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Audio Musica & Tecnologia Agosto 2011

A edição de agosto de 2011 da revista 'Áudio Música & Tecnologia' apresenta um editorial sobre a evolução dos softwares e suas inconsistências, além de destacar o novo microfone Audio-Technica AT4080. O documento também aborda a inauguração de uma nova unidade do IATEC e escolas de música no Rio de Janeiro, além de anunciar a 20ª edição da feira Broadcast & Cable em São Paulo e o festival Game Music Brasil. A publicação inclui entrevistas, análises de produtos e técnicas de microfonação.

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Audio Musica & Tecnologia Agosto 2011

A edição de agosto de 2011 da revista 'Áudio Música & Tecnologia' apresenta um editorial sobre a evolução dos softwares e suas inconsistências, além de destacar o novo microfone Audio-Technica AT4080. O documento também aborda a inauguração de uma nova unidade do IATEC e escolas de música no Rio de Janeiro, além de anunciar a 20ª edição da feira Broadcast & Cable em São Paulo e o festival Game Music Brasil. A publicação inclui entrevistas, análises de produtos e técnicas de microfonação.

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Ano XXII - agosto/2011 nº239 - R$ 12,00 - www.musitec.com.

br

YAHOO/BR PLUS
Estúdio e produtora em sintonia com o sucesso

TESTE
AUDIO-TECHNICA AT4080
Um microfone de fita para a nova geração

SINTETIZADORES
Como desenvolver uma sonoridade própria

DE
TÉCNICANSAÇÃO
PROCESSAMENTO DE ÁUDIO MICROFO
6ª parte
Entrevista com o criador do plug-in de reverberação Altiverb
áudio música e tecnologia | 1
2 | áudio música e tecnologia
áudio música e tecnologia | 3
ISSN 1414-2821
EDITORIAL Áudio Música & Tecnologia
Ano XXIII – Nº 239 / agosto de 2011

Upgrades, alegrias e tristezas


Fundador: Sólon do Valle

Direção geral: Lucinda Diniz


Edição técnica: Miguel Ratton
Edição jornalística: Marcio Teixeira
Consultoria de PA: Carlos Pedruzzi
Sou usuário de PC desde os tempos do MS- “moderna”. É em horas como essa que
DOS, aquele sistema operacional em modo fazer upgrade dá um certo desânimo.
texto que rodava softwares com telas de COLABORARAM NESTA EDIÇÃO
visual meio tosco. O Mac era a platafor- Resignado, instalei o Windows 7 no note-
Daniel Raizer, Enrico de Paoli, Fábio
ma preferida dos músicos naquela época book para me ambientar e notei que con-
Henriques, Fernando Moura, Lucas Ramos,
porque já oferecia softwares de edição de tinuo tendo que clicar em “iniciar” para
Luciano Alves, Pepê Canongia, Renato
partitura em modo gráfico, mas como era “encerrar” minha sessão e desligar o com- Muñoz, Ricardo Gomes e Rodrigo Meirelles.
muito mais caro do que o PC, ter um Mac putador. Notei também que mesmo configu-
ainda era um sonho para a maioria de nós. rando a aparência para “clássico”, à qual já REDAÇÃO
estou acostumado, o acesso rápido à área Fernando Barros, Marcio Teixeira
Quando surgiu a primeira versão do de trabalho passou do lado esquerdo para e Rodrigo Sabatinelli
[email protected]
Windows, o interesse não foi grande o lado direito do rodapé. Deixaram o que
[email protected]
porque não funcionava bem, havia poucos era esquisito e mudaram o que era clássico.
softwares disponíveis e a maioria das
pessoas já dominava seus sequenciadores Há vários casos semelhantes em outros DIREÇÃO DE ARTE E DIAGRAMAÇÃO
em modo texto no MS-DOS. Mas a versão softwares. Nunca me conformei com o Client By - clientby.com.br
3.1, lançada no início da década de 1990, fato de a Cakewalk não ter mantido o MIDI Frederico Adão e Bruno Joka
foi realmente um divisor de águas para os Piano, um tecladinho virtual muito útil do
usuários de PC, pois trazia muitas melhorias antigo Pro Audio. Já estava lá e não cus-
Assinaturas
na interface gráfica e nos recursos tava nada! Recentemente, na versão X1, Anderson Costa e Karla Silva
operacionais e, principalmente para nós, foram alteradas quase todas as teclas de [email protected]
oferecia suporte a dispositivos “multimídia”. atalho do Sonar – talvez para ficar mais
A partir daí, acreditem, comprei todas as prático para os novos usuários. Distribuição: Eric Baptista
versões do Windows (exceto o Vista), mas
Publicidade
a transição de uma para outra sempre foi E essas coisas não acontecem somente nos
Mônica Moraes
uma mistura de prazer e dor. softwares. O novo MacBook Pro, por exem- [email protected]
plo, só vem com portas USB do lado esquer-
É indiscutível que, no geral, os softwares do. Azar de quem precisa de mouse e não Impressão: Prol Editora Grafica Ltda
têm evoluído ano após ano, mas existem é canhoto. Há também o caso dos novos
coisas nas novas versões que nem sempre modelos de uma linha de teclados controla- Áudio Música & Tecnologia
é uma publicação mensal da Editora
são melhores. Nunca entendi porque al- dores MIDI em que a porta USB que ficava
Música & Tecnologia Ltda,
guns recursos úteis são eliminados ou por- bem no meio do painel traseiro passou para CGC 86936028/0001-50
que modificam funções ou procedimentos a lateral esquerda. Azar de quem usava o Insc. mun. 01644696
aos quais já estávamos acostumados. Por computador do lado direito do teclado. Insc. est. 84907529
que certas falhas ou inconsistências nun- Periodicidade Mensal
ca são resolvidas? Por que os recursos de Há quem diga que esses inconvenientes são
ASSINATURAS
compatibilização para versões anteriores o preço que se paga pela evolução. Pode ser.
Est. Jacarepaguá, 7655 Sl. 704/705
nunca funcionam nos softwares e drivers Passamos a infância querendo ser adultos,
Jacarepaguá – Rio de Janeiro – RJ
antigos que ainda temos que usar? mas quando nos tornamos adultos percebe- CEP: 22753-900
mos como era bom ser criança. É assim tam- Tel/Fax: (21) 3079-1820
Relutei durante um ano para migrar bém no mundo da tecnologia, onde algumas (21) 3579-1821
para o Windows 7 porque minha inter- coisas não têm volta e quase sempre temos (21) 3174-2528
face de áudio não possui driver para ele que perder um pouco em troca de algo novo. Banco Bradesco
Ag. 1804-0 - c/c: 23011-1
e, ao que tudo indica, o fabricante não A verdade é que quando levo mais de uma
irá fazê-lo. Ok, é uma interface “velha”, hora instalando um software de dois ou três Website: www.musitec.com.br
com cerca de seis anos, mas tem fun- DVDs, confesso ter saudade dos programi-
cionado maravilhosamente bem durante nhas para MS-DOS, que ocupavam poucos Distribuição exclusiva para todo o Brasil pela
todo esse tempo, operando sem proble- kilobytes e cabiam em um disquete. Fernando Chinaglia Distribuidora S.A.
mas e com latência de 3 ms! Vou ter que Rua Teodoro da Silva, 907
Rio de Janeiro - RJ - Cep 20563-900
vendê-la (barato) e comprar outra mais Miguel Ratton

Não é permitida a reprodução total ou


4 | áudio música e tecnologia parcial das matérias publicadas nesta revista.
áudio música e tecnologia | 5
62 Técnicas de Microfonação (Parte 6)
Os microfones direcionais
Fábio Henriques

70 Teste: Audio-Technica AT4080

76
Um microfone de fita que supera limitações
Fábio Henriques

86 Rio das Ostras Jazz & Blues 2011


Sonoridade intimista em um grande festival
Yahoo/BR Plus Fernando Barros
Estúdio e produtora em sintonia com o sucesso
Rodrigo Sabatinelli 92 Ableton Live: Controladores (Parte 4)
Um pouco mais sobre os menos populares
Lucas Ramos
24 Em Tempo Real: Zé Heavy
Fernando Barros 104 Conexão Londres
Usando o sintetizador com criatividade
26 Aquário: Música Mais Ricardo Gomes
Fernando Barros
110 Pro Tools HD – Automação de parâmetros
32 No Estúdio: Rodrigo Santos Daniel Raizer
Rodrigo Sabatinelli
118 Sonar: O Control Bar do Sonar X1 (Parte 2)
40 Plug-ins etc. Luciano Alves
Entrevista com Arjen van der Schoot,
criador do Altiverb
Rodrigo Meirelles seções
48 Notícias do Front editorial 2 notícias de mercado 6
O técnico e os grandes festivais (Parte 1) novos produtos 12 primeira vista 20
Renato Muñoz review 22 notícias do front 48
em casa 52 ableton live 92
52 Em casa músico na real 96
pro tools 112
conexão londres 104
sonar 120
Aprenda a criar um divisor/rebatedor
classificados 126 índice de anunciantes 127
acústico
lugar da verdade 128
Lucas Ramos

6 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 7
NOTÍCIAS DE MERCADO

IATEC, Fábrika de Sons e Intensivo de Música inauguram unidade


Luiz Helenio, em entrevista à AM&T, observou que como as três
Marcelo Campos

escolas atuam em áreas afins e têm alunos em comum, estarem


em um mesmo lugar otimiza recursos. O diretor ainda destacou
que a nova unidade não apenas amplia a estrutura do IATEC,
como também fortalece a parte prática da instituição, que re-
centemente anunciou o lançamento de novos cursos. “Capaci-
tação profissional é um investimento de médio e longo prazos.
Se os profissionais não se prepararem desde já, não terão como
usufruir das oportunidades que estão por vir. A nova unidade é
mais uma mostra de que estamos fazendo nossa parte, contri-
Leo Gandelman, Carlos Roberto Pedruzzi e Luiz Helenio buindo para a qualificação do mercado”, concluiu.
durante o evento de inauguração da unidade: aulas teóricas
e práticas de áudio e música em um mesmo lugar
Dando sequência à programação do evento, após a apresentação
da cantora Barbara Mendes, Leo Gandelman subiu ao palco para
Com um coquetel e uma animada jam session comandada
conduzir um show em que a sintonia entre os músicos chamou a
por Léo Gandelman para um público de cerca de 120 pesso-
atenção do público. Coordenador do curso de sax da Fábrika de
as, foi inaugurada em 21/06, no centro do Rio de Janeiro, a
Sons na nova unidade, Gandelman comentou estar feliz com o
unidade conjunta do IATEC (Instituto de Artes e Técnicas em
desafio. “Faremos aqui ‘happy aulas’ no horário em que o pessoal
Comunicação) e das escolas Fábrika de Sons e Intensivo de
sai do trabalho, para que possam relaxar e aprender um pouqui-
Música. Localizado na rua Pedro I, no prédio do Teatro Carlos
nho sobre música”, disse ele, em tom de brincadeira.
Gomes, o espaço tem como diferencial, além da localização
privilegiada, o oferecimento, em um mesmo local, de aulas
Também estiveram presentes ao evento personalidades do cená-
teóricas e práticas de áudio e música.
rio musical, como Jay Vaquer e Milton Guedes, além de nomes
do mercado de áudio, como Emerson Jordão, gerente de contas
Após uma rápida apresentação feita pelos diretores do IATEC Car-
da Avid para América do Sul na divisão Pro Audio/Live Sound. “A
los Roberto Pedruzzi e Luiz Helenio, que agradeceram pela pre-
estrutura é muito boa. O lugar é amplo, com muitas salas. Tem
sença de todos e lembraram o mestre Sólon do Valle, o diretor e
tudo para dar certo”, disse Jordão sobre a unidade, que possui
professor do Intensivo de Música, Luiz Costa Netto, foi convidado
seis salas, uma grande diversidade de instrumentos, modernos
a falar aos convidados um pouco sobre a escola e seus objetivos.
equipamentos de áudio, auditório com sonorização profissional,
estúdio de gravação e ensaio e laboratório audiovisual.
“O Intensivo de Música é um curso focado na percepção e na
teoria musical que busca preparar seus alunos para o vestibular

Marcio Teixeira
e concursos”, destacou, ressaltando que a instituição possui
convênios com o Sindicato dos Músicos e com o coro do The-
atro Municipal. “Nosso objetivo é transformar o aluno em um
instrumento musical, para que seja capaz de escutar e escrever
qualquer coisa em qualquer tom, em qualquer clave”, afirmou
Costa Netto, arrancando aplausos dos convidados.

Em seguida, foi a vez de André Vasconcellos, coordenador da Fá-


brika de Sons, assumir o microfone. “Estamos ao lado de ins-
titutos muito sérios. O Intensivo se preocupa em oferecer uma
formação sólida, enquanto o IATEC é uma escola de respeito há
anos. A Fábrika, que já existia em Petrópolis, vem somar, aju-
dando a fazer daqui um lugar técnico e prático, algo que acredito
ainda não haver no Rio de Janeiro”, ressaltou.

Estúdio de gravação e ensaio, que tem projeto acústico de


Sólon do Valle, é um dos pontos altos da unidade
8 | áudio música e tecnologia
áudio música e tecnologia | 9
NOTÍCIAS DE MERCADO

São Paulo recebe 20ª Broadcast & Cable


Entre 23 e 25 de agosto, sempre do meio-dia às 20h, acon-
tece em São Paulo a 20ª edição da Broadcast & Cable, prin-
cipal feira de engenharia de televisão, rádio e telecomu-
nicações da América Latina. Direcionada a profissionais do
mercado de produção e distribuição de conteúdo eletrônico
de multimídia, incluindo TV, rádio, internet, indústria, pro-
dução e telecomunicações, a feira reunirá os principais for-
necedores, representantes e distribuidores do segmento, o
que faz do evento um ponto de encontro para o desenvolvi-
mento de novas parcerias e ampliação de mercados.

A expectativa é a de que a edição 2011 da B&C, que contará


com 150 empresas expositoras e será realizada no Pavilhão
Broadcast & Cable: 150 expositores e expectativa de Exposições do Centro de Exposições Imigrantes, receba
de 10 mil visitantes na próxima edição da feira a visita de 10 mil profissionais vindos dos cinco continentes.

Começando um pouco antes, no dia 22, acontece no Pavilhão de Conferências o SET 2011 - Congresso de Tecnologia de
Televisão. Organizado e promovido pela Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão e Telecomunicações (SET), o con-
gresso terá palestras, talk shows, tutoriais e debates com profissionais de destaque no mercado.

Festival de trilhas de games no Rio de Janeiro


Enquanto as trilhas sonoras de 8 bits de vídeo games antigos têm hoje uma aura cult, as dos games da nova geração
ganham reconhecimento por serem tão complexas quanto as composições que ouvimos em filmes. E se o Grammy Awar-
ds, maior prêmio da indústria musical, terá em sua próxima edição a estreia da categoria Trilha Sonora Para Games, no
âmbito nacional, uma prova do novo patamar dessas obras será a realização, em outubro, no Rio de Janeiro, do Game
Music Brasil, primeiro festival nacional de composição de trilha para jogos eletrônicos. A competição é dividida em três
categorias: Melhor Trilha Sonora, Melhor Banda e Melhor Jogo Indie.

“O objetivo do Game Music Brasil é fazer com que os músicos descubram este novo mercado, que tem crescido a cada
ano”, destacou Sergio Murilo de Carvalho, idealizador do evento. “Somente em 2010, o mercado de games gerou US$ 24
bilhões de receita em todo o mundo”, acrescentou ele, citando dados divulgados recentemente pela empresa de pesquisa
norte-americana NPD. Inscrições para participar do festival já estão abertas em www.gamemusicbrasil.com.br, onde mais
informações podem ser obtidas.

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áudio música e tecnologia | 11
NOTÍCIAS DE MERCADO

Rode Microphones agora com distribuição nacional


A AES Expo Brasil 2011 marcou o início de uma parce-
ria entre a Pinnacle Broadcast, empresa nacional com
foco em distribuição e implantação de sistemas para a
área de vídeo, broadcast e streaming, e a renomada
fabricante australiana Rode Microphones.

Com base em Sydney e dona de uma história de mais


de quatro décadas que se confunde com as origens da
indústria de áudio de seu país, a Rode pretende, por
meio do acordo de distribuição, iniciar uma intensa atu-
ação no mercado brasileiro de microfones e assessórios.

Para tal, a Pinnacle, que no segmento de broadcast tem entre seus clientes nomes como Globo, SBT e Record,
busca agora ampliar sua rede de revendas no mercado de áudio profissional. No site da distribuidora (www.pin-
naclebroadcast.com.br) é possível conferir os modelos Rode que ela já disponibiliza, como o NT1-A, considerado
um dos mais silenciosos do mundo, e o NTG-1, mic a condensador direcional supercardioide. Entre os acessórios
estão o suporte PSA1, para microfones com peso entre 700 g e 1,5 kg, e a suspensão shock mount SM-3, para
montagem em câmeras de vídeo.

Roland Brasil lança concurso para descobrir o melhor baterista do país


A Roland Brasil anunciou o lançamento do concurso V-Drums World Championship – Etapa Brasil 2011, que busca
descobrir “o melhor baterista do país”. Para participar, o interessado deve postar no YouTube uma apresentação
sua em um modelo eletrônico ou acústico e preencher o cadastro em www.v-drumscontest.com.br até o dia 22 de
agosto, inserindo nele o link do vídeo.

Os seis melhores, escolhidos pelo comitê organizador e por um júri formado por renomados bateristas, irão ensaiar
com o kit V-Drums TD-9KX2 e com o Octapad SPD-30 em lojas parceiras da fabricante. As performances serão
gravadas e disponibilizadas na internet para que sejam escolhidos os três finalistas. Na decisão, que acontecerá no
dia 20 de outubro, em São Paulo, o júri irá definir o vencedor, que levará para casa um prêmio de R$ 10 mil e ainda
representará o Brasil na final internacional do concurso, em Los Angeles, EUA.

12 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 13
NOVOS PRODUTOS | Pepê Canongia

Beyerdynamic inova com o headphone DT 1350


Foi lançado o mais novo o campo eletromagnético e reduzindo as res-
headphone da Beyerdyna- sonâncias internas, o que se traduz em mais
mic, o DT 1350, que traz potência (máxima pressão sonora de 129 dB)
interessantes inovações, e menos distorção.
tanto no design quanto na
tecnologia empregada, po- Seu design supra-aural também é inovador, com
rém mantendo a alta qua- o emprego de materiais leves, almofadas confor-
lidade e clareza, grande iso- táveis para longos períodos de utilização com ro-
lamento de ruídos externos e tação de 90º, o que permite a monitoração com
muita pressão sonora. um ouvido apenas. Fora isso, a faixa de cabeça
se divide em duas, podendo distribuir, da manei-
Ele traz consigo a nova ra mais confortável para cada usuário, o peso do
tecnologia Tesla de eficiência headphone (225 g).
energética, que envolveu di-
versas mudanças na arquite- www.beyerdynamic.com
tura dos drivers, aumentando www.playtech.com.br

Audix lança novo microfone em miniatura


O M1280, novo lançamento da Audix, é um versátil microfone a con-
densador miniaturizado com cápsula cardioide que pode ser substituí-
da por outros padrões, como hipercardioide, omnidirecional e shotgun,
tornando-o ideal para situações das mais diversas.

Além disso, seu pré-amplificador interno e seu cabo destacável são pro-
tegidos contra interferências de radiofrequência. O M1280 conta com
uma vasta gama de clips e acessórios que tornam o microfone mais ágil
e discreto, inclusive para aplicações de show e gravações audiovisuais.

Do tamanho de um dedo, ele pesa exatos 28 gramas e tem um com-


primento de 90 mm. Possui resposta de frequência de 40Hz a 20kHz,
impedância de 150 ohms e necessita de alimentação phantom power.

www.audixusa.com
www.gobos.com.br

14 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 15
NOVOS PRODUTOS

Waves e Abbey Road: parceria vira plug-in


Aproveitando o sucesso de bilheteria do filme O Discurso do Rei, a
Waves se associou aos estúdios Abbey Road e ao seu engenheiro de
gravação sênior Peter Cobbin – que participou da captação do filme
– para a produção de seu novo plug-in: The King’s Microphones.

Ele recria três modelos exclusivos da família real britânica, cada


um feito exclusivamente para o seu orador entre as décadas de
1920 e 1930, os Reis George V, George VI e a rainha Elizabeth,
com controle de ganho e três opções de posicionamento: am-
biente, próximo e natural.

Feitos com adornos em ligas de ouro, prata e cromo, os micro-


fones foram utilizados por pessoas fora da realeza pela primeira
vez na gravação do filme e em seguida no desenvolvimento deste
plug-in. Segundo Cobbin, eles são peças artesanais lindas, ra-
ras e de alto desempenho acústico, muito bem representadas no
plug-in, capaz de reproduzir com exatidão a resposta das peças.

www.waves.com

Mais adições à série de amplificadores Pro-LITE


A Crest Audio acaba de anunciar o lançamento de mais acompanhados pelos amps Pro-LITE 2.0 e 2.0 DSP), que
dois novos amplificadores da sua série Pro-LITE. São os aliam alta potência, design eficiente, performance estável
modelos Pro-LITE 3.0 e Pro-LITE 3.0 DSP (na foto, são até mesmo em 2 ohms e peso incrivelmente leve, o que é
uma das principais características dessa série.

Com pouco mais que 6 kg, esses novos amplificado-


res são capazes de fornecer 870 W por canal em 4
ohms estéreo (até 3.150 W em modo bridge em 4
ohms) e possuem ainda crossovers de quarta ordem
sintonizados em 100 Hz, circuito proprietário ACL de
limitação e detecção de clipamento e sistemas de
proteção onboard.

A versão DSP ainda conta com ajuste de tempo de


delay, controle do crossover, limiter ajustável, equa-
lizador paramétrico, porta USB para armazenamen-
to de presets e a tecnologia MaxxBass, da Waves,
que utiliza conceitos psicoacústicos para adicionar
harmônicos e aumentar a percepção das frequên-
cias graves.

www.crestaudio.com
www.someco.com.br
áudio música e tecnologia | 17
NOVOS PRODUTOS

Sibelius cria novo aplicativo para iPad


O Avid Scorch, novo lançamento quação à voz do cantor. O Avid
da Sibelius, transforma o tablet Scorch também permite uma to-
da Apple em um poderoso leitor e tal customização gráfica, sendo
editor de partituras e agrega ou- possível para o usuário modificar
tras funcionalidades, como biblio- a textura do papel e as fontes
teca e loja virtual de partituras, – tudo isso com a facilidade do
inclusive com opção de vender touch screen.
online as suas composições.
O programa é compatível com
Ele também oferece outros be- todas as versões do iPad que ro-
nefícios interessantes, como dem o sistema operacional 4.2.1
a mudança de partitura para ou superior e requer os softwares
tablatura, a adição ou subtra- Sibelius ou Sibelius First para pu-
ção de linhas instrumentais e o blicar e vender partituras online.
transpose, que modifica a tonali-
dade para facilitar a execução ou www.sibelius.com
para que haja uma melhor ade- www.quanta.com.br

Yamaha atualiza suas clavinovas


A nova série Clavinova CLP-400 da Yamaha, com
os modelos CLP-430 (foto) e CLP-440, combina
elegância, praticidade e a mais refinada tecnologia
empregada na construção de pianos digitais,
como o avançado método de amostragem Real
Grand Expression e o mecanismo Graded Hammer
(GH3), de alta precisão e expressividade.

O resultado é um piano com um timbre excelen-


te, precisão e execução de acústico e praticidade de
digital, com 88 teclas e polifonia de 128 notas no
modelo mais econômico e de 256 no mais completo.

Além disso, contam com vários efeitos DSP, funções


de gravação e reprodução, compatibilidade USB,
metrônomo, display de LED de sete segmentos, três
pedais de expressão com efeito meio-pedal, duas
saídas para fone, MIDI e entrada e saída auxiliares.

www.yamahamusical.com.br

18 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 19
NOVOS PRODUTOS

Nova DAW compatível com “iCoisas”


O n-Track é a primeira DAW do mer- software, podendo adicionar nele
cado compatível com Windows, Mac, efeitos que o usuário já utilize em
iPod, iPad e iPhone. Ou seja, é a pri- outros programas.
meira ferramenta que possibilita que
a gravação multipista começada no A novidade é compatível com pla-
estúdio seja finalizada, por exemplo, cas e interfaces PCI, USB e FireWi-
em um celular, e vice-versa. re que utilizam os protocolos ASIO
v2.2, WaveRT, CoreAudio, MME,
Além da gravação e exportação de WDM e DirectSound em 16 e 24 bits
arquivos musicais, o n-Track tam- e taxas de amostragem de até 192
bém permite a edição de tracks, a kHz. Possui ainda diversas opções
mixagem dos canais e a adição de de exportação de arquivos, suporte
efeitos, mesmo em sua versão por- a mixagens surround, recursos de
tátil. Tem também compatibilida- vídeo, recursos MIDI e ferramenta
de com as tecnologias VST, VST3, para a gravação de CDs.
DirectX e ReWire, que aumentam
ainda mais as possibilidades do www.ntrack.com

Software auxilia a criação de difusores


A empresa alemã AFMG acaba de lançar no mercado in-
ternacional uma nova ferramenta que promete facilitar a
vida de projetistas na construção de difusores acústicos:
o software Reflex.

Trata-se de um simulador acústico bidimensional que mo-


dela a difusão e a reflexão de ondas sonoras em estruturas
geométricas definidas, de acordo com avançados algorit-
mos, gerando visualizações polares e espectrais precisas
para a construção de difusores acústicos.

