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Gramatica em Lingua Espanhola 2

O documento aborda a gramática da língua espanhola, sua definição, tipos e evolução histórica, destacando a importância da obra de Antonio de Nebrija em 1492. Ele explora diferentes abordagens gramaticais, como a normativa e a descritiva, e discute a relevância de cada uma no ensino da língua. Além disso, menciona a necessidade de organização e dedicação dos alunos em cursos à distância relacionados ao estudo da gramática.
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Gramatica em Lingua Espanhola 2

O documento aborda a gramática da língua espanhola, sua definição, tipos e evolução histórica, destacando a importância da obra de Antonio de Nebrija em 1492. Ele explora diferentes abordagens gramaticais, como a normativa e a descritiva, e discute a relevância de cada uma no ensino da língua. Além disso, menciona a necessidade de organização e dedicação dos alunos em cursos à distância relacionados ao estudo da gramática.
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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3

2 O QUE SIGNIFICA “GRAMÁTICA” E QUAIS SÃO OS SEUS TIPOS? ...... 4

3 O PERCURSO DA GRAMÁTICA DA LÍNGUA ESPANHOLA ..................... 8

4 O SÉCULO XXI E A NUEVA GRAMÁTICA DE LA LENGUA ESPAÑOLA:


UMA GRAMÁTICA CONTEMPORÂNEA .................................................................. 10

4.1 Fonologia/fonética .............................................................................. 12

4.2 Morfologia........................................................................................... 12

4.3 Sintaxe ............................................................................................... 13

5 CARACTERIZAÇÃO DA SINTAXE DA LÍNGUA ESPANHOLA ................ 15

5.1 Classes gramaticais e seu estudo sintático ........................................ 16

5.2 Unidades sintáticas: as classes de palavras ...................................... 17

6 OS CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO ..................................................... 18

6.1 Propriedades morfológicas. ................................................................ 18

6.2 Propriedades de flexão....................................................................... 18

6.3 Propriedades de derivação................................................................. 19

7 RELAÇÕES SINTÁTICAS: DISTRIBUIÇÃO, COMBINAÇÕES POSSÍVEIS,


RESTRIÇÕES SINTÁTICAS, FUNÇÕES SINTÁTICAS ........................................... 19

8 A CLASSIFICAÇÃO E O SEU CARÁTER RELATIVO .............................. 20

9 A ORAÇÃO E AS SUAS PECULIARIDADES ........................................... 24

10 A ORAÇÃO E O DISCURSO ................................................................. 27

10.1 Classificação das orações .................................................................. 27

10.2 Funções sintáticas: uma relação básica ............................................. 28

10.3 Predicados e argumentos................................................................... 28

11 AS FUNÇÕES SINTÁTICAS E AS SUAS MARCAS ............................. 29


1
11.1 Sujeito ................................................................................................ 29

11.2 Complementos direto e indireto .......................................................... 31

11.3 Predicativo.......................................................................................... 32

11.4 Complementos preposicionais ........................................................... 33

11.5 Complemento de régimen .................................................................. 33

11.6 Complemento agente ......................................................................... 33

11.7 Os adjuntos ou complementos circunstanciais ................................... 34

12 CONCORDÂNCIA VERBAL: OS CASOS DOS SUJEITOS EXPRESSO E


TÁCITO 34

13 COMPLEMENTOS: DIRETO, INDIRETO, DE RÉGIMEN VERBAL E


CIRCUNSTANCIAL ................................................................................................... 39

13.1 Complementos direto e indireto .......................................................... 39

14 COMPLEMENTO DE RÉGIMEN PREPOSICIONAL E


CIRCUNSTANCIAL ................................................................................................... 42

15 ORAÇÕES EM LÍNGUA ESPANHOLA: IMPERATIVAS,


INTERROGATIVAS, EXCLAMATIVAS E DE NEGAÇÃO ......................................... 43

15.1 Orações declarativas: afirmativas e negativas ................................... 44

15.2 Orações interrogativas ....................................................................... 45

15.3 Orações exclamativas ........................................................................ 46

15.4 Orações imperativas........................................................................... 46

16 O USO DA VÍRGULA NA LÍNGUA ESPANHOLA ................................. 48

16.1 Ponto, ponto e vírgula e dois-pontos .................................................. 51

17 PONTUAÇÃO NAS EXCLAMAÇÕES E NAS INTERROGAÇÕES ....... 53

18 ESTRATÉGIAS LÚDICAS NO ENSINO DA SINTAXE .......................... 54

19 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................... 58

2
1 INTRODUÇÃO

Prezado aluno!
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma per-
gunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que
esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a res-
posta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em
tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que
lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser se-
guida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

3
2 O QUE SIGNIFICA “GRAMÁTICA” E QUAIS SÃO OS SEUS TIPOS?

O termo gramática é polissêmico: ele pode se referir:


1) à ciência que se dedica ao estudo da língua, suas características, possibili-
dades e componentes;
2) à arte de colocar a língua em prática, do ponto de vista da fala ou da escrita,
de modo correto e adequado, demonstrando domínio desta;
3) ao conjunto de normas, regras e princípios que caracterizam determinada
língua e o seu funcionamento. Embora essas acepções se diferenciem, podemos en-
contrar um denominador comum entre elas: a gramática tem como base uma língua,
as combinações que lhe são típicas e os preceitos que definem o seu uso.
O espanhol não foge à regra, sendo objeto da gramática desde o século XV,
com o trabalho do mestre Antonio de Nebrija. Em 1492, ele publicou a primeira gra-
mática dedicada à língua espanhola (e a primeira dedicada às línguas de origem ro-
mânica), a Gramática de la lengua castellana, a qual tem um papel fundamental na
história, uma vez que serviu de modelo para o desenvolvimento de inúmeros traba-
lhos, nas mais diversas línguas.
De 1492 até hoje, o caminho percorrido pelos gramáticos de língua espanhola
levou — e segue levando — a uma produção muito variada, com a qual estudantes,
professores e demais interessados nessa língua podem contar. Assim, distinguem-se
muitos tipos de gramáticas do espanhol, as quais, ainda que tenham objetivos dife-
rentes, apresentam um caráter pedagógico, isto é, caracterizam-se por um compo-
nente didático e têm o objetivo de ensinar algum aspecto específico relacionado à
gramática. Veja os tipos mais comuns e discutidos de gramáticas de língua espanhola:

4
„ Gramática tradicional: com foco na classificação e na terminologia que
classifica os conceitos gramaticais das línguas, exibe regras concretas e nor-
mas internas, que objetivam apresentar a língua em questão, em termos de
sintaxe (indicando as possibilidades de estruturas das orações) morfologia
(apontando as possibilidades de formas e variações das palavras) e análise
de orações. Apesar de suas limitações, é a mais comumente utilizada no en-
sino de línguas em escolas, para crianças e aprendizes de língua estrangeira.
„ Gramática funcional: baseia-se na linguagem enquanto instrumento
social e no estudo de seus elementos a partir do contexto, das situações co-
municativas e de interações sociais em que é empregada e organizada. O
foco dessa gramática está nas relações funcionais entre os constituintes de
uma língua, que se constatam em três níveis — o semântico, o sintático e o
pragmático.
„ Gramática gerativa: descreve as línguas a partir de sua análise sintá-
tica e da sua capacidade de gerar construções com base na recursividade,
isto é, sustentadas por regras e unidades abstratas. As sequências sintáticas
analisadas são decompostas no que se denomina constituintes sintáticos —
combinações que são compostas por um núcleo.
„ Gramática formal: dedica-se ao estudo das línguas a partir de uma
perspectiva matemática, definindo as regras (de acordo com a sintaxe da lín-
gua em questão) pelas quais é possível produzir cadeias de caracteres que
compõem — e geram — uma linguagem formal. Também tem a função de
permitir o reconhecimento de uma cadeia como pertencente ou não a uma
linguagem, bem como analisar a sua correção e incorreção.

5
Cabe destacar, no entanto, dois tipos de gramáticas frequentemente
colocados em oposição no estudo da língua espanhola: a normativa (também
denominada prescritiva) e a descritiva (Figura 1). A gramática normativa, como o
próprio nome indica, baseia-se na apresentação de normas, regras e determinações
a respeito da língua, geralmente ignorando variantes geográficas ou de classe
social, por exemplo. Assim, busca padronizar a norma culta do idioma, impondo
regras de uso, recomendações ou até mesmo, dependendo da A gramática
espanhola: abordagem escolhida, obrigações para o falante. Em geral, privilegia
alguma variedade linguística e o modo escrito da língua, e é produzida por uma
instituição oficial reguladora do idioma.
Por outro lado, a gramática descritiva toma como base o uso da língua, a
partir do qual, sem juízo de valor (diferentemente da prescritiva), descreve a
utilização em contextos reais de um idioma, analisando de modo mais global e
democrático os diversos aspectos que esse idioma pode apresentar, com base na
observação de comunidades linguísticas.
Em espanhol, é muito comum encontrar obras que misturam as duas
perspectivas, produzindo descrições da língua, mas oferecendo versões de
construções linguísticas ou de formas de pronúncia, por exemplo, mais “corretas” e
“adequadas”, em comparação com outras. Por outro lado, também há obras que
claramente expressam o seu objetivo e ponto de vista sobre a língua, como é o caso
de Hablar y escribir correctamente: gramática normativa del español actual, de
Leonardo Gómez Torrego, publicada em 2006. Como fica claro pelo próprio título, a
sua proposta é apresentar uma versão, segundo o autor, “correta” da língua
espanhola contemporânea em suas formas falada e escrita. Além disso, a obra é
descrita como:

“[...] una herramienta utilísima para profesores y estudiantes de español, que


tienen la obligación de conocer las actuales normas de corrección gramatical
y los cambios normativos que se han producido ultimamente [...]” (GÓMEZ
TORREGO, 2006).

6
Desse modo, fica clara a característica de imposição em sua abordagem, já
que, ainda que reconheça as mudanças sofridas pela língua espanhola, propõe nor-
matizá-las e as apresenta como regras. Embora possa parecer fácil questionar essa
perspectiva gramatical, podemos entender o seu valor na resolução de dúvidas e in-
seguranças que surjam naqueles que se interessam pelo espanhol na sua modalidade
culta.
Em contrapartida, contamos com o exemplo da Gramática descriptiva de la len-
gua española, de Ignacio Bosque e Violeta Demonte, que coordenaram uma equipe
de mais de setenta linguistas de diferentes lugares para a organização da obra, publi-
cada em 1999. Afastando-se da perspectiva normativa, os autores se propõem a des-
crever a língua espanhola no que se refere aos seus aspectos morfológicos e sintáti-
cos. Trata-se de uma obra abrangente, que busca representar variedades linguísticas
e que, embora não dê o mesmo espaço às variantes americanas que dá à espanhola,
considera a sua importância e reconhece a existência de alternativas e possibilidades
expressivas dentro de um mesmo sistema — o da língua espanhola.
Figura 1. Gramáticas opostas: descritiva x normativa.

Fonte: GÓMEZ TORREGO (2006).

Ainda que a Real Academia Española (RAE) simplifique, definindo gramática


como “[...] parte de la lingüística que estudia los elementos de una lengua, así como

7
la forma en que estos se organizan y se combinan [...]”,vimos que são diversas as
possibilidades de realizar esse estudo. Com base em uma visão de língua e em um
recorte que se queira apresentar aos interessados nela, diversas abordagens podem
ser selecionadas e, do mesmo modo, diferentes obras podem servir como objeto de
consulta.

3 O PERCURSO DA GRAMÁTICA DA LÍNGUA ESPANHOLA

Falar da história da gramática da língua espanhola é voltar, impreterivelmente,


ao ano de 1492, não porque foi o ano em que Cristóvão Colombo chegou às Américas,
mas porque foi quando o sevilhano humanista Elio Antonio de Nebrija (1441-1522),
considerado por muitos como o pai da língua espanhola, publicou a Gramática de la
lengua castellana (Figura 2). Essa obra marca o nascimento da gramática e da lin-
guística espanhola.
Mas por que voltar tanto no tempo? Porque, ainda que a distância entre Nebrija
e o estudos linguísticos atuais, em termos de cronologia e metodologia, seja muito
grande, a base do que se produz hoje e do que se produzirá no futuro está justamente
nessa data, quando o sevilhano elaborou do zero — mas tomando como referência a
produção teórica latina — a obra base da gramática da língua espanhola e das línguas
românicas de modo geral. Foi somente a partir desse trabalho que Portugal, Itália e
França, por exemplo, começaram a pensar e organizar sistematicamente as suas res-
pectivas línguas, décadas depois da publicação da obra de Nebrija.
Três objetivos específicos basearam a “Gramática:
1) contribuir para a consolidação e fixação da língua espanhola, de modo
a garantir a sua sobrevivência;
2) facilitar o acesso ao latim, já que, conhecendo com precisão o
espanhol, os falantes teriam acesso mais fácil à língua latina;
3) ensinar o espanhol a falantes de outros idiomas.
Apesar de seus méritos, Nebrija foi muito criticado, principalmente porque era
andaluz, ou seja, falante de um espanhol não padrão, segundo os castelhanos. Não
obstante, seu trabalho inaugurou o que seria um longo caminho na história da
gramática da língua espanhola, até então sem precedentes. Assim, com total
independência do latim, a “Gramática” focava completamente no espanhol e era

8
dividida em uma parte destinada à metodologia, composta por regras e princípios
que regiam a língua (o que confere à obra um caráter normativo), e em uma parte
histórica, que retomava poetas e autores cujas obras foram produzidas em língua
espanhola, como testemunhos do seu uso adequado e correto.
Figura 2. Capa da gramática de Nebrija.

