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Aula 02

O Compliance refere-se à conformidade das empresas com leis e regulamentos, abrangendo não apenas a corrupção, mas também obrigações ambientais, trabalhistas e éticas. A prática evoluiu historicamente desde a Conferência de Haia em 1930 e ganhou destaque no Brasil com a Lei Anticorrupção de 2013, exigindo uma nova postura das empresas. Programas de Compliance são fundamentais para garantir a integridade e a ética empresarial, promovendo boas práticas e a humanização nas relações de trabalho.
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O Compliance refere-se à conformidade das empresas com leis e regulamentos, abrangendo não apenas a corrupção, mas também obrigações ambientais, trabalhistas e éticas. A prática evoluiu historicamente desde a Conferência de Haia em 1930 e ganhou destaque no Brasil com a Lei Anticorrupção de 2013, exigindo uma nova postura das empresas. Programas de Compliance são fundamentais para garantir a integridade e a ética empresarial, promovendo boas práticas e a humanização nas relações de trabalho.
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O QUE É COMPLIANCE

O termo Compliance, tem origem no verbo em inglês to comply, que


significa agir de acordo com uma regra, uma instrução interna, um comando ou
um pedido. Manter a empresa em conformidade significa estar de acordo com
leis e regulamentos externos e internos, de acordo com as atividades
desenvolvidas pela empresa (LIRA, 2014).
Segundo o blog SBCoaching (2018), quando o termo Compliance é
relacionado ao mundo corporativo - assunto aqui tratado - diz respeito à
conformidade de uma empresa com as leis e normas. Geralmente, a ligação
imediata que se faz é com a corrupção, uma vez que, nos últimos anos, foram
muitas as notícias de empresas privadas envolvidas em escândalos como
pagamento de propina a servidores e órgãos públicos em troca de certos
benefícios. O Compliance pode estar, sim, relacionado ao combate à
corrupção, mas não é apenas isso: existem obrigações ambientais,
trabalhistas, tributárias e regulatórias, além de questões legais e éticas
envolvendo a concorrência a serem cumpridas, bem como os regulamentos
internos da empresa.

Vem sendo usado para solidificar e acrescentar credibilidade à imagem


das empresas sem histórico de fraudes ou corrupção e também para resgatar a
confiança e imagem de empresas que, por atos ilícitos, tiveram seu nome
desacreditado (SFALSIN, 2018).
O Compliance se refere, assim, ao conjunto de mecanismos e
procedimentos que são dirigidos a proteger a integridade e a ética empresarial,
tornando-se um incentivo de denúncias para a apuração e punição legal de
irregularidades.
Em linhas práticas, o Compliance nasceu para que os dirigentes de
corporações e organizações, inclusive governamentais, insiram métricas que
humanizem a relação de trabalho e modifiquem a cultura de que o lucro só é
obtido mediante a inconformidade. Nessa ótica, o Programa traz consigo a luta
pela humanização e a política dos Direitos Humanos.
As batalhas travadas para o reconhecimento dos direitos constitucionais
e direitos humanos persistem também nos dias atuais. A efetivação dos direitos
humanos envolve necessariamente um conjunto amplo de normas positivas e
um processo complexo de implementação. O Programa encontra como
principal dificuldade a quebra de paradigmas, oferecendo uma mudança não só
cultural, mas comportamental. Apesar de sua variedade, os trabalhos sobre
Compliance adotam, basicamente, questões referentes à influência
comportamental das regras jurídicas, afirmam Koerner e Maia (2018).

