FÍSICA QUÂNTICA
AULA 2
Prof. Fillipi Campos
CONVERSA INICIAL
Os temas abordados nesta aula serão:
• Separação de variáveis;
o Busca por soluções da função de onda independentes do tempo;
• Poço Quadrado Infinito;
o Análise do comportamento da função de onda dentro de uma
estrutura simples;
• Oscilador Harmônico;
O Compreensão da solução da função para pequenas oscilações
(válida também para outras aplicações) e suas implicações;
• Partícula Livre;
o Compreensão da função de onda de uma partícula livre;
• Potencial da Função Delta;
o Descrição do delta de Dirac e a propagação de uma onda de
matéria em um potencial 𝛿(𝑥);
• Poço Quadrado Finito;
o Análise do comportamento da função de onda dentro de uma
estrutura simples.
TEMA 1 – SEPARAÇÃO DE VARIÁVEIS
A função de onda é um dos pilares da física quântica, tendo seu
comportamento descrito pela forma como “responde” à Equação de
Schrödinger. Nesta aula, veremos como ela se forma em diversas situações,
que podem ser empregadas em um grande número de aplicações práticas
posteriores.
Assim, de modo a obter efetivamente a função de onda Ψ(𝑥, 𝑡), devemos
submetê-la a uma função de energia potencial 𝑉(𝑥, 𝑡) na equação de
Schrödinger:
𝜕Ψ ℏ2 𝜕 2 Ψ
𝑖ℏ =− + 𝑉Ψ
𝜕𝑡 2𝑚 𝜕𝑥 2
Consideraremos 𝑉 independente do tempo (estático, portanto) e
procuraremos resolver a equação partindo de uma separação de variáveis.
Supomos que a função de onda tem forma:
2
Ψ(𝑥, 𝑡) = 𝜓(𝑥)𝜑(𝑡)
Ou seja, pode ser separada em um produto de duas funções, uma
dependente da posição 𝜓(𝑥) (observe que aqui o psi é minúsculo e depende
somente da posição) e outra dependente do tempo 𝜑(𝑡).
Aplicando a separação de variáveis à equação de Schrödinger, obtemos
duas equações distintas, deixando dependência temporal e espacial
separadas. A solução temporal é:
𝑑𝜑 𝑖𝐸
=− 𝜑
𝑑𝑡 ℏ
Com 𝐸 sendo escolhido como constante de separação e tendo como
significado físico a energia do sistema. Com uma resolução que lança mão de
métodos das equações diferenciais, obtém-se a parcela da função dependente
do tempo,
𝑖𝐸𝑡
𝜑(𝑡) = 𝑒 − ℏ .
Já a parcela da equação relativa à dependência espacial encontrada
corresponde à almejada equação de Schrödinger independente do tempo:
ℏ2 𝑑 2 𝜓
− + 𝑉𝜓 = 𝐸𝜓
2𝑚 𝑑𝑥 2
Como 𝜑(𝑡) possui pouco impacto nos resultados finais, nos dedicaremos
a obter 𝜓(𝑥) a partir de agora. As soluções separáveis dessa forma são
interessantes, sobretudo por três razões:
1) São estados estacionários, e, em geral, a dependência temporal é
cancelada e a densidade de probabilidade acaba sendo a mesma para
Ψ(𝑥, 𝑡) e 𝜓(𝑥);
2) São estados de energia total definida, o que significa que cada medição
da energia total, dentro do princípio da incerteza, retorna corretamente o
valor de energia (que chamaremos de 𝐸);
3) A solução geral é uma combinação linear das soluções separáveis:
∞
𝑖𝐸𝑛 𝑡
Ψ(𝑥, 𝑡) = ∑ 𝑐𝑛 𝜓𝑛 (𝑥)𝑒 − ℏ
𝑛=1
Facilitando a escrita da função, basta determinar as constantes 𝑐1 , 𝑐2 ,
𝑐3 ,…
3
Embora uma atribuição importante da física quântica seja a de encontrar
a função de onda por meio de soluções da Equação de Schrödinger, alguns
casos possuem resultados algébricos bem definidos, ao passo que outros não
possuem solução desse tipo e carecem de métodos computacionais. O que
diferencia cada caso são as condições de contorno, restrições de estado da
função de onda que diferenciam o comportamento da partícula em cada
situação. Tomemos por exemplo os elétrons em um orbital atômico: diferentes
estados (dados pelos diferentes números quânticos – é daqui vem o termo
usado na química!) resultam em orbitais distintos, com diferentes formatos. Os
formatos dos orbitais são dados justamente pela solução de função de onda
desses elétrons na proximidade do átomo.
