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Apostila - Didática

O documento aborda a evolução da educação ao longo da história, destacando a importância de refletir sobre o propósito do ensino e as diferentes concepções de educação em diversas sociedades. Ele também discute a relação entre educação, valores e objetivos, enfatizando que os valores influenciam diretamente os objetivos educacionais. Além disso, menciona a necessidade de considerar as prioridades de cada contexto social na formação educacional.

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Apostila - Didática

O documento aborda a evolução da educação ao longo da história, destacando a importância de refletir sobre o propósito do ensino e as diferentes concepções de educação em diversas sociedades. Ele também discute a relação entre educação, valores e objetivos, enfatizando que os valores influenciam diretamente os objetivos educacionais. Além disso, menciona a necessidade de considerar as prioridades de cada contexto social na formação educacional.

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DIDÁTICA

1
Sumário
1 EVOLUÇÃO DA EDUCAÇÃO NA HISTÓRIA ...................................................4
2 EDUCAÇÃO, ESCOLA E PROFESSORES.....................................................5

2.1 Para Que Ensinar?.........................................................................................5


2.2 O Que É Educação? ......................................................................................6

3 EDUCAÇÃO E VALORES....................................................................................8
4 EDUCAÇÃO, VALORES E OBJETIVOS ...........................................................9

4.1 Educação, Valores, Objetivos e Prioridades .............................................9


4.2 Objetivos Prioritários da Educação Brasileira ........................................ 10

5 EDUCAÇÃO E ESCOLA ................................................................................... 11


6 EDUCAÇÃO E PROFESSORES ..................................................................... 13
7 ENSINAR E APRENDER .................................................................................. 15

7.1 O Ensino e a Aprendizagem na Vida Humana....................................... 15


7.2 Evolução do Conceito de Ensino .............................................................. 18

8 QUE É APRENDIZAGEM? ............................................................................... 20

8.1 Tipos de Aprendizagem ............................................................................. 21


8.2 Aprendizagem e Motivação ....................................................................... 22
8.3 Aprendizagem e Maturação ...................................................................... 23
8.4 Fases da Aprendizagem ............................................................................ 23
8.5 Relação entre Ensino e Aprendizagem ................................................... 24
8.6 Conclusões sobre Ensino e Aprendizagem ............................................ 24

9 PEDAGOGIA E DIDÁTICA................................................................................ 25

9.1 O que é Pedagogia ..................................................................................... 25


9.2 Aspectos Fundamentais da Pedagogia ................................................... 25

10 DIVISÃO DA PEDAGOGIA ........................................................................... 27

10.1 O que é didática? ..................................................................................... 27


10.2 Didática Geral e Didática Especial........................................................ 28
10.3 Didática e Metodologia ........................................................................... 28
10.4 Ciclo Docente ........................................................................................... 29

10.4.1 Primeira fase: Planejamento............................................................. 29

2
10.4.2 Segunda fase: Orientação ................................................................ 30
10.4.3 Terceira fase: Controle ...................................................................... 30

11 COMO ENSINAR ............................................................................................ 32


12 O CURRÍCULO E SEU PLANEJAMENTO ................................................ 32

12.1 O que é Currículo? .................................................................................. 32


12.2 Consequências do Novo Conceito de Currículo ................................. 34
12.3 Dimensões do Currículo ......................................................................... 35
12.4 Planejamento de Currículo..................................................................... 36
12.5 Significados De Alguns Termos ............................................................ 37

13 CUIDADOS PEDAGÓGICOS ....................................................................... 38

13.1 Psicologia / Sociologia / Filosofia .......................................................... 39

14 COMPORTAMENTO DO ALUNO DURANTE O PROCESSO DE


ENSINO/APRENDIZAGEM ................................................................................................. 41

14.1 Conceitos .................................................................................................. 41


14.2 Causas Da Indisciplina E Possíveis Soluções Para Orientar A
Atividade Do Aluno Para O Estudo ................................................................................ 41
14.3 O próprio docente .................................................................................... 42
14.4 A Construção Escolar ............................................................................. 42
14.5 O Currículo Escolar ................................................................................. 43
14.6 O Pessoal Da Escola .............................................................................. 43
14.7 As Questões Sociais ............................................................................... 44
14.8 Responsabilidades Específicas Dos Docentes ................................. 44

15 O PORQUÊ E O PARA QUÊ DA EDUCAÇÃO.......................................... 47

15.1 Princípios................................................................................................... 47
15.2 Objetivos ................................................................................................... 48
15.3 Características Dos Objetivos ............................................................... 51

16 TEORIAS EDUCACIONAIS .......................................................................... 52

16.1 Teorias Educacionais Modernas: Herbart, Dewey E Freire .............. 52

17 REFERÊNCIAS ............................................................................................... 58

3
1 EVOLUÇÃO DA EDUCAÇÃO NA HISTÓRIA

A construção do sistema escolar, não foi um trabalho que se fez senão com
grandes sacrifícios. Cada povo, cada século, cada pensador pedagogo contribuiu com
atos e teses para a melhoria do que se conhecia.
Longe está uma nação que possa· ser considerada possuidora de sistema
educacional definitivo, mesmo porque a educação é um ato atrelado às condições da
sociedade e está por sua vez está em contínuo processo.
Importante observar que nos dias atuais ficam cada vez mais difíceis modelos
pedagógicos individuais. Importante saber, também, que a Escola Nova,
influenciou os destinos da educação ocidental e está ainda por ser estudada, aplicada,
e, em algumas situações, criticada e modificada.
O professor tem que entender que exerce um papel histórico:
Conhecer, aplicar, afirmar e rejeitar, propor e escrever são ações de vital
importância para a ciência chamada Educação.
No século XX - ao final do século XIX, política e filosoficamente os países já
haviam se estruturado melhor. Ao lado da França, a Inglaterra, a Alemanha e a Rússia,
no velho mundo e os Estados Unidos da América do Norte já tinham mais clareza
sobre o que pretendiam para a educação. Muitos programas foram estruturados e
aplicados. Congressos disseminaram e discutiram pesquisas e projetos, conferências
internacionais possibilitaram troca de informações. Alguns trabalhos modelos são
amplamente reconhecidos, por exemplo:

 Itália - Maria Montessori, médica que trabalhou com crianças consideradas


deficientes (em inteligência, física ou comportamento), demonstrando que a
aprendizagem, quando aplicada com o método ativo, produz efeitos altamente
eficientes para qualquer tipo de aluno;
 Alemanha - Kerchnsteiner identifica a escola à ação, de acordo com o
interesse dos alunos; também prova que a aprendizagem é melhor quando
aplicada essa metodologia;

4
 Estados Unidos - Dewey lança a ideia do ensino por meio do tripé: solução de
problemas, método científico e trabalho em laboratório. Visa a educação
democrática;
 França - Cousinet preocupou-se com a formação do professor tendo em vista
o ensino ativo;
 Piaget - Analisa as características psicológicas de cada fase de aprendizagem
do ser humano, fixando-se especialmente nas primeiras. Seus trabalhos são
difundidos com a denominaçãode construtivismo. Também da França surge a
ideia de Freinet, relativa à educação dentro do trabalho e voltada a ele;
 Argentina - Emília Ferrero absorve as propostas construtivistas e propõe uma
metodologia mais realista para a alfabetização;
 Brasil - Paulo Freire, dedicandose à alfabetização de adultos, propõe a
aprendizagem como um fator político. Seus seguidores estendem suas
propostas para as demais categorias de alunos;
 Rússia – Vygotsky vê na aprendizagem um ato eminentemente social.

2 EDUCAÇÃO, ESCOLA E PROFESSORES

2.1 Para Que Ensinar?

Antes de estudar os aspectos didáticos propriamente ditos, é muito importante


refletir um pouco sobre o sentido da atividade docente. E, para ter consciência do
sentido de sua atividade, o professor precisa se perguntar:

 Para que ensino?


 Para que serve o que estou fazendo?

Isto Significa que os aspectos didáticos devem estar subordinados à definição


de propósitos educativos válidos para orientar nosso trabalho. "Os objetivos que nos
propomos alcançar junto às crianças são o elemento fundamental em nosso trabalho
letivo e quando realmente nos propomos ser educadores."
Segundo Mialaret, a formação pedagógica dos futuros
professores se sustenta em quatro pilares principais:

5
 Uma reflexão de ordem históricofilosófico-sociológica a respeito da instituição
escolar, seu papel na sociedade e as finalidades atuais da educação.
 Um conjunto de conhecimentos científicos acerca da estrutura e do
funcionamento psicológico dos alunos, seja como indivíduos, seja como
pequenos grupos.
 A iniciação na prática dos diferentes métodos e técnicas pedagógicas que
permitam estabelecer a comunicação educativa eficaz.
 Estudo psicológico e pedagógico da didática das disciplinas escolares.

Estes quatro pilares necessários à formação pedagógica de todo docente


estão intimamente relacionados. Suas interações estão indicadas no esquema
seguinte:

Embora a Didática Geral se preocupe primordialmente com como ensinar, ou


seja, com métodos e técnicas, julgamos importante, antes de estudá-los, refletir
sobre o seu fundamento, sobre as razões do seu emprego e sobre os fatores que
intervêm em sua aplicação. Caso contrário, corremos o risco de nos converter em
escravos dos instrumentos (métodos e técnicas). Para evitar isso é de fundamental
importância refletirmos, antes de mais nada, sobre a educação.

2.2 O Que É Educação?

Podemos começar a pensar sobre a educação analisando o seguinte fato


histórico:
Por ocasião do tratado de Lancaster, na Pensilvânia (Estados Unidos), no ano
de 1744, entre o governo da Virgínia e as seis nações indígenas, os representantes
da Virgínia informaram aos índios que em Williamsburg havia um colégio dotado de

6
fundos para educação de Jovens índios e que, se os chefes das seis nações
quisessem enviar meia dúzia de seus meninos, o governo se responsabilizaria para
que eles fossem bem tratados e aprendessem todos os conhecimentos do homem
branco.
A essa oferta, o representante dos índios respondeu:
"Apreciamos enormemente o tipo de educação que é dada nesses colégios e
nos damos conta de que o cuidado de nossos jovens, durante sua permanência entre
vocês, será custoso. Estamos convencidos, portanto, que os senhores desejam o bem
para nós e agradecemos de todo coração. Mas aqueles que são sábios reconhecem
que diferentes nações têm concepções diferentes das coisas e, sendo assim, os
senhores não ficarão ofendidos ao saber que a vossa ideia de educação não é a
mesma que a nossa.
... Muitos dos nossos bravos guerreiros foram formados nas escolas do Norte
e aprenderam toda a vossa ciência. Mas, quando voltavam para nós, eles eram maus
corredores, ignorantes da vida da floresta e incapazes de suportar o frio e a fome.
Não sabiam como caçar o veado, matar o inimigo e construir uma cabana, e falavam
a nossa língua muito mal. Eles eram, portanto, totalmente inúteis. Não serviam como
guerreiros, como caçadores ou como conselheiros.
Ficamos extremamente agradecidos pela vossa oferta e, embora não
possamos aceitá-la, para mostrar a nossa gratidão oferecemos aos nobres senhores
da Virgínia que nos enviem alguns de seus jovens que lhes ensinaremos tudo o que
sabemos e faremos, deles, homens." (Extraído de um texto escrito por Benjamin
Franklin.)
Da resposta dada pelo representante dos índios podemos concluir que não há
forma única nem um -único modelo de educação. Em cada sociedade ou país a
educação existe de maneira diferente. A educação em pequenas sociedades tribais
de povos caçadores, agricultores ou pastores nômades, por exemplo, é diferente da
educação em sociedades camponesas, assim como essa difere da que é dada em
países desenvolvidos e industrializados, e está por sua vez é diferente da educação
em países não industrializados, e assim por diante.
Cada país, cada sociedade tem realidades e valores diferentes e, por isso, tem
uma concepção diferente de educação. Foi para esse aspecto que o representante
das nações indígenas chamou atenção: “... aqueles que são sábios reconhecem que

7
diferentes nações têm concepções diferentes das coisas e, sendo assim, os senhores
não ficarão ofendidos ao saber que a vossa ideia de educação não é a mesma que a
nossa".
A ideia de educação de cada povo depende, portanto, da sua realidade
concreta e de seus valores. A educação dada pelas escolas o Norte aos jovens
indígenas não correspondia nem aos valores nem à localidade das nações indígenas.

