Traducao No Vazio A Variacao Linguistica
Traducao No Vazio A Variacao Linguistica
FACULDADE DE LETRAS
CENTRO DE ESTUDOS COMPARATISTAS
TRADUÇÃO NO VAZIO
A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NAS TRADUÇÕES PORTUGUESAS DE
PYGMALION, DE BERNARD SHAW, E MY FAIR LADY
DE ALAN JAY LERNER
2009
ABSTRACT
The use of linguistic varieties in fictional dialogue helps to inform the reader about which character is
speaking and under which circumstances. It becomes a textual resource that helps the reader to define
the sociocultural outline of the character, as well as his/her position in the sociocultural fictional context.
As an element always embedded in the source text with a communicative and semiotic significance, the
presence of linguistic varieties in fictional dialogue presents the translator a particular challenge given
that the target language may not have adequate resources to provide for an equivalent target text and
formal correspondences might be impossible to pursue. Faced with the case where the source language
reflects the close relationship between the speaker/medium/context in which it is used, the translator is
thus forced to decide on the importance and meaning of the use of a specific dialect in the text. The
difficulty in translating literary dialects therefore lies not only in linguistic problems, but also in pragmatic
and semiotic difficulties, since their presence in the text adds meaning beyond the linguistic level. This is
why it is important to discuss the translator’s decision to recreate or not to recreate linguistic variation
and how he/she chooses to go about the problem, as this decision may modify, or even subvert, the
work’s internal coherence.
Within the framework of Descriptive Translation Studies, this thesis sets out to investigate the strategies
translators resort to when faced with the challenge of translating and recreating a linguistic variety in
fictional dialogue and the potential correlation between the translational patterns and (a) the medium
(page, stage and screen), (b) the date of translation and (c) the prospective function the translation was
expected to fulfill in the target context. Building on the work developed by Dimitrova (1997, 2002),
Leppihalme (2000a, 2000b) and Rosa (1999, 2001, 2004), this thesis represents an initial attempt to
define a corpus-based methodology for the semi-automatic analysis of the translation of dialects in
fictionsl dialogue. Such methodology is then applied to a parallel electronic corpus, including all the
speeches of one the characters (Eliza) of Bernard Shaw’s Pygmalion and Alan Jay Lerner’s My Fair Lady
and their corresponding 12 translated versions, published, performed and broadcasted in Portugal
between 1945 and 2001. Translation procedures are analyzed in terms of (a) the recreation or non-
recreation of linguistic variation; (b) the preservation or non-preservation of time and space coordiantes
of the ST and (c) the use of familiar or non-familiar features for the target text audience; (d) the selection
of linguistic, pragmatic and literary signs socio-semiotically more or less valued in the target culture.
The study finds that the strategies translators opt for can vary from total normalization of the text to a
recreation of a linguistic variety in the target text, either denouncing an initial norm of adequacy,
revealing a higher valuation of the source culture, text and author, or an initial norm of acceptability,
revealing a higher valuation of the intended reader, and target culture’s ideology. It also finds that the
recreation of linguistic varieties in translated text is not only mediated by the dominant norms of each
medium but also by contextual factors such as the technical aspects of each medium, the date of
translation and the prospective function. Nevertheless, given the limited size of the corpus, any
conclusions presented by this study are necessarily tentative and await verification in future, with larger
corpora.
i
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AGRADECIMENTOS
Diversas são as pessoas e instituições a quem não poderei deixar de agradecer, pois sem o seu apoio este
projecto não poderia ter sido realizado. As primeiras palavras de agradecimento dirigem-se, como não
poderia deixar de ser, aos meus orientadores, Professor Doutor João Ferreira Duarte e Prof. Doutora
Alexandra Assis Rosa, pelo papel de guia conselheiro que assumiram ao longo desta jornada de quatro
anos, pela disponibilidade e atenção que a este projecto sempre dispensaram, pelo profundo saber que
aceitaram partilhar comigo. Permitindo um espaço de liberdade e de responsabilização sem silenciar
importantes palavras de confiança nos momentos em que esta escasseava, possibilitaram que encontrasse
o meu caminho enquanto investigadora com a confiança necessária para enfrentar os momentos de maior
desafio.
Ao professor Yves Gambier agradeço com amizade ter-me aceite como visiting fellow na Universidade de
Turku, assim como a disponibilidade que sempre me concedeu e as desafiantes discussões que sempre
distinguirão a minha estadia na Finlândia como um dos momentos de viragem neste projecto.
Ao professor Theo Hermans agradeço igualmente ter-me recebido como visiting research student na
University College London por três anos consecutivos e pela atenção e incentivo que sempre concedeu a
este projecto, ajudando-me a ter em consideração diferentes perspectivas de modo a que a escolha do
caminho tomado fosse o resultado de uma escolha consciente.
Não poderei deixar de agradecer à Prof. Doutora Christine Zurbach pelo balancear de ideias em momentos
de dúvida e pela cedência de bibliografia aquando da definição de um modelo teórico adequado, assim
como à Prof. Doutora Maria João Brilhante pela ajuda indispensável para a consulta da tradução para
teatro de 1974. Cabe ainda agradecer o empréstimo ou envio de bibliografia aos Professores Doutores
Sirkku Aaltonen, Cecilia Alvstad, Andrew Chesterman, Henrik Gottlieb, José Lambert e Tiina Puurtinen.
Agradeço ainda a disponibilidade para responder aos questionários enviados e cedência de informação
relativamente a edições passadas ao Dr. Fernando Guedes, director da Editorial Verbo, ao serviço de
cliente da Editorial Europa-América, à Dra. Teresa Sustelo, directora dos serviços de tradução da RTP, à
Dra Maria Auta de Barros dos serviços ao cliente da SIC e à direcção do Museu do Teatro que me permitiu
aceder ao arquivo “Francisco Ribeiro”.
Não esquecendo a oportunidade de me ter dedicado a tempo inteiro a este projecto durante quatro anos,
agradeço à FCT pela Bolsa de Doutoramento que me foi concedida e ao Centro de Estudos Comparatistas
pelo financiamento de participações em diversos congressos.
Aos meus amigos agradeço as palavras de encorajamento ditas com amizade e, por vezes, com a
paciência que só nos amigos se encontra, sobretudo nos momentos de maior desafio. Deixo aqui o
iii
agradecimento de quem não esquece à Sofia, à Zeynep, à Rita, à Claire, ao Tom, à Catarina e à Lili, mas
um agradecimento especial à Ana pela leitura de partes da tese, pela discussão de ideias e pela presença
incondicional.
Aos meus pais e ao meu irmão é devido um agradecimento de toda uma vida. Pela presença e apoio
constante ao longo deste percurso de 27 anos, pelas palavras de incentivo ou de alerta em momentos de
desvio, pela confiança que sempre demonstraram ter em mim, mas sobretudo pelo exemplo de
perseverança e trabalho que moldou a minha atitude e me animou nos momentos mais adversos.
Ao André dirijo um obrigado que necessariamente transborda os limites de qualquer expressão verbal. A
confiança que sempre demonstrou ter em mim e neste projecto, a discussão animada que em torno dele
alimentou, o olhar crítico que manteve e as perguntas provocadoras que nunca procurou calar mostram
como este foi um projecto vivido a dois e construído num processo de conquistas e desânimos
acompanhado por aquele sem o qual este projecto não teria sido feito.
A todos dedico um sincero agradecimento, ficando da minha parte a promessa de que o exemplo de rigor,
disponibilidade, solidariedade e exigência recebido ficará para sempre presente no moldar da minha
atitude para com colegas e alunos no futuro.
iv
ÍNDICE
INTRODUÇÃO …………...……………………………………………………………………… 1
v
PARTE II. MODELO DE ANÁLISE
2.3.3. Tradução orientada para publicação e para legendagem: legibilidade ………….... 115
vi
3.4. Tipologia de classificação das variedades literárias em tradução e o estabelecimento 135
de uma escala de prestígio …………………………………………………………………….
vii
1.2.3.2. Textos incluídos no TDT-Port …………………………………………………. 162
3.3. Etiquetagem das unidades frásicas e criação do esquema de codificação ………………. 176
viii
2.1.2. Recriação das variedades menos prestigiadas ………………………………………. 198
ix
x
Índice das Figuras
Figura 3: Tipologia de corpora analisados em EDT (baseado em Rosa, 2004: 91) ……………. 66
Figura 11: Funções prospectivas a assumir por textos traduzidos no contexto de chegada ... 143
Figura 12: Intervalos de desvio padrão definidos para a análise dos dados relativos à
Figura 13: Intervalos de desvio padrão definidos para a análise dos dados relativos
aos níveis linguísticos de que a recriação de variedades tira partido ……………….. 175
xi
Figura 17: Alinhamento cronológico expressivo da recriação das variedades padrão,
xii
ÍNDICE DAS TABELAS
de unidades identificados em cada uma das três fases definidas ………………….. 198
como oral ou subpadrão nos sub-corpora translato e não translato ……………….. 203
xiii
Tabela 14: Percentagens médias relativas ao número total de marcas linguístico-textuais
discurso como oral ou subpadrão nos dois grupos identificados nas traduções
discurso como oral ou subpadrão nos dois grupos identificados nas traduções
xiv
INTRODUÇÃO
funciona como recurso mimético de que o autor tira partido tendo em vista a caracterização
indirecta das personagens, das relações interpessoais entre elas estabelecidas e das
linguísticas importa para e recria no texto ficcional juízos de valor e hierarquias sociais não só
com objectivos ao nível diegético, mas também de posicionamento face à ideologia dominante.
Para o tradutor, este manifesta ser um verdadeiro desafio, não só por levar a que as suas opções
ganhem visibilidade textual, mas principalmente por reflectir a relação particular entre o tipo de
linguísticas advém, neste sentido, da assimetria reconhecida entre dois sistemas linguísticos
local reconhecida a essas variedades linguísticas, forçam o tradutor a uma visibilidade acrescida
Parece, portanto, incontestável que, assim como a opção pela recriação de variedades
linguísticas em texto ficcional está saturada da presença autoral (agindo no sentido da produção
traduzido estará saturada da presença do sujeito responsável pela tradução. A tensão causada
pela dificuldade de tradução procurará ser resolvida pelo agente tradutor que assume escolhas e
1997) que, formulado com base em regularidades encontradas em diversos textos, procura
expressar a tendência de o texto de chegada apresentar uma taxa de discurso dialectal inferior
ao texto de partida. Contudo, os estudos existentes abordam a questão de forma muito sucinta
O presente estudo tem por objectivo focar os diferentes aspectos da tradução de variedades
linguísticas em textos ficcionais de língua inglesa (britânica) para português europeu traduzidos
no séc. XX. Será tido em conta um corpus que permite não só o estabelecimento de um
alinhamento cronológico que nos elucide quanto à opção por diferentes estratégias tradutórias
diferentes meios (página, palco, ecrã) e da influência desse factor na escolha de estratégias
tradutórias. Tendo como ponto de partida todos os textos de língua inglesa traduzidos e
representados em teatros portugueses no séc. XX, foram seleccionados como pertinentes, após
My Fair Lady de Alan Jay Lerner, distribuindo-se os textos por três meios distintos: traduções
de Corpora em Tradução foram desenhados um modelo e uma metodologia de análise que nos
tipos de variação e o prestígio que lhes é reconhecido; propor uma metodologia de análise semi-
destina o texto de chegada, a data de tradução e a função prospectiva, ou seja, a função que se
que se destinam, torna evidente não só a opção por diferentes estratégias tradutórias em
ficcional literário.
d) Tendo em conta o período em estudo e a presença de uma censura institucional até 1974,
preferencialmente por via do nível lexical que o discurso é demarcado como subpadrão.
pelo agente promotor da tradução, pelo que é possível identificar relações de correlação
3
Tendo em conta as leis tradutórias de padronização crescente e de interferência propostas por
b) Tendo em conta o alinhamento das variedades ficcionais num sistema organizador das
c) Nas traduções mais recentes (últimas décadas do séc. XX) é possível confirmar uma
presença mais significativa de discurso subpadrão do que nas traduções das primeiras
d) Nas traduções mais recentes (últimas décadas do séc. XX) é possível reconhecer uma
Como tal, o presente estudo apresenta-se como uma contribuição construtiva e original também
inconciliáveis, mas que provam aqui ser não só conciliáveis, como complementares e
promotoras de uma análise mais robusta tanto pela ponderação de dados quantitativos, que
poderão no futuro fazer parte de um estudo comparativo mais abrangente, como pela
identificados por diversos estudos, incluindo o presente. Espera-se que este seja um contributo
construtivo para futuros projectos de investigação, assim como para tradutores no activo, que
trabalho, na medida em que são aqui discutidas diferentes estratégias tradutórias, os resultados
da sua aplicação e os contextos que as enquadram, de entre as quais poderão optar de forma
consciente e informada.
4
A apresentação do argumento e do projecto de investigação aqui desenvolvidos encontra-se
São aqui apresentadas as propostas teóricas de que o presente estudo tirou partido na
básicos dos Estudos Descritivos de Tradução que o presente estudo reconhece como
conta as propostas de diferentes autores, são aqui identificados os conceitos básicos da análise
das relações que o texto mantém com elementos do contexto situacional e do contexto
propor novas avenidas de investigação aos EDT e dos quais o presente estudo tirou partido na
Nesta segunda parte, são exploradas as coordenadas específicas para o estudo da recriação de
variedades ficcionais em texto ficcional, assim como da sua tradução, e dos diversos parâmetros
fundamentais relativos aos diferentes meios em estudo, tornando clara a terminologia utilizada e
os elementos característicos e distintivos de cada um dos meios incluídos no corpus a ser mais
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tarde recuperados aquando do estudo da correlação existente entre estes e as regularidades de
à tradução de variedades ficcionais. Ao mesmo tempo que é feita uma revisão de estudos que
previamente abordaram este mesmo tópico, são apresentados os conceitos de que a análise
tirará partido e que serviu de base tanto à construção do modelo de classificação das unidades
dados obtidos.
Uma vez apresentado o modelo de análise, coube nesta terceira parte expor a metodologia de
análise especificamente desenhada para o presente estudo e na qual podem ser reconhecidas
selecção e concepção do corpus, assim como do corpus paralelo electrónico com o propósito
de tornar o presente estudo claro e replicável e os dados obtidos recuperáveis por estudos
nortearam o processo de classificação das unidades frásicas, assim como a descrição da sua
Nesta quarta e última parte, são apresentados os dados resultantes do estudo quantitativo e as
diferentes etapas da análise comparativa dos dados seguida por uma análise qualitativa da
apresentar uma breve resenha relativamente à presença dos textos em estudo no contexto de
chegada, sendo, como tal, apresentada a listagem das obras traduzidas, dos tradutores, das
6
apresentadas, assim como uma análise sucinta do contexto imediato de apresentação
comportamento que se faz acompanhar do estudo comparativo entre os dados relativos ao sub-
comportamento tradutório, e por outro, perceber qual o grau de correlação existente entre as
estratégias assumidas e o meio a que se destina a tradução, a data de tradução e a função que
de análise são de aplicação alargada, na medida em que um dos objectivos do presente estudo
outros textos, outros pares de línguas ou outros contextos socioculturais. Tal como referido
compreensão das opções tradutórias assumidas, das normas tradutórias que as inspiram e do
7
8
Parte
I
Enquadramento Teórico
CAPÍTULO 1
OS ESTUDOS DESCRITIVOS DE TRADUÇÃO
Estudos Descritivos de Tradução que Toury faz repousar a sua atenção, reforçando, por um
Holmes – “function-, process- and product-oriented” (Toury, 1995: 11) – e, por outro, a inter-
[…] it is a fact that the findings of well-performed studies always bear on their
underlying theories. Whether theory-relevant implications are drawn by the
researchers themselves or by some other agent, most notably empirically minded
theorists, they contribute to the verification or refutation of general hypotheses, and
to their modification in particular. (Toury, 1995: 15)
Aos Estudos de Tradução está destinada a missão de dar conta de forma sistemática de:
b) o que de facto implica, em determinados contextos, assim como as razões que a tal
levaram;
9
Parte I - Enquadramento Teórico
A proposta de uma linha de estudo descritiva e explicativa estabeleceu, desde logo, uma
explicativos. Assim sendo, e na linha do que havia sido proposto por Hempel (1952), Toury
fenómeno em estudo;
fenómenos descritos.
[…] there is no pretence that the nature of translation is given, or fixed in any way.
What is addressed, even in the longest run, is not even what translation is in general,
but what it proves to be in reality, and hence what it may be expected to be under
various specifiable conditions. (Toury, 1995: 32)
Toury diferencia ainda dois tipos de estudos: observacionais e empíricos (Toury, 1995:
própria dos Estudos de Tradução, Toury, confirmando a influência das propostas de Holmes
10
Parte I - Enquadramento Teórico
Sociologia.
tendo como objectivos orientadores: a observação dos textos que constituem o corpus; a
estudo. Ainda que centrado nas propostas dos EDT, este estudo assume uma postura
Um dos pontos mais marcantes na proposta de Toury (1980, 1995), a surgir quase em
simultâneo pelas mãos de Vermeer com a proposta da Skopostheorie ([1978] 1996, 1989),
O pendor descritivo e explicativo que propõe para a disciplina, desviando o foco da relação
definição de tradução:
Within our frame of work, the assumption is applied to assumed translations; that is,
to all utterances which are presented or regarded as such within the target culture,
on no matter what grounds. (Toury, 1995: 32)
11
Parte I - Enquadramento Teórico
culturais e tendo em conta que a escolha do que é traduzido, como e com que função, é
que é correlata. Segundo Toury, o estudo deve partir do que é observável na CC (o texto
seguir a linha de reorientação dos ET para a CC, no presente estudo será, no entanto, tido
relação que esta mantém com a CP e as posições relativas que estes mantêm dentro de
um polissistema mais vasto. À luz do que havia sido proposto por Even-Zohar (1979) com a
Teoria dos Polissistemas posteriormente desenvolvida por Lambert e van Gorp (1985),
participa activamente, não só na escolha do texto a traduzir, como também na forma como
tradução assume dentro do sistema apresenta-se também como uma forma privilegiada de
culturas.
Do modelo de Holmes, Toury recupera ainda a divisão dos estudos descritivos em três
12
Parte I - Enquadramento Teórico
[…] one cannot but proceed from the assumption that functions, processes and
products are not just ‘related’, in some obscure way, but rather, from one complex
whole whose constitutive parts are hardly separable from one another for purposes
other than methodical. […] [T]he program must aspire to lay bare the
interdependencies of all three aspects if we are ever to do so within one unified (inter)
discipline. (Toury, 1995: 11)
em que será importante identificar as regularidades que marcam a relação entre função,
produto e processo. Ainda que a totalidade dessa interdependência possa apenas ser
abarcado pelos EDT, um estudo individual da tradução que tenha em consideração apenas
um dos aspectos será sempre um estudo descritivo parcelar que nega as diferentes
[…] there is no real point in a product-oriented study without taking into account
questions pertaining to the determining force of its intended function and to the
strategies governed by the norms of establishing a ‘proper’ product. (Toury, 1995:
13)
Toury defende, assim, que à análise do texto traduzido se deve seguir um alargamento do
demasiado focadas num aspecto só. Dentro de uma perspectiva semiótica, função é agora
definida “as the ‘value’ assumed to an item belonging in a certain system by the virtue of
1 Considerando que a tradução é um tipo de acção humana, Vermeer, em acordo com a Teoria da Acção
(Wright, 1968; Rehbeir, 1977; Harras, 1978 – cf. Nord, 1997: 11), define a acção tradutória como intencional e
orientada para um determinado propósito condicionado pelo contexto em que a acção toma lugar (a cultura de
chegada). Um dos factores mais relevantes nesta teoria apontado como determinador do propósito é, como tal,
o destinário, com as suas expectativas e necessidades comunicacionais específicas. Assim sendo, traduzir
significa “to produce a text in a target setting for a target purpose and target addresses in target
circumstances” (Vermeer, [1978] 1996: 29). A proposta de Vermeer foi uma válida contribuição para a
ponderação da função como factor determinante da tradução; contudo, não sendo objectivo deste estudo
centrar a sua análise na forma como determinada tradução cumpre ou não os propósitos inicialmente definidos,
a abordagem dos EDT demonstrou ser satisfatória e operativa.
13
Parte I - Enquadramento Teórico
the network of relations it enters into” (1995: 13). A função prospectiva de uma tradução é
tradução agora considerada dentro de um contexto particular, onde vem a ocupar uma
[...] functions should be regarded as having at least logical priority over their surface
realizations [...] once such a perspective has been opted for, the reversal of roles is no
longer viable: since translating is a teleological activity by its very nature, its systemic
position, and that of its future products, should be taken as forming constraints of the
highest order. (Toury, 1995: 14)
estudo comparativo das regularidades linguísticas, na medida em que estas nos permitem
análise dos desvios será possível reconstituir a função prevista para o texto na cultura de
chegada, assim como as estratégias por que o tradutor optou e as normas que estas
diferentes naturezas (ideológicas, estilísticas ou culturais) por parte do tradutor. Uma vez
que as escolhas não são tomadas no vazio, antes denunciando um processo de escolha
entre diversas hipóteses possíveis, o seu estudo mostra ser um aspecto valioso no estudo
noção de desvio, já referida por Popovič (1970) e recuperada por Toury, decorre mais uma
vez da reorientação dos EDT para a cultura de chegada, na medida em que os desvios não
são agora tidos como meras discrepâncias entre TP e TC, mas sim como signos, cujo valor
2 Desvio foi assumido por vezes como fenómeno sobretudo sintáctico ou semântico num contexto de
correspondência formal (Catford, 1965); outras, em termos estilísticos (Popovič, 1970). Mais recentemente foi
igualmente recuperado para o modelo de análise de Kitty van Leuven-Zwart (1989, 1990).
14
Parte I - Enquadramento Teórico
entre a CP e a CC, como pelas normas da CC e pela função prevista para o texto na CC.
contribuindo desta forma para a formulação de normas que os motivaram, assim como
textuais que, por sua vez, permitirá identificar procedimentos de manutenção ou de desvio
se tem desenhado uma profunda controvérsia. Tal como apontado em Baker (1998) podem
ser identificadas diferentes abordagens ao conceito: teóricos como Catford (1965), Nida e
Taber (1969), Toury (1980, 1995), Pym (1992, 1995) ou Koller (1995) definem tradução em
(Gentzler, 1993). Posições mais moderadas como a de Baker (1992) consideram o conceito
uma categoria prática para a descrição de traduções, ainda que mais pelo facto de os
tradutores estarem acostumados ao uso do conceito do que pelo rigor do seu estatuto
teórico.
15
Parte I - Enquadramento Teórico
fazer depender a definição de tradução do conceito de equivalência afirmando: “[…] for the
purpose of DTS, a translation will be any target language text which is presented, or
regarded as such within the target system itself, on whatever grounds” (Toury, 1985: 27). A
relação de equivalência será agora, segundo Toury, pressuposta, sendo que “equivalência”
se apresentará agora como o termo atribuído à relação de tradução que une os dois textos.
investigador recair, agora, não no grau de equivalência existente, mas no tipo de relação
verificada e nos factores condicionantes dos contornos que essa relação assume em
determinadas circunstâncias.
realidade concreta:
[m]ethodologically, this means that a descriptive study would always proceed from
the assumption that equivalence does exist between an assumed translation and its
assumed source. What remains to be uncovered is only the way this postulate was
actually realized, e.g., in terms of the balance between what was kept invariant and
what was transformed. (Toury, 1995: 86)
Toury assume a tradução como produto das normas operativas no contexto de chegada,
na medida em que são elas que determinam e condicionam o tipo e o grau de equivalência
verificada em traduções reais. Assim sendo, o estudo dessas normas apresenta-se como o
válido para o corpus em análise e quais os factores correlatos, na medida em que poderá
16
Parte I - Enquadramento Teórico
Aceitando que qualquer acto de tradução ocorre em contexto (eventos de tradução - Toury,
1999: 18), a tradução é definida como uma actividade regulada por constrangimentos
sociais que Toury dispõe num contínuo dinâmico ocupado, num dos extremos, por regras
assumem o seu lugar entre estes dois extremos, vindo a ser definidas por Toury da
seguinte forma:
Norms are the translation of general values or ideas shared by a group – as to what
is conventionally right and wrong, adequate and inadequate – into performance
instructions appropriate for and applicable to particular situations, specifying what is
prescribed and forbidden, as well as what is tolerated and permitted in a certain
behavioural dimension. (Toury, 1999: 14)
implícitas, cujo afastamento envolve sanções e cuja existência pressupõe uma escolha
não-aleatória entre diversas hipóteses, escolha essa correlata das normas válidas na
17
Parte I - Enquadramento Teórico
agora uma definição variável, na medida em que pode ocupar diversas posições numa
tradução” (Toury, 1995: 37), sendo o estudo da relação de tradução existente entre TP e TC
um dos objectivos dos Estudos de Tradução, segundo Toury. Este permite identificar
regularidades nas opções tomadas pelos tradutores de onde nos é possível abstrair o que
We seem to have hit upon the ultimate goal of translation studies now: the
formulation of a coherent set of LAWS OF TRANSLATION BEHAVIOUR of the form
“if X, then the greater/ the smaller the likelihood of Y”. Obviously enough,
conditioned laws are inconceivable unless the conditions – the X’s in the above-
quoted formula – can be specified, and no single law of this type can be formulated
unless the conditions have been specified. (Toury, 1991: 186)
As normas podem, portanto, ser estudadas por duas vias que se complementam: por um
lado, a análise de textos traduzidos (fontes textuais), por outro, a análise de textos teóricos
extratextuais ou contextuais).
Toury distingue três tipos de normas: a) normas preliminares, que influenciam a estratégia
de tradução geral assim como a escolha de que textos, autores ou línguas de partida
discussão pela mão de autores como Theo Hermans ou Andrew Chesterman, cujas
18
Parte I - Enquadramento Teórico
Criticando Toury por encarar as normas de tradução apenas como elementos limitadores
da acção do tradutor (opinião partilhada por Chesterman (1997) e Pym (1999)), Hermans
focará a sua atenção na tradução como produto de um contexto marcado por relações de
poder específicas:
Intercultural traffic, then, of whatever kind, always takes place in a given social
context, a context of complex power structures. It involves agents who are both
conditioned by these power structures or at least entangled in them, and who
exploit or attempt to exploit them to serve their own ends. The power structures
cover political and economic power but also, in the field of cultural production,
those forms which Pierre Bordieu call ‘symbolic power’. (Hermans, 1993: 7)
O tradutor é assim encarado como um agente, cuja acção não é inteiramente livre ou pré-
normas, se por um lado limitam a acção do tradutor tal como apontado por Toury, também
podem facilitar o processo de decisão, na medida em que apontam opções (soluções tidas
como correctas pela comunidade), cabendo ao tradutor a decisão por uma posição em
I prefer to think of norms not only as regularities in behaviour and a certain degree
of pressure exercised on the individual to prefer to one option rather than other,
but also as sets of expectations about preferred options, and as the anticipation of
such expectations, i.e., as the expectations of expectations. (Hermans, 1999: 3)
Desenhando um contínuo onde as normas são classificadas pela sua força normativa,
em que indica a opção preferida pela comunidade, porque aceite como “apropriada” ou
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Parte I - Enquadramento Teórico
“correcta” (Hermans, 1996: 30-31). O conceito de regras denunciaria uma realidade em que
de norma está igualmente implícito o conceito de valor, e, uma vez que os valores
tenderão a reflectir essa hierarquia. Neste sentido, a tradução não está livre de asserções
de valor e não pode ser tida como ideologicamente neutra (Hermans, 1999: 8), mas sim
modelo proposto pela norma, assegura a aceitação e elogio por parte do público da CC; o
3Será, contudo, importante ter em consideração que o desvio ao modelo predominante na CC pode conduzir
não a marginalização, mas a aceitação por parte de grupos que pretendam desafiar esse modelo.
20
Parte I - Enquadramento Teórico
com que a questão de quem detém o controle da situação esteja dependente do poder e
Importa, agora, não só identificar as normas em acção, mas também quando estas são ou
não quebradas, por quem e quais os elementos contextuais que poderão estar na base
texto não se resume ao nível semântico, passando agora também pela posição que este
gestão de expectativas, propõe, com base na proposta de Bartsch (1987), a distinção entre
normas técnicas, éticas e sociais (1993: 5). Dentro das normas técnicas, podemos
estilo, textualidade, convenções formais ou discursivas (1993: 9). Tais expectativas são em
parte governadas pelo conceito de tradução prevalecente na CC, assim como pelos textos
agir com lealdade relativamente ao autor do TP, ao mecenas e ao leitor da CC, aceitando a
relação (o tradutor deve agir de forma a que uma relação apropriada seja estabelecida e
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Parte I - Enquadramento Teórico
mantida entre TP e TC, relação essa definida pelo tradutor com base no seu entendimento
relativamente à sua força normativa e subjectividade), a que subjaz a noção de sanção por
como agente último que escolhe de entre as diversas soluções possíveis e cuja acção deve
ser interpretada dentro do seu contexto específico, na medida em que, dentro de um jogo
de expectativas, o tradutor acaba por assumir uma posição dentro desse mesmo contexto.
O presente estudo, à semelhança do que foi feito em diversos outros estudos como
Munday (1998), Øverås (1998), Kenny (1999a) ou Rosa (2004), desenhou como primeira
proposta de Hermans (1999) estes dois conceitos serão tidos como dois extremos de um
análise dos textos com variáveis extratextuais, espera-se que venha a ser possível
identificar algumas das normas preliminares válidas para os meios, o espaço e o tempo em
análise, ainda que as conclusões daqui retiradas sejam apenas válidas relativamente ao
corpus em estudo. Será ainda tida em conta a distinção feita por Toury (1995: 67-68) entre
22
Parte I - Enquadramento Teórico
como acção em contexto, uma tomada de posição mediada por expectativas e linhas de
acção passadas num sistema em que diferentes opções assumem posições várias, conduz
Contudo, este conceito nem sempre tem conhecido uma definição consensual entre
medida motivada pela natureza diversa das áreas que as adoptaram, assim como na
[…] a translation strategy […] may be defined […] as a textually manifest, norm-
governed, intersubjectively verifiable global choice of the degree in which to
subscribe to source-culture or target-culture concepts norms and conventions.
(Kwiecinski, 2001: 120)
É aqui sublinhada a análise tanto dos processos de tradução, como da tradução como
produto. Não deixando de ter em conta a posição de autores como Lörscher (1991) ou
Leppihalme (1997, 2001) que assumem o conceito de estratégia como abarcando apenas
5 Diferentes modelos têm sido propostas por diversos investigadores, entre os quais podemos identificar as
tipologias de Vinay e Darbelnet (1958), Nida (1964), Newmark (1988), Toury (1980, 1985, 1995), Ivir (1987), Nord
(1992), Delisle (1993), Gottlieb (1992), Venutti (1995), Kwiewciski (2001), Leppihalme (2001), Molina e Albir (2002),
Chesterman (1997, 2005).
23
Parte I - Enquadramento Teórico
plano em si não o seja, pelo que as estratégias são cognitivas e não linguísticas
produto. Mostra-se agora importante inquirir não só sobre o que fez o tradutor, mas
(1997, 2005) 6 onde são definidos dois tipos de estratégias com escopos de acção
diferentes, será, neste estudo, feita a distinção entre estratégias, tal como definido
6 Séguinot (1989) e Jääskelainen (1993, 2002) propõem a distinção entre “estratégias globais” e “estratégias
locais” ou procedimentos, procurando assim fazer a distinção entre a estratégia global inicialmente estabelecida
pelo tradutor e que irá afectar, numa fase posterior, o processo de decisão em diferentes momentos do textos.
Chesterman, na mesma linha de pensamento, propõe a distinção entre “comprehension strategies” e
“production strategies” (1997) e “strategy” e “technique” (2005).
24
Parte I - Enquadramento Teórico
valor que as hierarquiza e posiciona num sistema que, segundo autores como Rosa (2004),
contexto de chegada, por exemplo, pode ser tida tanto como centralizadora relativamente
desvalorizados.
Toury apresenta como objectivo dos Estudos de Tradução a formulação de leis de tradução
nunca finito de estudos descritivos. A título ilustrativo apresenta duas leis: a lei da
crescente, embora tenha conhecido recentes acertos na sua definição (Toury, 1999), é em
25
Parte I - Enquadramento Teórico
assim, uma função textual, enquanto um repertorema é um signo que faz parte de um
partida. Esta realidade advém em grande parte da posição periférica, já referida por Even-
Zohar (1979), normalmente ocupada pela tradução, isto é, quanto mais periférica for a
posição ocupada pela tradução num determinado sistema, mais o texto de chegada
(Toury, 1995, 1999). Estes dados, e tendo em conta que a tradução assume normalmente
“In translation, phenomena pertaining to the make-up of the source text tend to be
transferred to the target text” (Toury, 1995: 275). Embora o grau de transferência esteja
dependente dos processos mentais envolvidos na actividade de tradução, Toury não deixa
de notar que a interferência discursiva é variável na medida em que depende dos agentes
Autores como Venutti (1998), Tymoczko (1998) ou Hermans (1999) criticam a proposta de
limitadora da disciplina de Estudos de Tradução, que passaria agora apenas a dar conta
26
Parte I - Enquadramento Teórico
das semelhanças entre as traduções e não do que as distingue e posiciona como únicas. É
temporais e espaciais em que é desenvolvida, assim como pelo sujeito que a realiza.
generalizações o movimento natural de uma qualquer ciência que, com base em casos
cubram mais do que um caso singular. Em resposta às criticas referidas, apontam dois
absolutas ser inerente a qualquer tipo de análise e apenas poder ser ultrapassada através
do corpus, como na análise dos dados); por outro, o facto de apenas através de leis
outras disciplinas. Toury (2004) relembra ainda o facto de se tratarem de leis descritivas
cunhado por Blum Kulka (1986) e desenvolvido por Baker (1993) em substituição do
tipicamente em textos traduzidos e não nos textos de partida ou textos originais da cultura
(Baker, 1993: 243). No mesmo artigo, Baker, com base em diferentes estudos
1986)
7 A definição de universias de tradução é apresentada da seguinte forma: “features which typically occur in
translated texts than in original utterances and which are not the result of interference from specific linguistic
systems” (Baker, 1993: 243)
27
Parte I - Enquadramento Teórico
(Vanderauwera, 1985);
contextos e pares de línguas diferentes8, assim como propor outras hipóteses de universal:
narrativo, por forma a que este se torne mais próximo da cultura de chegada (Kenny,
1998);
2001);
8O universal de explicitação veio a ser testado e confirmado pelos estudos de Klaudy (1996) e Øveras (1998),
assim como o universal de simplificação pelo estudo de Laviosa-Braithwaite (1997).
