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ARTIGO - Sociedade Mundial de Risco

O artigo analisa a teoria da sociedade mundial de risco de Ulrich Beck, destacando suas contradições, insuficiências teóricas e inovações. São abordadas críticas ao cosmopolitismo da teoria e a sua adequação para explicar os riscos globais contemporâneos. O texto sugere reorientações nas perguntas-chave da sociologia, considerando a hermenêutica do risco e a reflexividade.
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ARTIGO - Sociedade Mundial de Risco

O artigo analisa a teoria da sociedade mundial de risco de Ulrich Beck, destacando suas contradições, insuficiências teóricas e inovações. São abordadas críticas ao cosmopolitismo da teoria e a sua adequação para explicar os riscos globais contemporâneos. O texto sugere reorientações nas perguntas-chave da sociologia, considerando a hermenêutica do risco e a reflexividade.
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232 SOCIOLOGIAS

ARTIGO
Sociologias, Porto Alegre, ano 18, no 42, mai/ago 2016, p. 232-264

Sociedade mundial de risco:


teoria, críticas e desaÞos

ESTEVÃO BOSCO*
LEILA FERREIRA**

Resumo
O artigo delineia contradições internas, insuficiências teóricas, inovações e desa-
fios colocados para a sociologia pela teoria da sociedade mundial de risco, formu-
lada por Ulrich Beck. Para tanto, orientamo-nos por uma breve reconstrução da
história dessa teoria, situando algumas de suas principais inovações. Em seguida,
voltamo-nos para duas críticas consolidadas, nomeadamente a crítica à sua fun-
dação histórico-lógica no cosmopolitismo e a crítica epistêmica formulada por
teóricos sociais pós-coloniais. Num terceiro momento, a estratégia metodológica
da reconstrução nos permite identificar uma contradição interna entre a fundação
da referida teoria no cosmopolitismo metodológico e o diagnóstico dos riscos glo-
bais, tendo em vista a tipologia à que este último dá forma. E finalmente, formu-
lamos algumas observações críticas, apontamos alguns desafios colocados para a
sociologia e sugerimos reorientações de suas perguntas-chave a partir das críticas
mencionadas e da intuição teórico-empírica de uma hermenêutica do risco, da
reflexividade e da cosmopolitização ainda por fazer.
Palavras-chave: Sociedade mundial de risco. Cosmopolitismo Metodológico.
Beck, Ulrich (1944-2015).

*
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), Brasil.
**
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Brasil.

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World risk society: theory, criticisms and challenges.

Abstract
The article outlines internal contradictions, theoretical insufficiencies, innovations
and challenges raised by Ulrich’s Beck theory of world risk society for sociology.
Therefore, we perform a brief reconstruction of the history of that theory, indica-
ting some of its main innovations. Then we address two consolidated criticisms,
namely the criticism of its historical and logical foundation in cosmopolitanism
and the epistemic criticism by postcolonial social theorists. Then, our methodolo-
gical strategy of reconstruction allows us to identify an internal contradiction be-
tween the foundation of that theory in methodological cosmopolitanism and the
diagnosis of global risks, in view of the typology to which this diagnosis gives form.
And finally, we formulate some critical considerations, point out some challenges
left to sociology and suggest a re-orientation of the theory key questions, conside-
ring the mentioned criticisms and outlining a theoretical and empirical intuition of
a hermeneutics of risk, reflexivity and cosmopolitization yet to be done.
Key-words: World risk society. Methodological Cosmopolitanism. Beck, Ulrich
(1944-2015).

que caracteriza, nos dias atuais, a condição globalizada

O
da vida social? Ulrich Beck talvez tenha sido o pioneiro
em fornecer uma resposta propriamente sociológica a
essa pergunta, com o seu amplamente debatido Risiko-
gesellschaft: auf dem Weg in ein andere Moderne, publi-
cado em 1986 (2001). Combinando aspectos ambientais e institucionais
com uma crítica da racionalidade científica e da modernização, esse livro
pode ser tido como uma análise da globalização avant la lettre. Desde
então, Beck logrou inserir no vocabulário de uma teoria social globalizada
os termos risco, incerteza, meio ambiente e mudanças ambientais, terro-
rismo, cosmopolitismo e uma concepção de reflexividade vinculada às

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instituições modernas. O conjunto forneceu um aparato teórico e meto-


dológico que esteve em medida de iluminar aspectos da globalização em
que essa se manifesta como práxis. A partir dos anos 1990, seus estudos
vieram a influenciar pesquisas em áreas muito diversas1. Com o faleci-
mento repentino do sociólogo alemão em janeiro de 2015, torna-se mais
que oportuna uma avaliação crítica de suas contribuições e dos desafios
que seu legado deixou.
Ainda que Beck tenha se mostrado um cientista prolífico, com uma
ampla produção bibliográfica, ele permanece, a rigor, autor de três livros:
o seu já referido Risikogesellschaft (2001 [orig. 1986]), Kosmopolitische
Blick? (2006 [orig. 2004]) e o seu mais recente Weltrisikogesellschaft (2008
[orig.2007]). O primeiro consiste em um diagnóstico de época acurado;
o segundo define o projeto de uma fundação metodológica experimental
e transdisciplinar da sociologia; e o terceiro constitui uma reatualização
teórica. Ao trazer a questão ambiental para o centro da teoria social, seu
trabalho se concentrou na experimentação de aberturas da sociologia
para outras disciplinas, notadamente a geografia, antropologia, etnologia,
relações internacionais, direito internacional e teoria política (Beck; Sznai-
der, 2006, p. 382).
O ponto de partida é uma crítica da racionalidade ultraespecializada
de uma tecnociência que, aplicados os seus resultados industrialmente,
figura ao mesmo tempo como causa e medium de definição de ameaças
e catástrofes (Beck, 2001, p. 341-397). Disso resulta uma segunda críti-
ca, que questiona a adequabilidade da sociologia clássica para explicar
e compreender uma sociedade que aboliu suas antigas categorias de or-
denação (2006, p. 51-68). A partir disso, Beck (2001, p. 20) opta pelo

1
A teoria de Beck foi amplamente mobilizada por pesquisadores de áreas diversas. Entre eles,
citamos apenas alguns: Allan et al., 1999; Adam et al., 2000; Guivant, 2000; Ferreira, 2006;
Ianni, 2012; Tavolaro, 2011; Di Giulio, 2012. Para a consulta dos aspectos gerais da teoria,
sugerimos: Vandenberghe, 2001; Mythen, 2004; Bosco, 2013 e 2016 (no prelo).

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ensaio como estratégia discursivo-analítica. Compreende-se assim que a


conexão entre uma estratégia discursivo-analítica ensaísta, um diagnósti-
co de época e uma orientação transdisciplinar dá lugar não a uma teoria
acabada no sentido convencional, mas a um projeto de conhecimento.
Desde 2012, os trabalhos do autor se reuniram em torno do projeto de
pesquisa Methodological Cosmopolitanism - In the Laboratory of Climate
Change (Beck, 2012).
A marca distintiva da teoria da sociedade mundial de risco reside
no esforço de renovação da tradição crítica da teoria social e de uma
de suas linhagens específicas, a teoria da modernização. Desde a publi-
cação de seu World risk society em 1999, Beck (2002a, p. 01-28) tem
ancorado sua crítica e saída epistemológica na ressignificação do concei-
to de cosmopolitismo. Para levar a cabo o nosso propósito de avaliação
crítica, orientamo-nos por uma breve reconstrução da história da teoria
beckiana, situando algumas de suas principais inovações (1). Em seguida,
voltamo-nos para duas críticas consolidadas, nomeadamente a crítica à
sua fundação histórico-lógica no cosmopolitismo (2) e a crítica epistêmica
formulada por teóricos sociais pós-coloniais (3). Percorrido esse caminho,
a estratégia metodológica da reconstrução nos permite identificar uma
contradição interna entre a fundação da referida teoria no cosmopoli-
tismo metodológico e o diagnóstico dos riscos globais, tendo em vista
a tipologia a que este último dá forma (4). E finalmente, formulamos al-
gumas observações críticas, apontamos alguns desafios colocados para a
sociologia e sugerimos reorientações de suas perguntas-chave a partir das
críticas mencionadas e da intuição teórico-empírica de uma hermenêu-
tica do risco, da reflexividade e da cosmopolitização ainda por fazer (5).

