Por que (não) ensinar
gramática na escola
Henrique Moreira 845552
Gabrielly Freitas 847674
Vinicius José 804225
Bruno Henrique 800340
Victoria Da silva 846733
Rafael Abrão Alvarez 800326
Ana Beatriz dos Reis
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sumário
Parte 1:
O papel da escola é ensinar a língua padrão
Todos os falantes são competentes
Não existem línguas ou dialetos “primitivos”
A variação e a mudança são inerentes a língua
Parte 2:
Os Três Conceitos de Gramática
Revisão dos Conceitos de "Regra" e "Erro"
Esboço Prático para o Ensino
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O Papel da Escola é Ensinar a
Língua Padrão:
A escola tem um papel fundamental em ensinar a língua padrão, porque ela é a
variedade usada nos contextos formais como concursos, vestibulares, redações
acadêmicas, entrevistas de emprego, mas isso não significa desvalorizar as
outras formas de falar. O português falado nas ruas, nas casas, nas
comunidades, as variações linguísticas são legítimas e carregam cultura,
identidade e história.
Possenti argumenta que a escola deve ensinar a norma-padrão de forma crítica
e consciente, mostrando que ela é uma variedade entre outras, com uma função
social específica. O aluno precisa entender quando usar a norma-padrão, por
que ela é exigida em certos contextos e como ela se relaciona com a variedade
que ele já domina.
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Todos os Falantes são
Competentes:
Quando uma criança aprende a falar, ela não recebe aulas de gramática — ela
observa, escuta, experimenta e, naturalmente, constrói frases corretas dentro das
regras da língua que está adquirindo. Isso já é um sinal de competência. E essa
competência é compartilhada por todos os falantes.
O problema é que a sociedade costuma julgar essa competência a partir da
norma-padrão, e não da capacidade real de se comunicar. Quando um aluno diz
"nós vai", por exemplo, ele não está cometendo um "erro" por falta de inteligência
ou de esforço. Ele está seguindo as regras de uma variedade linguística legítima,
que funciona, comunica e tem coerência interna.
Possenti reforça que dizer que todos os falantes são competentes não significa
que todos sabem a norma-padrão, mas sim que todos sabem falar sua língua
materna com fluência e lógica, de acordo com seu grupo social e cultural.
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Não Existem Línguas ou
Dialetos “Primitivos”
A ideia de que algumas línguas são “atrasadas” ou “simples” surge do
preconceito, não da ciência. Por exemplo, dialetos falados por
comunidades pobres ou rurais costumam ser considerados “errados”
ou “feios”, enquanto o falar de classes mais altas é visto como o
“correto”.
Mas isso não tem a ver com a língua em si tem a ver com quem a fala.
Possenti mostra que até mesmo línguas indígenas, que algumas
pessoas chamam (erroneamente) de “primitivas”, possuem
estruturas gramaticais riquíssimas, com regras tão sofisticadas
quanto as do português ou do inglês. Ou seja, a complexidade
linguística não depende do número de falantes ou da fama da língua
— toda língua é um sistema completo de comunicação.
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A Variação e a Mudança são
Inerentes à Língua
A língua muda porque as pessoas mudam. Cada grupo social, cada geração,
cada região tem seu jeito próprio de falar, de se expressar. Isso é variação
linguística e ela está por toda parte: no sotaque, no vocabulário, na forma
de construir frases. Falar diferente não é falar errado. É falar de acordo com
o lugar em que se vive, com a história que se carrega, com a realidade de
cada um.
Ao tratar a língua como algo dinâmico, Possenti nos ajuda a entender que o
papel da escola não deve ser o de “consertar” a fala do aluno, mas sim de
respeitar a diversidade linguística, acolher as diferentes formas de
expressão e ensinar a norma culta como uma ferramenta, e não como uma
regra absoluta. No fim das contas, ele propõe uma educação linguística
mais humana, mais justa e mais próxima da realidade dos estudantes.
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Parte 2:
Redefinição da Gramática e Proposta de Ensino
Nesta seção, o autor aprofunda o conceito de
"gramática" e oferece um esboço prático de
como seu ensino poderia ser reconfigurado
na escola.
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Os Três Conceitos de Gramática:
A palavra "gramática" não é unívoca. Possenti destaca três
entendimentos principais:
Gramática Normativa/Prescritiva
Gramática Descritiva
Gramática Internalizada
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Gramática Normativa/Prescritiva
O que é?
Um conjunto de regras que devem ser seguidas. Seu objetivo é ensinar a "falar e escrever
corretamente" , tendo como modelo a variedade padrão ou "norma culta" da língua , que
geralmente se baseia na língua literária e em formas mais antigas.
Como funciona?
Ela prescreve (receita) para o uso da língua e reprova os desvios, classificando-os como
"erros", "vícios de linguagem" ou "vulgarismos".
Exemplos:
Regência verbal: Insistir que o correto é dizer "prefiro isso a aquilo" e não "prefiro isso do
que aquilo"
Concordância verbal: que a única forma aceitável para o verbo "pôr" com o sujeito "eles" é
"eles puseram", e que formas como "eles pusero" ou "eles pôs" são erros.
