mandamentos no Êxodo e no
Deuteronômio refletem nuances no contexto histórico e religioso em que foram
apresentados ao povo de Israel. No Êxodo, os mandamentos são proclamados
quando o povo ainda está no deserto, pouco após sua libertação do Egito,
diante do monte Sinai. Nesse momento de temor e reverência, a ênfase está
na imponente revelação da Lei, marcando o compromisso direto entre Deus e o
povo recém-libertado.
Já no Deuteronômio, Moisés reitera os mandamentos enquanto o povo se
prepara para entrar na Terra Prometida, após quarenta anos de peregrinação
no deserto. Aqui, a ênfase se volta à renovação da aliança entre Deus e Israel.
O discurso de Moisés visa fortalecer a importância da fidelidade à aliança, à
medida que o povo enfrenta os desafios da conquista da nova terra. A ligação
entre obediência aos mandamentos e prosperidade na Terra Prometida ganha
destaque, assim como as consequências da desobediência.
Um exemplo disso é o mandamento do sábado. O livro do Êxodo enfatiza a
observância do sábado como um dia de descanso ordenado por Deus após os
seis dias de criação, destacando a santificação deste dia como testemunho da
aliança. 6 Já no Deuteronômio, esse mandamento é reafirmado com uma
ênfase ligeiramente diferente.
Além de lembrar o descanso divino na criação, ele é justificado pelo fato de o
povo ter sido liberto da escravidão no Egito. Aqui, o contexto realça que, como
Deus libertou Israel da opressão egípcia, eles também devem proporcionar
descanso a seus servos, animais e estrangeiros em sua terra. “Lembra-te de
que foste escravo no Egito, de onde a mão forte e o braço poderoso do teu
Senhor te tirou. É por isso que o Senhor, teu Deus, te ordenou observasses o
dia do sábado.” 7
Onde estão os 10 mandamentos na Bíblia católica?
Êxodo 20, 2-17 Deuteronômio 5,
Eu sou o Senhor teu Deus,Que te tirei da terra do Egipto,dessa casa da escravidão.
Não terás outros deuses perante Mim.
Eu sou o Senhor t
Não farás de ti nenhuma imagem esculpida,nem figura que existe lá no alto do céu ou cá
te fiz tirei da terra
embaixo na terra ou nas águas debaixo da terra.
dessa da casa da
Não te prostrarás diante delas nem lhes prestarás culto porque eu, o Senhor teu Deus, sou um
Não terás outros
Deus cios: castigo a ofensa dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que Me
de Mim.
ofendem; mas uso de misericórdia até à milésima geração com aqueles que Me amam e
guardam os meus mandamentos.
Não invocarás em vão o Nome do Senhor teu Deus, porque o Senhor não deixa sem castigo Não invocarás em
quem invocar o seu Nome em vão. do Senhor teu De
Lembrar-te do dia do Sábado para o santificar. Durante seis dias trabalharás e farás todos os
trabalhos. Mas o sétimo dia é sábado do Senhor teu Deus. Não farás nele nenhum trabalho,
nem tu, nem teu filho ou tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu gado, nem o Guarda o dia do s
estrangeiro que vive em tua cidade. Porque em seis dias o Senhor fez o céu e a terra, o mar e santificando-o.
tudo o que eles contêm: mas ao sétimo dia descansou. Por isso o Senhor abençoou o dia de
sábado e o consagrou.
Honra pai mãe, a fim de prolongares os teus diasna terra que o Senhor teu Deus te vai dar. Honra teu pai e tu
Não matarás. Não matarás.
Não cometerás adultério. Não cometerás ad
Não roubarás. Não roubarás.
Não levantarás fa
Não levantarás falso testemunho contra o teu próximo. testemunho cont
próximo.
Não desejarás a m
Não cobiçarás a casa do teu próximo.
próximo.
Não desejarás a mulher do próximo, nem o seu servo nem a sua serva, o seu boi ou o seu Não cobiçarás nad
jumento, nem nada que lhe pertença. pertença ao teu p
Os 10 mandamentos ainda valem mesmo com Cristo e a Nova
Aliança?