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1 – Modernização-risco-reflexividade, cosmopolitismo
metodológico e inovações
A teoria da sociedade mundial de risco parte de um diagnóstico
geral: Perigos são fabricados de forma industrial, exteriorizados economi-
camente, individualizados no plano jurídico, legitimados no plano das ci-
ências exatas e minimizados no plano político (Beck, 2010, p. 230). Na
tentativa de prevenir, mitigar ou remediar riscos e destruições produzi-
dos por sua própria modernização, a sociedade passa a ter de lidar com
efeitos não previstos que ela mesma produziu (Beck, 1997). Daí falar-se
em modernização reflexiva. Risco e reflexividade constituem, portanto,
conceitos centrais: o primeiro permite o acesso à realidade, o segundo
explica a lógica de dinamização dessa realidade.
Para o nosso autor, o que diferencia os riscos contemporâneos dos
de outras épocas não é tanto o seu potencial de destruição, mas, primei-
ro, seu aspecto institucionalmente fabricado (pela ciência, pelo mercado,
pelo governo etc.) (Beck, 2002a, p. 48-53); segundo, sua invisibilidade,
no sentido de que não são perceptíveis pelos sentidos sensoriais humanos
(radiação, substância químicas liberadas pela indústria etc.) (Beck, 2001,
p. 80-84); e por último, a ausência de fronteira espacial e temporal (idem,
p. 65-80). O risco, portanto, não existe por si só, sua objetividade deriva
da percepção e da encenação social da qual é objeto (Beck, 2008, p. 47-
76). Através de sua encenação, o risco define situações sociais de ameaça
e, na medida em que caracteriza relações institucionais (Estado, mercado,
ciência etc.), são também estabelecidas relações de definição constituídas
como relações de dominação, que gravitam em torno de questões de
poder, de interesses, benefícios e prejuízos (Beck, 2008, p. 53-60). Temos
assim uma condição antropológica geral da sociedade de risco: as destrui-
ções e os riscos não podem mais ser atribuídos a causas externas (destino,
deuses), é a própria sociedade que os produz e fabrica (manufactured

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uncertainties) (Beck, 2002b, p. 128-135). A sociedade de risco revela, em


outras palavras, um “choque antropológico” (Ianni, 2012). Ao dinamizar-
-se reflexivamente, a sociedade de risco então remete à possibilidade e,
em certo sentido, à inevitabilidade da transformação, de se repensar e
reinventar o arranjo industrial moderno entre sistema social, sistema eco-
nômico e sistema político. A sociedade mundial de risco comporta, por-
tanto, um horizonte político-normativo.
Já em 1986, a sociedade de risco definia teses que se mantiveram
inalteradas ao longo dos quase trinta anos seguintes: produção e distribui-
ção dos riscos, individualização reflexiva e modernização reflexiva. Moder-
nização reflexiva designa o movimento geral dessa sociedade, seu aspecto
historicamente construído e tendências de desenvolvimento. Por moder-
nização, Beck se refere aos progressos tecnológicos efetuados na raciona-
lização, às transformações do trabalho e da organização, assim como, em
sentido amplo, a um processo de implicações muito profundas, que toca
e transforma todo o edifício social, e no decorrer do qual são finalmente
transformadas as fontes de certeza das quais a vida se alimenta (Beck,
2001, p. 35-36, nota de rodapé).
Na produção e distribuição dos riscos, encontramos uma das teses
centrais desse movimento, segundo a qual a produção e distribuição so-
cial de riquezas (trabalho, bens, bem-estar social) se veem hoje acom-
panhadas da produção e distribuição social de riscos (poluição, crises
econômicas etc.) (Beck, 2001, p. 35-90; 2008, p. 47-75). Num sentido
histórico-sociológico amplo, essa tese sustenta que está a ocorrer uma
racionalização (risco; reflexiva) da racionalização (trabalho; simples). Há,
nesse sentido, uma radicalização da modernização: a racionalização so-
cial impulsionada por uma modernização que produz riquezas e dife-
rencia socialmente pelo trabalho (classe) foi redobrada por uma racio-
nalização social impulsionada por uma modernização que produz riscos

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e diferencia socialmente pela insegurança (comunidades ou grupos de


risco) (Beck, 2011). A essa tese são associados os riscos globais ambiental
e financeiro.
De seu lado, a individualização reflexiva sustenta que, em virtude
do melhoramento das condições gerais de existência e do desenvolvi-
mento das instituições modernas, assistimos a uma desincorporação das
identidades sociais. Como efeito derivado da construção do Estado de
bem-estar social, dos progressos da ciência e do desenvolvimento das for-
ças produtivas, inicia-se um processo de diversificação das condições de
vida, que substitui aquelas da sociedade industrial (classe, família nuclear
etc.) por outras, mais “flexíveis”, individualizadas, logo, mais “arriscadas”
(Beck; Beck-Gernsheim, 2002). Sendo produto da escolha individualiza-
da, a biografia passa a contar com mais incertezas: por um lado, abrem-se
novas possibilidades de realização pessoal, mas por outro, individualiza-
-se a desigualdade social (Beck, 2001, p. 158-335). À individualização
reflexiva corresponde o risco global biográfico.
Nessa dinamização reflexiva, questões de calculabilidade e previsibi-
lidade do risco ganham importância para a ação e a regulação institucio-
nal (Beck, 1997, p.45-47; 2002a, p. 75-103). Sendo assim, modernização
reflexiva também – e essencialmente – significa “reforma da racionalidade”,
a qual faz justiça à ambivalência histórica a priori em uma modernidade
que está abolindo suas próprias categorias de ordenação (Beck, 1997, p.
47). A crítica da racionalidade está aqui dirigida à ultraespecialização do
conhecimento científico. É a ultraespecialização, argumenta o autor, que
está na origem da incontrolabilidade dos efeitos colaterais, pois isola em
laboratório resultados que, uma vez aplicados industrialmente, deixam de
permanecer isolados, tornando-se mais complexos e imprevisíveis. O eixo
teórico modernização-risco-reflexividade fica assim definido: na esteira
da modernização continuada e de seus sucessos, são produzidos riscos e