9 Esta hipótese vem a ser testada e confirmada pelos estudos de Leppihalme (2001) e Rosa (2004).
28
Parte I - Enquadramento Teórico
2004a)10 e outros desenvolvimentos e críticas pela mão de autores como Toury (2004a,
necessário para que se assuma determinada tendência como universal e à formulação das
perdendo de vista o facto de que, como hipóteses que são, os universais poderão ser
O presente estudo encontra parte do seu interesse no facto de efectuar uma análise mais
originais que servirão ao teste das leis de comportamento tradutório, tendo presente que
serão alvo de especial atenção as duas leis propostas por Toury e os universais de
textuais e factores contextuais poderá contribuir ainda para uma especificação das
hipóteses formuladas por outros estudos, nomeadamente das leis que Toury identifica. A
29
Parte I - Enquadramento Teórico
prevê que nas traduções mais recentes (últimas décadas do séculos XX) se reconheça uma
com a lei da padronização crescente, na medida em que se espera que nessas mesma
traduções se confirme uma presença mais significativa de discurso subpadrão, isto é, que
30
Parte I - Enquadramento Teórico
CAPÍTULO 2
O ESTUDO DAS VARIÁVEIS CONTEXTUAIS
funcionais da língua que procuram dar conta do valor comunicativo dos enunciados em
esse estudo.
Sistémico-Funcional (GSF) de Halliday (1971, 1985, [1985] 1994, Halliday et al., 1964 e
1 Seguindo a proposta de Brown e Yule será adoptado o conceito de variável contextual (1983: 36) que,
abandonando uma perspectiva determinista de causa-efeito entre elementos linguísticos e elementos
contextuais, define esta relação em termos de co-ocorrência dos elementos. Esta perspectiva mostra estar
bastante próxima da de Toury, na medida em que salvaguarda uma certa liberdade de acção por parte do
locutor que, para efeitos deste estudo, podemos identificar com o tradutor.
31
Parte I - Enquadramento Teórico
A aproximação dos EDT à gramática sistémico funcional, nos anos 90, parece acontecer de
de texto se concentra no estudo da organização interna dos textos, a GSF faz recair a sua
Mason (1990, 1997), Baker (1992) ou House (1997), estudos que procuram aplicar os
entre os EDT e a GSF parecem por demais evidentes. Ambas assumem o uso linguístico
como funcional, isto é, um processo semiótico que produz significados, estando esses
liberdade de escolha entre as diversas hipóteses que o sistema lhe permite. Por último,
À luz das propostas de Malinovsky (1923, 1935) e Firth ([1935], 1951) (vide Hatim e Mason,
1990: 36), Halliday propõe a distinção entre contexto situacional e contexto cultural;
contudo, além de não explorar o contexto cultural em pormenor, na medida em que a sua
32
Parte I - Enquadramento Teórico
relação entre texto e contexto dentro da dicotomia texto e contexto, que este estudo
[t]here is text and there is other text that accompanies it: text that is ‘with’, namely
the con-text. This notion of what is ‘with the text’, however, goes beyond what is
said and written: it includes other non-verbal goings-on – the total environment in
which a text unfolds. So it serves to make a bridge between the text and the
situation in which texts actually occur. (Halliday, [1985] 1991: 10)
que o enquadra. Procurar explicar o texto literário à luz do contexto histórico em que se
insere seria reduzir o texto literário à condição de espelho desse contexto; porém, não
podemos negar a ancoragem histórica de cada texto e a relação intrínseca entre texto e
produto:
produto e agente, mas também como processo. Seguindo a proposta de Hatim e Mason,
como um acto de comunicação, uma interacção discursiva entre locutor e alocutário, que,
condicionando as decisões tradutórias, será perceptível através das marcas textuais que
promulgou. Será assim importante reconhecer diferente níveis de interacção verbal, assim
33
Parte I - Enquadramento Teórico
as motivações ideológicas, cujo impacto, segundo a proposta de Lefevere (1984: 97), não
poderá ser olvidado pelo investigador, tanto pela sua inevitável presença na produção de
Num estudo dedicado à análise das estratégias de tradução de variedades linguísticas que,
extralinguísticos que lhes conferem esse significado, mas também pelo significado que
assumem as escolhas assumidas pelo tradutor e que, segundo Lane-Mercier (1997: 47),
motivadores da tradução.
O modelo linguístico de Halliday (1971, 1985) tem por base dois pressupostos
para a expressão de significado; por outro, que a linguagem tem como propósito a criação
2 Procurando dar conta de agentes condicionadores como os mecenas ou as editoras, Nord (1991: 42-47)
estabelece a distinção entre o emissor e o produtor textual da tradução, entre quem promulga a tradução e,
provavelmente, define a orientação desta e aquele que produz a tradução. Embora esta seja uma linha de
investigação importante e merecedora de desenvolvimento, a impossibilidade de reunir a informação necessária
relativamente às orientações dadas ao tradutor pelo agente promotor da tradução não permite que neste estudo
esta distinção seja tida em conta.
34
Parte I - Enquadramento Teórico
Assume o texto como o produto de três tipos de escolhas que expressam diferentes tipos
O modelo de Halliday, assumindo o texto como uma unidade semântica funcional que se
produzido ([1985] 1991: 11). O contexto de situação é, então, definido por Halliday como
“the immediate environment in which a text is actually functioning” ([1985] 1991: 46), sendo
interpessoal);
ideacional);
quanto à função assumida por esses textos, as correlações possivelmente existentes entre
correlações. Para uma melhor descrição dessas relações e da variação linguística inerente,
Halliday propõe um modelo em que duas dimensões são reconhecidas: marcas que
denunciam o falante (dialectos) e marcas que denunciam o uso (registos). O texto revela
35
Parte I - Enquadramento Teórico
transportar o signo, assim como da função a desempenhar pelo texto como exemplo de
Figura 1: Esquema descritivo da variação segundo o uso e o falante (tradução e adaptação do esquema
apresentado em Bell, 1991: 185)
Num estudo que tem como objectivo a análise da tradução de variedades linguísticas e a
por um lado, a distinção feita entre variação diacrónica e sincrónica, assim como dos
registo pretende dar conta do uso linguístico e das variações identificadas consoante os
The category of register is postulated to account for what people do with their
language. When we observe language activity in the various contexts in which it
takes place, we find differences in the type of language selected as appropriate to
different types of situation. (Halliday, McIntosh e Stevens, 1964: 87)
36
Parte I - Enquadramento Teórico
Neste sentido, a noção de registo - definido como “a configuration of meanings that are
tenor” ([1985] 1991: 38-39) - demonstra ser a via pela qual se correlacionam as
contexto que o enquadra, sendo neste sentido que Halliday chama à discussão a noção de
Procurando tornar mais operativa a proposta de Halliday no que diz respeito à correlação
texto (ConfigC)4 que define como um “specific set of values that realises field, tenor and
mode” (Halliday e Hasan, 1991: 55). Segundo Hasan, apenas através da noção de ConfigC
que conceitos gerais como campo, modo e relações interpessoais não nos permitem
Cada um destes conceitos conhece, assim, diferentes aspectos que deverão ser
ancilar), o tipo de partilha do processo de criação textual com o alocutário, o canal (gráfico
social. Contudo, o facto de ser possível identificar o registo de uma situação particular ou,
inclusive, de uma cultura, comprova que se, de um ponto de vista teórico, a ConfigC pode
4 Embora Hasan tenha adoptado a abreviatura CC para configuração contextual, neste estudo, seguindo a
proposta de Rosa (2004), será adoptado a abreviação ConfigC, uma vez que CC é tradicionalmente
reconhecido, em português, como abreviatura de Cultura de Chegada.
37
Parte I - Enquadramento Teórico
Hasan, 1991).
2.1.1.1. O Campo
A categoria campo diz respeito ao evento em que o texto opera, à natureza da actividade
social em curso, aos tipos de actos e os seus objectivos, estando, por isso, intimamente
The field of discourse refers to what is happening, to the nature of the social action
that is taking place: what is it that the participants are engaged in, in which the
language figures as essential component? ([1985] 1991: 12)
Tal como referido anteriormente, Hasan (1991) propõe como aspectos da categoria campo
o tipo de actos em curso e os seus objectivos, sendo a esta proposta que Leckie-Terry
(1991) adiciona outros aspectos: a arena (referente ao locus da acção, que posiciona num
38
Parte I - Enquadramento Teórico
próprias da acção numa comunidade, não será difícil aceitar a não aleatoriedade na
instituição social, segundo o autor, faz a mediação entre o contexto cultural (estruturas
The institution defines its own significant forces, and their rights and obligations in
each situation-type, including their rights of access or constraints on access on
situation-type. (Fairclough, 1988: 113)
Para Fairclough o conceito de discurso passa pelo conceito de “ordens de discurso” que,
importante para o presente estudo reter a noção de que a arena identificada e o grau de
texto. Em interacção com outros elementos contextuais, estes contribuirão ainda para a
que não só se apresenta como conceito mediador entre determinado contexto situacional
e função do texto.
arena, instituição e convenção linguística a ela associada provam ser centrais. O desafiar
39
Parte I - Enquadramento Teórico
se tira partido em texto ficcional, relembrando-nos, não só que o uso linguístico é feito de
convenções, mas também que o texto ficcional delas tira partido no cumprimento de
Esta categoria pretende dar conta das relações existentes entre os participantes envolvidos
The TENOR OF DISCOURSE refers to who is taking part, to the nature of the
participants, their statuses and roles; what kinds of role relationship obtain among the
participants, including permanent and temporary relationships of one kind or another,
both the types of speech role that they are taking on in the dialogue and the whole
cluster of socially significant relationships in which they are involved. (Halliday e
Hasan, 1991: 12)
Qualquer texto reflectirá, portanto, a relação estabelecida entre locutor e alocutário, relação
Hasan identifica como variáveis específicas para esta categoria dois aspectos: o papel do
agente, relativo ao grau de contacto ou poder que o agente detém, e a distância social,
Leckie-Terry (1991), tal como Hasan, considera o papel assumido pelos participantes
a estes aspectos o grau de formalidade e o foco que reconhece poder estar direccionado
mensagem (1991: 40). Lyons (1977), por sua vez, identifica como elementos contextuais
participante que pode ser deítico (em consequência da presença do alocutário na situação
40
Parte I - Enquadramento Teórico
(1977: 574-585).
alguns parecem assumir uma maior relevância na definição da ConfigC do texto no âmbito
Lyons denomina de “code-switching” (1977: 580), isto é, “the ability of members of such
na sociedade, é variável e histórico tal como a sociedade que o define, e, em grande parte,
definido pelo grau institucional da situação. A relevância destes dois aspectos no presente
sejam tomadas em detrimento de outras. Em texto ficcional, tendo em conta que o leitor/
específicas com base em comportamentos convencionais que também ele partilha e aceita,
cujo horizonte cultural pode não coincidir com o do receptor implícito no TP.
41
Parte I - Enquadramento Teórico
comunicativo, onde se estabelece uma relação entre as variedades e a sua posição numa
escala de valores pré-estabelecida pela comunidade linguística. Assim sendo, mostra servir
fonético (através dos quais são codificados os dialectos), e relacionando-os com factores
extralinguísticos, seja possível recriar o papel social, bem como as díades de poder ou
solidariedade que ligam as personagens. Como tal, são objectivos do presente estudo
apurar:
2.1.1.3. O modo
Como terceiro parâmetro discursivo, Halliday propõe a variável modo (“mode”) que define
da seguinte forma:
The MODE OF DISCOURSE refers to what part the language is playing. What it is
that the participants are expecting the language to do for them in that situation: the
symbolic organisation of the text, the status that it has, and its function in the
context, including the channel […] and also the rhetorical mode, what is being
achieved by the text in terms of such categories as persuasive, expository, didactic,
and the like. (Halliday e Hasan, 1991: 12)
processo de partilha (activo ou passivo), o canal (fónico, gráfico ou uma combinação dos
dois) e o meio (escrita ou fala) (Halliday e Hasan, 1991: 57-58). Procurando complementar a
42
Parte I - Enquadramento Teórico
texto reflectirá ainda o grau de planeamento (que considera em estreita ligação com os
conhece justificação, por um lado, por no caso da tradução para o palco a natureza
impacto directo na tradução; por outro, pela ponderação por parte do locutor (neste caso o
aquando da formulação textual, podendo isso vir a influenciar as suas escolhas e decisões
relativamente à reconfiguração das marcas textuais. Bell (1991) reflecte sobre esta questão
esteja ele presente ou ausente, é um importante factor na definição do registo (1984: 159)6.
A ponderação da variável meio encontra a sua pertinência no facto de terem sido incluídos
no corpus seleccionado para este estudo traduções de textos dramáticos e fílmicos que,
conhecerão, necessariamente, uma alteração do meio. Ainda que neste estudo apenas
sejam considerados os textos produzidos pela mão do tradutor e não o produto final (o
das traduções para o palco, a alteração do canal e meio não venha a ocorrer pelas mãos
5 A consideração de uma eventual reacção por parte do alocutário e conhecimento dessa reacção por parte do
locutor, mostra ser um importante complemento à proposta de Hasan que reconhece a variável processo de
partilha.
6 No enquadramento da Análise de Discurso, este conceito é formulado no contexto de um modelo
comunicativo onde é feita a distinção, por um lado, entre autor real e autor implícito e, por outro, entre leitor real,
leitor ideal e leitor implícito. Esta questão será recuperada em I-2.2.2.1.
43
Parte I - Enquadramento Teórico
do tradutor, a variável canal foi identificada como relevante por se considerar que a
perspectiva de uma alteração de canal numa etapa posterior, poderá igualmente influenciar
reconhecidas aos diversos canais possíveis (neste caso, gráfico, fónico e auditivo), não só
tradutor cabe o papel de mediador entre o texto escrito e o texto proferido, pelo que o
produto da sua acção situar-se-á necessariamente entre círculos semióticos diferentes que
“escrita” e “fala”, procurando dar conta dos diferentes matizes a reconhecer nos diversos
textos incluídos no corpus. Tendo em conta a proposta de Gregory e Carrol (1978), foi
7 Tal como apontado por autores como Bassnett (1991), Mateo (1995) ou Aaltonen (2000), o processo de
tradução depende em grande medida do tradutor escolhido, da sua posição no sistema teatral e da visão que o
próprio detém da sua actividade de tradutor. Por vezes é o tradutor que prepara o texto a estar presente em
palco, traduzindo já com a dramaturgia em mente; outras, o processo de tradução é partilhado entre um
tradutor que transfere o significado verbal do texto e um outro que adapta a sua versão às exigências e
necessidades do palco e do encenador.
44
Parte I - Enquadramento Teórico
caixas sombreadas) de forma a que a tipologia desse conta, não só dos diferentes textos
constituintes do corpus em estudo, mas também de outras variantes dos meios fala e
escrita que actualmente não poderemos deixar de ter em conta no contexto dos Estudos
de Tradução. As categorias são: fala não espontânea com o objectivo de descrever a acção
em filme ou palco em substituição desta (dará conta dos casos de descrição áudio para
pessoas invisuais); escrita para ser lida enquanto ouvida (legendagem em recitais com
do que é ouvido (legendagem para surdos ou deficientes auditivos). Foi assim objectivo
deste estudo desenhar uma tipologia mais exaustiva, que possa ser recuperada em
que possa ser partilhadas por diferentes estudos dentro dos Estudos de Tradução.
A natureza diversa que nos permite identificar os diferentes meios, parece indicar
igualmente que cada meio preenche funções distintas, isto é, na medida em que diferentes
Segundo Stubbs:
Parece ser assim possível reconhecer uma relação de correlação entre meio e função, tal
como entre meio e estruturas linguísticas, que nos permite pensar na função como posição
45
Parte I - Enquadramento Teórico
inicia (Halliday, 1971: 44); contudo, não a explora em detalhe, tratando esta questão
mais vasto. É sobre este contexto sociocultural mais vasto, a influência que detém no
objectivos que guiaram esse uso e a avaliação que faz e atribui aos elementos contextuais,
correlatos das suas escolhas linguísticas. Ainda que de uma importância hoje evidente, a
por focar a sua análise nas condicionantes do contexto imediato de situação em detrimento
do contexto sociocultural mais vasto. Tal como Hatim e Mason (1990) relembram, as
determinada pelo contexto que a enquadra, tanto situacional como cultural, sendo que é do
contexto cultural mais vasto que os diferentes elementos do contexto situacional recebem
É assim defendido por este estudo que o enunciado conhece um significado que decorre
de um contexto imediato, das relações sociais entre locutor e alocutário, mas também de
8Segundo Halliday: “Speech and writting are used in different contexts, for different purposes” (Halliday e
Hasan, 1991: 93).
46
Parte I - Enquadramento Teórico
Tendo em conta que Halliday e Hasan (1991), apesar de reconhecerem o contexto cultural
como um dos factores determinadores na interpretação do texto9 , optam por focar a sua
campo de forma a ser igualmente tido em conta o contexto macro-social; todavia, outros
aspectos deste sistema de redes de signos revelam a sua importância para o presente
estudo, pelo que serão tidas em consideração a proposta de Hatim e Mason (1990), onde,
escolhas feitas ao nível das três componentes já amplamente discutidas – campo, relações
9 O contexto cultural é definido por Halliday como “[…] a broader background against which the text has to be
interpreted: its context of culture. Any actual context of situation, the particular configuration of field, tenor and
mode that has brought text into being, is not just a random jumble of features but a totality – a package, so to
speak, of things that typically go together in the culture. People do things on these occasions and attach these
meanings and values to them: this is what a culture is” (Halliday e Hasan, 1991: 46). O reconhecimento da
importância do contexto cultural é reforçado quando na página seguinte é reconhecida a sua influência na
interpretação do texto: “The context of situation and the wider context of culture make up the non-verbal
environment of a text. We have spoken of these as “determining” the text, stressing the predicability of the text
from the context” (Halliday e Hasan, 1991: 47)
47
Parte I - Enquadramento Teórico
Stalnaker define pragmática como “[the study] of the purposes for which sentences are
used, of the real world conditions under which a sentence may be appropriately used as an
motivadores da tradução e não apenas dos efeitos e função a ocupar pelo texto traduzido
na CC; o assumir de uma nova perspectiva sobre o conceito de equivalência que deverá
agora ser definido não só ao nível do conteúdo do texto, mas também da sua força
com liberdade de escolha entre as diferentes hipóteses que o sistema lhe disponibiliza.
Assumir o texto literário como palco de interacção comunicativa entre locutor e alocutário e
recuperação dos conceitos de leitor real e leitor implícito desenvolvidos pela Pragmática e a
Análise de Discurso. Por leitor real entenda-se o receptor do texto posicionado “no mesmo
plano ontológico que o autor empírico” (Reis, 1998: 220); por leitor implícito entenda-se a
do locutor face ao alocutário faz do conceito de leitor implícito uma construção teórica
10 Reconhecendo o texto como acção e a capacidade de o locutor agir com palavras, J. Austin (1962) distingue
três tipos de acção: acto locutório, a acção levada a cabo pelo enunciado de uma frase bem formada e dotada
de significado; acto ilocutório, a força comunicativa que acompanha o enunciado; acto perlocutório, o efeito
que o enunciado tem no alocutário.
48
Parte I - Enquadramento Teórico
reposição de um texto numa outra cultura, coloca o tradutor numa posição em que o leitor
coincidir com o leitor da CC, tanto em termos de afastamento temporal como cultural,
podendo ser esse o elemento promotor, por exemplo, de uma estratégia de aceitabilidade.
elementos textuais levar-nos-á a reconhecer o texto como uma rede de signos num sistema
de signos, querendo isto dizer que o texto produz valor semiótico afluente dos valores e
textual assume o seu significado pragmático, não deixando de interagir com outros
elementos (textuais e não textuais) que o acompanham como signos com significados
semióticos mais gerais. Esta dimensão interactiva do texto é semiótica, levando a leitura
isto é, o que age sobre o texto não será tanto os elementos específicos reconhecidos ao
49
Parte I - Enquadramento Teórico
inter-relações possíveis pelo conhecimento prévio de outras situações por parte dos
participantes. Será assim relevante recuperar o “princípio de analogia” proposto por Brown
e Yule pelo qual assumem que o discurso “is interpreted in the light of past experience of
similar discourses, by analogy with the previous similar texts” (1983: 65)11 . O processo de
Embora tenhamos aqui em conta textos de natureza diferente, será importante reconhecer
The reader does not merely pass his eyes over written language and receive and
record a stream of visual perceptual images. He must actively bring to bear his
knowledge of language, his past experience, his conceptual attainments on the
processing of language information encoded in the form of graphic symbols in order
to decode the written language. Reading must therefore be regarded as an
interaction between the reader and written language, through which the reader
attempts to reconstruct a message from the writer. (1973: 15)
11 Diversos são os autores que assumem esta mesma posição, sendo notória a coincidência deste princípio
com o conceito de “pressuposição assumida” proposto por Stalnaker e que pretende dar conta da situação de
que “pressupositions is what is taken by the speaker to be the common ground of the participants in the
conversation” (1978: 321), os conceitos de implicatura e inferência propostos pela gramática sistémico-
funcional de Halliday, ou mesmo o conceito de “competência comunicativa” com que Hymes (1971) pretendia
abarcar o conhecimento e a capacidade por parte do falante em fazer uso de todos os sistemas semióticos que
lhe estão disponíveis como membro de uma comunidade. Stubbs, por sua vez, refere-se ao processo de leitura
como um “psycholinguistic guessing game” (1983: 212), denunciando a natureza inacabada de um produto
sempre tido como acabado.
50
Parte I - Enquadramento Teórico
Embora a tradução para o palco venha a conhecer uma concretização em palco, o mesmo
texto oral. O papel de mediador a cumprir pelo tradutor obriga-o, portanto, a ter em
a gestão das expectativas conhece para o tradutor que assumirá determinadas escolhas
leitor.
Assumindo que os textos remetem para outros textos e que partilham características que
a de Hymes para quem a noção de género implica “the possibility of identifying formal
[g]enres are not simply schemas or frames for action. They involve, always,
characteristic ways of “text-making” (what in systemic-functional terms we could
call mode), and characteristic sets of interpersonal relationships and meanings”.
(Kress e Threadgold, 1988: 216)
12Para Halliday o conceito de “registo” abarca a relação entre textos e processos sociais, reconhecendo ao
conceito de “género” uma aplicação mais limitada e confinada ao conceito de registo, isto é, a definição do
género de um texto contribui para a compreensão do seu registo (Halliday, 1978: 145). Martin, partindo da
proposta de Halliday, faz a distinção entre género e registo e reconhece ao conceito de registo uma posição
mediadora entre o género e o discurso (Martin, 1984).
51
Parte I - Enquadramento Teórico
estratégias verbais usadas para atingir propósitos de diversas naturezas, sendo, nesse
sentido, definido por Kress como uma forma convencionalizada com “specific forms and
meanings, deriving from and encoding the functions, purposes and meanings of the social
occasion” (1985: 19). O significado de um texto não decorre apenas do discurso, mas
[…] both discourse and genre carry specific and socially determined meanings.
Discourse carries meanings about the nature of the institution from which it derives;
genre carries meanings about the conventional social occasions on which texts
arise. (Kress: 1985: 20)
história nos sistemas literário, teatral e fílmico e as funções sociais assumidas pelo género
pelas escolhas do tradutor face às expectativas suscitadas pelo género será mais um
identificação do género em que se inclui o texto, seja ela indirectamente reconhecida pelo
também das relações criadas com outros textos que definem uma linha literária em que
como “ways in which the perception and reception of a given text depends upon the
52
Parte I - Enquadramento Teórico
[…] the meanings we make through texts, and the ways we make them, always
depend on the currency in our communities of other texts we recognize as having
certain definite kinds of relationships with them […]. Every text, the discourse of
every occasion, makes sense in part through implicit and explicit relationships of
particular kinds to other texts, to the discourse of other occasions. (1985: 275)
mediação:
[…] the extent to which one feeds one’s current beliefs and goals into the model of
the communicative situation: the greater the expanse of time and of processing
activities between the use of the current text and the use of previously encountered
texts, the greater the mediation (1981: 182).
perpetuada por outros textos literários relativamente aos quais o autor se irá posicionar,
sendo possível reconhecer diferentes fontes de mediação (cf. Cap. 1, Parte II).
Concluímos assim que o nível contextual semiótico, em conexão com os níveis pragmático
sócio-semiótico que assumem por ocuparem um determinado lugar numa escala de valores
13 Considerando os contextos de situação e cultural a face não verbal de um texto, Halliday encara a
intertextualidade como a relação dialéctica que necessariamente existe entre contexto e texto: “ […] the
relationship between text and context is a dialectical one: the text creates the context as much as the context
creates the text. ‘Meaning’ arises from the friction between the two. This means that part of the environment for
any text is a set of previous texts, texts that are taken for granted as shared among taking part.” ([1985], 1991:
47).
53
Parte I - Enquadramento Teórico
mediante escolhas, será igualmente objectivo deste estudo identificar o grau de correlação
chegada.
movimentos como o New Historicism (promovido nos EUA por Stephen Greenblatt) ou o
Cultural Materialism (desenvolvido no Reino Unido por Alan Sinfield e Jonathan Dollimore)
promotores de uma visão contextualizadora do texto, cuja leitura é agora entendida como
nos poderia, a um primeiro olhar, levar a concluir quanto ao declínio ou abandono desta
perspectiva, um segundo olhar, permite-nos concluir que tal se deve antes a um amplo
consenso quanto à sua pertinência e a uma adopção generalizada dos seus princípios
pelos movimentos críticos actuais. Os ET não foram, e não são, alheios a esta nova
perspectiva. Na linha de Even-Zohar com a Teoria dos Polissistemas (1979), autores como
and Culture em 1990 o que veio a ser denominado de “Cultural Turn” nos ET. Abandonando
teias do seu contexto (críticas por vezes apontadas aos diferentes movimentos
Historicism e Cultural Materialism, agora no contexto dos ET. Embora estas tenham sido
54
Parte I - Enquadramento Teórico
perceber a motivação desses padrões e a relação que manifestam com outros elementos
dentro e fora do texto, textuais e não textuais. Afastando-se de abordagens formalistas que
que enquadra o texto, assim como as necessidades sociais e comunicativas que esse texto
procura satisfazer.
[…] the text’s formal boundaries have to be opened up, in order to enable the
search of the diverse ways in which they represent, transform and negotiate social
materials which they share with other cultural objects. As such, literary texts are
not seen as ‘containers’ of meaning, but as elements of a general system of
signification. (Pieters, 2001: 34)
O texto, literário ou não literário, é agora entendido, não apenas como meio de expressão
de conhecimento histórico ou espelho da sociedade, mas sim como elemento activo num
reconhecida uma relação dialógica entre texto e contexto que tanto rejeita a concepção de
um texto fora do seu contexto, como da história como um conjunto de factos fora do texto
enquanto disciplina.
esteira de Foucault, encaram os textos literários como espaços onde as relações de poder
acesso e a regulação do acesso ao discurso, assim como o controlo sobre este, são agora
55
Parte I - Enquadramento Teórico
ou oposição a essas relações de poder. O texto literário é agora entendido num contexto de
subverter a ordem dominante) ou contenção (meios pelos quais a ordem dominante procura
[...] the work of art is one of the places in which [a culture] gets shaped and
transmitted and empowered and questioned as well as represented and
expressed. (Greenblatt, 1988: viii)
A função do texto terá de ser definida como a aplicação ou uso do texto num contexto
texto literário na representação que uma cultura faz de si mesma leva-nos, por um lado, a
ponderar a forma como este confirma ou desafia outras representações dessa mesma
realidade e que posição assume no jogo de relações de poder; por outro, a aceitar que a
ideologia está presente e age sobre o texto literário, tal como sobre qualquer outro texto.
Neste sentido, o conceito de literatura vigente, o prestígio que lhe é conferido, a selecção
a autoria textual deverá ter em conta a posição socialmente determinada assumida pelo
autor, tanto dentro do texto como fora dele, por forma a que se tenham em conta, não só
os factores sociais e históricos determinadores da posição autoral, mas também das regras
56
Parte I - Enquadramento Teórico
e regulamentações que definem o campo discursivo em que o autor opera. O texto é neste
literatura em particular, conhece uma existência e função material dentro das estruturas
sociais de poder, na medida em que é regulada, governada e reproduzida por instituições 14;
o focar da sua atenção não apenas no contexto de produção do texto (tal como promove o
New Historicism de Greenblatt), mas também no(s) contexto(s) de recepção. Para o Cultural
identificadas nos textos, assemelha-se, portanto, ao objectivo mais vasto dos Estudos de
Tradução. O estudo das normas, que Toury apresenta como um dos objectivos dos EDT,
14A designação Cultural Materialism foi justificada pelos autores como uma tomada de posição face à Cultural
Poetics que não assumia esta face material do texto literário.
57
Parte I - Enquadramento Teórico
Mais do que procurar identificar o contexto das traduções em estudo, importa agora
desse e nesse contexto. Tal como reconhecido por Bassnett e Lefevere (1990):
Translation is, of course, a rewriting of an original text. All rewritings, whatever their
intention, reflect a certain ideology and a poetics and as such manipulate literature
to function in a given society in a given way. Rewriting is manipulation, undertaken
in the service of power, and in its positive aspect can help in the evolution of a
literature and a society. (1990: ix)
Importa agora identificar a posição que o texto traduzido assume no jogo de relações de
domínios, assim como a posição da CC face à CP. Mais do que assumir que o processo de
tradução é iniciado pela CC, importa agora identificar por que via foi patrocinada a
Alguns destes aspectos receberam a atenção de André Lefevere (1990), cujas propostas se
dominante). Lefevere descreve o sistema literário, dentro do qual a tradução ocupa o seu
assinala a adesão a uma elite e aceitação do estilo de vida associada a essa elite). É
58
Parte I - Enquadramento Teórico
entidades respectivamente;
símbolos protótipos; e uma funcional, uma noção de qual, ou qual deveria ser, o
A tradução, que Lefevere encara como o exemplo de reescrita mais evidente, possibilita o
conhecimento de determinada obra fora das fronteiras do sistema em que foi produzido,
pelo que a análise da tradução deverá basear-se no estudo dos constrangimentos e/ou
ideology, poetics, universe of discourse and language come together, mingle and
c) quem traduziu e qual a fonte de patrocínio, assim como o seu posicionamento dentro
59
Parte I - Enquadramento Teórico
60
Parte I - Enquadramento Teórico
CAPÍTULO 3
A ANÁLISE DE CORPORA EM ESTUDOS DESCRITIVOS DE TRADUÇÃO
uma linha de investigação baseada na análise de corpora em EDT pode ser encarada como
The literature on equivalence formulates linguistic and textual models and often
prescribes a specific translation practice [...]. The target orientation, in contrast,
focuses on actual translations and submits them to detailed description and
orientation. It inspires research projects that involve substantial corpora of translated
texts. (Venuti, 2000: 123)
língua igualmente reconhecida pelos Estudos Descritivos de Tradução. Autores como Toury
metodologia que torne possível, não só o estudos de corpora mais vastos, mas também a
replicação de estudos individuais. Para uma disciplina desenhada por Toury como empírica
e indutiva, baseada na descrição sistemática do objecto em corpora cada vez mais vastos
de forma a que se possam abstrair leis gerais a partir das regularidades identificadas, a
relevante para os Estudos de Tradução. Num artigo inaugural, Mona Baker (1993),
autora, a disponibilidade de corpora mais vastos, tanto de textos originais como de textos
dos textos traduzidos “as a mediated communicative event, shaped by its goals, pressures
61
Parte I - Enquadramento Teórico
and context of production” (1993: 243), sendo nesse sentido que sublinha ainda a
Segundo Baker (1993, 1996), a análise de corpora em EDT torna possível uma análise
dimensões ou porque difíceis de identificar com uma análise manual) e formular novas
Leech (1991), Stubbs (1996), Laviosa (2002) ou Rosa (2004) destacam como afinidades
mais relevantes:
defendem estudos baseados na análise de dados empíricos para que daí sejam
comportamento identificadas.
Corpus como os EDT têm por objectivo estudar o fenómeno em causa tal como ele
é e existe. Segundo Toury “what is addressed, even in the longest run, is not what
translation is in general, but what it proves to be in reality […] real life situations that
62
Parte I - Enquadramento Teórico
priori, com base em critérios quantitativos, alguns tipos de texto autêntico. Assim
como Sinclair não rejeita qualquer uso linguístico, também Toury não rejeita
qualquer texto que seja considerado como tradução pela cultura de chegada. É
investigates relations between frequency and typicality, and instance and norm. It
aims at a theory of the typical, on the grounds that this has to be the basis of
que por isso se definam como estudos de corpora. Tal como afirma Laviosa, “it is
study of aspects of the product and process of translation” (Laviosa, 2002: 9).
