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Teologia Sisitemática III

O documento discute a salvação na perspectiva cristã, enfatizando a necessidade de reconhecer a perdição antes de entender a salvação em Cristo. A salvação é definida como libertação do pecado e suas consequências, com um foco na aplicação da obra redentora de Cristo na vida do indivíduo. Além disso, explora as perspectivas históricas sobre a salvação, destacando a justificação pela fé e a importância da graça na doutrina cristã.

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Teologia Sisitemática III

O documento discute a salvação na perspectiva cristã, enfatizando a necessidade de reconhecer a perdição antes de entender a salvação em Cristo. A salvação é definida como libertação do pecado e suas consequências, com um foco na aplicação da obra redentora de Cristo na vida do indivíduo. Além disso, explora as perspectivas históricas sobre a salvação, destacando a justificação pela fé e a importância da graça na doutrina cristã.

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IGREJA DO EVANGELHO QUADRANGULAR

..
CAPITULO 1
SALVAÇÃO: CONCEITOS VARIADOS

FIG. : SALVAÇÃO; em macelocarval ho.blogspot.com; em 16.mar.2012

o assunto dos próximos cinco capítulos é a salvação. Para a boa nova


da salvação ter sentido, a má noticia da perdição precisa ser comunicada
primeiro. Salvação é interessante somente para quem sabe que está perdido.
Ray Comfort (num sermão gra vado), com uma comparação dramática,
ilustra a necessidade de reconhecer a perdição como um pré-requisit o para
compreender a salvação :
A Bíblia nos ensina que sem a salvação em Cristo, não somente viveremos
Paraquedas - para quem sabe que precisa
Imagine que você entrou num avião para viajar e numa certa altura
do voo, a comissária veio oferecer um paraquedas. Você pergunta: "Mas,
para que este paraquedas? Estou muito bem, lendo e descansando; vai me
trazer mais conforto, mais alegria na viagem?" Ela simplesmente responde
que seria uma boa ideia colocar. Você põe, e é extremamente incomodo
sentar com aquilo nas costas. Não consegue sentar direito nem descansar
mais. Começa a reclamar e tira o pacote de salvamento das costas e joga
no chão, chateado.
Agora, imagine que de repente, vem um aviso do piloto: "Tivemos
problema nos dois motores do avião e estamos perdendo altitude
rapidamente. Por favor, prepare-se para pular do avião." Como a sua visão
do incômodo do paraquedas muda de repente!
Perguntas para refletir:
1) Quais os paralelos entre a história acima e a situação do pecador?
2) Será que as pessoas creemcreem que seu destino é o inferno se
não converterem?

3) Como devemos mudar a nossa forma de pregaro evangelho para


despertar o senso de perdição?
aqui na terra uma vida aquém daquilo que foi planejado por Deus, mas nosso destino é a morte eterna. Todo
ser humano precisa urgentemente da salvação em Cristo.

1 .1 CONCEITUANDO A SALVAÇÃO
Nos capítulos 5-8 de Teologia Sistemática 2 contemplamos as más noticias do pecado e suas consequências.
A partir de capítulo 9 do mesmo volume, começamos as boas notícias de Cristo, sendo a sua pessoa e obra
redentora a solução para o pecado. Nestes primeiros capítulos de Teologia Sistemática 3 veremos como a
obra redentora de Cristo torna-se uma realidade na vida humana; em outras palavras, como podemos obter a
salvação em Cristo. Agora, para começar, precisamos saber com clareza o que quer dizer este termo, salvação.

Salvação é um termo muito abrangente. Num certo sentido salvação abrange três grandes questões no
estudo teológico:

1. A natureza da humanidade - O que significa ser caído, e ser um pecador? (Hamartiologia).


2. A obra de Cristo - O que é que Cristo fez para restaurar a humanidade? (Cristologia).
3. Como é que a obra de Cristo é aplicada ao pecador caído? (Soteriologia).
No livro anterior, estudamos as primeiras duas questões: o pecado e a obra de Cristo. Agora, vamos
concentrar na terceira, a soteriologia própria, a aplicação dos benefícios da obra de Cristo na vida do ser humano.

1.1.1 SALVAÇÃO DE QUÊ?


A ideia básica de salvação na Bíblia é de livramento ou libertação de alguma coisa. No Antigo Testamento,
a salvação de Deus era mais voltada para o livramento da doença, da morte, do cativeiro, do inimigo e o escapar
de toda a espécie de males. Tinha mais o sentido de livramento de coisas desta vida e do mundo temporal
do que o sentido de salvação de pecado ou morte eterna. Por exemplo: "Eu os livrei do poder do Egito e das
mãos de todos os seus opressores. Expulsei-os e dei a vocês a terra deles." (Jz 6.9); "Eu defenderei esta cidade
e a salvarei, por amor de mim e por amor de Davi, meu servo!" (Is 37.35). Veja também: Jz.3.9; 7.7; 13.5;
51.107.20; Jr.15.21; 39.17; Dn.3.17.
Já no Novo Testamento, salvação passou a significar primariamente libertação do pecado e seus efeitos.
Por exemplo:

"Ela dará à luz um filho, e você deverá dor-lhe o nome de Jesus, porque ele salvará a seu pavo dos seus
pecados" (Mt 1.21).
"Mas agora que vocês foram libertados do pecado e se tornaram escravos de Deus, o fruto que colhem
leva à santidade, e o seu fim é a vida eterna. Pois o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de
Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor" (Rm 6.22-23).
': .. como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação? Esta salvação, primeiramente
anunciada pelo Senhor, foi-nos confirmada pelos que a ouviram" (Hb 2.3).
"Embora sendo Filho, ele aprendeu a obedecer por meio daquilo que sofreu; e, uma vez aperfeiçoado,
tornou-se a fonte de eterna salvação para todos 05 que lhe obedecem" (Hb 5.8-9).
Na salvação há livramento pleno do pecado e das consequências da queda. As consequências são de diversos
tipos. Como estudamos anteriormente, algumas consequências são hereditárias, como doença e morte. Outras
consequências se encontram no próprio ambiente em que vivemos, como corrupção política, a influência maléfica
da mídia e a natureza danificada. A salvação final destas consequências só será realizada na volta de Cristo, mas,
desde já, devemos trabalhar para mudanças nestas áreas hereditárias e ambientais. Francis Schaeffer, admitindo
que a salvação final destas consequências seja futura, falou que os cristãos devem trabalhar em prol de mudanças
"significativas"; por exemplo, na área de curas físicas, a restauração da sociedade e do meio ambiente.
Mas, os efeitos morais da queda, as consequências que nos atingem por causa do nosso próprio pecado,
destas sim, podemos ser salvos hoje. Aqui fazemos uma lista parcial de consequências do pecado e a salvação
prometida em Cristo:
Consequências do nosso pecado: Salvação prometida:
Coração enganoso e corrupto Novo coração - Ez 36.26; At 15.9; Rm 5.5
Mente, consciência impura Mente renovada - Rm 12.2; Ef 4.23
Escravidão ao pecado Libertação do pecado - Jo 8.36; Rm 6.16,18
Natureza pecaminosa Nova Natureza - 2 Co 5.17, G12.20
Morte eterna Vida eterna - Rm 6.23; I Co 15.21, 26, 54-56

JOÃO 3.16,17- UM TEXTO CLÁSSICO SOBRE SALVAÇÃO:


A palavra salvação se refere ao processo de recuperação de tudo que foi perdido pelo pecado. Neste
texto clássico, João diz:
"Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não
pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas
para que este fosse salvo por meio dele." (Jo 3.16-17)
Aqui, João usa um termo importante para descrever o desperdício do resultado do pecado: "perecer".
O termo perecer é repleto de significado. Em grego o termo perecer é apollumi. Segundo o estudioso
Vine, perecer significa:
"" .ser completamente destruído". A idéia não é de extinção mas arruinar, a perda, não de existência
mas do bem estar. Torna-se claro pelo uso da palavra como a vasilha de vinho estragada (Lucas 5.37), o filho
perdido (Lucas 15.24), a comida que estraga (João 6.27) e a destruição de corpo e alma no inferno (Mat.1.28)."
Em outras palavras, Jesus veio para nos salvar de desperdiçar a nossa vida aqui na terra e eternamente.
De que forma o pecador está desperdiçando sua vida?
• Primeiro, desperdiçar é estragar aquilo que é valioso. Como já estudamos, fomos criados como
seres de grande valor por causa da imagem de Deus em nós. O pecado leva pessoas a desperdiçar
este valor, estragando os seus corpos com promiscuidade, suas mentes com algo ruim e seu
espírito com religião falsa.
• Segundo, desperdiçar é se vender barato demais. O pecador "vende" sua pureza sexual por um
momento prazeroso, sua integridade por uma mentira, sua honestidade por uma nota de cem
reais. E em troca recebe o inferno.
• Terceiro, desperdiçar é investir mal a sua vida. A expectativa de vida do brasileiro que nasce hoje
é de 73,5 anos. Ao viver fora dos propósitos de Deus, estamos jogando fora este valor, vivendo
para fins fúteis, temporários, efêmeros. O pecador não cessa de existir, mas investe maio seu
tempo na terra e perde a eternidade.
Jesus veio para nos salvar de "perecer": de não estragar o nosso valor, de não nos vender barato de
mais e de investir mal a nossa vida. Enfim, para não desperdiçar a nossa vida temporal e eternamente.

1.1.2 DEFININDO O TERMO SALVAÇÃO


Talvez agora possamos arriscar uma definição de salvação: salvação é Deus operando em Cristo para
libertar o pecador de sua escravidão e das consequências do pecado, culminando na vida eterna com Deus
(Veja Rm. 6:14, 22).
Salvação é a parte subjetiva da obra de Deus - a aplicação na vida do indivíduo de tudo que Deus fez para
a recuperação do pecador. No fim de Teologia Sistemática 2, estudamos a obra expiatória de Cristo, aquilo
que ele fez para nos livrar do domínio e consequências do pecado. Conceituamos a expiação como uma joia
de muitas facetas, cada faceta destacando elementos diferentes da esplêndida obra de Cristo: propiciação,
reconciliação, Vitória/resgate, substituição e revelação do amor de Cristo.
E toda esta obra já foi realizada há dois milênios atrás: é uma obra completa, suficiente para salvar todas
as pessoas do mundo. Agora, falta a aplicação de tudo isso na vida de cada individuo . O ser humano precisa
apropriar os benefícios do sacrifício de Cristo para sua vida pela fé; e Deus torna a salvação uma realidade
existencial na sua vida .
Este é o conceito da SOTERIOLOGIA, a doutrina da salvação.

1 .2 PERSPECTVAS HISTÓriCAS DA SALVAÇAo


É sempre interessante olhar a história para ter certeza de que não estamos "inventando" uma teologia
sem consultar os grandes homens de Deus do passado. Nestas 'viagens históricas' geralmente encontramos
raízes sólidas para as nossas afirmações. Os Cristãos durante os séculos, como nós, têm baseado sua Teologia
nos textos bíblicos. Em relação à doutrina da salvação, nos pontos básicos há um consenso de que a salvação
não é baseada em obras, mas no sacrifício de Cristo em nosso lugar. Veremos que os teólogos em todas as
eras concordam que somente pela graça somos salvos. Porém, notaremos formas diversas de entendimento
em relação a certos aspectos da salvação pela graça; por exemplo, como a graça é comunicada ao homem e
a quem a graça é destinada.

1 .2.1 A IGREJA ANTIGA


Justificação pela fé não é uma doutrina descoberta apenas na era da Reforma; por ser uma doutrina
bíblica, foi sempre ensinada durante a história apesar de ser articulada de forma diferente. Mas, na igreja antiga,
este aspecto da salvação era menos enfatizado talvez devido às circunstâncias. Numa época em que a maioria
de conversões se dava no meio de povos totalmente pagãos e moralmente depravados, havia necessidades
gritantes que a igreja antiga precisava atender com urgência: o ensino ético, o estabelecimento da teologia da
igreja e a defesa contra o gnosticismo e outras heresias que cresciam assustadoramente. Lembre-se de que
era uma época onde o povo não tinha Bíblia e a ma ioria não sabia ler.
No oriente, a igreja antiga enfatizou a salvação como theósis ou 'deificação'. Não ensinou que nos
tornamos divinos, mas sendo que a obra de Cristo destruiu os poderes do diabo (Christus Victor), a salvação
nos leva a uma profunda comunhão com Deus e a ser mais e mais como Ele é, nos tornando "participantes"
da divindade - (veja 2 Pe 1.4).
Havia três pontos centrais do pensamento da igreja antiga oriental:
1) ensinaram que esta 'deificação' acontece pelo dom do Espírito, perdido na queda e restaurado pela
habitação do Espírito no cristão.
2) Ensinaram que para receber o Espírito era necessário desejar e buscar o Espírito, implicando um
livre arbítrio capaz de funcionar e cooperar com Deus.
3) Ensinaram que os sacramentos são meios para comunicar a vida divina às pessoas, as levando a um
processo de serem restauradas à imagem de Deus.
No ocidente, Agostinho, na sua batalha contra Pelágio e a salvação por mérito, trabalhou a questão da
justificação como elemento importante na salvação. A justiça de Deus vem pela fé e não por obras (Rm 1.17).
Não é uma justiça divina imputada, mas uma justiça real que Deus produz no homem - O pecador realmente
vive uma vida moralmente justa. Ensinou que durante a vida o cristão torna-se pessoalmente justa através
de fé e amor; ".. .fé é o ato de crer, mas amor é agir segundo a sua fé." (JOHNSON, Alan F.; WEBBER, Robert E.
What Christians Believe. Grand Rapids: Zondervan, 1993. p. 305).
Por outro lado, Agostinho incluiu outros conceitos adjacentes em relação à salvação.
Primeiro, o ser humano é incapaz de escolher a Deus - sua vontade não é apenas doente, mas morta,
por causa do pecado original.
Segundo, porque a pessoa não pode cooperar com Deus neste processo, Ele dá a sua justiça ao seu povo
pela graça.
Terceiro, esta graça é comunicada via os sacramentos: batismo comunica o perdão pelo pecado original
e confirmação, penitência e eucaristia proporcionam o crescimento espiritual (JOHNSON, 306).
1.2.2 A IGREJA MEDIEVAL
A igreja medieval, na sua busca de entendimento da salvação pela
graça, deu início a algumas doutrinas (que agora chamamos de "católicas")
que a reforma depois contestou. A figura dominante desta época era Tomás
de Aquino (1225-74) . Apesar de caricaturas protestantes a seu respeito, não
ensinou a justificação por mérito humano; a justiça humana que vem de
Deus é produzida através da graça . Aquino escreve na Summa Theologica:
"Devemos agora considerar o princípio eterno de ações humanas ... que Deus
nos ajuda de agir corretamente pela graça." (JOHNSON, O termo justificação
é usado para descrever esta infusão de graça da parte de Deus.
No entendimento do Aquino, mais uma vez a iniciativa e poder para
procurar a Deus vêm do próprio Deus, não de algum mérito humano. Há
quatro requerimentos para receber a graça justificadora/santificadora: "Uma
infusão de graça, um movimento de escolha livre em direção a Deus pela FIG.: TOMAZ DE AQUI NO; em
ocdsprovinciasaojose.blogspot.com;
fé, um movimento de escolha livre em relação ao pecado e o perdão dos em 16.mar.2012
pecados" (JOHNSON, 307).

Apesar de não ensinar salvação por mérito humano, havia espaço no sistema dele para mérito. E aqui
Aquino entrou em terreno perigoso. No conceito dele, através da graça, poderia se ganhar o mérito; mas
através do mérito não se pode ganhar a graça. Seu termo, "graça cooperante" quer dizer que por cooperar
com a graça de Deus o cristão merece o reino dos céus. Esta graça é iniciada e mantida pelos sacramentos,
produzindo os "hábitos" de fé, esperança e amor.
Nota se aqui um conceito de salvação voltado para uma sinergia entre a graça e merecimento humano:
mas ainda não era simplesmente salvação pelas obras - esta tendência veio mais tarde (JOHNSON,308) .
O Concílio de Trento (1545-63) aconteceu depois do início da reforma protestante. Era resultado da
contrarreforma católica que tentou combater a reforma protestante e também solidificar as doutrinas e práticas
da igreja romana (Neste concílio, os teólogos tomaram uma decisão muito perigosa: decidiram atribuir à
tradição da igreja a mesma autoridade das escrituras). Em relação à salvação, rejeitaram tanto o pelagianismo
(salvação por merecimento) quanto o conceito protestante de pecado original (Dictionary of the Christian
Church. Editor: J.D. Douglas. Grand Rapids: Zondervan, 1978. p.985) . Mas, a justificação era o assunto mais
importante. Trent afirmou que para a salvação, precisava a infusão da graça de Deus na alma humana baseada
na morte de Cristo. O dever do cristão é de cooperar com a graça recebida (JOHNSON, 309).

1.2.3 A IGREJA REFORMADA


Lutero sofria com o conceito Católico de justificação: viu Deus como irado e ele teria que aplacá-lo por sua
própria justiça . No seu desespero, encontrou um significado na palavra "justiça" em Romanos 1.17, que para
ele era novo: a justiça não é a justiça produzida no cristão pela graça, mas a própria justiça de Cristo imputada
ao cristão . A justificação da reforma é diferente da visão católica em vários pontos:
1) a justiça pertence a Cristo, não ao cristão.
2) A justiça não vem pela infusão, mas pela troca: os nossos pecados são absorvidos por Cristo e
trocados pela justiça de Cristo.
3) Ajustificação vem pela fé e a confiança na Palavra, sem a necessidade de se justificar diante de Deus
com boas obras.
4) Crentes são simultaneamente pecadores e santos-o pecador salvo não possui justiça própria. Diante
de Deus é santo, mas no mundo ainda um pecador.
5) Justificação é um evento - posicional mente, se torna santo imediatamente - mas, em seguida vem
o processo de viver esta justificação no mundo.
O pensamento a respeito da salvação de Calvino, na Suíça, era muito próximo ao de Lutero. Uma diferença
era a ordem de eventos na salvação. Lutero defendia a ordem - arrependimento, fé e vida consagrada; Calvino
trocava fé e arrependimento para evitar que arrependimento se tornasse uma "obra".

1.2.4 A IGREJA PÓS-REFORMA


Meno Simons e os anabatistas, também do século 16, tinham um
enfoque um pouco diferente do que os reformadores a respeito da salvação.
Enquanto a pergunta dos reformadores era como escapar a condenação, a
pergunta destes cristãos era "Como podemos andar nos passos do Senhor?"
Por isso, mesmo crendo em salvação pela fé na obra de Cristo, deram
muita ênfase na vida prática cristã. Para eles, era impensável a salvação
sem mudança radical de vida . Contrastava a justificação no pecado com a
justificação do pecado; a criação de uma nova pessoa, unida com Cristo e
parecida com ele. Esta ênfase na piedade e devoção pessoal em contraste
com a natureza judicial e objetiva do conceito reformado da salvação era o
precursor do evangelicalismo moderno.
Armínio, os pietistas e João Wesley (século 17), seguiam uma linha
semelhante a de Simons. Concordavam com a justificação pela fé como
a porta de entrada para salvação, mas enfatizaram mais a santificação do FIG., JOÃO WESlEY; em
comunidademetodista.com.br; em
cristão. Eram mais preocupados com a vida do justificado do que como 19.m".2012
aconteceu esta justificação. Em relação à justificação pela fé, Wesley
enfatizou mais o lado do perdão e da aceitação de Deus e menos a imputação da justiça. Achava que a ênfase
dos reformadores na justiça imputada poderia encorajar o antinomianismo - de ignorar a lei moral. Para ele,
salvação implicava um novo nascimento, uma mudança real de vida . Deus fez algo por nós, mas também em
nós, a fim de nos fazer parecidos com Jesus (JOHNSON, 316).

1.2.5 A IGREJA MODERNA


Os séculos 18 e 19 não foram uma época boa para a Teologia. O ceticismo
a respeito da religião reinou e os teólogos fizeram muitas concessões para o
pensamento iluminista que desacreditava no sobrenatural. Por exemplo, o
teólogo alemão Schleiermacher (1768-1834) usou a linguagem reformada
sobre salvação, mas mudou o seu sentido ortodoxo para outra coisa. Para
ele, a salvação foi relativizada porque Deus e a humanidade são unidos de
tal forma que um Deus ofendido é impensável. Que é que Jesus fez? Revelou
a verdadeira natureza de Deus e consequentemente a natureza verdadeira
do homem. Não somos pecadores condenados. Na salvação somos apenas
'regenerados' por Cristo para ficar mais conscientes de Deus.
Karl Barth (1886-1968) teve
um grande papel na história
moderna da salvação combatendo
o liberalismo. De formação liberal,
rejeitou-o achando que era uma FIG., SCHlEIERMACHER; em people.
teologia insípida e impotente. Para bu.edu; m 19.m".2012
a sua Teologia "neo-ortodoxa", o homem, sim, é pecador e Deus é
o Deus todo poderoso e transcendente da Bíblia. Apontou a ideia
de troca como essencial para entender a salvação - a minha justiça
FIG., K. BARTH; em pt.wikipedia.org; falsa é trocada pela justiça verdadeira de Cristo (JOHNSON, 318).
em 19.mar.2012 Confundiu-se na hora de falar que Cristo é o 'condenado' e o 'eleito'
para toda a raça humana: se todos forem eleitos, no conceito reformado, todos seriam salvos - abrindo porta
para universalismo. Também falhou na sua doutrina da Bíblia, asseverando que a Bíblia contém a Palavra de
Deus, mas não é a Palavra .

••
Os Evangélicos. Paralelamente com o liberalismo que assolou as
igrejas históricas, e a posição um tanto ambivalente de Barth, havia grupos
significativos de crentes que mantiveram a fé fundamentada na Bíblia
e criam na doutrina ortodoxa e histórica da salvação. Foi inicialmente
conhecido como os fundamentalistas por se alicerçarem nas doutrinas
fundamentais da Bíblia. Este grupo, influenciado por teólogos eruditos
do Princeton Theological Seminary como Hodge e Warfield e encabeçado
por John Gresham Machen (1881 -1937), levantou uma bandeira de
ortodoxia contra a teologia liberal e neo-ortodoxa e restaurou o conceito
bíblico e histórico de salvação. Infelizmente, depois de algumas décadas, o
movimento fundamenta lista perdeu o rumo, radicalizando e acrescentando
"fundamentos" secundários e culturais. A liderança ortodoxa e bíblica foi
assumida por líderes mais centrados como o evangelista Billy Graham e o
teólogo Carl Henry. Estes conservadores mais moderados foram chamados
evangélicos a partir dos anos pós-guerra, uma palavra que "visa transmitir
o sentido de que ela é protestante e atesta as boas novas do evangelho"
(OLSON, Roger. História da Teologia cristã. São Paulo: Vida, 2001. p. 609). FlG.,JQHNGRESHAM MACHEN;em
Este grupo, espalhado pelo mundo inteiro, continua comprometido com romulomonteiro.blogspot,com; em
evangelismo e missões, realizando evangelismo em massa e individual, 19.mar.2012
enviando missionários ao mundo todo e chamando as pessoas para tomarem uma decisão ao lado de Cristo,
assim experimentando pessoalmente a salvação Nele.

3 VAP,AÇOES ATUAIS
Agora, em pleno século 21, existe um leque de crenças a respeito da salvação. A Igreja Católica continua
forte com suas ideias focadas mais na salvação pelos sacramentos e popularmente, pelas boas ações e
intercessão de santos. No lado protestante mais liberal, continuam a existir vertentes pluralistas que creem
que todos serão salvos, independentemente da sua religião. Outra ala mais liberal é a teologia da libertação,
que enxerga salvação como a libertação política/econômica de povos oprimidos.
Mas entre os cristãos protestantes conservadores, os evangélicos, também há diversas ênfases a respeito
da sa lvação. Não temos espaço aqui para entrar em pormenores, nem identificar a soteriologia das milhares
de denominações existentes. Mas, podemos identificar alguns pontos de divergência que existem a respeito de
salvação entre as teologias comprometidas com a autoridade bíblica. Ao apontar estas diferenças, precisamos
lembrar de que todos creem na essência da salvação: creem na mensagem bíblica que, por iniciativa de Deus,
somos salvos por fé em Cristo, não por obras humanas.

1.3.1 REFORMADA E PIETISTA


Há duas linhas evangélicas que, enquanto compartilham a crença da necessidade de salvação em Cristo e
a autoridade final das Sagradas Escrituras, divergem em alguns pontos a respeito da teologia. Olson caracteriza
as diferenças da seguinte forma:
"O primeiro paradigma (Reformada ou puritano-princetoniano) enxerga Jonathan Edwards e Chafles
Hodge como os grandes teólogos evangélicos e entende que a Confissão de fé de Westminster é um
padrão doutrinário do máximo valor para todos os evangélicos. A atenção desse paradigma recai na
doutrina correta, inclusive na inspiração e na inerrância da Bíblia, como a essência permanente do
cristianismo evangélico.
o segundo paradigma (Pietista, ou Pietista Pentecostal) enxerga os pietistas Spener, Francke e Zinzendorf
e os teólogos reavivamentalistas João Wesley e Charles Finney como os grandes precursores do
evangelicalismo moderno. Nesse paradigma, a atenção recai na experiência autêntica, sobretudo na
regeneração e na santificação inclusive, como a essência permanente do cristianismo evangélico. O
primeiro paradigma considera o monergismo a norma da doutrina evangélica, ao passo que o segundo
aceita, pelo menos, o sinergismo como uma opção da teologia evangélica" (OLSON, Roger. História da
Teologia cristã. São Paulo: Vida, 2001. p.611,612).

Um dos pontos mais controvertidos entre estes dois grupos é a questão mencionada anteriormente
de monergismo ou sinergismo. Monergismo afirma que Deus é o único (mono) agente ativo no processo da
salvação. A sequê ncia para todos os indivíduos é que Deus elegeu certos indivíduos para salvação, morreu
por estes (e somente por estes), efetivamente chama-os, justifica-os, e os glorificará garantindo a sua salvação
eterna (Esta posição, às vezes, é chamada popularmente como predestinação).
O Sinergismo afirma que existem dois agentes ativos no processo de salvação: Deus e a pessoa. Deus
não elegeu indivíduos, mas um povo para ser seu. Cristo morreu por todos, deixando a quem quiser atender
a chamada e fazer parte deste povo, um povo justificado e glorificado. Sinergistas não dividem igualmente a
ação entre o homem e Deus : Deus é quem graciosamente toma a iniciativa e salva a pessoa, mas precisa, no
mínimo, do consentimento do indivíduo através do arrependimento e fé. Estas ações humanas não são obras,
mas condições para receber o dom da salvação. A maioria dos pentecostais faz parte do grupo dos sinergistas.

1.3.2 SACRAMENTAIS E NÃO SACRAMENTAIS


Outro ponto de divergência entre os evangélicos é a respeito do papel dos sacramentos na salvação. Na
Igreja Católica, os sacramentos são considerados de grande importância para alcançar a salvação, sendo meios
de graça e salvação . Segundo a Teologia católica, um sacramento é "um sinal externo e visível de uma graça
interna e espiritua l dado a nós e ordenado por Cristo ...". O Concílio de Trento afirmou que são sete sacramentos
instituídos por Cristo: Batismo, Confirmação, Eucaristia, Penitência, Extrema Unção, Ordenação e Matrimônio
(Oxford Dictionary of the Christian Church).
Agora, mesmo na Igreja Católica, o Batismo e a Eucaristia (ceia do Senhor) eram proeminentes, e os
protestantes tem dado ênfase a estes dois ritos, mas com visões diferentes a respeito. O batismo é a questão
mais critica em relação à soteriologia; para os protestantes, a ceia não tem implicações diretas com a salvação.
Em relação ao batismo Erickson categoriza as posições protestantes da seguinte maneira:
1) o batismo como meio de graça. "De acordo com os
sacra menta listas, é o meio pelo qual Deus distribui a
graça salvadora; ela resulta na remissão dos pecados".
Segundo entendem os luteranos, o sacramento
não é eficaz, a menos que a fé esteja presente. Os
receptores do batismo dividem-se em dois grupos.
Primeiro, há os adultos que passam a crer em
Cristo (Exemplos: Atos 2.41 e 8.36-38). Segundo,
as crianças ou mesmo os recém -nascidos também
eram batizados nos tempos do Novo Testamento
(Exemplos: Mc. 10.13-16; Atos 11.14; 16.15,31-
34;18.8). As crianças fazem parte do povo de Deus, FIG.: BATISMO NAS ÁGUAS; em pastorgedeanpaula.blogspot.
comeem 19.mar.2012
tão certo quanto ... faziam parte da nação de Israel. ..
E mais, o batismo de crianças é necessário para remover a mancha do pecado original. .. as crianças
podem possuir uma fé inconsciente (ou) ... o que conta é a fé dos pais ..." (ERICKSON, Millard J.
Introdução à Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1997. p.460,461).
2) O batismo como sinal e selo da aliança. "A posição adotada pelos teólogos reformados está
diretamente ligada ao conceito de aliança ... Assim como a circuncisão no Antigo Testamento, o
batismo nos dá certeza das promessas de Deus ... O ato do batismo é tanto o meio de iniciação na
aliança como um sinal de salvação. No caso dos adultos, os benefícios são absolutos, enquanto a
salvação dos recém-nascidos é condicionada pela persistência futura nos votos feitos ... os filhos de
pais crentes também devem ser batizados" (ERICKSON, 461,462).
3) O batismo como prova da salvação. "A terceira concepção vê o batismo como um ... símbolo ou
indicação externa da mudança interna que ocorreu no crente ... foi ordenado por Cristo (Mt.
28:18,19) ... e não produz nenhuma mudança espiritual na pessoa que o recebe ... não somos
regenerados por meio do batismo, pois o batismo pressupõe fé e a salvação a que leva tal fé ... O
batismo ... é um batismo de crentes ... Éo batismo dos que preenchem as condições para salvação (i.e.,
arrependimento e fé ativa) ... a maioria dos que defendem o batismo de crentes utilize exclusivamente
a imersão ..." (ERICKSON, 463,464).
Asegunda área de controvérsias em relação aos sacramentos é a questão do papel da ceia do Senhor. Não
cabe a nós neste momento entrar nessa questão; nosso assunto é a salvação e os evangélicos não creem que
é necessário participar da ceia para ser salvo. Talvez seja interessante apenas resumir as posições a respeito
da presença ou não de Cristo nos elementos da ceia (ERICKSON, 471):

1) o pão e o vinho são o corpo e o sangue físico de Cristo (católica).


2) O pão e o vinho contém o corpo e o sangue físico (Iuterana).
3) O pão e o vinho contém espiritualmente o corpo e o sangue físico (reformada).
4) Eles representam o corpo e o sangue (zuingliana).

CONCLUSÃO
O assunto dos primeiros cinco capítulos deste livro é a Soteriologia - a doutrina da salvação em Cristo.
No livro anterior estudamos a situação lamentável do pecador e em seguida a provisão de Deus - Cristo e sua
obra, a parte objetiva da solução. Na soteriologia estudamos a parte subjetiva - como a obra de Deus torna-
se uma realidade na vida do indivíduo. Definimos a salvação como Deus operando em Cristo para libertar o
pecador de sua escravidão e das consequências do pecado, culminando na vida eterna com Deus. Depois,
viajamos pela história para ver os acertos e erros a respeito da doutrina da salvação. Notamos dois momentos
críticos na história onde Deus levantou homens de Deus para se oporem ao erro: os reformadores lutaram
contra a salvação pelas obras e os fundamentalistas e evangélicos se opuseram a perda da mensagem da
salvação. Notamos que há pontos de divergência a respeito da salvação entre os evangélicos - os reformados
não concordam com os pietistas e nem todos concordam no papel do batismo na salvação. Apesar destas
divergências, há uma concordância entre os evangélicos de que salvação é de graça e pela fé em Cristo.

F'SU 'r
• Nosso assunto é a soteriologia - a doutrina da salvação. A Bíblia nos ensina que sem a salvação em
Cristo, não somente viveremos aqui na terra uma vida aquém daquilo que foi planejado por Deus,
mas nosso destino é a morte eterna. Todo ser humano precisa urgentemente da libertação de Cristo
do pecado e das suas consequências.

• No livro anterior, estudamos a doutrina do pecado que mostra a necessidade de salvação e a doutrina
de Cristo e sua obra que nos mostra a provisão divina . No estudo de soteriologia estudamos a
aplicação desta obra à vida do indivíduo.
• Salvação é a parte subjetiva da obra de Deus - a aplicação na vida do indivíduo de tudo que Deus já
fez para a recuperação do pecador. Definimos a salvação como Deus operando em Cristo para libertar
o pecador de sua escravidão e das consequências do pecado, culminando na vida eterna com Deus.

• Na história da igreja observamos ênfases diferentes a respeito da salvação principalmente sobre


o como é efetuada e a quem é oferecida. A igreja católica foi em direção ás obras e merecimento
humano e a reforma corrigiu este desvio com a doutrina da salvação de graça e pela fé.

• Na era moderna, o liberalismo foi uma influência maléfica na doutrina de salvação, tirando a atuação
sobrenatural de Deus e introduzindo o universalismo - que todos serão salvos. Os fundamenta listas
se opuseram corajosamente a este desvio, tarefa depois assumida pelos chamados evangélicos que
até hoje pregam a necessidade de uma experiência pessoal de salvação para todos.
• Os cristãos conservadores, que ensinam a salvação em Cristo pela fé, diferem em alguns pontos da
Soteriologia. Os reformados dão mais ênfase à doutrina correta e creem no monergismo - que Deus
é o único agente ativo na salvação e somente os divinamente eleitos serão salvos. Os pietistas dão
mais ênfase à piedade pessoal e à vida cristã prática e são sinergistas - creem que Deus graciosamente
toma a iniciativa, salva a pessoa, mas espera o livre consentimento do indivíduo em arrependimento
e fé para efetuar a salvação.
• A outra divergência maior a respeito da salvação é o papel do batismo. Os luteranos creem que o
batismo é um meio de graça para salvação e incluem as crianças. Os reformados veem o batismo
como sinal e selo definitivo da aliança de Deus com o crente e também incluem as crianças na
aliança . A maioria dos evangélicos vê o batismo como prova da salvação administrado a quem já se
arrependeu e exerceu a fé salvadora.

Chegou a hora da autoatividade. Você fará uma revisão


do capítulo, responderá as questões, destacará a folha da
autoatividade e a entregará para o professor na práxima
aula. Boa revisão e ótimos resultados!
...
CAPITULO 2
SALVAÇÃO BIBLlCA: OBRA DE DEUS
[PRIMEIRA PARTE]

FIG : SALVAÇÃO; em radiogospelatalaia .blogspot.com; em 19.mar.2012

f\l -Df

A salvação, segundo a Bíblia, é uma obra de Deus, não uma obra humana.
Mas, com muita facilidade esquecemos que salvação bíblica tem sua origem,
desenvolvimento e culminação na ação graciosa de Deus e não nas obras
humanas. Neste capítulo começaremos o nosso estudo sobre a obra divina da
salvação dividindo-o em três partes : a falácia da autossalvação, a convicção
do pecado e a justificação. No capítulo 3 continuaremos o estudo de salvação
como obra de Deus.

A ALAGA DA AUTOSSALVAÇI\O
Quando o ser humano percebe a sua condição de perdido existe uma
reação humana instintiva de procurar remediar a situação por esforço
próprio. Podemos chamar esta busca autônoma de uma solução de a perigosa
"mentalidade da balança". Todos sabem como ela funciona. Temos em nossa
mente uma balança imaginária . Em um dos pratos, estão todos os nossos
pecados e falhas, que pesam em nossa consciência.

CXXXXX)

Então, cabe a nós, ir acumulando, no outro prato, atos justos e gestos de


bondade para equilibrar a situação. Essa mentalidade parece ser um esquema
humano meio instintivo, pelo qual procuramos aliviar os sentimentos de culpa .
Por causa disso, as pessoas hesitam em dizer que se encontram em condições
de ir para o céu. Enquanto esta mentalidade é o pensamento predominante
entre as religiões não cristãs (karma do hinduísmo, por exemplo) a ideia é comum no catolicismo popular.
Entre os evangélicos também encontramos essa incerteza. Alguns a abrigam por causa de sua herança católica,
outros, devido a essa atração natural do ser humano para com a "mentalidade da balança".
Mas, o conceito bíblico da salvação não é esse. Salvação tem seu início exclusivamente em Deus. Diante
do quadro da rebelião humana, não havia nada que os primeiros rebeldes, Adão e Eva, poderiam ter feito
para se salvar. Era impossível desfazer o que tinha sido feito. Eram culpados e condenados a morte. O Deus
soberano poderia ter acabado com a raça humana naquela hora. Então, Deus revelou sua graça incomparável,
começando a executar seu plano de enviar Jesus ao mundo para ser nosso substituto e libertador. Com sua
iniciativa unilateral, seu sacrifício em favor de pessoas que não o mereciam, ele coloca diante de todos nós
o perdão e uma vida nova e eterna. Recebemos essas dádivas pela fé e não por boas obras (como sugere a
"mentalidade da balança"). Ele sÓ pede a nós que nos disponhamos a abandonar nosso egoísmo rebelde (pelo
arrependimento) e depositemos toda a nossa confiança em sua Pessoa e na obra que ele realizou (pela fé).
Daí, salvação é uma obra de Deus do começo ao fim.
Nos próximos dois capítulos, refletiremos sobre o que Deus faz para a salvação em Cristo se tornar uma
realidade na nossa vida. Poderíamos listar muitas ações de Deus em prol da salvação humana, mas, por falta
de tempo e espaço, vamos focar em quatro. Neste capítulo estudaremos duas ações divinas: Convicção de
pecado e justificação. No próximo capítulo estudaremos as outras duas: regeneração e santificação.
Em resumo, neste capítulo veremos que a convicção é o Espírito mostrando à pessoa o seu pecado e
necessidade de perdão e a justificação é um ato judicial em que Deus nos concede perdão. Vamos mostrar a
base bíblica de cada um e procurar conceituá-los de tal forma que possamos ter uma apreciação melhor da
graça de Deus e saber comunicar com clareza esta salvação em Cristo aos outros.

2.2 CONViCÇÃO
o Espírito Santo é constantemente atuante nesse mundo para levar as pessoas à salvação em Cristo.
Wiley destaca bem esta atuação: "A expiação consumada do nosso Senhor Jesus Cristo torna-se efetiva na
salvação dos homens apenas quando administrada aos crentes pelo Espírito Santo. A obra do Espírito em nós
é tão necessária para a salvação como a provisão de Cristo por nós.'"
Em primeiro lugar o Espírito está atuando de forma geral no mundo todo para levar pessoas à salvação.
Paulo afirma que Deus nunca ficou sem testemunho: "Contudo, Deus não ficou sem testemunho; mostrou
sua bondade, dando-lhes chuva do céu e colheitas no tempo certo, concedendo-lhes sustento com fartura e
um coração cheio de alegria" (Atos 14.17).
Há exemplos bíblicos deste testemunho do Deus verdadeiro tanto na Bíblia quanto na experiência de
missionários até hoje. Melquisedeque é um exemplo do Antigo Testamento (Gn. 14.17-24). Abrão o encontra
pela primeira vez e descobre que ele já conhecia o mesmo Deus da Abrão. Como poderia conhecê-lo sem ter
contato prévio com o pai do povo de Deus? Não sabemos, mas Deus não fica sem testemunho da salvação.
No Novo Testamento, a conversão do Etiope (Atos 8.26-40), a experiência de Paulo a caminho de Damasco
(Atos 9.1-18) e a visão de Cornélio (Atos 10) testificam de que a graça de Deus é maior do que a atividade
evangelística humana. Nos dias de hoje, Don Richardson relata diversas histórias como O Espírito havia preparado
o coração de vários povos antes da chegada do missionário. (RICHARDSON, Don. O Fator Melquisedeque. São
Paulo: Vida Nova, 1986).
O apóstolo Paulo também argumentou que Deus trabalha no mundo inteiro para mostrar às pessoas o
seu pecado e necessidade de salvação. Mostra em Romanos 1 que a própria natureza revela a existência e
natureza de Deus e por esta revelação as pessoas tornam-se moralmente responsáveis.
"Pois desde a criação do mundo os atributos invisíveis de Deus, seu eterno poder e sua natureza divina,
têm sido vistos claramente, sendo compreendidos por meio das coisas criadas, de forma que tais homens
são indesculpáveis" (Rm 1.20).
Paulo, num parêntese no seu discurso, desenvolve o argumento no capítulo 2, dizendo que além do
testemunho objetivo, através da natureza, quanto à necessidade de salvação, também há um testemunho

1· WllEY, H.Horton; CULBERTSON, Paul T. Introdução à Teologia Cristã. São Paulo: Casa Nazarena, 1990. p. 292.
subjetivo e interno, a consciência do certo e errado gravada no coração : "De fato, quando os gentios, que não
têm a lei, praticam naturalmente o que ela ordena, tornam-se lei para si mesmos, embora não possuam a
lei; pois mostram que as exigências da lei estão gravadas em seus corações. Disso dão testemunho também a
consciência e os pensamentos deles, ora acusando-os, ora defendendo-os." (Rm 2:14-15)
Deus, de fato, é ativo no mundo todo, estendendo a sua chamada a todos para que reconheçam seu
estado de pecado e venham a conhecer a sua salvação. Diz Wiley: "O agente da chamada é o Espírito Santo e a
Palavra é o instrumento das Suas operações. A chamada é universal em seu alcance e abrange a proclamação,
as condições pelas quais se oferece a salvação e o mandamento para se submeter à autoridade de Cristo.
Despertamento é o termo usado na Teologia para denotar a operação do Espírito Santo por meio da qual as
mentes humanas são vivificadas ao reconhecimento do seu estado de perdição" (WILEY, P.296) .
Este processo, além de ser uma ação direta no coração humano, fatalmente inclui a instrumentalidade
da Palavra pregada sob o poder do Espírito. Atos 16:14 diz que quando Paulo compartilhava a verdade com as
mulheres em Filipos: "O Senhor abriu seus corações para atender à mensagem de Paulo."

