Aula 02 – Direito do Consumidor – dia 29/07/2017
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Tópicos muito importantes na nossa disciplina:
- Relação de Consumo (para você saber aonde aplica o CDC);
- Direitos básicos dos consumidores, que foi a aula da semana passada onde falei sobre a
inversão do ônus da prova, serviços públicos, e tudo mais;
- Princípios: Mas quando o caso concreto não se amoldar a uma das hipóteses da lei, pode ser
que o caso concreto escorregue pela letra da lei, e o que temos como rede de proteção? No
nosso ordenamento jurídico? Uma coisa chamada de “Princípios”. Então nós estudamos os
direitos básicos e relação de consumo.
O que vamos aprender hoje? Bem, essa aula é maravilhosa para quem já está trabalhando com
direito do consumidor e quer colocá-lo em prática, porque até então nós tivemos aulas teóricas. A
partir de hoje é como é que eu coloco o direito do consumidor na prática. Primeira parte da nossa
aula será sobre o tema vício, porque daqui pra frente toda a nossa matéria vai se dividir em
confrontar o tema vício com o tema fato.
VÍCIO DO PRODUTO OU SERVIÇO
Vício: trata-se de uma frustração de expectativa, ou seja, uma decepção do consumidor em
relação ao bem de consumo.
Se alguém aqui nessa sala já se decepcionou com uma pessoa sabe o que é isso. Quando você
se decepciona com uma pessoa você esperava que aquela pessoa tivesse uma postura, que ela
reagiria de uma forma, mas ela reage de uma forma diversa. Isso pode acontecer com pessoa ou
com bem de consumo.
Então, o que é um vício de consumo?
Quando você compra uma TV, qual sua expectativa? É que você vai assistir sua programação.
Então, se você for pra sua televisão e não conseguir assistir sua programação você se
decepciona com aquele bem de consumo e você pode afirmar que aquele produto está viciado.
Qual a expectativa de alguém quando compra um relógio? Ver as horas. Então, se você compra
um relógio e ele não te informa as horas, você tem uma frustração de expectativa e pode dizer
que aquele relógio está viciado.
Só que tem muitas coisas que podem acontecer com o bem de consumo. Ele pode apresentar
apenas um vício, uma falha, ou esse bem de consumo pode frustrar muito sua expectativa
causando até mesmo um dano, ou seja, um fato.
FATO DO PRODUTO OU SERVIÇO
Fato: acidente de consumo, ou seja, o produto ou o serviço causam dano ao consumidor.
p.ex: Compro uma TV e ela explodiu. Não foi uma simples falha do aparelho, uma frustração de
expectativa, isso foi um dano, um prejuízo causado.
Ou mesmo, comprei um carro, ele soltou a roda e eu capotei.
Comprei um ventilador, e ele não ventilou direito: isso é vício. Mas se ao invés disso ele solta a
élice e me atinge, é um fato do produto.
Então, fato é igual a vício + sangue, ou seja, é mais do que um vício. Quanto ao sangue, até
mesmo um dano moral pode ser enquadrado como fato.
Vocês vão notar que toda matéria se divide a partir daqui, e se você não sabe bem essa diferença
você acaba cometendo erros.
TIPOS DE VÍCIO
Vamos começar com o tema vício que vai do artigo 18 ao artigo 21 do CDC.
Vocês já tem um conceito de vicio que é uma frustração de expectativa, só que agora o que
acontece quando um produto está viciado? Essa vício pode se apresentar de duas formas:
- Vício de qualidade: se vício é frustração de expectativa, vício de qualidade se dá em relação ao
funcionamento do bem de consumo.
- Vício de quantidade: Quando falo em frustração quanto a quantidade do produto, é que a
quantidade do produto veio menor do que aquele que veio ofertada.
Ex: Ao comprar uma Tv, se ela não funciona adequadamente, trata-se de frustração de
expectativa, sendo vício de qualidade. Vicio de quantidade seria quando eu compro uma garrafa
de um litro de água mineral e vieram 800 ml. Então veio uma frustração de expectativa com
relação à quantidade do bem ofertado.
