0% acharam este documento útil (0 voto)
4 visualizações54 páginas

Teoria Da Literatura

O documento aborda a Teoria da Literatura, analisando seu desenvolvimento sócio-histórico e conceitos fundamentais como mímesis, verossimilhança e intertextualidade. Ele explora correntes teóricas que influenciaram o campo, como o formalismo russo e o new criticism, e discute a evolução do conceito de literatura ao longo do tempo. O objetivo é proporcionar uma compreensão aprofundada da literatura através de uma perspectiva teórica.

Enviado por

LO M3STR3
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
Formatos disponíveis
Baixe no formato PDF, TXT ou leia on-line no Scribd
0% acharam este documento útil (0 voto)
4 visualizações54 páginas

Teoria Da Literatura

O documento aborda a Teoria da Literatura, analisando seu desenvolvimento sócio-histórico e conceitos fundamentais como mímesis, verossimilhança e intertextualidade. Ele explora correntes teóricas que influenciaram o campo, como o formalismo russo e o new criticism, e discute a evolução do conceito de literatura ao longo do tempo. O objetivo é proporcionar uma compreensão aprofundada da literatura através de uma perspectiva teórica.

Enviado por

LO M3STR3
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
Formatos disponíveis
Baixe no formato PDF, TXT ou leia on-line no Scribd
Você está na página 1/ 54

Teoria da Literatura

Prof.º Mário Bruno

Descrição

Análise do percurso sócio-histórico do conceito de literatura. O texto


literário: mímesis, verossimilhança e intertextualidade. O campo da
Teoria da Literatura e as principais correntes teóricas que o
influenciaram.

Propósito

Compreender as principais ideias que constituem o campo da Teoria da


Literatura a fim de desenvolver a compreensão de literatura e utilizar os
fundamentos teóricos acerca dos estudos literários.

Preparação

Antes de iniciar o conteúdo deste tema, tenha em mãos um dicionário


de termos literários para entender os termos específicos da área. Na
internet você pode acessar gratuitamente, por exemplo, o E-Dicionário de
Termos Literários, de Carlos Ceia.

Objetivos
Módulo 1

Concepções de literatura
Identificar o percurso histórico que orientou as concepções de
literatura.

Módulo 2

Mímesis, intertextualidade e
verossimilhança
Reconhecer os conceitos de mímesis, intertextualidade e
verossimilhança no texto literário.

Módulo 3

Correntes da Teoria da Literatura


Distinguir o campo da Teoria da Literatura e algumas de suas
correntes.

meeting_room
Introdução
Você certamente estudou na educação básica a língua
portuguesa, além da literatura escrita nessa língua. É possível
que você tenha trabalhado com textos da literatura brasileira,
portuguesa e, quem sabe, até textos literários em português
produzidos em países africanos. Mas, provavelmente, você não
usou um livro sobre Teoria da Literatura ou teve aulas sobre esse
assunto. Neste tema, vamos tratar de literatura, mas de um jeito
diferente daquele com o qual talvez você tenha se acostumado
na escola. A literatura será objeto de nosso estudo desde uma
perspectiva teórica.

Como você verá ao longo dos módulos deste tema, a Teoria da


Literatura é um campo de estudo, uma disciplina teórica, que nos
leva a reflexões sobre o fenômeno literário e nos oferece
ferramentas para ir além do senso comum na leitura, na crítica e
no estudo dos textos literários.

Então, vamos ao desafio de olhar a literatura a partir de novas


perspectivas e compreender como esse campo teórico se
constituiu.

1 - Concepções de literatura
Ao final deste módulo, você será capaz de identificar o percurso histórico
que orientou as concepções de literatura.
O conceito de literatura
A palavra literatura deriva historicamente do termo latino litteratura e
entrou sob formas muito semelhantes em diversas línguas europeias,
por volta do século XV, e nas línguas alemã, russa e portuguesa no
século XVI. Veja no recurso a seguir o que os filósofos Foucault e
Derrida falaram sobre o termo literatura:

Foucault
Foucault (2016) observa que o termo literatura designava, no
século XVII, simplesmente a familiaridade que alguém podia ter
com obras de linguagem.

Derrida
Para Derrida (2014), nem sempre o que denominamos
atualmente de literatura foi considerado assim em outras épocas.