Dos mesmos criadores do renomado software EASE, muito


utilizado na auralização 3D de salas, halls, teatros e es-
túdios, o Reflex utiliza como embasamento científico os
estudos mais recentes sobre física e psicoacústica e possui
compatibilidade com o primeiro, podendo suas estruturas
e cálculos serem transportados para o EASE.

http://reflex.afmg.eu
www.amimusic.com.br

20 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 21
PRIMEIRA VISTA | Pepê Canongia

M-480 O NOVO V-MIXING


DA ROLAND

O novo operação é fácil e intuitiva,


console de mi- permite ainda um recall com-
xagem Roland M-480 pleto das configurações, inclusive
chega ao mercado assumindo com ajustes de ganho individuais.
o posto central do V-Mixing System
da marca para aplicações em broadcast A M-480 possui duas portas USB. Uma fica na late-
e som ao vivo, integrando tecnologias de ral e serve para conectar um pen drive para gravação
gravação multipista, mixagem de PA e monitor, monitoração e reprodução de arquivos de áudio em estéreo e também
pessoal e snakes digitais. para salvar e carregar configurações. A outra, que fica na
parte traseira, é para a conexão de um computador que irá
Ao todo, são 48 canais de entrada e mais seis retornos esté- controlar o console usando o software M480RCS.
reo. Esse número vai para 96 quando duas M-480 são liga-
das em cascata. Além disso, ela possui 16 saídas auxiliares, Equipada com a tecnologia REAC, a mesa utiliza as unidades
oito saídas em matriz e três principais (LCR). de entrada e saída Digital Snake, que são conectadas ao
equipamento através de cabo de rede (Cat5e), eliminando a
A mesa conta também com gate, compressor e equalização necessidade de multicabos e podendo ser instalados a dis-
paramétrica de quatro bandas em todos os canais, ajuste de tâncias de até 100 metros. Com essa mesma tecnologia, o
delay em todas as entradas e saídas, e ainda seis multiefei- console também permite gravar 40 canais de áudio direta-
tos e 12 equalizadores gráficos. mente em um PC rodando o software Sonar ou até 96 canais
utilizando dois gravadores R-1000, também da Roland.
A M-480 possui botões individuais de Solo, Mute, fader de
volume e botão de seleção de cada canal, com um design A Roland M-480 ainda oferece outras possibilidades de cone-
que favorece a facilidade de operação. A parte inferior con- xão, integrando várias tecnologias, como AES/EBU, S/PDIF e
tém os canais e a superior é divida em três áreas: na es- MADI, além das oito conexões de entrada e saída analógicas
querda encontram-se as os controles de parâmetros dos no painel traseiro, sendo capaz de atender a praticamente
canais; no meio fica o display e alguns botões de funções; e qualquer necessidade.
na direita estão localizados os controles globais do console.
Tudo disposto de forma clara e organizada. A mesa, cuja www.roland.com.br

22 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 23
REVIEW Rodrigo Sabatinelli

Luiz Brasil – Beira (Multifoco Música)

Segundo CD instrumental do produtor, arranjador, compositor e multi-instrumen-


tista Luiz Brasil, Beira, lançado pelo selo musical da Editora Multifoco, é um convite
à boa música. Produzido e arranjado pelo próprio Luiz, o trabalho, de sonoridade pra
lá de orgânica, tem um total de nove faixas, sendo sete delas de autoria do artista.

Entre as canções escritas por Luiz, os destaques são Azul Mar, que abre o disco, Na Espiral
e Nego Véio (Para Lenine). As duas únicas regravações que integram o trabalho do artista
são as de O Ronco da Cuíca, de João Bosco e Aldir Blanc, e Farol, de Mau Brasil, outras
duas boas pedidas.

Luiz Brasil, para quem não sabe, é primogênito de uma família de instrumentistas e já emprestou seu talento para
um grande número de expoentes da Música Popular Brasileira, dentre eles Gilberto Gil, Gal Costa, Maria Bethânia,
Cássia Eller e Caetano Veloso. Deste último, foi, por 10 anos, músico, arranjador e produtor.

Das mãos de Luiz Brasil o que se pode esperar é sempre algo muito refinado, como Beira e, voltando alguns anos, o
bem recebido Brasilêru, seu trabalho de estreia, lançado em 2005.

Georgeana Bonow – O Que Nunca Foi Dito Antes Por Nós Dois (Independente)

Georgeana Bonow foi descoberta por Roberto Menescal há alguns anos, quando, a con-
vite do produtor e músico, figurou em coletâneas de regravações de sucessos da música
internacional em ritmo de bossa, lançadas pelas gravadoras Albatroz e Som Livre. Agora,
a menina de voz suave e bem colocada surge em O Que Nunca Foi Dito Antes Por Nós
Dois, seu primeiro CD autoral.

Produzido pela dupla Rafael Garrafa e Pepê Canongia, sendo que o segundo também assina
a mixagem, feita no estúdio 94, no Rio de Janeiro, o disco reúne algumas das canções que
Georgeana escreveu ao longo de sua carreira.

Os destaques ficam por conta de Você Me Beija, Pra Onde Vão As Flores e Meu Jardim. Nesta última, Bonow dá um banho
de interpretação sob um delicado piano. Em Georgiana, canção com versos em inglês que o poetinha Vinícius de Moraes
escreveu para sua filha, uma “quase xará” da cantora, o destaque é a participação do bom e velho “Menesca”, que assina
os arranjos com sua típica maestria.

Outro aspecto que vale destacar é que o som do disco é clássico! Daqueles que priorizam as nuances, bem soltas e con-
fortáveis. Por conta disso, algumas música soam deliciosamente silenciosas perto de outras.

Bela estreia.

24 | áudio música e tecnologia


A-Ha – The Final Concert - Live At Oslo
Spektrum (Universal Music)

Saber a hora de parar,


seja no futebol ou na mú-
sica, é uma virtude de
poucos. Falando em es-
pecial sobre o mercado
fonográfico, pode-se di-
zer, sem citar nomes, que
muita gente hoje na luta
para se manter sob os ho-
lofotes já deveria ter “pendurado os microfones”.

Por outro lado, há também aqueles que param sem


precisar. Talvez por acharem que, se não parassem,
um dia, viriam a figurar a tal lista dos “mortos que não
foram enterrados”.

É o caso do A-Ha, grupo surgido nos anos 1980 com su-


cessos como Take On Me, Hunting High And Low e Stay
On These Roads, e que, ao longo das décadas de 1990 e
2000, manteve-se ali entre os grandes nomes da música
internacional. Claro, guardadas as devidas proporções.
Mas a banda, que há pouco “pediu pra sair” de cena, pelo
menos o fez com uma grande festa: a gravação do DVD
The Final Concert – Live At Oslo Spektrum.

Diante de cerca de 40 mil fãs, o vocalista Morten Ha-


rket, o guitarrista Paul Waaktaar-Savoy e o tecladista
Magne Furuholmen "passeiam” por todos os grandes
hits do A-Ha. De Crying In The Rain a Cry Wolf, além,
claro, das já citadas Take On Me, Hunting High And Low
e Stay On These Roads e das nem tão conhecidas Sum-
mer Moved On, We’re Looking For The Whales e The
Blood That Moves The Body.

No show, o trio, sempre muito ligado em tecnologia, faz


uso de sintetizadores e guitarras com efeitos digitais,
num mix de ode ao passado e olho no futuro.

E por falar em futuro, quem sabe eles um dia não vol-


tam à ativa?

áudio música e tecnologia | 25


EM TEMPO REAL | Fernando Barros

ZÉ “HEAVY”
CARRATO
A
paixão de José Luís Carrato pelo áudio começou 1989, entrei para a equipe do IRA! e não parei mais de
cedo, mais ou menos com seis anos de idade, mixar ao vivo. Até tentei conciliar os estúdios com a es-
quando seu pai o levou para ver uma sessão de trada, mas não teve jeito. Produzi alguns discos no início
gravação de uns amigos no antigo Estúdio Vapor, em São dos anos 1990, como o Vivo, dos Ratos de Porão, para a
Paulo. “Aos 17 anos, eu comecei a trabalhar no Estúdio gravadora Eldorado, e álbuns do Yo-Ho-Delic e Virna Lisi
ViceVersa como assistente de gravação. Com o tempo, pas- para o selo Tinitus, do Pena Schmidt. Trabalhei ainda nos
sei a praticamente morar no estúdio, dividindo meu tempo estúdios Norte Magnético, RAC e YB”, lista ele.
como assistente do Paulo Farat durante o dia e gravando
bandas de heavy metal nas madrugadas para o único selo Mas a estrada acabou vencendo. Hoje, Zé Heavy continua
alternativo na época, a Baratos Afins. Daí o apelido Heavy.” operando PA e monitores para bandas alternativas e em as-
censão por todo o Brasil. “Às vezes, também faço mixagens
No final dos anos 1980, ele era um dos técnicos do pro- de CDs de bandas, normalmente de amigos queridos”, des-
dutor Pena Schmidt, prestando serviços para a gravadora taca Zé, que afirma sempre reservar uma boa parte do seu
WEA, mas logo começou a pegar gosto pelos palcos. “Em tempo para conhecer os softwares dos novos mixers digitais.

26 | áudio música e tecnologia


BATE-BOLA

Console: DigiCo SD. O melhor som, na minha opinião. Timbre analógico


com as facilidades do mundo digital.

Pré-amplificador: Avalon VT-737. Um clássico.

Processador de efeito: Lexicon 480 e AMS RMX-16

Microfone: Neumann U 47. Sempre foi o meu preferido.

Plataforma de gravação: Nada supera a sonoridade de um gravador de 2”

Software: Pro Tools

Monitor de estúdio: Urei 813C

Monitor de palco: Sou adepto da monitoração in-ear. O sistema Sennhei-


ser com fones Xtreme Ears é o meu preferido. Para o chão, Nexo PS15.

Melhor estúdio: YB, em São Paulo.

Melhor gravação de todos os tempos: O álbum Empire, do


Queensrÿche

Melhores gravações em que trabalhou: Gueto, Estação Primeira,


pela descoberta de novas tecnologias de gravação, como o uso de sam-
ples em tempo real, que era quase utópico com as condições que tínha-
mos na época, e Camisa de Vênus, Duplo Sentido. Esse último por dois
motivos: foi o primeiro álbum duplo do rock nacional e o primeiro disco
prensado a partir de master digital no Brasil. Isso em 1987.

Melhor turnê em que trabalhou: Yes – The Ladder, South and Cen-
tral America Tour, em 1999. Mixar os monitores desta banda sempre
foi um sonho.

Técnicos de estúdio: Guilherme Canaes, entre os brasileiros, e Bob


Clearmountain, entre os estrangeiros

Técnicos de PA: Sou fã do Vidal, d’O Rappa. De fora, gosto do Paul Boo-
throyd. Trabalhamos juntos nos shows do Paul McCartney e AC/DC nos
anos 1990 e ele realmente impressiona pela versatilidade e bom gosto.

Produtores: Do Brasil, Apollo 9. Entre os internacionais, Bob Rock.

Melhor sistema de PA: Nexo Geo T

Melhor locadora: TH Som, de São Paulo

No estúdio, gosto de: Comunicação, fluência de ideias e uma boa dose


de atrevimento artístico

Na estrada, gosto de: Equipes entrosadas e equipamentos bem cuidados

Uma dica para os iniciantes: Não tenham medo de perguntar para


os mais experientes e tenham sempre em mente que toda forma de
adquirir conhecimento é válida. Áudio é um assunto muito vasto e todos
estamos aprendendo dia após dia. Por fim, nunca dependam dos olhos
para mixar. Nossa arte depende dos nossos ouvidos e de bom gosto.

áudio música e tecnologia | 27


AQUÁRIO | Fernando Barros

Música
Mais
Divulgação
L
ocalizado em Belo Horizonte, Minas Gerais, o podemos dizer que o estúdio atende a clientes de
Música Mais nasceu em 2004 com objetivo de uma região específica. Chegamos, inclusive, a tra-
atender ao público da região norte da cidade balhar com artistas que se destacam no cenário
com uma estrutura que, na área de gravação de áu- musical de nossa cidade”, conta o produtor e téc-
dio, ainda não existia por lá. Neste sentido, idealizou- nico de gravação Walmir Ribeiro.
se também uma mudança na maneira de os estúdios
de gravação de áudio comercializarem seu serviço: Além de Walmir, a equipe conta com o também téc-
não mais trabalhariam com períodos de gravação – nico e produtor musical e fonográfico Robert Dola-
que consiste em alugar horários específicos no estú- bella. Elias Marinho é o arranjador e produtor, Ra-
dio –, mas sim com produção, o que permitiria uma phael Morais é técnico de gravação e o marketing e
flexibilidade maior de tempo, menor estresse e mais propaganda ficam a cargo de Alexandre L.
cuidados dispensados ao trabalho.
Devido à natureza dos diferentes tipos de produção
“Apesar de ter como foco inicial a região norte de de áudio que o estúdio passou a receber, a meta
BH, diversas pessoas de outras regiões da cida- de se trabalhar por produção de obras completas
de tornaram-se clientes do Música Mais. Hoje não em vez de simplesmente locar as salas por perí-

28 | áudio música e tecnologia


odos determinados acabou se cumprindo apenas
parcialmente. “É importante lembrar que somente
há pouco tempo houve um trabalho efetivo de di-
vulgação do estúdio, com preocupações ligadas à
publicidade. Anteriormente, toda a movimentação
de trabalho no estúdio foi conseguida através do
boca a boca”, justifica Walmir.

PARA TODOS OS PÚBLICOS

Ele conta que houve um tempo em que era possí-


vel dizer que o principal público do estúdio era for-
mado por grupos musicais e músicos solo. Já hoje,
conta Walmir, com a grande diversidade de serviços
oferecidos, a clientela se tornou mais plural. “Além
de continuarmos gravando estas bandas, hoje há o
aluguel do estúdio para produtores musicais inde-
pendentes, gravação de locuções para publicidade
e vídeos institucionais, finalizações de gravações de
áudio oriundas de outros estúdios, gravação de voz
de trabalhos iniciados em outros lugares, jingles e
arranjos, entre outros”, afirma.

Em geral, são produzidas no Música Mais quaisquer


peças ligadas ao áudio que não requeiram um espa-
ço físico de grandes proporções. Não seria possível
Divulgação

Sala de gravação: destaque para os difusores


piramidais aplicados no fundo do espaço

áudio música e tecnologia | 29


AQUÁRIO

gravar, por exemplo, uma orquestra ou coral com- ACÚSTICA CUIDADOSA


pleto. Entre os trabalhos já realizados no estúdio
destacam-se a gravação do álbum A Cappella Col- O estúdio possui duas salas, uma de gravação e outra
lection, do Quarteto Athus, a gravação de vocal do
técnica. A sala técnica possui 3,09 m por 2,47 m, en-
CD Clássicos, do artista evangélico André Valadão,
quanto a sala de gravação tem 4,33 m por 3,08 m. O
da Igreja Batista da Lagoinha, em BH, e a produção
projeto foi feito pelo próprio Walmir Ribeiro e executa-
e gravação do álbum de Luciano Dias, De Braços
do segundo as especificações planejadas. As salas são
Abertos; além de jingles para campanhas políticas e
revestidas praticamente com os mesmos tipos de ma-
empresas de Minas Gerais.
teriais, distribuídos e aplicados de maneira diferente.

Atualmente, o principal trabalho em andamento é a


Após o término da parte de alvenaria, as paredes
produção de um jingle para um evento do sistema
Ocemg/Sescoop-MG: o Dia C. A ação tem como ob- foram revestidas de painéis rígidos de lã de rocha,

jetivo incentivar as cooperativas a executarem proje- suportadas por uma estrutura de madeirite resina-
tos sociais voluntários. “Devemos criar um jingle, a do, que então recebeu o tratamento acústico. Nas
pedido do cliente, que seja alegre, para cima, e que salas, há o forro mineral OWA (modelo Sirius HP),
motive as pessoas a cantarem junto, tanto na fase de madeira em forma de compensados (revestidos de
divulgação quanto no dia do evento”, revela Walmir, ipê e marfim) e Sonex Flexonic. Na sala da técnica o
falando um pouco sobre o conceito do material. Sonex leva uma cobertura de cor palha.
Divulgação

Tratamento acústico da técnica teve que ser refeito por excesso de harmônicos

30 | áudio música e tecnologia


Detalhes relevantes na questão acústica ficam por
conta do teto em gesso acartonado, também an-
tecedido por lã de rocha, com diversas alturas – o
teto não é paralelo ao piso, tendo alturas diferentes
em todo o seu comprimento –, e das pirâmides no
fundo da sala de gravação, que são difusores pira-
midais feitos em compensado naval, com medida
de 60 cm por 60 cm.

As duas salas contam também com bass traps fei-


tos em madeira e lã de rocha e revestidas de tecido
ortofônico, o mesmo material que reveste caixas de
som. A cobertura é feita do piso ao teto e absorve
entre 80 e 100 Hz, com o acabamento externo dos
bass traps feito de treliças de madeira. O piso está
sobre uma laje flutuante, coberta de madeira.

A janela entre as salas mede 2 m por 1,2 m, com


uma placa de vidro temperado de 12 mm e outra
de 16 mm. Os vidros estão apoiados sobre uma
estrutura de ipê amarelo. As salas possuem portas
duplas de compensado Eidai com espaçamento de
30 cm entre elas e vedação em borracha por todo o
percurso. “A janela, inicialmente, não contava com
revestimento interno. Ocorreu que, no momento em
que ela já estava selada, verificamos, a partir de
uma frequência base, a existência de harmônicos
se desdobrando no interior da mesma, num volume
totalmente perceptível. Precisamos, então, retirar
todo o vidro e revestir o interior do mesmo com So-
nex, resolvendo o problema”, relembra.
Divulgação

áudio música e tecnologia | 31


Visão da sala de gravação para a técnica com vidro duplo
AQUÁRIO

A rede elétrica é toda aterrada. O cabeamento foi demandas específicas, principalmente aqueles que
mais uma tarefa que ficou a cargo de Walmir Ribei- gravam somente grupos musicais, e que têm uma
ro, que também tem formação na área de eletrôni- estrutura semelhante à nossa, tendem a diminuir
ca. Basicamente todos os cabos do estúdio são da sua quantidade de trabalho. Em resumo, é preciso
Santo Angelo. Os plugues, por sua vez, são Neutrik. diversificar para se manter”, afirma o técnico, des-
tacando que os funcionários do Música Mais pro-
Walmir Ribeiro destaca o uso de placas de som da curam não apenas atender à demanda, mas tam-
MOTU. “São especiais na hora de registrar áudio di- bém ter um real envolvimento com cada projeto.
gital. Os conversores analógico/digitais são diferen- “Como há muito de subjetivo naquilo tudo que é
ciados, e estas diferenças são facilmente percebidas anterior à gravação de um trabalho, procuramos
na comparação com outras placas. Além disso, me compreender o desejo, o sonho daquele que nos
permitem uma conversa digital com o pré-amplifi- procura com o objetivo de gravar áudio. E então, a
cador Octane, facilitando e melhorando em muito partir daí, é só técnica!”, revela Walmir, que vê no
a qualidade da gravação do áudio. Ainda contamos procedimento a “fórmula do sucesso” do estúdio.
com os plug-ins VST Universal Audio para mixagem
e masterização”, acrescenta. O próximo passo do Música Mais será a construção
de uma sala para dublagem no térreo, pois já exis-
te demanda para este tipo de trabalho. “Identifica-
PRODUÇÃO DIVERSIFICADA mos um déficit nesse segmento. Para que possamos
inaugurar em breve esse espaço dedicado à dubla-
“Segundo a nossa realidade, há uma necessidade gem já trabalhamos com uma previsão de investi-
de atender a todo cliente interessado em gravação mento em estrutura física e também na parte de
de áudio. Percebemos que estúdios que atendem a equipamentos de vídeo”, conclui.

Divulgação

A sala de gravação recebeu diversas camadas de materiais como lã de rocha, forro mineral e Sonex

32 | áudio música e tecnologia


Arquivo Pessoal Beto Neves
Lista de Equipamentos
TÉCNICA:

• Mesa de som Mackie 24.8 com meter bridge e fonte


• Computador Intel Quad Core 2.4 GHz; 4 GB RAM; HD 350,
500; DVD com placa
• Placa de som MOTU 2408 mk II com PCI 424 (x 2)
• DSP Universal Audio
• Controlador M-Audio 4 oitavas Key Rig 49

AMPLIFICADORES:

• Alesis RA 100
• Peavey Bandit 112 (para guitarra)
• Trace Elliot Tramp (para guitarra)
• Akai

MICROFONES:

• Oktava MC-012 (x 2) • AKG C 4000 B


• Shure SM57 (x 5) • AKG C 418
• AKG C 1000 • Behringer Ultravoice
• Shure Beta 52A • Eletrovoice
• Shotgun Sony ECM-672 • Shure KSM 32
• AKG C 414 ULS • Shure SM58

PERIFÉRICOS:

• Compressor Alesis 3630 • Midiverb 4 Alesis


• Pré-amplicador Octane • QuadraVerb Alesis
• Equalizador Alesis MEQ 230 • DBX Quantum
• Módulo de efeito Wedge

MONITORES:

• LG Flatron 22”
• Tannoy Reveal (par de referência)
• Yamaha NS-10 M Studio (par de referência)

FONES DE OUVIDO:

• AKG K 141 (x 4)

INSTRUMENTOS:

• Bateria Yamaha Power Special


(com jogo de pratos Paiste Alpha – bag, cymbal, condução e corte)

áudio música e tecnologia | 33


NO ESTÚDIO | Rodrigo Sabatinelli

AS VÁRIAS FACES DE
RODRIGO SANTOS
BAIXISTA DO BARÃO VERMELHO GRAVA DVD EM TRÊS
AMBIENTES DISTINTOS: ESTÚDIO, TEATRO E CÉU ABERTO

Guilherme Rocha

34 | áudio música e tecnologia


O
primeiro DVD, ainda mais quando se trata de uma carreira
solo, a gente nunca esquece. Pelo menos é o que deixa
transparecer o baixista, cantor e compositor Rodrigo San-
tos, integrante do Barão Vermelho que, durante a mais re-
cente pausa da banda, há quatro anos, se firmou como um dos
grandes agitadores da noite carioca, se apresentando nas mais
bacanas casas de shows da cidade. Hoje, ele roda o país acom-
panhado por uma banda da pesada: Kadu Menezes, baterista e
ex-produtor do Kid Abelha, e Fernando Magalhães, guitarrista do
Barão Vermelho e produtor.

“Buscava um lugar para lançar Waiting On a Friend, meu terceiro


disco solo, mas não queria casas óbvias, como o Canecão, por
exemplo. Queria resgatar um local ‘esquecido’. Então cheguei ao
Teatro Ipanema, onde tive muitas alegrias nos anos 1970 e 1980.
Como teria de bancar toda a produção, pensei: por que não apro-
veitar a oportunidade para registrar o DVD?”, lembra o artista,
que, além da sessão no teatro, gravou apresentações na Praia do
Arpoador e no Jam House Studio, também no Rio.

Toda a gravação, bem como a operação dos monitores dos artis-


tas, ficou a cargo de Fausto Prochet. A operação do PA foi feita
pelo lendário Dico. O material, baseado em canções já lançadas
por Rodrigo – com exceção da inédita Bom Dia Alegria, parceria
do artista com José Almino Alencar -, foi registrado por meio do
software Reaper. Durante as apresentações, Fausto utilizou ainda
um sistema PreSonus StudioLive. Por motivos autorais, das 45
músicas registradas nas três apresentações, somente 21 estarão
no DVD. A masterização também terá a assinatura de Fausto.

SISTEMA INTEGRA GRAVAÇÃO


E MONITORAÇÃO DE ARTISTAS

Fausto Prochet: Gravamos o DVD do Rodrigo primeiramente no


Teatro Ipanema, onde fui responsável pela captação dos instru-
mentos e monitoração dos artistas. Para isso, utilizei um único
sistema, um PreSonus StudioLive 24.4.2, e um laptop “envene-
nado”. Na operação do PA estava o Dico, com uma Yamaha M7CL.

Dias depois do show, durante um campeonato de surf na Praia


do Arpoador, gravamos a apresentação do Rodrigo em cima da
Kombi. Por fim, registramos no Jam House a participação de
Chris Pitman, tecladista do Guns N’ Roses. Como ocorrera no
Teatro Ipanema, na praia e no Jam, usamos o mesmo sistema
de gravação e monitoração.

áudio música e tecnologia | 35


NO ESTÚDIO

tivemos muita homogeneidade no universo dos microfones.


Guilherme Rocha

No teatro, usamos basicamente Shure Beta 52 no bumbo


da bateria; Shure SM57 na parte de cima da caixa e em sua
esteira; Shure SM81 no contratempo e no prato de con-
dução; AKG C 414 nos overheads e Shure SM98 nos tons.
Para as guitarras do Fernando [Magalhães], usamos Sen-
nheiser MD 421 e Shure SM57. As vozes do Rodrigo foram
captadas pelo Shure SM58, enquanto a plateia recebeu
os Shure SM81. Os demais instrumentos, como teclados,
guitarras de participações especiais e loops pré-gravados,
entre outros, foram ligados em DIs IMP2.

No Arpoador, usamos um kit CAD para os tambores da ba-


No detalhe, a Yamaha M7CL usada por Dico para teria; SM81 para os pratos; E906 para a guitarra do Fer-
operar o PA do show de Rodrigo no Teatro Ipanema nando; SM57 para a guitarra extra; SM58 para as vozes
e DIs para os instrumentos com saída de linha. No Jam
House, a bateria recebeu um D112 no bumbo; um SM57
Amir Ghazi

na caixa e na esteira; diversos C1000 nos pratos e na gui-


tarra; um kit AKG Série D nos tons e os SM58 nas vozes.
O único microfone que se manteve durante todas as ses-
sões foi o SM58, que comprei especialmente para captar
a voz do Rodrigo e poupar esforços durante a mixagem.

Rodrigo Santos: Tive de comprar um acrílico para a bateria


no dia da gravação para "segurar" o som do instrumento
em um local pequeno como o teatro. Montamos tudo em
duas horas. Menos de uma hora antes do show, enquanto
passávamos o som com Ney [Matogrosso], Frejat e Isabella
Taviani, o acrílico ainda estava sendo montado, a luz sendo
afinada e o cenário sendo “levantado”. No pouco tempo que
nos restou depois, Fausto testou rapidamente todos os ca-
nais da gravação para ver se estavam chegando bem, sem
Rodrigo e Chris Pitman, tecladista do Guns N’ Roses,
distorções, e Leonardo Rocha testou o sistema de backup.
que participou de seu DVD

Por solicitação do diretor do DVD, a gravação foi feita em


24 bits/48 kHz no software Reaper, instalado no meu lap-
top HP DV6000, rodando um Windows XP a partir de um
HD mais rápido do que os originais de fábrica deste mo-
delo de laptop. Os backups foram feitos em uma M-Audio
Lightbridge e em um MacBook Pro rodando o Logic.

