LE 302A– Física Experimental II
Prática de Laboratório
Prof. Dr. Marcos Henrique Degani
Universidade Estadual de Campinas
FCA – Faculdade de Ciências Aplicadas
Curso de Engenharia de Manufatura e Engenharia de Produção
Disciplina: Física Experimental II
Data de entrega do relatório: 23/03/2023
PÊNDULO SIMPLES
Turma: A
Componentes do grupo
Nome: Adriel Gardini Santos R.A.: 184659
Nome: Cauã Bragas Borges Batista R.A.: 185108
Nome: Felipe Siqueira dos Santos R.A.: 254951
Nome: Lorenzo Borba Brambilla R.A.: 183979
Nome: Octávio Lima de Gusmão R.A.: 186877
RESUMO
No presente trabalho, foi analisado o experimento do pêndulo simples, que se baseia
na óptica de Isaac Newton acerca do estudo da gravidade. Para tanto, foi analisado o
movimento do pêndulo e com as informações obtidas foi possível plotar gráficos relacionando
diferentes componentes do movimento. Isso permitiu determinar a relação de dependência ou
não entre as variáveis: Massa, amplitude, tempo e o comprimento do pêndulo, de modo que
tornou-se possível estimar a aceleração da gravidade.
Apesar de erros de medição, os resultados foram equivalentes às observações de
Newton.
INTRODUÇÃO
Antes do primeiro livro “Principia Mathematica” escrito por Isaac Newton no século
XVII, a definição da natureza da aceleração gravitacional era cercada por uma cacofonia de
teorias que a consideravam como uma grandeza dependente de fatores físicos, químicos ou
geométricos dos materiais, agindo de forma distinta em corpos diferentes, uma vez que o
famoso experimento de Galileu não podia provar com precisão o comportamento das forças
gravitacionais.
A partir disso, Newton formulou um experimento simples no qual, utilizando-se de
dois pêndulos com materiais distintos e massas iguais pôde excluir o maior número de
variáveis possíveis, de forma que se houvesse alguma variação a se notar a mesma se daria
exclusivamente devido à aceleração gravitacional agindo de forma distinta sobre os corpos.
Por fim, Newton obteve como resultados períodos quase idênticos para todos os materiais
testados, formulando dessa forma a natureza da gravidade como uma aceleração inerente a
todos os corpos (BIENER; SMEENK, 2004).
Apoiando nisso, o mesmo lançou as pedras fundamentais para o então estudo do
movimento pendular de um corpo que descreve uma trajetória curvilínea com um raio
constante como ilustra a figura 1.
Figura 01 - Ilustração pêndulo circular simples
Fonte - MITCHELL, 2018 - Finding the period of a simple pendulum
Assim, aplicando as leis de Newton, temos que o torque, ou seja a força para fazer a
partícula rotacionar ao redor de P, é igual ao momento de inércia (descrito por 𝑚𝑙²) do peso
( ), na forma:
2
𝑑θ
multiplicado pela sua aceleração angular 2
𝑑𝑡
τ = 𝐼α
Reescrevendo esta fórmula para o torque em um vínculo temos que τ = 𝐹𝑟, para a qual 𝐹 é a
força aplicada e 𝑟 é a distância ortogonal da força até o ponto de rotação, que no caso do
pêndulo, de acordo com a figura 1 se torna τ =− 𝑙𝑚𝑔𝑠𝑖𝑛(θ), assim, unindo-se as duas
equações obtém-se:
𝑑²θ 𝑑²θ 𝑔
− 𝑙𝑚𝑠𝑖𝑛(θ) = 𝑚𝑙² 𝑑𝑡²
→ 𝑑𝑡²
=− 𝑙
𝑠𝑖𝑛(θ)
𝑔
Dado que ω = 𝑙
têm-se a equação fundamental do movimento pendular simples:
𝑑²θ
𝑑𝑡²
=− ω²𝑠𝑖𝑛(θ)
𝑠𝑖𝑛(𝑥)
Partindo da fórmula, é possível assumir a seguinte aproximação lim 𝑥
= 1, na qual
𝑥→0
𝑑²θ
quando 𝑥 → 0, 𝑠𝑖𝑛(𝑥) → 𝑥, assim, 𝑑𝑡²
=− ω²θ que é uma equação diferencial ordinária
,, ,²
não linear e de segunda ordem: θ =− θ θ cuja solução geral, tendo aplicada a equação de
Euler é: θ = (𝐶1 + 𝐶2)𝑐𝑜𝑠 ω𝑡 + 𝑖(𝐶1 + 𝐶2)𝑠𝑖𝑛 ω𝑡, que simplificada retorna:
θ = 𝐴𝑐𝑜𝑠 ω𝑡 + 𝐵𝑠𝑖𝑛 ω𝑡
2π
A qual descreve a variação de θ ao longo do tempo e por definição, possui um período de ω
,
2π
uma vez que o período tanto de 𝐴𝑐𝑜𝑠 ω𝑡 como de 𝐵𝑠𝑖𝑛 ω𝑡 é igual a ω
.