63
Parte I - Enquadramento Teórico
aplicação de novas metodologias para o estudo da tradução como produto, tem ajudado a
tradução. Tais desconfianças foram suscitadas por abordagens centradas em estudos que
análise de corpora em EDT propicia estudos que têm em conta, não só a análise de
contexto sociocultural que as enquadra e condiciona. Tal como afirma Tymoczko (1998),
corpora que não coincidem necessariamente com os que a Linguística de Corpus define
comparável” tem sido utilizado “to refer to a bi/multilingual corpus made up of two or more
sets of texts from the same subject of domain(s) (Sinclair, 1991, vide Laviosa, 2002: 36),
enquanto “corpus paralelo” se refere a um “corpus of original texts in language A and their
translations in language B”. Também dentro dos EDT a terminologia não é consistente, na
medida em que certos autores usam “corpus paralelo” para se referirem aos dois tipos de
corpus bilingues (Johansson and Hofland, 1994; Hartman, 1994; Gellerstam, 1996; vide
Laviosa 2000, 2002: 37), enquanto outros seguem a terminologia tradicional da análise
contrastiva fazendo a distinção entre “corpus de tradução” (textos original numa língua A e
respectivas traduções numa língua B) e “corpus paralelo” (textos originalmente escritos nas
64
Parte I - Enquadramento Teórico
explicativo das relações de tradução que unem estes textos. Segundo Baker:
Their most important contribution to the discipline in general is that they support a
shift of emphasis, from prescription to description. They allow us to establish,
objectively, how translators overcome difficulties of translation in practice, and to
use this evidence to provide realistic models for trainee translators. They also
have an important role to play in exploring norms of translating, in specific socio-
cultural and historical contexts. (Baker, 1995: 231)
constituídos por dois corpora simples: um translato e outro não-translato. Têm por
Laviosa desenvolve uma tipologia em quatro níveis procurando dar conta dos diferentes
tipos de corpora possíveis em Estudos de Tradução (cf. III-1.2.1). Kenny (1999a), com base
nos estudos de Baker e Laviosa, propõe uma outra organização das categorias propostas
que assenta no cruzamento de duas distinções distintas: um primeiro grupo que faz a
1 Este tipo de corpora tem proporcionado contribuições importantes para a primeira fase de análise proposta
por Toury (Laviosa, 2002: 13), em que se estuda o TC em termos da sua aceitabilidade na cultura de chegada
sem que o TP seja tido em consideração.
65
Parte I - Enquadramento Teórico
distinção entre corpora monolingues, bilingues e multilingues, e um segundo grupo que faz
Corpus simples
Simples ***** *****
monolingue
2 O corpus simples monolingue consiste num conjunto de textos numa mesma língua, seja essa a língua em que
foram escritos originalmente ou a língua para a qual foram traduzidos (Laviosa, 1997, 2002). Os resultados
obtidos com este tipo de corpora permitem reforçar o conhecimento de regularidades comuns na língua de
chegada (Kenny 1999a).
66
Parte I - Enquadramento Teórico
algumas reservas a autores como Malmkjaer (1998), Tymoczko (1998), Hermans (1999),
Mason (2001), Laviosa (2002) ou Olohan (2004) que, não deixando de reconhecer os pontos
positivos desta parceria, alertam para alguns cuidados que não devem ser esquecidos. Um
normalmente utilizados apresentam sérias limitações, não só por muitas vezes ser atribuído
especial relevo a determinados fenómenos, ficando outros fora da análise, mas também por
tornarem bastante difícil a análise de características textuais, isto é, será difícil proceder-se
a uma análise automática que vá além do nível frásico (Malmkjaer, 1998; Laviosa, 2002). É
traduzido para cada texto original, fazendo com que os resultados obtidos, além de
investigadores, aturdidos pelo peso dos dados quantitativos, não alargarem o âmbito da
sua pesquisa. A fiabilidade conseguida pela aplicação de uma análise automática ou semi-
automática não poderá ser o objectivo último do estudo, pelo que os resultados
quantitativos deverão ser complementados por um estudo mais abrangente que, tendo em
concentrar apenas no que os textos têm em comum, e não tanto naquilo que os distingue
67
Parte I - Enquadramento Teórico
A aplicação de uma metodologia deste tipo parece, neste sentido, exigir do investigador a
[…] corpus linguistics does not lend itself to abstraction: we cannot search for
something like simplification in a corpus. We have to ask ourselves first what kind of
concrete manifestations each feature might have in a text, and then we have to
consider how we might locate these concrete manifestations, by no means an easy
matter. (Baker, 1997: 179)
Estudos de Tradução, Mona Baker alerta, num artigo de 1999, para a necessidade de se ter
of the public, the assumption or claims of the theorists, and the actual practice of
Tradução.
a partir dos dados. Baker parece concordar que esta será a abordagem mais proveitosa:
My own feeling is that the process of refining the definition will go hand in hand with
that of verifying the feature: definition and verification are interdependent in the
sense that it is only by investigating the various concrete manifestations of these
abstract notions that we will be able to refine the concepts themselves. (Baker, 1997:
180)
68
Parte I - Enquadramento Teórico
corpora não deixa de se apresentar como uma mais valia para o estudo individual, que não
seria possível com uma metodologia de análise manual, mas também o valer-se de
instrumentos informáticos que permitem resultados mais fiáveis ao mesmo tempo que
O presente estudo recorre a um corpus paralelo electrónico não alinhado, esperando com
3No presente estudo foi utilizado a versão 4.68 for Windows do programa informático Systemic Coder (Maio de
2005), desenvolvido por Michael O’Donnell da WagSoft Linguistics software. O programa está disponível em:
http://www.wagsoft.com/coder/.
69
Parte I - Enquadramento Teórico
70
Parte
II
Modelo de Análise
A Variação Linguística
CAPÍTULO 1
A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA
recurso mimético de que o autor tira partido tendo em vista a caracterização indirecta das
procurando dar conta dos elementos extralinguisticos em jogo, do valor sociocultural que
sendo possível fazer a distinção entre variedades relativas ao uso (registo) e ao usuário
al., [1983] 1999; Cunha, 1984; Halliday e Hasan [1985]1991; Bell, 1991; Ferreira et al., 1996).
ou pedagógicos), adquire maior prestígio, passando a ser identificada pelos falantes como
o uso correcto da língua, a norma ou o padrão. Parece ser, portanto, uma consequência
natural que, na maioria das vezes, seja seleccionada como variedade padrão, aquela
71
Parte II - Modelo de Análise
utilizada por falantes pertencentes aos estratos socioculturais mais altos. O estatuto e o
Autores como Trudgill e Hughes fazem antes a distinção entre dialecto, referente a
à diferenciação de natureza fonética (1979: 2). Embora esta não seja a terminologia ou a
consideração, na medida em que esta distinção poderá dar conta de situações em que a
variedade padrão conhece diferentes pronúncias, sem que tal funcione como marcador de
(1979: 8) 1.
de estereótipos
social desta variedade como a língua oficial, da cultura e do ensino precipita a identificação
das restantes variedades como subpadrão, uma identificação motivada por um juízo de
valor estabelecido com base na noção de desvio face à norma (Traugott, 1980: 323). Tendo
falantes de estatuto social mais elevado e que o grau de desvio face a essa norma será
mais acentuado no seio dos falantes de estatuto mais baixo, rapidamente concluímos
quanto à estreita ligação entre a língua e a estrutura social, que, com base nos seus
1 Segundo Trughill e Hughes “‘received’ here is to be understood in its nineteenth-century sense of ‘accepted in
the best society’” (1979: 2). Assim sendo, o dialecto mais prestigiado na sociedade britânica é o “standard
English” e a pronúncia mais prestigiada é a “Received Pronunciation” (RP).
72
Parte II - Modelo de Análise
estratos socioculturais mais baixos e relacionadas com espaços geográficos que não o
Standard dialects and prestige accents acquire their high status directly from the
high status social groups that happen to speak them, and it is because of their
high status that they are perceived as “good” and therefore “pleasant. (Trudgill e
Giles, 1978: 178)
Será importante reconhecer que esta hierarquização dos falantes é feita com base no
senso comum destes, levando à criação de estereótipos a que se pode reconhecer uma
estereótipo como “os traços mais facilmente referidos pelos falantes da língua como
típicos de uma variedade linguística que não seja muito promovida” (Rodrigues, 2002: 2).
Tais traços são frequentemente estigmatizados e manobrados pelos falantes com fins
de normas literárias, teatrais, fílmicas, etc., assim como de normas linguísticas específicas
cada participante no diálogo. Importa agora perceber como é feita a recriação destas
73
Parte II - Modelo de Análise
O uso de variedades linguísticas como recurso mimético pode ser reconhecido em textos
semelhantes em autores como Chaucer, na sua poesia satírica; no drama dos séculos XVI e
XVII, em autores como Shakespeare ou Ben Jonson, com objectivos de “expose affectation
romance, com autores como Scott, Wilde, Dickens, Brönte ou Hardy (Chapman, 1994). O
Será agora importante definir o que neste estudo se assumirá como dialecto ficcional. Para
tal foi recuperada a definição de Lane-Mercier de dialecto literário que consideramos ser
aplicável, não só ao texto literário, mas também ao texto teatral, televisivo e ficcional em
geral:
economia do texto. Não procurando ser uma fiel representação do discurso real, estará, no
2 A falta de estudos sobre a recriação de variedades linguísticas em texto literário no sistema português e a
impossibilidade de persecução dessa análise no presente estudo, levou a que as considerações feitas
relativamente a autores portugueses, cujas obras pode ser reconhecida a recriação de variedades linguísticas,
se tenha baseado quase exclusivamente na experiência da autora do presente estudo enquanto leitora.
74
Parte II - Modelo de Análise
que meios linguísticos tira partido, e pragmáticas, relativamente aos propósitos que procura
cumprir. É em todas estas formas de mediação da recriação que este estudo focará a sua
Segundo Trudgill e Hughes (1979) os falantes identificam três tipos de desvios que levam o
língua, marcas de oralidade e marcas dialectais, afirmando Trudgill que “since this dialect
[standard variety] is to a considerable extent codified, it requires only one deviation from this
norm for a stretch of speech or writing to be perceived as non-standard” (1979: 10). O grau
de frequência de marcas linguísticas desviantes face à norma será variável de texto para
texto, sendo possível reconhecer diversos factores determinantes nessa decisão: a pressão
legibilidade e de inteligibilidade (Ives, 1950: 148). Tal como Chapman afirma “the variety of
visual devices is interesting for what it reveals about the background of the novelist, but it is
secondary to the reader’s response to the dialogue in its context” (1994: 245).
Ambos os autores procuram alertar para o facto de, embora em texto ficcional se criar a
ilusão de discurso autêntico, o realismo formal não ser desejado ou esperado3 . De facto, as
marcas de que os autores tiram partido são o resultado de uma selecção pertencente a um
repertório de textos ficcionais estabelecido pela tradição do sistema a que pertencem e que
nível sociocultural e não linguístico, de que os escritores tiram partido como forma de
determinantes na selecção das marcas linguísticas, assim como na sua frequência, sob
3 Tendo em conta a natureza ficcional da variedade linguística em texto literário, foi anteriormente proposto o
conceito de pseudo-dialecto (Rosa, 2004), assim como a distinção entre standard literary dialect e non-standard
literary dialet (Määtä, 2004).
75
Parte II - Modelo de Análise
mimética do diálogo é, assim, relegada a uma posição secundária face ao seu poder
dialectal é tacticamente ignorada até que o texto exija que esta se torne específica e
leitores em Pygmalion que “[…] with apologies, this desesperate attempt to represent her
[f]or the reader, all that matters is that Mrs Bolton is a ‘low’ character, who helps to
further the plot and gives some comic relief by contrast with the standard
speakers. […] Why does head keeps its aspirate, while hospital loses it? Again, the
question is not relevant to the general effect which the novelist succeeds in
creating. (1994: 22)
É assim compreensível que a gama de variedades seja reduzida, acabando por se centrar
maioria dos casos o autor, assim como o tradutor, não deter um conhecimento linguístico
aprofundado capaz de uma descrição detalhada da sua própria língua, recorrendo, como
76
Parte II - Modelo de Análise
Assim como os dialectos podem diferir da variedade padrão em diversos níveis, também a
O facto de, na maioria dos casos, os dialectos não conhecerem um sistema ortográfico
oficial, faz com que o escritor, assim como o tradutor, possa tirar partido de marcas
língua, qualquer desvio face a essa norma ortográfica seja facilmente detectável e promotor
ortografia padrão a que foi atribuída a designação de “eye-dialect”. Este tipo de desvio,
na medida em que as marcas linguísticas que salienta, além de não serem utilizadas de
forma regular e coerente, mais não fazem que aproximar o discurso escrito do discurso
oral, isto é, não podem ser identificadas como marcas linguísticas subpadrão, mas sim
As the author attempts to transmute vocalized sounds into ink, he finds several
available to the task [...]. He can tailor the diction to reflect large or limited
vocabulary, informal colloquialisms, and regional idioms. And he can use “eye
dialect”. That is, usually by adding an apostrophe to the twenty-six letters of the
alphabet, he can twist standard orthography to suggest nonstandard
pronunciations. [...] [E]ye dialect is intrinsically neither consistent nor fair-handed.
It is not consistent because it is impossible to show all speech variations by using
the standard alphabet. Hence only a few words are misspelled - just enough to
indicate ignorance and locality [...]. (Walpole, 1974: 192 e 193)
Embora este seja um tipo de marca bastante recorrente, não deixa de ser interessante
verificar que tanto Page ([1973] 1988: 57, 69) como Dimitrova (1997: 52) concluem que os
77
Parte II - Modelo de Análise
dialectos literários são sobretudo marcados em termos lexicais, desvios mais claros e,
(2000), de que os falantes detêm uma maior consciência de classes aberta (lexicais) do que
cultural e o sistema em que operam. Neste sentido, espera-se que a análise semi-
linguísticos de que mais se tira partido nas traduções portuguesas dos textos de Bernard
Shaw e Alan Jay Lerner, e qual o grau de mediação da variável meio na frequência e
Recuperando a distinção desenvolvida por Lyons (1977, vol. I: 32-33) entre uma
Page encara o dialecto ficcional como uma variável “dependent on the demand of the
fictional situation rather than on the probable behaviour of an actual speaker” ([1973] 1988:
4 O corpus seleccionado por Brodovich consistia num corpus comparável monolingue onde foram reunidas, no
corpus translato, as traduções russas de Pygmalion de G. B. Shaw e de Of Mice and Men de J. Steinbeck e, no
corpus não-translato, as obras de quatro autores russos, A. Ostrovsky, F. Abramov, V. Astafiev e V. Belov.
78
Parte II - Modelo de Análise
‘ordem de comportamento’, vai mais longe, afirmando que “simultaneously attests to the
author’s own sociolinguistic positioning and foregrounds his or her ideological and political
agenda” (1997: 47). Para a autora, mais do que participante na produção de significados ao
estudo, podemos identificar como mais relevantes: os propósitos a cumprir pela recriação,
a tradição em que se insere o texto e factores vários como a legibilidade ou o meio. Tendo
em conta o período em estudo, deverá ainda ser ponderado, no caso dos textos
funciona, assim, como recurso narrativo que contribui para informar o leitor sobre quem fala
da personagem.
O discurso das personagens pode ser considerado marcado ou neutro, isto é, o texto pode
quem fala, do seu estatuto social, da circunstância em que fala ou da relação interpessoal
associação feita pelo falante comum entre o meio escrita e a variedade padrão, podemos
entender que a variedade padrão seja interpretada como discurso neutro, levando a
79
Parte II - Modelo de Análise
([1973] 1988: 55 e 76) ou Dimitrova (1997: 58) uma função de integração e identificação de
Para além desta, podem, no entanto, ser identificadas outras funções ou propósitos
da acção como das personagens (Dimitrova, 1997), em obras como The Sound and the
Fury de Faulkner parece antes cumprir o objectivo de focalização narrativa, isto é, participa
na definição do ponto de vista narrativo, indicando sob que perspectiva são descritos os
discurso como uma possível função da recriação de variedade em texto ficcional. Este
na medida em que o recurso a variedades, não só contribui para uma recriação mais
verosímil ou autêntica (por vezes referida como mais “realista”), como ainda assiste o leitor/
Por outro lado, o uso de uma variedade ficcional pode ainda cumprir o propósito de
comédia – “[a] comédia é, como dissemos, imitação de homens inferiores; não todavia,
quanto a toda a espécie de vícios mas só quanto àquela parte do torpe que é o
ridículo” (2000: 109) – e a associação feita entre discurso dialectal e o baixo carácter da
80
Parte II - Modelo de Análise
textos ou momentos cómicos. A isso se deverá, tal como aponta Page ([1973] 1988: 57),
que o recurso a variedades ficcionais tenha estado praticamente confinado à comédia até
Basil Hatim e Ian Mason (1997: 27-28) relativamente ao uso linguístico, através dos quais os
autores procuram dar conta de instâncias de discurso mais ou menos desafiadoras das
expectativas do leitor. Esta avaliação seria feita com base num contínuo onde num dos
cómico apenas tomará lugar se houver uma desadequação entre discurso e circunstância,
isto é, o romper das expectativas do leitor, nomeadamente pela selecção de um registo tido
como inadequado numa determinada situação (seja pelo assunto tratado, os interlocutores
momento cómico que Aristóteles reconheceu como elemento promotor dos momentos de
Tanto a forma assumida pela recriação literária, como as funções que hoje lhe
reconhecemos, foram em grande medida definidas pela tradição literária e por um evocar
constante deste tipo de recurso por diversos escritores. Page ([1973] 1988) refere-se a uma
81
Parte II - Modelo de Análise
televisivo. É agora objectivo deste estudo procurar delinear melhor a que tradições nos
teatral ou televisivo.
Relativamente ao sistema literário inglês, autores como Mills (1972), Blake (1981, 1995),
Page ([1973] 1988) ou Chapman (1994) apontam a Reeve’s Tale de Chaucer como o
primeiro caso onde é possível identificar a recriação literária de um dialecto regional, pelo
cuidado em dar conta do discurso particular dos estudantes de Cambridge. Ainda que seja
este dispositivo não começou por florescer no sistema literário ou, em particular, no género
variedades linguísticas, pertencendo ao género poesia épica, seguiam uma norma literária
Foi assim no sistema teatral que o recurso a variedades mais se desenvolveu numa primeira
fase. Um primeiro exemplo remonta ao século XV com a peça The Second Shepherd’s Play,
uma das Mystery Plays do Wakefield Circle, onde Mak, um ladrão de ovelhas, assume o
variedades linguísticas para fins cómicos eram evidentes desde os textos clássicos de
82
Parte II - Modelo de Análise
segundo plano, com a comédia de costumes esta retoma a sua centralidade, mostrando-se
Será relevante ter em consideração que o modo dramático veio apenas a conhecer um
maior desenvolvimento nos séculos XVIII e XIX, pelo florescer de um público leitor e
diversas editoras que promoveram a publicação de textos teatrais e a sua circulação como
assistissem o leitor na interpretação do texto, entre eles, o recurso a marcas gráficas numa
a tensão existente entre discurso oral e discurso escrito, vêm a recorrer a dispositivos já
uso, ainda que tímido, de certas marcas gráficas em autores como Smolett ou Fielding, que
vêm tirar partido do estabelecimento de uma norma ortográfica face à qual qualquer desvio
cumprir apenas a função de produção de cómico, sendo apenas com Walter Scott que,
atribuindo-lhe uma especial relevância, a faz sobressair agora não com uma função cómica,
mas num uso heróico ou trágico. Recorrendo a marcas visuais, que sabia inteligíveis para o
leitor de então, não só contribuiu para a credibilidade do dialecto regional ficcional, como
introduziu algo que viria a ser amplamente explorado pelos autores vitorianos – a distinção
entre os níveis social e educacional dentro de uma mesma região. Ficava assim provada a
(Chapman, 1994: 19), conhecendo agora outras funções que não apenas a produção de
procurava esclarecer a não inferioridade dos dialectos regionais, enquanto dava conta das
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Parte II - Modelo de Análise
identificada em autores como Maria Edgeworth, Elizabeth Gaskell (Mrs Gaskell), Emily
grupo social e do estrato social. Dickens é apontado por diversos autores como o
romancista que mais terá desenvolvido a representação de discurso de classe social baixa,
recriação de dialectos regionais e citadinos nas suas obras, sendo, no entanto, alvo de
Embora seja possível constatar que, tanto em texto literário como em texto teatral, as
com diferentes significados sociais foram recebendo maior ou menor atenção. O primeiro
dialecto a trilhar o caminho no discurso ficcional terá sido o dialecto rústico do Sul, sendo
apenas no século XVII que o dialecto do Norte terá conhecido alguma atenção por parte de
certos escritores. Contudo, ainda que diferentes autores tirem partido de diferentes
dialectos, estes são sempre de natureza regional. Será por via do movimento Romântico,
começam a receber maior atenção (Blake, 1981: 18). Nesta alteração de atitude não terão
industrialização do séc. XIX que não só levou ao surgir de novas classes sociais e à
alteração da geografia da cidade como também ao suscitar de curiosidade por certas áreas
geográficas que assumiam agora uma importância cada vez maior. Havia agora a
necessidade de uma variedade capaz de representar uma classe social baixa própria da
cidade que os escritores vitorianos queriam ver retratada, necessidade essa que veio a ser
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Parte II - Modelo de Análise
classes sociais mais baixas e de baixo nível de escolaridade. Seria agora também a
variedade privilegiada na produção de cómico, vindo a sua utilização a não se cingir apenas
Almost over night Cockney became the principal vulgar language [...]. In many
ways this is not surprising since it contrasts readily with the standard and since it
was probably better known to the average author and reader than any regional
dialect […]. In the second half of the eighteenth century, comments on vulgar
London pronunciations begin to appear with increasing frequency in grammars
and other works on language. The effect of these grammatical works was to make
Cockney better known and hence to be accepted as the epitome of bad usage.
(Blake, 1981: 118)
Embora o “cockney” tenha sido primordialmente utilizado com fins cómicos, no período
vitoriano, e principalmente sob a pena de Dickens, começa a ser utilizado como marcador
de classe e não tanto como dispositivo cómico. Essa linha vem a ser retomada por Bernard
Shaw que faz uso do “cockney” na maioria das suas peças, nomeadamente Man and
Superman (1903), Major Barbara (1905), Passion, Poison, and Petrification (1905), Getting
Married (1908) e Pygmalion (1914), levando Mills (1972) a apontar Pygmalion como o
refinamento último das técnicas de recriação literária que vinham a ser testadas nas peças
antecedentes (1972: 56). Contudo, o destaque conquistado por Bernard Shaw na história
da recriação do “cockney” não passa apenas pela recorrente presença deste nas suas
peças, mas antes por uma atenção cuidada que lhe dedica e que o leva a desenhar uma
nova convenção ortográfica que considerava mais próxima da realidade. Se autores como
ortográfica estabelecida pela tradição literária, autores como Bernard Shaw ou H. G. Wells
consideram, não só mais próximas da realidade, como mais próximas do leitor e da sua
uma tradição, tornou-se “fossilizada” (Blake, 1995: 14) e, segundo Bernard Shaw,
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Parte II - Modelo de Análise
por via da sua experiência enquanto leitor e espectador, não reconhecia as marcas
segundo como promotor de um desafio da norma escrita literária e uma cada vez mais
dramático. A natureza oral dos textos teatral e fílmico televisivo constituiu-se sempre como
elemento promotor do recurso a marcas distintivas do discurso, por forma a que uma maior
conseguida5.
A falta de estudos com uma análise geral da recriação de variedades linguísticas nos
sistemas literário, teatral e fílmico português, e não cabendo tal análise no contexto do
presente estudo, não nos permite oferecer aqui uma resenha dos diferentes contornos que
essa recriação terá recebido no sistema português. Contudo, estudos pontuais dedicados à
obra de diferentes autores e textos dos sistemas literário, teatral e fílmico portugueses
Almeida Garrett, Eça de Queirós, Vitorino Nemésio, Maria Velho da Costa ou Lídia Jorge
entre outros. No sistema teatral não será certamente esquecida a longa tradição iniciada
por Gil Vicente do uso de variedades ficcionais para a introdução de momentos cómicos e
5 O discurso em palco, assim como no ecrã de televisão, embora francamente mais próximos do discurso oral
real, não deixam de ser mediados pelas normas e tradições dos sistemas em que operam. O choque e a
surpresa motivados pela utilização da expressão “Not bloody likely” em Pygmalion (acto III) e My Fair Lady (Acto
I, cena 6) parecem confirmar essa realidade. De entre os diversos jornais que dedicaram espaço a uma revisão
crítica da peça, podemos destacar as palavras do Daily Sketch que sob o título de “The Pygmalion Sensation!
Mrs Campbell swears on stage and cultured London roars with laughter” continuava no corpo do texto com a
seguinte afirmação: “Mrs P C uttered the Unprintable Swearword at His Majesty’s Theatre on Saturday night and
the play stopped for a full minute till the audience had done laughing” (1914: 15).
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Parte II - Modelo de Análise
revista popular. Também no sistema fílmico é possível encontrar exemplos tanto nos filmes
clássicos das décadas de 40 e 50, como em filmes mais recentes onde diferentes
discurso, foi já por vários estudos (Rosa, 1997, 1999, 2001, 2004; Ramos Pinto 2006)
acentuada.
televisivo nos dois sistemas culturais pertinentes para o presente estudo, cabe-nos agora
tentar perceber de que forma têm os diferentes sistemas em estudo trabalhado a realidade
Neste sentido, e seguindo os estudos de Page ([1973] 1988: 47-48) e Chapman (1994: 226),
é importante dar conta da estreita ligação que parece haver ao longo de quase todas estas
poderá não assumir grande significado no texto teatral, na medida em que o público não
dramáticos se torna uma prática corrente. A oposição padrão vs subpadrão é, assim, não
didascálias (ou discurso do narrador no caso do filme) e o discurso das personagens. São
reconhecidas excepções nas peças de J. M. Synge que faz uso da variedade irlandesa do
inglês em toda a sua obra; contudo, será importante notar que só um leitor fora do espaço
irlandês identificaria ainda esse discurso como dialectal, na medida em que este traduzia o
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Parte II - Modelo de Análise
igualmente reconhecido por diversos autores - Page ([1973] 1988: 47-48), Blake (1981: 13) e
elevado estatuto diegético não permite a associação a variedades tidas como inferiores
literário, considerou-se, com base em outros estudos (Mills, 1972; Trussler [1994] 2000;
Innes, 1998), possível estender a presença deste factor mediador tanto ao texto dramático,
como aos sistemas teatral e fílmico televisivo. Com excepção de Pygmalion, já apontado
variedades, as restantes obras de Bernard Shaw seguem este princípio, como disso são
Brassbound’s Conversation (1899), Candida, Man and Superman (1903) e John Bull’s other
[…] for the first and only time, Shaw uses comic speech as a necessary condition
of the central action of his play. The speech of the other low comic agents adds to
the general merriment of the plays in which they appear in a strictly tangential
fashion. (Mills, 1972: 56)
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Parte II - Modelo de Análise
Segundo autores como Page ([1973] 1988), Blake (1991) ou Dimitrova (1997), esta
[I]t will be important to use non-standard language most fully when a character
who uses it is introduced, since that helps to categorise them, or at moments of
stress, since that draws attention to his difference which may be one of the
causes of stress. For the rest of the time the non-standard language will
probably be played down. […] Furthermore, too extended a use of non-standard
language could lead to incomprehension on the part of the reader since it is
inevitable that the character will eventually have to resort to less familiar words
and phrases. (Blake, 1981: 13)
Um outro factor determinante na forma a assumir pela recriação será o meio a que se
processo de recriação.
Por último, será ainda relevante ter em consideração certos movimentos de censura como
Historicism e tal como discutido em I-2.2 deste estudo, a sociedade é aqui ponderada
como um sistema de circulação onde os seus elementos constituintes são mediados pela
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Parte II - Modelo de Análise
que o levam a ser comummente entendido na sua acepção mais restrita de exame crítico
censura é de tal forma complexo que o seu significado não poderá ficar restrito às práticas
mensagens ou acções de ódio, obscenidade em nome do bem público geral (Merkle, 2002:
13). No presente estudo, censura será apenas entendido enquanto prática de um governo
90
Parte II - Modelo de Análise
CAPÍTULO 2
TRADUÇÕES ORIENTADAS PARA A PÁGINA, O PALCO E O ECRÃ
Tal como definido no capítulo introdutório, o presente estudo tem por objectivo, não só a
resolução dos problemas, este estudo pretende avaliar o grau de influência da variável meio
Ainda que neste estudo sejam apenas considerados os textos produzidos pela mão do
tradutor e não o texto revisto e reformulado numa fase posterior, a variável meio não deixou
detrimento de outras.
tradução para a página tem sido reconhecida, e por muitos defendida, uma maior
capítulo tem por objectivo ponderar as diferentes características de cada um dos meios em
estudo, assim como apresentar uma revisão dos estudos mais relevantes, não só
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Parte II - Modelo de Análise
relativamente a cada um dos meios em si, como também à tradução orientada para cada
um deles.
da sua tradução será a profusão terminológica onde termos diferentes são empregues
relativamente ao que aparenta ser o mesmo conceito ou, pelo contrário, o mesmo termo é
problema coloca-se não só pela diversidade terminológica em certos casos, mas também
pela inexistência de termos em português que dêem conta das diferentes posições do texto
dentro de cada sistema em que pode circular, das várias orientações da tradução possíveis
parece ser reveladora, não só do carácter recente desta reflexão no contexto português,
textos dramáticos, assim como da proeminência que é reconhecida ao texto face aos
restantes elementos em palco. Posto isto, este subcapítulo será dedicado à clarificação e
estudo reconhecer, dentro de cada um deles, o sistema dos textos originalmente escritos
numa determinada língua e o sistema dos textos traduzidos para essa mesma língua. No
primeiro caso, será ainda necessário fazer a distinção entre o texto enquanto elemento
singular e o texto como parte integrante de um todo e em interacção com outros elementos
verbais ou não verbais. Em consequência, será assim feita a distinção entre argumento
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Parte II - Modelo de Análise
dramático, argumento teatral, argumento televisivo e texto dramático, texto teatral, texto
deverá igualmente ser considerada a distinção entre o texto traduzido com uma orientação
como parte de um produto final onde outros elementos também participam. Será assim
feita a distinção entre tradução para publicação, tradução para teatro (em substituição do
TP), assim como entre texto dramático na LC, texto teatral na LC, legendagem teatral na LC,
Serão abandonados termos como ‘adaptação’ ou ‘versão’, considerados pela autora como
não operativos pela resistência que apresentam ao processo de definição, mas também por
denunciarem uma assumpção implícita do texto como norma face ao qual qualquer desvio
deve ser denunciado. O argumento a favor de tais conceitos reclama a necessidade de dar
conta do grau de intervenção no texto por via das alterações a fazer aquando da
1 Embora seja por diversos autores utilizado o termo tradução teatral (theatre translation) com o mesmo
significado com que neste estudo é utilizado tradução para teatro, optou-se por cunhar um novo termo de forma
a evitar o significado também atribuído a tradução teatral como processo de transposição do texto escrito para
o palco (Zuber-Skerrit, 1980a). Tal como anteriormente apontado por Ubersfeld ([1978] 1999) e Bassnett-
McGuire (1981, 1985), o uso do termo tradução para o processo de transposição para o palco da acção
descrita em texto, contribui para uma atitude de proeminência do texto escrito, com a assumpção explícita de
que o processo de tradução do texto em acção tem igualmente de ser ‘fiel’.
Em prol da coerência do argumento, optou-se pelo termo tradução para televisão, relativamente ao texto a
circular no sistema televisivo.
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Parte II - Modelo de Análise
afastamento face ao texto de partida, sendo que o conceito de tradução manifestaria uma
tradução literal, a uma interpretação particular deste. As opiniões são diversas, assim como
por uma certa sobreposição dos conceitos adaptação e versão, mas fundamentalmente,
por uma não demarcação do alcance dos conceitos que nos permita distinguir um texto
conduz, por um lado, à negação da tradução como acção em contexto que manifestará
sempre contornos diferentes porque mediada e condicionada por factores distintos e, por
texto de acordo com certos propósitos definidos no contexto de chegada (Hermans, 1985:
Aristóteles, cuja defesa do drama como modo primordialmente literário deu início a uma
discussão repleta de reacções a favor (de defesa do texto dramático como texto literário e
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Parte II - Modelo de Análise
nomeadamente de autores como Brecht ([1964] 2001), Stanislavski (1968), Styan (1971) ou
Ubersfeld (1996) que consideram o drama como pertencente apenas ao sistema teatral.
Este extremar de posições levou à distinção entre texto dramático e texto teatral que,
prioridade do texto dramático conduz a uma ponderação do texto longe dos elementos que
restantes elementos 2, leva o texto a perder a sua posição de base da representação. Esta
segunda posição, procurando reagir à atitude de primazia do texto e tendo como vozes
ou Ubersfeld ([1978] 1999), assumia dois postulados principais: o texto como apenas um
dos sistemas que compreendiam o espectáculo teatral3 ; o texto escrito como algo
incompleto (“troué”) quando fora da representação (Ubersfeld, [1978], 1999: 7-8)4 . Segundo
a distinção entre os dois não pode deixar de ser errónea, sendo possível reconhecer o seu
Esta última, baseada no conceito de equivalência entre texto escrito e a sua representação,
2 Segundo críticos como Artaud em The Theatre and Its Double ([1958], 1993) as posições extremas de negação
do texto, nomeadamente do teatro avant-garde que declara que no centro/início está o gesto e não a palavra,
encontram a sua justificação no facto de ter sido continuamente negado ao teatro a natureza de arte com uma
linguagem própria e não apenas de texto representado.
3Procurando salientar a condição do texto como parte de um todo, Kowzan (1975) define cinco categorias de
expressão a compreender um espectáculo teatral: o texto proferido em palco (podendo ou não haver um guião
escrito); a expressão corporal; a aparência exterior do actor (gestos, características físicas, vestuário); o espaço
de representação (dimensão, efeitos de luz, cenários); o som não proferido pelos actores.