CAPTAÇÃO SUPERA ADVERSIDADES EM


Guilherme Rocha

GRAVAÇÃO TRIPLA

Fausto: Infelizmente, por conta das grandes diferenças


nas necessidades de produção entre um local e outro, não

A bateria de Kadu Menezes foi captada por microfones


Shure Beta 52 e SM57 e AKG C 414, entre outros

36 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 37
NO ESTÚDIO

O combinado era fazer o show inteiro de uma só vez, sem optei por utilizar o processamento on board da mesa, atu-
repetições. Foi o que aconteceu. Deu tudo certo, com exce- ando apenas sobre o áudio do dia da gravação (monito-
ção de um problema no vídeo de uma música que tocamos ração e PA) e gravando os arquivos “limpos” direto do
com o Frejat. Foram 23 músicas "em uma só tacada", com pré-amplificador para poder equalizá-los posteriormente

entrada e saída de sete convidados e a nossa formação de com mais calma, num ambiente de mixagem controlado.

quinteto “azeitadíssima”, com Jorge Valladão, Kadu Mene-


Imaginei que o show da praia seria mais complicado de
zes, Humberto Barros e Fernando Magalhães.
registrar por conta dos fortes ventos. Curiosamente, a
realidade confirmou o oposto. No teatro, a relação sis-
tema/tempo era menos favorável, pois tínhamos muitos

Guilherme Rocha
canais e equipamentos e poucas horas para trabalhar,
devido ao tempo que a cenografia consumiu no palco. Já
no Arpoador, embora ventasse muito, os elementos de
uma banda de rock falaram mais alto do que a natureza.
Alguns testes, horas antes do show, mostraram que não
seria preciso inserir filtros nas pistas, pois já tínhamos
uma ótima relação sinal/ruído (SNR).
Guilherme Rocha

Tanto Frejat quanto o próprio Rodrigo


usaram microfones Shure em suas
vozes durante as gravações
Nem mesmo os conhecidos fortes ventos
Na parte técnica, a apresentação da Kombi foi tranquila,
do Arpoador atrapalharam a sessão
principalmente por se tratar de um trio, e não um quinte-
complementar de gravação do DVD
to, como no teatro. Novamente, fizemos o show “de taca-
da”, sem repetir nada. E assim mantivemos a pegada ao
vivo sem firulas, bem característica do nosso show. Ainda
MIXAGEM FEITA EM CASA
houve uma terceira parte, igualmente captada pelo Faus-
UNE SUAVIDADE E PESO
to, no estúdio Jam House – um bônus com o tecladista
do Guns N’ Roses, Chris Pitman, que cantou Sex Pistols
Fausto: Eu fiz a mixagem deste DVD no conforto da
conosco, na formação em trio, a mesma da Kombi.
minha casa, num home studio que dispõe de moni-
toração Mackie HR824, devidamente alinhada para
CAPTAÇÃO NA PRAIA VENCE o ambiente, e fones Denon AH-D2000 e AKG K 501.
CONTRATEMPOS DA NATUREZA Aqui, compartilho da companhia da minha mulher e
do meu filho, o que torna o processo de mixagem
Fausto: Por conta das possibilidades oferecidas pelo siste- muito mais gostoso. No trabalho, utilizei o processa-
ma PreSonus StudioLive 24.4.2 (ou simplesmente SL24), mento on board da mesa quase que exclusivamente,

38 | áudio música e tecnologia


NO ESTÚDIO

lançando mão de plug-ins apenas para tarefas que iam show. Portanto, uma música aparentemente balada pode
além das suas capacidades. se transformar numa catarse, caso de O Sono Vem. E outra
pesada, como Pro Dia Nascer Feliz, pode se transformar
Na verdade, a sessão de gravação originou todas as ou- numa bossa nova, como aconteceu no Teatro Ipanema.
tras subsessões de mix, de onde apenas se excluiu o que
não era necessário para cada determinada passagem. Eu Eu não sei dizer se o show do teatro é mais leve que o
mixei as trilhas na própria mesa de gravação (SL24) e os da Kombi, apesar de parecer assim, pois o da Kombi é
arquivos permaneceram no mesmo exato sistema desde o feito com um power trio. Quando vejo o DVD, me es-
momento de sua captação até a finalização. panto com momentos pesadíssimos no teatro que nem
mesmo eu havia notado enquanto tocava. Na verdade, o
Na mix, não economizei no peso. Sou muito roqueiro e conceito do trabalho é mesmo musical/textual. As letras
sabia que o Rodrigo não se oporia. Além disso, prestei são muito importantes no meu trabalho, inclusive aque-
atenção na homogeneidade entre as diferentes canções las que escolhi para o disco em inglês. E o DVD chega
captadas em diferentes circunstâncias, para não ficar para mostrar visualmente quem sou eu, para mostrar o
desagradável para os espectadores. As mixes foram que penso, como vejo a música, as amizades, a busca
geradas a partir de uma noção mesclada de passado, de um sonho, a ralação em equipe.
presente e futuro, pois existe um gravador/reprodutor
multitrack enviando canais para uma mesa de mixagem
COMPROMETIMENTO DO TÉCNICO
em que o engenheiro mixa, em tempo real, para dois
FAZ A CABEÇA DO MÚSICO
canais, como era feito no passado. O sistema de mixa-
gem é 100% digital e portátil, podendo ser operado por
Rodrigo: Fausto é um grande parceiro e amigo. Já haví-
uma pessoa só e facilmente transportado para qualquer
amos trabalhado juntos em algumas situações, e quando
ambiente de mixagem.
o convidei para gravar o DVD, sabia exatamente da sua
dedicação e amor ao trabalho, o que, na minha opinião, é
fundamental. Ele faz o que gosta, e quem faz o que gosta
Arquivo Pessoal Fausto Prochet

tem 100% de chance de fazer muito bem qualquer coisa.


Fausto teve o cuidado necessário com toda a parte técnica
de captação, edição e mixagem, levando seu próprio equi-
pamento e mixando ele mesmo o projeto depois.

Gosto quando quem mixa é a mesma pessoa que capta,


pois está sabendo sobre tudo, sobre todas as etapas,
sobre como foi tal problema, como estávamos no dia, o
que aconteceu com a afinação de algum instrumento, o
porquê de não se consertar o espontâneo e o que aconte-
ceu naquela hora em que escutamos um ruído diferente,
por exemplo. Ele tem bem definidas as frequências, o
equilíbrio delas, e, mais ainda, a humildade de escutar o
artista em sua visão da história.

Tenho uma visão diferente do som de bateria, de vio-


Fausto Prochet e o home studio: mixagem
lão... No final, tentamos prezar pela verdade, sem co-
do DVD foi feita em sua casa
locar efeitos que não haviam sido colocados no dia da
gravação. Jogamos juntos o tempo todo e o Fausto mes-
Rodrigo: [O DVD] É pesado, leve, acústico, elétrico, mas, mo vai masterizar. Ou seja, confiança total nele, que é
acima de tudo, musical. Prezo pela qualidade de quem toca, um garoto prodígio. Não foi à toa que participou das
pela musicalidade aflorada em cada nota e pela entrega no três fases da produção.

40 | áudio música e tecnologia


USANDO OS SAMPLING REVERBS
PLUG-INS ETC. | Rodrigo Meirelles

PROCESSAMENTO DE ÁUDIO
REVERBERADORES (PARTE 6)

ARJEN VAN DER SCHOOT


UMA ENTREVISTA COM O CRIADOR DO ALTIVERB

D
evido ao grande interesse sobre o tema, este mês ramos abordar soluções de diversos fabricantes, incluindo
divulgaremos uma entrevista feita com Arjen van os softwares livres e tendo como foco o processamento
der Schoot, dono da empresa Audio Ease, desenvol- de áudio e suas possibilidades, nesta edição teremos nas
vedora dos plug-ins Altiverb e Speakerphone, entre outros. respostas a perspectiva de apenas um desenvolvedor. O
Como vimos nos últimos artigos, essas ferramentas traba- tema principal da entrevista foi o plug-in de reverberação
lham com a abordagem física da reverberação, isto é, com Altiverb, um dos mais utilizados mundialmente para rever-
a convolução do sinal de áudio de entrada com a resposta beração por amostragem e que já citamos em alguns dos
ao impulso medida do ambiente ou equipamento desejado. artigos anteriores.

Além de dono da Audio Ease – empresa líder de mercado Cabe ao leitor usar o seu senso crítico e perceber que
nesse ramo –, Arjen é o desenvolvedor dos softwares da são opiniões de um fabricante que tem, naturalmente, o
companhia. É formado em tecnologia musical e atua há 10 intuito de promover seu produto. De todo modo, saber
anos como professor de desenvolvimento de softwares de como é o ponto de vista de um dos pioneiros nesse tipo
música na Utrecht School of Arts, na Holanda. de ferramenta agrega muito valor à construção do co-
nhecimento no tema que abordamos exaustivamente nas
Diferentemente dos artigos anteriores, nos quais procu- últimas edições.

42 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 43
PLUG-INS ETC.

O que difere o Altiverb de outros sampling rever- é mais eficiente e roda em mais aplicativos. A automação
bs? Na sua opinião, que recursos fariam um pro- funciona melhor, sem “estalos”, por exemplo, mas, nova-

dutor ou engenheiro de áudio escolhê-lo? mente, estes são detalhes.

Arjen van der Schoot: Bem, nós fazemos mais segundos


A Audio Ease possui informações sobre o núme-
de reverberação com menos consumo de CPU e contamos
ro de usuários que medem e produzem seus pró-
com muitos parâmetros para modificar o som do reverb.
prios arquivos de resposta ao impulso?
Mais do que os outros. O Altiverb tem, por exemplo, três
Todos os grandes estúdios de cinema fazem isso –
bandas de damping e uma opção para colocar os falantes
Skywalker, Warner, Sony –, e também todas as grandes
em diferentes posições do ambiente medido, além de rodar
empresas de games, como UBI, Dice e Eletronic Arts. Eles
em mais aplicativos, incluindo a versão TDM, para Pro To-
precisam casar o espaço acústico com a imagem, e, às ve-
ols. Entretanto, esses aspectos são meros detalhes. Nosso
zes, até mesmo casar o som captado em gravações com
negócio é, realmente, amostragem.
ambientes reais. Um exemplo é o filme King Kong, que tem
boa parte de sua história passada em um navio. Durante
Se alguém deseja fazer um reverb soar como soam os es-
sua produção, foram medidos todos os compartimentos da
paços reais, deve ir a campo e gravar da melhor maneira
embarcação de forma que depois fosse possível casar as
possível todos os espaços mais interessantes que encontrar. gravações feitas em estúdio [ADR] com o som direto pro-
E é justamente isso que temos feito nos últimos 10 anos. duzido. Isso funcionou de forma impecável.
Viajamos o mundo gravando em catedrais francesas, tum-
bas indígenas e estúdios americanos de rock. E continua- Imagine um DVD ao vivo de uma banda de rock. O gui-
mos fazendo isso ao mesmo tempo em que entregamos, a tarrista precisa refazer o solo e o vocalista quer fazer uma
cada mês, samples aos nossos clientes de forma gratuita. dobra no refrão aqui e ali porque ele errou uma nota. Como
você vai casar o áudio dublado em estúdio com o resto do
som ao vivo? Usando algumas IRs de estádios de esportes,
por exemplo. Nós ajudamos a fazer essas medidas na con-
SAMPLES OU IRs? dição de que possamos lançá-las comercialmente a todos
os nossos clientes. Na verdade, é assim que nós consegui-
Arjen chama de samples o que denominamos de mos muitas de nossas salas. Hoje em dia não existe mais
respostas ao impulso (IRs) nos últimos artigos. nenhum filme de Hollywood que não utilize Altiverb. E mui-
Como vimos, medir respostas ao impulso é um tos deles usam suas próprias gravações de IR.
diferencial para os fabricantes que as disponibili-
zam no mercado, assim como pode ser também
para os próprios usuários que as medem e inse-
rem seus ambientes em suas mixagens.
RECURSOS ÚTEIS

Recursos de DAW com automação de parâme-


tros e presets podem ser bastante úteis nos ca-
Sabemos que convoluir um sinal de entrada com sos citados. Carregar diversas IR em um filme
a resposta ao impulso de um ambiente é uma ope- e mudar o ambiente de acordo com a cena é
ração relativamente simples para os processado- uma tática usada por muitos “mixadores”. Veja
res atuais. Existe algo nesse aspecto dentro do na interface do Altiverb (Fig. 1) as chaves para
algoritmo do Altiverb que possa fazer dele uma mudança de presets.
melhor opção para os usuários?

Na verdade, não. O processamento é basicamente idêntico


ao de qualquer um dos 10 concorrentes que temos, mas ele

44 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 45
PLUG-INS ETC.

Microfones

Presets de automação
Figura 1 – Trabalhar com presets de automação pode
ser uma saída para mudanças repentinas de ambien-
tes, como os gravados para o filme King Kong
Alto-falante posicionado para reproduzir sweep e
simular fonte sonora (instrumento) em cima do palco
Em quais aplicações o Altiverb tem melhor perfor-
mance: música, games ou TV e cinema? Figura 2 – Sala de concerto preparada para medição
de resposta impulsional. Configuração multicanal.
Música. Oitenta por cento dos nossos usuários estão em (Fonte: manual do Altiverb 6)
produção musical. Difícil imaginar o que exatamente faz
cada cliente, mas eu sei que muitos estão produzindo tra- No mercado de música, quais tipos de uso do
balhos de orquestração e querem ambientes de salas de Altiverb são mais comuns em mixagens: IR de
concerto. Nós temos salas de Amsterdã, Viena, Berlim, Sid- salas, IR de equipamentos clássicos ou IR dos
ney e Los Angeles, por exemplo. Alguns outros usam salas próprios usuários?
de bateria de estúdios de rock de Nova York.
Nós não temos estatísticas sobre isso, mas minha experiên-
Espaços reais são menos “na cara” do que reverbs sintéti- cia diz que seriam espaços acústicos de médio porte, com
cos. Eles criam por vezes a sensação de “ar” ao invés de superfícies de madeira. O Organ Study, em Utrecht [Ho-
adicionar “cauda” à reverberação. landa], o Teldex Studios, em Berlim [Alemanha], o Mozart
Saal, em Viena [Áustria] e o Allair, em Nova York [EUA],
são os que vêm primeiro à minha mente. Salas de 20 x 15
ABORDAGEM FÍSICA X PERCEPTIVA metros e 5 metros de altura, completamente feitas de ma-
deira, tetos irregulares e cadeiras com estofamento são, na
Vale lembrar a consideração que já fizemos sobre a minha opinião, o perfil das universalmente mais utilizáveis.
escolha entre a abordagem física (sampling reverbs,
como o Altiverb) ou perceptiva (o que Arjen chama Por que não é tão comum termos usuários com-
de “reverbs sintéticos”). Não existe uma melhor es- partilhando seus arquivos de resposta ao impul-
colha para todos os casos. Cabe a quem está produ- so, como acontece nos casos de samples de ins-
zindo e mixando o projeto julgar qual sensação é a trumentos e loops musicais?
desejada para aquele trabalho.
Simplesmente por ser mais difícil fazer uma boa gravação
Espaços reais, quando bem capturados, são ótimas de resposta ao impulso. Requer a utilização de alto-falante
opções e dão a impressão subjetiva diferenciada ci- no processo, além de precisar de processamento poste-
tada pelo entrevistado. Porém, por vezes, pode ser rior. Além disso, eu acho que nós estamos arruinando nos-
justamente a imperfeição do reverb sintético que so próprio mercado (risos). Damos as nossas melhores
vai fazer você atingir “o som”. amostras de IR gratuitamente, então não é fácil ganhar
dinheiro vendendo algumas.

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áudio música e tecnologia | 47
PLUG-INS ETC.

SOFTWARES DE APOIO DIFERENTES POSIÇÕES

Como mencionamos em outra oportunidade, o Alti- Observe na interface do Altiverb que há a possibili-
verb vem com softwares de apoio à captura de res- dade de alterar o posicionamento do microfone que
postas ao impulso pelo próprio usuário. O Sweep fez a captura original da resposta impulsional. Esse
Generator e o IR Pre-Processor, apresentados na úl- é um recurso muito poderoso para mudanças de
tima edição, entram em cena nesse momento. perspectivas dentro dos planos de mixagem. Vale
lembrar que o alto-falante utilizado durante a grava-
Basicamente, o Sweep Generator gera a varredura ção da IR é a fonte sonora (na mix, o áudio que pas-
no espectro de frequência que será reproduzida no sa pelo plug-in) e a posição do ouvinte é justamente
ambiente pelos alto-falantes e o IR Pre-Processor a posição do(s) microfone(s). Além de automação
carregará os arquivos de áudio gravados e os trans- na mixagem, medir variadas posições do cenário
formará em arquivos inteligíveis pelo Altiverb. Para pode ser uma boa alternativa.
uma boa gravação, vale ler também as dicas da úl-
tima Plug-ins etc. (AM&T 238), presentes no entre-
título Medindo suas próprias IRs.

Saída do Altiverb
Entrada do Altiverb (Microfones da
(Sinal de Áudio) medição da IR)

Figura 4 – Comportamento do Altiverb como uma câmara de


eco, na qual o sinal de entrada é equivalente aos alto-falantes
no ambiente e a saída equivale ao que é capturado pelos
microfones (Fonte: manual do Altiverb 6)

Figura 3 – Arquivos de resposta ao impulso com a exten-


CONCLUINDO
são irp organizados na estrutura de diretórios do Altiverb
Unindo as informações obtidas nesta conversa com Arjen
van der Schoot ao conteúdo dos artigos sobre reverberação
Em termos de fluxo de sinal, o que você recomen- publicados nas últimas edições desta coluna, espero que o
da para o Altiverb: utilizar o som direto do canal leitor possa tomar suas próprias conclusões e escolher o
no qual ele está insertado, como na topologia grupo de ferramentas adequado à sua situação de trabalho.
tradicional de send/return, ou usar o som direto
através do próprio Altiverb, via insert? Até a próxima!

Eu gosto mais da última opção, mas nem sempre é práti-


co. Fazendo dessa forma, você usa o som direto do espaço
acústico amostrado – o som que trafega do alto-falante até Rodrigo Meirelles é engenheiro eletrônico, mestre em educação e
o microfone sem refletir nas paredes ou chão. Esse som faz professor universitário. Atua como coordenador de engenharia de
o cenário ser extremamente real. Você pode, inclusive, usar áudio na pós-produção da TV Globo (CGP) e é sócio do centro de trei-
a posição no local original de gravação de onde vem o som. namentos e tecnologia ProClass. E-mail: [email protected]
Existe muito mais profundidade e veracidade nessa maneira.

48 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 49
NOTÍCIAS DO FRONT | Renato Muñoz

O TÉCNICO E OS
GRANDES FESTIVAIS
(PARTE 1)

Diferenças entre os

Agência Zero (Rock In Rio Lisboa 2006)


eventos de ontem e de hoje

Depois de um bom tempo participando de festivais ravelmente, principalmente com relação à quan-
(apresentações de várias bandas no mesmo palco, tidade e qualidade dos equipamentos, tanto no
no mesmo dia ou em dias seguidos) tanto no Brasil quesito PA quanto no quesito consoles. Porém, em
quanto no exterior, falarei neste artigo e também muitos casos a organização por parte da produção
no próximo sobre os lados positivo e negativo que
e atendimento por parte das empresas são pontos
sempre me chamaram atenção. Isso desde os meus
que ainda precisam ser melhorados.
primeiros festivais, no começo dos anos 1990, que
tinham um ou no máximo dois consoles (o segun-
Para mim, um dos aspectos mais positivos destes
do sempre para a banda principal), passando pe-
festivais é ter a chance de encontrar com técnicos
las house mix com vários consoles e equipamentos
analógicos no começo dos anos 2000, e, finalmente, de outras bandas para trocar informações e expe-
chegando aos festivais atuais, com seus consoles di- riências e também ouvir shows diferentes para ver
gitais, além de muitas outras facilidades. o resultado sonoro de outras mixagens, sendo que
ao longo dos anos, ambas — troca de informação e
Como veremos, várias coisas melhoraram conside- técnicas de mixagem — evoluíram bastante.

50 | áudio música e tecnologia


O PRIMEIRO GRANDE FESTIVAL VOCÊ
NUNCA ESQUECE (PRINCIPALMENTE
QUANDO A EXPERIÊNCIA NÃO É BOA...)

Minha estreia em grandes festivais foi no Rock In Rio II,


em 1991, trabalhando com um cantor nacional pouco
conhecido que tinha sido convidado de última hora para
preencher uma vaga no palco principal. Seu show seria
o primeiro da noite (na verdade, da tarde). Depois de
certa empolgação por ter sido chamado, com dois dias
de ensaio entendi porque tal cantor andava tão sumi-
do... Para piorar, descobrimos que os artistas nacionais
de maior “peso” não estavam recebendo um dos melho-
res tratamentos por parte da produção e dos técnicos
estrangeiros. Concluímos que, quanto menor a impor-
tância do artista, menor a atenção dada a seus técnicos.

Grande parte dos nossos pedidos técnicos foi comple-


tamente ignorada. Para completar, recebemos um kit
básico de equipamento que era bem abaixo das ex-
pectativas, sem contar com a falta de tempo para uma
passagem de som decente. Quando acabei de acertar a
mixagem do PA, o show já tinha acabado. Para a sorte
de todos, a apresentação só durou cerca de 45 minutos.

Em 1996, eu já estava trabalhando no estúdio Nas Nu-


vens há certo tempo quando Gilberto Gil foi convidado
para ser a atração principal de uma das noites da última
edição do Hollywood Rock. Como eu havia participado
de todo o processo de ensaios, acabei indo trabalhar no
show também. Mesmo sendo a maior atração do dia,
não recebemos da empresa responsável pela sonoriza-
ção tanto no Rio (Praça de Apoteose) quanto em São
Paulo (Estádio do Pacaembu) um tratamento tão bom
quanto o esperado. Apesar do grande tamanho da ban-
da e da necessidade de um maior número de canais
e vias de monitor, fomos avisados de que teríamos à
disposição 48 canais de input e 16 vias de monitor. E
ponto. Lembro de passar um bom tempo com os demais
técnicos tentando eliminar canais e vias de monitor.

A realidade era bem simples: para os técnicos ame-


ricanos só importavam bandas americanas e in-
glesas (nesta ordem, é claro). Se sobrasse algum
espaço e equipamento, nós poderíamos usar (com
supervisão deles, obviamente).

áudio música e tecnologia | 51


Mesmo a barreira da língua não sendo um gran- Como o uso comunitário do mesmo console era ine-
de problema, a verdade era que naquele momen- vitável, quando acabava a passagem de som de uma
to muitos itens técnicos ainda eram novidade no banda, seu técnico anotava tudo o que tinha sido
Brasil. A quantidade de consoles (foi a primeira feito na mesa, nos racks de efeitos e nos processa-
vez que vi uma Yamaha PM4000), processadores e dores dinâmicos, para, mais tarde, antes do show,
de caixas de PA (o sistema era o famoso S-4, com fazer um recall, já que tudo seria alterado por ou-
suas qualidades sonoras) ainda impressionavam tro técnico, que usaria o mesmo console com outra
bastante e estavam muito fora da nossa realidade. banda. Além disso, dependendo do número de ban-
Apesar de tudo, foi um bom momento para perce- das em uma noite, poderíamos encontrar problemas
ber que, tirando a falta de costume com os equi- como a falta de microfones individuais para cada
pamentos, a grande maioria dos técnicos nacionais conjunto, de subsnakes, pedestais, cabos, AC...

se saía muito bem na mixagem das suas respecti-


vas bandas. O resultado sonoro da grande maioria Com o passar dos anos, lá pelo final da década

dos shows nacionais não deixou nada a desejar se de 1990, algumas poucas firmas foram se tornan-

comparado aos das apresentações internacionais. do capazes de atender à demanda de um festival


de maneira mais decente. As maiores já possuíam
equipamentos (tanto no palco quanto na house mix)
Outro ponto importante para mim naquela época foi a
suficientes para trabalhar com quatro ou cinco ban-
percepção de que muitos artistas traziam boa parte do
das simultaneamente. Esta grande quantidade de
equipamento de áudio com eles, tais como consoles,
equipamento gerou um novo problema: o tamanho
microfones, monitores, cabos e pedestais, entre ou-
ocupado tanto pela house mix quanto pelo monitor
tros. O que para nós hoje ainda é considerado um cer-
mix. Imagine um festival com cinco consoles analó-
to luxo, há 20 anos já não era novidade para a maioria
gicos e seus respectivos racks de efeitos e proces-
das bandas internacionais de médio e grande porte.
sadores no meio da plateia, ocupando um espaço
enorme, levando os organizadores à loucura. Esta
Divulgação

situação só iria melhorar com a consolidação dos


consoles digitais, anos mais tarde.

ROCK IN RIO III: UM DIVISOR DE ÁGUAS

O ano de 2001 foi muito importante para os grandes


festivais no Brasil, principalmente no quesito sono-
rização. Pela primeira vez uma empresa nacional foi
contratada para sonorizar um evento de grande porte,
no caso, a terceira edição do Rock In Rio. Para aque-
les técnicos que estavam acostumados a trabalhar em
grandes festivais no Brasil ou no exterior, as diferenças
House mix “analógica” no meio dos anos 1990
foram gritantes. Na minha opinião, a principal era a
DE VOLTA À NOSSA REALIDADE ausência da barreira da língua, já que não há nada
melhor do que discutir problemas técnicos em seu
Enquanto isso, nesta mesma época, os festivais na- idioma. A segunda foi a maior atenção dada aos téc-
cionais estavam ficando cada vez mais populares, nicos nacionais pela produção. Na verdade, o fato de
principalmente aqueles patrocinados por rádios. O todos já se conhecerem de outras ocasiões facilitou,
que acontecia frequentemente é que a maioria das e muito, o trabalho (acredito que o atendimento aos
empresas não possuía equipamento suficiente para técnicos estrangeiros também tenha sido muito bom).
atender a uma grande demanda de bandas ao mes-
mo tempo, o que impunha a divisão de um mesmo É claro que isto foi um grande avanço para os téc-
console (analógico, é claro) por algumas bandas. nicos brasileiros, pois era óbvio que por melhor

52 | áudio música e tecnologia


que a pessoa conseguisse se comunicar em inglês
ou por melhor que fossem suas qualidades técnicas,
sempre existia por parte dos técnicos das empresas
estrangeiras um preconceito em relação à capacida-
de de trabalho nacional.