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Gramática Descritiva
O que é?
Um conjunto de regras que são de fato seguidas pelos falantes. Ela busca
descrever e explicar a língua tal como ela é na prática.
Como funciona?
Ela observa os fatos linguísticos sem preconceito, considerando todas as
variações (sociais, regionais, de formalidade) como dados válidos para análise.
Para ela, não há "erros", mas sim "diferenças" entre as variedades da língua.
Exemplos:
Variações na concordância: (os menino foi à escola/ os meninos foi à escola/ os
meninos foram à escola).
Mudança no tempo verbal: O futuro do presente ("irei", "farei") foi substituído
pela forma "vou" + infinitivo ("vou ir", "vou fazer") , e o pretérito mais-que-perfeito
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("fizera") foi substituído pela forma "tinha" + particípio ("tinha feito").
Gramática Internalizada
O que é?
Um conjunto de regras que o falante domina de forma intuitiva. É uma capacidade mental que
permite ao indivíduo gerar e interpretar um número infinito de frases
Como funciona?
Não é um conhecimento aprendido por estudo, mas adquirido naturalmente na infância. O
falante sabe as regras, mas não sabe que sabe, nem consegue explicitá-las na maioria das vezes.
A existência dessa gramática é evidenciada por certos "erros" criativos.
Exemplos
Fala das crianças: Uma criança pode dizer "eu sabo" ou "eu fazi". Ela nunca ouviu um adulto dizer
isso; portanto, não está imitando. O que ela fez foi internalizar a regra geral de conjugação da
primeira pessoa (como em "eu canto", "eu como") e aplicá-la de forma criativa a um verbo irregular.
Isso prova que ela não decora frases, mas domina um sistema de regras.
Conhecimento de sintaxe: Todo falante sabe que se diz "a casa" e não "casa a", ou "os meninos" e
não "meninos os". Essa noção da ordem correta das palavras é uma parte fundamental da
gramática internalizada, que funciona mesmo para quem nunca estudou análise sintática. 11
Questões
e
Discussão
O foco exclusivo na gramática normativa pode gerar desinteresse e frustração nos
alunos, especialmente quando a abordagem é puramente mecânica e
descontextualizada.
O excesso de ênfase na norma padrão pode negligenciar a importância da variação
da linguística e das outras formas de expressão, limitando a
a comunicação comunicativa dos alunos.
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Revisão do conceito de “regra” e “erro”
Revisitando esses conceitos com outro olhar e fazendo uma ponte entre
a teoria dos tipos de gramática e a prática de ensino
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Sentido de “regra” e relação com as
gramáticas
Regra como obrigação
O que se deve fazer (ex.: regras de etiqueta, “falar certo”)
Regra como regularidade
Padrão que se observa naturalmente na fala
Três gramáticas
Normativa = regra como obrigação -> define o certo e o errado, exclui variedades
populares.
Descritiva = regra como padrão observado -> descreve como as pessoas realmente
falam.
Internalizada = regra como conhecimento implícito -> o falante já sabe e aplica sem
perceber.
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Lingua e Erro
Língua
Normativa: Fala culta e literária, diferente é “vício”
Descritiva: Toda fala é língua - Entender as variações
Erro
Normativa: Qualquer coisa fora da norma
Descritiva: Não faz parte de nenhuma variedade da língua.
Diferença linguística ≠ erro linguístico
Exemplo: “os menino”
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Hipercorreções e hipóteses
linguísticas
Aprender a norma padrão leva a criação de hipóteses
Hipóteses além do necessário → Hipercorreções
“Erros” (normativos) tem lógica no fundo - Processo de
aprendizagem
Ex: “poder-mos” por “podermos”
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Ortografia, variações e o papel da
escola
Erros podem vir de diferenças entre som e grafia
Variação geográfica e social
Norma escrita é distante para muitos alunos
Papel da escola
Ajudar o aluno a transitar para a norma escrita,
reconhecendo que ele já tem conhecimento linguístico, só
precisa expandir.
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Esboço prático para o ensino da língua
No final do texto, o autor propõe um caminho mais eficiente
para o ensino do português na escola.
Ele propõe focar em um ensino baseado no uso real da língua:
leitura, escrita e reflexão.
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O que fazer na prática
Trabalhar com textos reais e variados
Explorar produção de textos com diferentes objetivos
Promover reescrita e revisão como parte do processo
Ensinar gramática somente quando fizer sentido
O objetivo não é decorar regras, mas usar a língua com
clareza, coerência e propósito
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Atitudes do professor
Valorizar o conhecimento que o aluno já tem
Enxergar o erro como ponto de partida para reflexão
Ensinar língua é ensinar a pensar, argumentar e comunicar
bem, não apenas aplicar regras
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Conclusão: o papel da escola
A escola deve garantir acesso ao português padrão
O ensino precisar ser ativo, contextualizado e com sentido social
Menos gramática solta, mais leitura, produção de texto e discussão
real sobre a linguagem
“Língua não se ensina, se aprende. E se aprende usando” - Sírio Possenti
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Obrigado!
Obrigado!
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