O Cirurgião-Dentista e o Código
de Defesa do Consumidor (CDC)
1. Introdução ao CDC
• Lei 8.078/1990: Normas de Ordem Pública e Interesse Social
O Código de Defesa do Consumidor (CDC) é uma lei federal que visa proteger o
consumidor frente às relações de consumo. Suas normas são de ordem pública, ou
seja, não podem ser afastadas por acordo entre as partes.
• Finalidade
Regular as relações entre fornecedores e consumidores, promovendo equilíbrio,
justiça e respeito à dignidade humana nas relações de consumo.
• Conceitos-Chave:
Consumidor (Art. 2º): Toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza
produto ou serviço como destinatário final.
Fornecedor (Art. 3º): Quem desenvolve atividade de produção, montagem,
criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou
comercialização de produtos ou serviços.
Produto: Bem móvel ou imóvel, material ou imaterial.
Serviço: Qualquer atividade fornecida no mercado de consumo mediante
remuneração, inclusive serviços profissionais, como os de um cirurgião-dentista.
➡ Aplicação direta na Odontologia: o cirurgião-dentista presta serviço remunerado e,
portanto, enquadra-se como fornecedor. O paciente, por sua vez, é considerado
consumidor final.
2. Profissional Liberal e a Relação de Consumo
• Diferenças Conceituais:
Profissional liberal: possui formação superior, autonomia técnica e responde por
seus atos com base na responsabilidade subjetiva (depende de comprovação de
culpa).
Autônomo: atua por conta própria, sem vínculo empregatício, mas sem
necessariamente possuir qualificação técnica formal.
Trabalhador autônomo: relação de prestação de serviço eventual, sem
habitualidade.
• O Cirurgião-Dentista como Fornecedor de Serviços
O CD é um profissional liberal e, portanto, integra o rol de fornecedores de serviços,
com obrigações previstas no CDC.
• O Paciente como Consumidor Final
O paciente utiliza os serviços odontológicos como destinatário final, sem objetivo
de revenda ou transformação, estando plenamente amparado pelo CDC.
3. Direitos do Consumidor (Art. 6º)
Os principais direitos previstos no artigo 6º, com aplicabilidade ao atendimento
odontológico, incluem:
• Proteção à Vida, Saúde e Segurança
O profissional deve garantir que seus procedimentos não coloquem o paciente em
risco desnecessário. Falta de biossegurança, uso de materiais vencidos ou práticas
contraindicadas configuram violação.
• Informação Clara e Adequada
O paciente deve receber informações compreensíveis, completas e honestas
sobre:
Procedimentos propostos,
Riscos envolvidos,
Alternativas de tratamento,
Custos e tempo de execução.
➡ O uso do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido é essencial para
resguardar o CD legalmente.
• Prevenção e Reparação de Danos
O paciente tem direito à prevenção de prejuízos e à indenização por danos morais e
patrimoniais, se estes ocorrerem em decorrência de falhas na prestação do serviço
odontológico.
• Acesso à Justiça e Inversão do Ônus da Prova
O consumidor pode acionar o Judiciário com maior facilidade.
Havendo verossimilhança da alegação, o juiz pode inverter o ônus da prova: o
profissional terá que provar que não agiu com culpa.
4. Responsabilidade Civil no CDC
• Responsabilidade Objetiva (Art. 14, caput)
Aplica-se aos prestadores de serviços em geral, inclusive clínicas ou consultórios
organizados como empresas:
Basta a existência do defeito e do dano, sem necessidade de provar culpa.
Ex: cadeira odontológica quebrada que causa acidente.
• Responsabilidade Subjetiva para Profissionais Liberais (Art. 14,
§4º)
No caso dos CDs, a culpa deve ser comprovada (negligência, imprudência ou
imperícia). Isso diferencia o profissional liberal da clínica (pessoa jurídica), que
responde objetivamente.
5. Defeitos e Vícios nos Serviços
• Defeito (Art. 14, §1º)
Ocorre quando o serviço não oferece a segurança esperada pelo consumidor.
Ex: mau uso de anestésico sem avaliação prévia, levando a complicações.
• Vício Oculto (Art. 26, §3º)
Imperfeição que não é percebida imediatamente, mas aparece com o uso.
Ex: prótese mal adaptada que só causa dor após algumas semanas.
• Prazos:
Art. 26: 90 dias para reclamações em serviços duráveis (como procedimentos
odontológicos), contados da data do conhecimento do vício.
Art. 27: 5 anos para propor ação de indenização por danos causados por fato do
serviço (ex: erro profissional que gerou lesão).
6. Publicidade e Propaganda
• Veracidade da Informação (Arts. 30 e 31)
A publicidade deve ser clara, verdadeira e não induzir o consumidor a erro.
O profissional responde pelo que anuncia, mesmo que não haja contrato
assinado.
➡ Ex: Prometer “clareamento 100% garantido e permanente” pode gerar
responsabilização se o efeito não for alcançado.
• Responsabilidade por Publicidade Enganosa (Arts. 35 a 38)
Publicidade enganosa ou abusiva pode ser punida com:
Obrigação de cumprimento da oferta,
Ressarcimento de danos,
Multas e outras sanções administrativas.
7. Práticas Abusivas (Arts. 39 a 40)
• Proibição de Aproveitamento da Vulnerabilidade do Consumidor
O CD não pode usar sua posição de conhecimento técnico para induzir o
paciente a procedimentos desnecessários.
• Obrigatoriedade de Orçamento Prévio
O paciente tem o direito de receber orçamento discriminado e prévio, com:
Procedimentos,
Valores unitários,
Forma de pagamento.
➡ A ausência desse documento pode configurar infração ética e violação do CDC.
• Contratação de Serviços Não Previstos
Serviços não autorizados previamente não podem ser cobrados, mesmo que
tenham sido realizados.