3 EDUCAÇÃO E VALORES

Numa linguagem bem simples, podemos dizer que valor significa uma
preferência por algo. Um valor está associado, a significados que conferimos às coisas
ou a situações que, fora de um contexto bem definido e localizado, podem não
representar muito. (...)
Atribuir sentido especial às coisas é, portanto, um ato que exige uma situação
concreta, na qual o indivíduo manifesta sua adesão a determinadas coisas ou repulsa
para outras tantas.
Quando discutimos os valores em educação, estamos nos referindo a coisas
que têm uma conotação positiva ou negativa.
Vejamos alguns exemplos de valores geralmente aceitos e difundidos em
nossas escolas:

 Através do estudo, os que são mais capazes chegam aos postos mais
importantes.
 O trabalho manual é uma ocupação inferior.
 Os que "não querem estudar" ficam relegados às tarefas que nossa sociedade
valoriza menos.
 O mais importante de tudo é o lucro, a promoção pessoal, a ascensão social
mediante o esforço próprio, a poupança, a segurança, etc.

8
4 EDUCAÇÃO, VALORES E OBJETIVOS

Se partirmos de valores diferentes, os objetivos da educação também serão


diferentes. "Os objetivos indicam os alvos da ação. Constituem, como lembra o
nome, a objetivação da valoração e dos valores. Poderíamos, pois, dizer que a
valoração é o próprio esforço do homem em transformar o que é naquilo que deve
ser, os objetivos sintetizam o esforço do homem em transformar o que deve ser
naquilo que é." (SAVIANI, D. Educação: do senso comum à consciência filosófica.
São Paulo, Cortez, 1983. p. 42.).
O esquema seguinte facilita a compreensão do que foi dito:

No esquema acima, a Realidade 1 representa a situação original, e a Realidade


2 essa mesma situação, porém transformada.

4.1 Educação, Valores, Objetivos e Prioridades

O homem não é um ser passivo. Por isso, perante determinada situação, cada
um reage de acordo com sua escala de valores. Alguns procuram transformar a
situação, pois ela não está de acordo com seus valores. Outros, no entanto, não
querem que seja modificada, pois ela corresponde a seus valores.
Os que querem que a situação permaneça como está geralmente estão se
beneficiando dela. Essas pessoas, inclusive, estabelecem hierarquias de valores
que procuram impor às demais. De maneira geral, na sociedade as hierarquias de
valores correspondem aos interesses dos grupos sociais privilegiados.
Por isso, Dermeval Saviani propõe substituir o conceito de hierarquia,
tradicionalmente ligado a uma concepção rígida e estática, pelo conceito de
prioridade, mais dinâmico e flexível. A prioridade, de acordo com esse autor, é ditada

9
pelas condições da situação existencial concreta em que vive o homem. E para
esclarecer sua proposta, apresenta o seguinte exemplo:
"De acordo com a noção de hierarquia, os valores intelectuais seriam, por si
mesmos, superiores aos valores econômicos. (...) Assim, se vou educar, seja num
bairro de elite, seja numa favela, sempre irei dar mais ênfase aos valores intelectuais
do que aos econômicos. No entanto, a nossa experiência da valoração nos mostra
que na favela os valores econômicos tornam-se prioritários, dadas as necessidades
de sobrevivência, ao passo que num bairro de elite assumem prioridade os valores
morais, dada a necessidade de se enfatizar a responsabilidade perante a sociedade
como" um todo, a importância da pessoa humana e o direito de todos de participar
igualmente dos progressos da humanidade", (ld., ibid., p. 42.)

4.2 Objetivos Prioritários da Educação Brasileira

Segundo Dermeval Saviani, em face da realidade concreta do homem


brasileiro, temos os seguintes objetivos gerais e prioritários para a nossa educação:

 Educação para a subsistência;


 Educação para a libertação;
 Educação para a comunicação;
 Educação para a transformação.

Vejamos cada um desses objetivos:

 Educação para a subsistência - "Uma análise mais detida revelará que o


homem brasileiro, no geral, não sabe tirar proveito das possibilidades da
situação e, por não sabê-lo, frequentemente acaba por destruí-las. Isto nos
revela a necessidade de uma educação para a subsistência: é preciso que o
homem brasileiro aprenda a tirar da situação adversa os meios de sobreviver."
(Id, ibid, p. 43.).
 Educação para a libertação - "Mas· como pode o homem utilizar os elementos
da situação se ele não é capaz de intervir nela, decidir, engajar-se e assumir
pessoalmente a responsabilidade de suas escolhas?
 Sabemos quão precárias são as condições de liberdade do homem brasileiro,
marcado por uma tradição de inexperiência democrática, marginalização

10
econômica, política, cultural. Daí a necessidade de uma educação para a
libertação: é preciso saber escolher e ampliar as possibilidades de ação". (Id.,
ibid, p. 43.)
 Educação para a comunicação - "Como, porém, intervir na situação sem uma
consciência das suas possibilidades e dos seus limites? E esta consciência só
se adquire através da comunicação. Daí o terceiro objetivo - educação para a
comunicação: é preciso que se adquiram os instrumentos aptos para a
comunicação intersubjetiva". (ld., ibid, p. 43.)
 Educação para a transformação - "Tais objetivos, contudo, só serão atingidos
com uma mudança sensível do panorama nacional atual, quer geral, quer
educacional. Daí o quarto objetivo: educação para a transformação." (Id., ibid,
p. 43)

5 EDUCAÇÃO E ESCOLA

Educação não se confunde com escolarização, pois a escola não é o único


lugar onde a educação acontece. Em todo o lugar existem redes e estruturas sociais
de transferência de saber de uma geração para outra. Mesmo nos lugares onde não
há sequer a sombra de algum modelo de ensino formal e centralizado, existe
educação. Mesmo se as escolas fossem abolidas as crianças aprenderiam.
Será isso verdade?
Muitos pensadores e críticos educacionais discordam dessa maneira de
pensar. Para Peter Drucker, por exemplo, "as escolas realmente precisam de
mudanças drásticas em todos os níveis, mas nós precisamos não é de uma
'nãoescola', e sim de uma instituição de ensino que funcione e que seja administrada
adequadamente".
Outros autores, que também questionam a qualidade de nossas escolas,
julgam necessário que haja alguma forma de educação sistemática.
Convém lembrar, também, que além dos lugares onde a educação se processa
de forma sistemática - as escolas -, existem lugares onde ela se processa de forma
assistemática. Entre esses lugares podemos citar: a família, a igreja, os sindicatos,
as empresas, os meios de comunicação de massa, etc.

11
A família, por exemplo, é o primeiro elemento social que influi na educação.
Sem a família a criança não tem condições de subsistir. Tal necessidade não é apenas
de sobrevivência física, mas também psicológica, intelectual, moral e espiritual. A
família, no entanto, encontra uma série de problemas, na sua missão de educar. A
falta de preparo de muitos pais para exercer integralmente essa função é o principal
problema.
Dessa falta de preparo surge uma série de outros problemas: falta de amor,
de carinho, de trato adequado, frustração, etc.
Por isso, há necessidade da educação dos próprios pais para a paternidade
e a maternidade. Essa é também uma das funções da escola.
A escola só conseguirá preencher essa função quando houver o
entrosamento dos pais com a escola e com a comunidade.
Assim, a escola deve ser o ambiente em que pais e professores promovam
conjuntamente a educação. Aliás, toda a comunidade deve participar, criando
condições e buscando recursos, para que os pais e educadores possam
desempenhar sua missão. Só assim a escola deixará de ser um meio de perpetuar
os vícios da sociedade para tornar-se "um lugar, um ambiente, em que as crianças
ou jovens se reúnem entre si e com educadores profissionais, para tomarem
consciência mais profunda de suas aspirações e valores mais íntimos e mais
legítimos, e tomarem decisões mais esclarecidas sobre as suas vidas a partir de
aprendizagens significativas.
No entanto, essa transformação não é fácil. Isso porque não é possível fazer
uma mudança profunda na escola enquanto não se fizer também uma profunda
mudança social, "que proponha novos ideais comunitários e pessoais com uma nova
maneira de ver a realidade e a história e que valorize de forma diferente a educação
do povo e a cultura popular".
O maior problema, observa Paulo Freire, não é o fracasso da escola, mas o
fracasso da sociedade inteira como comunidade educativa. Enquanto IIlich
considera a escola como uma instituição que começa e termina em si mesma, Paulo
Freire estuda o problema da educação inserido dentro dos mecanismos sociais.
Nesse sentido, ele afirma: Não é a educação que forma a sociedade de uma
determinada maneira, senão que esta, tendo-se formado a si mesma de uma certa

12
forma, estabelece a educação que está de acordo com os valores que guiam essa
sociedade.
A sociedade que estrutura a educação em função dos interesses de quem
tem o poder, encontra na educação um fator fundamental para a preservação desse
poder. (FREIRE, P e ILLlCHI, I. Diálogo. Buenos Aires, Búsqueda, 1975. p. 30.)
Diante dessa situação, o que é possível fazer? É o próprio Paulo Freire quem
responde:
"Só é possível uma transformação profunda e radical da educação quando
também a sociedade tenha se transformado radicalmente. Isso não significa que o
educador nada possa fazer. É muito o que ele pode realizar, ainda que para tanto
não conte com normas prescritas para suas atividades. Com efeito, ele mesmo deve
descobri-las e averiguar por si mesmo como praticá-las em sua situação histórica
particular".

6 EDUCAÇÃO E PROFESSORES

O professor profissional não é o único agente da educação. Assim como a


validade e a necessidade da escola é questionada, também a necessidade da
existência de professores profissionais é posta em dúvida por alguns críticos
educacionais
Se admitirmos que o professor é um mero transmissor de informações ou um
fabricante de especialistas, podemos admitir que sua função não é tão necessária.
Sabemos, no entanto, que o professor não pode se limitar a um simples repetidor. Sua
função é bem mais ampla.
O que mais influi nas crianças das primeiras séries do Ensino Fundamental é a
personalidade do professor. O professor dominador que emprega a força, ordena,
ameaça, culpa, envergonha e ataca a posição pessoal do aluno, evidentemente
exercerá sobre a personalidade do mesmo, uma influência distinta do professor que
solicita, convida e estimula. Este, por meio de explicações, faz com que seus objetivos
adquiram significado para o aluno, o qual passa a ter uma atitude de simpatia e
colaboração.
Grande parte dos comportamentos e das atitudes dos alunos é provocada
pelo comportamento, pelos métodos e pelas atitudes do professor.

13
"O professor que tem entusiasmo, que é otimista, que acredita nas
possibilidades do aluno, é capaz de exercer uma influência benéfica na classe como
um todo e em cada aluno individualmente, pois sua atitude é estimulante e
provocadora de comportamentos ajustados. O clima da classe torna-se saudável, a
imaginação criadora emerge espontaneamente e atitudes construtivas tornam-se a
tônica do comportamento da aula como grupo."
Segundo Frances Rummell, as principais características de um bom professor
- apresentadas por Juraci C. Marques, são:

 Os melhores professores estão profissionalmente alerta. Não vivem suas vidas


confinados ou isolados do meio social. Tentam fazer da comunidade e
particularmente da escola o melhor ambiente para os jovens.
 Estão convencidos do valor de seu trabalho. Seu desejo é exercer cada vez
melhor a profissão a que se dedicam.
 São humildes, sentem necessidades de crescimento e desenvolvimentos
pessoais, porque compreendem a grande responsabilidade da função que
exercem.

É bem verdade que atualmente existem muitas limitações que impedem que o
professor exerça essa função com maior eficácia. A superação de muitas dessas
limitações, no entanto, não depende exclusivamente dele nem do sistema escolar.
Como vimos, depende principalmente da transformação da estrutura social.
Mas, mesmo com relação a esse aspecto, o próprio professor pode
desempenhar um papel muito importante. Ele, mais do que qualquer outro
profissional, tem enormes possibilidades de ser um agente de transformação social.
Para tanto, é preciso que se proponha a ter uma participação ativa no processo
pedagógico. Deverá, por exemplo, indagar-se constantemente sobre a legitimidade
dos fins pedagógicos da escola, sobre os objetivos propostos, sobre o conteúdo
apresentado, sobre os métodos utilizados, enfim, sobre o sentido social e político de
sua própria atividade docente.
O professor, portanto, em sua atividade docente, poderá estar trabalhando para
mudar a sociedade ou para conservá-la na forma em que ela se encontra. Nesse
sentido, Maria Teresa Nidelcoff apresenta ·rês tipos de postura possíveis:

14
a) Existem mestres para quem tudo está muito bem do jeito que está e para quem
os valores e as características da sociedade atual não devem mudar e devem
mesmo ser difundidos. Eles atuam conscientemente como representantes do
atual regime social, assumindo a responsabilidade de incorporar os alunos a
tal regime, e de adaptá-las ao sistema de vida e aos valores que a sociedade
propõe.
b) Outros, que são a maioria, definem-se a si mesmos como 'professores' e nada
mais, 'professores-professores'. Afirmam que 'a escola é escola e a política é
política'. Em outras palavras: eles não percebem ou não querem perceber as
implicações ideológicas e sociais de muitas das tarefas e dos 'ritos' escolares.
Com sua atitude aparentemente apolítica e sua postura acrítica, eles se
convertem de fato em policiais - guardiões do regime social - sem sabê-lo e,
muitas vezes, sem querêla. Na medida em que não trabalham para mudar,
ajudam aos que querem conservar.
c) A terceira opção pode ser definida como o 'professor-povo'.

