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Habitus - Vários Textos - MATON, WACQUANT

O conceito de habitus, desenvolvido por Pierre Bourdieu, é uma estrutura relacional que conecta experiências sociais e práticas individuais, sendo fundamental para a análise do funcionamento do mundo social. O autor Karl Maton explora como o habitus é frequentemente mal compreendido e mal aplicado na pesquisa acadêmica, enfatizando sua importância na educação e na construção de objetos de estudo. O habitus é entendido como uma matriz de disposições que molda percepções e ações, refletindo a relação entre o social e o individual.

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Habitus - Vários Textos - MATON, WACQUANT

O conceito de habitus, desenvolvido por Pierre Bourdieu, é uma estrutura relacional que conecta experiências sociais e práticas individuais, sendo fundamental para a análise do funcionamento do mundo social. O autor Karl Maton explora como o habitus é frequentemente mal compreendido e mal aplicado na pesquisa acadêmica, enfatizando sua importância na educação e na construção de objetos de estudo. O habitus é entendido como uma matriz de disposições que molda percepções e ações, refletindo a relação entre o social e o individual.

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Habitus (Karl Maton)

MATON, Karl. Habitus. In: GRENFELL, Michael. Pierre Bourdieu:


Conceitos Fundamentais. Petrópolis: Vozes, 2018, pp.73-94.

- filosofia da prática de Bourdieu[?]


- o conceito de habitus está se tornando parte do léxico de um
conjunto de disciplinas, incluindo a educação.
- esse conceito também tem a intenção de oferecer um modo para
analisar o funcionamento do mundo social através de investigações
empíricas.
- Questão de análise do autor do texto: como o conceito de habitus
passou a ser compreendido e utilizado, e também (o que é mais
frequente) mal compreendido e mal aplicado na pesquisa empírica de
outros acadêmicos.
- o autor 1) começa com a definição de habitus, “explorando seu
papel na superação de dicotomias falsas dos modos de pensar as
práticas sociais”; 2) esboça um pano de fundo da formulação do
conceito por Bourdieu e seu desenvolvimento através de seus
estudos empíricos; 3) Trata do que o habitus pode nos oferecer,
mencionando como o conceito é muitas vezes mal utilizado e como
ele pode e deve ser desenvolvido para melhorar seu potencial
explicativo.
- habitus é um conceito que orienta nossas formas de construção de
objetos de estudo, de enfatizar questões importantes e de oferecer
um modo de pensar essas questões relacionalmente.

O que é habitus?
Formalmente, Bourdieu define habitus como uma propriedade de
atores (sejam indivífuos, grupos ou instituições) que é composta de
uma “estrutura estruturante […] e estruturada (BOURDIEU, 2007:164
[1979]). Ela é “estruturada” pelo nosso passado e circunstâncias
atuais, como a criação na família e as experiências educacionais. Ela
é “estruturante” no sentido de que nosso habitus ajuda a moldar
nossas práticas atuais e futuras. Ela é uma “estrutura” por ser
ordenada sistematicamente, e não aleatória ou sem nenhum padrão.
Essa “estrutura” é composta de um sistema de disposições
que geram percepções, apreciações e práticas (BOURDIEU,
2009:87 [1980: 88-89])
“[Disposição] exprime, em primeiro lugar, o resultado de uma ação
organizadora, apresentando então um sentido muito próximo ao de
palavras tais como estrutura; designa, por outro lado uma maneira de
ser, um estado habitual (em particular do corpo) e, em particular,
uma predisposição, uma tendência, uma propensão ou inclinação”
(BOURDIEU, 1983b: 61n20 [1972ª: 393n39], tradução modificada.
Itálico no original).
Essas disposições ou tendências são duráveis porque perduram ao
longo do tempo, e podem ser transpostas, por serem capazes de se
tornar ativas numa grande variedade de teatros de ação social
(BOURDIEU, 1983ª: 105 [1980:135])
O habitus não age sozinho. As práticas são o resultado do que
Bourdieu chama de “uma dupla relação obscura” ou de “uma relação
inconsciente” entre um habitus e um campo.
Formalmente, Boudieu resume essa relação como a seguinte
equação:
[(habitus)(capital)] + campo = prática
Nossa prática é resultado das relações entre nossas
disposições (habitus) e nossa posição num campo (capital),
dentro do estado atual do jogo nessa arena social (campo)

