os erros de
“
José Eduardo de Oliveira e Silva
“
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
Prefácio
Introdução. Uma breve história do Catecismo da Igreja Católica
1. O sentimentalismo piedoso como método teológico
A lógica binária do herege metido a “tradicionalista”
O método: cortar o texto onde há vírgula, atacar onde há silêncio
O anti-magisterialismo de verniz tradicional
2. A negação solene do óbvio: sim, o mundo existe
O problema com o “subsistit in”: mais latim e menos cérebro
O anti-ecumenismo como programa de isolamento doutrinal
O horror da caridade: quando o amor é um problema
Cristo Rei? Só se for com coroa de ferro
Haynes está lutando contra o Concílio — e perdendo
3. “Outras religiões e o movimento ecumênico”: o problema é que o
mundo não é uma sacristia tridentina
O escândalo do “subsídio da graça fora da Igreja”
Sobre os judeus: entre o Antigo Testamento e o ressentimento
Os muçulmanos e o pânico da teologia planetária
O veneno do indiferentismo não está no Catecismo, está no autor
Haynes não defende a Igreja — ele defende um espantalho doutrinário
4. “A Sagrada Eucaristia e o Sacerdócio”: a missa segundo São Haynes
de Westminster
A Missa como sacrifício? Está lá, grandão, em negrito — mas Haynes
não viu
A histeria com a palavra “banquete”
Sacerdócio comum? Heresia moderna! (ou: como fingir que não existe
1Pd 2,9)
O problema não é o Catecismo — é a imaginação litúrgica do autor
Haynes está combatendo um espantalho eucarístico
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
5. “Matrimônio e Confissão”: quando o pecado é ter filhos por amor. O
pecado e a comunhão dos santos.
A guerra contra o amor: agora até amar sua esposa é modernismo
A lógica contraceptiva da teologia reversa
Confissão comunitária? Heresia! (a menos que seja no século VI)
O purismo sacramental como se fosse teologia
Quando a verdade se curva à amargura
6. A Dignidade do Homem: a cruzada de Haynes contra o Gênesis
Quando o Gênesis vira modernismo
O espantalho do “personalismo”
O truque do “Deus foi rebaixado”
O problema é o espelho — não o Catecismo
7. Uma Nova Moral: quando o pecado mortal virou “grave” e o
inferno é só um jeito de falar
“Pecado grave” = heresia? Só para quem aprendeu moral católica por
meme
A consciência: tribunal de Deus ou quartinho relativista? Depende se
você leu Santo Tomás
A moral cristã como vocação, não como código penal
O horror à misericórdia: Haynes e o moralismo da “lei por si só”
Quando a moral católica assusta quem nunca saiu da confissão do
medo
8. Um Novo Ensinamento sobre o Pecado: quando Haynes quer salvar a
doutrina e crucifica o Redentor
O Catecismo suaviza o pecado? Só se você não sabe ler com o cérebro
A psicologia do inferno: quando todo cuidado pastoral vira relativismo
“Ferida”? Isso é linguagem de spa? Não, é do Crucificado
O inferno sumiu? Só para quem não leu até o fim
A teologia da culpa como idolatria moral
Quando a teologia do medo quer expulsar o Evangelho
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
9. Ensino consistente ou revolução?
“Nova linguagem = nova religião?” Só se você nunca leu São João da
Cruz
O “magisterialismo”: quando obedecer ao Papa virou pecado mortal
A confusão entre Tradição viva e museu doutrinal
A Igreja como “revolucionária”? Isso é delírio paranoico disfarçado de
zelo
O anti-magistério: um novo Papa em cada polemista
Quando a fidelidade vira desobediência saudosista
10. Aceitar ou Rejeitar?
“Aceitamos o Papa, mas rejeitamos seu catecismo” — um cisma
elegante
“Há passagens belas…” — a técnica do elogio antes da facada
O retorno aos catecismos tradicionais: nostalgia doutrinária como
critério de fé
O catecismo não é infalível — mas é vinculante
Haynes terminou fundando sua própria Igreja
Conclusão
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
Prefácio
Sim, eu tive que ler esse livreco. Digo-o com desgosto, pois minha
lista de livros a ler sempre excede minha capacidade de leitura e como
tempus brevis est a vida nos vai limitando ainda mais o horizonte do
material a ser lido. Deus perdoe aos editores de tamanha inutilidade
pela inutilização do meu tempo.
Contudo, escrever uma resposta – se quiser, pode chamar de refutação
– é necessário. Infelizmente, ao analfabetismo funcional brasileiro
ajuntou-se o religioso, ou vice-e-versa, e desse amalgamento maldito
aproveitam-se os anarquizadores da Igreja, em sua sede de vê-la não
apenas dividida, mas substituída por simulacros grotescos.
O livro em questão é, em si, uma proposta indecente – pôr sob
suspeição o Magistério da Igreja – e, portanto, discuti-lo seria já uma
concessão detestável. Quando os propagadores dessa grosseria cruzada
alegavam cinicamente a invalidade do julgamento prévio à leitura da
obra, respondi-lhes que não preciso ler um livro cujo título seja “A tua
mãe é uma meretriz” para repudiá-lo ex toto como mentiroso.
Este é o ardil desses revolucionários que se pretendem
contrarrevolucionários. Primeiro, exercem a violência psicológica
mediante uma proposta acintosa; depois, atacam-lhe por ter detectado
o acinte e tentam-no intimidar pela censura moral (tríplice violência
psicológica). É uma forma suspicaz de suprimir o outro. É a
perversidade em seu estado mais puro e, por isso, mais inaceitável.
Entretanto, há certos desprazeres aos quais nos devemos submeter por
um bem maior, tal qual a proteção do rebanho contra os lobos. E, neste
deserto que se tornou o pensamento brasileiro – mais
pronunciadamente o teológico –, restam poucas alternativas ao pastor
de almas que queira imunizar seus fieis não contra o coronavírus, que
mata o corpo, mas contra a heresia e o cisma, que matam a alma.
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
O quanto figuras anônimas e sedizentes pensadores possam perturbar o
imaginário nacional, sei-o pela algaravia de tanta gente falando sobre o
que ignora, com pomposos ares de doutores da Igreja, quando não de
personificações da própria Sabedoria Eterna encarnada. No rocambole
de chavões misturados com indestreza teológica, sobressai a malícia de
quem se julga superior, não a mim nem a você, caro leitor, mas à
própria Santa Igreja, Esposa Imaculada do Cordeiro, a qual recebeu
dele a garantia mesma de indefectibilidade – “portæ inferi non
prævalebunt”!
Contudo, se as portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja,
podem prevalecer sobre a mente adoecida de indivíduos, ainda mais
quando pretendentes a pontífices infalíveis, ainda que o disfarcem com
aquela humildade fingida de um carreirista que, recebida a notícia de
sua promoção, deixa cair do bolso, descuidado, seu amarelado discurso
de posse, escrito há décadas.
Fato é que, a despeito da exatidão que juram professar, prevalece sobre
essas mentes o caos infernal de um simplismo de primatas, atravessado
por ideias malformadas que se entrechocam sobre um oceano de
vacuidade. A não ser que a ordem venha do caos – coisa per se
impossível –, tais barbarizadores, independentemente da linha que
sigam, violentam a serena consciência dos fieis com o exibicionismo
diuturno de sua diabólica obstinação.
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
Repare o leitor que uso um estilo apologético em minha resposta, não
o meu habitual tom analítico-teológico. Queira o mesmo perdoar-me
quando pareço exceder em força, enquanto bastar-me-ia a tenuidade.
Porém, como o erro deve ser contrastado com a verdade, e há ocasiões
em que a Veritas de nós no-lo exige, não me esquivo de levar a
antonímia ao paroxismo. Portanto, o que lerá em sequência é estilo
mui diferente do prólogo que subscrevo.
O texto abaixo, dedico-o à Igreja Católica, bravamente representada
nos seus pastores, especialmente os tão esquecidos padres – colegas
meus – que se desvivem dia-a-dia para perdoar os pecadores, alimentar
os convivas, ungir os doentes, vendo a graça brotar entre seus dedos
como o óleo suave que escorre da barba de Aarão. Esta é a Igreja real,
aquela é a outra, feita de pixels e algoritmos, não do Logos Eterno, que
se fez não um metadado, mas, sim, carne – carne que dói, carne que
cansa, carne que sangra – e que habitou entre nós.
Pe. Dr. José Eduardo de Oliveira e Silva
Osasco, 19 de julho de 2025.
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
Introdução. Uma breve história do
Catecismo da Igreja Católica
Após o Concílio Vaticano II, os teólogos da ruptura concentraram
todos os seus esforços em substituir o Magistério eclesiástico pelo seu
próprio magistério (assim como nas igrejas protestantes: o magistério
dos teólogos). A intenção era clara, redefinir o que é essencial e, no
mais, aderir às modas filosóficas em voga.
Logo após o Concílio, perguntado sobre aquilo de que se não poderia
abrir mão, Yves Congar respondeu: “A existência de Deus, Uno e
Trino, incriado, eterno, criador, do qual todos os seres guardam uma
dependência ontológica. A Encarnação de seu divino Filho como
verdadeiro ser humano, plenitude da Revelação do Pai, que morreu
(foi assassinado) e ressuscitou. A instituição visível de uma
Comunidade de Fé (que chamamos Igreja), dotada da força do Espírito
Santo, dos Sacramentos, de ministérios conduzidos por um Pastor
universal, onde tudo converge para a prática da justiça, do amor/
solidariedade e da paz. A Igreja, Povo de Deus, feita de leigos: os
ministros existem para servir. O mandato missionário de levar a
Palavra de Deus, em sintonia com uma Tradição Viva, até os confins
da terra” (Cf. Au milieu des orages. Editions du Cerf: Paris, 1969).
A resposta, aparentemente ortodoxa, negligenciava aspectos essenciais
do catolicismo: a guarda do decálogo, a necessidade da vida de oração
para o crescimento da espiritualidade, a própria essência dos
sacramentos etc. Ademais, ficava muito aquém da doutrina católica,
afirmando a “encarnação de seu divino Filho como verdadeiro ser
humano” (essa Pessoa é divina, como ensina a Igreja, ou tão somente
humana?), por exemplo.
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
Ora, essa mentalidade minimalista quanto à custódia da doutrina e
completamente fascinada com a modernidade e suas miragens,
cristalizou-se em diversas tentativas pervertidas de determinar a
doutrina católica, como, por exemplo, o malfadado Catecismo
Holandês (1966).
O tal “Catecismo” foi submetido à análise minuciosa do Card.
Ottaviani, o qual apontou nada menos que 45 erros doutrinais, dentre
os quais: uma cristologia “de baixo” que considerava a encarnação
como mitológica e o mistério da cruz como mera solidariedade
humana, a consubstanciação como nova doutrina eucarística, um
relativismo sexual exacerbado, a relativização tanto do Magistério da
Igreja quanto dela mesma como instrumento de salvação, uma
escatologia deficiente, omitindo a doutrina sobre o inferno e do juízo
divino, enfim… uma loucura.