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destruições de alcance mundial que, percebidos socialmente como ame-


aça, estimulam formas reflexivas de socialização e fazem emergir uma
nova sociedade, a sociedade mundial de risco.
A partir da publicação de seu World Risk Society em 1999 (2002a),
o teórico social reorienta a interpretação da acepção global dos riscos a
partir de uma resignificação do conceito de cosmopolitismo. Uma vez
que os riscos não possuem fronteiras espaciais nem temporais, argumenta
Beck no transcorrer dos anos seguintes, sua encenação social promove
uma cosmopolitização reflexiva forçada da vida social (Beck, 2006, p. 69-
98, 169-188). A vida social se cosmopolitiza na medida em que um futuro
antecipado como catástrofe se introduz no presente como força de inte-
gração política e social transnacional (Beck, 2008, p. 34-37). É um futuro
arriscado industrialmente induzido, cientificamente antecipado, politica-
mente gerido, socialmente percebido e mundialmente compartilhado na
ação presente que força uma cosmopolitização reflexiva da sociedade
e da história. A consequência disso é uma diferenciação qualitativa da
sociedade contemporânea, que permitiria distinguir entre uma primeira e
uma segunda modernidade (Beck, 2000).
Diante disso, Beck sustenta que, se o que caracteriza a socieda-
de (de risco) contemporânea é, no plano societário, a cosmopolitização
reflexiva e, no plano da racionalidade científica, o reconhecimento de
limites compreensivos e explicativos do quadro de referência disciplinar
e clássico, torna-se necessária uma refundação da sociologia no sentido
cosmopolita. O cosmopolitismo metodológico parte da diferenciação te-
órica entre perspectiva do ator (versão histórica) e perspectiva do obser-
vador em ciências sociais (versão lógica) e da vinculação metodológica de
uma dimensão espacial (território) com uma dimensão temporal (história).
Para Beck, as teorias da primeira modernidade são marcadas por um
nacionalismo metodológico (perspectiva do observador), o qual, enquan-

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to reflexo da ótica nacional (perspectiva do ator), assimila o conceito de


sociedade ao de Estado-nação (Beck, 2006, p. 52-68). A consequência de
tal assimilação é o estabelecimento de uma lógica de distinção exclusiva
como orientação para a formulação de conceitos e categorias – alemão
ou turco, ciências do espírito ou ciências da natureza, sociedade ou natu-
reza, e assim por diante. Uma vez que a sociedade se cosmopolitizou, se-
ria então necessário um equivalente na perspectiva do observador: o cos-
mopolitismo metodológico, fundado em uma lógica de distinção inclusiva
– alemão e turco, ciências sociais e ciências da natureza, sociedade e
natureza. No plano teórico, almeja-se aqui uma mudança de paradigma,
do exclusivo para o inclusivo, do simples para o reflexivo, do nacional
para o cosmopolita. Isto é, Beck advoga por uma ruptura epistemológica.
No plano metodológico, a dimensão espacial substitui o primado
de relações nacionais-nacionais por relações translocais, locais-globais,
transnacionais, nacionais-globais e globais-globais (Beck, 2006, p. 151).
A dimensão espacial da cosmopolitização deve ser pensada em relação
à dimensão temporal. Com a dimensão temporal, questões empírico-
-analíticas e normativas se abrem para a cosmopolitização da sociedade
e da política, da história e da memória: [...] qual ‘realidade’ assume a glo-
balização dos riscos e das crises num contexto marcado pela diversidade
das vivências históricas, e de qual elaboração política pode ela ser objeto?
(idem, p. 153-154). A orientação político-normativa do diagnóstico fica
como segue: enquanto no nacionalismo metodológico, argumenta o au-
tor, têm centralidade para a ação e a consciência as implicações futuras
de um passado compartilhado no nível nacional, no cosmopolitismo me-
todológico trata-se de implicações presentes de um futuro compartilhado
no nível global que não se funda num passado comum (Beck, 2008, p.
31-32). Tidas em conjunto, nesse sentido, as dimensões espacial e tempo-

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ral definem como orientação metodológica geral uma trans-historicidade


(do risco) vinculada à territorialidade.
A diferenciação teórica (perspectiva do ator/do observador) e a vin-
culação metodológica (dimensão espacial e temporal) estão inscritas na
distinção histórica de fases de uma primeira e de uma segunda moderni-
dade, como sintetiza o seguinte quadro:

Quadro 1. Representação da história da sociedade moderna derivada da ancoragem da


teoria da sociedade mundial de risco no cosmopolitismo metodológico

Primeira modernidade Segunda modernidade

- Sociedade do Estado-nação - Sociedade cosmopolita


- Sociedade industrial do trabalho - Sociedade mundial de risco
- Racionalidade simples - Racionalidade reflexiva
- Modernização simples - Modernização reflexiva
- Racionalização derivada da produ- - Racionalização derivada da
ção de riquezas - produção de riscos

! Perspectiva do ator – ótica cosmo-


! Perspectiva do ator – ótica na-
polita: ação social mediada por
cional: ação social mediada pela
significados, práticas e costumes
cultura e condições efetivas de vida
de diversas culturas e condições
circunscritas nacionais
efetivas de vida transnacionais

! Perspectiva do observador – cosmo-


! Perspectiva do observador – nacio-
politismo metodológico: conceito
nalismo metodológico: conceito
de sociedade vem vinculado à
de sociedade vem vinculado ao
sociedade mundial, vinculação esta
Estado-nação e metodologia está
estabelecida por riscos globais gera-
fundada numa lógica de distinção
dos pela modernização continuada;
exclusiva
metodologia está fundada numa
lógica de distinção inclusiva

! Distinção teórica operativa: indi- ! Distinção teórica operativa: Estado-


víduo e sociedade; comunidade e -nação e sociedade mundial de
sociedade risco

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De um modo geral, a intuição teórico-empírica de Beck é promisso-


ra. Quando afirma que a dinâmica dos riscos ambientais só pode ser com-
preendida a partir de um cosmopolitismo metodológico (2008, p. 219-
254), o autor logra conectar um fenômeno concreto como as mudanças
ambientais com uma categoria de circulação mundial (risco ambiental)
– marcada por significações culturais diversas – e ainda definir um quadro
de referência teórico-metodológico. Em um sentido amplo, o risco – ago-
ra não mais apenas o ambiental, mas também o financeiro, o biográfico
e o terrorista (2008, p. 32-34) – promove o surgimento de comunidades
cosmopolitas de risco, as quais materializam uma interdependência cres-
cente no interior da sociedade mundial (2011).
A teoria da sociedade mundial de risco traz, portanto, algumas inova-
ções. No âmbito dos estudos sobre governança do risco, uma vez que logra
caracterizar determinados riscos como um fenômeno de circulação global,
por um lado ela permite a vinculação objetiva entre o universo gerencial do
Estado nacional e a globalização, num contexto em que uma política de go-
verno tenha sua legitimidade e eficácia mediadas por esferas de regulação
pós-nacionais (Beck, 2002b, p. 48-65, 214-221); por outro, permite a ela-
boração de novas formas de participação direta nos processos de tomada
de decisão no interior do sistema político, de modo a redesenhar as bases
de legitimação da política estatal (Beck, 2010, p. 234-238).
Segundo, a questão ambiental deixa de ser tratada como um pro-
blema ambiental e passa a figurar como problema interno da sociedade
(Beck, 2001, p. 146-153; 2002a, p. 41-48). Rompe-se, assim, com a se-
paração moderna entre sociedade e natureza, redefinindo-a com base
num princípio de reciprocidade e abrindo, consequentemente, novas
perspectivas para a teoria social, no sentido de estratégias que permitam
lidar com problemas que transcendem as divisões disciplinares conven-
cionais (Beck, 2001, p. 347-356, 395-398, 485-493; 2002a, p. 113-141).

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E terceiro, sua inovação está dirigida para o conceito de sociedade.