A partir daquele momento começamos a ter acesso aos


mesmos equipamentos utilizados pelas bandas interna-
cionais, a ter o mesmo tempo de passagem de som e
a usarmos o mesmo volume do sistema. Certamente,
muita coisa foi facilitada com a presença da empresa
de sonorização nacional no evento, sendo que a par-
te da produção também se mostrou bem mais eficien-
te em relação aos artistas nacionais. Além disso, e tão
importante quanto, foi que a empresa de sonorização
contratada se mostrou bem preparada para atender às
necessidades técnicas de todas as bandas, nacionais
e internacionais, quebrando, assim, uma barreira que
existia por parte de artistas estrangeiros e produtores
daqui com relação a empresas locais.

Os técnicos das bandas nacionais estavam bem melhor


preparados para lidar com os equipamentos colocados à
disposição e pouca coisa naquela época era ainda uma
grande novidade. Ainda neste período, ficou bem claro
que o acesso a bons equipamentos já era uma reali-
dade para as maiores empresas nacionais, e que, com
técnicos bem preparados, estas empresas poderiam
facilmente sonorizar quase todos os shows internacio-
nais que começavam a chegar aqui em maior número
e frequência. Além disso, em pouco tempo este know-
how começou a ser exportado, pois a mesma empresa
brasileira responsável pela sonorização do Rock in Rio
III, em 2001, foi contratada para sonorizar a primeira
edição do festival na Europa (Rock In Rio Lisboa, em
2004) e também todas as edições seguintes.

No próximo mês, na continuação desse artigo, falarei


sobre festivais internacionais e sobre o que mudou com
a chegada dos equipamentos digitais, além de apresen-
tar dicas sobre o que fazer e não fazer em um festival.

Renato Muñoz é formado em Comunicação


Social e atua como instrutor do IATEC e téc-
nico de gravação e PA. Iniciou sua carreira
em 1990 e desde 2003 trabalha com o Skank.
E-mail: [email protected]
EM CASA | Lucas Ramos

DIVISOR/REBATEDOR
ACÚSTICO
APRENDA A CRIAR ESSA FERRAMENTA
FUNDAMENTAL PARA O SEU HOME STUDIO

No mês passado nós vimos como construir uma cabi- usado. Obviamente, a altura terá de ser menor do
ne de isolamento para poder minimizar o vazamento que o pé-direito da sua sala, porém, quanto mais
em nossas gravações. Agora vamos aprender a cons- alto, maior será a eficiência do divisor/rebatedor. A
truir um divisor e rebatedor acústico, que também altura deverá ser entre 1,80 m e 2,10 m. Como o
pode ser muito útil para minimizar o vazamento entre pé-direito de um imóvel tem geralmente entre 2,50
instrumentos posicionados em um único espaço. m e 3 m e os batentes das portas têm geralmente
2,20 m, haverá bastante espaço para a movimenta-
Como a maioria dos home studios possui apenas ção do divisor/rebatedor.
uma única sala, muitas vezes é necessário ter algu-
ma maneira de dividir esse espaço, para, assim, ga- A largura deve ter entre 50 e 150 cm, e quanto
rantir um melhor isolamento entre os instrumentos. mais largo for, maior será a eficiência do seu di-
Os divisores acústicos podem ser usados para dividir visor/rebatedor. Porém, às vezes é melhor utilizar
um espaço como se fossem “paredes móveis”. Outro dois divisores/rebatedores com uma largura me-
grande benefício dos divisores/rebatedores acústi- nor, pois fica mais “maleável” para posicionar, sen-
cos é poder alterar as características sonoras da sala do possível, inclusive posicioná-los com um ângulo
sem precisar fazer uma obra. entre eles. Será sempre possível posicionar dois
divisores/rebatedores lado a lado, caso necessário
Com um divisor, você irá diminuir as reflexões no (mas nunca um em cima do outro).
ambiente, enquanto que usando um rebatedor o re-
sultado será um aumento delas. Assim, é possível A espessura do divisor/rebatedor é a única dimensão
adequar a sala para satisfazer as necessidades acús- que eu sugiro que não mudem, pois vem da espessura
ticas de cada gravação. Mas é possível construir um da lã mineral. Como a lã mineral será responsável pela
divisor que também é um rebatedor! Parece bom absorção das reflexões, a espessura de 10 cm é a que
demais para ser verdade? Então vamos ver como trará maior eficiência na absorção (especialmente nos
construir essas “maravilhas”. graves). Se utilizar uma espessura menor, poderá ter
um acúmulo de graves nas suas gravações, o que ge-
DIMENSÕES ralmente “suja” e “embola” a sonoridade.

As dimensões do divisor/rebatedor vão depender do Neste exemplo eu utilizarei as dimensões de 180 cm


tamanho da sua sala e da aplicação em que ele será x 75 cm, mas você pode adequá-las à sua necessi-

54 | áudio música e tecnologia


dade. Para isso, basta medir tudo com calma (e duas do ortofônico é o ideal, mas é caro – musseline
vezes) e fazer uma matemática básica. funciona bem, e a um custo menor)

• 4 suportes em “L”
MATERIAIS
• Parafusos
• 1 chapa de compensado (naval, de preferência)
de 175 cm x 70 cm x 2,5 cm • Grampeador

• 1 chapa de compensado (naval, de preferência) • Nível


de 75 cm x 75 cm x 2,5 cm
• Braçadeiras
• 2 placas de gesso acartonado de 83,75 cm x 70
cm x 1,25 cm • Fita métrica (ou trena)

• 2 tábuas de madeira de 180 cm x 12,5 cm x 2,5 cm • Lixa para madeira

• 2 tábuas de madeira de 175 cm x 10 cm x 2,5 cm


• Cola para madeira
• 2 tábuas de madeira de 75 cm x 12,5 cm x 2,5 cm
• Massa para madeira
• 3 tábuas de madeira de 70 cm x 10 cm x 2,5 cm
• Selante acústico (ou mastique acrílico)
• 2 placas de lã mineral semi-rígida de densidade
48 kg/m3 e medidas de 83,75 cm x 70 cm x 10 cm • 1 carpete grosso de 75 cm x 75 cm

• Pelo menos 230 cm x 150 cm de tecido (teci- • Cola industrial para carpete

Filtro digital de passa-baixas e passa-altas


com ponto de corte variável tanto nas
frequências graves quanto nas agudas

áudio música e tecnologia | 55


56 | áudio música e tecnologia
áudio música e tecnologia | 57
EM CASA

PROCESSO 7. Use uma lixa para acertar os cantos e deixar


tudo bem liso.
1. Usando uma furadeira, faça dois furos (espa-
çados em 5 cm) em cada uma das extremida- 8. Posicione a placa de compensado (de 180 cm)
des das tábuas de madeira de 175 cm. Esses no chão e coloque a estrutura retangular ali-
furos servirão para aparafusá-las. nhada sobre o compensado. É muito importante
assegurar o alinhamento correto (ver Fig. 2).
2. Faça dois “furos-guias” (furos de diâmetro
bem pequeno, que servem só para “guiar” o
parafuso) em cada um das duas tábuas de
madeira de 70 cm, de forma que alinhem com
os furos das outras tábuas (de 175 cm).

Figura 2

9. Usando bastante cola de madeira nas partes


interna e externa, fixe o compensado na es-
trutura. Tome bastante cuidado para garantir o
alinhamento correto e espere a cola secar an-

Figura 1 tes de mover a estrutura. Assim, você garante


que o alinhamento não será comprometido.
3. Utilize braçadeiras para segurar as tábuas no de-
vido lugar, de forma que os furos fiquem alinha- 10. Após a cola secar, vire a estrutura para que o
dos e o ângulo entre elas seja de 90º (use um ní- compensado fique voltado para cima. Acres-
vel e régua para verificar alinhamento e ângulo). cente parafusos em torno do compensado para
fixá-lo melhor na estrutura (ver Fig. 3).
4. Aparafuse as tábuas de madeira de forma a criar
um retângulo. Acrescente cola de madeira nas
junções para dar maior firmeza. Cuidado, pois
a estrutura estará um pouco “mole”, então evite
movê-la demais.

5. Aparafuse os suportes em “L” nos cantos da es-


trutura. Isso irá garantir rigidez a ela.

6. Após a cola secar, acrescente a terceira tábua de


70 cm no centro do retângulo usando o mesmo
processo empregado nas outras tábuas. Faça os
furos e furos-guias utilizando braçadeiras e bas-
Figura 3
tante cola para garantir maior fixação (ver Fig. 1).

58 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 59
EM CASA

11. Vire a estrutura novamente, deixando o com-


pensado voltado para baixo. NÃO BRINQUE COM FOGO.
É SÉRIO!
12. Usando um selante acústico (ou mastique acrí-
lico), vede todas as junções da estrutura por
dentro, por fora e em torno do compensado. Uma coisa muito importante em termos de
segurança, e que já deveríamos ter abor-
13. Coloque as duas placas de gesso acartonado den- dado antes (mas antes tarde do que nunca,
tro da estrutura, fixando-as com parafusos (pró- não é?), é o fato de que a maioria dos ma-
teriais utilizados na construção dos painéis
prios para gesso acartonado) de 2,5 cm para que
acústicos, armadilhas de graves, difusores,
não “atravessem” o compensado (ver Fig. 4).
divisores e rebatedores são inflamáveis! Ou
seja, podem pegar fogo facilmente. Luga-
res fechados que abriguem muitos equipa-
mentos elétricos ligados (o que é o caso dos
home studios) são vulneráveis ao fogo.

Por isso, é muito importante utilizar algum


tipo de retardador de chamas nessas es-
truturas sobre as quais falamos nas últimas
edições. Retardadores de chamas são subs-
tâncias que podem ser aplicadas a objetos
para minimizar ou impedir a combustão. Há
diversos tipos no mercado e os mais comuns
vêm no formato spray.
Figura 4
Pelo seu bem e pelo bem do seu home stu-
dio, aplique um retardador de chamas em
14. Coloque as duas placas de lã mineral dentro da
todas as estruturas que você for construir.
estrutura (ver Fig. 5). Especialmente nos tecidos. É uma segurança
a mais, e que custa muito pouco.
15. Posicione o tecido sobre a lã mineral de forma
que cubra toda a frente. Não se pode brincar com fogo... É sério!

16. Vire o painel para que a lã de rocha fique posi-


cionada para o chão e a chapa de compensado
pra cima. Aplique peso sobre a estrutura (pode
19. Utilizando um martelo, assegure-se de que todos
usar o seu próprio corpo) para comprimir um
os grampos estão bem “achatados”. Com isso,
pouco a lã mineral.
você se certifica de que as tábuas que serão fixa-
das em torno dessa estrutura (moldura) se encai-
17. Puxe o tecido para que fique apertado em tor-
xarão corretamente.
no da estrutura e fixe-o nas tábuas laterais
usando um grampeador.

18. Cuidado nos cantos, pois será necessário do-


brar o tecido (como se embrulha presente). É
importante assegurar-se de que o tecido fique
bem esticado na frente, pois ele ficará exposto
(estética também conta... um pouco).

Figura 5
60 | áudio música e tecnologia
áudio música e tecnologia | 61
EM CASA

20. Posicione uma tábua de 180 cm e outra de 75


cm em torno de um dos cantos da estrutura
(formando um “L”). Posicione-as para que fi-
quem bem alinhadas no canto e aparafuse-as
(utilizando dois parafusos) uma na outra. Repita
o processo para o canto oposto (com as outras
duas tábuas restantes).

21. Fixe as tábuas (os dois “Ls”) umas nas outras,


de forma que contornem toda a estrutura do
divisor/rebatedor. Essa é a moldura.

22. Acrescente mais parafusos em torno da moldu-


ra para fixá-la na estrutura. Não é necessário Figura 6
usar cola para fixar a moldura, pois caso precise
“desmontar” o divisor/rebatedor, basta remover
os parafusos. secar, corte os cantos do carpete para que fique
alinhado com a base.
23. Use massa para madeira e uma lixa para “acer-
tar” os cantos e deixar tudo bem liso. Se quiser, 27. Se quiser, passe verniz na madeira para dar um
também utilizando massa para madeira, cubra capricho na estética. Está pronto o divisor/reba-
os parafusos que ficaram expostos na frente e tedor (ver Fig. 6)!
em torno da estrutura.
28. Caso deseje minimizar as reflexões (ou simples-
24. Vire a estrutura de lado, de forma que a face com mente isolar melhor a gravação), posicione-o com
o tecido fique perpendicular ao chão. Posicione a o lado do tecido virado para o instrumento. E se
chapa de compensado de 75 cm alinhada a um quiser acrescentar reflexões, posicione-o com o
dos lados menores da estrutura. Utilizando mui- lado do compensado virado para o instrumento.
tos parafusos e bastante cola, fixe a chapa na
estrutura, de modo que fique muito firme. Essa O PRÓXIMO PASSO
será a base do divisor/rebatedor, e, portanto,
terá de sustentar todo o peso da estrutura, além Nas últimas edições conhecemos várias maneiras de
do abuso devido à movimentação da mesma. melhorar a infraestrutura acústica de seu home stu-
dio. Com todas essas soluções caseiras é possível
25. Para facilitar o posicionamento do divisor/rebate- melhorar consideravelmente a sonoridade dele, e
dor, corte os cantos da base (chapa de compen- sem gastar uma fortuna! Mas agora chega de acústi-
sado) em ângulos. Isso garantirá que, caso queira ca, madeira, cola e parafusos. Vocês já devem estar
posicionar dois divisores/rebatedores em ângulo, fartos das farpas nas mãos!
as bases não ficarão uma em cima da outra.
Na próxima edição vamos começar a falar dos “brin-
26. Para facilitar a movimentação do divisor/rebate- quedos” para os home studios: os equipamentos!
dor sobre o chão, cole o carpete na base usando
uma cola industrial para carpete. Após a cola Até lá!

Lucas Ramos é tricolor de coração, engenheiro de áudio, produtor musical e professor do IATEC.
E-mail: [email protected]

62 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 63
GRAVAÇÃO | Fábio Henriques

TÉCNICAS DE

(PARTE 6)
MICROFONAÇÃO
OS MICROFONES DIRECIONAIS

A
nteriormente, vimos aqui dois tipos elementa- Apesar de uma fórmula envolvendo uma função tri-
res de microfones em termos de direcionalida- gonométrica ser um pouco assustadora para alguns,
de de captação: os omnidirecionais, também ela indica algo bem simples, pois é apenas o jeito
chamados “microfones de pressão”, que são sensí- matemático de se representar a curva em forma de
veis a quaisquer variações de pressão, independen- 8, característica deste tipo de microfone.
temente da direção de onde estas vêm; e os bidire-
cionais, ditos “microfones de gradiente de pressão”, Pois bem, se agora nós somamos a resposta de um mi-
que respondem às diferenças de pressão entre os crofone omnidirecional com a de um bidirecional, am-
dois lados do diafragma. bos apontando para a mesma direção, temos a super-
posição de seus gráficos, conforme vemos na Figura 1.
Vimos também a descrição matemática das ca-
racterísticas destes microfones. O omnidirecional,
cuja resposta ideal independe do ângulo de inci-
dência, pode ser descrito como ρ (θ) = 1. Ou seja,
para qualquer ângulo θ de incidência, a resposta
do microfone é a mesma.

O bidirecional tem a resposta normalizada dada por


ρ (θ) = cos θ.

Figura 1
64 | áudio música e tecnologia
Matematicamente, isto equivale a escrevermos sensibilidade diretamente à frente e nenhuma sen-
algo como: sibilidade para sons vindos de trás (resposta em 180
graus teórica igual a 0).
ρ (θ) = 1 + cos θ

Traçando um gráfico da resposta, temos o que pode


Tomando os valores do cosseno de diversos ângulos,
ser conferido na Figura 2. Esta resposta, por con-
o que pode ser feito em qualquer calculadora que
ta do formato da curva, de um coração invertido, é
possua esta função, temos que:
chamada de “cardioide”.

Ângulo θ cos θ ρ (θ) = 1 + cos θ


00 1,000 2,000
45o 0,707 1,707
90o 0,000 1,000
135o -0,707 0,293
180o -1,000 0,000
225o -0,707 0,293
270o 0,000 1,000
315o 0,707 1,707

Já podemos observar que a curva resultante da


soma destes dois comportamentos terá máxima Figura 2

áudio música e tecnologia | 65


GRAVAÇÃO

MICROFONES CARDIOIDES REAIS

Apesar desta técnica de se obter a curva cardioide já


ter sido usada, o leitor pode ter uma ideia das difi-
culdades envolvidas em se tentar superpor dois dia-
fragmas para tal. Na prática, os microfones cardioides
reais utilizam outro método para obterem sua curva.
Esse método consiste em se partir de uma cápsula
omnidirecional, originalmente selada, abrindo-se en-
tradas laterais e traseiras cuidadosamente calculadas
para que o som incidente chegue ao diafragma através
de caminhos de diferentes comprimentos. A cada ân-
gulo de incidência corresponderá um caminho tal que Figura 4
a soma da parcela que chega à frente do diafragma,
somada algebricamente à parcela que chega à face Podemos observar que em 125 Hz a curva é quase
traseira, forneça o resultado desejado. Na Figura 3, omnidirecional, pois o comprimento de onda é bem
confira um diagrama que ilustra melhor o processo.
grande. À medida que se aumenta a frequência, ocor-
re um aumento progressivo na direcionalidade, dei-
xando o microfone mais “fechado” para os agudos.

Figura 3

Para zero grau, o caminho que o som incidente per-


corre é tal que a diferença de percurso entre a parte
que chega à frente do diafragma e a parte que deu
a volta e entrou pela abertura lateral faz com que
estejam em oposição de fase, o que torna o diafrag-
ma mais sensível. Para os sons laterais, a diferença
de caminho atenua parcialmente a sensibilidade, en- Neumann KM184:
quanto que para sons vindos de trás, o efeito é tal quanto maior a
que ambas as frentes de onda chegam em fase ao frequência, mais o
diafragma, deixando-o com mínima sensibilidade. microfone se “fecha”
para os agudos

VARIAÇÃO COM A FREQUÊNCIA


Em áudio, quando existe uma dependência da cur-
As curvas que vimos até agora são idealizadas. Na va de resposta em relação à frequência, dizemos
prática, devido à grande variação dos comprimentos que está acontecendo uma “coloração” do som (em
de onda envolvidos, aparece uma dependência do analogia à visão, onde a sensação de cor se associa
diagrama polar do microfone em relação às frequên- ao conteúdo de frequências, sendo o branco uma
cias das ondas incidentes. Vejamos o exemplo real combinação de todas as cores). Uma consequência
do Neumann KM 184 na Figura 4. Repare que como importante desta coloração na resposta dos micro-
o diagrama polar é o mesmo para cada hemisfério, fones direcionais é o cuidado que temos de tomar no
somente a metade de cada curva é apresentada. seu posicionamento. Por exemplo:

66 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 67
GRAVAÇÃO

• Ao se gravar uma voz, se o cantor/locutor gira a b) Cardioide: ρ (θ) = 0,5 + 0,5 cos θ
cabeça para ler uma letra/texto situado ao lado
do microfone, haverá uma momentânea dimi- A nossa configuração de referência, com pontos de
nuição nos agudos da voz. -6 dB em 90 graus e extremo de atenuação (teo-
ricamente infinita) em 180 graus (ver Figura 6).
• Se, ao contrário, existe excesso de sibilância (agu-
dos) numa voz, podemos girar um pouco o micro-
fone de forma a não captar a voz a zero grau.

• Vazamentos chegando ao microfone soarão


sempre menos agudos do que os sons diretos
das fontes que provocam os vazamentos.

• Sons extremamente graves são menos depen-


dentes do ângulo de incidência sobre o dia- Figura 6
fragma, porém devemos lembrar que mesmo
sons gerados por instrumentos muito graves c ) Supercardioide: ρ (θ) = 0,37 + 0,63 cos θ
possuem harmônicos mais altos, cuja capta-
ção depende deste ângulo. Apresenta -12 dB em 90 graus e -11,7 dB em 180
graus. Possui o mínimo de sensibilidade em 120 e
240 graus, o que deve ser levado em conta ao usá-
ALÉM DO CARDIOIDE
lo. Utilizando este microfone para voz em shows,
são colocados dois monitores de retorno, posicio-
Tomemos mais uma vez a equação da curva básica
nados justamente nestes ângulos. Possui a melhor
do cardioide: ρ (θ) = 1 + cos θ
relação som frontal captado/som total captado
Agora, reescrevemos a mesma em uma outra for-
dentre os gráficos aqui usados (ver Figura 7).
ma: ρ (θ) = A+ B cos θ, onde A+B = 1

Variando os coeficientes A e B, teremos os diferen-


tes diagramas de resposta encontrados nos micro-
fones modernos. Usando os fatores sugeridos por
John Eargle, em seu importantíssimo The Micropho-
ne Handbook, temos:

a) Subcardioide: ρ (θ) = 0,7 + 0,3 cos θ

Apresenta resposta de -3 dB a 90 graus e 10


dB de atenuação relativa a 180 graus. Compor- Figura 7
ta-se como um omni ligeiramente direcional.
Pode ser útil em situações em que se precisa
de uma boa cobertura angular, como na gra- d) Hipercardioide: ρ (θ) = 0,25 + 0,75 cos θ
vação de coros e backing vocals, sem atuação
muito forte da sala (ver Figura 5). Apresenta -12 dB em 90 graus e -6 dB em 180
graus. Este diagrama (ver Figura 8) é o que
mais se adequa a situações em que existe um
campo reverberante intenso, pois tem a me-
lhor capacidade de rejeitar esta informação em
relação ao som direto.

Figura 5

68 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 69
GRAVAÇÃO

1. Somando os dois cardioides com a polaridade


normal, temos uma resposta omnidirecional.

2. Usando somente a saída do diafragma frontal, te-


mos uma resposta cardioide.

3. Somando os dois diafragmas e invertendo a pola-


ridade de um deles, temos uma resposta bidirecional.

4. Fazendo uma combinação do sinal do diafragma


Figura 8 frontal com o traseiro atenuado de um certo valor,
obtemos a resposta super e/ou hipercardioide.

MICROFONES MULTIPOLARES

Divulgação
Frequentemente o leitor vai encontrar microfones de
diafragma grande com chaves seletoras de diagrama
polar. Dois exemplos clássicos são o AKG C414 e o
Neumann U87. Neste tipo de microfone são colocados
dois diafragmas em lados opostos de uma placa rígida
central. Um diafragma então aponta para a frente do
microfone e o outro para trás (no 414, por exemplo,
um diafragma fica do “lado prateado”, na frente, e o
outro do “lado preto”, atrás). Cada um deles apresenta
uma resposta cardioide. Fazendo uma soma elétrica
dos sinais de cada um dos diafragmas, temos que:
Divulgação

Rode NT55: exemplo de


“microfone de sistema”

Estas diferentes combinações podem ser obtidas


por chaveamento no próprio microfone ou através
de controle remoto, junto à fonte de alimentação,
como é comum nos valvulados.
Frente e traseira do
AKG C414: cada Existem também os chamados “microfones de sis-
lado do microfone tema”, geralmente de diafragma pequeno, como o
apresenta uma Rode NT55. Sobre os corpos básicos destes microfo-
resposta cardioide nes podem ser rosqueadas diferentes cápsulas.

Fábio Henriques é engenheiro eletrônico e de gravação e autor dos Guias de Mixagem 1 e 2, lançados pela editora Música & Tecnologia.
É responsável pelos produtos da gravadora Canção Nova, onde atua como engenheiro de gravação e mixagem e produtor musical.

70 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 71
TESTE | Fábio Henriques

AUDIO-TECHNICA
AT4080
PRODUTO DEIXA PARA
TRÁS AS TRADICIONAIS
LIMITAÇÕES DOS
MICROFONES DE FITA

Divulgação
C
oincidindo com esta época em que estivemos fa-
lando a fundo dos microfones de fita, tive a feli-
cidade de receber para análise um microfone que
justamente usa esta tecnologia, só que com diversos apri-
moramentos – o Audio-Technica AT4080.

A Audio-Technica, empresa de origem japonesa fundada em


1962, já conquistou merecida notoriedade no mercado pe-
los seus microfones de alta qualidade, dentre eles o lendário cessária, como já pudemos observar em nossos artigos da
AT4050, que já me deu muitas alegrias. Com uma gama de série Técnicas de Microfonação.
produtos bem consistente, eles vêm demonstrar com este
novo produto (e com seu companheiro de série, o 4081) que Porém, algumas características decorrentes do método de
continuam sempre prontos para apresentar gratas novidades. construção dos microfones de fita sempre foram motivo de
cuidado maior do que o normal. Nos modelos mais antigos, a
MICROFONES DE FITA: VANTAGENS E CUIDADOS fita que compõe o diafragma era notoriamente frágil, exigindo
cuidado com níveis altos de SPL. O baixo nível de saída tam-
Os microfones de fita normalmente possuem característi- bém era um fator complicador com certos pré-amplificadores,
cas sonoras únicas, o que os tornam bastante atraentes, e, além disso, tinha de se tomar cuidado para não conectá-los
principalmente quando se busca uma sonoridade especí- em linhas que estivessem com o phantom power ligado.
fica. Suas baixas frequências pronunciadas e encorpadas
e a tradicional maciez nos agudos se aplicam muito bem Com este novo projeto, a Audio-Technica conseguiu superar
em diversas situações. Ao mesmo tempo, sua significativa todas estas limitações, permitindo que desfrutemos de to-
capacidade de rejeição de sons laterais faz com que sejam das as características benéficas da fita e, ao mesmo tempo,
essenciais em situações em que uma forte atenuação é ne- tratemos do microfone como um robusto condensador.