Também é possível concluir da teoria das equações diferenciais parciais
que, dada a equação de Schrödinger sujeita a condições de contorno, soluções
não triviais são permitidas apenas para um conjunto discreto de valores de
energia. É desse modo que a equação independente do tempo de Schrödinger
leva à quantização dos níveis de energia.
TEMA 2 – POÇO QUADRADO INFINITO
Antes de chegar a situações mais complexas, iremos iniciar com
estruturas simples, sendo, para este caso, o poço quadrado infinito. Tais
modelos, embora baseados em estruturas simples, podem ser aplicados em
um grande número de situações, indo da física nuclear ao estudo de materiais
supercondutores.
2.1 Definição do poço quadrado infinito
O poço quadrado infinito, representado na figura 1, é definido
algebricamente como:
0, para 0 ≤ 𝑥 ≤ ℓ
𝑉(𝑥) = {
∞, caso contrário
Trata-se de uma região de potencial nulo de largura ℓ cercada de um
potencial infinito. Assim, a partícula deve permanecer confinada ao espaço
entre 0 e ℓ, tendo sua função de onda zerada fora desse intervalo. A
probabilidade de a partícula estar além desses pontos, portanto, deve ser nula.
4
Figura 1 – Poço quadrado infinito com largura ℓ
A condição de contorno atrelada a esse problema é obtida daí: a função
de onda deve ser nula nas extremidades, ou seja, como |𝜓(0)|2 = |𝜓(ℓ)|2 ,
conclui-se que
𝜓(0) = 𝜓(ℓ) = 0
Também da continuidade e da normalização da função de onda obtém-
se as soluções, com desenvolvimento facilmente encontrado na literatura:
2 𝑛𝜋
𝜓𝑛 (𝑥) = √ sen ( 𝑥)
ℓ ℓ
Onde 𝑛 assume valores inteiros positivos. É possível também determinar
os valores permitidos de energia:
ℏ2 𝑘𝑛2 𝑛2 𝜋 2 ℏ2
𝐸𝑛 = =
2𝑚 2𝑚ℓ2
As soluções da função de onda de alguns estados podem ser
observadas a seguir. O estado dado por 𝑛 = 1 aplicado à função de onda é
chamado de estado fundamental e está representado na figura 2 (I).
2 𝜋
𝜓1 (𝑥) = √ sen ( 𝑥)
ℓ ℓ
Por ser um poço infinito, esse sistema apresenta infinitos estados
excitados, com energias sucessivamente maiores e 𝑛 = 2, 3, 4, ….
Eles são dados por:
5
2 2𝜋
𝜓2 (𝑥) = √ sen ( 𝑥)
ℓ ℓ
2 3𝜋
𝜓3 (𝑥) = √ sen ( 𝑥)
ℓ ℓ
2 4𝜋
𝜓4 (𝑥) = √ sen ( 𝑥)
ℓ ℓ
⋮
Com as formas de função de onda representadas na figura 2 (I), (II), (III)
e (IV).
Figura 2 – Soluções da função de onda para o poço quadrado infinito
A importância das soluções do poço quadrado infinito existe:
• Por elas serem normalizáveis;
• Por terem índice discreto (𝑛);
• E por resultarem em diferentes níveis de energia.
Além disso, os estados são ortogonais e completos, de modo que outra
função qualquer 𝑓(𝑥) pode ser escrita como combinação linear dessas
soluções:
∞
𝑓(𝑥) = ∑ 𝑐𝑛 𝜓𝑛 (𝑥) .
𝑛=1
6
TEMA 3 – OSCILADOR HARMÔNICO
Um número considerável de sistemas microscópicos pode ser descrito,
mesmo que aproximadamente, por meio das equações do oscilador harmônico.