Foi apenas vinte anos após o Concílio Vaticano II que, no Sínodo
Extraordinário dos Bispos de 1985 – um sínodo revisionista, em
relação ao Concílio – muitos temas controversos acabaram por ser
teologicamente redimensionados: a eclesiologia do “Povo de Deus” foi
melhor perfilada na eclesiologia da comunhão; a reforma litúrgica foi
avaliada na perspectiva de dar fim aos abusos; o empenho ecumênico
foi mais claramente abordado, reafirmando com firmeza a identidade
católica; a secularização foi constatada, exortando-se a Igreja a uma
nova evangelização; o protagonismo dos leigos foi mais sublinhado,
em sua necessidade de formação doutrinal, litúrgica e teológica; e os
padres sinodais, por fim, pediram a elaboração de um novo Catecismo,
que viesse ao encontro das dificuldades criadas pela nova teologia (não
bastava simplesmente repetir o Catecismo anterior, era necessário uma
adaptação da linguagem e a confrontação corajosa com as novas
abordagens teológicas).
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
No ano seguinte, 1986, São João Paulo II criou uma comissão para a
redação do novo Catecismo, presidida pelo então Card. Ratzinger. A
Comissão trabalhou intensamente durante sete anos.
Na redação teológica, destacou-se o dominicano Christoph Schönborn
(redator principal e sistematizador geral), auxiliado por teólogos de
renome como Jean-Marie Tillard, OP (eclesiologia e ecumenismo),
Georges Cottier, OP (fé e razão, teologia fundamental), Joseph Doré
(cristologia), Angelo Scola (antropologia teológica e moral), Luis
Ladaria Ferrer, SJ (pecado original e antropologia), Jean Galot, SJ
(sacerdócio e cristologia), René Latourelle, SJ (revelação e
apologética), Georges Chantraine, SJ (graça e vida moral), Servais
Pinckaers, OP (moral das virtudes e liberdade cristã), Karl Becker, SJ
(eclesiologia e magistério) e Mario Luigi Ciappi, OP (consultor
doutrinal veterano). Além de muitos outros. A vigilância de Ratzinger
e a firme posição de S. João Paulo II fizeram com que cada
colaborador procurasse apresentar a doutrina da Igreja e não a sua
própria contribuição teológica, ainda que, conhecendo as
problematizações modernas, escrevesse tendo a consciência desse
“diálogo”.
As versões preliminares e os schemata do Catecismo foram enviados a
todos os bispos do mundo e a Comissão recebeu mais de 24 mil
sugestões, todas detalhadamente estudadas. A estrutura do Catecismo
seguiu a mesma estrutura do Catecismo Romano, promulgado por São
Pio V (Credo, Sacramentos, Mandamentos e Oração), também seguida
por São Pio X.
Em 11 de outubro de 1992, no 30º aniversário da abertura do Concílio
Vaticano II, o Papa João Paulo II promulgou o Catecismo com a
Constituição Apostólica Fidei Depositum. A edição típica latina foi
publicada em 1997, com pequenas correções e ajustes definitivos,
tornando-se a versão oficial de referência.
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
A promulgação do Catecismo da Igreja Católica em 1992, por São
João Paulo II, representou para muitos uma âncora de estabilidade
doutrinal em tempos de confusão pós-conciliar. Contudo, a recepção
do texto não foi unânime: ao lado de um acolhimento entusiástico por
parte de grande parte do clero e dos fiéis, houve também reações
críticas substanciais por parte de teólogos progressistas e algumas
conferências episcopais, que manifestaram reservas quanto à forma, ao
conteúdo e ao papel magisterial do novo Catecismo.
Entre os teólogos de linha mais progressista, destacou-se o protesto de
Hans Küng, que classificou o Catecismo como uma regressão ao
“tridentinismo”, um “retrocesso de séculos que sufocaria o espírito de
renovação do Concílio Vaticano II”. Para ele, o documento apresentava
uma fé transformada em doutrina imutável, sem abertura à experiência
histórica da comunidade.
No mesmo tom, Edward Schillebeeckx criticou a centralização romana
do texto e sua linguagem doutrinária, defendendo que um verdadeiro
Catecismo católico deveria permitir maior diversidade de expressões
locais.
Leonardo Boff, por sua vez, viu no novo Catecismo uma catequese
excessivamente normativa e juridicista, que silenciava os clamores da
justiça social e esquecia os pobres. Já Jean-Pierre Jossua, teólogo
dominicano francês, apontou a rigidez da linguagem e a ausência de
um verdadeiro apelo espiritual e existencial.
Gustavo Gutiérrez, embora mais moderado, expressou que o texto não
integrava suficientemente a dimensão social e libertadora da fé,
enquanto Bernard Sesboüé lamentou a falta de sensibilidade histórica
na exposição da Revelação, notando um tom excessivamente estático e
sistematizado.
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
As críticas não vieram apenas de indivíduos. Algumas conferências
episcopais também expressaram reservas institucionais.
Na Alemanha, os bispos demonstraram desconforto com o que
chamaram de “linguagem autoritária”, pouco sensível ao estilo
pastoral promovido pelo Vaticano II. O então presidente da
Conferência Episcopal Alemã, Cardeal Karl Lehmann, afirmou que o
Catecismo precisava de adaptações significativas para o contexto
cultural germânico, especialmente nas áreas de moral sexual e papel da
mulher.
Os bispos holandeses, ainda influenciados pela experiência do
Catecismo Holandês de 1966, mostraram-se contrários ao tom
disciplinar do novo texto, julgando-o insensível ao pluralismo
teológico e cultural. Também na Bélgica, parte do episcopado
manifestou preocupação com a ênfase em normas objetivas, em
detrimento da consciência pessoal.
Na França, ainda que não tenha havido protestos formais, diversos
bispos expressaram em entrevistas e documentos internos a percepção
de que o Catecismo parecia priorizar a transmissão doutrinal rígida em
vez de uma pedagogia da fé centrada na experiência.
Essas críticas convergiam em alguns pontos centrais. Havia, sobretudo,
o receio de que o Catecismo representasse uma recentralização romana
da teologia, anulando os avanços sinodais e os esforços locais de
inculturação da fé.
Muitos teólogos questionaram se o texto não estaria impondo uma
unidade artificial, pouco aberta à diversidade legítima de abordagens
catequéticas. As partes mais questionadas foram a doutrina moral —
especialmente no que diz respeito à sexualidade, ao papel da mulher, à
contracepção e à homossexualidade — e a exposição da Revelação,
que alguns julgavam excessivamente racionalista e defensiva.
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
Em resposta, tanto São João Paulo II quanto o Card. Joseph Ratzinger,
presidente da Comissão interdiscasterial, reiteraram que o Catecismo
não era um manual didático ou pastoral, mas sim uma norma doutrinal
de referência para toda a Igreja. Seu objetivo era expressar “o que a
Igreja crê”, à luz da Escritura, da Tradição e do Magistério, e não se
adaptar a todas as sensibilidades culturais ou teológicas. A comissão
responsável sempre insistiu que a clareza doutrinal não se opõe à
caridade pastoral, mas é seu fundamento. O Catecismo não pretendia
sufocar o dinamismo da fé, mas fornecer-lhe uma base firme contra os
riscos do relativismo e da confusão.
O Catecismo da Igreja Católica assumiu decididamente o papel de
afirmar a continuidade da fé católica, propondo-a ao mundo
contemporâneo com autoridade, sem concessões doutrinárias, ainda
que a custo de incompreensões e resistências em certos setores.
Falando sobre a pluralidade de pessoas e posições teológicas da equipe
de redação do Catecismo, Ratzinger, já como Bento XVI, em 2011,
escreveu: “devo confessar que, ainda hoje, parece-me um milagre o
fato de que esse projeto, no fim, tenha conseguido dar certo”.
Diante de um cenário tão rico e bem-intencionado, é tão fácil quanto
leviano que um bacharel em artes liberais e teologia tente lançar
sombras sobre o Catecismo da Igreja Católica. E, não, isso não é um
argumentum ad hominem, mas apenas a constatação de quanto a
petulância humana é capaz de obstinar-se. O criticismo, como a dúvida
metódica cartesiana, não é tanto um problema intelectual quanto
moral: é malevolência apodrecida de soberba.
No fundo, tudo não passa de uma atitude calculada para aprofundar a
crise, desorientar os fieis, radicalizar divisões, a fim de lucrar com a
destruição da Igreja Católica, em favor de grupos para-eclesiásticos. O
quanto tal intento seja ilícito, não me parece ser necessário elucidar.
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
1. O sentimentalismo piedoso como
método teológico
O sr. Michael Haynes começa seu opúsculo com uma declaração
tocante: “ao folhear o Catecismo da Igreja Católica, sempre me
pareceu faltar alguma coisa”. Que diabos é isso? Estamos julgando um
catecismo – documento doutrinal promulgado pela autoridade suprema
da Igreja – com base num “pareceu faltar algo”?
Isso não é teologia, meu filho. Isso é subjetivismo sentimental
disfarçado de ortodoxia.
A tradição católica sempre ensinou que o juízo teológico se faz à luz
do Magistério, da razão reta e da analogia da fé. O sr. Haynes, ao invés
disso, prefere confiar em suas impressões pessoais, seu faro espiritual.
Muito bonito. Só não serve para nada.
Ele sente um incômodo, um desconforto ao ler o Catecismo moderno.
E em vez de considerar que o problema talvez esteja em sua própria
formação — viciada, talvez, por catecismos de perguntas e respostas
simplistas, recitados como ladainha —, ele atribui o desconforto ao
texto. É o típico comportamento de criança mimada: se o brinquedo
novo é diferente, então está quebrado.
A lógica binária do herege metido a “tradicionalista”
O sr. Haynes vem com aquela lenga-lenga batida: “um único erro num
catecismo já basta para torná-lo indigno de confiança”. Ora, que
belíssimo raciocínio... se você fosse protestante. O que ele propõe, em
última análise, é um rigorismo farisaico, onde só é católico quem
recita a doutrina com o sotaque do século XIX — ou de preferência,
em latim.
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
Mas ele nem percebe que caiu no erro mais grotesco possível:
submeter o Magistério da Igreja ao seu próprio crivo privado (ou ao de
cada fiel). Quem julga o catecismo não é mais a Igreja, mas sim o sr.
Haynes com seu termômetro de “tradição”. Aí está a alma do cisma:
não a negação explícita da Igreja, mas a substituição da sua autoridade
por uma caricatura pessoal da Tradição.
O Papa promulga um catecismo para toda a Igreja, após anos de
elaboração com os melhores teólogos sob supervisão do Cardeal
Ratzinger — e o sr. Haynes, um jornalista inglês convertido na ilha de
sua própria consciência, levanta a mãozinha e diz: “Está errado, faltou
clareza”.
Faltou clareza, sim — mas no seu juízo, não no catecismo.
O método: cortar o texto onde há vírgula, atacar onde há
silêncio
O autor repete um truque velho, mas ainda eficaz entre
neoconvertidos: ele acusa o Catecismo de omitir coisas que ele queria
que fossem ditas.
Ora, um catecismo de 2.865 parágrafos é obrigado a dizer tudo, do
jeito que ele quer, com as expressões que ele gosta? E se usa termos
mais pastorais ou linguagem mais atualizada — “ah, está diluindo a
fé”! O sujeito confunde pedagogia com heresia, estilo com dogma.