A pergunta sobre a relevância contínua dos 10 Mandamentos no contexto da
Nova Aliança é respondida pelo próprio Jesus no Evangelho de Mateus
capítulo 5 versículo 17: “Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não
vim para revogar, vim para cumprir.” Ele estabelece uma ligação profunda entre
a antiga Lei e sua missão, não para abolir a Lei e os ensinamentos dos
Profetas, mas para dar-lhes pleno cumprimento — “A lei moral encontra em
Cristo a sua plenitude e unidade.” 8
Sendo assim, Cristo, em seus ensinamentos, não apenas reitera muitos dos
princípios contidos nos Mandamentos, mas também os eleva a um nível mais
profundo de significado espiritual. Por exemplo, enquanto a lei diz apenas
“não matarás”, Jesus exorta até mesmo a não nutrimos ódio em nosso
coração 9, e eleva a moral ao ponto de amar os inimigos 10 — e não somente os
amigos, como a lei era interpretada.
Além disso, Ele não apenas condena o adultério, mas também acentua a
importância de guardar a pureza interior. 11 Dessa forma, Jesus demonstra a
continuidade e a relevância do cumprimento dos mandamentos — de maneira
mais profunda e abrangente — na Nova Aliança. A Lei, assim interpretada, não
perde o seu valor, mas — ao contrário, — encontra sua plenitude em Cristo.
Seu sacrifício na cruz traz uma dimensão de redenção e transformação que
ultrapassa a simples observância externa, enfatizando a transformação interna
do coração humano, uma vez que no amor está o pleno cumprimento da Lei. 12
O decálogo nas Escrituras
Moisés segurando as tábuas da lei, por Rembrandt
Nas Sagradas Escrituras, encontramos o Decálogo, os Dez Mandamentos,
revelando-se como um caminho de vida. No livro de Deuteronômio, é
proclamado: “Se amares o teu Deus, andares nos seus caminhos e guardares
os seus mandamentos, leis e costumes, viverás e multiplicar-te-ás.” 13
Essas
palavras destacam que os Dez Mandamentos estabelecem as condições para
uma vida livre da escravidão do pecado, sobretudo no contexto do êxodo, o
evento libertador de Deus na Antiga Aliança.
Os 10 mandamentos, também conhecidos como “Decálogo”, que significa “dez
palavras”, foram revelados diretamente por Deus. O Senhor entregou essas
“dez palavras” a Moisés no monte Sinai, escrevendo-as com o Seu próprio
dedo. 14 As principais referências ao Decálogo estão no Êxodo (capítulo 20) e
no Deuteronômio (capítulo 5). No entanto, seu significado pleno só foi revelado
na Nova Aliança através de Jesus Cristo. 15
O Decálogo resume e proclama a Lei de Deus, além de ser também conhecido
como “o testemunho”, representando a aliança entre Deus e Seu povo.
Ademais, faz parte da revelação que Deus fez de Si mesmo, bem como da Sua
glória e da Sua vontade. 16.
Os mandamentos são, portanto, transmitidos no contexto da aliança do Senhor
com Seu povo, como afirmado em Deuteronômio: “O Senhor nosso Deus
firmou conosco uma Aliança no Horeb”. 17 Assim, os Mandamentos ganham
significado completo na Aliança, expressando a resposta moral do homem à
iniciativa amorosa do Senhor. 18
Não deixe de conferir estes versículos sobre o amor de Deus .
O decálogo na Tradição da Igreja
O Decálogo detém um papel central na Tradição da Igreja, harmonizando-se
com a Sagrada Escritura e o exemplo de Jesus. 19 Desde Santo Agostinho, os
“Dez Mandamentos” têm destaque na catequese dos batizados e fiéis, e essa
ênfase levou à criação de fórmulas rimadas para facilitar a memorização —
uma prática que teve início no século XV e é empregada até os dias de hoje. 20
Apesar das variações históricas na divisão dos mandamentos, o catecismo
atual segue a abordagem de Santo Agostinho, que é adotada tanto pela Igreja
Católica quanto pelas confissões luteranas; as Igrejas ortodoxas e as
comunidades reformadas possuem divisões diferenciadas. No entanto, todos
os Dez Mandamentos convergem para a exigência do amor a Deus e ao
próximo. 21.
