AESA - AUTARQUIA DE ENSINO SUPERIOR DE ARCOVERDE
CESA- CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DE ARCOVERDE
CURSO LICENCIATURA EM LETRAS
A LITERATURA INFANTIL COMO FERRAMENTA
PEDAGÓGICA NA ALFABETIZAÇÃO
Clarissa Santos Alves
ARCOVERDE - PE
ABRIL – 2025
RESUMO
Este artigo tem como objetivo analisar a utilização da literatura infantil como
ferramenta pedagógica no processo de alfabetização. A leitura literária, quando
inserida no cotidiano escolar de forma planejada, pode estimular a imaginação,
ampliar o vocabulário e desenvolver a consciência fonológica das crianças,
contribuindo significativamente para sua aprendizagem da leitura e da escrita. A
metodologia utilizada baseia-se em uma revisão bibliográfica de autores
relevantes na área da educação e da literatura infantil. Os resultados indicam que
o uso da literatura infantil no ambiente escolar favorece não apenas a aquisição
do código linguístico, mas também o desenvolvimento integral do aluno.
INTRODUÇÃO
A alfabetização constitui uma das fases mais importantes na trajetória escolar da
criança, sendo responsável por apresentar-lhe o universo da linguagem escrita e
possibilitar o desenvolvimento de competências e habilidades fundamentais para
sua inserção social e acadêmica. Esse processo, no entanto, vai além da simples
decodificação de letras e palavras, exigindo práticas pedagógicas que considerem
o sujeito em sua integralidade, reconhecendo suas experiências, interesses e
modos próprios de aprender. Entre essas práticas, destaca-se a literatura infantil
como uma valiosa ferramenta que, quando bem explorada, contribui
significativamente para tornar o ato de aprender a ler e a escrever mais prazeroso,
significativo e eficaz.
A literatura infantil, compreendida como um gênero artístico voltado
especialmente para o público infantil, desempenha papel essencial na
construção de sentidos, no estímulo à imaginação, na ampliação do repertório
linguístico e no desenvolvimento das habilidades cognitivas e emocionais. Os
textos literários, por meio de suas narrativas lúdicas, personagens simbólicos e
tramas envolventes, possibilitam à criança entrar em contato com diferentes
formas de ver o mundo, promovendo o desenvolvimento de valores, atitudes e
competências sociais. No contexto escolar, esse contato com a literatura pode ser
explorado de forma estratégica para facilitar e enriquecer o processo de
alfabetização, uma vez que a leitura literária incentiva o interesse pela linguagem
escrita e desperta a curiosidade pelo universo das palavras.
Durante as últimas décadas, diversos teóricos e educadores vêm enfatizando a
importância de se adotar práticas pedagógicas mais humanizadas e significativas
no processo de alfabetização. Autores como Magda Soares (2003) destacam que
alfabetizar não é apenas ensinar a ler e escrever, mas, sobretudo, formar leitores e
escritores capazes de interagir criticamente com os diversos textos sociais. Nessa
perspectiva, a literatura infantil deixa de ser vista apenas como um recurso
complementar ou recreativo, para ocupar um lugar central nas práticas
alfabetizadoras, atuando como um instrumento de mediação entre o aluno e o
conhecimento.
Ao contrário de métodos mecânicos e descontextualizados, a literatura infantil
propicia situações de aprendizagem mais envolventes, nas quais as crianças se
sentem motivadas a participar ativamente. Histórias que despertam emoções,
que trazem situações cotidianas, que brincam com sons e palavras – como as
cantigas, parlendas e contos de repetição – colaboram para o desenvolvimento da
consciência fonológica, da compreensão textual e da expressão oral, todos
aspectos fundamentais no processo de alfabetização. Além disso, o trabalho com
textos literários contribui para a construção do hábito da leitura, o que repercute
diretamente na autonomia e na formação de leitores competentes.