Onde mais acontece vício de quantidade é com frango congelado, já que ele é vendido por peso.
Quando se chega em casa e coloca ele pra congelar, ele perde toda aquela água. Então, ali é
vendido algo que foi ofertado de uma forma mas não corresponde a realidade.
Também acontece muito com combustíveis, sobretudo ao que diz à mistura de gasolina com
álcool, ou mesmo quando a bomba está adulterada e fornece menos combustível do que o que se
está fornecendo.
Repare que as vezes você abastece em postos de gasolina com o mesmo preço e em um você
acaba gastando mais que em outro. O que pode ter acontecido errado? O vício pode ser o de
quantidade.
PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE
Então, uma vez viciado o produto, isso por qualidade ou quantidade, adota-se o Princípio da
solidariedade. O CC/02 trabalha com a obrigação solidária, com a solidariedade no art 264,
acontecendo quando na mesma obrigação concorrem mais de um credor, mais de um devedor,
cada um com direito ou obrigado á dívida na sua totalidade. É a arte da concentração de toda a
responsabilidade não apenas a um dos agentes.
Quando falo sobre o princípio da solidariedade quando o produto apresenta vício, estou dizendo
pra você que se você comprar uma TV da Sony, na Ricardo Eletro, e esse produto apresentou um
vício de qualidade ou de quantidade, pelo princípio da solidariedade você pode entrar com ação
contra um ou contra o outro, e se quem foi demando não tem culpa, não interessa, pois a
responsabilidade é objetiva. Ele poderá depois pedir o que suportou em regresso, mas a norma foi
criada para não deixar o consumidor perdido entre saber de quem foi a culpa.
Por isso não cabe denunciação da lide no CDC, então, um deles responde. Ou seja, é errado
demandar contra todos.
p. ex: Você está com sua namorada e 10 caras fortões dão em cima dela. Normalmente você
fingiria que não viu nada e iria embora, mas dessa vez você fica e fala que vai enfrentar a todos.
Eles dizem pra você escolher um e você fala pra virem todos de uma vez. Seria a mesma coisa
demandar contra todos os solidariamente responsáveis.
Se você pode escolher se vai brigar contra a Ricardo Eletro ou a Sony, escolha apenas um.
Eu vou ensinar pra vocês que existe a solidariedade quando se fala em vício, mas quando
começarmos a ver fato, eu vou mostrar a vocês que o comerciante tem ilegitimidade passiva,
ilegitimidade passiva pelo fato do produto ou serviço. Ou seja, se for vício você pode demandar
contra o fabricante ou comerciante, se for fato, não pode demandar contra o comerciante, se não
vou ter que pagar sucumbência pra aquele cara.
Se te vendi um Samsung Note e ele explode e fere seu tímpano. Imagine quanto você pediria de
indenização por algo do tipo. Agora, imagine se no processo onde pediu 1 milhão você
demandasse em face da Samsung e a loja que te vendeu o produto, a Ricardo Eletro. Como dito,
sendo o comerciante ilegítimo para responder pelo fato do serviço, o pedido vai ser procedente
contra a Samsung e improcedente contra a Ricardo Eletro. Lembremos que o valor da causa era 1
milhão, depois de 6 anos de processo, com perícia, recursos, etc, o juiz pode achar razoável que
o advogado da Ricardo Eletro, que durante 7 anos atuou na causa, é credor de 10% de honorários
sobre o valor da causa, o que daria 100 mil. Se levarmos em consideração que o TJRJ está dando
sentenças na base de 20 mil para perda da função do tímpano, teríamos 20 mil de ganho e 100
mil de sucumbência, porque você aprendeu que na dúvida, deve-se demandar contra todos.
Isso está caput do art 18 do CDC.
PRAZO PARA SANAR O VÍCIO
Agora vamos para a segunda regra que está no art. 18, p 1º do CDC.
Vamos supor que você comprou uma Tv para o quarto do seu filho. Quando instalada a tv e ligada
pela primeira vez, o controle não funciona pois o infravermelho estava quebrado. Você pega e tv e
volta a loja para trocar. Você pode trocar essa Tv?