EVOLUÇÃO HISTÓRICA

Quanto à origem e evolução do Compliance, existem divergências,


declara Sfalsin (2018). Muitos autores aceitam, entretanto, que o programa
surgiu, como marco regulatório, em 1930, na Conferência de Haia, na Holanda,
quando foi instituído o BIS - Bank for Internacional Settlements (Banco para
Compensações Internacionais) - na Suíça, com o objetivo de conduzir a
cooperação entre os bancos centrais e tornar suas atividades mais confiáveis e
seguras.
Em 1944, o acordo de Bretton Woods, nos Estados Unidos, em plena
segunda guerra mundial, ficou conhecido por uma série de disposições
acertadas por 45 países aliados, com o intuito de definir os parâmetros para a
economia mundial após a grande guerra. Esse acordo, posteriormente, daria
origem ao Banco Mundial e ao FMI - Fundo Monetário Internacional
(SANTIAGO, 2016).
Segundo Sfalsin (2018), em 1960, a Securities and Exchange
Commission (SEC), ou ainda Comissão de valores Mobiliários, dos Estados
Unidos, iniciou um movimento de orientação à contratação de profissionais de
Compliance, os compliance officers, para a criação de procedimentos internos
de controle e o treinamento de pessoas no sentido de monitorar e supervisionar
atividades duvidosas.
Em 1970, quando o então presidente norte-americano Richard Nixon
suspendeu o acordo de Bretton Woods, foi criado o Comitê de Supervisão
Bancária na Basileia, Suíça, com os representantes dos bancos centrais dos
países do G10, trazendo a promessa e a criação de procedimentos de boas
práticas e controles ao sistema financeiro. No ano de 1997 foram divulgados 25
princípios para uma supervisão bancária eficiente, sendo que o princípio de Nº
14 recomenda aos bancos a adoção de um programa de Compliance
(SFALSIN, 2018).
A autora supracitada declara que, embora a história do Compliance
tenha sua origem em instituições bancárias, a eficácia de seus resultados fez
com que a ferramenta ganhasse o mundo corporativo, mesmo porque os
grandes escândalos corporativos provocam prejuízos econômicos, éticos e
morais que repercutem negativamente até dias atuais.
No Brasil, de acordo com Martinez (2016), a palavra Compliance parece
ter sido inserida definitivamente no vocabulário dos empresários brasileiros
com o advento da Lei nº 12.846, de 2013, chamada Lei Anticorrupção. A
referida lei trouxe a possibilidade da concessão de benefícios às empresas que
possuem um programa de Compliance devidamente estruturado, uma vez que
trata da aplicação das sanções administrativas e judiciais em relação às
pessoas jurídicas.
Porém, a cultura do Compliance não é nova no Brasil, afirma Martinez
(2016). Desde 1997, com o Comitê da Basileia, o Brasil adotou os princípios
para uma supervisão bancária eficaz e, a partir de 1998, incorporaram-se
regras de uma cultura de Compliance vindas da Europa e Estados Unidos.
Também em 1998, foi publicada no Brasil a Lei nº 9.613, conhecida como a Lei
de Combate aos Crimes de “Lavagem” de Dinheiro. E assim outras normas que
serão tratadas na seção seguinte.
Entretanto, o fato de ser cada vez mais corriqueiro falar em Compliance
é a grande prova de que o mercado mudou e continua mudando, exigindo uma
nova e necessária postura para empresas, em todos os setores.
De acordo com Lira (2014), quando surgiu a atividade de Compliance,
principalmente nas instituições financeiras, tal atividade foi direcionada para a
assessoria jurídica, considerando a competência da mesma nas interpretações
dos instrumentos legais. As empresas que têm maior responsabilidade jurídica
e normativa em suas funções são as que mais necessitam implantar um
departamento que garanta a conformidade de seus atos ou devem, no mínimo,
ter uma assessoria externa para agir em seu respaldo. As organizações
precisam mostrar e comprovar, dentro de um mercado cada vez mais
competitivo, que estão adotando boas práticas.
Só assim manterão as informações seguras e seu negócio sempre
funcionando.
Outros benefícios, além do reconhecimento de mercado e a vantagem
competitiva, que a empresa recebe ao estar em conformidade, são: desconto
em linhas de crédito, valorização da organização, melhor retorno dos
investimentos, entre outros, destaca Lira (2014).
O profissional de Compliance deverá dominar conhecimentos sobre o
negócio, as metas e os objetivos dos administradores. Entre suas atribuições,
estão, entre outras, as atividades de prevenção a fraudes; segurança da
informação; plano de continuidade de negócios; contabilidade internacional,
fiscal e gerencial; gestão de riscos e de pessoas; atendimento a auditorias
internas e externas (LIRA, 2014).
Essa seção conclui-se com a palavras de Lira (2014), afirmando que só
assim os controles internos serão mais eficientes e terão seu papel levado mais
a sério nas organizações, independentemente de tamanho ou atividade
econômica. As normas legais emanadas pelos órgãos reguladores serão
cumpridas à risca e a auditoria interna poderá trabalhar mais rapidamente.