Fonte: Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes (c2018?).

Com a publicação do trabalho de Nebrija, estabeleceu-se então um marco


nos estudos gramaticais: a partir da “Gramática”, foi fundada a área — ciência, arte
ou disciplina — que colaboraria para o estabelecimento da linguística. Assim, nos
séculos posteriores (XVI a XVIII), passaram a se multiplicar o estudo, o trabalho e a
produção de gramáticas, entre as quais se destacam a Gramática castellana
(VILLALÓN, 1558), a Instituciones de la gramática española (JIMÉNEZ PATÓN,
1614), a Gramática de la lengua castellana (REAL ACADEMIA ESPAÑOLA, 1796),
entre outras.
No século XIX, período em que ainda conviviam duas abordagens gramaticais
distintas (a tradicional, baseada na teoria grecolatina, e a racionalista, influência dos
franceses), merece destaque especial o trabalho de Bello (2002), Gramática:
gramática de la lengua castellana destinada al uso de los americanos, que teve o
mérito de unir abordagens distintas e produzir um sistema gramatical que viria a
servir de referência para a elaboração de autores posteriores.
9
O século XX, por sua vez, é reconhecido como a época em que passaram a
se desenvolver e se aplicar diversas correntes linguísticas, em diferentes momentos.
Nesse cenário, começaram a ser empregados métodos científicos e sistemáticos
para a produção de obras e estudos científicos, tomando a linguagem como objeto.
Esse movimento levou à publicação de trabalhos consagrados e renomados, como
os Estudios de gramática funcional del español (ALARCOS, 1970).
Para entender o percurso realizado pelos estudos gramaticais em língua
espanhola, é fundamental olhar para o passado, para os precursores e iniciadores
de uma tradição tão rica. No entanto, cabe destacar também a importância do
passado para o que se faz hoje: conhecer a tradição gramatical nos oferece tanto a
possibilidade de entendê-la para poder criticá-la, quanto a possibilidade de
aproveitá-la, tirando dela ensinamentos que contribuam para a produção atual.
É nesse sentido que se manifesta Peñalver Castillo (1992), que, analisando o
caráter normativo da obra de Nebrija, sugere que se evite negar totalmente o
trabalho do pai da gramática espanhola. Peñalver Castillo (1992) propõe o contrário:
que se possa utilizar o caráter normativo, aliando-o ao descritivo, considerando
objetivos pedagógicos que levem em conta a importância de apresentar para os
estudantes e interessados na língua espanhola, entre outras coisas, as regras, já
que “[...] uma síntese fundamentada e científica entre as duas concepções pode
contribuir decisivamente para abrir novos caminhos no ensino do espanhol como
língua materna e a melhorar sua didática [...]” (PEÑALVER CASTILLO, 1992, p.
226).

4 O SÉCULO XXI E A NUEVA GRAMÁTICA DE LA LENGUA ESPAÑOLA: UMA


GRAMÁTICA CONTEMPORÂNEA

A gramática do espanhol, como vimos, percorreu um longo e rico caminho até


os dias de hoje. Analisada, pensada e produzida a partir de muitas perspectivas,
acompanhou a evolução dos tempos, o desenvolvimento dos mais de 20 países que
têm o espanhol como língua oficial e a configuração, estruturação e afirmação do pen-
samento científico. Atualmente, os idiomas podem ser analisados sob o ponto de vista
de diferentes tipos de gramática, com os mais variados objetivos: observar as regras

10
de formação das palavras, descobrir suas possibilidades combinatórias, inteirar-se
dos usos padrão, etc.
Sem entrar no mérito de qual estudo gramatical é mais ou menos eficiente ou
relevante, e sem classificá-lo como melhor ou pior, é importante que o estudante, o
professor ou qualquer interessado na língua espanhola tenha um conhecimento dos
elementos base da gramática dessa língua. Assim, cabe destacar que, muito resumi-
damente, uma gramática representa ou é composta por um estudo das palavras, a
partir de dois aspectos que lhe são fundamentais: a sua formação e as suas combi-
nações. Nesse contexto, estamos nos situando nas áreas linguísticas que se denomi-
nam morfologia (área que se centra na estrutura das palavras) e sintaxe (cujo foco
está nas relações e nos grupos que as palavras podem formar). Além disso, costumam
integrar a gramática de língua espanhola as análises fonológicas (sobre os sons da
língua) e fonética (centrada na organização dos sons em termos linguísticos).
A Real Academia Española, instituição fundada em 1713 por Juan Manuel Fer-
nández Pacheco, é reconhecida por seu trabalho de fomento da língua espanhola, por
meio de pesquisa e elaboração de obras que têm papel fundamental na organização
e difusão da língua. A Nueva gramática de la lengua española (2009-2011) é um
marco nos estudos gramaticais em espanhol, ao ser introduzida, no século XXI, como
uma obra de enorme valor didático. Ela se propõe, ao mesmo tempo, a uma aborda-
gem descritiva e normativa, já que apresenta a língua padrão e seus registros formais,
mas também descreve a variação linguística de acordo com questões geográficas,
sociais e de estilo.
Ainda, trata-se de uma obra sincrônica, uma vez que se centra na língua atual
e em uso corrente, mas também apresenta referências históricas, oferece explicações
etimológicas e cita autores e acepções de outras épocas da língua espanhola. Além
disso, embora não negue a tradição iniciada por Antonio de Nebrija, séculos antes,
está formulada e sustentada em princípios metodológicos e científicos da gramática
contemporânea.
A seguir, com base no reconhecido trabalho da RAE, apresentaremos as prin-
cipais características tomadas como base de análise e produção gramatical em língua
espanhola, apontando elementos linguísticos fundamentais, divididos nas três gran-
des áreas objeto de atenção da gramática: fonologia/ fonética, morfologia e sintaxe.

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4.1 Fonologia/fonética

Assim como no português, os sons do espanhol se dividem em vocálicos e


consoantes; unidos, eles formam cadeias que compõem as sílabas, consideradas o
menor grupo que apresenta estrutura interna. É nesse sentido que a RAE, em sua
gramática, apresenta a oposição entre unidades do espanhol, como em dado e dato:
essas palavras se diferenciam em função de unidades da língua que são abstratas,
como os fonemas /t/ e /d/.
As unidades fonológicas, em língua espanhola, interferem fortemente nos pro-
cessos morfológicos. Assim, por exemplo, alterações de vogais geram processos de
ditongação, como pensar ~ pienso, llover ~ llueve, as quais são extremamente fre-
quentes em espanhol. De forma similar, alterações de consoantes afetam unidades
como sueco ~ Suecia (alteração entre os fonemas /k/ e /s/) ou filólogo ~ filología (al-
teração entre os fonemas /g/ e /x/).

4.2 Morfologia

A área da morfologia se dedica à análise da estrutura e da formação das pala-


vras, suas possibilidades de variação e a função gramatical que apresentam em rela-
ção umas às outras. Na gramática de língua espanhola, esse estudo se dá em duas
abordagens: a morfologia flexiva e a morfologia léxica.
A morfologia flexiva analisa as flexões às quais se submetem as unidades
que formam as palavras (morfemas), em sua relação umas com as outras, as quais
produzem alterações de sentido gramatical e têm consequências para a sintaxe.
Para tal, são analisados os elementos que influenciam a estrutura das palavras por
meio de flexões (que indicam alguma informação sobre as palavras). No caso da lín-
gua espanhola, essas flexões são número (ciudad/ciudades), gênero (escocês/esco-
cesa), pessoa (él/ella), caso (yo – caso nominativo; me – caso acusativo), tempo (es-
tuvimos, están), aspecto (estoy comiendo, comimos) e modo (quiero que vengas –
modo subjuntivo; ¡ven! – Modo imperativo).
Já a morfologia léxica se dedica ao estudo da formação das palavras em dois
processos básicos, que afetam a base léxica: a composição e a derivação. No pro-
cesso de composição, duas bases léxicas se juntam e formam uma palavra, como
lavamanos. Na derivação, a partir de uma base léxica que carrega o significado,
12
acrescenta-se um afixo (que contribui com informação nova), formando uma nova
unidade: cohabitar. O afixo acrescentado nesse processo pode ser um prefixo — an-
teposto à base (reponer) — ou um sufixo — posposto a ela (rojizo). Por fim, há ca-
sos em que ambos os processos (composição e derivação), unidos, formam uma
nova unidade. Esse processo duplo é denominado parassíntese, como cuentacor-
rentista (composição de cuenta com corriente e sufixação com –ista).

4.3 Sintaxe

Em espanhol, considera-se que existem nove classes de palavras, as quais


podem se combinar umas com as outras, em relações que são objeto de estudo da
sintaxe: substantivo, pronome, artigo, adjetivo, advérbio, verbo, preposição conjun-
ção e interjeição. Os artigos, pronomes e alguns casos de advérbios, preposições,
conjunções e verbos contêm informação apenas gramatical, de modo que são abs-
tratos e desempenham função de referenciar, indicar plural ou colaborar com a orga-
nização sintática das orações. Por outro lado, há classes de palavras que se carac-
terizam pelo conteúdo léxico que carregam, como os substantivos, os adjetivos e
quase todos os verbos e advérbios.

13
Além disso, na sintaxe da língua espanhola, entende-se que as palavras, en-
quanto unidades sintáticas, podem, a partir de um núcleo, formar grupos, frases ou
sintagmas que desempenham funções sintáticas. Assim, podem ser identificados gru-
pos nominais (Comimos la manzana verde), grupos adjetivais (Esta revista no es fácil
de comprar), grupos verbais (Se fueron a pasear ahora), grupos adverbiais (Estamos
muy lejos), grupos pronominais (¿Quién de ustedes vendrá mañana?), e grupos pre-
posicionais (No ganó por imprudente). Todos esses grupos são constituídos a partir
da base que lhes dá nome (por exemplo, grupos adverbiais se estruturam em torno
de um advérbio).
Esses grupos são compreendidos como constituídos por um grau de liberdade,
em oposição às locuções, que são grupos sintáticos mais fixos e lexicalizados, os
quais funcionam como uma só unidade. Uma locução verbal (llevar a cabo), por exem-
plo, equivale a um verbo (realizar); uma locução conjuntiva (a pesar de), a uma con-
junção (aunque); uma locução adjetiva (sano y salvo), a um adjetivo (bien).
Vale destacar também as funções sintáticas que se identificam na língua espa-
nhola e que cumprem um papel fundamental na sua gramática, já que “[...] represen-
tam as formas pelas quais se manifestam as relações que expressam os argumentos
[...]” (REAL ACADEMIA ESPAÑOLA, 2009, p. 15), sendo reconhecidas por marcas
que as indicam. As mais conhecidas em espanhol (assim como em português) são as
de sujeito e predicado. Por exemplo, na frase Juan se compró unos libros, Juan tem
a função de sujeito, e unos libros, de predicado.
Finalmente, a noção de orações tem grande importância para a gramática.
Trata-se de unidades que são compostas por sujeito e predicado e que, em espanhol,
têm a particularidade bastante comum da omissão do sujeito. Em outras palavras, a
informação referente ao sujeito está na oração, mas não é necessariamente explici-
tada: em Dormiremos mañana, sabemos que o sujeito é nosotros pela conjugação
verbal.
Há alguns critérios que permitem classificar as orações em língua espanhola.
O primeiro deles — a atitude do falante (ou modalidade) — divide as orações em
declarativas (Está nevando), interrogativas (Qué pasa?), exclamativas (No me digas!),
e imperativas (Se prohíbe fumar). De acordo com o predicado (ou as exigências que
o verbo em questão tem), distinguem-se orações transitivas (o verbo exige comple-
mento — Coge la pelota, por favor), intransitivas (o verbo não exige complemento —

14
Ayer llovía) e copulativas (formadas por um verbo copulativo, como ser, estar, parecer
— Lo que importa es ser feliz.).
Por fim, segundo a dependência/independência que a oração apresenta em
relação a outras, podem ser identificadas orações simples (que não dependem e não
se relacionam com outra que a modifique — La fiesta está llena), subordinadas (que
se inserem em uma oração principal, a qual modificam — La ropa que me compré
está muy larga) e compostas (identificadas porque contêm pelo menos uma oração
subordinada — Los niños juegan y luego comen.).
Além disso, uma gramática contemporânea do espanhol que corresponda à
língua que encontramos hoje, espalhada em mais de 20 países, deve ter um caráter
democrático e considerar as nacionalidades que têm como o espanhol língua oficial.
As diferenças e as particularidades de uso da língua dessas nacionalidades se mani-
festam em todos os níveis gramaticais (morfológico, sintático, fonológico) e, por isso,
são fundamentais para que se possa ter a devida compreensão da amplitude tão ca-
racterística desse idioma.
É importante reconhecer, por fim, que a “Nueva gramática de la lengua espa-
ñola” é um excelente referencial para qualquer interessado em conhecer as palavras
da língua, no que se refere à sua formação, às possibilidades combinatórias e aos
sons e às unidades que a caracterizam. No entanto, para a sua publicação, em 2009,
foi imprescindível que, cinco séculos antes, Antonio de Nebrija nos tivesse brindado
com o início dos estudos gramaticais. Foi a partir deles que toda a tradição gramatical
da língua se desenvolveu e, principalmente, que estudos contemporâneos como o da
RAE puderam cimentar-se, desenvolvendo os seus próprios pressupostos teóricos. A
discussão sobre os trabalhos de seus antecessores serviu tanto para mostrar as fa-
lhas destes, quanto para promover e divulgar os seus próprios princípios científicos.