Com base no eixo teórico modernização-risco-reflexividade, desprende-se
uma concepção de sociedade mundial que, segundo Beck, pode operar
como referência metodológica para uma renovação da sociologia: a es-
treita vinculação dos processos de definição social dos riscos e da ence-
nação social dos mesmos com as novas formas de classificar, interpretar e
organizar nosso cotidiano (Beck, 2008, p. 37), implica afirmar que crer na
antecipação da catástrofe desarraiga as hierarquias sociais da sociedade
industrial, reorganiza a configuração sociológica do conflito e internaliza
sociologicamente a natureza por meio de uma cientifização reflexiva.
O conceito de sociedade contido na expressão “sociedade de risco”
determina quatro dimensões constitutivas: a interação – leia-se, a elabo-
ração de um discurso sobre o risco –, a decisão, a controlabilidade dos
efeitos derivados de decisões e a localidade como contexto de manifesta-
ção dos riscos globais (Beck, 2008). Nessa sociedade, questões envolven-
do legitimidade, aspirações existenciais, inovação, desafios de produção
e distribuição, são mediadas não mais apenas pela capacidade das insti-
tuições nacionais de criar certezas, mas também e principalmente por sua
habilidade para estabelecer vínculos cooperativos com arranjos institucio-
nais diferentes, transnacionais, transdisciplinares e sensíveis aos proble-
mas decorrentes da padronização das biografias. Por sua habilidade, em
suma, para lidar, de modo cosmopolita, com as incertezas de um futuro
aberto. Compreende-se assim que a força da teoria da sociedade mundial
de risco reside na combinação heurística entre uma descrição ampla da
modernização e uma análise normativa orientada para os potenciais de
emancipação de uma modernização da modernização (Latour, 2003).

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2 – A crítica da crítica do nacionalismo metodológico


É difícil discordar da interpretação teórica de Beck quando apon-
ta, na sociologia clássica, para uma correspondência quase-tácita entre o
conceito de sociedade e o de Estado-nação. Entretanto, como salientam
Robert Fine e Daniel Chernilo, o problema da crítica do nacionalismo
metodológico formulada por Beck está em seu “presentismo” e na in-
suficiente diferenciação conceitual entre a versão histórica (perspectiva
do ator) e a versão lógica (perspectiva do observador) do nacionalismo.
Isto é, a crítica de Fine e Chernilo circunscreve a diferenciação teórica
entre perspectiva do ator e perspectiva do observador do cosmopolitismo
metodológico de Beck e se volta para a representação da trajetória da
sociedade moderna daí decorrente. Essa insuficiente diferenciação resulta
em um “esquematismo histórico-teórico” que impede de atender à desig-
nação cosmopolita pretendida.
Robert Fine (2007, p. 09 sq.) delineia dois problemas metodológicos
decorrentes desse esquematismo. Primeiro, o cosmopolitismo metodoló-
gico diferencia e vincula de modo sucessivo uma primeira modernidade,
simples, industrial e nacional, a uma segunda modernidade, reflexiva,
pós-industrial e cosmopolita. Essa concepção sucessiva do processo his-
tórico comporta duas insuficiências analíticas graves. Por um lado, argu-
menta Fine, o passado nacional da modernidade é tido como um período
marcado apenas por um estado de guerra de todos contra todos, deixan-
do de lado revoluções com aspirações mundiais, impérios multinacionais,
a Liga das Nações, o nacionalismo de aspiração mundial, entre outros.
Há, nesse sentido, um “presentismo” autorreferenciado, que contesta a
validade de teorias, categorias e conceitos estabelecidos ao simplesmente
anunciar o surgimento de uma nova era cosmopolita, distante da era na-
cional no plano societário e da ação política.

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Por outro lado, estabelecer um vínculo sucessivo entre uma primei-


ra e uma segunda modernidade não atende à mudança de perspectiva
preconizada pelo cosmopolitismo metodológico, que advoga pela neces-
sidade de ter a sociedade mundial como referência metodológica. De-
finir uma primeira modernidade como nacional e uma segunda como
cosmopolita significa tomar a história da Europa ocidental como história
mundial. Essa segunda insuficiência remete ao problema do autorreferen-
ciamento epistêmico e se alinha, como veremos, à crítica pós-colonial.
Segundo, ao afirmar que o cosmopolitismo metodológico deve estar
voltado para implicações futuras de ações presentes, deixando de lado a
análise das implicações presentes de um nacionalismo tido como relíquia
da história e, com isso, declarando a redundância de antigos conceitos e
categorias, o cosmopolitismo metodológico tende a abrir mão de catego-
rias e conceitos que possibilitam compreender como justamente aconte-
cimentos, problemas e redes comunicativas (como o risco, os direitos hu-
manos, as crises econômicas etc.) assumem expressões heterogêneas na
esfera local, combinando-se com histórias locais. O aspecto polissêmico
de problemas compartilhados mundialmente possui estreita vinculação
com redes de influências de manifestação local.
Em proximidade com Fine, Daniel Chernilo (2006) argumenta que o
“presentismo” e o resultante “esquematismo histórico-teórico” da crítica
do nacionalismo metodológico formulada por Beck impedem de com-
preender que o nacionalismo metodológico era tão metodologicamente
infundado na primeira modernidade como é na segunda. Os conceitos e
categorias de um passado nacional, simples e industrial da modernidade
não apenas perdem validade porque o mundo passou por transformações
radicais, tornando-se cosmopolita, reflexivo e pós-industrial, mas subs-
tancialmente porque tais transformações iluminaram novos aspectos das
formas de socialização. O que se torna questionável, portanto, é o posi-
cionamento de ruptura no plano lógico.

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Para Chernilo, o nacionalismo metodológico e a autocompreensão


que ele gera eram empiricamente falsos também para compreender a au-
toimagem nacional das sociedades da primeira modernidade. A corres-
pondência entre Estado-nação e sociedade leva, no plano lógico, a uma
concepção empiricamente falsa de transformação social, a qual seria endó-
gena e autossuficiente. Chernilo conclui que o nacionalismo metodológico
surgiria então quando a perspectiva intelectual da sociologia está baseada
na equação entre sociedade e Estado-nação, por um lado, e na explicação
substantiva da transformação social contida nessa concepção internalista e
autossuficiente de Estado-nação, por outro (Chernilo, 2006, p. 08).
A crítica de Chernilo delineia, por fim, duas versões da crítica do
nacionalismo metodológico: uma primeira, lógica, versada sobre implica-
ções metodológicas no âmbito da formulação de conceitos e categorias,
outra histórica, que se dedica a compreender como uma forma contin-
gente de organização política da modernidade acabou por assumir o es-
tatuto de organização natural da sociedade moderna e encarnar o proje-
to moderno. Essa distinção é fundamental para delinear com clareza os
significados e implicações que o nacionalismo metodológico tem para a
sociologia. A ausência dessa distinção fundamental entre a versão lógica
e a versão histórica é o que leva Beck, sustenta o autor, a cometer o equí-
voco de deixar entender que o nacionalismo metodológico era adequado
para o seu tempo, tendo por consequência uma oposição lógica entre
nacionalismo e cosmopolitismo ancorada em uma concepção esquemá-
tica do tempo histórico. A consequência teórica disso é a de que Beck
acaba por definir, talvez inadvertidamente, equivalentes lógicos do nacio-
nalismo metodológico para pensar um tempo presente que ele mesmo
considera como radicalmente distinto. De um modo paradoxal, Beck cria
uma versão renovada do dualismo mais famoso da teoria social: ele tem a
própria versão da dicotomia entre Gemeinschaft – agora o Estado-nação –
e Gesellschaft – a sociedade mundial de risco (Chernilo, 2006: 12).

