Gramatica em Lingua Espanhola 2
Gramatica em Lingua Espanhola 2
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3
4.2 Morfologia........................................................................................... 12
11.3 Predicativo.......................................................................................... 32
2
1 INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma per-
gunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que
esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a res-
posta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em
tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que
lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser se-
guida e prazos definidos para as atividades.
Bons estudos!
3
2 O QUE SIGNIFICA “GRAMÁTICA” E QUAIS SÃO OS SEUS TIPOS?
4
„ Gramática tradicional: com foco na classificação e na terminologia que
classifica os conceitos gramaticais das línguas, exibe regras concretas e nor-
mas internas, que objetivam apresentar a língua em questão, em termos de
sintaxe (indicando as possibilidades de estruturas das orações) morfologia
(apontando as possibilidades de formas e variações das palavras) e análise
de orações. Apesar de suas limitações, é a mais comumente utilizada no en-
sino de línguas em escolas, para crianças e aprendizes de língua estrangeira.
„ Gramática funcional: baseia-se na linguagem enquanto instrumento
social e no estudo de seus elementos a partir do contexto, das situações co-
municativas e de interações sociais em que é empregada e organizada. O
foco dessa gramática está nas relações funcionais entre os constituintes de
uma língua, que se constatam em três níveis — o semântico, o sintático e o
pragmático.
„ Gramática gerativa: descreve as línguas a partir de sua análise sintá-
tica e da sua capacidade de gerar construções com base na recursividade,
isto é, sustentadas por regras e unidades abstratas. As sequências sintáticas
analisadas são decompostas no que se denomina constituintes sintáticos —
combinações que são compostas por um núcleo.
„ Gramática formal: dedica-se ao estudo das línguas a partir de uma
perspectiva matemática, definindo as regras (de acordo com a sintaxe da lín-
gua em questão) pelas quais é possível produzir cadeias de caracteres que
compõem — e geram — uma linguagem formal. Também tem a função de
permitir o reconhecimento de uma cadeia como pertencente ou não a uma
linguagem, bem como analisar a sua correção e incorreção.
5
Cabe destacar, no entanto, dois tipos de gramáticas frequentemente
colocados em oposição no estudo da língua espanhola: a normativa (também
denominada prescritiva) e a descritiva (Figura 1). A gramática normativa, como o
próprio nome indica, baseia-se na apresentação de normas, regras e determinações
a respeito da língua, geralmente ignorando variantes geográficas ou de classe
social, por exemplo. Assim, busca padronizar a norma culta do idioma, impondo
regras de uso, recomendações ou até mesmo, dependendo da A gramática
espanhola: abordagem escolhida, obrigações para o falante. Em geral, privilegia
alguma variedade linguística e o modo escrito da língua, e é produzida por uma
instituição oficial reguladora do idioma.
Por outro lado, a gramática descritiva toma como base o uso da língua, a
partir do qual, sem juízo de valor (diferentemente da prescritiva), descreve a
utilização em contextos reais de um idioma, analisando de modo mais global e
democrático os diversos aspectos que esse idioma pode apresentar, com base na
observação de comunidades linguísticas.
Em espanhol, é muito comum encontrar obras que misturam as duas
perspectivas, produzindo descrições da língua, mas oferecendo versões de
construções linguísticas ou de formas de pronúncia, por exemplo, mais “corretas” e
“adequadas”, em comparação com outras. Por outro lado, também há obras que
claramente expressam o seu objetivo e ponto de vista sobre a língua, como é o caso
de Hablar y escribir correctamente: gramática normativa del español actual, de
Leonardo Gómez Torrego, publicada em 2006. Como fica claro pelo próprio título, a
sua proposta é apresentar uma versão, segundo o autor, “correta” da língua
espanhola contemporânea em suas formas falada e escrita. Além disso, a obra é
descrita como:
6
Desse modo, fica clara a característica de imposição em sua abordagem, já
que, ainda que reconheça as mudanças sofridas pela língua espanhola, propõe nor-
matizá-las e as apresenta como regras. Embora possa parecer fácil questionar essa
perspectiva gramatical, podemos entender o seu valor na resolução de dúvidas e in-
seguranças que surjam naqueles que se interessam pelo espanhol na sua modalidade
culta.
Em contrapartida, contamos com o exemplo da Gramática descriptiva de la len-
gua española, de Ignacio Bosque e Violeta Demonte, que coordenaram uma equipe
de mais de setenta linguistas de diferentes lugares para a organização da obra, publi-
cada em 1999. Afastando-se da perspectiva normativa, os autores se propõem a des-
crever a língua espanhola no que se refere aos seus aspectos morfológicos e sintáti-
cos. Trata-se de uma obra abrangente, que busca representar variedades linguísticas
e que, embora não dê o mesmo espaço às variantes americanas que dá à espanhola,
considera a sua importância e reconhece a existência de alternativas e possibilidades
expressivas dentro de um mesmo sistema — o da língua espanhola.
Figura 1. Gramáticas opostas: descritiva x normativa.
7
la forma en que estos se organizan y se combinan [...]”,vimos que são diversas as
possibilidades de realizar esse estudo. Com base em uma visão de língua e em um
recorte que se queira apresentar aos interessados nela, diversas abordagens podem
ser selecionadas e, do mesmo modo, diferentes obras podem servir como objeto de
consulta.
8
dividida em uma parte destinada à metodologia, composta por regras e princípios
que regiam a língua (o que confere à obra um caráter normativo), e em uma parte
histórica, que retomava poetas e autores cujas obras foram produzidas em língua
espanhola, como testemunhos do seu uso adequado e correto.
Figura 2. Capa da gramática de Nebrija.
10
de formação das palavras, descobrir suas possibilidades combinatórias, inteirar-se
dos usos padrão, etc.
Sem entrar no mérito de qual estudo gramatical é mais ou menos eficiente ou
relevante, e sem classificá-lo como melhor ou pior, é importante que o estudante, o
professor ou qualquer interessado na língua espanhola tenha um conhecimento dos
elementos base da gramática dessa língua. Assim, cabe destacar que, muito resumi-
damente, uma gramática representa ou é composta por um estudo das palavras, a
partir de dois aspectos que lhe são fundamentais: a sua formação e as suas combi-
nações. Nesse contexto, estamos nos situando nas áreas linguísticas que se denomi-
nam morfologia (área que se centra na estrutura das palavras) e sintaxe (cujo foco
está nas relações e nos grupos que as palavras podem formar). Além disso, costumam
integrar a gramática de língua espanhola as análises fonológicas (sobre os sons da
língua) e fonética (centrada na organização dos sons em termos linguísticos).
