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Revolução Dos Farroupilha - V1

O trabalho analisa a Revolução Farroupilha (1835-1845) como um conflito emblemático do Império do Brasil, destacando suas contradições internas e a exclusão de setores subalternos, especialmente os negros. A revolta, impulsionada por tensões políticas e econômicas entre a elite estancieira e o governo imperial, revelou um projeto de elite que buscava autonomia sem abolir a escravidão. A pesquisa se baseia nas obras de Moacyr Flores, que critica a narrativa tradicional e ilumina aspectos silenciados da revolução.

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Revolução Dos Farroupilha - V1

O trabalho analisa a Revolução Farroupilha (1835-1845) como um conflito emblemático do Império do Brasil, destacando suas contradições internas e a exclusão de setores subalternos, especialmente os negros. A revolta, impulsionada por tensões políticas e econômicas entre a elite estancieira e o governo imperial, revelou um projeto de elite que buscava autonomia sem abolir a escravidão. A pesquisa se baseia nas obras de Moacyr Flores, que critica a narrativa tradicional e ilumina aspectos silenciados da revolução.

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Edmar Firmo de Lana - RGM: 33803838

Gabriel Rabelo da Costa - RGM: 33070717


Gustavo Portugal Magalhães - RGM: 34010921
Kaleb Fernando de Souza - RGM: 32938331
Matheus Ribeiro dos Santos - RGM: 33418314

A Revolução Farroupilha
Moacyr Flores

São Paulo
2025
Edmar Firmo de Lana - RGM: 33803838
Gabriel Rabelo da Costa - RGM: 33070717
Gustavo Portugal Magalhães - RGM: 34010921
Kaleb Fernando de Souza - RGM: 32938331
Matheus Ribeiro dos Santos - RGM: 33418314

A Revolução Farroupilha
Moacyr Flores

Trabalho apresentado à disciplina Brasil I


da UNICID - Universidade Cidade de São
Paulo como requisito para a obtenção de
nota.

Orientadora: Professora Dra. Eliane dos


Santos

São Paulo
2025
SÚMARIO ​

1. INTRODUÇÃO​ 6

2. CONTEXTO HISTÓRICO​ 7

3. CONTEXTO HISTÓRICO DA REGIÃO SUL​ 8

4. ECONOMIA ANTES DA REVOLUÇÃO​ 9

5. MOTIVOS DA REVOLTA​ 10
5.1 A QUESTÃO FISCAL​ 10
5.2 O CENTRALISMO POLÍTICO IMPERIAL​ 11
5.3 AS DISPUTAS INTERNAS DA ELITE SULISTA​ 11
5.4 INFLUÊNCIA IDEÁRIO LIBERAL E REPUBLICANO​ 12
5.5 ELEMENTOS SIMBÓLICOS E CULTURAIS​ 12

6. PRINCIPAIS FIGURAS​ 13

7. A REVOLUÇÃO FARROUPILHA EM CURSO: GUERRA, SOCIEDADE E ECONOMIA​ 14


7.1 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA REPÚBLICA RIO-GRANDENSE​ 15
7.2 A EXPANSÃO DA REVOLUÇÃO E OS PRIMEIROS CONFRONTOS MILITARES​ 15
7.3 A PARTICIPAÇÃO NEGRA E O PAPEL DOS LANCEIROS​ 17
7.4 O DESENROLAR MILITAR E A ADESÃO DE GARIBALDI​ 17
7.5 A GUERRA DE DESGASTE E A CHEGADA DE CAXIAS​ 18
7.6 O ACORDO DO PONCHE VERDE E A RESTAURAÇÃO DA ORDEM​ 18
7.7 A ECONOMIA DURANTE A REVOLUÇÃO DE FARROUPILHA​ 18
7.7 A ECONOMIA APÓS A REVOLUÇÃO DE FARROUPILHA​ 19

8. CONCLUSÃO​ 20

REFERÊNCIAS​ 23
6

​ 1. INTRODUÇÃO

A Revolução Farroupilha (1835–1845), também conhecida como Guerra dos


Farrapos, figura entre os episódios mais longos e emblemáticos das revoltas
provinciais ocorridas no Império do Brasil no século XIX. Tradicionalmente celebrada
no Rio Grande do Sul como símbolo de bravura, republicanismo e identidade
regional, essa revolta tem sido alvo de releituras críticas que buscam compreender
suas múltiplas dimensões, contradições e exclusões. Entre os estudiosos que se
dedicaram a essa abordagem, destaca-se Moacyr Flores, cuja produção
historiográfica ilumina aspectos silenciados da revolução, especialmente no que
tange à participação e posterior traição dos negros que lutaram nos exércitos
farroupilhas.