4 Ubersfeld, recuperando o exemplo de cena de abertura de Le Misanthrope de Molière, procura salientar o
facto de o leitor não dispor de informação relativamente à situação contextual do texto em si, podendo vir a
questionar-se sobre se os actores já estão em palco, quando ou como chegam eles, qual deles segue os
movimentos do outro, etc. Não aceitando a possibilidade do texto dramático para leitura, a autora propõe a
distinção entre texto escrito (T), a representação (P) e o texto que é mediado entre estes dois e que será
necessariamente uma componente da representação (T1), desenhando assim a soma de T + T1 = P, em que o
T1 será o texto que providenciará as respostas suscitadas pela incompletude do T ([1978], 1999: 9-10).
95
Parte II - Modelo de Análise
nos conduz, uma vez mais, ao mito da leitura única e, consequentemente, de uma forma
juízos de valor que assumem o texto escrito como norma. Não deixando de reconhecer a
que este contém matrizes de performatividade que a leitura feita sob as convenções de um
Our initial premise is that within the theatrical text there are matrices of
‘performativity’. A theatrical text can be analysed by procedures that are (relatively)
specific to it, procedures that bring to light kernels of theatricality contained within
the text. [...] Although we can read Racine as we do a novel, to do so will in no way
enhance the intelligibility of Racine’s text. (Ubersfeld, [1978], 1999: 8)
Entre estas duas posições estremadas, houve, no entanto, espaço para vozes mais
a ambos os sistemas. Este autor considerou que a percepção de cada um dos textos será
feita dentro das convenções de cada sistema – segundo as convenções cénicas, quando
em livro, permanecendo a eventual ligação que este possa ter com a representação fora
All plays, not only closet plays, are read by the public in the same way as poems and
novels. The reader has neither the actors nor the stage but only language in front of
him. Quite often he does not even imagine the characters as stage figures or the
place of action as scenic set. Even if he does the difference between drama and
theatre remains intact because the stage figures and scenic sets are then immaterial
5 Short (1998) parece assumir a mesma posição de que o leitor consegue aceder ao significado do texto através
de um complexo, mas natural, processo de suposição e inferência a partir dos movimentos denunciados no
discurso das personagens e da informação disponibilizada nas didascálias. Diversos autores alertam para o
facto de poderem ocorrer diferentes tipos de leitura, não só porque diferentes são as leituras realizadas pelos
diversos intervenientes no processo (tradutor, encenador, actores, cenógrafos (Short, 1998: 7), mas também
porque será necessário fazer a distinção entre a leitura realizada antes ou depois da representação do mesmo
texto, tanto pelos intervenientes na representação como pelo leitor comum que lê o texto dramático (Bassnett,
1997: 101).
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Parte II - Modelo de Análise
meanings whereas in the theatre they are the material bearers of meanings.
(Veltrusky, 1977: ---)
Embora esta discussão tenha ganho novos contornos por via de diferentes propostas no
sistema dramático com vista à publicação e o sistema teatral com vista à representação.
literário e teatral, pelo que não podem deixar de ser tidos em consideração sistemas como
sistemas e a movimentação dos textos entre eles é talvez hoje mais evidente do que
alguma vez o foi. É agora tempo de trazer a uma discussão centenária novos elementos
pela consideração de novos sistemas, das condicionantes e tipos de texto que cada um
compreende, assim como das relações que entre eles se estabelecem a cada momento.
estabelecidas entre eles, tanto dentro de um mesmo sistema cultural, como entre sistemas
procedimentos de tradução.
Embora a relação entre os sistemas dramático e teatral seja mais evidente pela frequente
6 Será fundamental reter a noção de que a identificação de diferentes sistemas tem sido sempre definida (e
assim continua a ser) dentro do contexto ocidental e que generalizações fora desse contexto ocidental serão
difíceis de alcançar pela diferença existente entre convenções, principalmente no que respeita a convenções
teatrais e cinematográficas.
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Parte II - Modelo de Análise
texto literário, relaciona-se com outros textos e géneros literários; os textos teatral e
televisivo, por sua vez, estabelecem um diálogo com outros textos teatrais e televisivos,
com outras estéticas de encenação e realização, assim como com os restantes elementos
que, juntamente com o texto, compreendem o todo semiótico que são os textos teatral e
televisivo. O texto escrito conhece o seu contraponto no texto oral a ser representado (seja
em teatro ou filme), mas com ele não pode ser confundido. Diversos são os casos em que
autonomia de cada um deles – não será difícil identificar exemplos de textos dramáticos
que já não são, ou nunca foram, representados em palco (“closet drama”) ou filme, de
textos fílmicos que não conheceram qualquer publicação. Contudo, nem sempre os casos
são tão claros e as fronteiras entre os sistemas tão bem definidas ou exclusivas. Não só
porque o texto pode manter diferentes tipos de relações com o espectáculo ou filme (pelo
que será relevante perceber qual a posição assumida pelo texto dentro da representação
ou do filme 7), mas também por certos textos poderem pertencer a mais do que um sistema
textos poderão ainda circular para um contexto cultural diferente, mantendo-se ou não
dentro do mesmo sistema, por exemplo, um texto dramático numa língua A pertencente ao
sistema dramático, poderá ser traduzido para uma língua B com orientações específicas de
Bernard Shaw foi certamente um deles, chegando inclusive a preparar as suas peças, não
7 Taylor (1996: 27) apresenta uma distinção entre diferentes tipos de textos teatral, segundo a posição de
centralidade ou periferia assumido pelo texto, considerando que este será um factor activo na escolha das
estratégias tradutórias: no caso de o texto assumir uma posição central, a tradução tenderá para o extremo de
adequação; no caso de o texto assumir uma posição periférica, a tradução tenderia para o extremo de
aceitabilidade, assumindo um maior número e desvios face ao TP por via de uma maior liberdade de acção
sentida pelo tradutor e/ou encenador. Aaltonen (2000), no seguimento da proposta de Taylor, faz a distinção
entre “teatro” e “teatro centrado no texto”.
8 O exemplo das peças de Shakespeare parece ser paradigmático da circulação de textos entre sistemas no
sentido em que as suas peças, desenvolvidas no sistema teatral isabelino, vêm posteriomente a pertencer ao
sistema literário dramático pela publicação dos Quartos e Folios no séc. XVII. Inúmeras têm sido as produções
cinematográficas e televisivas dos seus textos.
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Parte II - Modelo de Análise
causa. Tal como exposto no prefácio de Plays Unpleasant (1898), Bernard Shaw reconhecia
propósito catártico e pedagógico das suas peças seria assimilado de forma análoga através
necessárias, não tanto pela exigida acomodação às condicionantes inerentes a cada meio,
mas por forma a tirar pleno partido das potencialidades destes. Recusando a noção de
desafiava as fronteiras entre narrativa e drama, provar que o formato do texto dramático
texto, o tipo de textos seleccionados e a função por estes assumida no contexto cultural.
em que o espectador assume uma posição quase passiva de recepção sem qualquer
9 Embora as traduções para legendagem em análise no presente estudo estejam confinadas a um momento de
recepção único por se tratar de legendagem para TV, nem sempre a legendagem está confinada a um momento
de recepção única. O desenvolvimento de formatos de leitura como o VHS, o DVD ou o iPod permitem ao
espectador controlar o momento de recepção tanto relativamente ao ritmo (permite rever determinada
passagem fílmica sempre que assim o deseje) como ao local ou momento em que acontece (os leitores
portáteis facilitam o visionamento de filmes em locais diversos, assim como permitem ver diferentes partes do
filme em momentos diferentes).
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Parte II - Modelo de Análise
(1984: 101) aponta o momento de recepção como um dos factores distintivos dos sistemas
ocorre no sentido contrário, do signo (grafemas e palavra) para a proposição e daí para o
meses, fazendo com que o feedback, a existir, raramente tenha consequências na alteração
do produto final.
Grau de intervenção no texto. Diversos estudos têm atestado a tendência para as edições
de textos dramáticos se manterem próximas do texto tal como escrito pelo autor, não
de um público que espera ler o texto original ao comprar o texto publicado, mas que aceita
Com este último factor parece estar relacionado o elevado estatuto conquistado pelo
100
Parte II - Modelo de Análise
O tipo de textos seleccionados. Este tem sido outro dos factores apontados como distintivo
dos vários sistemas. A análise dos textos seleccionados para publicação, representação ou
produção em filme tem identificado regularidades que apontam no sentido de, para
possíveis em qualquer um dos sistemas, num estudo que se pretende descritivo será
produção, por forma a compreender melhor a posição e função a cumprir pelos textos
Função assumida pelo texto. Autores como Esslin (1976) ou Bennett (1997) parecem
[Theatre] in very practical terms teaches them [the audience], or reminds them of its
codes of conduct, its rules of social coexistence. All drama is therefore a political
event. (Esslin, 1976: 29)
101
Parte II - Modelo de Análise
status quo. Contudo, uma vez mais, caberá a um estudo descritivo perceber qual a posição
Aceitar que qualquer acto de tradução conduz o tradutor a estabelecer prioridades implica
a traduzir. Aceitar a variável meio como um desses factores obriga à consideração das
condicionantes inerentes de cada meio em estudo. Assim sendo, mostra-se agora relevante
estudo, na medida em que tais elementos serão tidos em consideração aquando da análise
esse mesmo modelo ao sistema dos textos traduzidos, os diferentes tipos de texto a
b) textos escritos para serem ditos na LC como se não tivessem sido escritos;
imagem.
Embora se tratem todos eles de textos escritos, partilhando o mesmo canal (visual),
relativamente ao meio (escrita para ser lida na LC, escrita para ser dita na LC como se não
tivesse sido escrita e escrita na LC para ser lida enquanto ouvida na LP e acompanhada
102
Parte II - Modelo de Análise
modo, uma vez conseguido o produto final. Se no primeiro caso é possível reconhecer no
produto final (o texto publicado) uma manutenção do canal visual, do formato gráfico do
sinal, do meio escrita, do código verbal escrito e do papel constitutivo da linguagem com
uma muito restrita possibilidade de feedback; no segundo caso, textos escritos para serem
ditos na LC como se não tivessem sido escritos, o produto final (a representação teatral)
será inevitavelmente marcado por uma mudança de canal (de visual para auditivo
acompanhado por visual e auditivo), de formato do sinal (de gráfico para fónico), de meio
(de escrita para ser dita como se não tivesse sido escrita para a fala) e de código (do
código verbal escrito para o código verbal oral acompanhado por não-verbal e verbal
escrito). A linguagem mantém o seu papel constitutivo, mas o feedback é agora imediato e
legendagem) uma mudança de canal (de visual e auditivo para visual acompanhado por
imagem e sons não-verbais), de meio (de gestos e fala para escrita para ser lida enquanto
ouvida e acompanhada por imagem) e de código (dos códigos verbal oral para o código
verbal escrito acompanhado pelo código não-verbal e verbal oral). O texto de chegada
passa a assumir um papel ancilar no produto final, gozando de uma restrita possibilidade
103
Parte II - Modelo de Análise
Figura 6: Alterações relativas ao modo aquando do processo de tradução nos sistema literário, teatral e
televisivo.
Será aqui relevante salientar dois aspectos: a diferença existente entre o texto publicado e
a legendagem pelo facto de neste último caso o texto ser acompanhado pela imagem e
teatral, as alterações de canal, formato do sinal, meio e código serem recebidos pelo
público por via dos actores que interpretam o texto, alvo de um feedback imediato.
104
Parte II - Modelo de Análise
um número superior de legendas de uma linha. O autor atribui estes resultados, por
um lado, à noção de a legenda de uma linha ser mais rápida e mais simples de ler;
por outro, à ponderação, por parte dos canais de televisão, de um público mais vasto
et al. (1985, 1987, 1988, 1989) e Praet (1990) parecem apontar no sentido inverso,
em termos de idade, momentos de recepção, etc, será necessário por forma a que
tempo de exposição de uma legenda12, a legenda não permanece no ecrã por menos
10Será importante reconhecer que este número de caracteres compreendidos em cada linha da legenda poderá
conhecer variação tanto entre países como entre meios, sendo este um dos aspectos justificadores da distinção
a fazer entre legendagem para cinema, televisão, VHS ou DVD. A diferença nos processos de introdução da
legenda (por gravação ou digital) assim como as característica do ecrã (tela ou ecrã, quadrado ou “widescreen”,
curvo ou LCD) têm uma influência decisiva no espaço disponível para a legenda, o tamanho que esta poderá
assumir e o número de caracteres que esta poderá compreender.
11 Embora sejam igualmente feitos estudos de mercado e público-alvo relativamente aos diferentes produtos
televisivos, cinematográficos, VHS ou DVD, estes conhecem sempre uma maior indefinição no caso dos canais
de televisão generalistas pelo facto de terem uma emissão regular e independente da acção do espectador.
12 Para além do princípio de sincronização com a imagem, a variação no tempo de exposição é igualmente
condicionada pelo tamanho do ecrã, a extensão da legenda (legendas de uma linha conhecem um tempo de
exposição menor) ou o número de caracteres passíveis de leitura por um leitor médio. A falta de estudos
relativos aos ritmos de leitura no contexto português, assim como a inexistência de um código nacional de
legendagem, levou a que neste estudo fossem recolhidas informações junto de duas das principais empresas
de legendagem portuguesas - Sintagma e Solegendas - onde nos foi possível perceber que a variação acontece
dentro da própria empresa consoante o canal de televisão, a hora de emissão ou o público-alvo de determinada
tradução. Contudo, estudos realizados nos anos 80 por d’Ydewalle et al. (1985, 1987, 1988, 1989) parecem
confirmar o argumento de um ritmo mais rápido de leitura por parte de espectadores cada vez mais
familiarizados com os meios audiovisuais e com as exigências da leitura de legendas. A confirmar-se, estes
dados podem conduzir a uma total revisão da noção de legendagem como meio incontornavelmente redutor.
105
Parte II - Modelo de Análise
tipo linear, isto é, sem possibilidade de retorno ou segunda leitura, o tradutor para
legendagem em televisão não poderá deixar de ter em conta que será tão nocivo a
compreender imagem, som, texto oral e texto escrito, pode constituir-se como um
legenda com o texto oral e a imagem15; contudo, este pode igualmente ser um factor
que tenderá a não incluir informação redundante (Gottlieb, 2001: 47) 16. A tendência
165) que pode ser positivo, no sentido em que permite ao tradutor um certo nível de
13 Os estudos de d’Ydewaille et al. (1985, 1987, 1988, 1989) demonstram que a leitura da legenda se processa
de forma automática, isto é, os olhos processam a legenda em movimentos rápidos e numa sequência não
necessariamente linear (saltos, sacades), retendo a imagem visual-mental da legenda de tal forma que a maior
parte dos espectadores assume a dificuldade em não ler a legenda caso ela esteja no ecrã. O facto de a
legenda permanecer mais tempo que o necessário no ecrã terá como consequência uma segunda ou terceira
leitura da mesma legenda, fazendo com que o leitor se aperceba da legenda e se concentre nesta em
detrimento da imagem.
14 Delabastita (1989, 1993) foi um dos primeiros autores a reconhecer a necessidade de ter em consideração as
diferentes linhas semióticas em jogo na tradução do produto audiovisual, outros autores assumem hoje o
mesmo argumento, reclamando a falta de contextualização da grande maioria dos estudos sobre a legendagem
(Gottlieb, 1994; Kovačič, 1995, 1998b; Karamitroglou, 2000; Catrysse, 2001, Bogucki, 2004; Pavloviċ, 2004)
15 Tal como apontado por Fawcett (2003: 148) e Gottlieb (1992), um leitor médio empregará mais tempo a
interpretar um texto quando lido do que quando ouvido.
16 Problemas surgem, no entanto, em casos de jogos de sentidos entre imagem e palavras que nem sempre é
possível manter na tradução para uma segunda língua. O tradutor pode hoje dispor de tecnologia que lhe
possibilitaria ultrapassar problemas como este pela manipulação da imagem; contudo questões éticas se
levantam que nos levam uma vez mais a ponderar o estatuto do tradutor e o grau de intervenção que este
poderá assumir relativamente ao texto de partida (Gambier, 2003: 179 e 181).
106
Parte II - Modelo de Análise
ou negativo, no sentido em que pode dar lugar a juízos de valor por parte de um
Assim sendo, apesar da partilha de um mesmo canal e código, a tradução para publicação
e para televisão enfrenta diferentes desafios impostos por características inerentes ao meio
presença do texto de partida oral e do texto de chegada escrito no produto final, promove o
comummente associado a um registo formal e à variedade padrão tida como uso correcto
da língua pelo falante comum, e o modo oral a que é reconhecido um registo menos formal
e características discursivas nem sempre bem recebidas pelo leitor comum no modo
partida oral. Esta mesma tensão pode ser reconhecida aquando do processo de tradução
concretizado em palco pela interpretação oral do actor. Quanto maior foi o envolvimento do
o palco, isto é, o tradutor poderá assumir duas atitudes, uma em que entende a tradução
do meio escrito para o oral. Neste segundo caso, o grau de intervenção no texto será
culturas de partida e de chegada, mas também entre as normas dos modos escrito e oral.
Tal como na tradução para legendagem, também na tradução para teatro deve ser tido em
107
Parte II - Modelo de Análise
tradução. Se, por um lado, a coexistência das linhas auditiva e visual poderão obrigar o
tradutor a enfrentar a questão da variação linguística, por outro, poderá funcionar como
elemento adjuvante por não fazer recair na linha verbal todo o potencial significativo,
O reconhecimento das alterações de canal, meio e código entre cada um dos tipos de
tradução, da tensão existente entre os modos escrito e oral e o impacto que todos estes
articulação
A reflexão sobre a tradução do texto dramático foi inaugurada, no contexto dos Estudos de
Tradução, por autores como Bassnett (1978, 1980, 1981, 1985, 1990, 1991, 1998), Zuber-
Skerrit (1980a, 1980b, 1984), Van den Broeck (1986, 1993) ou Delabastita (1993). Aceitando
a distinção entre texto dramático e texto teatral, foi promovida a identificação de uma
tradução orientada para a página e uma outra orientada para o palco, através da qual se
que qualquer leitura é à partida uma interpretação do texto, todos estes autores parecem
apontar, como característica fundamental da tradução para o palco, o facto de esta manter
uma relação específica com uma representação em particular, denunciando, como tal, uma
17 Embora a opção por uma elevada padronização do discurso possa parecer improvável pelo nível de
incongruência que assume com os elementos visuais, estudos como os de Horton (1999) relembram o facto de
que a escolha dependerá em grande parte do sistema de chegada, do grau de rigidez das práticas teatrais,
assim como do significado sociosemiótico assumido pelas variedades linguísticas no contexto de chegada.
18 Estes dois tipos de orientação da tradução têm conhecido diferentes denominações por autores como Van
den Broeck que a eles se refere como “retrospective translation” e “prospective translation” respectivamente
(1993: 105) ou Habicht (1993: 49), que prefere os termos “page-oriented translation” e “stage-oriented
translation”. Habicht, embora considerando esta distinção necessária e operativa, não deixa de alertar para o
facto de os parâmetros definidores desta distinção estarem também eles localizados num tempo e num espaço.
108
Parte II - Modelo de Análise
interpretação muito específica do texto19 . Parecem ser, portanto, duas visões de tradução
distintas que geram dois tipos de tradução diferentes: uma mais próxima do texto
dramático, outra mais próxima das opções e objectivos específicos de uma representação
em particular.
A posição assumida pela linha de semiótica do teatro anteriormente exposta teve o seu
impacto, não só na área dos Estudos de Teatro e na prática de representação, mas também
conceitos é de imediato visível no subtítulo do livro que Zuber-Skerrit edita em 1980 - The
Languages of Theatre: Problems in the Translation and the Transposition of Drama (1980) -
teatral tendo em consideração aspectos verbais e não verbais, assim como problemas de
encenação, na medida em que uma tradução para ser representada “must be actable and
página para o palco é assumida no segundo volume que edita - Page to Stage: Theatre as
Translation (1984). No volume organizado por Scolnicov e Holland (1989) - The Play Out of
Context: Transferring Plays from Culture to Culture - o foco parece estar agora na
não poderá deixar de ser mencionado o nome de Susan Bassnett que, numa primeira fase,
terá sido quem mais contribuiu para o desenvolvimento da reflexão da tradução do texto
Nos seus primeiros artigos (1978, 1980, 1981), argumentando contra o desfavor a que a
tradução para teatro tem sido relegada em consequência da noção de que o texto
109
Parte II - Modelo de Análise
dramático pode ser traduzido da mesma forma que o texto narrativo, Bassnett assume que
o texto dramático deve ser lido e traduzido de forma distinta e que este apenas conhece
leitura única, que condenaria o tradutor a um modelo rígido de tradução segundo o qual
assim como a pressuposição de que o texto teatral contém características intrínsecas que
que o encenador procura alcançar: “the translator must take into account the function of the
quality of a theatre text that so many translators latch on to as a justification for their various
linguistic strategies” (1985: 101-102). Coincidindo o surgir deste conceito com o advento do
subjacente ao texto dramático a ser traduzido e recodificado numa segunda língua relega o
tradutor para uma posição impossível, devendo, por isso, ser rejeitada. Bassnett defende
agora como solução a identificação das unidades deícticas e a análise do modo como
estas operam em ambas as línguas, na medida em que fundamental será, não tanto a
texto de partida. As palavras finais do artigo marcam, sem engano, a sua mudança de
posição:
It seems to me that the time has come to set aside “performability” as a criterion for
translating too, and to focus more closely on the linguistic structures of the text
itself. For, after all, it is only within the written that the performable can be encoded
110
Parte II - Modelo de Análise
and there are infinite performance decodings possible in any playtext. The written
text, troué though it may be, is the raw material on which the translator has to work
and it is with the written text, rather that with a hypothetical performance, that the
translator must begin. (1985: 102).
Nos artigos de 1991 e 1998, Susan Bassnett argumenta explicitamente contra o conceito
do código gestual, que, segundo a autora, será descodificado de formas diferentes por
para outras língua (1998: 90-91). Do tradutor não pode ser esperada a tarefa de
The task of the translator is to work with the inconsistencies of the text and leave the
resolution of those inconsistencies to someone else. Searching for deep structures
and trying to render the text ‘performable’ is not the responsability of the translator.
(1998: 105)
Patrice Pavis (1989, 1990, [1991] 1992), com uma perspectiva marcada não pelos Estudos
de Tradução, mas antes pelos Estudos de Teatro, mantém uma visão distinta do que é
tradução para teatro, afirmando que, envolvendo esta elementos vários além da tradução
linguística, a verdadeira tradução apenas toma lugar na mise en scène como um todo. O
processo de tradução deve assim ser encarado como um processo faseado com diferentes
ser traduzido;
111
Parte II - Modelo de Análise
enunciação em palco;
Esta foi, de facto, uma importante contribuição para a reflexão sobre a tradução de teatro
que, neste sentido, não deve ser entendida como um acto único e individual, mas sim um
processo em que diferentes elementos devem ser tidos em conta e onde diversos podem
ser os indivíduos que nele participam (tradutor, encenador, actores, etc). Com isto quer o
autor igualmente afirmar que o potencial teatral não é algo inerente ao texto dramático, mas
Theatricality does not manifest itself [...] as a quality or an essence, which is inherent
to a text or a situation, but as a pragmatic use of the scenic instruments of the
performance manifest and fragment the linearity of the text and of the word. (Pavis,
[1980] 1998: 471)
textos dramáticos, na medida em que nele parece radicar a distinção a fazer entre a
Embora autores como Snell-Hornby (1995a), Johnston (1996) ou Marco (2000) defendam
ainda o conceito como o parâmetro distintivo entre os dois tipos de tradução, autores como
Susan Bassnett ou Patrice Pavis e, mais recentemente, Heylen (1993), Mateo (1995a,
1995b), Aaltonen (1995, 1997, 2000, 2003), Totzeva (1999), Schultze (1998), Kruger (2000)
definição, se mostra pouco operativo, tanto para investigadores como para tradutores.
Enquanto conceito, performatividade parece querer dar conta, por um lado, da criação, na
20 Este conceito tem ainda conhecido designações de “speakability” ou “breathability”, procurando dar conta da
criação de um discurso fluente, assim como as designações de “playability” ou “actability” quando do ponto de
vista da prática teatral.
112
Parte II - Modelo de Análise
fica aberto à definição pontual de cada tradutor ou encenador, isto é, a não definição do
conceito tem como consequência a decisão livre por parte de cada tradutor e/ou
que, por natureza, dificilmente poderá conhecer uma definição exacta e restrita sob pena
de não poder dar conta das diversas possibilidades estéticas no tempo e no espaço. Assim
sendo, caberia sempre ao tradutor e/ou encenador decidir através de que parâmetros se
Será crucial ter em consideração quem detém o poder de decisão na companhia teatral em
relação, não apenas à escolha do texto a traduzir, mas também do que é representável e,
performatividade parece agora envolver e ser moldado dentro de um jogo de poder onde é
sentido, será importante ter em consideração que, tal como apontado por Espasa (2000:
de Tradução. A tradução para teatro tem sido identificada com a tendência para a
imediata do processo de recepção (Bassnett, 1981, 1985; Mateo, 1995; Aaltonen, 1997). O
113
Parte II - Modelo de Análise
atenção recairá na análise das estratégias tradutórias identificáveis nos textos, de forma a
conceito de “speakability”, na medida em que, segundo Levy (1969, cf. Aaltonen 1997) -
autor que introduziu o conceito -, um texto apenas poderá ser entendido como
normas do modo oral, Levy distinguia o discurso teatral como uma forma estilizada do
discurso oral real condicionada pelas convenções teatrais, sendo neste sentido que a
Embora recuperado por diversos autores, este conceito tem demonstrado ser igualmente
resistente a uma definição, conhecendo, inclusive, diferentes definições e escopos por via
de diferentes autores. Autores como Bassnett (1990; 1991) ou Espasa (2000) têm
21Na esteira de Culler, Aaltonen (1997) organiza os diferentes tipos de aculturação em cinco níveis distintos:
semelhança do contexto social, partilha dos mesmo estereótipos culturais; partilha e conhecimento das
mesmas convenções de género; quebra do enquadramento ficcional e intertextualidade.
22Confirmando a importância do ritmo e a articulação do discurso em palco, assim como da sua coordenação
com a acção, os movimentos do actor e os restantes elementos em palco, Corrigan afirma:
The structure is action; not what is said or how it is said but when. [...] Duration per se in stage
speech is a part of its meaning and stage time is based upon breath. This means that the
translator must always, whenever he can, try to keep the same number of words in each
sentence. (1961: 99)
114
Parte II - Modelo de Análise
natural (1992: 143), não deixa de alertar para uma eventual banalização do discurso teatral.
importância deste conceito num tipo de discurso que distinguem como “potencial action in
uma reacção por parte do espectador. Na mesma linha parecem posicionar-se Schultze
(1990) ou Aaltonen (1997) que assumem este conceito como um instrumento importante na
produção de significado literário e teatral e que não deveria ser confundido com ‘pronúncia
natural’, na medida em que relevante será o tipo de speakability e a sua função no processo
leitor formar e testar constantemente hipóteses acerca do texto (Spiro et al., 1980). O leitor
dificuldade linguística. Na maior parte dos casos legibilidade é, inclusive, entendida como
uma propriedade do texto, esquecendo o facto de que o texto não tem qualquer grau de
legibilidade inerente, na medida em que esta conhece variação de acordo com diversos
115
Parte II - Modelo de Análise
parecem concluir que este não é um elemento determinante e que pouco efeito parece ter
(1990) que, agora no contexto da tradução para legendagem, permitem concluir que
legendas de uma linha podem ser mais confusas porque com um grau de redundância
aspectos no texto que definissem esse grau de legibilidade, motivou críticas de autores
como Kintsch e Vipond (1979) que insistem que o grau de legibilidade pode apenas ser
legibilidade de um mesmo texto para leitores distintos. Embora este seja certamente o
método capaz de melhor analisar o processo de leitura, uma clara desvantagem reside nos
No presente estudo, não tendo a análise do grau de legibilidade como seu objectivo
dificuldade de leitura, procurando assim ilustrar o entendimento e juízo feito pelo tradutor
que tenderá a evitar determinado tipo de desvios ou a optar por uma recriação menos
densa a favor de uma leitura sem sobressaltos e para evitar críticas de opacidade
enfrentadas por diversos autores e tradutores (Page, [1973] 1988). Será neste contexto
116
Parte II - Modelo de Análise
CAPÍTULO 3
A TRADUÇÃO DA VARIAÇÃO LINGUÍSTICA
recria, não só com objectivos ao nível diegético, mas também de posicionamento face à
chegada. Tal como é apontado por Hatim (1990-91), as diferenças reconhecidas entre as
117
Parte II - Modelo de Análise
linguístico de chegada. Uma das dificuldades far-se-á sentir pelo facto de, nessa recriação,
manutenção da variação linguística no TC, sendo que qualquer uma das opções pode
incorrer em certos riscos identificados por diversos autores e organizados por Lane Mercier
variedades linguísticas em texto ficcional estar saturada da presença autoral, que age no
não da variação linguística presente no texto de partida, está também ela saturada da
tradução procurará ser resolvida pelo agente tradutor que assume escolhas e estratégias
118
Parte II - Modelo de Análise
possivelmente, dos contornos do leitor implícito. É neste sentido que Lane Mercier (1997:
48) reconhece aqui um momento de dupla tensão ou violência: uma primeira, inerente à
No contexto do presente estudo importa analisar a forma como estes significados foram ou
O presente capítulo tem por objectivo apresentar uma revisão dos estudos mais relevantes
vê-se confrontado com a opção de recriar ou não essa variação no texto de chegada, isto
poderá resultar numa completa normalização do discurso pelo uso exclusivo da variedade
padrão, ou, pelo contrário, numa completa dialectização do discurso pelo uso exclusivo de
119
Parte II - Modelo de Análise
uma variedade subpadrão. Ambos os movimentos foram identificados por autores como
Hatim (1990-91), Brisset (1996), Cronin (1996), Berezowski (1997) ou Findlay (2000) que,
razões justificadoras.
A opção por uma total normalização, motivada, em primeira instância, pela associação feita
entre texto literário e variedade padrão, entre discurso escrito e variedade padrão ou entre
estes elementos, poderá mais facilmente ocorrer sob a pressão de estados autoritários que
prestígio se afirma ao ponto de ser o público receptor a recusar um uso linguístico não-
padrão. Contudo, poderá igualmente partir do próprio tradutor que, consciente da natureza
contextos como os reportados por Toury (1995) ou Hatim (1990-91) em que as variedades
com a função de desprestígio poderá, inclusive, ser interpretado como um gesto ofensivo e
preservação da variação linguística conhecerá sempre uma boa recepção pela acção de
uma norma literária que identifica a variante padrão e/ou clássica como a única compatível
parecem motivar o uso de uma variedade subpadrão como língua de chegada, conduzindo
de Brissett (1996), Cronin (1996), Findlay (2000), Chapdelaine (2006) ou Briguglia (2007)
120
Parte II - Modelo de Análise
que procuram afirmar a sua autonomia cultural e linguística face à língua tida como língua
territorialization operation” (1996: 165). A variedade padrão parece ter agora que competir
com uma variedade marginal a que não só é reconhecida maior dignidade e prestígio,
de chegada, procurando o equilíbrio entre as diversas mediações que agem sobre o texto,
Embora escassos sejam os estudos dedicados à tradução de variação linguística, têm sido
texto pela substituição de parte do discurso subpadrão por discurso padrão; por outro, a
substituição de parte do discurso padrão por discurso subpadrão. Se com uma estratégia
única variedade linguística (seja esta a variedade padrão ou uma variedade subpadrão) (cf.
II-3.1), com uma estratégia de manutenção a diferenciação discursiva é mantida, ainda que
(tendência de descentralização).
121
Parte II - Modelo de Análise
Vanderauwera (1985), Leuven-Zwart (1989), Schlesinger (1991) ou Baker (1992) vindo a ser
formulada por Toury (1995) como uma lei hipotética de padronização crescente, que
diversos pares de línguas levou a que fosse formulado como potencial universal de
atenção neste estudo o trabalho desenvolvido por Hatim (1990-91), Ben-shahar (1994),
Dimitrova (1997, 2002), Brodovich (1997), Hatim e Mason (1997), Rosa (1999, 2001, 2004),
Sánchez (1999), Leppihalme (2000a, 2000b), Hervey et al. (2001), Määtä (2004), Nevalainen
(2004).
poetic, even merely linguistic one” (1994: 197). Na esteira de Hatim e Toury, a autora,
desenvolvido por Ben-Shahar, propõe a disposição das variedades num contínuo onde
seriam alinhadas, da esquerda para a direita, uma variedade regional específica, uma
variedade de origem regional ou rural geral, uma variedade de origem social específica, um
registo marcadamente coloquial, uma variedade neutra e uma variedade escrita elevada.
122
Parte II - Modelo de Análise
ao discurso literário original. Fica igualmente patente que a padronização do discurso pode
ser motivado pela especificidade das variedades linguísticas, cujo recurso numa obra
literária localizada num espaço, que não o da cultura de chegada, pode originar uma
incongruência não aceite pelo leitor. Neste caso, a suspensão da descrença activada
aquando da tradução para a variedade padrão2 parece não o ser aquando da tradução
para variedades subpadrão. A mesma questão virá a ser colocada em Hervey et al. (2001),
indirecta do enredo, podendo, como tal, resultar numa certa incongruência facilmente
Tendo por objectivo testar a hipótese de Dimitrova nos pares de línguas finlandês/inglês e
Apresenta ainda a hipótese de a distância cultural poder favorecer uma maior normalização
2No seguimento do conceito de “suspension of desbelief” cunhado por Samuel Coleridge (1987), poderemos,
no contexto do presente estudo, reclamar o conceito de suspensão da descrença linguística. O conceito de
suspensão da descrença pretende referir-se a uma alegada disponibilidade por parte do leitor ou espectador em
aceitar como verdade as premissas de um produto ficcional, ainda que este pareça contradizer a realidade
quotidiana. O leitor ou espectador aceita suspender provisoriamente o seu juízo em troca da promessa de
entretenimento. Numa mesma linha de pensamento, o conceito de suspensão da descrença linguística,
pretende aqui referir-se a uma disponibilidade por parte do leitor ou espectador em aceitar em texto traduzido
que a personagem assuma uma língua distinta da falada no contexto em que a acção se desenvolve.