2.2.1 CONViCÇÃO 00 PECADO


Um termo muito importante neste processo de Deus aplicar a sua salvação na vida do indivíduo é a
convicção de pecado. Como já observamos, salvação não tem sentido para quem não se acha perdido. A
convicção do espírito é "... aquela operação do Espírito que produz nos homens o senso de culpabilidade e
condenação por causa do pecado" (WILEY, 296). A convicção de pecado é uma dos ministérios do Espírito. Em
João 16.8, Jesus declarou que o Espírito Santo, quando viesse, convenceria o mundo "do pecado, da justiça
e do juízo." Como precisamos desta atividade do espírito em nosso evangelismo! Quantas pessoas buscam a
"salvação" sem estar convictas de que são realmente pecadores perdidos! Paulo sabia bem da necessidade
desta convicção do pecador da sua condição deplorável e nos alerta para a ferramenta usada pelo Espírito
para trazer o senso de culpabilidade. Elmer Murdoch traz uma explicação bem clara do uso da lei moral como
uma ferramenta:

UMA FERRAMENTA ESQUECIDA


Observe Romanos 3.20, "... pois é mediante a Lei que nos tornamos plenamente conscientes do pecado."
Deus não tem dificuldade em salvar pecadores; Ele tem dificuldade em levar pessoas simpáticas a entender
que são perdidas. O Espírito Santo quer usar a Lei para produzir a consciência do pecado. Convicção é
uma obra sobrenatural e a Lei é um meio principal para realizá-Ia . Paulo usava esta ferramenta esquecida:
"Sabemos que a lei é boa, se alguém a usa de maneira adequada. Também sabemos que ela não
é feita para as justos, mas para os transgressores e insubordinados, para os ímpios e pecadores,
para os profanos e írreverentes, para os que matam pai e mãe, para os homicidas, para os que
praticam imoralidade sexual e os homossexuais, para os sequestradores, para os mentirosos e os que
juram falsamente; e para todo aquele que se opõe à sã doutrina. Essa sã doutrina se vê no glorioso
evangelho que me foi confiado, o evangelho do Deus bendito."
(1 Timóteo 1:8-11)
O coração do pecador já é preparado para receber a mensagem da lei por causa da forma que Deus nos
criou. (Rom .2.15). Pecado, através do mandamento, torna-se extremamente pecaminoso (Rom.7.13). É a
forma usada por Deus para calar a boca de todos e provar que todos estão sob o juízo de Dele (Rm. 3.19).
O monte Sinai (onde foram dados os 10 mandamentos) precedeu o monte Calvário e prepara o coração
para arrependimento.
MURDOCH, Elmer H. Training Book for Step up to Life. Harrisburg: Christian Publications, 1972.

Convicção do pecado é uma das primeiras ações divinas para aplicar os benefícios da cruz ao pecador; e
devemos cooperar com Deus neste trabalho. Os dez mandamentos jamais salvarão alguém, mas devem fazer
parte da nossa pregação para que o Espírito possa usar esta ferramenta para trazer convicção de pecado para
o perdido. Não devemos ser tímidos em expor as normas morais divinas em nossa pregação das boas novas;
para as boas noticias da salvação serem eficazes, primeiro o pecador precisa ser convicto das más noticias da
sua perdição.

? ':l JUST FICACÃO


Na convicção, Deus visa levar a pessoa adiante no processo de salvação, motivando a buscar uma solução;
a solução divina pode ser resumida em três termos: justificação, regeneração e santificação, os próximos três
tópicos a serem estudados. Todos três são atuações divinas, mas existem dois contextos em que ocorrem:
justificação acontece no céu, e regeneração e santificação acontecem no coração e vivência do homem. De
forma simples, justificação é um ato judicial em que Deus nos concede perdão; regeneração é a comunicação da
vida espiritual para o crente e a santificação a ação transformadora do Espírito para nos fazer mais semelhante
a Cristo. Vamos começar com uma breve pesquisa de textos chaves a respeito da justificação.

2.3.1 JUSTIFICAÇÃO NA BíBLIA


Justificação no Antigo Testamento, " ... aparece com frequência em contextos forenses ou jurídicos. Uma
pessoa justa é a que foi declarada sem culpa pelo juiz. A tarefa do juiz é condenar o culpado e absolver o
inocente" (ERICKSON, 409). Por exemplo, "Quando dois homens se envolverem numa briga, terão que levar
a causa ao tribunal, e os juízes decidirão a questão, absolvendo o inocente e condenando o culpado .." (Dt.
25.1), (ERICK50N, 409). Justificar neste sentido tem a ver apenas com certificar se a pessoa é inocente ou não,
se cumpriu a lei ou não.
Já no Novo Testamento, o conceito de justificação vai muito além de averiguar a inocência de alguém.
Segundo Paulo, é possível para Deus, o justo juiz, determinar que o culpado é justo: "... Deus, que justifica o
ímpio ..." (Romanos 4.5). Infelizmente, em nosso mundo caído, a justificação e impunidade do transgressor são
comuns; mas quando se trata de um Deus absolutamente justo, torna-se um conceito revolucionário. Romanos
mostra o dilema de Deus: como ser justo e ainda perdoar o pecador: "... sendo justificados gratuitamente por
sua graça, por meio da redenção que há em Cristo Jesus. Deus o ofereceu como sacrifício para propiciação
mediante a fé, pelo seu sangue, demonstrando a sua justiça. Em sua tolerância, havia deixado impunes os
pecados anteriormente cometidos; mas, no presente, demonstrou a sua justiça, a fim de ser justo e justificador
daquele que tem fé em Jesus." (Romanos 3:24-26)
O Deus de infinita criatividade acha uma forma de manter a sua justiça e ainda justificar o pecador: seu
Filho se torna pecador, sua morte expiando os pecados dos seres humanos.
"Deus tornou pecado por nós aquele que não tinha pecado, para que Nele nos tornóssemos justiça de
Deus." (2 Co 5.21)
A única forma de entender a justificação de uma pessoa injusta é de compreender que não é o
comportamento dela que determina a sua posição de justiça ou injustiça diante de Deus. Não tem como desfazer
comportamento errado, nem de compensar com boas obras (veja a mentalidade da balança anteriormente) .
Justificação no Novo Testamento é feita a parte da "balança ." Por causa do sacrifício de Cristo a justificação
não vem pelo bom comportamento, mas graciosamente, pela fé : "Mas agora se manifestou uma justiça que
provém de Deus, independente da lei, da qual testemunham a Lei e os Profetas, justiça de Deus mediante a
fé em Jesus Cristo para todos os que creem." (Rm 3.21-22)
"Tenda sido, pais, justificadas pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo," (Romanos 5.1)
Segundo a Bíblia, esta justificação tem resultados subjetivos também - a reconciliação com Deus.
"Como agora fomos justificados por seu sangue, muito mais ainda seremos salvos da ira de Deus por
meio dele! Se quando éramos inimigos de Deus famas recanciliados cam ele mediante a morte de seu
Filho, quanta mais agora, tendo sido reconciliados, seremos salvas por sua vida! Não apenas issa, mas
também nos glariamas em Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo, mediante quem recebemos agora
a reconciliação." (Rm 5.9-11)
Outros textos a respeito da justificação pela fé: Atos 13.39, Ef. 2.8,9; Hb. 9.22


2.3.2 CONCEITUANDO A JUSTIFICAÇÃO
Justificação pela fé não foi inventada por Lutero e pelos outros reformadores do século 16, mas estes líderes
resgataram a doutrina que havia ficado distorcida em épocas anteriores. Na época de Lutero, "Acreditava-se
que ... a responsabilidade do pecador (era) agir em favor da sua própria alma com rigorosa autoanálise, boas
obras e abnegação, oração e práticas piedosas" (OLSON, 386) . Alguns pais da igreja não fizeram uma distinção
entre a obra de Deus de justificação e regeneração. Atribuíram à justificação a transformação comportamental do
cristão: consequentemente, no entendimento popular, pessoas acharam que ao transformar seu comportamento
(e receber os sacramentos) poderiam ganhar a justificação. Foram Lutero e os reformadores que Deus usou
para mostrar que a justificação era um ato divino em resposta a fé somente, independentemente de obras.
Lutero era um monge muito sincero e piedoso com uma consciência ultrassensível. Confessava tantas
vezes que seu confessor finalmente o avisou a só vir a ele quando de fato tivesse algo realmente pecaminoso
para confessar! Seu mentor, vendo a sua autoflagelação e tormento interior recomendou que saísse do
mosteiro para estudar na universidade de Frankfurt. Lutero obteve a doutorado em teologia e começou a
lecionar matérias bíblicas. Enquanto preparava lições de Romanos, entre 1513-1518, começou a ter algumas
experiências intelectuais e espirituais que transformaram sua vida e ministério, principalmente a doutrina de
justificação pela fé.

LUTERO - UM TESTEMUNHO PESSOAL


"Finalmente, pela misericórdia de Deus ... dei ouvidos ao contexto das palavras: "A justiça de Deus se
revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: 'O justo viverá por fé"'. Então comecei a compreender
que a justiça de Deus é aquela mediante a qual o justo vive por uma dádiva de Deus, ou seja, pela fé ... Aqui,
senti com se renascesse totalmente e entrasse no paraíso pelos portões abertos. Ali, uma faceta totalmente
nova da Bíblia revelou-se para mim ."
Citado por OLSON, Roger. História da Teologia Cristã. São Paulo: Vida, 2001. p. 387

Lutero considerava a doutrina da justificação não apenas mais uma doutrina, mas "o artigo fundamental
da fé, pelo qual a igreja se firmará ou cairá e do qual depende toda a doutrina." Explicou a justificação como
uma troca: "Como noivos que permutam as posses no casamento, o pecador recebe a justificação de Cristo e
Cristo assume seus pecados"(OLSON, 399).

2.3.2.1 Definição de justificação


Definição: é o ato de Deus declarar uma pessoa sem culpa perante a lei e livre da penalidade desta,
perdoando-a e restaurando-a à comunhão consigo.
Nota-se que justificação é um ato de Deus, não de merecimento humano. A Bíblia é muito clara sobre isso:
./' somos justificados pela graça (Rm 3.24) - É uma iniciativa unilateral a favor dos não merecidos .
./' Somos justificados pelo sangue (Rm 5.9; Hb9.22) - O sacrifício de Jesus legitimou esta justificação .
./' Somos justificados pela fé (Rm 5.11) - A condição para desfrutar a justificação. Não é por obras!
• Justificação realça o governo de Deus. "Teólogos desde então (a Reforma) tendem a definir a
salvação principalmente por esta metáfora legal. .. Justificação ... é um termo jurídico se referindo a
uma mudança em nossa posição legal em relação a Deus" (434,436, GRENZ, Stanley J.. Theology for
the Community of God. Grand Rapids: Eerdmans, 1994). Romanos 3.21-26 segue esta linha. Deus
é o governador do universo. Ele governa a natureza inanimada pelas leis físicas, o mundo animal
com instintos ... mas seres livres governa com leis morais. Para manter ordem entre seres livres,
precisa-se lei e sanções. Se o governador por misericórdia ignorasse as sanções o seu governo
perderia sua autoridade. Um governador amoroso ("sua graça" e "tolerância", 3:25,26) precisa
conciliar sua misericórdia com as exigências da justiça porque ambos são atributos de amor. Ele
satisfaz as exigências da lei oferecendo Cristo como propiciação assim podendo demonstrar a sua
justiça enquanto perdoa o pecador. Daí, Deus pode ser tanto "... justo e justificador daquele que
I!

tem fé em Jesus."
NOTA: justificação visa "justiça pública" e não um pagamento exato por um " x" número de pessoas.
Justiça pública quer dizer que a punição precisa ser suficiente para manter a reputação e a dignidade
da lei e do governo e mostrar que não vale a pena desobedecer. Em outras palavras, a expiação
valeu para todas as pessoas e não por um número predeterminado.
• Justificação denota a parte da salvação que acontece " nos céus" e não no coração humano; é mais
objetivo do que subjetivo. A parte subjetiva da salvação veremos depois nos tópicos de regeneração
e santificação. De certa forma, a justificação acontece nos "arquivos de Deus" - o registro da nossa
criminalidade é removido. Conheci um jovem que se envolveu com drogas e criminalidade e depois
se converteu. Por dever de consciência achou que deveria restituir o que roubou e se colocar na
misericórdia da justiça . Ao se entregar, descobriu que não havia nada registrado contra ele ... seus
arquivos de acusação haviam sumidos. É assim com a justificação. Nos arquivos divinos existe o
registro das nossas ofensas. Na justificação, estes arquivos da nossa dívida para com Deus são
anulados e substituídos com um recado "Tudo Pago" e assinado por Cristo!
• Justificação leva à reconciliação. A parte subjetiva da justificação é a compreensão de que fomos
perdoados e reconciliados (Rm 5.1-11). Como desenvolveremos mais tarde, salvação como um
todo é relacional; a justificação não apenas visa ajeitar as questões legais, mas visa restaurar o
relacionamento homem-Deus pelo qual fomos criados. A questão legal da justificação é importante,
mas devemos lembrar o propósito original de Deus, de criar um povo que o ama e ama uns aos
outros. Justificação é um meio para realizar um fim maior, esta reconciliação.

RESUMO 00 CA, íTULO 2


• Neste capítulo refletimos sobre quatro coisas que Deus faz para a salvação em Cristo se tornar uma
realidade pessoal, tudo baseado naquilo que Cristo fez na cruz: convicção de pecado, justificação,
regeneração e santificação.
• A mentalidade da balança é a tendência humana de tentar compensar os seus pecados pelas boas
obras. É uma mentalidade falsa, comum nas outras religiões, mas também aparece no meio cristão.
• A convicção é o Espírito mostrando à pessoa o seu pecado e necessidade de perdão.
• O Espírito usa a lei moral, os 10 mandamentos, para levar as pessoas à convicção de pecado e
motivá-Ias a buscar uma solução.
• A justificação é um ato judicial em que Deus nos concede perdão e nos considera justos por causa
da morte substitutiva de Cristo - acontece no céu, nos "arquivos de Deus" . .É de graça, pela fé, não
por obras merecedoras - a "mentalidade da balança" é errada.

Chegou a hora da autoatividade. Você fará uma revisão


do capítulo, responderá as questões, destacará a folha da
autoatividade e a entregará para o professor na próxima
aula. Boa revisão e ótimos resultados!
..-

I ~~:~:~~~. ~RA
[SEGUNDA PARTE)
DE DEUS

FIG.: SALVAÇÃO; em essenciadoradores.blogspot.com; em 19.mar.2012

No capítulo dois começamos a estudar o que Deus faz para aplicar os


beneficios da cruz de Cristo para a vida humana: Deus convence o pecador
do seu pecado - convicção, e apaga seu histórico de pecados - a justificação.
Neste capítulo continuaremos nossa consideração de salvação olhando para
mais duas obras de Deus: Regeneração - a comunicação de vida espiritual para
o crente e a santificação - a açãotransformadora do Espírito para nos fazer mais
semelhantes a Cristo. Porém, antes de entrar nestes dois assuntos, queremos
fazer uma distinção entre o contexto objetivo e subjetivo da salvação.

3 A OBRA SUBJET'V DA SAL\tACAO


Justificação, como vimos, acontece nos arquivos celestiais - Deus nos
declarar pessoas sem culpa perante a lei e livre da sua penalidade. Éum aspecto
objetivo da salvação - acontece fora de nós . Mas a salvação maravilhosa
de Deus tem o aspecto subjetivo - aquilo que acontece dentro de nós. Na
regeneração, Deus transforma o nosso interior. Regeneração é uma atuação
divina, sobrenatural, milagrosa e misteriosa na vida do ser humano. Não é fácil
de conceituar. É a transformação de vida que não tem outra explicação a não
ser Deus; É Saulo virar Paulo (Santificação, o próximo tópico deste capítulo,
também é uma obra subjetiva de Deus).
Justificação e regeneração acontecem simultaneamente. Ambos fazem
parte da salvação e são obras exclusivamente de Deus, mas têm características
diferentes:
Justificação Regeneração
Natureza objetiva Natureza subjetiva
Acontece no céu Acontece em nosso coração
Mudança legal Mudança pessoal

3.2 REGENERAÇÃO
o Novo Testamento usa vários termos para falar da regeneração: novo nascimento ou ser nascido de Deus
(Jo 3.3; Jo 1.13; 1 Jo 5.1, 4); vivificação (Ef 2.1, 5); renovação pelo Espírito (Tt 3.5) e nova criação (Ef 2.10; 2
Co 5.17) são sinõnimos usados. Em geral, Novo Nascimento e Regeneração são sinõnimos e vamos empregar
os dois termos neste estudo.

3.2.1 REGENERAÇÃO NA BíBLIA


Até no Antigo Testamento encontramos uma referência à regeneração - "Darei a eles um coração não
dividido e porei um novo espírito dentro deles; retirarei deles o coração de pedra e lhes darei um coração de
carne." (Ez 11.19), mas no Novo Testamento é uma doutrina muito bem embasada .
Vamos olhar alguns textos principais a respeito do novo nascimento (regeneração) sob os temas de
necessidade, obra exclusiva de Deus, adoção na família de Deus, união com Cristo e transformação de vida.

3.2.1.1 Novo nascimento - uma necessidade para todos


A Bíblia ensina que há uma necessidade universal do novo nascimento. No texto mais conhecido a respeito,
o encontro de Jesus com Nicodemos, Jesus fa lou sem meio termo: "Digo-lhe a verdade: Ninguém pode ver o
Reino de Deus, se não nascer de novo". (Jo 3.3)
A condição universal de morte espiritual (Rm 6.23) demanda uma vivificação, um segundo nascimento
para todos os seres humanos. Paulo, depois de relembrar os efésios de que antes de conhecer Jesus todos se
encontram "... mortos em suas transgressões e pecados" e "por natureza merecedores da ira", aponta um Deus
misericordioso que ... deu-nos vida juntamente com Cristo, quando ainda estávamos mortos em transgressões
- pela graça vocês são salvos" (Efésios 2:5).
É importante notar que o novo nascimento é necessário para os filhos dos crentes também; como se diz:
IIDeus não tem netos, só filhos!"

3.2.1.2 Novo nascimento - obra exclusiva de Deus


Em lugar algum a Bíblia nos manda nascer de novo! Deus fala para os homens que é necessário, mas,
por não ser algo alcançável pela vontade humana, precisa-se buscar na fonte divina. João afirma que os que
se tornaram filhos de Deus tinham que nascer de Deus: " ... os quais não nasceram por descendência natural,
nem pela vontade da carne nem pela vontade de algum homem, mas nasceram de Deus" (Jo 1.13).
Na sua conversa emblemática com Nicodemos, Jesus foi claro que há dois nascimentos distintos: o
nascimento natural (da carne) e o nascimento espiritual que é uma obra do Espírito.
"Respondeu Jesus: "Digo-lhe o verdode: Ninguém pode entrar no Reina de Deus, se nãa nascer da água e
do Espírito. O que nasce da carne é carne, mas o que nasce do Espírita é espírita" (Jo 3.5-6).
Por ser uma obra exclusiva de Deus, novo nascimento não é o resultado de esforço humano. Não depende
da prática de boas obras, mas de uma ação do Espírito. Paulo diz: "... não por causa de atos de justiça por nós
praticados, mas devido à sua misericórdia, ele nos salvou pelo lavar regenerador e renovador do Espírito
Santo," (Tito 3:5)
Tenho ouvido pessoas aconselhando outros mais fracos na fé dizendo, "Cara, você tem que nascer de
novo" querendo dizer que a pessoa precisa se esforçar para abandonar alguma prática errada. O intuito é certo,
mas o uso do termo é errado (poderia usar O termo "arrepender"). Novo nascimento é necessário, mas não
é resultado de esforço humano - é um ato divino, sobrenatural e, de certa forma, misterioso. Jesus aponta
este mistério comparando o novo nascimento com o vento que "... sopra onde quer". Você o escuta, mas não
pode dizer de onde vem nem para onde vai. Assim acontece com todos os nascidos do Espírito (Jo 3.8.) Como
se explica o mistério de Saulo virar Paulo? Somente pela atuação de Deus!

3.2.1.3 Novo nascimento - adoção na família de Deus


Ao nascer de novo, somos adotados para uma nova família, nos tornando filhos de Deus e por consequência
irmãos de Cristo e dos outros membros da sua família espiritual. Que privilégio indizível ser adotado por
Deus! No Reino de Deus, não existem órfãos. João falou deste direito recebido pela graça: "Contudo, aos que
o receberam, aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus" (Jo 1.12).
Já é demais sermos adotados, de nos tornarmos filhos que podem sentir que Deus é seu Papai ("Aba").
Mas, segundo Paulo, somos também herdeiros: "Mas, quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou
seu Filho, nascido de mulher, nascido debaixo da lei, a fim de redimir os que estavam sob a lei, para que
recebêssemos a adoção de filhos. E, porque vocês são filhos, Deus enviou o Espírito de seu Filho aos seus
corações, o qual clama: "Aba, Pai". Assim, você já não é mais escravo, mas filho; e, por ser filho, Deus também
o tornou herdeiro" (GI44-7. Veja também, Rm 8.17).
A igreja liberal no fim do século 19 pregava a 'paternidade de Deus e a irmandade de todos os homens'.
Foi um discurso bem intencionado, porém errado teologicamente. Deus é o criador de todos e ama a todos,
mas somente é Pai dos que nascem de novo.

3.2.1.4 Novo nascimento - união com Cristo


Novo nascimento nada mais é do que a entrada de Cristo em nossa vida. João, na sua primeira epístola,
deixa bem claro que o dom da salvação não é algo distinto da pessoa de Cristo. Temos a salvação e a vida
eterna através da nossa união com Jesus. O apóstolo explica isso nos seguintes termos: "... Deus nos deu a
vida eterna; e esta vida está no seu Filho. Aquele que tem o Filho tem a vida; aquele que não tem o Filho de
Deus não tem a vida" (1 Jo 5.11,12).
O raciocínio de João é que somente Deus possui, em si, a vida plena, absoluta, eterna. Como Jesus é
Deus, ele também a possui. Em seu evangelho, João faz a seguinte afirmação: "Porque assim como o Pai tem
vida em si mesmo, também concedeu ao Filho ter vida em si mesmo" (Jo 5.26). Então, o que ocorre não é
que Jesus nos dá uma dádiva chamada "vida espiritual" ou "vida eterna"; não - Ele mesmo é esse presente.
Portanto, sendo o seu seguidor unido a ele pela fé, "Deus permanece nele, e ele, em Deus" (1 Jo 3.24; 4.15).
Ademais recebemos os benefícios de tudo que Jesus é. A entrada dele em nossa vida nos faz nascer de novo.
Paulo desenvolve esta doutrina de união com Cristo de várias formas. Observe as frases que destacamos
com itálicos: "Todavia, Deus, que é rico em misericórdia, pelo grande amor com que nos amou, deu-nos vida
juntamente com Cristo, quando ainda estávamos mortos em transgressões - pela graça vocês são salvos"
(Ef 2.4-5).
"A eles quis Deus dar a conhecer entre os gentios a gloriosa riqueza deste mistério, que é Cristo em vocês,
a esperança da glória" (CI1.27).
"Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora
vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e se entregou por mim" (GI 2.20.)

3.2.1.5 Novo nascimento - transformação de vida


Novo nascimento não é o resultado de boas obras, mas pelo contrário produz boas obras. Não existe
"balança", não existe o ganhar a salvação pelo bom comportamento; mas a entrada de Cristo em nossa vida
há de produzir uma mudança radical em nosso dia a dia.
"Todo aquele que é nascido de Deus não pratica o pecado, porque a semente de Deus permanece nele;
ele não pode estar no pecado, porque é nascido de Deus" (1 Jo 3.9).
QUADRANGULAR

"Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criação. As coisas antigas já passaram; eis que surgiram coisas
novas." (2 Co 5.17)
Se a nossa experiência de novo nascimento não resultar em transformação de vida, não é uma experiência
verdadeira de regeneração. E o que é que pode ser feito? Tentar mudar com mais força de vontade? Não. É
necessário buscar um verdadeiro novo nascimento, voltando ás bases fundamentais de arrependimento e fé
como veremos no capítulo 3 deste livro.

3.2.2 A CONCEITUAÇÃO DE REGENERAÇÃO


Como justificação, o novo nascimento (regeneração) é de autoria divina; porém, ao invés de acontecer no
céu, acontece na vida pessoal daquele que se arrepende e crê. Agora, depois de examinar a realidade bíblica
desta experiência, queremos conceituá-Ia com mais clareza.

A palavra em grego traduzida novo nascimento é 'palingenesia'. É composta de duas partes, palin, que
significa outra vez ou novamente e gênesis que significa nascimento - daí, novo nascimento. "No sentido de
regeneração espiritual envolvendo a comunicação de uma vida nova, os ... poderes operantes ... sendo a "palavra
da verdade" (Tiago 1.18; I Pedro 1.23) e o Espírito Santo, (João 3.5,6) ..." (VINE W.E. Expository Dictionary of
New Testament Words . Old Tappan: Revell,1981. p.267).

JOÃO WESLEY E O NOVO


NASCIMENTO
João Wesleyfoi criado na igreja anglicana,
tinha doutrinas ortodoxas e um alto padrão de
vida moral, mas somente depois de anos no
ministério experimentou o novo nascimento.
Interessante notar com ele entendeu-o
como ...
" .. . aquela grande transformação que
Deus opera na alma quando a vivifica; quando
a ressu scita da morte do pecado para a vida da
justiça. É a mudança efetuada na alma toda
pelo Espírito Todo-Poderoso de Deus, quando
é criada de novo em Jesus Cristo; quando é
renovada de acordo com a imagem de Deus
em justiça e verdadeira santidade".

Wesley citado por WllEY, H.Horton; CULBERTSON, Paul T.,


Introdução à Teologia Cristã . São Paulo: Casa Nazarena, FIG.: JOÃO WESLEY;em metodista-cc.blogspot.com;
1990. p. 323 em .mar.2012

3.2.3 DEFINiÇÃO DO NOVO NASCIMENTO


o novo nascimento tem sido definido de várias formas. Escolhemos uma definição clara e sucinta:
"A comunicação transformadora de vida divina ao homem pela operação do Espírito Santo" (definição
do autor).
Notamos nessa definição, de traz para frente, as características bíblicas deste conceito: é uma operação do
Espírito, não do homem; é a comunicação da vida de Deus para o homem; é uma experiência transformadora.

A fim de assegurar o nosso entendimento, listamos, em primeiro lugar alguns erros a respeito e depois
um breve sumário desta doutrina (Em parte adaptada de WILEY, 327-331).
3.2.4 ERROS A RESPEITO DO NOVO NASCIMENTO
1) Não é o batismo com água. A regeneração "batismal", com uma longa história na igreja, confunde
a realidade interior e espiritual do novo nascimento com o sinal externo da sua realidade.
2) Não é uma mera obra humana . Como notado anteriormente, o Pelagianismo considerava o novo
nascimento um ato de vontade humana . Este conceito nega a ação imediata do Espírito, o único
capaz de dar vida espiritual e transformar o pecador.
3) Não se efetua incondicionalmente. O monergismo (veja capítulo 1) ensina erradamente que o novo
nascimento é o primeiro passo na salvação e que se efetua sem nenhuma cooperação humana .
Veremos no próximo capítulo as condições humanas necessárias para nascer de novo.

3.2.5 SUMÁRIO A RESPEITO DO NOVO NASCIMENTO


1) Regeneração é uma transformação moral efetuada nos corações dos homen s pelo Espírito.
As faculdades humanas recebem uma nova direção pela presença de Cristo no centro da sua
personalidade.
2) Esta transformação radical realiza-se pela ação eficiente do Espírito; é um ato de Deus, uma infusão
de vida divina e união com Cristo.
3) Acontece instantaneamente. Em resposta ao arrependimento e fé, Deus age em nós milagrosamente
e, na mesma hora que a justificação acontece no céu, somos regenerados. Não se refere ao processo
gradativo de amadurecimento (a santificação), mas, é o início da vida cristã.
4) Proporciona a vida eterna. Por sermos unidos com Cristo, somos portadores da vida eterna, prontos
para ir para o céu. Ou somos nascidos do Espírito, portadores de vida eterna, ou não somos.
5) É um poder capacitador do Espírito. A presença de Cristo em nossa vida nos dá um poder novo para
reproduzir a vida de Cristo em nós. Paulo diz, "Cristo em mim, a esperança da glória". Não vivemos
simplesmente pela força de vontade humana, mas pela força que vem da nossa união com Cristo.

3.3 SA TFG ÇAO


Nos capítulos dois e três deste livro estamos estudando a atuação divina na salvação - aquilo que Deus
faz para a salvação em Cristo tornar-se uma realidade no coração e na vida do indivíduo. No capítulo dois,
olhamos a convicção de pecado, o trabalho do Espírito que mostra ao pecador sua culpa e necessidade de
salvação. Depois começamos a contemplar a solução divina que começa no céu; a justificação.
Neste capítulo começamos a estudar a obra subjetiva de Deus com a regeneração, a atuação de Deus que
proporciona a vida eterna e que transforma a vida de dentro para fora . Agora, vamos estudar a santificação, a
continuação o processo de salvação - a ação transformadora do Espírito para nos fazer mais parecidos com Cristo.

3.3.1 INTRODUÇÃO
Ao buscar a santidade, nos encontramos na contracultu ra. Nosso mundo é crescentemente pecador
e corrupto. Deparamo-nos com a inversão de certo e errado . Recentemente um cantor jovem secular foi
duramente criticado por fazer declarações "polêmicas" - Era contra aborto e sexo antes do casamento! A maior
rede de televisão faz proselitismo de homossexualidade. A Globo News falou sobre uma pesquisa mostrando
infidelidade em 80% dos casamentos e a mídia desmascara a total falta de ética entre os governantes.

SÃO APENAS OS GOVERNANTES QUE SÃO CORRUPTOS?


"O governo rouba de nós através de impostos que não são revertidos em beneficios sociais e a gente
desconta passando a perna em quem estiver de perto. Se alguém encontra uma carteira de dinheiro e
devolve para o dono, vai parar na página do jornal como se fosse um peixe com braços, uma anomalia."

Colunista Marta Medeiros em Zero Hora. 22 de junho, 2011


E nós, os crentes, na contracultura, remando contra a maré, a procura de uma vida santa - estamos
conseguindo? Infelizmente, ao invés de rejeitar a cultura, frequentemente a espelhamos. Não somos de ferro;
somos maleáveis, influenciáveis e aos poucos cedemos às pressões. Apesar de muitos crentes viverem vidas
exemplares, nos deparamos com a influência maléfica da cultura, que nos cerca, na vida de indivíduos e até
entidades cristãs.
No nível individual, de acordo com o site Pastors.com, "54% dos pastores entrevistados tinham visto
pornografia na internet no ano passado, e 30% nos últimos 30 dias ..." Um número crescente de seminaristas
vem com estes hábitos - e pelo menos algumas instituições declaram fazer jejum de internet para 'desintoxicar'
os novos candidatos.
A corrupção se manifesta em instituições evangélicas também, e a cobiça e falta de princípios tornam-se
notícias. Uma instituição evangélica ofereceu um esquema de diplomas duvidosos: por um determinado preço,
leva os fieis para um estado vizinho para fazer uma prova e volta no mesmo dia com diploma - facilitado por
consulta de texto e, se for necessário, dicas do gabarito.
São nas pequenas coisas do dia a dia, que crentes contam mentiras, não pagam contas, brigam com
vizinhos, sonegam imposto, fofocam, não trabalham direito, tiram vantagens financeiras e a lista continua
para a vergonha do nome de Cristo.
Com certeza, em nossos dias talvez como nunca, precisamos buscar a santificação! A tendência é nivelar
por baixo - comparamos a nossa vida com os piores exemplos e nos sentimos mais santos! Mas, notamos
que a expectativa de Deus é alta. Ele espera vidas realmente santas. Felizmente, uma das ações divinas é
fomentar e desenvolver a santidade dos seus filhos. Nesta lição, vamos dividir o assunto de santificação em 2
partes: A base bíblica para santificação e a sua conceituação. Lembramos que, como convicção, justificação e
regeneração, santificação é uma obra de Deus em nossa vida; mas, também exigirá uma cooperação da nossa
parte (fato que será mais enfatizado no capítulo 4).

3.3.2 SANTIFICAÇÃO NA BíBLIA


Santificação é um assunto muito falado na Bíblia. Em suas várias formas, o termo é usado mais que
1.000 vezes, 760 vezes no Antigo Testamento e 300 vezes no novo .(BANCROFT, Emory H. Christian Theology.
Grand Rapids: Zondervan, 1976. p. 264). Agora, vamos olhar alguns destes textos quanto à origem divina da
santificação e a atuação de Deus para promovê-Ia, primeiro no Antigo e depois no Novo Testamento:

3.3.2.1 Antigo Testamento


No primeiro livro da Bíblia, Deus fala com Abrão; (Gn17.1) "... ande segundo a minha vontade e seja íntegro"
(ou "perfeito") e em Êxodo fala que seu propósito é de formar um povo dele que fosse "reino de sacerdotes
e nação santa" (Êx 19.6; Dt 7.6).
Em Levítico mostra que a razão da exigência de santidade tem sua origem no próprio caráter de Deus;
"sejam santos porque eu sou santo" (Lv 11.44, 45; 19.2). Ele é santo e quer que seu povo seja do mesmo
padrão. Ele não os deixa sem auxílio nesta busca: Deus declara em vários lugares " ... Eu sou o Senhor que os
santifica" (Lv 20.8; 22.16) . Deus é ativo em promover a santidade do seu povo.
Apesar de focar uma parte do seu discurso sobre santidade na parte externa e cerimonial, Deuteronômio
nos mostra que Deus sempre procurava uma santidade no sentido moral. Em Dt. 26 exorta seu povo a ser
obediente "de todo seu coração e de toda a sua alma" e que assim "Vocês serão um povo santo para o Senhor"
(26.16,19). Ele não os deixa sozinhos nesta tarefa, mas se envolve diretamente: "O Senhor dará um coração
fiel a vocês ... para a que o amem de todo o coração e de toda a alma" (Dt 30 .6).
O salmista faz uma pergunta forte sobre a santidade: "quem subirá ao monte do Senhor - no santo
lugar? Aquele que tem as mãos limpas e o coração puro" (5124.3-5), e o profeta promete a purificação divina:
"pecados escarlates ... tornarão brancos ..." (Is 1.18). Ezequiel registra a promessa de Deus: "Aspergirei água
pura ... ficarão puros ... purificarei de todas as suas impurezas ...". Além da purificação, promete capacitar seu
povo a viver em obediência: Vai dar um "coração novo ... Porei o meu Espírito em vocês e os levarei a agirem
segundo os meus decretos ..." (36.25-27) .

••
precisamos suportar (12.7), não sejam muitas vezes agradáveis, mas é para nosso bem e produz a santidade.
(Outros textos: Hb.12.14; 13.20,21; I Ts. 2.10; 4.3 ; 5.23; I Pedro 1.15,16; I João 3.1-10)

3.3.3 A CONCEITUAÇÃO DA SANTIFICAÇÃO

3.3.3.1 Conceituação Bíblica


Em geral, a Bíblia usa a palavra em dois sentidos básicos:
1. o estado de algo ser separado do uso ordinário para um propósito particular. No Antigo Testamento,
certos lugares, objetos e pessoas eram santificados para o Senhor. No Novo Testamento tem este sentido
em alguns textos também: I Pedro 2.9 fala de uma "... nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus".
Assim se refere ao povo de Deus como 'santos' quando o comportamento era menos que perfeito, como no
caso dos Corintos (I Cor.1.2).
2. Qualidade moral ou valor espiritual. Este sentido tornou se mais predominante no uso bíblico,
especialmente no Novo Testamento, enfatizando a necessidade de pureza e bondade. O fato de ser separado
para Deus, pertencendo a Cristo, deve resultar em comportamento de acordo com isso (ERICKSON, Millard J.
Introdução á Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova,1997. P.418, 419).

3.3.3.2 Definições
Com base na pesquisa bíblica e nas observações acima, podemos oferecer algumas definições da
santificação. Grudem define como "a obra progressiva de Deus e do homem que nos torna mais e mais livres
do pecado e iguais a Cristo" e Boyd como "o processo pelo qual os crentes passam a viver uma vida que honra a
Deus". Acredito que melhor seria: "A ação transformadora do Espírito para nos fazer mais semelhantes a Cristo".

3.3.3.3 Unidade e diversidade de ideias sobre santidade


Há diversidade de ideias entre os evangélicos quanto à santidade. Porém, há uma concordância geral
de que:
,f somos chamados não apenas para crer na verdade, mas viver a verdade.
,f O caráter de Deus é a norma pelo qual todo comportamento é medido. O processo pelo qual os
convertidos passam a viver uma vida que honra a Deus chama 'santificação'.
,f Até não cristãos também creem na importância de uma vida moralmente correta. Mas, cristãos,
entendam que isso não é possível sem o poder do Espírito. Quando pessoas confiarem em Cristo,
passam a ser habitadas pelo Espírito que as capacita a viver vidas que honram a Deus.
Enquanto todos os cristãos acreditam que devamos viver uma vida santa, há divergências em alguns
pontos principalmente nas questões de, por exemplo, até que ponto é possível neste mundo, especialmente,
e de como atingi-Ia. Quanto à questão de como atingir a santidade, voltaremos a esta assunto no próximo
capítulo onde estudaremos sobre a participação humana na salvação.
Em relação à questão de até que ponto podemos ser santos nessa vida, gostaria de realçar dois extremos
perigosos que não têm suporte adequado na Bíblia:
,f primeiro perigo, impecabilidade. Existe uma linha de ensino que diz que o crente chega a um ponto
de santidade onde ele fica imune ao pecado. Poucas pessoas seguem esta linha - talvez mais por
causa de experiência própria! Mas, Jesus falou para orarmos para não cair em tentação (Mat.6.13)
e um homem santo como Paulo nos aconselhou a: "Assim, aquele que julga estar firme, cuide-se
para que não caia!" (I Co 10.12).
,f Segundo perigo - diminuir as normas bíblicas de santidade. Aqui o perigo é maior. Numa época de
relaxamento moral é muito fácil nos acomodar e viver num nível baixo de santidade, nos comparando
com outras pessoas e não com as normas bíblicas. É só olhar para os textos anteriores que lemos
para ver que Deus espera um alto nível de santidade. Qualquer ensino que sugira que não importa
pecar, que nos deixa confortável no pecado, é perigoso. João nos alerta para o perigo de sermos
enganados por um discurso que subestima o perigo do pecado: "Fi lhinhos, não deixem que ninguém
os engane. Aquele que pratica a justiça é justo, assim como ele é justo. Aquele que pratica o pecado
é do diabo, porque o diabo vem pecando desde o princípio. Para isso, o Filho de Deus se manifestou:
para destruir as obras do diabo. Todo aquele que é nascido de Deus não pratica o pecado, porque
a semente de Deus permanece nele; ele não pode estar no pecado, porque é nascido de Deus" (1
Jo 3.7-9) .

F.F. BRUCE SOBRE O RETÓRICO RADICAL DE I JOÃO 3


Por muitos anos, alguns teólogos vêm lutando para amenizar essa retórica radical de João. Contudo,
se quisermos ser fiéis ao texto, não poderemos diluí-lo. F. F. Bruce, um notável estudioso da Bíblia, observa
que o apóstolo considera o pecado uma prática tão anormal para um filho de Deus "que quem o pratica está
negando vigorosamente sua afirmação de que possui a vida divina. As antíteses de João são bem definidas.
Qualquer tentativa de enfraquecê-Ias, em consideração às fraquezas humanas, ou de suavizá-Ias ou torná -
las menos rígidas do que são, constitui uma interpretação errônea delas."
(BRUCE, F. F. Bru ce, The Epistles of John, Qld Tappa n: Reve ll, 1970).

As normas bíblicas de santidade são altas; mas, não cabe a nós ajustá-Ias cabe a nós nos ajustar a elas,
buscando um nível mais alto de santidade. Deus nos destinou a viver uma vida santa e trabalha para esta
finalidade de várias formas: levando à cruz o velho homem, assim nos libertando de nós mesmos, limitando
as tentações, nos enchendo com seu Santo Espírito e nos disciplinando. Santificação é uma obra de Deus.

CONCI.USÃO
Salvação é de origem divina; a "mental idade da balança" é uma falácia. Neste capítulo, procuramos
entender melhor aquilo que Deus faz para a salvação em Cristo virar uma realidade na vida do indivíduo. Jesus
fez uma obra completa na cruz; não falta nada. Mas, para esta salvação ser aplicada, Deus ativamente trabalha
na vida dos seres humanos. Sendo que ninguém procura ser sa lvo se não der conta da sua perdição, o Espírito
trabalha na convicção do pecado até que a pessoa esteja pronta para procurar uma solução divina. Depois,
Deus, em resposta à fé (não obras), justifica o injusto por causa do sacrifício de Cristo. Simultaneamente,
regenera o crente, dando uma vida nova e eterna. E, finalmente, Deus trabalha para santificá-lo, levando-o à
conformidade da imagem de Cristo .
Salvação é muito mais que força de vontade ou esforço humano. Salvação é a obra de Deus!

RESUMO DO CAPíTULO 3
• No capítulo anterior e neste capítulo, refletimos sobre quatro coisas que Deus faz para a salvação em
Cristo se tornar uma realidade pessoal, Convicção de pecado, justificação, regeneração e santificação.
Neste capítulo estudamos a regeneração (novo nascimento) e a santificação.
• Para começar, fizemos uma distinção entre a ação objetiva e subjetiva da ação de Deus. Justificação
é o lado objetivo - acontece fora de nós, nos arquivos de Deus. Regeneração é o lado subjetivo-
acontece no coração e vida pessoal do crente.
• Regeneração, a comunicação de vida espiritual e da vida eterna para o crente, acontece na vida aqui
na terra. Por ser a união com Cristo, é instantânea. Não é o resultado de boas obras, mas resulta
em transformação .
• Santificação é a ação transformadora do Espírito para nos fazer semelhantes a Cristo . Deus nos
destinou a viver uma vida santa e trabalha para esta finalidade de várias formas: levando à cruz o
velho homem, assim nos libertando de nós mesmos, limitando as tentações, nos enchendo com seu
Santo Espírito e nos disciplinando .
l!

• As normas divinas de santidade são altas. Diante das exigências bíblicas corremos o perigo de ir em
direção a dois extremos: de achar que podemos atingir um estado de santificação onde ficamos
imunes ao pecado - a chamada "impecabilidade"; ou de tentar diminuir as normas bíblicas e nos
acomodar a uma vida cheia de pecado.

Chegou a hora da autoatividade. Você fará uma revisão


do capítulo, responderá as questões, destacará a folha da
autoatividade e a entregará para o professor na práxima
aula. Boa revisão e átimos resultados!
...