Ele não acredita que sua missão seja difundir entre o povo os valores do
opressor; ao contrário, acredita que o sentido de seu trabalho é ajudar o povo a se
descobrir, a se expressar, a se liberar. Quer construir a escola do povo, a partir do
povo. Ou seja: 'professor-povo' é aquele que quer contribuir através do seu trabalho
para a criação de homens novos e para a edificação de uma sociedade também nova,
onde se dê primazia aos despossuídos e onde o povo se torne protagonista. Ele será
um professor para modificar, não conservar".

7 ENSINAR E APRENDER

7.1 O Ensino e a Aprendizagem na Vida Humana

O ensino e a aprendizagem são tão antigos quanto a própria humanidade.


Nas tribos primitivas os filhos aprendiam com os pais a atender suas necessidades,
a superar as dificuldades do clima e a desenvolver-se na arte da caça. No decorrer
da história da humanidade, o ensino e a aprendizagem foram adquirindo cada vez
maior importância. Por isso, com o passar do tempo, muitas pessoas começaram a

15
se dedicar exclusivamente a tarefas relacionadas com o ensino. Também surgiram
as escolas que são instituições voltadas para essas tarefas.
Em nossos dias tal é a importância do ensino e da aprendizagem que ninguém
pode deixar de refletir sobre o seu significado. Para ter uma ideia dessa importância
basta considerar os seguintes fatos:

 Nos últimos dez anos, o conhecimento humano desenvolveu-se muito mais do


que em todo o restante da história da humanidade.
 Antes de 1500 a Europa estava editando livros a um ritmo de 1000 títulos por
ano. Por volta de 1950, 120000 ao ano e, por volta de 1965, o mundo editava
1000 títulos por dia.

Diante desses fatos concluímos que hoje, mais do que nunca, é necessário
refletir sobre o ensino e a aprendizagem. E as perguntas que logo de início fazem
todas as pessoas que passam a refletir sobre tal assunto, não têm respostas prontas.
Por isso, as questões sobre educação exigem uma atitude de constante abertura
para novas reflexões.
A primeira indagação que você mesmo deve estar se fazendo é a seguinte:
Afinal, o que é ensino e o que é aprendizagem?
Para responder a essa pergunta, podemos partir da seguinte constatação:
Não é só na sala de aula que se aprende ou que se ensina. Em casa, na rua, no
trabalho, no lazer, em contato com os produtos da tecnologia ou em contato com a
natureza, enfim, em todos os ambientes e situações podemos aprender e ensinar.
Cada situação pode ser uma situação de ensino-aprendizagem. Só os que não têm
uma atitude de constante abertura é que não aprendem ou não ensinam em todas
as situações.
Mas em que consiste essa atitude?
Consiste em ser capaz de indagar, pesquisar, procurar alternativas,
experimentar, analisar, dialogar, compreender, enfim, ter uma atitude científica
perante a realidade. Os grandes cientistas foram pessoas que procuraram aprender e
ensinar em todas as situações.
Vejamos, através de um texto de Monteiro Lobato, como o progresso científico
e tecnológico resultou dessa atitude:

16
"Um dos primeiros mágicos que revolucionaram o mundo com suas invenções
foi o escocês Jaime Watt (Uót). Um dia, em que estava observando uma chaleira
d'água ao fogo, impressionou-se com a dança da tampa levantada pelo vapor. 'Se
esse vapor ergue uma tampa de chaleira, pode erguer tudo mais', pensou Watt. E
dessa ideia saiu a máquina a vapor, na qual o vapor d'água move um pistão, que por
sua vez move uma roda. A máquina a vapor causou verdadeira revolução industrial
no mundo.
Se a máquina a vapor move uma roda’, pensou outro inglês de nome
Stephenson - 'por que não há de mover-se a si própria?' - e dessa ideia nasceu a
locomotiva, que é uma máquina a vapor que se move a si própria.
Se a máquina a vapor se move na terra' - pensou um americano de nome Fulton
- 'por que não há de mover-se também no mar?' - e dessa ideia nasceu o navio a
vapor que iria mudar todo o sistema de navegação.
O povo riu-se da primeira máquina de Watt, da primeira locomotiva de
Stephenson e do primeiro navio a vapor de Fulton. Eram na realidade grotescos e de
muito pequeno rendimento. Mas aperfeiçoaram-se com rapidez, e hoje constituem
verdadeiras maravilhas da mecânica. (LOBATO, M. História do mundo para crianças.
São Paulo, Brasiliense. 1972. p. 208.) Essa atitude científica, graças à qual temos o
progresso tecnológico, também é necessária àqueles que se dedicam à educação.
Hoje, mais do que nunca, é necessário ter uma atitude indagadora perante tudo o que
se relaciona com a educação.
Se em nossos dias, apesar do progresso tecnológico, as pessoas não
melhoraram muito, talvez isso se deva, em parte, à falta de questionamento no
campo da educação, principalmente no que se refere aos valores. "A questão dos
valores talvez seja a que mais coloca em causa a educação de nossos dias. Vencida
a fase da luta pela sobrevivência, diante de uma natureza, às vezes, inóspita e rude,
o homem contemporâneo encontra-se às voltas com formas de destruição nunca
antes imaginadas. A luta atual não se reveste de um otimismo encorajador e
romântico, mas sim de apreensões e inquietações diante do futuro. Neste quadro, o
saber distinguir o que é valioso ou não dentro dos propósitos de formação humana
exige uma atitude corajosa de ir além das aparências na busca das verdadeiras
causas que regem nossos comportamentos. (...) Vincular a discussão dos valores
da educação a setores mais amplos, que envolvem a própria estrutura social como

17
um todo, é um caminho que esperamos venha o estudante de educação a percorrer
para o seu aprofundamento nesta questão". (GARCIA, W. E.).

7.2 Evolução do Conceito de Ensino

O conceito de ensino, assim como o conceito de educação, evoluiu graças aos


questionamentos e pesquisas realizadas por diversos pensadores, educadores,
psicólogos, sociólogos, etc.
Segundo o conceito etimológico, ensinar (do latim signare) é "colocar dentro,
gravar no espírito". De acordo com esse conceito, ensinar é gravar ideias na cabeça
do aluno. Nesse caso, o método de ensino é o de marcar e tomar a lição.
Do conceito etimológico surgiu o conceito tradicional de ensino: "Ensinar é
transmitir conhecimentos". Seguindo esse conceito, o método utilizado baseia-se em
aulas expositivas e explicativas. O professor fala aquilo que sabe sobre determinado
assunto e espera que o aluno saiba reproduzir o que ele lhe disse.
Esse tipo de ensino, no entanto, por mostrar-se cada vez mais ineficaz,
passou a receber uma série de críticas. Essas críticas, formuladas a partir do final
do século passado, foram, aos poucos, dando origem a uma nova teoria da
educação, toma corpo, assim, um novo conceito de ensino e de educação que
passou a se denominar Escolanovismo ou Escola Nova.
Com a Escola Nova o eixo da questão pedagógica passa do intelecto (ensino
tradicional) para o sentimento; do aspecto lógico para o psicológico; dos conteúdos
cognitivos para os métodos ou processos pedagógicos; do professor para o aluno;
do esforço para o interesse; da disciplina para a espontaneidade; do diretivismo para
o não-diretivismo; da quantidade para a qualidade; de uma pedagogia de inspiração
filosófica centrada na ciência da lógica para uma pedagogia de inspiração
experimental baseada principalmente nas contribuições da Biologia e da Psicologia.
Em suma, trata-se de uma teoria pedagógica que considera que o importante não é
aprender, mas aprender a aprender.
Para funcionar de acordo com os princípios da Escola Nova, o ensino teria
que passar por uma sensível reformulação. "O professor agiria como um estimulador
e orientador da aprendizagem cuja iniciativa principal caberia aos próprios alunos.
Tal aprendizagem seria uma decorrência espontânea do ambiente estimulante e da

18
relação viva que se estabeleceria entre os alunos e entre estes e o professor. Para
tanto, cada professor teria de trabalhar com pequenos grupos de alunos, sem o que
a relação interpessoal, essência da atividade educativa, ficaria dificultada; e num
ambiente estimulante, portanto, dotado de materiais didáticos ricos, biblioteca de
classe, etc. Em suma, a feição das escolas mudaria seu aspecto sombrio,
disciplinado, silencioso e de paredes opacas, assumindo um ar alegre,
movimentado, barulhento e multicolorido." (SAVIANI, D. "As teorias da educação e
o problema da marginalidade na América Larina". São Paulo, Fundação Carlos
Chagas ( 1982.). Convém ressaltar, no entanto, que esse tipo de ensino e de escola
é de difícil realização.
Ele implica custos bem mais elevados do que o ensino tradicional. Por isso, a
Escola Nova "organizou-se basicamente na forma de escolas experimentais ou como
núcleos raros, muito bem equipados e para pequenos grupos de elite. No entanto, o
ideário escolanovista, tendo sido amplamente difundido, penetrou nas cabeças dos
educadores, acabando por gerar consequências também nas amplas redes escolares
oficiais organizadas na forma tradicional. Cumpre assinalar que tais consequências
foram mais negativas que positivas, uma vez que, provocando o afrouxamento da
disciplina e a despreocupação com a transmissão de conhecimentos, acabou por
rebaixar o nível do ensino destinado às camadas populares, as quais muito
frequentemente têm na escola o único meio de acesso ao conhecimento elaborado.
Em contrapartida, a Escola Nova aprimorou a qualidade do ensino destinado
às elites. (SAVIANI.)
No entanto, ao término da primeira metade deste século, um sentimento de
desilusão começa a se alastrar nos meios educacionais com relação ao
escolanovismo. Surge, então, uma nova concepção de ensino e de educação: a
concepção tecnicista.
Segundo a concepção tecnicista, o ensino deve se inspirar nos princípios de
racionalidade, eficiência e produtividade. Por isso, deve-se planejar a educação e o
ensino de maneira a evitar as interferências subjetivas que possam pôr em risco sua
eficiência. Deve-se operacionalizar os objetivos e, em certos aspectos, mecanizar o
processo. Surgem, então, propostas pedagógicas tais como o enfoque sistêmico, o
microensino, o tele-ensino, a instrução programada, as máquinas de ensinar, etc.

19
Resumindo, podemos dizer o seguinte: segundo a concepção tradicional de
ensino, a iniciativa cabe ao professor, que é, ao mesmo tempo, o sujeito do processo,
o elemento decisivo e decisório no ensino. A questão pedagógica central é aprender.

Segundo a concepção de ensino da Escola Nova, a iniciativa deslocase para o aluno


e o centro da ação educativa situa-se na relação professoraluno. A questão
pedagógica central é aprender a aprender.
Segundo a concepção tecnicista de ensino, o elemento principal passa a ser a
organização racional dos meios, e o professor e o aluno ocupam posição secundária.
Professor e aluno "são relegados à condição de executores de um processo cuja
concepção, planejamento, coordenação e controle ficam a cargo de especialistas
supostamente habilitados, neutros, objetivos, imparciais." (SAVIANI,) A questão
pedagógica fundamental é aprender a fazer.

8 QUE É APRENDIZAGEM?

O ensino visa a aprendizagem. Mas o que é a aprendizagem? A


aprendizagem é um fenômeno, um processo bastante complexo. Hoje existem
muitas teorias sobre a aprendizagem. Elas são estudadas pela Psicologia
Educacional.
Inicialmente convém salientar que aprendizagem não é apenas um processo
de aquisição de conhecimentos, conteúdos ou informações. As informações são
importantes, mas precisam passar por um processamento muito complexo, a fim de
se tornarem significativas para a vida das pessoas. Todas as informações, todos os
dados da experiência devem ser trabalhados, de maneira consciente e crítica, por
quem os recebe.
Podemos descrever a aprendizagem como sendo "um processo de aquisição
e assimilação, mais ou menos consciente, de novos padrões e novas formas de
perceber, ser, pensar e agir." (SCHMITZ.) Isso é bem mais do que aprender uma
informação. "Pode-se saber tudo a respeito de dentes: a sua estrutura, a causa de
suas cáries e de suas moléstias e, ainda assim, nada disso alterar a conduta prática
na vida.