Ao longo de dez anos de conflito, os líderes farrapos proclamaram ideais de


liberdade, igualdade e república. No entanto, tais princípios mostraram-se seletivos:
enquanto a elite estancieira buscava maior autonomia frente ao Império e defendia
seus interesses econômicos, a escravidão foi mantida e instrumentalizada como
base da organização militar e produtiva da revolução. A utilização de negros
escravizados como combatentes — particularmente na formação dos Lanceiros
Negros — revela uma profunda contradição entre discurso e prática, que culmina
tragicamente no episódio do Massacre de Porongos, em 1844.

Este trabalho tem por objetivo analisar a Revolução Farroupilha em sua


complexidade, destacando seus fundamentos políticos, econômicos e sociais, mas
sobretudo enfatizando suas contradições internas e a forma como sua memória foi
construída de maneira seletiva. A partir da leitura crítica das obras Revolução dos
Farrapos e Negros na Revolução Farroupilha: Traição em Porongos e Farsa em
Ponche Verde, de Moacyr Flores, busca-se compreender a revolução não apenas
como uma disputa entre província e Império, mas como um projeto de elite que
excluiu os setores subalternizados da sociedade, mesmo quando deles se valeu
para sustentar sua luta.
7

2. CONTEXTO HISTÓRICO

A Revolução Farroupilha não foi um acontecimento isolado, mas parte de um


contexto mais amplo de revoltas que marcaram o Período Regencial (1831–1840) no
Brasil. Com a abdicação de D. Pedro I, o país enfrentou um vácuo de autoridade
central, abrindo espaço para a intensificação de conflitos entre as elites locais e o
governo imperial. As reformas centralizadoras tentadas pelas Regências, como o
Ato Adicional de 1834, não foram suficientes para conter as insatisfações regionais,
especialmente em províncias periféricas como o Rio Grande do Sul.

Além disso, o país ainda se estruturava sob um modelo colonialista, com forte
presença do trabalho escravo e da monocultura. As decisões políticas e econômicas
eram concentradas no Rio de Janeiro, o que aprofundava o sentimento de exclusão
entre as elites provinciais. Essas tensões culminaram em diversas revoltas, como a
Cabanagem (PA), a Balaiada (MA), a Sabinada (BA) e, principalmente, a Revolução
Farroupilha, que se destacou pela sua duração, organização militar e alcance
territorial.
8

3. CONTEXTO HISTÓRICO DA REGIÃO SUL

O Rio Grande do Sul era, em meados do século XIX, uma província com
características próprias. A sua condição de fronteira com os atuais Uruguai e
Argentina favorecia o desenvolvimento de uma cultura militarizada, com longa
tradição de conflitos regionais. A estrutura fundiária era extremamente concentrada,
e as estâncias, grandes propriedades voltadas à criação de gado, formavam a base
econômica da elite local.

A sociedade sulista era marcada por uma rígida estratificação social. Os estancieiros
— grandes proprietários rurais — formavam a elite dominante, com vasto poder
econômico e influência política. Os trabalhadores livres pobres, os indígenas
marginalizados e os negros escravizados constituíam a base da pirâmide social.
Segundo Moacyr Flores (2007), “o Rio Grande do Sul era uma sociedade agrária,
hierarquizada, onde o trabalho era desprezado pelas elites, reservado aos escravos
e agregados” (p. 81).

A província contava também com áreas urbanas em crescimento, como Porto


Alegre, Pelotas e Rio Grande, mas que ainda não possuíam autonomia econômica
nem expressão política suficiente para contestar o domínio ruralista. Esse cenário
reforçava o poder da elite estancieira, que lideraria a revolução com base em seus
interesses corporativos.
9

4. ECONOMIA ANTES DA REVOLUÇÃO

No período que antecedeu a Revolução Farroupilha, a economia da província do Rio


Grande do Sul era essencialmente agropecuária, sustentada pela criação extensiva
de gado bovino e, em menor escala, ovino e equino. As vastas estâncias da região
da Campanha formavam a base do modelo econômico local. A principal atividade
era a produção de charque — carne bovina salgada e seca ao sol — utilizada como
alimento básico nas regiões canavieiras e cafeeiras do Sudeste e Nordeste,
sobretudo nas lavouras que também empregavam trabalho escravo.