I ~:~~~:~. ~ESPOSTA HUMANA

FIG.: SALVAÇÃO; em fernandoheise.wordpress.com; em 30.mar. 2012

4 .1 IN. ~ 'oDUÇÃO - .'\ I\JECESSIDADE. DL HL~. JSTA


L.. 1,./11\.1\1/\

Nos últimos capítulos vimos com clareza que a salvação é a obra de


Deus do início ao fim. A condição pecaminosa do homem é tal que qualquer
tentativa de se erguer sozinho é fadada ao fracasso. Em Teologia Sistemática
2, estudamos o antigo erro de Pelágio que achou que o homem pode se salvar,
heresia corretamente identificada e condenada. Mesmo que alguém, por força
de vontade, pudesse nunca mais pecar (o que não vai acontecer), não há como
desfazer o passado; Não temos como nos justificar- o juiz que tem que fazer;
não temos como regenerar o nosso interior-só um milagre muda a alma ; não
temos como adquirir a vida eterna - só Deus tem esta vida; não somos capazes
de nos santificar - já tentamos e não funcionou. A salvação precisa partir de
Deus. Ele tomou esta iniciativa e trabalha para a sua realização.
Em primeiro lugar, mandou Jesus para morrer na cruz . Nesta obra
expiatória, Cristo satisfez todas as exigências da lei de tal forma que possa
perdoar o culpado sem ferir a sua própria justiça. A obra na cruz é completa.
A base desta obra na cruz é Deus, mais uma vez, que convence do
pecado, justifica, regenera e santifica o pecador, mas ele não salva ninguém
sem consentimento. Deus criou seres humanos com o livre-arbítrio. É esta
liberdade de escolha que possibilita o seu caráter moral. É esta liberdade que
dá significado ao amor. Sem o livre-arbítrio, o ser humano vira um robô, ou
programado para a perdição ou para a salvação.
A Bíblia é clara em dizer que não é por obras que somos salvos, mas,
também, é clara em dizer que existem condições necessárias para receber a
salvação graciosa. Arrependimento e fé são as duas condições humanas para
receber a graça salvadora.
Uma palavra de cautela: precisamos entender o conceito de condição para não confundi-lo com
pagamento. Condição é uma exigência que cumprimos para receber algo não merecido. Condição não implica
troca, pagamento ou obra de merecimento (como era a preocupação legitima de Calvino e outros reformadores).
Podemos ilustrar a função de condição com dois casos hipotéticos:
Caso 1: um prisioneiro encarcerado por tentativa de homicídio é contemplado com o perdão pelo juiz;
sua sentença seria suspensa depois de cumprir apenas a metade da pena. O juiz faz duas perguntas para ver
se o criminoso satisfaz as condições necessárias para o perdão: " O que é que mudou em você?" e "o que é
que vai fazer ao sair da cadeia?"
- Se o criminoso responder: "Nada mudou e vou matar o cara que me entregou", não será perdoado e
continua a receber o que merece.
- Se responder: "Aprendi a lição. Volto para minha família, vou procurar emprego e um viver diferente",
será perdoado. Merece perdão? Não! Apenas cumpriu uma condição para receber algo que de fato não merece.
Caso 2: um milionário tem um filho só e se preocupa com o seu futuro. Promete uma herança de 10
milhões se terminar a faculdade até os 23 anos de idade. O filho, de fato, se forma antes de completar o prazo
limite - e recebe a sua herança milionária. Cumprindo esta condição, o filho merece 10 milhões? Foi uma troca
de valores semelhantes? Tem motivo de se orgulhar? Não. Apenas cumpriu uma condição para receber algo
que de fato não merecia.
Estas condições, arrependimento e fé, tocam na problemática essencial do homem em relação a Deus.
Anteriormente identificamos uma atitude errada: o egocentrismo, independência, indisposição de ser
governado, autossuficiência - como a essência do pecado. As condições exigidas da parte de Deus para conceder
a salvação gratuita visam uma disposição de mudar esta atitude essencial:
• arrependimento é repudiar o pecado e o egocentrismo. Os cristãos "Não vivem mais para si mesmos,
mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou" (2 Co 5.14,15).
• Fé envolve repudiar a autossuficiência, orgulho e merecimento: "Somos salvos "pela fé ... não por
obras, para que ninguém se glorie" (Ef 2.8,9).
Neste capítulo veremos como arrependimento e fé tratam da essência daquilo que nos separa de Deus.
É interessante notar que mesmo em relação a estas condições, Deus toma a iniciativa. Sem a graça de
Deus ninguém se aproximaria dele em arrependimento e fé. Deus nos deu a lei para nos mostrar a nossa
necessidade de arrependimento (Rm 3.20) . A bondade de Deus nos "leva ao arrependimento" (Rm 2.4). Deus
"concedeu" arrependimento aos gentios (At 11.18) "no sentido de torná-lo possível" (WILEY,303). Cremos
"por intermédio da sua palavra" (Jo 17.20) e a "fé vem pela pregação e a pregação pela palavra" (Rm 10.17).
Fé é um dom de Deus no sentido de que a graça a produz - mas, "Deus nunca crê no lugar do homem" disse
Adam Clarke (citado por WILEY. P.308).
Mas, apesar destas iniciativas divinas, quem deve arrepender-se e crer somos nós! Somos responsáveis
e sujeitos à censura e punição por não fazer. Fé e arrependimento são as duas condições para recebermos a
graça salvadora de Deus.

Arrependimento é um tema de destaque na Bíblia. No Novo Testamento é revelada como a primeira


condição pa ra receber a salvação graciosa de Deus que é conectada intrinsecamente com a segunda condição,
a fé salvadora.
Vejamos o arrependimento, por exemplo, no Salmo 51, o salmo de arrependimento de Davi depois de
cometer o adultério. Na angústia da sua culpa pelo adultério e subsequente assassinato, ele externa seu
arrependimento de forma poética.
Com sua mente, Davi compreende a profundidade do seu pecado, se vê como maculado e impuro. "Pois
eu mesmo reconheço as minhas transgressões ... (3)".
Mas a sua atitude era mais do que apenas um reconhecimento intelectual: sentiu tanto o peso emocional
f

da sua culpa a ponto de dizer que era mau desde sua concepção! "Sei que sou pecador desde que nasci, sim,
desde que me concebeu minha mãe"(5).
Também percebeu que tinha ofendido não somente a família da amante e a nação que liderava, mas tinha
ofendido a Deus. "Contra ti, só contra ti, pequei e fiz o que tu reprovas, de modo que justa é a tua sentença e
tens razão em condenar-me" (3,4).
E vemos que realmente decidiu mudar de atitude em relação ao pecado e em relação a Deus.
"Cria em mim um coração pura, ó Deus, e renova dentro de mim um espírito estável. Não me expulses da
tua presença, nem tires de mim o teu Santa Espírito. Devolve-me a alegria da tua salvação e sustenta-me
com um espírito pronto a obedecer. Então ensinarei os teus caminhos aos transgressores, para que os
pecadores se voltem para ti" (5151.10-13).
Agora, este é o caminho do verdadeiro arrependimento. Vamos examinar este caminho como descrito
na Bíblia (4:1.1) para depois conceituar (4:1.2) esta doutrina tão essencial para a salvação.

4.2.1 ARREPENDIMENTO NA BíBLIA


Os profetas do Antigo Testamento chamaram o povo desviado e rebelde para arrependimento e
lamentaram quando recusaram seu apelo:
"Portanto, ó nação de Israel... Arrependam-se! Desviem-se de todos os seus males, para que o pecado
não cause a queda de vocês" (Ez 18.30).
"Por que será, então, que este povo se desviou? .. Ninguém se arrepende de sua maldade e diz: "O que foi
que eu fiz?" Cada um se desvia e segue seu próprio curso, como um cavalo que se lança com ímpeto na
batalha" (lr 8:5-6).
Nestas chamadas ao arrependimento, os profetas do Antigo Testamento salientam a "importância de uma
separação moral consciente, a necessidade de abandoar o pecado e de ter comunhão com Deus" (ERICKSON, p. 395).
No Novo Testamento, o termo arrependimento ocorre mais que 50 vezes. O próprio Jesus disse de si mesmo
"não vim chamar justos, e, sim, pecadores ao arrependimento" (Mt 9.13 e Lc 5.32). Tanto ele quanto João
Batista pregavam arrependimento como condição para entrar no Reino (Mt 3.2·8;4.17). No Novo Testamento
"Deus procura conduzir o homem ao arrependimento por meio das suas admoestações (Rm 2.4; 2 Tm 2.25;
Ap 2.5,16) e por meio dos seus juízes (Ap 9.20,21; 16.19)" (WILEY. p. 301).
Os apóstolos pregaram arrependimento. Paulo disse: "Testifiquei, tanto a judeus como a gregos, que
eles precisam converter-se a Deus com arrependimento e fé em nosso Senhor Jesus" (At 20:21) e Pedro fazia
o mesmo: "O Senhor não demora em cumprir a sua promessa ... não querendo que ninguém pereça, mas que
todos cheguem ao arrependimento" (2 Pe 3.9).
O Novo Testamento apresenta arrependimento como uma condição imprescindível de salvação. Jesus
disse: "... mas se não se arrependerem, todos vocês também perecerão" (Lc 13.3). Será que a nossa pregação
inclui este elemento tão importante? É mais agradável pregar um Deus "Papai Noel" que fica a disposição
para atender os nossos pedidos do que o Senhor Jesus que nos chama a arrepender dos nossos pecados e
tomar a sua cruz! Muitas vezes corremos o perigo de deixar de pregar o que o próprio Cristo pregou e ficamos
surpresos com a falta de comprometimento dos nossos "convertidos"!

o PROBLEMA DA "GRAÇA BARATA" - E DiScíPULOS SEM COMPROMISSO


"A repetida insistência da Bíblia na necessidade de arrependimento é um argumento irrefutável contra o
que Diedrich Bonhoeffer chama de "graça barata" (ou "crença fácil") . Não basta simplesmente crer em Jesus
e aceitar a oferta da graça; é preciso que haja uma alteração real no interior da pessoa. Se a crença na graça
de Deus fosse tudo o que se exigisse, quem não gostaria de se tornar cristão? Mas Jesus disse: "Se alguém
quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me" (Lucas 9.23). Se não houver
arrependimento consciente, não haverá verdadeira noção de ter sido salvo do poder do pecado. Pode haver
correspondente falta de profundidade e de compromisso. Qualquer tentativa de aumentar o número de
discípulos facilitando ao máximo o discipulado acaba, pelo contrário, diluindo a qualidade do discipulado".

, .",
4.2.2 A CONCEITUAÇÃO DE ARREPENDIMENTO
Alguns termos bíblicos não são entendidos corretamente por causa do uso do termo em linguagem
popular. Arrependimento no dia a dia é uma palavra bem mais fraca do que o sentido que carrega no Novo
Testamento. Por isso, talvez seja interessante, antes de dizer o que é arrependimento, dizer o que não é:
• arrependimento não é apenas reconhecer que está errado. Muitas pessoas admitem que pecaram
e que não são perfeitas, mas não tomam nenhuma atitude a respeito. É a mentalidade do
confessionário: todo sábado confessa mas, pretende continuar a fazer o errado na semana seguinte.
Não há nenhum propósito de mudar de vida.
• Arrependimento não é remorso. Popularmente o arrependimento é a tristeza sentida por algo que
fizemos de errado e principalmente aparece quando somos "pegos" no flagrante! Sentir-se pesaroso
por causa das consequências em si de um ato errado é remorso, não arrependimento. Me lembro
de um garotão que a polícia pegou roubando galinhas. Estava chorando desesperadamente e senti
pena dele até que soube mais a seu respeito : o policial disse que era um jovem conhecido porque
era o costume dele sempre roubar. A razão do choro não era de arrependimento; chorava pelas
consequências, não porque tinha feito alguma coisa errada.
• Arrependimento não é autorreforma. Algumas pessoas decidem mudar algo na sua vida e· fazem:
decidem parar de fumar, praticar exercícios, voltar a estudar, perder peso ou gastar mais tempo
com a família. São todas coisas boas, mas não é arrependimento no sentido do Novo Testamento.
Na Bíblia, como veremos, arrependimento sempre implica uma mudança de atitude em relação a
Deus e seu governo.
O que é arrependimento, então? O arrependimento, metanoia, (veja VINE, 279-281) é essencialmente
uma mudança de mente em relação ao pecado e a Deus. Embora seja mudança na mente, o arrependimento
envolve, também, a emoção e a vontade. Estes três aspectos do verdadeiro arrependimento são dramaticamente
ilustrados na famosa parábola do filho pródigo (Lc 15.11-31). Como todos se lembram, o filho rebelde demanda
sua herança e sai para a 'terra distante' do pecado, desperdiçando tudo e finalmente passando necessidade.
Observe:
./ seu arrependimento começa no intelecto: Ele "caiu em si" (17), entendendo a loucura do pecado
e a lógica da volta .
./ Depois as suas emoções se envolvem: ele sente tristeza não apenas pelas consequências, mas pela
ofensa cometida contra seu pai (18,19,21) .
./ Finalmente, toma uma decisão "levantou-se e foi para seu pai" (20). O pai amoroso está a sua espera
e o recebe de braços abertos e festança.
O caminho para os braços salvadores do Pai é sempre via a estrada do arrependimento que envolve todo
seu ser: intelecto, emoções e volição. Como diz Grudem: "O arrependimento é algo que ocorre no coração e
envolve a totalidade da pessoa na decisão de abandonar o pecado" (GRUDEM, Wayne . Manual de Teologia.
São Paulo : Vida, 2001. p.340)
Agora, vamos para uma definição de arrependimento e depois fazer algumas observações a respeito
dela : "Uma profunda mudança de mente e coração que nos leva a rejeitar e deixar de lado todos os pecados
que conhecemos e a desistir do direito de governar a nossa própria vida independentemente de Deus" (Elmer
Murdoch).

4.2.2.1 Observações a respeito da definição


Nota-se nessa definição que arrependimento propõe uma mudança interior de mente e coração. Não é
apenas adotar certos hábitos da cultura evangélica, mas uma mudança de dentro para fora, sincera, profunda
e revolucionária.
Esta mudança vai para o âmago da problemática humana, os pecados que cometemos. Convicção de
pecado oriunda do Espírito (que já estudamos) aponta os nossos pecados; agora, precisamos mudar a nossa
\

atitude em relação a eles. Ao invés de curti-los, passamos a odiá-los. "O temor do Senhor é aborrecer o mal",
diz o sábio.
Mas, a mudança aborda algo mais profundo do que os pecados em si; aborda o egocentrismo que motivou
os pecados. Diz a definição, desistir do direito de governar a nossa vida independentemente de Deus. Pecado
é viver a nossa vida independente da direção de Deus. É a rejeição do governo de Deus e arrependimento é
a submissão ao seu Senhorio. Elmer Murdoch descreve o arrependimento como uma "meia volta espiritual".
Poderia ilustrá-lo assim:
Arrependimento - Um meia volla espiritual

o Senhorio de ~ EU governo minha


CRISTO vida. Resultado: pecado

Arrependimento implica a disposição para abandonar os pecados, mas, também de submeter-se ao


senhorio de Cristo, a disposição de deixar Cristo governar a nossa vida. Daí, quando, pela fé, convidamos Jesus
para entrar em nossa vida, ele entra para nos salvar, sim, para nos ajudar no dia a dia, mas fundamentalmente
ele entra para ser o nosso Senhor! Ao arrepender-me estou dizendo: "Senhor, não quero viver mais no pecado,
e sim, vou te obedecer!/I

A salvação é de Deus do começo ao fim . Mas, ele não a impõe unilateralmente sobre nós, porque respeita
o livre-arbítrio que Ele mesmo nos deu. Ele quer nosso consentimento e cooperação no seu processo de
convicção de pecado, justificação, novo nascimento e santificação. Precisamos cumprir duas condições para
recebermos a salvação: arrependimento e fé. Vimos que arrependimento é a decisão de abandonar os pecados
e o autogoverno atrás dos pecados. Fatalmente, o arrependimento nos conecta com a fé salvadora.
Arrependimento e fé andam de mãos dadas (Marcos 1.15). "A Escritura coloca o arrependimento e a fé
juntos, como aspectos diferentes do mesmo ato de ir a Cristo para ser salvo" (p.341, GRUDEM). Ao virar as
costas para o pecado (arrependimento), já estamos virando em direção à confiança em Cristo (Fé). De fato,
os dois geralmente acontecem juntos a ponto de confundi-los. John Murray fala de "fé penitente" ou de
"arrependimento confiante" (GRUDEM . P.341) .
NOTA: o termo bíblico para estas duas condições juntas é a conversão (João 12.40; Mat. 18.3; Lucas 22.32;
Tiago 5.19,20). É um termo mais abrangente incluindo todo o lado humano da salvação: arrependimento, fé
e possivelmente a transformação como resultado.

NÃO HÁ FÉ SEM ARREPENDIMENTO


"Portanto, é claramente contrária à evidência do Novo Testamento, falar a respeito da possibilidade
de haver verdadeira fé salvadora sem haver arrependimento verdadeiro do pecado. É também contrário
ao Novo Testamento falar a respeito da possibilidade de alguém aceitar Cristo "como Salvador" mas não
"como Senhor", se isso significa simplesmente depender Dele para salvação, mas sem o compromisso de
abandonar o pecado e ser obediente a Cristo daquele ponto em diante."
GRUDEM, Wayne. Manual da Teologia Sistemática. São Paulo: Vida, 2001. p.241.

4.3.1 FÉ SALVADORA NA BíBLIA


Fé na Bíblia é bem diferente do que a fé popular, como 'pensamento positivo'. Por exemplo, a pessoa
comenta: "Acho que vou para o céu porque tenho fé", como se esta crença em si tivesse um poder inerente
para salvar. Isso é fé em fé! Mas, a fé apresentada na Bíblia não tem poder em si; pelo contrário, depende do
objeto da fé, em quem confiamos.
Em nosso estudo, já ficou claro que salvação não é por obras, mas pela fé . Agora esta fé precisa focar
no objeto certo. Qual o objeto da fé salvadora? Cristo. Não é pela fé na igreja nem pela fé em fé que somos
salvos: somos salvos pela fé em Cristo. Vamos olhar alguns textos chaves sobre fé em Cristo em três facetas:
Cristo e sua pessoa, sua obra e sua presença.
Primeiro, se Cristo é o objeto da fé salvadora, precisamos crer na pessoa dele. João disse que "... todo
aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna" (Jo 3.16). Em outro lugar fala a mesma coisa de
forma diferente: "... deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome" (Jo 1.12).
Para a cultura judaica, crer no nome da pessoa era igual a confiar na integridade e bom caráter da pessoa.
A palavra confiança talvez seja mais próxima ao sentido bíblico da palavra crer (GRUDEM. p. 339). Crer na
pessoa de Cristo quer dizer considerá-lo digno de confiança, acreditar no seu amor e bom caráter, crer que
fala a verdade e cumpre suas promessas .
Segundo, se Cristo é o objeto da fé salvadora, precisamos crer na sua obra. Paulo aponta a morte e
ressurreição de Cristo como objeto de fé:
"Mas também por nós, a quem será tomado em conta, os que cremos naquele que dentre os mortos
ressuscitou a Jesus nosso Senhor; o qual por nossos pecados foi entregue, e ressuscitou para nossa
justificação" (Rm 4:24-25).
Fé salvadora crê na eficácia da obra dele, que de fato a sua morte valeu para pagar os nossos pecados
e que saiu do túmulo para nos dar uma nova vida. Jesus chamou as pessoas a crerem nas boas novas do
evangelho, na sua mensagem:
': .. veio Jesus para a Galileia, pregando o evangelho do reino de Deus, e dizendo: ... Arrependei-vos, e
crede no evangelho" (Me 1:14-15).
Finalmente, se Cristo é o objeto da fé salvadora, precisamos crer na presença dele em nossa vida. A
essência da vida Cristã é união com Cristo e fé acredita nesta presença. Diz Paulo: "Cristo habite no coração
de vocês pela fé" (Ef 3.17). Por isso, fala-se de receber Cristo pela fé. João iguala o crer nele com recebê-lo:
"Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu
nome"(Jo 1:12.) Pela fé, abrimos a nossa vida para ele entrar. Na sua visão apocalíptica, João expressa a mesma
ideia figurativamente: "Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em
sua casa, e com ele cearei, e ele comigo" (Ap 3.20).

4.3.2 A CONCEITUAÇÃO DA FÉ SALVADORA


Vemos que crer na Bíblia é uma palavra muito mais forte do que o uso atual da palavra. Implica confiança,
entrega e compromisso, muito mais do que simplesmente uma concordância mental. Na base do uso bíblico
queremos conceituar a fé em Cristo, definindo o termo e investigando mais de perto os elementos que compõe
a fé salvadora.
Primeiro, uma definição de fé salvadora: Fé Salvadora é confiar na pessoa e obra de Cristo de tal maneira
que entreguemos toda nossa vida a Ele (do autor).
Outra boa definição: "É a confiança em Jesus Cristo como pessoa viva para o perdão dos pecados e a vida
eterna com Deus" (GRUDEM, Wayne . Manual de Teologia. São Paulo: Vida, 2001. p.338).
Teólogos historicamente têm mostrado as profundas implicações do conceito de fé salvadora (adaptado
de GRENZ, p. 408,409). Fé salvadora tem 3 elementos essenciais que formam uma progressão (usam termos
em latim):
1) conhecimento (notitia). A fé salvadora não pode existir sem um conhecimento mínimo do evangelho.
Paulo diz que a fé vem "pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus" (Rm 10.17). Por isso precisamos
pregar o evangelho a toda criatura, e pregá-lo de forma que as pessoas entendam. Não há necessidade
de conhecer tudo sobre a Bíblia para ser salvo, mas existem verdades fundamentais sem os quais é
impossível ter fé. O conhecimento do conteúdo básico do evangelho é o começo da fé salvadora.
2) Concordância (assensus) - A fé salvadora reconhece a verdade deste conteúdo conhecido. É
possível saber o que a Bíblia diz a respeito de Cristo e não acreditar que seja a verdade. Muitos dos


contemporâneos de Jesus ouviam suas reivindicações, mas nem todos concordavam que fossem
verdadeiras. Foi Pedro quem declarou: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo" (Mt 16.16). Jesus
declarou para Marta que ele era a ressurreição e a vida, e ela concordou que ele falava a verdade:
"Sim, Senhor, creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo" (Jo 11.27).
3) Compromisso (fiducia) - Conhecimento e concordância sem compromisso não constituem fé
salvadora. Os demônios conhecem os fatos de Cristo e o evangelho, sabem que são verdadeiros e
"tremem" (Tg 2.19), mas não se comprometem com Cristo. O jovem rico creu na verdade das palavras
de Jesus, mas foi embora triste porque O preço do compromisso era muito alto. Fé verdadeira sempre
gera a tomada de posição ao lado de Cristo. Na sua chamada dos discípulos, eles ouviram as suas
palavras, creram que eram verdadeiras, mas a hora critica seria o momento de decisão: Cristo disse
"Siga-me"". e tinham que se posicionar. Fé salvadora necessariamente inclui uma decisão de entregar
a vida a Ele, de confiar a sua vida nas suas mãos. É isso que significa crer em Jesus.
Estas duas condições, arrependimento é fé salvadora, são necessárias para receber a salvação. Quando
Deus percebe no coração estas duas condições, instantaneamente, graciosamente, sobrenaturalmente há
salvação! Naquela hora Deus justifica - apaga os pecados; Deus regenera - muda o coração e destino pela
presença no coração do crente; e Deus começa a obra de santificação.
Obviamente, como consequência desta salvação, há mudanças na vida da pessoa . Como pode não
haver mudanças se agora é habitado por Cristo? João Batista chamava estas mudanças de frutos dignos
de arrependimento (Mt 3.8 e Lc 3.8). A verdadeira fé produz fidelidade, a virtude que inclui obediência,
cumprimento de promessas, perseverança debaixo de dificuldades e também " boas obras" (Tg 2.14-26). A
presença de Cristo na vida produz o fruto do Espírito (GIS). Agora, precisamos sempre lembrar que salvação
em Cristo produz bom comportamento, mas bom comportamento não produz salvação!
As condições - arrependimento e fé - continuam como atitudes permanentes no cristão. Se pecar,
precisa confessar e arrepender-se do pecado (1 Jo 1.8). A fé deve permanecer (1 Co 13.13). Estas condições
continuam para o restante da vida. Agora, é importante acrescentar mais uma condição para continuar a viver
e a desenvolver a salvação; uma condição pouco comentada em nossos dias, mas fundamental para a visão
bíblica de salvação: o caminho da cruz, o último assunto deste capítulo.

CA NH( lUZ
"E ali haverá uma estrado, um cominho, que se chamará o cominho santo; o imundo não passará por ele,
mos será para aqueles; os caminhantes, até mesmo os loucas, não errarão" (Isaías 35:8).
O grande reformador Lutero é conhecido pela sua ênfase doutrinária de justificação pela graça mediante
a fé somente. Mas, por trás desta mensagem, Lutero detectou um princípio divino que norteou não somente
a doutrina da justificação pela fé, mas de toda a Teologia: a Teologia da cruz. A suprema revelação de Deus
se encontra no Deus crucificado. Os cristãos, seguidores deste Deus, devem ser conscientes que abnegação e
sofrimento fazem parte da salvação. Ele contrastou a teologia da cruz com o que chamava a teologia da glória.
A teologia da glória é "". a teologia centralizada no homem e induz a superestimação do poder e capacidade
naturais do homem" (OLSON. p. 291,292).
Acredito que precisamos declarar um jejum da Teologia da glória que domina uma parte do corpo de
Cristo, e tomar uma dose forte da Teologia da cruz. Nos dias de hoje, para muitos evangélicos, Deus se tornou
um meio e não um fim. Ele é apresentado como um meio para sucesso, saúde e prosperidade financeira. Mas
que aberração quando se compara esta "Teologia da glória" com o retrato bíblico de Jesus.
A Bíblia nos revela que ele mesmo morreu desprezado numa cruz aos 33 anos de idade, sem casa e com
um pequeno grupo de seguidores. Dos seus doze seguidores, provavelmente onze morreram pela sua fé. O
principal missionário da fé, Paulo, sofreu horrores para pregar o evangelho. E de repente, o cristianismo virou
um meio de realizar os nossos sonhos de consumo e ser 'campeões' em vez de humildes servos como foi o
nosso Senhor Jesus. Em vez de pagar o preço para servi-lo, esperamos ser servidos por Ele!
No capítulo anterior, introduzimos a doutrina da santificação, que juntamente com a justificação e
regeneração, faz parte do "pacote de salvação". Recapitulando esta doutrina, lembramos que:
o santificação é a ação transformadora do Espírito para nos fazer semelhantes a Cristo. Deus trabalha
para esta finalidade de várias formas: levou à cruz o velho homem, assim nos libertando de nós
mesmos, limita as tentações, nos enche com seu Santo Espírito e nos disciplina.
o As normas divinas de santidade são altas. Não podemos abaixar as normas bíblicas e nos acomodar
a uma vida cheia de pecado.
Deus está trabalhando ativamente para nos fazer santos, semelhantes a Cristo. Santificação é uma obra
dele, mas, mais uma vez, esta obra depende de uma condição nossa. Vamos chamar esta condição o caminho
da cruz. Este caminho é o caminho que nos leva à santidade. Vamos olhar alguns textos a respeito deste
caminho e depois procurar uma forma prática de caminhar nele.

4.4.1 TEXTOS-CHAVE SOBRE O CAMINHO DA CRUZ


T.A. Hegre foi um grande expoente da santificação e o caminho da cruz. Recomendo seu livro sobre o
assunto : Vida que nasce da morte. Venda Nova: Editora Betânia, 2010. Numa apostila não publicada, Hegre
introduz este caminho usando vários textos chaves:
"E assim, se alguém está em Crista, é nova criatura: as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram
novas." (2 Co 5.17)
Mas após essa experiência temos toda uma vida a ser vivida . E para isso precisamos ... da cruz. O Cristo
crucificado deve ter seguidores crucificados, possuindo em si o mesmo espírito da cruz, o espírito do cordeiro
imolado . Isso implica em quebrantamento, sacrifício, disciplina, intercessão, combate nos lugares espirituais
e espírito de perdão. Se não abraçarmos a cruz ... com todas as fases dela, corremos o risco de revertemos à
nossa condição anterior...
"Dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome sua cruz e siga-me"
(Lc 9.23.).

"Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus que apresenteis os vossos corpos por sacrificio vivo,
santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional" (Rm. 12.1).
"Porque também Cristo não agradou a si mesmo, antes, como está escrito: As injurias dos que o
ultrajavam, caíram sobre mim" (Rm 15.3).
"Mas esmurro meu corpo, e o reduzo a escravidão, para que, tendo pregado a outros, não venha eu
mesmo a ser desqualificado" (1 Co 9.27).
"Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se
morrer, produz muito fruto." (Jo 12.24)
"Temos, porém, este tesouro em vaso de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós.
Em tudo somos atribulados, porém, não angustiados; perplexos, porém não desanimados; perseguidos,
porém não desamparados; abatidos, porém não destruídos; levando sempre no corpo o morrer de Jesus
para que também a sua vida se manifeste em nosso corpo. Porque nós, que vivemos,somos sempre
entregues a morte por causa de Jesus Cristo,para que também a vida de Jesus se manifeste em nossa
carne mortal. De modo que em nós opera a morte; mas em vós, a vida" (2 Co 4.7- 12).
"... naturalmente, a cruz é uma só, mas não entendemos todo o seu significado de uma só vez. Passaremos
a entender melhor na medida em que o Espírito Santo nos revelar seus aspectos mais profundos. Aí então
precisamos dar os passos necessários para nos ajustarmos a essas revelações mais profunda s, se quisermos
que o Espírito Santo continue a guiar-nos e a mostrar-nos mais e mais acerca da vida de Cristo. Quanto mais
revelações recebermos, mais ajustes teremos que fazer. É um processo que dura por toda a nossa vida".

4.4.2 A ENTRADA PARA O CAMINHO DA CRUZ APLICAÇÃO E


TESTEMUNHO
A condição humana para Deus realizar o seu propósito em nos fazer parecidos com ele (Ef 4.13,15) é andar
no caminho da cruz como descrito acima . É uma parte da Bíblia frequentemente negligenciada, mas deixamos
de lado para nossa própria desgraça. Cristo trilhou este caminho e se não seguirmos nos seus passos, nunca
seremos santos e parecidos com ele: o propósito de Deus para nós.
A porta de entrada para este caminho passa pala própria cruz. Como a cruz é um tipo de morte, precisamos
carimbar o fato que morremos com Cristo (Rm 6.6) com um passo difícil,1 mas essencial - precisamos morrer
para o nosso egoísmo. Como? Por uma entrega total de tudo que somos e temos ao senhorio de Cristo.
Pode ser que um testemunho pessoal poderia ajudar a esclarecer o que é uma 'entrega total' a Jesus:
"Converti-me a Cristo com 18 anos. Senti a convicção forte dos meus pecados e os confessei a Jesus
arrependido e o recebi pela fé no meu coração. Tornei-me um crente fiel, lendo a minha Bíblia, frequentando
a igreja e comecei a estudar no seminário para me preparar para o ministério. Mas, não estava tudo bem
no meu coração. Sabia que servia a Deus com algumas reservas. Tinha duas áreas da minha vida que nunca
entreguei ao controle de Deus: meu futuro ministério e meu eventual casamento. Tinha ideias e planos próprios
a respeito e tive medo de fazer uma entrega destes 'direitos' meus.
Em relação aos meus planos ministeriais, tinha apenas uma reserva em relação ao direcionamento de
Deus: não queria sair do meu país para ser missionário .
Em relação ao casamento, não queria entregar este direito ao controle dele por ter medo que ele não
quisesse que eu casasse, mas que vivesse como solteiro.
Relutei com estas duas questões durante todo meu primeiro ano de seminário. Senti que Deus me pedia
o controle sobre toda área da minha vida incluindo estas, mas meu egoísmo não me deixava me submeter a
ele. Na igreja cantávamos músicas que me incomodavam, como "Tudo entregarei" e "Ponha tudo no altar",
mas recusava a ceder ao chamado de Deus, endurecendo meu coração. Esta falta de entrega me tirava a alegria
da vida cristã. Mas, numa bela noite, atendi um apelo na igreja para uma entrega total e fui à frente para falar
com Deus. Fal ei que Ele seria o Senhor de toda a minha vida; que abria mão do meu direito de casar se ele
assim quisesse. Falei que iria para qualquer lugar no mundo para servi-lo.
Que alívio! Que libertação! Tinha entrado no caminho da cruz e estava disposto a viver a vida cristã,
custasse o que custasse, nos passos de Jesus. Gostaria de poder dizer que nunca vacilei depois, mas não posso.
Posso sim, dizer que ao desviar-me momentaneamente desse caminho para egoísmo e sonhos vazios, pela
graça de Deus, tenho voltado sempre.
E com tudo isso, descobri mais do amor de Deus. Em relação aos meus planos ministeriais, ao entregar
este direito a Deus, Ele colocou um desejo no meu coração para servi-lo em missões transculturais e me trouxe
para um país bonito como o Brasil onde trabalho desd e 1974! Em relação ao casamento, depois de entregar
este direito, ele me presenteou com uma jovem missionária linda, Nedra, com quem tenho vivido uma vida
maravilhosa desde 1968!
Jesus é bom ete ama. Não precisa ter medo de seguir em seus passos pelo caminho da cruz!" (testemunho
do autor).

"O
Salvação é a obra de Deus, mas ele salva quem estiver disposto a cumprir as condições estabelecidas por
Ele. Estas condições não estabelecem nenhum relacionamento de troca ou merecimento. Nada podemos fazer
para merecer o dom gratuito de salvação. Porém, Deus respeita o livre-arbítrio de todos e espera a resposta
humana para suas iniciativas. Ele não arromba a porta do nosso coração, mas bate e espera o nosso querer.
São duas as condições para receber a salvação: arrependimento e fé; e uma terceira para proceder na
santificação: andar no caminho da cruz. Vivendo estas condições, estaremos nos abrindo para a atuação de
Deus em nossas vidas: a salvação em Cristo; uma salvação completa que nos justifica, nos regenera e nos
santifica, cumprindo o propósito de Deus de restaurar a imagem de Deus em nós.

__.JlJ /I DO CA 'TULO 4
• Nos capítulos anteriores, refletimos sobre quatro coisas que Deus faz para a salvação em Cristo se
tornar uma realidade pessoal: convicção de pecado, justificação, regeneração e santificação. Neste
capítulo identificamos três condições que Deus requer para realizar estes propósitos: arrependimento,
fé e o caminho da cruz.
o Condição é uma exigência que cumprimos para receber algo não merecido. Condição não implica
troca, pagamento ou obra de merecimento. Não há nada que possamos fazer para merecer a salvação
gratuita de Deus. Mas ele respeita o livre-arbítrio e somente atua na vida dos que querem.

o Arrependimento é uma profunda mudança de mente e coração que nos leva a rejeitar e deixar de
lado todos os pecados que conhecemos e a desistir do direito de governar a nossa própria vida
independentemente de Deus. É uma mudança de atitude imprescindível que envolve nosso intelecto,
emoções e vontade .
• Fé Salvadora é confiar na pessoa e obra de Cristo de tal maneira que entreguemos toda nossa vida
a Ele . O objeto da fé é Cristo, sua pessoa, obra e presença. Os três elementos bíblicos desta fé são
conhecimento, concordância e compromisso.
o O caminho da cruz é a condição para progredir na santificação . Não é um caminho fácil ou popular
porque exige abnegação e a morte do egoísmo. A entrada deste caminho é a entrega total de tudo que
somos e temos. Não é um caminho fácil, mas seguimos um Jesus amoroso e não precisamos temer.

Chegou a hora da autoatividade. Você fará uma revisão


do capítulo, responderá as questões, destacará a folha da
autoatividade e a entregará para o prafessor na próxima
aula. Boa revisão e ótimos resultados!
I ~~:~~~:~. ~A
PRÁTICA
VISÃO GERAL E

FIG. : RESTAURAÇÃO; em opregadorfiel.com.br; em 02.abr.2012

<- 1 I I~ >-(0 li ..l.L


Depois de estudar quatro capítulos, temos refletidos bastante sobre
salvação .
No capítulo 1, conceituamos a salvação assim: salvação é Deus operando
em Cristo para libertar o pecador de sua escravidão e de das consequências
do pecado, culminando na vida eterna com Deus.
Nos capítulos 2 e 3, estudamos salvação como obra de Deus. Ele não
somente mandou Cristo para expiar o pecado, mas por da sua iniciativa e
execução torna-se salvação realidade na vida da pessoa. Deus que convence
do pecado, justifica, regenera e santifica .
No capítulo 4, registramos a necessidade de uma resposta humana às
iniciativas de Deus. Ninguém pode fazer nada para merecer o dom gratuito
de salvação, mas precisa cumprir condições para recebê-Ia: arrependimento,
fé salvadora e o caminho da cruz.
Agora, depois de um estudo um tanto minucioso sobre a salvação,
corremos o perigo de perder a ideia geral no meio de tantos detalhes. Por
isso, neste capítulo queremos voltar à visão macro deste assunto fundamental.
Vamos primeiro relembrar que todo este processo de salvação gira em torno
de restauração de relacionamento (5.1) Em segundo lugar, veremos o que a
Bíblia diz a respeito das evidências de salvação que devem aparecer na vida
do convertido (5.2). E, finalmente, vamos montar as peças do processo de
salvação usando um diagrama esclarecedor de Engel (5.3).

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No estudo de Teologia Sistemática existe um perigo: no meio de tantos


detalhes, definições e diagramas é fácil perder a razão de tudo isso e de perder
o foco de relacionamento. Quando pediram a Jesus o grande mandamento,
ele respondeu que era amar a Deus e ao próximo. Na verdade este é o foco
I!

supremo de Cristianismo. A Teologia Sistemática deve contribuir para esta finalidade: uma boa teologia vai
nos levar a amar mais a Deus e ao próximo!

POR QUE A BíBLIA NÃO COMUNICA EM LISTAS E FÓRMULAS?


"Cresci pensando em minha fé de uma forma meio sistematizada, alistada em grades e diagramas - que
era frustrante para mim porque nunca achei que a verdade pudesse ser expressa num diagrama, mapeada
numa grade ou reduzida a uma fórmula ... e se você pensar sobre estas coisas ... se Deus estiver comunicando
uma mensagem relacional, Ele usaria a metodologia multidimensional da verdade e da arte, porque
ninguém se engaja com outro ser humano através de listas e fórmulas. Nossa interação é muito mais sobre
a linguagem escondida ... se nossa moderna metodologia for superior à metodologia de narrativa histórica
misturada com música, drama, poesia e prosa, por que então, Deus não escolheu listas ao invés de arte 7"
MILLER, Donaldo. Searching for God knows what. Nashville: Thomas Nelson, 2004. p. 55,56.

Precisamos lembrar que enquanto sistematizar os nossos conceitos a respeito de Teologia seja importante,
ser cristão é muito mais que isso! Gosto de definir o que é um cristão assim: uma pessoa que vive um contínuo
relacionamento com Cristo pelo qual vai se tornando mais semelhantes a ele. Pense sobre esta definição! Não
é a essência do ser cristão 7
Talvez você se recorde que já falamos sobre a importância do relacionamento humano. A Bíblia revela
a razão dessa fome inata do homem, esse anseio de ter relacionamentos - Deus é um ser relaciona I e, na
sua imagem, criou seres relacionais para ter comunhão com ele. Por causa deste relacionamento, podemos
cumprir o propósito de Deus de criar seres que livremente mantém um relacionamento de amor para com
ele e com outros .
Este relacionamento do ser humano, além de ser com Deus, se estende em outras direções também. De
fato, a vida humana na sua totalidade consiste numa serie de relacionamentos sem os quais seriamos menos
que humanos. Segundo Gênesis, diagramamos esta faceta relacional da imagem de Deus assim:

6
D A
(J 0

-----
r.:'\\d
~

o ser humano gozava de relacionamentos sadios em quatro direções:


./ com Deus - 1:28-3:18;
./ com outras pessoas - 2:18-25;
./ consigo mesmo - 2:15-17; 3.10;
./ com a natureza -1:26-31.
Depois, reparamos que a queda foi a destruição destes relacionamentos. O relacionamento harmonioso
que Adão e Eva gozavam em todos os níveis - com Deus, um com o outro, consigo mesmo e com a natureza
- acabou se transformando em conflito: conflito com Deus, conflito com os outros, conflito consigo mesmo e
conflito com a natureza. Diagramamos assim:

Se a queda é o estrago dos relacionamentos essenciai s para vida plena, salvação, de forma global,
consiste na restauração destes relacionamentos. Salvação não é apenas uma mudança religiosa em que o
sujeito muda de hábitos dominicais; não é uma mudança apenas de doutrinas - de passar a crer na Bíblia e
seus ensinamentos. Acima de tudo, salvação muda todos os nossos relacionamentos.
1) A salvação restaura nosso relacionamento com Deus. Pecado traz consequências desastrosas nesta
área . Como no caso de Adão e Eva, pecado causa medo e alienação. Salvação nos reconcilia com
Deus. Disse Paulo, " ... quando éramos inimigos de Deus fomos reconciliados com ele mediante a
morte de seu Filho ... (Rm S.10). Salvação tira a barreira do pecado que nos fez inimigos e nos põe
como amigos de Deus. É possível conhecermos a Deus (FI3.8l, comungar com Deus (lJo 1.3), enfim,
amar a Deus "... de todo o seu coração, de toda sua alma e de todo o seu entendimento" (Mt 22.37)!
2) A salvação restaura nosso relacionamento com os outros. O pecado trouxe conflitos entre marido e
esposa, pais e filhos, entre irmãos, vizinhos e nações. A história humana desde então é uma história
de conflitos humanos sem fim. A salvação capacita a amar "... seu próximo como a si mesmo" (Mt
22.39). Restaura relacionamentos familiares, levando maridos a amar as suas esposas, esposas a
respeitarem seus maridos, pais a não irritarem seus filhos e filhos a obedecerem os pais (Ef 5.22-6.4).
A igreja exemplifica um modelo redimido de relacionamento onde pessoas de diversos pensamentos,
preferências e personalidades vivem em unidade (Ef 4.1-4; SI 133.1). Salvação não diz que vão
concordar em tudo, mas ensina a resolver conflitos, se humilhando, pedindo e oferecendo perdão
(CI3.12-14).
3) A salvação restaura O relacionamento conosco mesmo. Pecado traz conflitos interiores; culpa,
ansiedade e medo sobre o futuro. Salvação traz uma consciência tranquila (1 Tm1.5), paz no meio
das dificuldades (FI 4.4) e tira o pavor da morte (1 Co 15.54-56). Nossa mente é renovada (Rm 12) e
não precisamos provar para nós mesmos que somos iguais ou melhores que os outros (2 Co10.12,13).
Regozijamos em ser salvos e nossa identidade se encontrar no fato de que estamos "em Cristo",
filhos queridos dele pela graça.
4) A salvação restaura o relacionamento com a natureza. Temos sido exploradores da natureza em vez de
sermos mordomos, mas, também os terremotos e tsunamis têm nos castigado. Não há promessa de
restauração imediata e completa em nosso relacionamento com a natureza: tem aspectos da queda
que serão restaurados completamente apenas na volta de Cristo. Porém, podemos ver agora uma
melhora significativa em nosso relacionamento com a natureza pelo menos do nosso lado. O salvo
deve assumir uma responsabilidade de "cuidar" deste presente de Deus (Gn 2,15) e coletivamente
podemos amenizar alguma parte do conflito. O dia virá quando "... a própria natureza criada será
libertada da decadência em que se encontra ..." (Rm 8.21).
A doutrina de salvação é muito importante, mas salvação é muito maior e muito mais pessoal do
que Teologia correta. Na sua essência, é sobre a restauração dos relacionamentos. Começa com um novo
relacionamento com Deus; e como uma pedra que cai no poço de água, as ondas desta reconciliação com Deus
atingem nosso interior e vão se estendendo para a nossa família, nosso próximo e até para própria natureza.
Salvação não acontece num livro ou lista de doutrinas:
• é levantar pela manhã sabendo que Deus está comigo; leio sua palavra e falo com ele em oração,
tranquilo que sou perdoado e salvo;
• é viver em doce harmonia com meu cônjuge e outros familiares;
• é me reunir com os irmãos na igreja, eles tão imperfeitos como nós mesmos, ajudando uns aos
outros pelo caminho da salvação;
• é preocupar-me de forma prática com o bem estar de vizinhos e procurar levá-los a Cristo;
• é zelar para preservar o meio ambiente em que vivemos celebrando em cada por do sol a criação
maravilhosa de Deus.
Salvação é relacional!