Segundo Derrida, o termo literatura é uma invenção muito recente. Antes


disso, a escrita não era indispensável para a poesia ou para as belas-
letras, tampouco a propriedade autoral ou a assinatura individual.
Além disso, as leis ou as convenções que estabeleciam o que deveria
ser chamado de literatura na modernidade não eram indispensáveis
para que as obras poéticas circulassem. Derrida entende que a poesia
grega ou latina, as obras discursivas não europeias, não pertencem à
literatura no sentido mais estrito do termo, a literatura stricto sensu.

Sim, o conceito de literatura é relativamente moderno e


constitui-se após mais de dois milênios de produção
literária, em virtude de certas circunstâncias histórico-
culturais.

O positivismo do final do século XIX simplificou radicalmente esse


conceito ao aceitar como literatura, segundo a etimologia do vocábulo,
todas as obras manuscritas ou impressas que representassem a
civilização de qualquer época, independentemente de seus elementos
estéticos. Em consciente resistência a esses critérios positivistas de
manuais de história literária, da segunda metade do século XIX às
primeiras décadas do século XX, o formalismo russo, o new criticism
anglo-norte-americano e a estilística reconheceram a necessidade de
prioritariamente estabelecer com rigor critérios para definir o que é
literário.

Vamos saber mais sobre esses conceitos a seguir:

Positivismo expand_more

Sistema filosófico elaborado pelo filósofo francês Auguste


Comte (1798-1857), baseado na ideia de que a cultura e a
sociedade passam por três estados: o teológico, o metafísico e o
positivo. Para Comte, a maturidade e as ciências surgem no
terceiro estágio. A etapa positiva corresponde, então, às ciências
positivas, que deveriam ser a base ou os princípios da
organização científica da sociedade. No positivismo, há uma
valorização da experiência sensível (os fatos “positivos”) como
principal fonte do conhecimento.

Formalismo russo expand_more

Corrente de crítica literária que nasceu na Rússia a partir de


1914, principalmente com a organização do Círculo Linguístico
de Moscou, dedicado aos estudos de poética e de linguística.
Identificava o texto literário como uma forma, interessando-se
pelos elementos textuais formais e recusando aquilo que era
externo ao texto. A crítica formalista procurava no próprio texto,
a partir de sua linguagem, aquilo que o tornaria literário, ou seja,
a literariedade.

New criticism expand_more

A nova crítica se caracterizou por ser uma corrente crítica que


trabalhava minuciosamente os aspectos técnicos ou formais do
texto poético, o que era chamado de close reading (leitura
microscópica). Os chamados “novos críticos” trouxeram a crítica
literária para o ambiente acadêmico das universidades e
defendiam uma leitura do poema marcada pela objetividade e
precisão a partir da autonomia do texto literário, ou seja,
independente do contexto sócio-histórico e da biografia do autor.

Estilística expand_more

Originalmente surgiu como um ramo da ciência da linguagem,


estudando os efeitos produzidos pela linguagem. Pode ser
entendida como uma abordagem ou um estudo linguístico do
texto literário, identificando suas figuras de estilo, estruturas
sintáticas e outros aspectos que ajudam a caracterizar
determinado tipo de texto ou de expressão literária de um autor.

No formalismo russo, o linguista Roman Jakobson (1882-1986), em um


dos seus primeiros estudos, definiu assim literariedade:

O objeto da ciência da literatura não


é a literatura, mas a literariedade,
isto é, o que faz de determinada
obra uma obra literária.

(JAKOBSON apud AGUIAR; SILVA, 1986, p.15)


Não faltaram autores de renome para contestar a possibilidade de uma
definição referencial de literatura. Exemplo disso foram as convicções
manifestadas pelo discípulo do filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein
(1889-1951), o filósofo e escritor norte-americano John Searle.

Nos seus últimos estudos, sobretudo em suas Investigações Filosóficas,


Wittgenstein considerou sem significado perguntas do gênero “o que
é?”. Para ele, essas perguntas nos lançam numa inútil metafísica das
essências, como se pudéssemos isolar expressões do “jogo da
linguagem” de onde foram extraídas.

Ludwig Wittgenstein.

