PARECER NEUROPSICOLÓGICO
1. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO:
Nome: Tabla Rayssa de Oliveira
Idade: 31 anos
Data de Nascimento: 30/12/1993
2. DEMANDA:
Em entrevista com a paciente surgiu a preocupação com alguns sintomas
relacionados à questões no seu cotidiano.
3. ANÁLISE:
De acordo com relatos da Tabla, atualmente vem percebendo alguns
esquecimentos, perda de atenção, dificuldade para fazer mais de uma coisa ao mesmo
tempo e perda da noção de tempo quando está focado em algo do seu interesse.
Apresenta desorganização, procrastinação, desânimo e mente agitada.
Seu desempenho na Bateria Psicológica para Avaliação de Atenção foi
considerado abaixo do esperado para a sua faixa etária e escolaridade. No que se refere
especificamente à Atenção Concentrada, a qual indica a capacidade de selecionar
apenas uma fonte de informação diante de vários estímulos distratores em um
determinado tempo, foi considerada Média com aproximadamente 60% de
aproveitamento. A Atenção Dividida que indica a capacidade para procurar dois ou mais
estímulos simultaneamente em um tempo predeterminado e com distratores ao redor foi
considerada Inferior (40%). E sua Atenção Alternada que evidencia a capacidade em
focar seletivamente ora em um estímulo, ora em outro, por um determinado período de
tempo, foi considerada Média Superior (80%).
O desempenho de Tabla ao longo do Teste de Aprendizagem Auditivo-Verbal de
Rey, apesar de apresentar desempenho inferior e médio inferior no início, seu
desempenho não aumentou progressivamente nas etapas seguintes, demonstrando a
interferência da falta de atenção e consequentemente sua dificuldade para memorizar,
levando-a a ter desempenho médio. Nota-se que após o distrator seu desempenho nas
evocações de curto e longo prazo continuou com aproximadamente 75% de
aproveitamento. Conforme há repetição de conteúdo, a paciente pode apresentar mais
facilidade de assimilação.
A aplicação do Teste dos Cinco Dígitos que avalia a velocidade e eficiência do
processamento cognitivo e a atenção focada vemos que a paciente teve desempenho
dentro do esperado, apresentando adequada velocidade de processamento.
Através do Escala de Avaliação das Disfunções Executivas de Barkley, no que se
refere às funções executivas, ou seja, os processos responsáveis por orientar, direcionar
e gerenciar as funções cognitivas, emocionais e comportamentais, a paciente apresentou
aproximadamente entre 75% dos sintomas relacionados ao diagnóstico de Transtorno de
Déficit de Atenção e Hiperatividade. Os fatores mais afetados são o Gerenciamento de
tempo, Organização/Resolução de Problemas, Motivação, Autoativação/Concentração e
Autocontrole.
Tabla apresenta dificuldade para gerenciar seu tempo, planejar e se preparar para
prazos necessitando de estratégias como listas e rotina. Dificuldade para organizar o
pensamento, as ações e a escrita, expressar o que sente e criar soluções para
problemas. No momento apresenta pouca capacidade de se auto motivar, com
dificuldades para tomar atalhos na vida diária e esforçando-se para atingir os objetivos.
Os fatores da Autoativação/Concentração e do Autocontrole, mostram incidência
de episódios de tédio com facilidade e dificuldade para manter o esforço durante suas
atividades, ser facilmente distraída com os próprios pensamentos, apresentar falta de
persistência que também evidenciam comprometimento.
Através da Escala de Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (ETDAH-
AD), foi possível verificar 5 fatores:
Desatenção (percentil 70) e no fator Autorregulação da Atenção, da Motivação e
da Ação (percentil 70), Hiperatividade mental (percentil 50), Impulsividade
(percentil 40) e os Aspectos Emocionais (40).
No fator Desatenção (70%) nota-se dificuldade para se engajar em atividades de
longo prazo que exijam atenção dividida, dificuldade para persistir no esforço, com a
motivação necessária. Dificuldade para reter na mente informações importantes a fim de
guiar as suas ações, necessitando de estratégias e retomadas. O fator Autorregulação da
Atenção, da Motivação e da Ação (70%) nos mostra dificuldade na capacidade de regular
o comportamento no estabelecimento de objetivos, considerando a atenção, a motivação
e a vontade, utilizando-se de previsão de ações para atingir um objetivo, estabelecendo
prioridades e o controle de impulsos, por meio de atitudes integradas e organizadas, onde
seria possível autorregular a atenção, a motivação, a intensidade e o ritmo da ação
mesmo na presença de possíveis obstáculos.