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Para evitar o “esquematismo histórico-teórico”, Chernilo sustenta


que é necessário operar as duas versões do nacionalismo metodológico,
a lógica e a histórica, conjuntamente. Isso evitaria o equívoco de vincular
teoricamente um conceito dotado de uma pretensão universal de valida-
de (sociedade) a um aspecto histórico contingente (Estado-nação). É esse
equívoco que Beck reproduz ao deixar entender que o nacionalismo me-
todológico foi adequado para o seu tempo e que, à luz de transformações
históricas (perspectiva do ator), haveria de se colocar em marcha uma
ruptura epistemológica (perspectiva do observador). Ao não diferenciar
essas duas versões da crítica do nacionalismo metodológico, o conceito
de sociedade contido em “sociedade mundial de risco” tende igualmente
a estar mediado por um aspecto historicamente contingente do tempo
presente: o risco e o tipo de cosmopolitização reflexiva que ele engendra.
Nesse sentido, tanto Chernilo quanto Fine argumentam que nacio-
nalismo e cosmopolitismo devem ser reconstruídos não como opostos
no plano lógico e no plano histórico, mas como co-originários e em co-
evolução. Os autores concordam com as teses principais da crítica do
nacionalismo metodológico e compartilham do potencial lógico, histórico
e político do cosmopolitismo. Mas opõem-se a uma concepção histórica
e lógica esquemática, como faz Beck.
Entretanto, apesar de bem-sucedidos no âmbito da diferenciação
conceitual no interior da crítica do nacionalismo metodológico, o cami-
nho aberto para uma teoria social cosmopolita ainda carece, na inter-
pretação de Fine e Chernilo, de um posicionamento teórico mais bem
definido no que tange ao lado imperialista e colonial do Estado-nação.
Os equívocos de uma concepção autossuficiente de sociedade e endó-
gena de transformação social, advinda da correspondência teórica entre
sociedade e Estado-nação, têm suas consequências teóricas mais eviden-
tes quando pensados à luz de uma teoria da modernização efetivamente
mundial, como aponta a crítica pós-colonial.

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3 – A crítica pós-colonial da modernização reflexiva


e do cosmopolitismo
A crítica pós-colonial também circunscreve a diferenciação teórica
entre perspectiva do ator e perspectiva do observador e se volta para a
representação da trajetória da sociedade moderna daí decorrente. Mas
diferentemente de Fine e Chernilo, enfatiza-se aqui o caráter epistêmico
dessa representação. O problema geral identificado pelos estudos pós-
-coloniais circunscreve a inscrição da teoria da sociedade mundial de risco
no campo da teoria da modernização. Mais precisamente, Sérgio Costa
(2006) e Gurminder Bhambra (2011) se dirigem à conversão em axioma
da dedução teórica segundo a qual a modernização autossuficiente e en-
dógena da Europa/Ocidente precede linearmente e determina teleologica-
mente a modernização do resto do mundo. A consequência teórica disso
é a correspondência da autocompreensão de determinada sociedade po-
lítica, econômica e técnico-cientificamente dominante com o devir social
do conjunto da sociedade mundial. A consequência histórica, de seu lado,
é a exclusão hermeneuticamente arbitrária daquilo que não é reconheci-
do pela autocompreensão de mundo europeia/ocidental. Ao localizar re-
flexividade e cosmopolitismo no esquematismo histórico-teórico de uma
modernização ocidental precedente e teleologicamente determinante das
demais, Costa e Bhambra identificam na modernização reflexiva e na cos-
mopolitização reflexiva um autorreferenciamento epistêmico.
Para Costa, o autorreferenciamento epistêmico da teoria da socieda-
de mundial de risco se expressa, primeiramente, como reducionismo. A
cosmopolitização reflexiva desencadeada pelo risco, argumenta o autor,
não consiste senão em uma categoria única que está longe de identificar a
“multiplicidade radical” das transformações recentes. No plano analítico,
isso quer dizer renunciar à tentação reducionista de fundir várias dinâmi-
cas numa única categoria (Costa, 2006, p. 122).

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Em segundo lugar, conceitos como risco e cosmopolitização refle-


xiva padecem de um déficit histórico e historiográfico evidente, além de
desconsiderarem as tensões entre os níveis geográficos de análise (Costa,
2006, p. 122-23). Esse déficit histórico, historiográfico e geográfico cons-
titui o pano de fundo do autorreferenciamento epistêmico do modelo de
fases da modernidade da sociedade mundial de risco: Esse modelo en-
contra, possivelmente, aplicação em algumas sociedades europeias; con-
tudo, em regiões que se integraram ao mundo moderno na condição de
colônia e sociedade escravagista, o espírito crítico chegou muito antes das
certezas (modernas). De algum modo, essas sociedades já eram “reflexivas”
muito antes de se industrializarem (2006, p. 220). De certa maneira, por-
tanto, Costa acrescenta ao “esquematismo histórico-teórico” identificado
por Chernilo e Fine uma dimensão propriamente histórica e geográfica
que insere o Estado-nação no contexto da sociedade mundial.
Terceiro, tais deficiências levam Beck a substituir uma imagem de
mundo composta por sociedades do Estado nacional tidas como “môna-
das sociológicas” por uma baseada na antinomia West/Rest. Beck substitui
o autorreferenciamento do nacionalismo pelo autorreferenciamento de
um cosmopolitismo ocidental. É esse autorreferenciamento que faz com
que o autor reduza o diagnóstico da modernização mundial ao risco e
à cosmopolitização reflexiva. A implicação teórico-normativa disso é a
seguinte: uma vez que a racionalidade reflexiva observada em sociedades
europeias configura um potencial de emancipação transferido para o con-
junto da sociedade mundial, Beck desconsidera a materialidade local do
risco, as interpretações culturalmente localizadas dos mesmos e o diag-
nóstico imanente de potenciais de emancipação. Assim, no lugar da ade-
quada consideração da diversidade dos variados padrões de transformação
nas diferentes regiões do mundo nominalmente almejada pelo autor, sua
perspectiva de análise acaba descrevendo a globalização como processo

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evolucionista e monocêntrico de expansão de uma certa “constante” so-


cial, a reflexividade (Costa, 2006, p. 77).
A insuficiência da teoria de Beck e de seu cosmopolitismo reside,
nesse sentido, no lugar que este último passa a ocupar no modelo de
fases da modernidade: se a primeira modernidade se caracteriza pelo
surgimento do Estado-nação e do nacionalismo e a segunda, a reflexiva,
se diferencia da primeira por sua dinamização cosmopolita e o autocon-
frontamento com a racionalidade institucional da primeira, então o cos-
mopolitismo fica restrito à história europeia. Esse esquematismo histórico-
-teórico eurocêntrico dá lugar, consequentemente, a binarismos variados:
simples vs. reflexivo, nacionalismo vs. cosmopolitismo, West vs. Rest.
De seu lado, as críticas de Gurminder Bhambra (2011) partem de
uma dedução inicial: ao reproduzir a antinomia entre Ocidente e o Res-
to, a crítica do nacionalismo metodológico formulada por Beck e seu
desdobramento em cosmopolitismo metodológico reduzem a sociedade
mundial à autocompreensão europeia. Como nos clássicos da sociologia,
argumenta a autora, a crítica do nacionalismo metodológico do sociólogo
alemão permanece cega às estruturas imperiais que conferiram propor-
ção mundial à modernização europeia no período da primeira moderni-
dade. E a mesma cegueira se mantém no cosmopolitismo metodológico
em relação à reatualização daqueles mecanismos de dominação imperiais
no contexto pós-colonial, antes crivados na ocupação militar, hoje media-
dos pela economia política global e pela concentração da enunciação.
Quando argumento que os conceitos sociológicos são ina-
propriadamente elaborados – especialmente, que eles são
“metodologicamente eurocêntricos”, ao invés de metodo-
logicamente nacionalistas –, isso não é algo que está se
tornando problemático apenas agora [...] No mínimo [...]
a “primeira fase da modernidade” está caracterizada tanto
por impérios quanto por Estados-nação, então os conceitos
dessa fase seriam tão inadequados naquela época quanto
seriam agora (Bhambra, 2011, p. 317).