5 CARACTERIZAÇÃO DA SINTAXE DA LÍNGUA ESPANHOLA

Sabe-se que a língua é um código composto de unidades, e que seus falantes


concretizam os seus atos de fala exercendo a sua competência comunicativa com
base nessas unidades. No entanto, para que as construções da língua sejam “bem
formadas”, elas devem obedecer às leis constitutivas da gramática em questão. O
dicionário da Real Academia Española (2010) apresenta a sintaxe como “[...] parte da

15
gramática que estuda a maneira pela qual palavras e grupos se combinam para ex-
pressar significados, assim como as relações que são estabelecidas entre todas essas
unidades”.
Em essência, a sintaxe é o estudo da organização das palavras em unidades
maiores e a organização dessas unidades em frases. A organização das orações não
obedece apenas a relações de linearidade. As palavras, por exemplo, são organiza-
das de acordo com certas regras, que dizem respeito à ordem, às conexões explícitas
e implícitas e à seleção que algumas palavras exercem umas sobre as outras. Essas
relações atribuem à sentença uma estrutura interna. Como o gramático não tem
acesso direto a essa estrutura interna, ele formula uma hipótese sobre isso: a sua
descrição estrutural.
Para designar os elementos de uma sentença, segundo Di Tullio (2005), preci-
samos de duas noções: construção e constituinte. A oração é uma construção que
não é constituinte de uma construção maior; portanto, é a unidade máxima da sintaxe.
Palavras, por outro lado, são constituintes que não são construções (embora possam
ser construções morfológicas, a sintaxe não manipula a estrutura interna das pala-
vras). As unidades intermediárias, por outro lado, são constituintes (das maiores cons-
truções em hierarquia) e construções (em relação aos elementos que a compõem).

5.1 Classes gramaticais e seu estudo sintático

As palavras que usamos para nos expressarmos oralmente e por escrito têm
características diferentes. Saber distinguir os tipos de palavras (categorias gramati-
cais) é muito importante para entender o funcionamento da linguagem. O termo cate-
goria indica uma classe de entidades que compartilham algumas características rele-
vantes. Assim, quando falamos em categoria sintática, estamos nos referindo a uma
classe de unidades linguísticas (palavras ou sintagmas), que apresentam semelhan-
ças em nível morfológico, sintático e semântico. Quando estabelecemos que certa
unidade lexical pertence a uma categoria, estamos inscrevendo-a numa classe pree-
xistente, cujas propriedades já estão definidas e cujos membros se comportam de
forma regular e previsível.

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Uma das tarefas mais básicas de uma gramática é atribuir às palavras as várias
classes reconhecidas. Essa classificação é um requisito indispensável para a formu-
lação de regras, uma vez que elas não dizem respeito a palavras individuais, mas a
classes. Para que essa classificação seja adequada, deve basear-se no comporta-
mento gramatical das palavras: suas características morfológicas e seu funciona-
mento sintático.
O Manual da Gramática da Real Academia Española (RAE) de 2010 divide o
seu índice em questões gerais, morfologia e sintaxe. Na morfologia, estuda-se apenas
o nível dos morfemas, enquanto na sintaxe estuda-se o nível do período, da oração,
dos sintagmas e dos vocábulos. A prova disso é que a sintaxe se divide em três sub-
grupos: o primeiro chama-se “classe de palavras e seus grupos sintáticos”; o segundo,
“as funções”; e o terceiro, “as construções sintáticas fundamentais”.
A morfologia e a sintaxe, segundo Di Tullio (2005), compartilham a palavra
como uma unidade. Na primeira, a análise se detém apenas à palavra e a sua estru-
tura interna; a segunda inicia na palavra. Em convergência a essa análise, a RAE
afirma que “[...] a palavra constitui a unidade máxima de morfologia e a unidade mí-
nima de sintaxe” (REAL ACADEMIA ESPAÑOLA, 2010, p. 4). As palavras, pertencen-
tes a determinada categoria ou classe, de acordo com as suas propriedades morfoló-
gicas e sintáticas, formam grupos sintáticos: mi casa, por exemplo, é um grupo nomi-
nal e bebe leche, um grupo verbal.
A morfologia trata da palavra como entidade única, formada por morfemas, e
não analisa a relação que as palavras mantêm umas com as outras. Portanto, ao ana-
lisar as categorias gramaticais do espanhol, estaremos estudando a sintaxe da língua
espanhola, e não a morfologia. Assim, ao fazer uma análise sintática na língua espa-
nhola, deve-se perceber que qualquer relação sintagmática que possa existir entre os
seus vocábulos, seja ela de classes de palavras ou de complemento verbal, será uma
análise sintática.

5.2 Unidades sintáticas: as classes de palavras

As classes de palavras são paradigmas formados em função das suas proprie-


dades combinatórias e das informações morfológicas que elas aceitam. As classes de

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palavras do espanhol são artigo, substantivo, adjetivo, pronome, verbo, advérbio, pre-
posição, conjunção e interjeição. Segundo a RAE (REAL ACADEMIA ESPAÑOLA,
2010, p. 11), enquanto há classes de palavras que carregam informações gramaticais
no seu léxico, há outras que têm seu signifi cado defi nido pela gramática, ou seja,
pela relação sintática da oração em questão.
A RAE (REAL ACADEMIA ESPAÑOLA, 2010) chama de clases transversales
palavras que apresentam muita semelhança, mas com particularidades específicas,
as quais classificam-se em diferentes grupos e, com isso, explicam vários aspectos
de seu funcionamento e de seu significado. Por exemplo, os indefinidos, os numerais
e os demonstrativos, quando modificam os substantivos, são analisados como uma
classe de adjetivos; entretanto, quando substituem os substantivos e executam as
suas funções sintáticas, assumem o papel de pronomes. Portanto, cabe salientar que
as classes de palavras são caracterizadas por assumir um papel sintático nas suas
unidades.

6 OS CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO

6.1 Propriedades morfológicas.

As características morfológicas de cada classe constituem um critério ade-


quado para classificação. Devemos reconhecer dois tipos de propriedades morfológi-
cas:
a) os preservadores da categoria, isto é, as propriedades de flexão;
b) os modificadores de categoria, ou a derivação.

6.2 Propriedades de flexão

As classes são divididas em variáveis, ou seja, as que admitem algum tipo de


flexão, e invariáveis, isto é, não permitem flexão. Os artigos, os adjetivos, os prono-
mes, os substantivos e os verbos são variáveis. As preposições, as conjunções, as
interjeições e os advérbios são invariáveis.
1) A flexão nominal: os adjetivos sofrem flexão de gênero e número; os
substantivos, de número (na maioria dos substantivos, o gênero é uma

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propriedade inerente). A flexão dos pronomes depende da subclasse, ou
seja, os pessoais flexionam em caso, número e pessoa; os outros, em
número e gênero — incluindo o neutro.
2) A flexão verbal: as características flexionais são divididas em dois gru-
pos, que são os de concordância (número e pessoa) e aqueles que ca-
racterizam a cláusula inteira (tempo e modo).
Deve-se notar que, em qualquer caso, embora essas propriedades de flexão
caracterizem a categoria como um todo, elas não são necessariamente verificadas
em todos os seus membros. Alguns adjetivos são invariáveis em gênero. Há ainda
pronomes que dependem da subclasse, como os pessoais, que têm número e pessoa,
enquanto outros podem ser neutros, como nadie (ninguém). Da mesma forma, exis-
tem as formas não flexionadas do verbo (infinitivo, particípio e gerúndio). Esse é o
motivo pelo qual temos de confiar principalmente em critérios sintáticos e incluí-los na
categoria.

6.3 Propriedades de derivação

A derivação fornece marcas para diferenciar as classes. Alguns afi xos deriva-
dos são transcategoritivos: o prefi xo super pode ser adicionado a bases substantivas
(superhombre), às adjetivas (superintendente) ou às verbais (superponer); o mesmo
ocorre no caso de sufi xos apreciativos: substantivos, adjetivos e advérbios podem
receber sufi xos diminutivos. Outros afi xos, por sua vez, são especializados: o prefi
xo negativo in é adicionado apenas às bases adjetivas (in + feliz); o sufi xo ción permite
formar substantivos de bases verbais, como intuir > intuición e deducir > dedución, e
os sufi xos ez ou eza formam bases adjetivas (bello > belleza).

7 RELAÇÕES SINTÁTICAS: DISTRIBUIÇÃO, COMBINAÇÕES POSSÍVEIS,


RESTRIÇÕES SINTÁTICAS, FUNÇÕES SINTÁTICAS

Cada classe pode ser caracterizada pela estrutura interna do núcleo do seu
sintagma e pelo seu potencial funcional, isto é, pelas funções que pode desempenhar
na oração. Assim, o especificador de um substantivo é um determinante (que pode
ser um adjetivo ou um artigo), enquanto o do adjetivo ou do advérbio é um advérbio

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de grau, e os pronomes assumem o papel de substituidores. Para as palavras invari-
áveis, é necessário recorrer a critérios sintáticos, fundamentalmente aos critérios dis-
tributivos, isto é, ao conjunto de posições em que podem aparecer. Os advérbios, as
preposições e conjunções são diferenciados pela posição que ocupam, em relação
aos constituintes que modificam ou aos que governam. Assim, as preposições distin-
guem-se das conjunções pela categoria do termo governado: geralmente, um nome
no primeiro, uma oração no segundo. Além disso, as preposições também são carac-
terizadas por governarem o sintagma preposicional, quando o termo é um pronome
pessoal: para mí, en sí mismo, por ti.
Levando esses pontos em consideração, podemos estabelecer corretamente o
valor das definições conceituais. O critério semântico não pode ser a base da classi-
ficação, quando se trata de atribuir as palavras de uma língua particular a classes
específicas, uma vez que não há correspondência entre as classes de entidades ex-
tralinguísticas e as palavras. No entanto, em combinação com os critérios formais, a
semântica pode ajudar a delimitar uma classe e estabelecer correspondências entre
classes reconhecidas em diferentes idiomas que não compartilham as características
formais. Da mesma forma, pode ser útil em função de seu valor pedagógico e heurís-
tico.
Por exemplo, embora não seja verdade que todos os substantivos denotem
pessoas, coisas e lugares, já que existem substantivos que designam propriedades
(decencia, belleza, blancura) e outras ações (lavado, rastrillaje, resolución), a verdade
é que as palavras que designam pessoas, coisas e lugares são substantivos.