Wittgenstein defende atitudes epistemológicas


(referentes à natureza do conhecimento)
terminantemente antiessencialistas (que não busquem
a essência das coisas); propõe substituir
pseudoproposições por proposições factuais.
No pensamento inglês, em uma linha próxima ao seu antecessor
austríaco, o teórico literário norte-americano Stanley Fish considerou
que literatura é uma categoria convencional, não delimitável mediante
propriedades formais existentes em determinados textos.

Stanley Fish.

Fish entende que as estratégias formais do leitor é que


fazem emergir padrões formais considerados literários
obedecendo a características sócio-históricas e
subjetivas.

A consciência literária nas


concepções clássicas

Platão (428-348 a.C.)


Supostamente, postulados referentes à arte foram retirados de alguns
dos Diálogos do filósofo e matemático da Grécia Antiga. Veja a seguir:
<em>Fedro</em>

No Fedro, um diálogo entre os personagens Sócrates e Fedro,


Platão sugeriu que o poeta deveria ser colocado fora da censura
filosófica, pois a poesia tratava-se de um frenesi divino.

<em>Ion</em>

Em Ion, diálogo que tem como tema a poesia, o poeta também é


considerado um indivíduo cheio de influência recebida de
divindades. O Ion é um rapsodo (recitador de poesias épicas) que
declama versos de outros poetas sem deixar de acrescentar a
sua autoria.

<em>A República</em>

Em A República, diálogo socrático escrito por Platão, no livro II


(diálogo entre Sócrates e Adeimanto), ao referir-se à educação do
cidadão, fala da literatura sem discutir o seu papel; no livro X
(diálogo entre Sócrates e Glaucon), ao considerar como
verdadeira realidade a ideia, toma os objetos constituídos pelos
artesãos como cópia, e os objetos produzidos pelos artistas
como imitação da imitação. (PIRES, 1981)

Horácio (64-8 a.C.)


Filósofo, poeta e satírico romano, foi um grande codificador das ideias
platônicas, herdando a concepção de “literatura” como um instrumento
a serviço da arte de ensinar com deleite (Docere cum delectare). Das
obras de Horácio, a mais extensa sobre literatura é a Epístola aos Pisões,
escrita em hexâmetros dactílicos, dedicada ao Cônsul romano Lúcio
Pisão. (PIRES, 1981)

Hexâmetros dactílicos
Forma métrica ou esquema rítmico usado na época grega antiga. Os
hexâmetros dactílicos também são conhecidos como versos épicos ou
versos heroicos, sendo formados por seis pés (unidades dentro da
métrica).
Aristóteles (384-322 a.C.)
O filósofo grego Aristóteles, na Poética, obra fragmentária, pois uma
parte se perdeu, considera a literatura a arte da palavra. Embora não
tenha utilizado a expressão literatura, Aristóteles procurou descrever o
que nomeamos atualmente de fato literário.

A concepção de literatura de
Hjelmslev a Barthes
Podemos considerar que Prolegômenos a uma Teoria da Linguagem, do
linguista dinamarquês Louis Hjelmslev (1899-1965), foi o primeiro texto
teórico contemporâneo capaz de descrever indiretamente o sistema
semiótico da literatura. Hjelmslev incluiu nos estudos de linguística
aspectos fundamentais para uma teoria da literatura.

Louis Hjelmslev.
Nesse sentido, o linguista dinamarquês introduziu a base de uma teoria
do signo denotativo, que seria retomado por teóricos da literatura como
signo literário, abrangendo os seguintes conceitos:

Significante
Plano da expressão

Significado
Plano do conteúdo ou do sentido

Entre os importantes estudos da literatura, destacaremos o trabalho


pioneiro, diretamente influenciado pela linguística, do escritor,
semiólogo e pensador francês Roland Barthes (1915-1980): O Grau Zero
da Escrita, de 1953. A partir desse estudo, Barthes traçou uma
preocupação que impregnaria todos os seus estudos posteriores: a
consideração da literatura como linguagem e como sistema de signos.

De acordo com Mallac e Ederbach (1997), com Barthes iniciava-se uma


revolução na forma de compreender o conceito de literatura e de
analisar os sistemas narrativos considerados literários:

Em O Grau Zero da Escrita, Barthes questiona certo


conceito de literatura a partir de mitos voltados para a
figura do escritor nas literaturas clássicas ou
tradicionais e propõe novos instrumentais para pensar
conceitualmente o que ele denominou de discurso
literário.