72 | áudio música e tecnologia


AS NOVIDADES
FICHA TÉCNICA
Com o AT 4080 (e o 4081), a fabricante apresenta um pro-
jeto inovador (segundo a Audio-Technica, envolve 18 novas Elemento: fita
patentes), que apresenta as vantagens da fita e compen- Diagrama polar: figura 8
sa bastante suas limitações. A ideia é a de que se use o Resposta em frequência: 20 a 18.000 Hz
4080 sem preocupações, deixando que a escolha por ele Sensitividade em circuito aberto: -39 dB (11.2mV) re 1V
em determinada aplicação se deva a suas características de em 1 Pa
resposta e a seu comportamento sonoro. E pelo que pude Impedância: 100 ohms
observar na prática, esse resultado é alcançado. Nível sonoro máximo de entrada: 150 dB SPL, 1kHz com
1% THD

RESPOSTA EM FREQUÊNCIA Ruído: 22 dB SPL


Faixa dinâmica típica: 128 dB, 1kHz no máximo SPL
Relação sinal/ruído: 72 dB, 1kHz a 1Pa
Resposta em dB Phantom Power: 48V, 3,0mA típicos
Peso: 474 g
Dimensões: 177,5 (comprimento) x 53,4 mm (máximo
diâmetro)

Legenda 12” ou mais no eixo

Resposta de frequência do AT4080 em Hertz

áudio música e tecnologia | 73


TESTE

A curva de resposta em frequências mostra-se típica de um


microfone de fita, com seu reforço nos graves e com uma ate-
nuação progressiva nos agudos. É nítida, porém, a suavidade
do comportamento desta queda, que ocorre de maneira bem
gradual, sem a inclinação acentuada vista em outros microfo-
nes de fita, e, ao mesmo tempo, sem a “corcova” ressonante
dos outros tipos de microfone, como os condensadores.

Divulgação
O diagrama polar oferecido pelo fabricante é bem simplifi-
cado, sugerindo um desempenho comportado, com pouca
coloração, conforme pode ser visto a seguir. Visão do interior do AT4080: solidez chama a atenção

pouco ao diafragma de um condensador. As fitas são muito


mais finas do que quaisquer outras já usadas em outros
microfones, isso graças a uma nova tecnologia de estam-
pagem das fitas, chamada Micro Linear, que fornece maior
rigidez, limitando as flexões laterais e distorções.

Mas vamos, então, ver como se saiu o 4080 quando testado.

USANDO

Antes de mais nada, precisamos ficar alertas para o fato de


que este é um microfone de fita que precisa de phantom
Diagrama polar do microfone power, ao contrário dos outros. É necessário deixar todo
(escala é de 5 dB por divisão) mundo avisado disso para que não haja problemas no uso
diário, caso existam outros microfones de fita na casa.
CONSTRUÇÃO
Em termos de sonoridade, o 4080 tem um desempenho inte-
A primeira característica que chama a atenção é a solidez da ressantíssimo. O comportamento na região das frequências
construção e da montagem. Ao desmontarmos o produto, mais altas tem mais definição e é mais cristalino do que um
podemos ver que o elemento sensor encontra-se montado microfone de fita comum. Possui uma sonoridade geral mui-
de um modo novo e protegido por uma forte blindagem, que to equilibrada e extremamente natural. Confesso que quan-
também funciona como ressonador, para suavizar a resposta do fazia o teste comparativo com condensadores só consegui
em frequência. Todo o conjunto fornece uma nítida robustez identificar em teste cego o 4080 porque a captação do lobo
que nos deixa despreocupados na hora de colocá-lo em uso. posterior forneceu uma maior presença da ambiência.
O shockmount também se mostrou simples e prático, embo-
ra eu não esteja muito certo da durabilidade das borrachas Neste teste comparativo este microfone apresentou, como
da suspensão. Comparativamente, isso não chega a ser uma era de se esperar, uma suavidade no extremo agudo, o que
grande desvantagem, já que, por exemplo, o Neumann U87 é muito conveniente para situações em que a fonte é ás-
possui elásticos famosos por desfiarem. pera, como alguns tipos de vozes. Embora eu não tenha
testado, seria a minha primeira opção para um trompete
Um dos segredos do desempenho deste microfone está cer- com surdina Harmon, por exemplo.
tamente nas fitas, que são duas. Elas são bem finas, bem
pequenas e muito tensionadas, o que provavelmente aju- O diagrama polar é extremamente equilibrado e os pontos
da a lhes conferir um desempenho que se assemelha um de rejeição funcionam muito bem. Foi este o microfone que

74 | áudio música e tecnologia


TESTE

Fábio Henriques

Teste com voz nos estúdios da Canção Nova: microfone apresentou suavidade no extremo agudo

usei para ilustrar a matéria de microfonação de violão e voz


simultâneos, e o resultado foi muito bom.
CONCLUSÃO
Agora, a aplicação que mais me agradou foi no amplifica-
O AT4080 é uma excelente opção para o
dor de guitarra, principalmente nos timbres distorcidos.
uso tanto em estúdios profissionais quan-
Aguentou bem os SPL e ainda forneceu uma ótima ado-
to em home studios e também ao vivo.
çada nas médias-altas.
Pode ser usado sem as preocupações tí-
picas dos microfones de fita, e, além dis-
so, ainda fornece uma resposta bastante
equilibrada. Os usos em que mais se des-
tacou foram no amp de guitarra e em vo-
zes, principalmente nas situações em que
existem vazamentos a evitar.

Talvez o único senão seja para com aque-


les que já têm mais experiência no uso de
microfones de fita e que podem estranhar
um pouco, já que este microfone soa um
pouco mais “moderno” do que um RCA,
Fábio Henriques

por exemplo, só que no bom sentido. Na


minha opinião, o 4080 fornece tudo o que
esperamos de um microfone de fita mo-
derno: uma sonoridade realmente tradi-
cional, mas sem soar antiquada e sem os
Captando o som de guitarras: AT4080 senões de modelos mais antigos.
aguentou bem a pressão

76 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 77
CAPA | Rodrigo Sabatinelli

YAHOO/BR PLUS
MÚSICOS E PRODUTORES ABREM AS PORTAS DO ESTÚDIO E
PRODUTORA E CONTAM A FÓRMULA DO SEU SUCESSO

78 | áudio música e tecnologia


N
os anos 1990, quando desfrutavam do auge
do sucesso, que começou a ser conquistado
tempos antes com os hits Mordida de Amor,
Anjo e Caminhos de Sol, Zé Henrique, Marcelão e
Sérgio Knust – na época, contando com Val Mar-
tins e Marcelinho Azevedo (hoje produtor de sucesso
nos EUA) –, integrantes do grupo Yahoo, resolveram
montar um home studio. Para isso, contaram com o
apoio de ninguém menos que Michael Sullivan, um
dos maiores compositores do Brasil.

“O Sullivan tinha uma máquina Otari MTR90, de 24


canais, e nos propôs essa sociedade. Trabalhamos
juntos por um tempo, até que ele se mudou para o
exterior, para trabalhar com música no mercado lati-
no, e tivemos de nos mudar”, lembra Marcelão. “Com
sua saída, fomos para um pequeno apartamento, mas
nem mesmo o pouco espaço nos impedia de gravar
discos inteiros. Nos divertíamos muito. Era voz [gra-
vada] no banheiro, bateria na sala...”, emenda Zé.

“Hoje em dia, todo mundo tem estúdio em casa, mas,


naquela época, era um sonho. Lembro que compra-
mos o que havia de mais moderno no mercado – os
ADATs, impulsionados pelo fato de artistas como Phil
Collins e Alanis Morissette terem gravado seus discos
com eles. Depois compramos um módulo de 24 ca-
nais, um Meter Bridge, da Mackie”, completa Knust.

O tempo passou e a necessidade de um lugar maior,


para realizar suas produções com maior conforto,
bateu à porta dos músicos, que não pensaram duas
vezes e logo saíram “à caça”. Por sorte, um ambien-
te da casa que abrigava o estúdio Gorila Mix – na
época, propriedade dos engenheiros de áudio Walter
Costa e Denilson Campos e do músico e produtor
musical Miguel Flores – não estava sendo usado.
Desse modo, pôde ser alugado por eles.

“Ficamos com o andar de cima, que era enorme, e


Rodrigo Sabatinelli

começamos a trabalhar lá. As primeiras paredes foram

áudio música e tecnologia | 79


CAPA

pintadas pelo Marcelão com uma tinta ‘azul calcinha’ Paralelamente ao trabalho que exerciam junto à
horrorosa, mas a sala soava bem. Tinha uma geome- “Rainha dos Baixinhos”, os músicos se voltavam
tria boa e um som grandioso, apesar de, por vezes, o para o mercado independente na intenção de revelar
vazamento do cachorro do vizinho ‘invadir’ as grava- novos nomes. Dessa busca surgiram artistas como
ções”, conta Zé. “Quando isso acontecia, a gente dizia o grupo LS Jack, entre muitos outros que, junta-
pro cliente: vocês estão com sorte! Cada vez que esse mente com Xuxa, totalizam mais de oito milhões de
cachorro late, o disco que está sendo gravado vende CDs vendidos. “Nós fazíamos de tudo um pouco. De
milhões de cópias. Deixa o cachorro aí!”, diverte-se ele. composição a arranjos, pontos importantes na cons-
trução de uma carreira artística”, diz Zé Henrique.
ESTÚDIO SE TRANSFORMA EM PRODUTORA
Além disso, os estúdios que pertenciam às grandes
Sem dúvida alguma, a maior “herança” que Michael gravadoras estavam fechando suas portas e a sala de
Sullivan deixou para Zé Henrique, Marcelão e Knust gravação do Yahoo passava a ser uma excelente opção
foi a produção dos trabalhos da apresentadora Xuxa. para as companhias. Uma delas era a MK Publicitá,
Envolvido com diversos outros trabalhos, ele deixou que chegava forte no mercado religioso, lançando ar-
a responsabilidade nas mãos do trio, que deu conta tistas como Aline Barros, Fernanda Brum e Kleber Lu-
do recado e fez uma boa “poupança”, mais tarde cas, entre outros. “Eles levaram nosso nome para um
revertida em mais e mais equipamentos. público que não era nosso. Por isso, foram e são de ex-
trema importância na nossa história”, resume Knust.
“Assumimos a gestão musical da Xuxa e, com isso,
nos capitalizamos. Duas vezes ao ano, viajávamos TIME GANHA REFORÇO, MUDA DE NOME...
para o exterior, de onde voltávamos com o que ha-
via de mais moderno em termos de tecnologia apli- No início de 2007, quando se dividiam entre produzir
cada em produção musical. Porém, mais importan- outros artistas e selecionar o repertório daquele que
te do que isso foi a oportunidade de conquistar os seria o primeiro DVD do Yahoo, Zé Henrique, Marce-
Grammys Latinos com alguns de seus discos”, gaba- lão e Sérgio Knust ganharam um novo sócio: Paulo
se, no bom sentido, Marcelão. Henrique Castanheira, diretor musical da Rede Glo-
Rodrigo Sabatinelli

Rodrigo Sabatinelli

Além do mix de equipamentos de gravação, o Yahoo/BR Plus dispõe de um


vasto arsenal de instrumentos. Músicos da banda são colecionadores.
áudio música e tecnologia | 81
CAPA

bo e dono da produtora de conteúdo audiovisual BR nheiros de banda. Apaixonados pelos robustos conso-
Plus. Convidado para produzir o trabalho do grupo, les SSL, eles adquiriram “na raça”, como diz Sérgio,
PH, como é conhecido no meio, acabou aportando um modelo AWS 900+ SE. A compra, entretanto, “se
no estúdio com seu know-how e uma série de perifé- deu por puro amor à música”, segundo Marcelão.
ricos, incluindo pré-amplificadores e compressores.
“Se considerássemos apenas a relação custo-bene-
“Primeiramente, o queríamos como produtor, por fício, não valeria a pena comprá-la, mas deixamos
conta de seu expertise como tecladista e orques- isso de lado e nos voltamos para a real necessidade
trador, pois, entre outras coisas, naquele momento de termos um equipamento como esse à disposição,
estávamos sem tecladista, fundamentando nossos já que nosso objetivo é gerir trabalhos diferencia-
arranjos em baixo, guitarra e bateria. Mas, durante dos, com qualidade. Vamos levar uns anos para qui-
a produção e por conta dela, nossa identificação tar essa compra, mas, até lá, produziremos muito,
com sua filosofia de trabalho cresceu ainda mais e a tenho certeza”, aposta ele.
parceria acabou sendo consequência natural disso
tudo”, conta Marcelão, lembrando que hoje a em- Além da SSL, a sala principal do estúdio conta com
presa se chama Yahoo/BR Plus. um sistema Pro Tools HD3 e monitores Genelec 8040A
– acompanhados de subgraves da mesma marca – e
“Na verdade, nossa parceria se firmou mesmo quando Yamaha NS10, sem contar o rack de periféricos com
ele [Marcelão] me convidou para coproduzir o CD de unidades de pré-amplificadores, compressores e dis-
estreia do Ricky Vallen. No meio do trabalho, juntamos tressors que atendem aos mais exigentes técnicos.
o setup da BR Plus com o que eles tinham no estúdio e
montamos uma estrutura gigantesca. Além dos equi- Na sala de baixo, outro Pro Tools HD3 é comandado
pamentos, trouxe do antigo estúdio uma série de ma- por uma Control 24. No ambiente, o sistema 5.1 é
deiras bacanas, que foram usadas na decoração dessa composto de caixas Genelec 8030. Já o 2.0 é feito com
nova sala e em seu lobby, um ambiente aconchegante, elementos Mackie. Ainda no ambiente, estão dispo-
ideal pra receber artistas e suas equipes”, diz PH. níveis racks com equipamentos de diversas marcas,
como Avalon, Amek, SSL e Focusrite, entre outras.
Com o negócio fechado, os sócios passaram a ter
duas técnicas e duas salas de gravação, que, desde

Rodrigo Sabatinelli
então, podem ser usadas de diversas maneiras, já
que qualquer uma das duas técnicas opera a sala de
cima e de baixo, separadas ou juntas.

“Tamanha mobilidade”, explica Zé, “acaba por fazer


alguma diferença, pois nos permite trabalhar com
todo o aparato tecnológico sem ter que deslocar as
coisas de um andar para o outro, por exemplo”. “No
entanto, para que isso fosse possível, tivemos que
investir mais de 10 mil dólares em cabos top de li-
nha da Mogami. Sem contar, claro, com os custos
de instalação dos sistemas, trabalho realizado pela
equipe da Ground Control”, completa PH.

...E ADQUIRE SSL PARA NOVA SALA

A sociedade também foi responsável pela realização


de um sonho antigo de Marcelão e de seus compa-

Mesa SSL adquirida em um esforço


conjunto dos sócios: equipamento
82 | áudio música e tecnologia é um diferencial do estúdio
Rodrigo Sabatinelli
Rodrigo Sabatinelli
Nas fotos, os racks de periféricos do estúdio:
com sociedade, produtora passou a ter um
vasto arsenal de equipamentos

“Quase todos os projetos que têm bateria acústica


são gravados na técnica de cima, onde fica a SSL,
utilizando a sala de gravação de baixo, que é maior
e nos permite microfonar o instrumento com mais
conforto, valorizando os overs. Dependendo da so-
noridade desejada, podemos, inclusive, microfonar
o corredor, que dá um som legal, orgânico. Na ver-
dade, como a mobilidade é grande, enquanto gra-
Rodrigo Sabatinelli

vamos em um estúdio, podemos usar o outro para


edições, ou usar os dois simultaneamente para uma
gravação ao vivo mais complexa”, explica PH.

áudio música e tecnologia | 83


CAPA

Miguel Plopschi. Não é pouca coisa não!”, derrete-se

Rodrigo Sabatinelli
ele, ao falar do sócio.

NO PROJETO DE ACÚSTICA E NO
COMANDO DA SSL, UM VELHO CONHECIDO

As salas do Yahoo/BR Plus foram projetadas pelo


engenheiro Walter Costa, um dos ex-sócios do Go-
rila Mix. Enquanto a sala de gravação que fica no
primeiro andar da casa tem 7 m x 5 m, a técnica
correspondente a ela tem 3 m x 4 m. No pavimento
Em um dos estúdios da produtora, uma Control 24 superior, a sala de gravação tem 15m². A técnica
gerencia um sistema Pro Tools HD3. Ainda na sala, deste estúdio, que mede 36m² e abriga o console
monitores Genelec e pré-amplificadores Avalon. SSL, é a grande vedete do local. Bastante confor-
tável, tem espaço de sobra para acomodar bandas,

Apesar de terem “munição pesada”, quando o as- produtores, engenheiros e equipamentos. Nela, se-

sunto é tecnologia, os integrantes do Yahoo e PH gundo o próprio Walter, são realizados registros si-

mostram que o grande diferencial da produtora é o multâneos de diversos instrumentos.

domínio absoluto de todas as etapas da produção fo-


nográfica, algo que começa no direcionamento artís- “Quando fazemos gravações ao vivo, com as bandas

tico, passa pela composição e seleção de repertório, tocando tudo ao mesmo tempo, gravamos teclados,

segue pela criação e gravação de arranjos e vai até baixos, tudo aqui dentro. No Rio de Janeiro, poucas

a finalização do CD ou DVD. técnicas contam com dimensões tão grandiosas. É


possível que só o Mega tenha uma sala semelhante.
Talvez até maior, mas com uma disposição de equi-
pamentos não tão boa. Em São Paulo, o Mosh seria
Rodrigo Sabatinelli

um exemplo de similaridade”, compara ele.

Técnico renomado, Walter passou um tempo tra-


balhando em Salvador, gravando e mixando pro-
jetos realizados na capital baiana com artistas
locais. Há um ano, no entanto, voltou ao Rio. Con-
vidado pelos sócios do Yahoo/BR Plus, hoje ele é
uma espécie de “coringa” da casa.

“Quando compramos a SSL, demos um passo enor-


Sala de gravação do primeiro andar: me no que dizia respeito à tecnologia. Por outro
ambiente maior permite captação rica lado, sabíamos que seria preciso investir em mão
de obra especializada para ‘pilotar’ o equipamento.
“Nós temos uma história que não deixa dúvidas. E o nome do Walter, por uma infinidade de motivos,
Produzimos muita gente importante, revelamos ou- foi o primeiro a surgir em nossas reuniões”, diz PH.
tras tantas e fomos premiados, em todos os senti-
dos, pelo nosso trabalho”, diz Marcelão, referindo-se “Sentimos, naquele momento, a necessidade de ter-
ao Yahoo. “E o PH, que há anos trabalha na indústria mos um engenheiro com uma linguagem analógica.
do disco, coleciona experiências com artistas como Walter, que tinha afinidade com a gente, acabou sen-
Sandra de Sá, José Augusto, The Fevers e Leo Jaime do o cara ideal para assumir essa responsabilidade.
e com diretores artísticos como Mariozinho Rocha e Ele trouxe experiência e, acima de tudo, valor ao nos-

84 | áudio música e tecnologia


Rodrigo Sabatinelli
Felipe Dylon, Tânia Mara e Pedro & Thiago, além do
LS Jack, entre muitos outros. Isso mostra nosso know
how para gerir novos produtos”, emenda Zé Henrique.

“Além dos artistas que eles citaram, produzimos di-


versos trabalhos para programas como Criança Es-
Walter Costa, que projetou as salas de gravação do perança 2010 e Estação Globo 2009 e para novelas e
Yahoo/BR Plus, é responsável pelas gravações e minisséries como Negócios da China e Maysa. Hoje,
mixagens de boa parte dos projetos realizados na casa fora tudo isso, gerenciamos a carreira de artistas
como Rude e Kandies, entre outros”, completa PH.

so investimento, afinal de contas, não adianta ter uma Pelo bate-bola entre os sócios, é possível notar que
Ferrari se não se sabe pilotá-la”, completa Marcelão. a “máquina” Yahoo/BR Plus não para. Não bastasse
a produção dos CDs, eles também têm produzido
Walter, por sua vez, comemora o convite e, de certa clipes desses artistas e DVDs de outros. Para isso,
forma, sua volta à casa. “Trabalhar com pessoas sé- contam com uma estrutura que inclui câmeras e
rias dá retorno financeiro, pelo volume de trabalho, ilhas de edição de ponta.
mas dá, acima de tudo, satisfação. Os caras com-
praram uma SSL num momento em que grandes es- “Fazemos a produção dos clipes e dos DVDs, bem
túdios fechavam suas portas. Estou há 20 e tantos como suas edições e autorações. Temos um sócio nes-
anos no mercado, e me deparar com uma atitude se departamento, o Beto Braga, que é quem cuida de
como essa só me faz acreditar que ainda é possível toda a parte de finalização dos produtos. No novo for-
viver de música nesse país”. mato de mercado, se mantém quem tem competência
individual e não se fecha para parcerias”, encerra PH.
O técnico vai além e diz ainda que os amigos o dei-
xam livre para opinar sobre as concepções musicais

Rodrigo Sabatinelli
de seus trabalhos, exatamente como fazem produtores
do exterior. “Lá fora, o engenheiro participa ativamen-
te do processo. É mais do que um cara que aperta o
Rec. Embora no Brasil nem sempre se trabalhe dessa
maneira, no Yahoo/BR Plus isso é uma realidade. São
caras musicais e criativos, que respeitam muito os pro-
fissionais que convidam para seus projetos”, encerra.

RENOVAÇÃO DE MERCADO É
PAUTA CONSTANTE ENTRE SÓCIOS

“Somos ‘dinossauros’, como dizem por aí, mas não


paramos no tempo. Estamos atentos ao mercado,
pois nosso maior objetivo é renová-lo. Gostamos de
trabalhar com artistas consagrados, mas queremos
sempre lançar novos nomes. E isso sabemos fazer
muito bem”, conta Marcelão.

“Quando paramos de trabalhar direto com a Xuxa e


voltamos para o mercado, trabalhamos com diversos
artistas que acabaram estourando. Nomes como Liah,
Em microfones como o Neumann U87 e o AKG
C 414 Tânia Mara e Felipe Dylon, entre outros,
gravaram suas vozes no Yahoo/BR Plus
CAPA

LISTA DE EQUIPAMENTOS

PLATAFORMAS DE GRAVAÇÃO wer Signature Overdrive Fender Jazz Bass


Pro Tools HD Accell 6.9 com mesa Digi- Boss CE-5 e CE-1
design Control 24 + 16 prés Focusrite Line 6 DL4, FM4, DM4 e MM4 - Guitarras:
Pro Tools HD Accell 9.0 com mesa SSL Chandler Flanger (vintage) Gibson Les Paul Gold Top 68
AWS900+ SE Soldano SLO preamp Gibson Les Paul Custom 64
TC Nova Modulation Gibson Les Paul Recording 76
COMPUTADOR TC Nova Delay Fender Stratocaster Lonestar
Apple Macintosh G5 Dual Processor 2.4 Marshall Guvnor Stratocaster John Sur
GHZ Digitech Whammy II Stratocaster Tom Anderson
Line 6 Pod Gibson 335 Custom Shop
MONITORES Marshall JMP-1 Paul Reed Smith EG
Genelec 1031 com subgrave Lexicon MPX G2 Ibanez JEM77
JBL LSR 32 Boss GX-700 Sitar Jerry Jones
Yamaha NS 10 Rocktron Chameleon Fender Telecaster 52 Reissue
BBE 411
Fender Stratocaster SRV
PRÉ-AMPLIFICADORES Mesa Boogie Triaxis
Focusrite ISA 430 Dunlop Cry Baby
- Violões:
Universal Audio 2-610 (estéreo) Rocktron Intellifex
Taylor 814ce
Amek 9098 (Neve) Korg SDD 2000
Yamaha APX 10 Nylon 6
Avalon VT 737 Lexicon PCM 80
Takamine TC135SC Nylon Valve pre-
SIB Varidrive
amp
COMPRESSORES Alembic F-1X
John Price Nylon Concertista
Universal Audio LA2A
Sergio Abreu 1980 Concertista
Universal Audio 1176 AMPLIFICADORES DE GUITARRA
Gibson J-200
dbx 160A Laney LC30II e VH100
Taylor 312 12 cordas
Drawmer MX30 Crate Vintage Club 50
Empirical Labs FATSO TC Chorus/Flanger
Banjo Fender
MXR Dynacomp
Bandolin Godin
MICROFONES Caixa Crate 4x10
Neumann U87 Caixa Marshall Vintage 1960A 4x12
BATERIAS
AKG 414 Hughes & Kettner Statesman Quad
AKG 451 EL84 DW Collectors Series

AKG D 112 Avalon U-5 (DI) Yamaha Recording 9000

Shure SM57 SansAmp/Bass Drive (bumbo 22”, tons 10” e 12” e surdo

Shure SM58 Caixa Laney 4x12 16”)


Blue Dragonfly Potência Mesa Boogie 50/50 Stereo Caixas DW, Ludwig, Tama, Pearl e Ayote
Sennheiser 421 Tube Power Pratos Paiste 2002, Zildjian e Sabian
Marshall Jack Hammer Paragon
PRÉ-AMPS E PEDAIS DE DigiTech Wammy II
GUITARRA E DE CONTRABAIXO FONES
Full Tone OCD Overdrive INSTRUMENTOS DE CORDAS Sony MDR 7506 e U700
Ibanez TS9 Overdrive - Baixos: AKG K301 e AKG K240
Mesa Boogie V-Twin Fender Precision Pro Co Junction Box Headphone Model
Fulltone Custom Shop RTO Robin Tro- Zon-Sonus HJ4P

86 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 87
SHOW | Fernando Barros

Jorge Ronald
RIO DAS OSTRAS
JAZZ & BLUES 2011
O DESAFIO TÉCNICO DE LEVAR A SONORIDADE INTIMISTA
DOS CLUBES PARA UM GRANDE FESTIVAL

E
m sua 9ª edição, o Rio das Ostras Jazz & Blues Festival, tagem do palco principal”, adiantou o prefeito da cidade,
realizado entre 22 e 26 de junho, quebrou mais um re- Carlos Augusto Carvalho Balthazar.
corde de público, atraindo um total de cerca de 120 mil
pessoas. Juntos, seus quatro palcos – Praça São Pedro, Lagoa Segundo Stenio Mattos, produtor executivo do festival, a se-
de Iriry, Praia da Tartaruga e Costazul – receberam 29 shows, leção das atrações é sempre criteriosa. “Queremos levar mú-
que produziram mais de 60 horas de música. A versão 2011 sica de qualidade, e sem custo, para todos. Avisamos para os
da festa musical ficou marcada como a primeira nos últimos artistas que eles irão tocar ao ar livre, na praia, no sol e para
anos em que a chuva não marcou presença, o que, além de 25 mil pessoas por dia, e não em um clube para 300 pessoas.
favorecer as condições técnicas e de sonorização do evento, Todos ficam entusiasmados e compram a ideia”, resumiu ele.
colaborou para que o público saísse de casa para prestigiar o Stenio é o homem à frente da Azul Produções, produtora do
trabalho de músicos e técnicos. festival, que na edição desse ano foi sonorizado pela empresa
local Audiotec. Já a parte de backline ficou a cargo da Só Palco,
O sucesso da edição, que reuniu grandes nomes da música de São Paulo, com apoio da fluminense Gutemberg Pianos.
nacional e internacional, incluindo Ricardo Silveira, Azymu-
th, Nuno Mindelis, Jane Monheit, Saskia Laroo, Medeski, PRÉ-PRODUÇÃO METICULOSA
Martin & Wood, Bryan Lee, Yellowjackets e Tommy Castro
Band, só ajudou a instigar a expectativa para a comemora- Talvez a etapa mais crucial na produção de um evento
ção do décimo ano do evento. “Queremos utilizar, em 2012, deste porte seja justamente a pré-produção, que começa
um espaço ainda maior do que o da Costazul para a mon- praticamente logo após o encerramento do evento ante-

88 | áudio música e tecnologia


Fernando Barros
rior, por volta do mês de agosto. Quando, o produtor
Stenio Mattos começa a fechar as contratações, a
produção técnica dos músicos entra em contato com
Jerubal Liasch, diretor técnico do festival, primeira-
mente enviando o rider original.

