Educação Ambiental
Prof.ª Me. Juliana Conti Viana
Repensando nosso olhar sobre as
relações entre sociedade e natureza
“ Nossas ideias ou conceitos organizam o mundo,
tornando-o inteligível e familiar. São como lentes
que nos fazem ver isso e não aquilo e nos guiam
em meio à enorme complexidade e
imprevisibilidade da vida. Acontece que, quando
usamos óculos por muito tempo, a lente acaba
fazendo parte de nossa visão a ponto de
esquecermos que ela continua lá, entre nós e o
que vemos, entre os olhos e a paisagem.”
Nossos conceitos são como lentes em nossa visão
da realidade. Mas os conceitos não esgotam o
mundo, são apenas modos de recortá-lo,
enquadrá-lo e tentar compreendê-lo.
Mas sempre algo fica de fora ou pode ser recortado
por outro ângulo, apreendido por outro conceito.
“o próprio Magritte escreveu: “Eu coloquei em
frente de uma janela, vista do interior dum
quarto, uma pintura representando exactamente
a parte da paisagem oculta pela própria pintura.
Portanto, a árvore representada na pintura
escondia a árvore localizada por trás dela, fora
do quarto. Ela existia para o espectador, desta
forma, ao mesmo tempo dentro do quarto na
pintura e fora do quarto na paisagem real. Que é
como nós vemos o mundo: nós vê-mo-lo como
existindo fora de nós próprios, mesmo que seja
apenas uma sua representação mental o que nós
sentimos dentro de nós”. (tradução minha duma
citação feita na pág. 706 de Gödel, Escher, Bach, An eternal
Golden Braid, de Douglas R. Hofstadter, citando Suzi Gablik
(presumo que em Magritte (London, 1970), p.184), citando o
próprio René Magritte)” Fonte:
http://imagenscomtexto.blogspot.com.br/2009/08/magritte-
condicao-humana.html René Magritte – Surrealismo
A Condição Humana
Óleo sobre tela1933100 x 81 x 1.6 cm
National Gallery of Art
Washington, EUA
Mister Magoo – personagem de um desenho dos
anos 70: míope e vivia incríveis aventuras devido
aos enganos provocados pela pouca visão. A
graça estava na interpretação que ele dava aos
acontecimentos.
Tal interpretação se dava muito mais por suas
expectativas do que por elementos objetivos das
situações.
“Meio ambiente” – nossa visão
Natureza
Vida biológica
Vida selvagem
Fauna e flora
Logo vem à mente imagens de documentários sobre a vida
selvagem = visão “naturalizada”
Tendência em ver a “natureza como o mundo da ordem
biológica, essencialmente boa, pacificada, equilibrada, estável
em suas relações ecossistêmicas, o qual segue vivendo como
autônomo e independente da interação com o mundo cultural
humano”
Presença humana = problemática e prejudicial para a natureza
Mas essa não é a única forma de pensar
Quais expectativas e valores sócio-históricos estão contidos
nessa construção sobre a natureza?
A visão naturalista baseia-se na percepção da natureza como
“fenômeno estritamente biológico, autônomo, alimentando a
ideia de que há um mundo natural constituído em oposição ao
mundo humano”. Pelo naturalismo, a natureza deveria
permanecer fora do alcance do ser humano. Por isso, há
orientações conservacionistas que pregam a proteção do
ambiente contra as ações humanas, entendidas sempre como
ameaçadoras à integridade da natureza.
Esta é uma maneira de ver
Trocando as lentes
Visão socioambiental
A natureza e os seres humanos (sociedade e ambiente) = interação mútua
Coevolução
Esta visão orienta-se por uma racionalidade complexa e interdisciplinar.
Pensa no meio ambiente não como natureza intocada, mas como um
campo de interações entre a cultura, a sociedade e a base física e
biológica dos processos vitais, no qual todos os termos dessa relação se
modificam dinamicamente e mutuamente
Ser humano pertence à teia de relações da
vida social, natural e cultural – interage com
ela. E as interações nem sempre são nefastas =
podendo ter um aspecto sustentável e às vezes
até aumentar a biodiversidade.
Desenvolvimento Sustentável
Significado de Sustentável: adj. Que se consegue sustentar
(manter); em que há ou pode haver sustentação. Uso
restrito. Que pode ser realizado sem que haja prejuízo
(riscos) ao ambiente.
Desenvolvimento Sustentável: Conciliar o desenvolvimento
com a proteção ao meio ambiente. Obter o crescimento
econômico necessário, garantindo a preservação do meio
ambiente e o desenvolvimento social para o presente e
gerações futuras.