NORMAS E CONVENÇÕES INTERNACIONAIS SOBRE


COMPLIANCE

O respeito às normas legais, regulamentos e códigos de conduta


internos ou externos, não é uma novidade. Sempre foi importante que as leis
fossem cumpridas. No entanto, hoje há muitos elementos que tornam esta
situação bastante complexa. A globalização é o maior deles, pois cada país
tem seu conjunto de regras que as empresas, mesmo sendo de outros países,
precisam respeitar. As questões de importação e exportação também devem
seguir leis dos países envolvidos. O contexto atual exige uma postura mais
firme das empresas para coibir ações escusas ou ilícitas. Daí a grande
importância do Compliance.
Diante dessas novas necessidades do mercado, governantes e
empresários vêm adotando programas de Compliance para orientar o
comportamento de entidades públicas e privadas. Esses programas são
obtidos por meio de organismos internacionais e nacionais que traçam as
diretrizes de ação (MUNIZ, 2017).
Segundo a autora acima mencionada, no âmbito internacional, a
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE),
criada em 1961 e com sede em Paris, apresenta a Governança Corporativa
como um dos desafios atuais. A esse respeito foi desenvolvido um conjunto de
Princípios que tem servido como base para diálogos regionais em todo o
mundo. Uma das iniciativas da OCDE em parceria com o Grupo Banco Mundial
e apoiada pelo Fórum Global de Governança Corporativa foi a criação da Mesa
Redonda Latino-Americana de Governança Corporativa. Ocorrendo desde
1999, esses estudos e debates oferecem a oportunidade para que as partes
interessadas possam buscar respostas para problemas comuns, identificar
boas práticas, comparar experiências e trabalhar juntas na coordenação de
políticas nacionais e internacionais. Assim, em todo o mundo, vem ocorrendo o
aumento da conscientização, que resulta da relação de complementariedade
entre a Governança Corporativa e o Compliance.
A Governança Corporativa é um tema que teve origem nos Estados
Unidos e no Reino Unido e se refere à maneira como as empresas são
dirigidas, destacando a obediência às regras estabelecidas e em busca de um
bom relacionamento entre acionistas, empresários e demais envolvidos. Seus
fundamentos servem de base para orientar as práticas nos outros países e
suas características variam de acordo com a cultura de cada país. Este
conceito cresceu a partir de 2001, após escândalos de fraudes em grandes
empresas multinacionais, quando as companhias passaram a adotar a política
de Governança com regras consistentes, a fim de garantir clareza e
transparência na prática das entidades (LEITÃO, MARQUES, OLIVEIRA et al.,
2017).
No entanto, as práticas de Consolidação da Governança Corporativa e
seus princípios – transparência, equidade, prestação de contas,
responsabilidade corporativa, entre outros – precisam de medidas que
garantam a sua efetivação. Por isso, no âmbito institucional, faz-se necessário
esse conjunto de diretrizes, para fazer cumprir as políticas e os regulamentos
estabelecidos para as atividades de cada setor e para evitar e cuidar desvios
ou inconformidades: o Compliance (MUNIZ, 2017).
Ainda nas palavras de Muniz (2017), no plano da anticorrupção foi
adotada em 1996 a Convenção Interamericana contra a Corrupção da OEA –
Organização dos Estados Americanos. Este é o primeiro instrumento jurídico
internacional especificamente voltado ao combate à corrupção, resultante da
necessidade de um instrumento que viesse a promover um efetivo combate à
corrupção e facilitar a cooperação entre os países nesse sentido.
Novickis (2014) apresenta em ordem cronológica, nos anos de 1977 a
2013, alguns eventos e documentos que foram marcantes na evolução do
Compliance e combate à corrupção, que serão explicitados por outros autores
a seguir.
a) 1977 – FCPA (Foreign Corrupt Practices Act) ou Lei Americana
Anticorrupção no Exterior: segundo Torrey (2012), esta lei, promulgada
nos Estados Unidos, é destinada a criar sanções cíveis, administrativas e
penais no combate à corrupção comercial; enfim, a regular a conduta das
empresas americanas no exterior. É aplicada a empresas norte-americanas
que, instaladas no exterior, utilizam de corrupção no poder público estrangeiro.
b) 1996 – OEA – Convenção Interamericana contra a Corrupção: (Já
mencionada no parágrafo anterior) de acordo com a Controladoria Geral da
União (2019), é um instrumento que promove e fortalece o desenvolvimento
dos mecanismos de prevenção e punição à corrupção. No Brasil foi
promulgada pelo Decreto Presidencial nº 4.410/2002. A Convenção trouxe
como principais objetivos estimular o desenvolvimento de mecanismos para
prevenir, detectar, punir e erradicar a corrupção na esfera pública e privada
