Teologia Sisitemática III
Teologia Sisitemática III
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CAPITULO 1
SALVAÇÃO: CONCEITOS VARIADOS
1 .1 CONCEITUANDO A SALVAÇÃO
Nos capítulos 5-8 de Teologia Sistemática 2 contemplamos as más noticias do pecado e suas consequências.
A partir de capítulo 9 do mesmo volume, começamos as boas notícias de Cristo, sendo a sua pessoa e obra
redentora a solução para o pecado. Nestes primeiros capítulos de Teologia Sistemática 3 veremos como a
obra redentora de Cristo torna-se uma realidade na vida humana; em outras palavras, como podemos obter a
salvação em Cristo. Agora, para começar, precisamos saber com clareza o que quer dizer este termo, salvação.
Salvação é um termo muito abrangente. Num certo sentido salvação abrange três grandes questões no
estudo teológico:
"Ela dará à luz um filho, e você deverá dor-lhe o nome de Jesus, porque ele salvará a seu pavo dos seus
pecados" (Mt 1.21).
"Mas agora que vocês foram libertados do pecado e se tornaram escravos de Deus, o fruto que colhem
leva à santidade, e o seu fim é a vida eterna. Pois o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de
Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor" (Rm 6.22-23).
': .. como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação? Esta salvação, primeiramente
anunciada pelo Senhor, foi-nos confirmada pelos que a ouviram" (Hb 2.3).
"Embora sendo Filho, ele aprendeu a obedecer por meio daquilo que sofreu; e, uma vez aperfeiçoado,
tornou-se a fonte de eterna salvação para todos 05 que lhe obedecem" (Hb 5.8-9).
Na salvação há livramento pleno do pecado e das consequências da queda. As consequências são de diversos
tipos. Como estudamos anteriormente, algumas consequências são hereditárias, como doença e morte. Outras
consequências se encontram no próprio ambiente em que vivemos, como corrupção política, a influência maléfica
da mídia e a natureza danificada. A salvação final destas consequências só será realizada na volta de Cristo, mas,
desde já, devemos trabalhar para mudanças nestas áreas hereditárias e ambientais. Francis Schaeffer, admitindo
que a salvação final destas consequências seja futura, falou que os cristãos devem trabalhar em prol de mudanças
"significativas"; por exemplo, na área de curas físicas, a restauração da sociedade e do meio ambiente.
Mas, os efeitos morais da queda, as consequências que nos atingem por causa do nosso próprio pecado,
destas sim, podemos ser salvos hoje. Aqui fazemos uma lista parcial de consequências do pecado e a salvação
prometida em Cristo:
Consequências do nosso pecado: Salvação prometida:
Coração enganoso e corrupto Novo coração - Ez 36.26; At 15.9; Rm 5.5
Mente, consciência impura Mente renovada - Rm 12.2; Ef 4.23
Escravidão ao pecado Libertação do pecado - Jo 8.36; Rm 6.16,18
Natureza pecaminosa Nova Natureza - 2 Co 5.17, G12.20
Morte eterna Vida eterna - Rm 6.23; I Co 15.21, 26, 54-56
Apesar de não ensinar salvação por mérito humano, havia espaço no sistema dele para mérito. E aqui
Aquino entrou em terreno perigoso. No conceito dele, através da graça, poderia se ganhar o mérito; mas
através do mérito não se pode ganhar a graça. Seu termo, "graça cooperante" quer dizer que por cooperar
com a graça de Deus o cristão merece o reino dos céus. Esta graça é iniciada e mantida pelos sacramentos,
produzindo os "hábitos" de fé, esperança e amor.
Nota se aqui um conceito de salvação voltado para uma sinergia entre a graça e merecimento humano:
mas ainda não era simplesmente salvação pelas obras - esta tendência veio mais tarde (JOHNSON,308) .
O Concílio de Trento (1545-63) aconteceu depois do início da reforma protestante. Era resultado da
contrarreforma católica que tentou combater a reforma protestante e também solidificar as doutrinas e práticas
da igreja romana (Neste concílio, os teólogos tomaram uma decisão muito perigosa: decidiram atribuir à
tradição da igreja a mesma autoridade das escrituras). Em relação à salvação, rejeitaram tanto o pelagianismo
(salvação por merecimento) quanto o conceito protestante de pecado original (Dictionary of the Christian
Church. Editor: J.D. Douglas. Grand Rapids: Zondervan, 1978. p.985) . Mas, a justificação era o assunto mais
importante. Trent afirmou que para a salvação, precisava a infusão da graça de Deus na alma humana baseada
na morte de Cristo. O dever do cristão é de cooperar com a graça recebida (JOHNSON, 309).
••
Os Evangélicos. Paralelamente com o liberalismo que assolou as
igrejas históricas, e a posição um tanto ambivalente de Barth, havia grupos
significativos de crentes que mantiveram a fé fundamentada na Bíblia
e criam na doutrina ortodoxa e histórica da salvação. Foi inicialmente
conhecido como os fundamentalistas por se alicerçarem nas doutrinas
fundamentais da Bíblia. Este grupo, influenciado por teólogos eruditos
do Princeton Theological Seminary como Hodge e Warfield e encabeçado
por John Gresham Machen (1881 -1937), levantou uma bandeira de
ortodoxia contra a teologia liberal e neo-ortodoxa e restaurou o conceito
bíblico e histórico de salvação. Infelizmente, depois de algumas décadas, o
movimento fundamenta lista perdeu o rumo, radicalizando e acrescentando
"fundamentos" secundários e culturais. A liderança ortodoxa e bíblica foi
assumida por líderes mais centrados como o evangelista Billy Graham e o
teólogo Carl Henry. Estes conservadores mais moderados foram chamados
evangélicos a partir dos anos pós-guerra, uma palavra que "visa transmitir
o sentido de que ela é protestante e atesta as boas novas do evangelho"
(OLSON, Roger. História da Teologia cristã. São Paulo: Vida, 2001. p. 609). FlG.,JQHNGRESHAM MACHEN;em
Este grupo, espalhado pelo mundo inteiro, continua comprometido com romulomonteiro.blogspot,com; em
evangelismo e missões, realizando evangelismo em massa e individual, 19.mar.2012
enviando missionários ao mundo todo e chamando as pessoas para tomarem uma decisão ao lado de Cristo,
assim experimentando pessoalmente a salvação Nele.
3 VAP,AÇOES ATUAIS
Agora, em pleno século 21, existe um leque de crenças a respeito da salvação. A Igreja Católica continua
forte com suas ideias focadas mais na salvação pelos sacramentos e popularmente, pelas boas ações e
intercessão de santos. No lado protestante mais liberal, continuam a existir vertentes pluralistas que creem
que todos serão salvos, independentemente da sua religião. Outra ala mais liberal é a teologia da libertação,
que enxerga salvação como a libertação política/econômica de povos oprimidos.
Mas entre os cristãos protestantes conservadores, os evangélicos, também há diversas ênfases a respeito
da sa lvação. Não temos espaço aqui para entrar em pormenores, nem identificar a soteriologia das milhares
de denominações existentes. Mas, podemos identificar alguns pontos de divergência que existem a respeito de
salvação entre as teologias comprometidas com a autoridade bíblica. Ao apontar estas diferenças, precisamos
lembrar de que todos creem na essência da salvação: creem na mensagem bíblica que, por iniciativa de Deus,
somos salvos por fé em Cristo, não por obras humanas.
Um dos pontos mais controvertidos entre estes dois grupos é a questão mencionada anteriormente
de monergismo ou sinergismo. Monergismo afirma que Deus é o único (mono) agente ativo no processo da
salvação. A sequê ncia para todos os indivíduos é que Deus elegeu certos indivíduos para salvação, morreu
por estes (e somente por estes), efetivamente chama-os, justifica-os, e os glorificará garantindo a sua salvação
eterna (Esta posição, às vezes, é chamada popularmente como predestinação).
O Sinergismo afirma que existem dois agentes ativos no processo de salvação: Deus e a pessoa. Deus
não elegeu indivíduos, mas um povo para ser seu. Cristo morreu por todos, deixando a quem quiser atender
a chamada e fazer parte deste povo, um povo justificado e glorificado. Sinergistas não dividem igualmente a
ação entre o homem e Deus : Deus é quem graciosamente toma a iniciativa e salva a pessoa, mas precisa, no
mínimo, do consentimento do indivíduo através do arrependimento e fé. Estas ações humanas não são obras,
mas condições para receber o dom da salvação. A maioria dos pentecostais faz parte do grupo dos sinergistas.
CONCLUSÃO
O assunto dos primeiros cinco capítulos deste livro é a Soteriologia - a doutrina da salvação em Cristo.
No livro anterior estudamos a situação lamentável do pecador e em seguida a provisão de Deus - Cristo e sua
obra, a parte objetiva da solução. Na soteriologia estudamos a parte subjetiva - como a obra de Deus torna-
se uma realidade na vida do indivíduo. Definimos a salvação como Deus operando em Cristo para libertar o
pecador de sua escravidão e das consequências do pecado, culminando na vida eterna com Deus. Depois,
viajamos pela história para ver os acertos e erros a respeito da doutrina da salvação. Notamos dois momentos
críticos na história onde Deus levantou homens de Deus para se oporem ao erro: os reformadores lutaram
contra a salvação pelas obras e os fundamentalistas e evangélicos se opuseram a perda da mensagem da
salvação. Notamos que há pontos de divergência a respeito da salvação entre os evangélicos - os reformados
não concordam com os pietistas e nem todos concordam no papel do batismo na salvação. Apesar destas
divergências, há uma concordância entre os evangélicos de que salvação é de graça e pela fé em Cristo.
F'SU 'r
• Nosso assunto é a soteriologia - a doutrina da salvação. A Bíblia nos ensina que sem a salvação em
Cristo, não somente viveremos aqui na terra uma vida aquém daquilo que foi planejado por Deus,
mas nosso destino é a morte eterna. Todo ser humano precisa urgentemente da libertação de Cristo
do pecado e das suas consequências.
• No livro anterior, estudamos a doutrina do pecado que mostra a necessidade de salvação e a doutrina
de Cristo e sua obra que nos mostra a provisão divina . No estudo de soteriologia estudamos a
aplicação desta obra à vida do indivíduo.
• Salvação é a parte subjetiva da obra de Deus - a aplicação na vida do indivíduo de tudo que Deus já
fez para a recuperação do pecador. Definimos a salvação como Deus operando em Cristo para libertar
o pecador de sua escravidão e das consequências do pecado, culminando na vida eterna com Deus.
• Na era moderna, o liberalismo foi uma influência maléfica na doutrina de salvação, tirando a atuação
sobrenatural de Deus e introduzindo o universalismo - que todos serão salvos. Os fundamenta listas
se opuseram corajosamente a este desvio, tarefa depois assumida pelos chamados evangélicos que
até hoje pregam a necessidade de uma experiência pessoal de salvação para todos.
• Os cristãos conservadores, que ensinam a salvação em Cristo pela fé, diferem em alguns pontos da
Soteriologia. Os reformados dão mais ênfase à doutrina correta e creem no monergismo - que Deus
é o único agente ativo na salvação e somente os divinamente eleitos serão salvos. Os pietistas dão
mais ênfase à piedade pessoal e à vida cristã prática e são sinergistas - creem que Deus graciosamente
toma a iniciativa, salva a pessoa, mas espera o livre consentimento do indivíduo em arrependimento
e fé para efetuar a salvação.
• A outra divergência maior a respeito da salvação é o papel do batismo. Os luteranos creem que o
batismo é um meio de graça para salvação e incluem as crianças. Os reformados veem o batismo
como sinal e selo definitivo da aliança de Deus com o crente e também incluem as crianças na
aliança . A maioria dos evangélicos vê o batismo como prova da salvação administrado a quem já se
arrependeu e exerceu a fé salvadora.
f\l -Df
A salvação, segundo a Bíblia, é uma obra de Deus, não uma obra humana.
Mas, com muita facilidade esquecemos que salvação bíblica tem sua origem,
desenvolvimento e culminação na ação graciosa de Deus e não nas obras
humanas. Neste capítulo começaremos o nosso estudo sobre a obra divina da
salvação dividindo-o em três partes : a falácia da autossalvação, a convicção
do pecado e a justificação. No capítulo 3 continuaremos o estudo de salvação
como obra de Deus.
A ALAGA DA AUTOSSALVAÇI\O
Quando o ser humano percebe a sua condição de perdido existe uma
reação humana instintiva de procurar remediar a situação por esforço
próprio. Podemos chamar esta busca autônoma de uma solução de a perigosa
"mentalidade da balança". Todos sabem como ela funciona. Temos em nossa
mente uma balança imaginária . Em um dos pratos, estão todos os nossos
pecados e falhas, que pesam em nossa consciência.
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2.2 CONViCÇÃO
o Espírito Santo é constantemente atuante nesse mundo para levar as pessoas à salvação em Cristo.
Wiley destaca bem esta atuação: "A expiação consumada do nosso Senhor Jesus Cristo torna-se efetiva na
salvação dos homens apenas quando administrada aos crentes pelo Espírito Santo. A obra do Espírito em nós
é tão necessária para a salvação como a provisão de Cristo por nós.'"
Em primeiro lugar o Espírito está atuando de forma geral no mundo todo para levar pessoas à salvação.
Paulo afirma que Deus nunca ficou sem testemunho: "Contudo, Deus não ficou sem testemunho; mostrou
sua bondade, dando-lhes chuva do céu e colheitas no tempo certo, concedendo-lhes sustento com fartura e
um coração cheio de alegria" (Atos 14.17).
Há exemplos bíblicos deste testemunho do Deus verdadeiro tanto na Bíblia quanto na experiência de
missionários até hoje. Melquisedeque é um exemplo do Antigo Testamento (Gn. 14.17-24). Abrão o encontra
pela primeira vez e descobre que ele já conhecia o mesmo Deus da Abrão. Como poderia conhecê-lo sem ter
contato prévio com o pai do povo de Deus? Não sabemos, mas Deus não fica sem testemunho da salvação.
No Novo Testamento, a conversão do Etiope (Atos 8.26-40), a experiência de Paulo a caminho de Damasco
(Atos 9.1-18) e a visão de Cornélio (Atos 10) testificam de que a graça de Deus é maior do que a atividade
evangelística humana. Nos dias de hoje, Don Richardson relata diversas histórias como O Espírito havia preparado
o coração de vários povos antes da chegada do missionário. (RICHARDSON, Don. O Fator Melquisedeque. São
Paulo: Vida Nova, 1986).
O apóstolo Paulo também argumentou que Deus trabalha no mundo inteiro para mostrar às pessoas o
seu pecado e necessidade de salvação. Mostra em Romanos 1 que a própria natureza revela a existência e
natureza de Deus e por esta revelação as pessoas tornam-se moralmente responsáveis.
"Pois desde a criação do mundo os atributos invisíveis de Deus, seu eterno poder e sua natureza divina,
têm sido vistos claramente, sendo compreendidos por meio das coisas criadas, de forma que tais homens
são indesculpáveis" (Rm 1.20).
Paulo, num parêntese no seu discurso, desenvolve o argumento no capítulo 2, dizendo que além do
testemunho objetivo, através da natureza, quanto à necessidade de salvação, também há um testemunho
1· WllEY, H.Horton; CULBERTSON, Paul T. Introdução à Teologia Cristã. São Paulo: Casa Nazarena, 1990. p. 292.
subjetivo e interno, a consciência do certo e errado gravada no coração : "De fato, quando os gentios, que não
têm a lei, praticam naturalmente o que ela ordena, tornam-se lei para si mesmos, embora não possuam a
lei; pois mostram que as exigências da lei estão gravadas em seus corações. Disso dão testemunho também a
consciência e os pensamentos deles, ora acusando-os, ora defendendo-os." (Rm 2:14-15)
Deus, de fato, é ativo no mundo todo, estendendo a sua chamada a todos para que reconheçam seu
estado de pecado e venham a conhecer a sua salvação. Diz Wiley: "O agente da chamada é o Espírito Santo e a
Palavra é o instrumento das Suas operações. A chamada é universal em seu alcance e abrange a proclamação,
as condições pelas quais se oferece a salvação e o mandamento para se submeter à autoridade de Cristo.
Despertamento é o termo usado na Teologia para denotar a operação do Espírito Santo por meio da qual as
mentes humanas são vivificadas ao reconhecimento do seu estado de perdição" (WILEY, P.296) .
Este processo, além de ser uma ação direta no coração humano, fatalmente inclui a instrumentalidade
da Palavra pregada sob o poder do Espírito. Atos 16:14 diz que quando Paulo compartilhava a verdade com as
mulheres em Filipos: "O Senhor abriu seus corações para atender à mensagem de Paulo."
Convicção do pecado é uma das primeiras ações divinas para aplicar os benefícios da cruz ao pecador; e
devemos cooperar com Deus neste trabalho. Os dez mandamentos jamais salvarão alguém, mas devem fazer
parte da nossa pregação para que o Espírito possa usar esta ferramenta para trazer convicção de pecado para
o perdido. Não devemos ser tímidos em expor as normas morais divinas em nossa pregação das boas novas;
para as boas noticias da salvação serem eficazes, primeiro o pecador precisa ser convicto das más noticias da
sua perdição.
•
2.3.2 CONCEITUANDO A JUSTIFICAÇÃO
Justificação pela fé não foi inventada por Lutero e pelos outros reformadores do século 16, mas estes líderes
resgataram a doutrina que havia ficado distorcida em épocas anteriores. Na época de Lutero, "Acreditava-se
que ... a responsabilidade do pecador (era) agir em favor da sua própria alma com rigorosa autoanálise, boas
obras e abnegação, oração e práticas piedosas" (OLSON, 386) . Alguns pais da igreja não fizeram uma distinção
entre a obra de Deus de justificação e regeneração. Atribuíram à justificação a transformação comportamental do
cristão: consequentemente, no entendimento popular, pessoas acharam que ao transformar seu comportamento
(e receber os sacramentos) poderiam ganhar a justificação. Foram Lutero e os reformadores que Deus usou
para mostrar que a justificação era um ato divino em resposta a fé somente, independentemente de obras.
Lutero era um monge muito sincero e piedoso com uma consciência ultrassensível. Confessava tantas
vezes que seu confessor finalmente o avisou a só vir a ele quando de fato tivesse algo realmente pecaminoso
para confessar! Seu mentor, vendo a sua autoflagelação e tormento interior recomendou que saísse do
mosteiro para estudar na universidade de Frankfurt. Lutero obteve a doutorado em teologia e começou a
lecionar matérias bíblicas. Enquanto preparava lições de Romanos, entre 1513-1518, começou a ter algumas
experiências intelectuais e espirituais que transformaram sua vida e ministério, principalmente a doutrina de
justificação pela fé.
Lutero considerava a doutrina da justificação não apenas mais uma doutrina, mas "o artigo fundamental
da fé, pelo qual a igreja se firmará ou cairá e do qual depende toda a doutrina." Explicou a justificação como
uma troca: "Como noivos que permutam as posses no casamento, o pecador recebe a justificação de Cristo e
Cristo assume seus pecados"(OLSON, 399).
tem fé em Jesus."
NOTA: justificação visa "justiça pública" e não um pagamento exato por um " x" número de pessoas.
Justiça pública quer dizer que a punição precisa ser suficiente para manter a reputação e a dignidade
da lei e do governo e mostrar que não vale a pena desobedecer. Em outras palavras, a expiação
valeu para todas as pessoas e não por um número predeterminado.