Além disso, a importância dos Dez Mandamentos é reforçada pelo Concílio de
Trento, que enfatiza sua obrigação contínua para os cristãos, e pelo Concílio
Vaticano II, que destaca a missão dos bispos de pregar o Evangelho por toda
parte, a fim de que homens possam ser salvos através da fé, do Batismo e do
cumprimento desses mandamentos. 22
Ademais, Santo Tomás de Aquino, em sua catequese sobre os mandamentos,
argumenta que três coisas são necessárias para a salvação do homem: a
ciência do que deve crer, a ciência do que deve desejar e a ciência do que
deve fazer. Esta última, sendo a ciência do agir, é transmitida pela Lei. Ainda
que a lei da natureza tenha sido infundida por Deus no coração do homem —
mostrando o que ele deve fazer e o que deve evitar —, a concupiscência o leva
a contradizê-la, sendo assim a lei da Escritura (os mandamentos) torna-se
necessária, a fim de instruir o homem nas virtudes e dissuadi-lo dos vícios.
Os decálogo e a lei natural
Desde a criação, Deus instruiu a humanidade com os preceitos da lei natural,
gravados em seus corações, ou seja, a lei foi inscrita no interior do
homem. 23 Essa lei da natureza, como Santo Tomás de Aquino observou, é “[…]
uma luz intelectual infundida em nós por Deus, por meio da qual conhecemos o
que fazer e o que evitar.” 24
No entanto, surge a indagação: se os seres humanos já possuíam esses
preceitos em seu coração, por que os mandamentos precisaram ser revelados
e escritos em tábuas? Embora os mandamentos do Decálogo possam ser
compreendidos pela razão, a influência do pecado obscureceu a capacidade do
homem de compreender plenamente a lei da razão, bem como desviou a sua
vontade. 25
Santo Tomás explica que, após o diabo, por sugestão, ter desviado o homem
dos preceitos divinos, a carne, que anteriormente obedecia à razão, passou a
resistir à razão — e não mais obedecer-lhe. Assim, mesmo quando o homem
deseja o bem segundo a razão, ele é inclinado ao contrário devido à
concupiscência. 24
Portanto, a revelação e a explicação dos mandamentos foram necessárias —
apesar da presença da lei natural no coração humano —, porque o pecado
obscureceu a razão do homem e desviou a sua vontade do bem.
Conheça a história e o legado de Santo Tomás de Aquino.
Todo pecado é uma transgressão a algum dos 10 mandamentos
“Todo aquele que peca transgride a Lei, porque o pecado é transgressão da
Lei.” 26 A relação entre cada pecado e os Dez Mandamentos é profundamente
enraizada na própria essência desses preceitos divinos, como explicitado nas
Escrituras. Os mandamentos, revelados por Deus, indicam claramente o que é
moralmente correto e, assim, fornecem um padrão pelo qual podemos medir as
nossas ações.
Além disso, os exames de consciência — práticas essenciais na tradição cristã
— partem dos Dez Mandamentos como um guia confiável para a autorreflexão.
É muito valioso que o sacramento da penitência seja precedido por um bom
exame de consciência, pois por meio deles medimos nossas ações em relação
aos Mandamentos de Deus. 27 O Decálogo nos ajuda a reconhecer os nossos
pecados e nos direciona ao arrependimento e à reconciliação com Deus.
Os mandamentos são a âncora da moral cristã, o alicerce dos exames de
consciência, a fim de nos conduzir ao caminho da graça e da santidade.
Contudo, vale lembrar que o amor de Deus Pai é o fundamento deste dever.