20
Só se aprende para a vida quando não somente se pode fazer a coisa de outro
modo, mas também se quer fazer a coisa desse outro modo. Só essa aprendizagem
interessa à vida e, portanto, à escola. Tal aprendizagem é, inevitavelmente, mais
complexa do que a simples aprendizagem informativa." (TEIXEIRA, A. Pequena
introdução à Filosofia da Educação. São Paulo.)
Alguns preferem definir aprendizagem como sendo a aquisição de novos
comportamentos. O problema é que o termo comportamento geralmente é reduzido
a algo exterior e observável. E, se limitarmos a aprendizagem ao observável,
excluísse dela o que tem de mais essencial: a consciência, a formação de novos
valores, disposições e formas interiores de pensar, ser e sentir que se exteriorizam
apenas em algumas atitudes e ações, mas nem sempre são imediatamente
observáveis. (SCHMITZ, E. F.)

8.1 Tipos de Aprendizagem

 Aprendizagem Motora ou motriz - Consiste na aprendizagem de hábitos que


incluem desde simples habilidades motoras - aprender a andar e aprender a
dirigir um automóvel, por exemplo -, até habilidades verbais e gráficas -
aprender a falar e a escrever.
 Aprendizagem cognitiva - Abrange a aquisição de informações e
conhecimentos. Pode ser uma simples informação sobre os fatos ou suas
interpretações, com base em conceitos, princípios e teorias. A aprendizagem
das regras gramaticais, por exemplo, é uma aprendizagem cognitiva. Aprender
os princípios e teorias educacionais também é aprendizagem cognitiva.
 Aprendizagem afetiva ou emocionar - Diz respeito aos sentimentos e
emoções. Aprender a apreciar o belo através das obras de arte é uma
aprendizagem afetiva.

A aprendizagem afetiva tem uma série de implicações pedagógicas. Ela é


decorrência do "clima" da sala de aula, da maneira de tratar o aluno, do respeito e
da valorização da pessoa do aluno e assim por diante. É importante observar, com
relação aos tipos de aprendizagem, que não se aprende uma só coisa de cada vez,
mas várias. Quando uma criança aprende a escrever, por exemplo, aprende também

21
o significado das palavras e desenvolve o gosto pela apresentação estética da
escrita.

8.2 Aprendizagem e Motivação

Para que alguém aprenda é necessário que ele queira aprender. Ninguém
consegue ensinar nada a uma pessoa que não quer aprender. Por isso é muito
importante que o professor saiba motivar os seus alunos.
Através de uma variedade de recursos, métodos e procedimentos, o professor
pode criar uma situação favorável à aprendizagem.
Para criar essa situação o professor deve:

 Conhecer os interesses atuais dos alunos para mantê-los ou orientá-los.


 Buscar uma motivação suficientemente vital, forte e duradoura para conseguir
do aluno uma atividade interessante e alcançar o objetivo da aprendizagem.

Entre motivação e aprendizagem existe uma mútua relação.


Ambas se reforçam.
A motivação da aprendizagem se traduz nas seguintes leis:

a) Sem motivação não há aprendizagem.


b) Os motivos geram novos motivos.
c) O êxito na aprendizagem reforça a motivação.
d) A motivação é condição necessária, porém, não suficiente.

O problema da motivação da aprendizagem é um assunto bastante complexo.


Hoje, cada teoria da aprendizagem apresenta um fator de motivação como sendo o
mais importante. A teoria de Piaget, por exemplo, apresenta como fator
preponderante de motivação "o problema", a situação-problema. Skinner, por sua vez,
considera como fator mais importante a "recompensa" ou o "reforço". Nesse sentido,
a teoria de Piaget dá mais ênfase ao desenvolvimento da inteligência, enquanto as
ideias de Skinner dão ênfase ao desempenho ou "performance".

22
8.3 Aprendizagem e Maturação

Além da motivação, outra condição da aprendizagem é a maturação. A


maturação consiste em mudanças de estrutura, devidas em grande parte à herança
e ao desenvolvimento fisiológico e anatômico do sistema nervoso. Segundo Piaget, a
maturação cerebral fornece certo número de potencialidades (possibilidades) que se
realizam, mais cedo ou mais tarde (ou nunca), em função das experiências e do meio
social. O processo de maturação apresenta certo paralelismo com a idade. Esta,
porém, por si só não fixa os limites da maturação. A maturação, portanto, resulta de
diversos fatores: desenvolvimento biopsíquico, interesses, evolução social,
educação, etc.
Só quando o indivíduo estiver maduro para uma determinada tarefa, podemos
dizer que está apto para realizá-la. Só poderá aprender algo quando estiver maduro
para essa aprendizagem.
Embora a aprendizagem requeira um determinado grau de maturidade, a
própria aprendizagem - quando certas condições didáticas são observadas – contribui
para a maturação da pessoa.

8.4 Fases da Aprendizagem

A aprendizagem parte sempre de uma situação concreta. Por isso,


inicialmente a visão do problema ou da situação é sincrética, ou seja, é geral, difusa,
indefinida. Em seguida, através da análise, das considerações dos diversos
elementos integrantes, chega-se a uma visão total do problema' ou da situação. O
terceiro passo é a síntese. Através da síntese integramse os elementos mais
significativos e essenciais. É através da diversificação, da análise que se chega à
síntese ou à integração.
Essas fases devem ser levadas em consideração no momento de se criar uma
situação de aprendizagem. O ponto de partida deve ser sempre a observação da
realidade para se ter uma visão global, ou síncrese, do assunto a ser ensinado. A essa
visão global seguese uma discussão sobre os diversos aspectos observados - análise
e, finalmente, procura-se integrar os aspectos conclusivos - síntese.

23
8.5 Relação entre Ensino e Aprendizagem

Santo Tomás de Aquino disse que o professor está na mesma situação de um


médico ou de um lavrador. O médico e o lavrador funcionam como agentes externos,
pois a cura do doente ou o sucesso da plantação dependem da natureza do doente
ou da qualidade do solo. Da mesma forma, o professor também é um agente externo.
Ele colabora na aprendizagem do aluno, mas esta depende do próprio aluno.

8.6 Conclusões sobre Ensino e Aprendizagem

Há uma relação intrínseca entre o ensino e a aprendizagem. Não há ensino se


não há aprendizagem. É necessário conhecer o fenômeno sobre o qual o ensino atua,
que é a aprendizagem.
Para haver ensino e aprendizagem é preciso:

 Uma comunhão de propósitos e identificação de objetivos entre o professor e


o aluno.
 Um constante equilíbrio entre o aluno, a matéria, os objetivos do ensino e as
técnicas de ensino.

O ensino existe para motivar a aprendizagem, orientá-la, dirigi-la; existe sempre


para a eficiência da aprendizagem. O ensino seria, então, fator de estimulação
intelectual.

24
9 PEDAGOGIA E DIDÁTICA

9.1 O que é Pedagogia

A palavra pedagogia vem do grego (pais, paidós = criança; agein conduzir;


logos = tratado, ciência). Na antiga Grécia, eram chamados de pedagogos os
escravos que acompanhavam as crianças que iam para a escola. Como escravo, ele
era submisso à criança, mas tinha que fazer valer sua autoridade quando
necessária. Por esse motivo, esses escravos desenvolveram grande habilidade no
trato com as crianças.
Hoje, pedagogo é o especialista em assuntos educacionais e Pedagogia, o
conjunto de conhecimentos sistemáticos relativos ao fenômeno educativo.
Temos diversas definições de
Pedagogia: - Pedagogia é a ciência da educação.

 Pedagogia é a ciência e a arte de educar.


 Pedagogia é a arte de educar.
 Pedagogia é a reflexão metódica sobre a educação para esclarecer e orientar
a prática educativa. (DURKHEIM e RADICE.)

O conceito moderno de Pedagogia é o seguinte: Pedagogia é a filosofia, a


ciência e a técnica da educação. (Prof. C. MATTOS). Esse conceito é completo
porque abrange todos os aspectos fundamentais a Pedagogia.

9.2 Aspectos Fundamentais da Pedagogia

 Aspecto filosófico - Esse aspecto abrange os princípios fundamentais da


educação, tais como as relações da educação com a vida, os valores, os ideais
e as finalidades da educação.

Procura responder às seguintes questões:

 O que deve ser a educação?


 Para onde a educação deve conduzir as novas gerações?

25
 O aspecto filosófico - procura estabelecer as diretrizes da educação de
acordo com os valores de cada povo e de cada época.
 Aspecto científico - A Pedagogia moderna apoia-se nos dados apresentados
pelas ciências, procurando estabelecer o que é a educação. Ela se apoia
principalmente nos dados das ciências que estudam o comportamento
humano.

O desenvolvimento científico de áreas do conhecimento como a Psicologia, a


Biologia, a Sociologia, a Antropologia, as Ciências Políticas e a Economia trouxera m
uma contribuição muito importante para o estudo do comportamento. A integração dos
conhecimentos dessas áreas tem possibilitado a identificação de fatores que
influenciam no comportamento. É impossível identificar o comportamento através de
uma única causa.
O comportamento humano é resultante de fatores psicológicos, biológicos,
antropológicos, sociológicos, econômicos e políticos.
A Psicologia, por exemplo, estuda o comportamento humano tendo como base
a natureza do indivíduo. O principal enfoque da Psicologia está nas diferenças
individuais (por exemplo, inteligência, atitudes) e nos processos (por exemplo,
percepção, motivação) que permitem explicar a variação de respostas diante de
situações ou estímulos semelhantes.
A Sociologia como ciência é muito menos centralizada na pessoa. Ela
desenvolve teorias sobre agrupamentos sociais e sobre os mais amplos processos
da sociedade. Ela estuda, por exemplo,' os valores sociais, as mudanças na
sociedade, os padrões de comportamento familiar, etc. Ela não estuda as diferenças
individuais, mas, sim, as diferenças que existem entre grupos de indivíduos (classes
sociais, grupos políticos e agrupamentos de trabalho).

 Aspecto técnico - Refere-se à técnica educativa, ao como educar. Este


aspecto situase entre o filosófico e o científico, isto é, entre que deve ser e o
que é, ligando o ideal ao real. Sob o aspecto técnico estuda-se:
 Os métodos e processos educativos.
 Os sistemas escolares.
 As normas e diretrizes orientadoras da parte estática e da dinâmica de cada
escola.

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 Os métodos e as práticas de ensino.
 As técnicas de trabalho escolar

Esses diferentes fatores interagem provocando constantes mudanças no


comportamento humano. Cada uma das áreas acima citadas centraliza seus estudos
e pesquisas num dos fatores.

10 DIVISÃO DA PEDAGOGIA

10.1 O que é didática?

Agora que vimos o que estuda a Pedagogia e que situamos a Didática dentro
da Pedagogia vejamos o que é didática. Isso é muito importante, pois a Didática é o
objeto de estudo deste Curso.
Já sabemos que a Didática é uma disciplina técnica e que tem como objeto
específico a técnica de ensino (direção técnica da aprendizagem). A Didática,
portanto, estuda a técnica de ensino em todos os seus aspectos práticos e

27
operacionais, podendo ser definida como: "A técnica de estimular, dirigir e
encaminhar, no decurso da aprendizagem, formação do homem". (AGUAYO.)

10.2 Didática Geral e Didática Especial

A Didática Geral estuda os princípios, as normas e as técnicas que devem


regular qualquer tipo de ensino, para qualquer tipo de aluno. A Didática Geral nos dá
uma visão geral da atividade docente.
A Didática Especial estuda aspectos científicos de uma determinada disciplina
ou faixa de escolaridade. A Didática Especial analisa os problemas e as dificuldades
que o ensino de cada disciplina apresenta e organiza os meios e as sugestões para
resolvê-las. Assim, temos as didáticas especiais das línguas (Francês, Inglês, etc.);
as didáticas especiais das ciências (Física,Química, etc.)

10.3 Didática e Metodologia

Tanto a Didática como a Metodologia estudam os métodos de ensino. Há, no


entanto, diferença quanto ao ponto de vista de cada uma. A Metodologia estuda os
métodos de ensino, classificando-os e revendo-os sem fazer juízo de valor.
A Didática, por sua vez, faz um julgamento ou uma crítica do valor dos métodos
de ensino. Podemos dizer que a Metodologia nos dá juízos de realidade, e a Didática
nos dá juízos de valor.
Juízos de realidade são juízos descritivos e constatativos.
Exemplos:

 Dois mais dois são quatro.


 Acham-se presentes na sala 50 alunos.

Juízos de valor são juízos que estabelecem valores ou normas.


