GLT 1
GLT 1
GRUPO - 3
GRUPO DE ESTUDO DE LINHAS DE TRANSMISSÃO - GLT
Sérgio Lucio S. Cabral Gil Fortes Vasconcelos Walter Pinheiro Marcos W. Pieren
MATRIX MATRIX MATRIX MATRIX
RESUMO
Este artigo descreve uma nova forma de repotencializar linhas de transmissão existentes, através do aumento da
sua tensão de operação, porém mantendo o seu NBI. Desta forma consegue-se o aproveitamento quase total da
infra-estrutura existente. São mantidas as torres, as cadeias de isoladores e os cabos condutores e pára-raios.
O artigo é o resultado de um projeto de pesquisa e desenvolvimento do programa da Aneel, com aplicação prática
em uma linha de transmissão piloto da Eletropaulo, onde foi elevada a tensão de operação de 88 para 138 kV.
No projeto piloto a economia auferida foi de 78% do valor necessário para a reconstrução da linha em 138 kV.
PALAVRAS-CHAVE
1.0 - INTRODUÇÃO
A repotencialização de linhas de transmissão existentes pode ser feita basicamente de duas formas: aumentando a
capacidade de corrente de seus condutores ou elevando a sua tensão de operação.
Para aumentar a capacidade de corrente, as linhas são reconstruídas com condutores de maior bitola ou são
empregados cabos com propriedades termo resistentes.
Buscando uma nova solução para repotencializar suas linhas de transmissão de 88 kV, a Eletropaulo desenvolveu
um projeto de pesquisa e desenvolvimento dentro do programa da Aneel com o objetivo de aumentar a tensão de
operação de suas linhas sem aumentar o seu NBI.
A solução desenvolvida permite o aumento da capacidade das linhas de transmissão existentes em 50%
atendendo o crescimento das cargas na área de concessão e reduzindo drasticamente os investimentos
necessários – no caso do piloto, a economia calculada foi de 78%.
A confiabilidade da linha foi mantida e seu desempenho melhorado, comparando-se com a instalação existente,
através da utilização de pára-raios de óxido de zinco convenientemente dimensionados e locados ao longo da rota.
(*) Av. Vereador José Diniz, 1308 – cj. 102A – CEP 04604-001 - São Paulo, SP – Brasil
Tel: (+55 11) 5548-8201 – Fax: (+55 11) 5548-8201 – Email: [email protected]
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Todos os estudos elétricos necessários foram desenvolvidos tanto através de simulações computacionais quanto
de medições em campo e laboratório. Foram calculados e medidos os campos elétricos e magnéticos e os níveis
de radio interferência no interior e limites da faixa de domínio. A máxima tensão de operação e as máximas
sobretensões temporárias de chaveamento e de descargas atmosféricas foram calculadas, e a suportabilidade das
cadeias de isoladores e das distâncias de isolamento fase-terra existentes foram testadas em laboratório.
Foram verificadas as distâncias de segurança preconizadas pela norma de Projetos de Linhas Aéreas de
Transmissão de Energia Elétrica - NBR 5422, e verificada a integridade e adequação do sistema de aterramento
existente através de medições em campo.
Um ponto importante deste projeto, embora não fosse seu objeto principal, foi a redução dos impactos decorrentes
da implantação e reconstrução de linhas de transmissão, o que facilita a obtenção de licenças ambientais. A
movimentação de terra conseqüente da escavação de fundações e da construção de acessos é bastante reduzida,
pois são aproveitadas todas as torres existentes com a eventual inserção e alteamento de algumas estruturas caso
seja necessário. Da mesma forma o corte de vegetação é minimizado.
Uma preocupação atual em linhas situadas em regiões urbanas, que é o nível dos campos elétricos e magnéticos,
tem sua solução facilitada comparada com as linhas convencionais, pois a emissão é reduzida com a maior
compactação deste tipo de linha.
Os níveis de radio interferência principalmente em linhas com condutores de pequenas bitolas é o efeito colateral
adverso ao qual se deve prestar maior atenção para não inviabilizar a solução.
Os resultados deste projeto, apresentados neste artigo, mostram que são exeqüíveis e bastante promissoras as
aplicações semelhantes em concessionárias com instalações similares.