Trocando as lentes
Quando utiliza-se da visão naturalista-conservacionista
o meio ambiente é reduzido a apenas uma de suas
dimensões, desprezando a riqueza da interação
humana com a natureza.
Ao trocar as lentes: natureza = ambiente, lugar onde
ocorrem as interações entre a base física e cultural da
vida no planeta. Adicionando um olhar para a
sociedade e cultura humana.
Ecologia
Surgimento da Ecologia – 1866
Conceito usado pela primeira vez, o biólogo alemão Ernest
Haeckel (difusor das ideias evolucionistas de Charles Darwin).
Definiu ecologia como a ciência das relações dos organismos
com o mundo exterior.
Essa definição desencadeou um movimento de afirmação de
autonomia da Ecologia em relação à Ciência Biológica. E
apenas nos anos finais do séc XIX, a Ecologia alcançou maior
status de autonomia – ainda que sua filiação seja
predominantemente ao campo da Biologia.
Outro conceito central que define o principal objeto dos
estudos ecológicos é o Ecossistema. Surgiu em 1935 (Ecólogo
inglês Arthur Tansley)
Ecologia
Ela abrange muitos outros conceitos importantes, mas de modo
geral, “busca compreender as inter-relações entre os seres vivos,
procurando alcançar níveis cada vez maiores de complexidade
na compreensão da vida e da sua organização no planeta”
“Assim, do estudo de ecossistemas singulares (unidades
botânicas simples, por exemplo), a ecologia caminhou para o
estudo de totalidades mais complexas e inclusivas, como é o
caso das noções de biosfera e ecossistemas e, mais
recentemente da controvertida Hipótese de Gaia”.
James Lowelock e Lynn Margulis (década de 70)
Gaia – conceito mais amplo que o de Biosfera.
Terra = ser vivo. No organismos de Gaia, os seres
humanos são como células de um de seus tecidos.
Gaia – Deusa da mitologia grega - organismo
A abrangente teoria de Leonardo da Vinci
As ações de Leonardo da Vinci sempre estiveram integradas na
concepção de uma teoria abrangente.
Sua obra mais famosa, a Mona Lisa, também está inserida neste
contexto.
Segundo o paleontólogo Stephen Jay Gould, tal obra é a
expressão artística de sua teoria.
A concepção dominante na época era a aristotélica = o mundo
era fomado por 4 elementos básicos – terra, água, ar e fogo. Da
Vinci tentava explicar que, em uma escala temporal, esses
elementos podiam circular pela Terra. O planeta funcionaria como
um organismo vivo.
A paisagem por trás da
Mona Lisa, com seus
meandros de rios e
montanhas, conecta-se
com as dobras das
roupas e os cabelos da
mulher, mostrando a
interligação entre os
processos humanos e
do meio.
A abrangente teoria de Leonardo da Vinci
A Terra funcionaria como um organismo vivo maior, com
características semelhantes aos seres vivos, assim como o
ser humano. Isso sugere a relação entre um macrocosmo
e um microcosmo como ele mesmo descrevia
(comparava as rochas com os nossos ossos, dando
estrutura; comparava nosso sistema sanguíneo e pulmões
com os oceanos, associando o movimento de subir e
descer das marés com os movimentos respiratórios ou ao
comparar nosso sistema de coração e veias com os mares
e rios....)
Na década de 1970, os pesquisadores James Lovelock e Lynn Margulis
desenvolveram a hipótese de Gaia, que dispara um conjunto de
estudos científico voltados para a compreensão de minuciosas
correlações que interligam os processos dos seres vivos às condições
da Terra que propiciam a vida.
Vivemos um delicado equilíbrio que interliga, por exemplo, os produtos
das atividades das bactérias com a concentração de gases como o
gás carbônico, o oxigênio e o nitrogênio na atmosfera; a atividade
biológica das florestas com a regulação da temperatura; o regime de
chuvas com a disponibilidade água para os seres vivos; entre outras
dezenas de relações em rede.
É fato que a atividade humana vem quebrando ciclos, muitas vezes
de forma irrefletida, pode estar alterando irreversivelmente as
condições propícias à vida, há muitos anos compreendidas de forma
sensível pelos pesquisadores citados.