Ele também aplica a lógica do “comunicado de imprensa soviético”: se
uma expressão clássica não aparece com o destaque que ele acha
conveniente, então é porque foi eliminada, apagada, censurada. E
assim vai criando a impressão de que há uma conspiração no Vaticano
para protestantizar a Igreja. Ele vê ambiguidade onde há síntese, vê
heresia onde há adaptação legítima, vê diluição onde há método
catequético.
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
O anti-magisterialismo de verniz tradicional
Por trás de toda essa crítica cheia de reverência à Tradição, há
desobediência disfarçada de zelo. O autor recusa um documento
magisterial da mais alta ordem — um catecismo promulgado pelo
sucessor de Pedro — e se refugia no magistério privado de sua
cabecinha confusa.
Isso é precisamente o que fizeram os modernistas, os protestantes, os
jansenistas e os galicanos: ao se verem diante de um ensinamento
magisterial que não encaixava com seus pressupostos teológicos,
simplesmente disseram: “isto não é magistério verdadeiro”. E então
fundaram suas igrejinhas interiores, com seus próprios catecismos,
seus próprios papas, seus próprios tribunais.
O sr. Haynes não é herege no conteúdo (ainda, embora sua eclesiologia
seja, sim herética), mas sua atitude é perfeitamente herética na forma:
ele inverte a hierarquia do saber e da autoridade. Em vez de deixar-se
formar pelo Magistério, ele pretende corrigir o Magistério à luz de um
“catecismo ideal” que só existe em sua mente.
O que se vê no prefácio e na introdução do livro Os Erros do
Catecismo Moderno não é uma crítica teológica. É um panfleto
ideológico com verniz doutrinal. É a voz do ressentimento de quem
almeja por um mundo eclesial fossilizado e não consegue aceitar que a
Tradição é viva — viva, não mutável, mas fecunda e orgânica.
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
O Catecismo de João Paulo II não é perfeito em tudo, mas é
plenamente católico, ortodoxo, magisterial. Quem o rejeita por orgulho
doutrinal se aproxima, queira ou não, do cismatismo espiritual. E
quem o denuncia como um documento “perigoso para a fé” assume —
mesmo sem saber — uma posição suicida: ou a Igreja errou no
catecismo, ou o sr. Haynes é um charlatão.
E como católico, você deve apostar com Pedro — não com o
polemista da internet.
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
2. A negação solene do óbvio: sim, o
mundo existe
A tese principal do capítulo dois é:
O Catecismo da Igreja Católica promove um ecumenismo falso, dilui a
doutrina sobre a Igreja, abandona a ideia da Igreja como única arca de
salvação, e troca a fé pela caridade como fundamento da unidade
eclesial.
O sr. Haynes começa o capítulo irritado com o fato de o Catecismo da
Igreja Católica ter sido redigido “com perspectiva ecumênica”. Ora, e
precisava ser médium pra saber disso? A Igreja vive num planeta, não
numa redoma vitoriana. Tem gente fora da Igreja, sr. Haynes. E ela
quer — pasme — falar com essas pessoas.
A acusação de que o catecismo se abriu ao ecumenismo é como acusar
um salva-vidas de molhar a roupa. Cristo mandou ensinar “todas as
nações”, e não criar um clube doutrinário para batizados rigoristas e
autossuficientes
O problema com o “subsistit in”: mais latim e menos
cérebro
O autor ataca a famigerada expressão do Vaticano II: “A única Igreja
de Cristo subsiste na Igreja Católica” (subsistit in). Para ele, isso já
basta como prova de heresia embutida. Aparentemente, ele nunca
percebeu que o problema não é o latim, mas a sua má vontade – e,
nisso, confesso, ele não está sozinho: a constelação de desruptistas é
vária como um zoológico.
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
Ele quer que o texto diga simplesmente “est” (é) — como se trocar um
verbo invalidasse dois mil anos de Magistério. Só que os documentos
do Concílio não foram escritos por seminaristas do primeiro ano:
foram debatidos, redigidos, corrigidos e aprovados por centenas de
bispos com o Papa. Se a palavra mudou, foi porque o significado
mudou? Não. Foi porque o contexto mudou. E a linguagem precisa de
precisão — não de grunhidos escolásticos de autodidata.
A palavra subsistit foi usada precisamente para afirmar que a Igreja de
Cristo continua plenamente identificável na Igreja Católica, mesmo
reconhecendo que há elementos de verdade fora dela. Isso não é
ecumenismo aguado.
As sentenças condenadas pelo Syllabus do Beato Pio IX, por ele
citadas – a saber, “no culto de qualquer religião podem os homens
achar o caminho da salvação eterna e alcançar a mesma eterna
salvação” e “pelo menos deve-se esperar bem da salvação eterna
daqueles todos que não vivem na verdadeira Igreja de Cristo” (nn.
16-17) – não equivalem a reconhecer que não existem elementos de
verdade fora da Igreja. Os cultos idolátricos ou supersticiosos não
salvam, mas pode ser que neles haja uma verdade humana subjacente
(que Deus existe, que é remunerador etc.),
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
O anti-ecumenismo como programa de isolamento
doutrinal
O autor então parte pra pancadaria generalizada: condena o diálogo
com outras religiões, reclama da Lumen Gentium, da Nostra Ætate, da
Dignitatis Humanæ, da ideia de liberdade religiosa — e se pudesse,
voltaria à Idade Média com passaporte doutrinário.
Ele cita Leão XIII, Pio XI, Pio XII — sempre cortando a citação onde
ela favorece sua tese. Como é típico desses “católicos puristas”, ele
exige que a Igreja repita os papas do passado sem considerar a
alteração das circunstâncias (o Magistério se exerce para alguém e não
para o ar). Para ele, o Magistério posterior só é válido se repetir as
fórmulas anteriores — como se a Igreja fosse uma fita cassete que toca
Trento em loop eterno.
Essa postura é a própria definição de galicanismo, mas extemporâneo:
ao invés de negar o Papa em nome do Concílio, ele nega o Concílio
em nome de Papas mortos, a despeito do Papa vivo – assim é fácil!
O horror da caridade: quando o amor é um problema
E agora vem a cereja da demência: segundo Haynes, o Catecismo erra
ao dizer que o vínculo principal da unidade eclesial é a caridade, e não
a fé.
Sim, você leu certo. O sujeito tem um chilique porque o Catecismo
usou São Paulo, que escreveu: “acima de tudo, a caridade, que é o
vínculo da perfeição” (Cl 3,14). Isso para ele é “falso ecumenismo”.
Haja gap lógico!
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
Quer dizer: quando São Paulo fala de amor, é “ambiguidade conciliar”;
quando o Catecismo repete São Paulo, é “protestantismo infiltrado”.
Esse tipo de purismo é tão patético que só falta negar o Evangelho
porque não usa notas de rodapé da Summa Theologiæ.
O sr. Haynes desconhece um princípio básico da lógica: a afirmação de
uma coisa não é a negação de outra.
Mas é claro: para Haynes e seus iguais, caridade não é virtude
teologal, é frouxidão doutrinária. Eles são os zelotas do dogma — e a
cruz que carregam não é a de Cristo, é a de seus próprios complexos e
ressentimentos.
Cristo Rei? Só se for com coroa de ferro
O autor também acusa o Catecismo de omitir a “realeza social de
Cristo”. Porque, claro, se não tem encíclica antimodernista em latim,
então a doutrina foi traída. E se o Catecismo menciona a dignidade
humana antes de citar a Cristandade Medieval, então é humanismo
maçônico.
Aqui vemos o truque básico do teólogo-de-internet: ele pega um
silêncio pastoral e o trata como negação doutrinal. Ou seja: se o
Catecismo não repete o vocabulário exato da minha seita mental (que
tenta copiar o léxico eclesiástico de tempos precedentes), então ele
está errado.
Essa mentalidade não entende que o Catecismo de João Paulo II foi
feito para o século XXI, não para a sacristia de 1950. E que afirmar a
realeza de Cristo não exige repetir a teocracia confessional do século
XIX, mas reconhecer a soberania d’Ele na consciência e na história —
como ensina o próprio n. 2105, aliás.
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
Haynes está lutando contra o Concílio — e perdendo
O Capítulo dois do livro é uma repetição de mantras anti-Vaticano II,
disfarçados de “zelo pela Tradição”. Mas por trás de cada citação de
Pio XI, o autor esconde sua verdadeira tese: a Igreja atual é ilegítima
porque não repete palavra por palavra os documentos anteriores.
Essa lógica — típica do fundamentalismo mais literalista — é suicida.
Porque se você não pode confiar no Magistério atual da Igreja, não
pode confiar em nenhum outro. E, nesse caso, bem-vindo ao
protestantismo: cada um com seu magistério de estimação.
O Catecismo da Igreja Católica é um monumento teológico —
aprovado por Pedro, enraizado na Tradição e fiel à Escritura. Quem o
ataca com base em preferências doutrinais de época perdeu a noção de
catolicidade e transformou a fidelidade em teatro de rigidez.
A Igreja é maior que os seus slogans.
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
3. “Outras religiões e o movimento
ecumênico”: o problema é que o
mundo não é uma sacristia tridentina
A tese central do capítulo três é:
O Catecismo ensina que há elementos de verdade e santificação fora
da Igreja; fala que muçulmanos e judeus adoram o mesmo Deus;
afirma que as outras religiões podem ser usadas por Cristo como meios
de salvação. Resultado: temos um catecismo modernista, que legitima
o indiferentismo e sabota a exclusividade salvífica da Igreja Católica.
O sr. Haynes esperava que o Catecismo da Igreja Católica fosse um
documento de excomunhão universal. Ele queria que houvesse um
anátema em cada parágrafo: “os judeus estão errados, os protestantes
estão condenados, os muçulmanos seguem um falso profeta, o inferno
está lotado”.
Mas o Catecismo não é um panfleto inquisitorial, nem um dossiê anti-
heresia: é um compêndio doutrinal, pedagógico, orgânico, que —
surpresa! — parte do princípio de que é possível encontrar fragmentos
de verdade fora dos muros visíveis da Igreja. E mais: que esses
fragmentos têm origem em Cristo, como ensina São Justino em sua
doutrina dos semina verbi.
O problema do autor é que ele só reconhece a ação de Cristo onde há
sacramento com rubrica latina e canto gregoriano. Se o sujeito é um
bom protestante que ama a Escritura e serve a Deus segundo sua
consciência, Haynes o despacha para o inferno em nome da
“Tradição”.
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
O escândalo do “subsídio da graça fora da Igreja”
Haynes entra em colapso quando lê o n. 819 do Catecismo: “existem,
fora das fronteiras visíveis da Igreja, muitos elementos de santificação
e de verdade”. Ele esperneia: como ousam dizer que há graça fora da
Igreja visível?
Resposta: porque a graça não é sua propriedade, meu caro. Você não é
despenseiro da Trindade.
O próprio São Tomás o afirmou quando escreveu (cito em latim):
“Deus virtutem suam non alligavit sacramentis quin possit sine
sacramentis effectum sacramentorum conferre”, “Deus não vinculou
sua virtude aos sacramentos de tal modo que não possa produzir o seu
efeito prescindindo deles” (Summa Theologiæ, IIIa, q. 64, a. 7,
respondeo).