Exemplos:

 A democracia é a melhor forma de governo.


 Os idosos merecem nosso respeito.

28
A partir dessa diferenciação, concluímos que podemos ser metodologistas sem
ser didáticos, mas não podemos ser didáticos sem ser metodologistas, pois não
podemos julgar sem conhecer: Por isso, o estudo da Metodologia é importante por
uma razão muito simples: para escolher o método mais adequado de ensino
precisamos conhecer os métodos existentes.

10.4 Ciclo Docente

Os princípios, as normas e as técnicas de ensino são postos em prática através


das atividades de planejamento, orientação e controle do processo de ensino-
aprendizagem.
Essas atividades constituem as fases ou etapas do ciclo docente e são
representadas graficamente da seguinte maneira:

Essa representação mostra que as três fases estão interligadas e que


dependem uma da outra. Vejamos, agora, as atividades correspondentes a cada
fase:

10.4.1 Primeira fase: Planejamento

Essa fase consiste na previsão e programação dos trabalhos escolares para


um curso (Plano de Curso) ou para cada unidade do Plano de Curso (Plano de
Unidade) ou para cada parte da unidade (Plano de Aula).
Aspectos que devem ser considerados no Planejamento:

 Características socioeconômicas do bairro ou da região.


 Características dos alunos.
 Recursos da região e da escola.
 Objetivos visados.
 Conteúdo necessário para desenvolver o ensino.

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 Número de aulas disponíveis para cada assunto.
 Métodos e procedimentos que deverão ser desenvolvidos para melhor
compreensão, assimilação, organização e fixação do conteúdo.
 Meios para avaliação e verificação da aprendizagem.
 Bibliografia básica.

10.4.2 Segunda fase: Orientação

Nessa fase, o professor executa o que planejou. Nessa etapa todas as


atividades visam orientar o aluno para alcançar os objetivos propostos. É a fase que
requer mais habilidade do professor. Aqui ele deve exercer mais do que em outras
fases sua função de liderança, motivando os alunos para que aprendam. Através de
uma variedade de métodos, recursos e procedimentos, o professor procurará criar
uma situação favorável à aprendizagem.

10.4.3 Terceira fase: Controle

Esta fase permeia as outras duas. Ela consiste na supervisão constante do


processo de aprendizagem para que o mesmo seja conduzido de maneira eficaz.
Aqui convém lembrar que existe uma diferença entre eficácia e eficiência.
Vejamos, através de um exemplo, em que consiste esta diferença.
Um professor que ministra uma aula utilizando as melhores técnicas de
ensino, cumprindo rigorosamente o horário e utilizando um bom material didático,
pode ser eficiente sem ser eficaz. Ele será apenas eficiente se, apesar de tudo o que
faz, não obtiver resultados. Mas será eficiente e eficaz quando os alunos
aprenderem o que ele ensinou. A eficácia, portanto, é a ação que alcança resultados.
Eficiência é apenas a ação realizada de acordo com as normas estabelecidas, mas
sem resultados.
Para que a ação do professor seja eficaz e não apenas eficiente, controle é
muito importante e engloba as seguintes atividades:

a) Sondagem: Antes de iniciar seu trabalho de ensino propriamente dito, o


professor deve procurar conhecer as características, as qualidades e

30
dificuldades de seus alunos. Fazer uma sondagem, portanto, consiste em
levantar informações sobre os alunos. (Isto ocorre na fase de Planejamento.)
b) Prognose: Os dados colhidos na sondagem servirão de base para a previsão
ou prognose do que se pode esperar dos alunos de determinada turma.
c) Diagnóstico e retificação da aprendizagem: o estudo das causas da
aprendizagem deficiente logo que esta se manifesta (diagnóstico) servirá de
base para a seleção e o emprego de medidas, visando dar melhor assistência
ao aluno e, portanto, retificando a aprendizagem no devido tempo.
d) Manejo ou direção de classe: É a supervisão e o controle efetivo que o
professor exerce sobre uma classe de alunos, para criar um ambiente propício
à aprendizagem.

Há três tipos de manejo:

 Manejo corretivo - É aquele que se realiza através de punições (ficar de


castigo durante o recreio, suspensão, etc.).
 Manejo preventivo - É aquele que consiste em solicitar a colaboração do aluno
apelando para o aspecto afetivo. "Se você não fizer isso não serei mais seu
amigo. ”
 Manejo educativo - Procura criar situações para que o aluno desenvolva a
autodisciplina. É exercido pela liderança democrática do professor.

O manejo educativo é o melhor tipo de manejo, pois desenvolve o controle


democrático, do qual participam alunos e professores como membros do mesmo
grupo de trabalho que pretende alcançar os mesmos objetivos.

e) Verificação e avaliação - Consiste na verificação e avaliação do rendimento


escolar que deve ser feita ao longo de todo o processo de aprendizagem.
Rendimento escolar não consiste apenas na soma de conhecimentos
adquiridos, verificada pela capacidade de repetir o que foi dito pelo professor.
Rendimento escolar consiste, antes de mais nada, na soma de transformações
operadas no pensamento, na linguagem, na maneira de agir e nas atitudes
frente a situações e problemas.

31
11 COMO ENSINAR

Procedimentos de ensino, estratégias, métodos e técnicas.


Esses são alguns dos termos utilizados para designar aspectos relativos ao
modo de ensinar. Vejamos o significado específico de cada um desses termos:

 Estratégia - Trata-se de uma descrição dos meios disponíveis pelo professor


para atingir os objetivos específicos.
 Método - é um roteiro geral para a atividade. O método indica as grandes linhas
de ação, sem se deter em operacionalizá-las. Podemos dizer que o método é
o caminho que leva até certo ponto, sem ser o veículo de chegada, que é a
técnica.
 Técnica - É a operacionalização do método.
 Procedimentos - maneira de efetuar alguma coisa. Consiste em descrever as
atividades pelo professor e as atividades desenvolvidas pelos alunos.

12 O CURRÍCULO E SEU PLANEJAMENTO

12.1 O que é Currículo?

Um programa de ensino só se transforma em currículo após as experiências


que a criança vive em torno do mesmo. A palavra currículo vem do latim - curriculum
- e significa percurso, carreira, curso, ato de correr. E seu significado não abrange
apenas o ato de correr, mas também o modo, a forma de fazê-lo (a pé, de carro, a
cavalo), o local (estrada, pista, hipódromo) e o que ocorre no curso ou percurso
efetuado.
Da palavra curriculum temos, analogamente, a expressão
curriculum vitae, que engloba todos os dados pessoais, cursos, experiência e
atividades que possam dar uma ideia do que a pessoa conseguiu realizar durante a
sua vida. Os dados são apresentados como um todo integrado, variável para cada
pessoa, mas que revela continuidade, sequência e objetivos atingidos e/ou a atingir.
Aplicado à educação, o termo currículo apresenta uma variação no decorrer do
tempo.

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Essa variação depende da concepção de educação e de escola e, também,
das necessidades de determinada sociedade num dado momento histórico.
Tradicionalmente currículo significou uma relação de matérias ou disciplinas,
com um corpo de conhecimentos organizados sequencialmente em
termos lógicos.
Alguns fatos históricos, no entanto, impuseram mudanças no modo de ver e
pensar do próprio homem, determinando-lhe, também, novas necessidades e atitudes
perante a vida. Diante de novas necessidades surgidas, os educadores passaram a
questionar o conceito de educação, de aprendizagem e, consequentemente, de
currículo. A preparação dos alunos para enfrentar um mundo em constante
transformação, passou a exigir uma dinâmica diferente da instituição escolar. Nessa
dinâmica, o aluno não é mais visto como um ser passivo que deve apenas assimilar
os conhecimentos que lhe são transmitidos pelos seus professores. É visto, antes de
mais nada, como um ser ativo que aprende não apenas através do contato com o
professor e com a matéria (conteúdo) mas através de todos os elementos do meio. A
partir desse novo enfoque, o currículo deixou de ser confundido com distribuição de
matéria ou carga horária de trabalho escolar.

O que é então currículo atualmente?


"Currículo é tudo que acontece na vida de uma criança, na vida de seus pais
e professor. Tudo que cerca o aluno, em todas as horas do dia, constitui matéria
para o currículo." (SPERB, D.)

Vejamos outras definições de currículo:


"Currículo significa muito mais do que o conteúdo a ser aprendido - significa
toda a vida escolar da criança. Um programa de ensino só se transforma em currículo
após as experiências que a criança vive em torno do mesmo" (REGO,
M.S. e outros.)
"Consiste em experiências, por meio das quais as crianças alcançam a
autorealização e, ao mesmo tempo, aprendem a contribuir para a construção de
melhores comunidades e de um melhor futuro." (RAGAN, W. R.)
Do que vimos até aqui sobre Currículo podemos concluir o seguinte:

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 Tradicionalmente, currículo tem significado as matérias ensinadas na escola ou
a programação de estudos.
 A tendência, nas décadas recentes, tem sido de usar o termo currículo num
sentido mais amplo, para referir-se à vida e a todo o programa da escola,
inclusive às atividades extraclasse. Aliás, as atividades extraclasse são muito
importantes para a formação da personalidade da criança. Elas enriquecem o
plano escolar e, consequentemente, a personalidade da criança. Além disso
são uma importante fonte de motivação.

Julgamos oportuno chamar a atenção também para o denominado currículo


oculto. A escola - além de desenvolver o currículo explícito, referente à transmissão
do saber ao aluno - desenvolve também o currículo oculto, que se refere à
transmissão de valores, normas e comportamentos.
Enquanto o currículo explícito hierarquiza os graus escolares e os
critérios de avaliação por mérito ou prestígio, o oculto desenvolve nos alunos a
aceitação da hierarquia e do privilégio.

12.2 Consequências do Novo Conceito de Currículo

Segundo William Ragan são as seguintes as principais consequências do novo


conceito de currículo:

 O currículo existe somente nas experiências das crianças. Não existe em livros
de texto e nem nos programas de estudo. Em face do currículo, o programa de
ensino apresenta a mesma relação que o mapa de uma estrada tem com a
experiência da viagem. Para avaliar o currículo de uma escola, é necessário
observar cuidadosamente a qualidade das vivências que existem dentro dela.
 O currículo inclui mais do que o conteúdo a ser aprendido. É verdade que a
seleção de conteúdo útil e exato é uma importante responsabilidade do
professor, mas o programa não se constitui currículo enquanto não se
transforma em parte da experiência da criança. A porção do conteúdo que se
torna currículo para uma criança pode diferir daquela que se transforma em
currículo para outra. As relações humanas na sala de aula, os métodos de
ensino e os processos de avaliação usados são partes tão importantes do
currículo como o conteúdo a ser aprendido.

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 O currículo é um ambiente especializado de aprendizagem, deliberadamente
ordenado, com o objetivo de dirigir os interesses e as capacidades das crianças
para eficiente participação na vida da comunidade e da nação. Ele diz respeito
ao auxílio dado às crianças para enriquecer suas próprias vidas e contribuir
para o aperfeiçoamento da sociedade através da aquisição de informações,
habilidades e atitudes.
 A questão que preocupa o planejador do currículo não é apenas decidir que
matérias devem ser ensinadas para desenvolver o entendimento e alargar os
conhecimentos dos alunos; ele deve visar também à melhoria da vida do
indivíduo e da comunidade.

12.3 Dimensões do Currículo

O currículo pode ser determinado a partir de três dimensões fundamentais:

 Dimensão filosófica - Refere-se ao tipo de educação apropriada a uma


cultura. Trata-se das opções de valor, baseadas na concepção que se faz do
homem, da sociedade, etc. Nessas concepções baseiam-se as escolhas feitas
quanto aos fins da educação, propósitos e conteúdo da escola.
 Dimensão sócio antropológica - Devido às transformações sociais que se
processam de forma acelerada, é necessário que a escola tenha uma visão
lúcida da realidade social com a qual está lidando para que possa desenvolver
um trabalho educativo, dinâmico e atual. Daí a necessidade de um
levantamento de- dados sobre as características da cultura na qual a escola
está inserida. A escola precisa saber quais são os padrões de comportamento
que influenciam os alunos, as forças econômicas atuantes, as formas de
estrutura familiar existentes, as tensões sociais e as formas de comunicação.
 Dimensão psicológica - Para que um currículo escolar seja bem-sucedido, é
necessário dar atenção ao desenvolvimento psicológico do aluno. Sabemos
que nem todas as crianças raciocinam com a mesma rapidez nem possuem o
mesmo ritmo de desenvolvimento psicomotor. É necessário, também, que se
tenha uma boa definição de aprendizagem.