• Justificação denota a parte da salvação que acontece " nos céus" e não no coração humano; é mais
objetivo do que subjetivo. A parte subjetiva da salvação veremos depois nos tópicos de regeneração
e santificação. De certa forma, a justificação acontece nos "arquivos de Deus" - o registro da nossa
criminalidade é removido. Conheci um jovem que se envolveu com drogas e criminalidade e depois
se converteu. Por dever de consciência achou que deveria restituir o que roubou e se colocar na
misericórdia da justiça . Ao se entregar, descobriu que não havia nada registrado contra ele ... seus
arquivos de acusação haviam sumidos. É assim com a justificação. Nos arquivos divinos existe o
registro das nossas ofensas. Na justificação, estes arquivos da nossa dívida para com Deus são
anulados e substituídos com um recado "Tudo Pago" e assinado por Cristo!
• Justificação leva à reconciliação. A parte subjetiva da justificação é a compreensão de que fomos
perdoados e reconciliados (Rm 5.1-11). Como desenvolveremos mais tarde, salvação como um
todo é relacional; a justificação não apenas visa ajeitar as questões legais, mas visa restaurar o
relacionamento homem-Deus pelo qual fomos criados. A questão legal da justificação é importante,
mas devemos lembrar o propósito original de Deus, de criar um povo que o ama e ama uns aos
outros. Justificação é um meio para realizar um fim maior, esta reconciliação.
I ~~:~:~~~. ~RA
[SEGUNDA PARTE)
DE DEUS
3.2 REGENERAÇÃO
o Novo Testamento usa vários termos para falar da regeneração: novo nascimento ou ser nascido de Deus
(Jo 3.3; Jo 1.13; 1 Jo 5.1, 4); vivificação (Ef 2.1, 5); renovação pelo Espírito (Tt 3.5) e nova criação (Ef 2.10; 2
Co 5.17) são sinõnimos usados. Em geral, Novo Nascimento e Regeneração são sinõnimos e vamos empregar
os dois termos neste estudo.
"Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criação. As coisas antigas já passaram; eis que surgiram coisas
novas." (2 Co 5.17)
Se a nossa experiência de novo nascimento não resultar em transformação de vida, não é uma experiência
verdadeira de regeneração. E o que é que pode ser feito? Tentar mudar com mais força de vontade? Não. É
necessário buscar um verdadeiro novo nascimento, voltando ás bases fundamentais de arrependimento e fé
como veremos no capítulo 3 deste livro.
A palavra em grego traduzida novo nascimento é 'palingenesia'. É composta de duas partes, palin, que
significa outra vez ou novamente e gênesis que significa nascimento - daí, novo nascimento. "No sentido de
regeneração espiritual envolvendo a comunicação de uma vida nova, os ... poderes operantes ... sendo a "palavra
da verdade" (Tiago 1.18; I Pedro 1.23) e o Espírito Santo, (João 3.5,6) ..." (VINE W.E. Expository Dictionary of
New Testament Words . Old Tappan: Revell,1981. p.267).
A fim de assegurar o nosso entendimento, listamos, em primeiro lugar alguns erros a respeito e depois
um breve sumário desta doutrina (Em parte adaptada de WILEY, 327-331).
3.2.4 ERROS A RESPEITO DO NOVO NASCIMENTO
1) Não é o batismo com água. A regeneração "batismal", com uma longa história na igreja, confunde
a realidade interior e espiritual do novo nascimento com o sinal externo da sua realidade.
2) Não é uma mera obra humana . Como notado anteriormente, o Pelagianismo considerava o novo
nascimento um ato de vontade humana . Este conceito nega a ação imediata do Espírito, o único
capaz de dar vida espiritual e transformar o pecador.
3) Não se efetua incondicionalmente. O monergismo (veja capítulo 1) ensina erradamente que o novo
nascimento é o primeiro passo na salvação e que se efetua sem nenhuma cooperação humana .
Veremos no próximo capítulo as condições humanas necessárias para nascer de novo.
3.3.1 INTRODUÇÃO
Ao buscar a santidade, nos encontramos na contracultu ra. Nosso mundo é crescentemente pecador
e corrupto. Deparamo-nos com a inversão de certo e errado . Recentemente um cantor jovem secular foi
duramente criticado por fazer declarações "polêmicas" - Era contra aborto e sexo antes do casamento! A maior
rede de televisão faz proselitismo de homossexualidade. A Globo News falou sobre uma pesquisa mostrando
infidelidade em 80% dos casamentos e a mídia desmascara a total falta de ética entre os governantes.
••
precisamos suportar (12.7), não sejam muitas vezes agradáveis, mas é para nosso bem e produz a santidade.
(Outros textos: Hb.12.14; 13.20,21; I Ts. 2.10; 4.3 ; 5.23; I Pedro 1.15,16; I João 3.1-10)
3.3.3.2 Definições
Com base na pesquisa bíblica e nas observações acima, podemos oferecer algumas definições da
santificação. Grudem define como "a obra progressiva de Deus e do homem que nos torna mais e mais livres
do pecado e iguais a Cristo" e Boyd como "o processo pelo qual os crentes passam a viver uma vida que honra a
Deus". Acredito que melhor seria: "A ação transformadora do Espírito para nos fazer mais semelhantes a Cristo".
As normas bíblicas de santidade são altas; mas, não cabe a nós ajustá-Ias cabe a nós nos ajustar a elas,
buscando um nível mais alto de santidade. Deus nos destinou a viver uma vida santa e trabalha para esta
finalidade de várias formas: levando à cruz o velho homem, assim nos libertando de nós mesmos, limitando
as tentações, nos enchendo com seu Santo Espírito e nos disciplinando. Santificação é uma obra de Deus.
CONCI.USÃO
Salvação é de origem divina; a "mental idade da balança" é uma falácia. Neste capítulo, procuramos
entender melhor aquilo que Deus faz para a salvação em Cristo virar uma realidade na vida do indivíduo. Jesus
fez uma obra completa na cruz; não falta nada. Mas, para esta salvação ser aplicada, Deus ativamente trabalha
na vida dos seres humanos. Sendo que ninguém procura ser sa lvo se não der conta da sua perdição, o Espírito
trabalha na convicção do pecado até que a pessoa esteja pronta para procurar uma solução divina. Depois,
Deus, em resposta à fé (não obras), justifica o injusto por causa do sacrifício de Cristo. Simultaneamente,
regenera o crente, dando uma vida nova e eterna. E, finalmente, Deus trabalha para santificá-lo, levando-o à
conformidade da imagem de Cristo .
Salvação é muito mais que força de vontade ou esforço humano. Salvação é a obra de Deus!
RESUMO DO CAPíTULO 3
• No capítulo anterior e neste capítulo, refletimos sobre quatro coisas que Deus faz para a salvação em
Cristo se tornar uma realidade pessoal, Convicção de pecado, justificação, regeneração e santificação.
Neste capítulo estudamos a regeneração (novo nascimento) e a santificação.
• Para começar, fizemos uma distinção entre a ação objetiva e subjetiva da ação de Deus. Justificação
é o lado objetivo - acontece fora de nós, nos arquivos de Deus. Regeneração é o lado subjetivo-
acontece no coração e vida pessoal do crente.
• Regeneração, a comunicação de vida espiritual e da vida eterna para o crente, acontece na vida aqui
na terra. Por ser a união com Cristo, é instantânea. Não é o resultado de boas obras, mas resulta
em transformação .
• Santificação é a ação transformadora do Espírito para nos fazer semelhantes a Cristo . Deus nos
destinou a viver uma vida santa e trabalha para esta finalidade de várias formas: levando à cruz o
velho homem, assim nos libertando de nós mesmos, limitando as tentações, nos enchendo com seu
Santo Espírito e nos disciplinando .
l!
• As normas divinas de santidade são altas. Diante das exigências bíblicas corremos o perigo de ir em
direção a dois extremos: de achar que podemos atingir um estado de santificação onde ficamos
imunes ao pecado - a chamada "impecabilidade"; ou de tentar diminuir as normas bíblicas e nos
acomodar a uma vida cheia de pecado.
da sua culpa a ponto de dizer que era mau desde sua concepção! "Sei que sou pecador desde que nasci, sim,
desde que me concebeu minha mãe"(5).
Também percebeu que tinha ofendido não somente a família da amante e a nação que liderava, mas tinha
ofendido a Deus. "Contra ti, só contra ti, pequei e fiz o que tu reprovas, de modo que justa é a tua sentença e
tens razão em condenar-me" (3,4).
E vemos que realmente decidiu mudar de atitude em relação ao pecado e em relação a Deus.
"Cria em mim um coração pura, ó Deus, e renova dentro de mim um espírito estável. Não me expulses da
tua presença, nem tires de mim o teu Santa Espírito. Devolve-me a alegria da tua salvação e sustenta-me
com um espírito pronto a obedecer. Então ensinarei os teus caminhos aos transgressores, para que os
pecadores se voltem para ti" (5151.10-13).
Agora, este é o caminho do verdadeiro arrependimento. Vamos examinar este caminho como descrito
na Bíblia (4:1.1) para depois conceituar (4:1.2) esta doutrina tão essencial para a salvação.
, .",
4.2.2 A CONCEITUAÇÃO DE ARREPENDIMENTO
Alguns termos bíblicos não são entendidos corretamente por causa do uso do termo em linguagem
popular. Arrependimento no dia a dia é uma palavra bem mais fraca do que o sentido que carrega no Novo
Testamento. Por isso, talvez seja interessante, antes de dizer o que é arrependimento, dizer o que não é:
• arrependimento não é apenas reconhecer que está errado. Muitas pessoas admitem que pecaram
e que não são perfeitas, mas não tomam nenhuma atitude a respeito. É a mentalidade do
confessionário: todo sábado confessa mas, pretende continuar a fazer o errado na semana seguinte.
Não há nenhum propósito de mudar de vida.
• Arrependimento não é remorso. Popularmente o arrependimento é a tristeza sentida por algo que
fizemos de errado e principalmente aparece quando somos "pegos" no flagrante! Sentir-se pesaroso
por causa das consequências em si de um ato errado é remorso, não arrependimento. Me lembro
de um garotão que a polícia pegou roubando galinhas. Estava chorando desesperadamente e senti
pena dele até que soube mais a seu respeito : o policial disse que era um jovem conhecido porque
era o costume dele sempre roubar. A razão do choro não era de arrependimento; chorava pelas
consequências, não porque tinha feito alguma coisa errada.
• Arrependimento não é autorreforma. Algumas pessoas decidem mudar algo na sua vida e· fazem:
decidem parar de fumar, praticar exercícios, voltar a estudar, perder peso ou gastar mais tempo
com a família. São todas coisas boas, mas não é arrependimento no sentido do Novo Testamento.
Na Bíblia, como veremos, arrependimento sempre implica uma mudança de atitude em relação a
Deus e seu governo.
O que é arrependimento, então? O arrependimento, metanoia, (veja VINE, 279-281) é essencialmente
uma mudança de mente em relação ao pecado e a Deus. Embora seja mudança na mente, o arrependimento
envolve, também, a emoção e a vontade. Estes três aspectos do verdadeiro arrependimento são dramaticamente
ilustrados na famosa parábola do filho pródigo (Lc 15.11-31). Como todos se lembram, o filho rebelde demanda
sua herança e sai para a 'terra distante' do pecado, desperdiçando tudo e finalmente passando necessidade.
Observe:
./ seu arrependimento começa no intelecto: Ele "caiu em si" (17), entendendo a loucura do pecado
e a lógica da volta .
./ Depois as suas emoções se envolvem: ele sente tristeza não apenas pelas consequências, mas pela
ofensa cometida contra seu pai (18,19,21) .
./ Finalmente, toma uma decisão "levantou-se e foi para seu pai" (20). O pai amoroso está a sua espera
e o recebe de braços abertos e festança.
O caminho para os braços salvadores do Pai é sempre via a estrada do arrependimento que envolve todo
seu ser: intelecto, emoções e volição. Como diz Grudem: "O arrependimento é algo que ocorre no coração e
envolve a totalidade da pessoa na decisão de abandonar o pecado" (GRUDEM, Wayne . Manual de Teologia.
São Paulo : Vida, 2001. p.340)
Agora, vamos para uma definição de arrependimento e depois fazer algumas observações a respeito
dela : "Uma profunda mudança de mente e coração que nos leva a rejeitar e deixar de lado todos os pecados
que conhecemos e a desistir do direito de governar a nossa própria vida independentemente de Deus" (Elmer
Murdoch).
atitude em relação a eles. Ao invés de curti-los, passamos a odiá-los. "O temor do Senhor é aborrecer o mal",
diz o sábio.
Mas, a mudança aborda algo mais profundo do que os pecados em si; aborda o egocentrismo que motivou
os pecados. Diz a definição, desistir do direito de governar a nossa vida independentemente de Deus. Pecado
é viver a nossa vida independente da direção de Deus. É a rejeição do governo de Deus e arrependimento é
a submissão ao seu Senhorio. Elmer Murdoch descreve o arrependimento como uma "meia volta espiritual".
Poderia ilustrá-lo assim:
Arrependimento - Um meia volla espiritual
A salvação é de Deus do começo ao fim . Mas, ele não a impõe unilateralmente sobre nós, porque respeita
o livre-arbítrio que Ele mesmo nos deu. Ele quer nosso consentimento e cooperação no seu processo de
convicção de pecado, justificação, novo nascimento e santificação. Precisamos cumprir duas condições para
recebermos a salvação: arrependimento e fé. Vimos que arrependimento é a decisão de abandonar os pecados
e o autogoverno atrás dos pecados. Fatalmente, o arrependimento nos conecta com a fé salvadora.
Arrependimento e fé andam de mãos dadas (Marcos 1.15). "A Escritura coloca o arrependimento e a fé
juntos, como aspectos diferentes do mesmo ato de ir a Cristo para ser salvo" (p.341, GRUDEM). Ao virar as
costas para o pecado (arrependimento), já estamos virando em direção à confiança em Cristo (Fé). De fato,
os dois geralmente acontecem juntos a ponto de confundi-los. John Murray fala de "fé penitente" ou de
"arrependimento confiante" (GRUDEM . P.341) .
NOTA: o termo bíblico para estas duas condições juntas é a conversão (João 12.40; Mat. 18.3; Lucas 22.32;
Tiago 5.19,20). É um termo mais abrangente incluindo todo o lado humano da salvação: arrependimento, fé
e possivelmente a transformação como resultado.
•
contemporâneos de Jesus ouviam suas reivindicações, mas nem todos concordavam que fossem
verdadeiras. Foi Pedro quem declarou: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo" (Mt 16.16). Jesus
declarou para Marta que ele era a ressurreição e a vida, e ela concordou que ele falava a verdade:
"Sim, Senhor, creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo" (Jo 11.27).
3) Compromisso (fiducia) - Conhecimento e concordância sem compromisso não constituem fé
salvadora. Os demônios conhecem os fatos de Cristo e o evangelho, sabem que são verdadeiros e
"tremem" (Tg 2.19), mas não se comprometem com Cristo. O jovem rico creu na verdade das palavras
de Jesus, mas foi embora triste porque O preço do compromisso era muito alto. Fé verdadeira sempre
gera a tomada de posição ao lado de Cristo. Na sua chamada dos discípulos, eles ouviram as suas
palavras, creram que eram verdadeiras, mas a hora critica seria o momento de decisão: Cristo disse
"Siga-me"". e tinham que se posicionar. Fé salvadora necessariamente inclui uma decisão de entregar
a vida a Ele, de confiar a sua vida nas suas mãos. É isso que significa crer em Jesus.
Estas duas condições, arrependimento é fé salvadora, são necessárias para receber a salvação. Quando
Deus percebe no coração estas duas condições, instantaneamente, graciosamente, sobrenaturalmente há
salvação! Naquela hora Deus justifica - apaga os pecados; Deus regenera - muda o coração e destino pela
presença no coração do crente; e Deus começa a obra de santificação.
Obviamente, como consequência desta salvação, há mudanças na vida da pessoa . Como pode não
haver mudanças se agora é habitado por Cristo? João Batista chamava estas mudanças de frutos dignos
de arrependimento (Mt 3.8 e Lc 3.8). A verdadeira fé produz fidelidade, a virtude que inclui obediência,
cumprimento de promessas, perseverança debaixo de dificuldades e também " boas obras" (Tg 2.14-26). A
presença de Cristo na vida produz o fruto do Espírito (GIS). Agora, precisamos sempre lembrar que salvação
em Cristo produz bom comportamento, mas bom comportamento não produz salvação!
As condições - arrependimento e fé - continuam como atitudes permanentes no cristão. Se pecar,
precisa confessar e arrepender-se do pecado (1 Jo 1.8). A fé deve permanecer (1 Co 13.13). Estas condições
continuam para o restante da vida. Agora, é importante acrescentar mais uma condição para continuar a viver
e a desenvolver a salvação; uma condição pouco comentada em nossos dias, mas fundamental para a visão
bíblica de salvação: o caminho da cruz, o último assunto deste capítulo.
CA NH( lUZ
"E ali haverá uma estrado, um cominho, que se chamará o cominho santo; o imundo não passará por ele,
mos será para aqueles; os caminhantes, até mesmo os loucas, não errarão" (Isaías 35:8).
O grande reformador Lutero é conhecido pela sua ênfase doutrinária de justificação pela graça mediante
a fé somente. Mas, por trás desta mensagem, Lutero detectou um princípio divino que norteou não somente
a doutrina da justificação pela fé, mas de toda a Teologia: a Teologia da cruz. A suprema revelação de Deus
se encontra no Deus crucificado. Os cristãos, seguidores deste Deus, devem ser conscientes que abnegação e
sofrimento fazem parte da salvação. Ele contrastou a teologia da cruz com o que chamava a teologia da glória.
A teologia da glória é "". a teologia centralizada no homem e induz a superestimação do poder e capacidade
naturais do homem" (OLSON. p. 291,292).
Acredito que precisamos declarar um jejum da Teologia da glória que domina uma parte do corpo de
Cristo, e tomar uma dose forte da Teologia da cruz. Nos dias de hoje, para muitos evangélicos, Deus se tornou
um meio e não um fim. Ele é apresentado como um meio para sucesso, saúde e prosperidade financeira. Mas
que aberração quando se compara esta "Teologia da glória" com o retrato bíblico de Jesus.
A Bíblia nos revela que ele mesmo morreu desprezado numa cruz aos 33 anos de idade, sem casa e com
um pequeno grupo de seguidores. Dos seus doze seguidores, provavelmente onze morreram pela sua fé. O
principal missionário da fé, Paulo, sofreu horrores para pregar o evangelho. E de repente, o cristianismo virou
um meio de realizar os nossos sonhos de consumo e ser 'campeões' em vez de humildes servos como foi o
nosso Senhor Jesus. Em vez de pagar o preço para servi-lo, esperamos ser servidos por Ele!
No capítulo anterior, introduzimos a doutrina da santificação, que juntamente com a justificação e
regeneração, faz parte do "pacote de salvação". Recapitulando esta doutrina, lembramos que:
o santificação é a ação transformadora do Espírito para nos fazer semelhantes a Cristo. Deus trabalha
para esta finalidade de várias formas: levou à cruz o velho homem, assim nos libertando de nós
mesmos, limita as tentações, nos enche com seu Santo Espírito e nos disciplina.
o As normas divinas de santidade são altas. Não podemos abaixar as normas bíblicas e nos acomodar
a uma vida cheia de pecado.
Deus está trabalhando ativamente para nos fazer santos, semelhantes a Cristo. Santificação é uma obra
dele, mas, mais uma vez, esta obra depende de uma condição nossa. Vamos chamar esta condição o caminho
da cruz. Este caminho é o caminho que nos leva à santidade. Vamos olhar alguns textos a respeito deste
caminho e depois procurar uma forma prática de caminhar nele.
"Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus que apresenteis os vossos corpos por sacrificio vivo,
santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional" (Rm. 12.1).
"Porque também Cristo não agradou a si mesmo, antes, como está escrito: As injurias dos que o
ultrajavam, caíram sobre mim" (Rm 15.3).
