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O editorial discute os fatores psicossociais e os riscos à saúde mental dos trabalhadores, destacando a prevalência de transtornos mentais comuns e seu impacto no afastamento do trabalho. Enfatiza a necessidade de intervenções coletivas nas organizações para abordar as causas do adoecimento, em vez de focar apenas no tratamento dos sintomas. A importância de instrumentos de avaliação e programas de saúde mental no trabalho é ressaltada para promover a saúde física e mental dos trabalhadores.

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O editorial discute os fatores psicossociais e os riscos à saúde mental dos trabalhadores, destacando a prevalência de transtornos mentais comuns e seu impacto no afastamento do trabalho. Enfatiza a necessidade de intervenções coletivas nas organizações para abordar as causas do adoecimento, em vez de focar apenas no tratamento dos sintomas. A importância de instrumentos de avaliação e programas de saúde mental no trabalho é ressaltada para promover a saúde física e mental dos trabalhadores.

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EDITORIAL REVISTA LABORATIVA – FATORES

PSICOSSOCIAIS E RISCO DE ADOECIMENTO NO


TRABALHO

Sérgio Roberto de Lucca1

1 Professor Associado e coordenador da Área de Saúde do Trabalhador do


Departamento de Saúde Coletiva da FCM/UNICAMP. Pesquisador na área de saúde
mental & trabalho e orientador no programa de pós- graduação em Saúde Coletiva
da FCM/UNICAMP sobre o tema. Diretor da Divisão de Saúde Ocupacional da
Unicamp.

A Revista Laborativa completa nesta edição o sexto volume, no


decorrer de sua série de edições a revista primou pela publicação
qualificada de temas relevantes para o Campo da Saúde, Segurança do
Trabalhador e Sustentabilidade Ambiental.

No Editorial deste número, ressaltamos a temática dos fatores


psicossociais e riscos à saúde dos trabalhadores no contexto laboral

Dados recentes da Organização Mundial de Saúde (WHO, 2017)


estimam que mais de meio milhão de pessoas no mundo sofrem de
transtornos mentais comuns (depressão e os transtornos ansiosos) e o
Brasil participa com cerca de 30 milhões destas ocorrências. Os TMC
representam a segunda e causa de afastamento do trabalho nos países da
Europa (EU-OSHA, 2014) e a terceira causa no Brasil (MPAS, 2015),
entretanto, figuram como primeira causa de afastamento entre os
trabalhadores dos setores bancários, saúde e educação.

A natureza e a gravidade destas ocorrências influenciam no tempo de


afastamento do trabalho, com impacto negativo para os trabalhadores,
empresas e para a Sociedade. Estima-se que as perdas de produtividade e
custos com estes afastamentos atinjam entre 3 a 4% do PIB dos países
(EU-OSHA, 2014).

LUCCA, S. R. Editorial - Fatores psicossociais e risco de adoecimento no trabalho. R. Laborativa, v. 6, n. 2, p. 01-


05, out./2017. http://ojs.unesp.br/index.php/rlaborativa

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Os fatores psicossociais, a violência no trabalho e fora dele, a
insegurança no emprego, as crises econômicas e as condições de vida e de
trabalho são apontados como principais desencadeantes para o aumento
vertiginoso dos TMC no planeta e no mundo do trabalho contemporâneo.
Nos ambientes de trabalho, os fatores psicossociais relacionados ao
trabalho (FPRT) são discriminados pelas agencias internacionais como
principais desencadeantes de sofrimento e adoecimento psíquico dos TMC
entre os trabalhadores (ILO/WHO, 1984).

E o que temos feito? Instituições e profissionais de saúde ao


atenderem os trabalhadores com transtorno mental procuram tratar a
doença e não o doente, os sintomas e não os aspectos desencadeantes, tais
como as situações e condições de trabalho de uma organização de trabalho
adoecedora. Além disso, correntes predominantes do work stress procuram
focar o problema a partir de intervenções individuais nos ambientes de
trabalho, direcionada para fortalecer a capacidade de resistência dos
trabalhadores conhecidas como estratégias de coping (LAZARUS &
FOLKMAN, 1984).

E por que não vem dando certo? O que se verifica no mundo do


trabalho é o adoecimento da organização do trabalho que, para responder
à competitividade acirrada dos mercados, se utiliza de modelos de gestão
assediadores e ritmos de produção e metas cada vez mais desafiadoras.

Considerando-se os níveis primário, secundário e terciário de


intervenção, espera-se que os profissionais de saúde e os médicos do
trabalho se esforcem para promover e preservar a saúde física e mental dos
trabalhadores e, nas situações de adoecimento procurar a reinserção no
trabalho dos que adoeceram, uma vez que o trabalho além de subsistência
confere identidade e pertencimento a um grupo e à própria Sociedade, ou
seja, o trabalho é fonte de autoestima e realização das pessoas.