35
12.4 Planejamento de Currículo

Considerando que o currículo é a soma de experiências vividas pelos alunos


de uma escola, é fácil concluir que o planejamento do currículo é o planejamento
dessas experiências.
Cada escola deve elaborar o seu planejamento de currículo com a
participação de todos aqueles que direta ou indiretamente estão ligados à dinâmica
do processo educativo: diretor, supervisor pedagógico, orientador educacional e
professores. Juntos definirão os objetivos finais, o conteúdo básico e delinearão os
métodos e as estratégias de avaliação, pesquisando ainda os recursos que poderão
utilizar. No planejamento do currículo devemos levar em conta a realidade de cada
escola e as sugestões apresentadas pelo Conselho Estadual de Educação (C.E.E.)
que abrangem os seguintes aspectos:

 Subsídios para a elaboração dos


 Currículos;
 Relação das matérias que podem construir a parte diversificada numa tentativa
de atender peculiaridades locais;
 Normas de avaliação;
 Recuperação de alunos.

Esta orientação fornecida pelo Conselho Estadual de Educação baseia-


se nas diretrizes que emanam do Conselho Federal de Educação (C.F.E.). Estas
diretrizes, por sua vez, refletem à política educacional expressa na Constituição. Veja
o quadro a abaixo:

36
Cabe ao Conselho Federal de Educação fixar, para cada grau, as matérias
relativas ao núcleo comum, definindo também seus objetivos e sua amplitude.
O Conselho Estadual de Educação estabelece as matérias que constituirão a
parte diversificada do currículo dó Ensino Fundamental.
A escola poderá ainda assumir a iniciativa da proposição de outras matérias e
incluí-Ias em seu currículo, se aprovadas pelo Conselho de Educação competente.

12.5 Significados De Alguns Termos

Para evitar confusões, apresentamos a seguir o significado de alguns termos


que, de alguma forma, se relacionam com o novo conceito de currículo:

 Currículo pleno - É o conjunto formado pelos currículos das diferentes séries


e turmas escolares.
 Guias curriculares - É um plano escrito, cujo objetivo é orientar os professores
no desenvolvimento final do currículo, numa situação de
aprendizagem. Apresenta sugestões sobre objetivos, conteúdos, técnicas,
bibliografia específica, etc. Geralmente são conclusões de debates entre
professores sobre determinado assunto. Os guias, geralmente utilizados pelas
escolas, pertencem a órgãos oficiais.
 Programa - Para alguns autores, programa é sinônimo de currículo. A
tendência, no entanto, é diferenciar programa de currículo. Programa consiste
no detalhamento do currículo conforme as necessidades ou situações
específicas da escola, da sala de aula, do aluno.
 Disciplina ou matéria - Disciplina ou matéria é um ramo do conhecimento,
organizado, com generalizações próprias para a explicação dos fatos que a ele
se relacionam e com método próprio de investigação. Por exemplo, a
Sociologia estuda os fatos sociais por meio de um método próprio de
investigação.
 Área de estudos - Conjunto de matérias caracterizadas pela integração de
conteúdos afins. Temos, por exemplo, a área de Estudos Sociais, que abrange

37
diversas matérias (Geografia, História, Organização Social e Política
Brasileira).

Essas matérias abordam conteúdos relacionados entre si.

13 CUIDADOS PEDAGÓGICOS

As grades curriculares devem e sofrem uma lógica pedagógica.


Cabe ao professor cuidar para que estes elementos sejam observados:

 A ordenação - que consiste na distribuição das matérias de uma forma


simples, com linguagem comum a todos, que vai paulatinamente se
complicando e aprofundando à medida que os anos escolares vão passando
até chegar à especialização;
 A sequência - que diz respeito à necessidade de obedecer à ordem proposta
na grade curricular. Esse dado corresponde à árvore dos requisitos. Algumas
disciplinas sempre antecedem as outras pelo seu grau mínimo de preparação.
Essa antecedência é denominada de pré-requisito. Assim, o domínio da
tabuada é anterior à solução de problemas, a interpretação de textos é anterior
à análise dos mesmos sob o ponto de vista de Escolas Literárias, e assim por
diante. Acontece que na mesma série algumas matérias se complementam.
São os corequisitos. Assim A Língua Portuguesa é co-requisito de Ciências
Naturais, Geografia, e assim por diante. No (s) ano (s) subsequente (s)
sucedem-se as disciplinas preparadas nos anos anteriores, são os pós-
requisitos. Verifique a situação da Contabilidade Comercial Avançada, em
relação à Contabilidade Geral Básica, ou da Geografia Geral, em relação à
Geografia Econômica. Todas essas considerações remetem à necessidade
pedagógica do plano unificado de todos os docentes envolvidos no conjunto
curricular;
 A interdisciplinaridade - o organizador da grade curricular geralmente é um
pedagogo, ou alguém que possua uma grande sensibilidade para
interrelacionar uma a outra disciplina na mesma ou em séries diferentes.
Entretanto, essa sensibilidade, na prática, deverá vir acompanhada de um

38
trabalho exaustivo do professor, qual seja, o de planejar sua disciplina com a
de outros colegas. Por exemplo, o professor de Física deve estar atento à
programação do professor de Matemática, e assim por diante. Essa prática
pedagógica fundamental para o êxito da aprendizagem é denominada de
interdisciplinaridade;
 A integração - significa a unificação, em uma única matéria, de outras matérias
afins. É o caso específico das Ciências Naturais. Anteriormente os conteúdos
estavam distribuídos entre Biologia, Física, Química, Programas de Saúde.
Atualmente todos eles se integram, acrescidos, ainda, da Ecologia,
Educação Ambiental, Educação Sexual etc.

13.1 Psicologia / Sociologia / Filosofia

Ultimamente uma série de autores de diferentes áreas do conhecimento vêm


trabalhando pela melhoria da educação. No que diz respeito ao currículo eis algumas
propostas:

 Racionalista acadêmica - no conjunto, os autores atribuem à escola um papel


conservador dentro do qual o aluno é iniciado na compreensão da tradição
cultural e no acesso às grandes produções da humanidade. O papel principal
da escola é organizar a estrutura do conhecimento. Com isso a programação
das matérias garante que a tradição cultural seja mantida, especialmente
porque os componentes da grade curricular serão clássicos, ensinados pelo
método aristotélico/tomista, ou seja: lógico/ racional. O professor tem o papel
de estimulador, na medida em que transmite conhecimentos, ou seja, na
medida em que ensina. Esta é a proposta da Escola Tradicional;
 Cognitivista ou construtivista - no conjunto os autores consideram que a
escola deva organizar um currículo que estimule, por intermédio do manejo
consciente dos conteúdos, a resolução de problemas que façam o aluno tornar -
se um ser independente e eficiente em situações futuras. Os conteúdos
somente têm sentido na medida em que sirvam para a resolução de problemas
surgidos em momentos ocasionais. O professor deve ser uma pessoa muito
preparada pois, mesmo planejando com antecedência as ações didáticas de

39
sala de aula, as atividades e questões que surgem são inusitadas e, dessa
forma, devem ser aproveitadas para provocar novas aprendizagens. Os alunos,
por sua vez, estarão em atividades construtivas completas. Para que tal
construção ocorra, há um clima de liberdade, participação e compreensão entre
professor e alunos e estes, com eles mesmos. A aprendizagem se faz porque
se cria um ambiente de trabalho, e estimulase a autonomia intelectual. Esta
será uma das propostas da Escola Nova;
 Experimentalista consumatória - no conjunto os autores consideram a escola
como um meio para a descoberta e realização de possibilidades individuais.
Essa descoberta se faz quando se vive em situações experimentais, ocasiões
nas quais os alunos descobrem por eles mesmos a solução para seus
problemas. O currículo, considerado como o conjunto de todas as atividades e
conhecimentos de uma escola, toma-se a saída, o meio, e a chegada da
educação. Pedagogicamente esta espécie de currículo é conhecida como
Centro de Interesse. Esta é outra parcela de educadores fígados à Escola
Nova;
 Reconstrutivista social - no conjunto os autores consideram a escola como
um agente de melhoria da sociedade. Para que tal ocorra, o ponto de partida é
a própria sociedade, considerada tanto no seu contexto presente, quanto
histórico. Não despreza a liberdade do indivíduo, especialmente quando se
abordam os grandes temas sociais e problemas que afligem a comunidade. Em
situação de sala de aula, a sociedade é entendida como uma instituição em
contínua mudança, que tem problemas que precisam ser enfrentados e
resolvidos pelo conjunto de professores e alunos e a própria sociedade. Esta é
outra parcela de educadores fígados à Escola Nova;
 Tecnóloga - trata-se de um grupo que emerge dos avanços tecnológicos. A
preocupação central encontra-se no domínio da tecnologia (comunicação,
informática, locomoção). A preocupação fica restrita ao emergencial. Apesar de
ter uma força de pressão muito grande na atualidade, não é defendida nem
pelos tradicionalistas, nem pelos escolanovista, nem por nós.

40
14 COMPORTAMENTO DO ALUNO DURANTE O PROCESSO DE
ENSINO/APRENDIZAGEM

Certa vez um professor afirmou que somente entraria em sala de aula para
lecionar quando os alunos modificassem seu comportamento, tornando-se mais
disciplinados. Essa fala é significativa na medida em que alerta para o sentido da
disciplina, ou melhor, da indisciplina em sala de aula e sua implicação no caso do
desenvolvimento da aprendizagem. Por outro lado, a afirmação suscita um
questionamento muito sério: Que vem a ser disciplina ou indisciplina dentro de uma
sala de aula? É possível avaliar-se o desempenho do professor pela disciplina
constatada em suas aulas?

14.1 Conceitos

O termo tem diferentes significados, e isolando-se, apenas, a questão


comportamental, tem-se:

 Para a Escola Tradicional diz respeito ao silêncio absoluto dos alunos que
ouvem as explicações do professor;
 Para a Escola Nova/Progressista o problema não existe;
 Para a Escola Globalizadora significa a concentração da atenção e interesse
em determinado processo de ensino/aprendizagem.

De qualquer maneira, o ser humano/aluno está em determinada ação


objetivada. O que parece estranho aos docentes, na realidade, é o ato de
indisciplina, insubordinação, desatenção, desassossego.

14.2 Causas Da Indisciplina E Possíveis Soluções Para Orientar A Atividade


Do Aluno Para O Estudo

A agitação dos alunos em classe é uma realidade. Orientar a movimentação


é uma arte a ser desenvolvida pelo docente. Mas, para que tal aconteça é necessário
que se conheçam e se detectem as causas prováveis da indisciplina em aula.

41
14.3 O próprio docente

Pode originar-se na sua falta de vocação e aptidão para enfrentar e aceitar as


tarefas específicas do magistério; ou pode estar no desconhecimento do conteúdo
pelo qual é responsável, o que o torna vulnerável pela insegurança que manifesta
diante de situações/questões didáticas problemáticas; pode originar-se na timidez,
ou no autoritarismo; nas limitações físicas não compreendidas e dominadas por ele
mesmo; pode ser, igualmente, reflexo de problemas familiares, sociais, e/ou
econômicos vividos.
Assim, um docente com problemas fatalmente provocará indisciplina pela falta
de domínio de si mesmo. Dessa forma, para que se resolva ou contorne a situação,
é necessário, anteriormente, conhecer-se e dominar-se.

 Prováveis soluções - é necessário que o docente conquiste o grupo de alunos


a seus cuidados desde sua primeira apresentação em aula: ter uma postura
física, demonstrar aos alunos sua maneira de agir, o que pretende da classe,
os parâmetros que orientarão a relação professor/aluno e sua metodologia e
sistema de avaliação, dando ciência do conteúdo que será desenvolvido no
decorrer do ano escolar.

14.4 A Construção Escolar

A localização em ruas e avenidas com trânsito intenso, ou a arquitetura do


prédio com instalações adaptadas, sem condições pedagógicas, certamente
são fatores propícios para a agitação dentro da sala de aula.

 Prováveis soluções - reconstruir o prédio é absolutamente impossível, mas


um tratamento mais participativo da comunidade pode minorar os malefícios.
Aqui entra a participação docente nas tarefas administrativas: sentir-se como
um membro daquela comunidade, mesmo que o seu local de moradia não seja
o mesmo; dialogar com os pais e alunos a respeito da propriedade efetiva do
estabelecimento; discutir com os colegas as formas mais ajustadas de
arejamento das classes; cuidar para que estrutura e mobiliário sejam
respeitados seriam algumas formas para, pelo menos, minimizar os problemas.