"Mas esmurro meu corpo, e o reduzo a escravidão, para que, tendo pregado a outros, não venha eu
mesmo a ser desqualificado" (1 Co 9.27).
"Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se
morrer, produz muito fruto." (Jo 12.24)
"Temos, porém, este tesouro em vaso de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós.
Em tudo somos atribulados, porém, não angustiados; perplexos, porém não desanimados; perseguidos,
porém não desamparados; abatidos, porém não destruídos; levando sempre no corpo o morrer de Jesus
para que também a sua vida se manifeste em nosso corpo. Porque nós, que vivemos,somos sempre
entregues a morte por causa de Jesus Cristo,para que também a vida de Jesus se manifeste em nossa
carne mortal. De modo que em nós opera a morte; mas em vós, a vida" (2 Co 4.7- 12).
"... naturalmente, a cruz é uma só, mas não entendemos todo o seu significado de uma só vez. Passaremos
a entender melhor na medida em que o Espírito Santo nos revelar seus aspectos mais profundos. Aí então
precisamos dar os passos necessários para nos ajustarmos a essas revelações mais profunda s, se quisermos
que o Espírito Santo continue a guiar-nos e a mostrar-nos mais e mais acerca da vida de Cristo. Quanto mais
revelações recebermos, mais ajustes teremos que fazer. É um processo que dura por toda a nossa vida".
"O
Salvação é a obra de Deus, mas ele salva quem estiver disposto a cumprir as condições estabelecidas por
Ele. Estas condições não estabelecem nenhum relacionamento de troca ou merecimento. Nada podemos fazer
para merecer o dom gratuito de salvação. Porém, Deus respeita o livre-arbítrio de todos e espera a resposta
humana para suas iniciativas. Ele não arromba a porta do nosso coração, mas bate e espera o nosso querer.
São duas as condições para receber a salvação: arrependimento e fé; e uma terceira para proceder na
santificação: andar no caminho da cruz. Vivendo estas condições, estaremos nos abrindo para a atuação de
Deus em nossas vidas: a salvação em Cristo; uma salvação completa que nos justifica, nos regenera e nos
santifica, cumprindo o propósito de Deus de restaurar a imagem de Deus em nós.
__.JlJ /I DO CA 'TULO 4
• Nos capítulos anteriores, refletimos sobre quatro coisas que Deus faz para a salvação em Cristo se
tornar uma realidade pessoal: convicção de pecado, justificação, regeneração e santificação. Neste
capítulo identificamos três condições que Deus requer para realizar estes propósitos: arrependimento,
fé e o caminho da cruz.
o Condição é uma exigência que cumprimos para receber algo não merecido. Condição não implica
troca, pagamento ou obra de merecimento. Não há nada que possamos fazer para merecer a salvação
gratuita de Deus. Mas ele respeita o livre-arbítrio e somente atua na vida dos que querem.
o Arrependimento é uma profunda mudança de mente e coração que nos leva a rejeitar e deixar de
lado todos os pecados que conhecemos e a desistir do direito de governar a nossa própria vida
independentemente de Deus. É uma mudança de atitude imprescindível que envolve nosso intelecto,
emoções e vontade .
• Fé Salvadora é confiar na pessoa e obra de Cristo de tal maneira que entreguemos toda nossa vida
a Ele . O objeto da fé é Cristo, sua pessoa, obra e presença. Os três elementos bíblicos desta fé são
conhecimento, concordância e compromisso.
o O caminho da cruz é a condição para progredir na santificação . Não é um caminho fácil ou popular
porque exige abnegação e a morte do egoísmo. A entrada deste caminho é a entrega total de tudo que
somos e temos. Não é um caminho fácil, mas seguimos um Jesus amoroso e não precisamos temer.
supremo de Cristianismo. A Teologia Sistemática deve contribuir para esta finalidade: uma boa teologia vai
nos levar a amar mais a Deus e ao próximo!
Precisamos lembrar que enquanto sistematizar os nossos conceitos a respeito de Teologia seja importante,
ser cristão é muito mais que isso! Gosto de definir o que é um cristão assim: uma pessoa que vive um contínuo
relacionamento com Cristo pelo qual vai se tornando mais semelhantes a ele. Pense sobre esta definição! Não
é a essência do ser cristão 7
Talvez você se recorde que já falamos sobre a importância do relacionamento humano. A Bíblia revela
a razão dessa fome inata do homem, esse anseio de ter relacionamentos - Deus é um ser relaciona I e, na
sua imagem, criou seres relacionais para ter comunhão com ele. Por causa deste relacionamento, podemos
cumprir o propósito de Deus de criar seres que livremente mantém um relacionamento de amor para com
ele e com outros .
Este relacionamento do ser humano, além de ser com Deus, se estende em outras direções também. De
fato, a vida humana na sua totalidade consiste numa serie de relacionamentos sem os quais seriamos menos
que humanos. Segundo Gênesis, diagramamos esta faceta relacional da imagem de Deus assim:
6
D A
(J 0
-----
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~
Se a queda é o estrago dos relacionamentos essenciai s para vida plena, salvação, de forma global,
consiste na restauração destes relacionamentos. Salvação não é apenas uma mudança religiosa em que o
sujeito muda de hábitos dominicais; não é uma mudança apenas de doutrinas - de passar a crer na Bíblia e
seus ensinamentos. Acima de tudo, salvação muda todos os nossos relacionamentos.
1) A salvação restaura nosso relacionamento com Deus. Pecado traz consequências desastrosas nesta
área . Como no caso de Adão e Eva, pecado causa medo e alienação. Salvação nos reconcilia com
Deus. Disse Paulo, " ... quando éramos inimigos de Deus fomos reconciliados com ele mediante a
morte de seu Filho ... (Rm S.10). Salvação tira a barreira do pecado que nos fez inimigos e nos põe
como amigos de Deus. É possível conhecermos a Deus (FI3.8l, comungar com Deus (lJo 1.3), enfim,
amar a Deus "... de todo o seu coração, de toda sua alma e de todo o seu entendimento" (Mt 22.37)!
2) A salvação restaura nosso relacionamento com os outros. O pecado trouxe conflitos entre marido e
esposa, pais e filhos, entre irmãos, vizinhos e nações. A história humana desde então é uma história
de conflitos humanos sem fim. A salvação capacita a amar "... seu próximo como a si mesmo" (Mt
22.39). Restaura relacionamentos familiares, levando maridos a amar as suas esposas, esposas a
respeitarem seus maridos, pais a não irritarem seus filhos e filhos a obedecerem os pais (Ef 5.22-6.4).
A igreja exemplifica um modelo redimido de relacionamento onde pessoas de diversos pensamentos,
preferências e personalidades vivem em unidade (Ef 4.1-4; SI 133.1). Salvação não diz que vão
concordar em tudo, mas ensina a resolver conflitos, se humilhando, pedindo e oferecendo perdão
(CI3.12-14).
3) A salvação restaura O relacionamento conosco mesmo. Pecado traz conflitos interiores; culpa,
ansiedade e medo sobre o futuro. Salvação traz uma consciência tranquila (1 Tm1.5), paz no meio
das dificuldades (FI 4.4) e tira o pavor da morte (1 Co 15.54-56). Nossa mente é renovada (Rm 12) e
não precisamos provar para nós mesmos que somos iguais ou melhores que os outros (2 Co10.12,13).
Regozijamos em ser salvos e nossa identidade se encontrar no fato de que estamos "em Cristo",
filhos queridos dele pela graça.
4) A salvação restaura o relacionamento com a natureza. Temos sido exploradores da natureza em vez de
sermos mordomos, mas, também os terremotos e tsunamis têm nos castigado. Não há promessa de
restauração imediata e completa em nosso relacionamento com a natureza: tem aspectos da queda
que serão restaurados completamente apenas na volta de Cristo. Porém, podemos ver agora uma
melhora significativa em nosso relacionamento com a natureza pelo menos do nosso lado. O salvo
deve assumir uma responsabilidade de "cuidar" deste presente de Deus (Gn 2,15) e coletivamente
podemos amenizar alguma parte do conflito. O dia virá quando "... a própria natureza criada será
libertada da decadência em que se encontra ..." (Rm 8.21).
A doutrina de salvação é muito importante, mas salvação é muito maior e muito mais pessoal do
que Teologia correta. Na sua essência, é sobre a restauração dos relacionamentos. Começa com um novo
relacionamento com Deus; e como uma pedra que cai no poço de água, as ondas desta reconciliação com Deus
atingem nosso interior e vão se estendendo para a nossa família, nosso próximo e até para própria natureza.
Salvação não acontece num livro ou lista de doutrinas:
• é levantar pela manhã sabendo que Deus está comigo; leio sua palavra e falo com ele em oração,
tranquilo que sou perdoado e salvo;
• é viver em doce harmonia com meu cônjuge e outros familiares;
• é me reunir com os irmãos na igreja, eles tão imperfeitos como nós mesmos, ajudando uns aos
outros pelo caminho da salvação;
• é preocupar-me de forma prática com o bem estar de vizinhos e procurar levá-los a Cristo;
• é zelar para preservar o meio ambiente em que vivemos celebrando em cada por do sol a criação
maravilhosa de Deus.
Salvação é relacional!
Se salvação for relacional e se de fato Cristo vive em mim (Cll.27), certamente a salvação fará uma grande
diferença na minha vida. Seria impossível conceber que permanecerei igual, depois da salvação, como era
antes em minhas atitudes, motivações, decisões e ações.
Devemos ter certeza que somos salvos. Deus promete esta segurança. Mais ainda, nos deu um livro no
Novo Testamento para nos proporcionar esta certeza de salvação - A primeira epístola de João. Quase no fim
desta carta, João fala de forma explícita o teor e alvo da carta: "Escrevi-lhes estas coisas, a vocês que creem
no nome do Filho de Deus, para que vocês saibam que têm a vida eterna" (1 Jo 5.11). Nesta pequena carta
ele nos dá nove características do verdadeiro crente. São provas da salvação que devem caracterizar a vida
do salvo, do cristão autêntico.
Na próxima seção deste capítulo vamos fazer um resumo destas nove evidências de salvação, mas
recomendo a leitura cuidadosa de I João como imprescindível. O texto abaixo é uma adaptação do livro do
autor de Nove provas de cristianismo autêntico. Venda Nova: Editora Betânia, 2012
•
"O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos próprios olhos,
o que contemplamos, e as nossas mãos apalparam, com respeito ao Verbo da vida ... o que temos
visto e ouvido anunciamos também a vós outros" (1 Jo 1.1,3). A sua fé não foi construída em cima
de um sonho ou revelação espetacular, mas na história verídica de Jesus, agora registrada no Novo
Testamento.
Hoje em dia é a mesma coisa . O cristão autêntico busca a verdade, não em sonhos ou revelações
humanas mas na própria Palavra de Deus. Ele lê e estuda com seriedade a Bíblia e assim tem
discernimento entre o verdadeiro e falso.
2) Tenho comunhão com Deus? A segunda prova de salvação é que o cristão verdadeiro vive uma vida de
comunhão com Deus através da leitura bíblica e oração regular. Disse João: "Ora, a nossa comunhão
é com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo" (I Jo 1.3). Quando passamos momentos de comunhão
diária com ele, começamos a conhecê-lo pessoalmente e vemos nossa vida ir se transformando
gradualmente. Os interesses dele passam a ser os nossos também . E no fim, pela comunhão, nós o
amaremos cada vez mais.
3) Tenho comunhão com os irmãos? Uma vez que temos uma vida de comunhão "vertical", vamos
procurar uma comunhão "horizontal" também, nos comprometendo com um corpo local de cristãos,
a igreja. "Se, porém andarmos na luz, como ele está na luz, mantemos comunhão uns com os
outros ..." (1.7). Temos, assim, um convite para gozarmos de uma vida de cálidos relacionamentos
dentro da igreja de Jesus Cristo. É certo que a igreja não é um céu, nem mesmo um Éden. Então para
desfrutarmos de um bom relacionamento neste mundo caído, teremos de pagar o preço. Contudo, a
despeito de nossas fraquezas, a igreja oferece um porto seguro, uma comunhão profunda e duradoura
e um ambiente de crescimento espiritual. Não existe cristianismo autentico sem uma comunhão e
compromisso com a igreja local.
4) Minha conduta moral se alterou quando me converti? Então, como é exatamente que João explicita
essa prova, a conduta cristã? " ... Deus é luz, e não há nele treva nenhuma. Se dissermos que mantemos
comunhão com ele e andarmos nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade ...I/IIOra, sabemos
que o temos conhecido por isto: se guardamos os seus mandamentos" (1 Jo 1.5b,6). No seu livro,
João emprega três expressões distintas, mas relacionadas entre si, para esclarecer o sentido disso
tudo. São elas: andar na luz, obediência em amor e justiça prática. João está dizendo que não é o
discurso religioso ou experiências sobrenaturais que evidenciam a salvação: é a nossa obediência
às suas diretrizes, nosso compromisso com a santidade, a nossa semelhança a Cristo nas coisas
práticas do dia a dia. Boa conduta não nos salva, mas o salvo tem boa conduta! A cond uta cristã é
a expressão de nosso amor por ele, bem como a evidência da sua presença em nós.
5) Estou praticando o amor sacrificai? No sentido popular da palavra, amor tem muitos sentidos. João
aponta o amor 'ágape', o amor sacrificial de Cristo como evidência de salvação: "Nisto conhecemos
o amor: que Cristo deu a sua vida por nós; e devemos dar nossa vida pelos irmãos" (3.16.) O amor
ágape é um amor sobrenatural que vem pela nossa união com Cristo. Este amor decide fazer o
bem incondicionalmente - não é amor de troca nem de sentimentos. E é amor não em palavras,
mas amor de ação. De todos as evidências é a mais importante - é resposta humana para o Grande
Mandamento de amor (Mt 22.37-40).
6) Dá para perceber que estou crescendo espiritualmente? O natural para qualquer nenê saudável é
crescer. Quem nasce de novo também deve estar crescendo ou tem alguma coisa errada. João fala
de 3 fases de maturidade espiritual; filhinhos, jovens e pais: " Filhinhos, eu vos escrevo, porque os
vossos pecados são perdoados, por causa do seu nome. Pais, eu vos escrevo, porque conheceis
aquele que existe desde o princípio. Jovens, eu vos escrevo, porque tendes vencido o Maligno" (1 Jo
2.12,13). O crescimento espiritual é um sinal de autenticidade cristã . Eé algo natural, mas não ocorre
automaticamente. A trajetória normal do crente é passar da infância espiritual para uma juventude
vibrante e desta para a fase de "pai", onde temos um profundo relacionamento com Deus. E o certo
é que todos nos encontramos num processo de crescimento. Estamos subindo, ou descendo, ou
então "presos num momento". Mas, todos os salvos saudáveis estão crescendo espiritualmente.
7) Estou vencendo o sistema do mundo? O 'mundo', segundo João, é mais que uma lista de coisas
proibidas: é um sistema baseado no compromisso com a satisfação dos desejos humanos: "Não
ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está
nele; porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a
soberba da vida, não procedem do Pai, mas procedem do mundo ..." (1 Jo 2.15-17) . Todos têm os
desejos naturais humanos - de sentir prazer, de obter coisas e ser alguém. Estes desejos não são
pecaminosos em si, mas, tornam-se pecaminosos quando tomam o primeiro lugar em nossa vida.
O "sistema", popularizado pela mídia e vivido pela maioria, tende a nos influenciar a adotar seus
valores. Mas o cristão verdadeiro, segundo João, não cede a estas pressões: " ... porque todo o que
é nascido de Deus vence o mundo"( S.4a).
8) Quem é Cristo para mim? Aqui nos deparamos com a pedra fundamental da fé. Sem a doutrina
certa de Cristo, não somos cristãos: " ... Todo espírito que confessa que Jesus veio em carne é de
Deus; todo espírito que não confessa a Jesus não procede de Deus; pelo contrário, este é o espírito
do anticristo ..." (4.2b,3a); "Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo é nascido de Deus ..." (S .la).
São 3 elementos principais na doutrina de Cristo: sua divindade, sua humanidade e sua unicidade.
Podemos ter doutrinas variadas a respeito de questões secundá rias e ainda ser cristão. Mas, se não
nos alinharmos com aquilo que Jesus falou de si mesmo - que ele é Deus, é homem e o caminho
único a Deus - não podemos ser salvos.
9) Tenho o testemunho do Espírito de que sou filho de Deus? Além das provas objetivas - as provas
de cristianismo autêntico que possam ser observadas por outras - existe uma prova subjetiva,
espiritual, que o próprio espírito de Deus nos dá e só pode ser detectada por nós mesmos. "E nisto
conhecemos que ele permanece em nós, pelo Espírito que nos deu" (3.24b)."Nisto conhecemos
que permanecemos nele, e ele, em nós: em que nos deu do seu Espírito" (4.13) . Aquele que crê no
Filho tem, em si, o testemunho ... (S.10a). O apóstolo Paulo explicou o testemunho do Espírito assim:
" .. . mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai . O próprio Espírito
testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus" (Rm 8.1Sb,16). Então, para discernirmos
o cristianismo autêntico, vamos examinar cuidadosamente os critérios objetivos (as provas 1 a 8),
mas também contemplemos com alegria esse conhecimento interior, o testemunho do Espírito. É
o senso da presença de Cristo em nós, essa confiança sobrenatural que o Espírito Santo nos dá de
que somos dele e um dia iremos para o céu.
Será que Bill tem 100% de aprovação nesses pontos? Tenho a impressão de que não. Contudo, tanto eu
como ele já vimos mudanças bem significativas em todas essas áreas de sua vida. São testes que Bill pode
aplicar à vida dele para examiná-Ia . Eles vão demonstrar se ele teve a experiência do novo nascimento e goza
de um relacionamento com Cristo. Lembrete: isso não são regras para uma pessoa obter a salvação. São
consequências dela.
APLlCACÃO PESSOAL
Ao final deste desta parte, então, a pergunta que temos de fazer é óbvia: "Como estou me saindo?". "Sou
um cristão autêntico?" "Tenho a salvação em Cristo- e minha vida demostra isso?" São boas perguntas, mas o
mais importante é que a dirijamos à pessoa certa, Àquele que pode nos dar a nota final. Precisamos perguntar
isso ao nosso amoroso Pai celestial, pois é quem nos conhece e nos compreende bem. Em última análise, é
ele quem nos julga. Por isso, quero apresentar ao leitor as seguintes sugestões.
1) Pergunte ao Pai: "Como estou me saindo?" Marque uma hora para fazer isso, em um lugar reservado,
apenas você e o Pai amoroso. Abra a Bíblia em I João, leia toda a carta e, em seguida, faça essa
pergunta ao Senhor. Não é preciso ter medo . Pode ter certeza de que Deus irá dizer-lhe palavras
de incentivo. Escreveu essa epístola com a finalidade de nos dar confiança, e não de destruir nossa
fé. Será que você vai tirar nota 10 na prova? Quem se parece um pouco comigo ou com o Bill,
provavelmente não. Mas será que está avançando em direção ao alvo nessas nove áreas? Alegre-se
com seu crescimento!
2) Peça ao Pai que lhe mostre em que áreas de sua vida não está demonstrando a presença de Cristo.
Peça-lhe que ele lhe revele se está abrigando pecados no coração. Anote-os em uma folha de papel
e, em seguida, peça perdão a Deus. Por fim, queime esse papel, pois ele já lhe perdoou . E não se
esqueça de fazer a reparação do erro, nos casos em que isso for necessário.
3) Pergunte ao Pai se já lhe fez uma entrega completa de sua vida, de seus direitos, seu futuro, seus
planos e seu coração . Este é o caminho da cruz que todos nós temos de tomar para seguir o Senhor.