Não, o fornecedor não é obrigado a trocar o seu produto, pois o art 18, p 1º, diz que o fornecedor
tem um prazo de 30 dias para sanar o vício. Então, ele não é obrigado a trocar na hora.
Informativo do STJ de 2017 trouxe caso concreto onde o consumidor comprou produto que
apresentou vício e logo demandou contra a empresa sem aguardar os 30 dias para o concerto. Os
ministros entenderam que o fornecedor tem 30 dias para sanar e deram improcedência.
Caso o fornecedor não realize o concerto em 30 dias, entregando no dia 31, p.ex., faz surgir o
direito potestativo do consumidor de requerer:
- a troca do produto;
- a devolução dos valores pagos, sem prejuízo das perdas e danos; ou
- o abatimento proporcional do preço.
Então, não existe direito de troca antes dos 30 dias. Caso não seja feito o concerto, então vem a
troca.
Existe o direito ao arrependimento, mas este só é aplicável a compras realizadas fora do
estabelecimento comercial, então se o contrato foi celebrado pelo telefone, internet, pela tv, nesse
caso existe o direito de se arrepender em 7 dias.
O artigo não menciona que o produto deve estar na embalagem para ser trocado e nem fala sobre
a necessidade de ter essa embalagem para ser efetivada a troca, apesar de ser prática usual do
mercado. Então, caso o fornecedor não realize a troca, ou mesmo a faça de forma não
satisfatória, além da troca pode ainda ensejar perdas e danos.
Se você foi a loja, viu o produto, pegou na mão e comprou, depois pode se arrepender? Não. Não
tem nem mesmo direito de troca.
Os negócios jurídicos são feitos para serem cumpridos, então, não caberia ao CDC estabelecer o
direito de troca a qualquer momento. É através dos contratos que se gera renda, riqueza, o estado
anda e se remuneram as empresas, ou seja, é importante fazer girar essa economia e os
negócios jurídicos precisam ser respeitados.
Então, caso o produto seja apresentado para concerto do vício e este não seja sanado em até 30
dias, o consumidor tem direito ao dinheiro de volta, além das outras hipóteses. Caso o fornecedor
se recuse a devolver o dinheiro, o art 66 determina detenção de 6 meses a 1 ano e multa.
ABATIMENTO DO PREÇO
O consumidor pode também optar, no caso de não sanado o vício em ficar com o produto, sendo
abatido uma parte do seu valor. É o que acontece, p.ex., na venda de ponta de estoque. O
fornecedor já está cumprindo a lei e abatendo uma parte do preço. Então, se você comprou um
produto, descobre que tem vício, mas ainda assim quer ficar com ele, você pode pedir o
abatimento.
Um exemplo ocorre na compra de carro, onde o vendedor afirma que aquele modelo não sairá de
linha e ele sai logo depois da compra. Perceba que o carro está bom, não tem defeitos, mas só o
fato de ter saído de linha causa uma desvalorização muito grande logo após a compra. Ou seja,
por conta daquela informação ocorreu um vício no produto e o consumidor pode pedir um
abatimento de preço por conta da desvalorização que ocorreu em função do modelo ter saído de
linha, informação essa que, caso o consumidor soubesse previamente, poderia ter influenciado na
sua decisão de compra ou mesmo na fase de negociação. Logo, se o vendedor tivesse avisado
sobre esse dado essencial, o que pode ser até mesmo considerado publicidade enganosa por
omissão, o consumidor poderia ter comprado mais barato, já que lugares em que tal informação é
prestada os carros são vendidos com abatimento do preço.
Podemos colocar como exemplo também um caso concreto em que a consumidora compra
biquíni de laço com defeito em um dos laços por conta de erro na hora da costura da ponta usada
para fazer o nó, o que a deixava esgaçada e descosturando. A consumidora consegue comprar o
biquíni com abatimento do preço por conta do vício e acaba faz o conserto deste em sua
residência. Ao usar o produto na praia, esta acaba passando por constrangimento pois ao sair da
água, o forro do biquíni havia se soltado, a deixando nua. Demanda a empresa, a consumidora
levou R$ 5.000,00 de danos morais já que mesmo que tenha comprado o bem com abatimento de
preço por conta do vício aparente, o produto apresentou vício oculto que só foi constatado na hora
do uso, e tal vício deveria ter sido informado no momento da compra, tendo em vista que tratar-se
de dado essencial para utilização do bem.