O projeto de pesquisa e desenvolvimento realizado foi executado através das seguintes etapas:
1) levantamento das características dos padrões de linhas de transmissão da Eletropaulo;
2) estudos elétricos constituídos por:
2.1) avaliação das distâncias fase-fase e fase-terra das estruturas e das distâncias de segurança condutor
– solo e condutor – lateral da faixa de servidão;
2.2) estudos das sobretensões de manobra e de descargas atmosféricas;
2.3) estudos de campo elétrico, magnético e rádio interferência nos padrões de linhas de transmissão;
3) testes em laboratório das sobretensões suportáveis em protótipos com as distâncias típicas dos padrões de
linhas de 88 kV;
4) escolha de linha de transmissão e execução de projeto piloto repotencializando uma linha de 88 kV para 138 kV;
5) avaliação do piloto em campo;
6) generalização da solução e transferência tecnológica para a concessionária.
O levantamento das características dos padrões de linhas de transmissão – LT’s – da Eletropaulo compreendeu a
coleta de dados e a análise das instalações de transmissão de 88 kV e 138 kV abrangendo os seguintes aspectos:
- silhueta das torres de linhas de transmissão padrão 88 kV e 138 kV;
- características elétricas das cadeias de isoladores e equipamentos utilizados nas LT’s de 88 kV e de 138 kV;
- cabos condutores e pára-raios;
- distâncias mínimas fase-fase e fase-terra nas estruturas das linhas de transmissão de 88 kV e 138 kV;
- levantamento das condições ambientes no entorno das linhas de transmissão caracterizando as faixas de
servidão típicas;
As estruturas foram agrupadas em grupos ou famílias, com torres de diferentes tipos e funções, porém com
características mecânicas e de distâncias entre fases e circuitos semelhantes para utilização em faixas de servidão
de mesma largura. A Tabela 1 mostra as “famílias” e estruturas padrões de 88 kV da Eletropaulo.
As cadeias de isoladores padrões são constituídas predominantemente de isoladores de vidro temperado, do tipo
disco com conexões concha/bola, passo de 146 mm e diâmetro de saia de 254 mm, com carga de ruptura de 80
kN. As cadeias possuem ferragens de aço forjado, e tem 7 isoladores nas de tensão e 5 ou 6 peças nas de
suspensão e “jumper”. O Nível Básico de Isolação (NBI) típico das cadeias é de 450 kV para 5 isoladores e 550 kV
para 6 isoladores.
Os cabos condutores são de alumínio com alma de aço (CAA), constituído de 26 fios de alumínio e 7 fios de aço,
com 1 cabo por fase do tipo 336,4 MCM - Linnet, e 1 ou 2 cabos por fase do tipo 636 MCM – Grosbeak.
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J3 2,44 10,00 2,60 ÂNGULOS ATÉ 22° V1 2,44 12,80 3,50 ÂNGULOS ATÉ 11°
FAIXA MÉDIA
2 CIRCUITOS
K1 2,44 10,00 2,60 ÂNGULOS DE 22° ATÉ 62° X1 2,44 12,80 3,96 ÂNGULOS DE 11° A 53°
L1 2,44 10,00 3,20 ÂNGULOS DE 62° ATÉ 90° X2 2,44 12,80 4,88 ÂNGULOS DE 53° A 83°
E1 2,44 14,00 2,44 TRAVESSIA ABC 2,44 16,15 4,88 TRAVESSIA
Y 2,40 7,90 2,50 DERIVAÇÃO CH 3,30 7,90 2,50 CHAVES SECCIONADORAS
S&C 3,30 7,90 2,50 CHAVES SECCIONADORAS
FAIXA GRANDE
AA1 2,40 10,00 2,80 ALINHAMENTO STANDARD 2,44 15,25 4,88 ALINHAMENTO
AB1 2,44 10,00 2,80 ÂNGULOS ATÉ 16° SEMI STRAIN 2,44 15,25 4,88 ÂNGULOS ATÉ 13°
AC1 2,44 10,00 2,80 ÂNGULOS DE 16° A 60° ÂNGULO 2,44 14,02 4,88 ÂNGULOS DE 13° A 48°
CIRCUITOS
S 2,50 12,80 2,50 ALINHAMENTO B-II-90° 2,44 11,58 3,04 ÂNGULOS DE 90°
MÉDIA 3
FAIXA
A 2,50 12,00 2,50 ÂNGULOS ATÉ 10° ÂNG. GD 2,44 14,02 4,88 ÂNGULOS DE 53° A 83°
AM 2,50 12,00 2,76 ÂNGULOS DE 10° A 50°
AG 2,50 12,00 3,50 ÂNGULOS DE 50° A 90°
Os estudos elétricos englobaram as análises das distâncias de segurança internas à linha e da linha para o meio,
os cálculos de campo elétrico e magnético, os cálculos dos níveis de rádio interferência, e os cálculos de
sobretensões.