Além do charque, havia produção de couro, sebo, trigo e erva-mate, além de


atividades secundárias nas charqueadas, onde a carne era preparada para
comercialização. Essas fábricas se concentravam nas cidades de Pelotas e Rio
Grande, empregando grande quantidade de trabalhadores escravizados. A estrutura
fundiária concentrava grandes porções de terra nas mãos de uma elite estancieira,
que controlava tanto a produção quanto o acesso à política local e à Guarda
Nacional.

Conforme ressalta Moacyr Flores (2007), "a economia rio-grandense desenvolveu-se


sobre os alicerces da pecuária e do trabalho escravo, com grande concentração de
riqueza nas mãos de poucos estancieiros" (p. 54). Essa concentração de renda e
poder estava diretamente vinculada ao modelo de exportação do charque, produto
de alta demanda nacional, mas submetido a um sistema de cobrança de tributos
extremamente desfavorável à província.

A principal queixa da elite econômica local dizia respeito à política fiscal do Império,
que recolhia os impostos sobre o charque fora da região produtora, em praças como
Sorocaba (SP), Salvador (BA) e Rio de Janeiro (RJ). Dessa forma, os recursos
gerados pela produção sulista não retornavam como investimento público, o que
impedia a construção de infraestrutura básica na província — estradas, pontes,
escolas ou hospitais. Flores (2007) aponta que esse desequilíbrio fiscal foi um dos
estopins da revolta: "os estancieiros se viam como produtores de riqueza para o
país, mas sem retorno mínimo em benefícios públicos" (p. 61).
10

​ 5. MOTIVOS DA REVOLTA
11

A Revolução Farroupilha, deflagrada em 1835 na província de São Pedro do Rio


Grande do Sul, teve como pano de fundo uma série de tensões acumuladas entre a
elite estancieira sulista e o governo imperial. Embora envolta por ideais de liberdade
e república, a revolta teve, em sua origem, motivação essencialmente política e
econômica, articulada por um setor social que se sentia excluído do centro decisório
do Império. De acordo com Moacyr Flores (2004), “a revolução foi uma disputa de
poder entre o centro e a periferia, liderada por uma elite que desejava controlar os
próprios recursos sem interferência do governo central” (p. 36).

5.1 A QUESTÃO FISCAL

O principal fator desencadeador da revolta foi a insatisfação com a política


tributária imposta pelo Império. O charque produzido no Rio Grande do Sul,
principal item de exportação da província, era tributado nos centros consumidores —
como Sorocaba, Salvador e Rio de Janeiro — e não em seu local de origem. Essa
prática fazia com que os recursos arrecadados com a comercialização do charque
não retornassem à província, o que gerava profundo ressentimento entre os
produtores locais.

Além disso, a concorrência com o charque platino, importado do Uruguai e da


Argentina, que tinha preços mais baixos e menores encargos tributários, afetava
diretamente a economia regional. Os estancieiros exigiam, sem sucesso, medidas
protecionistas para garantir competitividade ao charque rio-grandense. Para Flores
(2007), “os estancieiros viam no governo imperial não apenas um gestor distante,
mas um obstáculo ativo à prosperidade da província” (p. 61).

5.2 O CENTRALISMO POLÍTICO IMPERIAL

Outro motivo relevante para a eclosão da revolta foi a estrutura centralizadora do


Estado brasileiro. Após a abdicação de D. Pedro I, o Império adotou um modelo
político baseado na nomeação de presidentes de província pelo centro, sem
consulta ou eleição local. Essa medida minava a autonomia das elites regionais, que
12

se viam impedidas de influenciar diretamente as políticas que afetavam suas


atividades econômicas e estruturas sociais.

No Rio Grande do Sul, onde a elite possuía forte identidade militarizada e


regionalista, essa centralização foi vista como uma forma de imposição cultural e
administrativa. O descontentamento com o controle remoto exercido pelo Rio de
Janeiro foi intensificado com a nomeação de Antônio Rodrigues Fernandes Braga
como presidente da província em 1835, cujo desprezo pelas tradições locais e
políticas centralizadoras serviram como estopim imediato da revolta.