42
14.5 O Currículo Escolar

A natureza dos conteúdos selecionados e a forma de organização das


atividades de uma escola podem ser fatores decisivos para a indisciplina.
Assim, escolas que trabalham na forma excessiva de Centros de Interesse, nos
quais, mês a mês, se projetam e se realizam inúmeros festejos de modo a prejudicar
o desenvolvimento do ensino em sala de aula podem ser altamente indisciplinadas,
ou, também, conjuntos de atividades didáticas que não respondem às necessidades
sociais e políticas da comunidade na qual se encontra a escola podem ser fatores
altamente indisciplinadores,

 Prováveis soluções - a escolha de uma grade curricular não é, na maioria das


vezes, tarefa de competência dos docentes, mas é de sua responsabilidade
um planejamento consciente, realista, moderno e contínuo. O trabalho
integrado de diferentes disciplinas/matérias, a colocação de alunos em
permanente atividade de aprendizagem, o controle e a correção de tarefas
executadas por eles são soluções que promovem atividade comportada,
conforme atestam os docentes e os próprios alunos.

14.6 O Pessoal Da Escola

A maioria dos estabelecimentos, especialmente nas redes públicas, tem suas


equipes de trabalho defasadas, sobrecarregando, assim, os que estão em atividade.
Ao mesmo tempo nem sempre o pessoal de apoio (secretários, servidores,
inspetores de alunos, bedéis, guardas escolares etc.) tem preparo pedagógico
específico para o relacionamento com os alunos. Fato idêntico pode acontecer com
a direção e mesmo com o próprio corpo docente, a quem caberia especificamente o
domínio da classe. Nessa realidade, todo o pessoal da escola poderá vir a ser uma
fonte de indisciplina escolar.

 Prováveis soluções - um programa especial de discussões com especialistas,


abordando com todo o pessoal do estabelecimento, as origens e soluções para
o melhor relacionamento com o corpo discente pode ser um meio eficaz de
solução para o problema. É evidente que não basta a boa vontade do corpo

43
docente, pois uma administração mais esclarecida é de fundamental
importância.

14.7 As Questões Sociais

Agitações, greves, mudanças na estrutura econômica, desestruturação


familiar, comunidades permissivas ou opressoras, modelos comportamentais
apresentados pela TV, todos esses elementos, isoladamente ou no seu conjunto
promovem fatalmente a indisciplina. É evidente que o professor não é responsável
pela maioria dessas questões, e, igualmente, é evidente que também ele está
sofrendo esses efeitos.

 Prováveis soluções - uma observação mais atenta ao conjunto das questões


sociais remete à conclusão de que, em sua maioria, estão em jogo as questões
políticas que envolvem a vida dos cidadãos. Aí entra a importância da
educação/educador para as soluções, que, na maioria das vezes, têm alcance
mediato, não imediato.

Imediatamente cabe ao professor a percepção clara da situação que está


sendo vivenciada por todos. Mediatamente compete-lhe trabalhar no
desenvolvimento do raciocínio social, por meio de uma metodologia que busque as
causas e consequências de atos pessoais e sociais. Exercitar a democracia na
eleição (no mínimo) dos representantes do Grêmio Estudantil, dos componentes da
Associação de Pais e Mestres e/ou Conselho de Escola; avaliar periodicamente o
comportamento desses representantes mediante seus planos de trabalho, corrigir os
rumos desses planos são medidas que, no conjunto encaminham a verdadeira
disciplina coletiva e, que, evidentemente devem ter na sua origem um projeto especial
e coletivo de estabelecimento.

14.8 Responsabilidades Específicas Dos Docentes

É mais que evidente que o que se viu até o presente momento não esgota as
questões a respeito das prováveis soluções para o problema da indisciplina. É
interessante analisar com mais cuidado as responsabilidades específicas
dos docentes, com o intuito de se prevenir possíveis problemas.

44
 Autoconhecimento - reconhecer-se como um sujeito vocacionado, isto é,
verdadeiramente direcionado para o magistério seria o primeiro passo. Com tal
autoconhecimento o docente já de antemão saberá que enfrentará problemas
de todas as ordens.

Entretanto dada a sua disposição ao trabalho com alunos, tais problemas


tornam-se menores ou mais suportáveis.

 Preparação específica e didática - não se espera que o professor domine


integralmente a arte e a ciência da Educação, mas que tenha um mínimo de
preparação e o estímulo para buscar o aprofundamento permanente de seus
conhecimentos e habilidades. Essas condições são imprescindíveis,
notadamente na sociedade altamente tecnológica dos dias atuais.
 Sensibilidade às questões emocionais - o comum das escolas é não contar
com psicólogos em sua equipe de trabalho. A prática tem realmente
demonstrado a importância desse profissional no atendimento, visto que a
maior parte dos problemas enfrentados pelo professor pode ter amparo na
Psicologia. A personalidade segura do docente, é um primeiro passo, mas um
segundo repousa no diálogo tendo em vista o reconhecimento de cada aluno
em particular, reconhecimento esse que leva ao conhecimento das
características individuais, com base nos problemas familiares e culturais dos
discentes.

A diagnose da população alvo, certamente fará com que o professor se


aproxime mais dos alunos problemáticos, tendo em vista a escolha de formas
alternativas para solução de seus problemas. Não se deve esquecer que o equilíbrio
emocional do próprio professor é fator decisivo.

 Estar em contato constante com a comunidade da escola - essa prática


fará com que o professor entenda que os alunos repetem os modelos de seus
ídolos: pais, personalidades da comunidade (que nem sempre são os modelos
desejáveis do estabelecimento/professor). Junto a isso está a sensibilidade
para o reconhecimento dos verdadeiros líderes dentro da sala de aula. Essa
diagnose pode remeter à necessidade de criação de projetos específicos de
reeducação familiar.

45
 Cumprimento das normas disciplinares e administrativas do
estabelecimento - há uma série de normas disciplinares, estabelecidas
democrática ou legalmente, que, uma vez cumpridas, produzem efeitos
disciplinares: ser assíduo, estar em sala de aula no seu decorrer, preparar cada
aula em particular, manter os alunos em classe, responsabilizando-se pela
atividade de cada um em particular são atitudes administrativas do âmbito
docente, que auxiliam não só o próprio professor, como a administração global
do estabelecimento, graças à organização e clima produtivo que produzem.

Uso de recursos didáticos múltiplos e variados - finalmente, o emprego de


recursos múltiplos e variados é fundamental:

 Deixar claros para a classe não apenas os objetivos gerais de sua disciplina
em particular, como também os objetivos específicos de cada aula. Quaisquer
atividades que tenham claramente propostas suas origens, necessidades e
aplicações imediatas, ou não, soam como mais prazerosas;
 Manter os alunos ocupados. Aluno que não trabalha dá trabalho. Assim,
descobrir tarefas intermediárias para aqueles que são mais rápidos na
conclusão de suas atividades é de vital importância. Uma biblioteca de classe
ajudaria e muito, assim como salas ambientes, que favoreceriam atividades
individuais para os mais rápidos;
 Aplicar a estrutura curricular em espiral, de tal forma que os temas, sendo
retomados de série a série, permitam um retomo a conteúdos ainda não
dominados e uma evolução para patamares mais complexos de conteúdos;
 Usar métodos de pesquisa (bibliográfica, de campo e experimental) de tal forma
que os alunos se sintam produtores de sua aprendizagem.

Os defensores da Escola Nova, aliados aos educadores que criticam o regime


ditatorial porque passam alguns países, são unânimes em não querer abordar o
assunto DISCIPLINA. Ledo engano!
A verdadeira aprendizagem somente se concretiza com o aprendiz em posição
de verdadeira disciplina. Essa constatação faz-se em qualquer situação de vida do ser
humano: veja-se, por exemplo, atitude de concentração do jogador de futebol em uma
disputa de campeonato; do artista representando em uma peça; do cientista defronte

46
a sua bancada experimental; do professor ao propor o conteúdo que programou e ao
acompanhar as atividades de seus alunos.
Em suma, o que queremos enfatizar é que a exigência de disciplina não é um
ato punitivo, mas, constitui uma pré-disposição pessoal para adquirir conhecimentos,
habilidades e competências.

15 O PORQUÊ E O PARA QUÊ DA EDUCAÇÃO

Quando as pessoas e grupos sabem exatamente de onde vêm e exatamente


para onde vão, conseguem alcançar êxito com mais facilidade e em mais curto prazo.
O processo educacional tem o sentido de reforço ou mudança de
comportamentos individuais e/ou sociais. Quando se fala que as ações têm princípios
e fins, está-se referindo a atitudes, quer morais (princípios), quer comportamentais
(objetivos).
Em educação tanto um quanto outro fundamento são descobertos, debatidos,
explicitados e claramente postos, correspondem à busca de bens (espirituais ou
materiais - próximos ou remotos - concretos ou abstratos) que não se possui e se
deseja.

15.1 Princípios

Correspondem às origens e são entendidos como regras fundamentais que se


destinam a todas as pessoas, em qualquer tempo ou em qualquer lugar.
Duas são as fontes que propõem fins educacionais: a Filosofia, as instituições
de caráter universal, as Igrejas, por exemplo; e/ou Estado por intermédio de sua
Constituição.
No processo de projeto educativo, entretanto, o professor não
professará necessariamente tais princípios, mas deverá ter certeza dos bens
que faltam à humanidade (em qualquer tempo, ou lugar, ou pessoa), e proporse a lutar
por eles. Uma tarefa de tal magnitude será tanto mais amena e eficaz quanto mais
revelar conhecimento de toda a coletividade acadêmica.

47
No caso da Constituição Brasileira (1988), outros princípios já estão
determinados e, na qualidade de professores desta nação, cumpre-nos observá-los.
São estes os princípios previstos na Constituição que regem a cidadania da nação.
Art. 205: A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será
promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando o pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho.
Art. 206: O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:

I. - Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;


II. - Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e
o saber;
III. - Pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas e a coexistência de
instituições públicas e privadas de ensino;
IV. - Gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;
V. - Valorização dos profissionais do ensino (...);
VI. - Gestão democrática do ensino público (...);
VII. - Garantia do padrão de qualidade.

Provavelmente a muitos ocorrerá este pensamento: Por que o descompromisso


do cidadão relativamente à proposta constitucional? Este é realmente o espírito do
princípio e do objetivo: Não existindo o bem, ele é declarado e todos aqueles que
vivem e participam dos destinos de uma instituição devem assumir o bem buscado e
lutar por ele. Dentro da educação escolar essa obrigação torna-se mais rigorosa.
Muitos professores após algum tempo de magistério desanimam por não
obterem bons resultados no ensino. Mas os resultados positivos, efetivamente,
correspondem a um trabalho, algumas vezes, até de uma geração, o que não libera
ninguém do empenho por alcançá-los.

15.2 Objetivos

Correspondem ao local, ou fim a que se pretende chegar.

48
Também os objetivos correspondem a bens desejáveis, pelos quais lutamos.
Advêm de correntes filosóficas e ideológicas, além de sofrerem a pressão de fatos
diários.
Suas fontes são mais numerosas:

 Objetivo da escola: A escola tem obrigações, problemas e preocupações


curriculares próprias. Com as mudanças radicais que a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional, 9394/96 está proporcionando aos rumos da
educação brasileira, as escolas, professores e alunos precisam consultar os
Parâmetros Curriculares Nacionais, se o nível escolar corresponder ao Ensino
Fundamental ou Médio, e às Diretrizes Curriculares, se o nível escolar for o
Ensino Superior, uma vez que tais documentos apontam o objetivo proposto e
que fatalmente irão estar na base das avaliações institucionais, popularmente
batizadas de provões.

Isso não impede que o próprio local do projeto expresse seus objetivos, isso é
mais verdadeiro quando se fala da instituição universidade. Observem-se alguns
casos:

 Uma escola pode ressentir-se da falta de sala especial para o


ensino/aprendizagem de Ciências;
 Outra pode estar mais interessada em criar o ensino específico de
computação;
 Outra pode pensar em melhorar o nível nutritivo da merenda;
 Outra pode estar repensando a relação diária entre professor e aluno;
 E assim por diante, tudo sempre correspondendo a bens que a escola não
possua, mas deseja.

Por ocasião do planejamento global da escola, o problema é levado ao


Conselho e assim transforma-se em Objetivos da Escola:

 Criar sala ambiente/laboratório de Ciências;


 Abrir um laboratório de computação;
 Incrementar a merenda escolar;
 Discutir o relacionamento existente entre professores e alunos;
 E assim por diante.

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 O objetivo geral que corresponde à descoberta do valor que tem a disciplina
dentro do Currículo Pleno. Este corresponde a todas as propostas de um curso:
Programas, Atividades, Semanas de Estudos, Sistema de Avaliação,
Atividades extraclasse, e assim por diante.