Então, abater o preço não quer dizer clausula geral de irresponsabilidade.
Resumindo, o vício, que é a frustração de expectativa, pode aguardar relação com a qualidade ou
quantidade. Se surgir um vício de qualidade ou de quantidade, é aplicado o Princípio da
solidariedade, podendo o consumidor demandar contra o vendedor e o fabricante. O fornecedor
não tem obrigação de trocar o produto, ele tem prazo de 30 dias para sanar o vício e caso não o
faça, no 31º surgem 3 direitos ao consumidor: a troca, a devolução do valor pago ou abatimento
proporcional.
REDUÇÃO DO PRAZO PARA SANAR O VÍCIO
O prazo de 30 dias convencionalmente pode ser reduzido para até 7 ou ampliado para até 180
dias. Convenção dá sentido de vontade, de acordo entre as partes, então, caso se esteja diante
de um contrato de adesão, não é possível se dizer que existe vontade entre as partes de contratar
daquela forma, já que o contrato já vem pronto. Então perceba, no caso dessa redução ou
ampliação do prazo, o é ideal que venha em termo apartado escrito de próprio punho, pois a
redução ou ampliação quando vem em contrato de adesão pode ser suscitada a nulidade da
clausula.
A redução até poderia vir em contrato de adesão, já que esta beneficiaria o consumidor, mas a
clausula de ampliação do prazo, não.
Existe uma exceção à regra, quando se está adiante de produto ou serviço essencial não é
necessário aguardar prazo nenhum. Não acredito que seja questão cobrado em concurso pois já
caiu em concurso da magistratura do rio e a questão foi anulada, já que a definição de serviço
essencial é subjetiva. É mais provável que caia em prova discursiva.
Então, a lei estabelece que não é necessário aguardar o prazo de 30 dias em caso de serviço
essencial. Imagine que cortaram a água da sua casa por vício, precisaria se aguardar 30 dias para
ligar? Não!
Ou mesmo quando a substituição de uma peça importar em grande desvalorização do bem, p.ex.,
você compra um rolex com garantia perpétua e levar para a garantia devido a algum mau
funcionamento. Consertado, depois de um tempo essa pessoa leva o relógio para penhorar e
descobre que houve substituição de peça, o que causaria desvalorização do produto, que de
cerca de 20 mil reais passaria para 2 mil já que as engrenagens não teriam a mesma precisão de
antes. Então, o consumidor não precisa aguardar o prazo de 30 dias, pode logo optar por uma das
3 hipóteses do artigo 18.
Então, o prazo de 30 dias não é observado quando tratar-se de serviço essencial ou quando a
substituição de peça importar em desvalorização substancial do bem de consumo.
VÍCIO APARENTE E VÍCIO OCULTO
Esse vício, que pode ser de qualidade ou quantidade, também pode ser aparente ou oculto.
Vício aparente é aquele de fácil identificação. Ou seja, logo na primeira utilização você já
consegue identificar o problema, p.ex., você compra um relógio e não tem um ponteiro; comprou
um carro na internet e ele não veio com banco do carona.
Vício oculto é aquele que se manifesta em momento posterior.
O maior recall da história aconteceu a pouco tempo com uma picape da Nissan, que apresentava
problema no airbag, o qual, na hora que abria, acabava jogando peças de plástico em alta
velocidade para todos os lados, o que poderia ferir quem estivesse no caminho. Perceba que esse
vício não era perceptível na hora da compra e não era possível prever que aquele aparelho de
segurança se comportaria dessa forma em uma situação em que fosse usado, portanto, sendo
vício oculto.
Outro exemplo seria comprar um carro cuja pastilha de freio duraria cerca de 40 mil quilômetros
rodados, mas o fabricante, a fim de economizar, compra uma de menor qualidade que aos 20 mil
quilômetros rodados já necessita de troca. Nesse caso só seria possível identificar o problema
depois dos 20 mil quilômetros rodados, portanto, vício oculto.