3 A autora alinha igualmente num contínuo a variedade de origem regional específica, a variedade de origem
rural geral, uma linguagem marcadamente coloquial e uma linguagem neutra (Leppihalme, 2000a: 227).
123
Parte II - Modelo de Análise
Relevante para o presente estudo é igualmente a hipótese que levanta quanto à diferença
tenham sido apenas três os falantes inquiridos, será importante verificar que tal corrobora a
hipótese levantada por este estudo de que, passando a evolução do sistema linguístico por
que, não só um público mais jovem será mais tolerante relativamente à recriação de
conhecer alterações no sentido de uma avaliação mais positiva tanto das variedades
conceito de modernidade 4. Num outro artigo, e baseando novamente o seu estudo no par
implícito. Refere ainda o recurso ao que enuncia como estratégias de compensação, isto é,
base no par de línguas inglês/português, Rosa (1999 e 2001) propõe um terceiro modelo de
análise, procurando dar conta dos juízos de valor conotados por cada variedade. Em vez
124
Parte II - Modelo de Análise
diferentes pontos do sistema. A partir deste modelo será possível enunciar a estratégia de
estratégia de descentralização, formulações que nos permitem dar conta, não só do valor
mais centralizadores que os canais privados e de poder estar em curso uma evolução do
A sugestão de organização das variedades linguísticas num sistema repartido num centro
de prestígio e uma periferia de desprestígio, vem a ser retomado por Nevalainen (2004) e
como a distanciação, cada vez mais evidente no contexto finlandês, entre os textos
Rosa (2004), com base num corpus de maiores dimensões distribuído entre 1950 e 1999,
apontado pela autora, estes dados vêm contrariar estudos como os de Dimitrova (1997),
que identifica a regularidade de desvio de marcas gráficas traduzidas por recurso a marcas
125
Parte II - Modelo de Análise
estrangeiros por parte de culturas centrais como a inglesa ou francesa numa atitude
língua e de uma tradição literária, assim como contextos marcados por estruturas
Dimitrova, 2002);
126
Parte II - Modelo de Análise
2000b);
2004);
g) O perfil do público visado, uma vez que a recriação é mediada pela reconstituição
127
Parte II - Modelo de Análise
divulgação de estudos confina o tradutor a trabalhar com base na sua intuição, não
só por ele próprio não dispor do conhecimento em causa, mas também por o público
leitor não dispor desse mesmo conhecimento (Dimitrova, 1997, 2002; Sánchez, 1999;
inteligibilidade poderá ser enfrentada pelo receptor de um texto oral, caso o tradutor
pelo espectador;
linguística não aceite pelo leitor (Dimitrova, 1997, 2002; Hervey et al., 2001);
Nos termos propostos por Rosa (1999, 2001, 2004), a esta estratégia de não-normalização
128
Parte II - Modelo de Análise
Esse movimento inverso foi identificado por estudos como os de Brisset (1996) ou Cronin
particular tida como expressiva de uma identidade específica, e por Rosa (1999, 2001) e
Ramos Pinto (2007a, 2007b), onde a tendência descentralizadora parece surgir associada a
sido identificada pela maioria dos estudos uma tendência normalizadora, não deixa de ser
lado, de uma valorização das variedades oral ou subpadrão e, por outro, de uma cada vez
ficcional. Será importante reter que a descrição desta tendência corrobora igualmente a
hipótese de que será de esperar taxas de frequência superiores nas traduções efectuadas
favorecedores;
constituição ou afirmação;
129
Parte II - Modelo de Análise
como criação, e não uma mera transferência formal, permitirá ao tradutor uma
língua de chegada;
do público geral domina, ou pelo menos conhece, a língua inglesa, uma estratégia de
por via de uma co-presença dos textos de partida e de chegada (no caso da
sinais informativos;
130
Parte II - Modelo de Análise
descentralização.
refinada que desse conta e organizasse as diferentes estratégias identificados nos vários
Figura 7: Tipologia das estratégias identificadas na tradução da variação linguística em texto ficcional.
131
Parte II - Modelo de Análise
Tal como houve anteriormente oportunidade de verificar, a grande maioria dos estudos faz
referência a uma primeira opção por parte do tradutor entre a preservação ou a não-
preservação poderá ter como resultado a completa normalização (no caso do uso da
possíveis surgem neste modelo organizadas em dois grupos com base nas opções de
linguística histórica para a qual o tradutor poderá não dispor da informação ou do tempo
necessários.
implicado pela estratégia em causa e que se desenha de uma maior a uma menor
normalização do discurso:
132
Parte II - Modelo de Análise
variação linguística seja conseguida entre um discurso mais ou menos formal e não
subpadrão. Esta opção pode inclusive almejar a uma total ausência de formas não-
padrão;
por autores como Dimitrova (1997) ou Rosa (2004), o tradutor, tendo em conta a
características do discurso oral. É neste sentido que a maioria dos estudos aponta
morfossintácticas;
variedade.
Sob a opção pelo recurso a formas linguísticas não familiares ao leitor da CC, foram
133
Parte II - Modelo de Análise
partida consistia num discurso inventado, um “dialecto virtual”, ainda que elaborado
referido, não será de esperar que opte por procedimentos que anulem ou diminuam em
padrão.
134
Parte II - Modelo de Análise
elementos contextuais como o meio a que se destina, a data de tradução e a função que
indirecta das personagens e das relações de poder que entre elas se estabelecem, para
efeitos da análise pretendida por este estudo, será necessário identificar os significados
conotados pelas variedades para posteriormente definir as categorias que permitam dar
foram assim utilizadas as categorias, frase padrão (frase distinguida pela ausência de
disponíveis tanto do inglês britânico como do português europeu padrão) e frase não-
De forma a dar conta dos elementos extralinguísticos conotados, a categoria ‘frase não-
como uma variedade não-padrão, a categoria ‘oral’ foi aqui definida como uma
135
Parte II - Modelo de Análise
pelo desvio que representam face ao grau de formalidade que o discurso escrito costuma
categoria ‘frase padrão’ terão assim lugar os significados de prestígio, estrato sociocultural
alto e região central. Tendo em conta que o uso de marcas desviantes classificáveis como
motivação, e não apenas a identificação de classe social baixa, foi ainda considerada a
Relativamente ao nível linguístico através do qual será codificado o desvio face à norma
Figura 8: Tipologia da classificação das variedades literárias expressiva dos significados comunicativos e
do valor socio-semiótico das variedades.
Rosa (1999, 2004), foi igualmente elaborada neste estudo uma escala de prestígio que
contínuo estabelecido por Rosa (1999, 2004) referente ao mesmo contexto de chegada, a
136
Parte II - Modelo de Análise
escala de prestígio aqui proposta, além de considerar uma categoria adicional – subpadrão
social específico –, cuja justificação foi anteriormente exposta, vem organizar as variedades
prestígio face à variedade subpadrão social. Procurando dar conta do valor socio-
proposta de Rosa (1999) não sob a forma de um contínuo, mas antes de um sistema:
posicionada a variedade padrão, sendo que num progressivo afastamento desse centro se
137
Parte II - Modelo de Análise
Uma vez evidente a escassez de estudos e de dados actualizados, face aos quais se
pudesse testar esta hipótese de alinhamento das variedades, foi realizado um questionário5
sendo possível neste estudo a recolha e o tratamento do número de dados necessário para
cujos dados, ainda que não nos permitam reclamar representatividade, permitirão reclamar
intersubjectividade, constituindo-se assim, não só uma fonte de dados que nos permitem
Ponderemos sobre os dados obtidos neste inquérito. Retendo por agora a nossa atenção
nos dados obtidos nos grupos II e III são observáveis os seguintes comportamentos:
linguístico do desvio (Grupo II.A.1 – 47%; Grupo II.B.2 – 81%; Grupo II.C.3 – 50 %);
b) No grupo II, a grande maioria dos inquiridos, classificou como ‘razoável’ os desvios
II.C.1 – 50%). Embora seja reconhecida uma excepção no grupo II.A.3 onde 50%
– 78%; Grupo II.C.2 – 76%). Embora uma excepção tenha sido já reconhecida no
Grupo II.A, não pode deixar de ser reconhecida a elevada percentagem na categoria
5O questionário a que os inquiridos responderam no dia 27 de Junho de 2006 poderá ser consultado no anexo
B. As características da amostra com base na qual foram recolhidos estes dados, assim como a totalidade dos
dados obtidos neste inquérito estão expostas no anexo C.
138
Parte II - Modelo de Análise
social;
d) No grupo III, onde cabia aos inquiridos a classificação das unidades frásicas
categoria ‘grave’.
Com base nos dados conseguidos no inquérito, o alinhamento das variedades será
gravidade que este atribui ao desvio. A proposta do presente estudo é de que os níveis
139
Parte II - Modelo de Análise
Também neste caso a hipótese formulada foi testada com os dados adquiridos através do
identificados:
categoria ‘muito grave’. Deve no entanto ser feito o apontamento de que os desvios
Assim sendo, o alinhamento proposto pelos dados obtidos no inquérito será semelhante ao
presente estudo.
desvio;
140
Parte II - Modelo de Análise
leis hipotéticas probabilísticas, os dados obtidos numa primeira análise quantitativa serão
meio a que se destinou, o momento histórico em que foi realizada a tradução e a função
desenvolver no presente estudo serão ponderadas três categorias que consideramos dar
conta dos diferentes tipos de texto constituintes do corpus reunido: texto escrito para ser
lido, texto escrito para ser dito como se não fosse escrito e texto escrito para ser lido
dos textos traduzidos para publicação em livro, dos textos traduzidos para representação
em palco, e dos textos traduzidos para emissão em ecrã televisivo sob a forma de
legendagem.
O facto de as variedades linguísticas não conhecerem na sua grande maioria uma norma
ortográfica, estando por isso associadas ao discurso oral, torna a recriação literária dessas
141
Parte II - Modelo de Análise
à norma padrão. A hipótese levantada pelo presente estudo é a de que a recriação literária
a que se destina, sendo levantada por este estudo a hipótese de ser possível identificar
chegada e obtidas as percentagens médias para cada uma das categorias definidas,
contextuais definidas.
A ponderação e cruzamento das datas atribuídas aos textos traduzidos em estudo numa
levantada por este estudo é a de que a evolução do sistema linguístico português passa
subpadrão.
Tendo este estudo como um dos objectivos principais a ponderação da variável meio como
correlata das estratégias e procedimentos de tradução, serão organizados, com base nas
142
Parte II - Modelo de Análise
estudo, um modelo que procura dar conta das diferentes funções a assumir por um texto
Figura 11: Funções prospectivas a assumir por textos traduzidos no contexto de chegada.
No seguimento das propostas do New Historicism and Cultural Materialism, assim como da
produção do texto.
Será aqui relevante fazer a distinção entre a função prospectiva mediadora do processo
função reconhecida a uma tradução pelo público receptor poderá diferir da função
esperada pelo tradutor e/ou agente promotor da tradução. Embora o estudo da função
143
Parte II - Modelo de Análise
estudo, com base em elementos recolhidos por via de entrevistas aos tradutores ou
144
Parte
III
Metodologia de Análise
CAPÍTULO 1
SELECÇÃO E CONCEPÇÃO DO CORPUS
este capítulo pretende dar conta das etapas de definição e concepção, assim como dos
problemas enfrentados, tanto do corpus paralelo como dos sub-corpora em que se baseia
este estudo.
A maioria dos estudos em Tradução, segundo Baker (1995: 225), tem encarado o conceito
tal, trabalhados manualmente. Alguns destes estudos são alvo de sérias críticas por
as etapas de concepção do corpus em análise. Este capítulo é assim norteado pelo intuito
de criar um estudo, que, expondo de forma transparente e clara todo o processo, permita,
não só a acumulação de dados para efeitos de formulação de leis teóricas, como também
that are selected and ordered according to explicit linguistic criteria in order to be used as a
sample of language” (1995: 19). Por seu lado, Atkins, Clear e Olster, adicionando algo mais,
definem corpus como “a subset of an ETL1, built according to explicit design criteria for a
(Doorslaer, 1995); internos e externos (Sinclair, 1995) - definidos de acordo com o objectivo
1 ETL é o acrónimo de "Electronic Text Libray" (Atkins, CLear e Olster, 1992: 1).
145
Parte III - Metodologia
Segundo Sinclair, que não deixa de chamar a atenção para o facto de corpus ser agora
uma "buzz-word", na medida em que "all sort of things are being called corpora because it
são textuais e decorrentes das características linguísticas dos textos, dizendo respeito à
outros critérios devem ser tidos igualmente em conta aquando da selecção dos textos a
Needless to say, one assumed translation, or even one pair of texts, would not
constitute a proper corpus for study, if the intention is indeed to expose the
culturally determined interdependencies of function, process and product, not
even for that one translation. Any aspiration to supply valid explanations would
therefore involve an extension of the corpus according to some principle:
translator, school of translators, period, text-type, text linguistic phenomenon, or
any other principle which could be given a justification. (1995: 38)
146
Parte III - Metodologia
Uma vez que a bibliografia secundária não fornece dados específicos quanto ao que seriam
Rosa (2004), a dimensão de corpora analisados em projectos similares como Kenny (1999),
Overas (1996, 1998) e Gellerstam (1986). Este estudo procurou a selecção de um corpus
por diversos textos, mas não de uma grandeza demasiada que pudesse vir a comprometer
como o número de investigadores (no presente caso, apenas um), a limitação temporal e a
disponibilidade das traduções conhecidas dos textos literários em causa, mostraram ser
do mesmo. Num estudo como o presente, com base num corpus não representativo o
propósito não poderá ser o de extrapolação de comportamentos gerais com base numa
amostra, mas antes o testar de hipóteses a partir de dados que permitirão reclamar
representatividade neste tipo de corpora2, optou-se por uma exposição clara de todas as
categorias da tipologia adoptada, assim como a sua motivação, de forma a que a descrição
b) Qualidade. Uma vez que o valor assumido por defeito relativamente a esta categoria é a
2 Considerando a dificuldade de definição de um corpus de linguagem representativo, Sinclair defende que “[u]
ntil we know a lot more about the effects of our design strategies, we must rely on publishing a list of exactly
what is in a corpus […]. Users and critics can then consider the constitution and balance of the corpus as a
separate matter from the reporting of the linguistic evidence of the corpus” (1991: 13).
147
Parte III - Metodologia
sentido, todo o corpus foi primeiro convertido para formato "texto simples" sobre o qual se
realizou uma primeira análise, e posteriormente reanalisado de forma qualitativa, por forma
a serem tidos em conta factores gráficos como, por exemplo, o uso de itálicos.
tradução estes dados devem, no entanto, ser tidos em conta aquando da análise, na
medida em que um dos objectivos do estudo é perceber o grau de correlação entre estes e
as variáveis textuais. No seu mais recente estudo (2004), Olohan não deixa de alertar que
contexto de que os textos traduzidos necessariamente são fruto. Tendo em conta os avisos
de diversos autores presentes na bibliografia secundária (Mason, 2001; Olohan, 2004; Nord
1991; Lambert 1995, Laviosa, 1997, Doorslaer, 1995 e outros), os constituintes do corpus
impondo-se por essa mesma razão a identificação por uma lista de atributos extratextuais e
a) Textos dramáticos de partida: língua; modo literário; género literário; autor; título;
3 Nos anos 60, a necessidade de padronização da linguagem computacional conduziu ao American Standard
Code for Information Interchange (ASCII). O texto formatado em ASCII, convertendo um conjunto de
caracteres numa representação numérica, permite aos computadores armazenarem e partilharem dados com
outros computadores e programas, pelo que o ASCII não contém informações de formatação como o negrito,
itálico ou tipos de letra.
148
Parte III - Metodologia
a) Traduções para publicação: língua; modo literário; género literário; autor; título;
publicação do nome do(s) tradutor(es) (sim/não); nome do(s) tradutor(es); tiragem; re-
edições e republicações.
b) Traduções para teatro (palco): língua; género teatral; subgénero teatral autor; título;
tradutor(es); re-emissões.
Impõem-se ainda como essenciais mais dois aspectos a ter em consideração aquando da
concepção do corpus:
base nos quais se definiu e descreveu o corpus em que se baseou o presente estudo.
149
Parte III - Metodologia
facto de, considerando o texto ficcional como uma unidade orgânica, o uso de
amostras vir, por um lado, quebrar o jogo de relações entre os diferentes elementos
do texto e, por outro, poder incorrer no perigo "of having all his soldiers the same
benefício de ser possível ter em conta um número de textos que possibilita uma
tornaria impraticável.
O corpus paralelo concebido para este estudo abarca dois sub-corpora: um primeiro
A constituição do corpus a servir de base para o estudo aqui proposto exigiu uma tipologia
que permitisse uma classificação específica e exigente dos diferentes tipos de corpora de
tradução. Com base na tipologia proposta por Laviosa (1997), desenvolvida no contexto do
projecto TEC4 (um corpus comparável monolingue), e da sua aplicação em Rosa (2004),
serão tidos em conta os diferentes parâmetros considerados por esta autora, traduzindo
isto um esforço em repartir com outros projectos uma mesma tipologia que permita uma
mais fácil e eficaz partilha de dados entre a comunidade científica dos Estudos de
150
Parte III - Metodologia
NÍVEL I
NÍVEL II
NÍVEL III
Com base na tipologia delineada, os diferentes corpora necessários para o presente estudo
151
Parte III - Metodologia
alinhado.
Em combinação com os três primeiros níveis, foi adicionado, ainda com base na proposta
de Laviosa (1997), um outro nível de classificação que permitiu uma classificação específica
NÍVEL IV
IV.a. Tipos de corpus translato (número de línguas de partida): Língua de partida única, Duas
IV.b. Tipos de corpus translato (modo de tradução): Modo de tradução único, Modo de
tradução duplo ou Modo de tradução múltiplo. Podemos reconhecer o recorrer a um, dois ou a
como LP e LC)
IV.c. Tipos de corpus translato escrito a partir de um TP escrito (modo específico) 5 : Texto para
ser dito, Texto para ser dito como se não tivesse sido escrito, Texto para ser lido, Texto para
ser lido como se fosse ouvido ou pensado, Texto para ser lido enquanto ouvido, ouvido e
acompanhado por imagem ou ouvido e acompanhado por representação, Texto para ser lido
em substituição do que é ouvido, Misto (integra textos em dois ou mais modos específicos)
IV.d. Tipos de corpus translato (método de tradução): Método de tradução único, Método de
5Com base na tipologia de Ian Mason (2001), foi adicionada esta categoria, por forma a que a tipologia utilizada
desse conta de um corpus que compreendesse textos em meios distintos, ainda que o estudo recaia sobre a
produção e o modo seja apenas um, o escrito.
152
Parte III - Metodologia
pelo computador
IV.e. Tipos de corpus translato: LC como língua materna, LC como língua estrangeira, LC como
corpus com uma única língua de partida (inglês britânico), um único modo de tradução
compreenda textos com diferentes sub-categorias deste mesmo modo (textos para serem
lidos, textos para serem ditos como se não tivessem sido escritos e textos para serem lidos
humana), profissional, com a língua de chegada como língua materna e língua estrangeira e
português europeu, escrito, simples e translato, com uma única língua de partida (inglês
um TP oral transcrito), ainda que compreenda textos com diferentes especificações deste
mesmo modo (textos para serem lidos, textos para serem ditos como se não tivessem sido
escritos e textos para serem lidos enquanto ouvidos e acompanhados por imagem), um
único método de tradução (tradução humana), profissional, com a língua de chegada como
6O valor "misto" na categoria IV.g. foi igualmente adicionado para feitos deste estudo, na medida em que um
corpus que se pretende multimedial incluirá necessariamente textos publicados e não publicados.
153
Parte III - Metodologia
No sentido de um estudo claro e replicável, como tem vindo a ser defendido ao longo deste
capítulo, haverá agora lugar para a justificação de algumas das opções tomadas na
concepção e selecção dos textos a incluir no TDT-port, selecção essa feita com base em
bibliografia secundária.
Embora o estudo da evolução das normas de tradução se tenha vindo a delinear como um
dos objectvos a ter em conta na análise, não foi esse o principal critério de selecção do
tradução num período ainda pouco estudado7 no que ao modo dramático diz respeito; d)
Neste sentido, o escopo cronológico foi definido pela data das traduções seleccionadas,
língua de partida - o inglês - e apenas na sua variedade britânica, ainda que tenha sido
realizado por apenas um investigador, assim como a competência linguística deste foram
língua inglesa prende-se, não só ao facto de esta ser, tal como foi avançado por Rosa
7 Os estudos realizados sobre a tradução em Portugal recaem sobretudo no século XIX, embora já sejam
conhecidos estudos como o de Rodrigues (5º vol, 1999), de Christine Zurbach (1997) ou de Rosa (2004).
154
Parte III - Metodologia
diferentes variedades não britânicas do inglês conduziria à introdução de uma nova variável
representação teatral, o filme. A opção pela análise do produto final suscitaria inúmeros
corpus, na medida em que nos obrigaria a seleccionar apenas os textos dramáticos, cujos
na medida em que interessava aqui estudar as opções do tradutor e não tanto a relação do
texto traduzido com os restantes elementos que compõem o produto final, a opção feita
optou-se por considerar apenas uma língua de textos de chegada - o português - e apenas
investigadora, como também à impossibilidade de realizar uma pesquisa fora do país, que
relativas aos mesmos. Ainda que seja reconhecida pela autora deste estudo a fragilidade
do argumento, optou-se pelo local de publicação como critério de selecção, tendo sido,
155
Parte III - Metodologia
Optando por um corpus de linguagem geral, constituído por textos ficcionais, o método de
Não deixando de ter em conta as críticas feitas, nomeadamente por Sinclair (1995), ao uso
variação linguística, foram seleccionadas, tanto nos textos de partida como nos respectivos
textos de chegada, todas as falas da principal personagem falante de cockney - Eliza. Esta
padrões textuais como, por exemplo, a evolução da personagem, mas não de uma
realizada por tradutores "para os quais a tradução constitui uma ocupação quer principal
quer secundária, independentemente do tipo de formação específica que têm" (2004: 423).
Por tradução estudante é tida a tradução "produzida num contexto de ensino" (2004: 423).
Para efeitos deste estudo foram apenas tidas em consideração traduções profissionais 8.
8Os resultados apresentados por Lörscher (1991 e 2005) apresentam a distinção entre tradução profissional e
não-profissional.
156
Parte III - Metodologia
Tendo este estudo como objectivo o estudo da tradução para português da variação
constituição dos corpora referidos foi iniciada pela constituição do TDT-Port, tendo sido a
partir dos textos nele incluídos que vieram a ser definidos os textos a conformar o TD-Ing.
investigador; por outro, o não atingir de resultados fiáveis que justificassem tamanha
diligência. Sendo objectivo deste estudo a análise de estratégias de tradução num contexto
9Esta restrição permitiu um resultado mais completo e fiável, na medida em que não há um registo completo
das companhias amadoras existentes em Portugal no século XX e que estas poucos registos mantêm dos seus
espectáculos.
157
Parte III - Metodologia
Nesta etapa foram consultadas a CET Base (Base de dados dos espectáculos realizados
Sendo objectivo deste estudo analisar a tradução de textos escritos e traduzidos no século
XX, foram em seguida identificados os textos, cuja data de representação se situaria entre
1901 e 2001. Daqui resultou uma listagem de 253 textos, permitindo concluir que a grande
maioria dos textos em língua inglesa foram traduzidos e representados no século XX.
Com base nas recomendações de Malmkjaer (1998), foram seguidamente excluídos todos
os textos com menos que duas representações/traduções conhecidas para teatro, de forma
conjunto de 29 textos.
A partir dessa relação já reduzida de autores e textos dramáticos, e tendo em conta que
este estudo pretende estudar a tradução num contexto multimedial, foram identificados os
textos que tivessem conhecido traduções apresentadas em dois ou mais meios distintos.
158
Parte III - Metodologia
Portugal entre 1901 e 2001 pelas editoras suas associadas. Esta pesquisa revelou-se,
no entanto, bastante lacunar por na realidade não dar conta de certas edições
encontradas posteriormente nas bases de dados apresentadas nas alíneas c), d) e e).
publicadas entre 1600 e 1979, tornou possível completar a informação pelo acesso a
adquirida anteriormente.
e) A pesquisa feita na PORBASE via internet foi confirmada in loco na base SIRIUS da
f) A Internet Movie Database, onde foi possível reunir dados sobre todas as adaptações
que permitiu tomar conhecimento das edições em VHS e DVD das adaptações
12 Mostrou-se importante conhecer as versões comercializadas em Portugal, na medida em que uma tradução
só é encomendada depois de garantida a sua comercialização num determinado país. Será de notar que as
versões comercializadas em VHS e DVD conhecem traduções diferentes realizadas por tradutores/empresas
distintas.
159
Parte III - Metodologia
h) O volume Estreias em Portugal (1918 - 1957) de Luís de Pina através do qual foi
dados relativamente aos cinemas em que tinham sido exibidos os filmes em causa no
período em questão.
j) A base de dados da Videoteca Municipal de Lisboa onde foi possível reunir dados
dramáticos em causa.
- RTP, SIC e TVI - por forma reunir os dados necessários quanto à emissão dos filmes
em causa.
l) O arquivo manual da RTP onde foi possível reunião informação relativa aos filmes
emitidos nas primeiras décadas do século XX, visto que a base de dados electrónica
texto Pygmalion de George Bernard Shaw e as suas respectivas traduções foram tidos
como os mais pertinentes para o estudo pretendido. Esta escolha teve lugar com base em
três critérios determinantes: a) ser a única obra distribuída por diferentes meios13; b) o facto
13Embora pudessem ter sido integrados neste corpus textos distintos em cada um dos meios optou-se, perante
a oportunidade, pela selecção de um texto que se distribuísse pelos diferentes meios por forma a reduzir ao
mínimo possível o número de variáveis a ter em conta.
160
Parte III - Metodologia
Além de Pygmalion, foi ainda incluído o texto My Fair Lady, cujo argumento se baseia na
obra de G. Bernard Shaw. Apesar de não fazer parte da relação de textos anteriormente
apresentada e de não ser de um autor britânico, My Fair Lady foi seleccionado para integrar
mostrado uma mais valia para o corpus, uma vez que permitia aumentar o número de
traduções do corpus, tornando-o mais sólido e representativo, sem que assim aumentasse
de publicação.
14 Embora My Fair Lady seja uma comédia musical assinada por Alan Jay Lerner (texto) e Frederic Loewe
(música), é um texto que se apresenta como uma versão musical de Pygmalion, cujo argumento segue
praticamente na íntegra. Neste sentido, embora os textos, assim como as suas traduções, sejam consideradas
como autónomas (o mesmo acontece com a diferentes versões de Pygmalion), a inclusão de My Fair Lady
mostrou ser uma mais valia para o corpus pretendido.
15
Foram consultados os seguintes jornais no arquivo da Biblioteca Nacional: O Século, O Diário Popular e O
Mundo Literário.
161
Parte III - Metodologia
programação relativamente aos anos compreendidos entre 1957 e 1972 e numa base
de dados electrónica os dados relativos aos anos subsequentes, foi possível reunir os
emissão em que foi o filme apresentado, assim como o número de re-emissões, tanto
consulta pessoal dos registos por um investigador, a recolha desta informação foi
que anteriormente tinha sido recolhida a informação de que os filmes em causa não
doze conformam o corpus a analisar, na medida em que uma foi excluída por ser o único
elemento de tradução para DVD (legendagem) e por ter sido de todo impossível ter acesso
Fair Lady ensaiada no Teatro Monumental; e a tradução para VHS (legendagem) de My Fair
Lady de 1994. Os textos que vieram a integrar o TDT-Port são agora aqui expostos
162
Parte III - Metodologia
portuguesa, de G. Bernard Shaw, trad. de Marina Lopes Prieto. Coimbra: Edição de autor,
1962, 136pp.
[TC2] My Fair Lady: Comédia musical em dois actos baseada no Pygmalion de Bernard
Shaw, de Alan Jay Lerner e Frederick Loewe, trad. de H. Silva Letra e trad. dos versos de
[TC3] Pigmalião: romance em cinco actos, de G. Bernard Shaw, trad. de Fernando Mello
Moser, Lisboa: Edições Verbo (Bilioteca Básica Verbo/RTP, nº 74), 1972, 178pp.
[TC4]. Pigmalião, de G. Bernard Shaw, trad. de Mário de Abreu. Mem Martins: Publicações
[TC5]. My Fair Lady, Minha Linda Senhora, de Alan Jay Lerner e Frederic Loewe, trad. de
[TC6] Pigmalião, de G. Bernard Shaw, trad. de António Lopes Ribeiro, 1944 (texto
[TC7] Pigmalião, de G. Bernard Shaw, trad. Luís Francisco Rebelo e José Palma e Carmo,
[TC8] My Fair Lady, Minha Linda Senhora, de Alan Jay Lerner e Frederic Loewe trad. de
Filipe La Féria e Helena Rocha, 2001 (texto dactilografado, policopiado e não publicado).
[TC9] Minha Linda Lady, filme de George Cukor, trad. de J. Nunes de Carvalho e
RTP).
163
Parte III - Metodologia
[TC10] Pigmalião, filme de Anthony Asquith, trad. de Ruth Saraiva, 1994. (legendas
[TC11] Pigmalião, filme de Alan Cook, trad. de Rosário Vieira, 1995 (legendas transcritas
[TC12] Minha Linda Lady, filme de George Cukor, trad. de Eulália Ramos, 1996 (legendas
corpus especial, ficcional, composto por amostras, diacrónico, geral, monolingue, em inglês
(variedade britânica), misto (escrito e oral), simples e não-translato. A selecção dos textos a
integrar neste corpus, tendo sido definido que o corpus paralelo seria dependente da
tradução, esteve inteiramente dependente dos textos seleccionados para integrarem o TDT-
Port, isto é, foram incluídos os textos identificados como respectivos textos de partida dos
Textos de partida das traduções para publicação e das traduções para teatro (palco)
[Pyg16] Androcles and the lion; Overruled; Pygmalion, de G. Bernard Shaw, London:
[MFL56] My Fair Lady: a musical play in two acts based on Pygmalion by Bernard Shaw, de
Alan Jay Lerner e Frederic Loewe, New York: New America Library, 1956.
Howard, 1938. [in David Lean (s.d.), Pygmalion, dialogue cutting continuity, USA: Loew's
Incorporated].
164
Parte III - Metodologia
[Pyg83] Pygmalion, argumento escrito do filme Pygmalion de Alan Cooke, 1983. [in Dukore,
Bernard F. (1980), The Colected screenplays of Bernard Shaw, London: George Prior
Publishers].
[MFL64] My Fair Lady, argumento escrito do filme My Fair Lady de George Cukor, 1964.
fair-lady-script-transcript.html).
165
Parte III - Metodologia
166
Parte III - Metodologia
CAPÍTULO 2
CONCEPÇÃO DO CORPUS PARALELO ELECTRÓNICO
Tendo este estudo em vista proceder a uma análise semi-automática dos dados, este
capítulo pretende dar conta dos processos de digitalização, formatação, selecção dos
adoptados pretende, mais uma vez, tornar este estudo o mais claro e replicável possível.
corpus translato. No caso de Pygmalion, sendo conhecidas diversas versões desse mesmo
análise das diferenças reconhecidas entre cada um dos textos. No caso de My Fair Lady,
Relativamente aos textos de partida das traduções orientadas para legendagem, foram
Cinemateca Portuguesa.
dos textos junto das edições publicadas e banda sonora dos filmes. No caso da versão de
www.bartleby.com, vindo este a ser confirmado mais tarde com o exemplar disponível na
167
Parte III - Metodologia
O texto foi ainda submetido a uma anotação indicativa do texto de que provém, da
personagem a que cada frase é atribuída e das fronteiras de frase ortográfica. Assim sendo,
Pygmalion de 1957; Pyg83 - Pygmalion de 1983; MFL56 - My Fair Lady de 1956; MFL64 -
My Fair Lady de 1964); da personagem (E - Eliza) e do número de frase (por exemplo: <s1>
para frase 1). Como exemplo será transcrita a sexta frase de Eliza na versão de 1938 de
Pygmalion:
<Pyg38 E S6> I can give you change for a tanner, kind lady.
personagem Eliza Doolitle, tanto em Pygmalion como em My Fair Lady. A dimensão do sub-
corpus não-translato resulta, portanto, do grau de alterações feitas pelos autores entre as
168
Parte III - Metodologia
Tal como havia sido feito com os textos do sub-corpus não-translato, alguns dos textos do
falas da personagem foram transcritas manualmente a partir das gravações em VHS e DVD
Por uma questão de uniformidade, foram seguidos os mesmos critérios na anotação das
frases do sub-corpus translato, tendo sido tida ainda em consideração uma anotação
de frases nos textos de chegada relativamente aos textos de partida. Assim sendo, no
texto de chegada numerados de 1 a 12, respeitado primeiro uma divisão por meios e
em seguida exemplificados:
1 A tipologia identificadora dos diferentes processos seguiu de perto o modelo desenvolvido no âmbito do
projecto COMPARA desenvolvido por Ana Frankenberg-Garcia e Diana Santos. Os resultados do projecto,
assim como a metodologia seguida podem ser consultados em http://www.linguateca.pt/COMPARA/
anotacao_gramatical.php.
169
Parte III - Metodologia
frases e palavras exibida na tabela seguinte, apresenta-se variável por via das diferentes
estratégias de tradução adoptadas, sendo que este estudo se propõe a analisar o grau de
correlação entre tais estratégias e o meio a que se destinam. A tabela seguinte apresenta,
corpus translato.