A Real Academia Española, instituição fundada em 1713 por Juan Manuel Fer-
nández Pacheco, é reconhecida por seu trabalho de fomento da língua espanhola, por
meio de pesquisa e elaboração de obras que têm papel fundamental na organização
e difusão da língua. A Nueva gramática de la lengua española (2009-2011) é um
marco nos estudos gramaticais em espanhol, ao ser introduzida, no século XXI, como
uma obra de enorme valor didático. Ela se propõe, ao mesmo tempo, a uma aborda-
gem descritiva e normativa, já que apresenta a língua padrão e seus registros formais,
mas também descreve a variação linguística de acordo com questões geográficas,
sociais e de estilo.
Ainda, trata-se de uma obra sincrônica, uma vez que se centra na língua atual
e em uso corrente, mas também apresenta referências históricas, oferece explicações
etimológicas e cita autores e acepções de outras épocas da língua espanhola. Além
disso, embora não negue a tradição iniciada por Antonio de Nebrija, séculos antes,
está formulada e sustentada em princípios metodológicos e científicos da gramática
contemporânea.
A seguir, com base no reconhecido trabalho da RAE, apresentaremos as prin-
cipais características tomadas como base de análise e produção gramatical em língua
espanhola, apontando elementos linguísticos fundamentais, divididos nas três gran-
des áreas objeto de atenção da gramática: fonologia/ fonética, morfologia e sintaxe.
11
4.1 Fonologia/fonética
4.2 Morfologia
4.3 Sintaxe
13
Além disso, na sintaxe da língua espanhola, entende-se que as palavras, en-
quanto unidades sintáticas, podem, a partir de um núcleo, formar grupos, frases ou
sintagmas que desempenham funções sintáticas. Assim, podem ser identificados gru-
pos nominais (Comimos la manzana verde), grupos adjetivais (Esta revista no es fácil
de comprar), grupos verbais (Se fueron a pasear ahora), grupos adverbiais (Estamos
muy lejos), grupos pronominais (¿Quién de ustedes vendrá mañana?), e grupos pre-
posicionais (No ganó por imprudente). Todos esses grupos são constituídos a partir
da base que lhes dá nome (por exemplo, grupos adverbiais se estruturam em torno
de um advérbio).
Esses grupos são compreendidos como constituídos por um grau de liberdade,
em oposição às locuções, que são grupos sintáticos mais fixos e lexicalizados, os
quais funcionam como uma só unidade. Uma locução verbal (llevar a cabo), por exem-
plo, equivale a um verbo (realizar); uma locução conjuntiva (a pesar de), a uma con-
junção (aunque); uma locução adjetiva (sano y salvo), a um adjetivo (bien).
Vale destacar também as funções sintáticas que se identificam na língua espa-
nhola e que cumprem um papel fundamental na sua gramática, já que “[...] represen-
tam as formas pelas quais se manifestam as relações que expressam os argumentos
[...]” (REAL ACADEMIA ESPAÑOLA, 2009, p. 15), sendo reconhecidas por marcas
que as indicam. As mais conhecidas em espanhol (assim como em português) são as
de sujeito e predicado. Por exemplo, na frase Juan se compró unos libros, Juan tem
a função de sujeito, e unos libros, de predicado.
Finalmente, a noção de orações tem grande importância para a gramática.
Trata-se de unidades que são compostas por sujeito e predicado e que, em espanhol,
têm a particularidade bastante comum da omissão do sujeito. Em outras palavras, a
informação referente ao sujeito está na oração, mas não é necessariamente explici-
tada: em Dormiremos mañana, sabemos que o sujeito é nosotros pela conjugação
verbal.
Há alguns critérios que permitem classificar as orações em língua espanhola.
O primeiro deles — a atitude do falante (ou modalidade) — divide as orações em
declarativas (Está nevando), interrogativas (Qué pasa?), exclamativas (No me digas!),
e imperativas (Se prohíbe fumar). De acordo com o predicado (ou as exigências que
o verbo em questão tem), distinguem-se orações transitivas (o verbo exige comple-
mento — Coge la pelota, por favor), intransitivas (o verbo não exige complemento —
14
Ayer llovía) e copulativas (formadas por um verbo copulativo, como ser, estar, parecer
— Lo que importa es ser feliz.).
Por fim, segundo a dependência/independência que a oração apresenta em
relação a outras, podem ser identificadas orações simples (que não dependem e não
se relacionam com outra que a modifique — La fiesta está llena), subordinadas (que
se inserem em uma oração principal, a qual modificam — La ropa que me compré
está muy larga) e compostas (identificadas porque contêm pelo menos uma oração
subordinada — Los niños juegan y luego comen.).
Além disso, uma gramática contemporânea do espanhol que corresponda à
língua que encontramos hoje, espalhada em mais de 20 países, deve ter um caráter
democrático e considerar as nacionalidades que têm como o espanhol língua oficial.
As diferenças e as particularidades de uso da língua dessas nacionalidades se mani-
festam em todos os níveis gramaticais (morfológico, sintático, fonológico) e, por isso,
são fundamentais para que se possa ter a devida compreensão da amplitude tão ca-
racterística desse idioma.
É importante reconhecer, por fim, que a “Nueva gramática de la lengua espa-
ñola” é um excelente referencial para qualquer interessado em conhecer as palavras
da língua, no que se refere à sua formação, às possibilidades combinatórias e aos
sons e às unidades que a caracterizam. No entanto, para a sua publicação, em 2009,
foi imprescindível que, cinco séculos antes, Antonio de Nebrija nos tivesse brindado
com o início dos estudos gramaticais. Foi a partir deles que toda a tradição gramatical
da língua se desenvolveu e, principalmente, que estudos contemporâneos como o da
RAE puderam cimentar-se, desenvolvendo os seus próprios pressupostos teóricos. A
discussão sobre os trabalhos de seus antecessores serviu tanto para mostrar as fa-
lhas destes, quanto para promover e divulgar os seus próprios princípios científicos.
15
gramática que estuda a maneira pela qual palavras e grupos se combinam para ex-
pressar significados, assim como as relações que são estabelecidas entre todas essas
unidades”.
Em essência, a sintaxe é o estudo da organização das palavras em unidades
maiores e a organização dessas unidades em frases. A organização das orações não
obedece apenas a relações de linearidade. As palavras, por exemplo, são organiza-
das de acordo com certas regras, que dizem respeito à ordem, às conexões explícitas
e implícitas e à seleção que algumas palavras exercem umas sobre as outras. Essas
relações atribuem à sentença uma estrutura interna. Como o gramático não tem
acesso direto a essa estrutura interna, ele formula uma hipótese sobre isso: a sua
descrição estrutural.