Assim, os mandamentos são um reflexo do amor de Deus que primeiro dá,
depois manda. Esta ordem é crucial, pois os mandamentos não são impostos
antes do estabelecimento de uma relação com Deus: primeiro Deus salvou Seu
povo no Mar Vermelho e só depois lhes revelou os mandamentos no Monte
Sinai. 28
Os mandamentos libertam-te do teu egoísmo, e libertam-te porque há o amor
de Deus que te faz ir em frente. […]” 28 A gratidão e a obediência surgem,
portanto, como expressões de um coração que reconhece os benefícios de
Deus e deposita sua confiança Nele.
Os 5 mandamentos da Igreja Católica
Os 10 Mandamentos como já apresentados acima, listados nas Escrituras e
organizados pela Igreja Católica, não devem ser confundidos com os 5
mandamentos da Igreja Católica. São eles:
Ouvir missa inteira aos domingos e festas de guarda
Confessar ao menos uma vez cada ano
Comungar ao menos pela Páscoa da Ressurreição
Jejuar e abster-se de carne quando manda a Santa Mãe Igreja
Doar o Dízimo, segundo o costume
Qual a diferença entre os 5 mandamentos da Igreja Católica e os 10
mandamentos da lei de Deus?
Os 5 mandamentos da Igreja Católica não são nada mais do que
desdobramentos práticos dos 10 mandamentos. Ouvir a Missa aos domingos e
festas, por exemplo, é o terceiro mandamento na prática.
Cristo, ao fundar a Igreja Católica, confiou aos apóstolos — e estes aos seus
sucessores — a transmissão de todos os seus ensinamentos e a administração
da Igreja. Por isso, as leis da Igreja tem a mesma autoridade dos dez
mandamentos.
Saiba mais sobre Tradição, Magistério e Sagrada Escritura .
Os 10 mandamentos em ordem:
Retomando, então, estes são os 10 mandamentos em ordem:
1. Amar a Deus sobre todas as coisas .
2. Não tomar seu santo nome em vão .
3. Guardar domingos e festas .
4. Honrar pai e mãe.
5. Não matarás.
6. Não pecar contra a castidade .
7. Não furtar.
8. Não levantar falso testemunho .
9. Não desejar a mulher do próximo .
10. Não cobiçar as coisas alheias.
Como se aprofundar no estudo dos 10 Mandamentos nas Histórias
Bíblicas?
Se você se interessou pelo tema dos 10 Mandamentos e gostaria de se
aprofundar nele, nas Sagradas Escrituras temos exemplos das ações sobre
cada um dos mandamentos.
1. Amar a Deus sobre todas as coisas
A Adoração do Bezerro de Ouro29
Enquanto Moisés estava no Monte Sinai recebendo os Dez Mandamentos, o
povo de Israel ficou impaciente com sua demora. Eles pediram a Arão que lhes
fizesse um deus para adorarem. Arão coletou ouro do povo e moldou um
bezerro de ouro. Os israelitas proclamaram: “Este é o teu deus, ó Israel, que te
tirou da terra do Egito”. Ao adorarem o bezerro, eles violaram o primeiro
mandamento, colocando um ídolo acima do verdadeiro Deus. Moisés desceu
da montanha, viu a idolatria e quebrou as tábuas da Lei em indignação.
A Prova de Abraão30
Deus pediu a Abraão que sacrificasse seu filho único, Isaque, a quem amava
profundamente. Apesar da dor, Abraão obedeceu, demonstrando total
confiança e amor a Deus acima de tudo. No momento do sacrifício, um anjo
impediu Abraão, mostrando que Deus não queria a morte de Isaque, mas
provar a fidelidade de Abraão.
2. Não tomar Seu santo nome em vão
O Filho que Blasfemou31
Um homem, filho de mãe israelita e pai egípcio, blasfemou o nome de Deus
durante uma briga no acampamento israelita. Ele foi levado a Moisés, e Deus
ordenou que fosse apedrejado pela comunidade. Este episódio destaca a
seriedade de usar o nome de Deus em vão ou com desrespeito.