Pensando na relação proposta por Bourdieu como ferramenta de


análise que pretendo utilizar, qual campo (arena social) estaria sendo
considerado nessa análise? O campo educacional!!!!!!!!

Os espaços sociais que ocupamos são estruturados (como o habitus)


e é a relação entre essas duas estruturas ou conjuntos de princípios
organizadores que gera as práticas.

“De modo simples, o habitus enfoca nossos modos de agir, sentir,


pensar e ser. Ele captura como nós carregamos nossa história dentro
de nós, como trazemos essa história para nossas circunstâncias
atuais e então como fazemos escolhas de agir de certos modos e não
de outros. Esse é um processo contínuo e ativo – nós estamos
envolvidos num processo permanente de fazer a história, mas não
sob condições que criamos completamente. Nossa posição na vida
em qualquer momento dado é o resultado de inúmeros eventos no
passado que moldaram nosso caminho.” Todo esse parágrafo
(iniciado na página 77 e finalizado na 78) é importante reler várias
vezes.
Transcender dicotomias

O habitus liga o social com o individual porque as experiencias do


curso da vida de uma pessoa podem ser únicas em termos de seu
conteúdo particular, mas são compartilhadas em termos de sua
estrutura com outras pessoas da mesma classe social, gênero, etnia,
sexualidade, ocupação, nacionalidade, região, e assim por diante.
Cada um de nós é uma configuração única de forças sociais – mas
essas forças são sociais, de modo que mesmo quando somos
individuais e diferentes, o somos de modo socialmente regulares.
O habitus conceitua a relação entre o objetivo e o subjetivo, ou
externo e interno, ao descrever como esses fatos sociais tornam-se
internalizados. Bourdieu afirma que o habitus é “uma subjetividade
socializada” e “o social incorporado” – em outras palavras, ele é
estrutura internalizada, o objetivo tornado subjetivo.
O habitus junta tanto a estrutura social objetiva quanto as
experiências pessoais subjetivas, e expressa, como diz Bourdieu a
“dialética […] da interiorização da exterioridade e da exteriorização
da interioridade”.

Uma história do habitus

Bourdieu afirma que as teorias anteriores tendiam a focar práticas


regulares, ou hábitos, em vez dos princípios subjacentes e geradores
dessas práticas.
Esse modo “genético” ou “relacional” de pensar escava a superfície
dos fenômenos empíricos para criar hipóteses sobre a existência de
um princípio gerador, o habitus, que é mais do que as práticas que
ele gera – ele pode ser possuído e tem suas próprias propriedades e
tendências.

Habitus em ação
Na universidade, atores de classe média têm maior probabilidade de
se sentirem “em casa”, pois os princípios subjacentes que geram as
práticas no campo universitário – suas “regras do jogo” não escritas –
são homólogos a seus habitus.
Por suas disposições serem incorporadas, o habitus desenvolve um
ímpeto que pode gerar práticas ainda por algum tempo depois das
condições originais que o moldaram terem desaparecido.
Habitus: para além de Bourdieu
Falar de habitus sem campo e afirmar que se analisa o “habitus” sem
analisar o “campo” é, portanto, transformar o habitus em fetiche,
abstraí-lo dos próprios conceitos que lhe dão significado e nos quais
ele funciona.
Qualquer tentativa de explicar a prática utilizando apenas o habitus -
não é bourdieusiana. O habitus é uma estrutura relacional cuja
importância está em suas relações com campos relacionais.
Com o conceito, Bourdieu nos encoraja a adotar um modo de pensar
relacional que vai além das práticas empíricas de superfície para
escavar seus princípios estruturais subjacentes. Dessa forma, o
habitus busca moldar nossos habitus – ele busca ajudar a transformar
nossos modos de enxergar o mundo social.
De acordo com Bourdieu, as práticas são geradas pelo habitus e,
portanto, todas as práticas oferecem evidências das estruturas do
habitus que as gera. A tarefa do pesquisador é analisar as práticas,
de modo a revelar os princípios estruturais
A estrutura do habitus precisa ser capturada através da escavação
das práticas, para apreender sua estrutura relacional como uma de
um conjunto de estruturas possíveis.