Para designar os elementos de uma sentença, segundo Di Tullio (2005), preci-
samos de duas noções: construção e constituinte. A oração é uma construção que
não é constituinte de uma construção maior; portanto, é a unidade máxima da sintaxe.
Palavras, por outro lado, são constituintes que não são construções (embora possam
ser construções morfológicas, a sintaxe não manipula a estrutura interna das pala-
vras). As unidades intermediárias, por outro lado, são constituintes (das maiores cons-
truções em hierarquia) e construções (em relação aos elementos que a compõem).
As palavras que usamos para nos expressarmos oralmente e por escrito têm
características diferentes. Saber distinguir os tipos de palavras (categorias gramati-
cais) é muito importante para entender o funcionamento da linguagem. O termo cate-
goria indica uma classe de entidades que compartilham algumas características rele-
vantes. Assim, quando falamos em categoria sintática, estamos nos referindo a uma
classe de unidades linguísticas (palavras ou sintagmas), que apresentam semelhan-
ças em nível morfológico, sintático e semântico. Quando estabelecemos que certa
unidade lexical pertence a uma categoria, estamos inscrevendo-a numa classe pree-
xistente, cujas propriedades já estão definidas e cujos membros se comportam de
forma regular e previsível.
16
Uma das tarefas mais básicas de uma gramática é atribuir às palavras as várias
classes reconhecidas. Essa classificação é um requisito indispensável para a formu-
lação de regras, uma vez que elas não dizem respeito a palavras individuais, mas a
classes. Para que essa classificação seja adequada, deve basear-se no comporta-
mento gramatical das palavras: suas características morfológicas e seu funciona-
mento sintático.
O Manual da Gramática da Real Academia Española (RAE) de 2010 divide o
seu índice em questões gerais, morfologia e sintaxe. Na morfologia, estuda-se apenas
o nível dos morfemas, enquanto na sintaxe estuda-se o nível do período, da oração,
dos sintagmas e dos vocábulos. A prova disso é que a sintaxe se divide em três sub-
grupos: o primeiro chama-se “classe de palavras e seus grupos sintáticos”; o segundo,
“as funções”; e o terceiro, “as construções sintáticas fundamentais”.
A morfologia e a sintaxe, segundo Di Tullio (2005), compartilham a palavra
como uma unidade. Na primeira, a análise se detém apenas à palavra e a sua estru-
tura interna; a segunda inicia na palavra. Em convergência a essa análise, a RAE
afirma que “[...] a palavra constitui a unidade máxima de morfologia e a unidade mí-
nima de sintaxe” (REAL ACADEMIA ESPAÑOLA, 2010, p. 4). As palavras, pertencen-
tes a determinada categoria ou classe, de acordo com as suas propriedades morfoló-
gicas e sintáticas, formam grupos sintáticos: mi casa, por exemplo, é um grupo nomi-
nal e bebe leche, um grupo verbal.
A morfologia trata da palavra como entidade única, formada por morfemas, e
não analisa a relação que as palavras mantêm umas com as outras. Portanto, ao ana-
lisar as categorias gramaticais do espanhol, estaremos estudando a sintaxe da língua
espanhola, e não a morfologia. Assim, ao fazer uma análise sintática na língua espa-
nhola, deve-se perceber que qualquer relação sintagmática que possa existir entre os
seus vocábulos, seja ela de classes de palavras ou de complemento verbal, será uma
análise sintática.
17
palavras do espanhol são artigo, substantivo, adjetivo, pronome, verbo, advérbio, pre-
posição, conjunção e interjeição. Segundo a RAE (REAL ACADEMIA ESPAÑOLA,
2010, p. 11), enquanto há classes de palavras que carregam informações gramaticais
no seu léxico, há outras que têm seu signifi cado defi nido pela gramática, ou seja,
pela relação sintática da oração em questão.
A RAE (REAL ACADEMIA ESPAÑOLA, 2010) chama de clases transversales
palavras que apresentam muita semelhança, mas com particularidades específicas,
as quais classificam-se em diferentes grupos e, com isso, explicam vários aspectos
de seu funcionamento e de seu significado. Por exemplo, os indefinidos, os numerais
e os demonstrativos, quando modificam os substantivos, são analisados como uma
classe de adjetivos; entretanto, quando substituem os substantivos e executam as
suas funções sintáticas, assumem o papel de pronomes. Portanto, cabe salientar que
as classes de palavras são caracterizadas por assumir um papel sintático nas suas
unidades.
6 OS CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO
18
propriedade inerente). A flexão dos pronomes depende da subclasse, ou
seja, os pessoais flexionam em caso, número e pessoa; os outros, em
número e gênero — incluindo o neutro.
2) A flexão verbal: as características flexionais são divididas em dois gru-
pos, que são os de concordância (número e pessoa) e aqueles que ca-
racterizam a cláusula inteira (tempo e modo).
Deve-se notar que, em qualquer caso, embora essas propriedades de flexão
caracterizem a categoria como um todo, elas não são necessariamente verificadas
em todos os seus membros. Alguns adjetivos são invariáveis em gênero. Há ainda
pronomes que dependem da subclasse, como os pessoais, que têm número e pessoa,
enquanto outros podem ser neutros, como nadie (ninguém). Da mesma forma, exis-
tem as formas não flexionadas do verbo (infinitivo, particípio e gerúndio). Esse é o
motivo pelo qual temos de confiar principalmente em critérios sintáticos e incluí-los na
categoria.
A derivação fornece marcas para diferenciar as classes. Alguns afi xos deriva-
dos são transcategoritivos: o prefi xo super pode ser adicionado a bases substantivas
(superhombre), às adjetivas (superintendente) ou às verbais (superponer); o mesmo
ocorre no caso de sufi xos apreciativos: substantivos, adjetivos e advérbios podem
receber sufi xos diminutivos. Outros afi xos, por sua vez, são especializados: o prefi
xo negativo in é adicionado apenas às bases adjetivas (in + feliz); o sufi xo ción permite
formar substantivos de bases verbais, como intuir > intuición e deducir > dedución, e
os sufi xos ez ou eza formam bases adjetivas (bello > belleza).