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Bhambra argumenta que quando Beck vai do nacionalismo ao cos-


mopolitismo, mantém-se o autorreferencimento epistêmico das teorias
clássicas, do nacional para o ocidental. Se levarmos às últimas consequên-
cias o argumento de Bhambra, temos o seguinte quadro: da primeira para
a segunda fase da modernidade, trata-se da passagem de um “eurocen-
trismo metodológico”, que toma a forma de organização político-social
de parte da Europa ocidental (Estado-nação) como modelo mundial de
análise, para um “ocidentalismo metodológico”, que toma a organiza-
ção político-social (democracia liberal e unificação europeia) e padrões
de integração social das sociedades ocidentais como modelo mundial de
análise. Circunscrever o cosmopolitismo às tradições de pensamento oci-
dentais acarreta três problemas teórico-metodológicos:
Primeiro, há a recusa de reconhecer que houve práticas
cosmopolitas e o desenvolvimento de ideias cosmopolitas
em outras partes do mundo, fora do contato europeu, em
relação ao contato europeu e não subordinadas ao contato
europeu [...] Segundo, não há engajamento em relação à
tensão problemática trazida à tona quando nós (se existe
um nós) abordamos a dominação europeia contemporâ-
nea sobre boa parte do mundo enquanto a negação real da
ideia e dos ideais que o cosmopolitismo, todavia, reivindica
[...] E ainda, enquanto abre-se espaço para considerar di-
ferentemente as histórias-padrão do cosmopolitismo, essas
histórias também reproduzem justamente aquilo a que eles
[autores dos discursos dominantes sobre o cosmopolitismo
contemporâneo] se opõem e, em muitos casos, o que é re-
produzido [...] é uma genealogia europeia. Não é que tais
formas de universalismo são peculiares à Europa, mas antes
que a Europa parece ter sérias dificuldades com o universa-
lismo que abraça (Bhambra, 2011, p. 315).

A desconstrução da episteme moderna ocidental e de sua antinomia


atual West/Rest define o ponto de entrada pós-colonial no debate sobre
o cosmopolitismo, eo ipso, sobre o nacionalismo. Dessa maneira, estabe-

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lece-se uma relação crítica com tradições de pensamento ocidentais. Na


sociologia, privilegia-se a teoria da modernização, no sentido preciso de
que a pretensão universal de validade ali avançada define o que é e o que
não é moderno sem se dar conta da encarnação etnocêntrica de suas for-
mulações. Transposto isso para o discurso cosmopolita da modernização
reflexiva de Beck, trata-se então de uma definição “ocidentalocêntrica”
do que é ou não é cosmopolita (Bhambra, 2011, p. 314).
Se não considerarmos a diversidade que o cosmopolitismo ilumina
enquanto encarnação antropológica generativa intercultural, o potencial
analítico do conceito fica restrito a uma compreensão “paroquial” do que
significa enquanto prática social. Enquanto estudiosos argumentam a favor
do universalismo do que é pressuposto como categorias europeias, eles
então raramente reconhecem os processos através dos quais tal univer-
salização é ativada, a saber, majoritariamente processos de colonização
e imperialismo (Bhambra, 2011, p. 314). Vincular de modo exclusivo e
precedente o cosmopolitismo à modernização ocidental, à democracia li-
beral ocidental e às tradições de pensamento ocidentais, implica em ope-
rar um fechamento hermenêutico arbitrário da encarnação antropológica
generativa intercultural do conceito. Diversidade cultural, práticas sociais
cosmopolitas e a “reflexivização” que as caracterizam, não são exclusivas
da vida social ocidental. Muito pelo contrário: a diversidade cultural é ca-
racterística histórico-sociológica constitutiva das sociedades pós-coloniais,
o que sugere a indagação empiricamente razoável de que práticas sociais
cosmopolitas podem ter existido no período da “primeira” modernidade
e existam em sociedades não ocidentais2.

2
Ver a esse respeito, por exemplo, os estudos aplicados realizados por Glynn e Cupples (2010)
e Gidwani e Sivaramakrishnan (2003), que identificam práticas sociais cosmopolitas, respecti-
vamente, entre indígenas na Costa do Mosquito, Nicarágua, e no espaço social rural da Índia.

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As críticas pós-coloniais de Costa e Bhambra, portanto, não apenas


reconhecem as limitações das teorias clássicas da modernização que a crí-
tica do nacionalismo metodológico identifica, mas conferem a esta última
uma perspectiva mundial, ao analisar o Estado-nação além da autocom-
preensão nacionalista europeia: a saber, também consideram analitica-
mente o imperialismo e o colonialismo. Em sentido amplo, trata-se aqui,
como definem Sebastian Conrad e Shalini Randeria (2002, p. 25-26), de
abrir a análise sociológica, antropológica e histórica para a coprodução
do mundo moderno, para a perspectiva de “modernidades entrelaçadas”
(entangled modernities). Em vista disso, o que falta ao cosmopolitismo
da teoria da sociedade mundial de risco é justamente um procedimento
metodológico reflexivo mundial; é fazer valer cognitiva, teórica e norma-
tivamente a reflexividade que reivindica.

4 – A contradição interna: cosmopolitismo metodológico


e tipologia dos riscos globais
As críticas de Chernilo e Fine, por um lado, e de Costa e Bhambra,
por outro, apontam para um problema comum, qual seja: o risco que
representa tomar-se uma história social determinada como referência
metodológica para derivar uma condição de vida e potenciais de emanci-
pação mundiais. No plano normativo, fazer valer worldwide o diagnóstico
de potenciais de emancipação histórica e geoculturalmente localizados
tende a configurar uma concepção metafísica de “bem comum”, que ao
estar dissociada das condições efetivas de vida próprias a outro contexto
histórico de ação, pode induzir a formas de violência e dominação. Neste
momento, gostaríamos de introduzir uma crítica à tradução falha da im-
bricação metodológica das dimensões espacial e temporal do cosmopo-
litismo metodológico no diagnóstico dos riscos globais levado a cabo por

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Beck. No plano conceitual, isso revela equívocos particularmente graves,


como fica explícito na tipologia dos riscos globais, a qual diferencia os
riscos ambiental, financeiro, terrorista e biográfico a partir do binômio
casualidade/intenção (Beck, 2008, p. 32-34).
O tipo ambiental (Beck, 2001, p. 43-48 e 65-80; 2008, p. 62-66) e
o tipo financeiro (Beck, 2008, p. 270-273) possuem, apesar de suas par-
ticularidades intrínsecas, um eixo comum: ambos se inscrevem na ação
como casualidade, como efeito imprevisto de decisões tomadas no pro-
cesso de modernização. Ambos possuem, ainda, a dialética entre bens e
prejuízos como ambivalência constitutiva do ponto de vista político-ins-
titucional e técnico-científico. Riscos financeiros envolvendo construções
de novas centrais nucleares, por um lado, e riscos ambientais relativos à
destruição ecológica, por outro, se confundem numa espécie de zona
subversiva de incalculabilidade, fazendo com que em muitas decisões
que comportam grandes riscos, não se trate de escolher entre alternativas
seguras e alternativas arriscadas, mas entre várias alternativas arriscadas;
alternativas cujos riscos se mostram frequentemente incomensuráveis, já
que afetam âmbitos qualitativamente diferentes (Beck, 2008, p. 18). En-
quanto catástrofe antecipada, os riscos ambientais e financeiros escapam
à racionalidade institucionaliza como imprevisibilidade, porque surgem
da incerteza derivada do déficit racional da imaginação e medição cientí-
ficas, da incalculabilidade.
O autorreferenciamento epistêmico que essa definição de riscos am-
biental e financeiro carrega reside no fato de que a conscientização em
relação aos riscos e o problema da legitimação dos efeitos destrutivos de
riscos que se convertem em catástrofe pressupõem uma sociedade organi-
zada politicamente como democracia, posto que nela não há controle do
conteúdo das informações veiculadas pelos meios de comunicação; nela há
garantias jurídicas para o exercício de liberdades fundamentais; e nela, ain-