A energia potencial para esse caso específico possui perfil parabólico, como
representado na figura 3 (I) devido à definição essencial do modelo da
mecânica clássica, em que uma partícula de massa 𝑚 sujeita a uma força
elástica com constante de mola 𝑘 fica sujeita a um potencial 𝑉(𝑥) = 12𝑘𝑥 2 .
Conforme ilustrado na figura 3 (II), podemos ver que o modelo pode ser usado
para um caso muito comum: no estudo do comportamento de um sistema físico
nas proximidades de uma posição de equilíbrio estável. Devemos nos
restringir, todavia, ao limite de pequenas oscilações.
Figura 3 – (I) Formato do poço no oscilador harmônico e (II) aproximações do
oscilador harmônico em um potencial genérico
(I) (II)
Os resultados que veremos a seguir podem ser aplicados a diversas
situações, desde vibrações moleculares oscilando em sua posição de
equilíbrio, passando por estruturas nucleares, até oscilações de átomos em
uma rede cristalina.
3.1 Modelagem do Oscilador Harmônico e Operadores Escada
Do modelo massa-mola da mecânica clássica é definido o potencial
1
𝑉(𝑥) = 𝑚𝜔2 𝑥 2
2
7
Onde 𝑚 é a massa (da partícula), 𝜔 é a frequência de oscilação e 𝑥 é a
posição ocupada pela mesma. A Equação de Schrödinger toma, então, a
seguinte forma:
ℏ2 𝑑 2 𝜓 1
− + 𝑚𝜔2 𝑥 2 𝜓 = 𝐸𝜓 .
2𝑚 𝑑𝑥 2 2
Aplicando técnicas semelhantes ao sistema do poço quadrado infinito, é
possível determinar a função de onda do estado fundamental:
4 𝑚𝜔 −𝑚𝜔𝑥 2
𝜓0 (𝑥) = √ 𝑒 2ℏ
𝜋ℏ
E, analiticamente, obtém-se os demais estados (excitados):
4 𝑚𝜔 𝐻𝑛 −𝑚𝜔𝑥 2
𝜓𝑛 (𝑥) = √ 𝑒 2ℏ
𝜋ℏ √2𝑛 𝑛!
Onde 𝐻𝑛 são os “Polinômios de Hermite”, soluções da equação
diferencial. Os quatro primeiros estados estacionários do oscilador harmônico
estão representados graficamente na figura 4 (I), (II), (III) e (IV). São
exemplificados também os estados 𝜓10 (𝑥) e 𝜓20 (𝑥) na figura 4 (V) e (VI),
respectivamente.
Figura 4 – Representações gráficas dos estados fundamentais do oscilador
harmônico: 𝜓0 (𝑥) (I); 𝜓1 (𝑥) (II); 𝜓2 (𝑥) (III); 𝜓3 (𝑥) (IV); 𝜓10 (𝑥) (V); 𝜓20 (𝑥) (VI)
Uma vez que será amplamente empregado, é interessante conhecer
uma ferramenta associada ao modelo do oscilador harmônico. Os operadores
escada são utilizados em uma ampla gama de aplicações no formalismo
8
quântico, e, por isso, vamos introduzi-los aqui. Utilizando séries de potência,
podemos obtê-los em função dos operadores posição 𝑥 e momento 𝑝:
1
𝑎+ = (𝑚𝜔𝑥 − 𝑖𝑝)
√2ℏ𝑚𝜔
1
𝑎− = (𝑚𝜔𝑥 + 𝑖𝑝)
{ √2ℏ𝑚𝜔
Conhecidos como operadores de levantamento ou criação (𝑎+ ou 𝑎† ) e
de abaixamento ou aniquilação (𝑎− ou 𝑎), eles representam, respectivamente,
“subidas” ou “descidas” nos “degraus” dos estados permitidos do oscilador
harmônico. Os termos “criação” e “aniquilação” se devem à ação de fazer
aparecer ou desaparecer um quantum de energia.
A função de onda dos estados excitados pode ser expressa em função
desses operadores:
𝜓𝑛 (𝑥) = 𝐴𝑛 (𝑎+ )𝑛 𝜓0 (𝑥)
1
Com 𝐸𝑛 = (𝑛 + ) ℏ𝜔 e sendo 𝐴𝑛 um fator de normalização.