Cada classe pode ser caracterizada pela estrutura interna do núcleo do seu
sintagma e pelo seu potencial funcional, isto é, pelas funções que pode desempenhar
na oração. Assim, o especificador de um substantivo é um determinante (que pode
ser um adjetivo ou um artigo), enquanto o do adjetivo ou do advérbio é um advérbio
19
de grau, e os pronomes assumem o papel de substituidores. Para as palavras invari-
áveis, é necessário recorrer a critérios sintáticos, fundamentalmente aos critérios dis-
tributivos, isto é, ao conjunto de posições em que podem aparecer. Os advérbios, as
preposições e conjunções são diferenciados pela posição que ocupam, em relação
aos constituintes que modificam ou aos que governam. Assim, as preposições distin-
guem-se das conjunções pela categoria do termo governado: geralmente, um nome
no primeiro, uma oração no segundo. Além disso, as preposições também são carac-
terizadas por governarem o sintagma preposicional, quando o termo é um pronome
pessoal: para mí, en sí mismo, por ti.
Levando esses pontos em consideração, podemos estabelecer corretamente o
valor das definições conceituais. O critério semântico não pode ser a base da classi-
ficação, quando se trata de atribuir as palavras de uma língua particular a classes
específicas, uma vez que não há correspondência entre as classes de entidades ex-
tralinguísticas e as palavras. No entanto, em combinação com os critérios formais, a
semântica pode ajudar a delimitar uma classe e estabelecer correspondências entre
classes reconhecidas em diferentes idiomas que não compartilham as características
formais. Da mesma forma, pode ser útil em função de seu valor pedagógico e heurís-
tico.
Por exemplo, embora não seja verdade que todos os substantivos denotem
pessoas, coisas e lugares, já que existem substantivos que designam propriedades
(decencia, belleza, blancura) e outras ações (lavado, rastrillaje, resolución), a verdade
é que as palavras que designam pessoas, coisas e lugares são substantivos.
20
acordo com Bosque (1991), é que a gramática é concebida não como um produto que
já está acabado, mas como um sistema a ser descoberto e elaborado explicitamente,
nos termos mais apropriados. Isso significa que, na medida em que for necessário, as
classes antigas serão deixadas para propor outras, ou serão redefinidas para explicar
os comportamentos que são significativos. Assim, por exemplo, a unidade da classe
tradicional de adjetivos é atualmente questionada.
A RAE (REAL ACADEMIA ESPAÑOLA, 2010), como visto anteriormente, divide
os adjetivos em duas subclasses: os adjetivos determinativos (demonstrativo, posses-
sivo, indefinido, quantitativo) e os qualificadores. Ainda que todos modifiquem o subs-
tantivo, as diferenças entre os dois grupos são enormes, tanto do ponto de vista sin-
tático, quanto do semântico. Por todas essas razões, os gramáticos mais atuais pre-
ferem atribuir cada grupo a uma classe diferente: a dos determinantes (juntamente
com o artigo) e a dos adjetivos, em que os qualificadores constituem o grupo focal. De
fato, é o gramático que decide, de acordo com a posição teórica que ele adotou e com
a coerência de sua proposta, se divide a classe ou a preserva, com as subclassifica-
ções que julga mais convenientes. Por exemplo, segundo a RAE (REAL ACADEMIA
ESPAÑOLA, 2010), a língua espanhola possui nove classes de palavras, as quais
podem ser variáveis e invariáveis. As variáveis são definidas da seguinte forma (REAL
ACADEMIA ESPAÑOLA, 2010):
21
1. Artículos (artigos): o artigo é um determinante que permite delimitar a denota-
ção do grupo nominal do qual faz parte, assim como informa a sua referência. O
artigo, portanto, especifica se o que foi designado por ele carrega consigo uma in-
formação prévia ou não. Exemplos de artigos em espanhol: la (a), el (o), las (as),
los (os), una (uma), unas (umas), un (um), unos (uns) e lo (artigo neutro).
2. Sustantivos (substantivos): o nome (ou substantivo) tem a característica de ad-
mitir gênero ou número. Ele denota entidades materiais ou imateriais, de toda natu-
reza ou condição: pessoas, animais, coisas reais ou imaginárias, grupos, lugares,
etc. Pode vir acompanhado de artigo ou de adjetivo. Exemplos de substantivos em
espanhol: La mujer inteligente; El cantar de los pájaros.
3. Adjetivos (adjetivos): o adjetivo é uma classe de palavras que acompanha o
substantivo destacando uma propriedade ou limitando a sua extensão. Existem dois
grupos de adjetivos: os qualificativos, que expressam propriedades ou circunstân-
cias dos seres ou objetos nomeados pelo substantivo (día soleado, pareja feliz); e
os determinativos, que limitam a extensão do substantivo (este año, varios amigos).
Exemplos de adjetivos em espanhol: mi hermano mayor (mi – adjetivo determina-
tivo, mayor – adjetivo qualificativo); esta calle ancha (esta – adjetivo determinativo,
ancha – adjetivo qualificativo).
4. Pronombres (pronomes): o pronome tem como principal função a substituição,
seja ela de um substantivo, de um fato ou de uma das pessoas do discurso. Exem-
plos de pronomes em espanhol: Yo vi una ropa linda, la voy a comprar (yo substitui
quem fala; La substitui una ropa linda).
5. Verbos: os verbos expressam ação, estado ou fenômenos da natureza. Existem
formas simples, compostas, pessoais e impessoais. Exemplos de verbos em es-
panhol: tengo que cantar bien.
22
As classes de palavras invariáveis, segundo a RAE (REAL ACADEMIA ESPA-
ÑOLA, 2010), são as seguintes:
23
9 A ORAÇÃO E AS SUAS PECULIARIDADES
A sintaxe lida com as relações entre as palavras que formam uma frase. As
palavras são organizadas de acordo com certas regras, que dizem respeito à ordem,
a conexões explícitas e implícitas, à escolha que algumas palavras exercem sobre
uma ou outra. Cada frase tem uma estrutura interna, de modo que a sintaxe estuda
essa estrutura das orações, isto é, a combinação das palavras que a compõem. As-
sim, o campo de atuação da sintaxe representa o estudo das leis ou das regras que
constituem as relações que podem ocorrer no eixo sintagmático da língua, ou seja, no
eixo das combinações possíveis na cadeia horizontal de uma língua.
Essas relações podem se formar entre palavras, gerando os sintagmas, e entre
as relações que se realizam entre os sintagmas, gerando as frases. Segundo Mattoso
Câmara Junior (1972, p. 162–166), no discurso, porém, não são as palavras — e muito
menos os morfemas — as unidades verdadeiras. Comunicamo-nos uns com os outros
por meio de frases, isto é, de segmentos de extensão variável, que encerram um pro-
pósito comunicativo definido. Será frase, portanto, qualquer palavra ou grupo de pa-
lavras suficiente para atender o objetivo do falante: estabelecer a comunicação. Por
exemplo:
a. El día está lindo. ¿Vamos a la playa?
b. ¡Ay! ¡Por supuesto
Caso ¡Ay! e ¡Por supuesto! estivessem isoladas, não seriam consideradas fra-
ses; no entanto, nesse contexto, as duas são consideradas frases. Inclusive, a frase
pode ter ou não ter verbo: quando não tem, chama-se frase nominal; quando tem
verbo, chama-se oração.