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da, o poder político tem sua fonte de legitimidade na soberania popular. O


autorreferenciamento epistêmico consiste em que, como decisões tomadas
no processo de modernização, os riscos ambiental e financeiro assumem
uma dinamização institucional ambivalente porque não podem prescindir,
na democracia, da legitimação pública das decisões político-institucionais e
da aplicação industrial de resultados técnico-científicos3.
Já o risco terrorista pressupõe uma intencionalidade da ação (Beck,
2008, p. 213-218 e 273-274). Consequentemente, a catástrofe nele an-
tecipada escapa à racionalidade fundamental pela qual é feito o cálculo
do risco – previsibilidade frente a acidentes possíveis. A ação institucional
reguladora passa então a incentivar, de forma moralmente justificada, a
imaginação com intenção preventiva. Contudo, ao incentivar a imagina-
ção de modo a ir além de acidentes meramente fortuitos, o Estado de
direito tende a suprimir os fundamentos da liberdade e da democracia
(Beck, 2008, p. 34).
O autorreferenciamento epistêmico do risco terrorista se manifesta
em dois aspectos precisos. Por um lado, pressupõe-se a perspectiva da
vítima do ato terrorista. O fenômeno maior que representa o terrorismo
fica reduzido à autocompreensão geoculturalmente localizada da vítima
e à ação deliberada de um “Outro fixo no tempo e no espaço”, deixan-
do de ser compreendido como contra-ação à reatualização histórica do
imperialismo – do imperialismo colonial da Europa ocidental para o im-
perialismo econômico do Ocidente. Essa contra-ação está inscrita numa
condição de vida pós-colonial. Por outro lado, pressupõe-se a forma de
organização política do Estado democrático de direito e problemas es-
pecíficos de legitimação da ação institucional preventiva no plano dos
fundamentos da liberdade e da democracia.

3
Para conferir a vínculo interno entre riscos ambientais, financeiros e democracia, sugiro:
Beck, 2001, p. 35-159; 2008, p. 18, 34 e 45)

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Por último, o risco biográfico se refere à insegurança nas biografias


e funda-se tanto na casualidade como na intencionalidade. Casualidade,
porque eventos fortuitos (acidentes, doenças) podem impedir ou dificul-
tar a realização de objetivos pré-determinados. Intencionalidade, porque
institucionalmente exige-se do indivíduo escolhas entre caminhos a seguir
no transcorrer da biografia individual (carreira, formação, filhos) e que o
mesmo se previna contra possíveis acontecimentos e fatalidades (seguro
de saúde, de vida, aposentadoria privada) (Beck, 2001, p. 295-336; Beck
& Beck-Gernsheim, 2002, p. 89-90; 140-144). O risco biográfico diz, en-
tão, respeito à condição de experiência do indivíduo numa sociedade em
que o percurso biográfico deixa de ser conformado exclusivamente pela
origem social, pela família nuclear, pela religião, situando-se também na
relação entre experiência individualizada e padronização institucional das
biografias. A consequência disso consiste em que as antigas solidariedades
(de classe) são substituídas por solidariedades seletivas (Beck, 2001, p.
165-216; 2002b, p. 67-112; Beck & Beck-Gernsheim, 2002, p. 01-21 e
33-41; 2008, p. 41-58).
O autorreferenciamento epistêmico se revela aqui em dois aspec-
tos geoculturais. Primeiro, pressupõe-se democracia, mercado capitalista,
modelo familiar cristão-burguês, sistema de seguridade social do Estado
de bem-estar. Segundo, pressupõe-se também uma trajetória da socie-
dade moderna determinada, que vai de uma modernidade simples para
uma reflexiva e acompanhada por processos de secularização e raciona-
lização crescentes que, ao cabo, estimularam formas individualizadas de
socialização.
Compreende-se assim que a tipologia dos riscos globais está encar-
nada na trajetória histórica específica e na autocompreensão “presentista”
de uma sociedade moderna europeia/ocidental. À luz dessa tipologia, isso
significa, a rigor, que a autocompreensão da sociedade de risco está longe

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de ser mundial, como pretende Beck, mas corresponde, no limite, à au-


tocompreensão da sociedade de risco europeia/ocidental. Em vista disso,
ganha forma uma contradição interna no projeto de Beck, precisamente
na tradução das dimensões espacial e temporal do cosmopolitismo me-
todológico (versão lógica) em um diagnóstico de época (versão histórica),
com sua tipologia eurocêntrica dos riscos globais: o autor não logrou tra-
duzir as dimensões espacial e temporal do cosmopolitismo em seu uso
heurísitico do risco.
No plano espacial, a substituição de relações nacionais-nacionais
por relações translocais, locais-globais, transnacionais, nacionais-globais e
globais-globais (Beck, 2006, p. 151) consistiu, finalmente, em substituir re-
lações nacionais-nacionais (nacionalismo metodológico) por uma relação
de viés hermenêutico unilateral, a relação West/Rest. Essa tradução falha
da dimensão espacial do cosmopolitismo metodológico em um diagnóstico
de época se desdobra, por sua vez, no horizonte normativo da sociedade
de risco: ao partir dos dilemas que a globalização traz para a democracia
e o Estado de direito, Beck tende a restringir o horizonte normativo da so-
ciedade mundial aos dilemas circunscritos por um locus histórico europeu.
Em um artigo intitulado Understanding the real Europe (Compreendendo
a verdadeira Europa), a unilateralidade hermenêutica fica particularmente
clara: Mais do que em qualquer outra parte do mundo, a Europa mostra que
esse passo é possível. A Europa ensina ao mundo moderno que a evolução
política centrada no Estado nacional e nos sistemas de Estado chegou, sem
sombra de dúvida, ao fim [...] O slogan para o futuro poderia ser: o movi-
mento América-Europa está de volta! (Beck, 2003, p. 38).
Em suma, como bem resume Bhambra, a versão de cosmopolitis-
mo de Beck é uma expressão de eurocentrismo cultural mascarado como
inclusividade global potencial, que é dependente do fato de Eles serem
incluídos em Nossos modelos (2011, p. 325). Essa tradução falha da di-

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mensão espacial no diagnóstico de época conduz, ainda, a uma falha na


tradução da dimensão temporal, já que ambas estão internamente vincu-
ladas: a unilateralidade hermenêutica da relação West/Rest e a restrição
que isso opera no horizonte normativo da sociedade mundial impedem
justamente de abrir o olhar para questões empírico-analíticas, mas tam-
bém normativas, que decorrem da cosmopolitização da sociedade e da
política, da história e da memória – como quer Beck (2006, p. 154-55).
Compreende-se aqui que a falha em traduzir as dimensões espacial
e temporal em um diagnóstico de época cosmopolita tende a desenhar
um horizonte normativo que o projeto político cosmopolita quer justa-
mente evitar: sob o horizonte normativo do Ocidente, o projeto político
cosmopolita tende à reificação de um presente global, só que aqui não
a-histórico, contra o qual tenta se precaver Beck (idem, ibidem), mas con-
gelado nas assimetrias históricas entre West/Rest. O projeto cosmopolita
de sociologia de Beck falha justamente naquilo a que se propõe, isto é:
ser cosmopolita. No plano teórico, cognitivo e normativo, levar a sério
uma compreensão cosmopolita da vida social significa evitar toda e qual-
quer restrição hermenêutica.