“Depois ocorre uma negociação para viabilizar o fes-


tival, providenciando, literalmente, cada rider. Existe
toda uma questão de uso exclusivo de instrumentos
e patrocínios que é muito delicada. Muitas vezes não Mesa Digidesign Venue Profile (agora fabricada
posso me responsabilizar por encontrar um determina- pela Avid) substituiu a tradicional M7CL da
do teclado, mas, para contornar, apresento alternativas Yamaha no palco principal do festival
de mesma qualidade”, explica Jerubal, que atuou como
técnico de PA e de monitor no festival.

setores governamentais de que o jazz e blues iriam vingar.


Ele afirma que não existem pedidos especiais, pois o rider Até isso acontecer, tivemos que trabalhar com aquela verbi-
técnico tem apenas o material que o artista utiliza para
nha. Comecei usando mesas analógicas em todos os palcos.”
realizar o seu trabalho da melhor forma. “Neste ano, o que
aconteceu de mais diferente foi o Medeski, Martin & Wood,
Mesmo superadas as dificuldades iniciais, a cada nova edição
que é teclado do começo ao fim”, conta o diretor. Segundo
surgem situações que exigem criatividade. Na maioria dos
ele, foram utilizados no festival equipamentos vintage mui-
casos, as equipes dos artistas confiam a operação de PA ou
to difíceis de serem encontrados, como Moog, clavinete e
monitor para Liasch, mas há quem prefira trazer seus pró-
os pianos elétricos Wurlitzer e Fender Rhodes, alguns nem
prios técnicos. O diretor técnico conta que é preciso enten-
mais em produção nos dias atuais. “Felizmente, existe uma
der que estes profissionais estão acostumados a um conceito
empresa que trabalha com a gente desde o começo, a Só
de show diferente do encontrado em Rio das Ostras.
Palco. Eles têm um setor dedicado exclusivamente a coisas
raras”, destaca Jerubal Liasch.
“No standard jazz, por exemplo, normalmente
nem monitores eles usam. Os músicos querem ou-
vir a respiração do outro. Quando isso é transposto
Fernando Barros

de um clube para outro local onde há necessidade


de uma pressão sonora proporcional, pode vir a
atrapalhar a execução das músicas, pois eles não
estão acostumados a ouvir a volta do PA”, explica.

O equilíbrio entre as demandas dos técnicos e


músicos e a necessidade de colocar alto e bom
som para o público requer ajustes delicados e
alguns artifícios. “Com uma equipe boa de tra-
balho e comunicação estreita com o técnico de
monitor que está no palco, é possível atenuar
algumas frequências indesejáveis sem necessa-
riamente diminuir o SPL”, enfatiza.

O diretor técnico Jerubal Liasch durante passagem


de som: ajustes delicados para equilibrar pressão Existem mais dois detalhes importantes aponta-

sonora e demandas dos técnicos e músicos dos por Jerubal, sendo que um deles depende to-
talmente do planejamento da equipe técnica. “A
Passada a pré-produção técnica, chega a hora de encarar o mudança de palco tem que ser pensada operacio-
desafio de tirar a coisa toda do papel. O diretor técnico re- nalmente com muito cuidado. São muitos pianos, teclados,
lembra que, no início, as condições técnicas eram realmente baterias, contrabaixos entrando e saindo em posições de
pouco amigáveis. “Havia uma necessidade de convencer os palco diferentes a cada show. É preciso fazer uma troca
rápida, segura e eficiente em festivais.”
áudio música e tecnologia | 89
SHOW

Fernando Barros
Já o outro fator independe completamente da compe-
tência técnica da equipe. “São as intempéries da natu-
reza. Como controlar o vento que é capaz de levar todo
o som do PA para dentro do palco? O técnico não tem
responsabilidade sobre isso. Temos que nos desdobrar.
Depois de todas estas questões resolvidas, mixar o PA
é a parte mais tranquila. Temos tudo sob controle e
previamente ajustado”, afirma.

SONORIZAÇÃO ABRANGENTE
E VERSÁTIL Subwoofers 218A, também da FZ Áudio: sistema da fabricante
já é tradição no Rio das Ostras Jazz & Blues Festival
Uma das novidades do palco principal localizado na Cos-
tazul foi a utilização da Venue Profile, da Digidesign (após
aquisição da marca, a Avid é quem agora fabrica o equi-
missão digital que aposentaria o multicabos. Jerubal ex-
pamento), com todos os seus plug-ins de Pro Tools, em vez
plica que seriam necessárias duas mesas M7ES da nova
da tradicional M7CL, da Yamaha, aplicada apenas na monito-
geração da Yamaha, que ele já usa no Club A, em São Pau-
ração. Os novos monitores FZ M212A também puderam ser
lo, onde atua como responsável técnico. “Aqui, no festival,
testados e aprovados pela equipe técnica e artistas.
ainda estamos usando o multicabos comum e o stage box
da Digidesign. Quem sabe para o ano que vem já podemos
“Sempre utilizamos equipamentos FZ. Isto não foi uma esco-
descomplicar um pouco as coisas, usando, talvez, duas Ve-
lha que partiu de mim. Quando o Stenio propôs este projeto,
nue Profile ou duas M7ES?”.
a Prefeitura agregou uma empresa local, a Sinal Audiotec,
que firmou uma parceria com a FZ logo após os primeiros
anos de festival. Fui
CAPTAÇÃO CRIATIVA
consultado e reconheci
Os microfones disponibilizados pela locadora, de modo geral,
a qualidade e capacida-
Fernando Barros

atendem às demandas de todos os músicos. As complicações


de dos equipamentos”,
surgem em apenas alguns instrumentos acústicos. “Existem
aponta Liasch. “Algumas
casos em que o contrabaixo não tem captação e nem é per-
atrações são mais leves,
mitida a fixação de um microfone de contato. É difícil, mas
outras com uma onda
temos que conseguir uma captação com bom nível e evitar
mais pesada, mas todas
realimentação”, comenta o diretor técnico do evento.
soam bem neste siste-
ma. Os técnicos acabam
Para o piano dos veteranos Yellowjackets, Jerubal sugeriu
comentando que é con-
ao engenheiro Geoff Gillette microfones adequados para a
fortável ouvir e mixar
ocasião. “Eu disse: ‘Geoff, você é o mestre, mas tenho um
com ele”, acrescentou.
AKG C 411 e dois AKG C 2000. Que tal usarmos estes mais
um microfone de contato?’ Ele aceitou e assim fizemos.”
O alinhamento foi feito
pelo próprio processa-
dor da FZ, que chegou
Fernando Barros

ao festival praticamen-
te pronto. Foram neces-
sários apenas alguns
ajustes no software em
pontos referentes às
condições climáticas.

FZ 212A para os graves Neste ano ainda não foi


e FZ J08A para as altas: possível lançar mão de
PAs do palco Costazul um sistema de trans-

90 | áudio música e tecnologia Trompetista Saskia Laroo utiliza cinto de pedais


para processamento de efeitos pré-mixagem
A captação de guitarras geralmente é toda feita por microfones nos
amplificadores, mas o diretor aponta o guitarrista Ricardo Silvei-
ra como exceção à regra. “Existem alguns instrumentos, como a
guitarra, nos quais eu não ‘meto o bico’. É aquilo ali, e não tenho
que colocar periférico nenhum. No caso, Ricardo Silveira tem um
processador com efeitos que ele usa e já manda o resultado para
a mesa. A pedido dele, eu também mixei um canal em linha, mas
isto é raro no festival”, pontua.

A trompetista Saskia Laroo, que impressionou por sua riqueza de es-


tilos dentro do jazz e pela interação com o público nos shows que fez
nos palcos montados em Costazul e na lotadíssima Lagoa de Iriry, usou
e abusou de um verdadeiro “cinto de utilidades”. A peça, presa à sua
cintura durante as apresentações, reuniu diversos pedais de efeitos
mais comumente utilizados em instrumentos como a guitarra. Não é à
toa que, por sua inventividade, é comparada a Miles Davis. “Ela aciona
os pedais dos quais precisa. Eu apenas recebo e timbro”, afirma Liasch.

Fernando Barros

Yamaha M7CL: equipamento é considerado uma


boa opção para a monitoração em festivais

CAIXAS DE MONITORAÇÃO AINDA


SÃO PREFERÊNCIA

Devido às culturas do jazz e do blues, quase nenhum artista destes estilos


utiliza monitores in-ear. Alguns sequer estão acostumados à monitoração
de chão e side-fills. Na contramão desta tradição, a Tommy Castro Band
saltou na frente e adotou um sistema in-ear diferenciado: o mixer é colo-
cado no centro do palco e cada integrante da banda executa sua mixagem
individual, fazendo os ajustes sempre que preciso.

“Este é um conceito interessante, mas é claro que é necessário


possuir um conhecimento técnico. No jazz tradicional isso jamais
caberia”, explica o diretor técnico. Hélio Junior, da Sinal Audiotec,
que também fez operação de monitores, completou afirmando que

áudio música e tecnologia | 91


SHOW

o ideal seria que todas as bandas fizessem como a de cipal foi utilizada a já conhecida Yamaha M7CL, que, segundo
Tommy Castro. “Ficaria muito mais fácil e prático de se o diretor, é a mesa mais eficiente para se fazer monitor em
trabalhar”, disse ele. festival. “Digo isso porque ela é muito rápida. Com o touchs-
creen, em dois toques você acessa e altera qualquer cena
Para a monitoração de todas as outras bandas do palco prin- sem complicação”, encerra Jerubal. ●

GEOFF GILLETTE EM ENTREVISTA PARA A AM&T


VETERANO MARCOU PRESENÇA NO FESTIVAL COMO ENGENHEIRO DE FOH DO YELLOWJACKETS

O bem-humorado Geoffrey Robert Gillette, mais co-


Fernando Barros

nhecido como Geoff Gillette, já está habituado ao jeito


e à cultura dos brasileiros. Seu vasto currículo inclui
22 anos de serviços bem prestados a Sérgio Mendes,
além de trabalhos ao lado de Dori Caymmi, Ivan Lins e
Oscar Castro-Neves, entre outros. Em entrevista con-
cedida à AM&T logo após o show do Yellowjackets, na
noite de 24 de junho, ele fala sobre evento e revela
segredos para uma boa microfonação.

No que diz respeito a aspectos técnicos, como você


avalia este festival?

Geoff Gillette: experiência na


Geoff Gillette: Todos os equipamentos, como con-
mixagem do show dos Yellowjackets
sole de mixagem, itens de palco e sistema de PA
são tão bons quanto em qualquer outro festival do
mundo. Sobre consoles, especificamente, ajuda muito ter esses modelos digitais quando há muitas bandas no mesmo
palco, no mesmo dia. O sistema de PA soou muito bem. Só tivemos um pequeno problema, com o vento, que quando
sopra, leva o som para outra direção.

O Yellowjackets utilizou algo especial para este show?

GG: Sim: um raro microfone para saxofone Sennheiser 441 e um pequeno captador de piano fabricado pela Schertler. É uma
captação de contato. Quando você está em uma situação de show ao vivo, os microfones costumam sofrer com feedback. Já
com esse captador isto não acontece.

Som para 10 mil pessoas é um problema para o jazz?

GG: É, pois trata-se de um estilo cheio de detalhes e nuances que acabam se perdendo. Em um show grande como este, as
pessoas querem festejar, então o ambiente fica um pouco barulhento. Mas os brasileiros gostam de participar do show (risos),
então está tudo bem. Nós entendemos e também gostamos desta energia.

O piano do Yellowjackets foi bastante elogiado. Qual é o segredo para soar tão bem?

GG: Saber onde posicionar os microfones, achando o ponto certo. Para isso, coloco meu ouvido no piano e Russell Ferrante
toca o instrumento com a mão esquerda para que eu possa perceber de onde vêm melhores frequências graves. Em seguida,
posiciono o microfone lá. A mesma coisa com a mão direita. A partir daí temos múltiplos inputs de piano para mixar. Outra
coisa importante é checar a fase de cada um dos inputs. Normalmente uso três inputs, mas neste show usei quatro. Notei
uma grande diferença quando chequei e ajustei a fase durante a passagem de som.
LISTA DE EQUIPAMENTOS

Palco Costazul Potência PA: Monitores:


• 2 Lab Gruppen FP 4300 • 8 EAW SM400
PA: • 4 Lab Gruppen FP 6400
• 24 Altas FZ J08A
Microfones:
• 10 Graves FZ 212A Console PA:
• 1 kit Shure para bateria
• 20 Subwoofers FZ 218A • 1 LS9 Yamaha
• 10 Shure SM58
• 4 Altas front fill FZ J08A
• 4 Altas delay FZ J08A • 10 Shure SM57
Console Monitor:
• 1 LS9 Yamaha
Side Fill: Backline:
• 4 Altas FZ J08A Rack de potência: • 1 Gallien-Krueger 800
• 2 Graves FZ 212A • 2 FP 6000 Lab Gruppen • 2 Fender Stage 160
• 4 Subwoofers FZ 218A
• 1 bateria Yamaha Stage Custom
Monitores:
Console PA: • 8 EAW SM400
• 1 Avid-Digidesign Venue Profile
Palco Praça São Pedro
Microfones:
Console Monitor:
• 1 kit Shure para bateria
• 1 Yamaha M7CL PA:
• 10 Shure SM58
• 6 EAW KF750
• 10 Shure SM57
Monitores: • 6 EAW KF850
• 8 FZ M212A
Backline:
• 1 Gallien-Krueger 800 Potência PA:
Microfones:
• 2 Fender Stage 160 • 3 FP 10000 Lab Gruppen
• 2 kits Shure para bateria
• 1 bateria Yamaha Stage Custon
• 2 microfones sem fio Shure
• 2 AKG C 2000 Console PA:
• 4 AKG C 1000 • 1 Yamaha 01V96
Palco Lagoa de Iriry
• 4 AKG C 411
• 2 AKG C 3000 Rack de potência
PA:
• 15 Shure SM58
• 2 FP 6000 Lab Gruppen
• 8 Altas FZ 212
• 15 Shure SM57
• 8 Subwoofers FZ 218
Monitores:
Backline:
• 1 Hartke HS 5000 Potência PA: • 8 EAW SM400

• 1 Hartke LH1000 • 2 FP 4300 Lab Gruppen

• 2 Fender Twin Reverb • 4 FP 6400 Lab Gruppen Microfones:


• 3 Fender Twin Amp • 1 kit Shure para bateria
• 1 bateria Gretsch Catalina Maple Console PA:
• 10 Shure SM58
• 1 Yamaha M7CL
• 10 Shure SM57

Palco Tartaruga Console Monitor


Backline:
• 1 LS9 Yamaha
PA: • 1 Gallien-Krueger 400

• 12 Altas FZ 212 Rack de potência • 2 Marshall


• 8 Subwoofers FZ 218 • 2 FP 6000 Lab Gruppen • 1 bateria Yamaha Stage Custom

áudio música e tecnologia | 93


ABLETON LIVE | Lucas Ramos
Divulgação

CONTROLADORES
Parte 4
Um pouco mais sobre
os menos populares

N
a edição passada conhecemos alguns con- • Os encoders são “infinitos” (giram interminavel-
troladores incógnitos, como o Monome e o mente) e o valor do parâmetro é indicado atra-
Ohm64. Continuando nesse caminho, neste vés de um “anel” de LEDs em torno do mesmo.
mês vamos falar do Livid Instruments Code e ainda Isso elimina a necessidade de takeover, pois o
sobre alguns outros controladores menos populares valor do parâmetro será atualizado automatica-
que podem ser usados com o Live. Quem sabe um mente através dos LEDs. Além disso, os LEDs
deles não pode ser o seu controlador ideal? indicadores mudam de cor (azul para verde)
quando o encoder é girado no sentido horário.
LIVID INSTRUMENTS CODE

ESPECIFICAÇÕES:

• Tamanho: 15 cm x 28 cm x 5 cm
• Peso: 1 kg
• Construção: chassis de alumínio com acaba-
mento em madeira
• Alimentação: via USB
• Pads: N/A
• Botões: 13 botões de silicone com LEDs
• Knobs/Encoders: 32 encoders que também atu-
am como botões
• Conexão: USB e MIDI In/Out
Livid Instruments Code: o “perfeito”... ou qua-
se. Pena que só possui encoders e botões.
VANTAGENS:

• Plug and Play – não precisa de drivers. • Os encoders também atuam como botões, e,
pressionando-os, pode-se controlar mais algum
• Construção excelente (feito à mão), com aca- parâmetro do Live (disparar clips, por exemplo).
bamento de alta qualidade. Por um custo a Há também um LED branco no fundo que acende
mais, pode ter o esquema de cores da madei- e apaga quando o encoder é pressionado.
ra e do alumínio adaptado.
• Inclui scripts para mapeamento automático dos
• Alimentação via USB elimina a necessidade de seus controles para o Live (e outros softwares),
uma tomada. mas também pode ser configurado manualmente.

94 | áudio música e tecnologia


• Usando o Code Editor (software incluído), é OUTRAS OPÇÕES
possível determinar como cada encoder, botão
e LED irá atuar (valores, ação etc.). NOVATION ZERO SL MKII

DESVANTAGENS: • 8 faders (sensíveis ao toque, mas não moto-


rizados)
Sinceramente, não consigo achar nenhuma falha sig- • 1 crossfader
nificativa no Code. Somente o fato de eu não ter um! • 8 encoders “infinitos” (com anel de LEDs indi-
cando o valor)
• 8 knobs (não são “infinitos”)
• 8 pads
BLOCK STATION... E CODE STATION? • 32 botões com LEDs
• 1 entrada para footswitch
Há uma versão do Block (controlador cujos detalhes • 1 entrada para pedal de expressão
foram apresentados na última edição da Ableton • Alimentação via USB ou adaptador AC
Live) chamada Block Station, que tem um espaço à • MIDI In/Out
direita para posicionar um iPad ou um netbook, o que
facilita a interação dos dispositivos. Porém, não é um
dock para o iPad (não há alimentação). É só um espa-
ço mesmo, mas não deixa de ser útil e interessante.

Há um boato (inclusive com vídeo de um protótipo)


sobre o lançamento do Code Station, que, assim
como o Block Station, terá um espaço para posicio-
nar um iPad ou um netbook junto. É esperar para ver.

Novation Zero SL MKII

BEHRINGER BCF2000

• 8 faders motorizados
• 8 encoders “infinitos” (com anel de LEDs indi-
cando o valor)
• 20 botões com LEDs
• 1 entrada para footswitch
• 1 entrada para pedal de expressão
• Alimentação via USB ou adaptador AC
• MIDI In/Out

Block Station e Code Station: respectiva-


mente, uma realidade bem interessante e
um sonho que, com sorte, se tornará real
Behringer BCF2000
áudio música e tecnologia | 95
ABLETON LIVE | Lucas Ramos

BEHRINGER BCR2000

• 32 encoders “infinitos” (com anel de LEDs indi-


cando o valor)
• 20 botões com LEDs
• 2 entradas para footswitch
Avid (Euphonix)
• Alimentação via USB ou adaptador AC
Artist Mix
• MIDI In/Out

E ENTÃO, QUAL É O MELHOR?

A moral da história é que não há controlador perfeito. Mas


o que é perfeito? Tudo é relativo (não, não vamos come-
çar a filosofar...). Dependendo da forma que você usa o
Live (e são muitas as possibilidades), você vai precisar de
um controlador diferente. Na verdade, a opção mais com-
pleta hoje em dia é usar mais de um controlador, cada
Behringer BCR2000 um exercendo uma função específica, até porque a grande
maioria dos controladores se sobressai em uma única fun-
ção. E muitos exercem somente uma função, porém, com
CME BITSTREAM 3X maestria (como o Livid Instruments Code).

• 35 knobs (não são “infinitos”) Um exemplo de um setup com múltiplos controladores po-
• 8 faders (não motorizados) deria incluir um Launchpad (ou um Monome 256, se dinhei-
• 1 crossfader ro não for um problema) para disparar clips, um Behringer
• 1 “joystick” BCF2000 (ou um Avid Artist Mix, novamente se dinheiro
• Transport (play, stop, rec etc.) não for problema) para controlar os canais do Live e mais
• Display de LCD um Behringer BCR2000 (ou um Livid Instruments Code, se
• 1 entrada para footswitch possível) para controlar os efeitos e instrumentos.
• Alimentação via USB ou adaptador AC
Enquanto não surge um controlador “perfeito”, o que se pode
• MIDI In/Out
fazer é construir o seu próprio controlador MIDI. Há alguns
kits à venda no mercado, mas isso vai ficar para outra edição.

Porém, o grande problema de visualização ainda persistirá.


Por isso, um iPad (ou um monitor sensível ao toque) me
parece ser a melhor opção, em termos de funcionalidade,
para disparar clips e controlar efeitos e instrumentos. O pro-
blema aí fica na estética, pois performances ao vivo pare-
cem mais “reais” quando se usam pads, faders e knobs “de
verdade”. Um iPad pode parecer “fácil” demais... Ou não.
CME Bitstream 3X
Na próxima edição vamos investigar os aplicativos
AVID (EUPHONIX) ARTIST MIX para controlar o Live com um iPad e entender me-
lhor como funcionam.
• 8 encoders “infinitos” (com anel de LEDs indi-
cando o valor) Até lá!
• 8 faders motorizados e sensíveis ao toque
• 8 pequenos displays de OLED
Lucas Ramos é tricolor de coração, engenheiro de áudio,
• 1 entrada para footswitch
produtor musical e professor do IATEC.
• Conexão via Ethernet
E-mail: [email protected]
• Alimentação via adaptador AC

96 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 97
MÚSICO NA REAL | Fernando Moura

Solo, aqui vou eu!


TODOS OS PREPARATIVOS PARA
O FESTIVAL SANTA MÚSICA

U
m dos poucos mercados que continua viável na Para uma performance solo, cada instrumento tem suas di-
nova ordem da música, como já percebeu o meu ar- ficuldades e vantagens, mas os pianistas sempre depende-
guto leitor, é o das performances ao vivo. Até para rão de um instrumento em razoáveis condições para poder
se vender discos atualmente essa é uma situação que mostrar suas músicas adequadamente. O teclado com som
traz um retorno mais compensador do que você implorar de piano é uma opção, mas, francamente, tão fiel quanto
uma colocação em pontos de venda de rua (quase sem- a capa de um DVD pirata do Largo do Machado aqui no Rio
pre em consignação) ou disputar um espaço nos virtuais ou da Liberdade em SP.
(em terra onde o iTunes não funciona).
Como nem tudo é chumbo nessa vida, aqui e ali começaram
Aqui no Rio de Janeiro ocorre um fenômeno curioso: apesar a aparecer alguns convites para shows solo de piano acús-
da notória “ferveção” da Lapa com suas noitadas disputa- tico com o repertório de meu recente TudoPiano (você já
díssimas e muitas casas noturnas com música ao vivo, va- tem o seu, não é mesmo, leitor?) em lugares minimamente
riedade não é o nome do jogo e grande parte da oferta mu- aparelhados para isso. Com muita alegria, comecei um pro-
sical se concentra em manifestações que misturam curiosos cesso de preparação que dividirei com você no artigo desse
e aprendizes num clima mais para festinha de arromba do mês, que relata uma trajetória que inclui dúvidas, (in) con-
que para show de música. veniências, adaptações e surpresas.

Surpreso, leitor? É o que está rolando na nova ordem da músi- E FOI DADA A LARGADA
ca! A música para ouvir, sem ser necessariamente dançante e
participativa, tem seu espaço em teatros pequenos e médios, - 30 de maio, shopping center Rio Plaza: 16h15min, procu-
mas a um custo alto e com uma acirrada disputa por datas. rando um novo sofá-cama com a patroa
Nomes consagrados disputam palmo a palmo espaço com es- O mundo dos sofás-cama me lembra o dos instrumentos
treantes e artistas de público mais restrito. A oferta de espaços orquestrais virtuais: muita gente precisa, mas eles só exis-
com as mínimas condições técnicas para que esses espetácu- tem de uma maneira que não é a que resolve melhor ou
los aconteçam fica pequena para tantos concorrentes. custam um preço que não está ao alcance da maioria dos
mortais. Procurando bastante sem conseguir algo que sa-
A opção solo, adotada há tempos por artistas do mains- tisfaça, atendo o telefone. Do outro lado, uma daquelas
tream, pode ser um caminho para você, leitor. Assim, não “vozes do passado” me fala que está participando da orga-
depende da boa vontade dos amigos em aprenderem um nização de um festival de música em Santa Teresa chama-
show inteiro para tocar com você na base da amizade, não do Festival Santa Música – parte de um network (Fête de
precisa marcar ensaios e nem pagar transporte de instru- la Musique) que engloba 450 cidades ao redor do mundo
mentos enquanto vai tentando firmar seu nome para ser que também estarão realizando eventos numa grande rede
convidado para gigs com melhores condiçõe$. mundial de celebração à música.