E o Beato Pio IX, que tanto é citado pelos impugnantes do Concílio
Vaticano II e do Catecismo, afirma que: “Coisa notória é para Nós e
para Vós que aqueles que sofrem de ignorância invencível acerca de
nossa santíssima religião, que cuidadosamente guardam a lei natural e
seus preceitos, esculpidos por Deus nos corações de todos, e que estão
dispostos a obedecer a Deus e levam vida honesta e reta, podem,
auxiliados pelo socorro e pela luz da graça divina, conseguir a vida
eterna; pois Deus, que manifestamente vê, esquadrinha e sabe a mente,
o ânimo, os pensamentos e costumes de todos, não consente, de modo
algum, conforme Sua suma bondade e clemência, que ninguém seja
castigado com os eternos suplícios que não for réu de culpa
voluntária” (Quanto Conficiamur Moerore, n. 2).
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
A doutrina católica ensina que a Igreja é o instrumento visível da
salvação, mas que Deus não está preso aos sacramentos como um
mágico está à cartola. Se Ele quiser derramar a graça sobre um
protestante que o ama e nunca teve culpa por não conhecer a plenitude
da fé, Ele pode. E o faz. Isso não é “modernismo” — é soteriologia
básica com cérebro e coração.
Sobre os judeus: entre o Antigo Testamento e o
ressentimento
Haynes passa então à seção “os judeus”. E aqui, a coisa descamba de
vez.
O autor se ressente profundamente do fato de que o Catecismo fala dos
judeus sem ódio. Ele esperava, provavelmente, que o texto dissesse
que o povo judeu foi amaldiçoado, deicida, traidor da aliança, indigno
da salvação. Como não encontrou isso, conclui: “o Catecismo traiu a
fé!”
O que o Catecismo de fato ensina
Que os judeus compartilham conosco a espera pelo Messias —
nós, esperando Seu retorno glorioso; eles, esperando ainda Sua
primeira vinda
Que existe um vínculo espiritual entre cristãos e judeus, porque
adoramos o mesmo Deus, nos apoiamos nas mesmas Escrituras,
temos o mesmo patriarca: Abraão
Que negar o papel dos judeus na economia da salvação é negar a
própria Bíblia.
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
Haynes chama isso de “ambiguidade”. Mas na prática, o que ele quer é
que o Catecismo declare guerra aos judeus em nome da Tradição. Se
pudesse, reinstauraria o gueto de Veneza e a taxa de batismo
obrigatório — porque, na sua cabeça, isso é fidelidade católica.
Os muçulmanos e o pânico da teologia planetária
O autor então entra num estado de paranoia escatológica quando lê o
n. 841: “Os muçulmanos, declarando guardar a fé de Abraão, conosco
adoram o Deus único e misericordioso”.
Pronto. Para ele, isso é o apocalipse. Afinal, como alguém pode dizer
que católicos e muçulmanos adoram o mesmo Deus?
Resposta: usando a inteligência, talvez.
O que o Catecismo afirma é simples: os muçulmanos creem em um só
Deus, criador do céu e da terra, onipotente e misericordioso. Isso é o
mesmo Deus que nós adoramos? No sentido de sermos monoteístas,
sim; no sentido trinitário, não. O próprio Catecismo afirma, em sua
exposição do Credo, que o Deus em que cremos é uno e trino, Unidade
de Substância na Trindade das Pessoas.
A afirmação do Catecismo é teologicamente precisa — desde que lida
com olhos de quem estudou o mínimo e tenha boa-vontade. Só que
Haynes, como todo polemista de manual, exige que o texto diga tudo,
de todos os ângulos, com todas as nuances, em cada parágrafo. Se não
disser, ele declara heresia. É o tribunal de Torquemada... com
dicionário do século XIX.
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
O veneno do indiferentismo não está no Catecismo, está no
autor
A obsessão de Haynes é simples: provar que o Catecismo ensinou que
“todas as religiões salvam”. O problema é que o Catecismo nunca
disse isso.
Ele disse
Que fora da Igreja há elementos de verdade.
Que Deus pode usar até mesmo esses elementos para conduzir
alguém à salvação.
Que todo homem de boa vontade é chamado à conversão.
Que a Igreja continua sendo a arca única da salvação, mas que
Deus não se limita ao nosso manual litúrgico.
Se isso soa relativista para o sr. Haynes, é porque ele se apressa em
tirar conclusões soteriológicas do dogma. Para ele, qualquer linguagem
que não exale enxofre contra o herege é falsa
Haynes não defende a Igreja — ele defende um espantalho
doutrinário
O Capítulo três não é uma crítica séria ao Catecismo. É uma sequência
de reações pavlovianas a frases que não se encaixam no mundo
interior do autor, onde a verdade só existe se for polêmica, dura,
excludente e punitiva.
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
O Catecismo da Igreja Católica ensina que Cristo é o único Salvador,
que fora da Igreja não há salvação — mas que a misericórdia de Deus
ultrapassa as fronteiras da lógica dos fariseus restauracionistas.
O que o sr. Haynes propõe, no fundo, é uma Igreja mais dura que
Cristo, mais purista que São Paulo, mais doutrinal que o próprio
Magistério.
O resultado? Um delírio soteriológico feito de rancor, teologia de
panfleto e desobediência em nome da fidelidade.
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
4. “A Sagrada Eucaristia e o
Sacerdócio”: a missa segundo São
Haynes de Westminster
A Tese central do autor no capítulo quatro é:
O Catecismo promove uma visão protestantizada da Missa, omite ou
suaviza o caráter sacrifical da Eucaristia, fala demais de “banquete” e
pouco de propiciação. Além disso, embaralha a distinção entre
sacerdócio ministerial e comum, confundindo tudo.
A Missa como sacrifício? Está lá, grandão, em negrito —
mas Haynes não viu
A primeira acusação de Haynes é que o Catecismo “suaviza” ou
“omite” o caráter sacrifical da Missa. Aparentemente, ele estava lendo
o Catecismo das Testemunhas de Jeová, porque o Catecismo da
Igreja Católica que nós lemos afirma:
A Santa Missa é, ao mesmo tempo, memorial do sacrifício da cruz e
sua atualização sacramental, A Eucaristia é, ao mesmo tempo,
sacrifício de louvor, de ação de graças, de propiciação e de expiação.
(cf. CIC nn. 1362–1367)
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
Como é possível, então, que Haynes diga que isso foi “omitido”?
Simples: ele faz o que muitos pseudo-tradicionalistas fazem — ignora
o que não convém à sua narrativa. Ele só lê o que lhe serve de
munição. O resto, ele apaga com a borracha do preconceito.
Se o Catecismo afirma explicitamente que a Missa é o sacrifício de
Cristo tornado presente no altar, que ela é propiciatória, que aplica os
frutos da Redenção — então qual é a queixa? A queixa é que não foi
dito como ele gostaria. Quer dizer: o problema não é doutrinário. É
afetivo, estético, psicológico.
A histeria com a palavra “banquete”
Haynes entra em crise porque o Catecismo se refere à Eucaristia
também como “banquete pascal”. Isso, para ele, é protestantismo
escancarado.
Vamos traduzir: o que ele quer é que a Missa seja descrita
exclusivamente como sacrifício. Se aparece a palavra “banquete”,
mesmo que junto com “sacrifício”, ele grita: “Lutero está entre nós!”
Só que São Tomás, a Tradição oriental, o próprio Concílio de Trento e
todos os místicos e doutores chamaram a Eucaristia de sacrifício e
banquete. Porque ela é os dois. Cristo não disse apenas “isto é o meu
corpo entregue”, mas também: “Tomai e comei” (Mt 26,26).
A obsessão com a terminologia revela uma teologia fraca, doente e
pueril: Haynes quer que você vá à Missa para chorar seus pecados, não
para comungar com o Ressuscitado; ele quer a missa do Gólgota, não a
Ceia pascal. Esquece que ambas estão unidas no mesmo mistério.
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
Sacerdócio comum? Heresia moderna! (ou: como fingir que
não existe 1Pd 2,9)
Outro escândalo para Haynes é que o Catecismo fala em sacerdócio
comum dos fiéis. Isso, segundo ele, confunde tudo e atenua a diferença
com o sacerdócio ministerial.
Ora, a ideia de que todo batizado participa espiritualmente do
sacerdócio de Cristo não nasceu no Concílio Vaticano II. Está em
1Pedro 2,9 e Ap 1,6, onde São Pedro chama os fiéis de “sacerdócio
real, nação santa”.
O que o Catecismo faz — e faz muitíssimo bem — é distinguir, com
clareza meridiana, que o sacerdócio comum é diferente em essência e
não apenas em grau do sacerdócio ministerial (CIC n. 1547).
São Tomás de Aquino afirma que “todos os sacramentos tornam o
homem participante do sacerdócio de Cristo” (Summa Theologiæ, IIIa,
q. 63, a. 3, ad 1um), mas “os sacramentos que destinam o homem ao
serviço espiritual do culto de Deus devem marcar os fieis com um
certo caráter espiritual” (Ibidem, a. 1, respondeo) e “são três os
sacramentos que imprimem caráter: o batismo, a confirmação e a
ordem” (Ibidem, a. 6, respondeo)
Mas para Haynes, o fato de reconhecer que o leigo oferece sua vida
como sacrifício espiritual já é escândalo. Na lógica dele, ou você é
padre com casula ou é ninguém. É a sacralização da clericalização —
o leigo deve assistir, calado e imóvel, ao mistério. Participar, jamais.
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
O problema não é o Catecismo — é a imaginação litúrgica
do autor
Todo o drama de Haynes neste capítulo deriva de um problema de
base: ele não está criticando o Catecismo da Igreja Católica. Ele está
reagindo contra abusos litúrgicos que ele viu por aí, e está projetando
esses abusos sobre o texto oficial da Igreja.
Ele confunde a linguagem teológica cuidadosa do Catecismo com as
catequeses malfeitas, missas-praças, padres militantes e músicas de
péssimo gosto que tenham infestado muitas paróquias no pós-Concílio.
Mas, ao invés de criticar os abusos, ele atira no Catecismo — como se
o remédio fosse o veneno.
Isso é típico do ressentido eclesial: em vez de discernir onde está o
erro concreto, prefere culpar o Magistério. Ele quer que o Papa e o
Catecismo redijam todos os parágrafos com linguagem antimoderna,
antiecumênica, anti-humana — senão, são traidores da fé.
Haynes está combatendo um espantalho eucarístico
O capítulo quatro de Os Erros do Catecismo Moderno é mais um
exemplo da estratégia padrão do tradicionalista ressentido
Lê o Catecismo com antipatia prévia
Pula os parágrafos claros e ortodoxos
Isola frases para parecer que há “ambiguidade”
Conclui que tudo está contaminado por protestantismo,
modernismo e bugninianismo cósmico.
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
O resultado é uma caricatura de teologia. Haynes não explica a
doutrina católica: ele grita contra um inimigo que só existe na sua
imaginação litúrgico-apocalíptica.
O Catecismo da Igreja Católica ensina, com clareza cristalina, a
Eucaristia como sacrifício, banquete e presença real; e distingue, sem
sombra de confusão, o sacerdócio ministerial do comum. Quem lê o
texto com olhos limpos vê isso. Quem lê com olhos de guerra vê só
heresia.
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
5. “Matrimônio e Confissão”: quando
o pecado é ter filhos por amor. O
pecado e a comunhão dos santos.
No capítulo cinco, a tese central do autor é esta:
O Catecismo apresenta o amor conjugal como fim do matrimônio,
relativizando o fim primário que é a procriação. Além disso, promove
um modelo comunitário de confissão que enfraquece o aspecto pessoal
e sacramental do perdão.