2
As operações de 𝑎+ e 𝑎− sobre a função de onda sobre os estados
geram um estado acima e abaixo multiplicado por uma constante:
𝑎+ 𝜓𝑛 = √𝑛 + 1𝜓𝑛+1
{
𝑎− 𝜓𝑛 = √𝑛𝜓𝑛−1
Assim, de modo a obter uma função de onda de um estado qualquer:
1
𝜓𝑛 = (𝑎+ )𝑛 𝜓0
√𝑛!
E, além disso, os operadores 𝑥 e 𝑝 podem ser escritos em função dos
operadores escada:
ℏ
𝑥= √ (𝑎 + 𝑎− )
2𝑚𝜔 +
ℏ𝑚𝜔
𝑝 = 𝑖√ (𝑎+ − 𝑎− )
{ 2
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TEMA 4 – PARTÍCULA LIVRE
Aqui, a ordem na busca de soluções pode suscitar um questionamento
legítimo: por que estudamos primeiro sistemas mais restritivos, como o poço
quadrado e o oscilador harmônico, antes de analisar a partícula livre?
Afinal de contas, uma partícula livre não está sujeita a uma energia
potencial, o que anula alguns termos na equação de onda. Inicialmente,
tomamos que 𝑉(𝑥) = 0 em todos os pontos. O que segue é que, na solução da
equação de Schrödinger independente no tempo para a partícula livre, a
resolução se torna mais complicada, pois, diferentemente do poço quadrado
infinito, não há condições de contorno para restringir possíveis valores de 𝜓.
Uma analogia que podemos utilizar aqui é a de uma corda de violão, que
possui uma vibração característica dadas as suas características construtivas
(espessura, densidade), aplicação de tração e condições de contorno
(extremidades fixas de fixação). Encontrar as soluções finais de uma partícula
livre seria como tentar tocar uma corda de violão sem prender as pontas no
instrumento.
4.1 Velocidade clássica versus velocidade quântica da partícula
Na determinação da função de onda da partícula livre, devido a
discrepâncias na determinação da velocidade da partícula e da normalização,
acaba sendo encontrado
2𝐸
𝑣clássica = √ = 2𝑣quântica ,
𝑚
Onde se conclui que não há partícula livre com uma energia definida (ou
uma partícula livre não pode existir em um estado estacionário). A resolução
desse paradoxo se dá pela compreensão de qual velocidade medimos. O
pacote de onda se desloca com a velocidade de grupo (coincidente com a
velocidade clássica da partícula), representado pela envoltória tracejada na
figura 5. Já a ondulação, representada pela linha cheia, desloca-se com a
velocidade de fase (que pode ser no mesmo sentido, em sentido contrário à
velocidade de grupo ou estática). Assim, compreende-se que:
𝑣clássica = 𝑣grupo = 2𝑣fase
10
Figura 5 – Velocidade de fase e velocidade de grupo em uma função de onda
4.2 Funções de onda da partícula livre
Mesmo sem solução clara, é possível estabelecer expressões que
representam a partícula livre em diferentes espaços. As ondas de matéria,
além do espaço das posições (𝑥) que já exploramos, podem ser representadas
no espaço dos momentos (𝑘), sendo, no entanto, não normalizáveis em
nenhum dos casos. A transição entre os dois espaços é realizada através da
Transformada de Fourier. No espaço das posições, a função de onda da
partícula é representada por:
∞ ℏ𝑘 2
1 𝑘𝑥− 2𝑚 𝑡
Ψ(𝑥, 𝑡) = ∫ Φ(𝑘)𝑒 𝑑𝑘
√2𝜋 −∞
E, no espaço dos momentos, a mesma função de onda é obtida como:
∞
1
Φ(𝑘) = ∫ Ψ(𝑥, 0)𝑒 −𝑖𝑘𝑥 𝑑𝑥
√2𝜋 −∞
Essa relação entre o espaço das posições pode parecer um pouco
estranha, mas há um análogo que pode ajudar: um sinal de rádio pode ser
representado como uma onda (como veríamos em um osciloscópio) com o eixo
das abcissas mostrando o tempo, ou como um pico na sua frequência
portadora (como veríamos em um analisador de espectro – ou como
selecionaríamos no dial do rádio). Em ambos os casos, a rádio é a mesma, a
diferença se dá pelo “ponto de vista” por meio do qual se enxerga a onda.