A determinação do objetivo dentro de cada área, atividade ou disciplina é


papel do professor com sua equipe de trabalho.

 Os objetivos específicos são os que indicam as ações absolutamente


imediatas, e que permitem avaliação clara, e, na maioria das vezes, medíveis.
Sua abrangência dirá respeito à operacionalização que se faz em relação aos
três domínios próprios do ser humano:
 A sociabilidade diz respeito ao sentir prazeroso que o ser humano tem
em viver com os demais, que o leva ao sentimento de· apreciação ao
que faz e ao seu grupo e no processo educacional refere-se à extensão
à sociedade daquilo que foi aprendido e feito todos os seres humanos.

 Objetivos cognitivos estão ligados, como diz seu nome, à área do


conhecimento. Na descrição a seguir, é bom verificar a existência de uma
habilidade para que esses desejos sejam alcançados, mas deve-se estar
atento para o objeto dessa habilidade, ou seja, ampliar a quantidade de
conhecimentos.
 Objetivos de pesquisa/investigação - exigem que o aluno tome uma atitude,
decida e execute determinada ação: Eles podem referirse:
 À aplicação do método experimental: observar, comparar, estabelecer
hipóteses, analisar, sintetizar, criticar, concluir, generalizar, avaliar e
aplicar.

Por bem, aqui, portanto, estar-se-á e somente se aprecia aquilo que traz

Observe:

50
 A inteligência diz respeito ao cognos, ou seja, o conhecimento, ela refere-se ao
conteúdo que o ser humano deve absorver e ao ensino que o professor deve
proporcionar;
 A ação diz respeito à necessidade que o ser humano tem de fazer, realizar
mostrando suas habilidades e no processo educacional corresponde à
pesquisa e/ou investigação; dizendo o que tem um valor de e para a natureza,
e/ou indivíduo, e/ou sociedade. Estar-se-á trabalhando as questões
psicológicas, filosóficas e políticas que os conteúdos especificam.

Eis alguns exemplos:

 Verificar a forma de prevenção de doenças provocadas por bactérias;


 Entrevistar a equipe do posto de saúde local para verificar o que tem sido feito
pela prevenção de doenças;
 Verificar o projeto de saúde em andamento na cidade;
 Analisar as profissões ligadas à área da saúde e o que fazer para se entrar
nesta força de trabalho;
 Participar como agente de saúde local;
 Pesquisar e trazer a biografia de um médico brasileiro que se destacou ou se
destaca hoje na área de saúde, mostrando porque ele é importante também
para o seu bairro e escola.

15.3 Características Dos Objetivos

 Expressão na forma de verbo de ação: descrever, avaliar, aplicar, e assim por


diante. Muitos textos não são expressos dessa forma, obrigando o docente à
sua correção. Entretanto, textos de lei, mesmo que formalmente
incorretos, não podem ser alterados;
 Objetividade: um objetivo deve ser claro e curto. As descrições ficarão para o
campo da metodologia intitulado de Procedimento;
 Hierarquização: o plano de trabalho do professor deve apresentar todos os
objetivos, na ordem em que eles apareceram neste texto. É lógico que os
específicos, porque instrumentais, são fáceis de verificação do comportamento

51
final do aluno; são mais atrativos. Entretanto, quando se analisa a questão
administrativa do currículo, verifica-se que uma aula, um projeto e/ou um
programa devem ser estipulados para resolverem problemas maiores que a
simples absorção de determinado conteúdo;
 Clareza: leitor não pode ter dúvidas sobre o que o objetivo está pretendendo.
Por esse motivo a determinação de todos os objetivos é uma tarefa demorada,
e será mais bem-sucedida se for uma tarefa de grupo;
 Descrição: deve deixar clara a tarefa a ser cumprida ou o problema a ser
resolvido. Portanto, não pode aparecer apenas o verbo, mas toda a frase;
 Expressão de:
 Conteúdos - ou os conhecimentos a serem adquiridos;
 Habilidades - ou as atitudes a serem incorporadas;
 Apreciações - ou os valores a serem adotados;
 Aplicações - ou as propostas para a melhoria do indivíduo e sociedade.

Graças aos objetivos as ações humanas se distinguem das de todos os


outros animais. Em educação eles fazem a diferença entre professores,
instituições escolares/estados/países. Dão vida e personalidade ao ensino. Cada
conteúdo é um complexo que exige muitos alvos, pois: objetivos inexistentes, ou
mal formulados impedirão a escolha de metodologias, e, especialmente, não
indicarão as condições de promoção dos alunos.

16 TEORIAS EDUCACIONAIS

16.1 Teorias Educacionais Modernas: Herbart, Dewey E Freire

O quadro abaixo explicita uma comparação entre o modelo de teoria


educacional humanista, em seus procedimentos didáticos, e o modelo de teoria
educacional sob a influência dos valores da sociedade do trabalho, levando em conta
também os seus procedimentos didáticos.

52
Para Herbart, o processo de ensino deveria cuidar da moralidade. Esse seria
o objetivo do ensino. A moralidade era, para ele, "liberdade, perfeição, boa vontade,
direito e retribuição". Ela poderia vingar se o ensino fizesse do homem um ser
autodeterminado. Em suas palavras, "um homem bom comanda a si próprio".
Herbart não admitia qualquer distinção entre instrução e educação. Sua
doutrina era a da "instrução educativa"; quanto mais ideias claras e verdadeiras na
consciência, mais teríamos uma criança e, posteriormente, um homem, com boa
conduta. Ou, nas palavras do próprio Herbart: "a disposição do coração (...) tem sua
fonte na mente (...), sentir e desejar são condições e, na maior parte, condições
mutáveis de conceitos". Assim, fazendo da ética humanista (a autodeterminação para
ser bom) a finalidade da educação, e da psicologia, o meio (massas de pensamento -
ideias e conceitos dirigem o interesse), Herbart fixou seus procedimentos didáticos
em cinco passos: preparação, apresentação, associação, generalização e aplicação.
A teoria educacional de Dewey ao contrário da de Herbart, não colocava um
tipo fixo de homem a ser alcançado. A sociedade do trabalho, como uma sociedade
dinâmica, deveria estar se transformando continuamente e, nesse sentido, Dewey viu
a educação como "o processo de reconstrução da experiência, dando-lhe um valor
mais socializado por meio do aumento das capacidades individuais". Assim, pode-se
dizer, os cinco passos didáticos de Dewey são, em verdade, seis passos: há um passo
que é o próprio processo: o aprender a aprender. Mais do que a conclusão de cada
lição do processo de ensino-aprendizagem, o que valeria a pena, é que ele estaria
treinando os indivíduos para a pesquisa, para o que seria o trabalho natural da mente

53
- resolver problemas novos. Ser um bom ser humano, para Dewey, não era ser alguém
com erudição, mas alguém capaz de resolver problemas. Daí que, neste aspecto,
Dewey não podia divergir daqueles que viam o seu método de ensino - o ensino ativo
- como estando em comunhão com a ideia de que o homem é naturalmente ativo,
transformador. Em termos soco escolares: alguém que deveria se tornar integrado
socialmente na medida em que continuasse a ser ativo. O adulto continuaria a ser
ativo na medida em que, enquanto adulto, fosse industrioso, trabalhador - um
profissional.
A situação histórica, hoje, na América, é que os educadores têm um número de
tarefas importantes para realizar. Uma vez que as condições efetivas do ensino
dependem, em larga medida, do que acontece fora da sala de aula, os educadores
devem se opor vigorosamente diante de qualquer medida que tenda a restringir ou
proibir seus direitos civis como membros da comunidade.
O comportamento imediato da teoria educacional de Dewey é o mesmo de sua
teoria moral e social. Elas clamam por uma dedicação à luta, em termos práticos, pela
ampliação da democracia, por meio de métodos da inteligência, ou seja, métodos de
investigação científica que vençam o princípio da autoridade para resolver problemas
humanos.
Hook estava certo na avaliação da teoria educacional de Dewey. E seu
acerto significa o momento propício para apontar o erro de muitos críticos, em
particular, no Brasil, que procuraram ver em Dewey alguém que teria levado o
culto à técnica e à prática cega - certamente frutos da sociedade do trabalho - para
o âmbito educacional, esquecendo-se da educação como elemento político. No
Brasil dos anos 1980: tanto os educadores considerados de direita (José Mário
Pires Azanha, à frente) quanto aos que se auto reivindicavam como pertencentes
à esquerda marxista (José Carlos Libâneo e Dermeval 8aviani à frente), fizeram a
leitura de Dewey - justamente o filósofo da democracia - como um "tecnicista" ou
alguém que teria dado margem para o "tecnicismo" em educação. Mas a fala de
Hook é adequada: a teoria educacional de Dewey era política, em favor da
ampliação da democracia.

 Paulo Freire: Educação libertadora versus Educação bancária Paulo Freire,


como Dewey, via a educação imbricada na política. Ao mesmo tempo, em
termos de didática, aceitou de Dewey os pressupostos do ensino ativo. Os

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passos didáticos de uma teoria educacional inspirada na prática de Paulo Freire
só podem ser entendidos na sua concorrência com o que ele qualificou de
"educação bancária". Para Paulo Freire, a educação bancária era o
adestramento do corpo, a ideia de que, sendo o homem "corpo", é objeto
manipulável, uma caixa onde se depositam saberes. Como saberes nunc a
devem ser depositados, o que se deposita, na verdade, são coisas, dogmas.

Em seus primeiros escritos, Paulo Freire via o homem como possuindo uma
vocação para sujeito da história e não para objeto, mas, nas condições do Terceiro
Mundo, esta vocação não estaria se explicitando, dado que as populações mais
pobres teriam sido vítimas de uma mentalidade paternalista e autoritária, herança do
colonialismo, neocolonialismo e escravismo. Fazia-se necessário, segundo Freire,
romper com isso, "libertar o homem popular" de seu tradicional mutismo. A educação
deveria, então, forjar uma nova mentalidade, trabalhando para a "conscientização
do homem" de cada país do Terceiro Mundo, frente aos seus problemas nacionais,
e engajar este homem na luta política.
A escola oficial, além de autoritária, estaria a serviço de uma estrutura
excessivamente burocratizada e anacrônica incapaz de colocar-se "ao lado dos
oprimidos". Procurando identificar-se com os oprimidos - aqueles que "não têm voz"
na sociedade, mas que, obviamente, ao contrário do que diziam as elites, "também
produzem cultura" -, Freire buscava uma educação comprometida com a solução
dos problemas da comunidade. A ideia de comunidade permaneceu, então, como
um ponto de partida e um ponto de chegada da teoria educacional freireana (como
em Dewey e Anísio Teixeira). Daí as teses do ensino articulado aos regionalismos,
ao comunitarismo, aos costumes e à cultura do local de vida da população a ser
educada. Diga-se de passagem, que em alguns momentos, isso seguiu por vias
radicais, causando problemas de interpretação, no Brasil. Neste país, ao contrário
dos Estados Unidos, a história da escola fez-se através da ligação das elites com o
Estado, seguindo os modelos francês e alemão. Nos Estados Unidos, a escola
sempre foi paroquial, comunitária. Paulo Freire, como Anísio, no passado, adotando
o comunitarismo, nem sempre forneceu ao Brasil uma pedagogia capaz de ter êxito
em alguns lugares com total falta de tradição comunitária (embora em alguns locais,
com certa tradição no comunitarismo, colônia de imigrantes, por exemplo, ela tenha
caminhado de modo mais fácil, como foi o caso do Rio Grande do Sul).

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A conscientização seria a arma contra a "educação bancária"
- A educação defensora do status quo vigente, calcada numa "ideologia de
opressão" que, segundo Freire, considerava o aluno como alguém despossuído
de qualquer saber e, por isso mesmo, destinado a se tornar depósito dos dogmas
do professor. Paulo Freire elaborou um procedimento que, para efeito de
comparação com Herbart e Dewey, ilustro sob a forma de cinco passos didáticos:

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17 REFERÊNCIAS

FREIRE, P. Educação como prática da liberdade. 5ª ed., Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1975.
Peeters ,F. e COOMAN, M.A. de . História da Educação. 10ª ed. São Paulo:
Melhoramentos, 1971.
TOSI, Maria Reineldes. Didática Geral; um olhar para o futuro. 3ª ed. Campinas-SP.
Editora Alínea, 2003. Ghiraldelli Júnior, Paulo. Didática e Teorias Educacionais. Rio
de Janeiro: DP&A, 2000.
SILVA, T.M.N. A construção do currículo na sala de aula, o professor como

pesquisador. São Paulo. EPU - 1990.


PILLETI, Claudino. Didática Geral. 23ª edição. Série Educação -Editora Ática, 2006.

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