Para vivermos o cristianismo autêntico, temos de morrer para nós mesmos. Por fim, confirme sua
decisão incondicional de se modificar e de obedecer a Deus, de viver para a glória dele e agradar
só a ele.
4) Peça mais uma vez que ele o encha com sua presença. Peça isso com fé, sem temor algum. Lembre-se
das palavras de Jesus: "Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto
mais o Pai celestial dará o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?" (Lc 11.13).
Agora, meu irmão, viva alegremente como um cristão autêntico, no poder do Espírito Santo!
A coluna esquerda (DEUS) mostra salvação como obra de Deus - aquilo que Deus faz para a sua obra
redentora tornar real em nossa vida.
A coluna à direita (RESPOSTA HUMANA) mostra a resposta humana - incluindo as condições que precisamos
cumprir para receber a salvação.
Agora a coluna no meio da escala (COMUNICADOR) introduz um novo elemento: o papel do comunicador
(ou evangelista) que trabalha em cooperação com a obra de Deus e de acordo com a fase da pessoa que esteja
evangelizando.
Inicialmente leia a escala, observando as 3 colunas (e os assuntos que estudamos em negrito) para depois
fazer o exercício.
n -3
-2
Reconhecimento do seu pecado.
Arrependimento.
-1 Fe salvadora.
(Sobre a Escala Engel: Dr. James F. Engel, na
Justificaçãol
Regeneração
:
- "NOVA CRiATURA"
época diretor do programa de comunicação
de Wheaton Graduate School, desenvolveu
esta representação do processo de decisão
espiritual, inspirado por um protótipo do seu
Orientação +1 Avaliação. aluno Viggo Sogaard. Foi publicado em vários
Discipulado +2 Incorporação na Igreja. revistas e livros a partir de 1973, e foi adaptado
~
+3 Crescimento em conhecimento e vida. e melhorado por vários autores e traduzido
+4 Andar no Caminho da cruz. em várias línguas desde então. Apresento aqui
+ Reprodução. com algumas pequenas adaptações. Leia mais
+
n em <http://www.lnternetEvangelismDay.com/
engel -sca le. ph p#lxzz 1j oG M 7 BEC>.
o que mais aprendemos da Escala Engel?
1) Cada uma das pessoas envolvidas tem uma área de atuação especifica: a Escala Engel, em primeiro
lugar, nos ajuda ver a salvação como um todo, realçando que Deus tem a sua parte (por muito, a
parte principal), a pessoa tem a sua parte (as condições) e também o comunicador faz parte do
processo. Ninguém se faz a parte do outro .
- Deus não faz a parte do comunicador, no seu lugar pregando o evangelho do céu, nem se arrepende
ou crê no lugar do pecador.
- A pessoa não pode se salvar, se justificando, regenerando ou se santificando sozinho - Deus quem
faz estas coisas.
- O comunicador (evangelista) não pode trazer convicção do pecado, nem salva nem santifica ninguém
- Deus quem faz.
2) Na parte da pessoa, existe um processo. Notamos que antes mesmo de chegar a ponto de
arrepender-se e crer, as pessoas passam outras fases na sua jornada em direção à salvação (coluna
à direita). É um processo que começa como Consciente do Ser Supremo, mas sem conhecimento
do poder transformador do Evangel ho (-8), passa a conhecer o evangelho (-7), progredindo para a
compreensão dos fundamentos e implicações do evangelho (-6,-5,) a uma atitude positiva (-4), para
o reconhecimento do seu pecado (-3) antes de arrependimento e fé (-2,-1). Este processo pode ser
rápido ou demorado .
3) O comunicador precisa de sensibilidade a este processo. Nem todas as pessoas estão à mesma
'distância' espiritual da salvação e o comunicador precisa atuar de acordo com seu lugar no processo .
Quando a pessoa está na fase de - 8 a -5 o comunicador precisa proclamar a verdade do evangelho
porque a pessoa não entende ainda (veja a coluna do meio); quando a pessoa chegar a uma atitude
positiva é a hora de persuasão, de incentivar a pessoa a se arrepender e crer. Se tentar persuadir
enquanto a pessoa não entende o evangelho, não vai funcionar. E é só depois da pessoa se tornar
Nova Criatura que começa função de orientação e discipulado.
Neste capitulo final sobre a salvação, tentamos unificar os nossos pensamentos a respeito da salvação para
não nos perder no meio de muitos detalhes. Nunca devemos esquecer que salvação não pode ser reduzida a
apenas crenças, costumes religiosos ou diagramas doutrinários; é fundamentalmente um relacionamento com
Deus que muda os demais relacionamentos que compõem a vida humana. Este relacionamento com Deus deve
produzir uma série de transformações em nossa vida diária - João lista nove evidências de salvação e cabe
a nós avaliarmos a nossa saúde espiritual com estes critérios. Finalmente, procuramos montar as peças da
salvação usando a Escala Engel, que nos recapitula salvação como obra de Deus e as condições para recebê-Ia.
Também aponta a nossa responsabilidade evangelística de comunicar o evangelho de forma apropriada para
cada tipo de pessoa - cooperando com Deus para a evangelização do mundo com as boas novas da grande
salvação em Cristo.
• Nos capítulos anteriores, refletimos sobre as coisas que Deus faz e as condições que requer para
realizar a salvação. Neste capítulo finalizamos o assunto de salvação com a visão macro. Primeiro,
relembramos que todo este processo de salvação gira em torno de restauração de relacionamentos;
segundo, vimos o que a Bíblia diz a respeito das evidências de salvação; finalmente, montamos as
peças do processo de salvação (5.3) usando a Escala Engel.
• Somos pessoas relacionais por natureza e salvação é essencialmente relaciona I. Podemos definir o
salvo como uma pessoa que vive um continuo relacionamento com Cristo pelo qual vai se tornando
mais semelhantes a ele.
.
..: l' ~
. 'uI'
• Pelo pecado, os nossos relacionamentos principais foram estragados: tanto com Deus, quanto com
o próximo, conosco mesmos e com a natureza . A salvação restaura estes relacionamentos: começa
com um novo relacionamento com Deus, é como uma pedra que cai no poço de água, as ondas
desta reconciliação com Deus começam em nosso interior e vão se estendendo para a nossa família,
nosso próximo e até para própria natureza .
• Devemos ter certeza que somos salvos e Deus nos deu o livro de I João para nos proporcionar esta
certeza: "Escrevi-lhes estas coisas, a vocês que creem no nome do Filho de Deus, para que vocês
saibam que têm a vida eterna" (I João 5.11).
• João lista 9 evidências que devem aparecer na vida do salvo: verdade, comunhão com Deus,
comunhão com os irmãos, conduta cristã, amor sacrificiat, não amar o mundo, crescimento, conceito
bíblico de Cristo e o testemunho do Espírito. Devemos fazer uma autoavaliação diante de Deus para
ver nossa verdadeira situação espiritual.
• A Escala Engel nos ajuda a ter uma visão macro de salvação : nos mostra que cada pessoa envolvida
no processo de salvação - Deus, o comunicador e a pessoa - tem um papel específico que somente
ela exerce; nos mostra o processo de aproximação de Deus pelo qual o pecador passa; nos mostra
que para exercer o seu papel, o comunicador precisa se ajustar a sua mensagem a fase em que o
pecador se encontra.
I IT~or 1-\0
o Espírito Santo é a pessoa da trindade com quem temos um contato mais
direto, mas muitas vezes é a pessoa divina menos conhecida. Clark Pinnock
começa seu livro sobre o Espírito com uma observação e uma oração apta
para o começo do nosso estudo :
"O Espírito é digno de toda nossa adoração, mas é a pessoa da
trindade mais intangível e misteriosa. Se for o Pai que aponta a
realidade última e o Filho que nos fornece a chave do mistério divino,
é o Espírito que representa o cúmulo da proximidade e presença de
Deus. São João da Cruz o identifica como a 'chama viva de amor' e
celebra este dom tão ágil, responsivo, alegre e pessoal.
Ao começar; vamos dizer: "Bem vindo, Espírito Santo, venha
n05 libertar! Ajuda-nos a capturar e sermos cativados pela sua
chama de amor! Deixa-nos acesos com seu fogo. Ajuda-nos a
vencer o n05SO esquecimento do Espírito" (PfNNOCK~ Clark H..
F/ame of Love. Downers Grave: IVp, 1996. p. 9).
Depois em Atos 2, a Bíblia registra a vinda do Espírito no Dia de Pentecostes, a inauguração da era da
igreja, energizada e dirigida pelo Espírito.
"Chegando o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos num só lugar. De repente veio do céu um som,
como de um vento muito forte, e encheu toda a casa na qual estavam assentados. E viram o que parecia
línguas de fogo, que se separaram e pousaram sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e
começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito os capacitava" (At 2:1-4).
Do Dia do Pentecostes em diante, o livro de Atos dos apóstolos (alguém disse que o livro devia ser intitulado
"Atos do Espírito Santo") toda a vida e ministério dos apóstolos foi dinamizado pelo Espírito Santo. O Espírito
inspira e direciona a atividade missionária . Por causa da perseguição os discípulos, dispersos, "... pregavam
a palavra por onde quer fossem ...". Filipe vai para Samaria onde realiza milagres; depois, recebendo Pedro e
João, os novos convertidos também recebem o Espírito (At 8.4-25). Um anjo e depois o Espírito orienta Filipe
a evangelizar um africano, um etiope (8.26-40). E o evangelho vai se espalhando pelo poder do Espírito. O
Espírito dirige Pedro a evangelizar Cornélio (10.19) e desce sobre os novos crentes (10.44); em Antioquia, o
Espírito orienta a escolha e envio de missionários transculturais, Barnabé e Saulo (13.2,3) e daí em diante,
começa a grande expansão do evangelho, orquestrada pela direção do Espírito (16 .6,7).
Nas epístolas, fica clara a importância do Espírito na vida e ministério dos apóstolos e seus discípulos.
Citando apenas alguns exemplos:
• o Espírito que inspirou as próprias escrituras (2 Pe 1.20,21);
• pregaram no poder do Espírito (1 Co 2.4; 1 Ts1.5);
• os frutos do Espírito se manifestam no crente (GI 5.16-25);
• o Espírito que habita nos crentes (1 Co 6.19) leva-os à mudança moral (Rm 8.2; 2 Co 3.18), à
santificação (2 Ts 2.13);
• o Espírito é quem capacita a igreja, o corpo de Cristo, para seu ministério, distribuindo dons e
ministérios aos seus membros (Rm 12.3-8; 1 Co 12; Ef 4.1-16).
Não há dúvida de que o Espírito Santo, a terceira pessoa da trindade, é uma pessoa presente e de
importância inestimável em toda a Bíblia começando no Antigo Testamento e continuando pelos evangelhos,
Atos e as epístolas. Na culminação da era da igreja, no último capítulo de Apocalipse, o Espírito, juntamente
com a Igreja, conclama a todos a beber da "água da vida":
"O Espírito e a noiva dizem: "Vem!" E a todo aquele que ouvir diga: "Vem!" Quem tiver sede, venha; e
quem quiser, beba de graça da água da vida" (Ap. 22.17).
A chamada do Espírito é para todos nós virmos e bebermos de Jesus, a água da vida, e junto com o Espírito
estendermos este convite a um mundo sedento.
o /
Os teólogos ortodoxos de todas as épocas leram os textos acima a respeito do Espírito Santo e creram na
sua veracidade. Mas, como em qualquer empreendimento teológico, quem quer se aprofundar e conceituar
estas informações bíblicas passa por um processo de estudo e ruminação até chegar a conclusões. Nestas
conclusões haverá divergências, mas ao longo do tempo haverá também mais clareza e coerência. O processo
de desenvolvimento nem sempre é linear: às vezes a Teologia desvia ou atrasa. Mas entendemos que o Espírito
continua a ensinar "todas as coisas .. ." (Jo 14.26).
Por muito tempo o Espírito era a pessoa da trindade menos conhecida talvez por ele ser o menos
entendido. Mas, nos últimos anos o interesse tem crescido, especialmente desde os anos cinquenta do século
passado. Diz Grenz:
"O interesse no Espírito antigamente era de grupos isolados, como os Montanistos da época de Tertuliano,
H
os "entusiastas da reforma radical ou o pentecostais no inicio do século vinte. Hoje, porém, cristãos
de muitas denominações querem conhecer e apropriar-se do Espírito Santo. Crentes em quase todas
as tradições protestantes e até católicos romanos, reivindicam o batismo do Espírito Santo" (GRENZ,
Stanley J.. Theology for the Community of Gad. Grand Rapids: Eerdmans,1994. p.359).
Com certeza você que está fazendo este curso compartilha este interesse. Neste estudo histórico,
traçaremos o desenvolvimento da doutrina através de cinco períodos da Igreja: antigo, medieval, reformado,
moderno e contemporâneo. Vamos observar as dificuldades em compreender o Espírito, mas também a atuação
do próprio espírito e nos levar a conhecê-lo de forma mais real e profunda (a fonte principal para esta parte é
JOHNSON, Alan F. e WEBBER, Robert. E.. What Christians Believe. Grand Rapids: Zondervan, 1993).
Mas os pais ortodoxos não apenas afirmaram sua divindade mas reconheceram a atuação do Espírito.
Irineu, do segundo século, reconheceu a atividade milagrosa do Espirito na sua época:
"Seus discípulos ... expulsam demônios .. outros têm visões e profetizam ... outros curam enfermos pela
imposição de mãos ... até mortos têm ressuscitado e ficado conosco por muitos anos" (JOHNSON, 171).
um poder novo para o crente, um senso da presença de Deus, amor pela palavra e pela oração, libertação do
pecado e um desejo de testemunhar (lOHNSON, 183).
No Brasil, o maior crescimento da igreja tem acontecido entre os pentecostais e recentemente entre os
chamados neopentecostais. As maiores igrejas pentecostais no Brasil são as Assembleias de Deus, Congregação
Cristã do Brasil, e a Igreja do Evangelho Quadrangular; somente entre elas contam com um total acima de 11
milhões de membros. Este número não conta com as centenas de outras denominações pentecostais menores
e as milhares de igrejas independentes de linha pentecostal. Contando os neopentecostais, o número sobe
muito mais ainda (fontes: Internet - Revista Veja e Sepal (IBGE). Além disso, há uma abertura crescente entre
as igrejas 'tradicionais' (não pentecostais) para a atividade mais ostensiva do Espírito Santo em manifestações
espontâneas na liturgia e no exercício dos dons espirituais de forma discreta.
Esperamos que esta dinâmica do Espírito na igreja brasileira não seja limitada apenas ao discurso e um
estilo avivado de culto, mas, como na igreja de Atos, frutifique em santidade e na multiplicação de verdadeiros
discípulos ao redor do mundo!
Os credos e doutrinas da igreja falam muito mais a respeito do Pai e do Filho do que do Espírito Santo.
As informações bíblicas a respeito da terceira pessoa da trindade são mais difíceis de sistematizar: não há um
texto bíblico que seja um tratado teológico explicando a doutrina do Espírito (pneumatologia). Um teólogo
sugeriu que esta forma discreta de ser da parte do Espírito é devido ao seu propósito: Ele não atrai atenção
para si mesmo, mas dirige as pessoas a Cristo! (lo 16.14). Enquanto a conceituação dele é mais difícil de
articular, a ação dele é imprescindível e continua na vida do cristão. Como observa Erickson "O Espírito Santo
é a pessoa específica da Trindade por meio de quem toda a Divindade Triúna atua em nós ... é o ponto em
que a Trindade torna-se pessoal para o que crê" (ERICKSON, Millard J. Introdução a Teologia Sistemática. São
Paulo: Vida Nova, 1997. p.344) .
Nesta parte do capítulo queremos focar em dois aspectos da sua pessoa que são facilmente esquecidos:
sua personalidade e sua divindade. Primeiro a sua personalidade.
Por que será que esquecemos que o Espírito é uma pessoa, com os atributos de pensar, sentir e decidir?
Evans sugere algumas razões:
• ao ser contrastado com as outras pessoas da Trindade, parece menos pessoal. O Pai é facilmente
entendido por conhecermos figuras paternais terrestres. O Filho, até todos nós somos; mas não temos
uma categoria paralela com o Espírito, que é uma figura mais mística, semelhante a uma influência.
• Por causa dos nomes dele. É chamado de sopro, vento e poder. Os símbolos usados a respeito dele
são óleo, fogo, água etc. Por isso grupos como os Testemunhas de leová o tratam de ser "aquilo"
em vez de ser "ele", e se não nos cuidarmos, acabamos mentalmente o 'despersonalizando' assim
entrando em conflito com o seu conceito bíblico (EVANS, William. The Great Doctrines ofthe Bible.
Chicago: Moody, 1974. p. 107,108).
Não somente o Espírito é revelado na Bíblia com uma pessoa, mas compartilha a plena divindade com
o Pai e com o Filho, compondo a Trindade. Este capítulo, na verdade, é uma complementação de Teologia
Sistemática 1 onde trata-se da doutrina da trindade. Mais uma vez, apesar de que não existir um texto bíblico
que de forma explícita declara que o Espírito Santo é Deus, as evidências pela sua divindade são convincentes
I!
para quem crê na Bíblia. Examinaremos cinco provas bíblicas da sua divindade (Mais uma vez, uma adaptação
de EVANS, William. The Great Doctrines of the Bible. Chicago: Moody, 1974. p. 111,112).
(ERICKSO N, Mi llard J. Introdução a Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1997. p. 349,350).
rv
Agora, sabemos que o Espírito Santo é muito maior e mais chegado do que qualquer lista dos seus atributos
pode comunicar. Comunicação mais íntima entre pessoas não funciona assim; imagine eu aprofundando meu
relacionamento com a minha esposa fazendo uma lista formal dos seu atributos! Não é assim que funciona
entre pessoas. Precisamos estar juntos, cultivando intimidade pela conversa, abrindo o coração e pedindo ajuda.
É somente assim que vamos conhecer não apenas a doutrina do Espírito, mas a sua pessoa!
• Iniciamos o nosso estudo de pneumatologia, o estudo do Espírito Santo. Neste capítulo focamos no
retrato bíblico dele, dividindo o assunto em quatro partes: uma visão panorâmica, o desenvolvimento
histórico, a sua personalidade e a sua divindade.
• A Bíblia fala muito sobre o Espírito Santo, de Gênesis a Apocalipse. Apesar de ter mais ênfase no Novo
Testamento, o Antigo já o revela como ativo na criação, na inspiração dos profetas, na capacitação
de pessoas para certas obras e liderança e a promessa de uma era futura onde todos poderiam
experimentar a sua plenitude.
CAPITULO 7
A OBRA DO EspíRITO SANTO
11' qOC
o que é que aconteceria se o Espírito Santo se retirasse do mundo?
Quais seriam as consequências para a população em geral? Para a igreja? Para
você mesmo? Talvez o cenário mais assustador fosse que sentiríamos muito
pouco a sua falta. Lembramos a citação trágica a respeito de Sansão. Depois
de ser "apossado" pelo Espírito (Jz 14.6,19; 15.16) em várias ocasiões e fazer
grande façanhas contra o inimigo, ao transgredir a ordem do Senhor de não
cortar o cabelo, saiu para enfrentar o inimigo "mas, não sabia que o Senhor
o tinha deixado" (16.21); e, como lembramos, foi derrotado e preso. Estamos
estudando o Espírito, sua pessoa e sua obra, para que esta autodependência
não se instale em nossa vida e ministério, mas que sejamos pessoas cheias
do Espírito, andando no Espírito, exercendo os dons do Espírito e ministrando
no poder do Espírito.