A oração é a unidade máxima a ser estudada na sintaxe; logo, é necessária
uma definição geral dessa noção fundamental. De fato, a gramática tradicional, que
não ofereceu uma definição geral de palavra, dedicou atenção considerável à defini-
ção da oração. Centenas de definições são acumuladas, com base em critérios vari-
ados e, como esperado, a semântica predomina, seja lógica, psicológica ou comuni-
cativa. Por exemplo, segundo a Real Academia Española (1973), “[...] a oração é a
menor unidade de sentido completo em si mesmo em que o discurso real é dividido”.
24
Tais definições receberam numerosas críticas, visando à vinculação da gramá-
tica tradicional a noções intuitivas, e não estritamente gramaticais. A que contou com
mais seguidores é a de “sentido completo”. Embora seja correto destacar o fator intui-
tivamente mais relevante, é bastante complexo especificar o seu escopo. Como definir
o que é o “sentido completo”? Segundo Alonso e Henríquez Ureña (1938, p. 10), “[...]
ter sentido em si mesmo ou sentido completo quer dizer declarar, desejar, perguntar
ou mandar algo”. Assim concebido, o significado completo está relacionado aos atos
de fala que podem ser realizados por meio de orações. A partir dessa perspectiva, a
oração seria uma unidade comunicativa, um ponto de vista compartilhado pela terceira
definição.
O problema é que os limites de um ato de fala nem sempre coincidem com os
da oração. A segunda definição apela, por sua vez, a um critério lógico. Embora ora-
ções declarativas usualmente expressem um julgamento, esse critério é inaplicável a
orações interrogativas, imperativas e exclamativas, às quais, no entanto, não se po-
deria negar o caráter de oração.
Como outras noções, Bloomfield (1964[1933]) propôs uma definição da oração
em termos distributivos: “[...] uma oração é uma forma linguística independente, não
incluída em virtude de qualquer construção gramatical, em qualquer forma linguística
mais ampla”. O que caracteriza as orações é sua autonomia gramatical. Logo, todas
as orações independentes serão orações. Praticamente qualquer sequência, desde
que acompanhada por um traço de entonação, resultaria em uma oração. Nesse caso,
o problema é que, se a gramática as incluir, ela deverá dar regras para construções
que pouco compartilham, do ponto de vista de sua estrutura interna. De fato, Bloom-
field (1964[1933]) precisava estabelecer uma distinção adicional entre orações com-
pletas e orações menores, como as expostas anteriormente; do contrário, seria im-
possível abarcar a enorme diversidade estrutural existente entre elas nas regras da
gramática.
Quais marcas estruturais nos permitem reconhecer essa independência? A
marca mais óbvia é a entonação, isto é, as variações no tom de voz do falante, com
padrões prosódicos com significado do tipo ofensivo, irônico, de decepção, que ex-
pressem alegria, entre outros. Dada a função delimitativa da entonação, cada oração
corresponde a um próprio traço entonacional, que corresponde ao tom que o falante
dá a determinada oração.
25
No entanto, como o próprio Bloomfield (1964[1933]) observa, quando produzi-
mos duas orações consecutivas, elas nem sempre são marcadas por suas respectivas
figuras tonais, ou marcas na fala. Muitas vezes, elas englobam apenas uma, na qual
se omite uma pausa intermediária; então, deveríamos reconhecer uma única oração
em uma sequência como a do exemplo (b).
O que todas as definições examinadas têm em comum é considerar a oração
como uma unidade de comunicação, isto é, como a unidade na qual um texto pode
ser dividido. Como tal, é definida em termos extragramaticais: semântico, pragmático
e fonológico. Nesse sentido, a oração é uma unidade que corresponde à análise do
discurso, e não à própria gramática. Assim consideradas, as sequências de (b) podem
ser perfeitamente compreensíveis e efetivas como partes de um texto (uma conversa-
ção, uma canção ou uma letra), mas não permitem avançar em uma definição, em
termos dos componentes necessários da oração em seu sentido gramatical.
Se a oração é concebida, porém, como uma unidade estritamente gramatical,
o que é necessário é que ela seja caracterizada como uma unidade de construção,
para a qual corresponde defini-la a partir de sua estrutura interna. Nesse segundo
sentido, precisaremos identificar os constituintes que a compõem. Trata-se de uma
construção predicativa: consiste em um sujeito e um predicado. Em seu caso típico, o
núcleo do predicado é um verbo conjugado, isto é, apresenta a flexão de pessoa e
número, de acordo com o sujeito, e de tempo e modo. Para diferenciar os dois senti-
dos, aplicamos ao último a denominação cláusula. De acordo com Di Tullio (2005),
em termos funcionais, significa que toda cláusula é formada por um sujeito e um pre-
dicado. De fato, nossos gramáticos perceberam essa dualidade subjacente no con-
ceito de oração. Por essa razão, muitas vezes ofereciam, além das definições basea-
das em critérios semânticos, uma definição estritamente gramatical. Bello
(1970[1847]) já reconhecia dois tipos de unidades: a proposição, definida por seus
constituintes, ou o sujeito e o predicado (que ele chamou de atributo), e a oração.
Dessa forma, cabe ressaltar que a definição de proposição — correspondente à nossa
noção de cláusula — é baseada exclusivamente em sua estrutura interna, enquanto
na oração se impõe um critério extragramatical.
26
10 A ORAÇÃO E O DISCURSO
27
b) A natureza do seu predicado: de acordo com a natureza do predicado, po-
demos dividir as orações em transitivas (Llamé a Carlos), intransitivas (Mi primo salió
temprano) e copulativas (El día está lindo).
c) A dependência ou independência em relação a outras unidades: orações
simples não contêm outras que ocupem seus argumentos ou modifiquem seus com-
ponentes; por outro lado, as orações subordinadas dependem de alguma outra cate-
goria, a qual elas complementam ou modificam. A oração subordinada é inserida ou
incorporada à principal. A oração principal em Carlos dijo [que no quería ir a la fiesta],
por exemplo, não é o segmento Carlos dijo (que não constitui uma oração por si só,
já que é incompleta), mas toda a sequência em itálico. O que está entre colchetes é a
oração subordinada, que é interpretada como parte da oração principal. Chama-se
oração composta aquela que contém uma ou mais orações subordinadas.