170
Parte III - Metodologia
Este sub-corpus, podendo ser apontado como bastante reduzido face a outros corpora
Embora este estudo não possa aspirar a retirar conclusões universais, será de considerar
tanto nos textos de partida como nos textos de chegada. Tendo em conta os objectivos
Com base nas definições encontradas na Oxford Dictionary English Grammar (1998: sp 2)
119-122) de Celso Cunha e Lindley Cintra foi possível estabelecer, para os textos de partida
2 Não foi possível distinguir o número de página, por ter sido consultada a versão online desta edição.
171
Parte III - Metodologia
iniciadas por maiúscula e terminada com pontuação de fim de frase, a saber, ponto final,
iniciada por letra maiúscula, ou sem seguimento nenhum, no caso de fim de parágrafo. Não
curvos ou rectos ou aspas simples ou duplas. Nem os dois pontos nem o ponto e vírgula
As reticências foram consideradas marca de final de frase nos casos em que a frase
172
Parte III - Metodologia
Capítulo 3
METODOLOGIA DE ANÁLISE SEMI-AUTOMÁTICA DO CORPUS PARALELO
etiquetagem que nortearam o processo de classificação das unidades frásicas, assim como
anteriores.
metodologia de aplicação dupla que, procedendo à classificação das unidades frásicas dos
comparativo numa fase posterior. Foi assim possível não só uma análise cronológica
estudos anteriores (Dimitrova, 1997, 2001; Leppihalme, 2000a, 2000b; Rosa, 2004) por
forma a que, permitindo a comparação com os dados neles apresentados, possa contribuir
dos textos. Optou-se assim por uma metodologia de análise semi-automática de unidades
O processo foi iniciado com a definição das categorias relevantes para a análise a que se
(UTP) e nos TC (UTC) segundo o sistema de categorias desenhado. Uma vez obtido o
173
Parte III - Metodologia
análise dos dados obtidos foi levada a cabo tendo em conta algumas técnicas de análise
tendência central como a média e a mediana, que nos permitem identificar os valores em
torno dos quais se concentram os dados obtidos; de medidas como a standardização dos
extremos; e de medidas de dispersão como o desvio padrão, que nos permitiram aferir
quanto à homogeneidade dos grupos de dados tidos em conta e, como tal, quanto à
Foram assim definidos intervalos de desvio padrão que, permitindo identificar o grau de
padrão:
Aquando da análise dos níveis linguísticos de que a recriação de variedades ficcionais tira
174
Parte III - Metodologia
> 10% e < = 15% Grupo de dados ainda considerado homogéneo, mas
merecedor de atenção, justificando a consideração de
um nível inferior de análise.
corpus e a natureza não representativa deste, embora não fossem elementos impeditivos
de tal análise, vieram a mostrar a não relevância da sua aplicação pela impossibilidade de
estudo de correlação tirou assim apenas partido, por um lado, das técnicas de descrição
Uma vez criado o corpus electrónico (cf. II-2), procedeu-se à segmentação dos textos
c) Conversão dos ficheiros em extensão .doc para ficheiros texto simples (*.TXT)
175
Parte III - Metodologia
identificados como pertinentes em II-3.4 foi necessário criar um sistema que, tornando
estudo, fizesse corresponder a cada uma das unidades constituintes do corpus electrónico
uma categoria através de uma etiqueta. O programa Systemic Coder permitiu, por via de
frequência reconhecidas nas categorias definidas. Este foi, no entanto, um processo que
da distinção e etiquetagem de cada uma das unidades como variedade padrão, variedade
oral ou variedade subpadrão, sendo que esta última categoria reconhecia ainda as
subpadrão social específica. É assim clara a distinção a fazer entre a variedade padrão a
prestigiadas, sendo que na segunda categoria são incluídas as variedades oral, subpadrão
será empregue sempre que for feita referência às variedades oral, regional, social e social
176
Parte III - Metodologia
linguísticos não ser possível identificar a variedade oral, mas sim o modo oral proveniente
da diferenciação a fazer entre modo escrito e modo oral, a presente classificação procurou
ilustrar não tanto a classificação seguida em Linguística, mas antes a valorização e o juízo
feitos pelo falante comum anteriormente discutido em II.3.4. Com base na percepção
empírica da autora, em estudos prévios (Rosa, 2004) e nos dados obtidos pelo questionário
desenvolvido no contexto deste estudo, foram definidas três categorias adicionais das
social e subpadrão social específico). Foi assim objectivo tornar explícita a posição-entre
da “variedade oral” que, embora não seja entendida como variedade subpadrão pelo
falante comum, também não é por ele interpretada como variedade padrão, em grande
medida pela sua não-associação ao modo escrito. A associação estabelecida pelo falante
comum entre modo escrito, variedade padrão e norma ortográfica surge como um dos
Neste sentido, foram identificadas como unidades a incluir na categoria variedade oral as
unidades em que foram identificadas marcas que, apesar de não violarem as regras da
categorias, optou-se por classificar a unidade tradutória segundo o tipo de desvio mais
proeminente.
A título de exemplo, são aqui apresentadas algumas das unidades classificadas e a sua
de classificação, pelo que apenas serão apresentadas as categorias para as quais puderam
177
Parte III - Metodologia
Textos de partida
Textos de chegada
Variedade Prestigiada > Variedade Padrão > utc padrão
<TC2 E S289> Ele trata uma florista como se ela fosse uma duquesa.
<TC3 E S389> Quem me dera que me tivesse deixado onde me encontrou.
<TC5 E S321> Se não fosse o Coronel Pickering eu nunca teria sabido como se comporta uma
senhora.
<TC7 E S383> Esqueci-me da minha língua natal e já não sei falar senão a vossa.
<TC10 E S274> É um autocarro, pronto para partir, | sem consideração por ninguém.||
178
Parte III - Metodologia
Como último nível de classificação foi considerada uma etiquetagem que desse conta do
nível linguístico a que pertencem as marcas (lexicais, morfossintácticas ou gráficas)
reconhecidas nas variedades oral, subpadrão regional, subpadrão social e subpadrão social
específico em oposição à variedade padrão caracterizada pela ausência de marcas. Foi
assim feita a distinção entre marcas morfossintácticas (utp-m ou utc-m), gráficas (utp-g ou
utc-g) e lexicais (utp-l ou utc-l). Como marcas subpadrão foram interpretadas todas as que
correspondessem a um uso distinto da norma linguística do inglês britânico ou do
português europeu, revelando a pertença a uma região periférica, o estrato sociocultural
baixo da personagem ou a pertença a um grupo social específico. Como marcas de
oralidade foram identificadas todas as que representam características de oralidade e que,
tal como referido anteriormente, o falante comum tende a desvalorizar. Tendo em conta a
dificuldade sentida na identificação e classificação das marcas de oralidade, são aqui
apresentados alguns exemplos:
179
Parte III - Metodologia
investigador no âmbito do presente estudo e utilizado pelo programa Systemic Coder. Este
deve ser lido da esquerda para a direita tendo em conta que a escolha de uma determinada
de classificação.
180
Parte III - Metodologia
Figura 14: Esquema de codificação das unidades constitutivas dos sub-corpora não-translato e translato
181
Parte III - Metodologia
182
Parte
IV
Análise
Elementos contextuais
CAPÍTULO 1
ELEMENTOS CONTEXTUAIS
contextuais, este capítulo tem por objectivo apresentar uma breve resenha relativamente à
presença dos textos em estudo no contexto de chegada. Será aqui apresentada a listagem
das obras traduzidas, dos tradutores, das respectivas datas de tradução, do número de
retraduções e em que circunstâncias foram apresentadas, assim como uma análise sucinta
Bernard Shaw não é de certo o autor mais conhecido do grande público em Portugal, mas
Pygmalion é uma das suas mais famosas peças, em grande parte pelas adaptações que
direcção de Hugo Thiming e com Max Paulsen e Lyli Morgerg como protagonistas, terá
primeira publicação do argumento parte de uma tradução alemã de 1913, vindo, em 1914,
a ser publicado na Hungria, na Suécia e nos Estados Unidos da América inserido nas
edição conjunta de três peças de Bernard Shaw (Pygmalion, Androcles and the Lyon e
Overruled).
Conhecendo um enorme êxito, tanto no palco como nas livrarias, Pygmalion é objecto, num
espaço de três anos, de três adaptações para cinema: uma primeira com o alemão Erich
Engel como realizador e Gustaf Grüngens e Jenny Jugo como protagonistas; uma segunda
realizada pelo holandês Ludwig Berger e com Lyli Bowmeester e Johan de Meester como
183
Parte IV - Análise
protagonistas e, uma terceira, com Anthony Asquith e Gabriel Pascal como realizadores e
Bernard Shaw (entretanto galardoado com o Prémio Nobel, que rejeitou, em 1925) como
colaborador na adaptação do guião. B. Shaw vem a falecer em 1950, mas o êxito da mais
famosa vendedora de flores conhecerá ainda novos episódios. Em 1956 serve de base à
comédia musical My Fair Lady com encenação de Alan Jay Lerner e música de Frederic
Loewe (Rex Harrison e Julie Andrews interpretavam os papeis de Higgins e Eliza), musical
esse que, depois de ver o seu argumento publicado em 1958, será, em 1964, objecto de
uma adaptação para cinema pela mão de George Cukor, agora com Audrey Hepburn no
papel de Eliza. Em 1983 surge uma nova adaptação de Pygmalion, agora para televisão
pela Twentieth Century Fox, com realização de Alan Cook e interpretação de Peter O’Toole
Mais do que qualquer outra peça de Bernard Shaw, Pygmalion veio a conhecer uma intensa
estações de televisão.
Francisco Ribeiro Lopes que, em 1945, decidiram trazer esta peça ao palco do Teatro da
Trindade, escolhendo Assis Pacheco e Maria Lalande para os papéis de Higgins e Eliza
respectivamente (cf. anexo B.4). Passados 49 dias sobre a estreia a 30 de Outubro, levam o
facto que, apoiado pelas críticas entusiasticamente positivas que podemos encontrar nos
jornais da época (cf. anexo B.3), testemunha o êxito que a peça conheceu então. Em 1961
é apresentada por Marina Prieto uma tradução da versão de 1961 como tese de
Em 1964, o musical My Fair Lady de Alan J. Lerner é ensaiado pela primeira vez em
Portugal no Teatro Monumental, contando com João Villaret e Laura Alves como
protagonistas (cf. Anexo B.5). A peça não chega, no entanto, a estrear por razões que não
184
Parte IV - Análise
foi possível a este estudo apurar. Será por iniciativa da Portugália Editora que o libreto de
My Fair Lady conhecerá a edição em livro dois anos depois, com tradução de H. Silva Letra
e Gervásio Lopes.
Por sua vez, Pygmalion conhece igualmente a publicação em livro, em 1972, pela Editorial
Verbo que, convidando Fernando de Mello Moser para tradutor, a escolhe como uma das
obras a publicar na primeira série da colecção “Livro RTP. Biblioteca Básica Verbo”. Em
1974, Artur Ramos, então encenador e produtor da RTP, decide levar à cena a peça de
Bernard Shaw deixando a tradução nas mãos de Luís Francisco Rebelo e José Palma e
ensaios tomam lugar no Teatro Maria Matos, onde a peça deveria estrear em meados desse
mesmo ano; contudo, com a revolução de Abril, novos ideais, interesses e oportunidades
surgiram, levando a companhia a optar por levar à cena uma peça de Bernardo Santareno
que havia sido proibida pela censura do Estado Novo. Treze anos depois, em 1987, a
vindo, em 2003, a apoiar uma reedição desta tradução a ser distribuída com o jornal Diário
ano, o filme My Fair Lady de Alan Jay Lerner e Frederick Lowe, com tradução de J. Nunes
emitido uma vez mais no Canal 2 da RTP em 1991. A história desta vendedeira de flores
parece despertar grande interesse junto do público português, na medida em que, entre
1991 e 1998, foram exibidas todas as versões fílmicas deste enredo. A 9 de Fevereiro de
My Fair Lady na SIC. Em 1994 é lançada no mercado português a edição especial em DVD
do filme My Fair Lady, agora com a imagem restaurada. Em 2003 estreia em Portugal o
musical My Fair Lady no Teatro Politeama com encenação de Filipe La Féria e com Anabela
e Carlos Quintas nos papeis de Eliza e Higgins. É publicada, no mesmo ano, pela Europa-
1 Aquando da preparação de Pigmalião para encenação, todas as peças encenadas no Maria Matos eram apoiadas pela RTP,
sendo que na última semana em que a peça estivesse em cena, esta era filmada e exibida na RTP a nível nacional.
185
Parte IV - Análise
espectáculo do mesmo.
Figura 15: Cronograma com as diversas versões e traduções de Pygmalion e My Fair Lady nos sistemas de
partida e de chegada.
1.3. O público-alvo
Tendo em conta a categorização proposta pela APEL (1987), o público-alvo das diferentes
traduções constituintes do corpus translato pode ser identificado como público adulto.
definida com base numa análise do público de publicações em livro, procedeu-se neste
estudo a uma definição mais restrita com base em certos atributos extratextuais das
traduções em causa. Esta análise foi feita individualmente a cada tradução e organizada
186
Parte IV - Análise
particular e específico. Assim sendo, embora hoje nos seja um testemunho valioso
enquanto objecto de estudo, não poderemos obter informação quanto à recepção por parte
do grande público, uma vez que, sendo uma publicação de autor, a tiragem, além de
pequena (500 exemplares), não conheceu qualquer tipo de distribuição senão a oferta
particular.
A tradução de 1966 terá sido um caso bem diferente, na medida em que foi uma
publicação distribuída a nível nacional. Embora não nos tenha sido possível contactar a
poderemos concluir que a edição terá tido desenhada para um público adulto, conhecedor
de cinema e com algum poder de compra, na medida em que a edição foi integrada na
encadernação rica que apresentava e recurso a papel de fotografia (no interior do livro
foram publicadas 8 páginas com impressões de determinadas cenas do filme My Fair Lady
(1964)).
A edição da tradução de 1972 é também ela um caso particular, na medida em que fez
parceria com a RTP e que, pela primeira vez, procurou chegar, segundo as palavras de
identificado como “o grande (mesmo grande) público”, encontrou disponível uma edição de
bolso a 15$00 distribuída em 3500 locais de venda. O tempo de antena dedicado a esta
colecção na emissão da RTP levou novos autores e títulos às casas dos portugueses e, a
julgar pela tiragem de 120 000 exemplares que esgotou em dois dias, percebemos ter sido
Dentro desta mesma linha de acção veio a surgir a tradução de 1987, incluída na colecção
2 As citações aqui apresentadas das palavras do Dr. Fernando Guedes foram retiradas da carta que gentilmente escreveu em
resposta a diversas questões que à autora do presente estudo deu oportunidade de colocar.
187
Parte IV - Análise
grande público”3. Tal como os restantes volumes da colecção, esta edição veio a conhecer
uma distribuição nacional em “livrarias e quiosques por todo o país”. Em 2003, os direitos
foram concedidos para uma segunda re-publicação da tradução, desta vez a ser distribuída
foi a tradução de 2001, publicada como parte integrante da colecção “Grandes Clássicos
do Teatro”. Uma vez mais o público-alvo foi definido como o “grande público”, procurando
dar a conhecer o libreto de uma peça musical que já não se encontrava em circulação no
O público-alvo de uma representação teatral é sempre definido sob moldes mais restritos,
previsto pelo sucesso que veio a conhecer: não só esteve cerca de dois meses em cena,
(Teatro Avenida).
concretizar, a parceria feita entre o teatro Maria Matos e a RTP por intermédio do
encenador Artur Ramos, levava a que a última representação das peças representadas
3As citações aqui apresentadas relativamente à edição de 1987 pela Europa-América, foram retiradas do email gentilmente
enviado pelo departamento de comunicação da editora em resposta a diversas questões por este estudo colocadas.
188
Parte IV - Análise
libreto que esperava um público geral, assumia como público-alvo os habitantes de Lisboa
A tradução de 1987 é emitida às 14:00 do dia 8 de Abril do mesmo ano no Canal 1 da RTP,
mesma tradução e legendagem, veio, uma vez mais, a ser exibido a 6 de Outubro de 1991
Minha Vida”, com Maria Elisa Domingues como convidada de Inês de Medeiros. Igualmente
no Canal 1 da RTP veio a ser emitida a tradução de 1994 a 9 de Fevereiro pelas 14:00.
Se parece haver alguma consistência na hora de emissão das traduções no canal público
português, o mesmo se vem a confirmar no único canal privado português a emitir o filme.
O Facto de todas as traduções terem sido emitidas num dia de semana pela 14:00,
permite-nos definir o público-alvo como adulto e com uma idade superior a 50 anos.
presentes no corpus translato foram integradas, desenha-se uma imagem clara dos autores
189
Parte IV - Análise
e dos textos de partida como elementos centrais nos sistemas literário, teatral e
cinematográfico.
integradas em colecções que se apresentam como o resultado de uma selecção dos textos
a conhecer por qualquer leitor médio: expressões como “clássicos do cinema”, “biblioteca
leitura e publicação de peças de teatro não ser habitual no sistema cultural português,
português.
conhecer pelos mais novos e a relembrar pelos mais velhos. A consulta dos arquivos e
relatórios de programação da RTP permitiu concluir que o mesmo critério de selecção foi
“Especial de Natal”.
Embora no caso das traduções para o palco, estas não tenham sido integradas num
que também estas foram apresentadas ao público como clássicos do teatro a conhecer por
1.5. Os tradutores
Tendo em conta o currículo dos tradutores cujas traduções foram incluídas no corpus, é
ao meio para o qual traduzem. Parecendo confirmar o que tem sido apontado como
elemento distintivos dos sistemas dramático e teatral (cf. II-2), as traduções para
190
Parte IV - Análise
literários, ainda que, na sua maioria, textos de narrativa; enquanto as traduções para o
palco foram realizadas por encenadores, dramaturgos ou actores, sendo que em um dos
Embora este pequeno grupo de tradutores não possa ser tomado como representativo da
classe de tradutores para legendagem em Portugal, este estudo não pode deixar de notar o
carácter de excepção a reconhecer à tradução de 1987, tendo sido esta realizada por um
tradutor profissional, mas experiente em tradução para publicação e legendada por uma
datas de tradução, este aspecto parece apontar para uma cada vez maior especialização
exigido o conhecimento de diferentes tipos de software para que as traduções possam ser
191
Parte IV - Análise
192
Parte IV - Análise
CAPÍTULO 2
ANÁLISE DOS SUB-CORPORA NÃO TRANSLATO E TRANSLATO
Tal como discutido em capítulos anteriores, procedeu-se neste estudo a uma análise semi-
seguimento do modelo de análise proposto por este estudo, foram aceites como objectivos
modelo proposto em II-3.3. A análise dos dados recolhidos decorrerá, inicialmente, com a
Fazendo primeiramente recair a sua atenção no sub-corpus não translato, este estudo
linguísticas ficcionais, procurando assim definir a função que esta assume na diegese,
193
Parte IV - Análise
Desvio Padrão 3% 4% 0% 1% 0%
prestigiada (50%) face a uma recriação notória, mas mais moderada, de variedades não
economia do texto, será possível reconhecer, tanto em Pygmalion como em My Fair Lady,
Bernard Shaw introduzida após a terceira fala da personagem Elisa2, podemos concluir
1 cf. III-3.1 onde foram definidos intervalos de desvio padrão que, permitindo identificar o grau de
homogeneidade do grupo de textos em consideração, nos alertariam relativamente a uma análise possivelmente
abusiva e quanto à necessidade de consideração de níveis inferiores de análise. Aquando da análise das
variedades prestigiadas e não prestigiadas foram considerados os seguintes intervalos de desvio padrão: < =
5% (grupo de dados homogéneo); > 5% e < = 10% (grupo de dados ainda considerado homogéneo, mas
merecedor de atenção, justificando a consideração de um nível inferior de análise); > 10% (grupo notoriamente
não homogéneo).
2 Tal como apresentado anteriormente (cf. II-1.3.1), Bernard Shaw deixa, após a terceira fala de Elisa uma
advertência relativamente à recriação de variedades linguísticas em texto ficcional: “Here, with apologies, this
desperate attempt to represent her dialect without a phonetic alphabet must be abandoned as unintelligible
outside London” (1957: 9).
194
Parte IV - Análise
secundária face ao seu poder caracterizador das personagens e das relações interpessoais.
entre discurso marcado e discurso neutro (cf. II-1.3.3.1), compreendemos que o discurso
indirectamente o seu estatuto social que, neste caso, se apresenta em estrita relação com a
É, contudo, central reconhecer que, em desafio das normas literárias discutidas em II-1, o
discurso subpadrão surge, tanto em Pygmalion como em My Fair Lady, também como
do papel secundário das personagens. Neste caso particular, para além da função de
relações de poder entre Elisa e personagens como o professor Higgins, a senhora Eynsford
195
Parte IV - Análise
Apesar do tom satírico que trespassa ambas as peças (ainda que mais evidente em
Pygmalion do que em My Fair Lady), o recurso ao discurso subpadrão social cumpre aqui
não tanto uma função satírica definida pela tradição literária, mas antes uma função de
concluir que estes são particularmente notórios quando Elisa surge em ambientes que não
o seu, isto é, ambientes considerados como não comuns para uma personagem com o seu
II-1.3.3.1) desenvolvidos por Hatim e Mason (1997: 27-28), é possível reconhecer que se,
numa arena facilmente identificada como a zona londrina de Covent Garden, a presença de
explicitamente pelo prof. Higgins como “cockney”) não desafia a expectativa do leitor/
assim como em casa da Mrs Higgins, e o recurso a um discurso subpadrão numa arena a
social, enquanto, num segundo momento, o cómico ocorre preferencialmente pelo recurso
a desvios de natureza lexical. Tendo em conta o enredo partilhado por ambas as peças
196
Parte IV - Análise
dos dados em três grupos distintos, em denúncia das três fases reconhecidas na evolução
acção de ambos os textos em análise, é possível reconhecer três fases: uma primeira em
que Elisa é caracterizada como uma típica falante de “cockney” de estatuto social baixo,
pelas camadas mais altas da sociedade; uma segunda, em que, por intermédio dos
ensinamentos do prof. Higgins, o seu baixo estatuto social e sua baixa escolaridade são
denunciadas, não pela pronúncia ou práticas de comportamento que Elisa já domina, mas
e, finalmente, uma terceira fase, em que Elisa se apresenta em pleno domínio da variedade
padrão, tanto ao nível da pronúncia padrão como ao nível do léxico e morfossintaxe, e das
My Fair Lady; a segunda face corresponderá ao acto III em Pygmalion e à cena 6 do acto 1
Lady.
de aprendizagem de Elisa.
197
Parte IV - Análise
Desvio Padrão 2% 3% 0% 2% 0%
Segunda Fase
Desvio Padrão 4% 2% 0% 2% 0%
Terceira Fase
Desvio Padrão 2% 2% 0% 3% 0%
Tabela 5: Percentagens médias das variedades ficcionais no sub-corpus não translato nas diferentes
fases de evolução da personagem Elisa face ao número total de unidades identificados em cada uma
das três fases definidas.
Face aos dados apresentados podemos concluir quanto a uma progressiva evolução de
negativo evidente, em que à presença cada vez mais notória da variedade padrão
corresponde uma presença cada vez menos expressiva das variedades oral e subpadrão
social.
agora a este estudo ver de que forma foram recriadas as variedades oral e subpadrão,
análise decorreu com a ponderação das percentagens médias correspondentes aos tipos
198
Parte IV - Análise
Sub-corpus
não translato % média 37% 42% 22%
Desvio Padrão 2% 3% 2%
Tabela 6: Percentagens médias das marcas linguístico-textuais distintivas do discurso como oral
ou subpadrão no sub-corpus não translato.
Da leitura da tabela é possível concluir uma vez mais quanto à homogeneidade do corpus,
tendo em conta que os valores de desvio padrão se mostram muito inferiores ao limite
subpadrão (Rosa 2004: 720), o sub-corpus translato parece vir confirmar o estudo de Page
([1973] 1988: 57), onde se conclui que, sendo os desvios morfossintácticos de mais difícil
interpretação pelo leitor, a recriação em texto literário tende a tirar partido preferencialmente
forma eram recriadas as variedades menos prestigiadas em cada uma das fases
3cf. III-3.1 onde, à semelhança de procedimentos anteriores, e por forma a identificar o grau de homogeneidade
do grupo de textos em consideração e de dispersão dos dados, foram definidos intervalos de desvio padrão
que nos alertassem relativamente a uma análise possivelmente abusiva e quanto à necessidade de
consideração de níveis inferiores de análise. Aquando da análise dos níveis linguísticos de que a recriação de
variedades ficcionais tira partido, tendo em conta a dimensão superior de dados obtidos, foram tidos em
consideração os seguintes intervalos de desvio padrão: < = 10% (grupo de dados homogéneo); > 10% e < =
15% (grupo de dados ainda considerado homogéneo, mas merecedor de atenção, justificando a consideração de
um nível inferior de análise); > 15% (grupo notoriamente não homogéneo).
199
Parte IV - Análise
Desvio Padrão 1% 1% 2%
Segunda Fase
Desvio Padrão 1% 1% 2%
Terceira Fase
Desvio Padrão 2% 2% 0%
Tabela 7: Percentagens médias das marcas linguístico-textuais distintivas do discurso como oral
ou subpadrão no sub-corpus não translato nas diferentes fases de evolução da personagem Elisa
face ao total de unidades identificadas em cada um das três fases definidas.
Como se pode concluir pela leitura da tabela 7, enquanto na primeira fase a recriação tira
partido dos três níveis linguísticos em proporções bastante semelhantes, numa segunda
variedade oral que, sendo comuns no modo escrito dificilmente seriam interpretados como
moldes em que a recriação se faz em texto traduzido para português, mas também
200
Parte IV - Análise
posteriormente por uma análise particular e condicionada, que procurará explorar níveis
mais refinada, e com base nos dados e conclusões obtidas, seguir-se-á uma análise
diferentes contornos que estas possam ter introduzido nos textos em termos da
Tabela 8: Percentagens médias das variedades ficcionais prestigiadas e menos prestigiadas nos
sub-corpora translato e não translato.
dos valores ultrapassa o limiar de 10% de desvio; contudo, tendo em conta os intervalos de
partilhadas por todas as traduções constitutivas deste sub-corpus, não podemos deixar de
201
Parte IV - Análise
recriação de variedades prestigiadas, contando com 60% das unidades frásicas, face a
uma expressão mais reduzida das variedades oral e subpadrão. Encontramos, desta forma,
denunciada uma estratégia de centralização (cf. III-3.2.1), na medida em que, com base no
Os dados apresentados revelam que parte das unidades identificadas como variedade oral
ou subpadrão foram recriadas como variedade padrão, apresentando-se esta como uma
corpus translato” (Rosa, 2004: 725), isto é, uma preferência por variedades mais
4 Nesta tabela, assim como nas restantes tabelas presentes neste estudo, a estratégia de expansão vem
assinalada com uma seta ascendente (↑), enquanto a estratégia de contracção vem assinalada por uma seta
descendente (↓).
202
Parte IV - Análise
Tabela 9: Percentagens médias das marcas linguístico-textuais distintivas do discurso como oral ou
subpadrão nos sub-corpora translato e não translato.
A análise global das marcas textuais revelou-se uma interpretação abusiva dos dados
obtidos, pelo que foi abandonada. A não homogeneidade do corpus nesta matéria,
global, alertando-nos para a necessidade de uma análise particular dos dados, sobre a qual
translato
particular dos dados terá desde logo em conta o meio a que as traduções se destinam.
5 Relembramos que, face à dimensão superior do grupo agora em análise, provou-se pertinente redefinir os
limites de homogeneidade, sendo agora tidos em consideração os intervalos de 0% a 10% (intervalo
identificativo de um corpus homogéneo) e de 10 a 15% (intervalo que, embora identifique o corpus como
homogéneo, reclama ponderação de um nível inferior de análise.
203
Parte IV - Análise
Desvio Padrão 2% 1% 3%
Tabela 10: Percentagens médias das variedades ficcionais no sub-corpus translato e organizadas
segundo o meio a que as traduções se destinam.
para além do meio. Os valores de desvio padrão associados aos dois grupos permitem a
204
Parte IV - Análise
Desvio padrão 1% 2% 2%
Desvio padrão 1% 4% 3%
Tabela 11: Percentagens médias relativas à recriação de variedades ficcionais nas traduções para
publicação.
Os dados agora expostos, embora confirmem a preferência pela variedade padrão (66% e
52%) e uma estratégia global de expansão das unidades de variedade padrão, denunciam
uma estratégia de expansão da variedade padrão mais tímida no grupo II (↑4% face a
↑32% no grupo I), assim como diferentes estratégias relativamente às variedades oral e
contracção das variedades subpadrão face aos textos de partida (↓60%), em denúncia da
recriação de unidades subpadrão como unidades das variedades padrão e oral. Esta
aqui apresentados parecem confirmar os resultados de Rosa (2004) que conclui que à
6Relembramos que o acrónimo TC representa a expressão Texto de chegada, tendo sido os textos de chegada
constituintes do sub-corpus translato numerados de 1 a 12 seguindo uma organização, primeiro, pelo meio a que
se destina a tradução - traduções para publicação, palco e legendagem - e, segundo, pela ordem cronológica de
data de tradução dos TC presentes em cada um dos três grupos previamente formados. Cf. III-1.2.3 e III-1.2.4.
205
Parte IV - Análise
No segundo grupo, constituído pelos TC3, TC4 e TC5, é possível reconhecer o movimento
identificar uma estratégia de contracção das unidades de variedade oral (↓23%) a ser
denunciando, por um lado, uma preferência pelos extremos do contínuo e, por outro, um
concluir que, apesar de parte das unidades de variedade oral terem sido recriadas como
variedade padrão, uma percentagem bastante superior veio a ser recriada como variedade
subpadrão.
variância resultar de uma evolução do sistema linguístico português. Tendo em conta as leis
de padronização e de interferência propostas por Toury (1995) (cf. I-1.5), espera-se que o
alinhamento cronológico das traduções denote uma presença cada vez maior de
variedades não-padrão e uma maior valorização da aceitabilidade, assim como uma menor
nas traduções para legendagem, onde é possível identificar a mais elevada percentagem na
particular dos dados, permitindo-nos reconhecer também aqui dois movimentos distintos.
206
Parte IV - Análise
Desvio padrão 3% 3% 0%
Desvio padrão 5% 0% 5%
Tabela 12: Percentagens médias relativas à recriação de variedades ficcionais nas traduções para
legendagem.
Pela leitura da tabela 12, apesar de ambos os grupos apresentarem um claro movimento de
padrão (78% face a 13% de variedade oral e 9% de variedades subpadrão) parece ser
confirmada por uma estratégia de contracção bastante expressiva das variedades oral
(↓41%) e subpadrão (↓66%), no grupo II, constituído pelos TC11 e TC12, é possível
uma estratégia de contracção de 50%, é possível concluir quanto a uma preferência pelos
extremos do contínuo. A variância aqui identificada sugere, uma vez mais, uma evolução do
sistema linguístico português sendo por este estudo colocada a hipótese de que um
alinhamento cronológico dos textos traduzidos para legendagem denotará uma evolução
207
Parte IV - Análise
promovidas por um canal privado (SIC). Assim como a hipótese anterior, também esta
existente entre os dados recolhidos e certas variáveis contextuais definidas pelo presente
estudo.
categoria variedades subpadrão, fazendo com que esta categoria conheça nas traduções
para o palco a percentagem mais alta de entre todos os grupos identificados. Embora seja
conhece um dos valores mais baixos de entre todos os grupos, sendo acompanhada por
uma percentagem muito pouco expressiva de variedade oral (14%). Tendo em conta os
contracção da variedade oral na ordem dos 36%, parece estar associada a uma preferência
pelos extremos do contínuo e à recriação de parte das unidades de variedade oral como
208
Parte IV - Análise
TC 9 76% 15% 0% 9% 0%
Tabela 13: Percentagens médias relativas à recriação de variedades subpadrão regional, social e social
específico no sub-corpus translato.
A leitura da tabela 13 torna evidente o facto de apenas três das traduções incluídas no sub-
Tendo em conta o
209
Parte IV - Análise
testemunho deixado pelos tradutores em prefácio nos TC1 e TC4 7, é possível concluir que
linguísticas em território português, assim como sobre o valor sócio-semiótico que estas
trabalhar com base na sua intuição, o que, em casos como os presentes, se traduz em
trabalhar com os dialectos com que estão mais familiarizados e de que dispõem mais
reclamam um estatuto de variedade linguística distinta (mas não inferior) da norma padrão,
regionais tenderia a ser reconhecido pelo falante comum um estatuto de inferioridade face
responder ao desafio de recriar uma variedade subpadrão social e não tanto a distinção da
facto de a presença de variedades subpadrão regional assumir uma expressão muito ténue,
reduzindo-se, de facto, a um único tipo de desvio - a indistinção entre [b] e [v] característica
do dialecto nortenho. Tendo em conta que são apenas três os casos de ocorrência de
variedade subpadrão regional e que esta nunca excede o valor de 5%, o foco de análise
7 Na tradução de 1962, é-nos deixado o seguinte testemunho na “Advertência para a tradução”: “na falta de
melhor e até porque não estou familiarizada com o falar do vulgo das nossas grandes cidades, optei, para este
efeito, pelos modos de dizer populares da região nortenha que melhor conheço” (1962: 9). Na tradução de 1987
são dedicadas palavras semelhantes ao leitor, sendo ainda possível testemunhar uma recriação que recorre a
elementos estereótipo de diferentes variedades:
“Não existe em Portugal nenhuma cidade de certa importância que possua uma linguagem tão
característica […] por isso é necessário optar por uma solução que confira alguma
verosimilhança especialmente às personagens [...]. Achei por bem optar por pô-las a falar
aproximadamente segundo o padrão dialectal das Beiras, embora por vezes se possam
encontrar expressões de outras áreas e até mais tipicamente Lisboa” (1987: 6).
O tradutor testemunha ainda que a recriação foi conseguida com base na intuição pessoal: “Obviamente que
não pretendi - nem para isso possuo competência - converter estas passagens [...] em pequenos tratados de
Fonética ou de Dialectologia. Por isso, aos especialistas peço a sua complacência” (1987: 6).