Quem faz a “tradução” entre os “pontos de vista” é a já citada transformada de
Fourier. O mesmo vale para a função de onda em diferentes espaços (𝑥 e 𝑘),
mas representando a mesma partícula.
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TEMA 5 – POTENCIAL DA FUNÇÃO DELTA E POÇO QUADRADO FINITO
Embora não possuam solução tão elegante como o poço infinito e o
oscilador harmônico, é salutar estudarmos mais duas formas de potencial: a
delta de Dirac, que podemos ainda subdividir em poço e barreira, e o poço de
potencial finito.
5.1 Definição da “Função” delta de Dirac
A delta de Dirac (𝛿(𝑥)) é uma distribuição comumente usada nas teorias
eletromagnética e quântica. Embora seja denominada “função” por se
assemelhar a esse tipo de estrutura, não pode receber tal classificação. Trata-
se de um pico de largura nula, altura infinita, como representado de forma
aproximada na figura 6. É definido como:
𝑥0 , se 𝑥 ≠ 0
𝛿(𝑥 − 𝑥0 ) = { .
∞, se 𝑥 = 0
Figura 6 – Representação gráfica (I) da delta de Dirac (II) das ondas refletidas
e transmitida por uma barreira delta de Dirac
(I) (II)
Ela tem como propriedades principais a área unitária:
+∞
∫ 𝛿(𝑥) 𝑑𝑥 = 1 ,
−∞
E, por conseguir “selecionar” o valor correspondente em uma função
quando a mesma é multiplicada dentro da integral,
12
+∞
∫ 𝛿(𝑥 − 𝑥0 )𝑓(𝑥) 𝑑𝑥 = 𝑓(𝑥0 )
−∞
Sua transformada de Fourier é uma onda senoidal.
5.2 Poço de potencial delta de Dirac
Figura 7 – Representação gráfica (I) do poço de potencial delta de Dirac e
(II) das ondas incidente, refletida e transmitida
(I) (II)
Um poço de potencial delta, representado pelo pico apontando para −∞
na figura 7(a), apresenta a forma algébrica
𝑉(𝑥) = −𝛼𝛿(𝑥)
Onde 𝛼 é uma constante positiva. Dadas suas condições de contorno e
a continuidade da função de onda, apresenta apenas um estado ligado:
√𝑚𝛼 −𝑚𝛼|𝑥|
𝜓(𝑥) = 𝑒 ℏ2
ℏ
Com energia dada por:
𝑚𝛼 2
𝐸=− 2
2ℏ
Há, ainda, o chamado “estado de espalhamento”, no qual consideramos
uma partícula se deslocando vindo do infinito. O resultado aqui é semelhante
ao da partícula livre, uma vez que a função de onda não pode ser normalizada.
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Todavia, podem ser obtidos dois resultados relevantes que merecem nossa
atenção: o coeficiente de reflexão
1
ℛ=
2ℏ2 𝐸
1+
𝑚𝛼 2
E o coeficiente de transmissão
1
𝒯=
𝑚𝛼 2
1+ 2
2ℏ 𝐸
Embora as ondas de espalhamento não representem estados das
partículas por não serem normalizáveis, ℛ e 𝒯 podem, respectivamente, ser
tomados como probabilidades aproximadas de reflexão e transmissão.
Para uma barreira 𝑉(𝑥) = +𝛼𝛿(𝑥), ou seja, com mesma forma do poço,
porém apontando para +∞, a partícula tem probabilidade de reflexão e
transmissão iguais. O fenômeno de transmissão através de barreiras de
potencial infinito, que inclui a barreira +𝛼𝛿(𝑥), é chamado de tunelamento.
5.3 Poço quadrado finito
O poço quadrado finito possui uma solução um pouco mais complicada
que sua forma mais próxima, o poço quadrado infinito. Definido como:
−𝑉 , para − ℓ ≤ 𝑥 ≤ ℓ
𝑉(𝑥) = { 0
0, para |𝑥| > ℓ
O poço quadrado finito está representado na figura 8.