28
El maestro explicaba la lección a los alumnos. (predicado)
Segundo Gómez Torrego (2005, p. 272–273), costumam-se distinguir dois tipos
de predicado: o verbal e o nominal. Os predicados nominais são representados pelos
verbos copulativos, que em português são conhecidos como verbos de ligação: os
verbos ser e estar. Por exemplo:
Está frío.
Es invierno.
Os predicados verbais são todos aqueles que não possuem verbos copulativos,
e sim verbos com carga semântica plena, os quais podem aparecer sozinhos ou com
complementos. Por exemplo:
Juan ha salido.
María compró cinco libros.
11.1 Sujeito
29
Como já exposto, para classificarmos o sujeito, é necessário que saibamos
identificá-lo. Dessa forma, segundo Di Tullio (2005), o sujeito pode ser classificado
de acordo com as marcas apresentadas a seguir.bastante repetida em nossa
tradição gramatical: “[...] o sujeito é a pessoa ou coisa da qual falamos algo”.
Ponto de vista categorial- O sujeito é um sintagma nominal (SN), cujo
núcleo pode ser um substantivo comum, nome próprio ou pronome. Em alguns
casos, pode ser também uma cláusula ou oração subordinada.
La mujer rubia salió temprano. (substantivo comum)
Neymar Jr. está más conocido que Pelé. (nome próprio)
¿Ella ha llegado retrasada? (pronome)
Quien dijo eso es un torpe. (oração subordinada)
Ponto de vista verba- A marca estrutural que permite identifi car mais
claramente o assunto gramatical é a concordância com o verbo nas características fl
exionais do número e da pessoa. Qualquer variação nessas propriedades fl exionais
afetará necessariamente o verbo e defi nirá, automaticamente, o sujeito.
A Roberta se le ocurrió una idea. (sujeito: una idea)
A nosotros se nos ocurrió una idea. (sujeito: una idea)
A Roberta se le ocurrieron varias ideas. (sujeito: varias ideas)
A rica flexão do verbo espanhol possibilita que o sujeito não seja explícito, isto
é, que ele seja oculto. Desse modo, é possível identificar o sujeito, apesar de ele não
ser expresso, em função das propriedades flexionais do verbo.
30
11.2 Complementos direto e indireto
O objeto direto — ou complemento direto — é defi nido pela RAE (REAL ACA-
DEMIA ESPAÑOLA, 1973, p. 371) como:
[...] o objeto direto ou objeto direto é uma função sintática que corresponde
a um argumento dependente de verbo. Forma com ele (e às vezes com outras
unidades) um grupo verbal e fornece a informação necessária para conformar
a unidade de pregação que o verbo constitui.
Vi a Juan.
c) Pode ser substituído pelos clíticos acusativos: me, te, lo, la, nos, os, los,
las.
Ayer vi a Juan y lo invité a cenar
11.3 Predicativo
32
Considero interesante tu propuesta.
Nombraron a Pedro director de orquesta.
Te veo muy bien.
33
11.7 Os adjuntos ou complementos circunstanciais
Você sabe o que é sujeito? Em uma oração, sujeito é o elemento (pessoa, ani-
mal, coisa) que realiza, causa ou sofre a ação do verbo. De maneira mais simplificada,
podemos dizer que é o elemento sobre o qual se diz alguma coisa na oração.
Assim, a partir de uma perspectiva gramatical, podemos entender o sujeito
como um sintagma (palavra ou conjunto de palavras que têm alguma função sintática)
que mantém uma relação de concordância com o verbo. Esse sintagma pode estar
formado por um núcleo, um determinante e um complemento (Figura 1)
34
Geralmente, é possível reconhecer o sujeito em uma oração perguntando ao
verbo ¿quién? Veja o exemplo no Quadro 1 a seguir:
É importante destacar que, embora seja muito útil, em grande parte dos casos,
nem sempre essa pergunta nos leva ao sujeito. No caso de Me gusta mucho el frío, o
sujeito não é agente da ação, mas paciente (é quem a sofre). Por isso, a pergunta que
nos leva a ele deveria ser ¿qué me gusta?, e a resposta nos levaria ao sujeito: el frío.
De todos os modos, o verbo, sem dúvida, tem uma relação fundamental com o
sujeito, já que é a partir dele que identificamos o elemento da oração que tem essa
função. Antes de analisar essa relação, você vai ver quais os tipos de sujeitos que
existem em espanhol.
Os critérios para definir a tipologia variam de acordo com a perspectiva. Aqui,
veremos o critério gramatical denominado fonético, que classifica o sujeito de acordo
35
com a sua existência explícita ou implícita em uma oração. Assim, distinguem-se os
tipos a seguir:
Sujeito expresso/explícito: é o que aparece e se destaca na oração de forma
explícita.
Las clases de español son muy interesantes.
María y Sabrina no quieren ir a la fiesta de Felipe.
Mañana Pedro viene a visitarnos.
¡Eso es una barbaridad!
Com base nesses dois tipos de sujeitos, podemos analisar a relação que eles
desenvolvem com os verbos na oração — a denominada concordância verbal.
Costuma haver consenso entre os gramáticos a respeito de alguns dos critérios
que definem a concordância verbal: é entendida como a harmonia entre verbo e su-
jeito, no que se refere a número e pessoa. Veja os exemplos a seguir:
Rodolfo me dijo que tiene hambre.
Las tijeras que me compré están sobre la mesa.
36
A concordância do sujeito expresso com o verbo, em grande parte dos casos,
é simples: se o número ou a pessoa do verbo muda, o sujeito também terá de mudar,
e vice-versa. Em outras palavras, sujeito e verbo devem estar em harmonia no que se
refere à pessoa e ao número.
La oficina está cerrada.
Las oficinas está cerrada. (construção equivocada)
Las oficinas están cerradas.
37
entanto, esses verbos representam realidades distintas, o verbo é con-
jugado no plural: Las mejores cosas de la vida son ir al cine y jugar al
baloncesto.
Sujeito composto por dois elementos que se unem com tanto…como –
o verbo é conjugado no plural: Tanto Julia como Verónica llegaron a las
ocho de la mañana.
Sujeito formado por um substantivo coletivo – o verbo é conjugado no
singular: El clero es un grupo muy respetado./La manada destruyó todo.
38
Línguas como o inglês, por outro lado, não admitem essa estrutura e precisam ex-
pressar explicitamente o sujeito em suas orações.
39
Amparo lo envió ayer. (pronome) Amparo me dijo que me enviaría la
carta ayer. (oração subordinada).