A guerra contra o amor: agora até amar sua esposa é
modernismo
Segundo Haynes, o Catecismo “inverteu” os fins do matrimônio ao
dizer que o amor conjugal é um dos seus fundamentos. Ele queria que
o texto começasse dizendo: “O fim primário do matrimônio é a
reprodução da espécie. Ponto final. Amor é acessório.”
Só que o Catecismo ensina — com base em Pio XI, Pio XII, João
Paulo II, Gaudium et Spes e toda a Tradição recente da Igreja — que o
matrimônio é, sim, ordenado à procriação, mas que o amor entre os
cônjuges é parte constitutiva da vocação matrimonial (cf. CIC
n.n.1601–1666). Acontece que o texto do Catecismo não pretende ser
uma ontologia moral dos fins do matrimônio, mas uma catequese para
o homem contemporâneo.
Se Haynes não consegue compreender que os fins do matrimônio não
competem entre si, mas se harmonizam, o problema não está na Igreja
— está no seu modelo cartesiano de teologia “tudo ou nada”.
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
Para o homem de hoje, a apresentação seca do fim primário e
secundário soa incompreensível (ainda que, num contexto de moral
ontoético seja assim), trata o amor como se fosse um “bônus
emocional” do ato conjugal. Mas a Igreja sempre viu o amor
verdadeiro — aquele que reflete a entrega de Cristo pela Igreja —
como o núcleo espiritual do casamento. Sem amor, a procriação vira
zootecnia.
A lógica contraceptiva da teologia reversa
A ironia é que, ao tentar defender a procriação como fim primário,
Haynes acaba caindo no mesmo erro estrutural dos contraceptivos:
separar amor e fecundidade.
A Igreja sempre ensinou que os dois devem andar juntos — mas ele
prefere um enfoque funcionalista do matrimônio: “casa-se para gerar
filhos, e, se tiver amor, sorte sua”. A sacramentalidade desaparece; o
matrimônio vira um contrato biológico santificado pelo sacramento.
Entenda: é assim que soa para o homem dos nossos dias!
É o mesmo racionalismo estéril que separa natureza de graça, biologia
de sacramento, vocação de doação. Haynes, no fundo, não quer o
matrimônio católico — ele quer o modelo jurídico do século XIX com
véu e gravata borboleta.
Confissão comunitária? Heresia! (a menos que seja no
século VI)
Agora chegamos à segunda cruzada do capítulo: a confissão
comunitária. Haynes se horroriza com o fato de o Catecismo dizer que
a reconciliação também tem um aspecto comunitário. Para ele, isso é
protestantismo com cheiro de incenso.
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
Mais uma vez, ele mostra que não entendeu absolutamente nada do
que leu.
O Catecismo ensina, com todas as letras: “A confissão individual e
integral dos pecados graves seguida da absolvição é o único modo
ordinário pelo qual o fiel se reconcilia com Deus e com a Igreja.” (CIC
n. 1484)
Ou seja: a confissão individual é norma da Igreja. Ponto final.
Mas a Igreja também reconhece — com base na própria Escritura (cf.
Tg 5,16) e na Tradição mais antiga — que o pecado fere o corpo
inteiro da Igreja, e que a reconciliação tem dimensão eclesial. Isso é
heresia? Não. Isso é teologia sacramental básica.
Diz o Catecismo Romano: “os membros mortos, isto é, os homens
cobertos de crimes e apartados da graça divina, não perdem
propriamente a regalia de serem membros deste corpo; mas, como
membros mortos, ficam privados do fruto espiritual que é a partilha
dos justos e piedosos. Ainda assim, uma vez que permanecem no
grêmio da Igreja, são ajudados por aqueles que vivem espiritual mente,
a recuperarem a graça e vida perdida. Deste modo, recebem ainda
alguns frutos, que escapam, sem dúvida alguma, aos que se separaram
[totalmente] da Igreja” (I, X, 25).
O que Haynes queria era que o Catecismo dissesse: “Nunca, jamais,
em hipótese alguma, deve haver confissão comunitária, nem liturgia
penitencial com absolvição geral, nem reconciliação com assembleia”.
Só que a Igreja admite exceções lícitas, especialmente em contextos de
guerra, perigo iminente de morte ou regiões de missão.
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
O purismo sacramental como se fosse teologia
O pano de fundo dessa crítica é sempre o mesmo: Haynes sofre da
síndrome do passado idealizado. Para ele, a Igreja verdadeira vivia em
1950, com confissões lotadas, noivas de véu e catecismos em latim.
Depois do Vaticano II, tudo virou heresia líquida.
Ele não percebe que seu apego ao passado não é fidelidade, é nostalgia
doutrinal mal curada. Ele lê o Catecismo não para aprender, mas para
encontrar traços do que ele considera modernismo. E se o texto fala de
amor conjugal, misericórdia, dimensão comunitária... pronto: hereges
no Vaticano!
Mas a verdade é que o Catecismo ensina o que a Igreja sempre ensinou
— de forma mais clara, mais encarnada, mais próxima das pessoas
reais que vivem no século XXI e querem encontrar Cristo, não um
modelo de moral com carimbo de 1910.
Quando a verdade se curva à amargura
O Capítulo cinco não é uma análise teológica. É um desfile de má
vontade, ignorância pastoral e idolatria da forma. Haynes não está
defendendo a fé. Está usando a fé como biombo para atacar o
magistério legítimo da Igreja.
Ele relativiza o amor conjugal como parte do plano de Deus.
Ele despreza a dimensão eclesial da reconciliação como heresia.
Ele ignora o magistério recente e recorta o magistério antigo para
caber em seu ressentimento.
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
No fundo, seu problema não é com o Catecismo, nem com o Concílio
— é com a Igreja viva, que não cabe no molde da sua nostalgia
doutrinária. O que ele quer não é a Tradição, mas a imobilidade; não é
a Igreja, mas um museu.
Mas a Tradição católica não é um cadáver embalsamado: é vida,
continuidade, respiração do Espírito Santo no tempo.
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
6. A Dignidade do Homem: a cruzada
de Haynes contra o Gênesis
Tese central do autor no capítulo seis:
O Catecismo exagera na valorização da dignidade humana, colocando
o homem no centro de tudo. Isso seria fruto do personalismo moderno,
contrário à doutrina tradicional que enfatiza a miséria do homem sem
Deus.
Quando o Gênesis vira modernismo
Haynes começa sua cruzada dizendo que o Catecismo exagera ao dizer
que o homem tem uma dignidade “incomensurável”, “inalienável” e
“fundamental”. Ele acusa o texto de colocar o homem “no centro” e de
esquecer a glória de Deus.
Mas quem foi o primeiro a dizer que o homem foi criado à imagem e
semelhança de Deus, senhor da criação, cooperador com o Altíssimo?
— Foi Deus, em Gênesis 1,26–28.
Se isso é antropocentrismo, então o autor precisa abrir um inquérito
contra o Espírito Santo.
A dignidade humana, segundo a doutrina católica, não é invenção de
Maritain, nem de Wojtyła. Está na própria ordem da criação,
confirmada pela redenção em Cristo e levada à plenitude pela vocação
à glória eterna.
Se Haynes vê aí uma “exaltação perigosa do homem”, é porque ele
reduziu o cristianismo a uma doutrina de Deus como rival do ser
humano (isso cheira… gnose!).
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
O espantalho do “personalismo”
Como todo polemista que lê teologia com a lanterna da desconfiança,
Haynes vê em cada menção à pessoa humana um fantasma chamado
personalismo, aquele monstro moderno que tirou Deus do centro e
colocou o homem no altar.
Só que o personalismo cristão, representado por Karol Wojtyła,
Romano Guardini e outros gigantes do século XX, é uma resposta
precisamente ao mecanicismo ético da modernidade, e não uma
substituição de Deus pelo homem. Ele diz: o homem tem dignidade
não porque é Deus, mas porque é chamado por Deus a participar da
vida divina.
Rejeitar isso é cair numa antropologia teológica estranha, em que o
objetivo do discurso é aniquilar o homem como condição necessária
para a afirmação de Deus como absoluto. Asceticamente, isso não
passa de jansenismo.
Haynes, por medo da “exaltação do homem”, cai no erro oposto: nega
a imagem de Deus no homem e esvazia a vocação cristã à divinização
(cf. 2Pd 1,4).
O truque do “Deus foi rebaixado”
Haynes acusa o Catecismo de “rebaixar Deus para exaltar o homem”.
Mas isso é pura projeção. O Catecismo, do início ao fim, afirma que
O homem é criatura, limitado, vulnerável e pecador (cf. CIC n.
396)
A dignidade humana é dom de Deus, não mérito da criatura (CIC
n. 1700)
Só em Cristo o homem encontra sua identidade, sua verdade e seu
fim último (CIC n. 1703).
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
O espantalho do “personalismo”
Como todo polemista que lê teologia com a lanterna da desconfiança,
Haynes vê em cada menção à pessoa humana um fantasma chamado
personalismo, aquele monstro moderno que tirou Deus do centro e
colocou o homem no altar.
Só que o personalismo cristão, representado por Karol Wojtyła,
Romano Guardini e outros gigantes do século XX, é uma resposta
precisamente ao mecanicismo ético da modernidade, e não uma
substituição de Deus pelo homem. Ele diz: o homem tem dignidade
não porque é Deus, mas porque é chamado por Deus a participar da
vida divina.
Rejeitar isso é cair numa antropologia teológica estranha, em que o
objetivo do discurso é aniquilar o homem como condição necessária
para a afirmação de Deus como absoluto. Asceticamente, isso não
passa de jansenismo.
Haynes, por medo da “exaltação do homem”, cai no erro oposto: nega
a imagem de Deus no homem e esvazia a vocação cristã à divinização
(cf. 2Pd 1,4).
O truque do “Deus foi rebaixado”
Haynes acusa o Catecismo de “rebaixar Deus para exaltar o homem”.
Mas isso é pura projeção. O Catecismo, do início ao fim, afirma que
O homem é criatura, limitado, vulnerável e pecador (cf. CIC n.
396)
A dignidade humana é dom de Deus, não mérito da criatura (CIC
n. 1700)
Só em Cristo o homem encontra sua identidade, sua verdade e seu
fim último (CIC n. 1703).
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
Ou seja: para o Catecismo, a dignidade humana é sempre teocêntrica, e
nunca autossuficiente. Se Haynes não consegue enxergar isso, é
porque está lendo com os olhos turvos de quem professa, ainda que
veladamente, a heresia calvinista da corrupção total.
O problema é o espelho — não o Catecismo
Toda a raiva de Haynes contra a “dignidade do homem” revela algo
mais profundo: ele não confia na capacidade da graça de elevar o
homem.
Ele prefere um catolicismo da acusação perpétua, onde o homem vive
com medo de se achar bom demais, e acaba crendo que só o desprezo
de si é virtude. Ele transforma a humildade em autodepreciação
neurótica, o temor de Deus em culpa obsessiva e a Tradição em
autoflagelo espiritual.
Mas a dignidade cristã não é antropologia vazia. É teologia da
encarnação. O Filho de Deus se fez homem — e isso eleva o homem
mais do que qualquer filosofia poderia sonhar. Rejeitar a dignidade do
homem é, no fim das contas, rejeitar a Encarnação.