Isso faz toda a diferença, já que o prazo para o consumidor no vício aparente e no vício oculto são
diferentes, no caso do vício oculto o prazo passa a correr a partir da identificação do vício.
PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO VÍCIO E NO FATO
Decadência, art 26 do CDC.
Prescrição, art 27 CDC.
O legislador, a fim de simplificar o tema, fixou que toda vez que ocorrer vício, operará a
decadência. Toda vez que for fato, operará a prescrição.
O prazo decadencial é de 30 e de 90 dias, sendo 30 dias para produtos não duráveis e 90 dias
para produtos duráveis.
Já o prazo prescricional é de 5 anos.
Produtos não duráveis são aqueles que se destroem na primeira utilização. Ex: comprei uma
maçã e comi, ou seja, ela se acabou. É não durável. Uma ótima forma de se analisar se um
produto é durável ou não é imaginar uma sala onde você coloca aquele produto que você está em
dúvida. Imagine você colocando um computador nessa sala, se você abrir ela depois de 10 aos o
produto ainda estará la? Sim, então é durável. Agora imagina colocar uma jaca nesse mesmo
local, ela vai estar lá depois de 10 anos? Não, vai estar podre.
Imagine que você comprou um carro da VW. Você é consumidor final do produto e a VW a
fornecedora, sendo o carro um produto, estando configurada a relação de consumo. Se o carro
está engasgando, esse problema seria um vício do produto, operando a decadência sobre ele de
90 dias.
Contudo, se você compra uma TV, ela explode e fere a sua sogra. Sua sogra é consumidora?
Sim, por equiparação. Sendo a SONY a fornecedora, e presente o fato do produto, opera a
prescrição em 5 anos.
O INÍCIO DA CONTAGEM DO PRAZO DECADENCIAL NO VÍCIO
O início da contagem do prazo se verifica a partir da identificação do tipo de vício, que pode ser
aparente ou oculto.
No vício aparente o prazo decadencial começa a correr a partir da tradição (recebimento do bem),
tendo em vista que este é de fácil percepção.
Já no vício oculto o prazo decadencial começa a correr quando o vício é constatado, é
manifestado. Então, se o vício se manifestar em 6 meses da compra, o prazo começa a correr em
6 meses.
Neste sentido, os prazos de 30 e 90 dias são garantias que o legislador impõe, previstas no art 26.
Então, são garantias legais. Existe ainda a garantia contratual, a qual é pactuada entre as partes.
O art 50 do CDC estabelece que a garantia contratual será complementar à garantia legal,
portanto, deve-se somar as duas. Se você recebeu um ano de garantia contratual em um produto
não durável, o prazo real de garantia é de 90 dias (legal) mais 1 ano (contratual), totalizando 1 ano
e 90 dias.
Importante notificar o fornecedor quando constatado o vício, já que esta notificação obsta a
decadência, ou seja, a notificação do consumidor ao fornecedor quanto a um vício em produto
durável obsta a fruição do prazo decadencial até uma resposta inequívoca deste. P.ex: comprei
uma cabeceira de cama e verifiquei o vício. Comuniquei o fornecedor, o qual informou que não
faria o concerto ou troca. A partir dessa resposta começa a contar o prazo decadencial de 90 dias.
A garantia contratual é complementar à garantia legal, então, primeiro conta-se a legal. No caso
de vício aparente, conta-se os 90 dias e terminados, mais 1 ano.
Já quanto ao vício oculto, se este ocorrer em 1 ano, somente a partir dae começam a correr os 90
dias legais e então o prazo de 1 ano contratual.
Mas isso não quer dizer que você pode chegar a qualquer momento, depois de vários anos, e
alegar o vício oculto, já que é considerada a vida útil. P.ex: um produto foi concebido para durar
10 anos, quer dizer que ele tem uma vida útil de 10 anos e ele deverá durar 10 anos e não apenas
o tempo contratual de 1 ano dado pelo fornecedor. Então, se o produto quebrar com 8 anos, existe
o direito, tendo em vista que trata-se de vício oculto e seu prazo decadencial começa a correr a
partir de então.