As Juras Falsas 32
Jesus ensinou sobre a importância de honrar o nome de Deus, dizendo: “Não
jureis de modo algum… Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; não, não; pois o
que passa daí vem do maligno”. Ele enfatizou que não devemos usar o nome
de Deus para juramentos levianos ou falsos.
3. Guardar domingos e festas
A Recolha do Maná no Deserto 33
Deus forneceu maná diariamente para os israelitas no deserto, mas ordenou
que no sexto dia recolhessem o dobro, pois no sétimo dia, o sábado, não
haveria maná. Alguns desobedeceram e saíram para recolher no sábado, mas
não encontraram nada. Deus repreendeu essa desobediência, enfatizando a
importância de guardar o dia sagrado de descanso.
O Homem que Quebrou o Sábado34
Durante a jornada no deserto, um homem foi encontrado recolhendo lenha no
sábado. Por desrespeitar o dia de descanso ordenado por Deus, ele foi levado
a Moisés e Arão. O Senhor instruiu que fosse apedrejado pela congregação,
mostrando a gravidade de profanar o dia santo.
4. Honrar pai e mãe
O Respeito de José por Seu Pai Jacó35
Após se tornar governador do Egito, José reencontrou seu pai Jacó. Ele honrou
seu pai, providenciando terra e sustento para ele e sua família durante a fome.
Quando Jacó faleceu, José cumpriu seus desejos de ser sepultado em Canaã,
demonstrando profundo respeito e amor filial.
O Comportamento de Absalão36
Absalão, filho do rei Davi, rebelou-se contra seu pai, tentando usurpar o trono
de Israel. Sua traição levou a uma guerra civil e, eventualmente, à sua morte. A
tristeza de Davi pela perda do filho rebelde ressalta as consequências de não
honrar os pais.
5. Não matarás
Caim e Abel37
Caim, com ciúmes porque Deus aceitou a oferta de seu irmão Abel e não a
sua, assassinou Abel no campo. Quando Deus confrontou Caim, ele tentou
esconder seu crime. Este é o primeiro homicídio registrado na Bíblia,
exemplificando a violação do mandamento de não matar.
O Sermão da Montanha38
Jesus aprofundou o entendimento deste mandamento, ensinando que até a ira
injusta contra o próximo é condenável: “Todo aquele que se encolerizar contra
seu irmão será réu de juízo”. Ele chamou à reconciliação e ao amor fraterno.
6. Não pecar contra a castidade
José e a Mulher de Potifar39
José, vendido como escravo e servindo na casa de Potifar no Egito, foi
assediado pela esposa de Potifar. Ela tentou seduzi-lo repetidamente, mas
José resistiu, dizendo: “Como poderia eu cometer tamanha maldade e pecar
contra Deus?” Por sua fidelidade, foi injustamente acusado e preso, mas
manteve sua integridade moral.
7. Não furtar
A Desobediência de Acã40
Após a conquista de Jericó, Deus ordenou que nenhum despojo fosse tomado.
Acã desobedeceu, roubando ouro, prata e roupas, e escondendo-os em sua
tenda. Sua ação trouxe derrota a Israel na batalha seguinte. Quando
confessou, Acã foi punido com a morte. Esta história ressalta a gravidade do
furto e suas consequências coletivas.
Zaqueu, o Publicano41
Zaqueu era um coletor de impostos que enriquecia às custas dos outros. Ao
encontrar Jesus, arrependeu-se e declarou: “Senhor, dou metade dos meus
bens aos pobres; e, se em alguma coisa tenho defraudado alguém, restituo
quadruplicado”. Seu exemplo mostra a importância de reparar o dano causado
pelo furto.
8. Não levantar falso testemunho
O Julgamento de Jesus42
Durante o julgamento de Jesus, os líderes religiosos procuraram falsas
testemunhas para incriminá-lo. Embora muitos testemunhassem falsamente,
não encontraram acusação consistente até que dois homens distorceram suas
palavras sobre o templo. Este ato de falsidade contribuiu para a condenação
injusta de Jesus.