Se salvação for relacional e se de fato Cristo vive em mim (Cll.27), certamente a salvação fará uma grande
diferença na minha vida. Seria impossível conceber que permanecerei igual, depois da salvação, como era
antes em minhas atitudes, motivações, decisões e ações.
Devemos ter certeza que somos salvos. Deus promete esta segurança. Mais ainda, nos deu um livro no
Novo Testamento para nos proporcionar esta certeza de salvação - A primeira epístola de João. Quase no fim
desta carta, João fala de forma explícita o teor e alvo da carta: "Escrevi-lhes estas coisas, a vocês que creem
no nome do Filho de Deus, para que vocês saibam que têm a vida eterna" (1 Jo 5.11). Nesta pequena carta
ele nos dá nove características do verdadeiro crente. São provas da salvação que devem caracterizar a vida
do salvo, do cristão autêntico.
Na próxima seção deste capítulo vamos fazer um resumo destas nove evidências de salvação, mas
recomendo a leitura cuidadosa de I João como imprescindível. O texto abaixo é uma adaptação do livro do
autor de Nove provas de cristianismo autêntico. Venda Nova: Editora Betânia, 2012

5.3.1 COMO SABEMOS QUE TEMOS A SALVAÇÃO?


Já vimos com clareza que a salvação é para os perdidos, que é um presente gratuito de Deus e que a
obtemos por nossa união com Cristo e subsequente relacionamento com ele. João afirma de forma categórica
que podemos, sim, saber que já experimentamos esse novo nascimento sobrenatural. Então, como podemos
saber que temos Cristo? Que tipo de evidências devemos procurar em nós mesmos para ter essa certeza?
Vejamos o caso do meu amigo Bill. Ele veio morar em nosso bairro uns anos atrás. A vida dele estava um
caos, mas, de início, ele não queria nada com o cristianismo. Entretanto, sua esposa se converteu e, depois
disso, sua resistência foi pouco a pouco diminuindo. Por fim, ele também creu e se batizou. Sua vida mudou.
Bill percebia isso claramente e eu também. Mas como ele pode ter certeza de que está salvo, que se acha
unido com Jesus e tem a vida eterna?
Existem dois tipos de provas que ele precisa verificar. Vamos chamá-Ias de evidências objetivas e evidências
subjetivas. No estudo do livro de I João, percebemos claramente esse primeiro tipo, a mudança concreta, e o
denominamos "provas". São indicadores de natureza objetiva que denotam a presença de Cristo na vida dele.
Então, segundo a carta de I João, Bill precisa responder as seguintes perguntas:
1) estou buscando a Verdade? Uma prova da autenticidade da nossa salvação é que estamos baseando
a nossa vida cristã na verdade real de Cristo. João começa sua carta apontando a base objetiva e
real da sua fé:


"O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos próprios olhos,
o que contemplamos, e as nossas mãos apalparam, com respeito ao Verbo da vida ... o que temos
visto e ouvido anunciamos também a vós outros" (1 Jo 1.1,3). A sua fé não foi construída em cima
de um sonho ou revelação espetacular, mas na história verídica de Jesus, agora registrada no Novo
Testamento.
Hoje em dia é a mesma coisa . O cristão autêntico busca a verdade, não em sonhos ou revelações
humanas mas na própria Palavra de Deus. Ele lê e estuda com seriedade a Bíblia e assim tem
discernimento entre o verdadeiro e falso.
2) Tenho comunhão com Deus? A segunda prova de salvação é que o cristão verdadeiro vive uma vida de
comunhão com Deus através da leitura bíblica e oração regular. Disse João: "Ora, a nossa comunhão
é com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo" (I Jo 1.3). Quando passamos momentos de comunhão
diária com ele, começamos a conhecê-lo pessoalmente e vemos nossa vida ir se transformando
gradualmente. Os interesses dele passam a ser os nossos também . E no fim, pela comunhão, nós o
amaremos cada vez mais.
3) Tenho comunhão com os irmãos? Uma vez que temos uma vida de comunhão "vertical", vamos
procurar uma comunhão "horizontal" também, nos comprometendo com um corpo local de cristãos,
a igreja. "Se, porém andarmos na luz, como ele está na luz, mantemos comunhão uns com os
outros ..." (1.7). Temos, assim, um convite para gozarmos de uma vida de cálidos relacionamentos
dentro da igreja de Jesus Cristo. É certo que a igreja não é um céu, nem mesmo um Éden. Então para
desfrutarmos de um bom relacionamento neste mundo caído, teremos de pagar o preço. Contudo, a
despeito de nossas fraquezas, a igreja oferece um porto seguro, uma comunhão profunda e duradoura
e um ambiente de crescimento espiritual. Não existe cristianismo autentico sem uma comunhão e
compromisso com a igreja local.
4) Minha conduta moral se alterou quando me converti? Então, como é exatamente que João explicita
essa prova, a conduta cristã? " ... Deus é luz, e não há nele treva nenhuma. Se dissermos que mantemos
comunhão com ele e andarmos nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade ...I/IIOra, sabemos
que o temos conhecido por isto: se guardamos os seus mandamentos" (1 Jo 1.5b,6). No seu livro,
João emprega três expressões distintas, mas relacionadas entre si, para esclarecer o sentido disso
tudo. São elas: andar na luz, obediência em amor e justiça prática. João está dizendo que não é o
discurso religioso ou experiências sobrenaturais que evidenciam a salvação: é a nossa obediência
às suas diretrizes, nosso compromisso com a santidade, a nossa semelhança a Cristo nas coisas
práticas do dia a dia. Boa conduta não nos salva, mas o salvo tem boa conduta! A cond uta cristã é
a expressão de nosso amor por ele, bem como a evidência da sua presença em nós.
5) Estou praticando o amor sacrificai? No sentido popular da palavra, amor tem muitos sentidos. João
aponta o amor 'ágape', o amor sacrificial de Cristo como evidência de salvação: "Nisto conhecemos
o amor: que Cristo deu a sua vida por nós; e devemos dar nossa vida pelos irmãos" (3.16.) O amor
ágape é um amor sobrenatural que vem pela nossa união com Cristo. Este amor decide fazer o
bem incondicionalmente - não é amor de troca nem de sentimentos. E é amor não em palavras,
mas amor de ação. De todos as evidências é a mais importante - é resposta humana para o Grande
Mandamento de amor (Mt 22.37-40).
6) Dá para perceber que estou crescendo espiritualmente? O natural para qualquer nenê saudável é
crescer. Quem nasce de novo também deve estar crescendo ou tem alguma coisa errada. João fala
de 3 fases de maturidade espiritual; filhinhos, jovens e pais: " Filhinhos, eu vos escrevo, porque os
vossos pecados são perdoados, por causa do seu nome. Pais, eu vos escrevo, porque conheceis
aquele que existe desde o princípio. Jovens, eu vos escrevo, porque tendes vencido o Maligno" (1 Jo
2.12,13). O crescimento espiritual é um sinal de autenticidade cristã . Eé algo natural, mas não ocorre
automaticamente. A trajetória normal do crente é passar da infância espiritual para uma juventude
vibrante e desta para a fase de "pai", onde temos um profundo relacionamento com Deus. E o certo
é que todos nos encontramos num processo de crescimento. Estamos subindo, ou descendo, ou
então "presos num momento". Mas, todos os salvos saudáveis estão crescendo espiritualmente.
7) Estou vencendo o sistema do mundo? O 'mundo', segundo João, é mais que uma lista de coisas
proibidas: é um sistema baseado no compromisso com a satisfação dos desejos humanos: "Não
ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está
nele; porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a
soberba da vida, não procedem do Pai, mas procedem do mundo ..." (1 Jo 2.15-17) . Todos têm os
desejos naturais humanos - de sentir prazer, de obter coisas e ser alguém. Estes desejos não são
pecaminosos em si, mas, tornam-se pecaminosos quando tomam o primeiro lugar em nossa vida.
O "sistema", popularizado pela mídia e vivido pela maioria, tende a nos influenciar a adotar seus
valores. Mas o cristão verdadeiro, segundo João, não cede a estas pressões: " ... porque todo o que
é nascido de Deus vence o mundo"( S.4a).
8) Quem é Cristo para mim? Aqui nos deparamos com a pedra fundamental da fé. Sem a doutrina
certa de Cristo, não somos cristãos: " ... Todo espírito que confessa que Jesus veio em carne é de
Deus; todo espírito que não confessa a Jesus não procede de Deus; pelo contrário, este é o espírito
do anticristo ..." (4.2b,3a); "Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo é nascido de Deus ..." (S .la).
São 3 elementos principais na doutrina de Cristo: sua divindade, sua humanidade e sua unicidade.
Podemos ter doutrinas variadas a respeito de questões secundá rias e ainda ser cristão. Mas, se não
nos alinharmos com aquilo que Jesus falou de si mesmo - que ele é Deus, é homem e o caminho
único a Deus - não podemos ser salvos.
9) Tenho o testemunho do Espírito de que sou filho de Deus? Além das provas objetivas - as provas
de cristianismo autêntico que possam ser observadas por outras - existe uma prova subjetiva,
espiritual, que o próprio espírito de Deus nos dá e só pode ser detectada por nós mesmos. "E nisto
conhecemos que ele permanece em nós, pelo Espírito que nos deu" (3.24b)."Nisto conhecemos
que permanecemos nele, e ele, em nós: em que nos deu do seu Espírito" (4.13) . Aquele que crê no
Filho tem, em si, o testemunho ... (S.10a). O apóstolo Paulo explicou o testemunho do Espírito assim:
" .. . mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai . O próprio Espírito
testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus" (Rm 8.1Sb,16). Então, para discernirmos
o cristianismo autêntico, vamos examinar cuidadosamente os critérios objetivos (as provas 1 a 8),
mas também contemplemos com alegria esse conhecimento interior, o testemunho do Espírito. É
o senso da presença de Cristo em nós, essa confiança sobrenatural que o Espírito Santo nos dá de
que somos dele e um dia iremos para o céu.
Será que Bill tem 100% de aprovação nesses pontos? Tenho a impressão de que não. Contudo, tanto eu
como ele já vimos mudanças bem significativas em todas essas áreas de sua vida. São testes que Bill pode
aplicar à vida dele para examiná-Ia . Eles vão demonstrar se ele teve a experiência do novo nascimento e goza
de um relacionamento com Cristo. Lembrete: isso não são regras para uma pessoa obter a salvação. São
consequências dela.

APLlCACÃO PESSOAL
Ao final deste desta parte, então, a pergunta que temos de fazer é óbvia: "Como estou me saindo?". "Sou
um cristão autêntico?" "Tenho a salvação em Cristo- e minha vida demostra isso?" São boas perguntas, mas o
mais importante é que a dirijamos à pessoa certa, Àquele que pode nos dar a nota final. Precisamos perguntar
isso ao nosso amoroso Pai celestial, pois é quem nos conhece e nos compreende bem. Em última análise, é
ele quem nos julga. Por isso, quero apresentar ao leitor as seguintes sugestões.
1) Pergunte ao Pai: "Como estou me saindo?" Marque uma hora para fazer isso, em um lugar reservado,
apenas você e o Pai amoroso. Abra a Bíblia em I João, leia toda a carta e, em seguida, faça essa
pergunta ao Senhor. Não é preciso ter medo . Pode ter certeza de que Deus irá dizer-lhe palavras
de incentivo. Escreveu essa epístola com a finalidade de nos dar confiança, e não de destruir nossa
fé. Será que você vai tirar nota 10 na prova? Quem se parece um pouco comigo ou com o Bill,
provavelmente não. Mas será que está avançando em direção ao alvo nessas nove áreas? Alegre-se
com seu crescimento!

2) Peça ao Pai que lhe mostre em que áreas de sua vida não está demonstrando a presença de Cristo.
Peça-lhe que ele lhe revele se está abrigando pecados no coração. Anote-os em uma folha de papel
e, em seguida, peça perdão a Deus. Por fim, queime esse papel, pois ele já lhe perdoou . E não se
esqueça de fazer a reparação do erro, nos casos em que isso for necessário.

3) Pergunte ao Pai se já lhe fez uma entrega completa de sua vida, de seus direitos, seu futuro, seus
planos e seu coração . Este é o caminho da cruz que todos nós temos de tomar para seguir o Senhor.
Para vivermos o cristianismo autêntico, temos de morrer para nós mesmos. Por fim, confirme sua
decisão incondicional de se modificar e de obedecer a Deus, de viver para a glória dele e agradar
só a ele.
4) Peça mais uma vez que ele o encha com sua presença. Peça isso com fé, sem temor algum. Lembre-se
das palavras de Jesus: "Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto
mais o Pai celestial dará o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?" (Lc 11.13).

Agora, meu irmão, viva alegremente como um cristão autêntico, no poder do Espírito Santo!

5.4 SAI AçAo: MON' '\IDO AS PEÇ S DO OCFSSI


Na parte final do nosso estudo sobre salvação vamos procurar a visão macro desta doutrina tão importante.
Temos estudado salvação como obra de Deus - convicção, justificação e regeneração. Depois estudamos a
resposta humana à sua obra - as condições necessárias para receber o dom gratuito: arrependimento, fé
salvadora e o caminho da cruz. Agora vamos usar uma ferramenta que nos ajuda a montar as peças da salvação
de forma visual e coerente; a Escala Engel. Você vai notar que esta visualização do processo de salvação é
divida em 3 colunas verticais.

A coluna esquerda (DEUS) mostra salvação como obra de Deus - aquilo que Deus faz para a sua obra
redentora tornar real em nossa vida.

A coluna à direita (RESPOSTA HUMANA) mostra a resposta humana - incluindo as condições que precisamos
cumprir para receber a salvação.
Agora a coluna no meio da escala (COMUNICADOR) introduz um novo elemento: o papel do comunicador
(ou evangelista) que trabalha em cooperação com a obra de Deus e de acordo com a fase da pessoa que esteja
evangelizando.
Inicialmente leia a escala, observando as 3 colunas (e os assuntos que estudamos em negrito) para depois
fazer o exercício.

O PROCESSO DE DECISÃO ESPIRITUAL


Df. James F. Engel
DEUS COMUNICADOR RESPOSTA HUMANA
Revelação........Geral - ..a Consciente do Ser Supremo, mas sem
Pessoa e Obra de conhecimento do poder transformador
Cristo do Evangelho.
Proclamação -7 Consciente da existência do Evangelho.
Convicção do Esp. -6 Consciente dos fundamentos do
Evangelho.
-5 Entendimento das implicações do
Evangelho.
Persuasão -4 Atitude positiva para com o Evangelho.

n -3
-2
Reconhecimento do seu pecado.
Arrependimento.
-1 Fe salvadora.
(Sobre a Escala Engel: Dr. James F. Engel, na

Justificaçãol
Regeneração
:
- "NOVA CRiATURA"
época diretor do programa de comunicação
de Wheaton Graduate School, desenvolveu
esta representação do processo de decisão
espiritual, inspirado por um protótipo do seu
Orientação +1 Avaliação. aluno Viggo Sogaard. Foi publicado em vários
Discipulado +2 Incorporação na Igreja. revistas e livros a partir de 1973, e foi adaptado

~
+3 Crescimento em conhecimento e vida. e melhorado por vários autores e traduzido
+4 Andar no Caminho da cruz. em várias línguas desde então. Apresento aqui
+ Reprodução. com algumas pequenas adaptações. Leia mais
+
n em <http://www.lnternetEvangelismDay.com/
engel -sca le. ph p#lxzz 1j oG M 7 BEC>.
o que mais aprendemos da Escala Engel?
1) Cada uma das pessoas envolvidas tem uma área de atuação especifica: a Escala Engel, em primeiro
lugar, nos ajuda ver a salvação como um todo, realçando que Deus tem a sua parte (por muito, a
parte principal), a pessoa tem a sua parte (as condições) e também o comunicador faz parte do
processo. Ninguém se faz a parte do outro .
- Deus não faz a parte do comunicador, no seu lugar pregando o evangelho do céu, nem se arrepende
ou crê no lugar do pecador.
- A pessoa não pode se salvar, se justificando, regenerando ou se santificando sozinho - Deus quem
faz estas coisas.

- O comunicador (evangelista) não pode trazer convicção do pecado, nem salva nem santifica ninguém
- Deus quem faz.

2) Na parte da pessoa, existe um processo. Notamos que antes mesmo de chegar a ponto de
arrepender-se e crer, as pessoas passam outras fases na sua jornada em direção à salvação (coluna
à direita). É um processo que começa como Consciente do Ser Supremo, mas sem conhecimento
do poder transformador do Evangel ho (-8), passa a conhecer o evangelho (-7), progredindo para a
compreensão dos fundamentos e implicações do evangelho (-6,-5,) a uma atitude positiva (-4), para
o reconhecimento do seu pecado (-3) antes de arrependimento e fé (-2,-1). Este processo pode ser
rápido ou demorado .
3) O comunicador precisa de sensibilidade a este processo. Nem todas as pessoas estão à mesma
'distância' espiritual da salvação e o comunicador precisa atuar de acordo com seu lugar no processo .
Quando a pessoa está na fase de - 8 a -5 o comunicador precisa proclamar a verdade do evangelho
porque a pessoa não entende ainda (veja a coluna do meio); quando a pessoa chegar a uma atitude
positiva é a hora de persuasão, de incentivar a pessoa a se arrepender e crer. Se tentar persuadir
enquanto a pessoa não entende o evangelho, não vai funcionar. E é só depois da pessoa se tornar
Nova Criatura que começa função de orientação e discipulado.

Neste capitulo final sobre a salvação, tentamos unificar os nossos pensamentos a respeito da salvação para
não nos perder no meio de muitos detalhes. Nunca devemos esquecer que salvação não pode ser reduzida a
apenas crenças, costumes religiosos ou diagramas doutrinários; é fundamentalmente um relacionamento com
Deus que muda os demais relacionamentos que compõem a vida humana. Este relacionamento com Deus deve
produzir uma série de transformações em nossa vida diária - João lista nove evidências de salvação e cabe
a nós avaliarmos a nossa saúde espiritual com estes critérios. Finalmente, procuramos montar as peças da
salvação usando a Escala Engel, que nos recapitula salvação como obra de Deus e as condições para recebê-Ia.
Também aponta a nossa responsabilidade evangelística de comunicar o evangelho de forma apropriada para
cada tipo de pessoa - cooperando com Deus para a evangelização do mundo com as boas novas da grande
salvação em Cristo.

• Nos capítulos anteriores, refletimos sobre as coisas que Deus faz e as condições que requer para
realizar a salvação. Neste capítulo finalizamos o assunto de salvação com a visão macro. Primeiro,
relembramos que todo este processo de salvação gira em torno de restauração de relacionamentos;
segundo, vimos o que a Bíblia diz a respeito das evidências de salvação; finalmente, montamos as
peças do processo de salvação (5.3) usando a Escala Engel.
• Somos pessoas relacionais por natureza e salvação é essencialmente relaciona I. Podemos definir o
salvo como uma pessoa que vive um continuo relacionamento com Cristo pelo qual vai se tornando
mais semelhantes a ele.

.
..: l' ~
. 'uI'
• Pelo pecado, os nossos relacionamentos principais foram estragados: tanto com Deus, quanto com
o próximo, conosco mesmos e com a natureza . A salvação restaura estes relacionamentos: começa
com um novo relacionamento com Deus, é como uma pedra que cai no poço de água, as ondas
desta reconciliação com Deus começam em nosso interior e vão se estendendo para a nossa família,
nosso próximo e até para própria natureza .
• Devemos ter certeza que somos salvos e Deus nos deu o livro de I João para nos proporcionar esta
certeza: "Escrevi-lhes estas coisas, a vocês que creem no nome do Filho de Deus, para que vocês
saibam que têm a vida eterna" (I João 5.11).
• João lista 9 evidências que devem aparecer na vida do salvo: verdade, comunhão com Deus,
comunhão com os irmãos, conduta cristã, amor sacrificiat, não amar o mundo, crescimento, conceito
bíblico de Cristo e o testemunho do Espírito. Devemos fazer uma autoavaliação diante de Deus para
ver nossa verdadeira situação espiritual.
• A Escala Engel nos ajuda a ter uma visão macro de salvação : nos mostra que cada pessoa envolvida
no processo de salvação - Deus, o comunicador e a pessoa - tem um papel específico que somente
ela exerce; nos mostra o processo de aproximação de Deus pelo qual o pecador passa; nos mostra
que para exercer o seu papel, o comunicador precisa se ajustar a sua mensagem a fase em que o
pecador se encontra.

Chegou a hora da autoatividade. Você fará uma revisão


do capítulo, responderá as questões, destacará a folha da
autoatividade e a entregará para o professor na próxima
aula. Boa revisão e ótimos resultados!
...
CAPITULO 6
o RETRATO BíBLICO DO ESPIRITO SANTO

FIG : EspíRITO SANTO; guiadaove lha .com .br; em lO.abr.2012

I IT~or 1-\0
o Espírito Santo é a pessoa da trindade com quem temos um contato mais
direto, mas muitas vezes é a pessoa divina menos conhecida. Clark Pinnock
começa seu livro sobre o Espírito com uma observação e uma oração apta
para o começo do nosso estudo :
"O Espírito é digno de toda nossa adoração, mas é a pessoa da
trindade mais intangível e misteriosa. Se for o Pai que aponta a
realidade última e o Filho que nos fornece a chave do mistério divino,
é o Espírito que representa o cúmulo da proximidade e presença de
Deus. São João da Cruz o identifica como a 'chama viva de amor' e
celebra este dom tão ágil, responsivo, alegre e pessoal.
Ao começar; vamos dizer: "Bem vindo, Espírito Santo, venha
n05 libertar! Ajuda-nos a capturar e sermos cativados pela sua
chama de amor! Deixa-nos acesos com seu fogo. Ajuda-nos a
vencer o n05SO esquecimento do Espírito" (PfNNOCK~ Clark H..
F/ame of Love. Downers Grave: IVp, 1996. p. 9).

Esperamos que em nosso estudo da pessoa dele (capítulo 6) e sua obra


(capítulo 6) vai nos proporcionar não somente entendimento da doutrina do
Espírito Santo mas uma aproximação real da sua pessoa e uma experiência
pessoal do seu ministério.
Este capítulo vai focar no retrato bíblico do Espírito Santo. Dividiremos o
estudo em quatro partes: para introduzir o assunto, procuraremos uma visão
panorâmica da doutrina bíblica do Espírito. Em seguida, faremos uma breve
recapitulação do desenvolvimento histórico da doutrina. Depois, na terceira e
quarta parte, vamos embasar biblicamente a sua personalidade e divindade.
Com tudo isso, contamos com a ajuda do ... Espírito Santo!

6.1 VIS, O PANORÂMICA DA OOUTRI A B,BLlCA DO


EspíRITO
Muitas vezes associamos a presença do Espírito com o Novo Testamento
e pentecoste apenas; mas, Ele era ativo no mundo desde a criação. A Bíblia
fala muito sobre o Espírito Santo, de Gênesis a Apocalipse.
6.1.1 O EspíRITO NO ANTIGO TESTAMENTO
Mesmo antes de Moisés, a Biblia mostra o papel do Espírito na criação (Gn 1.2) sua contenda com o
pecado (6.3) e sua habitação em José (41.38).
Na época mosaica, o Espírito encheu os artesãos do tabernáculo com habilidade artística (Êxodo 31.2,3
e 35.31) e o dom de profecia é atribuído ao Espírito (Nm 11.29 e 24.2).
No período profético os grandes juízes eram capacitados pelo Espírito para libertar o povo com proezas
extraordinárias. Pelo Espírito, Otniel liderou o povo (Jz 3.10). Gideão mobilizou seu mini-exército (6.34) e
Sansão rasgou leões e matou os inimigos em grupos pequenos e em massa (14.6,19; 15.14). Saul foi apossado
pelo Espírito e profetizou (1 Sm 10.6,10); ao ser ungido por Samuel, o Espírito "apoderou-se" de Davi (1 Sm
16.13) e mais tarde Davi era consciente que Deus falava por meio dele pelo Espírito (2 Sm 23.2). Os profetas
falaram ao povo (muitas vezes rebelde) por meio do Espírito (2 Co 15.1-8 ). que às vezes deu-lhes visões (Ez
8.1-4;37.1). Isaías exortou o povo por meio do Espírito (48.16,17) e profetizou a vinda do Messias (11.1,2) que
também estaria cheio do Espírito (42.1; 61.1).
Olhando também para a ação futura do Espírito, Ezequiel viu o seu papel na transformação do coração (Ez
36.26,27) e Joel (2.28,29 e At 2.17) profetizou que um dia, o enchimento do Espírito seria mais democratizado:
"... derramarei o meu Espírito sobre todos os povos. Os seus filhos e as suas filhas profetizarão, os velhos
terão sonhos, os jovens terão visões ... /I

6.1.2 O EspíRITO NO NOVO TESTAMENTO


Todo o ministério de Jesus foi intimamente ligado com o Espírito. O Novo Testamento começa com a
história de Maria, grávida de Jesus pelo Espírito Santo (Mt 1.18). A sua vinda havia sido profetizada por Isabel
quando ela foi cheia do Espírito (Lc 1.41,42); Zacarias, pelo Espírito, profetizou a vinda do Messias e o ministério
preparatório do seu filho João Batista (Lc 1.67).
No batismo de Jesus, toda trindade está envolvida:
"...enquanto ele estava orando, o céu se abriu e o Espírito Santo desceu sobe ele em forma corpórea,
como pomba. Então veio do céu uma voz: "Tu és meu Filho amado; em ti me agrado" (Lc 3.21,22).
Toda vida e ministério de Jesus foram imbuídos pela presença singular do Espírito. Foi o Espírito que o
"impeliu" para a tentação no deserto (Mc 1.12). Ele expulsou demônios pelo Espírito (Mt 12.28) . Tanto foi a
identificação de Jesus com o Espírito que são praticamente inseparáveis; Atos 16.70 chama de "o Espírito de
Jesus."
Jesus prometeu que ao voltar ao céu, a pedido dele, o Pai enviaria o Consolador (Jo 14.16,17,26). Mais
tarde, mostrou que ele mesmo daria o Espírito aos seus seguidores (veja também, Jo 16.7; Lc 24.49).
"Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva". Ele estava se referindo
ao Espírito, que mais tarde receberiam os que nele cressem. Até então o Espírito ainda não tinha sido dado,
pois Jesus ainda não fora glorificado (Jo 7.38-39).
Depois de ressuscitar e antes de voltar para o céu ele já começa a cumprir a sua promessa de dar o
Espírito aos discípulos. Os discípulos estão reunidos atrás de portas fechadas e Ele soprou sobre eles e disse:
"Recebam o Espírito Santo ..." (Jo 20.21,22).
Mas, é a igreja em Atos que experimenta a plenitude do ministério do Espírito. Nas horas antecedendo
a sua ascensão, Jesus faz o elo entre os evangelhos e pentecostes dando as últimas instruções. Mostra
explicitamente que só poderiam cumprir seus mandatos pelo poder vindouro do Espírito.
HCerta ocasião, enquanto comia com eles, deu-lhes esta ordem: Não saiam de Jerusalém, mas esperem
pela promessa de meu Pai, da quo/lhes falei. Pois João batizou com água, mas dentro de poucos dias
vocês serão batizados com o Espírito Santo ... Mas receberão poder quando o Espírito Santo descer
sobre vocês, e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria, e até 05 confins
da terra':" (At 1:4,5,8)

Depois em Atos 2, a Bíblia registra a vinda do Espírito no Dia de Pentecostes, a inauguração da era da
igreja, energizada e dirigida pelo Espírito.
"Chegando o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos num só lugar. De repente veio do céu um som,
como de um vento muito forte, e encheu toda a casa na qual estavam assentados. E viram o que parecia
línguas de fogo, que se separaram e pousaram sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e
começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito os capacitava" (At 2:1-4).
Do Dia do Pentecostes em diante, o livro de Atos dos apóstolos (alguém disse que o livro devia ser intitulado
"Atos do Espírito Santo") toda a vida e ministério dos apóstolos foi dinamizado pelo Espírito Santo. O Espírito
inspira e direciona a atividade missionária . Por causa da perseguição os discípulos, dispersos, "... pregavam
a palavra por onde quer fossem ...". Filipe vai para Samaria onde realiza milagres; depois, recebendo Pedro e
João, os novos convertidos também recebem o Espírito (At 8.4-25). Um anjo e depois o Espírito orienta Filipe
a evangelizar um africano, um etiope (8.26-40). E o evangelho vai se espalhando pelo poder do Espírito. O
Espírito dirige Pedro a evangelizar Cornélio (10.19) e desce sobre os novos crentes (10.44); em Antioquia, o
Espírito orienta a escolha e envio de missionários transculturais, Barnabé e Saulo (13.2,3) e daí em diante,
começa a grande expansão do evangelho, orquestrada pela direção do Espírito (16 .6,7).
Nas epístolas, fica clara a importância do Espírito na vida e ministério dos apóstolos e seus discípulos.
Citando apenas alguns exemplos:
• o Espírito que inspirou as próprias escrituras (2 Pe 1.20,21);
• pregaram no poder do Espírito (1 Co 2.4; 1 Ts1.5);
• os frutos do Espírito se manifestam no crente (GI 5.16-25);
• o Espírito que habita nos crentes (1 Co 6.19) leva-os à mudança moral (Rm 8.2; 2 Co 3.18), à
santificação (2 Ts 2.13);
• o Espírito é quem capacita a igreja, o corpo de Cristo, para seu ministério, distribuindo dons e
ministérios aos seus membros (Rm 12.3-8; 1 Co 12; Ef 4.1-16).
Não há dúvida de que o Espírito Santo, a terceira pessoa da trindade, é uma pessoa presente e de
importância inestimável em toda a Bíblia começando no Antigo Testamento e continuando pelos evangelhos,
Atos e as epístolas. Na culminação da era da igreja, no último capítulo de Apocalipse, o Espírito, juntamente
com a Igreja, conclama a todos a beber da "água da vida":
"O Espírito e a noiva dizem: "Vem!" E a todo aquele que ouvir diga: "Vem!" Quem tiver sede, venha; e
quem quiser, beba de graça da água da vida" (Ap. 22.17).
A chamada do Espírito é para todos nós virmos e bebermos de Jesus, a água da vida, e junto com o Espírito
estendermos este convite a um mundo sedento.

o /

Os teólogos ortodoxos de todas as épocas leram os textos acima a respeito do Espírito Santo e creram na
sua veracidade. Mas, como em qualquer empreendimento teológico, quem quer se aprofundar e conceituar
estas informações bíblicas passa por um processo de estudo e ruminação até chegar a conclusões. Nestas
conclusões haverá divergências, mas ao longo do tempo haverá também mais clareza e coerência. O processo
de desenvolvimento nem sempre é linear: às vezes a Teologia desvia ou atrasa. Mas entendemos que o Espírito
continua a ensinar "todas as coisas .. ." (Jo 14.26).
Por muito tempo o Espírito era a pessoa da trindade menos conhecida talvez por ele ser o menos
entendido. Mas, nos últimos anos o interesse tem crescido, especialmente desde os anos cinquenta do século
passado. Diz Grenz:
"O interesse no Espírito antigamente era de grupos isolados, como os Montanistos da época de Tertuliano,
H
os "entusiastas da reforma radical ou o pentecostais no inicio do século vinte. Hoje, porém, cristãos
de muitas denominações querem conhecer e apropriar-se do Espírito Santo. Crentes em quase todas
as tradições protestantes e até católicos romanos, reivindicam o batismo do Espírito Santo" (GRENZ,
Stanley J.. Theology for the Community of Gad. Grand Rapids: Eerdmans,1994. p.359).

Com certeza você que está fazendo este curso compartilha este interesse. Neste estudo histórico,
traçaremos o desenvolvimento da doutrina através de cinco períodos da Igreja: antigo, medieval, reformado,
moderno e contemporâneo. Vamos observar as dificuldades em compreender o Espírito, mas também a atuação
do próprio espírito e nos levar a conhecê-lo de forma mais real e profunda (a fonte principal para esta parte é
JOHNSON, Alan F. e WEBBER, Robert. E.. What Christians Believe. Grand Rapids: Zondervan, 1993).

6.2.1 A IGREJA ANTIGA


A questão mais crítica a respeito do Espírito desta era da igreja era a sua divindade. A sua plena divindade
foi oficialmente declarada nos meados do século quatro, mas até esta data havia vários opositores à doutrina.
Durante este período, havia três grupos que se opuseram: 1) os arianos que consideraram que o Espirito
era um ser criado, semelhante ao Pai mas não da mesma essência; 2) para um grupo egípcio, os Tropacici,
adeptos de interpretação figurativa, Ele era um espírito ministrador, "outro" em relação a Deus Pai; 3) para os
Pneumatomacianos, ('lutadores do espírito') o Espírito era um ser mediano, nem Deus, nem criatura .
Os Pais da igreja, como por exemplo, Ambrósio e Atanásio, se opuseram a estes movimentos. Ambrósio
defendeu que as três pessoas da trindade eram de "uma só substância, uma só divindade, uma só operação"
(JOHNSON, p. 169,170). Finalmente, no Credo de Calcedônia (451), foi afirmada a crença no "Espírito Santo,
Senhor e doador da vida que procede do Pai, que é adorado e glorificado juntamente com o Pai e Filho ..."
(JOHNSON, 170).

Mas os pais ortodoxos não apenas afirmaram sua divindade mas reconheceram a atuação do Espírito.
Irineu, do segundo século, reconheceu a atividade milagrosa do Espirito na sua época:
"Seus discípulos ... expulsam demônios .. outros têm visões e profetizam ... outros curam enfermos pela
imposição de mãos ... até mortos têm ressuscitado e ficado conosco por muitos anos" (JOHNSON, 171).

6.2.2 A IGREJA MEDIEVAL


As duas questões desta época eram o relacionamento do Espírito com o Pai e Filho e seu relacionamento
com a Igreja . Sobre a primeira questão, o Credo de Niceno original diz que o Espírito "procede do Pai". A igreja
do ocidente acrescentou "... e do Filho" sem o consenso de todos os bispos, criando uma grande controvérsia
("a cláusula filioque") que existe até hoje entre a igreja do oriente e do ocidente. O oriente se apoiava em
João 15.26 que disse que Jesus mandava o Espírito " ... da parte do PaL." e o ocidente em cima de João 16.7
onde Jesus disse "... eu o enviarei ...". Esta diferença foi um fator importante na cisão entre a Igreja Católica e
a Igreja Ortodoxa em 1054.
A segunda questão foi um avanço de compreensão. Tomás de Aquino enfatizou a união do Espírito e a
igreja. Ensinou que: a igreja é onde o Espírito habita; o Espírito é ativo na adoração, sacramentos e missão da
Igreja; cria união entre as pessoas; é quem gera a própria existência da igreja e promove o crescimento dos
membros em amor e caridade .
Esta época foi também caracterizada por grupos ascéticos e místicos. Os Albigenses ensinavam a libertação
do Espírito pela proibição de casamento e recusa de se alimentar de animais. Surgiram homens e mulheres
piedosas: Hildegard de Bingen (1098-1179) e Julião de Norwich (1342-1413) que receberam visões e revelações
do Espírito e influenciaram muitas pessoas por seus escritos.

6 .2.3 A IGREJA REFORMADA


A ênfase dos reformadores sobre o Espírito não era de revelações nem do seu papel na igreja: enfatizaram o
Espírito nas escrituras, nos sacramentos, na conversão e na vida do crente. Nem Lutero nem Calvino acreditaram
nas revelações pessoais e místicas.
A ênfase da igreja católica era a relação entre o Espírito e a Igreja; no protestantismo a ênfase vai para
sua relação com a Palavra. Consequentemente, a autoridade mudou da igreja para a Bíblia também, o qual
é sempre a palavra final. O Espírito é conectado com esta palavra. Calvino fala da "conexão mútua entre a
certeza da sua palavra e do seu Espírito." (JOHNSON, 175).
Também, ambos Calvino e Lutero conectam a obra do Espírito com os sacramentos, sendo presente na
ceia e juntamente com o batismo trazendo salvação ao coração crente.
Segundo os reformadores, o Espírito trabalha para realizar a conversão da alma. Diz Lutero: "Esta mudança,
este novo juízo não é um trabalho do raciocínio nem o poder do homem, mas é a dádiva e operação do Santo
Espírito ..." (JOHNSON, 176).
Finalmente, os reformadores ensinaram sobre o papel do Espírito na vida do cristão. Lutero declarou que
"o Espírito Santo com os seus dons está em nós".
Enquanto os ortodoxos como Lutero e Calvino seguiram esta linha havia outros grupos que eram mais
visionários e proféticos, alguns equilibrados e outros não. Os "profetas de Zwickau" que reivindicaram revelações
e pregaram ideias apocalípticas. Muntzer previu o fim do mundo e procurou juntar 144.000 para reinar sobre
o mundo.
Mas outras pessoas centradas fora do raio de Lutero, Calvino e Zwinglio, como Menno Simons líder dos
anabatistas, rejeitaram as revelações extra bíblicas e direcionaram as pessoas à palavra e vida santa.
Mais que um século depois, Armínio e Wesley também acreditaram na obra do Espírito na conversão,
mas de forma diferente: enquanto os reformadores ensinaram que os eleitos foram convertidos pelo Espírito
de forma irresistivel, Armínio ensinou que o Espírito trabalha de tal forma que quem deseja crer, pode. João
Wesley era da mesma persuasão e viu o trabalho do Espírito em termos mais experimentais, enfatizando o
testemunho do Espírito que dá certeza de salvação e o Espírito como santificador do cristão.

6.2.4 A IGREJA MODERNA


Nesta época, como na era dos reformadores, as igrejas protestantes históricas limitaram a obra do Espírito
mais para dentro da igreja, conectada sempre com as Escrituras, conversão e a vida cristã. Jonathan Edwards
(1703-1758) enquanto era um grande evangelista com poderosos resultados, enfatizou mais as virtudes
produzidas pelo Espírito do que os dons e tinha certa desconfiança em manifestações incomuns.
Havia também novos movimentos surgindo enfatizando a obra do Espírito de forma um pouco diferente.
Grupos estranhos apareceram (como os seguidores de Swedenborg e os Shakersl, mas também grupos mais
centrados como os Quakers. Esta "sociedade dos amigos" ensinou a doutrina da "luz interior" em que o Espírito
ainda se revela em vozes, aparições e sonhos. Agora, esta luz interior nunca poderia contradizer as Escrituras
nem o "são juízo." Eram pacifistas, viviam vidas simples e virtuosas e procuravam a mesmo simplicidade no seu
estilo de culto. Creram na ação do Espírito na informalidade; no silêncio, o Espírito dirigia alguém a ministrar
a palavra, por exemplo.

6.2.5 A IGREJA CONTEMPORÂNEA


No século vinte, enquanto as afirmações doutrinárias da maioria das igrejas foram pouco alteradas, no
nível popular a doutrina do Espírito ganhou outra dinâmica. Dois movimentos transformaram o cenário da
igreja: o movimento Pentecostal e o movimento Carismático.
O Movimento Pentecostal teve seu começo no início do século vinte. O pentecostalismo tem suas raízes
no movimento de "holiness" (santidade) do século dezenove, mas deu início quando o evangelista negro
William J. Seymour trouxe seu ministério para Los Angeles. Fundou a igreja Apostolic Faith Gospel Mission
na rua Azusa onde as notícias de línguas, curas e outras manifestações sobrenaturais atraíram adeptos e
espalharam o movimento rapidamente (New International Dictionary of the Christian Church. Ed. J. D. Douglas.
Grand Rapids: Zondervan, 1978. p. 763). Em 1915, a Elim Foursquare Gospel Alliance (Aliança do Evangelho
Quadrangular) passou a existir e em 1924 a Assembleia de Deus foi organizada.
A convicção central dos pentecostais é que o batismo do Espírito Santo é uma experiência posterior à
conversão. Por causa desta "segunda benção" a pessoa recebe um novo poder espiritual na sua vida e pode
manifestar dons do Espírito listados no Novo Testamento (como línguas, profecia ou curas).
O Movimento Carismático teve seu começo principalmente entre os católicos. Começou nos anos
sessenta na universidade católica de Notre Dame e se espalhou pelo mundo, atravessando linhas geográficas
e denominacionais. Caracteriza-se como uma experiência do Espírito que "enfatiza a alegria do reino, falar
numa língua estranha e curas". A experiência é comunicada pela imposição de mãos e oração e proporciona

um poder novo para o crente, um senso da presença de Deus, amor pela palavra e pela oração, libertação do
pecado e um desejo de testemunhar (lOHNSON, 183).
No Brasil, o maior crescimento da igreja tem acontecido entre os pentecostais e recentemente entre os
chamados neopentecostais. As maiores igrejas pentecostais no Brasil são as Assembleias de Deus, Congregação
Cristã do Brasil, e a Igreja do Evangelho Quadrangular; somente entre elas contam com um total acima de 11
milhões de membros. Este número não conta com as centenas de outras denominações pentecostais menores
e as milhares de igrejas independentes de linha pentecostal. Contando os neopentecostais, o número sobe
muito mais ainda (fontes: Internet - Revista Veja e Sepal (IBGE). Além disso, há uma abertura crescente entre
as igrejas 'tradicionais' (não pentecostais) para a atividade mais ostensiva do Espírito Santo em manifestações
espontâneas na liturgia e no exercício dos dons espirituais de forma discreta.
Esperamos que esta dinâmica do Espírito na igreja brasileira não seja limitada apenas ao discurso e um
estilo avivado de culto, mas, como na igreja de Atos, frutifique em santidade e na multiplicação de verdadeiros
discípulos ao redor do mundo!