8 A CLASSIFICAÇÃO E O SEU CARÁTER RELATIVO

Em relação à quantidade de classes de palavras, segundo Lenz (1920), ela


depende da língua em questão e do ponto de vista que se toma para classificar as
palavras. Com efeito, embora a classificação tradicional forneça um valioso ponto de
apoio, são os interesses do gramático e a sua concepção teórica que determinarão
quais classes serão estabelecidas.
As classes de palavras não são classes naturais, mas construções teóricas do
gramático. O que distingue basicamente a posição atual em relação às anteriores, de

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acordo com Bosque (1991), é que a gramática é concebida não como um produto que
já está acabado, mas como um sistema a ser descoberto e elaborado explicitamente,
nos termos mais apropriados. Isso significa que, na medida em que for necessário, as
classes antigas serão deixadas para propor outras, ou serão redefinidas para explicar
os comportamentos que são significativos. Assim, por exemplo, a unidade da classe
tradicional de adjetivos é atualmente questionada.
A RAE (REAL ACADEMIA ESPAÑOLA, 2010), como visto anteriormente, divide
os adjetivos em duas subclasses: os adjetivos determinativos (demonstrativo, posses-
sivo, indefinido, quantitativo) e os qualificadores. Ainda que todos modifiquem o subs-
tantivo, as diferenças entre os dois grupos são enormes, tanto do ponto de vista sin-
tático, quanto do semântico. Por todas essas razões, os gramáticos mais atuais pre-
ferem atribuir cada grupo a uma classe diferente: a dos determinantes (juntamente
com o artigo) e a dos adjetivos, em que os qualificadores constituem o grupo focal. De
fato, é o gramático que decide, de acordo com a posição teórica que ele adotou e com
a coerência de sua proposta, se divide a classe ou a preserva, com as subclassifica-
ções que julga mais convenientes. Por exemplo, segundo a RAE (REAL ACADEMIA
ESPAÑOLA, 2010), a língua espanhola possui nove classes de palavras, as quais
podem ser variáveis e invariáveis. As variáveis são definidas da seguinte forma (REAL
ACADEMIA ESPAÑOLA, 2010):

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1. Artículos (artigos): o artigo é um determinante que permite delimitar a denota-
ção do grupo nominal do qual faz parte, assim como informa a sua referência. O
artigo, portanto, especifica se o que foi designado por ele carrega consigo uma in-
formação prévia ou não. Exemplos de artigos em espanhol: la (a), el (o), las (as),
los (os), una (uma), unas (umas), un (um), unos (uns) e lo (artigo neutro).
2. Sustantivos (substantivos): o nome (ou substantivo) tem a característica de ad-
mitir gênero ou número. Ele denota entidades materiais ou imateriais, de toda natu-
reza ou condição: pessoas, animais, coisas reais ou imaginárias, grupos, lugares,
etc. Pode vir acompanhado de artigo ou de adjetivo. Exemplos de substantivos em
espanhol: La mujer inteligente; El cantar de los pájaros.
3. Adjetivos (adjetivos): o adjetivo é uma classe de palavras que acompanha o
substantivo destacando uma propriedade ou limitando a sua extensão. Existem dois
grupos de adjetivos: os qualificativos, que expressam propriedades ou circunstân-
cias dos seres ou objetos nomeados pelo substantivo (día soleado, pareja feliz); e
os determinativos, que limitam a extensão do substantivo (este año, varios amigos).
Exemplos de adjetivos em espanhol: mi hermano mayor (mi – adjetivo determina-
tivo, mayor – adjetivo qualificativo); esta calle ancha (esta – adjetivo determinativo,
ancha – adjetivo qualificativo).
4. Pronombres (pronomes): o pronome tem como principal função a substituição,
seja ela de um substantivo, de um fato ou de uma das pessoas do discurso. Exem-
plos de pronomes em espanhol: Yo vi una ropa linda, la voy a comprar (yo substitui
quem fala; La substitui una ropa linda).
5. Verbos: os verbos expressam ação, estado ou fenômenos da natureza. Existem
formas simples, compostas, pessoais e impessoais. Exemplos de verbos em es-
panhol: tengo que cantar bien.

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As classes de palavras invariáveis, segundo a RAE (REAL ACADEMIA ESPA-
ÑOLA, 2010), são as seguintes:

6. Adverbios (advérbios): o advérbio é uma classe invariável que se caracteriza por


dois fatores, um morfológico (pela ausência de flexão) e outro sintático (pela capa-
cidade de estabelecer uma relação com grupos sintáticos correspondentes de dife-
rentes categorias). Trata-se de termos circunstanciais que indicam tempo, modo,
lugar, afirmação, negação, dúvida e quantidade. Além disso, modifica três classes
gramaticais, como o verbo (Juan canta bien), o adjetivo (Ana es muy inteligente) e
o próprio advérbio (Vivo muy lejos de acá). Exemplos de advérbios: muy (muito),
bien (bem), lejos (longe).
7. Preposición (preposição): as preposições são palavras que se caracterizam por
introduzir um complemento. Elas não possuem autonomia sintática, mas a sua fun-
ção consiste em relacionar palavras dentro da oração. Exemplos de preposições: a,
ante, bajo, con, contra, de, desde, durante, en, entre, hacia, hasta, mediante, por,
para, según, sin, sobre, cabe, versus, vía, tras.
8. Conjunción (conjunção): as conjunções constituem uma classe de palavras que
relacionam entre si palavras, grupos sintáticos ou orações; algumas vezes os equi-
param, outras os hierarquizam e fazem com que uns dependam de outros. Exem-
plos de conjunções: Queremos estudiar y hacer gimnasia. Ana es inteligente, pero
no estudia lo suficiente. Apenas termine la clase, nos vamos para casa. El piso está
mojado, porque ha llovido hace poco.
9. Interjección (interjeição): trata-se de uma classe que se especializa na formação
de enunciados exclamativos. Com a interjeição se expressam sentimentos e impres-
sões. Exemplos de interjeições: a. Enunciados exclamativos: ¡ay! ¡vaya! ¡uff!. b.
Onomatopeias: Bang, jejejejeje, muac, guauguau, pío. c. Grupos e orações excla-
mativas: ¡Cuánto esfuerzo! ¡Mal asunto! ¡Muy bueno!

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9 A ORAÇÃO E AS SUAS PECULIARIDADES

A sintaxe lida com as relações entre as palavras que formam uma frase. As
palavras são organizadas de acordo com certas regras, que dizem respeito à ordem,
a conexões explícitas e implícitas, à escolha que algumas palavras exercem sobre
uma ou outra. Cada frase tem uma estrutura interna, de modo que a sintaxe estuda
essa estrutura das orações, isto é, a combinação das palavras que a compõem. As-
sim, o campo de atuação da sintaxe representa o estudo das leis ou das regras que
constituem as relações que podem ocorrer no eixo sintagmático da língua, ou seja, no
eixo das combinações possíveis na cadeia horizontal de uma língua.
Essas relações podem se formar entre palavras, gerando os sintagmas, e entre
as relações que se realizam entre os sintagmas, gerando as frases. Segundo Mattoso
Câmara Junior (1972, p. 162–166), no discurso, porém, não são as palavras — e muito
menos os morfemas — as unidades verdadeiras. Comunicamo-nos uns com os outros
por meio de frases, isto é, de segmentos de extensão variável, que encerram um pro-
pósito comunicativo definido. Será frase, portanto, qualquer palavra ou grupo de pa-
lavras suficiente para atender o objetivo do falante: estabelecer a comunicação. Por
exemplo:
a. El día está lindo. ¿Vamos a la playa?
b. ¡Ay! ¡Por supuesto

Caso ¡Ay! e ¡Por supuesto! estivessem isoladas, não seriam consideradas fra-
ses; no entanto, nesse contexto, as duas são consideradas frases. Inclusive, a frase
pode ter ou não ter verbo: quando não tem, chama-se frase nominal; quando tem
verbo, chama-se oração.
A oração é a unidade máxima a ser estudada na sintaxe; logo, é necessária
uma definição geral dessa noção fundamental. De fato, a gramática tradicional, que
não ofereceu uma definição geral de palavra, dedicou atenção considerável à defini-
ção da oração. Centenas de definições são acumuladas, com base em critérios vari-
ados e, como esperado, a semântica predomina, seja lógica, psicológica ou comuni-
cativa. Por exemplo, segundo a Real Academia Española (1973), “[...] a oração é a
menor unidade de sentido completo em si mesmo em que o discurso real é dividido”.

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Tais definições receberam numerosas críticas, visando à vinculação da gramá-
tica tradicional a noções intuitivas, e não estritamente gramaticais. A que contou com
mais seguidores é a de “sentido completo”. Embora seja correto destacar o fator intui-
tivamente mais relevante, é bastante complexo especificar o seu escopo. Como definir
o que é o “sentido completo”? Segundo Alonso e Henríquez Ureña (1938, p. 10), “[...]
ter sentido em si mesmo ou sentido completo quer dizer declarar, desejar, perguntar
ou mandar algo”. Assim concebido, o significado completo está relacionado aos atos
de fala que podem ser realizados por meio de orações. A partir dessa perspectiva, a
oração seria uma unidade comunicativa, um ponto de vista compartilhado pela terceira
definição.
O problema é que os limites de um ato de fala nem sempre coincidem com os
da oração. A segunda definição apela, por sua vez, a um critério lógico. Embora ora-
ções declarativas usualmente expressem um julgamento, esse critério é inaplicável a
orações interrogativas, imperativas e exclamativas, às quais, no entanto, não se po-
deria negar o caráter de oração.
Como outras noções, Bloomfield (1964[1933]) propôs uma definição da oração
em termos distributivos: “[...] uma oração é uma forma linguística independente, não
incluída em virtude de qualquer construção gramatical, em qualquer forma linguística
mais ampla”. O que caracteriza as orações é sua autonomia gramatical. Logo, todas
as orações independentes serão orações. Praticamente qualquer sequência, desde
que acompanhada por um traço de entonação, resultaria em uma oração. Nesse caso,
o problema é que, se a gramática as incluir, ela deverá dar regras para construções
que pouco compartilham, do ponto de vista de sua estrutura interna. De fato, Bloom-
field (1964[1933]) precisava estabelecer uma distinção adicional entre orações com-
pletas e orações menores, como as expostas anteriormente; do contrário, seria im-
possível abarcar a enorme diversidade estrutural existente entre elas nas regras da
gramática.
Quais marcas estruturais nos permitem reconhecer essa independência? A
marca mais óbvia é a entonação, isto é, as variações no tom de voz do falante, com
padrões prosódicos com significado do tipo ofensivo, irônico, de decepção, que ex-
pressem alegria, entre outros. Dada a função delimitativa da entonação, cada oração
corresponde a um próprio traço entonacional, que corresponde ao tom que o falante
dá a determinada oração.

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No entanto, como o próprio Bloomfield (1964[1933]) observa, quando produzi-
mos duas orações consecutivas, elas nem sempre são marcadas por suas respectivas
figuras tonais, ou marcas na fala. Muitas vezes, elas englobam apenas uma, na qual
se omite uma pausa intermediária; então, deveríamos reconhecer uma única oração
em uma sequência como a do exemplo (b).
O que todas as definições examinadas têm em comum é considerar a oração
como uma unidade de comunicação, isto é, como a unidade na qual um texto pode
ser dividido. Como tal, é definida em termos extragramaticais: semântico, pragmático
e fonológico. Nesse sentido, a oração é uma unidade que corresponde à análise do
discurso, e não à própria gramática. Assim consideradas, as sequências de (b) podem
ser perfeitamente compreensíveis e efetivas como partes de um texto (uma conversa-
ção, uma canção ou uma letra), mas não permitem avançar em uma definição, em
termos dos componentes necessários da oração em seu sentido gramatical.
Se a oração é concebida, porém, como uma unidade estritamente gramatical,
o que é necessário é que ela seja caracterizada como uma unidade de construção,
para a qual corresponde defini-la a partir de sua estrutura interna. Nesse segundo
sentido, precisaremos identificar os constituintes que a compõem. Trata-se de uma
construção predicativa: consiste em um sujeito e um predicado. Em seu caso típico, o
núcleo do predicado é um verbo conjugado, isto é, apresenta a flexão de pessoa e
número, de acordo com o sujeito, e de tempo e modo. Para diferenciar os dois senti-
dos, aplicamos ao último a denominação cláusula. De acordo com Di Tullio (2005),
em termos funcionais, significa que toda cláusula é formada por um sujeito e um pre-
dicado. De fato, nossos gramáticos perceberam essa dualidade subjacente no con-
ceito de oração. Por essa razão, muitas vezes ofereciam, além das definições basea-
das em critérios semânticos, uma definição estritamente gramatical. Bello
(1970[1847]) já reconhecia dois tipos de unidades: a proposição, definida por seus
constituintes, ou o sujeito e o predicado (que ele chamou de atributo), e a oração.
Dessa forma, cabe ressaltar que a definição de proposição — correspondente à nossa
noção de cláusula — é baseada exclusivamente em sua estrutura interna, enquanto
na oração se impõe um critério extragramatical.