Em capítulo 6 iniciamos o nosso estudo de pneumatologia, focando no
retrato bíblico da pessoa do Espírito Santo, salientando sua personalidade e a
sua divindade. Vimos que o Espírito é uma pessoa, não uma força impessoal
e que é plenamente divino, coigual com O Pai e Filho. Neste capítulo, baseado
no retrato bíblico da pessoa dele, estudaremos a sua obra, aquilo que ele faz
e quer fazer. Veremos o seu ministério em relação ao mundo (7.1), em relação
às escrituras (7 .2), em relação a Cristo (7.3), a sua igreja (7.4) e finalmente em
relação ao cristão (7.5).
O Espírito tem uma relação estreita com as escrituras tanto como autor quanto como intérprete. Os profetas
do Antigo Testamento entenderam que seus pronunciamentos foram resultados da presença do Espírito neles:
Disse Ezequiel: "Enquanto ele falava, o Espírito entrou em mim e me pôs de pé, e ouvi aquele que me falava"
(Ez 2:2; veja 8.3;11.1,24). Pedro foi claro quanto ao envolvimento do Espírito com os autores das escrituras:
'~ntesde mais nada, saibam que nenhuma profecia da Escritura provém de interpretação pessoal, pois
jamais a profecia teve origem na vontade humana, mas homens falaram da parte de Deus, impelidos
pelo Espírito Santo" (2 Pe 1.20-21).
Paulo também ensinou que as escrituras são inspiradas por Deus. A palavra usada em grego (a única vez
usada na Bíblia) é composta por duas palavras: Theos- Deus, e pneõ - para expirar ou soprar, uma referência
ao Espírito (VINE, 263) . As escrituras vinham pelo sopro de Deus, pelo Espírito:
"Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensina, para a repreensão, para a correção e para a
instrução na justiça, poro que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para todo boa obra"
(2 Tm 3.16-17).
Sendo que o Espírito é a fonte das escrituras, Ele também é o melhor interprete das escrituras. Jesus
prometeu que "... quando o Espírito da verdade vier, ele os guiará a toda a verdade"(Jo 16.13). Paulo foi claro
que é o Espírito que levava ao entendimento das coisas de Deus:
"Nós, porém, não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito procedente de Deus, para que
entendamos as coisas que Deus nos tem dado gratuitamente. Delas também falamos, não com palavras
ensinadas pela sabedoria humana, mas com palavras ensinadas pelo Espírito, interpretando verdades
espirituais para os que são espirituais (1 Co 2. 12-13).
1
p LJ u
De sua concepção até o fim do seu ministério, o Cristo encarnado agia no poder do Espírito. Ele sempre
foi o Eterno Filho, coigual com o Pai e continuou assim durante sua jornada terrestre. Mas, ao se encarnar, sem
abdicar da sua plena divindade, vivia realmente como um ser humano, (FI 2.5-11) um ser humano concebido,
batizado, guiado e capacitado pelo Espírito Santo. Cristo foi:
• concebido pelo Espírito. À indagação de Maria, "o anjo respondeu: o Espírito Santo virá sobre você,
e o poder do Altíssimo a cobrirá com a sua sombra. Assim, aquele que há de nascer será chamado
santo, Filho de Deus" (Lc 1:35).
• Batizado pelo Espírito. "Então João deu o seguinte testemunho: "Eu vi o Espírito descer do céu como
pomba e permanecer sobre ele"(Jo 1.32).
• Guiado pelo Espírito. "Então Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo" (Mt4.1).
• Capacitado pelo Espírito. Seu ministério público começou a partir da sua unção com o Espírito.
Daí e diante, a Bíblia relata que ele pregava no poder do Espírito (Lc 4.18); curava pelo poder do
Espírito (At 10.38) e expulsava demônios pelo mesmo poder (Mt 12.28). No seu último discurso mais
extenso, o mesmo em que prometeu a vinda do Consolador, mostrou que as obras que realizou no
seu ministério terrestre, ele realizou no poder do Espírito. Sabemos isso porque prometeu que os
discípulos poderiam fazer o mesmo: "Digo· lhes a verdade: Aquele que crê em mim fará também
as obras que tenho realizado. Fará coisas ainda maiores do que estas, porque eu estou indo para o
Pai" (Jo 14.12).
7/1
A igreja é o corpo de Cristo, o organismo vivo que de certa forma substitui a sua presença na terra.
Como Cristo, o seu "corpo", a igreja é também concebida, batizada, guiada e capacitada pelo Espírito. Foi no
dia de Pentecostes que coletivamente os seguidores de Cristo, pessoas já convertidas, receberam o batismo
com o Espírito, unindo-se em um só organismo vivo chamado igreja, guiado e capacitado pelo Espírito, dando
continuidade ao projeto de Cristo. Da mesma forma que o Espírito concebeu a Cristo, A igreja foi concebida no
dia de Pentecostes pelo derramamento do Espírito. "O Pentecostes foi o nascimento da Igreja Cristã" (WILEY,
290). Como o Espírito desceu sobre Jesus no seu batismo, desceu sobre a igreja batizando-a com o Espírito (At
2.1-4); o Espírito guiou Jesus; a partir daquele dia também guiou a igreja (At 13.2); como o Espírito capacitou
a Cristo, capacitou a igreja, distribuindo dons e ministérios (1 Co 12; Rm 12; Ef 4), de tal forma que poderia
plenamente representar Cristo aqui na terra.
A vitalidade da igreja depende da presença e obra do Espírito. Sem o Espírito a igreja é um cadáver, um
corpo sem vida. Uma igreja não habitada e dinamizada pela sua presença viva é apenas uma organização - um
grupo de pessoas mobilizado em torno de interesses comuns - e não um organismo vivo . Quando a igreja não
tem uma relação de dependência com o Espírito, o que resta são apenas prédios e instituições; instituições
orientadas por regimentos internos e burocracias, liderados por gestores e cheia de intrigas políticas iguais às
demais instituições humanas. Sem o Espírito, o "corpo" de Cristo não exibe as características de Cristo nem
faz o que ele fazia porque não é vivificada pelo Espírito.
"7 !:: A OBRA 00 ESPíR 'O SAN~O lM 8ELAÇÃO AO CFlISTÃO
A vida do cristão é uma vida vinculada intimamente com o Espírito. Sem a presença dele o cristão não
passa de um religioso - uma pessoa com uma cultura evangélica que assiste uma igreja, carrega sua Bíblia,
tem um linguajar recheado de jargão religioso e não pratica certos pecados mais ostensivos. Mas o verdadeiro
cristão é mais que um adepto da religião dos crentes; é um ser humano vinculado com a presença sobrenatural
do Espírito. O cristão é uma pessoa transformada, habitada, guiada, afiliada, unida à igreja e capacitada para
a vida e ministério ... pelo Espírito. Vejamos:
• é o Espírito que nos transformou na regeneração . Num capítulo anterior (3.2) vimos que o novo
nascimento é nascimento pelo Espírito (Jo 3.6; Tt 3.5). É neste momento que nos tornamos cristãos.
Esta obra de regeneração é uma obra do Espírito, a sua presença nos dando vida espiritual, nos
transformando de dentro para fora e nos proporcionando a vida eterna.
• É o Espírito que habita em todos os cristãos. Paulo afirma que "se alguém não tem o Espírito de
Cristo, não pertence a Cristo" (Rm 8.9); mas, por outro lado, se o Espírito está em nós, ele "dará vida
aos seus corpos mortais, por meio do seu Espírito que habita em vocês" (8.11).
• É o Espírito que guia os cristãos. Paulo argumenta que o cristão não segue mais os impulsos da
carne, mas se orienta pelo Espírito que habita nele: "porque todos os que são guiados pelo Espírito
de Deus são filhos de Deus" (Rm 8.14).
• É o Espírito que nos dá a certeza da nossa filiação. Paulo disse que dá testemunho da nossa filiação:
"O próprio Espírito testifica com nosso espírito que somos filhos de Deus" (Rm 8.16; GI 4.6). Pelo
Espírito temos certeza de salvação.
• É o Espírito que nos dá a entrada na igreja de Cristo. Pela sua operação, passamos a fazer parte da
Igreja de Cristo. "Pois em um só corpo todos nós fomos batizados em um único Espírito: quer judeus,
quer gregos, quer escravos, quer livres ..." (1 Co 12.13).
• É o Espírito que capacita os cristãos a viver a vida cristã. A vida cristã é mais que autorreforma, é
mais que se esforçar para melhorar. Depois de nos converter, o Espírito que habita em nós exibe
através do cristão os frutos do Espírito (GI 5.22-25 - próxima seção). Ele que santifica (2 Ts 2.13),
nos capacita a tirar o controle da carne sobre nossa vida (Rm 8. 5-13) e nos transforma à imagem de
Cristo: "... segundo a sua imagem estamos sendo transformados com glória cada vez maior, a qual
vem do Senhor, que é o Espírito" (2 Co 3.18).
• É o Espírito que capacita os cristãos para o ministério. Jesus foi claro ao dizer que os discípulos,
antes de começarem a cumprir a Grande Comissão, precisavam de uma capacitação do Espírito para
exercer o ministério. Falou aos seus discípulos que eles iriam pregar o "arrependimento para perdão
de pecados a todas as nações", mas os instruiu primeiro a aguardar "... a promessa de meu Pai;
mas fiquem na cidade até serem revestidos do poder do alto" (Lc 24.47-49). Atos 1.5 faz o mesmo
relato e usa o termo "batizados com o Espírito Santo" dizendo o que aconteceria em "poucos dias".
Efoi só depois de Pentecoste que a igreja tornou-se uma força dinâmica, inexorável, avançando por
Jerusalém, Judeia, Samaria e até os confins da terra, porque seus membros foram capacitados pelo
Espírito Santo para o ministério.
Agora, no restante do capítulo queremos aprofundar mais na relação do crente com o Espírito Santo
abordando três tópicos fundamentais para quem quer viver uma vida espiritual dinâmica: o batismo com o
Espírito, o fruto do Espírito e os dons do Espírito.
-.
VAN CLEAVE, Nathaniel M . Fundamentos da Teologia Pentecostal. Vol.Il, São Paulo: Quadrangular, 1991. p.56).
Vamos examinar os principais textos bíblicos a respeito, destacando S pontos que nos darão uma visão
bíblica e prática desta experiência.
(NOTA: a próxima seção de 5 pontos é uma adaptação de DUFFIELD, Guy P.; VAN CLEAVE, Nathaniel M.
Fundamentos da Teologia Pentecostal. Vol.Il. São Paulo: Quadrangular, 1991. p.56-87)
É a promessa do Pai (Lc 24.49), é um dom (At 2.38) é o mandamento do Senhor (At 1.4; Ef 5.18) .
••
2) Uma paixão profunda pelas almas (At 2.14-41; 4.19-20; 5.29-31).
3) Um poder para testemunhar (At 1.8; 2.41; 1 Co 2.4,5).
4) Um novo poder na oração e no espírito de adoração (At 3.1; 4.23-31; 10.9; Ef 6.18).
5) Um amor mais profundo pela Palavra de Deus e maior percepção da mesma (João 16.3).
6) As manifestações dos dons do Espírito (I Cor. 12.4-11)
7.5.1.6 Por que muitas pessoas não recebem o batismo com o Espírito
Santo?
Por Prof. Marcas A. T. Lapa
O batismo com o Espírito Santo é um dom exclusivo, uma promessa e um ato subsequente e distinto da
salvação (At 8.12,17; At 19: 1-2). Esta é uma experiência singular, mas para recebê-Ia é necessário:
o entender o propósito do batismo com o Espírito Santo, ou seja, será derramado sobre o cristão
o poder para testemunhar, o poder para servir a Deus. O batismo com o Espírito Santo não é
essencialmente uma arma de defesa, mas um revestimento espiritual para tornar o cristão uma
testemunha poderosa de Jesus Cristo. A ignorância quanto a este fato, impede a recepção deste
batismo, pois Jesus, o batizador, não batizará uma pessoa quando ela não tem o intenso e fervoroso
desejo de servi-lo depois que começou a segui-lo.
o O elemento indispensável para receber o batismo com o Espírito Santo é a fé (GI 3.14). A pessoa
precisa crer na promessa, e entender que o Espírito Santo não está fora dela, mas está habitando
em seu espírito humano, portanto, quanto ela pede o batismo como a Bíblia orienta, espera por
ele, e isto demanda certo tempo de busca, se derrama na presença do Senhor com fé buscando
este batismo em amor e em adoração fervorosa, no transbordar desta adoração, o Espírito Santo
começará a falar em línguas estranhas através desta pessoa já salva (Jo 7.38,39). Deixe o Espírito
Santo falar, coloque a sua língua (órgão vocal) à disposição do Espírito. Será uma manifestação
espontânea da parte dele. A pessoa ficará consciente, não haverá transe, pois o Espírito Santo não
precisa despersonificar uma pessoa para manifestar-se.
o O batismo com o Espírito Santo dependa da fé, e não do merecimento pessoal. E não é exclusivo
para pessoas que exercem liderança ou ministério na igreja. Também não depende do tempo de
vivência na igreja, um novo convertido pode recebê-lo. Há cristãos que são batizados com o Espírito
Santo no momento do seu batismo nas águas também, contudo, esta é uma ação que vem da parte
de Cristo o batizador, e não da pessoa.
o É necessária uma rendição total da pessoa a Cristo. A pessoa precisa se submeter completamente ao
Senhor Jesus para que o Espírito Santo venha sobre ela em plenitude. Se a pessoa tem um coração
dividido onde Cristo não é o Senhor, o batismo não acontecerá. Lembro que cada um vive esta
experiência de rendição à sua maneira.
o É necessário deixar a ansiedade de lado. Quanto mais ansiosa a pessoa estiver, mais difícil é para
receber o batismo.
o Não tenha medo de falar línguas estranhas pelo maligno. Se você é do Senhor Jesus, realmente se
converteu e o ama de todo o coração, então dê liberdade ao Espírito Santo, e repreenda o opressor
que está lhe causando esta insegurança, repreenda o medo, não aceite, e se derrame em fé e receba.
o É necessário "falar", ou seja, glorificar a Cristo. Há pessoas que buscam o batismo com o Espírito
Santo, mas ficam caladas, sem falar, nada acontecerá. Não é um falar sem sentido como eu mencionei,
mas é um falar em glorificação, louvor e adoração a Cristo de todo o coração. Transborde no Espírito
Santo. O Senhor Jesus vê o coração, por isto se você tem um personalidade mais reservada, não
importa, o batismo é para você também, então, na sua maneira, glorifique a Jesus de todo o seu
coração, e espere receber este dom.
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QUADRANGULAR
Uma observação: o dom de línguas estranhas proveniente do batismo com o Espírito Santo não é o dom
de variedade de línguas, é somente a base para que o dom de variedade possa acontecer no futuro, de acordo
com uma decisão exclusiva do Espírito Santo para um fim proveitoso.
Reconhecendo que é o Espírito e não o crente que produz o fruto do Espírito, ainda precisamos seguir
os princípios que favorecem a produção destas facetas do caráter cristão. Em João 15.1-8 Jesus nos deu dois
segredos para esta vida frutífera: submeter-se à poda e permanecer nele.
"Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que, estando em mim, não dá fruto, ele
corta; e todo que dá fruto ele poda, para que dê mais fruto ainda..."
': .. Permaneçam em mim, e eu permanecerei em vocês. Nenhum ramo pode dar fruto por si mesmo, se
não permanecer na videira. Vocês também não podem dar fruto, se não permanecerem em mim."
"Eu sou a videira; vocês são os ramos. 5e alguém permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto; pois
sem mim vocês não podem fazer coisa alguma': (lo 15.1-5)
Para produzir o fruto do Espírito, em primeiro lugar, precisamos nos submeter à poda; "todo que dá fruto
ele poda, para que dê mais fruto ainda". As disciplinas do Senhor doem e não adianta dizer que não. Quem
gosta de ser repreendido por algo que fez de errado? Quem gosta de perceber que no meio de um problema
de saúde ou finanças que Deus está dando umas "varadas" para nos colocar na linha? Mas, a poda, a disciplina
do Senhor, tem o propósito de nos fazer mais parecidos com Cristo. O autor de Hebreus foi claro sobre isso:
': .. Deus nos disciplina para o nosso bem, para que participemos da sua santidade. Nenhuma disciplina
parece ser motivo de alegria no momento, mas sim de tristeza. Mais tarde, porém, produz fruto de justiça
e paz para aqueles que por ela foram exercitados."(Hb 12.10-11)
Não é fácil se submeter à disciplina, admitir as nossas falhas e procurar remediá-Ias. Mas, este é o caminho
para produzir limais fruto ainda".
Em segundo lugar, para produzir o fruto do Espírito, precisamos permanecer em Cristo: "Se alguém
permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto". Como o ramo desconectado da videira há de secar e
morrer, se não estivermos conectados com Cristo diariamente, não produziremos o fruto do Espírito - nosso
caráter cristão será minado e finalmente desaparecerá. Aqui, com certeza, se refere a nossa vida devocional,
aquele tempo que separamos no dia para nos aproximar de Deus em oração e leitura bíblica. Por esta conexão
regular com Deus, flui através de nós a seiva do Espírito que irá produzir o fruto do Espírito, o caráter cristão.
Um colega meu trabalha com pastores com problemas no casamento. São homens aparentemente bem
sucedidos no ministério e na sua maioria são pentecostais - parece que têm o "poder" do Espírito. Porém,
suas vidas pessoais são caóticas: em crise com a esposa, envolvidos com pornografia e frequentemente com
infidelidade conjugal. Apesar de serem de várias idades e circunstâncias, há um traço comum: eles não têm
uma vida pessoal de oração e leitura bíblica. Sim, oram e pregam a Palavra no culto, mas não em casa. Não
"permanecem" em Cristo e consequentemente produzem as obras da carne e não o fruto do Espírito.
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assunto precisamos um esforço redobrado para não 'voar' (como anjos!) longe dos textos. A curiosidade sobre
o assunto e a interpretação especulativa têm levado alguns escritores a formular esquemas e fazer afirmações
que não devem. Um dos perigos da Teologia é ir "além" dos ensinos de Cristo e da Bíblia (2João 9.)
Os textos que mencionam os anjos não são poucos: um teólogo conta 108 menções de anjos no Antigo
Testamento e 165 no Novo (DUFFIELD, Guy P.; VAN CLEAVE, Nathaniel M. Fundamentos da Teologia Pentecostal.
Vol. I. São Paulo: Quadrangular, 1991, p. 280). Mas como Erickson observa, o foco dos textos é mais direcionado
para Deus do que para seus servos angelicais. (ERICKSON, Millard J. Introdução à Teologia. São Paulo: Vida Nova,
1997. p.194) Neste estudo, procuraremos ser ousados em declarar a verdade dos textos claros e cautelosos
em pontos mais obscuros para evitar especulações que não nos levam a nada.
Precisamos também, estabelecer os parâmetros deste capítulo. A Bíblia ensina que houve uma rebeldia
contra Deus entre os anjos em algum ponto da antiguidade, portanto existem bons anjos a serviço de Deus e
anjos caídos a serviço de Satanás, os demônios (veja Ap 12.7). O capítulo 9 será dedicado ao estudo de Satanás
e os demônios mas neste capítulo vamos concentrar nos anjos santos que servem a Deus. Vamos fazer o estudo
bíblico debaixo de quatro tópicos: Anjos, seres espirituais criados (8.1); os nomes e posições dos anjos (8.2);
o ministério dos anjos (8.3) e a relação do crente com anjos (8.4).
CRI C
(TIENOU, Tite. Fundamentos da Teologia Cristã. Org. Robin Keeley. São Paulo: Vida, 2000. p.137).