Os credos e doutrinas da igreja falam muito mais a respeito do Pai e do Filho do que do Espírito Santo.
As informações bíblicas a respeito da terceira pessoa da trindade são mais difíceis de sistematizar: não há um
texto bíblico que seja um tratado teológico explicando a doutrina do Espírito (pneumatologia). Um teólogo
sugeriu que esta forma discreta de ser da parte do Espírito é devido ao seu propósito: Ele não atrai atenção
para si mesmo, mas dirige as pessoas a Cristo! (lo 16.14). Enquanto a conceituação dele é mais difícil de
articular, a ação dele é imprescindível e continua na vida do cristão. Como observa Erickson "O Espírito Santo
é a pessoa específica da Trindade por meio de quem toda a Divindade Triúna atua em nós ... é o ponto em
que a Trindade torna-se pessoal para o que crê" (ERICKSON, Millard J. Introdução a Teologia Sistemática. São
Paulo: Vida Nova, 1997. p.344) .

Nesta parte do capítulo queremos focar em dois aspectos da sua pessoa que são facilmente esquecidos:
sua personalidade e sua divindade. Primeiro a sua personalidade.
Por que será que esquecemos que o Espírito é uma pessoa, com os atributos de pensar, sentir e decidir?
Evans sugere algumas razões:
• ao ser contrastado com as outras pessoas da Trindade, parece menos pessoal. O Pai é facilmente
entendido por conhecermos figuras paternais terrestres. O Filho, até todos nós somos; mas não temos
uma categoria paralela com o Espírito, que é uma figura mais mística, semelhante a uma influência.
• Por causa dos nomes dele. É chamado de sopro, vento e poder. Os símbolos usados a respeito dele
são óleo, fogo, água etc. Por isso grupos como os Testemunhas de leová o tratam de ser "aquilo"
em vez de ser "ele", e se não nos cuidarmos, acabamos mentalmente o 'despersonalizando' assim
entrando em conflito com o seu conceito bíblico (EVANS, William. The Great Doctrines ofthe Bible.
Chicago: Moody, 1974. p. 107,108).

6.3.1 PROVAS BíBLICAS DA PERSONALIDADE 00 EspíRITO


Não estamos tratando de um "gás divino", uma força cósmica, uma influência impessoal; a Bíblia de várias
forma s mostra os atributos pessoais exibidos pelo Espírito que contradiz estes conceitos errôneos . Apesar de
não existir um texto bíblico que de forma doutrinária declara que o Espírito Santo é uma pessoa, as evidências
pela sua personalidade são abundantes. Vamos provar esta doutrina mostrando que ele exibe os atributos de
uma pessoa: ao observar seis atributos de personalidade na Bíblia, chegaremos à conclusão de que o Espírito
não é "aquilo" mas, "ele". (Esta próxima parte é uma adaptação de EVANS, William . The Great Doctrines of
the Bible. Chicago: Moody, 1974. p. 109-111).

6 .3 .1.1 Nomes que implicam personalidade


Primeiro, o Espírito é chamado de consolador (lo 14.16; 16.7). O paracleto é alguém chamado para ficar
ao seu lado a fim de ajudar - como um cliente chama um advogado. O mesmo nome é dado à pessoa de
Jesus em 1 João 2.1. Em João 14.16 mostra que o paracleto vai tomar o lugar da pessoa de Cristo: certamente
uma mera influência não pode substituí-lo, exercendo todas as funções descritas nos textos de João 14 e 16.

6.3.1.2 Pronomes pessoais usados em relação ao Espírito.


Doze vezes em João 16.7,8,13-15 a Bíblia usa o pronome masculino pessoal - ekeinos - ao referir-se ao
Espírito, o mesmo pronome que usa para Cristo em 1 João 2.6;3.3,5,7,16 . Erickson explica assim:
'~palavra grega pneuma ("espírito") é neutra ... seria de esperar que o pronome neutro fosse empregado
para representar o Espírito Santo. Mas em João 16:13,14, a descrição que Jesus faz do ministério do
Espírito Santo usa uma pronome masculino onde se esperaria um pronome neutro ... (João usou) o
masculino para nos transmitir a fato que Jesus estar se referindo a uma pessoa, não a uma coisa"
(ERICKSON, Millard l .. Introdução à Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1997. p. 348).

6.3.1.3 O Espírito é identificado com o Pai e Filho


O Espírito é identificado com o Pai e Filho de tal maneira que indica personalidade.
Na formula batismal, imagine uma leitura assim: "". batizando-os em nome do Pai, do Filho e do vento
ou sopro" (Mt 28.19). Não soaria estranho? Por quê? Por que se os primeiros nomes na lista são pessoas,
a terceira teria que ser também! O mesmo acontece na benção de Paulo em 2 Coríntios 13.14: "A graça do
Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo"."
O Espírito é identificado também com pessoas humanas da mesma forma em Atos 15.28: "". pareceu bem
para o Espírito Santo e para nós" ." disse Paulo, mais uma vez implicitamente tratando o Espírito no nível pessoal.

6.3.1.4 Características pessoais são atribuídas ao Espírito Santo


O Espírito é representado como pessoa que "sonda" e "conhece" os pensamentos mais profundos de
Deus (1 Co 2.11,12), características de ser racional e pessoal (veja Is 11.3 e 1 Pe 1.11).
Dons do Espírito (1 Co 12), incluindo sabedoria e discernimento, precisam ser oriundos de uma pessoa
- o "pessoal" não pode sair do "impessoal".
O Espírito tem uma mente (Rm 8.7,27), implicando a capacidade racional, característica não de força ou
influência, mas de pessoa.

6.3.1 .5 Ações pessoais são atribuídas a ele


O Espírito fala: Ap.2.7; Ele intercede: Rm 8.26; Ele chama missionários: At 13.2; guia os missionários: At
16.6,7, e aponta lideres para a igreja: At 20.28, todas atividades de uma pessoa.

6.3.1.6 O Espírito é suscetível a tratamento pessoal injurioso


Ele pode ser entristecido (Ef 4.30), um estado emocional característico apenas de pessoas. Pode-se mentir
a ele (At 5.3), insultá-lo (Hb 10.29), blasfemar e pecar contra ele (Mt 12.31,32). Não é possível maltratar uma
entidade impessoal desta forma - somente uma pessoa autoconsciente e racional, com sensibilidade pessoal.
Apesar de serem provas indiretas da sua personalidade, não deixam de ser convincentes. Consequentemente,
podemos nos relacionar com Ele, porque "". é uma pessoa, não uma força vaga" (ERICKSON, Millard J..
Introdução a Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1997. p. 349) .
.~

Não somente o Espírito é revelado na Bíblia com uma pessoa, mas compartilha a plena divindade com
o Pai e com o Filho, compondo a Trindade. Este capítulo, na verdade, é uma complementação de Teologia
Sistemática 1 onde trata-se da doutrina da trindade. Mais uma vez, apesar de que não existir um texto bíblico
que de forma explícita declara que o Espírito Santo é Deus, as evidências pela sua divindade são convincentes
I!

para quem crê na Bíblia. Examinaremos cinco provas bíblicas da sua divindade (Mais uma vez, uma adaptação
de EVANS, William. The Great Doctrines of the Bible. Chicago: Moody, 1974. p. 111,112).

6.4.1 NOMES DIVINOS DO EspíRITO SANTO


Em Atos 5.2-4 o Espírito é chamado de Deus. Ananias achou que havia mentido ao homem; Pedro disse
diferente: "... a ponto de mentir ao Espírito Santo". No mesmo texto mais adiante, repetindo a sua alegação,
Pedro disse "Você não mentiu aos homens, mas a Deus" claramente igualando o Espírito a Deus.
1 Coríntios 3.16 tem o mesmo formato: "Vocês não sabem que são santuário de Deus e que o Espírito de
Deus habita em vocês?". Paulo segue usando esta terminologia intercambiável em 1 Coríntios 12.1-4 a respeito
de quem dá os dons e ministérios: disse que é o mesmo Espírito que dá a variedade de dons e ministérios,
depois chamando-o de "Senhor" e "Deus".

6.4.2 O EspíRITO SANTO POSSUI ATRIBUTOS DIVINOS


A sua natureza é eterna (Hb 9.14); Ele é onipresente (51139.7-10); é onisciente: "sonda todas as coisas"
1 Co 2.10,11) e onipotente: "o Espírito Santo ... o poder do Altíssimo" (Lucas 1.35). São todos estes atributos
exclusivamente de Deus.

6.4.3 OBRAS DIVINAS SÃO ATRIBUíDAS AO EspíRITO SANTO


A Bíblia o apresenta como criador (Gn 1.2; SI 104.30). Jó entendeu que "O Espírito de Deus me fez; o
sopro do Todo-poderoso me dá vida" (Jó 33.4).
Também é atribuída a Ele a regeneração (Jo 3.5-8; Tt 3.5) enquanto em 1 João é atribuída a Deus: "Todo
aquele que é nascido de Deus ... porque é nascido de Deus" (1 Jo 3,9).
O Espírito inspirou as escrituras: Paulo afirmou que "Toda a Escritura é inspirada por Deus ..." (2 Tm 3.16)
e Pedro que os escritores foram "... movidos pelo Espírito Santo" (2 Pe 1.21).

6.4.4 O NOME DO EspíRITO SANTO É ASSOCIADO COM O PAI E FILHO


Os mesmos argumentos usados acima para provar a sua personalidade também valem para evidenciar a
sua divindade. Por exemplo, em Mateus 28.19, seria impensável dizer "Batizando-o em nome do Pai, do Filho
e de Moisés:" Colocaria Moisés numa posição de igualdade. Um alistamento deste tipo normalmente indica
uma similaridade de tipo entre os alistados. A mesma associação acontece na bênção de Paulo em 2 Coríntios
13.14: "A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo ..." Jesus e Deus são
irrefutavelmente divinos: logo o terceiro mencionado também é divino .

6.4.5 PASSAGENS BíBLICAS


Passagens do antigo testamento que fazem referência a Deus, ao serem citadas no Novo Testamento
referem-se ao Espírito Santo.
Compare, por exemplo, o texto de Isaías com a sua citação no Novo Testamento. Isaías 6.8-10 identifica
quem está falando como "O Senhor"; ao citar a mesma fala no Novo Testamento, Paulo diz "... o Espírito Santo
falou aos seus antepassados ..." (At 28.25-27).
Em Jeremias.31.31-34 é o Senhor que está "declarando" enquanto na citação em Hebreus 10.15-17 o
"Espírito Santo ... "testifica" a mesma coisa (compare também Êx 16.7 e 5195.8-11 com Hb 3.7-9).
Podemos ter plena confiança que a Bíblia ensina a divindade do Espírito. Ele é Deus, coigual com o Pai
e o Filho e digno de nossa adoração. Por ser pessoa e Consolador, encostamos e dependemos dele. Por ser
Deus, o honramos e cultuamos.
o ESPíRITO SANTO: PESSOAL. DIVINO E DEUS CONOSCO.
"O Espírito Sa nto é uma pessoa ... é alguém com quem podemos ter um relacionamento pessoa L.. o
Espírito Sa nto, sen do plenam ente divino, deve re ce ber a mesma honra e respe ito que dispensa mos ao Pai e
ao Fi lho . É apropriado adorá-lo como adoramos a eles. Não se deve pensa r que ele seja em algum senti do
inferior a eles em essência, embora seu papel esteja às vezes su bordinado ao deles ... Não há tensão entre
as t rês pessoas ou suas ativi dades. Deus não está distant e. No Espírito Sa nto, o Deus Triuno chega perto
de nós, t ão perto que, de fato, entra em cad a pessoa qu e crê . Deus é at e mais intimo de nós agora que na
enca rn ação .. . ele de fato to rn ou-se o Emanuel, " Deus consoco".

(ERICKSO N, Mi llard J. Introdução a Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1997. p. 349,350).

rv

Agora, sabemos que o Espírito Santo é muito maior e mais chegado do que qualquer lista dos seus atributos
pode comunicar. Comunicação mais íntima entre pessoas não funciona assim; imagine eu aprofundando meu
relacionamento com a minha esposa fazendo uma lista formal dos seu atributos! Não é assim que funciona
entre pessoas. Precisamos estar juntos, cultivando intimidade pela conversa, abrindo o coração e pedindo ajuda.

É somente assim que vamos conhecer não apenas a doutrina do Espírito, mas a sua pessoa!

• Iniciamos o nosso estudo de pneumatologia, o estudo do Espírito Santo. Neste capítulo focamos no
retrato bíblico dele, dividindo o assunto em quatro partes: uma visão panorâmica, o desenvolvimento
histórico, a sua personalidade e a sua divindade.

• A Bíblia fala muito sobre o Espírito Santo, de Gênesis a Apocalipse. Apesar de ter mais ênfase no Novo
Testamento, o Antigo já o revela como ativo na criação, na inspiração dos profetas, na capacitação
de pessoas para certas obras e liderança e a promessa de uma era futura onde todos poderiam
experimentar a sua plenitude.

• No Novo, vimos a presença dinâmica do Espírito no ministério de Jesus, o derramamento do Espírito


em Pentecoste, em Atos, a sua atuação na expansão da Igreja e o seu ministério enfatizado pelos
apóstolos.

• Na parte histórica, traçamos o desenvolvimento da doutrina através de cinco períodos da Igreja:


antigo, medieval, reformado, moderno e contemporâneo notando um crescente entendimento da
sua pessoa e ministério.
• Reconhecendo que o Espirito é a pessoa da trindade menos conhecida focamos na sua personalidade
e divindade, aspectos frequentemente esquecidos. Mostramos biblicamente a sua personalidade:
pelos seus nomes e pronomes, sua associação com o Pai e Filho, características, ações e reações.
Ele é uma pessoa, não uma força impessoal.
• Mostramos biblicamente a sua plena divindade pelos nomes, pelos seus atributos divinos, suas obras
divinas, sua associação com o Pai e Filho e pelas citações no Novo Testamento de textos do Antigo.
Ele é Deus, coigual com o Pai e o Filho e digno de nossa adoração.
,;

CAPITULO 7
A OBRA DO EspíRITO SANTO

FIG : OBRA DO EspíRITO SANTO; em escoladedomingo .blogspot.com; em lO.abr.2012

11' qOC
o que é que aconteceria se o Espírito Santo se retirasse do mundo?
Quais seriam as consequências para a população em geral? Para a igreja? Para
você mesmo? Talvez o cenário mais assustador fosse que sentiríamos muito
pouco a sua falta. Lembramos a citação trágica a respeito de Sansão. Depois
de ser "apossado" pelo Espírito (Jz 14.6,19; 15.16) em várias ocasiões e fazer
grande façanhas contra o inimigo, ao transgredir a ordem do Senhor de não
cortar o cabelo, saiu para enfrentar o inimigo "mas, não sabia que o Senhor
o tinha deixado" (16.21); e, como lembramos, foi derrotado e preso. Estamos
estudando o Espírito, sua pessoa e sua obra, para que esta autodependência
não se instale em nossa vida e ministério, mas que sejamos pessoas cheias
do Espírito, andando no Espírito, exercendo os dons do Espírito e ministrando
no poder do Espírito.
Em capítulo 6 iniciamos o nosso estudo de pneumatologia, focando no
retrato bíblico da pessoa do Espírito Santo, salientando sua personalidade e a
sua divindade. Vimos que o Espírito é uma pessoa, não uma força impessoal
e que é plenamente divino, coigual com O Pai e Filho. Neste capítulo, baseado
no retrato bíblico da pessoa dele, estudaremos a sua obra, aquilo que ele faz
e quer fazer. Veremos o seu ministério em relação ao mundo (7.1), em relação
às escrituras (7 .2), em relação a Cristo (7.3), a sua igreja (7.4) e finalmente em
relação ao cristão (7.5).

Devemos evitarformar um retrato limitado da obra do Espírito, vendo-o


apenas como quem se envolve na vida religiosa de alguns indivíduos. Sua
atividade é muito maior, impactando diariamente todas as pessoas no mundo
e toda a criação.
Em primeiro lugar, ele foi ativo no ato da criação do cosmos e continua ativo na sua manutenção. No ato
da criação, era o Espírito de Deus que "". se movia sobre a face das águas" (Gn 1.3). Segundo o credo Niceno,
o Espírito é o doador da vida (lo 6.63); foi o sopro de Deus que tornou um homem um "ser vivente" (Gn 2.7).
Jó entendeu que não era apenas quem o fez e deu vida (Jo 33.4), mas era Deus, pelo espírito, quem
continua a cuidar do mundo inteiro (Jó 34.13). E entendeu também que se fosse retirar "". o seu espírito,
e o seu sopro, a humanidade pereceria toda de uma vez e o homem voltaria ao pó" (Jó 34.14,15) . É a ação
ininterrupta do Espírito Santo que mantém ordem e dá consistência à natureza e à vida humana. Se o Espírito
fosse retirado, o universo voltaria ao caos descrito em Gênesis 1.2 antes que o Espírito começasse a se mover
sobre as águas - "Era a terra sem forma e vazia".
O Espírito foi derramado sobre a igreja e sobre os cristãos, sim, mas, a sua atividade entre os homens,
também, não se limita apenas aos cristãos. Atinge toda a população do mundo. Ao pregar para os atenienses,
Paulo falou que o mesmo Deus que ele representava era universalmente presente, mesmo que eles não o
conhecessem. "Pois nele vivemos, nos movemos e existimos", como disseram alguns dos poetas de vocês:
'Também somos descendência dele"'(At 17:28). Deus se faz presente em todo lugar pelo seu Espírito. Ele
demonstra a sua existência e atributos pela criação (Rm 1.20). Pela consciência de pecado o Espírito prepara
as pessoas para as boas novas de salvação (Rm 2.12-16).
Normalmente a obra do Espírito é incompleta até chegar um representante humano levando a palavra
de Deus para completar o processo: o Espírito age por meio de agentes humanos. Mas não devemos pensar
que o Espírito, de cuja presença ninguém pode "escapar" (SI 139.7), ignora os bilhões de pessoas fora do
raio de influência cristão. Ouvimos muitas reportagens do trabalho preparatório do Espírito entre povos não
alcançados (veja RICHARDsON, Don. O Fator Melquisedeque. São Paulo: Vida Nova, 1986). Nos últimos anos
relatos de muçulmanos sendo despertados para buscar a Cristo através de sonhos tem se multiplicado. Deus
ama a todos, e o Espírito já está agindo no coração dos povos mesmo antes do missionário chegar.
Jesus detalha mais esta atividade do Espírito de mostrar para as pessoas a sua condição precária assim
os preparando para o evangelho. Em relação à humanidade como um todo, disse que o papel do Espírito é de
"convencer o mundo" de certas verdades: "Mas eu lhes afirmo que é para o bem de vocês que eu vou. Se eu
não for, o Conselheiro não virá para vocês; mas se eu for, eu o enviarei. Quando ele vier, convencerá o mundo
do pecado, da justiça e do juízo. Do pecado, porque os homens não creem em mim; da justiça, porque vou para
o Pai, e vocês não me verão mais; e do juízo, porque o príncipe deste mundo já está condenado" (Jo 16:7-11).
Este ministério de convencer (Grego- elencho - de convencer, refutar, reprovar, (VINE 239) inclui convencer
do pecado - principalmente da incredulidade; da justiça - porque o modelo perfeito, Jesus, não estaria mais;
e do juízo - o julgamento virá para todos incluindo o Diabo. Este ministério, segundo o texto, estende para
"o mundo", não apenas para os frequentadores de cultos cristãos. O ministério universal do Espírito não
substitui o envio de missionários cheios do Espírito, mas nos encoraja a lembrar que o Espírito vai adiante
de nós quando saímos para pregar as boas novas tanto em nossas cidades até aos confins da terra . Quando
chegamos, Ele já está trabalhando!

lF- >J r rp..:l T f--~~ PF-I ACÃ[1 ÀS C~~P TI IPAS

O Espírito tem uma relação estreita com as escrituras tanto como autor quanto como intérprete. Os profetas
do Antigo Testamento entenderam que seus pronunciamentos foram resultados da presença do Espírito neles:
Disse Ezequiel: "Enquanto ele falava, o Espírito entrou em mim e me pôs de pé, e ouvi aquele que me falava"
(Ez 2:2; veja 8.3;11.1,24). Pedro foi claro quanto ao envolvimento do Espírito com os autores das escrituras:
'~ntesde mais nada, saibam que nenhuma profecia da Escritura provém de interpretação pessoal, pois
jamais a profecia teve origem na vontade humana, mas homens falaram da parte de Deus, impelidos
pelo Espírito Santo" (2 Pe 1.20-21).
Paulo também ensinou que as escrituras são inspiradas por Deus. A palavra usada em grego (a única vez
usada na Bíblia) é composta por duas palavras: Theos- Deus, e pneõ - para expirar ou soprar, uma referência
ao Espírito (VINE, 263) . As escrituras vinham pelo sopro de Deus, pelo Espírito:
"Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensina, para a repreensão, para a correção e para a
instrução na justiça, poro que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para todo boa obra"
(2 Tm 3.16-17).
Sendo que o Espírito é a fonte das escrituras, Ele também é o melhor interprete das escrituras. Jesus
prometeu que "... quando o Espírito da verdade vier, ele os guiará a toda a verdade"(Jo 16.13). Paulo foi claro
que é o Espírito que levava ao entendimento das coisas de Deus:
"Nós, porém, não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito procedente de Deus, para que
entendamos as coisas que Deus nos tem dado gratuitamente. Delas também falamos, não com palavras
ensinadas pela sabedoria humana, mas com palavras ensinadas pelo Espírito, interpretando verdades
espirituais para os que são espirituais (1 Co 2. 12-13).
1
p LJ u

De sua concepção até o fim do seu ministério, o Cristo encarnado agia no poder do Espírito. Ele sempre
foi o Eterno Filho, coigual com o Pai e continuou assim durante sua jornada terrestre. Mas, ao se encarnar, sem
abdicar da sua plena divindade, vivia realmente como um ser humano, (FI 2.5-11) um ser humano concebido,
batizado, guiado e capacitado pelo Espírito Santo. Cristo foi:
• concebido pelo Espírito. À indagação de Maria, "o anjo respondeu: o Espírito Santo virá sobre você,
e o poder do Altíssimo a cobrirá com a sua sombra. Assim, aquele que há de nascer será chamado
santo, Filho de Deus" (Lc 1:35).
• Batizado pelo Espírito. "Então João deu o seguinte testemunho: "Eu vi o Espírito descer do céu como
pomba e permanecer sobre ele"(Jo 1.32).
• Guiado pelo Espírito. "Então Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo" (Mt4.1).
• Capacitado pelo Espírito. Seu ministério público começou a partir da sua unção com o Espírito.
Daí e diante, a Bíblia relata que ele pregava no poder do Espírito (Lc 4.18); curava pelo poder do
Espírito (At 10.38) e expulsava demônios pelo mesmo poder (Mt 12.28). No seu último discurso mais
extenso, o mesmo em que prometeu a vinda do Consolador, mostrou que as obras que realizou no
seu ministério terrestre, ele realizou no poder do Espírito. Sabemos isso porque prometeu que os
discípulos poderiam fazer o mesmo: "Digo· lhes a verdade: Aquele que crê em mim fará também
as obras que tenho realizado. Fará coisas ainda maiores do que estas, porque eu estou indo para o
Pai" (Jo 14.12).

7/1

A igreja é o corpo de Cristo, o organismo vivo que de certa forma substitui a sua presença na terra.
Como Cristo, o seu "corpo", a igreja é também concebida, batizada, guiada e capacitada pelo Espírito. Foi no
dia de Pentecostes que coletivamente os seguidores de Cristo, pessoas já convertidas, receberam o batismo
com o Espírito, unindo-se em um só organismo vivo chamado igreja, guiado e capacitado pelo Espírito, dando
continuidade ao projeto de Cristo. Da mesma forma que o Espírito concebeu a Cristo, A igreja foi concebida no
dia de Pentecostes pelo derramamento do Espírito. "O Pentecostes foi o nascimento da Igreja Cristã" (WILEY,
290). Como o Espírito desceu sobre Jesus no seu batismo, desceu sobre a igreja batizando-a com o Espírito (At
2.1-4); o Espírito guiou Jesus; a partir daquele dia também guiou a igreja (At 13.2); como o Espírito capacitou
a Cristo, capacitou a igreja, distribuindo dons e ministérios (1 Co 12; Rm 12; Ef 4), de tal forma que poderia
plenamente representar Cristo aqui na terra.
A vitalidade da igreja depende da presença e obra do Espírito. Sem o Espírito a igreja é um cadáver, um
corpo sem vida. Uma igreja não habitada e dinamizada pela sua presença viva é apenas uma organização - um
grupo de pessoas mobilizado em torno de interesses comuns - e não um organismo vivo . Quando a igreja não
tem uma relação de dependência com o Espírito, o que resta são apenas prédios e instituições; instituições
orientadas por regimentos internos e burocracias, liderados por gestores e cheia de intrigas políticas iguais às
demais instituições humanas. Sem o Espírito, o "corpo" de Cristo não exibe as características de Cristo nem
faz o que ele fazia porque não é vivificada pelo Espírito.
"7 !:: A OBRA 00 ESPíR 'O SAN~O lM 8ELAÇÃO AO CFlISTÃO
A vida do cristão é uma vida vinculada intimamente com o Espírito. Sem a presença dele o cristão não
passa de um religioso - uma pessoa com uma cultura evangélica que assiste uma igreja, carrega sua Bíblia,
tem um linguajar recheado de jargão religioso e não pratica certos pecados mais ostensivos. Mas o verdadeiro
cristão é mais que um adepto da religião dos crentes; é um ser humano vinculado com a presença sobrenatural
do Espírito. O cristão é uma pessoa transformada, habitada, guiada, afiliada, unida à igreja e capacitada para
a vida e ministério ... pelo Espírito. Vejamos:
• é o Espírito que nos transformou na regeneração . Num capítulo anterior (3.2) vimos que o novo
nascimento é nascimento pelo Espírito (Jo 3.6; Tt 3.5). É neste momento que nos tornamos cristãos.
Esta obra de regeneração é uma obra do Espírito, a sua presença nos dando vida espiritual, nos
transformando de dentro para fora e nos proporcionando a vida eterna.
• É o Espírito que habita em todos os cristãos. Paulo afirma que "se alguém não tem o Espírito de
Cristo, não pertence a Cristo" (Rm 8.9); mas, por outro lado, se o Espírito está em nós, ele "dará vida
aos seus corpos mortais, por meio do seu Espírito que habita em vocês" (8.11).
• É o Espírito que guia os cristãos. Paulo argumenta que o cristão não segue mais os impulsos da
carne, mas se orienta pelo Espírito que habita nele: "porque todos os que são guiados pelo Espírito
de Deus são filhos de Deus" (Rm 8.14).
• É o Espírito que nos dá a certeza da nossa filiação. Paulo disse que dá testemunho da nossa filiação:
"O próprio Espírito testifica com nosso espírito que somos filhos de Deus" (Rm 8.16; GI 4.6). Pelo
Espírito temos certeza de salvação.
• É o Espírito que nos dá a entrada na igreja de Cristo. Pela sua operação, passamos a fazer parte da
Igreja de Cristo. "Pois em um só corpo todos nós fomos batizados em um único Espírito: quer judeus,
quer gregos, quer escravos, quer livres ..." (1 Co 12.13).
• É o Espírito que capacita os cristãos a viver a vida cristã. A vida cristã é mais que autorreforma, é
mais que se esforçar para melhorar. Depois de nos converter, o Espírito que habita em nós exibe
através do cristão os frutos do Espírito (GI 5.22-25 - próxima seção). Ele que santifica (2 Ts 2.13),
nos capacita a tirar o controle da carne sobre nossa vida (Rm 8. 5-13) e nos transforma à imagem de
Cristo: "... segundo a sua imagem estamos sendo transformados com glória cada vez maior, a qual
vem do Senhor, que é o Espírito" (2 Co 3.18).
• É o Espírito que capacita os cristãos para o ministério. Jesus foi claro ao dizer que os discípulos,
antes de começarem a cumprir a Grande Comissão, precisavam de uma capacitação do Espírito para
exercer o ministério. Falou aos seus discípulos que eles iriam pregar o "arrependimento para perdão
de pecados a todas as nações", mas os instruiu primeiro a aguardar "... a promessa de meu Pai;
mas fiquem na cidade até serem revestidos do poder do alto" (Lc 24.47-49). Atos 1.5 faz o mesmo
relato e usa o termo "batizados com o Espírito Santo" dizendo o que aconteceria em "poucos dias".
Efoi só depois de Pentecoste que a igreja tornou-se uma força dinâmica, inexorável, avançando por
Jerusalém, Judeia, Samaria e até os confins da terra, porque seus membros foram capacitados pelo
Espírito Santo para o ministério.
Agora, no restante do capítulo queremos aprofundar mais na relação do crente com o Espírito Santo
abordando três tópicos fundamentais para quem quer viver uma vida espiritual dinâmica: o batismo com o
Espírito, o fruto do Espírito e os dons do Espírito.

7 .5 .1 O BATISMO COM O EspíRITO


Chegamos agora numa área de grande importância para toda a igreja de Cristo e de particular importância
para as igrejas pentecostais como a Igreja Quadrangular- "É a segunda das quatro verdades fundamentais em
que se baseia o Evangelho Quadrangular.... A maior promessa feita ao mundo inteiro é, naturalmente, esta: "...
para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna" (Jo 3.16); a maior promessa para a igreja
é, porém, esta : " ... mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo ..." (At 1.8)". (DUFFIELD, Guy P. e

-.
VAN CLEAVE, Nathaniel M . Fundamentos da Teologia Pentecostal. Vol.Il, São Paulo: Quadrangular, 1991. p.56).
Vamos examinar os principais textos bíblicos a respeito, destacando S pontos que nos darão uma visão
bíblica e prática desta experiência.
(NOTA: a próxima seção de 5 pontos é uma adaptação de DUFFIELD, Guy P.; VAN CLEAVE, Nathaniel M.
Fundamentos da Teologia Pentecostal. Vol.Il. São Paulo: Quadrangular, 1991. p.56-87)

7.5.1 .1 O nome da experiência


Negativamente, o batismo com o Espírito Santo não é uma "segunda obra definida da graça" nem uma
"segunda benção". Se há mais bênçãos vindas de Deus, queremos todas, mas estas expressões não se encontram
na Bíblia e podem complicar nosso entendimento. Também, não é santificação nem santidade - estes termos
se referem ao desenvolvimento de caráter cristão e não uma experiência ou benção única.
Positivamente, o nome bíblico usado para a esta experiência é "batismo com o Espírito Santo". Encontramos
este termo em várias passagens: "Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo" (Mt 3.11); "Porque João,
na verdade, batizou com água, mas vos sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias"
(At 1.5).

7.5.1 .2 O que é o batismo com o Espírito Santo


Negativamente, não é o novo nascimento; é subsequente à sua obra regeneradora e distinta dela. Os
apóstolos haviam se convertido antes do pentecostes; os samaritanos também se converteram antes de receber
o batismo do Espírito Santo (At 8.14-17). Os crentes em Éfeso (At 19.2) receberam o batismo depois da sua
conversão, com a imposição de mãos dos apóstolos (At 19.2-7). Com esta experiência a pessoa não se torna
superior ou digna de favor divino especial - o batismo está à disposição dos recém-nascidos em Cristo (At
2.38). Esta experiência não quer dizer que não pode haver outras experiências semelhantes depois: o Espírito
foi derramado em outras ocasiões posteriores a Pentecostes (At 8.14-17; 9.17;10.44-46;19.2-7).
Positivamente,
"O batismo com o Espírito Santo é uma experiência definida, subsequente à salvação, em que a Terceira
Pessoa da Divindade desce sobre o crente para ungi-lo e capacitá-lo para um serviço especial. Esta
experiência, no Novo Testamento, é descrita como o Espírito "caindo sobre': "descendo sobre" ou sendo
derramado sobre" o crente de maneira repentina e sobrenatural." (OUFFfELD, Guy P; VAN CLEAVE,
Nathaniel M. Fundamentos da Teologia PentecDstal. VoU/. São Paulo: Quadrangular; 1991. p.61)

É a promessa do Pai (Lc 24.49), é um dom (At 2.38) é o mandamento do Senhor (At 1.4; Ef 5.18) .

7.5.1.3 O propósito e necessidade do batismo com o Espírito Santo


O propósito principal do batismo é poder para serviço. Atos 1.8 mostra isso claramente: "... mas recebereis
poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém, como em
toda a Judeia e Samaria, e até aos confins da terra". Jesus recebeu esta unção e poder antes de começar seu
ministério. Os discípulos foram transformados pelo poder do Espírito depois de Pentecostes: antes escondidos
atrás de portas fechadas (João 20.19) viraram homens ousados, corajosos (At 4.19,20; 4.29-31) e capacitados
para realizar curas e milagres. Pelo Espírito, Estevão era "cheio de graça e poder" (At 6.8,10) e Paulo pregou
em "demonstração do Espírito e de poder..." (1 Co 2.4) . Este poder inclui capacitação para luta espiritual (Ef
6.12) e executar as tarefas ministeriais dadas por Deus.

7.5.1 .4 Como receber o batismo com o Espírito Santo


Não é uma experiência restrita aos dias dos apóstolos, nem exclusiva de pastores e missionários ou
de uma classe mais madura ou privilegiada . É para todos os salvos em Cristo, aqueles que se arrependeram
do pecado (At 2.37,38) e exerceram sua fé em Jesus. Normalmente é para quem foi batizado nas águas. (At
2.37,38), mas, há exceções bíblicas para esta sequência (At 9.17,18 e 10.47,48).
Nota-se que não é fácil dizer exatamente como deve ser a experiência do batismo: Deus não é preso a
nenhum esquema humano e não tem duas pessoas com as mesmas reações. Porém há alguns princípios que
norteiam o recebimento do batismo .
./ Primeiro, o batismo é recebido pela fé. "... a fim de que recebêssemos pela fé o Espírito prometido"
(GI.3.14. Veja João 7.39; Hb 11.6). Disse Duffield: "... não é uma questão de sentimentos, sinais ou
evidências. Trata-se de uma questão de crer que Deus enviará sua promessa sobre nós - que Jesus
batizará com o Espírito Santo" (DUFFIELD, Guy P.; VAN CLEAVE, Nathaniel M. Fundamentos da Teologia
Pentecostal. Vol.Il. São Paulo: Quadrangular, 1991. p.72) .
./ Segundo, o batismo é recebido pela entrega completa de todo o ser. A fim de que o Espírito Santo
possa agir livremente precisa haver uma entrega de todas as faculdades ao controle do Espírito.
Implica um rendimento total a Cristo que é um passo não muito fácil. "Este pensamento de entrega
é talvez a base de toda a vida e ministério cheios do Espírito. Cada fase de serviço depois disto deve
resultar da rendição ao poder e presença do Espírito Santo. Deus procura ensinar, assim, desde o
início, o segredo da rendição a Ele" (Ibid . p.7S) .
./ Terceiro, não necessariamente implica uma longa espera . Algumas pessoas têm a impressão que
o batismo só pode ser recebido depois de um grande período de "permanecer", de aguardar para
poder receber a benção. Observa-se que em Atos as pessoas receberam o batismo na primeira
reunião de oração, ou na primeira vez que buscaram (At 8.14-17). Por que tem demorado tanto para
algumas pessoas receberem a benção? Pode ser que as pessoas hoje não tenham a mesma clareza
de entendimento que tinham na época apostólica. Ou, podem ser outros fatores que impedem a
recepção imediata: fé débil, pecado na vida, consagração imperfeita ou motivos egocêntricos de
status espiritual (DUFFIELD. p.78,79).
Mas, segundo a Bíblia, o batismo com o Espírito Santo pode ser recebido de maneiras variadas:
./ de repente, enquanto estavam sentados e esperando a sua chegada (At 2.1-4) .
./ Instantânea e inesperadamente, enquanto ouviram um sermão (At 10.44-46) .
./ Através da oração e da imposição de mãos dos apóstolos (At 8.14-17; 9.17;19.6) .
./ Através da oração e da fé pessoal do indivíduo que busca (Lc.11.9-13; Jo 7.37-39).

7.5.1.5 Evidências e resultados do batismo com o Espírito Santo.


É lógico que deve haver algum sinal distinto desta experiência. Duffield divide estas evidências em dois
tipos: Evidências imediatas e evidências permanentes.
• Evidência imediata: falar em outras línguas conforme concedido pelo Espírito. Nos textos principais
a respeito no livro de Atos os que foram batizados com o Espírito Santo falaram em línguas. "E todos
foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes
concedia que falassem" (At 2.4).
"E, dizendo Pedro ainda estas palavras, caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra. E
os fiéis que eram da circuncisão, todos quantos tinham vindo com Pedro, maravilharam-se de que
o dom do Espírito Santo se derramasse também sobre os gentios. Porque os ouviam falar línguas,
e magnificar a Deus"(At 10.44-46).
"E, impondo-lhes Paulo as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e falavam línguas, e profetizavam"
(Atos 19.6).
Admite-se que nem sempre esta evidência inicial de línguas é mencionada no texto (veja At 8.14-19;
4.31); mas, entende-se esta falta pela brevidade dos relatos e pelo fato que quando o texto menciona sinais,
sempre "a ideia inclui línguas" (DUFFIELD, 83).
• Evidencias permanentes. Duffield (84,85) lista outras evidências do batismo que no decorrer do
tempo irão aparecer de forma definitiva:
1) Jesus Cristo glorificado e revelado como nunca antes (Jo 14.21-23; 15.26) .

••
2) Uma paixão profunda pelas almas (At 2.14-41; 4.19-20; 5.29-31).
3) Um poder para testemunhar (At 1.8; 2.41; 1 Co 2.4,5).
4) Um novo poder na oração e no espírito de adoração (At 3.1; 4.23-31; 10.9; Ef 6.18).
5) Um amor mais profundo pela Palavra de Deus e maior percepção da mesma (João 16.3).
6) As manifestações dos dons do Espírito (I Cor. 12.4-11)

7.5.1.6 Por que muitas pessoas não recebem o batismo com o Espírito
Santo?
Por Prof. Marcas A. T. Lapa
O batismo com o Espírito Santo é um dom exclusivo, uma promessa e um ato subsequente e distinto da
salvação (At 8.12,17; At 19: 1-2). Esta é uma experiência singular, mas para recebê-Ia é necessário:
o entender o propósito do batismo com o Espírito Santo, ou seja, será derramado sobre o cristão
o poder para testemunhar, o poder para servir a Deus. O batismo com o Espírito Santo não é
essencialmente uma arma de defesa, mas um revestimento espiritual para tornar o cristão uma
testemunha poderosa de Jesus Cristo. A ignorância quanto a este fato, impede a recepção deste
batismo, pois Jesus, o batizador, não batizará uma pessoa quando ela não tem o intenso e fervoroso
desejo de servi-lo depois que começou a segui-lo.
o O elemento indispensável para receber o batismo com o Espírito Santo é a fé (GI 3.14). A pessoa
precisa crer na promessa, e entender que o Espírito Santo não está fora dela, mas está habitando
em seu espírito humano, portanto, quanto ela pede o batismo como a Bíblia orienta, espera por
ele, e isto demanda certo tempo de busca, se derrama na presença do Senhor com fé buscando
este batismo em amor e em adoração fervorosa, no transbordar desta adoração, o Espírito Santo
começará a falar em línguas estranhas através desta pessoa já salva (Jo 7.38,39). Deixe o Espírito
Santo falar, coloque a sua língua (órgão vocal) à disposição do Espírito. Será uma manifestação
espontânea da parte dele. A pessoa ficará consciente, não haverá transe, pois o Espírito Santo não
precisa despersonificar uma pessoa para manifestar-se.
o O batismo com o Espírito Santo dependa da fé, e não do merecimento pessoal. E não é exclusivo
para pessoas que exercem liderança ou ministério na igreja. Também não depende do tempo de
vivência na igreja, um novo convertido pode recebê-lo. Há cristãos que são batizados com o Espírito
Santo no momento do seu batismo nas águas também, contudo, esta é uma ação que vem da parte
de Cristo o batizador, e não da pessoa.
o É necessária uma rendição total da pessoa a Cristo. A pessoa precisa se submeter completamente ao
Senhor Jesus para que o Espírito Santo venha sobre ela em plenitude. Se a pessoa tem um coração
dividido onde Cristo não é o Senhor, o batismo não acontecerá. Lembro que cada um vive esta
experiência de rendição à sua maneira.
o É necessário deixar a ansiedade de lado. Quanto mais ansiosa a pessoa estiver, mais difícil é para
receber o batismo.
o Não tenha medo de falar línguas estranhas pelo maligno. Se você é do Senhor Jesus, realmente se
converteu e o ama de todo o coração, então dê liberdade ao Espírito Santo, e repreenda o opressor
que está lhe causando esta insegurança, repreenda o medo, não aceite, e se derrame em fé e receba.
o É necessário "falar", ou seja, glorificar a Cristo. Há pessoas que buscam o batismo com o Espírito
Santo, mas ficam caladas, sem falar, nada acontecerá. Não é um falar sem sentido como eu mencionei,
mas é um falar em glorificação, louvor e adoração a Cristo de todo o coração. Transborde no Espírito
Santo. O Senhor Jesus vê o coração, por isto se você tem um personalidade mais reservada, não
importa, o batismo é para você também, então, na sua maneira, glorifique a Jesus de todo o seu
coração, e espere receber este dom.
r
QUADRANGULAR

Uma observação: o dom de línguas estranhas proveniente do batismo com o Espírito Santo não é o dom
de variedade de línguas, é somente a base para que o dom de variedade possa acontecer no futuro, de acordo
com uma decisão exclusiva do Espírito Santo para um fim proveitoso.

7.5.1.7 Os sete benefícios do dom de línguas


1) É um comprimento de profecia (1 Cr 14.21; Is 28.11-12; At 2.17; JI 2.28-29);
2) é um sinal aos descrentes (1 Co 14.22), portanto falem em línguas na igreja e nos cultos públicos;
3) edifica a Igreja (1 Co 14.2-3 e 14). Dê liberdade ao Espírito Santo, que haja um mover especial quando
a igreja ora em línguas reunida;
4) oração (1 Co 14.2-3 e 14). Neste sentido é arma de guerra, de ataque na batalha espiritual;
5) edificação pessoal (1 Co 14.4). O Senhor edificará as partes da sua vida que estão "em obras" de
aperfeiçoamento, maturação;
6) louvor e adoração em línguas (1 Co 14.16,17). É o cântico espiritual;
7) intercessão Espiritual (Rm 8.26-27; 1 Co 14.2-14 - 3.15; Ef 6.18; CI 4.2; Hb 4.14-16; Hb 7.22 - 8.3;
Hb 9.24; Rm 12.12). Na oração em línguas o Espírito Santo exercerá o seu ministério de intercessor
por nós. Ele orará segundo a vontade de Deus, discernindo as necessidades prioritárias do nosso
coração.
IINão apagueis o Espírito, não desprezeis profecias"; IIseja tudo feito para a edificação". Estas são expressões
bíblicas que nos exortam (aconselham) a dar liberdade ao Espírito Santo para operar em nossas vidas e na
igreja como corpo de Cristo.