2π 𝑔
Por fim, manipulando ω
com ω = 𝑙
, obtemos a equação aproximada a qual será
utilizada para as análises apresentadas:
𝑙
𝑇 = 2π 𝑔
Sendo assim, pertinente relembrar que a mesma possui uma precisão aceitável apenas para
ângulos pequenos, não muito maiores que θ = 10° (MITCHELL, 2018)
OBJETIVOS
Repetir o experimento de Newton com pêndulos, comparando os resultados com os
valores e comportamentos esperados pelo modelo teórico utilizando ferramentas e métodos
transpassados pelos professores.
Espera-se verificar as relações entre massa e período, amplitude do ângulo e período
assim como o comprimento do pêndulo e o período de oscilação. Por fim utilizaremos os
resultados obtidos para calcular a aceleração da gravidade e seu respectivo erro.
METODOLOGIA
Para a realização do experimento do pêndulo foram concedidos suporte, gancho,
pesos de 10 gramas e 50 gramas, cronômetro, balança e trena, além do smartphone de um
dos integrantes.
Para a primeira parte do experimento, o conjunto corda e gancho foi medido em 1,19
metros e o gancho foi configurado com pesos, alcançando a massa final de 51 ± 1 gramas,
após isso foi definido, a partir de uma referência (utilizando - se do centro do suporte
montado), um ângulo estimado de 12° para o início da oscilação do pêndulo. Após soltar o
mesmo, cronometrou-se o tempo de 4 períodos para os seguintes pesos respectivamente: 101,
151 e 201 gramas, com todos possuindo erro experimental de ± 1 grama.
Na segunda parte do experimento, foram utilizados os mesmos comprimentos da parte
anterior, entretanto, com um peso fixo de 100 ± 1 g com diferentes ângulos de soltura, os
quais foram medidos por meio do aplicativo Medidas, da Apple. Foram feitas variações de
ângulos entre 5° ,10° ,20° e 40° com o tempo de 4 períodos sendo cronometrado por um
integrante do grupo, com a finalidade de se reduzir os erros experimentais a partir do maior
número de amostras.
Para parte 3, o peso e o ângulo de soltura foram fixados em 100 ± 1 g e 5°, com o
tamanho da corda variando de 30 ± 0,05 cm até 100 ± 0,05 cm com incrementos de 14 cm
entre cada intervalo experimental, com o tempo de 3 períodos sendo cronometrados na
realização da coleta de dados.
Figura 2: Equipamento utilizado para medição e realização do experimento.
Fonte: Autores, 2023
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Parte 1
Primeiramente, partiu-se do pressuposto que T (período) independe de M (massa). A
partir disso, utilizou-se os dados obtidos ao decorrer do experimento para plotar um gráfico T
versus M usando o software Origin (Figura 3).
Figura 3: Gráfico M (gramas) versus T(segundos), feito pelo Origin
Fonte: Autores, 2023
Ao analisar o perfil do gráfico gerado acima, percebe-se que com a alteração da massa
o tempo sofre pequenas alterações sugerindo um perfil linear onde T é constante. Para testar
essa hipótese foi realizado o fit linear dos pontos e suas incertezas, de modo que chegou-se a
seguinte equação no formato: 𝑌 = 𝐴𝑋 + 𝐵.
−4 −5
𝑌 = (2 * 10 ± 6 * 10 ) * 𝑋 + (2, 165 ± 0, 009)
Verificando o R² (coeficiente de determinação, que indica o quão bem a reta se
encaixa à mostra de dados numa escala de 0 à 1 com um sendo um encaixe perfeito) desta
reta em relação aos dados plotados no gráfico temos: 0,75.
A princípio este resultado estaria longe do ideal, no entanto considerando-se a baixa
amostragem de pontos assim como o erro humano na medição do tempo podemos considerar
o fitting linear adequado para a amostragem de pontos obtida no experimento.