5.3 AS DISPUTAS INTERNAS DA ELITE SULISTA

Não havia um consenso homogêneo entre os líderes farroupilhas quanto ao futuro


político da província. Enquanto alguns defendiam a independência completa e a
formação de uma república (como Domingos José de Almeida), outros visavam
apenas obter maior autonomia dentro do Império (como Bento Gonçalves). Essa
ambiguidade entre o republicanismo e o federalismo esteve presente ao longo de
toda a revolução e foi um dos fatores que contribuíram para sua instabilidade
interna.

O projeto político da revolta, portanto, não era revolucionário em termos sociais. Ao


contrário, como aponta Flores (2004), tratava-se de uma “tentativa de ajuste dentro
da lógica do Antigo Regime tropical” (p. 42), pois não havia intenção de abolir a
escravidão ou redistribuir a terra. As estruturas sociais permaneciam intocadas, e os
ideais de liberdade estavam restritos aos membros da elite agrária.

5.4 INFLUÊNCIA IDEÁRIO LIBERAL E REPUBLICANO

Apesar de as motivações econômicas e políticas serem predominantes, a Revolução


Farroupilha também foi influenciada pelos ideais liberais e republicanos que
circulavam no mundo ocidental desde a Revolução Francesa (1789) e que
ganharam força na América Latina com as independências hispano-americanas.
Muitos líderes farroupilhas utilizavam uma retórica inspirada nos valores do
13

liberalismo europeu, defendendo a liberdade de pensamento, o direito à propriedade


e a soberania do povo.

No entanto, essa retórica libertária era profundamente contraditória, uma vez


que convivia com a manutenção da escravidão e da exclusão das camadas
populares do projeto político. Como destaca Flores (2007), “os farrapos falaram de
liberdade enquanto possuíam cativos; combateram por independência, mas
recusaram a participação do povo” (p. 112). A palavra “liberdade”, tão
frequentemente estampada em bandeiras e proclamações, referia-se
exclusivamente à liberdade política da elite.

5.5 ELEMENTOS SIMBÓLICOS E CULTURAIS

A Revolução Farroupilha também teve como motor um forte sentimento de


identidade regional, com raízes na cultura gaúcha da lida com o gado, da autonomia
do campo, do culto à bravura e à honra militar. Esse ethos regionalista foi mobilizado
como parte da construção de uma causa comum, mesmo que não houvesse um
projeto unificado entre seus líderes.

O uso de símbolos como a bandeira da República Rio-Grandense, o hino farrapo e


as comemorações dos feitos de guerra demonstram o caráter simbólico da
revolução, que posteriormente seria amplamente reaproveitado na construção da
identidade política e cultural do Rio Grande do Sul.

​ 6. PRINCIPAIS FIGURAS

A Revolução Farroupilha foi liderada por um conjunto de personalidades civis e


militares, majoritariamente oriundos da elite estancieira sul-rio-grandense, com forte
influência no cenário político e militar da província. Suas ações foram fundamentais
para a condução da guerra, organização da República Rio-Grandense e negociação
da paz com o Império. Contudo, essas figuras também expressam as contradições
do movimento — especialmente quanto à manutenção da escravidão e à exclusão
das camadas populares.
14

Bento Gonçalves da Silva

Principal líder militar e político da Revolução Farroupilha, foi presidente da República


Rio-Grandense. Estancieiro influente e defensor da autonomia provincial, liderou
diversas campanhas militares. Sua figura tornou-se símbolo da bravura farrapa,
embora também esteja associada ao silêncio diante da traição sofrida pelos
Lanceiros Negros no final da guerra.

Domingos José de Almeida

Intelectual do movimento, foi redator da Constituição da República Rio-Grandense e


articulador político da causa republicana. Defendia ideais inspirados no liberalismo
europeu, mas sem questionar a estrutura escravista da sociedade sulista.

David Canabarro

Militar experiente, substituiu Bento Gonçalves no comando das tropas farroupilhas. É


figura controversa na historiografia da revolução, especialmente por sua atuação no
Massacre de Porongos. De acordo com Moacyr Flores (2004), há indícios de que
tenha colaborado com o Exército Imperial na emboscada que resultou na morte de
dezenas de Lanceiros Negros.

Giuseppe Garibaldi

Revolucionário italiano, participou da Revolução Farroupilha entre 1836 e 1841. Ao


lado de Anita Garibaldi, atuou em ações navais e terrestres, sobretudo na tomada de
Laguna, onde foi proclamada a efêmera República Juliana. Garibaldi é
frequentemente lembrado como símbolo da luta por liberdade em vários continentes.
Contudo, como destaca Flores (2007), sua atuação na revolução foi mais simbólica
do que estratégica:

Garibaldi personificou o idealismo romântico e internacionalista da


revolução, mas sua influência no comando militar ou político foi limitada
pelas lideranças locais, que não compartilhavam de seus ideais
populares (FLORES, 2007, p. 146).