Quando o complemento direto se refere a pessoas ou a seres de modo geral,
é acompanhado pela preposição “a”. Se é relativo a objetos inanimados, geralmente,
não se usa a preposição:
Vimos la película en la tele.
Vimos a tu hermana en el cine
Um recurso muito comum utilizado pelos falantes de espanhol é a duplicação
do complemento direto nas orações, com a sua forma explícita e a pronominal em
coocorrência: Los libros de español los compré con el dinero que me sobró.
Para reconhecer o complemento direto em uma oração, veja algumas dicas que
podem lhe ajudar — embora não se apliquem a todos os casos, a grande maioria pode
lhe ser útil. A primeira delas é trocar a unidade ou a estrutura por seu pronome pessoal
átono correspondente: la, las, lo, los.
Compramos la corbata roja./ La compramos.
Compramos las mochilas nuevas para el comienzo de las clases./ Las com-
pramos para el comienzo de las clases.
Compramos el libro que pidió la profesora./Lo compramos.
Compramos los billetes con la tarjeta de crédito./ Los compramos con la tarjeta
de crédito.
40
O complemento indireto, embora também se relacione com um verbo
transitivo, geralmente é opcional (diferentemente do complemento direto) e indica o
receptor da ação do verbo, isto é, o complemento indireto indica a quem ou a que se
dirige a ação do verbo.
Llevamos un regalo a Esmeralda.
Julieta nos dio las llaves de la casa.
Es el cumple de María. Le compramos el bolso que quería.
A mí no pueden decir que no.
Mesmo que a preposição nunca possa ser eliminada nesses casos, o outro
elemento do sintagma pode ser substituído por um pronome tônico (él, ella, ellos, el-
las, eso...), desde que seja mantida a preposição.
Nos acordamos de la historia de Pilar ayer.
Nos acordamos de eso ayer.
Los españoles confían mucho en la justicia.
Los españoles confían mucho en ella.
Grande parte das orações que produzimos e enunciamos no dia a dia são de-
nominadas declarativas, isto é, têm a função de declarar algo. Essas orações, utiliza-
das tanto na oralidade quanto na escrita, referem-se a algo concreto e objetivo, e têm
uma função informativa. No que se refere à sua estrutura, podem se formar com o
verbo conjugado tanto no presente, quanto no passado ou no futuro:
Isabel trabaja en el centro de la ciudad.
Isabel trabajaba en el centro de la ciudad.
Isabel trabajará en el centro de la ciudad.
44
presença do advérbio no, também podem ser formuladas com outros pronomes inde-
finidos, como vemos nos exemplos a seguir:
Ningún coche puede cruzar esta avenida ahora.
Nadie avisó que el concierto empezaba a las diez.
Nunca han pintado la casa de mi abuela.
Carlota tampoco me dijo que venía
Quando temos alguma dúvida sobre algo, comunicamo-nos por orações inter-
rogativas, que podem ser dirigidas a alguém ou mesmo retóricas (feitas a nós mes-
mos):
¿Qué te parece si vamos a la playa mañana?
Dios mío, ¿qué hago yo?
45
15.3 Orações exclamativas
Quando queremos dar uma ordem, fazer um pedido com ênfase ou proibir al-
guém de fazer algo, de modo que o interlocutor aja da forma correspondente, forma-
mos orações imperativas, cuja estrutura se baseia em um verbo conjugado no modo
gramatical imperativo. Um modo gramatical é um traço que indica a forma pela qual o
verbo pode ser expressado (e, consequentemente, conjugado). Em espanhol, além
do imperativo, também contamos com os modos indicativo e subjuntivo, que indicam
outras formas de expressar o verbo.
46
Há casos em que as orações imperativas correspondem, ao mesmo tempo, a
orações exclamativas, como em ¡Ven! ou ¡Acércate ahora! Além disso, outra opção
em relação à formação de orações imperativas é a sua formação em negativa, isto é,
orações cuja ordem se refere a algo que o interlocutor não deve fazer. Nesses casos,
em língua espanhola, a conjugação para o verbo é outra e, por isso, fala-se em impe-
rativo afirmativo e imperativo negativo.
47
Os sinais de interrogação e exclamação invertidos, colocados no
início das orações, são uma característica marcante da língua
espanhola escrita. Embora existam muitas teorias sobre a sua
criação, estima-se que ela data da Idade Média. Sabe-se que
esses símbolos foram pensados e criados para contextos de
leitura, de modo que os leitores pudessem compreender, desde o
início da oração, que se tratava de uma interrogação ou de uma
exclamação. Sua confirmação na gramática de língua espanhola
ocorreu apenas em 1754, com publicação da Real Academia
Española, em que os acadêmicos confirmaram a indicação da
utilização dos símbolos invertidos. ¡Qué interesante! ¿No te
parece increíble?
A vírgula costuma ser o sinal de pontuação mais temido por quem precisa se
comunicar por escrito. As regras para uso de coma (vírgula em espanhol) são várias,
e aplicá-las adequadamente exige conhecimento sintático sobre os termos que com-
põem a oração e sobre as relações entre elas.
Algumas construções exigem a presença de uma vírgula apenas. Esse é o caso
das enumerações: entre cada item enumerado, insere-se uma vírgula. Observe:
En el restaurante, comí patata, carne, arroz, frijoles y ensalada.
Note que, a cada novo elemento que completa o verbo comer, há uma
vírgula. Porém, ela não aparece na frente do primeiro item enumerado, nem depois
do último. Entre o penúltimo e o último item, insere-se, obrigatoriamente, a
conjunção y.
Nas construções formadas por mais de uma oração, o uso da vírgula depende
da conjunção. Conjunções que indicam oposição ou concessão exigem vírgula antes
delas. Observe:
Luis estudió mucho en las vacaciones, pero no se clasificó en el
concurso.
Fabiano no conquistó su amiga, aunque haya hecho todo lo que ella
quería.
49
Há regras que exigem o uso duplo de vírgula. Em espanhol, elas são
chamadas de comas en pareja. Elas aparecem nas subordinadas intercaladas:
Mañana, como estarás en casa, ¿puedes hacer el almuerzo para
nosotros?
Note que Eduardo indica o ser a quem o falante se dirige; logo, é um vocativo.
As explicações (inclusive apostos) também aparecem entre vírgulas:
Amazonia, pulmón de la Tierra, está amenazada por la deforestación.
Note que a expressão entre vírgulas, institución con personalidad jurídica pro-
pia, explica a expressão anterior, Real Academia Española; logo, é um aposto. É co-
mum também que a vírgula separe os complementos circunstanciales, quando eles
aparecem no início ou no meio da frase:
Busqué, inmediatamente, una explicación para lo ocurrido.