•
8.1.4 OS ANJOS SÃO SERES PODEROSOS
Não são anjinhos! O Salmo 103.20 chama-os de "anjos poderosos, que obedecem a sua palavra". São
"maiores em força e poder" que os seres humanos rebeldes (2 Pe 2.11; Mt 28.2). "Embora o poder dos anjos
seja grande, ele não é certamente infinito, mas é usado para batalhar contra os poderes demoníacos do mal
que estão sob O controle de Satanás (Dn 10.13; Ap 12.7,8; 20.1-3)." (GRUDEM, Wayne A. Manual de Teologia
Sistemática. São Paulo: Vida, 2001. p.183).
Tanto o termo hebraico (AI. malák) quanto o termo grego (NT. angelos) significam "mensageiro" e são
usados para mensageiros humanos e para anjos (ERICKSON, Millard J. Introdução a Teologia. São Paulo: Vida
Nova, 1997. p.194) . Outros termos usados no Antigo Testamento são: "santos" - (SI 89.5,7) e "vigilantes" -
(Dn. 4.13,17,23). Coletivamente, são chamados de "o conselho" (5189.7); "a assembleia" (5189.5); e exército
ou exércitos (como "O Senhor dos exércitos" encontrado mais que 60 vezes no Antigo Testamento. Ibid. 194)
No Novo Testamento, as expressões usadas incluem "milícia celestial"(Lc 2.13); "espíritos" (Hb 1.14) e em
várias combinações, "principados", "poderes", "tronos", "domínios" e "soberanias" (CI1.16 e 2.15; Rm 8.38;
1 Co 15.24; Ef 6.12). O termo arcanjo aparece duas vezes em 1 Ts 4.16 e Jd 9. (Ibid. 194).
Quanto aos tipos de anjos, sua organização e hierarquia há muita especulação mas não temos como
ser taxativos. A Bíblia fala de seres que podem ser tipos de anjos ou talvez outra ordem de seres celestiais:
Querubins (Gn 3.24; 5118.10; Ez 10.1-22); Serafins (Is 6.2-7) e seres viventes em Ez 1.5-14; Ap 4.6-8 (lbid.194).
Em relação à sua organização e hierarquia, Miguel aparece como "arcanjo" e "príncipe" em Daniel
(10.13), e em Apocalipse 12.7,8 lidera o exército celestial, indicando hierarquia. Os termos mencionados
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acima - "principados , "poderesll, "tronos", "domínios" e "soberanias" - às vezes são hierarquizados, mas é
duvidoso se temos informação suficiente para delinear algum esquema organizacional. Duffield admite: "O que
cada uma dessas designações indica exatamente não fica claro na Bíblia. Não é fácil para nós compreender a
organização celestial" (DUFFIELD, Guy P. e VAN CLEAVE, Nathaniel M. Fundamentos da Teologia Pentecostal.
Vol.Il. São Paulo: Quadrangular, 1991, p.288).
Apenas dois anjos são mencionados por nome na Bíblia: Miguel e Gabriel. Miguel é o guerreiro que se
levanta em defesa do povo de Deus em Daniel 10 e 12. Judas chama-o de "arcanjo" ao descrever sua disputa
pelo corpo de Moisés e em Apocalipse vemos a dimensão do poder de Miguel:
"Houve então uma guerra no céu. Miguel e seus anjos lutaram contra a dragão, e o dragão e os seus
anjos revidaram. Mas estes nãa foram suficientemente fartes, e assim perderam o seu lugar no céu. O
grande dragão foi lançado fara. Ele é a antiga serpente chamada diabo ou Satanás, que engana o mundo
todo. Ele e os seus anjos foram lançado à terra" (Ap 12:7-9).
Gabriel age como portador de grandes notícias, de mensageiro mesmo. Informou Daniel sobre eventos
futuros e o significado de sua visão (Dn 8.15-27; 9.20-27), anunciou o nascimento de João Batista ao seu pai
(Lc 1.13,19) e na maior de todas as suas mensagens, anunciou a Maria a vinda de Jesus (Lc 1.26-28.)
A ideia de um anjo da guarda que acompanha cada individuo (especialmente crianças) faz parte da visão
popular, mas sua comprovação bíblica é questionável. Que uma das funções dos anjos é proteger o seu povo,
sim, é bem fundamentada. Disse o salmista: "Porque a seus anjos ele dará ordens a seu respeito, para que o
protejam em todos os seus caminhos; com as mãos eles o segurarão, para que você não tropece em alguma
pedra" (SI 91:11-12). O texto usado para dizer que há um anjo designado a cada pessoa é Mateus 18.10:
"Cuidado para não desprezarem um só destes pequeninos! Pois eu lhes digo que os anjos deles nos céus
estão sempre vendo a face de meu Pai celeste." O consenso teológico é que a ênfase do texto é a adoração
dos anjos e não é base suficiente para comprovar da sua designação a cuidar de certas pessoas (Veja Erickson
197, Grudem 182,183, Duffield, 298,299).
"Então olhei e ouvi a voz de muitos anjos, milhares de milhares e milhões de milhões. Eles rodeavam
o trono, bem coma as seres viventes e as anciãos, e cantavam em alta voz: "Digna é a Cordeiro que foi
morta de receber poder, riqueza, sabedoria, força, honra, glória e louvar! "
(Ap 5.11-12; também veja 7.11;8.1-4).
Talvez por causa da natureza misteriosa dos anjos, se perceba uma dificuldade na parte dos crentes de
lidar com a sua realidade. Enquanto alguns ficam excessivamente fascinados por eles, a maioria erra para o
outro lado: desconhece ou ignora estes seres ministradores.
(GRENZ, Stanley J. Theology for the Community of Gad. Grand Rapids: Eerdmans, 1994. p. 218) .
•••
Deus quer que sejamos conscientes do ministério dos anjos entre nós; por isso fez questão de fazer
múltiplas referências às suas realidades e atividades. Por exemplo, na luz dos pontos acima:
./ devemos nos lembrar de que na hora que estivermos louvando a Deus, estamos fazendo parte de
um coral celestial!
./ Não devemos descartar a possibilidade de uma comunicação angelical.
./ Devemos ser gratos por momentos de proteção ou livramento de acidente.
Grudem também nos lembra de que os anjos podem se envolver em nosso progresso espiritual. Por
exemplo, podem ser usados por Deus para testar a nossa hospitalidade: "Não se esqueçam da hospitalidade;
foi praticando-a que, sem o saber, alguns acolheram anjos" (Hb 13.2 com Gn 18.2-5). "Pois nos maravilharia se
algum dia, ao entrarmos no céu, encontrássemos o anjo a quem ajudamos quando apareceu temporariamente
como um ser humano em miséria aqui na terra" (GRUDEM, Wayne A. Manual de Teologia Sistemática. São
Paulo: Vida, 2001. p.186). Não devemos esquecer que os anjos estão na ativa no mundo contemporâneo!
Da mesma forma que a Bíblia nos incentiva a não nos esquecermos do ministério de anjos em nosso
meio, também nos alerta para possíveis perigos. Grudem lista alguns cuidados que o crente deve tomar em
relação aos anjos (lbid.,187).
Precavenha-se para não receber doutrina falsa dos anjos. Paulo sabia desta possibilidade. "Mas ainda que
nós ou um anjo do céu pregue um evangelho diferente daquele que lhes pregamos, que seja amaldiçoado!"
(Gálatas 1:8). Não devemos buscá-los como fonte de doutrina porque não é a sua função e nem todos os
anjos são verdadeiros; o próprio Satanás é capaz de se disfarçar como anjo de luz (2 Co 11.14). Um exemplo
de doutrina falsa ensinada por um anjo encontra-se na história dos Mórmons e o anjo Moroni.
Não adore os anjos. Uma doutrina falsa que apareceu no tempo de Paulo foi a adoração de anjos (2.18).
Somente Deus pode ser adorado. Os próprios anjos sabem disso. Quando João se deparou com uma destas
criaturas poderosas, "... caí aos seus pés para adorá-lo, mas ele me disse: "Não faça isso! Sou servo como você
e como os seus irmãos que se mantêm fiéis ao testemunho de Jesus. Adore a Deus!" (Ap 19.10).
Não ore aos anjos. Historicamente, algumas vertentes de Cristianismo têm sido tentadas a procurar outros
mediadores como Maria e os santos. Nem eles nem um anjo podem ser mediadores: "Pois há um só Deus e
um só mediador entre Deus e os homens: o homem Cristo Jesus ..." (1 Tm 2.5).
Não busca aparições de anjos. A escritura em lugar algum sugere esta busca. Deus comanda estes seres
invisíveis e geralmente eles trabalham incógnitos. Disse Grudem que uma busca assim "... parece indicar uma
curiosidade doentia ou o desejo por um espécie de evento espetacular em vez do amor de Deus ..." (Ibid. 187).
Existe um mundo invisível habitado por seres espirituais criados por Deus para servi-lo e para ajudar no
seu governo. Apesar de não nos fornecer uma Teologia Sistemática de Angiologia, a Bíblia nos mostra que são
seres incorpóreos, dotados de personalidade e moralidade. São seres poderosos, organizados e opositores
da ala dos anjos caídos. Louvam a Deus, ministram aos cristãos, trazem mensagens e julgamento da parte de
Deus e acompanharão os acontecimentos finais deste mundo. Enquanto conscientes dos limites bíblicos a
seu respeito, devemos nos conscientizar do seu papel no reino, sendo gratos a Deus por estes seres celestiais
maravilhosos.
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• Houve uma rebeldia contra Deus entre os anjos, portanto existem bons anjos a serviço de Deus
e anjos caídos. Neste capítulo nos concentramos nos anjos santos que servem a Deus debaixo de
quatro tópicos: seres espirituais criados, seus nomes e posições, seu ministério e a relação do crente
com anjos.
• Anjos são seres espirituais, incorpóreos, criados por Deus. São pessoas dotadas de inteligência e
moralidade e possuem grande poder.
• o nome anjo significa "mensageiro". Na Bíblia são conhecidos por vários nomes e por serem
numerosos são chamados na coletividade de exército ou milícia. Apesar de indícios de uma hierarquia
entre eles (arcanjo, por exemplo) é difícil determinar a sua organização.
• A Bíblia também fala de tipos de anjo - querubim, serafim e seres viventes - e dá o nome de dois:
Miguel e Gabriel.
• O ministério dos anjos é diversificado. Por exemplo, louvam a Deus, ministram aos cristãos, trazem
mensagens e julgamento da parte de Deus e acompanharão os acontecimentos finais deste mundo.
• Como cristãos, devemos cultivar uma consciência e apreciação por seu grande ministério e na mesma
hora observar alguns cuidados: nos alertar de doutrinas falsas propagadas por anjos falsos, não orar
aos anjos nem adorá-los ou correr atrás de aparições.
Outra parte da população cristã erra para o outro lado; é obcecada pelo
demônio e ocultismo. Vê o demônio atrás de toda arvore; como o causador das
doenças e dos pecados e é apontado como o responsável por toda maldade
humana. Uma excessiva atenção e curiosidade pode fazer o demônio "crescer"
desproporcionalmente em relação a Deus. Na mente da pessoa que aprofunda
demais no assunto, o poder do demônio começa a se aproximar do poder de
Deus.
Em nosso estudo, procuraremos um equilíbrio bíblico entre estes dois
extremos. Satanás e seus seguidores são reais e perigosos, sim, mas Jesus é
o Senhor, infinitamente mais poderoso que qualquer anjo caído, e como seus
discípulos temos sua autoridade para resistir a todas as suas estratégias e
investidas.
que servem ao Senhor. Neste capítulo estudaremos a ala dos anjos rebeldes, os demônios, encabeçados por
Satanás. Começaremos com a origem dos poderes do mal (9.1), depois fistaremos as suas atividades maléficas
(9.2), desmascaremos a sua influência estrutural (9.3) e terminaremos com as boas notícias, a autoridade do
cristão sobre os poderes do mal (9.4) . Como sempre, nosso livro texto principal será a Bíblia.
Mesmo sem uma compreensão completa das estruturas ou "poderes" da existência, na prática, sabemos
que Satanás tem de fato, "entortado" as instituições que devem dar suporte para a sociedade. Quanta coisa
errada os nossos filhos aprendem do sistema educacional? Quantos equívocos éticos são inculcados em
nossa mente pela força da mídia? Quantas mulheres sofrem maus tratos legalizados ao redor do mundo?
Até dentro da igreja, vejamos evidências da sua atuação: autopromoção, enriquecimento, disputa de poder,
fofoca e politicagem são realidades vergonhosas de uma estrutura que deveria refletir a vida de Cristo. Ron
Sider aponta como o pecado se infiltra em outras estruturas, destacando a escravidão, o trabalho infantil, mau
trato de pobres e descriminação racial:
"Muitos cristãos pensam que sabem o que é pecado. "Coisas como mentir; roubar e fornicar. Mas a
Bíblia liga o pecado não apenas a atos individuais conscientemente admitidos como esses, mas também
a opressão dos pobres ... O Salmo 94 diz que os governos perversos fazem o mal: "tendo por pretexto
uma lei'~ O pecado penetrou nas leis devidamente autorizadas da sociedade ... Temos de olhar para o
atual sofrimento das minorias e dos pobres e perguntar até que ponto seus problemas se devem ao
pecado no sistema" (SIDER, Ron. P'170,171, Fundamentos da Teologia Cristã. Org. por Robin Keeley.
São Paulo: Vida, 2000.)
Precisamos aprender a nos opor a todo tipo de atividade demoníaca, não somente no nível pessoal, mas
estrutural. Precisamos discernimento para detectar a infiltração sutil de atitudes e conceitos malignos em
nossa maneira de pensar e viver. É fácil ver estas estruturas distorcidas em outras sociedades e organizações,
mas muit as vezes se escondem em nossas cu lturas e organizações (até na igreja!). Até podemos os discernir
e consertar, mas podemos estar cooperando, inconscientemente, com as estratégias demoníacas.
CONCI U8c\0
Mesmo sendo cristãos, não moramos no céu, mas numa terra disputada. A terra pertence ao Senhor, mas
foi invadida pelo pecado e o mal. A batalha chave foi ganha na cruz de Cristo, mas há muito território ainda que
precisa ser recuperado do inimigo. A guerra não vai terminar até a volta de Cristo, mas não precisamos ficar
amedrontados. Jesus é o Senhor e ele está conosco até o final: nunca vai nos abandonar e estamos seguros
que pertence a Ele a vitória. Um dia, todo joelho se dobrará diante dele confessando seu senhorio. Vamos nos
submeter a ele hoje e temos certeza de que o inimigo há de fugir de nós! (Tg 4.7).
, "':8 110 CA J ~
• No capítulo anterior, estudamos os anjos que servem ao Senhor. Neste capítulo estudamos a ala
dos anjos rebeldes encabeçados por Satanás sob 4 tópicos: a origem dos poderes do mal, as suas
atividades maléficas, a sua influência estrutural e a autoridade do cristão sobre eles.
• Encontramos realidades espirituais na Bíblia chamadas demônios, seres maléficos que faziam
parte da ordem angelical mas se rebelaram contra o governo de Deus. O chefe desta rebeldia e
dos demônios é o Diabo (palavra grega diabolos) ou Satanás (palavra derivada da palavra satan em
hebraico), ambos significam "acusador" ou "adversário".
• Sabemos pouco sobre a origem dos demônios e devemos evitar a especulação sobre as coisas não
reveladas; o que sabemos com certeza é que existem e são perigosos.
• Quanto ao trabalho de Satanás e dos demônios, listamos 5 atividades principais: são incentivadores
ao pecado, querem prejudicar as pessoas, opõem-se a obra de Deus, induzem ao engano e desejam
possuir as pessoas.
• O nosso adversário trabalha em dois níveis: ele mesmo, através dos seus subordinados, procura
executar o mal dotodo tipo, mas também trabalha para invadir as estruturas humanas: governamentais,
intelectuais, educacionais, morais, religiosas, econômicas, educacionais e de comunicação.
• Temos várias verdades e promessas de Deus que garantem a nossa vitória sobre os poderes malignos:
o poder dos demônios é limitado, são inimigosjá derrotados na cruz e Deus tem nos dado autoridade
sobre eles.
"Disse-lhes ele: E vós, quem dizeis que eu sou? E Simão Pedro, respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho
do Deus vivo. E Jesus, respondendo, disse-lhe: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não
revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus. Pois também eu te digo que tu és Pedro,
e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela; E eu
te darei as chaves do reina dos céus; e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que
desligares na terra será desligado nos céus" (Mt 16.15-19).
Não é um texto muito fácil de entender. Enquanto afirma claramente que é Jesus que constrói a igreja,
e que esta igreja há de prevalecer contra todos os obstáculos, também levanta algumas perguntas: o que que
significa ekklesia? Quem ou o que é a pedra? Qual o papel de Pedro? Quais são as portas do inferno? Johnson
procura pincelar respostas de forma resumida:
"Acreditamos que o significado de ekklesia é arraigado na conceito de qahal (a assembleia ou
congregação do povo de Deus) do Antigo Testamento, a palavra usada para a comunidade do povo de
Deus. Jesus não se refere a uma organização, mas a uma comunidade de pessoas pertencente a ele dos
quais os discípulos eram considerados representantes.
Para identificar a "pedra" é mais difícil. Há um jogo de palavras no grego: Pedro é petros (pedra); rocha
é petra. Isso levou alguns a afirmar que foi sobre Pedro que a igreja foi edificada ... outros creem que a rocha
se refere a Cristo, (ou a fé em Cristo manifestada por Pedro ... Pedro certamente teve um papel importante
na fundação e extensão da igreja em Atos ... mas não há nenhuma indicação que ele passou este papel para
aIgum sucessor.
As portas do inferno ou hades podem denotar o poder da morte ... que através da cruz e ressurreição
Cristo destronou ...
... Finalmente... as chaves devem ser entendidas, não como poder de um ofício eclesiástico, mas à
responsabilidade de barrar ou abrir entrada para o Reino de Deus (veja Mt 23.14; Lc 11.S2). Cristo mesmo é a
única forma de entrar no reino e para a nova comunidade (ekklesia, cf Ap 1.18; 3.7). Pedro, como representante
de Jesus, declara a mensagem de perdão em Cristo, primeiro aos Judeus (At 2) e depois aos gentios (At 10)
assim abrindo ou fechando a porta para o reino e a vida eterna". (JOHNSON, Alan F.; Robert E. Webber. What
Christians Believe. Grand Rapids: Zondervan, 1993. p. 333,334).
Não cabe aqui um estudo profundo da história da igreja, mas apenas salientar os pontos principais na
evolução da igreja nos dois milênios depois de Cristo. Vamos dividir em 3 períodos históricos principais que
realmente deram direção à igreja como conhecemos hoje: antiga, medieval e reformada.
--lF ...., EJ L ~ s IS
Temos visto que a Teologia da igreja tem sido formulada pela Bíblia e também pela história. A eclesiologia
tem tomado várias formas: há uma grande variedade em ênfase ministerial, forma de governo e os nomes
dados à liderança e todos têm a sua base bíblica. Acredito que esta controvérsia vai continuar e que talvez
não seja tão critico para o futuro da igreja enquanto as formas não ferem os princípios bíblicos essenciais.
Tudo indica que Deus gosta de diversidade. Agora, os princípios fundamentais são comunicados não apenas
em declarações doutrinárias. A Bíblia usa muitas figuras e metáforas para retratar a essência da igreja (um
estudioso contou mais que 100!). Nesta última parte do capítulo, queremos olhar mais de perto 3 metáforas
paulinas que resumem bem a essência da igreja: Igreja como Povo de Deus, Corpo de Cristo e Templo do
Espírito (adaptado de ER"lCKSON, Millard J. Introdução a Teologia. São Paulo: Vida Nova, 1997. p. 439-444)
1 0 .4 .1 POVO DE DEUS
Como Deus tinha a sua nação, o seu povo no Antigo Testamento, tem no Novo; a igreja é constituída do
povo de Deus: "...e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo"(2 Co 6.16) A ideia do povo de Deus é bem
explícita no Antigo Testamento (Êx [5.13,16; Nm 14.8; Is 62.4) e se limitava aos filhos de Abraão. Mas, no Novo
Testamento este povo não é mais limitado a uma etnia ou nação como no Antigo Testamento. Paulo, citando
a voz profética de Oseias, afirma:
'~ .. ou
sejo, a nós, a quem também chamou, não apenas dentre os judeus, mas também dentre os gentios?