(como a adoção de programas de Compliance); incentivar os países
participantes a adotarem as medidas legislativas necessárias e estimular o
intercâmbio de informações e experiências entre os países participantes.
c) 1997 – OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico: também anteriormente referida, a OCDE conta atualmente com 36
membros e cinco parceiros estratégicos, grupo no qual se inclui o Brasil,
declara Sousa (2018). O órgão empenha-se em promover padrões
internacionais que tratam de questões econômicas, comerciais, sociais e
ambientais. As discussões partem das informações obtidas pela base de
dados e então direcionam os governos participantes a promoverem um
desenvolvimento pautado na sustentabilidade, em busca de uma estabilidade
financeira e do bem-estar de pessoas em todo o mundo (SOUSA, 2018).
d) 1998 – Alteração FCPA: a lei Americana anticorrupção se estende todas
as empresas internacionais que venham a pagar propina a governos ou
praticar atos de natureza semelhante. Até 1977, muitas vezes o pagamento de
propina era até incentivado em muitos países, porque não havia um consenso
internacional a respeito desse tipo de conduta e a sua ilegalidade (TORREY,
2012). Antes de 1998, a lei tinha jurisdição apenas nos Estados Unidos. Não
tinha poder para processar atores estrangeiros que faziam suborno no exterior,
inclusive nos Estados Unidos. As empresas americanas ficaram em
desvantagem no mercado internacional por empresas estrangeiras que
continuavam a pagar propina busca de deduções fiscais e outras vantagens. A
partir de 1998, porém, as disposições anticorrupção da FCPA são de âmbito
internacional e se fundamentam na proibição de dar qualquer item de valor a
um dirigente estrangeiro para fins de obter ou manter negócios (COELHO,
2017).
e) 2001 – Descoberta: corrupção financiamento ao terrorismo - o
terrorismo há muito faz parte da história da humanidade, o que gerou e gera
esforços internacionais para o seu combate. Por outro lado, há governos,
órgãos, entidades e empresas que, por meios ilícitos, “patrocinam” essa
atividade. Independente dos objetivos de cada grupo terrorista, todos precisam
de recursos para manter suas atividades, como: a promoção de sua ideologia,
inclusive por meio de partidos políticos, escolas e entidades assistenciais e
publicações na mídia; pagamento e recrutamento de novos membros; viagens,
aquisição de equipamentos, armas e bombas; forjadura de documentos falsos;
pagamento de propinas, entre outras. Para obter recursos, aliam-se ao crime
organizado no tráfico e comércio de drogas, organizam sequestros, e praticam
extorsão. Por vezes, porém, “mascaram” seus negócios de legitimidade,
obtendo a simpatia de particulares, de organizações educativas, sociais e até
religiosas e filantrópicas. O ataque terrorista do 11 de setembro de 2001, em
Nova Iorque, deu maior visibilidade a essa situação. A partir daí a comunidade
internacional se mobilizou rapidamente. Uma das principais respostas é a
Resolução da ONU (Organização das Nações Unidas) nº 1373, de 28 de
setembro de 2001, que passou a considerar todo ato terrorista como uma
ameaça à paz e à segurança internacional, com a finalidade de impedir o
financiamento do terrorismo, neutralizar recursos e criminalizar a coleta de
fundos para este fim e congelar imediatamente os bens financeiros dos
terroristas. Para evitar o acesso dos terroristas a armas químicas, biológicas e
nucleares, a Assembleia Geral adotou, em 2002, a Resolução 57/83, primeiro
texto contendo medidas para impedir terroristas de conseguirem tais armas e
seus meios de lançamento. O Escritório das Nações Unidas contra Drogas e
Crime (UNODC), em 2002, lançou seu Projeto Global na implementação de
instrumentos contra o terrorismo. Em 2004, o Conselho de Segurança adotou
por unanimidade a Resolução 1540, obrigando os Estados a interromperem
qualquer apoio a agentes não-estatais para o desenvolvimento, aquisição,
produção, posse, transporte, transferência ou uso de armas nucleares,
biológicas e químicas e seus meios de entrega (COSTA, 2018).
f) 2010 – UK Bribery Act: de acordo com Barbosa (2012), este foi um Ato
assinado no Reino Unido, que tornou crime dar ou receber propinas. Também
são incriminadas instituições que falharem na prevenção de subornos. Leis
semelhantes existem em outros países, inclusive no Brasil, mas, em
contraposição a outras leis anticorrupção, a legislação do Reino Unido define
delitos criminais relativos à prática de suborno em transações comerciais e
também nos casos de participação de funcionários públicos oficiais.
As seções 3.4 e 3.5 tratarão das principais normas nacionais: a Lei nº
12.846/13, chamada Lei Anticorrupção, e o Decreto 8.420/15, que a
regulamenta.

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