Definições
Espécie
População
Comunidade
Ecossistema
MOVIMENTOS AMBIENTALISTAS: TRAJETÓRIA HISTÓRICA
Ione Góes
Com o crescimento das pressões humanas sobre o meio
ambiente e a interferência direta na qualidade de vida dos
povos, sobretudo a partir da década de 50 do século XX,
cresce um movimento social de abrangência
ambientalista. Os movimentos ambientalistas surgiram da
crescente consciência social de que, em vez de vida e
bem-estar social superiores e apesar de vários benefícios, a
industrialização, baseada na ciência e nas tecnologias
modernas, provoca doenças e desastres ecológicos,
podendo, inclusive, inviabilizar a vida no planeta, pois
degrada e polui o meio ambiente. Ao habitar e utilizar o
ambiente natural, todos os seres humanos o alteraram.
Como conseqüência da crescente legitimação da
temática ambiental diferentes segmentos da sociedade,
incorporaram e reelaboram, em diferentes ritmos e graus,
o ideário ambientalista. De acordo com Viola (1990), este
processo de "ecologização da sociedade" é uma
tendência histórica da sociedade ocidental e nenhum
país estará imune a ele, embora a evolução da
consciência ambiental dependa das particularidades de
cada país.
Dentro deste processo, até a década de 50, as
preocupações ambientais estavam restritas aos meios
científicos, tanto em sua vertente preservacionista
quanto, mais tarde sua vertente conservacionista. As
preocupações estavam, portanto, voltadas para a
preservação das espécies e do meio natural. Enquanto
isso, o questionamento da ordem social e política estava
por conta dos movimentos socialistas e operários.
O movimento preservacionista, fundado por John Muir,
é considerado mais radical, por acreditar que a
interferência humana é essencialmente nociva ao
meio ambiente. Protegendo a natureza contra o
desenvolvimento moderno, industrial e urbano; faz
reverência à natureza, no sentido da apreciação
estética e espiritual da vida selvagem, assegurando a
“intocabilidade” de parques destinados para este fim.
Para ele, os animais, plantas e ecossistemas teriam um
valor em si mesmos, independentemente da utilidade
que pudessem ter para o homem.
Já os conservacionistas, consideram o ser humano
capaz de utilizar destes recursos de forma
controlada, equilibrada e, muitas vezes, mais
eficazmente do que se este permanecesse
“intocado”, como propõe a outra vertente.
Movimento criado por Gifford Pinchot, engenheiro
florestal treinado na Alemanha, ditava que a
conservação deveria basear-se na prevenção de
desperdícios e o uso dos recursos naturais para
benefício da maioria dos cidadãos, incluindo as
gerações futuras.
A partir da década de 60 emergem, com a contra-
cultura, uma série de movimentos sociais trazendo,
não só a crítica ao modelo dominante de produção,
mas também ao modo de vida. Surgem, então, os
movimentos das mulheres, dos negros, dos
homossexuais, dos pacifistas e, entre eles, os
movimentos ecologistas.
Novos segmentos vão, aos poucos, inserindo-se no
movimento ecológico, motivados por diferentes
fatores que identifica, em cada década, um novo
segmento aderindo às preocupações ambientalistas.
Assim, se a década de 50 estas
preocupações estavam restritas aos meios
científicos e na década de 60 surgem os
movimentos sociais, através das ONG'S, a
partir da década de 70 entra em cena o
ecologismo dos políticos preocupados
com os interesses econômicos e as
relações internacionais.
Mais recentemente, na década de 80, principia o
ecologismo dos setores econômicos. Nas décadas
de 70 e 80, os amplos movimentos ecológicos
espalham em todas as regiões do globo. Apesar de
ainda estarem num estágio ideológico embrionário,
suas atuações chegaram a causar grandes
polêmicas e discussões nas comunidades da época,
por exemplo, o surgimento do Greenpeace em
setembro de 1971, quando um grupo de ativistas
saiu do porto de Vancouver, Canadá, em direção
ao Pacífico Norte para protestar contra os testes
nucleares norte-americanos.
Por um grande período de tempo, as questões
ecológicas foram jogadas a segundo plano e
ironicamente tratadas pela mídia como
"inquietações de jovens desocupados" ou na melhor
das hipóteses, "problemas para biólogo resolver".
Com a ampliação dos debates acerca das
questões ambientais, a busca pelas origens dos
problemas ecológicos foi árdua e conflituosa e a
adesão de indivíduos nestes tipos de movimentos
começou a crescer. Na década seguinte, a partir
de um novo contexto econômico internacional e da
globalização da economia, surge o ambientalismo
empresarial.