210
Parte IV - Análise
padrão e variedade oral, vem confirmar o resultado de estudos anteriores (cf. Dimitrova
1997, Rosa 1999, 2004; Leppihalme 2000a, 2000b) que identificam uma tendência global
informativos que estas variedades literárias encerram são [...] preteridos em favor de
conteúdos referenciais que o discurso citado exprime” (2004: 725). Esta forte normalização
do discurso resulta, por vezes, numa profunda alteração do perfil linguístico de certas
EXEMPLO
Eliza: (wailing) Two banches of violets trod into the mad! A full day wages. Why don’t yu look where you’re
goin?
Freddy: I’m sorry, mother. I’ll get a taxi right away. […]
Eliza: (to Mrs Eynsford-Hill) Oh, he’s yo son, is he? Wal, if yu’d done yo duty by him as a mother should, you
wouldn’t let him spawl a poor girl’s flowers and then ran aways without pyin.
Mrs Eynsford-Hill: Go on about your business, my girl. (She follows her son)
8 Apesar de este aspecto da análise vir a ser explorado em pormenor mais adiante, é importante relembrar que,
nas traduções para o palco assim como nas traduções para legendagem, ao contrário do que acontece nas
traduções para publicação, o vestuário, a entoação e o comportamento das personagens (presentes no TP no
caso do texto fílmico) auxiliarão o espectador na definição das relações interpessoais, surgindo estes como um
factor de compensação à normalização do discurso.
211
Parte IV - Análise
Eliza: (muttering to herself, as she collects the flowers) Two banches of flowers trod into the mad
Eliza: (to Pickering) I say, Captain, buy a flower off a poor girl.
Eliza: (Choramingando) Dois ramos de violetas calcados na lama! O lucro de todo um dia. Porque não
Srª Eynsford-Hill: Arranja um táxi, Freddy. Queres que eu apanhe uma pneumonia?
Eliza: (para a Srª Eynsford-Hill) Oh, ele é seu filho? Bem, se fizesse como deve o seu papel de mãe, não o
deixaria calcar as flores de uma pobre rapariga e depois fugir sem pagar.
Eliza: (lamentando-se, enquanto reúne as flores) Dois ramos de violetas calcados na lama.
Eliza: (para Pickering) Capitão, compre uma flor a uma pobre rapariga.
restantes personagens, vê-se assim reduzida, sustentando-se agora mais na acção (no
caso das traduções para o palco e para legendagem) e na informação directa das
didascálias (no caso das traduções para publicação). Será de notar a interferência na
produção de cómico no mesmo sentido, sendo que por vezes determinados momentos
212
Parte IV - Análise
EXEMPLO
O movimento contrário poderá ser verificado nas traduções em que foi identificado um
variedade subpadrão social conhece neste segundo grupo uma presença bastante
no TP denuncia uma maior atenção dada aos conteúdos interpessoais e aos sinais
TP é assim mantido nos textos de chegada, assim como as relações interpessoais, tanto de
solidariedade como de poder. Será, no entanto, importante notar que nos casos em que a
prestígio inferior relativamente aos desvios identificado no TP, o perfil da personagem veio a
ser igualmente alterado, tornando-se mais negativo e mais marcado. Exemplo disso serão
como belfa (troca do “e” por “g”) resultou numa alteração do perfil da personagem que
agora nos surge como pouco respeitadora, insultuosa e com uma deficiência de fala.
Exemplo
Eliza: Oh, we are proud! He ain’t above giving lessons, not him: I heard him say so. Well, I ain’t come here
to ask for any compliment; and if my money’s not good enough I can go elsewhere.
213
Parte IV - Análise
Eliza: Good enough for ye-oo. Now you know don’t you? I’m come to have lessons, I am. And to pay for
Elisa: Não lhe integuessa se eu vim de táxi, mas integuessa-lhe dar lições. (Para o professor Higgins)
Olhó, pgofessog, se o meu dinheigo não pegesta é que me ponho já na alheta, tá óvigue?
Elisa: Se calhag não peguesta paga si. Venho cá paga o senhogue me dague lições, mas eu pago as
cómicos identificados no TP, nos casos em que é possível identificar o recurso a desvios de
que a função satírica do TP, antes velada, seja agora evidente nos textos de chegada.
Exemplo
Eliza: My aunt died of influenza, so they said. (Mrs Eynsford-Hill clicks her tongue synpathetically) But it’s
Eliza: Yes, Lord love you! Why should she die of influenza when she come through diphteria right enough
Lord Boxinghton: (nervously loud) Done her in? Done her in did you say?
Higgins: (hastily) Oh, that’s the new small talk. To do a person in means to kill them.
Elisa: É o que dizem, mas cá para mim morreu de gripe uma porra!
214
Parte IV - Análise
Elisa: O sebo! Sim. Porque é que ela havia de marar com uma gripe, se ela tinha escapado um ano antes
Clara: Oh mamã!
Apesar da fraca expressão assumida pela variedade subpadrão regional, será importante
(indistinção entre [b] e [v]) como característico da região norte de Portugal, ter vindo a
personagem como natural da região norte de Portugal conseguida por via indirecta pela
identificação dos desvios regionais como típicos da região nortenha, teve possivelmente de
ser reajustada aquando da identificação explícita feita pelo prof. Higgins de que a
translato, cabe agora a este estudo ver de que forma foram recriadas as variedades oral e
9 Tal como referido em II-3.2.1, a opção por recorrer a desvios de diversos dialectos evitando a distinção de
dialectos regionais decorre da previsão do risco de incongruência linguística. A especificidade das variedades
linguísticas pode levar a uma translocalização indirecta do enredo, podendo esta, no caso de uma não
suspensão da descrença resultar numa situação de incongruência linguística não aceite pelo leitor.
215
Parte IV - Análise
Tabela 14: Percentagens médias relativas ao número total de marcas linguístico-textuais distintivas do
discurso como oral ou subpadrão nos sub-corpora translato e não translato.
na medida em que os grupos formados, com excepção das traduções para teatro, não
evidenciado pelos valores de desvio padrão assumidos. Procedeu-se assim a uma análise
traduções para legendagem (grupos que apresentaram um desvio padrão superior a 15%),
216
Parte IV - Análise
Desvio Padrão 1% 2% 3%
Desvio Padrão 1% 4% 3%
Tabela 15: Percentagens médias relativas às marcas linguístico-textuais distintivas do discurso como
oral ou subpadrão nos dois grupos identificados nas traduções para publicação.
No primeiro grupo, é manifesta a preferência por marcas ao nível da escolha lexical (47%),
categoria que conhece uma estratégia de expansão de 114% face ao texto de partida, em
contraposto a uma não preferência por marcas morfossintácticas (22%) e gráficas (31%)
contexto de chegada, podendo esta estratégia ser interpretada como uma tentativa de
contrariem os resultados de Rosa (2004) que identifica uma diminuição de marcas lexicais e
O segundo grupo, embora manifeste a mesma não preferência por marcas denunciadoras
denuncia, no entanto, uma patente preferência por marcas gráficas, que conhecem uma
e por marcas lexicais, que, denunciando uma estratégia de expansão de 8%, apresentam
uma ocorrência de 24%. O estudo comparativo dos dois grupos parece denunciar uma
217
Parte IV - Análise
nível de gravidade. Prova-se agora relevante explorar a hipótese de uma alteração dos
em texto ficcional.
Desvio Padrão 4% 2% 3%
Desvio Padrão 2% 2% 0%
Tabela 16: Percentagens médias relativas às marcas linguístico-textuais distintivas do discurso como
oral ou subpadrão nos dois grupos identificados nas traduções para legendagem.
No primeiro grupo, composto pelos TC9 e TC10, é manifesta a preferência por marcas
lexicais, cuja presença de 46% parece resultar de uma estratégia de expansão de 109%,
218
Parte IV - Análise
prestigiadas exibe uma aparente correlação com o recurso a marcas a que é reconhecido
um menor grau de gravidade. No segundo grupo, composto pelos TC11 e TC12, é possível
reconhecer uma preferência por desvios gráficos que assumem uma presença na ordem
contracção das marcas morfossintácticas (↓ 79%), agora acompanhada por uma estratégia
de contracção das marcas de natureza lexical (↓ 14%) e uma estratégia de expansão das
marcas gráficas de 75%. A preferência por marcas gráficas, a que é reconhecido um grau
como proposto anteriormente, assim como de uma distinção a fazer entre a tradução
promovida por canais públicos e canais privados de televisão, propostas a ser exploradas
variáveis contextuais.
preferência por marcas gráficas (54%), que apresentam uma estratégia de expansão de
Tabela 17: Percentagens médias relativas às marcas linguístico-textuais distintivas do discurso como
oral ou subpadrão nos dois grupos identificados nas traduções para o palco.
219
Parte IV - Análise
O estudo comparativo dos dados relativos às traduções para o palco e aos grupos II das
traduções para publicação e legendagem (três grupos que apresentam o mesmo tipo de
organizados seguindo esse mesmo modelo, vindo a provar-se uma vez mais a sua
220
Parte IV - Análise
Tabela 18: Percentagens médias relativas às marcas linguístico-textuais distintivas do discurso como
oral ou subpadrão face ao número total de desvios identificados em cada um dos níveis
estabelecidos.
A leitura da tabela torna evidente a preferência por marcas de natureza lexical e gráfica na
descentralização (traduções para publicação II, traduções para o palco e traduções para
legendagem II), podem agora ser identificados os valores mais elevados de desvios
variedades subpadrão.
De uma forma geral, os desvios gráficos parecem conhecer a preferência dos tradutores na
221
Parte IV - Análise
identificado, tornam manifesto o facto de, em cada um dos três níveis seleccionados, a
Os desvios lexicais conhecem em dois dos grupos definidos - traduções para publicação I
contrárias, na medida em que o valor mais elevado de ocorrência pode agora ser
Tendo ainda em atenção a análise dos níveis linguísticos seleccionados para a recriação de
assim ser possível, por um lado, identificar as categorias alvo de uma maior preferência na
recriação das variedades ficcionais e, por outro, definir um contínuo hierarquizador das
conhece o valor menos expressivo à que recebe o valor mais elevado. A tabela 19
222
Parte IV - Análise
Tabela 19: Percentagens médias relativas às marcas linguístico-textuais distintivas do discurso como
oral ou subpadrão face ao número total de desvios identificados.
variedades oral e subpadrão. Neste nível de análise tornam-se evidentes os valores mais
desvios gráficos que se destacam com a segunda percentagem mais elevada. Esta
223
Parte IV - Análise
tanto pelo facto de a categoria que conhece uma percentagem mais elevada ser expressiva
menos negativo.
Nas traduções para publicação II, os desvios gráficos e lexicais em recriação de variedades
conhecer a percentagem mais elevada de entre todos os grupos definidos. Nas traduções
para legendagem II, os desvios gráficos são alvo de uma preferência clara tanto quando em
quando em comparação com as restantes traduções para legendagem, pela presença mais
224
Parte IV - Análise
Num estudo que tem por objectivo a análise da recriação da variação linguística em
diferentes meios, torna-se relevante perceber que presença efectiva têm os desvios no
dos diferentes níveis linguísticos pelo número total de desvios, procedeu-se à análise da
Pela leitura da tabela 20 é possível reconhecer que as traduções para o palco são as que
mais tiram partido de desvios denunciadores de discurso não-padrão, tanto face ao número
mais significativo. Às traduções para publicação II e legendagem II, grupos a que foram
valores mais elevados, sendo possível identificar os valores mais baixos nos grupos a que
para legendagem I). Aos movimentos de centralização parece ser igualmente possível
225
Parte IV - Análise
a que se destina o TC
variável meio parece não ser uma variável condicionante da escolha entre a recriação ou
TP, assim como pelo recurso a marcas familiares reconhecidas como não-padrão no
padrão e de reconhecimento imediato pelo leitor que permitem a sua identificação como
subpadrão.
Parece, no entanto, não ser possível excluir por completo a variável meio como
condicionante da forma como é gerida a presença de cada uma das variedades em texto
das diferenças reconhecidas no seio das traduções para publicação e das traduções para
legendagem, que nos conduzem à ponderação de outras variáveis para além do meio, não
226
Parte IV - Análise
assim como a tendência contrária das traduções para o palco, que apresentam o mais
Tendo em conta as motivações diversas que poderão estar na base de uma estratégia de
de tais marcas como erros e não como resultantes de uma manipulação intencional, for tido
(tanto em termos de insuficiência de tempo para uma tradução ponderada, como pela baixa
remuneração que o obriga a uma tradução no menor tempo possível para que maior seja o
número de traduções realizadas ou os meios de pesquisa que tem ao seu dispor) é possível
centralização ainda mais expressivos, na medida em que se fazem sentir num meio com
condições de trabalho parecem ser ainda mais adversas pela existência de prazos mais
de facilitar uma leitura rápida de um texto exposto por breves segundos e que não reclame
audiovisual; contudo, a natureza polissemiótica do produto final de que a legenda faz parte
deve ser entendido, por um lado, como aspecto hierarquizador dos diferentes elementos
em que a linguagem escrita vê reforçada o seu papel ancilar e, por outro, como um
elemento compensador desta opção de tradução, na medida em que o tradutor espera que
227
Parte IV - Análise
Relativamente às traduções para teatro, devem, antes de mais, ser relembrados dois
será conseguida não através do texto escrito, mas do texto proferido em palco em conjunto
vestes das personagens (cf. II.2 e II.3); segundo, que o processo de tradução para o palco
sendo que frequentemente o tradutor retorna ao texto por sugestão do encenador ou dos
actores. Assim sendo, prova-se relevante destacar, em primeiro lugar, o facto de a recriação
de variedades linguísticas ficcionais ter sido trabalhada de forma tão cuidada pelos
encenador e actores, denunciam uma visão do papel do tradutor e da tradução não apenas
para serem ditos como se não tivessem sido escritos, as traduções para o palco serão
incluídas num produto final marcado por uma mudança de canal (de visual para visual e
auditivo), de meio (de escrita para a fala) e de código (do código verbal escrito, para os
códigos não verbal, verbal oral e verbal escrito), pelo que, o recurso a marcas de oralidade,
que em texto ficcional participam na distinção do discurso como subpadrão, não terão o
palco onde o discurso é, por natureza, oral. Um argumento semelhante poderá ser
entre modo escrito, norma ortográfica e a norma padrão, em palco vêem-se anulados pelo
modo oral característico deste meio. Parecem aqui encontrar justificação tanto a
228
Parte IV - Análise
estratégia mais expressiva de expansão dessa mesma categoria face ao texto de partida.
normas activas no sistema a que pertence, que é definida a proeminência a assumir por
cada variedade.
Cabe agora perceber se a variedade meio participa igualmente na gestão dos níveis
analisados não nos permitem, também neste caso, seleccionar o meio a que se destinaram
padrão, fazendo recair a nossa atenção, primeiro, nos grupos que denunciam movimentos
descentralização.
através de desvios lexicais, marcas conotadas como menos negativas e que parecem
às marcas lexicais; circunstância contrária ao que ocorre nas traduções para publicação I
gráficos. Será relevante reconhecer que, embora ambos os grupos denunciem uma opção
229
Parte IV - Análise
por desvios de conotação menos negativa e procurem tirar partido do impacto visual que
os desvios gráficos têm sobre o leitor que associa o modo escrito à variedade padrão, nas
traduções para legendagem a maioria dos desvios gráficos denuncia oralidade, sendo as
reconhecida nas traduções para publicação, é possível concluir quanto a uma recriação da
variação linguística que tira partido de um número mais reduzido de desvios e que
modo escrito pelo falante comum conduz ao juízo negativo de qualquer desvio da norma
interpretados como erros e não como resultado de uma manipulação intencional. Contudo,
menos em parte, das características inerentes ao meio que, por um lado, apresenta
limitações (como o tempo de exposição) que conduzem o tradutor a optar por desvios
menos comprometedores da leitura, mas que, por outro, fazem acompanhar os textos de
elementos extralinguísticos que assistem o espectador e que, de certa forma, surgem como
valorização mais negativo e que mais comprometem a leitura; contudo, dois aspectos
introduzidos na sua maioria em recriação de variedade oral, sendo um tipo de desvio que,
não deixando de marcar a sua diferença relativamente à norma padrão, demonstra ser
230
Parte IV - Análise
pouco disruptivo da leitura, reclamando pouca atenção sobre si10 ; segundo, a percentagem
desvios de forma regular e constante. Será assim possível concluir que o movimento de
legendagem I, a que parece estar associado uma escolha preferencial por desvios de
conotação menos negativa (desvios lexicais e gráficos), parece vir a ser reforçado nas
traduções para legendagem I que, além da opção predominante por desvios de conotação
ainda uma presença menos regular de desvios por unidade de tradução. A presença de
contrariar tal conclusão, demonstram, após uma análise cuidada, confirmar as opções
marcas.
traduções para teatro e traduções para legendagem II. É possível agora reconhecer que,
descentralização, denunciando uma preferência clara por marcas gráficas, é uma vez mais
subpadrão face às traduções para publicação, assim como percentagens mais elevadas
código verbal escrito, as traduções para legendagem parecem sustentar a sua estratégia na
associação feita entre o modo escrito e a norma padrão pelo falante comum, confiando que
10 Os resultados do questionário realizado no âmbito do presente estudo (cf. anexo C) permite confirmar esta
circunstância, visto que à frase “Para que é que vens com tantos livros”, classificada pela maioria dos inquiridos
como oral e marcada por desvio morfossintáctico, foi reconhecida uma percentagem de 92% na categoria
“pouco grave”.
231
Parte IV - Análise
serão o bastante para a identificação do discurso como subpadrão, ao mesmo tempo que
legendas. Deverá ainda ser tido em ponderação que, ao contrário do que é possível
identificar nas traduções para publicação, a preferência agora reconhecida por desvios
gráficos subpadrão foi motivadora de uma presença mais reduzida de desvios lexicais,
demarcadores do discurso como não-padrão; tendência que não se faz sentir nas
traduções para publicação onde é reconhecida uma frequência de ocorrência por unidade
tradutória tão superior à frequência identificada nas traduções para legendagem como
quanto à preferência por variedades subpadrão, fazendo-se esta sentir não só em termos
subpadrão, mas também pela presença mais regular e constante de desvios por unidade
tradutória. Tendo agora em conta as percentagens assumidas por cada nível linguístico face
traduções para publicação. Tal regularidade poderá parecer surpreendente, visto que, não
podendo tirar partido da identificação dos desvios de oralidade ou dos desvios ortográficos
conseguida através de desvios subpadrão; contudo, devem ser tidos em consideração três
semiótico mais negativo; b) o recurso a uma entoação “cantada” a que os tradutores fazem
232
Parte IV - Análise
baixo. A variável meio prova ter também, neste caso, condicionado a recriação das
interpretação menos acessível), mas que, por outro, permitiu a participação de elementos
Parece assim ser possível reconhecer a participação da variável meio na gestão dos níveis
outro.
de tradução
Tendo sido a data de tradução umas das variáveis contextuais definidas pelo presente
cronológico das traduções, assim como o estudo comparativo dos valores reconhecidos
literárias em texto ficcional traduzido, assim como o facto de o corpus seleccionado não
estudo da evolução cronológica foi também ela realizada de forma condicionada, tendo
sido desenhados três alinhamentos cronológicos dizendo respeito a cada um dos meios em
estudo.
233
Parte IV - Análise
anteriormente relativos à inclusão das variedades padrão, oral e subpadrão nas traduções
para publicação em análise. Cada uma das figuras seguintes incluirá informação relativa
aos valores identificados nos TP e nos TC relativamente à presença das variedades padrão,
oral e subpadrão. Espera-se assim tornar explícita não só a análise comparativa entre os
de alteração de estratégia.
30%
20%
10%
0%
1962 1966 1972 1984 2001
Figura 16: Alinhamento cronológico expressivo da recriação das variedades padrão, oral e
subpadrão nas traduções para publicação presentes nos sub-corpora não translato e
translato.
relação às variedades oral e subpadrão. Apesar de a variedade padrão (linha verde escuro)
apresentar valores sempre superiores relativamente aos textos de partida (linha verde
acompanhada por uma presença mais notória das variedades subpadrão (linha azul), cujos
valores conhecem uma expressão mais significativa não só relativamente aos textos de
partida (linha azul ponteada), como também à variedade oral nos textos de chegada (linha
234
Parte IV - Análise
rosa). O cruzamento das linhas azul e rosa comprova uma mudança de estratégia na
década de 70 mantida nas décadas seguintes, sendo possível reconhecer, por um lado,
uma nova hierarquização das variedades recaindo agora a preferência nas variedades
subpadrão e, por outro, uma atitude diferente face ao texto de partida. A variedade oral, a
que é reconhecida uma estratégia de expansão face aos textos de partida (linha rosa
conhecem valores bastante inferiores aos reconhecidos nos textos de partida), assim como
sendo possível reconhecer uma clara evolução no sentido de uma maior aceitabilidade da
235
Parte IV - Análise
relação à escolha dos textos a ser publicados, como ao discurso neles recriado, não será
prova-se relevante interpretar esta mudança de estratégia à luz de uma evolução tanto do
sistema linguístico, que reconhece cada vez mais prestígio à variedade oral, como do
sistema literário, marcado por uma cada vez maior aceitabilidade face ao recurso de
ilustrar de forma evidente estes dois movimentos contemporâneos, mas de certa forma
aceitação em texto literário. A demarcação das marcas desviantes pelo recurso ao itálico
língua de chegada.
Higgins: Está bem. Obrigado, senhora Pearce. Despache-a já para a casa de banho.
236
Parte IV - Análise
num fico cá, pois atão. E num consinto que ninguém me bata. Eu num pedi pra ir ao palácio,
nem nunca tive sarilhos com a Polícia, isso é que não. Sou uma rapariga séria…
Senhora Pearce: Não responda rapariga. Não percebeu o que aquele senhor diz. Venha
Liza: [ao sair] Pois o qu’eu disse é verdade. Eu cá num me chego ó pé do rei, se m’arrisco a
que me cortem a cabeça. Se eu soubesse no que me metia nunca cá tinha vindo. Sempre fui
uma rapariga séria e num era pra falar pra ele nem nada; e num lhe devo nadinha; e num
m’interessa: e num fazem de mim gato-sapato; eu tenho cá os meus prencípios, como toda a
gente...
consequente interpretação dos desvios não como erros, mas como desvios intencionais
o recurso a desvios subpadrão faça recair sobre o seu trabalho o estigma de “má
tradução”.
237
Parte IV - Análise
20%
10%
0%
1945 1974 2001
Figura 17: Alinhamento cronológico expressivo da recriação das variedades padrão, oral e
subpadrão nas traduções para o palco presentes nos sub-corpora não translato e translato.
havia sido identificado nas traduções para publicação. Embora seja possível reconhecer
uma estratégia de ligeira expansão da variedade padrão (linha verde) face ao texto de
partida (linha verde ponteada), assim como uma franca estratégia de expansão das
variedades subpadrão (linha azul) face ao texto de partida (linha azul ponteada). A
variedade oral (linha rosa) denuncia uma constante e clara estratégia de contracção face ao
textos de partida (linha rosa ponteada). A presença das variedades subpadrão e o assumir
sistema teatral, possivelmente pelo facto de o canal não ser a escrita e por tirar partido de
um código verbal oral, o recurso as variedades subpadrão é mais bem aceite pelo público,
fazendo-se sentir muito antes do que no modo escrito das traduções para publicação. Tal
não parecerá certamente inusitado se for tida em consideração a longa tradição de recurso
revista, textos mais próximos das traduções agora em análise. Embora esta seja uma linha
238
Parte IV - Análise
estudo.
organização cronológica dos dados relativos à recriação das variedades padrão, oral e
subpadrão nas traduções para canais de televisão portugueses ao longo de duas décadas.
26,667%
13,333%
0%
1987 1994 1995 1996
Figura 18: Alinhamento cronológico expressivo da recriação das variedades padrão, oral e
subpadrão nas traduções para legendagem presentes nos sub-corpora não translato e
translato.
valores reconhecidos à variedade padrão (linha verde) se mostrarem sempre superiores aos
reconhecidos nos textos de partida (linha verde ponteada), na segunda metade da década
notória, sendo acompanhada por uma mais evidente expressão das variedades subpadrão.
O movimento progressivo de ascensão das variedades subpadrão (linha azul) faz-se notar
239
Parte IV - Análise
discurso não-padrão.
A presença de variedades subpadrão e a progressão que lhe é reconhecida são, por si só,
segunda metade da década de 90, tanto pela recriação em expansão das variedades
acordo com a qual se espera que textos de chegada mais recentes denunciem uma
tradução: as traduções de 1987 e 1994 foram promovidas pela RTP, um canal público com
promovidas pela SIC, um canal de TV privado, cujas traduções são feitas por tradutores ou
serão certamente alheias a ambas as circunstâncias, isto é, a uma evolução dos sistema
promove a tradução. Contudo, para uma ponderação consistente de tais variáveis será
canais distribuídos pelas mesmas décadas, um estudo que não será possível desenvolver
de momento.
Tendo em conta as regularidades encontradas, parece ser possível concluir que cada um
240
Parte IV - Análise
identificar uma evolução geral do sistema linguístico português que passa por uma
uma avaliação mais positiva tanto das variedades dialectais, como da noção de inovação
desvios contabilizados nas traduções para publicação. Tal como nas figuras anteriores,
também aqui são facultados os valores relativos a cada um dos tipos de marcas linguísticas
60% Morfossintaxe TC
Morfossintaxe TP
Escolha Lexical TC
48%
Escolha Lexical TP
Grafia TC
36% Grafia TP
24%
12%
0%
1962 1966 1972 1984 2001
241
Parte IV - Análise
regular e de sentido descendente, isto é, no sentido de uma presença cada vez menor
(linha rosa) que denunciam uma estratégia de clara expansão face ao texto de partida (linha
(linha azul) para a demarcação do discurso como não-padrão. O cruzamento das linhas
rosa e azul denuncia este assumir de uma nova estratégia, sendo, inclusive, possível
expansão relativamente aos desvios gráficos face ao textos de partida (linha azul
ponteada).
hipotética segundo a qual se espera que nas últimas décadas do período em análise se
evidencie a tendência para uma maior inclusão de desvios a que é reconhecida maior
gravidade em texto literário. A possível alteração dos sistemas linguístico e literário, de que
foi feita referência anteriormente, tornou possível, por um lado, e motivou, por outro, o
poderá tirar partido sem incorrer no risco de estes serem interpretados como erros de
tradução.
242
Parte IV - Análise
70,0% Morfossintaxe
MorfossintaxeTP
Escolha Lexical
52,5% Escolha Lexical TP
Grafia
Grafia TP
35,0%
17,5%
0%
1945 1974 2001
relativamente tanto aos desvios morfossintácticos como aos desvios lexicais e gráficos,
percentagens médias assumidas por cada um dos níveis linguísticos. São mantidas nos
relativamente aos desvios gráficos que apresentam uma estratégia de expansão de (cf.
linha azul e linha azul ponteada) e aos desvios morfossintácticos que apresentam uma
estratégia de contracção (cf. linha verde e linha verde ponteada). É, no entanto, possível
identificar uma alteração de estratégia relativamente aos desvios lexicais aqui denunciada
243
Parte IV - Análise
80% Morfossintaxe
Morfossintaxe TP
Escolha Lexical
64%
Escolha Lexical TP
Grafia
48% Grafia TP
32%
16%
0%
1987 1994 1995 1996
Ao contrário da regularidade encontrada nas traduções para o palco, é aqui evidente uma
meados da década de 90. Embora mantendo sempre uma estratégia de contracção dos
inferior a 10%. O cruzamento das linhas azul e rosa vem novamente confirmar uma
reconhecer nos finais dos anos 80 e na primeira metade da década de 90, em que a
reconhecer na segunda metade da década de 90, que denuncia a opção contrária, sendo
conferida uma proeminência clara aos desvios gráficos em detrimento dos desvios lexicais.
Esta opção é acentuada e confirmada pelo estudo comparativo entre os textos de chegada
corresponde ainda uma alteração de estratégia face ao texto de partida: a uma estratégia
de expansão dos desvios lexicais e de contracção dos desvios gráficos a reconhecer nos
primeiros anos do período em análise, segue-se uma estratégia de expansão dos desvios
244
Parte IV - Análise
função prospectiva
Reconhecendo o texto traduzido, literário ou não literário, como elemento activo num
fundamental, não apenas assumir o facto de o processo de tradução ter sido iniciado pela
cultura de chegada, mas também identificar por que via foi patrocinada a tradução e que
I-2.2, o texto é aqui entendido como um espaço de negociação entre o criador, o papel
fundamental fazer acompanhar o estudo das normas, proposto por Toury como um dos
cada um dos TC, levantar hipóteses relativamente à motivação promotora e aos propósitos
a cumprir pelo TC, não esquecendo a distinção a fazer entre a função prospectiva
de chegada.
licenciatura, apenas conheceu uma publicação de autor com uma tiragem de 500
245
Parte IV - Análise
tiragem e divulgação que esta tradução veio a conhecer, não pode deixar de ser
estudos (Rosa, 2004, Seruya, 2005) e por este estudo aquando da ponderação da
a) Entretenimento.
11Apesar do prémio Nobel de literatura atribuído a Bernard Shaw em 1925, os seus ideais socialistas afastavam-
no dos manuais escolares e das colectâneas de literatura inglesa promovidas pelas Universidades portuguesas.
246
Parte IV - Análise
na história do cinema (de quem a editora tira partido na capa da edição), participam
transferência de prestígio.
a) Entretenimento.
de grande circulação do grande público português, tanto nos anos 70 como agora,
vindo a conhecer a maior campanha promocional realizada até então, assim como a
particular é igualmente prova desse propósito na medida em que, por via dos filmes
12Fernando Guedes, director da colecção e da editora Verbo, apresentou a colecção nos anos 70 como uma
colecção onde foram seleccionados os autores essenciais, tendo sido orientada pela “qualidade das obras, [pelo]
cuidado e rigor na escolha [e pelo] requinte gráfico” (2005:10).
247
Parte IV - Análise
realizados e da adaptação musical My Fair Lady, este era certamente o texto mais
variação linguística, como aos níveis linguísticos de que o tradutor tira partido na
nesse movimento de renovação tanto das práticas linguísticas como das práticas de
factor que terá sido fundamental numa melhor aceitação da recriação de variedades
linguísticas em texto ficcional. Apesar de não ter sido publicada com a tradução
como problemas de tradução” (1984) escrito pelo tradutor e publicado como separata
propostos por Bernard Shaw para esta peça e enunciados como sendo:
entre ingleses, com nítido efeito de ferrete social e constituindo sério obstáculo a uma
223).
248
Parte IV - Análise
Numa hierarquização dos elementos parece ser atribuída pelo tradutor maior
classe” (Moser, 1984: 223) sem que em português exista “[um] falar que seja tão
comunicativo na sua difícil inteligibilidade, nem que seja do mesmo modo aceite
a) Entretenimento
esta tradução da anterior (tradução para publicação de 1972), assim como o facto de
não ter havido novas reedições ou reimpressões da tradução de 1972, não será difícil
português com uma nova tradução, visto ser promovida por uma outra editora,
Publicações Europa-América.
generalizada do texto, a ser garantida por três linhas de acção diferentes: uma boa
denunciando a relação que este mantém com a adaptação fílmica My Fair Lady (o
249
Parte IV - Análise
e autores centrais da literatura universal, vê-se assim confirmada, uma vez mais, o
lugar central que tanto o autor como o argumento ocupam no cânone da literatura
universal.
isolado, mas sim um elemento participante numa alteração conjuntural, que veio a
conhecer não só a hierarquização que deles faz, como também a forma como estes
intenções de Bernard Shaw com esta obra, assim como a necessidade de coerência
que, embora considere “um trabalho um pouco fictício”, parece ser inevitável no
a) Entretenimento.
250
Parte IV - Análise
sido esta suportada por um preço de capa acessível e pela promoção da relação que
mantém com o espectáculo My Fair Lady, Minha Linda Senhora levado à cena no
intitulada “Grandes Clássicos do Teatro” denuncia, uma vez mais, a promoção deste
e) Renovação das práticas de tradução. Pela relação que esta tradução mantém com a
não podemos deixar de assumir esta tradução como participante activa num
de textos dramáticos diz respeito. Embora denuncie uma posição de confirmação das
fazem notar desde a década de 70, é clara a posição de renovação de certas práticas
sistemas que tradicionalmente não cruzam as suas linhas de acção. A análise deste
confirmar, com base em Ramos Pinto (2009), a tendência recente para a publicação
palco por parte de editoras como a Europa-América, Relógio d’Água ou Campo das
Letras.
251
Parte IV - Análise
a) Entretenimento.
1943 e 1944, ambas traduções para publicação, percebemos que este seria um autor
não muito conhecido do grande público e ausente dos palcos portugueses. É assim
difícil avaliar o grau de inovação do discurso face às normas em vigor nos anos 40;
d) Crítica social. Relembrando o clima de censura vivido nos anos 40 em Portugal, assim
desta tradução e uma das suas funções prospectivas. Se, por um lado, é esperado
com que essa crítica seja velada e passe entre malhas da censura prévia.
252
Parte IV - Análise
Reconhecendo o carácter especial desta tradução pelo facto de a sua representação nunca
ter tomado lugar, facto que não impede a ponderação da mediação da função prospectiva,
a) Entretenimento.
importante assumir um público mais lato a esta tradução na medida em que estava
percebemos que, não estando previstas quaisquer alterações ao texto para a emissão
d) Crítica social. Terão sido a Revolução de Abril e o levantar da censura as razões para
por uma peça de Bernardo Santareno, mas também são estes os elementos que nos
propósito de uma crítica social velada. O clima de liberdade agora vivido anulava a
Apesar de esta tradução manter uma clara relação com a tradução para publicação de
2001, os textos têm sido neste estudo considerados como pertencentes a sistemas
a) Entretenimento.