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10 A ORAÇÃO E O DISCURSO

A gramática e a análise do discurso não se opõem, mas se complementam.


Existem aspectos do discurso que dependem da organização de frases e elementos
que transcendem os limites das orações. No entanto, é importante não esquecer que
a oração (em seu significado gramatical) e o discurso são objetos inerentemente dife-
rentes. Somente dentro da estrutura da oração podem ser formuladas regras que di-
ferenciem claramente as sequências bem formadas das não gramaticais.
No discurso existem regularidades de natureza estatística, dependentes, em
geral, de fatores pragmáticos. A presença de mecanismos formais coesos não garante
a coerência de um discurso. Isso pode ser coerente mesmo quando nenhum desses
recursos formais aparece; inversamente, mesmo quando todos eles são usados, o
texto resultante pode ser incoerente.
Já em relação à gramática, para que uma oração seja gramatical, basta cumprir
as regras da gramática. Assim, por exemplo, a concordância entre sujeito e verbo em
número e pessoa é uma condição necessária para que uma oração seja gramatical;
se a regra for violada, a sequência inevitavelmente será malformada. Dessa forma, é
importante perceber que, para que o discurso ocorra, a oração deve estar bem for-
mada. Assim, a sintaxe está em um nível mais profundo que a análise do discurso

10.1 Classificação das orações

De acordo com a RAE (REAL ACADEMIA ESPAÑOLA, 2010), tradicionalmente


as orações são divididas de acordo com três critérios: atitude do falante, natureza de
seu predicado e dependência ou independência em relação a outras unidades.
a) A atitude do falante: a expressão da atitude do falante (modus) é chamada
de modalidade em relação ao conteúdo das mensagens. Geralmente ocorrem dois
tipos de modalidade: a da enunciação e a do enunciado. A enunciação representa as
diferentes maneiras como os atos de fala são realizados, ou seja, analisa a intenção
do falante. Com esse critério, diferenciam-se as orações declarativas, como “está ne-
vando”, das orações interrogativas, como ¿Qué pasa?.

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b) A natureza do seu predicado: de acordo com a natureza do predicado, po-
demos dividir as orações em transitivas (Llamé a Carlos), intransitivas (Mi primo salió
temprano) e copulativas (El día está lindo).
c) A dependência ou independência em relação a outras unidades: orações
simples não contêm outras que ocupem seus argumentos ou modifiquem seus com-
ponentes; por outro lado, as orações subordinadas dependem de alguma outra cate-
goria, a qual elas complementam ou modificam. A oração subordinada é inserida ou
incorporada à principal. A oração principal em Carlos dijo [que no quería ir a la fiesta],
por exemplo, não é o segmento Carlos dijo (que não constitui uma oração por si só,
já que é incompleta), mas toda a sequência em itálico. O que está entre colchetes é a
oração subordinada, que é interpretada como parte da oração principal. Chama-se
oração composta aquela que contém uma ou mais orações subordinadas.

10.2 Funções sintáticas: uma relação básica

As classes de palavras e as funções sintáticas mantêm relações que auxiliam


a interpretação semântica de determinada oração. Segundo a RAE (REAL ACADE-
MIA ESPAÑOLA, 2010, p. 15), por mais que as funções dependam da posição que as
palavras ocupam, é importante também analisar outras marcas ou expoentes sintáti-
cos. Portanto, a frase Saldrá el martes admite mais de uma interpretação. Por exem-
plo, se el martes designar a entidade que se diz estar saindo, será o sujeito do verbo
saldrá; no entanto, se a oração informar que determinada pessoa não especificada
chegará naquele dia, el martes será um complemento circunstancial.

10.3 Predicados e argumentos

Semanticamente, cada oração contém uma expressão predicativa e um ou


mais argumentos. Os argumentos são, em geral, expressões referenciais que permi-
tem identificar entidades do mundo extralinguístico. O predicado atribui uma proprie-
dade a um argumento ou descreve o relacionamento entre os argumentos, isto é, ele
determina quantos e quais argumentos são necessários. O conceito de predicado,
retirado da lógica, designa a expressão gramatical cujo conteúdo é atribuído ao refe-
rente do sujeito, por exemplo:

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El maestro explicaba la lección a los alumnos. (predicado)
Segundo Gómez Torrego (2005, p. 272–273), costumam-se distinguir dois tipos
de predicado: o verbal e o nominal. Os predicados nominais são representados pelos
verbos copulativos, que em português são conhecidos como verbos de ligação: os
verbos ser e estar. Por exemplo:
Está frío.
Es invierno.

Os predicados verbais são todos aqueles que não possuem verbos copulativos,
e sim verbos com carga semântica plena, os quais podem aparecer sozinhos ou com
complementos. Por exemplo:
Juan ha salido.
María compró cinco libros.

11 AS FUNÇÕES SINTÁTICAS E AS SUAS MARCAS

De acordo com a RAE (REAL ACADEMIA ESPAÑOLA, 2010, p. 16):

[...] as funções sintáticas representam as formas pelas quais as relações que


expressam os argumentos são manifestadas. Cada função sintática é carac-
terizada pela presença de diferentes marcas ou expoentes gramaticais, tais
como concordância, posição, presença de preposições e, por vezes, entona-
ção. Marcas de função são os índices formais que permitem que sejam reco-
nhecidos.

Na sequência, veremos as principais funções sintáticas da língua espanhola

11.1 Sujeito

Toda oração ou cláusula possui dois componentes fundamentais: o sujeito e o


predicado. Segundo Gómez Torrego (2005), ambos estão no mesmo nível sintático
e têm uma relação de interdependência. O sujeito assume o seu papel sintático em
função do predicado, e o predicado se justifi ca porque há um sujeito — embora em
algumas ocasiões o sujeito possa ser nulo ou estar oculto. Para a RAE (REAL
ACADEMIA ESPAÑOLA, 1973, p. 350), a noção de sujeito assume outra definição.

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Como já exposto, para classificarmos o sujeito, é necessário que saibamos
identificá-lo. Dessa forma, segundo Di Tullio (2005), o sujeito pode ser classificado
de acordo com as marcas apresentadas a seguir.bastante repetida em nossa
tradição gramatical: “[...] o sujeito é a pessoa ou coisa da qual falamos algo”.
Ponto de vista categorial- O sujeito é um sintagma nominal (SN), cujo
núcleo pode ser um substantivo comum, nome próprio ou pronome. Em alguns
casos, pode ser também uma cláusula ou oração subordinada.
La mujer rubia salió temprano. (substantivo comum)
Neymar Jr. está más conocido que Pelé. (nome próprio)
¿Ella ha llegado retrasada? (pronome)
Quien dijo eso es un torpe. (oração subordinada)
Ponto de vista verba- A marca estrutural que permite identifi car mais
claramente o assunto gramatical é a concordância com o verbo nas características fl
exionais do número e da pessoa. Qualquer variação nessas propriedades fl exionais
afetará necessariamente o verbo e defi nirá, automaticamente, o sujeito.
 A Roberta se le ocurrió una idea. (sujeito: una idea)
 A nosotros se nos ocurrió una idea. (sujeito: una idea)
 A Roberta se le ocurrieron varias ideas. (sujeito: varias ideas)
A rica flexão do verbo espanhol possibilita que o sujeito não seja explícito, isto
é, que ele seja oculto. Desse modo, é possível identificar o sujeito, apesar de ele não
ser expresso, em função das propriedades flexionais do verbo.

Saliste temprano. (sujeito não explícito).

Ao contrário do inglês ou do francês, que requerem um sujeito explícito, o es-


panhol é uma língua que, em alguns casos, aceita sujeito nulo. Logo, é possível iden-
tificar a inexistência de sujeito, em função das propriedades flexionais do verbo.

Salió temprano. (sujeito inexistente)

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11.2 Complementos direto e indireto

O objeto direto — ou complemento direto — é defi nido pela RAE (REAL ACA-
DEMIA ESPAÑOLA, 1973, p. 371) como:

[...] a palavra que define o significado do verbo transitivo, e denota ao mesmo


tempo o objeto (pessoa, animal ou coisa) no qual representa uma ação ex-
pressa pelo próprio verbo. Este complemento é chamado de direto porque
nele a ação do verbo é cumprida e terminada, e ambos formam uma unidade
sintática “verbo + objeto direto”.

Já para a RAE de versão mais recente (REAL ACADEMIA ESPAÑOLA, 2010,


p. 565):

[...] o objeto direto ou objeto direto é uma função sintática que corresponde
a um argumento dependente de verbo. Forma com ele (e às vezes com outras
unidades) um grupo verbal e fornece a informação necessária para conformar
a unidade de pregação que o verbo constitui.

Nessa definição, o objeto direto é identificado pelo papel temático do paciente


afetado. O objeto direto também pode ser um objeto criado pela ação do verbo (objeto
efetuado: María pintó un cuadro), que não tem existência prévia (como o paciente ou
objeto afetado: María pintó la pared) ou um estímulo ligado a uma percepção ou um
estado psicológico (Luisa oyó el disparo; Manuel adora la música rock). Em contraste,
o objeto direto nunca pode ser um agente.
Como o sujeito, segundo Di Tullio (2005), o objeto direto pode ser classificado
de acordo com as seguintes marcas:
a) O objeto direto é um SN determinado por um SV.
b) Quando o objeto direto é uma pessoa, ele vem precedido da preposição a.

Vi a Juan.
c) Pode ser substituído pelos clíticos acusativos: me, te, lo, la, nos, os, los,
las.
Ayer vi a Juan y lo invité a cenar

Segundo a RAE (REAL ACADEMIA ESPAÑOLA, 2010, p. 672), o complemento


indireto ou objeto indireto é chamado de função sintática realizada por pronomes áto-
nos dativos, bem como grupos preposicionais liderados por uma preposição que pode
31
ser substituída por um pronome dativo. Enquanto o clítico acusativo de 3º pessoa (la,
los, las) substitui o objeto direto, o dativo (le, les), por outro lado, cumpre funções mais
variadas. Por exemplo, existem as chamadas construcciones de doblado (literalmente,
construções dobradas) ou duplicación (duplicação) do pronome átono, como em Al
Rey le han gustado las capillas que ha visto (caso de duplicação).
Cabe esclarecer que não se compreende que o verbo tenha dois complementos
indiretos, mas que um reproduz o outro, ou que ambos formam um segmento descon-
tínuo. Do ponto de vista semântico, os complementos indiretos designam o receptor,
o experienciador, o beneficiário e outros participantes em uma ação, um processo ou
uma situação.

11.3 Predicativo

Como vimos anteriormente, os predicados semânticos pertencem a diferentes


categorias, podendo ser verbais ou nominais. Caso a referência se dê a predicados
nominais, com os verbos ser, estar ou outros similares, teremos a presença de predi-
cativos subjetivos obrigatórios. Se eles aparecem com outros verbos, que têm seu
próprio conteúdo semântico, eles serão predicados secundários que modificam o prin-
cipal — predicados subjetivos que não são obrigatórios.
Os verbos copulativos (de ligação) vão acompanhados por predicativos obriga-
tórios, como em:
 Juan es celoso.
 María parece cansada.
 Mis hijas están de buen humor.
 Juan es un médico prestigioso.
Todas essas as cláusulas/orações consistem em um elemento predicativo, pois
possuem verbos copulativos. Nos exemplos seguintes, por outro lado, existem dois
precedentes: um primário (aquele do verbo conjugado) e um secundário (aquele do
predicado não obrigatório), que é orientado para o sujeito da cláusula/oração.
 Juan llegó cansado.
 María lo miraba impasible
O predicativo não necessariamente se refere apenas ao sujeito. Ele também
pode se referir ao objeto direto, como nos seguintes exemplos:

32
Considero interesante tu propuesta.
Nombraron a Pedro director de orquesta.
Te veo muy bien.

11.4 Complementos preposicionais

Há complementos na sintaxe da língua espanhola que não são complementos


de transitividade direta ou indireta, mas que são importantes para o entendimento total
da oração.

11.5 Complemento de régimen

Os complementos de régimen não podem ser substituídos ou duplicados por


pronomes, nem concordar com o sujeito ou com o objeto. Nenhum dos dois pode ser
substituído por advérbios, como uma grande parte dos circunstanciais. Nós os distin-
guimos porque a preposição que os encabeça é selecionada pelo verbo — é gover-
nada por ele. Eles correspondem a argumentos selecionados pelo verbo, mesmo
quando, do ponto de vista semântico, cobrem noções bastante diferentes:
El disertante abusó de la paciencia del público.
El Ministro siempre insiste en sus supuestos logros.
El argumento de la defensa se basa en la falta de seguridad de los ciudada-
nos.