Os resultados da análise mostraram que as distâncias de segurança internas às estruturas não são restrições para
que as linhas existentes de 88 kV passassem a operar em 138 kV. Entretanto para linhas existentes em faixas de 5
m de largura, ou equivalentes – 2 linhas em faixa de 10 m por exemplo – as distâncias de segurança mínimas da
NBR 5422, entre o condutor e os obstáculos nos limites das faixas não são obedecidas, inviabilizando a
repotencialização com o aumento de tensão sem grandes alterações nas estruturas para estes casos. Para as
linhas de transmissão em faixas iguais ou superiores a 7 metros é possível a repotencialização para 138 kV com o
aproveitamento das estruturas existentes. Nestes casos, em termos de distâncias de segurança precisarão ser
verificadas as distâncias entre o condutor inferior e o solo, com a catenária do condutor na maior temperatura de
operação da linha. Caso as distâncias mínimas da NBR 5422 não sejam atendidas deve-se analisar a possibilidade
de retensionamento dos cabos condutores, alteamento de estruturas, ou a inserção de torres para o alteamento
dos cabos. Deverão ser verificados também os tipos das edificações existentes nos limites da faixa e as distâncias
entre estas edificações e os condutores da linha para confirmar se estão obedecendo as distâncias de segurança
estabelecidas pela NBR 5422 para os diferentes tipos de obstáculos (parede cega, varanda, telhado, etc.). Caso as
distâncias de segurança normatizadas não sejam obedecidas, soluções pontuais deverão ser estabelecidas caso a
caso (construção de muros, instalação de telas aterradas, etc.)
linha, a partir do seu centro até 30 m de distância. Além da verificação nos pontos estabelecidos pela NBR 15415,
foram verificadas as intensidades de campo elétrico e magnético em pontos na lateral da faixa, com alturas
variando de 1,5 metros do solo até a altura do cabo mais elevado, e com distâncias de 2,5 m, 3 m e 5 m do eixo
central da linha de transmissão.
De acordo com as exigências da citada Resolução Normativa 398/2010 e da norma brasileira, os limites para
exposição do público em geral ao campo elétrico e magnético no limite da faixa de servidão e a 1 metro de altura
do solo são 4,17 kV/m e 83,3 µT respectivamente.
Os máximos valores obtidos nas simulações matemáticas para o campo elétrico encontram-se na Tabela 2 e
Tabela 3.
Pelos resultados obtidos para as diversas estruturas e a possibilidade de utilização dos cabos CAA Linnet ou
Grosbeak, conclui-se que para os valores máximos de tensão, nenhuma das estruturas apresentou qualquer
restrição em relação aos campos elétricos para os valores calculados a 1 m do solo, em todos os pontos,
considerando o limite de 4,17 kV/m. Com relação aos valores obtidos nos cálculos dos perfis verticais, o limite de
campo elétrico só é atendido para faixas com larguras superiores a 10 m e para as torres de faixa estreita (P7, J3,
AA1) e para a torre T2 de faixa média. Para todas as outras estruturas e larguras de faixa iguais ou inferiores a 10
m, o limite não é atendido. Entretanto este problema pode ser resolvido facilmente, pois o campo elétrico pode ser
blindado nos pontos necessários através de soluções simples e específicas para cada local: malha de aço aterrada,
cabos aterrados, etc.
Os máximos valores de campo magnético obtidos nas simulações estão apresentados nas Tabelas 4 e 5.