O resultado obtido no fator Hiperatividade (50%) aponta para um comportamento
mental mais agitado e inquieto que está relacionado aos sintomas eventuais de ansiedade
que podem refletir no sono e na sua capacidade de organização mental. Os fatores
Aspectos Emocionais (40) e Impulsividade (40) nos trazem indícios de baixa autoestima,
ansiedade em determinados momentos e algumas dificuldades de inibição e autocontrole,
deixando de manejar adequadamente a frustração, o afeto, a impaciência e raiva, que
podem afetar sua adaptação no contexto familiar e social em alguns momentos.
Especificamente ao aspecto cognitivo, os resultados obtidos através da Escala
Wechsler de Inteligência Abreviada para Adultos indicam QI Verbal e QI de Execução
Médio, levando-nos ao resultado de QI Geral Médio (106). Nos Testes de Raciocínio
Lógico e no Teste Rápido de Inteligência a paciente alcançou 70% de aproveitamento.
Sendo assim concluímos que Tabla apresenta inteligência dentro da média da população
brasileira, com o fator desatenção influenciando negativamente no resultado dos testes.
*Fatores internos e externos podem causar interferência na qualidade dos resultados.
4. CONCLUSÃO:
Após a análise dos dados obtidos através da anamnese e da aplicação dos testes
conclui-se que Tabla apresenta características que vão de encontro com a hipótese
diagnóstica do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) - (CID F90) do
tipo predominantemente desatento, visto que há a prevalência de sintomas de desatenção
e resquícios de sintomas de agitação mental/impulsividade, com prejuízos leves.
*Sintomas de ansiedade podem influenciar na intensidade dos sintomas.
O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é entendido como um
transtorno neurobiológico que afeta o córtex pré-frontal, levando o indivíduo a apresentar
desatenção a detalhes e erros; dificuldade em sustentar atenção; dificuldade com
instruções, regras e prazos; desorganização; evita tarefas de esforço mental que levam
muito tempo, ou não as completa; perda ou esquecimento de objetos; distração, agitação
e impulsividade, fala agitada e demasiada, dificuldade em aguardar sua vez,
interrompendo e se intrometendo nas conversas alheias e dificuldade de atenção quando
abordado diretamente. O fato de não atender as demandas profissionais e,
consequentemente, acumular tarefas podem lhe gerar sintomas de ansiedade e
depressão. Com o aumento da idade, faz-se importante atentar-se ao sentimento de vazio
e esgotamento que podem resultar em sintomas depressivos e ansiosos.
O diagnóstico tardio traz sintomas de TDAH que frequentemente são considerados
“traços de personalidade” que, na verdade sempre estiveram presentes. Adultos com
TDAH apresentam características de maior desatenção e esquecimento com dificuldade
em acompanhar uma conversa, dando a impressão de ter um estilo de vida “caótico”,
dificuldade em manter-se em uma atividade de longa duração, além de não gerenciar o
tempo adequadamente e organizar suas tarefas diárias hierarquicamente. Pode haver
também possíveis oscilações de humor, agitação interna crônica e impulsividade.
Desta forma, consta como importante ressaltar que tais características intrínsecas
da paciente Tabla devem ser respeitadas em todos os âmbitos de sua vida. No que se
refere especificamente às suas atividades laborais, as condições de trabalho podem
afetar seu bem estar e consequentemente seu rendimento, levando à necessidade de
algumas eventuais adaptações, como o uso de duas telas para o melhor aproveitamento
de sua atenção, salas ou ambientes mais silenciosos, uso de fone de ouvido, etc.,
reconhecendo assim a sua individualidade e importância no ambiente de trabalho.
Nota-se como de extrema importância que a paciente ao ver-se prejudicada devido
às características do seu diagnóstico, dê continuidade ao acompanhamento psicológico, a
fim de trabalhar as questões referentes ao seu diagnóstico central, como também as
possíveis comorbidades. O acompanhamento com um Neurologista/Psiquiatra torna-se
imprescindível à medida que a paciente se sente afetada, e para que o acompanhamento
medicamentoso seja reavaliado ao longo do tempo visando mais qualidade de vida.
Curitiba, 23 de Julho de 2025