Ainda assim, sua presença contribuiu para dar visibilidade internacional à causa
farroupilha e vinculá-la, mesmo que superficialmente, às lutas liberais europeias do
século XIX.
15

Lanceiros Negros

Tropas formadas por escravizados e libertos, essenciais à resistência farroupilha.


Empregados em cavalaria e infantaria, foram decisivos em batalhas como Seival,
Fanfa e Porongos. Apesar das promessas de liberdade, foram traídos em 1844, no
episódio que se tornou símbolo da exclusão dos negros da memória oficial da
revolução. Sua importância histórica só passou a ser reconhecida nas últimas
décadas, graças a estudos como os de Moacyr Flores.

​ 7. A REVOLUÇÃO FARROUPILHA EM CURSO: GUERRA, SOCIEDADE E


ECONOMIA
A Revolução Farroupilha, que se iniciou em 20 de setembro de 1835, foi marcada
por uma série de confrontos intensos, movimentações militares e um conflito
prolongado, cujas consequências afetaram profundamente tanto a economia quanto
a estrutura social do Rio Grande do Sul. Inicialmente liderado por uma elite
estancieira que buscava maior autonomia, o movimento logo se caracterizou pela
utilização de táticas militares irregulares, mobilizando tropas de maneira não
convencional e envolvendo uma série de elementos econômicos e sociais que
ultrapassaram as intenções da elite e tocaram as questões mais profundas da
sociedade sulista, incluindo a escravidão e a participação dos negros.

7.1 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA REPÚBLICA RIO-GRANDENSE

Após as primeiras vitórias, como a Batalha do Seival (1836), os farroupilhas


proclamaram a República Rio-Grandense em Piratini, que se tornou a capital do
novo regime. Os rebeldes adotaram uma Constituição republicana e criaram
símbolos como moeda e bandeira, buscando uma legitimação interna e externa.
Entretanto, como destaca Flores (2007), “a criação da República Rio-Grandense,
embora tenha proporcionado uma reorganização política e administrativa, foi
essencialmente uma continuidade das estruturas agrárias e escravocratas, com um
discurso republicano que excluía as classes populares” (p. 132). A república foi mais
16

uma forma de garantir a continuidade do poder nas mãos dos estancieiros do que
uma tentativa real de transformação social.

7.2 A EXPANSÃO DA REVOLUÇÃO E OS PRIMEIROS CONFRONTOS MILITARES

A revolução rapidamente se espalhou para o interior da província, resultando em


uma série de batalhas campais entre os rebeldes e as forças imperiais. A Batalha do
Seival, ocorrida em 1836, foi um dos primeiros momentos decisivos do conflito.
Comandada por Antônio de Souza Netto, essa batalha consolidou a vitória
farroupilha, criando um ambiente propício para a declaração da independência e a
instalação da República Rio-Grandense. Flores (2007) afirma que “a vitória de Seival
foi um marco para os farroupilhas, pois proporcionou o impulso necessário para a
organização política do movimento, mas também significou o início de uma guerra
prolongada que desgastaria todos os envolvidos” (p. 111).

Outras vitórias importantes ocorreram em Fanfa (1836), Taquari (1837) e Caçapava


(1839), onde as forças farrapas conseguiram resistir por algum tempo ao Exército
Imperial. Os combates se tornaram cada vez mais dispersos, com uma guerra de
guerrilha caracterizada por movimentação rápida, ataques surpresa e táticas de
escaramuças, que confundiam as forças imperiais, mas que também resultaram em
grandes perdas econômicas para as populações rurais.
17

7.3 A PARTICIPAÇÃO NEGRA E O PAPEL DOS LANCEIROS

Os Lanceiros Negros, compostos principalmente por escravizados e libertos,


desempenharam papel essencial na revolução. As promessas de liberdade foram
um dos maiores paradoxos do conflito, pois, enquanto os farroupilhas proclamavam
ideais de liberdade e república, os negros que se uniram à causa continuaram a ser
tratados como mercadoria. Durante as batalhas, eles se destacaram como parte
fundamental da infantaria e cavalaria farroupilha, realizando tarefas de combate,
patrulhamento e defesa, e foram essenciais em vitórias importantes.
18