Pelos resultados obtidos para as diversas estruturas e a possibilidade de utilização dos cabos CAA Linnet ou
Grosbeak, conclui-se que para os valores máximos de corrente, nenhuma das estruturas apresentou qualquer
restrição em relação aos campos magnéticos para os valores calculados a 1 m do solo, em todos os pontos,
considerando o limite de 83,3 µT. Com relação aos valores obtidos nos cálculos dos perfis verticais, o limite de
campo magnético só é atendido para faixas com largura de 5 m, para 1 cabo Linnet por fase e para as torres de
faixa estreita P7 e J3. Para faixas com largura de 7 m, o limite de campo magnético é atendido para 1 cabo Linnet
ou 1 cabo Grosbeak por fase e para as torres de faixa estreita P7, J3 e AA1, e para as torres de faixa média T2 e
V1. Para as faixas com largura de 10 m o limite é observado para todas as estruturas e todos os cabos exceto o
duplo 636 MCM Grosbeak por fase.
A ocorrência de descargas parciais (ionização do ar) na superfície do condutor de linhas de transmissão, quando a
intensidade do campo elétrico na superfície do mesmo supera a tensão de disrupção do ar é chamado de efeito
corona.
O campo elétrico na superfície do condutor, ou mais especificamente o gradiente de potencial, é determinado pela
tensão operativa e pela geometria da linha, sendo neste caso o diâmetro do condutor o fator predominante, não
havendo nenhum tipo de relação com a corrente que circula pelo circuito.
A tensão de disrupção do ar, mesmo em campos uniformes, é função de muitas variáveis, tais como: a pressão
atmosférica, a umidade do ar, a densidade relativa do ar, o tipo de tensão aplicada, a presença de vapor d’água,
dentre outras.
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P7 1,36 2,03
J3 1,34 2
AA1 1,92 2,87
T2 0,79 1,17
V1 0,96 1,44
S 1,15 1,71
A 1,54 2,3
Altura [m] Campo magnético Máximo [µT] - Altura [m] Campo magnético Máximo [µT] -
Tipo de Cabo e Tipo de Cabo e
do campo distância do eixo: do campo distância do eixo:
Estrutura carregamento Estrutura carregamento
máximo 2,5 m 3,5 m 5m máximo 2,5 m 3,5 m 5m
1 Linnet 530 A 81 38 - 1 Linnet 530 A - 55 22
P7 1 Grosbeak 790 A 12,24 120 56 - T2 1 Grosbeak 790 A 16,32 - 81 33
2 Grosbeak 2000 A 307 144 - 2 Grosbeak 2000 A - 207 84
1 Linnet 530 A 81 38 - 1 Linnet 530 A - 56 23
J3 2 Grosbeak 790 A 12,24 119 56 - V1 1 Grosbeak 790 A 15,3 - 83 34
2 Grosbeak 2000 A 307 144 - 2 Grosbeak 2000 A - 213 86
1 Linnet 530 A 95 43 - 1 Linnet 530 A - 57 24
AA1 1 Grosbeak 790 A 11,22 141 64 - S 1 Grosbeak 790 A 15,3 - 85 36
2 Grosbeak 2000 A 364 163 - 2 Grosbeak 2000 A - 217 91
1 Linnet 530 A - 105 37
A 1 Grosbeak 790 A - 157 55
2 Grosbeak 2000 A 14,28 - 404 139
Na superfície do cabo, com um campo não uniforme, até mesmo uma pequena irregularidade como uma partícula
de um poluente qualquer, causa uma concentração de campo elétrico que pode ser um ponto inicial de formação
de descargas.
A formação do efeito corona segue o processo de ionização por aceleração e impacto de elétrons, típico das
descargas em gás, se multiplicando exponencialmente através da chamada avalanche de Townsend.
Uma vez instaladas, as descargas podem ocasionar as seguintes conseqüências: emissão de luz (corona visual),
ruído audível (silvos e estalos superpostos por um zumbido de freqüência da ordem de 120 Hz), rádio interferência,
TV interferência, produção de oxidantes (ozônio e óxido de nitrogênio), perda de energia.
A intensidade dos fenômenos ligados ao efeito corona está diretamente relacionada ao Gradiente Superficial
Máximo (GSM) nos cabos em relação ao Gradiente Crítico (GC) do ar.