7.5.1 .8 O fruto do Espírito Santo


Após a experiência inicial da plenitude do Espírito vem a vida no Espírito. A gente gostaria de ter alguma
experiência espiritual que, uma vez por todas, pudesse resolver todos os nossos desafios e garantir uma vida
de vitória ininterrupta. Mas, após as experiências na montanha, voltamos às planícies e vales da vida real,
e ainda podemos viver no poder do mesmo Espírito. Em alguns lugares a Bíblia se refere a esta vida diária
debaixo do controle do Espírito como "andar no Espírito".
Um texto clássico sobre este andar no Espírito é Gálatas 5.25: "Se vivemos pelo Espírito, andemos também
pelo Espírito." O contexto, anterior a esta afirmação, apresenta o fruto do Espírito. Seriamos incoerentes
se reivindicamos o poder do espírito sem viver o fruto do Espírito. Gálatas 5 faz um contraste entre a vida
segundo a carne (nosso autogoverno) e o andar no Espírito, manifestando as próprias características santas
do Espírito Santo:
'~ ..
Ora, as abras da carne são manifestas: imoralidade sexual, impureza e libertinagem; idolatria e
feitiçaria; ódio, discórdia, ciúmes, ira, egoísmo, dissensães, facçães e inveja; embriaguez, orgias e coisas
semelhantes. Eu os advirto, como antes já os adverti, que os que praticam essas coisas não herdarão o
Reina de Deus.
Mas o fruta da Espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão
e dominio próprio. Contra essas coisas não há lei. Os que pertencem a Cristo Jesus crucificaram
a carne, com as suas paixães e as seus desejos. Se vivemos pela Espírito, andemos também pelo
Espírito" (GI 5:18-25).
Samuel Chadwick mostra a diferença entre as obras da carne, e o fruto do Espírito:
"O aspecto mais surpreendente é a mudança enfática de obras para fruto. As obras pertencem à oficina;
o fruto, ao jardim ... as melhores obras do homem falham e se desvanecem, se desintegram e desaparecem ...
O fruto não é produzido pelo trabalho do homem. Ele exige sua diligência, mas não a sua invenção ou seu
produto ... O fruto é obra de Deus. A expressão "fruto do Espírito" atribui as graças do caráter cristão à sua
fonte apropriada. Eles não são produzidos pelo homem." (Citado por DUFFIELD, Guy P.; VAN CLEAVE, Nathaniel
M . Fundamentos da Teologia Pentecostal. Vol.Il. São Paulo: Quadrangular, 199., p.39,40).
o fruto do Espírito se refere ao caráter do cristão. Se focar apenas no poder do Espírito~ esquecendo o fruto
do Espírito, perdemos a visão e o propósito global do evangelho - de nos fazer pessoas parecidas com
Jesus, 'cristãos~ pequenos Cristas. Cristo exemplificou a vida no poder do Espírito em perfeita harmonia
com o fruto do Espírito; os apóstolos, de maneira semelhante, combinaram pregação poderosa e sinais
com uma vida de caráter e santidade. É isso que é andar no Espírito.

Reconhecendo que é o Espírito e não o crente que produz o fruto do Espírito, ainda precisamos seguir
os princípios que favorecem a produção destas facetas do caráter cristão. Em João 15.1-8 Jesus nos deu dois
segredos para esta vida frutífera: submeter-se à poda e permanecer nele.
"Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que, estando em mim, não dá fruto, ele
corta; e todo que dá fruto ele poda, para que dê mais fruto ainda..."
': .. Permaneçam em mim, e eu permanecerei em vocês. Nenhum ramo pode dar fruto por si mesmo, se
não permanecer na videira. Vocês também não podem dar fruto, se não permanecerem em mim."
"Eu sou a videira; vocês são os ramos. 5e alguém permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto; pois
sem mim vocês não podem fazer coisa alguma': (lo 15.1-5)
Para produzir o fruto do Espírito, em primeiro lugar, precisamos nos submeter à poda; "todo que dá fruto
ele poda, para que dê mais fruto ainda". As disciplinas do Senhor doem e não adianta dizer que não. Quem
gosta de ser repreendido por algo que fez de errado? Quem gosta de perceber que no meio de um problema
de saúde ou finanças que Deus está dando umas "varadas" para nos colocar na linha? Mas, a poda, a disciplina
do Senhor, tem o propósito de nos fazer mais parecidos com Cristo. O autor de Hebreus foi claro sobre isso:
': .. Deus nos disciplina para o nosso bem, para que participemos da sua santidade. Nenhuma disciplina
parece ser motivo de alegria no momento, mas sim de tristeza. Mais tarde, porém, produz fruto de justiça
e paz para aqueles que por ela foram exercitados."(Hb 12.10-11)
Não é fácil se submeter à disciplina, admitir as nossas falhas e procurar remediá-Ias. Mas, este é o caminho
para produzir limais fruto ainda".

Em segundo lugar, para produzir o fruto do Espírito, precisamos permanecer em Cristo: "Se alguém
permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto". Como o ramo desconectado da videira há de secar e
morrer, se não estivermos conectados com Cristo diariamente, não produziremos o fruto do Espírito - nosso
caráter cristão será minado e finalmente desaparecerá. Aqui, com certeza, se refere a nossa vida devocional,
aquele tempo que separamos no dia para nos aproximar de Deus em oração e leitura bíblica. Por esta conexão
regular com Deus, flui através de nós a seiva do Espírito que irá produzir o fruto do Espírito, o caráter cristão.
Um colega meu trabalha com pastores com problemas no casamento. São homens aparentemente bem
sucedidos no ministério e na sua maioria são pentecostais - parece que têm o "poder" do Espírito. Porém,
suas vidas pessoais são caóticas: em crise com a esposa, envolvidos com pornografia e frequentemente com
infidelidade conjugal. Apesar de serem de várias idades e circunstâncias, há um traço comum: eles não têm
uma vida pessoal de oração e leitura bíblica. Sim, oram e pregam a Palavra no culto, mas não em casa. Não
"permanecem" em Cristo e consequentemente produzem as obras da carne e não o fruto do Espírito.

7.5.2 OS DONS DO EspíRITO SANTO


Por Prot. Pro Marcos A. T. lapa
Para iniciarmos nossa breve reflexão sobre o
importantíssimo e imprescindível tema sobre os dons
do Espírito Santo, vale apresentar uma afirmação de
A. W. Tozer, quando lançou seu livro a respeito deste
assunto, o título do livro é: "A Tragédia da Igreja, A
Ausência de Dons." Se você se interessar
Sempre quando leciono a disciplina de Dons em ler o livro de
e Ministérios, digo aos alunos: "Os dons são para a Tozer, aqui está a
Igreja, estão na Igreja e para o tempo da Igreja, no capa do mesmo!
céu eles não serão mais necessários, como nos disse
o Apóstolo Paulo em 1 Coríntios 13.10 - 12, portanto, devemos buscá-los com zelo e consagração, usá-los na
inspiração e mover do Espírito Santo, para que a Igreja e o nosso ministério sejam plenos. O Espírito Santo nos
concede estas poderosas ferramentas para completar a nossa ação cristã e ministerial no mundo, ele vem para
fazer aquilo que nós não podemos fazer por nós mesmos, derramando os seus dons sobre seus vasos para
através destes sinais, testificar que a sua santa, maravilhosa, gloriosa e poderosa presença está entre nós. O
Espírito Santo está conosco para sempre, também os seus dons o estão, podemos usá-los e incentivar outros
que creem a usá-los, tudo para a glória do nosso eterno Deus."

7.5.2.1 A Classificação dos Dons


Na palavra de Deus encontramos, através da Teologia Sistemática, quatro categorias de dons :
,/ os Dons Pessoais - Rm 12.3-8;

,/ os Dons Ministeriais - Ef 4.11;


,/ os Dons Espirituais -1 Co 12.1-11;
,/ talentos e Habilidades Especiais - Mt 25 .14-29.
Notemos o gráfico que eu preparei para você:

m ~,'1&.fu

Rm 12.3-8 Ef 4.11 1 Co 12.1-11 Mt 25.14-29


1 Profecia (Boca) 1 Apóstolo 1 Palavra de Sabedoria Administração
(M issionário) (Direção)
2 Serviço ou Ministério Louvor e Adoração
(Mãos) 2 Profeta 2 Palavra de Ciência
Música
(Pregador) (Conhecimento)
3 Ensino (Mente)
Dança e Coreografia
3 Evangelista 3 Discernimento de Espíritos
4 Exortação ou
Artes
Motivação (Coração) 4 Pastor 4 Fé
Literatura
5 Contribuição 5 Mestre 5 Dons de Curar
(Sensibilidade) (Professor) Hospitalidade
6 Operação de Milagres
6 Governo (Cabeça) Comunicação Social
7 Profecia
7 Misericórdia (Ouvido) etc.
8 Variedade de Línguas
9 Interpretação de Línguas
São para todos os crentes São para os crentes São do Espírito e somente são Podemos considerar
individualmente e cada vocacionados, ou operados mediante a ação do estes dons como as
um representa uma parte seja, os escolhidos Espírito Santo . habilidades natas, ou
de corpo do Cristo. O e chamados para o seja, aquelas com as
Somente são manifestos numa
recebem no dia que se ministério. Serão a quais nascemos, e
situação de necessidade,
convertem ao Senhor. linha de frente da também as habilidades
urgência ou emergência,
Igreja, realizam a aprendidas, de acordo
Será a maneira como visando um fim proveitoso.
obra do ministério. com o interesse da
servirão, funcionarão
Servem perante a Nestas manifestações a Igreja é pessoa.
e reagirão no corpo de
congregação. visitada pelo Senhor e deve ser
Cristo (na igreja), entre Estes talentos e
reverente.
os irmãos. Não somente seus habilidades especiais
dons, mas a sua Estes dons quando manifestos e naturais são um
pessoa em toda a devem ser julgados presente de Deus para
sua totalidade foi intimamente por cada um, e que a pessoa realize a
dada por Cristo à pela igreja como um todo para sua missão no mundo.
Igreja. que não haja confusão, mas
sim paz.

QUADRO: CLASSIFICAÇÃO DOS DONS; FONTE: Prof. Marcos lapa; em 1l.abr.2011


.-
CAPITULO 8
ANJOS NA BíBLIA: SUA NATUREZA E
MINISTÉRIO

FIG.: ANJOS; em comunidade-efeta.blogspot.com; em lO.abr.2012

1I'ITpn

Um dos assuntos teológicos mais intrigantes e misteriosos é o assunto


dos seres angelicais, a angiologia. A palavra anjo já traz consigo uma bagagem
de figuras e imagens, algumas com embasamento bíblico e outras vindo do
folclore, de símbolos religiosos e da imaginação humana. Por exemplo, as
figuras infantis dos anjinhos voando em torno de santos nada têm a ver com
o anjo guerreiro Miguel do Antigo Testamento nem com as figuras poderosas
de Apocalipse. Até o registro bíblico dá espaço para dúvidas e especulação; por
exemplo, veremos mais adiante que o "anjo do Senhor" que aparece no antigo
testamento provavelmente seja uma aparição pré- encarnada de Jesus. Mas,
apesar das dificuldades e poucas informações, como pessoas que acreditam
na veracidade da Bíblia, não há duvida que estes seres espirituais existem e
que exercem um ministério importante no universo e entre nós.
Provavelmente desconhecemos as dimensões deste mundo angelical!
demoníaco (CI1.16). A Bíblia usa termos que indicam que esta parte invisível
da criação de Deus é imensa; usam-se palavras que indicam um grande número
de seres invisíveis para nós (Dt 33.2; SI 68.17; Mt. 26.53; Ap 5.11). Também,
desconhecemos as dimensões do conflito entre o bem e mal neste nível. Há
diversas referências no Antigo e Novo Testamento que indicam um estado
de guerra celestial que não temos como medir ou compreender (DnlO.13;
Ap 12.7,8; 20.1-3). Por enquanto, a nossa visão do mundo de seres celestiais
é truncada por nossa humanidade. No caso de Eliseu e seu servo, Deus
momentaneamente desvendou a realidade espiritual e ele viu o exercito de
Deus os protegendo (2 Rs 6.15-17). Pode ser que nosso estudo comece um
processo de abrir os nossos olhos para a dimensão da atividade angelical.
Por ser um assunto importante, porém velado por falta de informações
bíblicas mais objetivas, não é um assunto fácil de estudar. Barth descreveu o
tópico de anjos como "o mais notável e dificil de todos" (citado por ERrCKSON,
Millard J. Introdução à Teologia. São Paulo: Vida Nova, 1997. p.193). Se em
todo estudo teológico precisamos ficar bem grudados nas escrituras, neste

r -.,

L.J
r •

assunto precisamos um esforço redobrado para não 'voar' (como anjos!) longe dos textos. A curiosidade sobre
o assunto e a interpretação especulativa têm levado alguns escritores a formular esquemas e fazer afirmações
que não devem. Um dos perigos da Teologia é ir "além" dos ensinos de Cristo e da Bíblia (2João 9.)
Os textos que mencionam os anjos não são poucos: um teólogo conta 108 menções de anjos no Antigo
Testamento e 165 no Novo (DUFFIELD, Guy P.; VAN CLEAVE, Nathaniel M. Fundamentos da Teologia Pentecostal.
Vol. I. São Paulo: Quadrangular, 1991, p. 280). Mas como Erickson observa, o foco dos textos é mais direcionado
para Deus do que para seus servos angelicais. (ERICKSON, Millard J. Introdução à Teologia. São Paulo: Vida Nova,
1997. p.194) Neste estudo, procuraremos ser ousados em declarar a verdade dos textos claros e cautelosos
em pontos mais obscuros para evitar especulações que não nos levam a nada.
Precisamos também, estabelecer os parâmetros deste capítulo. A Bíblia ensina que houve uma rebeldia
contra Deus entre os anjos em algum ponto da antiguidade, portanto existem bons anjos a serviço de Deus e
anjos caídos a serviço de Satanás, os demônios (veja Ap 12.7). O capítulo 9 será dedicado ao estudo de Satanás
e os demônios mas neste capítulo vamos concentrar nos anjos santos que servem a Deus. Vamos fazer o estudo
bíblico debaixo de quatro tópicos: Anjos, seres espirituais criados (8.1); os nomes e posições dos anjos (8.2);
o ministério dos anjos (8.3) e a relação do crente com anjos (8.4).

CRI C

ANJOS, SERVOS DE DEUS.


"Deus realizou os seus propósitos neste mundo por diversos meios. Num deles forma seus mensageiros
especiais, os anjos. Eles são espíritos a serviço de Deus. Os anjos proclamam a vontade e o plano de Deus
aos seres humanos; ajudam os que estão em dificuldades. Apesar de seu desempenho especial, não devem
ser adorados nem receber nenhuma honra devida a Deus somente. Eles são servos de Deus para nosso
bem e nossa salvação".

(TIENOU, Tite. Fundamentos da Teologia Cristã. Org. Robin Keeley. São Paulo: Vida, 2000. p.137).

8 .1.1 OS ANJOS SÃO SERES CRIADOS POR DEUS


Eternidade é um atributo exclusivo de Deus. Não existe em nenhum ser, nenhuma coisa, nenhuma
entidade a não ser em Deus que é eternamente existente. Logo, em algum momento da eternidade, Deus
criou os anjos; disso podemos ter certeza.
"Louvem-no todos os seus anjos, louvem-no todos os seus exércitos celestiais ... Louvem todos eles o nome
do Senhor, pois ordenou, e eles foram criados" (51148.2,5; veja C11.16 e Ne 9.6).
A Bíblia ensina o fato da sua criação: quando e como é que aconteceu, por que Deus os criou, não temos
certeza porque a Bíblia nos diz pouco a respeito da sua origem.

8.1.2 OS ANJOS SÃO SERES ESPIRITUAIS


Em nosso estudo de antropologia fizemos uma comparação entre os seres criados por Deus: o ser humano
é composto de corpo e espírito; um animal é um corpo sem espírito; um anjo, espírito sem corpo. O autor de
Hebreus os chama de "espíritos" ministradores (1.14). Por serem imateriais, não quer dizer que são menos
reais. Deus criou tanto o mundo visível quanto o invisível. "pois nele foram criadas todas as coisas nos céus
e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos ou soberanias, poderes autoridades ..." (CI 1:16). Mesmo
sendo incorpóreos e normalmente invisíveis, às vezes tomam uma forma corpórea para aparecer aos homens
(Mt 28.5; Hb 13.2).

8.1.3 OS ANJOS SÃO SERES PESSOAIS E MORAIS


Os anjos não são IIco isas", "robôs" ou IIforças". São seres dotados de características pessoais. Sua
inteligência e capacidade de se relacionar são mostradas nas conversas com as pessoas (Mt 28.5; At 12.6-11).
São seres morais, e é por serem capazes de ser bem ou mal vistos que alguns caíram e outros não (2 Pe 2.4; Jd 6) .


8.1.4 OS ANJOS SÃO SERES PODEROSOS
Não são anjinhos! O Salmo 103.20 chama-os de "anjos poderosos, que obedecem a sua palavra". São
"maiores em força e poder" que os seres humanos rebeldes (2 Pe 2.11; Mt 28.2). "Embora o poder dos anjos
seja grande, ele não é certamente infinito, mas é usado para batalhar contra os poderes demoníacos do mal
que estão sob O controle de Satanás (Dn 10.13; Ap 12.7,8; 20.1-3)." (GRUDEM, Wayne A. Manual de Teologia
Sistemática. São Paulo: Vida, 2001. p.183).

Tanto o termo hebraico (AI. malák) quanto o termo grego (NT. angelos) significam "mensageiro" e são
usados para mensageiros humanos e para anjos (ERICKSON, Millard J. Introdução a Teologia. São Paulo: Vida
Nova, 1997. p.194) . Outros termos usados no Antigo Testamento são: "santos" - (SI 89.5,7) e "vigilantes" -
(Dn. 4.13,17,23). Coletivamente, são chamados de "o conselho" (5189.7); "a assembleia" (5189.5); e exército
ou exércitos (como "O Senhor dos exércitos" encontrado mais que 60 vezes no Antigo Testamento. Ibid. 194)
No Novo Testamento, as expressões usadas incluem "milícia celestial"(Lc 2.13); "espíritos" (Hb 1.14) e em
várias combinações, "principados", "poderes", "tronos", "domínios" e "soberanias" (CI1.16 e 2.15; Rm 8.38;
1 Co 15.24; Ef 6.12). O termo arcanjo aparece duas vezes em 1 Ts 4.16 e Jd 9. (Ibid. 194).
Quanto aos tipos de anjos, sua organização e hierarquia há muita especulação mas não temos como
ser taxativos. A Bíblia fala de seres que podem ser tipos de anjos ou talvez outra ordem de seres celestiais:
Querubins (Gn 3.24; 5118.10; Ez 10.1-22); Serafins (Is 6.2-7) e seres viventes em Ez 1.5-14; Ap 4.6-8 (lbid.194).
Em relação à sua organização e hierarquia, Miguel aparece como "arcanjo" e "príncipe" em Daniel
(10.13), e em Apocalipse 12.7,8 lidera o exército celestial, indicando hierarquia. Os termos mencionados
ll
acima - "principados , "poderesll, "tronos", "domínios" e "soberanias" - às vezes são hierarquizados, mas é
duvidoso se temos informação suficiente para delinear algum esquema organizacional. Duffield admite: "O que
cada uma dessas designações indica exatamente não fica claro na Bíblia. Não é fácil para nós compreender a
organização celestial" (DUFFIELD, Guy P. e VAN CLEAVE, Nathaniel M. Fundamentos da Teologia Pentecostal.
Vol.Il. São Paulo: Quadrangular, 1991, p.288).
Apenas dois anjos são mencionados por nome na Bíblia: Miguel e Gabriel. Miguel é o guerreiro que se
levanta em defesa do povo de Deus em Daniel 10 e 12. Judas chama-o de "arcanjo" ao descrever sua disputa
pelo corpo de Moisés e em Apocalipse vemos a dimensão do poder de Miguel:
"Houve então uma guerra no céu. Miguel e seus anjos lutaram contra a dragão, e o dragão e os seus
anjos revidaram. Mas estes nãa foram suficientemente fartes, e assim perderam o seu lugar no céu. O
grande dragão foi lançado fara. Ele é a antiga serpente chamada diabo ou Satanás, que engana o mundo
todo. Ele e os seus anjos foram lançado à terra" (Ap 12:7-9).
Gabriel age como portador de grandes notícias, de mensageiro mesmo. Informou Daniel sobre eventos
futuros e o significado de sua visão (Dn 8.15-27; 9.20-27), anunciou o nascimento de João Batista ao seu pai
(Lc 1.13,19) e na maior de todas as suas mensagens, anunciou a Maria a vinda de Jesus (Lc 1.26-28.)
A ideia de um anjo da guarda que acompanha cada individuo (especialmente crianças) faz parte da visão
popular, mas sua comprovação bíblica é questionável. Que uma das funções dos anjos é proteger o seu povo,
sim, é bem fundamentada. Disse o salmista: "Porque a seus anjos ele dará ordens a seu respeito, para que o
protejam em todos os seus caminhos; com as mãos eles o segurarão, para que você não tropece em alguma
pedra" (SI 91:11-12). O texto usado para dizer que há um anjo designado a cada pessoa é Mateus 18.10:
"Cuidado para não desprezarem um só destes pequeninos! Pois eu lhes digo que os anjos deles nos céus
estão sempre vendo a face de meu Pai celeste." O consenso teológico é que a ênfase do texto é a adoração
dos anjos e não é base suficiente para comprovar da sua designação a cuidar de certas pessoas (Veja Erickson
197, Grudem 182,183, Duffield, 298,299).

8.3 MII\,jSTERIO DOS ANJOS


O ministério dos anjos é muito rico e diversificado e não temos condições neste livro de listar todos os aspectos
mencionados nas escrituras. Para um estudo mais completo do ministério dos anjos, veja DUFFIELD, Guy P.; VAN
CLEAVE, Nathaniel M. Fundamentos da Teologia Pentecostal. Vol.Il. São Paulo: Quadrangular, 1991, p.291-301).
Adaptando o texto de Erickson (ER"lCKSON, Millard J. Introdução à Teologia. São Paulo : Vida Nova, 1997.
p.196,197), vamos resumir o ministério múltiplo dos anjos em S pontos.

8.3.1 OS ANJOS LOUVAM A DEUS CONTINUAMENTE


Este aspecto do ministério angelical se revela no antigo testamento (Jó 38.7, SI 103.20), mas talvez o
retrato mais esplêndido deste ministério de adoração encontramos em Apocalipse:

"Então olhei e ouvi a voz de muitos anjos, milhares de milhares e milhões de milhões. Eles rodeavam
o trono, bem coma as seres viventes e as anciãos, e cantavam em alta voz: "Digna é a Cordeiro que foi
morta de receber poder, riqueza, sabedoria, força, honra, glória e louvar! "
(Ap 5.11-12; também veja 7.11;8.1-4).

8.3.2 OS ANJOS COMUNICAM A MENSAGEM DE DEUS


Como vimos anteriormente, o significado de anjo é "mensageiro", e este ministério é amplamente
documentado na Bíblia. Os anjos estavam envolvidos na comunicação das leis (At 7.53; GI3.19) e especificamente
presentes no Sinai (Dt 33.2). Gabriel trouxe a mensagem do nascimento do João Batista ao seu pai e de Jesus
a Maria (Lc 1.13-38). Em Atos os anjos também trouxeram mensagens aos apóstolos (8 .26;11.13; 27.23).

8.3.3 OS ANJOS MINISTRAM AOS CRENTES


O salmista percebeu a proteção dos anjos: "O anjo do Senhor é sentinela ao redor daqueles que o temem,
e os livra" (SI 34.7). Um anjo livrou os apóstolos da prisão (At 5.19; 12.6-11); regozija na conversão do pecador
(L 15.10); atende as necessidades do cristão (Hb 1.14) e na sua morte, leva-o para o lugar de descanso (Lc 1.22).

8.3.4 OS ANJOS EXECUTAM JULGAMENTO


No antigo testamento, batalharam a favor do povo de Deus, matando 185.000 inimigos (2 Rs 19.35). No
Novo Testamento, um anjo executou o julgamento de Herodes (At 12.23) e em Apocalipse são os braços de
Deus para julgar os inimigos de Deus (8.6-9.21; 16.1-17; 19.11-14)

8.3.5 OS ANJOS ESTÃO ENVOLVIDOS NO RETORNO DE CRISTO


Na sua volta, o acompanharão: "Quando o Filho do homem vier em sua glória, com todos os anjos,
assentar-se-á em seu trono na glória celestial" (Mt 25.31). Eles estarão envolvidos no julgamento do trigo e
joio (Mt 13.39-42) e os anjos reunirão os eleitos na sua vinda: "E ele enviará os seus anjos com grande som de
trombeta, e estes reunirão os seus eleitos dos quatro ventos, de uma a outra extremidade dos céus" (Mt 24.31).

04 RELACÃO DO CREI\I~E COI\II ANJOS

Talvez por causa da natureza misteriosa dos anjos, se perceba uma dificuldade na parte dos crentes de
lidar com a sua realidade. Enquanto alguns ficam excessivamente fascinados por eles, a maioria erra para o
outro lado: desconhece ou ignora estes seres ministradores.

NOVO INTERESSE TEOLÓGICO EM ANJOS


"Quando parecia que racionalismo e ciência haviam exorcizado poderes cósmicos da cosmovisão
ocidental, seres espirituais têm voltado pela porta dos fundos. Têm se reencarnado na busca contemporânea
de experiências sobrenaturais e por poder sobrenatural na parte dos filhos da revolução cientifica. Teólogos
contemporâneos estão descobrindo que não podemos ignorar estas mudanças. Pelo contrário, devemos
estar conscientes da importância de categorias que achamos descartadas desde o Iluminismo."

(GRENZ, Stanley J. Theology for the Community of Gad. Grand Rapids: Eerdmans, 1994. p. 218) .

•••
Deus quer que sejamos conscientes do ministério dos anjos entre nós; por isso fez questão de fazer
múltiplas referências às suas realidades e atividades. Por exemplo, na luz dos pontos acima:
./ devemos nos lembrar de que na hora que estivermos louvando a Deus, estamos fazendo parte de
um coral celestial!
./ Não devemos descartar a possibilidade de uma comunicação angelical.
./ Devemos ser gratos por momentos de proteção ou livramento de acidente.
Grudem também nos lembra de que os anjos podem se envolver em nosso progresso espiritual. Por
exemplo, podem ser usados por Deus para testar a nossa hospitalidade: "Não se esqueçam da hospitalidade;
foi praticando-a que, sem o saber, alguns acolheram anjos" (Hb 13.2 com Gn 18.2-5). "Pois nos maravilharia se
algum dia, ao entrarmos no céu, encontrássemos o anjo a quem ajudamos quando apareceu temporariamente
como um ser humano em miséria aqui na terra" (GRUDEM, Wayne A. Manual de Teologia Sistemática. São
Paulo: Vida, 2001. p.186). Não devemos esquecer que os anjos estão na ativa no mundo contemporâneo!
Da mesma forma que a Bíblia nos incentiva a não nos esquecermos do ministério de anjos em nosso
meio, também nos alerta para possíveis perigos. Grudem lista alguns cuidados que o crente deve tomar em
relação aos anjos (lbid.,187).
Precavenha-se para não receber doutrina falsa dos anjos. Paulo sabia desta possibilidade. "Mas ainda que
nós ou um anjo do céu pregue um evangelho diferente daquele que lhes pregamos, que seja amaldiçoado!"
(Gálatas 1:8). Não devemos buscá-los como fonte de doutrina porque não é a sua função e nem todos os
anjos são verdadeiros; o próprio Satanás é capaz de se disfarçar como anjo de luz (2 Co 11.14). Um exemplo
de doutrina falsa ensinada por um anjo encontra-se na história dos Mórmons e o anjo Moroni.
Não adore os anjos. Uma doutrina falsa que apareceu no tempo de Paulo foi a adoração de anjos (2.18).
Somente Deus pode ser adorado. Os próprios anjos sabem disso. Quando João se deparou com uma destas
criaturas poderosas, "... caí aos seus pés para adorá-lo, mas ele me disse: "Não faça isso! Sou servo como você
e como os seus irmãos que se mantêm fiéis ao testemunho de Jesus. Adore a Deus!" (Ap 19.10).
Não ore aos anjos. Historicamente, algumas vertentes de Cristianismo têm sido tentadas a procurar outros
mediadores como Maria e os santos. Nem eles nem um anjo podem ser mediadores: "Pois há um só Deus e
um só mediador entre Deus e os homens: o homem Cristo Jesus ..." (1 Tm 2.5).
Não busca aparições de anjos. A escritura em lugar algum sugere esta busca. Deus comanda estes seres
invisíveis e geralmente eles trabalham incógnitos. Disse Grudem que uma busca assim "... parece indicar uma
curiosidade doentia ou o desejo por um espécie de evento espetacular em vez do amor de Deus ..." (Ibid. 187).

Existe um mundo invisível habitado por seres espirituais criados por Deus para servi-lo e para ajudar no
seu governo. Apesar de não nos fornecer uma Teologia Sistemática de Angiologia, a Bíblia nos mostra que são
seres incorpóreos, dotados de personalidade e moralidade. São seres poderosos, organizados e opositores
da ala dos anjos caídos. Louvam a Deus, ministram aos cristãos, trazem mensagens e julgamento da parte de
Deus e acompanharão os acontecimentos finais deste mundo. Enquanto conscientes dos limites bíblicos a
seu respeito, devemos nos conscientizar do seu papel no reino, sendo gratos a Deus por estes seres celestiais
maravilhosos.

,ESU O L r'l\píTUIO Cl

• Houve uma rebeldia contra Deus entre os anjos, portanto existem bons anjos a serviço de Deus
e anjos caídos. Neste capítulo nos concentramos nos anjos santos que servem a Deus debaixo de
quatro tópicos: seres espirituais criados, seus nomes e posições, seu ministério e a relação do crente
com anjos.
• Anjos são seres espirituais, incorpóreos, criados por Deus. São pessoas dotadas de inteligência e
moralidade e possuem grande poder.
• o nome anjo significa "mensageiro". Na Bíblia são conhecidos por vários nomes e por serem
numerosos são chamados na coletividade de exército ou milícia. Apesar de indícios de uma hierarquia
entre eles (arcanjo, por exemplo) é difícil determinar a sua organização.

• A Bíblia também fala de tipos de anjo - querubim, serafim e seres viventes - e dá o nome de dois:
Miguel e Gabriel.

• O ministério dos anjos é diversificado. Por exemplo, louvam a Deus, ministram aos cristãos, trazem
mensagens e julgamento da parte de Deus e acompanharão os acontecimentos finais deste mundo.

• Como cristãos, devemos cultivar uma consciência e apreciação por seu grande ministério e na mesma
hora observar alguns cuidados: nos alertar de doutrinas falsas propagadas por anjos falsos, não orar
aos anjos nem adorá-los ou correr atrás de aparições.

Chegou a hara da autoatividade. Você fará uma revisão


do capítulo, responderá as questões, destacará a folha da
autoatividade e a entregará para o professor na próxima
aula. Boa revisão e ótimos resultados!
,
CAPITULO 9
OS PODERES DO MAL NA BíBLIA: SATANÁS
E DEMONIOS

FIG : AUTORIDADE DO CRISTÃO; em profetadasruas.arteblog .com.br ; em lQ.abr.2012

Quero começar este capítulo com um conselho sábio do grande pensador


cristão C.S.Lewis:
"Em relação aos demônios, existem dois erros opostos e
igualmente perigosos em que a raça humana pode cair. Um
é desacreditar na sua existência. O outro é acreditar e sentir
um interesse doentio e excessivo por ele5'~ (LEWfS, c.s. The
Screwtape Letters. Uhrichsville: 8arbour, 1990. P.9 - tradução
do autor).

O conselho de Lewis é tão relevante no século 21 como no século 20


quando foram escritas as palavras. Vivemos numa sociedade mista em relação
a Satanás e os demônios. Uma parte da população que se chama cristã acredita
que Satanás é apenas uma figura simbólica, representando a maldade humana,
mas sem uma existência pessoal. Outros vão mais longe ainda vendo-o
como produto de superstição primitiva, repleta de chifres e dentes afiados e
pertencente ao mundo imaginário. Para os 'descrentes' tudo que parece ser
uma obra do maligno pode ser explicado pela sociologia, psicologia ou uma
disfunção neurológica.

Outra parte da população cristã erra para o outro lado; é obcecada pelo
demônio e ocultismo. Vê o demônio atrás de toda arvore; como o causador das
doenças e dos pecados e é apontado como o responsável por toda maldade
humana. Uma excessiva atenção e curiosidade pode fazer o demônio "crescer"
desproporcionalmente em relação a Deus. Na mente da pessoa que aprofunda
demais no assunto, o poder do demônio começa a se aproximar do poder de
Deus.
Em nosso estudo, procuraremos um equilíbrio bíblico entre estes dois
extremos. Satanás e seus seguidores são reais e perigosos, sim, mas Jesus é
o Senhor, infinitamente mais poderoso que qualquer anjo caído, e como seus
discípulos temos sua autoridade para resistir a todas as suas estratégias e
investidas.

No capítulo anterior, estudamos uma parte dos seres angelicais, os anjos


r
I

que servem ao Senhor. Neste capítulo estudaremos a ala dos anjos rebeldes, os demônios, encabeçados por
Satanás. Começaremos com a origem dos poderes do mal (9.1), depois fistaremos as suas atividades maléficas
(9.2), desmascaremos a sua influência estrutural (9.3) e terminaremos com as boas notícias, a autoridade do
cristão sobre os poderes do mal (9.4) . Como sempre, nosso livro texto principal será a Bíblia.

9 .1 A ORIGEM DOS JODE SDOMA


No capítulo 6 de Teologia Sistemática 2 consideramos a origem do mal e do pecado. Enquanto algumas
filosofias atribuem o mal à própria natureza do universo (materialismo) e outros a um poder negativo que
coexiste eternamente com o bem (dualismo) a Bíblia conta a história verdadeira. O universo foi criado
perfeitamente por um Deus totalmente bom e seres livres escolheram o mal. Agora, quando começamos a ler a
história do pecado humano na Bíblia, encontramos outra história por trás - a história de uma figura misteriosa,
uma serpente maldosa e traiçoeira, que já era mal e pecaminosa quando a história da queda começa. Qual
a origem da serpente, de Satanás e seus ajudantes, os demônios? Este é o primeiro assunto deste capítulo.
Seria importante, antes de continuar, começar com o vocabulário bíblico a respeito destes seres. Primeiro,
segundo GRENZ (223), na Bíblia encontramos realidades espirituais chamadas demônios (em grego, daimonion
usado 63 vezes no Novo Testamento. Tudo indica que estes seres maléficos faziam parte da ordem angelical que
se rebelou contra o governo de Deus. O chefe desta rebeldia e dos demônios é o Diabo (palavra grega diabolos)
ou Satanás (palavra derivada da palavra satan em hebraico), ambos significam "acusador" ou "adversário"
(GRENZ, 226; ERICKSON,198).
Sabemos pouco sobre a origem de Satanás e os demônios, mas encontramos algumas pistas bíblicas,
principalmente no Novo Testamento. Duas passagens principais falam da queda dos anjos:
"Pois Deus não poupou os anjos que pecaram, mas os lançou no inferno, prendendo-os em abismos
tenebrosos a fim de serem reservados para o juízo" (2 Pe 2.4).
"E aos anjos que não conservaram suas posições de autoridade, mas abandonaram sua própria morada,
ele os tem guardado em trevas, presos com correntes eternas para o juízo do grande Dia"(Jd 1.6).
Estes versículos são bastante claros de que uma parte dos anjos se rebelou contra a autoridade de Deus
e que está sob julgamento divino. Grudem define os demônios assim: "Os demônios são anjos maus que
pecaram contra Deus e que agora operam continuamente o mal no mundo" (GRUDEM, Wayne A. Manual de
Teologia Sistemática. São Paulo: Vida, 2001. p.188).
O chefe destes demônios é Satanás. Tudo indica que era ele o instigador da revolta angelical. No antigo
testamento parece que este anjo (antes de cair?) tinha uma posição alta de autoridade - veja Jó 1.6; 2.1. Jesus
disse que presenciou a sua queda : "Eu vi Satanás caindo do céu como relâmpago" (Lc 10.18). A motivação por
trás desta rebeldia parece ser orgulho. Apesar de ser um texto um pouco controvertido, Isaías nos deu uma
pista de como se deu a queda de Satanás.
"Como você caiu dos céus, ó estrela da manhã, filho da alvorada! Como foi atirado à terra, você, que
derrubava as nações! Você que dizia no seu coração: "Subirei aos céus; erguerei o meu trono acima das
estrelas de Deus; eu me assentarei no monte da assembleia, no ponto mais elevado do monte santo.
Subirei mais alto que as mais altas nuvens; serei como o Altíssimo'~ Mas às profundezas do Sheol você
será levado, irá ao fundo do abismo!" (ls 14.12-15 - veja Ez 28.11-19).
A profecia se dirige contra o Rei da Babilônia, mas os termos usados são muito fortes para se referir a um
mero rei humano. Por isso, muitos teólogos consideram este texto uma referência à rebeldia de Satanás. Se
realmente for, o orgulho, o desejo de se exaltar a ponto de ser "como o Altíssimo" conceituaria a motivação
pela rebeldia - uma tese coerente com as outras evidências bíblicas: Em Mt. 4, Satanás queria que Jesus se
prostrasse diante dele!
Quando se deu esta queda de Satanás e dos anjos? Será que aconteceu na pré-história entre Gênesis 1.1
e 1.2? Seria a queda dos anjos a causa da criação de Deus se tornar "sem forma e vazia"? Devemos evitar a
especulação (existem muitas teorias-veja DUFFIELD, p. 304-308), mas existe uma pista bíblica para considerar.
Grudem defende a ideia de que aconteceu em algum ponto após a criação e antes da queda. Gênesis 1.31
diz que tudo havia ficado muito bom; mas, chegando no capítulo 3, encontramos uma serpente maldosa a
tentar Eva. "Portanto, em um determinado tempo entre os eventos ... deve ter havido uma rebelião no mundo
angelical, com muitos anjos se voltando contra Deus e tornando-se maus" (GRUDEM, Wayne A. Manual de
Teologia Sistemática. São Paulo: Vida, 2001. p.188).
Mais uma vez, sabemos pouco sobre a origem dos demônios; o que sabemos com certeza é que existem
e são perigosos.

92 AS SUAS ATIVIDADES MALÉFICAS


Como os demônios são da ordem angelical (como os anjos bons), são fortes (Me 5.2-4), inteligentes
(Tg 2.19), maldosos (MUO.l; 8.28) e querem "impedir os propósitos de Deus e ampliar o poder de Satanás"
(DUFFIELD, Guy P. e VAN CLEAVE, Nathaniel M. Fundamentos da Teologia Pentecostal. Vol.Il. São Paulo:
Quadrangular, 1991. p. 310). Podemos listar algumas das suas atividades principais.

9.2.1 INCENTIVADORES AO PECADO


Como eles são rebeldes contra a autoridade de Deus, querem levar outros a mesma condição. Esta
atividade se revela nos primeiros capítulos da Bíblia - A serpente incentiva Adão e Eva a ultrapassar os limites
de Deus (Gn 3.1-6). Usou as mesmas táticas com Jesus (Mt 4.1-11; veja 1 Co 7.5 e 1 Ts 3.5).

9.2.2 QUEREM PREJUDICAR AS PESSOAS


Satanás e os demônios são maldosos e, em contraste com Jesus, têm as piores intenções em relação
às pessoas. "O ladrão vem apenas para furtar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham
plenamente" (Jo 10.10). Este intuito de causar sofrimento e morte se demonstra nas doenças físicas infligidas
por eles, por exemplo, mudez (Mc.9.17), cegueira (Mt. 12.22), aleijamento (At 8.7) e desejarem a morte das
pessoas (Jo 8.44).

9.2.3 OPÕEM-SE À OBRA DE DEUS


Muitas vezes atrás das circunstâncias que dificultam a obra de Deus, existe uma atividade demoníaca.
" ... pois a nossa luta não é contra pessoas, mas contra os poderes e autoridades, contra os dominadores deste
mundo de trevas, contra as forças espirituais do mal nas regiões celestiais" (Ef 6.12). Procuram interferir em
viagens missionárias (2 Ts 2.18) e cegar as pessoas para o evangelho (2 Co 4.4).

9 .2.4 INDUZIREM AO ENGANO


Satanás é o pai da mentira: "Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele
foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere
mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira" (Jo 8.44), mestre em usar meias verdades
e astúcia a levar pessoas longe da verdade e ao engano religioso: "O Espírito diz claramente que nos últimos
tempos alguns abandonarão a fé e seguirão espíritos enganadores e doutrinas de demônios" (1 Tm 4.1; veja 4.2,3).

9.2.5 POSSUIR AS PESSOAS


A possessão demoníaca é uma realidade, atestada claramente na Bíblia. Os demônios gostariam de assumir
o controle da personalidade e do corpo de pessoas vulneráveis. Segundo Erickson, a expressão técnica é "ter
um demônio" ou "estar endemoninhado". A possessão pode se manifestar com uma força incomum (Me 5.2-
4), comportamento autodestrutivo (Mt. 17.14); "em todos os casos existe um elemento comum: ...a pessoa
afetada está sendo destruída no campo físico, emocional ou espiritual" (ER"lCKSON, Millard J. Introdução a
Teologia. São Paulo: Vida Nova, 1997. p. 199).
Um dos aspectos principais do ministério de Jesus era libertar os endemoninhados. "Ao anoitecer foram
trazidos a ele muitos endemoninhados, e ele expulsou os espíritos com uma palavra e curou todos os doentes"
(Mt 8.16). Os seus discípulos faziam o mesmo. No livro de Atos, Filipe expulsou demônios em Samaria (At 8.7)
e Paulo libertou uma jovem possuída (At 16.16-18).
Nem todo o mal é causado diretamente por entidades demoníacas; o próprio homem vivendo num mundo
caído é capaz de fazer horrores e deve ser responsabilizado por isso. Mas, quando ignoramos a atividade
satânica estamos correndo sérios riscos. Precisamos ter o mesmo discernimento e a mesma autoridade para
também libertar pessoas das garras e influências de Satanás e de seu exército de demônios.