Contudo, como aponta Flores (2004), “apesar da contribuição fundamental dos


negros na guerra, o movimento farroupilha nunca cumpriu a promessa de libertação
feita a muitos deles” (p. 86). Muitos dos Lanceiros Negros que sobreviveram à
guerra foram depois traídos, desarmados e assassinados no Massacre de
Porongos (1844), um dos episódios mais emblemáticos de traição durante a
revolução. Flores observa que a emboscada de Porongos não apenas foi uma
tragédia militar, mas também o reflexo de um projeto que utilizou os negros como
instrumento de guerra, mas não como sujeitos de direitos.

7.4 O DESENROLAR MILITAR E A ADESÃO DE GARIBALDI

Com o apoio de Giuseppe Garibaldi, os farroupilhas conseguiram uma grande


vitória em Laguna, no litoral catarinense, e proclamaram a República Juliana em
1839. Essa nova tentativa de república teve pouca duração, sendo reconquistada
pelo Exército Imperial meses depois. Garibaldi, embora tenha se destacado por seu
caráter revolucionário, teve uma participação limitada nas questões políticas e
estruturais da revolução. Flores (2007) ressalta que “a presença de Garibaldi na
revolução foi importante para atrair atenção internacional ao movimento, mas sua
influência nas decisões militares e políticas foi muito restrita, devido ao caráter
elitista e limitado dos objetivos farrapos” (p. 150).
19

7.5 A GUERRA DE DESGASTE E A CHEGADA DE CAXIAS

A partir de 1842, a guerra de desgaste começou a favorizar as forças imperiais,


que, sob o comando do duque de Caxias, adotaram uma estratégia de cercos,
divisão territorial e negociação. Caxias procurou desarticular o movimento
farroupilha, garantindo a ocupação de pontos estratégicos e realizando operações
de limpeza nos territórios que permaneciam sob controle rebelde. Ao mesmo tempo,
foi promovida uma anistia gradual aos líderes farrapos, visando a desmobilização
interna do movimento.

Caxias foi fundamental para a pacificação da província, utilizando um conjunto de


forças militares e políticas para minimizar as resistências. Flores (2007) observa que
“Caxias teve sucesso em reduzir a resistência farrapilha por meio da ocupação
militar, mas também soube negociar com as elites locais, garantindo que os líderes
da revolução retornassem ao Exército Imperial sem sofrer represálias” (p. 175).

7.6 O ACORDO DO PONCHE VERDE E A RESTAURAÇÃO DA ORDEM

O conflito chegou ao seu término com o Acordo de Ponche Verde, assinado em 1º


de março de 1845. Esse acordo, sem um registro formal, resultou em uma paz
imposta que restaurou a ordem sob o controle imperial, mas sem reformas sociais
significativas. As forças farroupilhas foram amnistiadas, e os comandantes de
guerra foram reintegrados ao Exército Imperial. No entanto, os negros que haviam
lutado nas fileiras farroupilhas não foram libertados, sendo ignorados nas
negociações e remetidos à sua condição anterior de escravizados.

7.7 A ECONOMIA DURANTE A REVOLUÇÃO DE FARROUPILHA

Com o início da revolução em setembro de 1835, a estrutura econômica da província


foi gradualmente desorganizada. A guerra prolongada exigiu recursos materiais,
financeiros e humanos, mobilizando a produção para sustentar o esforço bélico. As
20

estâncias passaram a servir como pontos logísticos e fontes de abastecimento das


tropas, fornecendo gado, cavalos, couro, armas improvisadas e alimentos.

As constantes batalhas e a instabilidade nas regiões rurais levaram à devastação de


propriedades, interrupção das atividades produtivas e perdas comerciais. Muitas
famílias estancieiras tiveram seus rebanhos requisitados pelos dois lados do conflito,
enquanto o comércio interprovincial ficou comprometido. A desvalorização do
charque e a perda de rotas comerciais estratégicas agravaram a crise econômica.

Nesse contexto, o papel da mão de obra escrava também se modificou. Muitos


escravizados foram enviados ao front, prometendo-se, em alguns casos, a liberdade
em troca da participação nas tropas farroupilhas, formando os chamados Lanceiros
Negros. Porém, essa promessa raramente foi oficializada, e a maioria continuou na
condição de propriedade mesmo após anos de serviço militar. Flores (2004) observa
que "os escravos foram utilizados como mão de obra de guerra e carne de canhão,
sem qualquer segurança jurídica de sua libertação" (p. 88).