5 – Insuficiências e desafios
É difícil discordar do diagnóstico e da intuição teórica (transdisciplinar)
de Beck. Pois se a globalização transformou de tal maneira as formas de
integração social, chegando até a forçar a transformação da lógica moderna
de integração da sociedade com a natureza, tornam-se relevantes questio-
namentos teóricos correspondentes. Todavia, nessa tentativa Beck incorre
em insuficiências e contradições como as acima explicitadas. Por último,
gostaríamos ainda de apontar outras insuficiências teóricas e, a partir delas
e tendo em vista o falecimento repentino do autor, indicar desafios que a
teoria da sociedade mundial de risco deixa em aberto para a sociologia.

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Uma primeira insuficiência diz respeito à pretendida abertura trans-


disciplinar. Por um lado, se Beck pode ser reconhecido por sua tentativa
obstinada em fazer uso heurístico do conhecimento gerado por várias dis-
ciplinas, por outro a escolha por uma estratégia discursivo-analítica ensaísta
exigiria definir com clareza o que o termo teoria significa na designação
“teoria da sociedade mundial de risco”. Vale dizer, temos aqui um desafio
legado por Beck: seria ainda necessária uma teoria (cosmopolita?) do mé-
todo, do ensaio e/ou da prática científica orientada transdisciplinarmente.
Uma segunda insuficiência diz respeito à pretensão de validade.
Trata-se de saber se risco, reflexividade e cosmopolitização conseguem
de fato apreender todas as dimensões da globalização, incluindo aqui
também internalizações variadas da natureza conforme inflexões culturais
e históricas locais. Isto é, como argumenta Costa (2006, p. 122), pare-
ce empiricamente pouco plausível que as redes de interação altamente
complexas que dão materialidade para a globalização podem ser adequa-
damente condensadas apenas por três conceitos – risco, reflexividade e
cosmopolitização. Estudos como os de Saskia Sassen (2010), Renato Ortiz
(2003) e Paul Gilroy (2002) – para citar apenas alguns – sugerem a ne-
cessidade de maior ampliação temática, no sentido de incorporar outros
fenômenos igualmente relevantes que caracterizam a globalização. Mas
isso é pertinente conquanto se mantenha a pretensão a uma teoria geral
da sociedade – como quer Beck. Caso contrário, há de limitar-se a uma
teoria social (cosmopolita) do risco, a qual, mesmo assim, demandaria
maior refinamento conceitual.
E aqui temos um segundo desafio deixado por Beck, voltado espe-
cificamente à designação cosmopolita pretendida em sua teoria do risco.
A designação cosmopolita sugere a necessidade de fazer refletir na esfera
teórica – nos conceitos de risco, reflexividade e cosmopolitização, por
exemplo – a diversidade das inflexões culturais de que o risco é objeto,

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isto é, de sua manifestação como práxis culturalmente localizada na me-


dida em que circula globalmente. Ao circularem globalmente, fenômenos
como o risco conectam-se a condições históricas, culturais, políticas e
ambientais diversas, exigindo um esforço maior de diferenciação concei-
tual à luz do escrutínio empírico. Com isso, sugere-se aqui que o risco não
promove apenas um cosmopolitismo, mas cosmopolitismos, no plural, no
sentido de diversificação simbólica e material específica das realidades
onde se faz presente, onde motiva a ação. Em outras palavras, é preciso
ainda incrementar a teoria da sociedade mundial de risco com diferen-
ciações conceituais derivadas de estudos empíricos de realidades como,
por exemplo, a brasileira.
Por fim, há uma terceira insuficiência no plano lógico, que decorre
da contradição interna entre a fundação no cosmopolitismo metodológi-
co e o diagnóstico de época. Como vimos, a contradição interna reside no
fato de que, ancorado em uma trajetória histórica específica, o cosmopo-
litismo dos riscos globais possui um direcionamento de viés hermenêutico
unilateral – do Ocidente para o mundo –, não refletindo adequadamen-
te sua orientação metodológica para uma trans-historicidade vinculada
à territorialidade. Consequentemente, opera-se uma restrição do hori-
zonte normativo da sociedade mundial aos dilemas circunscritos por um
locus histórico europeu/ocidental, impedindo de abrir a sociologia para
a cosmopolitização da sociedade e da história. Com isso, sugere-se que
a teoria da sociedade mundial de risco ainda necessita ser aberta desde
dentro, no sentido de uma hermenêutica histórica do risco, da reflexivi-
dade e da cosmopolitização. Trajetórias históricas distintas não impedem,
evidentemente, que um mesmo fenômeno, como o risco ou as mudanças
climáticas, por exemplo, circule globalmente, mas sugerem que a expres-
são desse fenômeno como práxis seja mediada por esferas culturais diver-
sas, conforme a localidade onde se faz presente.

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O êxito da teoria da sociedade mundial de risco consiste em ter


aberto caminhos novos para o tratamento sociológico de uma intuição
amplamente compartilhada nos dias atuais – a intuição de que se faz
necessário reatualizar o aparato teórico-metodológico da sociologia para
endereçar o particular e o universal no contexto da globalização. Essa
difícil tarefa foi empreendida por Beck, todavia, sob o pano de fundo
de uma concepção de modernização epistemicamente autorreferenciada
(Costa e Bhambra) e sob uma interpretação autossuficiente, endógena,
esquemática e “presentista” da modernidade e da história do Estado-na-
ção (Fine e Chernilo). Uma hermenêutica do risco, da reflexividade e da
cosmopolitização, no sentido da constituição da esfera pública (Kögler,
2011), da consciência histórica e da experiência (Gadamer, 1975; 1999,
p. 400 sq.), permitiria, por exemplo, endereçar perguntas da sociedade
mundial de risco de modo distinto: de que maneira a encenação social e
as relações de definição que materializam o risco se introduzem nas rela-
ções assimétricas mundiais? De que maneira formas históricas de reflexi-
vidade caracterizam cosmopolitismos do risco diversos? Em que medida
riscos globais se diversificam qualitativamente e são percebidos, defini-
dos e geridos em regiões diversas? E num sentido fundamental: de que
maneira o entrelaçamento trans-local de significações do risco promove
cosmopolitizações que induzem a internalizações reflexivas variadas da
natureza? Esses questionamentos sugerem um terceiro desafio: elaborar
uma hermenêutica do risco, da reflexividade e da cosmopolitização, de
modo a fazer valer o cosmopolitismo que a sociedade mundial de risco
reivindica como fundação teórica.

Estevão Bosco é mestre em sociologia pela Universidade Estadual de Campinas


(UNICAMP) e doutorando em sociologia na mesma universidade. O pesquisador
possui financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
(FAPESP). [email protected].

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Leila Ferreira é professora titular do Departamento


p de Sociologia da Universidade
Estadual de Campinas (UNICAMP). [email protected].

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