Tais discussões só tiveram notoriedade, no Brasil, em
meados da década de setenta. Antes deste
momento, e até poucos anos atrás, a degradação
do meio ambiente era apenas uma etapa para se
construir usinas, rodovias dentre outros
empreendimentos impactantes, de pequeno a
grande porte. Apenas na década de oitenta, por
exemplo, é que surgiu grande parte das disposições
ambientais nacionais, graças a pressões oriundas
do movimento ambientalista.
Tanto uma corrente quanto outra contribuiu de
forma inestimável no que se diz respeito à criação
de novas leis, projetos, ações e comportamentos
relativos ao meio ambiente em nosso país. A
criação de entidades, como a Fundação Brasileira
para a Conservação da Natureza (FBCN), de
parques e Unidades de Conservação e surgimento
de iniciativas de gestão de recursos naturais e
reflorestamentos são alguns exemplos. Estas
também deram base para que outras vertentes,
como o ecossocialismo, ecologia profunda e
desenvolvimento sustentável pudessem existir.
(Por Mariana Araguaia.
http://alunosonline.uol.com.br/biologia/movimento-ambientalista.html)
Segundo Gonçalves (1993), o movimento ecológico
emergiu no Brasil na década de 1970, num período de
ditadura militar que abatia de maneira cruel sobre
diversos movimentos como o sindical e o estudantil. As
fontes mais importantes da preocupação ecológica no
Brasil se dão pelo Estado, interessado nos investimentos
estrangeiros que só chegariam caso fossem adotadas
medidas de preservação; pelo movimento social
gaúcho e fluminense que já vinham defendendo teses
ecologistas contra os agrotóxicos e preservação das
águas no Rio Grande do Sul, liderado por José
Lutzemberger, e a preservação das dunas no Rio de
Janeiro; e também, pela contribuição dos exilados
políticos que aqui chegaram em finais da década de 70.
Historicamente a degradação ambiental no Brasil
foi se consolidando, principalmente por causa do
discurso de tecnocratas brasileiros que, na década
de 70, ao participarem de seminários e colóquios
internacionais, abriam as portas do país para as
indústrias de potencial poluidor, justificando querer
acabar com a miséria, a qual seria a principal
poluição. Com isso tentam atrair capitais
estrangeiros para o pais. O país fica desacreditado
internacionalmente ao adotar essa política.
Dessa forma a natureza fica reduzida a uma coleção de
matérias-primas e o homem a um mero fator de produção,
formalizando a sociedade capitalista de produção e de
consumo. Entre os fatores principais destaca-se a escravidão do
negro que serviu de mão-de-obra explorada para as plantações
monocultoras, a devastação crescente da Amazónia expulsando
a ferro e fogo milhares de caboclos e posseiros, agredindo e
extinguindo as comunidades indígenas. "Se o elemento humano
foi depredado e triturado desta forma, o que não dizer do ambi-
ente natural, considerado um bem abundante e barato!" (MINC,
1985, p. 21). Também a interferência do homem nas cadeias
alimentares eliminando espécies de animais e vegetais pelo uso
de produtos químicos, substâncias tóxicas e metais pesados; o
desmatamento das margens dos rios, a poluição das águas e do
ar e o desgaste e empobrecimento do solo foi se intensificando
com o avançar do tempo
A escravidão, o massacre dos povos indígenas, dos
caboclos a devastação da biodiversidade são formas
bárbaras de dominação que ocorreram no passado,
mas que ainda se manifestam nos dias de hoje. Isso
ocorre através do abuso dos trabalhadores, operários
e camponeses, na pobreza e fome crescente da po-
pulação, na poluição industrial e urbana, que, diante
de um processo de exploração dos opressores para
com os oprimidos, acaba com as condições de vida
necessárias à sobrevivência da humanidade e da
natureza.
Algumas vertentes do movimento ambientalista
cumprem o papel de denunciar as barbáries
ocorridas com a natureza e com a humanidade. Em
defesa de uma melhor qualidade de vida lançam-se
a uma batalha constante, na luta pelos direitos da
natureza. Assim, se transformam em militantes em
favor do bem coletivo e da maioria sem vez e sem
voz. Querem libertar os sujeitos do processo de
dominação imposta, promovendo as liberdades. Po-
rém, para outros grupos a proteção da natureza se
dá somente por uma visão antropocêntrica de
proteção, não pelo valor intrínseco da natureza, mas
pelo fato de torná-la cada vez mais útil ao homem,
como uma fonte de recursos e de oferta de produtos
e serviços.