A economia de guerra também se apoiou em formas emergenciais de arrecadação,


como a cunhagem de moeda própria e a requisição compulsória de produtos. Tais
medidas, no entanto, não conseguiram evitar o empobrecimento da província nem
garantir a estabilidade econômica da República Rio-Grandense. As cidades,
especialmente Porto Alegre, sofreram saques e alterações em suas rotinas
comerciais, enquanto vilas menores viram sua população fugir diante da ameaça de
invasões e confrontos.

7.7 A ECONOMIA APÓS A REVOLUÇÃO DE FARROUPILHA

Após o fim do conflito, em 1845, com o Acordo de Ponche Verde, não houve
rupturas significativas na ordem econômica. O modelo agroexportador pecuarista
foi restabelecido, com base na grande propriedade e na manutenção da escravidão.
21

Os estancieiros que lideraram a revolta foram anistiados, reintegrados ao Exército


Imperial e retomaram suas atividades comerciais sem enfrentar grandes prejuízos
políticos ou econômicos.

A economia voltou ao seu ritmo anterior, e a produção de charque foi intensificada


nas décadas seguintes, acompanhando o crescimento da demanda nas lavouras do
centro-sul do país. As cidades de Pelotas e Rio Grande tornaram-se polos
industriais do charque, com intensa utilização da mão de obra escravizada até a
abolição formal em 1888.

A grande contradição desse retorno à normalidade foi a completa exclusão dos


negros combatentes. Muitos dos escravizados que lutaram pelos farrapos foram
reincorporados à condição de cativos, outros vendidos ou mortos após o conflito.
A estrutura econômica se manteve excludente e racializada.

Para Flores (2007), a derrota política dos farrapos não significou o enfraquecimento
da elite: “pelo contrário, a reconciliação com o Império garantiu a continuidade dos
seus privilégios, enquanto os negros foram apagados tanto da economia quanto da
história” (p. 198).

​ 8. CONCLUSÃO

A Revolução Farroupilha foi um movimento de longa duração, articulado a partir de


tensões regionais, econômicas e políticas entre a elite estancieira do Rio Grande do
Sul e o governo imperial brasileiro. Iniciada com o objetivo declarado de conquistar
autonomia administrativa e justiça fiscal, a revolta evoluiu para um projeto
republicano que, embora se revestisse de ideais liberais, manteve intactas as
estruturas sociais excludentes da sociedade sulista, particularmente a escravidão.

Ao longo de dez anos de conflito, os farroupilhas proclamaram repúblicas, travaram


batalhas importantes e organizaram instituições políticas próprias. No entanto, o
discurso de liberdade e república foi limitado a um grupo restrito: não houve
ampliação de cidadania, nem transformação das bases econômicas ou sociais da
província. O uso estratégico de escravizados como força de combate — e sua
22

posterior traição no Massacre de Porongos — evidencia a contradição central da


revolução: proclamava-se liberdade, mas praticava-se a exclusão e a submissão.

A leitura crítica oferecida por Moacyr Flores revela que o movimento foi, em
essência, um projeto de elite, que teve como finalidade preservar o poder econômico
e político dos grandes proprietários frente à centralização imperial. Após o fim da
guerra, os líderes foram anistiados e reintegrados ao Exército, enquanto os negros
combatentes foram ignorados ou retornaram à condição de cativos. A ordem social
foi restaurada sem reformas, e a escravidão continuou a sustentar a economia da
província até o final do século.

Portanto, compreender a Revolução Farroupilha requer mais do que a exaltação de


feitos militares ou símbolos heroicos: exige a análise crítica de suas contradições, de
seus silenciamentos e das estruturas de poder que buscou manter. O conflito
farroupilha, ao contrário de representar um marco de emancipação popular,
constitui-se como exemplo de como as lutas políticas podem ocultar — ou mesmo
reforçar — sistemas de opressão quando não acompanham um verdadeiro projeto
de transformação social.
23

9. PLANO DE AULA


24

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC,


2018.

FLORES, Moacyr. Negros na Revolução Farroupilha: traição em Porongos e farsa


em Ponche Verde. Porto Alegre: EST, 2004.

FLORES, Moacyr. Revolução dos Farrapos. Porto Alegre: EST, 2007.

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