O valor da densidade relativa do ar é fundamental na determinação do gradiente crítico. Para esse estudo foram
adotados os seguintes parâmetros: altitude = 650 m, temperatura média = 18 °C, densidade relativa do a r = 0,92
O gradiente máximo deve ser igual ou inferior a 95% do gradiente crítico, e foi calculado para as torres típicas de
cada família dos padrões de 88 kV, e para os seguintes condutores CAA: 1/0 MCM – Raven, 3/0 MCM – Pigeon,
4/0 MCM – Penguin, 266,8 MCM – Partridge, 336,4 MCM – Linnet.
A bitola mínima de condutor que atendeu as restrições de corona visual para todas as estruturas é o 3/0 MCM –
Pigeon.
Uma das conseqüências do efeito corona nas linhas de transmissão é a radio interferência, cuja definição é
bastante ampla e se manifesta num espectro compreendendo freqüências de 3 kHz a 30 GHz, incluindo-se aí a
transmissão de televisão.
Na análise do fenômeno é importante ressaltar que não existe um critério ou limite absoluto de níveis aceitáveis de
rádio interferência, uma vez que a qualidade de uma recepção de rádio depende tanto da intensidade do sinal
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recebido quanto da intensidade do ruído nas mesmas freqüências. Desta forma o melhor critério de avaliação é a
relação Sinal/Ruído na freqüência desejada, conforme recomendação da maioria das referências bibliográficas
sobre este assunto. Para este estudo foi adotada uma relação Sinal/Ruído mínima de 24 dB (µV/m), para 50% das
condições atmosféricas, conforme exigência da Aneel em seus editais de licitação para concessão de linhas de
transmissão, o que corresponde a uma classe de recepção entre satisfatória e muito boa. O sinal mínimo a ser
protegido para uma freqüência de 1 MHz considerado neste trabalho foi de 66 dB (μV/m).
De acordo com os resultados dos cálculos obtidos, para as torres de faixa estreita (P7, J3, AA1) e faixas de 5 e 7 m
o mínimo condutor a ser utilizado é o CAA, 336,4 MCM Linnet. Para as demais torres e faixas de 7 a 16 m de
largura o condutor mínimo a ser utilizado é o CAA, 266,8 MCM Partridge.
Para que as linhas de transmissão repotencializadas operem em tensão superior e com o mesmo NBI da linha
existente, mantendo ou melhorando o desempenho e risco com relação às sobretensões de manobra e de surtos
atmosféricos é necessária a inserção protetores contra sobretensões, ou seja pára-raios de óxido de zinco (ZnO)
distribuídos ao longo das mesmas.
Um projeto de pesquisa e desenvolvimento realizado anteriormente pela Eletropaulo apresentou cálculos no ATP
(Alternative Transients Program) simulando sobretensões de manobra e de descargas atmosféricas em linhas
repotencializadas mantendo o NBI, com e sem pára-raios.
O procedimento para escolha dos locais onde serão instalados os pára-raios na linha de transmissão, de acordo
com o atual projeto de P&D está resumido nas seguintes etapas:
a. Cálculo e localização dos pontos de maiores sobretensões de manobra e de descargas atmosféricas na linha a
ser repotencializada.
b. Levantamento do histórico da linha de transmissão existente em 88 kV da incidência de desligamentos por surtos
atmosféricos e localização das torres em que houveram descargas ao longo da vida da LT.
c. Levantamento dos pontos de maior altitude dos cabos condutores e pára-rios da linha de transmissão.
d. Levantamento das torres com altos valores de impedância de terra.
e. Escolha dos locais das estruturas para instalação dos pára-raios tendo como base os pontos de maior risco
levantados nos itens anteriores.
f. Simulação das sobretensões de manobra e descargas atmosféricas na linha considerando os pára-raios
instalados nos pontos críticos escolhidos do item e.
As características dos pára-raios a serem instalados na linha de transmissão devem ser especificadas observando
a nova tensão nominal de operação, que será superior à existente, pois a LT está sendo repotencializada, porém
as sobretensões de corte devem ser compatíveis com o NBI que será mantido.