Ver texto “Da utilidade dos animais de Carlos Drummond de Andrade
Os movimentos sociais populares caracterizam-se pela incessante
luta de classe, de buscar conquistas para o povo, pela
solidariedade e a comunhão com o próximo. Vários são os
movimentos sociais que se apresentam: são os operários, os
camponeses, os indígenas, as mulheres, os negros, os
homossexuais, os jovens, etc que se organizam e lutam. Todos
partem de determinadas condições sociais de existência que lhes
dão substância. Porém, os grupos que constituem o movimento
ambientalista, não possuem um corpo ecológico enquanto
condição social, como nos outros movimentos. São mais difusos,
não apreensíveis do mesmo modo que os demais corpos que se
movimentam social e politicamente. Eles propõem um outro modo
de vida, uma outra cultura, chocam-se com valores consagrados
pela tradição e que perpetuam os problemas que deveriam ser
superados. É por este caráter difuso, que apontam para outra
cultura que caracteriza o movimento ambientalista envolvido com
questões das mais diversas. (GONÇALVES, 1993, p. 18-21)
Isso identifica estes movimentos na sua práxis de
resistência e de luta política. A práxis, enquanto
formulação de Marx, supera a dicotomia clássica
ocidental entre teoria e prática, entre sujeito e objeto,
entre trabalho intelectual e braçal, pois pressupõe a
reflexão e a ação como dois momentos necessários do
agir humano. Essa concepção implica necessariamente
o não dogmatismo.'(GONÇALVES, 1993, p. 55).
[...] a problemática ecológica implica outras questões
extremamente complexas. Implica outros valores, o que
por si só coloca questões de ordem cultural, filosófica e
política. Implica um outro conceito de natureza e,
consequentemente, outras formas de relacionamento
entre os seres vivos; com o mundo inorgânico; enfim, dos
homens entre si. (Ibid.,p22)
Para Minc, é função principal do movimento ambientalista "manter a
participação popular no controle e vigilância, permanente sobre o
nosso tesouro vivo, que é a natureza, nosso patrimônio ambiental que
vem sendo dilapidado por interesses econômicos de curto prazo, que
contam com a cumplicidade governamental". (1985, p. 65). É preciso
vigiar e denunciar as ações que são desenvolvidas e que destroem a a
natureza. É necessário conscientizar as pessoas de que são necessárias
mudanças de atitudes e comportamentos, a fim de mantermos a conti-
nuidade da natureza. Os governos mais do que nunca precisam ter
ações favoráveis à natureza e não serem cúmplices do descaso e da
exploração. Além disso, precisamos "lutar pela criação de novas zonas
de reservas ecológicas, pelo aumento da fiscalização, e por programas
de controles que envolvem as comunidades locais – a única vigilância
efetiva é a da população consciente". (Ibid., p. 71). Cada um precisa
desenvolver seu senso crítico, conquistar a sua autonomia, lutar e se
comprometer com a natureza. Ela depende das ações de cada um de
nós, e nesse contexto, pequenas ações podem representar muito para a
diversidade ambiental.
As estratégias de luta dos movimentos am-
bientalistas propõem uma ruptura com as formas
tradicionais de organização e com os canais de
intermediação política. Isso permite abrir novos
espaços para o confronto e a negociação,
relacionados com os conflitos e tomadas de
decisões relativa à apropriação da natureza e à
participação social na gestão ambiental.
Leff aponta numa síntese dos princípios
organizadores dos movimentos ambientalistas.
dentre os quais destaca:
Maior participação nos assuntos políticos e econômicos,
particularmente na autogestão dos recursos ambientais.
Inserção nos movimentos pela democratização do poder
político e da descentralização econômica. Defesa de seus
recursos e seu ambiente, para além das formas tradicionais de
luta por terra, emprego e salário. Busca de novos estilos de vida
e padrões de consumo afastados dos modelos urbanos e
multinacionais. Busca de sua eficácia por meio de novas formas
de organização e luta, longe dos sistemas institucionalizados e
corporativistas do poder político. Organização em torno de
valores qualitativos (qualidade de vida) por cima dos benefícios
que podem derivar da oferta do mercado e do Estado de Bem-
Estar. Crítica à racionalidade económica fundada na lógica do
mercado, da maximização do lucro, da eficiência e produti-
vidade tecnológica e dos aparelhos associados de controle
económico e ideológico. (2000, p. 152).