É importante ressaltar que o sucesso da utilização da literatura infantil como
ferramenta pedagógica depende, em grande parte, da intencionalidade e da
mediação do professor. Cabe ao educador selecionar obras adequadas à faixa
etária dos alunos, propor atividades que promovam a leitura crítica e significativa,
incentivar a oralidade e a escuta atenta, bem como estimular a produção de
textos orais e escritos a partir das leituras realizadas. Nessa perspectiva, o
professor não atua apenas como transmissor de conhecimentos, mas como
mediador cultural, capaz de conduzir a criança ao universo da linguagem escrita
de forma sensível, criativa e respeitosa.
Outro ponto relevante a ser considerado é o papel da afetividade no processo de
alfabetização. A literatura infantil, por sua natureza envolvente e emocional,
favorece a construção de vínculos entre o aluno e o texto, tornando a experiência
de leitura mais prazerosa e significativa. A identificação com personagens, o
envolvimento com as histórias e o encantamento com as ilustrações contribuem
para que a criança associe a leitura a momentos positivos, o que fortalece seu
interesse e disposição para aprender. Dessa forma, o ambiente alfabetizador se
transforma em um espaço de descobertas, encantamentos e aprendizagens
múltiplas.
Além de seus aspectos pedagógicos e afetivos, a literatura infantil também
cumpre uma função social importante, ao possibilitar à criança o acesso a
diferentes culturas, histórias de vida, valores e formas de expressão. Em uma
sociedade marcada pela diversidade e pelas desigualdades, o contato com uma
literatura plural e representativa pode contribuir para a formação de sujeitos mais
conscientes, empáticos e críticos. Assim, ao integrar literatura e alfabetização, a
escola contribui para a formação integral do educando, respeitando sua
subjetividade e promovendo sua inserção no mundo letrado de forma ética e
cidadã.
Diante disso, torna-se imprescindível repensar as práticas pedagógicas
tradicionais de alfabetização, incorporando a literatura infantil não apenas como
um recurso auxiliar, mas como parte integrante e estruturante do processo de
ensino-aprendizagem. A leitura literária precisa ser valorizada desde os primeiros
anos de escolarização, com espaço garantido no currículo, formação adequada
dos professores e incentivo à criação de ambientes ricos em textos e livros.
Este artigo, portanto, propõe uma reflexão sobre a literatura infantil como
ferramenta pedagógica na alfabetização, com base em uma revisão bibliográfica
de autores que abordam a temática da leitura, do letramento e da prática docente.
Busca-se, com isso, destacar as potencialidades da literatura na promoção de
uma alfabetização mais significativa, prazerosa e transformadora, reafirmando
seu papel essencial na formação de leitores críticos e conscientes.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A importância da literatura infantil
A literatura infantil possui características próprias que a tornam especialmente
atrativa ao público infantil, como linguagem acessível, narrativas lúdicas e
elementos visuais. Segundo Abramovich(19997) , contar histórias é uma maneira
de transmitir cultura, valores e promover o prazer pela leitura desde os primeiros
anos de vida.
A literatura infantil desempenha um papel fundamental no desenvolvimento
cognitivo, emocional e social das crianças. Desde os primeiros contatos com os
livros, a criança é estimulada a desenvolver habilidades essenciais, como a
linguagem, a imaginação, a empatia e o senso crítico. Segundo Vygotsky (1998), a
interação com textos literários promove o desenvolvimento da linguagem e
contribui para a internalização de valores culturais e sociais. Dessa forma, a
literatura infantil atua como uma ferramenta pedagógica poderosa, sendo capaz
de educar e encantar ao mesmo tempo.
Além disso, a literatura permite que a criança explore mundos imaginários,
ampliando sua criatividade e capacidade de abstração. Conforme destaca
Bettelheim(1980), os contos de fadas, por exemplo, oferecem à criança a
oportunidade de lidar simbolicamente com medos, desejos e conflitos internos,
contribuindo para a formação da personalidade. A leitura literária estimula
também a capacidade de se colocar no lugar do outro, favorecendo o
desenvolvimento da empatia e do respeito à diversidade.