253
Parte IV - Análise
por razões que não foi a este estudo possível apurar. A tradução de 2001 foi assim a
um texto e um autor que, embora conhecidos nos ecrãs de cinema e nas páginas da
de acção do Teatro Politeama referida no item anterior, não será despiciendo concluir
promotor da tradução.
254
Parte IV - Análise
f) Crítica social. Não sendo possível reconhecer a crítica social como motivação principal
para a promoção desta tradução, certas escolhas tradutórias 13, cuja análise não faz
momento cómicos.
A qualquer tradução para legendagem deverá ser reconhecida, antes de mais, a sua função
audiovisual; contudo, podem ser reconhecidas outras funções não inerentes ao produto
13Embora não seja possível neste estudo proceder à análise textual que esta questão reclama, percebemos que
a inclusão de certas passagens ausentes no texto de partida, assim como da tradução para publicação de
2001, tinham como objectivo uma crítica social velada ao mesmo tempo que suportavam o carácter cómico
característico do argumento. A passagem seguinte (assinalada a itálico) é um claro exemplo:
Senhora Eynsford-Hill: Pronto, parou de chover. Já não precisamos de nenhum táxi. Vamos de
autocarro, ouvistes, Clara?
Higgins: Ouvistes?!!! Pela boca morre o peixe!
Clara: De autocarro, que ridículo! Tudo por tua culpa, estúpido!
Higgins: Estamos a viver numa época de novos-ricos que querem fazer-se passar por senhores, mas
traem-se cada vez que abrem a boca. Ao menos aquela é genuína.
255
Parte IV - Análise
inovação do discurso face às normas em vigor nos anos 80; contudo, a promoção do
canal público de televisão em causa (RTP) como serviço público, assim como a
Reconhecendo uma vez mais a função primária de elemento ancilar, são reconhecidas as
entidade promotora da tradução. Tendo sido esta tradução promovida pelo mesmo
A esta tradução são reconhecidas, para além da sua função primária de elemento ancilar,
as seguintes funções:
256
Parte IV - Análise
emissão foi promovida por um canal de televisão ainda bastante recente14 , a escolha
então.
tradução. Também neste caso, seria abusivo reconhecer a esta tradução o papel de
como das práticas de tradução. Outro aspecto deve ser, no entanto, tido em
canal de televisão privado, que, por um lado, se viria a definir e a ser definido em
comparação com o canal público RTP que até então monopolizava os ecrãs
14A primeira emissão do canal de televisão SIC, o primeiro canal privado generalista e de emissão nacional em
Portugal, ocorreu às 20h do dia 6 de Outubro de 1992.
257
Parte IV - Análise
mas também uma tomada de posição face às normas promovidas pelo canal público.
A esta segunda tradução de My Fair Lady são reconhecidas, para além da sua função
como um clássico do cinema. Tendo em conta que esta emissão foi promovida pelo
mesmo canal privado que promoveu a tradução de 1995, é possível concluir que,
também neste caso e pelas mesmas razões, a escolha de um clássico de cinema vem
legendagem. Sendo igualmente promovida pelo canal privado SIC, esta tradução vem
assim confirmar as hipóteses levantas anteriormente (cf. tradução 1995, alínea e)).
recriação de variedades prestigiadas e não prestigiadas, assim como dos níveis linguísticos
de que a recriação tira partido, é agora possível ponderar a possível correlação entre as
258
Parte IV - Análise
qual novos elementos são introduzidos no sistema com vista à renovação deste e/ou das
Focando a nossa atenção nas motivações de natureza poética (cf. I-2.2), parecem
em análise se posicionam de forma distinta, tal como se torna explícito na figura 22.
texto traduzido, é possível reconhecer que, se num primeiro momento a prática dominante
259
Parte IV - Análise
estratégias que viriam no futuro a constituir a prática dominante terão sido, no momento,
um dos meios, assim como do prestígio que lhes é reconhecido no sistema de chegada, é
possível reconhecer as três fases anteriormente referidas nos três meios em análise, ainda
que nem todas sejam ilustradas pelos textos constituintes do corpus em estudo. Numa
grave pelo falante comum, surgem em denúncia de uma função de consolidação das
falante comum vem denunciar uma função de subversão e renovação das práticas de
tradução. Numa terceira fase, e uma vez aceites as novas práticas de tradução como
hierarquização dos elementos textuais a traduzir (denunciando agora uma maior valorização
260
Parte IV - Análise
estudos anteriores (Rosa, 1999, 2001) e tendo em conta a relação de correlação verificada
1997, Rosa levantava a questão: “[s]erá a tradução para legendagem exibida pelos canais
públicos?” (1997: 46). A análise efectuada pelo presente estudo permite a observação de
conclusão de que existe uma relação de correlação entre as duas variáveis. Às traduções
promovidas pela canal público RTP, enunciado como “serviço público”, são reconhecidas
padrão; enquanto às traduções promovidas pelo canal privado (SIC) são reconhecidas
para legendagem. Tal como apontado em Rosa (1997, 1999), o canal privado, não
conta que a RTP mantém um grupo próprio de tradutores, pode ser igualmente
tradução para legendagem abrindo o mercado a novos tradutores, esta ter sido uma forma
canal público de televisão, vindo os textos traduzidos a participar num processo mais lato
de criação de uma imagem de modernidade, renovação e inovação com que o novo canal
Relativamente às traduções para teatro, um último aspecto merece uma atenção particular.
Em confirmação das palavras de autores como Esslin (1976) ou Bennett (1997) que
261
Parte IV - Análise
das restantes no sentido em que assumem de forma bastante activa uma atitude de crítica
controverso, afamado pelos seus ideais socialistas e a opção particular da versão de 1916
cumprisse objectivos semelhantes aos que havia cumprido no sistema de partida. Outros
medida em que tornariam tais objectivos de crítica e subversão mais explícitos; contudo,
prémio Nóbel permitiram a este argumento escapar por entre as malhas da censura. Tal é
confirmado pela escolha desse mesmo argumento em 1974 e pelo seu abandono por um
outro de Bernardo Santareno em 1974 assim que foi levantada a cortina censória. O
ao Portugal de hoje:
Será a “Minha Linda Senhora” menos académica que a original, mais acre e
em cena em português estamos também a falar de Portugal, dos nossos ricos, dos
nossos pobres e dos falsos ricos que querem passar por ricos esquecendo-se de
A opção por um autor central no sistema europeu para a apresentação de uma mensagem
(tanto dos teatros, como das editoras ou canais de televisão), permite-nos concluir quanto
262
Parte IV - Análise
como aos autores e a estes textos ficcionais em particular, por forma a introduzir no
Não sendo objectivo deste estudo estabelecer uma relação de causalidade entre as
tradução.
263
Parte IV - Análise
264
CONCLUSÃO
(britânica) para português europeu traduzidos no séc. XX. Para tal, foi reunido um corpus
elucidar quanto à opção por diferentes estratégias tradutórias em períodos distintos, mas
e My Fair Lady de Alan Jay Lerner, distribuindo-se por três meios distintos - traduções para
incluídas no corpus de análise. Este veio a ser submetido, numa primeira fase, a uma
análise estatística quantitativa e, numa segunda fase, a uma análise qualitativa através da
ponderar não só sobre as características linguísticas dos textos em análise, mas também
sobre o contexto histórico face ao qual a acção do tradutor deve ser interpretada.
Assumindo que traduzir implica manobrar as normas de tradução e saber operar dentro
delas, foi objectivo deste estudo apreciar a tensão entre normas de tradução e
modelo de análise adequado aos objectivos que se pretendiam atingir, assim como os
dos dados e reflectir sobre alguns dos aspectos dos dados obtidos. A primeira questão a
ser colocada será certamente em que medida terá o presente estudo cumprido os
objectivos propostos? Isto é, como são recriadas as variedades ficcionais nos textos de
265
partida? Que funções cumprem? Que estratégias foram reconhecidas na tradução de
conhecido contornos e funções semelhantes nos textos de chegada ou terá, pelo contrário,
e o Outro traduzido, sendo assim reveladora da relação de poder e de prestígio que entre
os dois sistemas se estabelece. Neste sentido, a tradução surge como um dos vários
ideologia dominante, assim como das relações de poder e dos elementos linguístico-
textuais que as exprimem. Foi neste sentido que no presente estudo foram reconhecidos
profundas viragens ideológicas, tendo estas conduzido, por vezes, a uma renovação do
políticas como sociais) conduziram à renovação da ideologia dominante, fazendo com que
desenhar.
266
partida no sistema literário europeu e qual a sua relação de prestígio? Que atitude poderá
ser reconhecida aos promotores das traduções pela escolha de tais textos em detrimento
de outros? Qual a função prospectiva desenhada para cada uma das traduções e qual o
podem ser acrescidas as seguintes: qual a posição ocupada pelo sistema de textos
em texto ficcional? Qual o grau de prestígio reconhecido aos diferentes meios em estudo e
deste modo, como um contributo original no sentido em que, conciliando as propostas dos
variedades ficcionais que procurou dar conta tanto das formas linguístico-textuais de que a
por diferentes estudos de caso, foi apresentada, partindo das propostas de Dimitrova
(1997), Leppihalme (2000a, 2000b) e Rosa (1999, 2004), uma escala de prestígio das
267
diferentes variedades linguísticas (cf. II-3.3). Esta escala constitui um passo complementar
forma distinta, como as organiza sob a forma de um sistema por forma a dar conta do valor
âmbito circunscrito realizado anteriormente (Ramos Pinto, 2007b) foram também neste
extremo de maior prestígio, seguida pela variedade oral, variedade regional e variedade
consolidação e de subversão.
menos prestigiadas em texto ficcional, foi pelo presente estudo apresentado um contínuo
realizado pela autora (Ramos Pinto, 2007b), como relativamente a outros estudos em que a
valorização reconhecida pelos falantes aos níveis linguísticos não teve oportunidade de ser
explorada em detalhe (Dimitrova, 1997, Leppihalme 2000a, 2000b e Rosa, 1999, 2004).
De acordo com os parâmetros definidos pelo modelo de análise, foi desenhada uma
268
dados passíveis de integração em corpora de maiores dimensões ao serviço de estudos
linguística, pela preservação das coordenadas de espaço e de tempo do TP, assim como
de reconhecimento imediato pelo leitor que permitem a sua identificação como subpadrão.
presentes no contínuo tornou possível identificar dois grupos com estratégias distintas de
recriação de variedades ficcionais: um primeiro grupo, constituído pelos TC1, TC2, TC9 e
composto pelos restantes textos de chegada, a que pode ser reconhecido um movimento
de descentralização.
padrão e de contracção das variedades oral e subpadrão face ao texto de partida. Conclui-
se, assim, quanto a uma substituição de repertoremas de valor negativo por repertoremas
269
conteúdos referenciais que o discurso exprime. A recriação como variedade padrão de
TC6, TC7 e TC8 e de forma menos acentuada nos TC11 e TC12, é reconhecida uma maior
expressão das variedades menos prestigiadas (tanto oral como subpadrão), assim como
cómicos são assim mantidas, sendo, porém, de notar, a sua acentuação ou, inclusive, uma
alteração do perfil da personagem nos casos em que foi possível reconhecer uma muito
Adicionalmente, por vezes, não só o perfil da personagem recebe novos contornos como
270
Relativamente aos níveis linguísticos de que a recriação tirou partido, a análise global das
percentagens reconhecidas a cada uma das categorias permitiu identificar uma preferência
associar uma preferência por marcas lexicais, a que se segue a escolha de marcas gráficas
O estudo comparativo dos dois grupos que aqui se desenham possibilitou, como tal,
Parece assim ser possível concluir que a recriação de variedades ficcionais segue
diferentes estratégias, podendo ser reconhecido em algumas das traduções uma clara
O presente estudo possibilitou confirmar num corpus mais vasto e com base num par de
chegada num determinado momento histórico, não podendo, portanto, ser entendido como
convergência (opção pelas variedades posicionadas nos extremos do contínuo) parece ser
também ela governada pelas normas em acção, não se relacionando com o universal de
271
tradução de normalização dialectal proposto por Dimitrova (1997). Contudo, não deixa de
ser relevante a oportunidade oferecida pelo presente estudo de, por um lado, confirmar a
por Shlesinger (1989) e confirmada por Laviosa-Braithwaite (1996 e Laviosa 1998a, 1998b)
Uma vez confirmada a acção tradutória como governada pelas normas em vigor, vale a
tradução e a função prospectiva. Relativamente à variável meio foi possível concluir quanto
prestigiadas.
Mantendo a distinção entre os dois grupos referidos anteriormente (um primeiro a que é
verificar que as traduções para legendagem, em resultado tanto das restrições de espaço,
tempo e nível de legibilidade, como pelo suporte que recebem pela co-presença dos
restantes elementos visuais e auditivos, denunciam uma tendência mais acentuada para
traduções para publicação e traduções para o palco. Apesar de no seio das traduções para
272
do movimento de centralização reconhecido no primeiro grupo), não podemos deixar de ter
relativamente às restantes traduções. Ainda que nas traduções para legendagem seja
não-padrão e a selecção preferencial de desvios de natureza gráfica, não pode ser ignorada
uma estratégia geral de opção por desvios a que é reconhecido um menor grau de
Esta opção vem a ser reiterada por uma presença em menor número de desvios em
variedade oral, que, por via da alteração do canal, não será reconhecida pelo espectador
subpadrão, que, feita acompanhar de uma contracção da variedade padrão, conhece aqui
os valores mais expressivos. Apesar de integradas num produto audiovisual com diversas
uma vez integradas no produto final em palco marcado por uma alteração do canal, não
poderão tirar partido do impacte que os desvios característicos da variedade oral assumem
pela associação feita entre norma padrão e escrita, sendo que o tradutor opta por uma
marcas de oralidade introduzidas poderão servir como “pistas” para os actores aquando
dos ensaios, mas serão anuladas numa fase última da representação. A presença mais
expressiva reconhecida às variedades subpadrão deve ainda ser atribuída a dois factores
273
essenciais: a necessidade de manter uma linha importante de congruência entre os
confirmada por uma presença persistente e regular de desvios, a mais elevada de entre
Contudo, e tendo em conta que ambos os argumentos seriam válidos no caso das
traduções para legendagem, foi possível concluir que a distinção a fazer entre os meios
passa não só pelas características técnicas que os distinguem, mas também pelas
possível interpretação de tais marcas como erros e não como resultantes de uma
acentuada nas traduções para legendagem, na medida em que se fazem sentir num meio
com limites de tempo de exposição, com um grau de legibilidade mais restritivo e onde as
condições de trabalho parecem ser ainda mais adversas pela existência de prazos mais
cada um dos meios em estudo foram certamente correlatos das diferentes regularidades
274
Relativamente aos níveis linguístico-textuais preferencialmente seleccionados, será
ser feita a distinção entre dois grupos com opções ligeiramente diferentes, denunciarem
uma recriação que tira partido de um número mais reduzido de desvios e que selecciona
selecção dos níveis linguísticos na medida em que promove a opção por desvios menos
aos desvios de natureza gráfica nas traduções para o palco face às traduções para
publicação e tradução para legendagem, na medida em que, por via da alteração de canal,
Data de tradução
tradução assim como o alinhamento cronológico dos diferentes textos de chegada, vindo a
momentos históricos. Nas traduções para publicação, foi possível identificar uma alteração
275
evolutiva semelhante nas traduções para legendagem, sendo possível identificar uma
recriação cada vez mais expressiva de variedades menos prestigiadas em denúncia de uma
para uma estratégia de expansão nos últimos anos. Nas traduções para o palco, as
de tempo em estudo.
prestigiadas seria menos expressiva nos últimos anos dos dois alinhamentos cronológicos
mais acentuada nos últimos anos. É igualmente importante notar os diferentes ritmos de
evolução a reconhecer a cada meio, na medida em que cada um dos meios em análise
cada um dos meios em análise, o prestígio reconhecido a cada um dos meios em estudo e
possivelmente, não só uma alteração do sistema linguístico, mas também uma percepção
poderá ser interpretado como um agente activo na recriação tardia de variedades ficcionais
relativamente ao texto para teatro; contudo, não será despiciendo ponderar o prestígio
276
elevado prestígio atribuído ao texto publicado poderá ter favorecido estratégias de
baixo prestígio reconhecido à legendagem poderá ter contribuído para uma atitude
conservadora por parte do tradutor que receia que os desvios linguísticos sejam
interpretados como erros de tradução. Por último, o que intuímos ser uma recriação cada
texto original, justificadas por práticas literárias que procuravam um maior realismo do
sistema de texto traduzido, porém, deve ser ainda reconhecido um posicionamento mais
central da tradução para publicação face à tradução para legendagem, na medida em que
denuncia, como tal, uma maior valorização da tradução literária relativamente à tradução
para legendagem, assim como uma progressiva valorização da tradução para legendagem,
entendida agora como produto tradutório onde as diferentes linhas de significado devem
estar expressas e não apenas como elemento ancilar para compreensão do TP.
textos de chegada segundo o meio a que se destinam não só possibilitou trazer a uma
discussão centenária, e centrada nos sistema literário e teatral, novos elementos pela
277
consideração de novos sistemas, das condicionantes e tipos de texto que cada um
sofrida pelo texto que na cultura de partida ocupava um lugar central no sistema literário e
das edições publicadas e das representações teatrais; c) a recuperação nas traduções para
tradução.
Função prospectiva
Com base tanto em elementos textuais como extratextuais, foram identificadas as funções
Houve oportunidade de concluir quanto à distinção a fazer entre três fases distintas, sendo
possível reconhecer uma primeira fase em que a função de consolidação das práticas de
recurso preferencial a desvios de valor sócio-semiótico menos negativo; uma segunda fase
278
de coexistência de dois movimentos contrários em que paralelamente ao movimento de
mais negativo do que no TP e, por último, uma terceira fase em que, sendo agora
levantada por estudos anteriores (Rosa, 1997, 1999) quanto à distinção a fazer entre canais
da norma dominante por canais públicos que entendem o seu papel como “serviço
público” e uma opção por estratégias de subversão e renovação da norma dominante por
menos responsáveis por manter o nível do discurso valorizado como mais prestigiado. A
imagem de inovação e irreverência através da qual o canal privado SIC se procurou definir
um novo mercado se abria (a RTP conta com o seu próprio grupo de tradutores) e que
confirmar a posição de autores como Esslin (1976) ou Bennett (1997) que identificam a
representação teatral como o meio primordial de intervenção social (cf.II-2.1.2), tendo sido
possível distinguir as traduções para teatro por uma atitude crítica bastante activa a ser
279
concretizada não só na escolha dos textos a traduzir, mas também nas estratégicas
Hipótese 1
Esta primeira hipótese veio a ser confirmada no sentido em que é manifesta a opção por
Hipótese 2
Apesar de ter sido possível confirmar o meio como uma variável correlata das
280
Hipótese 3
uma cada vez maior aceitação da presença de variedades subpadrão no discurso ficcional
literário.
O presente estudo possibilitou confirmar não só a hipótese aqui formulada, como também
relativamente às traduções para publicação (tal como identificado por estudos anteriores;
Hipótese 4
Tendo em conta o período em estudo e a presença de uma censura institucional até 1974,
discurso, denunciando uma estratégia de contracção das variedades oral e subpadrão que
esta hipótese, sendo possível reconhecer uma alteração de estratégia na década de 70, as
traduções para o palco apresentam regularidades que apontam noutro sentido, permitindo
concluir não só que a censura institucional em vigor durante o Estado Novo assumia
diferentes parâmetros de controlo consoante o meio, mas também que cada um dos
Hipótese 5
pelo agente promotor da tradução, pelo que é possível identificar relações de correlação
281
Não deixando de ter em consideração que a função prospectiva é definida relativamente à
Hipótese 6
A formulação desta hipótese teve por base estudos anteriores (Dimitrova, 1997;
Lippihalme, 2000a, 2000b e Rosa, 1999, 2004) que, identificando uma tendência global de
Hipótese 7
Tendo em conta o alinhamento das variedades ficcionais num sistema organizador das
Considerando o facto de esta hipótese ter sido formulada com base em estudos em que
uma tendência global de normalização havia sido reconhecida, o presente estudo, além de
282
de normalização, teve oportunidade de confirmar o movimento contrário, isto é, a
Hipótese 8 e 9
Nas traduções mais recentes (últimas décadas do séc. XX) é possível confirmar uma
presença mais significativa de discurso subpadrão do que nas traduções das primeiras
décadas do período em estudo. Nas traduções mais recentes (últimas décadas do séc. XX)
aceitabilidade.
A formulação de ambas as hipóteses teve por base o estudo de Rosa (2004) que, apesar
de identificar uma tendência global de normalização dos textos de chegada, não deixa de
traduções publicadas nas últimas décadas do séc. XX. Apesar de ser necessário
reconhecer linhas de evolução distintas em cada um dos meios consideramos ser possível
uma menor contracção ou expansão das variedades não-padrão. Neste sentido, foi
Diversas são, portanto, as regularidades encontradas não apenas entre factores textuais,
mas entre factores textuais e contextuais. Múltiplos parecem ser os factores que participam
descentralização. O presente estudo não pretende, nem assim deverá ser entendido, como
variedades ficcionais para português europeu no séc. XX. O que este estudo pretende de
283
facto é, por um lado, apresentar-se como uma primeira abordagem indicadora das
suficientemente flexível que no futuro possa dar conta de um corpus mais vasto, ser
qualitativa. O recurso a dados quantitativos conhece a sua motivação não no ilusório ideal
medida as opções manifestas nos textos, de forma a que, numa segunda fase, estas
pudessem ser alvo de uma análise qualitativa que procuraria dar conta tanto do que é
partilhado por todos os textos, como do que os distingue. Tal como Partington o coloca,
em estudos como o presente, a recolha e análise dos dados é um mero primeiro passo da
inusitado - “that is the domain of the mind” (1998: 148). A vantagem primeira do recurso à
análise de corpora e do seu tratamento estatístico reside no facto de esta permitir o juízo
subjectivo com base no conhecimento mais lato das propriedades partilhadas por todos os
textos que possivelmente não seria possível de outra forma e que, certamente, não seria
O presente estudo não pretende, como tal, reclamar o tratamento exaustivo deste tópico,
investigação que se desenha plural e contínua e esperando que os dados obtidos, dotados
o estudo que aqui se conclui desenha-se igualmente como um conjunto de sugestões para
284
de maiores dimensões, representativo e distribuído equilibradamente pelas diferentes
comparável onde textos traduzidos para português seriam comparados com textos escritos
traduzidos ou, pelo contrário, seguirem a tradição inaugurada e mantida nos textos escritos
diversas outras linhas de investigação que não foi possível desenvolver no âmbito deste
participação dos elementos extratextuais no caso das traduções para legendagem e para o
285
Tanto os textos como os dados recolhidos pelo presente estudo poderão, como tal, ser
parte de estudos futuros pela inclusão dos textos seleccionados em corpora mais vastos,
ou pela recuperação para comparação dos dados aqui obtidos com os dados obtidos por
outros estudos. Esperamos com este projecto ter contribuído para o estudo da tradução
europeu traduzidos no séc. XX, assim como o grau de correlação existente entre as
limitações do presente estudo e as linhas de investigação que a partir daqui poderão ser
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Zurbach, Christine (1997), Traduction et Pratique Théâtrales au Portugal entre 1975 et 1988:
312
ANEXO A. ATRIBUTOS EXTRATEXTUAIS
TEXTOS DE PARTIDA
(textos organizados cronologicamente por data de publicação do volume/ apresentação do
filme)
313
EDITORA New American Library
DATA DE PUBLICAÇÃO 1956
NÚMERO DE PÁGINAS 97
314
TEXTOS DE CHEGADA: TRADUÇÕES ORIENTADAS PARA A PUBLICAÇÃO
(textos organizados cronologicamente por data de tradução)
315
TÍTULO DA COLECÇÃO Colecção cinema
NÚMERO DE VOLUMES DA COLECÇÃO [não foi possível apurar]
NÚMERO DO VOLUME
NÚMERO DE PÁGINAS DO VOLUME 163 páginas
NÚMERO DE PÁGINAS DA TRADUÇÃO 130 páginas
CARACTERÍSTICAS ESPECIAIS Photoprints de cenas do filme My Fair Lady
de George Cukor (1964)
PUBLICAÇÃO DO NOME DO TRADUTOR Sim
NOME DO(S) TRADUTOR(ES) H. Silva Letra (texto) Gervásio Lopes (versos)
TIRAGEM
RE-EDIÇÕES E REPUBLICAÇÕES
316
GÉNERO LITERÁRIO Comédia
AUTOR George Bernard Shaw
TÍTULO Pigmalião
MEIO Publicação em volume
LOCAL DE PUBLICAÇÃO Mem Martins
EDITORA Publicações Europa-América
DATA DE TRADUÇÃO 1987
DATA DE PUBLICAÇÃO 1987
PUBLICAÇÃO EM COLECÇÃO Sim
TÍTULO DA COLECÇÃO Clássicos Europa-América: Livros de Bolso
NÚMERO DE VOLUMES DA COLECÇÃO 498 volumes (até Junho 2005)
NÚMERO DO VOLUME Volume nº 483
NÚMERO DE PÁGINAS DO VOLUME 304 páginas
NÚMERO DE PÁGINAS DA TRADUÇÃO 126 páginas
CARACTERÍSTICAS ESPECIAIS Desenhos de Felix Tolpolski
PUBLICAÇÃO DO NOME DO TRADUTOR Sim
NOME DO(S) TRADUTOR(ES) Mário de Abreu
TIRAGEM
Pigmalião, Lisboa: Jornal Diário de Notícias,
RE-EDIÇÕES E REPUBLICAÇÕES
Colecção Prémios Nobel da Literatura.
317
CARACTERÍSTICAS ESPECIAIS
PUBLICAÇÃO DO NOME DO TRADUTOR Sim
NOME DO(S) TRADUTOR(ES) Filipe La Feria e Helena Rocha
TIRAGEM
RE-EDIÇÕES E REPUBLICAÇÕES
318
TEXTOS DE CHEGADA: TRADUÇÕES ORIENTADAS PARA A REPRESENTAÇÃO TEATRAL
(textos organizados cronologicamente por data de tradução)
319
LÍNGUA Português europeu
MODO LITERÁRIO Dramático
GÉNERO LITERÁRIO Comédia
AUTOR Alan Jay Lerner e Frederic Loewe
TÍTULO My Fair Lady, Minha Linda Senhora
MEIO Dactiloescrito [exemplar de autor]
ENCENADORE(S) Filipe La Feria
LOCAL DE REPRESENTAÇÃO Teatro Politeama
HORA DE REPRESENTAÇÃO 21:00
DATA DE TRADUÇÃO 2001
DATA DE ENCENAÇÃO 2003
NÚMERO DE PÁGINAS 30
NOME DO(S) TRADUTOR(ES) Filipe La Feria e Helena Rocha
RE-ENCENAÇÕES
320
TEXTOS DE CHEGADA: TRADUÇÕES ORIENTADAS PARA A LEGENDAGEM
(organizados cronologicamente por data de emissão/ comercialização)
321
TRADUÇÃO COMERCIALIZADA Não
FORMATO DE COMERCIALIZAÇÃO
LOCAL DE EMISSÃO Canal 1, RTP
DATA DE TRADUÇÃO 1994
DATA DE COMERCIALIZAÇÃO/ EMISSÃO 9 de Fevereiro de 1994
HORA DE EMISSÃO 14:00
QUADRO DE PROGRAMAÇÃO
NOME DO(S) TRADUTOR(ES) Ruth Saraiva
RE-EMISSÕES
322
FORMATO DE COMERCIALIZAÇÃO
LOCAL DE EMISSÃO SIC
DATA DE TRADUÇÃO 1995
DATA DE COMERCIALIZAÇÃO/ EMISSÃO 28 de Março de 1995
HORA DE EMISSÃO 14:00
"Tardes de Cinema" (rubrica diária de 2ª a 6ª
QUADRO DE PROGRAMAÇÃO feira)
NOME DO(S) TRADUTOR(ES) Rosário Vieira
RE-EMISSÕES
323
324
ANEXO B. ELEMENTOS CONTEXTUAIS
3. Anúncio da representação
de 1964 no Teatro Monumental
325
4. Fotos da representação de 1945 no Teatro da Trindade
326
5. Selecção de alguns dos anúncios e cabeçalhos de jornais relativos à
representação de 1945 no Teatro da Trindade
Anúncio publicado
n’ O Século, 29/10/1945
Anúncio publicado
n’ O Século, 30/10/1945
Artigo publicado
n’ O Século, 30/10/1945
Artigo publicado
n’ O Século, 31/10/194
327
Anúncio publicado
n’ O Século, 02/11/1945
Anúncio publicado
n’ O Século, 03/11/1945
Anúncio publicado
n’ O Século, 06/11/1945
Anúncio publicado
n’ O Século, 10/11/1945
Artigo publicado
n’ O Século, 17/11/1945
328
ANEXO C. QUESTIONÁRIO
Sexo: F M
__________________________________________________________________________________________
Questionário
Grupo I
No discurso de um qualquer falante somos diversas vezes surpreendidos por erros ou desvios de
natureza gráfica, morfossintáctica ou lexical face ao que assumimos como norma-padrão.
Grupo A
I.A.1 Espero que o João se despache. …………………..…………………………………..
I.A.2 Para que é que ele quer ir a Santarém? ……………………………………………….
I.A.3 O que 'stão pr'aí a dizer? ………………………………………………………………..
Grupo B
I.B.1 Claro que vim, atão porque não viria? …………………………………………………
I.B.2 Elas não são raparigas como a mim. …………………………………………………..
I.B.3 Vem cá ó pechepego! ……………………………………………………………………
329
Grupo II
Numa situação de diálogo, os falantes tendem a ser hierarquizados em termos dos factores
contextuais que o seu discurso codifica (oralidade, estatuto sociocultural, origem geográfica).
Em cada um dos grupos seguintes, ordene as frases da que considera traduzir um uso menos
correcto da língua para a que considera traduzir o uso mais correcto da língua, utilizando uma escala
de 1 (menos correcto), 2 (razoável) a 3 (mais correcto).
Grupo A
II.A.1 Se te vais armar em bom, é melhor nem vires. ………………………………………
II.A.2 Vossemecê podia ir antes à outra loja. …..…………………………………………...
II.A.3 Calça esse coturnos para não teres frio nos pés. …………………………………..
Grupo B
II.B.1 Não quero que ninguém não veja o que faço. ……………………………………….
II.B.2 O que é que fazes aqui? ………………………………………………………………..
II.B.3. Nunca se aqui conheceu nada. ……………………………………………......……..
Grupo C
II.C.1 Tenho de ir botar no presidente no próximo Domingo. ….………………………….
II.C.2 Ele é um rapaz muito inducado. ……………………………………………………….
II.C.3 Os alunos 'screveram o que a professora ditou. …………………………………….
Grupo III
Nesta última tabela são descritos três grupos: um primeiro que faz a distinção entre tipos de desvio
codificadores de classe sociocultural baixa, pertença a uma região específica ou de oralidade; um
segundo que distingue entre desvio de natureza morfossintáctica, lexical e gráfica; e, um terceiro,
que classifica as frases em termos da gravidade do desvio que apresentam face à norma-padrão.
Assinale com um X, em cada um dos grupos anteriormente identificados, a situação que as frases
apresentadas à esquerda parecem traduzir.
330
Classe Regional Oral Morfossi Lexical Gráfico Muito Grave Pouco
Sociocultural ntáctico grave grave
baixa
19 anos 7 Feminino 29
20 anos 2 Masculino 8
21 anos 7 Sem resposta 3
22 anos 9
23 anos 6
24 anos 4
25 anos
26 anos 3
27 anos 1
28 anos 1
Artes do Espectáculo 4
Comunicação e Cultura 9
Tradução 3
Sem resposta 1
332
Grupo I A [34 respostas válidas] Grupo I B [32 respostas válidas]
Menos correcto 6%
1. Gráfico-Regional Razoável 50%
Mais correcto 44%
333
Grupo III
Para que é que vens com tantos livros. [37 respostas válidas]
Social 14%
Regional
Oral 86%
Morfossintáctico 70%
Lexical 14%
Gráfico 16%
Muito grave 3%
Grave 5%
Pouco grave 92%
Social 9%
Regional 89%
Oral 3%
Morfossintáctico 14%
Lexical 80%
Gráfico 6%
Muito grave
Grave 14%
Pouco grave 86%
Social 3%
Regional 88%
Oral 12%
Morfossintáctico 32%
Lexical 9%
Gráfico 62%
Muito grave 9%
Grave 15%
Pouco grave 79%
334
A Joana tava com o Ricardo quando o acidente aconteceu. [34 respostas válidas]
Social 3%
Regional 13%
Oral 84%
Morfossintáctico 26%
Lexical 29%
Gráfico 45%
Social 79%
Regional 6%
Oral 15%
Morfossintáctico 68%
Lexical 21%
Gráfico 12%
social 84%
Regional 16%
Oral
Morfossintáctico 76%
Lexical 22%
Gráfico 3%
335
Aquela quinta especializou-se na criação de bocarinhos. [33 respostas válidas]
Social 3%
Regional 76%
Oral 18%
Morfossintáctico 3%
Lexical 88%
Gráfico 9%
Muito grave
Grave 24%
Pouco grave 73%
Social 26%
Regional 38%
Oral 35%
Morfossintáctico 38%
Lexical 38%
Gráfico 24%
Social 22%
Regional 5%
Oral 73%
Morfossintáctico 41%
Lexical 54%
Gráfico 5%
336
337
ANEXO E. Dados da análise quantitativa dos
sub-corpora não translato e translato
Sub-corpus Padrão Oral Subpadrão Subpadrão Subpadrão Social Número total de UTP
não translato Regional Social Específico
338
2. Sub-corpus translato
Sub-corpus Padrão Oral Subpadrão Subpadrão Subpadrão Social Número total de UTC
translato Regional Social Específico
339
1.2. Valores absolutos relativos às marcas linguístico-textuais distintivas do
discurso como oral ou subpadrão
TC9 25 0 3 22 0 18 23 0 21 76 113
TC10 11 0 1 10 0 8 22 0 12 64 64
340