Figura 8 – Representação gráfica do poço de potencial quadrado finito
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Apesar de a forma da solução ser conhecida e resolvida analiticamente,
o problema de autovalor leva a uma equação transcendental que é resolvida
numericamente para se conhecer os valores de energia permitidos. As
soluções de estados ligados (𝐸 < 0) possuem forma:
cos 𝑘𝑥
⟩ para |𝑥| < ℓ
𝜓(𝑥)~ {sen 𝑘𝑥
𝑒 −𝜅|𝑥| para |𝑥| > ℓ
Onde são definidas duas constantes utilizadas:
2𝑚(−|𝐸| + 𝑉0 ) 2𝑚|𝐸|
𝑘=√ 2
e 𝜅=√ 2
ℏ ℏ
Os valores de energia discretos são obtidos graficamente por meio de
𝑘ℓ tg 𝑘ℓ = 𝜅ℓ para a paridade par e 𝑘ℓ cot 𝑘ℓ = −𝜅ℓ na paridade ímpar, sendo
dados por:
ℏ2 𝜅 2
𝐸=−
2𝑚
Outra distinção do poço quadrado finito está no número de estados de
energia possíveis, uma vez que o mesmo comporta somente um número finito
de estados para uma profundidade do poço 𝑉0 finita.
NA PRÁTICA
Considere um LED hipotético com emissão de fótons modelada em um
poço quadrado infinito com largura ℓ = 1,04 nm. A emissão de fótons na faixa
visível ocorre quando os elétrons descem do nível 𝑛 = 3 para o 𝑛 = 2.
Determine:
(a) A função de onda do elétron em cada nível de energia envolvido na
emissão;
(b) A energia dos mesmos níveis;
(c) Dadas as frequências definidas abaixo, determine se o LED apresenta a
cor vermelha, verde ou azul.
• Vermelho 405 THz < 𝑓 < 480 THz
• Verde 530 THz < 𝑓 < 600 THz
• Azul 620 THz < 𝑓 < 680 THz
15
ℏ = 1,05 ⋅ 10−34 J⋅s
𝑚 = 9,11 ⋅ 10−31 kg
ℓ = 1,04 nm = 1,04 ⋅ 10−9 m
2 2𝜋
𝜓2 (𝑥 ) = √ sen ( 𝑥) ⇒ 𝜓2 (𝑥 ) = 4,39 ⋅ 104 sen(6,04 ⋅ 109 𝑥 )
ℓ ℓ
2 3𝜋
𝜓3 (𝑥 ) = √ sen ( 𝑥) ⇒ 𝜓3 (𝑥 ) = 4,39 ⋅ 104 sen(9,06 ⋅ 109 𝑥 )
ℓ ℓ
𝑛2 𝜋 2 ℏ2
𝐸𝑛 =
2𝑚ℓ2
(2)2 𝜋 2 (1,05 ⋅ 10−34 )2
𝐸2 = −31 −9 2
⇒ 𝐸2 = 221 ⋅ 10−21 J
2(9,11 ⋅ 10 )(1,04 ⋅ 10 )
(3)2 𝜋 2 (1,05 ⋅ 10−34 )2
𝐸3 = −31 −9 2
⇒ 𝐸3 = 497 ⋅ 10−21 J
2(9,11 ⋅ 10 )(1,04 ⋅ 10 )
Δ𝐸 (497 ⋅ 10−21 ) − (221 ⋅ 10−21 )
Δ𝐸 = ℏ𝜔 ⇒ 𝜔 = =
ℏ (1,05 ⋅ 10−34 )
⇒ 𝜔 = 2,63 ⋅ 1015 rad/s
𝜔 (2,63 ⋅ 1015 )
𝑓= = ⇒ 𝑓 = 418 ⋅ 1012 Hz
2𝜋 2𝜋
𝑓 = 418 THz LED vermelho
FINALIZANDO
Nesta aula, nos dedicamos ao estudo dos estados estacionários, nos
quais a função de onda é aplicada à Equação de Schrödinger independente do
tempo. Aplicamos diversas condições de contorno com soluções analíticas,
como o poço Quadrado Infinito e o oscilador Harmônico, que possui diversas
aplicações práticas. Outras soluções, como a partícula Livre, o poço de
potencial delta de Dirac, a barreira delta de Dirac e o poço quadro finito são
discutidos, uma vez que não possuem soluções elementares.
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