Neste contexto, não podemos nos contentar em cuidar dos doentes


sem nos debruçarmos sobre as causas do adoecimento, ou seja, o processo
psicossocial nos coletivos de trabalho. A ação de prevenção mais efetiva
(primária) é atuar coletivamente na organização do trabalho e sobre os
fatores psicossociais no trabalho, percebidos pelos trabalhadores como
desencadeantes de estresse laboral.

Entre os fatores psicossociais do trabalho que contribuem para


estresse e adoecimento dos trabalhadores há consenso entre os autores
sobre a influencia do tipo de gestão no trabalho, o grau de suporte das
chefias e dos colegas de trabalho, a natureza e intensidade das demandas
de trabalho e grau de autonomia e a participação ou não dos trabalhadores

LUCCA, S. R. Editorial - Fatores psicossociais e risco de adoecimento no trabalho. R. Laborativa, v. 6, n. 2, p. 01-


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nos processos produtivos. Os FPRT também incluem as necessidades
individuais dos sujeitos, o reconhecimento real e simbólico, plano de
carreira e a maior conciliação entre trabalho e casa.

Desde 2010, é obrigatório nos países europeus que as empresas


desenvolvam programas para gestão das causas de estresse no trabalho.
Na América Latina os governos de Chile, Colômbia e Peru também adotaram
iniciativas neste sentido.

Nos últimos 30 anos os pesquisadores procuraram desenvolver


modelos e instrumentos para diagnosticar as situações e relações de
trabalho e de gestão nas organizações com potencial de desencadear
estresse e transtornos mentais nos trabalhadores (KARASEK,1979;
KARASEK ET AL,1998; SIEGRIST,1996; KRISTENSEN,2005; EDWARDS ET
AL, 2008;PEJTERSEN ET AL, 2010).

Os instrumentos quando aplicados e respondidos pelo conjunto de


trabalhadores de uma empresa ou organização têm por objetivo o
diagnostico coletivo dos ambientes de trabalho e da organização, nos
aspectos relacionados à dimensão psicossocial e da organização do trabalho
e que podem desencadear estresse e adoecimento entre os trabalhadores.

Entre os instrumentos mais utilizados para a coleta de dados sobre os


FPRT se destacam os questionários de autorrelato, porque são fáceis de
administrar e medem as características do trabalho da forma como são
percebidas pelos trabalhadores, ou seja, o trabalho real na percepção
destes em relação à organização.

A informação e valoração dos riscos estão alicerçadas no


conhecimento e na experiência e percepção dos trabalhadores e não nas
características dos postos de trabalho ou na avaliação de especialistas e,
portanto, procuram avaliar a subjetividade desses sujeitos acerca dos
estressores ocupacionais da organização de trabalho que podem contribuir
para o sofrimento psíquico e o adoecimento.

Entre os principais modelos e questionários padronizados destacam-se:


Job Content Questionaire-JCQ (KARASEK, 1979; KARASEK ET AL,1998) ,
relacionadas com demandas cognitiva e física, controle do trabalho, suporte
social e insegurança no emprego; Effort-Reward Imbalance Model-ERI
(SIEGRIST,1996) ,onde esforço extrínseco e intrínseco elevados e baixa
recompensa percebida pelo trabalhador podem ser causas de estresse;
Copenhagen Psychosocial Questionnaire ― COPSOQ I (KRISTENSEN,2005)
e COPSOQ II (PEJTERSEN ET AL, 2010) avaliam as exigências quantitativas
e qualitativas do trabalho, possibilidade de desenvolvimento, relações

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sociais e liderança, satisfação e segurança no emprego e o Health Safety
Executive Indicator Toll ― HSE-IT (EDWARDS ET AL, 2008) que avalia
demandas, controle/ autonomia, relacionamentos , suporte de colegas e
chefia e comunicação.

As críticas aos instrumentos utilizados para a avaliação dos fatores


psicossociais e estressores primários da organização do trabalho referem-
se ao desenho originalmente quantitativo do questionário para a avaliação
de percepções de natureza subjetiva e qualitativa, relacionadas ao
autorelato (KOMPIER & KRISTENSEN, 2000). As percepções de natureza
subjetiva “devem ser encaixadas” em respostas fechadas e podem não
traduzir o real impacto daquela pergunta no contexto ou situação de
trabalho da organização em exame e na incapacidade de apreensão do
processo de trabalho à medida que são respondidas os aspectos
padronizados e presumidos.

Para uma investigação mais completa acerca dos FPRT em uma


organização, recomenda aprofundar a investigação com uma segunda etapa
qualitativa através de entrevistas individuais ou grupos focais. Neste
sentido, o HSE MS IT (Health Safety Executive ― Management Standard ―
Indicator Tool) é um método qualitativo e quantitativo.