Notas para Esclarecer a Noção de Habitus


Vocabulário Bourdieu / Afrânio Mendes Catani .. . [et ai.] . (Orgs .). --
1. ed . -Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017.
Loïc Wacquant
A noção de habitus trabalhada por Bourdieu foi capaz de reintroduzir
na antropologia estruturalista a capacidade inventiva dos agentes,
sem retroceder ao intelectualismo cartesiano que enviesa as
abordagens subjetivistas da conduta social, do behaviorismo ao
interacionismo simbólico, passando pela teoria da ação racional.
As raízes do habitus encontram-se na noção aristotélica de hexis,
elaborada na sua doutrina sobre a virtude, significando um estado
adquirido e firmemente estabelecido do caráter moral que orienta os
nossos sentimentos e desejos numa situação e, como tal, nossa
conduta. Esse termo – hexis – foi traduzido para o latim como habitus
(particípio passado do verbo habere, ter ou possuir)
Foi usado parcimoniosamente por sociólogos da geração clássica
(Durkheim, Mauss, Weber e Veblen)
A noção ressurgiu na fenomenologia (Husserl). Habitus = conduta
mental entre experiencias passadas e ações vindouras.
Pierre Bourdieu – renovação sociológica do conceito. Busca
transcender a oposição entre objetivismo e subjetivismo: o habitus é
uma noção mediadora que ajuda a romper com a dualidade de senso
comum entre indivíduo e sociedade ao captar “a interiorização da
exterioridade e a exteriorização da interioridade”.
O habitus, entendido como um sistema de disposições duráveis e
transponíveis que, integrando todas as experiências passadas,
funciona em cada momento como uma matriz de percepções,
apreciações e ações e torna possível cumprir tarefas infinitamente
diferenciadas, graças à transferência analógica de esquemas”
adquiridos numa prática anterior
O habitus (i) resume não uma aptidão natural mas social que é, por
esta mesma razão, variável através do tempo, do lugar e, sobretudo,
através das distribuições de poder; (ii) é transferível para vários
domínios de prática, o que explica a coerência que se verifica, por
exemplo, entre vários domínios de consumo – na música, desporto,
alimentação e mobília, mas também nas escolhas políticas e
matrimoniais – no interior e entre indivíduos da mesma classe e que
fundamenta os distintos estilos de vida (Bourdieu 1979/1984); (iii) é
durável mas não estático ou eterno: as disposições são socialmente
montadas e podem ser corroídas, contrariadas, ou mesmo
desmanteladas pela exposição a novas forças externas, como
demonstrado, por exemplo, a propósito de situações de migração; (iv)
contudo é dotado de inércia incorporada, na medida em que o habitus
tende a produzir práticas moldadas depois das estruturas sociais que
os geraram, e na medida em que cada uma das suas camadas opera
como um prisma através do qual as últimas experiências são filtradas
e os subsequentes estratos de disposições sobrepostos (daí o peso
desproporcionado dos esquemas implantados na infância); (v)
introduz um desfazimento, e por vezes um hiato, entre as
determinações passadas que o produziram e as determinações atuais
que o interpelam: como “história tornada natureza”, o habitus “é
aquilo que confere às práticas a sua relativa autonomia no que diz
respeito às determinações externas do presente imediato.

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