Tomando então a equação encontrada, é visível que a inclinação descrita pela reta
−4 −5
ideal aproxima-se de 0 em (2 * 10 ± 6 * 10 ), confirmando assim a hipótese de que o
período (T) e a massa (M) são independentes entre si, não existindo portanto uma correlação
pertinente entre os valores e provando a hipótese apresentada inicialmente.
Parte 2
Em seguida, investigou-se a dependência entre o ângulo (º) e o período (T). Para
tanto, plotamos o gráfico abaixo usando os valores obtidos no experimento.
Figura 4: Gráfico Ângulo(º) versus T(segundos) (Origin)
Fonte: Autores, 2023
Novamente, ao analisar o perfil do gráfico tem-se a impressão de um perfil
linear(considerando que a variação dos valores é pequena) no qual T aproxima-se de
constante, embora muito mais disperso que o gráfico anterior. Para testar essa hipótese foi
feito o fit linear dos pontos e suas incertezas de modo que a seguinte equação de reta foi
encontrada:
𝑌 = (0, 002 ± 0, 001) * 𝑋 + (2, 22 ± 0, 03)
Verificando o R² desta reta, obteve-se : 0,029. Esse resultado normalmente indicaria
uma completa inadequação do fitting utilizado para descrever o comportamento dos dados
encontrados. No entanto sabe-se que num cenário ideal, no que implica em ângulos muito
próximos de 0°, o esperado seria um comportamento linear no qual T é constante,
comprovando a hipótese dada acima. Sendo assim, assume-se, assim como na primeira
investigação, a pequena amostragem e o erro humano na medição como sendo os principais
fatores causadores da dispersão analisada.
Porém, no entanto, a grande discrepância em relação ao ajuste pode ser atribuída à
amplitude angular, uma vez que com o aumento na amplitude dos ângulos, fatores como a
resistência do ar, elasticidade da corda e a rotação dos pesos sobre seu próprio eixo acabam
por influenciar cada vez mais o comportamento do pêndulo, de modo a tornar o experimento
muito mais impreciso.
Sabendo disso, por fim, adota-se que não existe relação entre o ângulo e o período (T)
do pêndulo, para que haja uma maior facilidade na descrição do fenômeno observado.
Parte 3
Para esta seção do experimento, buscou-se verificar a relação entre T e L
(comprimento do pêndulo), uma vez que segundo o modelo teórico é esperado exista uma
1/2
relação de potência da forma 𝑇~𝐿 . Para tanto, torna-se necessário plotar os gráficos e
comparar o R² dos fittings linear (Figura 5) e de potência (Figura 6).
Assim temos:
Figura 5: Gráfico L(m) versus T(s) com fit linear (Excel)
Fonte: Autores , 2023
Com este gráfico e seu fitting linear obteve-se a seguinte equação da reta e R²:
𝑌 = 1, 2531𝑋 + 0, 8355
𝑅² = 0, 9966
E posteriormente, foi realizado um fitting de potência (Figura 6) e um gráfico
dilogarítmico (Figura 7), uma vez que esse último permite uma visualização melhor da
relação de potência esperada.
Figura 6: Gráfico L(m) versus T(s) com fit de potência
Fonte : Autores, 2023
Figura 7: Gráfico L(m) versus T(s) com fit de potência em escala log-log
Fonte: Autores, 2023
Com este gráfico obteve-se a seguinte equação da curva e R²:
0,4525
𝑌 = 2, 0405𝑋
𝑎
Formato: 𝐴𝑋
𝑅² = 0, 9852
Analisando os gráficos e os dados acima percebe-se que, ao contrário do esperado
pelo modelo teórico, o gráfico com melhor fitting, ainda que por uma pequena diferença, foi o
linear (0,9966 vs 0,9852), mesmo que porém, considerando esses valores, ainda é possível
afirmar que o fitting de potência é bom para descrever o comportamento do gráfico, assim
como esperado pelo modelo teórico, dessa forma, espera-se que a discrepância no R² do
fitting se deu provavelmente devido à baixa amostragem de dados, de modo que caso fossem
realizados mais pontos experimentais teria-se o fit de potência como o de maior R².
Apesar dessa questão, o fato do fit de potência ainda descrever muito bem o
comportamento do gráfico permitiu encontrar 𝑎 = 0, 4525, um valor razoavelmente próximo
1/2
de 𝑎 = 1/2 esperado pelo modelo teórico ideal, o que confirma que 𝑇~𝐿 .