A linha de transmissão escolhida para o piloto foi o Ramal Aéreo de Estação (RAE) Monte Azul. Uma das razões
para esta escolha foi a necessidade de reconstrução deste ramal existente, padrão 88 kV, para 138 kV, e a
possibilidade de energização imediata em 138 kV permitida pela configuração do sistema elétrico da
concessionária naquela região.
Com base na metodologia desenvolvida no projeto de P&D a linha existente foi analisada com relação às distâncias
de segurança internas às torres e às distâncias da linha para o solo e lateral da faixa, foram verificados o níveis de
campo elétrico e magnético, e de radio interferência, foram especificadas as características dos pára-raios de linha,
e foram determinados os pontos para instalação dos pára-raios visando a proteção contra as sobretensões de
manobra e surtos atmosféricos. Os pára-raios foram instalados em 4 pontos da linha – torres 3, 13, 23 e 32 -
conforme pontos em vermelho mostrados na Figura 1.
870
Perfil do RAE da ETD Monte Azul
13
860
14 23
22 24
850
15 32 40
PÓRTICO
21
12 29
840
3 20
31 35
830 4 11 28
5 39
19
10
86 9 36
2 25
820
6 17 27 30
810 16
8
26 33 37
18
1
800
7 38
34
790
780
0 1.000 2.000 3.000 4.000 5.000
Destas análises resultou a necessidade de inserção de 4 torres no ramal, a troca de 1 torre por uma outra de maior
altura, e a mudança do tipo de cadeia de suspensão para ancoragem em duas outras estruturas, para que a linha
de 88 kV pudesse operar em 138 kV. Foram mantidas todas as outras estruturas, as cadeias de isoladores e os
cabos condutores e pára-raios. Por uma necessidade da manutenção, aproveitou-se a execução das obras de
repotencialização para a substituição dos cabos condutores, que apresentavam muitas emendas e pontos com
sobreaquecimento.
Durante a execução das obras foram inspecionadas as fundações de todas as torres, trocadas treliças flambadas
ou com corrosão, e feita a adequação do sistema de aterramento com recomposição do contrapeso e inserção de
hastes para reduzir a impedância de surto das estruturas.
(a) Vista Geral da Linha (b) Instalação de Pára-raios (c) Adequação do Aterramento
FIGURA 2
As obras de repotencialização da linha piloto foram executadas em 2010 e a energização ocorreu em 25/01/2011.
Até o momento, apesar do aumento de descargas atmosféricas ocorridas na região do município de São Paulo no
início do ano em relação a anos anteriores, a linha não apresentou desligamentos.
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Os custos apurados na execução da linha estão na Tabela 6 que mostra um comparativo com os custos de
reconstrução caso fosse adotada a solução convencional para a linha poder operar em 138 kV. A economia
resultante neste projeto foi de R$ 9,74 milhões o que representa 78% do valor total da reconstrução.
Repotencialização Reconstrução
ITEM Qtde Custo Unitário Custo Total Qtde Custo Unitário Custo Total
Projeto (un.) 1,00 220.000,00 220.000,00 1,00 220.000,00 220.000,00
Licenciamento Ambiental (un.) 1,00 70.000,00 70.000,00 1,00 170.000,00 170.000,00
Canteiro de obras (un.) 1,00 193.200,00 193.200,00 1,00 300.000,00 300.000,00
Fundação (un.) 4,00 44.586,38 178.345,50 44,00 44.586,38 1.961.800,50
Montagem de Estruturas (un.) 4,00 75.658,00 302.632,00 44,00 75.658,00 3.328.952,00
SERVIÇOS
5.0 - CONCLUSÕES
A Eletropaulo possui 1.553 km de circuitos de linhas de transmissão aéreas, sendo que 0,5% está energizado em
138 kV. Dos 99,5% energizados em 88 kV, 60% estão preparados para serem energizados em 138 kV. Os 40%
restante, cerca de 590 km, não está preparado para operar em 138 kV, sendo portanto o universo potencial para a
aplicação desta metodologia de repotencialização. Estimando conservativamente que a metodologia seja aplicável
em apenas 50% das linhas potenciais com a mesma redução de custos, a economia total obtida será da ordem de
R$ 600 milhões.