Desse modo, percebe-se que muitos movimentos ambientalistas
encontram-se centrados na crítica permanente da sociedade
capitalista de produção, que reduz a natureza a mero objeto de
produção. Procuram despertar o interesse dos indivíduos para
lutarem pela transformação social, por tudo aquilo que deve ser
direito de todos, por melhores condições de vida e pelo princípio da
igualdade coletiva. Todos merecem ter as mesmas condições sociais,
ter alimento de cada dia, ser valorizados como seres vivos e não ser
tratado como escravos. Todos os seres vivos merecem ter condições
de vida e precisam ter garantido a sua qualidade de vida.
Segundo Carvalho (1992), os movimentos ambientalistas
contemporâneos são classificados em quatro vertentes:
1- Antropocentrismo tecnocêntrico neoliberal.
trata-se do ambientalismo otimista e acomodado,
que acredita na superação da crise ambiental
através do desenvolvimento da ciência e da
tecnologia. O ambiente é valorizado para o ser
humano, considerando a geração
contemporânea. Possui irrestrita confiança na
tecnologia e nenhuma restrição aos consumidores
ou mercados, pois, o progresso tecnológico asse-
guraria a ultrapassagem de qualquer barreira
estabelecida por limites de suporte do ambiente.
2- Antropocentrismo tecnocêntríco "verde": está
voltado para a economia "verde", ou seja,
direciona-da às necessidades e não para o lucro,
que não agrida o equilíbrio ambiental e que seja
voltada para o bem comum em lugar do
enriquecimento pessoal. Têm como principais
características a sustentabilidade e a justiça
social. Acreditam na necessidade de existência
de limites a serem impostos pela negociação
social, considerando o interesse das futuras
gerações.
3- Ecocentrismo comunalismo: aceitam a hipótese Gaia (a
Terra é Gaia, um ser vivo, e a espécie humana é apenas
uma forma de vida dentre as demais); reconhecem o valor
do ambiente como suporte à vida. Possuem o princípio da
economia do estado estacionário: a escala de desenvolvi-
mento não deve diminuir nem aumentar; aumento
populacional zero; o capital natural deve ser mantido
constante por ser insubstituível. Lutam pela imposição de
padrões ambientais normativos para garantir a qualidade
ambiental às gerações atuais e futuras. Os interesses da
coletividade prevalecem sobre os indivíduos.
4- Ecocentrismo ambientalismo radical: baseia-se
também na hipótese Gaia (sustentam que efeito-
estufa, a diminuição da camada de ozônio e as
chuvas ácidas indicam que a humanidade) á
ultrapassou os limites de sua sustentabilidade). A
escala de desenvolvimento económico deve ser
reduzida, bem como a população: garantem que
isto não levará à diminuição do desenvolvimento
(entendido de forma mais ampla), pois as
preferências sociais e valores comunitários aumen-
tarão o capital moral e cultural. Lutam pela
bioética: direitos morais conferidos a todas as
espécies não-humanas, mesmo abióticas.
Estas vertentes ambientalistas estão muito presentes
atualmente. Os movimentos ambientalistas passaram
por diversas situações desde sua origem até hoje.
Carregam na história os primeiros movimentos
ecológicos, os quais subiam em árvores para evitar
desmatamento e também os que formaram cordões
humanos impedindo a instalação de indústrias
poluidoras. Tudo isso foi essencial para se constituir o
que se tem hoje e, talvez até, muitos erros do passado
é que estão garantindo os acertos e rumos a serem
tomados no presente. Porém, o que se destaca
sempre é a luta e a resistência contra um sistema
opressor que agride a natureza e fere a integridade
do seu humano.
O movimento ambientalista carrega desde a sua
concepção a consciência crítica, solidária e de
classe. Constituiu suas bases na prática, na luta
cotidiana de resistência contra os interesses
econômicos, elites dominantes, grandes
empresários e governantes, que reforçam políticas
excludentes e monopolistas, que mantém no lucro
o seu principal objetivo, superando a vida, os fracos
e oprimidos que não conseguem se defender,
lutando contra a natureza que aparentemente
não tem forças para se opor.
A construção da sociedade fraternas, justa e
verdadeiramente humana dependerá de cada
um de nós. A resistência e a práxis dos movimentos
ambientalistas nos fornecem grandes lições para
constituirmos a nossa militância rumo à edificação
da cidadania. Ser militante em favor da vida,
abraçando a solidariedade e a justiça,
defendendo os interesses da coletividade, o bem-
estar de todos e a dignidade da natureza. É
preciso resgatar o humano entre os humanos, mas
também o humano que se encontra na natureza.