Outro aspecto relevante é o fortalecimento dos vínculos afetivos que a leitura
compartilhada pode proporcionar. Quando um adulto lê para a criança, cria-se um
momento de afeto, troca e conexão, o que influencia positivamente na formação
emocional e no gosto pela leitura. Além disso, segundo Cademartori (2001), o
acesso precoce à literatura tem papel determinante na formação do leitor crítico e
autônomo, o que impacta diretamente no desempenho escolar e no
desenvolvimento intelectual.
A literatura infantil também é um meio eficaz de introduzir temas complexos de
forma acessível e sensível. Questões como morte, diversidade, bullying e meio
ambiente podem ser abordadas por meio de histórias que respeitam o universo
infantil, promovendo reflexões significativas. Nesse sentido, os livros funcionam
como espelhos e janelas: espelhos que refletem a própria realidade da criança e
janelas que revelam outras culturas, modos de vida e perspectivas.
Por fim, é importante ressaltar que a literatura infantil não deve ser vista apenas
como um instrumento pedagógico, mas como uma forma de arte. O contato com
obras literárias de qualidade contribui para a formação estética da criança,
desenvolvendo sua sensibilidade e seu apreço pelo belo. Conforme aponta
Coelho (2000), o texto literário oferece uma experiência única de fruição, marcada
pela ludicidade, pelo encantamento e pela pluralidade de sentidos.
Assim, investir na formação leitora desde a infância é investir em seres humanos
mais conscientes, sensíveis e preparados para viver em sociedade. A literatura
infantil, ao conjugar ensino e prazer, informação e emoção, é um alicerce
indispensável na construção de uma infância plena e significativa.
Alfabetização e letramento
A alfabetização e o letramento são processos distintos, embora
interdependentes, que desempenham um papel central na formação educacional
e social do indivíduo. Alfabetizar significa ensinar a codificação e decodificação
da língua escrita, ou seja, levar o aluno a compreender a correspondência entre
sons e letras. Já o letramento refere-se à capacidade de usar a leitura e a escrita
de forma funcional, compreendendo e produzindo textos em diferentes contextos
sociais. Como afirma Magda Soares (2003), “é possível estar alfabetizado sem
estar letrado, e letrado sem estar alfabetizado completamente”.
Historicamente, a alfabetização era tratada de forma mecânica, focada
exclusivamente na aquisição do código escrito. Contudo, pesquisas e práticas
pedagógicas mais recentes têm mostrado que essa abordagem é insuficiente para
garantir que o aluno se torne um usuário competente da linguagem escrita. O
letramento surge, então, como uma ampliação do conceito de alfabetização,
incluindo o uso social da língua e a sua função na construção de sentidos e
significados.
Segundo Ferreiro e Teberosky (1999), as crianças chegam à escola já com
hipóteses sobre a escrita, frutos de suas interações sociais. Essa visão
construtivista da aprendizagem destaca a importância do contato precoce com
práticas letradas significativas. Assim, a alfabetização deve ocorrer em ambientes
ricos em textos, onde a leitura e a escrita estejam presentes de forma funcional e
contextualizada, e não apenas como exercícios escolares.
A integração entre alfabetização e letramento é, portanto, essencial para uma
educação de qualidade. O processo de ensino deve considerar o conhecimento
prévio da criança e promover situações de leitura e escrita que façam sentido para
ela. O professor assume o papel de mediador, criando situações de aprendizagem
que envolvam textos variados – contos, bilhetes, listas, notícias, entre outros – e
que estimulem o desenvolvimento das competências linguísticas e
comunicativas.
Além disso, é fundamental reconhecer que o letramento não ocorre apenas na
escola. A família, os meios de comunicação, e os espaços sociais também são
agentes importantes nesse processo. Por isso, a escola deve buscar articular
saberes escolares e saberes sociais, valorizando a cultura do aluno e promovendo
sua inserção crítica e ativa no mundo letrado.
A alfabetização com letramento contribui para o desenvolvimento do
pensamento crítico, da autonomia intelectual e da participação cidadã. Em uma
sociedade cada vez mais mediada pela linguagem escrita, ser letrado significa
poder acessar, interpretar e produzir informações, o que é essencial para o
exercício pleno da cidadania.