O Capítulo seis é um tiro no pé, teológica e espiritualmente. Haynes
tenta destruir o fundamento antropológico do Catecismo — mas acaba
jogando fora toda a base da moral cristã, da doutrina dos sacramentos,
da noção de vocação e até da santidade.
Seu problema não é com o “personalismo” ou com o
“antropocentrismo”. Seu problema é com o homem redimido. Com a
ideia de que um miserável pode, pela graça, tornar-se filho de Deus,
templo do Espírito Santo e herdeiro da vida eterna.
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
Seu problema não é com o “personalismo” ou com o
“antropocentrismo”. Seu problema é com o homem redimido. Com a
ideia de que um miserável pode, pela graça, tornar-se filho de Deus,
templo do Espírito Santo e herdeiro da vida eterna.
Para ele, o homem precisa continuar rastejando — não porque Deus o
exige, mas porque ele não suporta ver o homem erguido pela graça. O
Catecismo ensina que o homem tem dignidade porque é amado.
Haynes quer que ele se salve pelo medo.
Entre os dois, fique com a Igreja.
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
7. Uma Nova Moral: quando o
pecado mortal virou “grave” e o
inferno é só um jeito de falar
O capítulo sete tem como tese central o seguinte:
O Catecismo adota uma nova linguagem moral: substitui “pecado
mortal” por “pecado grave”, dilui o ensino tradicional sobre os Dez
Mandamentos, exalta a consciência subjetiva e relativiza a lei natural
em nome da dignidade da pessoa.
“Pecado grave” = heresia? Só para quem aprendeu moral
católica por meme
Haynes começa sua artilharia contra o uso do termo “pecado grave” no
lugar de “pecado mortal”. Para ele, essa troca já basta como sinal de
heresia — porque, claro, o vocabulário é dogma, e só pode pecar quem
usa as palavras certas.
Mas aqui está o detalhe: o Catecismo usa ambos os termos — grave e
mortal — com precisão técnica e distinção pedagógica. Veja:
“O pecado mortal é uma possibilidade radical da liberdade humana,
como o amor é a sua realização. Ele comporta uma destruição da
caridade no coração do homem.” (CIC n. 1861). “O pecado grave
supõe matéria grave; é cometido com plena consciência e deliberado
consentimento.” (CIC n. 1857)
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
O que isso significa? Que “grave” refere-se à matéria, e “mortal” à
consequência espiritual. A linguagem é mais precisa, não menos
ortodoxa. Mas Haynes, como todo cruzado sem estudo, grita
“modernismo!” sempre que não encontra no texto os termos
fossilizados de seu devocionário de 1912.
A consciência: tribunal de Deus ou quartinho relativista?
Depende se você leu Santo Tomás
O autor entra em fúria porque o Catecismo fala do “primado da
consciência”. Ele acredita que isso significa: “cada um decide o que é
certo e errado”. Mas isso só prova que ele não entendeu uma linha da
moral católica clássica.
O Catecismo afirma com todas as letras:
“A consciência deve ser formada e o juízo moral esclarecido.” (CIC n.
1783). “A consciência moral pode permanecer na ignorância ou fazer
julgamentos errôneos. Esta ignorância pode ser imputável.” (CIC n.
1791)
Ou seja: a consciência não é um oráculo subjetivo infalível. É o lugar
onde o homem se submete à verdade objetiva da lei moral. O que o
Catecismo defende é que ninguém pode ser moralmente condenado
por agir de acordo com a sua consciência erroneamente invencível.
Se Haynes quer que a lei seja imposta como um código externo, sem
passar pela inteligência e pela liberdade da pessoa, então ele não quer
moral cristã. Ele quer moral farisaica, onde o homem obedece sem
entender, crê sem pensar e peca até por respirar errado.
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
A moral cristã como vocação, não como código penal
O Catecismo propõe uma moral baseada na vocação do homem ao
bem, na participação na vida de Cristo e na ação do Espírito Santo.
Isso não anula a lei moral — mas a insere no contexto da liberdade
redimida.
Haynes, como todo moralista sem alma, enxerga isso como frouxidão.
Para ele, se a moral não começa com “não pode”, então não é católica.
Mas a moral da Igreja nunca foi um catálogo de proibições. Sempre foi
o caminho da perfeição — que começa na lei, mas culmina na
caridade.
O que Haynes quer é uma teologia que reduza o pecado à quebra de
norma e a santidade à obediência literal. Ele recusa o dinamismo
interior da graça, a formação da consciência, a ação das virtudes, a
maturidade espiritual. Ele quer um manual de castigo, não uma estrada
de conversão.
O horror à misericórdia: Haynes e o moralismo da “lei por
si só”
Por trás da raiva contra a nova moral, está o medo do Evangelho.
O autor não aceita que o centro da moral cristã não seja o “castigo”,
mas a redenção. Que o pecado é real — mas que a misericórdia de
Deus o ultrapassa. Que a lei é necessária — mas que o Espírito a
cumpre desde de dentro do coração convertido.
Haynes teme isso porque não compreende que a moral católica é para
pecadores redimidos, não para escravos temerosos. A linguagem mais
rica, mais afetiva, mais pessoal do Catecismo assusta quem se esconde
atrás de palavras duras por não saber lidar com a liberdade cristã.
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
Quando a moral católica assusta quem nunca saiu da
confissão do medo
O Capítulo sétimo é um tratado contra a liberdade dos filhos de Deus.
Haynes quer uma moral de regulamento, de chicote, de código penal.
Mas a Igreja quer uma moral de vida em Cristo, de formação interior,
de transformação da pessoa pelo Espírito. O Catecismo ensina isso
com base na Escritura, nos Padres, em Santo Tomás, em João Paulo II
— mas Haynes não vê nada disso. Ele só vê “mudança de linguagem”.
Seu moralismo é tão estéril que transforma a culpa em identidade, e a
confissão num confessionário de tortura. Sua crítica não é contra a
nova moral — é contra a moral cristã como sempre foi: iluminada pela
graça e sustentada pela verdade.
O Catecismo ensina moral. Haynes ensina medo.
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
8. Um Novo Ensinamento sobre o
Pecado: quando Haynes quer salvar a
doutrina e crucifica o Redentor
Tese central do capítulo oito:
O Catecismo oferece um novo ensinamento sobre o pecado: fala
demais em atenuantes, pouco em culpa; trata o pecado como “ferida” e
não como “ofensa a Deus”; insiste em condições subjetivas e omite a
justiça divina. Resultado: o temor de Deus desaparece e o inferno vira
metáfora.
O Catecismo suaviza o pecado? Só se você não sabe ler
com o cérebro
A primeira alegação do autor é que o Catecismo minimiza o pecado.
Agora, vejamos o que o Catecismo realmente diz:
“O pecado é uma ofensa a Deus: ‘Contra vós, só contra vós pequei, e
pratiquei o que é mau aos vossos olhos’ (Sl 51,6)” (CIC n. 1850). “O
pecado mortal destrói a caridade no coração do homem por uma
infração grave à lei de Deus” (CIC n. 1855). “Se não for redimido pelo
arrependimento e o perdão de Deus, causa a exclusão do Reino de
Cristo e acarreta a morte eterna no inferno.” (CIC n. 1861).
Se isso é suavizar, então não sei o que seria “falar duro”: queimar o
leitor em praça pública?
O problema é que Haynes exige que o Catecismo grite. Ele não quer
doutrina. Ele quer teatro moral — quer sentir o chicote nas costas da
alma. Se o texto for claro, mas sem rosnar, ele acusa de leniência.
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
A psicologia do inferno: quando todo cuidado pastoral vira
relativismo
O Catecismo explica — com base em Santo Tomás de Aquino — que
para haver pecado mortal são necessárias três condições: matéria
grave, plena advertência e consentimento perfeito (cf. CIC n. 1857).
Isso é doutrina clássica. Está nos manuais antigos. Mas Haynes, que se
diz defensor da Tradição, quer esquecer que a culpa moral exige
liberdade real. Para ele, basta cometer um ato objetivamente errado e
pronto: condenação automática. Como se Deus fosse um robô
justiceiro que distribui o inferno com base em planilha Excel.
O Catecismo, com sabedoria, ensina que
Nem toda matéria grave equivale a culpa mortal
Nem toda culpa grave tem a mesma imputabilidade
E que a misericórdia de Deus é maior que a aritmética moral de
quem confunde justiça com vingança
Mas Haynes quer que o catequista seja um promotor de
tribunal, não um guia de almas. Ele prefere que o pecador fuja da
Igreja por medo, do que entre por amor.
“Ferida”? Isso é linguagem de spa? Não, é do Crucificado
Outra crítica caricatural: o Catecismo fala que o pecado é uma
“ferida”. E isso, para Haynes, é “psicologismo”. Segundo ele, dizer
que o pecado fere o homem é esquecer que o pecado é crime contra
Deus.
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
A psicologia do inferno: quando todo cuidado pastoral vira
relativismo
O Catecismo explica — com base em Santo Tomás de Aquino — que
para haver pecado mortal são necessárias três condições: matéria
grave, plena advertência e consentimento perfeito (cf. CIC n. 1857).
Isso é doutrina clássica. Está nos manuais antigos. Mas Haynes, que se
diz defensor da Tradição, quer esquecer que a culpa moral exige
liberdade real. Para ele, basta cometer um ato objetivamente errado e
pronto: condenação automática. Como se Deus fosse um robô
justiceiro que distribui o inferno com base em planilha Excel.
O Catecismo, com sabedoria, ensina que
Nem toda matéria grave equivale a culpa mortal
Nem toda culpa grave tem a mesma imputabilidade
E que a misericórdia de Deus é maior que a aritmética moral de
quem confunde justiça com vingança
Mas Haynes quer que o catequista seja um promotor de
tribunal, não um guia de almas. Ele prefere que o pecador fuja da
Igreja por medo, do que entre por amor.
“Ferida”? Isso é linguagem de spa? Não, é do Crucificado
Outra crítica caricatural: o Catecismo fala que o pecado é uma
“ferida”. E isso, para Haynes, é “psicologismo”. Segundo ele, dizer
que o pecado fere o homem é esquecer que o pecado é crime contra
Deus.
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
Mas de novo: ele ignora que a linguagem da “ferida” vem da Escritura
– será que o Sr. Haynes nunca esqueceu a maldição divina sobre a
serpente: “tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3,15)?… – e da Tradição
mística e patrística, não de algum psicólogo da Paróquia da esquina.
Santo Agostinho dizia que o pecado é ferida da alma que clama por
cura (cf. Regra, n. 26). Santa Catarina de Sena falava do pecado como
ferida: “A ferida causada pela culpa de Adão era mortal. Ao chegar o
grande médico, meu Filho unigênito, ele curou o doente, sorvendo a
medicina amarga, impossível de ser tomada pela fraqueza humana”
(Diálogo, IV,2). E o próprio Jesus disse que “não precisam de médico
os sãos, mas sim os doentes” (Mc 2,17).
A metáfora da ferida não exclui a ofensa a Deus — explicita as
consequências do pecado no homem. Mas para Haynes, o pecador não
precisa de médico — precisa de pancada.