9 .3 A SUA INFLUÊNCIA ESTRUTURAL


o nosso adversário trabalha em dois níveis: ele mesmo, através dos seus subordinados, procura executar
o mal do todo tipo, mas também trabalha para embutir uma estrutura maligna dentro da humanidade que
pode se perpetuar sozinha.
A sociedade tem estruturas básicas que a sustentam: governamentais, intelectuais, educacionais,
morais, religiosas, econômicas, educacionais e de comunicação. Estas estruturas fazem parte da capacidade
organizacional do ser humano. São ferramentas, dadas por Deus para o ser humano exercer o seu domínio sobre
a terra. Sem estas estruturas a vida de 7 bilhões de pessoas na terra seria um caos total. Fundamentalmente,
são estruturas humanas, iniciadas, organizadas e gerenciadas por seres humanos. Mas, estas estruturas podem
ser fundamentadas sobre princípios divinos ou sobre princípios malignos. Se o nosso adversário conseguir se
infiltrar nestas "estruturas fundamentais da existência" (GRENZ, 228) ele consegue multiplicar exponencialmente
seu influência maligna. Logo, mesmo expulsando os demônios, ainda os falsos valores, políticas opressoras
e práticas pecaminosas continuarão. Por exemplo, já notou que tirando o político corrupto do seu ofício, a
corrupção não acaba Por quê? O diabo tem conseguido embutir o mal dentro da estrutura moral e política do
Brasil e em muitos outros países.
Éimportante lembrar que Satanás está trabalhando não somente no indivíduo, mas nas próprias estruturas
da sociedade. Se ele conseguir possuir uma pessoa, destruindo a sua vida física, emocional e espiritual, é uma
grande vitória; mas, uma vitória maior pode ser instalar um sistema político, econômico ou religioso que é
capaz de destruir milhares de pessoas. Ou, por exemplo, é do seu agrado se conseguir matar um nenê. Mas,
agora, pelas estruturas da sociedade - incluindo o governo, o sistema educacional e a mídia - pode legalmente
matar milhões de nenês sem esforço pelo aborto provocado!
Não temos como desenvolver completamente este aspecto do trabalho satânico, mas Grenz nos dá uma
pincelada sobre o conceito de "poderes" estruturais e sua base bíblica:
"Para descrever os poderes, o apóstolo, usa vários termos como sinônimos. O mais importante destes
termos é Q palavra stoicheion. Para os gregos, as stoicheia (princípios elementares) eram a matéria prima
do universo... O apóstolo apresenta uma avaliação ambígua dos poderes. Foram criados por Deus através
de Cristo e para o benefício de Cristo: logo são bons(Cof.l.16). Porém, agora se põe em oposição a Deus
e a Cristo e, cansequentemente, a nós (Col.2.8). Eles escravizam quem os obedece (Go/A.8-11 ). Como
resultado, batalhamos contra eles (Ef6.l2) ... Cristo ganhou a vitória sobre os poderes os desarmando
na cruz (Col.2.14,15) para que não mais precisemos servi~/os (Cof.2.16)." (GRENZ, Theology for the
Community of God. Grand Rapids: Eerdmans, 2000. p.232)

Mesmo sem uma compreensão completa das estruturas ou "poderes" da existência, na prática, sabemos
que Satanás tem de fato, "entortado" as instituições que devem dar suporte para a sociedade. Quanta coisa
errada os nossos filhos aprendem do sistema educacional? Quantos equívocos éticos são inculcados em
nossa mente pela força da mídia? Quantas mulheres sofrem maus tratos legalizados ao redor do mundo?
Até dentro da igreja, vejamos evidências da sua atuação: autopromoção, enriquecimento, disputa de poder,
fofoca e politicagem são realidades vergonhosas de uma estrutura que deveria refletir a vida de Cristo. Ron
Sider aponta como o pecado se infiltra em outras estruturas, destacando a escravidão, o trabalho infantil, mau
trato de pobres e descriminação racial:
"Muitos cristãos pensam que sabem o que é pecado. "Coisas como mentir; roubar e fornicar. Mas a
Bíblia liga o pecado não apenas a atos individuais conscientemente admitidos como esses, mas também
a opressão dos pobres ... O Salmo 94 diz que os governos perversos fazem o mal: "tendo por pretexto
uma lei'~ O pecado penetrou nas leis devidamente autorizadas da sociedade ... Temos de olhar para o
atual sofrimento das minorias e dos pobres e perguntar até que ponto seus problemas se devem ao
pecado no sistema" (SIDER, Ron. P'170,171, Fundamentos da Teologia Cristã. Org. por Robin Keeley.
São Paulo: Vida, 2000.)

Precisamos aprender a nos opor a todo tipo de atividade demoníaca, não somente no nível pessoal, mas
estrutural. Precisamos discernimento para detectar a infiltração sutil de atitudes e conceitos malignos em
nossa maneira de pensar e viver. É fácil ver estas estruturas distorcidas em outras sociedades e organizações,
mas muit as vezes se escondem em nossas cu lturas e organizações (até na igreja!). Até podemos os discernir
e consertar, mas podemos estar cooperando, inconscientemente, com as estratégias demoníacas.

)[ D c.;nBP 'JDE L..J


Como temos visto, os poderes malignos são reais e perigosos. Mas precisamos nos lembrar de que não
estamos à mercê dos seus caprichos " porque aquele que está em vocês é maior do que aquele que está no
mundo" (1 Jo 4.4). Nunca devemos ficar presunçosos nos achando poderosos. O próprio Miguel em disputa
com o inimigo não se posicionou como o "poderoso", mas disse "O Senhor o repreenda!" (Jd 9). Também não
devemos viver intimidados ou amedrontados por demônio qualquer. Temos várias verdades e promessas de
Deus que mostram a nossa autoridade sobre os poderes malignos.

8.4.1 EM PRIMEIRO LUGAR, O PODER DE SATANÁS É LIMITADO


Devemos lembrar que não estamos diante de poderes comparáveis aos poderes de Deus. Precisamos
vigiar para não cair, sem querer, num dualismo - a ideia pagã que existem dois poderes eternos e iguais um
sendo bom e outro mal. Há uma lacuna infinita entre Deus e todos os seres criados, incluindo Satanás. Só há
necessidade do "dedo" de Deus para expulsar demônios! (Lc 11.20).
Observe:
• Satanás não é onipotente, onisciente nem onipresente - só Deus possui estes atributos naturais
da divindade. Ele é forte, mas nada em comparação a Deus; é inteligente mas não sabe o futuro
nem pode ler os pensamentos humanos (veja Grudem,190); não pode estar em mais que um lugar
no mesmo tempo, mas precisa enviar seus emissários -existe em número desconhecido, porém
limitado desses emissários.
• De Jó aprendemos que Satanás opera dentro de um raio da permissão de Deus (Jó 1.2;2.6) . Por
exemplo, Deus não permite a tentação além das nossas forças (1 Co 10.13). Quem está guiando o
mundo para o seu destino final não é Satanás, mas Deus .

8.4.2 EM SEGUNDO LUGAR, SATANÁS É UM INIMIGO DERROTADO


Nem sempre um inimigo derrotado para de lutar. Hitler já era um inimigo derrotado em 1944; mas somente
em 1945 os aliados assumiram todo controle do seu império . A cruz foi a derrota de Satanás:
'~ .. para
que, por sua morte, derrotosse aquele que tem o poder da morte, isto é, o diabo, e libertasse
aqueles que durante toda a vida estiveram escravizados pelo medo da morte" (Hb 2.14-15).
"e, tendo despojado os poderes e as autoridades, fez deles um espetáculo público, triunfando sobre eles
na cruz." (CI2.15).
Mesmo com a sua derrota certa, continua sendo chamado de "príncipe da potestade do ar" e "deus
deste século", mas como observa Duffield: "Existe uma enorme diferença entre um julgamento e a execução
da sentença" (DUFFIELD, Guy P.; VAN CLEAVE, Nathaniel M. Fundamentos da Teologia Pentecostal. Vol.Il. São
Paulo: Quadrangular, 1991. p.345,346) . Seu destino é certo : é o "lago de fogo" (Ap 20.10).

8.4.3 FINALMENTE, RECEBEMOS AUTORIDADE DE DEUS PARA RESISTIR E


DERROTÁ-LO
Precisamos meditar nas seguintes promessas de Deus, sabendo que não é pela nossa força, mas é pela
fé que venceremos o diabo:
"Portanto, submetam-se a Deus. Resistam ao diabo, e ele fugirá de vocês"(Tg 4.7).
"Sejam sábrios e vigiem. O diabo, o inimigo de vocês, anda ao redor como leão, rugindo e procurando a
quem possa devorar. Resistam-lhe, permanecendo firmes na fé ..." (1 Pe 5.8-9).
"0 que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é o vitária que vence o mundo: a nossa fé" (1 Jo 5.4).
Sabendo que seu poder é limitado, que já foi derrotado e que temos a autoridade em Cristo para vencê-lo,
não significa que possamos ficar confiantemente passivos. Muito pelo contrário. Paulo nos adverte para não
"dar lugar ao diabo" (Ef 2.27). Se ele achar uma brecha, uma fraqueza nossa, fará o máximo para explorá-Ia e
nos derrotar. Precisamos identificar as áreas da vida onde somos mais vulneráveis, seja orgulho, ira, lascívia,
ou qualquer outro ponto que temos dificuldade; é ali que o inimigo vai tentar nos derrotar. Pelo contrário,
devemos ser "sóbrios e vigilantes", disse Paulo (1 Pe 5.8). Finalmente Paulo nos convoca para colocar toda
armadura de Deus.
Faça uma leitura cuidadosa deste texto, transformando-o em oração, pedindo esta armadura:
"Finalmente, fartaleçam-se na Senhar e na seu forte poder. Vistam toda a armadura de Deus, para
paderem ficar firmes contra as ciladas do diabo, pois a nossa luta não é contra pessoas, mas contra os
poderes e autoridades, contra as dominadores deste mundo de trevas, contra as farças espirituais do mal
nas regiões celestiais. Por isso, vistam toda a armadura de Deus, para que possam resistir no dia mau
e permanecer inabaláveis, depois de terem feita tudo. Assim, mantenham-se firmes, cingindo-se com o
cinto da verdade, vestindo a couraça da justiça e tenda as pés calçadas cam a prontidão do evangelho
da paz. Além disso, usem o escudo da fé, com o qual vocês poderõo apagar todas as setas inflamadas do
Maligna. Usem o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus" (Ef 6.10-17).

CONCI U8c\0
Mesmo sendo cristãos, não moramos no céu, mas numa terra disputada. A terra pertence ao Senhor, mas
foi invadida pelo pecado e o mal. A batalha chave foi ganha na cruz de Cristo, mas há muito território ainda que
precisa ser recuperado do inimigo. A guerra não vai terminar até a volta de Cristo, mas não precisamos ficar
amedrontados. Jesus é o Senhor e ele está conosco até o final: nunca vai nos abandonar e estamos seguros
que pertence a Ele a vitória. Um dia, todo joelho se dobrará diante dele confessando seu senhorio. Vamos nos
submeter a ele hoje e temos certeza de que o inimigo há de fugir de nós! (Tg 4.7).

, "':8 110 CA J ~
• No capítulo anterior, estudamos os anjos que servem ao Senhor. Neste capítulo estudamos a ala
dos anjos rebeldes encabeçados por Satanás sob 4 tópicos: a origem dos poderes do mal, as suas
atividades maléficas, a sua influência estrutural e a autoridade do cristão sobre eles.
• Encontramos realidades espirituais na Bíblia chamadas demônios, seres maléficos que faziam
parte da ordem angelical mas se rebelaram contra o governo de Deus. O chefe desta rebeldia e
dos demônios é o Diabo (palavra grega diabolos) ou Satanás (palavra derivada da palavra satan em
hebraico), ambos significam "acusador" ou "adversário".
• Sabemos pouco sobre a origem dos demônios e devemos evitar a especulação sobre as coisas não
reveladas; o que sabemos com certeza é que existem e são perigosos.
• Quanto ao trabalho de Satanás e dos demônios, listamos 5 atividades principais: são incentivadores
ao pecado, querem prejudicar as pessoas, opõem-se a obra de Deus, induzem ao engano e desejam
possuir as pessoas.
• O nosso adversário trabalha em dois níveis: ele mesmo, através dos seus subordinados, procura
executar o mal dotodo tipo, mas também trabalha para invadir as estruturas humanas: governamentais,
intelectuais, educacionais, morais, religiosas, econômicas, educacionais e de comunicação.
• Temos várias verdades e promessas de Deus que garantem a nossa vitória sobre os poderes malignos:
o poder dos demônios é limitado, são inimigosjá derrotados na cruz e Deus tem nos dado autoridade
sobre eles.

Chegou a hora da autoatividade. Você fará uma revisão


do capítulo, responderá as questães, destacará a folha da
autoatividade e a entregará para o professor na próxima
aula. Boa revisão e ótimos resultados!
..
CAPITULO 10
A IGREJA DE CRISTO: O RETRATO BíBLICO E
HISTÓRICO

FIG.: IGREJA DE CRISTO; em igreja·de-cristo.com; em lO.abr.2012

Nos últimos 3 capítulos deste livro vamos estudar a eclesiologia, a


doutrina da Igreja de Cristo. Vivemos numa época em que o conceito de igreja
está sendo questionado, não apenas por pessoas que não fazem parte dela,
mas por pessoas que se identificam como evangélicos. Por exemplo, se ouve
comentários assim: "Amo Jesus, mas, não gosto da igreja". Acredito que nos
próximos anos a igreja terá de se levantar e explicar as verdadeiras razões
pela sua existência, sua importância no reino de Deus e por que todos os
crentes precisam urgentemente do seu ministério. Se não fizer isso, corremos
o perigo de seguir o caminho nominalista da Igreja Católica: crentes apenas
em nome; uma multidão de pessoas que se identifica como evangélica mas
não se engaja na igreja.
Com a finalidade de confrontar esta tendência perigosa e proporcionar
embasamento teológico sólido, neste capítulo vamos estudar o retrato bíblico
e histórico da igreja; no próximo capítulo a missão da igreja e no capítulo final,
você e a igreja.

r l~ ITp:.'" r' 1\1\1'-- rr T[ C' T'" I T ,

Mesmo que o conceito de igreja seja neotestamentário, o povo de Deus


sempre se juntava desde a época do Antigo Testamento. Como introdução para
a doutrina da igreja, vamos acompanhar alguns aspectos corporativos da vida
defé como se desenvolveu no antigo testamento. O pano de fundo é o povo de
Deus como o povo de aliança; uma aliança iniciada por Deus e ratificada pelo
seu povo, com compromissos de ambos os lados. Deste contexto, veremos o
nascimento da igreja a partir de uma nova aliança em Cristo (Em 10.1 e 10.2
vamos seguir em linhas gerais o desenvolvimento da parte bíblica e histórica apresentado por JOHNsON, Alan
F.; Robert E. Webber. What Christians Believe. Grand Rapids: Zondervan, 1993. p. 326-369).
No período pré-mosaico, a era dos patriarcas, Deus trabalhou mais com indivíduos - Adão, Eva e Noé - do
que com um povo. A partir de Abraão vemos uma mudança no seu tratamento com os homens. Deus começa
a trabalhar com um povo, formando uma aliança com Abraão que se estende até todos os povos da terra.
"Ora, o SENHOR disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tuo parentela e do casa de teu pai, para a terra que
eu te mostrarei. E far-te-ei uma gronde nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás
uma bênção. E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão
benditas todas as famílias da terra" (Gn 12.1-3).
No período mosaico, os contornos do povo de Deus ficam mais definidos. Com o Êxodo, o povo de Deus
ganhou uma identidade nacional. Coletivamente, o povo de Deus era chamado a "assembleia" (qahal, em
hebraico, traduzido ekklesia no Antigo Testamento grego - JOHNsON, 326) o "congregação" que se juntou
diante do Senhor.
"Vás tendes visto o que fiz aas egípcias, camo vos levei sobre asas de águias, e vos trouxe a mim; Agora,
pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então sereis a minha
propriedade peculiar dentre todos os povos, porque toda a terra é minha. E vós me sereis um reino
socerdotal e o povo santo. Estas sãa as palavras que falarás aos filhos de Israel" (Êx 19.4-6).
Vemos que desde aquele tempo, Deus trabalhou com indivíduos, sim, mas também chama um povo a si,
para que este povo seja identificado com ele e seja mediador dos seus propósitos no mundo. Nem sempre o
povo da aliança cumpria com seus deveres, mas Deus continuou a trabalhar com ele e através dele.
No período profético, varias imagens desta vida corporativa aparecem. Os salmistas retratam o povo de Deus
como um rebanho de ovelhas e Deus como Pastor (SI 23.1; 74.1). Outros profetas usaram a figura do povo de
Deus como esposa, às vezes como esposa adúltera (Jr 3.20; Ez 16.15; Os 2.7). Neste período, também profetiza
uma "nova aliança" que incluiria todos os povos da terra (Is 42.6; 49.6) já prevendo a Igreja do Novo Testamento.

1 C.2 ESTABELECIMEI\i :OS D IGI ,A

10.2.1 A IGREJA NO ENSINO E PREGAÇÃO DE JESUS


Começamos a nossa consideração do estabelecimento da igreja com a própria pessoa de Jesus.
"Acreditamos que ... Jesus começou uma nova comunidade através dos seus discípulos, antecipando que esta
comunidade, a igreja, continuaria após sua morte e ressurreição" (JOHNsON, 329). Para Jesus, havia uma
continuidade entre o povo da aliança do Antigo Testamento (12 tribos) e a nova comunidade (liderada por 12
apóstolos). Porém, a superioridade e exclusividade do povo judeu que, estavam enraizadas na mentalidade,
foram aniquiladas pela universalidade da sua mensagem e comunidade.
Nas parábolas de Jesus vemos a formação de uma nova "nação", substituindo a comunidade judaica, que
avançaria a causa da expansão do Reino de Deus, um tema importante nas suas parábolas.
"Portanto, eu vos digo que a reino de Deus vos será tirado, e será dado O uma nação que dê os seus
frutos" (Mt 21:43).
As parábolas de crescimento: semeador, grão de mostarda, ovelha perdida e do filho pródigo, enfim, a
maioria das parábolas do Reino, subentendem o envolvimento de uma comunidade.
A oração de Jesus em João 17 é repleta de ideias coletivas: é um povo santo (17.2,6), enviado ao mundo
(17.18), um povo unido (17.11,21-23), caracterizado por doação mútua que impacta o mundo:
"Para que todos sejam um, como tu, Ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós,
para que o mundo creia que tu me enviaste"(Jo 17:21).
Os apóstolos, selecionados para liderar a nova comunidade, foram instruídos por Jesus sobre o tipo
revolucionário de liderança que deveriam exercer: Liderança de servo, como explicado por ele mesmo (Lc
22.25-27; Mt 25.35-45).
Este grupo de apóstolos sinalizava o futuro reino como foi indicado na ceia do Senhor, a instalação da
"nova aliança".
"E, tomando o cálice, e dando graças, deu-lho, dizendo: Bebei dele todos; Porque isto é o meu sangue; o
sangue do Novo Testamento, que é derramada por muitos, para remissão dos pecados. E digo-vos que,
desde agora, não beberei deste fruto da vide, até aquele dia em que o beba novo convosco no reino de
meu Pai" (Mt 26.27-29).
Jesus se referiu à igreja em termos figurativos em outros textos também, como por exemplo: o seu rebanho
(João 10). a videira e os ramos (João lS). Também deu, à comunidade, o Espírito Santo em João 20.22,23.

10.2.2 A igreja nos Evangelhos


Agora vamos para o texto principal nos evangelhos sobre a igreja, o único que usa a palavra ekklesia ao
referir-se à comunidade dos crentes.

"Disse-lhes ele: E vós, quem dizeis que eu sou? E Simão Pedro, respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho
do Deus vivo. E Jesus, respondendo, disse-lhe: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não
revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus. Pois também eu te digo que tu és Pedro,
e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela; E eu
te darei as chaves do reina dos céus; e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que
desligares na terra será desligado nos céus" (Mt 16.15-19).
Não é um texto muito fácil de entender. Enquanto afirma claramente que é Jesus que constrói a igreja,
e que esta igreja há de prevalecer contra todos os obstáculos, também levanta algumas perguntas: o que que
significa ekklesia? Quem ou o que é a pedra? Qual o papel de Pedro? Quais são as portas do inferno? Johnson
procura pincelar respostas de forma resumida:
"Acreditamos que o significado de ekklesia é arraigado na conceito de qahal (a assembleia ou
congregação do povo de Deus) do Antigo Testamento, a palavra usada para a comunidade do povo de
Deus. Jesus não se refere a uma organização, mas a uma comunidade de pessoas pertencente a ele dos
quais os discípulos eram considerados representantes.
Para identificar a "pedra" é mais difícil. Há um jogo de palavras no grego: Pedro é petros (pedra); rocha
é petra. Isso levou alguns a afirmar que foi sobre Pedro que a igreja foi edificada ... outros creem que a rocha
se refere a Cristo, (ou a fé em Cristo manifestada por Pedro ... Pedro certamente teve um papel importante
na fundação e extensão da igreja em Atos ... mas não há nenhuma indicação que ele passou este papel para
aIgum sucessor.
As portas do inferno ou hades podem denotar o poder da morte ... que através da cruz e ressurreição
Cristo destronou ...
... Finalmente... as chaves devem ser entendidas, não como poder de um ofício eclesiástico, mas à
responsabilidade de barrar ou abrir entrada para o Reino de Deus (veja Mt 23.14; Lc 11.S2). Cristo mesmo é a
única forma de entrar no reino e para a nova comunidade (ekklesia, cf Ap 1.18; 3.7). Pedro, como representante
de Jesus, declara a mensagem de perdão em Cristo, primeiro aos Judeus (At 2) e depois aos gentios (At 10)
assim abrindo ou fechando a porta para o reino e a vida eterna". (JOHNSON, Alan F.; Robert E. Webber. What
Christians Believe. Grand Rapids: Zondervan, 1993. p. 333,334).

10.2.3 A igreja no ensino da igreja primitiva


No Novo Testamento, especialmente em Atos e nas epístolas, há uma explosão de informações a respeito
desta comunidade nova. Por ser muito material, forneceremos um esboço e referências para sua consideração
mais ampla:
1) o propósito da igreja é testemunhar de Cristo pelo poder do Espírito Santo. "Mas receberão poder
quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda
a Judeia e Samaria, e até os confins da terra" (At 1.8).
2) A igreja é uma comunidade fundada no ensino apostólico. "Eles se dedicavam ao ensino dos apóstolos
e à comunhão, ao partir do pão e às orações" (At 2.42).
3) A igreja é uma comunidade que expressa amor sem discriminação. "Meus irmãos, como crentes
em nosso glorioso Senhor Jesus Cristo, não façam diferença entre as pessoas, tratando-as com
favoritismo" (Tg 2.1).
4) A igreja é o corpo de Cristo (Rm 12.4,5). Darei mais detalhes sobre isso mais adiante.
5) A igreja inclui todos, Judeus e Gentios. "... agora foi revelado pelo Espírito ... que mediante o evangelho
os gentios são coerdeiros com Israel, membros do mesmo corpo, e coparticipantes da promessa em
Cristo Jesus" (Ef 3.5-6.
6) A igreja tem liderança estabelecida. É muito claro na Bíblia que as igrejas tinham liderança e que
esta liderança devia ser respeitada . Mas, é difícil achar um consenso sobre os textos a respeito da
estrutura e ofícios da igreja local. I Coríntios fala de dons de liderança - apóstolos, mestres, profetas,
dons de administração (1 Co 12.28). Em Filipenses 1.1, 1 Timóteo 3.1-13 e Tito 1.5-9 encontramos
os presbíteros e diáconos. Segundo Atos 20.17 e Tito 1.5,7 os bispos são iguais aos presbíteros. 1
Pedro 5.1-5 enfatiza o papel de pastor mais que líder e 1 Timóteo 3.2; 5.17; Tito 1.9 enfatizam o
ensino de sã doutrina. Tudo indica que havia uma variedade de padrões de organização e liderança
coexistindo em lugares diferentes.
Resumindo o material bíblico a respeito da igreja, Johnson escreve: "A igreja cresce como um grupo
corporativo do povo de Deus, unido em comunhão dinâmica pelo Espírito Santo, usando os dons espirituais
que permite que a presença de Cristo seja experimentada; o amor de Cristo os une em cultuar a Deus, em
serviço um ao outro e em testemunhar ao mundo." (ibid., 348)

Não cabe aqui um estudo profundo da história da igreja, mas apenas salientar os pontos principais na
evolução da igreja nos dois milênios depois de Cristo. Vamos dividir em 3 períodos históricos principais que
realmente deram direção à igreja como conhecemos hoje: antiga, medieval e reformada.

10.3.1 IGREJA ANTIGA (CRISTO - 600 DC)


Nos primeiro séculos deste período, a igreja se organizou em torno dos três ministérios das epístolas
pastorais: supervisão, ensino e serviço. Desenvolveram ofícios correspondentes- bispo (supervisão), presbítero
(ensino) e diácono (serviço). Agora, por causa da ameaça de heresia (gnosticismo, por exemplo), com tempo,
o poder do bispo cresceu para incluir igrejas da região. Para autenticar a autoridade do bispo (e combater
heresias) desenvolveu-se gradativamente a ideia da sucessão apostólica: o bispo precisava receber a sua
autoridade de outro bispo autêntico. Esta medida, de fato, serviu para impedir o crescimento de heresias.
No terceiro século desenvolveu-se a ide ia da unidade da igreja baseada na unidade dos bispos. Algum
líder ou mestre que não estivesse em comunhão com os bispos da igreja universal, não era aceito . Foi nesta
época que Cipriano postulou a sucessão apostólica originária de Pedro (Mt 16.18). Demorou muito para chegar
a identificar o bispo de Roma como o sucessor definitivo e o bispo supremo.
Durante o quarto e quinto século, o bispo de Roma começou a ganhar mais visibilidade e poder. Roma era
a cidade principal do império e sua igreja era antiga, forte e resistente à heresia. Também era associada com
os grandes personagens de Pedro e Paulo. Até o fim do século quatro, a igreja tinha uma estrutura definida:
funcionou de acordo com os ministérios de bispo, sacerdote e diácono; era unida em torno dos bispos com
destaque para o bispo de Roma; sua liturgia, arquitetura e música haviam tomado formas definidas. Mas, ainda
era bem mais simples e "evangélica" do que a igreja que veremos mais adiante.

10.3.2. IGREJA MEDIEVAL (600-1500]


Foi neste período que a supremacia absoluta do bispo de Roma, o papa, se estabeleceu pouco a pouco.
Com o declínio do poder do Império Romano, a igreja de Roma tornou-se a instituição mais poderosa no
ocidente. No pináculo do poder papal, Gregório VII (1073-85) defendeu o oficio, reivindicando poder para
governar a igreja toda, ordenar ou tirar qualquer bispo, chamar concílios, anular qualquer decreto de outro,
por e tirar imperadores ... e, finalmente, "todos os príncipes beijarão somente seu pé" (JOHNSON, 356). No
conceito dele, Cristo reinava sobre o mundo espiritual e temporal através do papa . Enquanto nem todos os
teólogos concordassem com este poder, poucos se opuseram. Alguns gr.upos de renovação surgiram para
questionar esta estrutura: entre eles estavam Waldo (1150-1217), Wycliffe (1328-84), Ockham (1290-1349)
e Huss (1369-1415) que morreu queimado por suas convicções. Foram eles que plantaram as sementes da
Reforma, na próxima época.

10.3.3 IGREJA REFORMADA


o foco da igreja medieval tornou-se a igreja visível- a instituição, com suas políticas, prédios e papa. Os
pensadores anteriores aos medievais reconheceram a existência desta igreja visível, mas entenderam que a
igreja invisível era o mais importante. Reformadores como Lutero levantaram a bandeira de que a verdadeira
igreja, a igreja invisível, consistia das pessoas que foram justificadas pela fé. Esta igreja verdadeira, só Deus
conhecia, porque era espiritual e invisível. Reconheceu que tinha que ter uma forma visível também: a igreja
passou a existir onde o povo se ajuntava, a palavra foi pregada e os sacramentos administrados.
Agora, a maior contribuição de Lutero em relação à igreja, era a reafirmação do "sacerdócio de todos
os crentes". Não era preciso igreja, bispo ou sacerdote para chegar a Deus: nas palavras dele: "Todos são
verdadeiramente sacerdotes, bispos e papas". (Ibid . 359)
O reformador Calvino seguiu a mesma linha de Lutero a respeito da igreja, com uma diferença principal.
Para ele, a igreja verdadeira existe na mente de Deus, no numero invisível dos predestinados. A igreja é o
contexto em que a salvação do predestinado se realiza - como mãe, a igreja dá a luz e nutre o crente (Ibid. 360) .
Os anabatistas eram mais radicais na sua reforma. Não tinham muito interesse em especulação teológica;
queriam a simplicidade do Novo Testamento. Para eles a igreja era o lugar do discipulado e ensinaram que
esta formação espiritual e moral acontecia no ambiente de comunidade - pessoas comprometidas com Deus
e um com o outro.
Deste caldeirão da Reforma emergiram formas de governo que continuam até hoje:
v' congregacional - governo da igreja pelos membros da congregação;
v' Presbiteriana - governo da igreja pelos líderes apontados;
v' Episcopal - governo da igreja pelos bispos (este é o sistema de governo quadrangular).

--lF ...., EJ L ~ s IS
Temos visto que a Teologia da igreja tem sido formulada pela Bíblia e também pela história. A eclesiologia
tem tomado várias formas: há uma grande variedade em ênfase ministerial, forma de governo e os nomes
dados à liderança e todos têm a sua base bíblica. Acredito que esta controvérsia vai continuar e que talvez
não seja tão critico para o futuro da igreja enquanto as formas não ferem os princípios bíblicos essenciais.
Tudo indica que Deus gosta de diversidade. Agora, os princípios fundamentais são comunicados não apenas
em declarações doutrinárias. A Bíblia usa muitas figuras e metáforas para retratar a essência da igreja (um
estudioso contou mais que 100!). Nesta última parte do capítulo, queremos olhar mais de perto 3 metáforas
paulinas que resumem bem a essência da igreja: Igreja como Povo de Deus, Corpo de Cristo e Templo do
Espírito (adaptado de ER"lCKSON, Millard J. Introdução a Teologia. São Paulo: Vida Nova, 1997. p. 439-444)

1 0 .4 .1 POVO DE DEUS
Como Deus tinha a sua nação, o seu povo no Antigo Testamento, tem no Novo; a igreja é constituída do
povo de Deus: "...e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo"(2 Co 6.16) A ideia do povo de Deus é bem
explícita no Antigo Testamento (Êx [5.13,16; Nm 14.8; Is 62.4) e se limitava aos filhos de Abraão. Mas, no Novo
Testamento este povo não é mais limitado a uma etnia ou nação como no Antigo Testamento. Paulo, citando
a voz profética de Oseias, afirma:
'~ .. ou
sejo, a nós, a quem também chamou, não apenas dentre os judeus, mas também dentre os gentios?
Como ele diz em Oseias: "Chamarei 'meu povo' a quem não é meu povo; e chamarei 'minha amada' a
quem não é minha amada'; e: 'llcontecerá que, no mesmo lugar em que se lhes declarou: 'Vocês não são
meu povo; eles serão chamados 'filhos do Deus vivo' " (Rm 9.24-26).
No Antigo Testamento o povo de Deus se constituía por uma aliança, sinalizada pelo rito de circuncisão;
Paulo mostrou que o sinal da nova aliança era uma circuncisão interna do coração: "... Judeu é quem o é
interiormente, e circuncisão é a operada no coração, pelo Espírito, e não pela lei escrita" (Rm 2:29).
Deste povo de Deus espera-se uma qualidade especial de santidade; como um novo povo de Deus,
portador do nome de Cristo, Deus espera santidade da igreja.
"Cristo amou a igreja e entregou-se a si mesmo por ela para santificá-Ia, tendo-a purificado pelo lavar
da água mediante a palavra, e apresentá-Ia a si mesmo como igreja gloriosa, sem mancha nem ruga ou
coisa semelhante, mos santa e inculpável." (EI5.25b-27).
Que privilégio, que responsabilidade, sermos chamados o "povo de Deus"!

1 0.4.2 O CORPO DE CRISTO

A metáfora do corpo talvez seja a mais ilustrativa do funcionamento da igreja. "Essa figura salienta que a
igreja é agora o centro da atividade de Cristo, assim como seu corpo fisico a centralizava durante seu ministério
terreno" (Erickson, 441). Esta figura se usa para falar da igreja universal- a igreja invisível composta de todos
os cristãos no mundo:
"Deus colocou todas as coisas debaixo de seus pés e o designou como cabeça de todas as coisas
para a igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que enche todas as coisas, em toda e qualquer
circunstância" (El1.22-23).
Usa-se a figura do corpo também para se referir à igreja local:
"Ora, vocês são o corpo de Cristo, e cada um de vocês, individualmente, é membro desse corpo"
(1 Co 12.27).
De que forma a igreja assemelha-se a um corpo? Erickson nota seis paralelos entre a figura de corpo e
a igreja de Cristo:
1) Cristo é a cabeça desse corpo do qual os crentes, como indivíduos, são membros ou partes. Ele é o
Senhor da igreja. Ela deve ser guiada e controlada por suas orientações e atividade. "Ele é antes de
todas as coisas, e nele tudo subsiste. Ele é a cabeça do corpo, que é a igreja" (CI1:17-18).
2) A figura do corpo de Cristo também fala da ligação mútua e interdependência entre todas as pessoas
que compõem a igreja. Crente solitário não existe: quem se converteu faz parte do corpo. Se cortar
o dedo fora do corpo, fatalmente morrerá. Dependemos dos dons, encorajamento e disciplina
dos outros. "Ora, assim como o corpo é uma unidade, embora tenha muitos membros, e todos os
membros, mesmo sendo muitos, formam um só corpo, assim também com respeito a Cristo ... Se o
pé disser: "Porque não sou mão, não pertenço ao corpo", nem por isso deixa de fazer parte do corpo .
E se o ouvido disser: "Porque não sou olho, não pertenço ao corpo", nem por isso deixa de fazer
parte do corpo ... De fato, Deus dispôs cada um dos membros no corpo, segundo a sua vontade" (1
Co 12.12, 15-18).
3) O corpo deve ser caracterizado por comunhão genuína. Não significa apenas boas relações sociais,
mas intimidade e cuidado mútuo que resulta em empatia. "... que todos os membros tenham igual
cuidado uns pelos outros. Quando um membro sofre, todos os outros sofrem com ele; quando um
membro é honrado, todos os outros se alegram com el." (1 Co 12.25-26).
4) O corpo deve ser unido. Mesmo a igreja primitiva sofria com divisões (1 Co 1.10-17). mas não
podemos nos contentar com isso. Somos de um corpo só, e cabe a nós fazer esforço para conservar
esta unidade essencial. "Façam todo o esforço para conservar a unidade do Espírito pelo vínculo da
paz. Há um só corpo e um só Espírito, assim como a esperança para a qual vocês foram chamados é
SISTEMATICA 3

uma só; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos, que é sobre todos,
por meio de todos e em todos" (Ef 4.3-6; veja 1 Co 12.Í2,13).
5) O corpo de Cristo é também universal. Todas as barreiras de raça, nacionalidade, classe social, gênero
foram abolidas em Cristo.
"Nessa nova vida já não há diferença entre grego e judeu, circunciso e incircunciso, bárbaro e cita,
escravo e livre, mas Cristo é tudo e est á em todos" (CI 3.11).
6) Sendo o corpo de Cristo, a igreja é uma extensão do ministério dele. Jesus tinha toda autoridade e
ele enviou os seus discípulos para continuarem a sua obra na terra, de evangelizar, batizar e ensinar
(Mt 28.18). Por causa da autoridade que ele outorgou aos discípulos, poderiam fazer obras parecidas
com a obra dele, no nome dele. "Digo-lhes a verdade: Aquele que crê em mim fará também as obras
que tenho realizado. Fará coisas ainda maiores do que estas, porque eu estou indo para o Pai. E
eu farei o que vocês pedirem em meu nome, para que o Pai seja glorificado no Filho. O que vocês
pedirem em meu nome, eu fare." (Jo 14.12-14).

10.4.3 TEMPLO DO EspíRITO


A terceira metáfora é o templo do Espírito. A Igreja é a habitação do Espírito. A igreja nasceu a partir de
Pentecostes quando os discípulos foram batizados com o Espírito Santo e três mil se converteram. O crente
individual é templo do Espírito e também na sua coletividade se constitui templo. Disse Paulo, "Vocês não
sabem que são santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vocês?" (1 Co 3.16). É por causa da
presença do Espírito que a igreja exibe o fruto do Espírito (GI 5.22,23), que faz obras poderosas (Jo 14.12) e
que pode pregar com convicção (Jo 16.8). Por ser o templo do Espírito que a igreja vive em unidade (At 4.32)
exerce os dons (1 Co 12).
Finalmente, é por ser habitação do Espírito que a igreja pode ser santa e pura . Paulo instrui os coríntios
para se livrarem da imoralidade e argumenta que é impensável que o santuário seja contaminado com pecado,
advertência que funciona tanto no nível individual quanto corporativo. "Acaso não sabem que o corpo de
vocês é santuário do Espírito Santo que habita em vocês, que lhes foi dado por Deus, e que vocês não são de
si mesmos? Vocês foram comprados por alto preço. Portanto, glorifiquem a Deus com o corpo de vocês" (1
Co 6.19-20).
Precisamos lembrar que estas virtudes e capacidades listadas não são fruto de esforço humano ou
habilidade organizacional. Tudo que é bom que flui da igreja é por causa da presença do Espírito. Ser perdemos
este conceito, viramos mais uma entidade humana e logo perderemos a benção de Deus. Eu sou templo do
Espírito; você é templo do Espírito e juntamente com todos os que nasceram do Espírito, formamos a igreja,
templo do Espírito.

rOI C .USÃD
A nossa visão da igreja é pequena demais. Focamos em nossa igreja local ou no universo da nossa
denominação. Mas, o retrato bíblico da igreja de Cristo é muito maior. É um organismo fundamentalmente
divino, indestrutível, marchando pelos séculos da história. Nunca tem sido perfeita por ser constituída por
homens imperfeitos; mas mesmo assim é obra da Trindade: é o povo de Deus, o corpo de Cristo e o templo
do Espírito Santo. E pessoas comuns como nós, têm o privilégio de fazer parte desta igreja e trabalhar em prol
do seu crescimento!

RESUMO DO CAPíTULO 10
• Iniciamos o nosso estudo da eclesiologia, a doutrina da Igreja . Começamos neste capítulo com o
retrato bíblico e histórico da igreja incluindo o embasamento bíblico no Antigo e Novo Testamento,
uma visão histórica do seu desenvolvimento e finalmente três metáforas bíblicas sobre a igreja.
• Como introdução para a doutrina da igreja, encontramos no Antigo Testamento o pano de fundo
que é o povo de aliança, a "congregação" e a "assembleia". Deus trabalhou com indivíduos, sim,
mas também chama um povo a si, para que este povo seja identificado com ele e seja mediador
dos seus propósitos no mundo.
• No Novo Testamento, o próprio Jesus ensinou que não somente chamava indivíduos a segui-lo, mas
pretendia formar a sua igreja para tomar o seu lugar. Em Atos presenciamos o início da igreja no dia
de Pentecostes e a sua expansão pelo mundo liderada pelos apóstolos. As epístolas aprofundam
o conceito da igreja mostrando sua inclusão de judeus e gentios, a constituição e liderança e seu
funcionamento espiritual.
• Na parte histórica, vemos como a igreja antiga procurou se estruturar em torno da liderança, ensino e
serviço. Logo começou a crescer o poder dos bispos, culminando na era medieval no poder absoluto
do papa e os abusos que acompanharam . Os reformadores tiraram o bispo e a estrutura visível do
centro da igreja, substituindo com a Palavra e o sacerdócio de todos os crentes.
• A igreja não tem sido perfeita por ser constituída por homens imperfeitos; mas mesmo assim as
metáforas de Paulo mostram que é obra da Trindade: é o povo de Deus, o corpo de Cristo e o templo
do Espírito Santo.

Chegou a hora da autoatividade. Você fará uma revisão


do capítulo, responderá as questões, destacará a folha da
autoatividade e a entregará para o professor na próxima
aula. Boa revisão e ótimos resultados!
.
CAPITULO 11
A IGREJA DE CRISTO: SUA MISSÃO

FIG : MISSÃO DA IGREJA; em hinos.blog.terra.com.br; em lO.abr.2012

A igreja de Cristo consiste de pessoas. Pessoas são complexas e têm


muitas necessidades: logo, a igreja tem uma infinidade de tarefas a realizar.
Entre as muitas tarefas podemos listar: evangelizar para converter pessoas,
incorporá-Ias na igreja, ensinar a Bíblia, aconselhar, promover comunhão,
trabalhar com famílias, levar a adorar a Deus, atender as suas necessidades
- e parece que são todas importantes e urgentes. Agora, no meio de muitas
tarefas, será que é possível identificar o cerne da tarefa, o objetivo principal?
Identificando a essência, seria mais viável priorizar as tarefas. Por isso, neste
capítulo, vamos começar o estudo procurando identificar, no meio das muitas
tarefas, a missão principal da igreja, o que vamos chamar o imperativo (11.1).
Depois vamos identificar a extensão da missão (11.2), a metodologia básica
da missão (11.3) e, finalmente, a abrangência da missão (11.4)

. ,L.J " 'I::H.~.. vO: t-A,-,L~ OISCIPc,L.J~ , ARA A


GL'lRIA D~ DEUS
Para começar, é bom lembrar que o alvo último, O objetivo final de toda
atividade do crente e da igreja é de glorificar a Deus. Fomos feitos para esta
finalidade e devemos fazer tudo para a gloria de Deus "". quer vocês comam,
bebam ou façam qua lquer outra coisa, façam tudo para a glória de Deus" (1 Co
10.31). Poderíamos incluir em "qualquer outra coisa" evangelizar, discipular,
plantar igrejas e pastorear. Precisamos sempre relembrar isso porque com
facilidade começamos a trabalhar na igreja por outros motivos: mostrar serviço,
nos convencer do nosso sucesso, concorrer com outra igrejas, atingir metas,
fazer a denominação crescer" . a lista de possibilidades não tem fim. Existimos
e a igreja existe para glorificar a Deus!
Por ter este alvo final de glorificar a Deus, naturalmente um elemento
imprescindível na vida da igreja será adoração. Verdadeira adoração - "em
espírito e em verdade" (Jo 4.23) - foca na pessoa e virtudes de Deus; não é
um meio para se sentir bem ou esquecer os problemas (1 Pe 2.9). Uma igreja
que existe para a glória de Deus está sempre chamando a atenção do povo
para a pessoa de Deus, sua bondade, seu amor e sua fidelidade. A igreja é centrada em Cristo e suas virtudes,
não no ser humano e seus anseios; é cristocêntrica, não antropocêntrica. O ambiente, a música, a liturgia e a
pregação levam as pessoas a adorar e glorificar a Deus.
Agora, debaixo do guarda-chuva desta tarefa fundamental de glorificar a Deus, qual a missão da igreja?
Estou convencido de que a chave para a resposta se encontra na grande comissão. "Então, Jesus aproximou-se
deles e disse: "Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra. Portanto, vão e façam discípulos de todas as
nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que
eu lhes ordenei. E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos" (Mt 28.18-20).
Segundo estudiosos (Donald McGavran, Peter Wagner), na tradução mais usada, o texto cria uma ênfase
não refletida no grego. Geralmente se lê "Portanto ide, fazei discípulos" com o verbo "ir" no imperativo assim,
a ênfase é na ação do ir.. Quantas vezes ouvimos sobre o "Ide de Jesus". Enquanto é importante ir, na verdade
o único imperativo, a única ordem na grande comissão é "façam discípulos". Peter Wagner disse que a melhor
tradução seria "Indo, façam discípulos", Os outros verbos no texto, lIir ll, IIbatizar" e "ensinar" são auxiliares,
meios para conseguir o alvo de fazer discípulos.