A Vinha de Nabote43
O rei Acabe desejava a vinha de Nabote, que se recusou a vendê-la. Jezabel,
esposa de Acabe, tramou um plano onde falsas testemunhas acusaram Nabote
de blasfêmia contra Deus e o rei. Nabote foi injustamente apedrejado, e Acabe
tomou posse da vinha. Esta história ilustra as consequências devastadoras do
falso testemunho.
9. Não desejar a mulher do próximo
Davi e Bate-Seba44
Novamente, a história de Davi e Bate-Seba exemplifica este mandamento. O
desejo de Davi pela esposa de Urias levou ao adultério e ao assassinato de
Urias. O profeta Natã confrontou Davi, e ele enfrentou severas consequências
por seus atos, mostrando os perigos de cobiçar a mulher do próximo.
Amnom e Tamar45
Amnom, filho de Davi, apaixonou-se obsessivamente por sua meia-irmã Tamar.
Fingindo estar doente, atraiu-a e a violentou. Este ato trouxe desgraça à família
real e resultou na vingança de Absalão, irmão de Tamar, que matou Amnom. A
história destaca as terríveis consequências do desejo desordenado.
10. Não cobiçar as coisas alheias
Acabe e a Vinha de Nabote43
O rei Acabe cobiçou a vinha de Nabote, desejando transformá-la em horta por
estar próxima ao seu palácio. Quando Nabote recusou, Acabe ficou deprimido.
Jezabel então conspirou para eliminar Nabote, permitindo que Acabe tomasse
posse da vinha. Deus condenou duramente ambos pelos seus atos, mostrando
a gravidade da cobiça.
A Parábola do Rico Insensato46
Jesus contou a parábola de um homem rico cujas terras produziram com
abundância. Em vez de compartilhar, ele planejou armazenar tudo, dizendo a si
mesmo para descansar e aproveitar. Deus disse: “Louco! Esta noite te pedirão
a tua alma; e o que tens preparado, para quem será?” A parábola alerta contra
a cobiça e o apego excessivo aos bens materiais.
Esses são alguns exemplos de onde podemos identificar os 10 mandamentos
na Bíblia.
PAPA FRANCISCO
AUDIÊNCIA GERAL
Praça São Pedro
Quarta-feira, 27 de junho de 2018
[Multimídia]
Catequese sobre os Mandamentos - 3
Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje, esta audiência terá lugar como na quarta-feira passada. Na Sala Paulo
VI há muitos doentes, e para os proteger do calor, a fim de que estivessem
mais confortáveis, estão ali. Mas acompanharão a audiência através do
grande ecrã, e também nós com eles, ou seja, não há duas audiências. Há
uma só. Saudemos os enfermos na Sala Paulo VI. E continuemos a falar dos
mandamentos que, como dissemos, mais do que mandamentos, são as
palavras de Deus ao seu povo, para que caminhe bem; palavras amorosas
de um Pai. As dez Palavras começam assim: «Eu sou o Senhor teu Deus,
que te fez sair do Egito, da casa da servidão» (Êx 20, 2). Este início
pareceria não estar relacionado com verdadeiras leis que seguem. Mas não
é assim!
Qual o motivo desta proclamação que Deus faz de si mesmo e da
libertação? Porque só se chega ao Monte Sinai depois de ter atravessado o
Mar Vermelho: primeiro, o Deus de Israel salva, e depois pede confiança.
[1] Ou seja: o Decálogo começa pela generosidade de Deus. Deus nunca
pede sem dar primeiro. Jamais! primeiro salva, primeiro doa e depois pede.
Assim é o nosso Pai, o bom Deus.