O inferno sumiu? Só para quem não leu até o fim
Outro delírio do autor é dizer que o Catecismo “omite” a doutrina do
inferno ou a relativiza. Isso é falso, pura e simplesmente. O CIC
afirma:
“Morrer em pecado mortal sem arrependimento e sem acolher o amor
misericordioso de Deus significa permanecer separado d'Ele para
sempre por nossa própria livre escolha. E esse estado de autoexclusão
definitiva da comunhão com Deus e com os bem-aventurados é o que
se designa por inferno” (CIC n. 1033).
O Catecismo reafirma a existência do inferno, sua eternidade, sua
justiça. Mas também insiste que Deus não condena ninguém sem culpa
real, e que a perdição eterna é consequência da rejeição consciente da
misericórdia.
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
Haynes não aceita isso. Para ele, o inferno deveria ser descrito com
mais sangue, gritos e labaredas. Ele quer medo, não doutrina. E
confunde justiça divina com sadismo pedagógico.
A teologia da culpa como idolatria moral
No fim das contas, Haynes apresenta uma doutrina do pecado sem
Cristo. Ele quer que o homem tema, que se humilhe, que se sinta
indigno — mas sem mostrar o Cordeiro que tira o pecado do mundo.
O Catecismo, ao contrário, mostra a verdade completa
Sim, o pecado é grave
Sim, o inferno existe
Sim, há justiça eterna
Mas acima disso tudo, há um Deus que morreu na cruz e
ressuscitou para salvar pecadores.
Haynes não quer o Redentor. Ele quer o Juiz. E quer que a Igreja se
torne guardiã do castigo, não mãe da misericórdia.
Quando a teologia do medo quer expulsar o Evangelho
O Capítulo oito é o clímax da obsessão por castigo disfarçada de
ortodoxia. Haynes não ensina o temor de Deus — ensina o pavor do
inferno. Não anuncia a conversão — prega o desespero. E não entende
que a doutrina do pecado só se sustenta se estiver iluminada pela face
de Cristo misericordioso (aliás, muitos tradicionalistas têm verdadeiro
horror à Divina Misericórdia).
O Catecismo da Igreja Católica ensina a verdade inteira. Denuncia o
pecado. Fala do inferno. Explica o juízo. Mas sempre aponta para a
esperança, a liberdade, a conversão, a vida nova.
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
Haynes, preso à sua teologia de chumbo, não vê isso. Prefere que a
alma se esconda de Deus do que se sinta acolhida por Ele.
Fique com a Igreja. Ela salva. Haynes assusta.
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
9. Ensino consistente ou revolução?
A Tese central do autor nesse capítulo é:
O Catecismo da Igreja Católica introduz um novo paradigma
teológico. Suas mudanças de linguagem e ênfases não são meras
atualizações: são rupturas com o magistério tradicional. Isso configura
uma revolução. A Igreja mudou de doutrina sem dizer que mudou.
“Nova linguagem = nova religião?” Só se você nunca leu
São João da Cruz
O ponto de partida do capítulo é esse: como a linguagem do Catecismo
mudou, a doutrina também mudou.
Essa é a lógica do adolescente doutrinário: forma é conteúdo,
vocabulário é dogma, estilo é magistério.
Haynes reclama que o Catecismo abandonou os termos técnicos
antigos, usou vocabulário “existencial”, “pastoral”, “ambíguo” — e
que, por isso, a fé está ameaçada.
Mas alguém precisa dizer ao autor que a doutrina católica não depende
do vocabulário do século XVI. Se fosse assim, São João da Cruz,
Santa Teresinha e São Gregório de Nissa seriam todos hereges, porque
usavam linguagem poética, simbólica, bíblica ou mística — e não
manualística.
A Igreja ensina a mesma fé com palavras novas, para homens novos,
em tempos novos. Isso se chama Tradição viva, não revolução. Só os
teólogos de taxidermia acham que o Espírito Santo fala
exclusivamente em retórica antimodernista.
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
O “magisterialismo”: quando obedecer ao Papa virou
pecado mortal
Haynes critica um suposto “magisterialismo” — ou seja, a ideia de que
tudo o que o Magistério ensina hoje deve ser aceito com confiança
filial, mesmo que não repita ao pé-da-letra o passado.
Segundo ele, isso é idolatria. Mas, veja só: o que ele propõe no lugar
disso?
Que o fiel comum julgue o Magistério atual com base... no seu próprio
entendimento do Magistério do passado.
Isso é cisma disfarçado de tradição. É o que fizeram os protestantes, os
galicanos, os sedevacantistas. Quando não gostam do que Roma ensina
hoje, declaram que Roma deixou de ser Roma, e montam uma
ecclesiola paralela — com paramentos antigos, catecismos de 1950 e
bispos que se consagram entre si em galpões alugados.
Haynes acusa o Catecismo de trair a Tradição — mas na prática, é ele
quem trai o Magistério.
A confusão entre Tradição viva e museu doutrinal
O autor acredita que a Tradição é um acervo fechado, uma biblioteca
inalterável, uma liturgia embalsamada.
Mas a Tradição não é isso. Ela é o transmitir contínuo da fé apostólica,
iluminada pelo Espírito Santo, lida à luz dos desafios de cada tempo,
desenvolvida com fidelidade e organicidade. Foi assim com Santo
Agostinho, com São Tomás, com Trento, com Leão XIII, com Pio XII,
com João Paulo II.
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
O que Haynes quer é parar a história. Ele acredita que, porque um
papa usou uma expressão em 1870, ela não pode mais ser explicada
com vocabulário novo em 1992 — senão é “mudança de doutrina”.
Mas a fé católica não é um disco arranhado. É vida sobrenatural que se
exprime com inteligência pastoral.
A Igreja como “revolucionária”? Isso é delírio paranoico
disfarçado de zelo
A acusação mais grave — e mais ridícula — do capítulo é que o
Catecismo representa uma revolução.
Ora, revolução é mudança de autoridade e de princípios fundamentais.
Uma revolução teológica implicaria que a Igreja rejeitou o que
ensinava antes e estabeleceu outro fundamento.
Se isso tivesse acontecido, o Magistério pós-conciliar estaria
excomungado de si mesmo. O Papa que promulgou o Catecismo (João
Paulo II) e o cardeal que o redigiu (Ratzinger) teriam traído a Igreja. A
nota da indefectibilidade desapareceria. A Igreja teria falhado na sua
missão essencial. E, se chegássemos a tal ponto, o catolicismo seria
uma palhaçada e não faria sentido voltar a um catolicismo mais antigo.
E então? O que Haynes propõe? Uma Igreja sem catecismo? Um
Magistério sem confiança? Um papa sem autoridade doutrinal? A
quem ele serve? Ao depósito da fé ou à seita interior que cultiva em
sua cabeça?
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
O anti-magistério: um novo Papa em cada polemista
No fundo, Haynes propõe um critério perigosíssimo: o fiel deve aceitar
o magistério “desde que” ele repita perfeitamente sua compreensão da
Tradição.
Mas isso significa que cada fiel se torna juiz da ortodoxia do Papa. E
se o Papa não corresponde às expectativas do fiel — cancela-se o
Papa, cancela-se o Catecismo, cancela-se o Concílio.
O que resta? Uma casta de fiéis esclarecidos que só reconhecem como
Magistério aquilo que já pensavam antes. Isso não é catolicismo. Isso é
neo-gnosticismo tradicionalista, onde a salvação depende da pertença
ao “grupo que entendeu tudo antes que todos.”
Quando a fidelidade vira desobediência saudosista
O Capítulo nove é o manifesto de uma nova religião.
Uma religião onde a Tradição é estática, o Papa é suspeito, o
Magistério precisa de autorização prévia e o Catecismo é herege até
que se prove o contrário.
Haynes acusa o Catecismo de romper com a Tradição. Mas é ele quem
rompe com o Magistério. Ele acusa a Igreja de traição. Mas é ele quem
desobedece à voz viva de Pedro.
O Catecismo é a expressão fiel da fé da Igreja. Não é perfeito em tudo
— mas é verdadeiro, orgânico, autêntico. Rejeitá-lo com base em
preferências doutrinais pessoais é o primeiro passo rumo ao cisma.
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
10. Aceitar ou Rejeitar?
Tese central do último capítulo:
Apesar de conter algumas passagens belas e piedosas, o Catecismo da
Igreja Católica deve ser rejeitado porque está contaminado por erros,
ambiguidade e espírito modernista. Os fiéis devem voltar aos
catecismos tradicionais (Trento, Baltimore etc.) e resistir a esta
“mudança de paradigma”.
“Aceitamos o Papa, mas rejeitamos seu catecismo” — um
cisma elegante
Haynes encerra com a cereja da insubordinação doutrinal: diz que o
Catecismo é perigoso para a fé e deve ser abandonado pelos católicos
fiéis. Mas quem promulgou o Catecismo?
O Papa São João Paulo II, em Constituição apostólica, com autoridade
magisterial ordinária; sob a coordenação de Joseph Ratzinger, futuro
Bento XVI, que o defendeu publicamente e o reafirmou em seu
pontificado.
Se você rejeita esse Catecismo como “doutrina perigosa”, então, por
coerência
Rejeite o Papa que o promulgou.
Rejeite o Magistério que o aprovou.
Rejeite todos os bispos que o adotaram.
E fique com... com quem, exatamente?
Com o catecismo de estimação que você encontrou em PDF? Com o
Magistério paralelo da internet? Com algum bispo francês sagrado por
bispo suíço excomungado?
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
Isso não é resistência fiel. Isso é revolução travestida de tradição.
“Há passagens belas…” — a técnica do elogio antes da
facada
Haynes, para parecer moderado, admite que há trechos bons no
Catecismo — especialmente sobre Nossa Senhora e a Eucaristia. Mas
conclui que isso não basta: um único erro invalidaria tudo.
Ora, essa é a lógica protestante fundamentalista: “mistura de verdade
com erro invalida tudo”. É a doutrina do “Sola Puritas”: ou tudo está
100% puro segundo meu critério privado, ou é corrupção. Catarismo!
Esse tipo de argumento é típico do fanático: nada é confiável fora do
que ele próprio seleciona. Se o Magistério atual afirma algo que não
lhe agrada, então deve ser rejeitado.
Mas se aceitamos esse princípio, não sobra nenhum catecismo na
história da Igreja
Nem o de Trento (que não fala quase nada de escatologia ou
Eucaristia como banquete ou Imaculada Conceição ou fideísmo ou
Assunção de Nossa Senhora ou jansenismo etc., que eram temas
ainda não existentes)
Nem o de Baltimore (com suas omissões pastorais grotescas)
Nem os manuais escolares do século XIX (cheios de afirmações
discutíveis sobre limbo, geografia sagrada, política cristã etc.).
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
O retorno aos catecismos tradicionais: nostalgia
doutrinária como critério de fé
Haynes encerra propondo que os fiéis abandonem o Catecismo da
Igreja Católica e voltem a usar o de Trento, o de Baltimore, ou algum
compêndio anterior ao Concílio Vaticano II. Ou seja: sua proposta é
rejeitar o presente magisterial e refugiar-se no passado.
Mas isso é neo-galicanismo, é rejeição do Magistério vivo em nome de
um Magistério passado interpretado subjetivamente por eles, que se
erigem como um novo Magistério vivo.
A Tradição da Igreja não é uma biblioteca de livros antigos, mas a vida
contínua do Espírito Santo ensinando através do Magistério legítimo.