Acredito que é aqui que achamos a missão que une todas as demais atividades da igreja. A missão principal
da igreja é de fazer discípulos para a Glória de Deus. Evangelizar para converter pessoas, incorporá-Ias à igreja,
ensinar a Bíblia, aconselhar, promover comunhão, trabalhar com famílias, levar a adorar a Deus, atender as
suas necessidades, tudo isso acaba sendo o meio de cumprir a missão de fazer discípulos.

Este reconhecimento de que a missão principal da igreja é fazer discípulos tem várias implicações.
1) Em primeiro lugar, se fazer discípulos é a missão, precisamos saber o que é um discípulo. Creio que
concordamos que um discípulo não é apenas uma pessoa que levantou a mão para aceitar Jesus.
Ser discípulo é muito mais que isso. Também, um discípulo não é um cristão perfeito, totalmente
maduro. Nem os doze discípulos de Jesus eram perfeitos. O Interpreters Dictionary of the Bible diz
que "discípulo" (mathetes em grego) equivale a "cristão". Vine mostra que a palavra é derivada do
verbo aprender, logo, "denota seguir um mestre ... (mas) o discípulo não era apenas aluno ... mas
imitador do seu mestre" (VINE, W.E. Expository Dictionary. Old Tappan: Revel!, 1981. p.316). Poderia
definir de várias formas um discípulo, mas essencialmente, é uma pessoa nascida de novo, destinado
ao céu, que seja aprendiz e imitador de Cristo.
2) Em segundo lugar, se a missão principal da igreja é fazer discípulos, é esta missão que torna-se o alvo
da igreja. Donaldo McGavran foi pioneiro em reexaminar o alvo da igreja na luz do imperativo de
fazer discípulos. No seu livro clássico Understanding Church Growth, Compreendendo o crescimento
da igreja, Grand Rapids: Eerdmans,1973, mostrou que o alvo da igreja não era "dar uma chance para
todos ouvirem o evangelho": chamava isso da "teologia da semeadura", uma teologia incompleta
que não se preocupava em colher frutos, mas só em semear. Argumentou também que o alvo não
era "levar pessoas a uma decisão": seria como deixar o nenê crescer sozinho. O alvo da igreja é de
fato fazer discípulos. McGavran definiu a igreja e seu alvo assim: "a proclamação das boas novas de
Cristo com o alvo de persuadir os homens a se tornarem discípulos de Cristo e membros fidedignos
de sua igreja."

Se "fazer discípulos" é o alvo da igreja, todos os programas, departamentos e esforços precisam


contribuir para esta finalidade diretamente ou indiretamente.

3) Se a missão da igreja é fazer discípulos, torna-se o critério para medir o progresso da igreja. Como
medimos O sucesso ou não sucesso da igreja? Pelo número de discípulos que estamos fazendo! Não
pode ser o número de decisões; hoje, muitas pessoas que 'decidem' nunca se tornam discípulos.
Não pode ser apenas a frequência da igreja - a frequência pode refletir apenas o número de pessoas
interessadas na igreja. Nem é o número de membros; muitos membros vêm de outras igrejas. A
pergunta precisa ser: quantos pecadores estão sendo levados a Cristo e tornam-se discípulos dele?
Naturalmente, esta visão produzirá o crescimento verdadeiro da igreja, o aumento do número de
discípulos de Cristo.

Então, segundo a grande comissão, a missão principal da igreja é fazer discípulos. Uma vez estabelecida
SISTEMATICA 3

a missão principal da igreja, as outras tarefas começam a se encaixar cada uma em seu lugar. Os outros verbos
no texto de Mt. 28.18-20 entram em cena:

• segundo o texto, para fazer discípulos, precisamos "ir". A igreja tem que ser proativa em levar o
evangelho para pessoas que não conhecem Jesus. "Ir" é mais do que deixar as portas da igreja
aberta. Implica coragem, criatividade e mobilidade para pregar aos pecadores de Jerusalém, Judeia,
Samaria e aos confins da terra.

• Para fazer discípulos, precisamos "batizar". Isso é, levar as pessoas a uma decisão radical de seguir
a Cristo. Batizar, também, implica integrá-Ias na igreja local.

• Para fazer discípulos precisamos "ensinar". Os novos discípulos precisam conhecer a Bíblia, precisam
ser orientados na sua vida cristã. Mas o texto ensina outro aspecto negligenciado: "ensinando-os
a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei." A ênfase do texto grego, segundo estudiosos, não é de
ensinar IItudo o que eu lhes ordenei", mas é no ensinar a lIobed ecer", "Significa que para ser um
discípulo, precisa concordar em obedecer a Jesus daquele dia e diante. Significa que Jesus, além de
ser salvador, é Senhor."(WAGNER, Peter. Strategies for Church Growth. Ventura: Regai, 1987. p.53).
A missão da igreja, essencialmente sua razão de existir, é de continuar o que Jesus fazia: fazer discípulos
pa ra a gloria de Deus.

1 .2 A EXTENSÃO JERUSALÉM ATÉ OS CONFINS DA TERRA


Argumentamos, segundo a grande comissão, que a missão principal da igreja é de fazer discípulos. Jesus
deu mais detalhes sobre esta missão na véspera da sua ascensão. "... serão minhas testemunhas em Jerusalém,
em toda a Judeia e Samaria, e até os confins da terra". (At 1.8). Aqui, falou da extensão geográfica desta missão
de fazer discípulos. Deve alcançar a nossa própria cidade (Jerusalém), o nosso estado (Judeia), os estados ou
países vizinhos (Samaria) e, no final, o mundo todo (os confins da terra).

Os discípulos, agora cheios do Espírito, começaram a cumprir a missão na sua própria cidade. Foi em
Jerusalém que evangelizaram e ganharam milhares de pessoas e fizeram dessas pessoas discípulos, ensinando-
os e integrando-os na igreja (At 2. 40-47) E, é claro, devemos fazer o mesmo. São as pessoas próximas a nós
que devem ser os primeiros beneficiários do evangelho. Às vezes ficamos mais empolgados em fazer 'viagens
missionárias' do que trabalhar com as pessoas da nossa vizinhança e do nosso relacionamento. Mas a missão
de fazer discípulos começa com nossos conhecidos, (nosso oikos em grego), que inclui parentes, amigos,
colegas de serviço, vizinhos, enfim, as pessoas com quem temos contato regular. A missão da igreja é achar
estas pessoas perdidas e delas fazer discípulos.

Mas, a missão vai além do nosso local. É muito fácil desenvolver uma 'miopia' em relação a nossa missão. O
nosso desejo natural é de levar as pessoas mais próximas a Jesus. No caso da igreja primitiva, focaram mais nos
judeus da sua cidade de Jerusalém. Mas, Jesus fez questão que olhassem além. Anteriormente, no ministério,
ele já tinha feito esta alerta: " ... Abram os olhos e vejam os campos! Eles estão maduros para a colheita" (Jo
4.35). E agora chama sua atenção para a região em que moravam (Judeia) e depois para um povo vizinho e
para o resto do mundo. Parece que a tendência de ficar na zona de conforto era muito forte e só depois de
chegar a perseguição que os discípulos obedeceram a ordem de ampliar a extensão da missão. "... Naquela
ocasião desencadeou-se grande perseguição contra a igreja em Jerusalém. Todos, exceto os apóstolos, foram
dispersos pelas regiões da Judeia e de Samaria" (At 8:1).

A igreja precisa zelar para não perder a extensão desta missão de fazer discípulos. Começa, sim, em nossa
Jerusalém, mas precisamos nos livrar da 'miopia' que tão facilmente nos aflige. Quantas igrejas trabalham
em localidades onde precisam concorrer com as igrejas vizinhas enquanto em outros lugares no estado,
ou em outros países ninguém está fazendo discípulos! Estive recentemente numa cidade onde até 50% da
população era evangélica e que ainda mais igrejas estavam chegando! Precisamos nos levantar os olhos para
o nordeste brasileiro e o estado do Rio Grande do Sul onde há municípios sem nenhuma igreja evangélica e
alguns municípios que não registram a presença de uma única pessoa evangélica! Precisamos acordar para
países vizinhos como Uruguai, com um porcentual baixíssimo de crentes. Precisamos abrir os olhos para a
janela 10/40 onde fica o maior número de povos não alcançados!
Estudiosos creem que o texto "... serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria,
e até os confins da terra" não aponta uma estratégia sequencial; que a igreja local deve primeiro se preocupar
em alcançar sua Jerusalém, para depois ir para sua Judeia, Samaria e aos confins da terra. Acredita-se que
esta preocupação global deve ser simultânea. A igreja local deve estar fazendo discípulos na sua vizinhança,
sim, mas simultaneamente estar envolvida na missão estadual e transcultural. O sentido do texto seria que a
igreja local estivesse fazendo discípulos no seu local e ajudando na missão global pela sua contribuição, oração,
envio e cuidado de missionários fora do seu raio de alcance. Foi isso que a igreja de Antioquia fez em Atos
13.1-4, enviando seus melhores obreiros (Barnabé e paulo) para lugares mais distantes enquanto continuou
a fazer a obra local.
A missão da igreja é fazer discípulos e esta missão se estende para o mundo inteiro.

11 3 A METODOLOGIA MJLTIPLlCAÇÃO DE: GI=lE:, AS

Há muitos métodos envolvidos na tarefa de evangelizar e fazer discípulos. Sendo que este livro não é
especificamente sobre o evangelismo, não vamos entrar nas diversos meios de fazer conhecido o evangelho.
Apenas queremos realçar a importância da metodologia de plantar igrejas.
Durante as últimas décadas, várias metodologias promissoras têm surgido. Depois da segunda guerra
começou uma nova onda de evangelismo de cruzadas, um movimento encabeçado pelo grande homem de
Deus, Billy Graham. Muitas pessoas conheceram Jesus através das grandes concentrações realizadas. Mas, a
própria Associação Billy Graham admitiu que a porcentagem de pessoas que atenderam o apelo para salvação
e que acabaram se integrando em igrejas locais era muito pequena. Um pesquisador calcula que das pessoas
que fizeram decisões em cruzadas deste tipo, a porcentagem de integradas na igreja local em geral seja inferior
a 10%. (WAGNER, Peter. Strategies for Church Growth. Ventura: Regai, 1987. p.138). O uso da mídia, literatura,
rádio e televisão (e agora internet) também tem sido uma ferramenta para a evangelização. Outra iniciativa tem
sido as missões que enviam equipes para evangelizar em praça, nas faculdades e de porta em porta; e estas
equipes têm sido também uma ferramenta para fazer discípulos. Porém, uma pesquisa americana mostrou
que mais que 80% das pessoas que se convertem, não são por cruzadas, mídias ou equipes de evangelismo,
mas por meio de uma pessoa conhecida que depois as leva para sua igreja.
Estes dados devem ser um alerta para nós em termos de metodologias evangelísticas, mas deve nos
levar a outra consideração: muitos destes métodos deixam fora o princípio de fazer discípulos como missão
da igreja. Estes esforços acontecem de forma desvinculada da igreja local. Por isso, depois de baixar a poeira,
restam poucos discípulos como resultado.
Surgiu nos anos 70 um conceito interessante com a finalidade de vincular esforços evangelísticos à igreja
com o intuito de fazer mais discípulos; evangelismo do corpo. Resumindo, esta visão "insistia em levar os não
cristãos à fé em Cristo e integrá-los no Corpo de Cristo como parte do processo de evangelismo" (WAGNER,
Peter. Strategies for Church Growth. Ventura: Regai, 1987. p.147). Não aceitava esforços evangelísticos que
não fossem integrados com a igreja.
Tudo isso nos leva à questão da importância de plantação de igrejas como método de fazer discípulos.
Primeiro, a melhor maneira de calcular quantos discípulos estão sendo feitos é pela plantação e crescimento
da igreja. Claro, se a igreja estiver "pescando no aquário" das outras, esta medição não funciona. Mas, de
modo geral, uma igreja plantada que está crescendo em convertidos integrados evidencia o cumprimento da
sua missão de fazer discípulos.
Segundo, o método mais comprovado de fazer discípulos para Cristo é a plantação de novas igrejas. Campos
menos alcançados precisam não apenas de indivíduos pregando, mas de formação de novas congregações
de cristãos. Mesmo em lugares que já possuem igrejas, pesquisas mostram que igrejas novas crescem mais
que igrejas velhas. Nisso é subentendido que não estamos falando de igrejas novas que sugam membros de
igrejas já existentes. Por estas razões o estudioso Peter Wagner fala o seguinte:
'~ experiência tem me ensinado o perigo de fazer afirmações categóricas a respeito de princípios de
crescimento da igreja. Mas um princípio que afirmo frequentemente e provavelmente continuarei
a afirmar é este: plantar igrejas é a metodologia evangelística mais eficaz debaixo dos céus. É a
verdade tanto em campos novos quanto em campos velhos. Acredito que devamos nos esforçar para
simultaneamente renovar igrejos existentes e multiplicar igrejas novas" (WAGNER, Peter. Strategies for
Church Grawth. Ventura: RegaI, 1987. p.168,169).

A missão da igreja é fazer discípulos; a metodologia sempre gira em torno da multiplicação e crescimento
de igrejas.

A missão da igreja é fazer discípulos, cristãos parecidos com o mestre. A formação de discípulos abrange
a pessoa como um todo; corpo, alma e espírito. Como vimos em capítulos anteriores, os vestigios de dualismo
ainda existem no meio cristão, sugerindo que precisamos apenas salvar a "alma" das pessoas porque o
corpo não vale nada mesmo. Mas, no ministério de Jesus e na igreja primitiva, havia uma preocupação com
a pessoa na sua totalidade. Como o pecado destruiu a pessoa como um todo, afetando tanto espírito como
a alma e o corpo, a salvação completa é para o homem todo. A igreja, na sua missão de fazer discípulos, vai
desenvolver uma missão "integral", procurando atender, além das necessidades espirituais, as necessidades
físicas, emocionais, econômicas e de justiça. Diz Duffíeld:
'~ primeira igreja tinha um interesse sincero nas necessidades materiais das pessoas, especialmente
da família cristã. Este interesse social surgiu sem dúvida dos ensinamentos de Jesus, cf Mt. 25.34-46;
Lucas 10.25-37. Não foi ordenado que a igreja pregasse um "evangelho sociar~ mas ela não pode
fugir às implicações sociais do evangelho bíblico. A Igreja Quadrangular, inspirada pelas obras de sua
fundadora, tem mantida desde o início um trabalho através do qual milhões receberam ajuda material.
Que esse ministério tem um precedente bíblico pode ser constatado pejo seguinte:
1) A igreja de Jerusalém mantinha um serviço de alimentação para as viúvas ... (Atos 6.1-7.)
2) Quando Dorcas morreu ... Pedro a ressuscitou ... devolvendo-o às suas obras de caridade (Atos 9.36-42).
3) Num período de fome na Judeia, todos os cristãos de Antioquia enviaram ajuda financeira (Atos
11.27-30).

4) Durante uma crise posterior, Paulo e seus colaboradores fizeram coletas ... a favor dos santos pobres
de Jerusalém ... (2 Cor.9. 7).
5) Instruções especiais para o cuidado das viúvas são dadas na carta de Paulo a Timóteo (J Tim.5.3-10).
6) A obra redentora de Cristo é para o homem total: espírito, alma e corpo."
(DUFFIELD, Guy P; VAN CLEAVE, Nathaniel M. Fundamentos da Teologia Pentecostal VoUI. São Paulo:
Quadrangular, 1991.p.242,243.)

No fím do século 19 e início do século 20, quando o liberalismo clássico estava no seu auge, as igrejas fíéis
às escrituras travaram uma guerra contra o chamado "evangelho social." Na verdade o liberalismo teológico
havia esvaziado o evangelho do seu conteúdo: para os mais "modernistas" a Bíblia, a divindade de Cristo, a
morte substitutiva, o céu e o inferno não passavam de mitos. O que é que restou para estas igrejas liberais
pregarem? Ajuda humanitária, boas obras, enfím, o "evangelho social". Os ortodoxos, fundamenta listas,
reagiram excessivamente, rejeitando o evangelho social de tal forma que se perdeu a visão holística da salvação
claramente articulada na Bíblia. Foi só após a segunda guerra que os evangélicos novamente acordaram para o
evangelho integral bíblico que prega a salvação da alma, sem negligenciar as outras necessidades do ser humano.
Agora, a missão de fazer discípulos abrange o ser humano como um todo, corpo alma e espírito - O
evangelho "ple no" é o evangelho todo para o homem todo. A igreja, paralelamente com a sua pregação de
salvação, se engaja na tarefa de aliviar sofrimento, combater pobreza e buscar justiça. De fato, precisam-se
de ambos para fazer verdadeiros discípulos. Terminamos esta seção com as palavras penetrantes de Tiago:
"De que adianta, meus irmãos, alguém dizer que tem fé, se não tem obras? Acaso a fé pode salvá-lo? Se um
irmão ou irmã estiver necessitando de roupas e do alimento de cada dia e um de vocês lhe disser: "Vá em paz,
aqueça-se e alimente-se até satisfazer-se", sem porém lhe dar nada, de que adianta isso? Assim também a fé,
por si só, se não for acompanhada de obras, está morta" (Tg 2.14-17).
O Pacto de Lausanne, o mais representativo movimento cristão do último século, apresenta uma visão
da missão integral da igreja que vale a pena considerar:
A RESPONSABILIDADE SOCIAL CRISTÃ
Afirmamos que Deus é o Criador e o Juiz de todos os homens. Portanto, devemos partilhar o seu interesse pela
justiça, pela conciliação em toda a sociedade humana, e pela libertação dos homens de todo tipo de opressão. Porque
a humanidade foi feita à imagem de Deus. Toda pessoa, sem distinção de raça, religião, cor, cultura, classe social, sexo
ou idade possui uma dignidade intrínseca em razão da qual deve ser respeitada e servida, e não explorada.
Aqui também nos arrependemos de nossa negligência e de termos algumas vezes considerado a evangelização
e a atividade social mutuament e exclusivas. Embora a reconciliação com o homem não seja reconciliação com Deus,
nem a ação social evangelização, nem a libertação política salvação, afi rmamos que a evangel ização e o envolvimento
sociopolítico são ambos parte do nosso dever cristão. Pois ambos são necessárias expressões de nossas doutrinas
acerca de Deus e do homem, de nosso amor por nosso próximo e de nossa obediência a Jesus Cristo.
A mensagem da salvação implica também uma mensagem de juízo sobre toda forma de alienação, de opressão e
de discriminação, e não devemos ter medo de denuncia r o mal e a injustiça onde quer que existam. Quando as pessoas
recebem Cristo, nascem de novo em seu reino e devem procurar não só evidenciar, mas também divu lgar a retidão
do reino em meio a um mundo injusto. A sa lvação que alegamos possuir deve estar nos transformando na totalidade
de nossas responsabilidades pessoais e sociais. A fé sem obras é morta .

,S ...J

No meio das muitas tarefas que podem ocupar o tempo e esforço da igreja, não podemos perder de
vista a missão principal da igreja: fazer discípulos para a glória de Deus. Definindo a nossa missão principal,
temos como priorizar as nossas atividades e medir o nosso progresso. Nosso raio de ação começa em nossa
Jerusalém, mas a missão se estende até os confins da terra; nossa metodologia precisa incluir a plantação e
desenvolvimento de igrejas para nutrir os discípulos. E a nossa tarefa de fazer discípulos abrange todo o projeto
humano; corpo, alma e espírito. No meio das muitas demandas e programas da igreja, precisamos focar na
missão essencial e imperativa; fazer discípulos para a glória de Deus.

• Começamos o estudo de eclesiologia no último capítulo com o retrato bíblico e histórico da igreja . Neste
capítulo identificamos, no meio das muitas tarefas, a missão principal da igreja, fazer discípulos para
a glória de Deus. Tiramos esta conclusão da grande comissão onde o fazer discípulos é o único verbo
no imperativo. Todas as outras atividades da igreja devem contribuir para a realização desta missão.
• Na Bíblia, o discípulo é um verdadeiro cristão. Não é apenas uma pessoa que "levantou a mão" nem
uma pessoa perfeita . É uma pessoa nascida de novo, destinada ao céu, aprendiz e imitador de Cristo.
• O texto " .. . serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria, e até os confins da
terra" (Atos 1.8) aponta a extensão da missão da igreja. A igreja local deve estar fazendo discípulos
na sua vizinhança, sim, mas simultaneamente estar envolvida na missão global pela sua contribuição,
oração e o envio de missionários para fora do raio de seu alcance.
• Há muitos métodos envolvidos na missão de fazer discípulos. Realçamos a importância da
metodologia de plantar igrejas, o método mais comprovado de fazer discípulos para Cristo . Fazer
discípulos sempre gira em torno da multiplicação e crescimento de igrejas.
• A igreja, na sua missão de fazer discípulos, vai desenvolver uma missão "integral", procurando abranger,
além das necessidades espirituais, as necessidades físicas, emocionais, econômicas e de justiça .

Chegou a hora da autoatividade. Você fará uma revisão


do capítulo, responderá as questões, destacará a folha da
autoatividade e a entregará para o professor na próxima
aula. Boa revisão e ótimos resultados!
,
CAPITULO 12
A IGREJA DE CRISTO E VOCE!

FIG.: EU E A IGREJA; em jovenseuacredito.wordpress.com; em lO.abr.2012

Em nosso estudo de eclesiologia, vimos primeiro o retrato bíblico e


histórico da Igreja de Cristo (Cap,10), No capítulo anterior focamos na missão
principal de igreja - fazer discípulos para a glória de Deus (Cap,ll), Agora,
queremos finalizar este estudo da igreja com uma aplicação bem pessoal.
Vamos primeiro olhar para um fenômeno alarmante, crentes sem igreja
(12,1), Segundo, refletiremos sobre a nossa necessidade de igreja (12,2) e
finalmente uma aplicação direta, como ser igreja (12.3), Esperamos que no
fim deste capítulo você estará mais motivado do que nunca a não somente se
comprometer com a igreja, mas a desfrutar dos beneficios deste organismo
fantástico, a Igreja de Cristo,

Por muitos anos os evangélicos têm reparado os erros da Igreja Católica,


Um dos motivos da crítica, além de questões doutrinárias, tem sido a falta de
compromisso dos católicos como a própria igreja, O Brasil é a maior nação
católica do mundo, mas a grande maioria é católica nominal - são católicos
somente em nome, mas não são praticantes, Muitas dessas pessoas, se
perguntássemos, se identificariam como flcatólicos", mas seu contato com a
igreja se limita, no máximo, ao batismo, catequese, casamentos e enterros.

Agora, um novo fenômeno preocupante está surgindo entre os


evangélicos: evangélicos nominais, Em semelhança aos católicos, há uma
camada crescente de pessoas que se identificam como evangélicos, mas
não frequentam regularmente os cultos na igreja, Um artigo da revista Isto É
(24/08/11, p.62), com dados da IBGE, falou o seguinte sobre os "evangélicos sem igreja": "Os pesquisadores
detectaram uma nova categoria, a dos evangélicos não praticantes. Em um intervalo de seis anos, quatro
milhões de evangélicos deixaram de ter vinculo com igrejas".
Quem são estes evangélicos sem igreja? Por que estão saindo? Vou sugerir 3 razões pela saída destas
pessoas e talvez você possa acrescentar mais:
1) Nunca se converteram. Com certeza um percentual dos "crentes sem igreja" consiste de pessoas que
foram criadas na igreja, mas nunca tiveram uma experiência de salvação pessoal. Como se diz, "Deus
tem filhos, mas não tem netos". Só por ser filho de crente, adquirir a cultura e costumes de crente,
não quer dizer que é salvo. Cada pessoa precisa se arrepender dos seus pecados e confiar em Deus
para sua salvação. Esta falta de uma experiência de novo nascimento, a falta de vida espiritual, faz
com que a igreja seja entediante e irrelevante.
2) Problemas interpessoais. Acredito que outro percentual de crentes sem igreja saiu do meio por
questões de desentendimento com pessoas ou com a liderança da igreja. Muitos foram machucados
por alguém ou pelo sistema religioso. Em alguns casos, a falha é da própria pessoa: precisava
perdoar a ofensa, reconhecendo a imperfeição humana, e continuar na igreja. Outros casos são
mais complicados.
"O desígnio de Deus para a igreja é que ela ofereça proteção e edificação aos seus membros. Contudo,
frequentemente, ela tem operado como agente de sofrimento e exclusão. Éclaro que onde há um grupo
de pessoas, cada uma com suas[raquezas e características peculiares, inevitavelmente haverá atritas e,
consequentemente, mágoas. E todos nós precisamos perdoar ou relevar tais dores. Contudo há casos-
e, infelizmente, eles não são poucos - em que o mal invade a instituição. E não existe crueldade maior
do que aquela que é infligido em nome da religião. É como ser maltratado pela própria mãe!" (DUGAN,
Patrick B. Nove provas de cristianismo autêntico. Venda Nova: Betânia, 2012).

Não podemos negar o papel de fatores como fofoca e abuso de autoridade na saída de pessoas da
igreja, pecados que precisam ser tratados.
3) Visão individualista de cristianismo. Enquanto alguns cristãos saíram da igreja por serem machucados,
outros optaram pelo perigoso caminho da espiritualidade individual. Tal atitude está em consonância
com o narcisismo prevalecente em nossos dias. É como observa Stephen Macchia: "O mundo que
nos cerca promove valores que nos levam a aprofundar-nos mais e mais em nós mesmos e a afasta r-
nos cada vez mais dos outros" (MACCHIA, Stephen. Becoming a Healthy Church (Tornando-se uma
igreja bem ajustada). Baker, Grand Rapids, 1999).
A versão do evangelho que tem sido propagada reforça a motivação egocêntrica das pessoas
modernas. Cristo é retratado principalmente como a pessoa que vai trazer felicidade, saúde e
prosperidade para o cristão e sua igreja existe para dispensar estes beneficios. Se a igreja não estiver
satisfazendo estes anseios pessoais, por que ir à igreja? Se eu ficar mais feliz ouvindo louvores em
casa e assistindo um astro da mídia evangélica na televisão, para que preciso me incomodar com a
igreja?

1 2.2 VOCE P8ECISA O GI C IA


(Adaptado de DUGAN, Patrick B. Nove provas de cristianismo autêntico. Venda Nova: Betânia, 2012).

Como a igreja dá corpo ao plano divino para restaurar os relacionamentos humanos, obviamente nossa
participação nela não é opcional. É parte do "pacote" da salvação. Aliás, os teólogos lembram que "no ensino
bíblico, não existe a ideia do crente autônomo" (HEIBERT, Paul G. Transforming World Views Cosmovisões
transformadoras. Baker, Grand Rapids, 2008).
Portanto, uma salvação individualista seria meramente parcial e incompleta, já que não realiza a visão de
Deus para a humanidade, que é formar uma comunidade. Embora a conversão a Cristo seja o encontro de um
indivíduo com Deus, é também uma realidade corporativa. Quando nos convertemos, tornamo-nos parte da
Igreja de Jesus Cristo, tanto no seu sentido universal e invisível quanto no visível e da igreja local. Precisamos
nos reunir regularmente numa congregação de irmãos.
Todo rompimento com esse ciclo natural de integração numa congregação tem sérias consequências.
Muitos cristãos gostariam de acreditar que podem ser crentes sem igreja . Contudo a Bíblia não dá validade
a essa ideia.
Em primeiro lugar, a igreja tem tanto valor que Cristo morreu por ela. Ele a chama de sua "Noiva" e seu
"Corpo". É Rick Warren (WARREN, Rick. The Purpose Driven Life. Uma Vida Com Propósito. Zondervan, Grand
Rapids, 2002) quem lembra que não dá para imaginar alguém dizendo a Jesus:
"Eu o amo, Senhor, mas não gosto de sua esposa."
/lEu o aceito, Jesus, mas rejeito seu corpo .1I
Temos de atribuir à igreja o mesmo grau de importância que Cristo lhe confere.
Em segundo lugar, o crente que não se acha integrado em uma congregação é um órfão espiritual. O
destino do crente é ser adotado na família de Deus (Ef 1.5). Deus é nosso Pai; Jesus, nosso irmão (que fato
incrível!) e os outros discípulos de Cristo, nossos irmãos. Um cristão que vive separado de sua família espiritual
é órfão. Acha-se afastado do calor e da afeição familiar. Não recebe o alimento saudável e, portanto, torna-se
vulnerável a ataques.
E, por último, um crente que não se acha unido a uma igreja é como um membro do corpo que foi
amputado. Quando entregamos a vida a Cristo, tornamo-nos membros de seu Corpo. E o sentido aí não é de
alguém que passou a ser "sócio" de algo; não. Fazemos parte de um organismo vivo, assim como os membros
do corpo humano. Cristo é a cabeça e nós, o corpo, ou seja, olhos, boca, ouvidos, mãos e pés (Rm 12.4-8). Se
um membro do corpo for cortado dele, obviamente, não sobreviverá.
Está claro que o cristianismo individualista, isto é, sem comunhão com uma igreja, fica muito enfraquecido
para cumprir sua missão de mostrar ao mundo uma nova humanidade. Ademais, aqueles que experimentam
esse tipo de vida cristã estão caminhando em direção a uma atrofia espiritual. Nosso crescimento como
cristãos depende, em grande parte, de gozarmos uma profunda e prolongada comunhão com um grupo de
crentes - a igreja local.

- --" ,--iRE:
(Adaptado de DUGAN, Patrick B. Nove provas de cristianismo autêntico. Venda Nova: Betânia, 2012).

A nossa terminologia nos aponta um equívoco a respeito da igreja. Na verdade, não frequentamos a igreja,
somos a igreja. A igreja não é um prédio nem um centro de serviços religiosos; é um organismo composto de
todos os salvos e eu faço parte. Não posso me distanciar daquilo que sou: eu sou a igreja de Cristo.
Então, agora, precisamos analisar os aspectos práticos de ser igreja. Como é "ser" igreja na prática, no dia
a dia? Para começar, essa comunhão, a vida da igreja, não se limita a alguns momentos de interação fraterna;
vai muito além disso . Por vezes, eu participo de eventos interdenominacionais em nossa cidade. Num dado
momento, todos nos damos as mãos, cantamos embalados pela música e tudo termina em meio a sorrisos
e abraços.
Éclaro que, para começar, já está bom, e é com alegria que participo desse tipo de evento. Mas, para que
o relacionamento da vida eclesiástica seja diferente de um mero companheirismo cristão, ele precisa conter
pelo menos cinco elementos (embora possamos mencionar muitos mais). São eles: compromisso, sinceridade,
mutualidade, solução de conflitos e cooperação financeira (Em alguns pontos desta seção, inspirei-me nos
capítulos 18 e 19 do WARREN, Rick. Vida com propósito. São Paulo: Vida, 2002).
1. Compromisso. Em essência, a igreja é constituída de um grupo de indivíduos com uma dupla aliança:
com Cristo e uns com os outros. E o que seria, na prática, esse compromisso com os irmãos?
A existência dessa aliança significa que nunca estamos sozinhos. O que acontece com um irmão, seja
de positivo ou negativo, acontece comigo . Um amigo de Fred caiu em adultério, mas este tinha um profundo
compromisso com ele.
"Estou com você e não abro", disse para o amigo. "Não importa o que tenha feito. Pode contar com minha
amizade e minha ajuda."
Obviamente, Fred não apoiava a conduta errada do outro, mas confirmou sua união cristã com ele e
acabou se tornando um instrumento para a restauração espiritual do amigo.
Ter compromisso significa estar disponível. Se alguém precisar de mim, "basta apenas gritar meu nome",
como diz uma música popular. Eessa disponibilidade não pode ter hora, nem data. Ao mesmo tempo, tampouco
pode estar limitada apenas aos momentos de emergência. Os irmãos têm compromisso uns com os outros pelo
fato de se reunirem regularmente numa igreja. É por isso que o escritor de Hebreus faz esta forte advertência:
"Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns: antes, façamos admoestações e tanto mais
quanto vedes que o Dia se aproxima" (Hb 10.25).
Ter compromisso também significa ter o seguinte pensamento: aquilo que é meu é seu. A igreja de Atos foi
um bom exemplo desse aspecto prático do compromisso. "Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em
comum", a ponto de venderem suas propriedades para distribuírem o dinheiro com os necessitados (At 2.44,45).
Ser igreja é ser comprometido com Deus e com os irmãos.

2. Sinceridade. Esse segundo elemento da função prática da igreja, na verdade, depende do primeiro. Se
de fato temos compromisso uns com os outros, teremos coragem para "nos mostrar como realmente somos".

A igreja, em sua melhor forma, é um exemplo desse alto padrão de coerência. Aliás, a própria Bíblia revela
uma honestidade que, por vezes, chega a ser desconcertante. Ela expõe as inseguranças, os pecados secretos
e falhas gritantes de seus mais notáveis personagens, como Abraão, Moisés, Davi e Pedro.
E, de fato, nós nos tornamos mais chegados uns aos outros quando permitimos que a luz da verdade
brilhe sobre nosso verdadeiro caráter. João afirma: "Se, porém, andarmos na luz ... mantemos comunhão uns
com os outros" (1.7).
É claro que caminhar em sinceridade não é fácil nem natural para nós. Quando vamos aos cultos, temos
a tendência de estampar sempre um belo sorriso domingueiro. Na realidade, a igreja autêntica nem sempre
apresenta uma "imagem" bonita. Nela, os crentes sentem liberdade de se mostrar como são e de não concordar
com todo mundo. Podem confrontar e ser confrontados. Uma igreja que opera num contexto de humilde
sinceridade coloca os membros em posição de dar e receber ajuda uns dos outros e promove relacionamentos
genuínos. Ser igreja é ser real.
3. Mutualidade. Por definição, a comunhão na igreja implica compartilhar uns com os outros no nível
pessoal. Ou seja, recebo algo dos outros, mas também dou algo de mim mesmo para os demais. Todos precisam
participar desse exercício de mutualidade. Todos necessitam dar e todos têm de receber. Stephen Macchia
afirma que a mutualidade significa que "temos o compromisso de viver na prática os mandamentos 'uns aos
outros' expressos nas Escriturasll :
• amai-vos uns aos outros (1 Jo 3.11,23; 4.7,11,12);
• confessai os vossos pecados e orai uns pelos outros (Tg 5.16);

• levai as cargas uns dos outros (GI 6.2);

• edificai-vos uns aos outros (1 Ts 5.11; Hb 3.13);


• sujeita i-vos uns aos outros (Ef 5.21);
• aconselhai-vos uns aos outros (CI 3.16);
• sede servos uns dos outros (GI 5.13).
A comunhão cristã nunca é uma via de mão única, ou seja, focada apenas em receber. Algumas pessoas
talvez vão para a igreja com a seguinte atitude:
"Vou lá para buscar uma bênção. Se sentir que o louvor ou o sermão não estão me trazendo uma bênção,
considero o culto meio fraco. Aí vou procurar outra igreja." Tal concepção revela uma visão errada de como o
corpo de Cristo opera em mutualidade . Ser igreja é dar e receber.
4. Solução de conflitos. "Porque onde houver dois ou mais reunidos em meu nome ... aí haverá confusão."
Essa paráfrase irônica, cunhada por Frank Dietz, expressa a decepcionante realidade da igreja, prevalecente nela
desde que foi criada. Seja qual for a razão, a verdade é que, em qualquer agrupamento humano, a presença
de conflitos é certa. E parece que a igreja não é exceção.
Todavia, a diferença entre a igreja e outras organizações humanas não é a existência ou não de conflitos,
mas a maneira como eles são resolvidos. Fora dos limites do Corpo de Cristo, o jeito mais comum de se encarar
os atritos é assumir uma atitude externa: afastamento, silêncio e uma fria indiferença. Por trás, porém, fazem-se
fofocas venenosas e comentários maldosos. E por baixo de tudo, ficam anseios de vingança e aquela esperança
de que o ofensor se dê mal. Ninguém pede perdão, nem se prontifica a perdoar. Resultado: fica parecendo que
o problema foi solucionado. Na realidade, porém, abaixo da superfície, continuam vestígios de ressentimento.
Numa igreja espiritualmente bem equilibrada, a solução dos atritos é operada de forma diferente. É claro
que a solução dos desentendimentos nunca é fácil. Felizmente, porém, havendo uma atmosfera de graça e
de humildade, é possível resolver a própria essência dos conflitos, restaurando assim um relacionamento
sincero e genuíno. Um cristão sempre irá tomar a iniciativa de buscar a solução das disputas (Mt 5.24). Ele se
dispõe a se humilhar (Fp 2.3) e a perdoar do íntimo (CI3 .12-14). É que reconhece que todos somos devedores
à misericordiosa graça de Deus (Mt 18.21-35). Esse processo exige muito esforço, um bom caráter, fortaleza
pessoal e grandes doses de graça . Mas é assim que trazemos à luz e destruímos as raízes de amargura,
possibilitando a restauração dos relacionamentos genuínos. Ser igreja é pagar o preço para resolver conflitos
5. Contribuição financeira. Meu sobrinho, Jon, é missionário no Japão, onde trabalha fundando igrejas. A
população desse país é bastante resistente ao evangelho, e o ritmo das conversões a Cristo é bem lento. Alguns
chegam a frequentar a igreja durante muito tempo antes de se batizarem. O mais interessante, porém, é que,
durante o demorado processo para tomar uma decisão, muitos dos indecisos contribuem financeiramente até
com certa fidelidade. Qual a razão disso? Jon explica que eles pensam que, se estão sendo beneficiados pela
organização têm a obrigação moral de ajudar nas despesas! Isso faz sentido, não faz?
Contribuir é um ato de amorosa adoração ao Senhor. Éa reação do amor diante das necessidades de outros.
Ademais, é também uma disciplina espiritual que quebra os grilhões do consumismo, cultiva em nós a virtude
cristã da generosidade (citando Hughes) e constitui uma expressão de nossa obediência ao senhorio de Cristo.
Entretanto, a base lógica de nossa contribuição financeira - ou de pelo menos parte dela - é nosso
compromisso com o corpo dos crentes. Cada um de nós precisa carregar a sua parcela do fardo financeiro.
No Novo Testamento, o apóstolo Paulo reforça esse raciocínio, principalmente em 2 Coríntios 8 e 9. Ali ele
ensina que devemos praticar a "graça" de dar (8.7) com "generosidade" (8.2), "prontidão" e "segundo nossas
posses" (8.11), tendo em vista a "igualdade" (8.13). Ele encerra sua argumentação dizendo: "Suprindo a vossa
abundância, no presente, a falta daqueles, de modo que a abundância daqueles venha a suprir a vossa falta"
(8.14) . A contribuição não é de forma alguma uma obediência legalista a uma "lei" do dízimo. Tampouco é
um meio para recebermos a "bênção" daquele carro novo que desejamos. Ela se baseia numa mutualidade
exercida em graça e se manifesta na lógica da responsabilidade. Ser igreja inclui a contribuição fin anceira.

Eis um breve retrato de você e a igreja. Crente sem igreja? Nem pensar. Precisamos da igreja, como uma
criança precisa de família, como um braço precisa do corpo. Ser igreja é fácil? Não. Fazemos porque é assim
que Deus nos mandou. Vale a pena? Sim! Temos, assim, um convite para gozarmos de uma vida de cálidos
relacionamentos dentro da igreja de Jesus Cristo. E depois nós, por nossa vez, também chamamos outros a
vivenciá-Ia. É certo que a igreja não é um céu, nem mesmo um Éden. Então para desfrutarmos de um bom
relacionamento neste mundo caído, teremos de pagar o preço. Contudo, a despeito de nossas fraquezas,
oferecemos um porto seguro, uma comunhão profunda e duradoura. Formamos um corpo, uma família com
muitos irmãos e irmãs, pessoas comprometidas com nosso bem-estar. Isso é ser igreja!

RlSU O DO CApí~' ~O 1 2
• Em nosso estudo de eclesiologia, vimos primeiro o retrato bíblico e histórico da igreja de Cristo e
depois focamos na missão principal de igreja - fazer discípulos para a glória de Deus.
• Neste capítulo finalizamos o estudo da igreja com uma aplicação bem pessoal. Primeiro, olhamos
um fenômeno alarmante, crentes sem igreja. Segundo, refletimos sobre a nossa necessidade de
igreja e terminamos com uma aplicação direta, como ser igreja.
• Sugerimos que "os evangélicos sem igreja" saíram da igreja por pelo menos três razões: nunca se
converteram, problemas interpessoais ou uma visão individualista de cristianismo.
• Embora a conversão a Cristo seja o encontro de um individuo com Deus, é também uma realidade
corporativa. O crente precisa da igreja porque Cristo morreu por ela; porque uma pessoa sem igreja
é como um órfão sem o cuidado de família; porque um braço amputado do corpo há de ressecar
e morrer.
• Não frequentamos a igreja, somos igreja . Ser igreja, na prática, implica compromisso com o corpo,
sinceridade, mutualidade, solução de conflitos e contribuição financeira .

Chegou a hora da autoatividade. Você fará uma revisão


do capítulo, responderá as questões, destacará a folha da
autoatividade e a entregará para o professor na práxima
aula. Boa revisão e átimos resultados!
TEOLOGIA SISTEMÁTICA 111

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