Como ele diz em Oseias: "Chamarei 'meu povo' a quem não é meu povo; e chamarei 'minha amada' a
quem não é minha amada'; e: 'llcontecerá que, no mesmo lugar em que se lhes declarou: 'Vocês não são
meu povo; eles serão chamados 'filhos do Deus vivo' " (Rm 9.24-26).
No Antigo Testamento o povo de Deus se constituía por uma aliança, sinalizada pelo rito de circuncisão;
Paulo mostrou que o sinal da nova aliança era uma circuncisão interna do coração: "... Judeu é quem o é
interiormente, e circuncisão é a operada no coração, pelo Espírito, e não pela lei escrita" (Rm 2:29).
Deste povo de Deus espera-se uma qualidade especial de santidade; como um novo povo de Deus,
portador do nome de Cristo, Deus espera santidade da igreja.
"Cristo amou a igreja e entregou-se a si mesmo por ela para santificá-Ia, tendo-a purificado pelo lavar
da água mediante a palavra, e apresentá-Ia a si mesmo como igreja gloriosa, sem mancha nem ruga ou
coisa semelhante, mos santa e inculpável." (EI5.25b-27).
Que privilégio, que responsabilidade, sermos chamados o "povo de Deus"!
A metáfora do corpo talvez seja a mais ilustrativa do funcionamento da igreja. "Essa figura salienta que a
igreja é agora o centro da atividade de Cristo, assim como seu corpo fisico a centralizava durante seu ministério
terreno" (Erickson, 441). Esta figura se usa para falar da igreja universal- a igreja invisível composta de todos
os cristãos no mundo:
"Deus colocou todas as coisas debaixo de seus pés e o designou como cabeça de todas as coisas
para a igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que enche todas as coisas, em toda e qualquer
circunstância" (El1.22-23).
Usa-se a figura do corpo também para se referir à igreja local:
"Ora, vocês são o corpo de Cristo, e cada um de vocês, individualmente, é membro desse corpo"
(1 Co 12.27).
De que forma a igreja assemelha-se a um corpo? Erickson nota seis paralelos entre a figura de corpo e
a igreja de Cristo:
1) Cristo é a cabeça desse corpo do qual os crentes, como indivíduos, são membros ou partes. Ele é o
Senhor da igreja. Ela deve ser guiada e controlada por suas orientações e atividade. "Ele é antes de
todas as coisas, e nele tudo subsiste. Ele é a cabeça do corpo, que é a igreja" (CI1:17-18).
2) A figura do corpo de Cristo também fala da ligação mútua e interdependência entre todas as pessoas
que compõem a igreja. Crente solitário não existe: quem se converteu faz parte do corpo. Se cortar
o dedo fora do corpo, fatalmente morrerá. Dependemos dos dons, encorajamento e disciplina
dos outros. "Ora, assim como o corpo é uma unidade, embora tenha muitos membros, e todos os
membros, mesmo sendo muitos, formam um só corpo, assim também com respeito a Cristo ... Se o
pé disser: "Porque não sou mão, não pertenço ao corpo", nem por isso deixa de fazer parte do corpo .
E se o ouvido disser: "Porque não sou olho, não pertenço ao corpo", nem por isso deixa de fazer
parte do corpo ... De fato, Deus dispôs cada um dos membros no corpo, segundo a sua vontade" (1
Co 12.12, 15-18).
3) O corpo deve ser caracterizado por comunhão genuína. Não significa apenas boas relações sociais,
mas intimidade e cuidado mútuo que resulta em empatia. "... que todos os membros tenham igual
cuidado uns pelos outros. Quando um membro sofre, todos os outros sofrem com ele; quando um
membro é honrado, todos os outros se alegram com el." (1 Co 12.25-26).
4) O corpo deve ser unido. Mesmo a igreja primitiva sofria com divisões (1 Co 1.10-17). mas não
podemos nos contentar com isso. Somos de um corpo só, e cabe a nós fazer esforço para conservar
esta unidade essencial. "Façam todo o esforço para conservar a unidade do Espírito pelo vínculo da
paz. Há um só corpo e um só Espírito, assim como a esperança para a qual vocês foram chamados é
SISTEMATICA 3
uma só; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos, que é sobre todos,
por meio de todos e em todos" (Ef 4.3-6; veja 1 Co 12.Í2,13).
5) O corpo de Cristo é também universal. Todas as barreiras de raça, nacionalidade, classe social, gênero
foram abolidas em Cristo.
"Nessa nova vida já não há diferença entre grego e judeu, circunciso e incircunciso, bárbaro e cita,
escravo e livre, mas Cristo é tudo e est á em todos" (CI 3.11).
6) Sendo o corpo de Cristo, a igreja é uma extensão do ministério dele. Jesus tinha toda autoridade e
ele enviou os seus discípulos para continuarem a sua obra na terra, de evangelizar, batizar e ensinar
(Mt 28.18). Por causa da autoridade que ele outorgou aos discípulos, poderiam fazer obras parecidas
com a obra dele, no nome dele. "Digo-lhes a verdade: Aquele que crê em mim fará também as obras
que tenho realizado. Fará coisas ainda maiores do que estas, porque eu estou indo para o Pai. E
eu farei o que vocês pedirem em meu nome, para que o Pai seja glorificado no Filho. O que vocês
pedirem em meu nome, eu fare." (Jo 14.12-14).
rOI C .USÃD
A nossa visão da igreja é pequena demais. Focamos em nossa igreja local ou no universo da nossa
denominação. Mas, o retrato bíblico da igreja de Cristo é muito maior. É um organismo fundamentalmente
divino, indestrutível, marchando pelos séculos da história. Nunca tem sido perfeita por ser constituída por
homens imperfeitos; mas mesmo assim é obra da Trindade: é o povo de Deus, o corpo de Cristo e o templo
do Espírito Santo. E pessoas comuns como nós, têm o privilégio de fazer parte desta igreja e trabalhar em prol
do seu crescimento!
RESUMO DO CAPíTULO 10
• Iniciamos o nosso estudo da eclesiologia, a doutrina da Igreja . Começamos neste capítulo com o
retrato bíblico e histórico da igreja incluindo o embasamento bíblico no Antigo e Novo Testamento,
uma visão histórica do seu desenvolvimento e finalmente três metáforas bíblicas sobre a igreja.
• Como introdução para a doutrina da igreja, encontramos no Antigo Testamento o pano de fundo
que é o povo de aliança, a "congregação" e a "assembleia". Deus trabalhou com indivíduos, sim,
mas também chama um povo a si, para que este povo seja identificado com ele e seja mediador
dos seus propósitos no mundo.
• No Novo Testamento, o próprio Jesus ensinou que não somente chamava indivíduos a segui-lo, mas
pretendia formar a sua igreja para tomar o seu lugar. Em Atos presenciamos o início da igreja no dia
de Pentecostes e a sua expansão pelo mundo liderada pelos apóstolos. As epístolas aprofundam
o conceito da igreja mostrando sua inclusão de judeus e gentios, a constituição e liderança e seu
funcionamento espiritual.
• Na parte histórica, vemos como a igreja antiga procurou se estruturar em torno da liderança, ensino e
serviço. Logo começou a crescer o poder dos bispos, culminando na era medieval no poder absoluto
do papa e os abusos que acompanharam . Os reformadores tiraram o bispo e a estrutura visível do
centro da igreja, substituindo com a Palavra e o sacerdócio de todos os crentes.
• A igreja não tem sido perfeita por ser constituída por homens imperfeitos; mas mesmo assim as
metáforas de Paulo mostram que é obra da Trindade: é o povo de Deus, o corpo de Cristo e o templo
do Espírito Santo.
Acredito que é aqui que achamos a missão que une todas as demais atividades da igreja. A missão principal
da igreja é de fazer discípulos para a Glória de Deus. Evangelizar para converter pessoas, incorporá-Ias à igreja,
ensinar a Bíblia, aconselhar, promover comunhão, trabalhar com famílias, levar a adorar a Deus, atender as
suas necessidades, tudo isso acaba sendo o meio de cumprir a missão de fazer discípulos.
Este reconhecimento de que a missão principal da igreja é fazer discípulos tem várias implicações.
1) Em primeiro lugar, se fazer discípulos é a missão, precisamos saber o que é um discípulo. Creio que
concordamos que um discípulo não é apenas uma pessoa que levantou a mão para aceitar Jesus.
Ser discípulo é muito mais que isso. Também, um discípulo não é um cristão perfeito, totalmente
maduro. Nem os doze discípulos de Jesus eram perfeitos. O Interpreters Dictionary of the Bible diz
que "discípulo" (mathetes em grego) equivale a "cristão". Vine mostra que a palavra é derivada do
verbo aprender, logo, "denota seguir um mestre ... (mas) o discípulo não era apenas aluno ... mas
imitador do seu mestre" (VINE, W.E. Expository Dictionary. Old Tappan: Revel!, 1981. p.316). Poderia
definir de várias formas um discípulo, mas essencialmente, é uma pessoa nascida de novo, destinado
ao céu, que seja aprendiz e imitador de Cristo.
2) Em segundo lugar, se a missão principal da igreja é fazer discípulos, é esta missão que torna-se o alvo
da igreja. Donaldo McGavran foi pioneiro em reexaminar o alvo da igreja na luz do imperativo de
fazer discípulos. No seu livro clássico Understanding Church Growth, Compreendendo o crescimento
da igreja, Grand Rapids: Eerdmans,1973, mostrou que o alvo da igreja não era "dar uma chance para
todos ouvirem o evangelho": chamava isso da "teologia da semeadura", uma teologia incompleta
que não se preocupava em colher frutos, mas só em semear. Argumentou também que o alvo não
era "levar pessoas a uma decisão": seria como deixar o nenê crescer sozinho. O alvo da igreja é de
fato fazer discípulos. McGavran definiu a igreja e seu alvo assim: "a proclamação das boas novas de
Cristo com o alvo de persuadir os homens a se tornarem discípulos de Cristo e membros fidedignos
de sua igreja."
3) Se a missão da igreja é fazer discípulos, torna-se o critério para medir o progresso da igreja. Como
medimos O sucesso ou não sucesso da igreja? Pelo número de discípulos que estamos fazendo! Não
pode ser o número de decisões; hoje, muitas pessoas que 'decidem' nunca se tornam discípulos.
Não pode ser apenas a frequência da igreja - a frequência pode refletir apenas o número de pessoas
interessadas na igreja. Nem é o número de membros; muitos membros vêm de outras igrejas. A
pergunta precisa ser: quantos pecadores estão sendo levados a Cristo e tornam-se discípulos dele?
Naturalmente, esta visão produzirá o crescimento verdadeiro da igreja, o aumento do número de
discípulos de Cristo.
Então, segundo a grande comissão, a missão principal da igreja é fazer discípulos. Uma vez estabelecida
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a missão principal da igreja, as outras tarefas começam a se encaixar cada uma em seu lugar. Os outros verbos
no texto de Mt. 28.18-20 entram em cena:
• segundo o texto, para fazer discípulos, precisamos "ir". A igreja tem que ser proativa em levar o
evangelho para pessoas que não conhecem Jesus. "Ir" é mais do que deixar as portas da igreja
aberta. Implica coragem, criatividade e mobilidade para pregar aos pecadores de Jerusalém, Judeia,
Samaria e aos confins da terra.
• Para fazer discípulos, precisamos "batizar". Isso é, levar as pessoas a uma decisão radical de seguir
a Cristo. Batizar, também, implica integrá-Ias na igreja local.
• Para fazer discípulos precisamos "ensinar". Os novos discípulos precisam conhecer a Bíblia, precisam
ser orientados na sua vida cristã. Mas o texto ensina outro aspecto negligenciado: "ensinando-os
a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei." A ênfase do texto grego, segundo estudiosos, não é de
ensinar IItudo o que eu lhes ordenei", mas é no ensinar a lIobed ecer", "Significa que para ser um
discípulo, precisa concordar em obedecer a Jesus daquele dia e diante. Significa que Jesus, além de
ser salvador, é Senhor."(WAGNER, Peter. Strategies for Church Growth. Ventura: Regai, 1987. p.53).
A missão da igreja, essencialmente sua razão de existir, é de continuar o que Jesus fazia: fazer discípulos
pa ra a gloria de Deus.
Os discípulos, agora cheios do Espírito, começaram a cumprir a missão na sua própria cidade. Foi em
Jerusalém que evangelizaram e ganharam milhares de pessoas e fizeram dessas pessoas discípulos, ensinando-
os e integrando-os na igreja (At 2. 40-47) E, é claro, devemos fazer o mesmo. São as pessoas próximas a nós
que devem ser os primeiros beneficiários do evangelho. Às vezes ficamos mais empolgados em fazer 'viagens
missionárias' do que trabalhar com as pessoas da nossa vizinhança e do nosso relacionamento. Mas a missão
de fazer discípulos começa com nossos conhecidos, (nosso oikos em grego), que inclui parentes, amigos,
colegas de serviço, vizinhos, enfim, as pessoas com quem temos contato regular. A missão da igreja é achar
estas pessoas perdidas e delas fazer discípulos.
Mas, a missão vai além do nosso local. É muito fácil desenvolver uma 'miopia' em relação a nossa missão. O
nosso desejo natural é de levar as pessoas mais próximas a Jesus. No caso da igreja primitiva, focaram mais nos
judeus da sua cidade de Jerusalém. Mas, Jesus fez questão que olhassem além. Anteriormente, no ministério,
ele já tinha feito esta alerta: " ... Abram os olhos e vejam os campos! Eles estão maduros para a colheita" (Jo
4.35). E agora chama sua atenção para a região em que moravam (Judeia) e depois para um povo vizinho e
para o resto do mundo. Parece que a tendência de ficar na zona de conforto era muito forte e só depois de
chegar a perseguição que os discípulos obedeceram a ordem de ampliar a extensão da missão. "... Naquela
ocasião desencadeou-se grande perseguição contra a igreja em Jerusalém. Todos, exceto os apóstolos, foram
dispersos pelas regiões da Judeia e de Samaria" (At 8:1).
A igreja precisa zelar para não perder a extensão desta missão de fazer discípulos. Começa, sim, em nossa
Jerusalém, mas precisamos nos livrar da 'miopia' que tão facilmente nos aflige. Quantas igrejas trabalham
em localidades onde precisam concorrer com as igrejas vizinhas enquanto em outros lugares no estado,
ou em outros países ninguém está fazendo discípulos! Estive recentemente numa cidade onde até 50% da
população era evangélica e que ainda mais igrejas estavam chegando! Precisamos nos levantar os olhos para
o nordeste brasileiro e o estado do Rio Grande do Sul onde há municípios sem nenhuma igreja evangélica e
alguns municípios que não registram a presença de uma única pessoa evangélica! Precisamos acordar para
países vizinhos como Uruguai, com um porcentual baixíssimo de crentes. Precisamos abrir os olhos para a
janela 10/40 onde fica o maior número de povos não alcançados!
Estudiosos creem que o texto "... serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria,
e até os confins da terra" não aponta uma estratégia sequencial; que a igreja local deve primeiro se preocupar
em alcançar sua Jerusalém, para depois ir para sua Judeia, Samaria e aos confins da terra. Acredita-se que
esta preocupação global deve ser simultânea. A igreja local deve estar fazendo discípulos na sua vizinhança,
sim, mas simultaneamente estar envolvida na missão estadual e transcultural. O sentido do texto seria que a
igreja local estivesse fazendo discípulos no seu local e ajudando na missão global pela sua contribuição, oração,
envio e cuidado de missionários fora do seu raio de alcance. Foi isso que a igreja de Antioquia fez em Atos
13.1-4, enviando seus melhores obreiros (Barnabé e paulo) para lugares mais distantes enquanto continuou
a fazer a obra local.
A missão da igreja é fazer discípulos e esta missão se estende para o mundo inteiro.
Há muitos métodos envolvidos na tarefa de evangelizar e fazer discípulos. Sendo que este livro não é
especificamente sobre o evangelismo, não vamos entrar nas diversos meios de fazer conhecido o evangelho.
Apenas queremos realçar a importância da metodologia de plantar igrejas.
Durante as últimas décadas, várias metodologias promissoras têm surgido. Depois da segunda guerra
começou uma nova onda de evangelismo de cruzadas, um movimento encabeçado pelo grande homem de
Deus, Billy Graham. Muitas pessoas conheceram Jesus através das grandes concentrações realizadas. Mas, a
própria Associação Billy Graham admitiu que a porcentagem de pessoas que atenderam o apelo para salvação
e que acabaram se integrando em igrejas locais era muito pequena. Um pesquisador calcula que das pessoas
que fizeram decisões em cruzadas deste tipo, a porcentagem de integradas na igreja local em geral seja inferior
a 10%. (WAGNER, Peter. Strategies for Church Growth. Ventura: Regai, 1987. p.138). O uso da mídia, literatura,
rádio e televisão (e agora internet) também tem sido uma ferramenta para a evangelização. Outra iniciativa tem
sido as missões que enviam equipes para evangelizar em praça, nas faculdades e de porta em porta; e estas
equipes têm sido também uma ferramenta para fazer discípulos. Porém, uma pesquisa americana mostrou
que mais que 80% das pessoas que se convertem, não são por cruzadas, mídias ou equipes de evangelismo,
mas por meio de uma pessoa conhecida que depois as leva para sua igreja.
Estes dados devem ser um alerta para nós em termos de metodologias evangelísticas, mas deve nos
levar a outra consideração: muitos destes métodos deixam fora o princípio de fazer discípulos como missão
da igreja. Estes esforços acontecem de forma desvinculada da igreja local. Por isso, depois de baixar a poeira,
restam poucos discípulos como resultado.
Surgiu nos anos 70 um conceito interessante com a finalidade de vincular esforços evangelísticos à igreja
com o intuito de fazer mais discípulos; evangelismo do corpo. Resumindo, esta visão "insistia em levar os não
cristãos à fé em Cristo e integrá-los no Corpo de Cristo como parte do processo de evangelismo" (WAGNER,
Peter. Strategies for Church Growth. Ventura: Regai, 1987. p.147). Não aceitava esforços evangelísticos que
não fossem integrados com a igreja.
Tudo isso nos leva à questão da importância de plantação de igrejas como método de fazer discípulos.
Primeiro, a melhor maneira de calcular quantos discípulos estão sendo feitos é pela plantação e crescimento
da igreja. Claro, se a igreja estiver "pescando no aquário" das outras, esta medição não funciona. Mas, de
modo geral, uma igreja plantada que está crescendo em convertidos integrados evidencia o cumprimento da
sua missão de fazer discípulos.
Segundo, o método mais comprovado de fazer discípulos para Cristo é a plantação de novas igrejas. Campos
menos alcançados precisam não apenas de indivíduos pregando, mas de formação de novas congregações
de cristãos. Mesmo em lugares que já possuem igrejas, pesquisas mostram que igrejas novas crescem mais
que igrejas velhas. Nisso é subentendido que não estamos falando de igrejas novas que sugam membros de
igrejas já existentes. Por estas razões o estudioso Peter Wagner fala o seguinte:
'~ experiência tem me ensinado o perigo de fazer afirmações categóricas a respeito de princípios de
crescimento da igreja. Mas um princípio que afirmo frequentemente e provavelmente continuarei
a afirmar é este: plantar igrejas é a metodologia evangelística mais eficaz debaixo dos céus. É a
verdade tanto em campos novos quanto em campos velhos. Acredito que devamos nos esforçar para
simultaneamente renovar igrejos existentes e multiplicar igrejas novas" (WAGNER, Peter. Strategies for
Church Grawth. Ventura: RegaI, 1987. p.168,169).