11.6 Complemento agente

Um complemento especial é o do agente, que aparece em frases passivas,


encabeçadas pela preposição por, e corresponde ao sujeito das orações ativas. Ele
pode ser omitido, apesar de ser considerado complemento, em função de sua relação
sistemática com um dos argumentos selecionados pelo verbo.
La noticia fue difundida por la agencia EFE.
El libro aún no fue devuelto por el profesor.
Los delincuentes fueron identificados por algunos vecinos.

33
11.7 Os adjuntos ou complementos circunstanciais

Existem complementos que especificam circunstâncias — tempo, lugar, em-


presa, instrumento, quantidade, modo, propósito e causa — que acompanham os ver-
bos. Esses complementos são conhecidos como adjuntos, ou complementos circuns-
tanciais.
Salir por las mañanas.
Construir una casa en el campo.
Estudiar con mis hermanas.
Cantar con voluntad.
Ahorrar para viajar.

12 CONCORDÂNCIA VERBAL: OS CASOS DOS SUJEITOS EXPRESSO E TÁ-


CITO

Você sabe o que é sujeito? Em uma oração, sujeito é o elemento (pessoa, ani-
mal, coisa) que realiza, causa ou sofre a ação do verbo. De maneira mais simplificada,
podemos dizer que é o elemento sobre o qual se diz alguma coisa na oração.
Assim, a partir de uma perspectiva gramatical, podemos entender o sujeito
como um sintagma (palavra ou conjunto de palavras que têm alguma função sintática)
que mantém uma relação de concordância com o verbo. Esse sintagma pode estar
formado por um núcleo, um determinante e um complemento (Figura 1)

34
Geralmente, é possível reconhecer o sujeito em uma oração perguntando ao
verbo ¿quién? Veja o exemplo no Quadro 1 a seguir:

É importante destacar que, embora seja muito útil, em grande parte dos casos,
nem sempre essa pergunta nos leva ao sujeito. No caso de Me gusta mucho el frío, o
sujeito não é agente da ação, mas paciente (é quem a sofre). Por isso, a pergunta que
nos leva a ele deveria ser ¿qué me gusta?, e a resposta nos levaria ao sujeito: el frío.
De todos os modos, o verbo, sem dúvida, tem uma relação fundamental com o
sujeito, já que é a partir dele que identificamos o elemento da oração que tem essa
função. Antes de analisar essa relação, você vai ver quais os tipos de sujeitos que
existem em espanhol.
Os critérios para definir a tipologia variam de acordo com a perspectiva. Aqui,
veremos o critério gramatical denominado fonético, que classifica o sujeito de acordo

35
com a sua existência explícita ou implícita em uma oração. Assim, distinguem-se os
tipos a seguir:
Sujeito expresso/explícito: é o que aparece e se destaca na oração de forma
explícita.
 Las clases de español son muy interesantes.
 María y Sabrina no quieren ir a la fiesta de Felipe.
 Mañana Pedro viene a visitarnos.
 ¡Eso es una barbaridad!

Sujeito tácito/implícito: é o que está subentendido na oração, embora não esteja


representado explicitamente.
 Tenemos cinco días de vacaciones. (sujeito: nosotros)
 Fui a la playa dos veces el año pasado. (sujeito: yo)
 Jugaste al fútbol durante dos años en el centro deportivo,
 ¿no? (sujeito: tú)
 Quiero ver dos películas en el cine. (sujeito: yo)

O sujeito tácito também pode ser indeterminado, ou seja, embora saibamos a


pessoa, não temos informação sobre outros traços, como número e gênero, a partir
dos elementos e das informações que constam na oração:
 Es una persona muy tranquila, pero a veces se enfada. (sujeito: él ou
ella).
 Robaron el centro comercial anoche. (sujeito: ellos ou ellas).

Com base nesses dois tipos de sujeitos, podemos analisar a relação que eles
desenvolvem com os verbos na oração — a denominada concordância verbal.
Costuma haver consenso entre os gramáticos a respeito de alguns dos critérios
que definem a concordância verbal: é entendida como a harmonia entre verbo e su-
jeito, no que se refere a número e pessoa. Veja os exemplos a seguir:
 Rodolfo me dijo que tiene hambre.
 Las tijeras que me compré están sobre la mesa.

36
A concordância do sujeito expresso com o verbo, em grande parte dos casos,
é simples: se o número ou a pessoa do verbo muda, o sujeito também terá de mudar,
e vice-versa. Em outras palavras, sujeito e verbo devem estar em harmonia no que se
refere à pessoa e ao número.
 La oficina está cerrada.
 Las oficinas está cerrada. (construção equivocada)
 Las oficinas están cerradas.

A variação linguística é enorme em espanhol e afeta muitas das


suas características gramaticais — uma delas é a concordância
verbal. Na Espanha, o pronome de tratamento utilizado em
contextos informais, para dirigir-se a mais de uma pessoa
(vocês, em português), é vosotros; portanto, o verbo deverá ser
conjugado nessa pessoa:
Tú y Carlos tenéis que ir a la escuela mañana.
Nos países hispano-americanos, o pronome vosotros é
reservado para contextos muito formais e, por isso, utiliza-se
muito mais amplamente ustedes, de modo que o verbo deve ser
conjugado na terceira pessoa do plural:
Tú y Carlos tienen que ir a la escuela mañana.

No entanto, há alguns casos especiais de concordância com sujeito explícito


que você deve conhecer:
 Sujeito composto por mais de um elemento, com uma conjunção copu-
lativa – se os elementos se referem a objetos distintos, o verbo fica no
plural: María y Juan tienen dos hijos. Se os elementos formam uma só
unidade, o verbo fica no singular: El hambre en el mundo y su consecu-
encia desigualdad es lo que me entristece. Se os elementos se referem
à mesma pessoa, o verbo se mantém no singular: El jugador de fútbol y
héroe nacional es un hombre especial.
 Sujeito composto por dois elementos coordenados que têm papel gra-
matical neutro, como verbos no infinitivo – o verbo deve ficar no singular:
Me parece que cantar y bailar es lo que más le gusta a Camila. Se, no

37
entanto, esses verbos representam realidades distintas, o verbo é con-
jugado no plural: Las mejores cosas de la vida son ir al cine y jugar al
baloncesto.
 Sujeito composto por dois elementos que se unem com tanto…como –
o verbo é conjugado no plural: Tanto Julia como Verónica llegaron a las
ocho de la mañana.
 Sujeito formado por um substantivo coletivo – o verbo é conjugado no
singular: El clero es un grupo muy respetado./La manada destruyó todo.

Em espanhol, existe uma estrutura chamada sujeito inclusivo, que é


utilizada quando quem fala se inclui no sujeito. Nesse caso, o verbo
é conjugado na primeira pessoa do plural (nosotros), embora o
sintagma do sujeito se mantenha em terceira pessoa do plural (ellos,
ellas). Los brasileños somos muy animados.

Com o sujeito tácito, a questão da concordância verbal é imprescindível — e


mesmo inerente à sua existência. Como o sujeito, nesse caso, não é representado
nem por um pronome, nem por um substantivo ou sintagma nominal, só é possível
inferir quem ele é a partir do verbo presente na oração e de sua desinência. Em outras
palavras, se o verbo está conjugado na primeira pessoa do plural (nosotros), sabemos
que o sujeito também é essa pessoa:
 Fuimos a la fiesta de nuestros amigos. (sujeito: nosotros)
 Comieron nuestra comida con mucho gusto. (sujeito: ellos/ellas)
 Fui a París el año pasado. (sujeito: yo)
 ¡Estáis lindos! (sujeito: vosotros)
 Me contaste esta historia ayer. (sujeito: tú)

Esse tipo de estrutura é muito recorrente em língua espanhola, a qual — assim


como o árabe e o latim, por exemplo — não requer um sujeito obrigatoriamente ex-
presso. É comum, portanto, que as orações se constituam com o sujeito tácito, oculto
ou elíptico, de modo que é apenas por meio da análise do contexto e da conjugação
do verbo presente que podemos constatar a quem se refere o predicado da oração.

38
Línguas como o inglês, por outro lado, não admitem essa estrutura e precisam ex-
pressar explicitamente o sujeito em suas orações.

13 COMPLEMENTOS: DIRETO, INDIRETO, DE RÉGIMEN VERBAL E CIRCUNS-


TANCIAL

A língua espanhola é muito rica. Uma prova disso são as possibilidades de


complemento que os verbos comportam. Nos estudos gramaticais, também no que se
refere à análise sintática, tem grande importância e destaque a noção de comple-
mento — elementos que se relacionam com os verbos em uma oração, tanto em um
vínculo obrigatório como em um vínculo opcional e contextual. Você vai aprender
agora sobre quatro tipos de estruturas que podem complementar os verbos: os com-
plementos direto e indireto, que se relacionam com a transitividade dos verbos; o de
“régimen preposicional”, com sintagma preposicional obrigatório; e o circunstancial,
que destaca alguma característica da ação em questão.

13.1 Complementos direto e indireto

Em língua espanhola, distinguem-se dois tipos de estruturas que complemen-


tam verbos transitivos: os complementos diretos e os indiretos. Verbos transitivos são
aqueles que precisam de um elemento que os oriente ou determine, isto é, que exigem
um complemento para que seu significado seja completo.
 El celular manda mensajes de texto.
 El celular manda seria uma oração incompleta e, portanto, incorreta.
 La película muestra la vida en Colombia.
 La película muestra seria uma oração sem sentido.
 Los chicos quieren volver, no te preocupes.
Los chicos quieren seria uma oração incompreensível. O complemento direto
pode ter a forma de substantivos ou sintagmas nominais, pronomes e orações subor-
dinadas substantivas.
 Amparo envió mensajes ayer. (sustantivo)
 Amparo envió un mensaje ayer. (sintagma nominal)

39
 Amparo lo envió ayer. (pronome) Amparo me dijo que me enviaría la
carta ayer. (oração subordinada).
Quando o complemento direto se refere a pessoas ou a seres de modo geral,
é acompanhado pela preposição “a”. Se é relativo a objetos inanimados, geralmente,
não se usa a preposição:
 Vimos la película en la tele.
 Vimos a tu hermana en el cine
Um recurso muito comum utilizado pelos falantes de espanhol é a duplicação
do complemento direto nas orações, com a sua forma explícita e a pronominal em
coocorrência: Los libros de español los compré con el dinero que me sobró.
Para reconhecer o complemento direto em uma oração, veja algumas dicas que
podem lhe ajudar — embora não se apliquem a todos os casos, a grande maioria pode
lhe ser útil. A primeira delas é trocar a unidade ou a estrutura por seu pronome pessoal
átono correspondente: la, las, lo, los.
 Compramos la corbata roja./ La compramos.
 Compramos las mochilas nuevas para el comienzo de las clases./ Las com-
pramos para el comienzo de las clases.
 Compramos el libro que pidió la profesora./Lo compramos.
 Compramos los billetes con la tarjeta de crédito./ Los compramos con la tarjeta
de crédito.

Outra opção é transformar a oração de ativa para passiva: se o complemento,


nessa transformação, tiver a sua função alterada para sujeito paciente (que sofre/re-
cebe a ação), o complemento é, de fato, direto.
 Pedro adquirió el departamento con mucho esfuerzo.
 El departamento fue adquirido por Pedro con mucho esfuerzo.

Existe um fenômeno comum em regiões da Espanha, conhecido


como leísmo. Nesse tipo de construção, em vez de usar a forma lo ou la
como complemento direto, usa-se a forma le, como em Perdió el celular y
no le encontró.

40
O complemento indireto, embora também se relacione com um verbo
transitivo, geralmente é opcional (diferentemente do complemento direto) e indica o
receptor da ação do verbo, isto é, o complemento indireto indica a quem ou a que se
dirige a ação do verbo.
 Llevamos un regalo a Esmeralda.
 Julieta nos dio las llaves de la casa.
 Es el cumple de María. Le compramos el bolso que quería.
 A mí no pueden decir que no.

Ainda que comumente se refira a pessoas ou seres, também pode ser


representado por um objeto inanimado:
 Echamos sal a la comida.

Em espanhol, quando o complemento indireto tem a forma de um sintagma


nominal, ele é introduzido pela preposição “a”. A outra possiblidade é que ele seja um
pronome átono (me, te, le, nos, os, les), sem preposição, ou tônico/ oblíquo, quando
a preposição também é obrigatória (a mí, a ti, a él/ella/usted, a nosotros(as), a voso-
tros(as), a ellos/ellas/ustedes).
Carlos compró el libro a Esteban.
Carlos le compró el libro.
Carlos compró el libro a él.
Com o objetivo de dar ênfase a uma oração, é possível inserir um complemento
indireto não obrigatório, cuja função é apenas destacar o que se diz:
 ¡No me comas las manzanas, están podridas!