Pelas características das linhas de 88 kV da Eletropaulo comparativamente as das linhas de 69 kV das diversas
concessionárias brasileiras pode-se afirmar que esta metodologia tem grande potencial de utilização em outras
instalações de outras empresas. Pode-se afirmar também que existe possibilidade de aplicação na
repotencialização de linhas de 138 kV para 230 kV e de 230 kV para 345 kV.
(1) LINDSEY, K., BRENNAN, G., MEIJERS, R. Guidelines for Increased Utilization of Existing Overhead
Transmission Lines - Technical Brochure 353 – CIGRÉ. França.
(2) IEEE POWER ENGINEERING SOCIETY. IEEE Standard for Insulation Coordination – Definitions, Principles,
and Rules – IEEE STD 1313.1-1996. Estados Unidos.
(3) IEEE POWER ENGINEERING SOCIETY. IEEE Standard for Power Systems – Insulation Coordination - IEEE
STD 1313-1993. Estados Unidos.
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(5) ELECTRIC POWER RESEARCH INSTITUTE. Transmission Line Reference Book – 115-138 kV Compact Line
Design. Estados Unidos.
(6) ELECTRIC POWER RESEARCH INSTITUTE. Substation Voltage Upgrading – EPRI EL-6474 Project 2794-1
Final Report. August 1989. Estados Unidos.
(7) ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Projeto de Linhas Aéreas de Transmissão de Energia
Elétrica – NBR 5422. Brasil.
9
(8) JARDINI, A. J., MASSUDA M., ARNEZ R., JARDINI, M. G. M., Relatório Técnico 001-RT-003-R0-08 - Pesquisa
dos Pontos Ótimos de Locação dos Pára-Raios para o Controle das Sobretensões. Maio de 2008. Brasil.
Julio Cesar Ramos Lopes nasceu em São José do Rio Preto, SP, Brasil, em 1954. Graduou-se em
Engenharia Eletrotécnica pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Tem MBA pela
Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo e cursos de especialização
na Owen School da Vanderbilt University - EUA, Ècole de Management de Lyon - França, e Darden
School da Virginia University – EUA. Sua experiência profissional inclue Light Serviços de
Eletricidade S.A. e Eletropaulo Metropolitana Eletricidade de São Paulo. Atualmente desenvolve
trabalhos de consultoria e engenharia para concessionárias de geração, transmissão e distribuição.
É diretor da INOVATEC Consultoria e Engenharia e consultor da MATRIX Engenharia em Energia.
Sergio L. Salomon Cabral nasceu em Itajubá, MG, Brasil, em julho de 1940. Graduado em engenharia
elétrica pela UNIFEI – Universidade Federal de Engenharia de Itajubá. Sua experiência profissional
inclui a CESP – Centrais Elétricas de São Paulo, CPFL – Companhia Paulista de Força e Luz e o CED
– Centro de Excelência em Distribuição. Atualmente é Diretor Técnico da MATRIX Engenharia em
Energia.
Gil Fortes Vasconcelos nasceu no Rio de Janeiro, RJ, Brasil, em 1948. Graduou-se engenheiro pela
Escola de Engenharia da Universidade Estadual da Guanabara. Sua experiência profissional inclui
Light Serviços de Eletricidade S.A. e Eletropaulo. Ele desenvolve trabalhos de pesquisa e
desenvolvimento para concessionárias de distribuição e transmissão de energia elétrica. É diretor da
MATRIX Engenharia em Energia.
Walter Pinheiro nasceu em São Paulo, SP, Brasil, em 1956. Graduado em engenharia pela Escola
de Engenharia São Paulo. Doutor em Sistemas de Potência pela Escola Politécnica da Universidade
de São Paulo. Sua experiência profissional inclui CESP – Centrais Elétricas de São Paulo e Elektro.
Ele desenvolve trabalhos de pesquisa e desenvolvimento para concessionárias de distribuição e de
transmissão de energia elétrica. Atualmente trabalha na MATRIX Engenharia em Energia.
Marcos Wright Pieren nasceu em São Paulo, SP, Brasil. Graduou-se engenheiro eletricista pela Faculdade de
Engenharia da Fundação Armando Álvares Penteado em 1981. Sua experiência profissional inclui Eletropaulo e
atualmente atua como consultor de trabalhos de pesquisa e desenvolvimento na MATRIX Engenharia em Energia.