A missão da igreja é fazer discípulos; a metodologia sempre gira em torno da multiplicação e crescimento
de igrejas.
A missão da igreja é fazer discípulos, cristãos parecidos com o mestre. A formação de discípulos abrange
a pessoa como um todo; corpo, alma e espírito. Como vimos em capítulos anteriores, os vestigios de dualismo
ainda existem no meio cristão, sugerindo que precisamos apenas salvar a "alma" das pessoas porque o
corpo não vale nada mesmo. Mas, no ministério de Jesus e na igreja primitiva, havia uma preocupação com
a pessoa na sua totalidade. Como o pecado destruiu a pessoa como um todo, afetando tanto espírito como
a alma e o corpo, a salvação completa é para o homem todo. A igreja, na sua missão de fazer discípulos, vai
desenvolver uma missão "integral", procurando atender, além das necessidades espirituais, as necessidades
físicas, emocionais, econômicas e de justiça. Diz Duffíeld:
'~ primeira igreja tinha um interesse sincero nas necessidades materiais das pessoas, especialmente
da família cristã. Este interesse social surgiu sem dúvida dos ensinamentos de Jesus, cf Mt. 25.34-46;
Lucas 10.25-37. Não foi ordenado que a igreja pregasse um "evangelho sociar~ mas ela não pode
fugir às implicações sociais do evangelho bíblico. A Igreja Quadrangular, inspirada pelas obras de sua
fundadora, tem mantida desde o início um trabalho através do qual milhões receberam ajuda material.
Que esse ministério tem um precedente bíblico pode ser constatado pejo seguinte:
1) A igreja de Jerusalém mantinha um serviço de alimentação para as viúvas ... (Atos 6.1-7.)
2) Quando Dorcas morreu ... Pedro a ressuscitou ... devolvendo-o às suas obras de caridade (Atos 9.36-42).
3) Num período de fome na Judeia, todos os cristãos de Antioquia enviaram ajuda financeira (Atos
11.27-30).
4) Durante uma crise posterior, Paulo e seus colaboradores fizeram coletas ... a favor dos santos pobres
de Jerusalém ... (2 Cor.9. 7).
5) Instruções especiais para o cuidado das viúvas são dadas na carta de Paulo a Timóteo (J Tim.5.3-10).
6) A obra redentora de Cristo é para o homem total: espírito, alma e corpo."
(DUFFIELD, Guy P; VAN CLEAVE, Nathaniel M. Fundamentos da Teologia Pentecostal VoUI. São Paulo:
Quadrangular, 1991.p.242,243.)
No fím do século 19 e início do século 20, quando o liberalismo clássico estava no seu auge, as igrejas fíéis
às escrituras travaram uma guerra contra o chamado "evangelho social." Na verdade o liberalismo teológico
havia esvaziado o evangelho do seu conteúdo: para os mais "modernistas" a Bíblia, a divindade de Cristo, a
morte substitutiva, o céu e o inferno não passavam de mitos. O que é que restou para estas igrejas liberais
pregarem? Ajuda humanitária, boas obras, enfím, o "evangelho social". Os ortodoxos, fundamenta listas,
reagiram excessivamente, rejeitando o evangelho social de tal forma que se perdeu a visão holística da salvação
claramente articulada na Bíblia. Foi só após a segunda guerra que os evangélicos novamente acordaram para o
evangelho integral bíblico que prega a salvação da alma, sem negligenciar as outras necessidades do ser humano.
Agora, a missão de fazer discípulos abrange o ser humano como um todo, corpo alma e espírito - O
evangelho "ple no" é o evangelho todo para o homem todo. A igreja, paralelamente com a sua pregação de
salvação, se engaja na tarefa de aliviar sofrimento, combater pobreza e buscar justiça. De fato, precisam-se
de ambos para fazer verdadeiros discípulos. Terminamos esta seção com as palavras penetrantes de Tiago:
"De que adianta, meus irmãos, alguém dizer que tem fé, se não tem obras? Acaso a fé pode salvá-lo? Se um
irmão ou irmã estiver necessitando de roupas e do alimento de cada dia e um de vocês lhe disser: "Vá em paz,
aqueça-se e alimente-se até satisfazer-se", sem porém lhe dar nada, de que adianta isso? Assim também a fé,
por si só, se não for acompanhada de obras, está morta" (Tg 2.14-17).
O Pacto de Lausanne, o mais representativo movimento cristão do último século, apresenta uma visão
da missão integral da igreja que vale a pena considerar:
A RESPONSABILIDADE SOCIAL CRISTÃ
Afirmamos que Deus é o Criador e o Juiz de todos os homens. Portanto, devemos partilhar o seu interesse pela
justiça, pela conciliação em toda a sociedade humana, e pela libertação dos homens de todo tipo de opressão. Porque
a humanidade foi feita à imagem de Deus. Toda pessoa, sem distinção de raça, religião, cor, cultura, classe social, sexo
ou idade possui uma dignidade intrínseca em razão da qual deve ser respeitada e servida, e não explorada.
Aqui também nos arrependemos de nossa negligência e de termos algumas vezes considerado a evangelização
e a atividade social mutuament e exclusivas. Embora a reconciliação com o homem não seja reconciliação com Deus,
nem a ação social evangelização, nem a libertação política salvação, afi rmamos que a evangel ização e o envolvimento
sociopolítico são ambos parte do nosso dever cristão. Pois ambos são necessárias expressões de nossas doutrinas
acerca de Deus e do homem, de nosso amor por nosso próximo e de nossa obediência a Jesus Cristo.
A mensagem da salvação implica também uma mensagem de juízo sobre toda forma de alienação, de opressão e
de discriminação, e não devemos ter medo de denuncia r o mal e a injustiça onde quer que existam. Quando as pessoas
recebem Cristo, nascem de novo em seu reino e devem procurar não só evidenciar, mas também divu lgar a retidão
do reino em meio a um mundo injusto. A sa lvação que alegamos possuir deve estar nos transformando na totalidade
de nossas responsabilidades pessoais e sociais. A fé sem obras é morta .
,S ...J
No meio das muitas tarefas que podem ocupar o tempo e esforço da igreja, não podemos perder de
vista a missão principal da igreja: fazer discípulos para a glória de Deus. Definindo a nossa missão principal,
temos como priorizar as nossas atividades e medir o nosso progresso. Nosso raio de ação começa em nossa
Jerusalém, mas a missão se estende até os confins da terra; nossa metodologia precisa incluir a plantação e
desenvolvimento de igrejas para nutrir os discípulos. E a nossa tarefa de fazer discípulos abrange todo o projeto
humano; corpo, alma e espírito. No meio das muitas demandas e programas da igreja, precisamos focar na
missão essencial e imperativa; fazer discípulos para a glória de Deus.
• Começamos o estudo de eclesiologia no último capítulo com o retrato bíblico e histórico da igreja . Neste
capítulo identificamos, no meio das muitas tarefas, a missão principal da igreja, fazer discípulos para
a glória de Deus. Tiramos esta conclusão da grande comissão onde o fazer discípulos é o único verbo
no imperativo. Todas as outras atividades da igreja devem contribuir para a realização desta missão.
• Na Bíblia, o discípulo é um verdadeiro cristão. Não é apenas uma pessoa que "levantou a mão" nem
uma pessoa perfeita . É uma pessoa nascida de novo, destinada ao céu, aprendiz e imitador de Cristo.
• O texto " .. . serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria, e até os confins da
terra" (Atos 1.8) aponta a extensão da missão da igreja. A igreja local deve estar fazendo discípulos
na sua vizinhança, sim, mas simultaneamente estar envolvida na missão global pela sua contribuição,
oração e o envio de missionários para fora do raio de seu alcance.
• Há muitos métodos envolvidos na missão de fazer discípulos. Realçamos a importância da
metodologia de plantar igrejas, o método mais comprovado de fazer discípulos para Cristo . Fazer
discípulos sempre gira em torno da multiplicação e crescimento de igrejas.
• A igreja, na sua missão de fazer discípulos, vai desenvolver uma missão "integral", procurando abranger,
além das necessidades espirituais, as necessidades físicas, emocionais, econômicas e de justiça .
Não podemos negar o papel de fatores como fofoca e abuso de autoridade na saída de pessoas da
igreja, pecados que precisam ser tratados.
3) Visão individualista de cristianismo. Enquanto alguns cristãos saíram da igreja por serem machucados,
outros optaram pelo perigoso caminho da espiritualidade individual. Tal atitude está em consonância
com o narcisismo prevalecente em nossos dias. É como observa Stephen Macchia: "O mundo que
nos cerca promove valores que nos levam a aprofundar-nos mais e mais em nós mesmos e a afasta r-
nos cada vez mais dos outros" (MACCHIA, Stephen. Becoming a Healthy Church (Tornando-se uma
igreja bem ajustada). Baker, Grand Rapids, 1999).
A versão do evangelho que tem sido propagada reforça a motivação egocêntrica das pessoas
modernas. Cristo é retratado principalmente como a pessoa que vai trazer felicidade, saúde e
prosperidade para o cristão e sua igreja existe para dispensar estes beneficios. Se a igreja não estiver
satisfazendo estes anseios pessoais, por que ir à igreja? Se eu ficar mais feliz ouvindo louvores em
casa e assistindo um astro da mídia evangélica na televisão, para que preciso me incomodar com a
igreja?
Como a igreja dá corpo ao plano divino para restaurar os relacionamentos humanos, obviamente nossa
participação nela não é opcional. É parte do "pacote" da salvação. Aliás, os teólogos lembram que "no ensino
bíblico, não existe a ideia do crente autônomo" (HEIBERT, Paul G. Transforming World Views Cosmovisões
transformadoras. Baker, Grand Rapids, 2008).
Portanto, uma salvação individualista seria meramente parcial e incompleta, já que não realiza a visão de
Deus para a humanidade, que é formar uma comunidade. Embora a conversão a Cristo seja o encontro de um
indivíduo com Deus, é também uma realidade corporativa. Quando nos convertemos, tornamo-nos parte da
Igreja de Jesus Cristo, tanto no seu sentido universal e invisível quanto no visível e da igreja local. Precisamos
nos reunir regularmente numa congregação de irmãos.
Todo rompimento com esse ciclo natural de integração numa congregação tem sérias consequências.
Muitos cristãos gostariam de acreditar que podem ser crentes sem igreja . Contudo a Bíblia não dá validade
a essa ideia.
Em primeiro lugar, a igreja tem tanto valor que Cristo morreu por ela. Ele a chama de sua "Noiva" e seu
"Corpo". É Rick Warren (WARREN, Rick. The Purpose Driven Life. Uma Vida Com Propósito. Zondervan, Grand
Rapids, 2002) quem lembra que não dá para imaginar alguém dizendo a Jesus:
"Eu o amo, Senhor, mas não gosto de sua esposa."
/lEu o aceito, Jesus, mas rejeito seu corpo .1I
Temos de atribuir à igreja o mesmo grau de importância que Cristo lhe confere.
Em segundo lugar, o crente que não se acha integrado em uma congregação é um órfão espiritual. O
destino do crente é ser adotado na família de Deus (Ef 1.5). Deus é nosso Pai; Jesus, nosso irmão (que fato
incrível!) e os outros discípulos de Cristo, nossos irmãos. Um cristão que vive separado de sua família espiritual
é órfão. Acha-se afastado do calor e da afeição familiar. Não recebe o alimento saudável e, portanto, torna-se
vulnerável a ataques.
E, por último, um crente que não se acha unido a uma igreja é como um membro do corpo que foi
amputado. Quando entregamos a vida a Cristo, tornamo-nos membros de seu Corpo. E o sentido aí não é de
alguém que passou a ser "sócio" de algo; não. Fazemos parte de um organismo vivo, assim como os membros
do corpo humano. Cristo é a cabeça e nós, o corpo, ou seja, olhos, boca, ouvidos, mãos e pés (Rm 12.4-8). Se
um membro do corpo for cortado dele, obviamente, não sobreviverá.
Está claro que o cristianismo individualista, isto é, sem comunhão com uma igreja, fica muito enfraquecido
para cumprir sua missão de mostrar ao mundo uma nova humanidade. Ademais, aqueles que experimentam
esse tipo de vida cristã estão caminhando em direção a uma atrofia espiritual. Nosso crescimento como
cristãos depende, em grande parte, de gozarmos uma profunda e prolongada comunhão com um grupo de
crentes - a igreja local.
- --" ,--iRE:
(Adaptado de DUGAN, Patrick B. Nove provas de cristianismo autêntico. Venda Nova: Betânia, 2012).
A nossa terminologia nos aponta um equívoco a respeito da igreja. Na verdade, não frequentamos a igreja,
somos a igreja. A igreja não é um prédio nem um centro de serviços religiosos; é um organismo composto de
todos os salvos e eu faço parte. Não posso me distanciar daquilo que sou: eu sou a igreja de Cristo.
Então, agora, precisamos analisar os aspectos práticos de ser igreja. Como é "ser" igreja na prática, no dia
a dia? Para começar, essa comunhão, a vida da igreja, não se limita a alguns momentos de interação fraterna;
vai muito além disso . Por vezes, eu participo de eventos interdenominacionais em nossa cidade. Num dado
momento, todos nos damos as mãos, cantamos embalados pela música e tudo termina em meio a sorrisos
e abraços.
Éclaro que, para começar, já está bom, e é com alegria que participo desse tipo de evento. Mas, para que
o relacionamento da vida eclesiástica seja diferente de um mero companheirismo cristão, ele precisa conter
pelo menos cinco elementos (embora possamos mencionar muitos mais). São eles: compromisso, sinceridade,
mutualidade, solução de conflitos e cooperação financeira (Em alguns pontos desta seção, inspirei-me nos
capítulos 18 e 19 do WARREN, Rick. Vida com propósito. São Paulo: Vida, 2002).
1. Compromisso. Em essência, a igreja é constituída de um grupo de indivíduos com uma dupla aliança:
com Cristo e uns com os outros. E o que seria, na prática, esse compromisso com os irmãos?
A existência dessa aliança significa que nunca estamos sozinhos. O que acontece com um irmão, seja
de positivo ou negativo, acontece comigo . Um amigo de Fred caiu em adultério, mas este tinha um profundo
compromisso com ele.
"Estou com você e não abro", disse para o amigo. "Não importa o que tenha feito. Pode contar com minha
amizade e minha ajuda."
Obviamente, Fred não apoiava a conduta errada do outro, mas confirmou sua união cristã com ele e
acabou se tornando um instrumento para a restauração espiritual do amigo.
Ter compromisso significa estar disponível. Se alguém precisar de mim, "basta apenas gritar meu nome",
como diz uma música popular. Eessa disponibilidade não pode ter hora, nem data. Ao mesmo tempo, tampouco
pode estar limitada apenas aos momentos de emergência. Os irmãos têm compromisso uns com os outros pelo
fato de se reunirem regularmente numa igreja. É por isso que o escritor de Hebreus faz esta forte advertência:
"Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns: antes, façamos admoestações e tanto mais
quanto vedes que o Dia se aproxima" (Hb 10.25).
Ter compromisso também significa ter o seguinte pensamento: aquilo que é meu é seu. A igreja de Atos foi
um bom exemplo desse aspecto prático do compromisso. "Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em
comum", a ponto de venderem suas propriedades para distribuírem o dinheiro com os necessitados (At 2.44,45).
Ser igreja é ser comprometido com Deus e com os irmãos.
2. Sinceridade. Esse segundo elemento da função prática da igreja, na verdade, depende do primeiro. Se
de fato temos compromisso uns com os outros, teremos coragem para "nos mostrar como realmente somos".
A igreja, em sua melhor forma, é um exemplo desse alto padrão de coerência. Aliás, a própria Bíblia revela
uma honestidade que, por vezes, chega a ser desconcertante. Ela expõe as inseguranças, os pecados secretos
e falhas gritantes de seus mais notáveis personagens, como Abraão, Moisés, Davi e Pedro.
E, de fato, nós nos tornamos mais chegados uns aos outros quando permitimos que a luz da verdade
brilhe sobre nosso verdadeiro caráter. João afirma: "Se, porém, andarmos na luz ... mantemos comunhão uns
com os outros" (1.7).
É claro que caminhar em sinceridade não é fácil nem natural para nós. Quando vamos aos cultos, temos
a tendência de estampar sempre um belo sorriso domingueiro. Na realidade, a igreja autêntica nem sempre
apresenta uma "imagem" bonita. Nela, os crentes sentem liberdade de se mostrar como são e de não concordar
com todo mundo. Podem confrontar e ser confrontados. Uma igreja que opera num contexto de humilde
sinceridade coloca os membros em posição de dar e receber ajuda uns dos outros e promove relacionamentos
genuínos. Ser igreja é ser real.
3. Mutualidade. Por definição, a comunhão na igreja implica compartilhar uns com os outros no nível
pessoal. Ou seja, recebo algo dos outros, mas também dou algo de mim mesmo para os demais. Todos precisam
participar desse exercício de mutualidade. Todos necessitam dar e todos têm de receber. Stephen Macchia
afirma que a mutualidade significa que "temos o compromisso de viver na prática os mandamentos 'uns aos
outros' expressos nas Escriturasll :
• amai-vos uns aos outros (1 Jo 3.11,23; 4.7,11,12);
• confessai os vossos pecados e orai uns pelos outros (Tg 5.16);
Eis um breve retrato de você e a igreja. Crente sem igreja? Nem pensar. Precisamos da igreja, como uma
criança precisa de família, como um braço precisa do corpo. Ser igreja é fácil? Não. Fazemos porque é assim
que Deus nos mandou. Vale a pena? Sim! Temos, assim, um convite para gozarmos de uma vida de cálidos
relacionamentos dentro da igreja de Jesus Cristo. E depois nós, por nossa vez, também chamamos outros a
vivenciá-Ia. É certo que a igreja não é um céu, nem mesmo um Éden. Então para desfrutarmos de um bom
relacionamento neste mundo caído, teremos de pagar o preço. Contudo, a despeito de nossas fraquezas,
oferecemos um porto seguro, uma comunhão profunda e duradoura. Formamos um corpo, uma família com
muitos irmãos e irmãs, pessoas comprometidas com nosso bem-estar. Isso é ser igreja!
RlSU O DO CApí~' ~O 1 2
• Em nosso estudo de eclesiologia, vimos primeiro o retrato bíblico e histórico da igreja de Cristo e
depois focamos na missão principal de igreja - fazer discípulos para a glória de Deus.
• Neste capítulo finalizamos o estudo da igreja com uma aplicação bem pessoal. Primeiro, olhamos
um fenômeno alarmante, crentes sem igreja. Segundo, refletimos sobre a nossa necessidade de
igreja e terminamos com uma aplicação direta, como ser igreja.
• Sugerimos que "os evangélicos sem igreja" saíram da igreja por pelo menos três razões: nunca se
converteram, problemas interpessoais ou uma visão individualista de cristianismo.
• Embora a conversão a Cristo seja o encontro de um individuo com Deus, é também uma realidade
corporativa. O crente precisa da igreja porque Cristo morreu por ela; porque uma pessoa sem igreja
é como um órfão sem o cuidado de família; porque um braço amputado do corpo há de ressecar
e morrer.
• Não frequentamos a igreja, somos igreja . Ser igreja, na prática, implica compromisso com o corpo,
sinceridade, mutualidade, solução de conflitos e contribuição financeira .