98 | áudio música e tecnologia


Ouço o convite para uma apresentação de piano solo no even- - 7 de junho, Centro Cultural Laurinda Santos Lobo, Santa
to. Faço a pergunta óbvia, já que perguntar não ofende: “tem Teresa: prospectando o terreno
piano acústico no lugar?”. “Claro, por isso que a gente está te Mesmo sem duvidar da palavra de meu amigo produtor, re-
convidando!”, responde ele. Depois de saber data, localização solvo dar uma conferida no local do show para ver o espaço
e duração do show, faço outra pergunta fundamental: “e o e avaliar o piano. Fico agradavelmente surpreso porque é
cachê?”. Infelizmente, a resposta começou com um “sabe o um casarão muito bonito, num lugar relativamente de fácil
que é?” e teve o desfecho conhecido da maioria dos meus lei- acesso em Santa Teresa e de um tamanho bem adequado a
tores. Resolvo que essa é uma boa oportunidade para montar esse tipo de performance solo.
um show/performance solo com piano acústico e filmá-lo para
lançar no YouTube em busca de outros festivais e trabalhos. - 8 de junho, Bariri Estúdios: montando o setup de ensaio
Consulto a agenda e, como a data está livre, aceito o convite. Como é um piano de cauda exatamente igual ao que usei
nas gravações do meu CD TudoPiano, monto um setup de
- 6 de junho, Bariri Estúdios: manhã de estudos, pensando acordo com o repertório que escolhi e que dependa o mínimo
o setlist possível do equipamento local para ser reproduzido adequa-
Como estou muito longe de Keith Jarrett e de outros que damente. Em festivais, não há tempo para particularidades
proclam “não pensar em nada e sair tocando de acordo com ou “frescurinhas de músico”, como querer que o operador de
as emoções da hora”, minha primeira providência é montar som de oito shows diferentes se lembre de que na terceira
uma sequência musical adequada para mostrar meu trabalho música do seu show você precisa que ele coloque um flanger
como compositor, pianista e arranjador. Uma hora de duração no piano acústico depois de ter usado um delay longo na
é uma boa pedida e penso em recursos para tornar a perfor- primeira e um gate reverber na segunda.
mance atraente para o público especializado (que geralmente
comparece para achar defeitos) e para o público geral (que

Fernando Moura
vai para se divertir, curtir e viajar, sem contar compassos).
Fernando Moura

Figura 2 – Visão geral do setup

Sejamos realistas, leitor: isso não vai funcionar! Reclamar,


além de não resolver, pode piorar o clima e aí você estará
sozinho diante do público com cara de poucos amigos. Veja
a Figura 2: um veterano mixer Mackie de 12 canais foi res-
gatado do depósito e depois de uma boa dose de WD 40
naqueles contatos mais suspeitos reaparece firme e forte no

Figura 1 – Setlist feito à caneta, que é de


onde sempre começam boas ideias

áudio música e tecnologia | 99


MÚSICO NA REAL

comando das operações. Tudo será mandado para os locais O público, mesmo o não especializado, percebe alguma coi-
através de um mero L/R: os microfones (Neumann KM 184) sa estranha no ar (nem que seja a sua insegurança).
do piano estão nos canais 1 e 2, o multiefeito Kaoss Pad
endereçado pelas duas mandadas de efeito do mixer para Entretanto, leitor, preste atenção: é inútil estudar sem ouvir
ficar estéreo volta pelos canais 3 e 4. A interface de áudio do os resultados, analisá-los e traçar metas objetivas. É mui-
computador, de onde bases de alguns números serão acio- to fácil fazer isso nesses tempos de gravações digitais e é
nadas, está nos canais 5 e 6, e o híbrido de instrumento mu- essencial para seu progresso pessoal como instrumentista.
sical e brinquedinho fashion Tenori On está nos canais 7 e 8. Claro que cada performance ao vivo, com todas as suas
tensões, surpresas e decisões em tempo real, ensina muito
Ainda tenho dois canais para um CD player com as bases mais do que uma semana de estudos, mas uma coisa não
mixadas caso o computador resolva dar “xiliquinho” e dois exclui a outra. São diferentes degraus de uma mesma tra-
canais livres para um outro efeito ou microfone para falar jetória. Registre seus ensaios em um gravador digital (ou
para o público. Fechando o sistema, a tradicional e gosmen- até em um celular) e ouça depois, fazendo anotações sobre
ta fita escrita à pilot com o que está em cada canal dá o o que precisa ser melhorado em cada música. Tente não se
toque “vintage reality” do setup. Confira na Figura 3. prender apenas aos aspectos técnicos e considere parâme-
tros como sonoridade, expressão e intensidade.
- 9 de junho, Bariri Estúdios, manhã: estudar é preciso e
anotar as metas também é! CUIDANDO DOS DETALHES
Tom Jobim dizia que estudava pela manhã uma hora de pia-
no todos os dias e me lembro do Horowitz dizendo que se - 10 de junho, Bariri Estúdios, tarde
parasse de estudar por dois dias, sentiria grande diferença. Mas, afinal, o que vai no computador? O que vai ser acio-
Se não estudasse durante cinco dias, seu manager perce- nado de uma programação no computador e o que você vai
beria, e se parasse de praticar por uma semana, o público tocar ao vivo dependem de muitos fatores, que começam
perceberia, e aí seria o começo do fim. A dose é questão pelo tipo de set que você apresentará. Num set de DJ, en-
totalmente pessoal, mas uma coisa é certa: quem quer ser tendo que a parte programada deva ser a principal. Por
performer e atacar ao vivo deve estar sempre com a técnica exemplo, são boas opções o Ableton Live ou o Traktor (me
em dia. Não dá pra ganhar todas na simpatia e no carisma. desculpem os puristas das pickups!) para armazenar as ba-
ses e fazer as mixagens, transições e passagens de clima
ao vivo usando efeitos em tempo real como o Kaoss Pad e
Fernando Moura

outros recursos próprios desse mundo.

Arquivo Fernando Moura

Figura 3 – Tenori On, Kaoss Pad, Mixer Mackie Figura 4 – Em 1987, pilotando
e a fita com marcações feitas com caneta pilot um Oberheim Xpander

100 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 101
MÚSICO NA REAL

Em megashows de música pop, até as luzes são acionadas Henry Mancini, que é um número que agrada bastante no
por uma sequência master em que áudio, MIDI e diversos show. Minha performance está marcada para as 15h. Pode
command controls estão sincronizados. Em 1987, por de- ficar difícil arranjar uma superfície escura para projeção.
sistência do baterista, fiz shows de música instrumental to- Quanto menos complicado, melhor.
cando jazz rock fusion com um sequencer QX5 Yamaha dis-
parando programações numa bateria Roland TR 707 ao lado - 14 de junho: comemorando meu aniversário em casa em
de Ronaldo Diamante no baixo e Rodrigo Campello na gui- meio a bolinhos de bacalhau e rolinhos vietnamitas
tarra. Veja a Figura 4, se concentre no DX7, no Oberheim Como sou casado com uma mulher que é uma saudável mis-
Xpander e me desculpe pela calça de oncinha, afinal, todos tura de Tia Nastácia na cozinha e Gertrude Stein no plano
nós já fomos jovens alguma vez na vida. intelectual, nossas festas de aniversário são sempre muito fe-
lizes. Entre um salgadinho e outro, chega o meu amigo mala-
Para essa apresentação solo com piano acústico não haverá barista de contato, David La Croix, com quem já tenho alguns
variações em tempo real na forma das composições. Ou números ensaiados. Não resisto e o convido para participar da
seja, vou tocar a parte de piano usando elementos de meu pirotécnica Jardim das Delícias (vídeo em http://tinyurl.com/
CD TudoPiano como acompanhamento. Assim sendo, optei jardimdasdelicias) e do frevo circense Cangurus em Recife,
por remixar as bases necessárias separadamente e construir que encerrará o show (http://tinyurl.com/cangurus).
uma sequência de tracks de áudio na mesma ordem do setlist
do show. Usarei o mínimo de CPU do laptop, diminuindo os GRAVAÇÕES, PROMESSAS E TRANSTORNOS
riscos daqueles imprevistos que só os computadores podem
trazer para nossas vidas. Para aliviar a impressão de karaokê, - 15 de junho, Bariri Estúdios, hora do almoço: gravando a
nunca mais de duas músicas sequenciadas seguidas e, como performance para objetivar os estudos
dose extra de precaução, gravei (sem paranoia, com todo Faltam três dias e agora estou gravando o set corrido, in-
respeito) um CD com as mesmas bases, na mesma ordem. cluindo paradas entre uma música e outra, preparações no
Adicionei um CD player à lista de equipamentos necessários. laptop e demais brinquedinhos para cronometrar o tempo
Sim, leitor, um tosco, mas confiável CD player comprado total e ficar na duração pedida pela organização do festival.
em algum camelô coreano será o backup de semanas de Prefiro cortar uma música para não ser fominha e dar tem-
preparação e anos de trabalho musical! po ao público de aplaudir.

- 13 de junho, em casa, de manhã bem cedo Faço uma promessa a mim mesmo de falar o mínimo possí-
Recebo por e-mail a lista enviada pela organização do fes- vel entre as músicas e em hipótese alguma contar “causos”
tival com a ordem dos shows e a lista do equipamento à ou fazer piadinhas sobre o dia em que choveu canivete na
disposição dos artistas que irão se apresentar no mesmo apresentação do George Martin na Quinta da Boa Vista pelo
espaço que eu. Duas coisas me chamam a atenção entre Projeto Aquarius e tivemos que tocar Yesterday na versão
as outras informações do e-mail: não haverá passagem de que apresento solo ao piano. Na ocasião, alguns músicos
som entre um grupo e outro e o tempo para troca de setups me seguiram “de bossa” e o público aplaudiu delirantemen-
é de 20 minutos, com apenas um roadie. Sou o terceiro da te sob a chuva torrencial.
lista. Um pianista solo começará os shows e um trio tocará
imediatamente antes de mim. - 15 de junho, Bariri Estúdios: quase fechando a tampa
Chega a notícia ao final da tarde: uma promotora resolve
Anoto mentalmente a necessidade de levar réguas e exten- acatar reclamações de moradores de Santa Teresa sobre a
sões de força para não perder tempo por lá e resolvo deixar suspensão do trânsito naquele dia e “transtornos da ordem
no estúdio o projetor de imagens que uso para projetar pública que poderão ser causados pela programação” e o
as edições em vídeo de trechos de filmes com músicas do festival corre risco de não se realizar. Mas onde estava essa

102 | áudio música e tecnologia


MÚSICO NA REAL

gente no carnaval e o que farão durante a Copa e as Olim- O MUNDO REAL


píadas? Torço para que isso seja apenas uma pilha contra
um festival independente e sigo trabalhando com otimismo. - 17 de junho, depois do almoço
Às sextas-feiras, faço um shiatsu para aliviar as tensões
- 16 de junho, Bariri Estúdios, fim de tarde dessas posições ridiculamente desconfortáveis de pianista
Como estão finalizando a construção de um prédio aqui ao e piloto de computador. Ao chegar, vejo a bomba no e-
lado do estúdio, as gravações na sala onde fica o piano acús- -mail: o festival está cancelado e a produção do evento
tico têm que ser feitas após as 16h, quando os operários en- manda nota oficial dizendo que “acatou a determinação de
cerram suas atividades, mas antes da novela das oito, para cancelamento do evento, tal como solicitado pelo Ministério
não contrariar minha adorável síndica, Dona Lurdes, e toda Público Estadual e determinado pelo M.M. Juízo da 15ª Vara
a sabedoria de seus 68 anos de idade. A missão dessa tar- da Fazenda Pública, apesar de ter em mãos os documen-
de é gravar em vídeo uma passada no set para uma melhor tos necessários para recorrer da decisão”. Meu mundo caiu,
avaliação e depois criar uma peça de e se isso me serve de consolo, o
divulgação para a web. Mesmo com de mais de 100 artistas que parti-
o desconforto eventual de se ver em Gravar em vídeo uma cipariam do evento também deve
ação sem “melhores momentos”, essa
passada no set é uma
ter caído. “Dura lex sed lex”, como
é uma incrível maneira de, por meio diriam os romanos.

incrível maneira de
da tecnologia, melhorar muito como
artista e performer. - 19 de junho, Bariri Estúdios: ter-

Não se iluda, leitor, Frank Zappa


melhorar como minando de escrever o artigo para
não perder o deadline de meu edi-
sempre foi o único artista de que
tenho notícia a admitir nas contra-
artista e performer tor querido
Esse é o mundo real da música,
capas de seus LPs o que era refeito caro leitor! Todos nós já passamos
em estúdio nos seus discos “ao vivo”, inclusive seus solos por cancelamentos, suspensões e tivemos nossos sonhos
de guitarra. A maioria fica no sapatinho, mas a gente sabe interrompidos por alguma coisa que na hora nos pareceu
que tem muito DVD “ao vivo” por aí onde nem as palmas uma grande injustiça. Dizer que “pelo menos já estou com
são daquela apresentação. Na verdade, são usadas de bi- o setup preparado para o que der e vier” não é real – é au-
bliotecas de efeitos sonoros... to-ajuda. Vociferar contra as “arbitrariedades do sistema”
é velho como um pedal Cry Baby sem ser vintage. Então
- 17 de junho, hora do almoço, Bariri Estúdios a solução é sair em campo (virtual e real) batalhando uma
Depois de assistir o vídeo, chego facilmente à conclusão so- nova oportunidade para essa apresentação solo. E quando
bre qual música deve sair do repertório. Como tenho ensaio ela pintar, voltar a se preparar da melhor maneira possível.
geral marcado com o malabarista no final da tarde, gravo Esse é o mundo real: seja bem-vindo!
em áudio mais uma passada do show para ter certeza de
que estou dentro do tempo pedido e também para analisar Quem sabe até o mês que vem você não me traz uma boa
a que distância estou das minhas metas musicais. ideia, caro leitor?

Fernando Moura é flamenguista, músico, compositor, arranjador e produtor musical, além de ex-fuman-
te. Visite www.myspace.com/fernandomoura.

104 | áudio música e tecnologia


“Para proteger seus direitos,
além de pedir ajuda a Santa
Cecília, é importante manter
atualizados seus dados
cadastrais e os de suas obras.”

áudio música e tecnologia | 105


CONEXÃO LONDRES | Ricardo Gomes

USANDO O
SINTETIZADOR
COM CRIATIVIDADE
Como buscar uma sonoridade própria aliando tecnologia e imaginação

N
a coluna anterior, falamos sobre como a tora pop britânica Cheryl Cole, em que os sintetizado-
criatividade é uma ferramenta fundamental res “tremulam” no tempo da música (ouça em http://
no trabalho do produtor. Mencionei como tinyurl.com/cherylcfight). Outro é a faixa Rock That
é importante trabalhar texturas e criar uma sono- Body, do Black Eyed Peas (http://tinyurl.com/rockpe-
ridade que o caracterize e que caracterize cada um as). Nela, as notas parecem ser “atraídas” umas pelas
dos seus trabalhos. Para atingir esse objetivo, uma outras. Bandas de rock – como a americana The Killers
ótima opção é construir os seus próprios sons. Seja – também não ficam para trás. Na música Mr. Bri-
fazendo sound design para filmes ou produzindo um ghtside (http://tinyurl.com/brightkillers), por exem-
artista no estúdio, o sintetizador é uma importante plo, eles combinam sintetizadores com guitarras de
ferramenta na busca de sonoridades devido à sua diferentes maneiras em diferentes seções da música,
incrível flexibilidade na utilização de diferentes pa- mantendo-a sempre interessante para o ouvinte.
râmetros que definem o seu som.
Nesta coluna, vou falar um pouco sobre como bus-
Hoje em dia, ele é amplamente utilizado e nor- car a sua própria sonoridade através do uso do
malmente associado a uma estética moderna e de sintetizador e da sua imaginação. Vou começar
alta tecnologia, como na trilha sonora do filme de explicando o princípio básico de funcionamento
lançamento do BMW X1 no Brasil (música Zdarli- de um sintetizador que utiliza síntese subtrativa.
ght, do duo eletrônico alemão Digitalism – http:// Talvez o modelo mais conhecido seja o Minimoog,
tinyurl.com/bmwx1bra). Dentro do cenário da fabricado entre 1970 e 1984. Alguns exemplos vir-
música pop não é diferente: artistas e produtores tuais (plug-ins) são: ES2 (Logic), Subtractor (Re-
usam e abusam dos sintetizadores para chegar a ason), Massive (Native Instruments) e DCAM Syn-
uma sonoridade própria e autêntica. th Cypher (FXpansion). Na edição de fevereiro de
2011, a matéria de capa da AM&T abordou alguns
Um exemplo é a canção Fight For This Love, da can- exemplos disponíveis na internet gratuitamente,

106 | áudio música e tecnologia


Subtractor, Massive (acima) e DCAM Cyber
Synth (imagem de abertura da seção): exemplos
de sintetizadores subtrativos muito utilizados

como o Minimogue (VoltKitchen Group – www.home.no/gunna-


re). Também vale a pena visitar www.dskmusic.com e bserrano.
free.fr para conferir mais modelos subtrativos.

Como é possível ver, cada modelo tem suas características. No en-


tanto, o importante é compreender o princípio de funcionamento
da síntese subtrativa. Uma vez que o entendemos, podemos mais
objetivamente manipular o som de forma criativa.

PRINCÍPIO BÁSICO DE FUNCIONAMENTO DE


UM SINTETIZADOR SUBTRATIVO

Esse tipo de sintetizador possui basicamente três módulos – (1)


geração do som, (2) ajuste do timbre e (3) ajuste do volume –, que
são, respectivamente, os listados a seguir.

áudio música e tecnologia | 107


CONEXÃO LONDRES

Oscilador comportamento dinâmico do seu volume através do


envelope, também conhecido como ADSR (Attack,
Onde o som é gerado. Você normalmente tem a op- Decay, Sustain e Release).
ção de escolher o formato de onda sonora (senoide,
dente de serra, quadrada, triangular etc.). Cada um Sempre que um som é gerado (por exemplo, através
deles tem diferentes harmônicos e por isso carre- da vibração de uma corda no violão), ele demora um
gam timbres diferentes. Muitos sintetizadores apre- tempo para atingir o seu ponto mais alto de volume
sentam a possibilidade de combinar vários oscilado- (attack); depois tem uma pequena queda (decay)
res, cada um com o seu respectivo formato de onda. até atingir um volume constante; permanece cons-
tante por um período (sustain) e começa a reduzir
Filtro até ter fim (release). Esses parâmetros podem ser
ajustados e são importantes características do som.
É aqui onde vamos moldar o som, retirando partes
daquele gerado pelo oscilador. O filtro normalmente Agora que já conhecemos os três princípios básicos
possui os seguintes parâmetros: – oscilador (geração do som), filtro (ajuste de tim-
bre) e amplificador (ajuste de volume) –, podemos
• Tipo de Filtro falar de mais um elemento importantíssimo nos sin-
tetizadores: os moduladores.
- Passa-baixas (ou Low Pass): deixa passar ape-
nas as frequências mais graves.
- Passa-altas (ou High Pass): deixa passar ape- OS MODULADORES
nas as frequências mais agudas.
- Passa-faixa (ou Band Pass): deixa passar ape- Moduladores, também conhecidos como controladores
nas um intervalo de frequência. de sinal, são parâmetros que podemos variar em
- Rejeita-faixa (ou Band Reject): deixa passar relação ao tempo. O próprio envelope (ADSR) é um
todas as frequências com exceção de um inter- modulador. Outro exemplo importante é o LFO (Low
valo definido. Frequency Oscillator ou Oscilador de Baixa Frequência),
que trabalha com frequências muito baixas (menores
• Frequência de Corte (Cutoff Frequency) que 30 Hz) e não é usado para produzir som, mas
sim para alterar os sons gerados pelo oscilador. Por
É o ponto no qual o filtro começa a atuar. Ou exemplo, se alterarmos o tom de uma nota através
seja, a partir daquela frequência o som é filtrado. de um LFO, teremos um vibrato. Outros exemplos de
moduladores são aqueles aplicados através do seu
• Ressonância (Resonance ou Emphasis, ou Q) teclado MIDI, como key velocity, pitchbend wheel e o
modulation wheel.
Como o próprio nome diz, é uma ênfase, um pe-
queno aumento de volume no ponto de corte. Todos esses moduladores precisam ser aplicados
a algum elemento do som. Como vimos acima, se
Amplificador conectarmos o LFO ao oscilador, teremos uma va-
riação periódica de tonalidade semelhante a um vi-
No fim, o som é amplificado e fazemos o ajuste do brato. Porém, se o conectarmos ao amplificador, te-

108 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 109
CONEXÃO LONDRES | Ricardo Gomes

remos um efeito conhecido como tremolo, no qual o amplificador. Na seção abaixo, temos os modulado-
o volume é alterado periodicamente. Portanto, há res (dois LFOs e três envelopes). Separando as duas
normalmente no sintetizador uma seção aonde es- partes (no centro, em azul escuro) está o roteador.
sas conexões são feitas, conhecida como roteador
(router) ou patch. Em alguns modelos, as opções Uma vez identificadas as partes, procure explorar os
de conexão aparecem juntas a cada modulador, seus parâmetros e escute o resultado. Isso lhe trará
como no caso do Subtractor (Reason). mais domínio sobre o instrumento e mais confiança
na busca do som que tanto procura.
Vale lembrar que muitos sintetizadores oferecem
vários outros parâmetros, como mixagem de osci-
ladores, variação de tonalidade, glide, efeitos como FUGINDO DOS PRESETS E
chorus e flanger, LFO delay, diferentes envelopes, di- “ZERANDO” O SINTETIZADOR
ferentes LFOs etc. Porém, o objetivo, por enquanto,
é apresentar o princípio básico e seus parâmetros. Como querermos criar uma sonoridade única, é bom
evitar a utilização dos presets, que são amplamente
usados por muitos produtores. A ideia é criar um
som “do zero”, escolhendo cada um dos seus ele-
mentos até construir algo único e interessante.

Vou continuar usando o exemplo do ES2, mas esse


princípio pode ser aplicado a outros sintetizadores.
Para “zerá-lo”, vamos, primeiramente, desfazer todas
as conexões no roteador e cancelar o filtro e todos os
efeitos aplicados. Depois, vamos deixar somente um
oscilador funcionando, como pode ser visto na ima-
gem abaixo. É bom salvar essa configuração como

O ES2, do Logic, é organizado de


forma bem simples e lógica

Se você ainda não tem muita familiaridade com o


seu sintetizador, procure entender seu funciona-
mento. Identifique onde estão as seções oscilador
(geração do som), filtro (ajuste de timbre) e am-
plificador (ajuste de volume), além dos modulado-
res e do roteador.

O ES2, do Logic, por exemplo, é organizado de forma


simples e segue a lógica de funcionamento: da es- ES2 “zerado”: é uma boa ideia
querda para a direita temos os osciladores, o filtro e ter esse preset salvo

110 | áudio música e tecnologia


um dos seus presets, assim, poderá utilizá-la como ponto de
partida sempre que for construir uma nova sonoridade.

Começaremos escolhendo o tipo de onda que mais nos agrada.


Depois, combinaremos os outros osciladores até chegarmos a um
som interessante. A partir desse ponto, seguiremos o “percurso”
do som, adicionando, pela ordem, filtro, moduladores e efeitos –
e manipulando os parâmetros em cada um desses estágios.

USANDO A IMAGINAÇÃO

Agora, mãos à obra! O que acontece se eu conectar um LFO


no controle de cutoff do filtro? Ou se eu conectar o mesmo
envelope do amplificador? E se eu usar um segundo osci-
lador uma oitava (+12 semitons) acima do primeiro? Qual
formato de onda vai me dar o timbre que eu quero? Qual a
melhor combinação de formatos entre os osciladores? Bom,
eu deixo essas respostas para vocês.

As ideias são muitas. Em um sintetizador como o ES2 você


pode fazer uma infinidade de combinações e ter até 10 cone-
xões no seu roteador. E para torná-lo ainda mais interessante,
uma dica é utilizar o seu teclado MIDI (modulation wheel, pi-
tchbend wheel ou velocity) como modulador, dando ênfase às
performances. Você pode, por exemplo, conectar o pitchbend
wheel ao cutoff do filtro, assim seu filtro “abre” toda vez que
você fizer um bend. Dessa forma, você pode dar mais expres-
são na hora de tocar o instrumento.

As possibilidades são inúmeras. Seja um som para um solo, um


pad ou até um som percussivo, agora você já sabe que sempre
pode contar com seu sintetizador. E com sua criatividade!

Até a próxima!

Ricardo Gomes é guitarrista, produtor e sound designer. Atual-


mente mora em Londres, onde concluiu um mestrado em produ-
ção de áudio pela Universidade de Westminster. Procura combi-
nar arte e técnica, inspiração e transpiração, Brasil e Inglaterra.