E compreendemos a importância da primeira declaração: «Eu sou o Senhor
teu Deus». Há um possessivo, existe uma relação, uma pertença. Deus não
é um estranho: é o teu Deus.[2] Isto ilumina o Decálogo inteiro e revela
também o segredo do agir cristão, porque é a própria atitude de Jesus que
diz: «Assim como o Pai me ama, também Eu vos amo» (Jo 15, 9). Cristo é o
Amado do Pai e ama-nos com este amor. Ele não começa por si mesmo,
mas pelo Pai. Muitas vezes as nossas obras falham, porque começamos por
nós mesmos, e não pela gratidão. E onde chega quem começa por si
mesmo? Chega a si próprio! É incapaz de progredir, volta para si mesmo. É
exatamente aquela atitude egoísta que, brincando, as pessoas dizem: “Essa
pessoa é um eu, eu comigo mesmo e para mim”. Sai de si e volta para si.
A vida cristã é antes de tudo a resposta grata a um Pai generoso. Os
cristãos que seguem apenas “deveres” denunciam que não têm uma
experiência pessoal daquele Deus que é “nosso”. Devo fazer isto, isso,
aquilo... Somente deveres. Mas falta-te algo! Qual é o fundamento deste
dever? O fundamento deste dever é o amor de Deus Pai, que primeiro dá,
depois manda. Colocar a lei antes da relação não ajuda o caminho de fé.
Como pode um jovem desejar ser cristão, se nós começamos pelas
obrigações, compromissos, coerências, e não pela libertação? Mas ser
cristão é um caminho de libertação! Os mandamentos libertam-te do teu
egoísmo, e libertam-te porque há o amor de Deus que te faz ir em frente. A
formação cristã não está baseada na força de vontade, mas no acolhimento
da salvação, no deixar-se amar: primeiro o Mar Vermelho, depois o Monte
Sinai. Primeiro a salvação: Deus salva o seu povo no Mar Vermelho; depois,
no Sinai diz-lhe que deve fazer. Mas aquele povo sabe que Ele faz tais
gestos porque foi salvo por um Pai que o ama.
A gratidão é um traço caraterístico do coração visitado pelo Espírito Santo;
para obedecer a Deus é preciso, antes de tudo, recordar os seus benefícios.
São Basílio diz: «Quem não deixa que tais benefícios caiam no
esquecimento, orienta-se para a boa virtude e para todas as obras de
justiça» (Regras breves, 56). Onde nos leva tudo isto? A fazer exercício de
memória:[3] quantas maravilhas fez Deus por cada um de nós! Como é
generoso o nosso Pai celestial! Agora gostaria de vos propor um pequeno
exercício, em silêncio, cada qual responda no seu coração. Quantas
maravilhas fez Deus por mim? Esta é a pergunta. Cada um de nós responda
em silêncio. Quantas maravilhas fez Deus por mim? E esta é a libertação de
Deus. Deus faz muitas maravilhas e liberta-nos.
E no entanto, alguém pode sentir que ainda não viveu uma verdadeira
experiência da libertação feita por Deus. Isto pode acontecer. Pode ser que
alguém olhe para dentro de si e só encontre sentido de dever, uma
espiritualidade de servo, e não de filho. Que fazer em tal caso? Como faz o
povo eleito. O livro do Êxodo diz: «Os israelitas, que ainda gemiam sob o
peso da servidão, clamaram e, do fundo da própria escravidão, subiu o seu
clamor até Deus. Deus ouviu os seus gemidos, lembrando-se da sua aliança
com Abraão, Isaac e Jacob. Deus olhou para os israelitas e reconheceu-os»
(Êx 2, 23-25). Deus pensa em mim!
A ação libertadora de Deus, inserida no início do Decálogo — ou seja, dos
mandamentos — é a resposta a esta lamentação. Nós não nos salvamos
sozinhos, mas de nós pode brotar um grito de ajuda: “Senhor, salvai-me;
Senhor, ensinai-me o caminho; Senhor, acariciai-me; Senhor, concedei-me
um pouco de júbilo”. Trata-se de um clamor que pede ajuda. Compete-nos
isto: pedir para ser libertados do egoísmo, do pecado, das correntes da
escravidão. Este brado é importante, é oração, é consciência daquilo que
ainda existe de oprimido e não libertado em nós. Existem muitas coisas não
libertadas na nossa alma. “Salvai-me, ajudai-me, libertai-me!”. Esta é uma
bonita prece ao Senhor. Deus espera este grito, porque pode e quer quebrar
as nossas correntes; Deus não nos chamou à vida para que
permanecêssemos oprimidos, mas para ser livres, e para vivermos na
gratidão, obedecendo com alegria Àquele que nos ofereceu tanto,
infinitamente mais do que poderíamos dar-lhe. Isto é bonito! Que Deus seja
sempre bendito por tudo o que fez, faz e há de fazer em nós!