O pronome, nesse caso, apesar de funcionar como um complemento indireto,


é totalmente dispensável para a compreensão da oração, e sua ausência apenas lhe
tiraria a força emocional.

Outro recurso comumente utilizado para deixar ainda mais


claro o complemento indireto é o uso de sua repetição, como
colocar um pronome átono e um sintagma nominal, ambos
com a função de complemento indireto:
Le enviamos la carta a Fernando. 41
14 COMPLEMENTO DE RÉGIMEN PREPOSICIONAL E CIRCUNSTANCIAL

Para uma efetiva compreensão das orações em língua espanhola, é importante


conhecer e distinguir outros dois tipos de complemento, os quais se relacionam com
os verbos e são fundamentais para o domínio de sua sintaxe.
O complemento de régimen preposicional (regência, em português) é extre-
mamente importante, já que é exigido pelo verbo para complementá-lo, e não pode
ser deslocado, nem eliminado. Sempre é introduzido por uma preposição, a qual
nunca varia, de modo que se configura como um sintagma preposicional. Assim, por
exemplo, as gramáticas costumam apresentar listas com verbos e a preposição pela
qual devem ser, obrigatoriamente, acompanhados, como os casos a seguir:

Mesmo que a preposição nunca possa ser eliminada nesses casos, o outro
elemento do sintagma pode ser substituído por um pronome tônico (él, ella, ellos, el-
las, eso...), desde que seja mantida a preposição.
 Nos acordamos de la historia de Pilar ayer.
 Nos acordamos de eso ayer.
 Los españoles confían mucho en la justicia.
 Los españoles confían mucho en ella.

Outro tipo de complemento que tem características muito diversas das do de


régimen preposicional é o circunstancial. Trata-se de um sintagma que pode ser ad-
verbial, nominal ou preposicional e que destaca alguma característica ou circunstância
de lugar, tempo, modo, causa, finalidade, instrumento, etc., complementando o verbo.
Esse tipo de complemento pode ser eliminado da oração, deslocado da ordem em que
42
aparece ou substituído. Para reconhecer esse complemento na oração, algumas per-
guntas podem ser feitas (Quadro 3):

Existem algumas construções, no entanto, em que o complemento circunstan-


cial pode ser obrigatório para que a oração seja compreensível: Felipe reside en Ma-
drid. Nesses casos, a diferença em relação ao complemento de régimen preposicional
é que o circunstancial pode ser substituído por um advérbio, como em Felipe reside
allá.

15 ORAÇÕES EM LÍNGUA ESPANHOLA: IMPERATIVAS, INTERROGATIVAS,


EXCLAMATIVAS E DE NEGAÇÃO

Um elemento fundamental dos estudos gramaticais em língua espanhola é a


análise das orações, outro objeto da área da sintaxe. Uma oração pode ser entendida
como um conjunto de palavras ou apenas uma palavra que expressa uma ideia ou
uma informação de modo completo. Quando nos expressamos, transmitimos nossas
43
ideias por meio de orações, e essa transmissão é feita com alguma intenção e a partir
de ânimos diferentes, relacionados à intenção que temos ou ao contexto em que es-
tamos.
Se a nossa intenção é perguntar alguma coisa, a oração que construímos, em
língua espanhola, é denominada interrogativa. Se algo nos surpreende, chama a aten-
ção ou assusta, produzimos orações exclamativas. Se queremos ordenar algo com
ênfase, utilizamos orações imperativas. Além dessas, as orações mais comumente
produzidas são as declarativas (afirmativas ou negativas), a partir das quais falamos
de alguma informação concreta (Quadro 4).

15.1 Orações declarativas: afirmativas e negativas

Grande parte das orações que produzimos e enunciamos no dia a dia são de-
nominadas declarativas, isto é, têm a função de declarar algo. Essas orações, utiliza-
das tanto na oralidade quanto na escrita, referem-se a algo concreto e objetivo, e têm
uma função informativa. No que se refere à sua estrutura, podem se formar com o
verbo conjugado tanto no presente, quanto no passado ou no futuro:
 Isabel trabaja en el centro de la ciudad.
 Isabel trabajaba en el centro de la ciudad.
 Isabel trabajará en el centro de la ciudad.

Além disso, as orações declarativas podem se referir à informação enunciada,


afirmando-a ou negando-a — é por isso que são divididas em orações declarativas
afirmativas (Pedro estudia todos los días) e orações declarativas negativas (Pedro
no estudia todos los días). As negativas, ainda que em sua maioria se baseiem na

44
presença do advérbio no, também podem ser formuladas com outros pronomes inde-
finidos, como vemos nos exemplos a seguir:
 Ningún coche puede cruzar esta avenida ahora.
 Nadie avisó que el concierto empezaba a las diez.
 Nunca han pintado la casa de mi abuela.
 Carlota tampoco me dijo que venía

15.2 Orações interrogativas

Quando temos alguma dúvida sobre algo, comunicamo-nos por orações inter-
rogativas, que podem ser dirigidas a alguém ou mesmo retóricas (feitas a nós mes-
mos):
 ¿Qué te parece si vamos a la playa mañana?
 Dios mío, ¿qué hago yo?

As interrogativas podem ser de dois tipos: indiretas e diretas. Em ambos os


casos, o pronome interrogativo (qué, quién, cuándo, dónde, cuánto) deve ser
acentuado.
¿Cuándo llega Juan?
Quería saber cuándo llega Juan, lo extraño mucho...

Nas interrogativas diretas, temos um enunciado próprio; já nas indiretas, a ora-


ção interrogativa é subordinada a uma principal (Em Quería saber cuándo llega Juan,
cuándo llega Juan é subordinada a Quería saber).
As interrogativas diretas também têm uma subdivisão interna. Podem ser pro-
nominais, quando a oração inclui um pronome, advérbio ou determinante interrogativo
(¿Quién es tu madre?); disjuntivas, quando as respostas possíveis estão na formula-
ção da pergunta de modo implícito (¿Te buscamos ahora o más tarde?); polares,
quando a resposta pode ser duas opções opostas, como sim ou não (¿Tienen ham-
bre? – resposta: sí o no); alternativas, quando oferecemos pelos menos duas opções
para a pessoa a quem nos dirigimos (¿Invitamos a Marta o a Carolina?).

45
15.3 Orações exclamativas

A construção de orações exclamativas está muito relacionada à entonação em-


pregada pelo falante que a produz (escrita ou oralmente), e expressa um estado de
ânimo específico, como os exemplos a seguir:
 Surpresa: ¡No me lo puedo creer!
 Alegria: ¡Aprobamos en el test!
 Indignação: ¡Qué barbaridad!
 Susto: ¡Ay, niño! Así me matas de susto.
 Medo: ¡Estoy temblando!
 Raiva: ¡La injusticia me vuelve loco!

As orações exclamativas podem ser formadas com os pronomes exclamativos


(que sempre são acentuados – qué, quién, cuánto, cuándo, dónde), como em ¡Qué
linda casa! ou ¡Cuánto tiempo sin vernos! Esses pronomes, porém, não são necessá-
rios, e a exclamação pode ser construída em uma oração sem a sua utilização, como
em ¡Estáis otra vez retrasados! ou ¡No la hemos invitado!

15.4 Orações imperativas

Quando queremos dar uma ordem, fazer um pedido com ênfase ou proibir al-
guém de fazer algo, de modo que o interlocutor aja da forma correspondente, forma-
mos orações imperativas, cuja estrutura se baseia em um verbo conjugado no modo
gramatical imperativo. Um modo gramatical é um traço que indica a forma pela qual o
verbo pode ser expressado (e, consequentemente, conjugado). Em espanhol, além
do imperativo, também contamos com os modos indicativo e subjuntivo, que indicam
outras formas de expressar o verbo.

46
Há casos em que as orações imperativas correspondem, ao mesmo tempo, a
orações exclamativas, como em ¡Ven! ou ¡Acércate ahora! Além disso, outra opção
em relação à formação de orações imperativas é a sua formação em negativa, isto é,
orações cuja ordem se refere a algo que o interlocutor não deve fazer. Nesses casos,
em língua espanhola, a conjugação para o verbo é outra e, por isso, fala-se em impe-
rativo afirmativo e imperativo negativo.

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Os sinais de interrogação e exclamação invertidos, colocados no
início das orações, são uma característica marcante da língua
espanhola escrita. Embora existam muitas teorias sobre a sua
criação, estima-se que ela data da Idade Média. Sabe-se que
esses símbolos foram pensados e criados para contextos de
leitura, de modo que os leitores pudessem compreender, desde o
início da oração, que se tratava de uma interrogação ou de uma
exclamação. Sua confirmação na gramática de língua espanhola
ocorreu apenas em 1754, com publicação da Real Academia
Española, em que os acadêmicos confirmaram a indicação da
utilização dos símbolos invertidos. ¡Qué interesante! ¿No te
parece increíble?

16 O USO DA VÍRGULA NA LÍNGUA ESPANHOLA

A vírgula costuma ser o sinal de pontuação mais temido por quem precisa se
comunicar por escrito. As regras para uso de coma (vírgula em espanhol) são várias,
e aplicá-las adequadamente exige conhecimento sintático sobre os termos que com-
põem a oração e sobre as relações entre elas.
Algumas construções exigem a presença de uma vírgula apenas. Esse é o caso
das enumerações: entre cada item enumerado, insere-se uma vírgula. Observe:
 En el restaurante, comí patata, carne, arroz, frijoles y ensalada.

Note que, a cada novo elemento que completa o verbo comer, há uma
vírgula. Porém, ela não aparece na frente do primeiro item enumerado, nem depois
do último. Entre o penúltimo e o último item, insere-se, obrigatoriamente, a
conjunção y.

As enumerações ocorrem apenas entre elementos


equivalentes. No exemplo En el restaurante, comí patata, carne,
arroz, frijoles y ensalada, todos os itens são objeto direto do 48
mesmo verbo.
Se o verbo não aparece no enunciado, mas pode ser subentendido pelo
contexto, a vírgula deve marcar essa omissão. Observe:
 Felipe estaba contento y Mariana, muy triste.

Nas construções formadas por mais de uma oração, o uso da vírgula depende
da conjunção. Conjunções que indicam oposição ou concessão exigem vírgula antes
delas. Observe:
 Luis estudió mucho en las vacaciones, pero no se clasificó en el
concurso.
 Fabiano no conquistó su amiga, aunque haya hecho todo lo que ella
quería.

A conjunção pero é uma típica adversativa, já aunque é uma típica


concessiva. Ambas exigem a presença de vírgula. Essa mesma exigência é feita
pelas conjunções de exceção ou inclusão. Veja:
 Hablemos sobre nuestro problema, excepto que esté muy cansado
para eso.
 Ama todas las personas que están cerca de ti, incluso las aburridas.

A vírgula também antecede conjunções consecutivas.


 Me quedé tan cansado, que no fui a la fiesta de cumpleaños de mi
abuela.

As construções condicionais devem ser separadas das orações principais por


vírgula:
 Si supieras la verdad, no estarías aquí haciéndome preguntas tontas.

Além disso, a vírgula é utilizada em documentos para separar lugar e data:


 Buenos Aires, 2010.
 Madrid, 2016.

49
Há regras que exigem o uso duplo de vírgula. Em espanhol, elas são
chamadas de comas en pareja. Elas aparecem nas subordinadas intercaladas:
 Mañana, como estarás en casa, ¿puedes hacer el almuerzo para
nosotros?

Os vocativos — termos que representam um chamamento direto do falante ao


ouvinte — caracterizam-se justamente pelas comas en parejas. Observe:
 ¡Felicidades, Eduardo, por su cumpleaños!

Note que Eduardo indica o ser a quem o falante se dirige; logo, é um vocativo.
As explicações (inclusive apostos) também aparecem entre vírgulas:
 Amazonia, pulmón de la Tierra, está amenazada por la deforestación.

Você sabe o que é um aposto? Segundo a Real Academia Española (2010, p.


228), “[…] las aposiciones son secuencias en las que el modificador de un sustantivo
es otro substantivo o un grupo nominal”. Veja um exemplo:
 Real Academia Española, institución con personalidad jurídica propia,
fue fundada en 1713.

Note que a expressão entre vírgulas, institución con personalidad jurídica pro-
pia, explica a expressão anterior, Real Academia Española; logo, é um aposto. É co-
mum também que a vírgula separe os complementos circunstanciales, quando eles
aparecem no início ou no meio da frase:
 Busqué, inmediatamente, una explicación para lo ocurrido.