áudio música e tecnologia | 111


PRO TOOLS | Daniel Raizer

PRO TOOLS HD
Divulgação

AUTOMAÇÃO DE
PARÂMETROS

Normalmente, músicos são autônomos, autômatos Felizmente, os softwares gostam que a gente mande
ou automatizados. neles e, portanto, vamos transferir estes adjetivos
para o mundo virtual, pois nascemos livres e com
Se você anda meio preso a um conjunto finito de a intenção de assim permanecer. O Pro Tools ado-
opções que não permite outras experiências, como ra ser comandado. Sem nós, ele não passa de um
solar sempre em menor melódica ou pentatônica, mero ícone na pasta Digidesign (será possível que
cuidado! Você pode estar sendo autômato e sua mú- esqueceram de renomeá-la Avid ou é alguma coisa
sica não vai muito longe. que não conseguiram resolver?) e, sendo assim, o
adjetivo mais adequado para este software comple-
Se você está sempre fazendo o que o figurino man- xo é “automatizado”.
da, como colocando o microfone na altura dos olhos
do vocalista, para, em seguida, apontá-lo para sua Não é possível compor uma lista de músicas que ti-
boca e seguindo com a gravação só porque era o veram seus técnicos pilotando o fader do canal da
jeito default de o Frank Sinatra gravar, cuidado tam- voz apertando o carretel para girar mais devagar a
bém! Pode ser que, naquele dia, fosse melhor gravar fita ou girando o botão de threshold do compressor
de outro jeito... Esse é o automatizado, aquele que enquanto estava sendo “printado” (verbo novo, com
segue o que é definido, sem questionar. origem na palavra print) o registro definitivo na fita.
Impossível. Tá no sangue querer mudar o normal e
O autônomo é o melhorzinho (já vou explicar o por- daí surgem essas coisas geniais, como aquele lápis
quê do “zinho”). É livre para sonhar e experimentar, na frente do microfone, um guardanapo na frente do
reger a própria orquestra, traçar e conduzir o pró- tweeter e outras técnicas heterodoxas.
prio caminho, mas tem mês que aperta e daí bate
aquela vontade de fazer um belo arroz com feijão só Na música de ambiente virtual, quando o nosso cé-
para pagar a conta de luz. Digo: não vale a pena! rebro imagina alguma coisa difícil de executar na
Talvez fosse a hora de testar no violino se era me- prática, a automação do Pro Tools cai como uma
lhor usar o semitom com quatro comas em vez do luva. Na música Sideral, do Eletrodomestic (minha
de cinco comas ou colocar queijo ralado na farinha extinta banda), fizemos uma automação de mix de
para empanar o camarão, mas é tarde demais. Cros- reverb no canal da bateria e, se não me engano, no
sfading direto para o lado escuro da força: tan tan primeiro disco da Maria Rita, na faixa Não Vale a
tan tan taran... Pena, também há um efeito similar. Na nossa música

112 | áudio música e tecnologia


parecia que a caixa de som estava em uma carriola gravar o movimento de todas as coisas, lembre-se
no final da sala, e, progressivamente, vinha na dire- de que o mouse não é o melhor amigo nessas ho-
ção do ouvinte. Sideral foi um título apropriado. No ras. Investir em uma boa superfície de controle com
caso da faixa da Maria Rita, parece que no começo knobs infinitos e sensíveis à velocidade de rotação e
da música a banda está em um palco distante (pro- faders sensíveis ao toque e com curso longo é uma
vavelmente em um daqueles clubes de jazz enfu- mão na roda. Se estas superfícies forem da família
maçados dos Estados Unidos visitados pelo Dennis Avid, melhor ainda, pois a maioria delas tem resolu-
Stock) e o ouvinte é quem caminha do balcão ao ção de 10 bits, permitindo até 1024 passos diferen-
palco. Essas coisas que, ou são muito difíceis de fa- tes para automatizar um fader, por exemplo.
zer ou que não são possíveis de executar no real, a
gente faz no virtual. As superfícies de controle MIDI mais simples traba-
lham em 7 bits (128 passos de resolução). Aquelas
No Pro Tools, praticamente tudo é passível de au- que utilizam o protocolo EUCON permitem a resolução
tomação, mas antes de começar a manipular para

áudio música e tecnologia | 113


PRO TOOLS | Daniel Raizer

máxima de 12 bits (4096 passos) para faders e knobs, 1. Off - Desligado


que é a maior de todas. Deixe o mouse para ajustar Desliga todas as automações deste canal.
envelopes de automação com a ferramenta lápis.
2. Read - Ler
Outra coisa a considerar é que automações acarretam Reproduz as automações gravadas neste canal.
processamento intenso no computador, portanto abu-
se delas somente se você tem uma máquina à altura. 3. Write - Escrever
Escreve automações no canal durante o playback do

NO PRO TOOLS,
momento em que é acionado até o momento em que
para. Durante este trecho a automação sobrescreve

PRATICAMENTE
o que estava embaixo com uma nova informação.
Quando parado, esse modo reverte para o modo

TUDO É PASSÍVEL
Latch. Caso queira que seja o modo Touch ou que
permaneça em Write, visite o menu Setup > Prefe-

DE AUTOMAÇÃO,
rences... > Mixing > Automation e escolha o modo
Touch ou No change, respectivamente nos campos

MAS O MOUSE
After Write Pass e Switch To.

NÃO É O MELHOR
4. Touch - Tocar
Escreve automações somente quando um fader (ou

AMIGO NESSAS
outro botão) é tocado (daí a necessidade de um fa-
der sensível ao toque na superfície de controle) ou
quando move-se ou clica-se em algo. Quando o pa-
HORAS râmetro é solto (perde o contato com o dedo), a
informação anterior contida no canal permanece. Há
Vamos ver, agora, depois dessa imensa introdução, um ajuste que governa o tempo que demora para a
como o Pro Tools pode automatizar tudo para você. automação voltar ao valor anterior, similar ao parâ-
metro Release em um compressor. Esse ajuste fica
em AutoMatch Time, nas preferências da automação
MODOS DE AUTOMAÇÃO em Setup > Preferences... > Mixing > Automation.

Cada canal tem uma caixa de modo de automação 5. Latch - Trinco (a tradução literal, mas a melhor,
(menos o de vídeo) e não necessariamente todos seria “trava”)
estes têm que estar configurados no mesmo modo Similar ao Touch, porém ao soltar o parâmetro a úl-
dentro da sessão. tima informação permanece sendo gravada até que
se pare o playback.

6. Touch/Latch (apenas para o Pro Tools HD ou 9 am-


pliado com o pacote Complete Production Toolkit 2)
Figura 1 – Caixa de modo de
Mantém o parâmetro Volume em modo Touch e os
automação do canal
demais parâmetros em Latch.

Por default aparece o modo Read (verbo “ler”, em in- 7. Trim - Aparar (apenas para o Pro Tools HD ou 9
glês), mas há sete opções disponíveis. Vamos vê-las: ampliado com o pacote Complete Production Toolkit 2)

114 | áudio música e tecnologia


Figura 2 – Canal com
automação em modo Trim

Atua apenas nos parâmetros volume e nível da


mandada e é ideal para preservar as variações da
automação gravada, sendo capaz de aumentá-la ou
diminuí-la como um todo (passamos de ajustes ab-
solutos para relativos). Este modo atua em conjunto
com os outros modos. Para perceber que estamos
em Trim Mode, o Fader do canal fica amarelo.

8. Auto Join como modo Latch (apenas para o Pro


Tools HD ou 9 ampliado com o pacote Complete Pro-
duction Toolkit 2)
Ué! Não eram 7 modos? Esse modo é mais uma pre-
ferência do que um modo e não encontra-se disponí-
vel na caixa de seleção de modos – fica na janela Au-
tomation (menu Window > Automation) e serve para
ajustarmos a maneira como as automações são fina-
lizadas em controles ativos quando o playback para.
AutoJoin é para a forma automática em modo Latch
e Join para a forma manual em modo Latch, porém
esta última só está disponível se uma superfície de
controle compatível estiver conectada ao sistema.

ENVELOPES

Os envelopes são a representação gráfica da automa-


ção, uma linha que se visualiza no próprio canal auto-
matizado na Edit Window. Para visualizar o envelope
de volume de um canal, simplesmente desdobre a
playlist clicando no ícone de triângulo no canto infe-
rior esquerdo do canal. Para ver a automação de pa-

áudio música e tecnologia | 115


PRO TOOLS

norama, clique sobre a caixa escrita Volume e escolha ajuste é muito útil para fazer automações de pa-
Pan ou clique no botão contendo o símbolo (+) no norama de forma simétrica.
próprio canal para abrir uma nova playlist e escolha
a opção Pan. Fica-se, estão, com duas playlists: uma
contendo o envelope de volume e a outra o do Pan.

Figura 4 – Os Edit Modes e ajustes


de grid na barra de ferramentas

Figura 3 – Canal de áudio com seu Observação: você deve estar se perguntando
envelope de automação de volume como foi que eu fiz para fazer essa imagem dos
modos de edição ao lado do ajuste de grid. Pho-
AJUSTE DA ESCRITA DOS toshop? Não. Basta manter pressionadas as teclas
ENVELOPES DE AUTOMAÇÃO Control + Alt + Command (Mac) ou CTRL + Win-
dows + ALT (PC), clicar em uma área da barra de
Um ajuste importante para a escrita das automa- ferramentas e arrastar este setor para outro lugar.
ções está na janela de preferências que abre a Daí em diante é print screen mesmo.
partir do já mencionado caminho Setup > Prefe-
rences... > Mixing > Automation. O campo Smooth
and Thin Data After Path pode retirar os numero- EDITANDO ENVELOPES COM O MOUSE
sos pontos criados em um envelope de automação
e substituí-los por uma linha mais natural, o que Ao selecionarmos a ferramenta Grabber (mão),
reduz drasticamente o uso da CPU. O ajuste de- podemos clicar nos nós do envelope e arrastar
fault é Some, que podemos traduzir por “parcial”, aquele ponto para outra localização, mudando as-
mas você pode escolher More para mais e Most sim o parâmetro naquele instante. Se selecionar-
para o máximo, e também Little para pouco (me- mos a ferramenta Trimmer, conseguimos mover a
nos que Some) e None para nenhum. amplitude da automação de forma proporcional.
Esta não funciona se a Smart Tools estiver selecio-

DESENHANDO AUTOMAÇÕES COM O LÁPIS

Se você não tem uma superfície de controle e não


quer usar o mouse, é possível desenhar os enve-
lopes de automação usando a ferramenta lápis (e
suas subferramentas). Basta abrir uma playlist de
automação, selecionar a ferramenta lápis e dese-
nhar. Para apagar um nó de automação, mantenha
pressionada a tecla ALT para que o lápis vire ao
contrário (ativando a borracha) e clique em cima
do nó que deseja apagar. Lembre-se de que o
modo de edição Grid governa o encaixe para as
subferramentas, como a Triangle, por exemplo. Se
for necessário, ajuste o grid adequadamente. Esse
Figura 5 – Janela Plug-in Automation
com nenhum parâmetro ativo

116 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 117
PRO TOOLS

nada – tem que ser uma seleção individual. Fora canal e na janela do plug-in clique sobre o ícone
isso, podemos selecionar trechos com a ferramen- Plug-in Automation Enable, que fica próximo ao
ta Selector e apertar teclas modificadoras como topo, no campo Auto. A janela Plug-in Automation
Delete, para apagar, CTRL + C para copiar, CTRL + aparece. Nesta janela há duas colunas: na da es-
V para colar e assim por diante. querda ficam os parâmetros disponíveis e na da
direita os parâmetros ativos. Clique, por exemplo,
sobre o parâmetro Wet/Dry, localizado na coluna
AUTOMAÇÕES BÁSICAS da esquerda, e, então, no botão Add >>. Clique no
botão Ok para fechar a janela.
Como vimos, podemos automatizar parâmetros
simplesmente escrevendo seus envelopes, mas Note que este parâmetro agora aparece em verde
não há nenhuma mágica nisso e ficamos privados (caso o modo de automação deste canal esteja em
de momentos agradáveis quando não usamos fa- Read) ou em vermelho (caso o modo de automação
ders e botões reais. esteja em Write, Touch, Latch ou Touch/Latch).

Caso você queira usar o mouse ou tenha uma su- Agora, para gravar uma automação, faça assim:
perfície de controle, simplesmente escolha um modo
de automação, aperte Play e mova o parâmetro que 1. Mude o modo de automação do canal para Write.
deseja automatizar. Neste âmbito, o que podemos
automatizar são basicamente os seguintes parâme- 2. Dê Play.
tros: Volume, Pan e Mute do canal e Volume, Pan
e Mute das mandadas desse canal. Mas e o resto? 3. Mova o parâmetro – a automação está sendo gra-
Continue lendo... vada e se a sua playlist estiver aberta você vê o
envelope sendo escrito em tempo real.

4. Aperte Stop para parar.

Figura 6 – Parâmetro Mix pronto


Figura 7 – Desenho do envelope
para ser automatizado
da automação sendo gravado

AUTOMAÇÕES AVANÇADAS
Um atalho para não ter que abrir a janela Plug-in
Para automatizar todo o resto, principalmente Automation: segure as teclas Control + Option +
parâmetros de plug-ins, precisamos dizer ao Pro Command (Mac) ou CTRL + ALT + Windows (PC) e
Tools o que queremos automatizar. Para fazer o clique sobre o parâmetro. Um pequeno menu apare-
efeito “Sideral” em um canal, abra um plug-in de ce. Selecione, então, a opção Enable Automation For
reverb (como o bom e velho D-Verb) no próprio e o nome do parâmetro.

118 | áudio música e tecnologia


Window deste canal a opção de visualização da
playlist do parâmetro juntamente com os básicos.
Podemos editar o envelope ali mesmo.

Simples de fazer, mas demorado para explicar.

Figura 8 – A opção Wet/Dry Espero que agora você seja autônomo e invista em
disponível para edição na Playlist resultados nada normais para poder criar uma sono-
ridade única usando o seu maior aliado: você mes-
mo, só que multiplicado várias vezes.
Note também que conforme vamos definindo pa-
râmetros a serem automatizados, aparece na Edit Abração e até a próxima!

Daniel Raizer é especialista de produtos sênior da Quanta Brasil, consultor técnico da Quanta Educacional, músico e autor do livro
Como fazer música com o Pro Tools, lançado pela editora Música & Tecnologia. Mantém o blog pessoal danielraizer.blogspot.com.

áudio música e tecnologia | 119


SONAR | Luciano Alves

O CONTROL BAR
DO SONAR X1 PARTE 2
INTRODUÇÃO esta é uma atividade constante na edição diária de
clipes de áudio ou de MIDI. Em vez de dispensar

Dando continuidade ao detalhamento da seção To- uma parte desnecessária da gravação de um instru-
ols Module (módulo de ferramentas) que integra o mento, apenas escondemos o que não fará parte da
Control Bar (barra de controle), estudaremos agora execução. Ao usar o Trim, a porção escondida deixa
as ferramentas do item Edit: Trim, Timing e Split. de soar, mas é mantida como parte do clipe. Esta
Contudo, esta análise só lhe trará bons resultados se porção só é efetivamente descartada quando se faz
você testar cada tópico descrito. Já que estas ferra- um bounce da pista em questão. O Trim proporciona
mentas são utilizadas constantemente, vale a pena o mesmo resultado do Slip Edit ou do Crop Clip (já
gastar um certo tempo no estudo de suas aplicações. muito discutido nesta coluna), que consiste em es-
conder uma porção indesejada de um clipe.
EDIT
Além disso, o Trim é usado para ajustar o Fade In/
Ferramenta de edição. Este item compreende três Fade Out, a posição das notas de MIDI e a atuação dos
ferramentas (Trim, Timing Tool e Split), as quais po- envelopes. Dependendo do posicionamento do mouse
dem ser acessadas através da tecla F8, clicando-se sobre o clipe, um ou outro ajuste é acessado. Para
com o botão direito do mouse sobre o ícone Edit ou testar estas propriedades, siga os seguintes passos:
através da tecla T.
1. Passe o mouse sobre a extremidade superior

Já que o ícone do Edit abriga três ferramentas, a que esquerda do clipe e repare que o ajuste do Fade
In fica disponível (em vermelho). Neste ponto,
fica ativa é sempre a última que foi selecionada. Teste
se você quiser modificar a modalidade da curva
esta propriedade teclando F8 diversas vezes. Repare
do Fade (Linear, Slow ou Fast), clique com o bo-
que os símbolos mudam, indicando qual ferramenta
tão direito do mouse sobre a parte superior da
está ativa. Passemos, então, para o conteúdo do Edit.
própria curva do Fade quando o cursor estiver
mostrando um pequeno triângulo.
- TRIM (AJUSTE)
2. Posicionando o mouse no início de um clipe, o
Permite cortar as bordas de um clipe de áudio ou cursor muda para duas pequenas barras verti-
de MIDI. Ao aplicar o Trim, a porção cortada não é cais, indicando que o ajuste disponível passou
descartada, sendo apenas escondida. Na realidade, a ser o do Trim (Slip Edit).

120 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 121
SONAR

- TIMING (REGULAGEM DE VELOCIDADE) 4. Teste também a ação contrária: estique o canto


direito de um clipe mais para a direita. Coloque
Modifica o andamento e a duração de um clipe de o Sonar para tocar e repare que o andamento do

acordo com uma nova medida definida pelo novo clipe diminuiu para que o conteúdo fosse ajusta-
do à nova duração. Neste caso, a degradação do
espaçamento horizontal. Este recurso é providencial
áudio é mais acentuada.
quando se necessita, por exemplo, ajustar a duração
de uma trilha sonora ou de uma locução ao tempo de
5. O Timing pode ser aplicado, também, nos tran-
uma determinada cena de vídeo. Note que a aplicação
sientes de áudio de forma que os mesmos atin-
deste recurso deve ser feita em pequenas graduações
jam uma nova duração. Em uma pista de áudio,
para que não haja deterioração da qualidade do áudio.
selecione a opção Audio Transients (através da
seta ao lado do Clips, no Track Pane). Assim, o
Sonar passa a mostrar, nesta pista, os transien-
tes de áudio. Estando com a ferramenta Timing
selecionada (F8), arraste um transiente para a
direita. Coloque o Sonar para tocar e repare que
o andamento deste pico de áudio ficou mais len-
to. Esta é uma ferramenta de edição muito pre-
ciosa. Quanto mais você praticar, mais a usará
no dia a dia para consertar interpretações ou
andamentos tocados sem precisão.

De certa forma, esta ferramenta pode ser


usada como um quantize manual de duração
de notas. Reflita sobre esta dica e absorva a
ideia: cada nota do áudio pode ser modificada
em termos de duração sem que sua afinação
Control Bar do Sonar X1: disposto no topo do programa, seja alterada. Aquele famoso final de guitarra
conta com o Tools Module (à esquerda) com power chord que ficou muito curto pode,
perfeitamente, ser alongado manualmente.
Faça o teste: Há pouco tempo era necessário fazer uma có-
pia do acorde e colá-lo sucessivamente para
1. Tecle F8 até o ícone do Edit mostrar o símbolo ter mais continuidade. O problema é que este
do Timing (pequeno retângulo com setas para processo era muito lento, pois trabalhar os
os dois lados). crossfades dos acordes colados demandava
um bom tempo e muita paciência.
2. Arraste o princípio de um clipe um pouco para
a direita. Se você preferir fazer um quantize auto-
mático de vários transientes, marque-os no
3. Coloque o Sonar para tocar e repare que o an- Time Ruler (régua de tempo) e tecle A. Isto
damento do clipe editado foi acelerado. Isto aciona o Audio Snap que possui a opção Ti-
ocorreu porque a medida horizontal (duração) ming/Quantize para corrigir execuções im-
do clipe diminuiu e o Sonar calculou, automa- precisas de instrumentos gravados. Expe-
ticamente, seu novo andamento conservando rimente os diversos Render Modes (modos
seu conteúdo. E, apesar do novo andamento, a de renderização) de acordo com o tipo de
afinação não foi modificada. material sonoro registrado.

122 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 123
SONAR

o clipe e teclar S (de Split). Siga os passos abaixo:

1. Tecle F8 até aparecer a tesoura.


Detalhe do Tools Module do Sonar X1: Edit é o
quarto ícone da esquerda para a direita 2. Mova o mouse até o local onde deseja dividir
o clipe.

- SPLIT CLIPS (DIVIDIR O CLIP)


3. Clique com o botão direito do mouse para dividir.
Repare que agora, juntamente com o curso da te-
A última opção do Edit é o nosso velho conhecido
soura, aparece uma pequena linha horizontal que
Split dos Sonares anteriores. No X1, esta importante
facilita a localização do ponto de corte. Após efetu-
ferramenta ficou um pouco escondida, e a nova lo- ar a edição, clique em outra ferramenta, como, por
calização deve-se ao fato de que no Sonar X1 basta exemplo, o Smart Tool, para sair do modo Split.
posicionar o cursor no local no qual se deseja dividir Isto previne que você corte clips por engano.

DÚVIDA DO LEITOR
Olá, Luciano. o driver ASIO. No menu de áudio (Audio Settings) do
software gravador ou dos instrumentos virtuais apa-
Talvez possa me tirar uma dúvida sobre uma placa recem opções de drivers a serem utilizados. Selecione
que comprei. Sou de Maceió, Alagoas, e adquiri uma ASIO. De qualquer forma, é necessário atualizar este
M-Audio FireWire 610. No entanto, não estou tendo driver através do site da M-Audio e instalá-lo na sua
sucesso usando-a em meu notebook com Windows 7 máquina, senão os instrumentos virtuais ou gravado-
Home instalado. Aparecem ruídos ou o som para por res utilizarão drivers lentos que foram instalados jun-
alguns segundos ou até minutos e depois retorna. tamente com o Windows 7, fornecidos pela Microsoft.
Seria melhor formatar meu PC e passar para o Win-
dows XP ou a versão do Windows 7 Ultimate (que di- Depois que você tiver certeza de que o driver ASIO
zem ser a mais completa) não apresentaria defeitos? está sendo acessado, é necessário regular a latência
para aproximadamente 8 ms (entre 256 e 512 sam-
ples). Com esta configuração, para que o notebook
Caro leitor, não trave ao tocar instrumentos virtuais sampleados
(“pesados”), a CPU deve ser, no mínimo, um Pentium
As causas dos problemas podem ser diversas, mas i3 com 4 GB de memória.
acredito que não seja do seu Windows 7. Primeira-
mente, verifique se o seu software de gravação e de Boa sorte!
execução de instrumentos virtuais está reconhecendo Luciano Alves

No próximo mês, mais detalhes do Tools Module.

Boas gravações e sequenciamentos.

Luciano Alves é tecladista, compositor e autor do livro Fazendo Música no Computador. Fundou, em 2003, a escola de música e
tecnologia CTMLA – Centro de Tecnologia Musical Luciano Alves (www.ctmla.com.br), que dispõe de seis salas de aula e um estúdio.

124 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 125
126 | áudio música e tecnologia
áudio música e tecnologia | 127
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128 | áudio música e tecnologia


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Knob 111 21 3087-7432 www.knob.com.br
Lab.Gruppen (Decomac Pro) 85 11 3333-3174 www.decomac.com.br
Meteoro 17 11 2443-0088 www.amplificadoresmeteoro.com.br
Norton (Vitória Som) 57 11 3333-7375 www.vitoriasom.com.br
Numark (Pró Shows) 13 11 3032-4978 www.proshows.com.br
Omid 113 11 3814-1571 www.omid.com.br
Penn Elcom 65 11 5678-2000 www.penn-elcom.com.br
Phonic (Equipo) 23/25/27/29/31/33 11 2199-2999 www.equipo.com.br/phonic
Pro Class 101 21 2224-9278 www.proclass.com.br
Renkus-Heinz (AMI Music) 2ª capa 11 4702-0177 www.amimusic.com.br
Roland 01 11 3087-7700 www.rolandsystemsgroup.com.br
Shure (Pride) 4ª capa 11 2975-2711 www.shure.com.br
Sonex (OWA) 81 11 4072-8200 www.owa.com.br
Soundcraft (Harman) 07 51 3749-4000 [email protected]
Studio Motion 103 11 3825-6612 www.studiomotion.com.br
Studio R 3ª capa 11 5031-8660 www.studior.com.br
TSI 43 11 2672-3440 www.microfonetsi.com.br
Vibrasom 61 11 4393-7900 www.vibrasom.ind.br

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LUGAR DA VERDADE | Enrico De Paoli

TRABALHANDO
NAS ALTURAS
P
arece que existem momentos específicos em ria é que esse espaço pode ser compartilhado. Ou seja,
que a humanidade avança significativamente no enquanto se está gravando, editando ou afinando, todas
assunto tecnologia. Claro que a evolução é uma as alterações que você faz aparecem lá, do outro lado
constante, porém, às vezes, esse salto é bem nítido. Em do planeta, sem que se preocupe em enviar arquivos
outros, a mudança não chama tanta atenção: apenas pra ninguém. Da mesma forma, sua “pastinha virtual”,
altera lentamente o modo de as pessoas viverem, pen- onde está sua sessão, também é atualizada sempre que
sarem e trabalharem. o outro produtor mexer nela. Parece incrível, né?

Desnecessário dizer que o surgimento da internet foi um Pois então Hoje já existem serviços que possibilitam
desses marcos. Mas, como todo aparecimento de nova isso. Um deles se chama Dropbox. Você se cadastra
tecnologia, a internet surgiu engatinhando, e eu ouso gratuitamente e instala um aplicativo na sua máquina,
dizer que ainda está. E é durante essa “infância” que que pode ser tanto Mac quanto PC. O sistema coloca
surge algo chamado clouds, ou… nuvens. E muito mais uma pasta no seu HD, e ela se comporta exatamen-
do que um “lugarzinho pra você guardar seus arquivos” te como uma pasta que você criaria. Porém, qualquer
ou um disco virtual, o conceito de clouds vai discreta- pasta que você criar dentro dessa outra chamada Dro-
mente mudar o jeito de trabalharmos e até de lidarmos pbox poderá ser compartilhada com alguém. Uma vez
com a internet e com nossos computadores. compartilhada, tudo o que você coloca, tira ou atualiza
nessa pasta compartilhada reflete de forma idêntica no
Obviamente, nem todas as tecnologias surgem com o computador de lá do outro lado do mundo (contanto
áudio em mente, mas elas deixam a gente pegar em- que ambos estejam conectados à internet).
prestado! Como “trabalhar nas nuvens” poderia, por
exemplo, ser útil para nós, da música e do áudio? Bem... Bem, ainda não sei exatamente como um sistema como
Imaginem o seguinte cenário: você está trabalhando o Pro Tools se comportaria trabalhando assim, com uma
em uma música em parceria com outro produtor. Este sessão sendo lida (e atualizada) diretamente da pas-
outro produtor está, digamos, do outro lado do planeta. ta Dropbox, mas, claro, vale o teste. O que importa é
Você mantém a sua sessão num cloud. Tudo o que você que a tecnologia está aí. “Redonda” e otimizada para as
faz nela é automaticamente uploaded para esse espaço nossas necessidades ou não, o fato é que já consegui-
virtual que se chama cloud. A parte bacana dessa histó- mos ver nitidamente como será nosso futuro próximo.

Enrico De Paoli é engenheiro de música. Mixa e masteriza em seu Incrível Mundo Studio e viaja com seu projeto
de palestras e treinamentos Mix Secrets. Créditos vão de Djavan a Ray Charles. Site: www.EnricoDePaoli.com

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