Essas regras são importantes para a organização das palavras e das orações,
para delimitar as unidades discursivas. Contudo, é preciso estar alerta também para
erros comuns. Um deles é colocar vírgula entre sujeito e verbo:
*El rey de España, tuvo una importante reunión con los ministros.
El rey de España tuvo una importante reunión con los ministros.
51
*Ella preguntó: ¿Qué hago?.
*Copié la cita de un libro: “Haga todo con fe y determinación.”
Note os problemas: não se usa ponto após o sinal de interrogação, nem antes
das aspas.
O ponto e vírgula (punto y coma), como o próprio nome indica, assume um
papel entre o de ponto e o de vírgula. Nesse sentido, ele é utilizado para, por exemplo,
separar enumerações que já contenham vírgulas:
Yo fui a Madrid; mis padres, a Sevilla y mi hermana, a Toledo
Outro uso comum desse tipo de pontuação ocorre quando há orações com
ideias diferentes, mas que aparecem justapostas, principalmente se elas já apresen-
tarem vírgulas. Observe:
A mí me gusta la playa; a mi marido, el campo.
Os dois-pontos, de forma geral, têm seu uso relacionado à ênfase que se de-
seja dar à informação que surge logo após esse sinal de pontuação. Portanto, nunca
encerra enunciados, parágrafos ou textos. Veja:
Pedí a mis amigos: compañía, cariño y comprensión.
52
Além disso, os dois-pontos aparecem com frequência em cartas e documentos,
como nas saudações (Querido papá:) e nas determinações (RESUELVE: Que la hora
de início del trabajo sea).
53
Quanto às orações interrogativas, embora elas possam ser construídas com
perguntas diretas e indiretas, o sinal de interrogação só aparece nas diretas. Observe:
Note que, no primeiro exemplo, há uma ironia: Juan nunca é tímido, mas ficou
vermelho diante da namorada. No segundo exemplo, há uma indicação de surpresa:
como o professor permitiu que ninguém fizesse a atividade?
Em documentos históricos, é comum o uso de ponto de interrogação entre pa-
rênteses, para indicar uma data aproximada, ou seja, quando não se tem certeza so-
bre ela. Veja:
Don Juan Manuel (12820- 1348?)
54
Essas concepções têm algo em comum: todas consideram a educação como
algo além dos conteúdos tratados como objetos estáveis e universais. No entanto,
transformar essas ideias em ações e estratégias é algo muito desafiador.
Segundo Fernando Hernández (1998), a função das instituições educacionais
é facilitar a construção da subjetividade para os alunos, de maneira que eles tenham
estratégias e recursos para interpretar o mundo no qual vivem. Há várias estratégias
e recursos que buscam potencializar o papel ativo do aluno. No entanto, muitas des-
sas propostas esbarram na desmotivação dos estudantes; portanto, é preciso esforço
e criatividade para resgatar o seu interesse. Para isso, muitos professores utilizam
músicas, jogos, dramatizações, experimentos, isto é, atividades lúdicas. Isso ajuda a
turma a construir novas descobertas, desenvolver e enriquecer a sua cultura. Assim,
o professor experimenta a condição de condutor, orientador e avaliador da aprendiza-
gem.
Como se nota, muitos estudiosos consideram as atividades lúdicas verdadeiros
desafios, que levam o sujeito a construir conhecimento. Cardoso (1996) afirma que os
jogos são mais que instrumentos de aprendizagem, pois garantem a espontaneidade
e a interação — elementos essenciais para o desenvolvimento da autonomia.
Para Sánchez e Romeu (1996), os docentes devem planejar estratégias capa-
zes de guiar processos reflexivos e de levar os estudantes à reinterpretação do co-
nhecimento. Tornar a aprendizagem algo não só útil como também interessante é uma
das formas de atingir esse objetivo.
Para elaborar e escolher propostas lúdicas, você deve conhecer os interesses
dos seus alunos e reservar momentos em sala de aula para ouvir a turma. Atente para
algumas ideias-chave, ao planejar atividades lúdicas: motivação à aprendizagem, in-
teração, articulação de diferentes campos do saber, integração com situações concre-
tas, estímulo, participação efetiva do aluno, aprendizagem com sentido, clima de en-
tusiasmo, envolvimento emocional, atmosfera de espontaneidade e criatividade, mo-
tivação à autonomia, mudança efetiva, momento vivido, expressividade.
No ensino da sintaxe, também é possível desenvolver estratégias lúdicas que
levem o aluno a descobertas, treinamentos e recomposições. Um jogo de quebra- -
cabeça é uma opção divertida para evidenciar as relações entre as palavras e os com-
plementos, por exemplo. Com essa estratégia, é possível trabalhar a regência, as di-
55
ferenças entre complemento de régimen verbal e complemento de régimen preposici-
onal, as características dos complementos circunstanciais. Se esse quebra- -cabeça
for um texto, é possível desenvolver também as relações da sintaxe com a coerência
e a coesão da mensagem. Além disso, pode-se discutir sobre os sentidos que se quer
dar ao texto a partir das construções oracionais e dentro das orações.
Os jogos de adivinhação articulam as habilidades de fala, estimulam a criativi-
dade, expandem o vocabulário e divertem. Os conceitos sintáticos podem ser a res-
posta para várias perguntas de adivinhações. Veja um exemplo no box a seguir.
56
[...] por meio dos jogos educativos, o aluno assume um papel ativo na educa-
ção, construindo o seu conhecimento e buscando exercitar conceitos a partir
de situações simuladas, praticando suas relações e interações sociais tanto
com os colegas de seu grupo (colaborativo) quanto no trabalho com colegas
de outros grupos (competitivo ou colaborativo).
Como se nota, quando se opta por utilizar estratégias lúdicas, são mobilizados
sentimentos e ideias para defender opiniões em um grande ensaio em sala de aula.
57
19 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DI TULLIO, Á. Manual de gramática del español. Buenos Aires: La Isla de Luna, 2005.
GÓMEZ TORREGO, L. Gramática didáctica del español. São Paulo: SM, 2005.
58
GÓMEZ TORREGO, L. Hablar y escribir correctamente: gramática normativa del es-
pañol actual. 4. ed. actual. Madrid: Arco Libros, 2006.
59
SANCHEZ, P. A.; ROMEU, N. I. Procesos de ensenanza aprendizaje ante las necesi-
dades educativas especiales. In: MATA, F. S. Didáctica y organización de ia education
especial. Málaga: Aljibe, 1996.
60