Aos fiéis presentes na Sala Paulo VI
Caros amigos!
Dou calorosas boas-vindas ao grupo “Deaf Catholic Youth Initiative of the
Americas”. Rezo a fim de que a vossa peregrinação, à qual chamastes “Um
tempo para caminhar com Jesus” — possa ajudar-vos a crescer no amor a
Cristo e uns pelos outros. O Senhor reserva um lugar especial no seu
coração para quantos têm alguma deficiência, e assim é também para o
Sucessor de São Pedro! Espero que o tempo que passardes em Roma vos
enriqueça espiritualmente e fortaleça o vosso testemunho do amor de Deus
por todos os seus filhos. Continuai a vossa viagem e, por favor, peço-vos
que não vos esqueçais de rezar por mim. Deus Todo-Poderoso abençoe
todos vós abundantemente!
Boas-vindas particulares à delegação da organização das “Special
Olympics”, por ocasião do cinquentenário da sua fundação. O mundo do
desporto oferece uma oportunidade particular às pessoas, para crescer na
recíproca compreensão e amizade, e rezo a fim de que esta Chama
Olímpica possa ser um sinal de alegria e esperança no Senhor, que concede
os dons da unidade e da paz aos seus filhos. Sobre todos os que apoiam as
finalidades das “Special Olympics”, invoco de bom grado as bênçãos de
alegria e paz de Deus Todo-Poderoso.
Saudações
Dirijo uma cordial saudação aos grupos vindos de Portugal e do Brasil, e
demais peregrinos de língua portuguesa, desejando que esta visita por
ocasião da Solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo possa confirmar
a todos na fé, esperança e caridade. Que Nossa Senhora vos acompanhe e
proteja!
Notas
[1] Na tradição rabínica encontra-se um texto iluminador a este propósito:
«Por que as dez palavras não foram proclamadas no início da Torá? [...] Com
o que se pode comparar? A um tal que, assumindo o governo de uma
cidade, perguntou aos habitantes: “Posso reinar sobre vós?”. Mas eles
replicaram: “Que nos fizeste de bem, para que pretendas reinar sobre
nós?”. Então, que fez? Construiu-lhes muros de defesa e uma canalização
para abastecer a cidade de água; depois, combateu guerras a favor deles. E
quando voltou a perguntar: “Posso reinar sobre vós?”, eles retorquiram-lhe:
“Sim, sim!”. Assim também o Lugar fez Israel sair do Egito, dividiu o mar
para eles, fez com que lhes descesse o maná e subisse a água do poço,
levou até eles codornizes em voo e finalmente combateu para eles a guerra
contra Amalec. E quando os interrogou: “Posso reinar sobre vós?”, eles
responderam-lhe: “Sim, sim!”» (Il dono della Torah. Commento al decalogo
di Es 20 nella Mekilta di R. Ishamael, Roma 1982, p. 49).
[2] Cf. Bento XVI, Carta Enc. Deus caritas est, 17: «A história do amor entre
Deus e o homem consiste precisamente no facto de que esta comunhão de
vontade cresce em comunhão de pensamento e de sentimento e, assim, o
nosso querer e a vontade de Deus coincidem cada vez mais: a vontade de
Deus deixa de ser para mim uma vontade estranha que me impõem de fora
os mandamentos, mas é a minha própria vontade, baseada na experiência
de que realmente Deus é mais íntimo para mim mesmo de quanto o seja eu
próprio. Cresce então o abandono em Deus, e Deus torna-se a nossa
alegria»