Essas regras são importantes para a organização das palavras e das orações,
para delimitar as unidades discursivas. Contudo, é preciso estar alerta também para
erros comuns. Um deles é colocar vírgula entre sujeito e verbo:
 *El rey de España, tuvo una importante reunión con los ministros.
 El rey de España tuvo una importante reunión con los ministros.

O sujeito pode ser separado do verbo, por exemplo, por um


aposto (El Rey de España, Filipe VI, tuvo una importante
reunión con los ministros) ou por um complemento
circunstancial (El Rei de España, pasado mañana, hará una 50
importante reunión con los ministros).
Outro erro comum está na inserção de vírgula antes de y em enumerações.
 *Deseo amor, alegría, dinero, y prosperidade

Aceita-se vírgula antes da conjunção y quando há dois sujeitos diferentes:


 Guillermo está enamorado, y Tiago logró nuevo trabajo.

É comum também o uso equivocado de vírgula entre o verbo e seus comple-


mentos.
 *Todos de la empresa decidieron acabar, con la huelga

Em suma, a vírgula nem sempre corresponderá a uma pausa. Há regras espe-


cíficas para o seu uso, e você deve aplicá-las.

16.1 Ponto, ponto e vírgula e dois-pontos

O ponto marca o final de um enunciado e contribui para que esse enunciado


seja considerado uma frase. Em espanhol, o ponto que encerra as frases é chamado
de punto y seguido; o que termina os parágrafos, punto y aparte; já o que encerra os
textos é chamado de punto final.

Enunciado é o produto de uma enunciação, ou seja, de uma


atividade social e interacional. É uma unidade de comunicação
entre os sujeitos (BAKHTIN, 2003). Parágrafo é uma unidade de
texto em que, a partir de uma ideia principal, desenvolvem-se
ideias secundárias relacionadas entre si (MIGUEL, 1987). Texto é
um conjunto de enunciados elaborados numa sequência harmônica
e com organização interna de suas partes (ORLANDI, 1983)

Os erros mais comuns ocorrem em construções menos habituais e escolares,


como escrita de documentos, produção de livros, elaboração de listas, etc. Títulos,
subtítulos, assinaturas, slogans publicitários e enumerações em listas não levam
ponto. Além disso, cuide para não realizar estas construções equivocadas:

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 *Ella preguntó: ¿Qué hago?.
 *Copié la cita de un libro: “Haga todo con fe y determinación.”
Note os problemas: não se usa ponto após o sinal de interrogação, nem antes
das aspas.
O ponto e vírgula (punto y coma), como o próprio nome indica, assume um
papel entre o de ponto e o de vírgula. Nesse sentido, ele é utilizado para, por exemplo,
separar enumerações que já contenham vírgulas:
 Yo fui a Madrid; mis padres, a Sevilla y mi hermana, a Toledo

Outro uso comum desse tipo de pontuação ocorre quando há orações com
ideias diferentes, mas que aparecem justapostas, principalmente se elas já apresen-
tarem vírgulas. Observe:
 A mí me gusta la playa; a mi marido, el campo.

Costuma-se empregar ponto e vírgula antes de algumas conjunções, se elas


iniciam longas orações. Todavia, esse não é um uso obrigatório. Veja:
 Estudié mucho para la prueba; pero me siento nervioso para poner mis
conocimientos en práctica.
 Deseo viajar a Europa; sin embargo, no tengo dinero para quedarme allá
más que dos días.

Os dois-pontos, de forma geral, têm seu uso relacionado à ênfase que se de-
seja dar à informação que surge logo após esse sinal de pontuação. Portanto, nunca
encerra enunciados, parágrafos ou textos. Veja:
 Pedí a mis amigos: compañía, cariño y comprensión.

De acordo com Maldonado (2012, documento on-line), aplicam-se dois- -pontos


para enunciar uma enumeração (Compré: dos blusas, un pantalón, dos sapatos y un
sombrero), apresentar textos em discurso direto (Felipe dijo: El avión hizo un sonido
alto), substituir um nexo causal (Estoy agotado: me voy a acostarme), separar uma
exemplificação do resto da oração (Haz lo siguiente: compra mucha comida), resumir
ou concluir algo (Trabajamos mucho y ganamos poco: así es la vida).

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Além disso, os dois-pontos aparecem com frequência em cartas e documentos,
como nas saudações (Querido papá:) e nas determinações (RESUELVE: Que la hora
de início del trabajo sea).

17 PONTUAÇÃO NAS EXCLAMAÇÕES E NAS INTERROGAÇÕES

A pontuação nas exclamações e interrogações é uma particularidade da língua


espanhola, porque o sinal gráfi co serve de suporte para os sinais de entonação. Tanto
el signo de interrogación, quanto el de exclamación não aparecem sozinhos, mas sim
andam sempre em dupla: el signo de apertura (¿ ¡) e el signo de cierre (? !). Ao con-
trário da língua portuguesa, é obrigatório o uso dos dois sinais, ou seja, não se pode
suprimir o primeiro. Veja:
 ¡Hoy es día de fiesta!
 ¿Cuáles alumnos participarán de la fiesta?

Note que, assim como o ponto, os sinais de exclamação e interrogação podem


encerrar enunciados, parágrafos e textos. Aliás, embora de forma geral as perguntas
pressuponham a necessidade de uma resposta imediata, é possível que a sinalização
sirva como reforço de uma reflexão antecipada nos parágrafos anteriores. Dessa
forma, o ponto de interrogação pode encerrar um texto.
De acordo com Maldonado (2012, documento on-line), “[...] estos signos enci-
erran enunciados que, respectivamente, interrogan o exclaman. Los primeros se em-
plean para delimitar enunciados interrogativos directos, los segundos demarcam
enunciados exclamativos e interjecciones”.
Um aspecto importante é a relação entre exclamação e interjeição. A maioria
das interjeições, por expressar emoções e sentimentos, naturalmente pede a pre-
sença de ponto de exclamação. Veja:
 ¡Ojalá se acabe esta huelga!
 ¡Oh, cómo este niño está alto!
 ¡Al diablo con tus preguntas tontas!
 ¡Hombre!
 ¡Vale!
 ¡Ufa, llegué!

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Quanto às orações interrogativas, embora elas possam ser construídas com
perguntas diretas e indiretas, o sinal de interrogação só aparece nas diretas. Observe:

 ¿Quieres helado o dulce de leche?


 Quería saber si querías helado o dulce de leche.

Tanto o ponto de interrogação quanto o ponto de exclamação, na língua espa-


nhola, podem aparecer entre parênteses. Observe:
 Juan se puso rojo (?) frente a su novia.
 El profesor permitió que nadie escribiera el texto (!)

Note que, no primeiro exemplo, há uma ironia: Juan nunca é tímido, mas ficou
vermelho diante da namorada. No segundo exemplo, há uma indicação de surpresa:
como o professor permitiu que ninguém fizesse a atividade?
Em documentos históricos, é comum o uso de ponto de interrogação entre pa-
rênteses, para indicar uma data aproximada, ou seja, quando não se tem certeza so-
bre ela. Veja:
 Don Juan Manuel (12820- 1348?)

Note que, nesse caso, a data de falecimento não é confirmada.

18 ESTRATÉGIAS LÚDICAS NO ENSINO DA SINTAXE

A busca de sentido é uma tendência intrínseca do cérebro [...] as emoções são


decisivas nessa criação (ASSMANN, 2001).
Se satisfaz a curiosidade ou é sentido como algo útil ou necessário, o conheci-
mento sempre proporciona satisfação. Daí a necessidade de fazê-lo partir da curiosi-
dade (BUSQUETS, 1998).
Tudo pode ser ocasião para aprender e desenvolver os próprios talentos (DE-
LORS, 1996).
O desenvolvimento de inteligência é inseparável do mundo da afetividade (MO-
RIN, 2001).

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Essas concepções têm algo em comum: todas consideram a educação como
algo além dos conteúdos tratados como objetos estáveis e universais. No entanto,
transformar essas ideias em ações e estratégias é algo muito desafiador.
Segundo Fernando Hernández (1998), a função das instituições educacionais
é facilitar a construção da subjetividade para os alunos, de maneira que eles tenham
estratégias e recursos para interpretar o mundo no qual vivem. Há várias estratégias
e recursos que buscam potencializar o papel ativo do aluno. No entanto, muitas des-
sas propostas esbarram na desmotivação dos estudantes; portanto, é preciso esforço
e criatividade para resgatar o seu interesse. Para isso, muitos professores utilizam
músicas, jogos, dramatizações, experimentos, isto é, atividades lúdicas. Isso ajuda a
turma a construir novas descobertas, desenvolver e enriquecer a sua cultura. Assim,
o professor experimenta a condição de condutor, orientador e avaliador da aprendiza-
gem.
Como se nota, muitos estudiosos consideram as atividades lúdicas verdadeiros
desafios, que levam o sujeito a construir conhecimento. Cardoso (1996) afirma que os
jogos são mais que instrumentos de aprendizagem, pois garantem a espontaneidade
e a interação — elementos essenciais para o desenvolvimento da autonomia.
Para Sánchez e Romeu (1996), os docentes devem planejar estratégias capa-
zes de guiar processos reflexivos e de levar os estudantes à reinterpretação do co-
nhecimento. Tornar a aprendizagem algo não só útil como também interessante é uma
das formas de atingir esse objetivo.
Para elaborar e escolher propostas lúdicas, você deve conhecer os interesses
dos seus alunos e reservar momentos em sala de aula para ouvir a turma. Atente para
algumas ideias-chave, ao planejar atividades lúdicas: motivação à aprendizagem, in-
teração, articulação de diferentes campos do saber, integração com situações concre-
tas, estímulo, participação efetiva do aluno, aprendizagem com sentido, clima de en-
tusiasmo, envolvimento emocional, atmosfera de espontaneidade e criatividade, mo-
tivação à autonomia, mudança efetiva, momento vivido, expressividade.
No ensino da sintaxe, também é possível desenvolver estratégias lúdicas que
levem o aluno a descobertas, treinamentos e recomposições. Um jogo de quebra- -
cabeça é uma opção divertida para evidenciar as relações entre as palavras e os com-
plementos, por exemplo. Com essa estratégia, é possível trabalhar a regência, as di-

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ferenças entre complemento de régimen verbal e complemento de régimen preposici-
onal, as características dos complementos circunstanciais. Se esse quebra- -cabeça
for um texto, é possível desenvolver também as relações da sintaxe com a coerência
e a coesão da mensagem. Além disso, pode-se discutir sobre os sentidos que se quer
dar ao texto a partir das construções oracionais e dentro das orações.
Os jogos de adivinhação articulam as habilidades de fala, estimulam a criativi-
dade, expandem o vocabulário e divertem. Os conceitos sintáticos podem ser a res-
posta para várias perguntas de adivinhações. Veja um exemplo no box a seguir.

Descubra la función sintáctica:


Pista 1: Es una función sintáctica que está en el predicado.
Pista 2: Es una exigencia del predicado.
Pista 3: Es una función que los grupos preposicionales de-
sempeñan.
Pista 4: Es exigida por sustantivos y adjetivos.

Respuesta: Complemento de régimen preposicional

Essa proposta mobiliza o aluno a compreender a função de cada termo da ora-


ção, por exemplo, e possibilita que, com essa abordagem, outros alunos compreen-
dam melhor esses conceitos.
Assim, os aprendizes sentem-se motivados e captam a idiossincrasia dos paí-
ses da língua espanhola, isto é, as características comuns que são compartilhadas
por grande parte dos falantes de espanhol de uma região. Essas características estão
na estrutura sintática, no vocabulário, nas expressões típicas, na conjugação dos ver-
bos, na pronúncia, etc., portanto, para os aprendizes de um novo idioma, é fundamen-
tal o contato com falantes nativos, seja por meio de vídeo ou áudio, seja pelo contato
direto com um hispoanohablante.
Os jogos de grupo incentivam a competição, mas estimulam as ações em
equipe. Eles exigem atenção não só às próprias jogadas, mas também às jogadas
dos outros jogadores. Saber ouvir e compreender as mensagens na língua espanhola
mobiliza conhecimentos sintáticos. Segundo Gebran (2009, p. 188):

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[...] por meio dos jogos educativos, o aluno assume um papel ativo na educa-
ção, construindo o seu conhecimento e buscando exercitar conceitos a partir
de situações simuladas, praticando suas relações e interações sociais tanto
com os colegas de seu grupo (colaborativo) quanto no trabalho com colegas
de outros grupos (competitivo ou colaborativo).

Como se nota, quando se opta por utilizar estratégias lúdicas, são mobilizados
sentimentos e ideias para defender opiniões em um grande ensaio em sala de aula.

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19 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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