Os profissionais de saúde e médicos do trabalho precisam conhecer


os instrumentos de avaliação dos FPRT e identificar quais os fatores
primários com potencial de desencadear estresse, sofrimento e
adoecimento psíquico nos trabalhadores e, a partir do diagnóstico coletivo
da organização, elaborar um programa de saúde mental no trabalho com
ações de prevenção e formas de intervenção (LUCCA, 2017).

O nosso desafio e missão é a divulgação da informação e discussão


com a comunidade científica e os profissionais de saúde no trabalho. O
nosso compromisso ético é com a preservação da saúde física e mental dos
trabalhadores, a partir de uma escuta interessada e atenta sobre os
aspectos e processo psicossocial nos ambientes de trabalho.

Referências

EDWARDS, J. A.; WEBSTER, S.; VAN LAAR, D.; EASTON, S. Psychometric analysis of the
UK Health and Safety Executive’s Management Standards work-related stress Indicator
Tool. Work Stress. 2008; 22 (2), p. 96-107.

EU-OSHA. (2012b). Drivers and barriers for psychosocial risk management: an analysis of
the findings of the European Survey of Enterprises on New and Emerging Risks.
Luxembourg: European Agency for Safety and Health at Work.

LUCCA, S. R. Editorial - Fatores psicossociais e risco de adoecimento no trabalho. R. Laborativa, v. 6, n. 2, p. 01-


05, out./2017. http://ojs.unesp.br/index.php/rlaborativa

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KARASEK, R. A. Job demands, job decision latitude and mental strain: implications for job
redesign. Am Sci Q. 1979; 24(2): 285-308.

KARASEK, R. A.; BRISSON, C.; KAWAKAMI, N.; HOUTMAN, I.; BONGERS, P.; AMICK, B.
The Job Content Questionnaire (JCQ): An instrument for internationally comparative
assessments of psychosocial job characteristics. J Occup Health Psych. 1998; 3 , p. 322-
355.

KOMPIER, M. A. J.; KRISTENSEN, T. S. Chapter 9. Organizational work stress interventions


in a theoretical, methodological and practical context In: Stress in the Workplace ―
Past, Present and Future; 164-190, 2000. Edited by Dunham J. London: Whurr
Publishers.

KRISTENSEN, T.S; HANNERZ, H; HOGH, A; BORG, V. The Copenhagen psychosocial


questionnaire — A tool for the assessment and improvement of the psychosocial work
environment. Scand J Work Environ Health. 2005. 31(6): 438–449.

INTERNATIONAL LABOUR ORGANIZATION. Psychosocial factors at work: recognition and


control. Report of the Joint ILO/ WHO ― Committee on Occupational Health. Ninth Session,
Geneva, 18-24 September 1984. Geneva; 1986. (Occupational Safety and Health Series,
56). Disponível em: http://www.ilo.org/public/libdoc/ilo/1986/86B09_301_engl.pdf

LAZARUS, R.S; FOLKMAN,S. Coping and Adaptation. In: Gentry, W.D., Handbook of
Behavioral Medicine. New York: The Guilford Press, 1984. p. 282-325.

LUCCA, S.R . Aplicação de instrumento para o diagnóstico dos fatores de risco psicossociais
nas organizações. Rev Bras Med Trab.2017; 15 (1): 63-72.

MPAS- MINISTÈRIO DA PREVIDENCIA E ASSISTENCIA SOCIAL. Acompanhamento Mensal


dos Benefícios Auxílio-Doença Acidentário Concedido segundo os Códigos da CID ― 10:
2015, disponível em http://www.previdencia.gov.br/wp-content/uploads/2014/06/Aux-
Doenca-Conc-Prev-e-Acid-X-CID-e-Clientela_2014_separado-ate-ABR-previdenciarios.pdf
MPAS- MINISTÈRIO DA PREVIDENCIA E ASSISTENCIA SOCIAL. Menu de apoio ―
Estatísticas: Segurança e Saúde Ocupacional: Tabelas- CNAE 2.0. [acesso em 09 de
setembro de 2015]. Disponível em: http://www.previdencia.gov.br/estatisticas/menu-de-
apoio-estatisticas-seguranca-e-saude-ocupacional-tabelas-cnae-2-0/

PEJTERSEN, J.; KRISTENSEN, T. S.; BORG, V.; BJORNER, J. B.. These condversion of the
copenhagen psychosocial questionnaire. SJPH . 2010. 38(Suppl 3): 8–24.
SIEGRIST, J. Adverse health effects of high-effort/low-reward conditions. J Occup Health
Psychol. 1996; 1(1), p. 27-41.

WORLD HEALTH ORGANIZATION ― Depression and Other Common Mental


Disorders:Global Health Estimates. WHO ― Geneve, 2017.

Apresentado em: 20/08/2017


Aprovado em: 30/08/2017
Versão final apresentada em: 29/09/2017

LUCCA, S. R. Editorial - Fatores psicossociais e risco de adoecimento no trabalho. R. Laborativa, v. 6, n. 2, p. 01-


05, out./2017. http://ojs.unesp.br/index.php/rlaborativa

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