Por tanto, alfabetizar letrando é oferecer às crianças não apenas o domínio
técnico da escrita, mas também as ferramentas para usá-la de forma consciente,
crítica e transformadora. É uma prática pedagógica que valoriza a linguagem como
forma de expressão, comunicação e construção de conhecimento.
Literatura como prática pedagógica
A literatura, ao longo da história da educação, tem sido reconhecida como uma
ferramenta fundamental no processo de ensino-aprendizagem. Muito além de seu
valor estético, a literatura apresenta-se como um poderoso instrumento
pedagógico, capaz de desenvolver competências linguísticas, cognitivas,
emocionais e sociais nos estudantes. A prática pedagógica que incorpora a
literatura permite ao educador formar leitores críticos, reflexivos e sensíveis,
contribuindo significativamente para a formação integral do sujeito.
De acordo com Paulo Freire (1996), a leitura do mundo precede a leitura da
palavra. Nesse sentido, a literatura, ao retratar diferentes aspectos da realidade –
sejam eles simbólicos, fictícios ou reais , possibilita ao aluno estabelecer relações
entre texto e contexto, promovendo o pensamento crítico e a compreensão mais
ampla da sociedade em que vive. A prática pedagógica que valoriza a literatura,
portanto, transcende o simples ato de decodificar palavras, inserindo o estudante
em um universo de significados, culturas e experiências humanas diversas.
A presença da literatura na escola não deve se restringir à sua utilização como
pretexto para ensinar gramática ou vocabulário. Como aponta Rildo Cosson
(2006), o trabalho com a literatura deve ter como foco principal a formação do
leitor literário, aquele capaz de fruir a obra, de perceber suas múltiplas camadas
de sentido e de se posicionar frente às questões que ela suscita. Para isso, é
necessário que o professor proponha atividades que favoreçam a leitura crítica, a
interpretação criativa e o diálogo entre texto e leitor.
Além disso, a literatura contribui para o desenvolvimento da oralidade, da escuta
e da escrita. Ao trabalhar com narrativas, poesias, contos, crônicas e outros
gêneros literários, o educador estimula a sensibilidade estética dos alunos e
amplia seu repertório cultural e linguístico. Segundo Teresa Colomer (2007), a
literatura proporciona experiências únicas de linguagem, oferecendo modelos
discursivos ricos e variados, que contribuem para a formação de leitores e
escritores proficientes.
Outro aspecto importante da literatura como prática pedagógica é seu potencial
de promover o letramento literário. Esse conceito, segundo Cândido (2004),
refere-se à capacidade de ler textos literários não apenas pela decodificação, mas
pela compreensão de suas especificidades formais, estéticas e simbólicas.
Trabalhar o letramento literário na escola implica valorizar a literatura como arte e
como experiência sensível, não apenas como conteúdo didático.
A prática pedagógica que integra a literatura também favorece o acolhimento da
diversidade e o fortalecimento da identidade dos alunos. Por meio da leitura de
obras que retratam diferentes culturas, valores e modos de vida, os estudantes
têm a oportunidade de reconhecer a pluralidade do mundo e refletir sobre sua
própria realidade. A literatura, nesse contexto, atua como uma ponte entre o eu e o
outro, contribuindo para a construção de uma educação mais inclusiva, empática
e democrática.
Por fim, é importante destacar que o sucesso da literatura como prática
pedagógica depende do compromisso do educador em criar um ambiente de
leitura prazeroso, respeitoso e desafiador. A escolha criteriosa das obras, o
planejamento das atividades e a mediação sensível do professor são elementos
essenciais para que a literatura cumpra sua função formadora na escola.
Assim, integrar a literatura ao cotidiano escolar não é apenas uma opção
didática, mas um compromisso com uma educação que valoriza a sensibilidade,
a imaginação, o pensamento crítico e a humanização dos sujeitos. A literatura,
quando tratada com intencionalidade pedagógica, transforma-se em uma prática
viva, capaz de tocar o aluno e de contribuir profundamente para sua formação
integral.