Dessa forma, tendo alcançado uma correlação aceitável em comparação com o
1/2
modelo teórico, foi possível realizar a linearização do gráfico 𝑇 𝑥 𝐿 com o objetivo de
adaptar a relação de potência adotada em linear, obtendo-se assim, pela regressão dos dados,
o coeficiente angular C ± ΔC, a partir do qual será possível realizar o cálculo da constante
gravitacional. Nesse viés, com esses dados torna-se possível através da elevação de ambos os
1
lados da igualdade por 𝑎
= 2 torna-se possível construir a tabela abaixo:
L (ΔL = ± ? ? ? ) m T2( ΔT2 = ± ? ? ? ) s²
0,3±0.005 1,49±0,17
0,44±0.005 1,90±0,19
0,58±0.005 2,37±0,23
0,72±0.005 3,06±0,25
0,86±0.005 3,76±0,27
1±0.005 4,28±0,29
Figura 8: Medidas do período ao quadrado T² em função do comprimento do pêndulo
Fonte: Autores, 2023
E usando os dados da tabela acima (Figura 8), foi plotado o gráfico abaixo (Figura 9):
Figura 9: Gráfico 𝑇² 𝑣𝑒𝑟𝑠𝑢𝑠 𝐿
Fonte: Autores,2023
Foi então realizado o fitting linear no gráfico acima e obteve-se a seguinte equação da
reta e R²:
𝑌 = 4, 1329 𝑋 + 0, 1262
𝑅² = 0, 9918
Ou seja, podemos considerar que o gráfico é de fato uma reta e partindo disso,
obteve-se por fim que C, enquanto coeficiente angular do gráfico linearizado é igual à
4, 1 ± 0, 2.
Por fim, utilizando-se do modelo teórico 𝐶 = (2𝝅)²/𝑔 é possível isolar a incógnita 𝑔
e realizar os devidos procedimentos de propagação de erros, partindo dos erros de C, que
resulta por fim na constante gravitacional 𝑔 = 9, 6 ± 0, 4 𝑚/𝑠² , a qual era um valor
esperado e que engloba, na margem de erro, o valor dado pelo referencial teórico que é de
𝑔 = 9, 81 𝑚/𝑠², o qual pode-se considerar provado pelo experimento realizado.
CONCLUSÃO
Após a realização do experimento como um todo, é possível visualizar algumas
características importantes. Apoiando-se nas análises realizadas e nos pressupostos teóricos e
práticos do presente experimento, na parte 1, confirmou-se que ambas grandezas, período e
massa, não possuem vínculo. Isso pois, ao verificar a figura 3, a qual mostra a relação entre
elas, é demonstrada pouca influência da variação da massa no período, mantendo constante
sua energia mecânica inicial confirmando assim a hipótese inicial de independência entre as
grandezas.
Na parte 2 do experimento foi verificado a existência ou não da dependência entre o
ângulo inicial de soltura e o período. Através das análises realizadas com uso do gráfico
obtido, representado pela figura 4, observou-se uma relação linear entre as grandezas.
Entretanto o pequeno valor do coeficiente de determinação (R²) demonstra que as diversas
imprecisões nas medidas assim como influência de outros fatores que não foram levados em
conta torna o resultado pouco ideal. Apesar disso, não é possível afirmar que haja uma
dependência entre o ângulo e o período visto que o período manteve-se relativamente
constante e a reta apresentou inclinação próxima de 0º.
Por fim, na parte 3 do experimento foi analisada a relação entre o período e
comprimento da corda (L) esperando que a seguinte relação, estabelecida pelo modelo
1/2
teórico, de 𝑇~𝐿 fosse encontrada. Ao fazer as análises encontrou-se a relação esperada,
apesar de que, devido à fatores como erros experimentais e baixa amostragem, o fitting linear
teve um R² ligeiramente maior. Desse modo tornou-se possível linearizar o gráfico e calcular
a aceleração da gravidade, por meio de equações fornecidas pelo professor.
REFERÊNCIAS
BIENER Z.; SMEENK C. Pendulums, Pedagogy, and Matter: Lessons from the Editing
of Newton’s Principia. Universidade de Pittsburgh, Estados Unidos, Kluwer Academic
Publishers, pp. 309–320, 2004.
GAULD C. Pendulums in The Physics Education Literature: A Bibliography.
Universidade de New South Wales, Austrália, Kluwer Academic Publishers, pp. 811–832,
2004.
MITCHELL N. G. Finding the period of a simple pendulum. arXiv.org, 2018.
Disponível em: https://arxiv.org/pdf/1805.00002.pdf Acesso em 19/04/2023.