Mas como se verifica que acabou a vida útil? Através de prova pericial, já que existem produtos,
como veículo, p.ex. que tem a pintura com uma determinada vida útil, o motor tem outra, a lataria
tem outra, ou seja, tem vários componentes tem têm vida útil diferentes.
Uma questão processual importante nesse sentido é que no JEC não é possível requerer perícia,
então o processo teria que ser distribuído em vara cível.
Então o início do prazo decadencial no vício aparente é o momento da entrega e do vício oculto
no momento que surge o vício, sendo a data limite para verificação do vício oculto o término da
vida útil, segundo teoria do Ministro Herman Benjamin, do STJ.
O INÍCIO DA CONTAGEM DO PRAZO PRESCRICIONAL NO FATO
Fato é sinônimo de dano, então, o início da contagem do prazo prescricional do fato do produto ou
serviço é o momento do dano.
Dessa forma, existe o vício, existe o fato e além deles o defeito, na forma do art. 12, p 1º do CDC.
Defeito: o produto é defeituoso quando não possui a segurança que dele legitimamente se espera.
DEFEITO
Então, se você compra uma garrafa de 600 ml e vem 500 ml, o nome disso é vício.
Já naquele exemplo anterior de fato, em que o airbag do carro poderia causar danos aos
consumidores, o fato é observado quando o dano é causado. Então, se ainda não ocorreu o dano
(fato do produto), esse produto tem um defeito, e o dia que este defeito se manifesta (o airbag
abre e causa ferimentos), ele se transforma em fato.
A doutrina define da seguinte forma: o vício é forma de frustração de expectativa. Defeito é uma
frustração de expectativa, mas que guarda relação com a segurança do bem de consumo.
Mas na prática só temos prazo para vício e para fato. Não tem prazo para defeito.
Na pratica o que importa é: causou dano? Causou, então o prazo é prescricional de 5 anos e é
fato.
Se não causou dano, então o prazo é de 30 ou 90 dias. O defeito está no meio do caminho,
enquanto ele ainda não acontece, se tem o prazo de vício, quando ele já aconteceu, tem prazo de
fato, mas são três elementos distintos.
P.ex: imagine você em uma cadeira de praia com regulagem de encosto. Justamente na hora em
que você está com o dedo dentro de um dos dentes da trava do encosto, a cadeia destrava tendo
potencial de arrancar seu dedo fora. Verificado o defeito.
Resumindo, se o problema do produto não tem potenciar de machucar: vício. Se pode machucar:
defeito. Se machucou: fato.
RESPONSABILIDADE CIVIL PELO FATO DO PRODUTO E FATO DO SERVIÇO
Quando se fala sobre fato do produto ou fato do serviço, estamos abordando responsabilidade
civil nas relações de consumo.
A lei trata do tema no art. 12, que disciplina o fato do produto, art.13 fala da responsabilidade civil
do comerciante, o art 14 fala do fato do serviço, art 14, §4º fala da responsabilidade civil dos
profissionais liberais, art 15 e 16 foram vetados e ao art. 17 fala do consumidor por equiparação.
O art 12 diz que o fornecedor do produto vai responder independentemente de culpa.
O art 14 diz que o fornecedor de serviço responde independentemente de culpa.
A responsabilidade é objetiva por força de lei e pela adoração da teoria do risco. O CDC aborda a
responsabilidade por duas vias, já que a adota a responsabilidade objetiva no art 12 e 14 além de
adotar a Teoria do Risco do Empreendimento.
Empreender é uma atividade que tem risco, então, se você desenvolve uma atividade comercial
que como fruto se quer lucro, o agente vai absorver os bônus e ônus.
Existe uma exceção, que é a responsabilidade subjetiva dos profissionais liberais, uma vez que
estes teriam apenas obrigação de meio e não de resultado.
Contudo, nem todo profissional liberal assume obrigação meio. Um cirurgião plástico medico
cosmético é de resultado, mas aquele que está fazendo operação de correção, é de meio.