Quem rompe com isso, rompe com a fé católica, ainda que recite as
fórmulas certas.
A verdadeira obediência não é ao estilo doutrinal de outro século —
mas à voz viva de Pedro.
O catecismo não é infalível — mas é vinculante
Outro truque usado por Haynes e seus semelhantes é dizer: “o
Catecismo não é infalível; portanto, posso rejeitá-lo”. Isso é sofisma de
desobediente em palavrório fútil.
Sim, o Catecismo não é infalível ponto a ponto — mas ele é
Expressão do Magistério ordinário autêntico
Confirmado por quatro Papas sucessivos
Destinado a ser norma segura para o ensino da fé.
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
Rejeitá-lo como “perigoso para a fé” é colocar-se fora da comunhão
doutrinal da Igreja. É dizer, na prática: “a Igreja ensina um erro; só eu
vejo a verdade.”
Essa atitude tem nome: protestantismo doutrinal com roupa de missa
tridentina.
Haynes terminou fundando sua própria Igreja
O Capítulo dez é a assinatura do cisma.
Depois de 200 páginas em que distorce, omite, exagera, recorta e
reconstrói o Catecismo para parecer herético, Haynes conclui que o
problema não é apenas um parágrafo mal escrito. É o projeto inteiro. É
a Igreja atual. É o Magistério vivo. É Pedro.
E ele convida você, leitor, a seguir não a Igreja — mas o juízo privado
dele sobre textos do Magistério antigo. É Lutero, e de terno e gravata
borboleta.
A verdade é simples
O Catecismo da Igreja Católica é magistério
Ensina com fidelidade o depósito da fé
E foi dado à Igreja para ser crido, estudado e vivido com confiança
filial.
Rejeitá-lo é rejeitar a autoridade de Pedro. Rejeitá-lo é construir uma
fé paralela. Rejeitá-lo é abandonar a barca e construir jangada em
nome da Tradição.
Haynes não nos convida à fidelidade — nos convida à rebelião com
capa de piedade.
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
Conclusão
Depois de dez capítulos dedicados a dissecar o Catecismo da Igreja
Católica com um bisturi cego e um espírito de desconfiança
permanente, Michael Haynes chega ao desfecho natural de sua
empreitada: a rejeição completa do texto promulgado por São João
Paulo II como expressão fiel da fé da Igreja. Sem meias palavras,
Haynes afirma que o Catecismo, embora contenha passagens belas, é
no todo uma obra ambígua, perigosa, marcada por rupturas doutrinais
— e que, por isso, deve ser deixado de lado por todos os católicos que
desejam conservar intacta a “fé de sempre”. Com isso, deixa de ser um
crítico e passa a ser um revolucionário. Sim, revolucionário — pois, ao
propor que o fiel rejeite um documento do Magistério ordinário e
universal da Igreja, Haynes não está fazendo teologia: está plantando o
germe do cisma sob a capa de um zelo piedoso.
É necessário dizer, com todas as letras: o Catecismo da Igreja
Católica, aprovado por João Paulo II e redigido sob supervisão do
então cardeal Joseph Ratzinger, é uma expressão legítima, orgânica e
segura da fé católica. Isso não é opinião: é doutrina magisterial. Bento
XVI o afirmou com todas as letras em sua carta apostólica Porta Fidei:
“[No Catecismo,] de fato, sobressai a riqueza de doutrina que a Igreja
acolheu, guardou e ofereceu durante os seus dois mil anos de história.
Desde a Sagrada Escritura aos Padres da Igreja, desde os Mestres de
teologia aos Santos que atravessaram os séculos, o Catecismo oferece
uma memória permanente dos inúmeros modos em que a Igreja
meditou sobre a fé e progrediu na doutrina para dar certeza aos crentes
na sua vida de fé” (n. 11). É isso que está em jogo. Quando Haynes
rejeita o Catecismo, ele está rejeitando não apenas um livro, mas a
própria estrutura magisterial da Igreja. Está dizendo, em termos
práticos: “o Papa errou, a cúria errou, os bispos erraram, a Igreja errou
— eu, com meu compêndio de citações do século XIX, sou o último
guardião da verdadeira fé”. É o velho espírito do protestantismo, ainda
que travestido de catolicíssimo.
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
Contra esse delírio de purismo doutrinário, Bento XVI tem uma
resposta sólida. Com autoridade e serenidade, ele explica que “tradição
não é transmissão de coisas ou palavras, uma coleção de coisas mortas,
mas é o rio vivo que nos liga às origens, o rio vivo no qual as origens
estão sempre presentes” (Audiência geral, 26.IV.2006). A Tradição não
é uma múmia. É um organismo vivo, e, por isso mesmo, ela fala novas
línguas sem trair o conteúdo. O que Haynes vê como mudança de
doutrina, é apenas desenvolvimento legítimo. O que ele interpreta
como ruptura, é, na verdade, fidelidade dinâmica. Mas o autor de Os
Erros do Catecismo Moderno confunde estilo com essência,
linguagem com verdade, pedagogia com dogma. Ele quer que a fé
católica continue sendo dita como era em 1910, senão grita “heresia!”.
Só aceita como doutrina o que já conhecia — e rejeita tudo o que a
Igreja ensina se isso não for espelho da sua tradição de estimação.
Nesse sentido, Haynes é um mestre da paralisia doutrinal. Para ele, a
Tradição não vive, repete.
O erro mais grave do autor, porém, não é seu anacronismo. É sua
arrogância eclesiológica. Ele não diz isso com todas as letras —
porque sabe o peso que essas palavras teriam — mas insinua de forma
sistemática que o Magistério pós-Vaticano II é, no mínimo, duvidoso.
Que a Igreja entrou em erro. Que os Papas perderam o rumo. Que a
Roma de hoje já não é a Roma de sempre. E, por trás disso, está o
vício espiritual mais perigoso: o culto à própria interpretação da fé.
Quando Bento XVI afirmou que o Concílio preocupou-se em fazer que
“a mesma fé continue a ser vivida no presente, continue a ser uma fé
viva em um mundo em mudança” (Homilia, 11.X.2012), ele estava
cortando pela raiz toda essa ideologia restauracionista. Sim,
restauracionista — não no sentido nobre da palavra, mas no sentido
tóxico: uma nostalgia doutrinal que se recusa a reconhecer que o
Espírito Santo ainda fala, ainda guia, ainda ilumina a Igreja por meio
dos sucessores de Pedro. E quem rejeita isso, quem recusa o hoje da
Igreja, por mais latim que fale, por mais citações antigas que
colecione, já está em rota de colisão com a catolicidade.
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
Haynes é, nesse sentido, mais perigoso do que muitos teólogos
declaradamente heterodoxos. Estes, pelo menos, assumem sua
discordância com franqueza. Ele, ao contrário, se esconde sob a
bandeira da ortodoxia para plantar a suspeita, a insegurança, a
desconfiança. Não convida o fiel à formação, mas à resistência. Não
ensina a obediência filial, mas a crítica seletiva. Não o aproxima da
Igreja — o isola dela. Ao final, ele propõe ao leitor o seguinte dilema:
ou você rejeita o Catecismo com ele, ou você está traindo a Tradição.
Mas esse dilema é falso. A verdadeira escolha é outra: ou você
permanece com a Igreja viva, com Pedro, com os santos que confiaram
no Magistério, com Bento XVI, que chamou o Catecismo de
“instrumento seguro”, ou você segue o juízo privado de um crítico
amargurado, cuja autoridade é apenas o eco de seus próprios
ressentimentos doutrinais projetados sobre os pontífices do passado.
O livro de Haynes não é um apelo à ortodoxia. É um grito de medo.
Medo do presente da Igreja. Medo do mundo. Medo da linguagem
pastoral. Medo do dinamismo da fé. Mas a Igreja não pode ser guiada
pelo medo. Ela é conduzida pela confiança na promessa de Cristo: “Eis
que estarei convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28,20).
Quem acredita nessa promessa, aceita o Magistério com fé e
docilidade, mesmo quando não entende tudo de imediato. Porque sabe
que Cristo, que não falhou com Pedro em Cesareia, não falha com a
Igreja hoje. E porque sabe que o Espírito Santo não foi embora em
1965.
Portanto, depois de tantas páginas, a resposta é simples. Sim,
aceitamos o Catecismo. Sim, ele ensina a verdadeira fé. Sim, sua
linguagem é legítima, suas categorias são válidas, sua doutrina é
segura. Sim, nós confiamos em Bento XVI, que o defendeu. E não,
não seguiremos Haynes. Porque a Igreja já tem um Magistério. E não
precisa de substitutos. Fique com Pedro. Fique com a Igreja. Fique
com a fé católica inteira, viva e atual. O resto é barulho.
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
É por isso que, depois de atravessar o labirinto doutrinário que este
livro apresenta — cheio de espelhos deformantes, atalhos para o cisma
e becos sem saída — só nos resta uma palavra: lealdade. Lealdade de
filhos, aquela que nasce da confiança, da fé, da certeza inabalável de
que Cristo não abandonou a Sua Igreja. Obediência cum Petro, com
Pedro, porque sem Pedro não há unidade; e sub Petro, sob Pedro,
porque sem submissão não há comunhão. E hoje, essa obediência se
encarna num nome concreto, num rosto visível, num Sucessor de
Pedro real: Papa Leão XIV, aquele que Deus nos deu, e sob cujo timão
se purifica, reforma-se e se renova a barca de Pedro.
Leão XIV, novo Doutor Universal, mestre da fé e médico silencioso da
alma da Igreja, não precisa inventar nada. Basta-lhe repetir a Verdade
com amor firme, corrigir com paciência, ensinar com autoridade. E é
justamente por isso que os inimigos da Igreja e os adeptos de satã se
incomodaram tanto com a sua eleição: porque é pedra viva, não vitrine
histórica. Porque é Pedro, e não museu. Porque, sob sua orientação, a
Igreja não retorna ao passado como quem foge, mas como quem finca
os pés no chão firme da Tradição para avançar com segurança no meio
da tempestade. A fidelidade a esse Papa (ao Papa de hoje, vivo, em
carne e osso) não é acessório devocional — é condição de
catolicidade. Fora dessa obediência, tudo é fragmentação, orgulho
doutrinário e seitas de verniz tradicional.
É tempo de escolher. Não entre doutrinas — pois a doutrina é uma só,
viva e indivisa —, mas entre estar dentro ou fora da comunhão visível,
concreta e encarnada da Igreja. Quem ama a verdade, ama a Igreja.
Quem ama a Igreja, ama o Papa. E quem ama o Papa, escuta seu
Magistério, reza com ele, sofre com ele, ensina com ele. Não há outro
caminho.
Licenciado para - Leticia Soraya Mantovani - undefined - Protegido por Eduzz.com
Portanto, que se cale a soberba e fale a fé. Que os doutores paralelos
recolham seus tratados. Que os mestres sem missão e os juízes sem
jurisdição dobrem seus joelhos. E que o povo fiel, humilde e firme,
levante os olhos para Roma e diga com o coração em paz: Credo,
Domine, cum Petro et sub Petro. Com Pedro, e sob Pedro. Com Leão
XIV, sucessor de Pedro, bispo de Roma, servo dos servos de Deus.
Onde está Pedro, ali está a Igreja. E onde está a Igreja, ali está Cristo,
está Deus!