No formalismo russo, a
conceituação da literatura de
Tomachevski a Chklovski
O conceito de literatura sofreu profundas transformações na orientação
neopositiva do formalismo russo. Segundo Aguiar e Silva (1986), eles
abandonaram a avaliação estética de cunho essencialista e metafísico e
todas as problemáticas concentradas nas gêneses biográficas,
psicológicas e históricas das obras literárias. Veja mais sobre o conceito
a seguir:

O neopositivismo, também chamado de positivismo


lógico, caracteriza-se pelo critério da verificabilidade
no conhecimento, ou seja, qualquer enunciado ou
discurso para ser inteligível, ter sentido ou
cientificidade precisa ser verificado levando em conta
tanto a realidade observada quanto o uso da linguagem
a partir de seus atributos lógicos.

Dos formalistas russos, destacamos:

Boris Tomachevski (1890-1957)


Escritor, tradutor e crítico literário. Considerava que havia um fator
construtivo na correlação entre os elementos de uma obra literária e
isso abrangia os diversos procedimentos técnicos-formais utilizados na
obra.

Viktor Chklovski (1893-1984)


Cenógrafo, escritor e crítico literário. Seguindo alguns dos preceitos de
Tomachevski, acentuou que deveríamos conhecer a “tecnologia” literária
utilizada por um autor e isso explicaria como é feita uma obra literária.

Chklovski, no ensaio-manifesto de 1916, A arte como procedimento,


influenciado pelo futurismo, desenvolveu o conceito de estranhamento
(ostranenie). A ideia do estranhamento é oposta à ideia de se explicar
aquilo que é desconhecido pelo que é conhecido.

A arte, incluída a literatura, seria um processo de singularização, de nos


levar ao distanciamento ou estranhamento em relação à maneira como
percebemos o mundo ou a realidade. Talvez tenha sido a noção mais
importante para o formalismo russo. Segundo Kothe (1981), há quem
aproxime esse conceito da noção de estranhamento desenvolvida pelo
dramaturgo e poeta alemão Bertolt Brecht (1898-1956), pois as duas
ideias pensavam no papel que a arte tem de quebrar com a recognição
(reconhecimento) dos objetos, dando uma visão renovada para além do
mero reconhecimento familiar.

Futurismo
Movimento de vanguarda artística e literária que rejeitava as tradições e
representava a violência, as guerras e a dinâmica da vida moderna.

Comentário
O formalismo, abandonando o que ele considerava como extraliterário,
contribuiu para pensar a literatura como um objeto estético com
características específicas a serem estudadas.

Após essas considerações sobre algumas concepções de literatura, leve


em conta que outras correntes teóricas e estudiosos foram além das
especificidades da linguagem literária para definir o que é literatura. Às
vezes, o conceito de literatura ficou atrelado àquilo que uma
comunidade reconhecia como literatura; outras vezes, a literatura foi
definida por determinada tradição acadêmica ou cânone literário. Assim,
podemos dizer que a definição ou concepção de literatura não é matéria
de consenso ou reduzida a uma verdade absoluta.

video_library
O conceito de literatura
No vídeo a seguir, os professores Dallier e Catharina comentam sobre o
conceito de literatura. Vamos assistir!
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Leia o texto a seguir:

Na tradição dos estudos literários, um aspecto fundamental e que


se interpõe logo de início é o conceito de literatura. Desde a
Antiguidade Clássica, vários pensadores se ocuparam da arte das
palavras, o que pode ser confirmado a partir do pensamento e das
obras de Platão, Aristóteles e Horácio. Mas foi a partir da
modernidade que os estudos sobre o que denominamos de
literatura se fizeram de forma metódica e dentro de um campo de
estudo próprio. Entre esses estudos, podemos destacar as escolas
linguísticas ou literárias, como o formalismo russo e a nova crítica,
além da própria influência filosófica do positivismo.

Considerando o texto acima e o que você estudou neste módulo,


analise as afirmativas a seguir.

I. O conceito de literatura como o conhecemos sempre


acompanhou o homem, desde meados do período pré-socrático, ou
seja, antes mesmo dos escritos de Platão.

II. O positivismo considerava como literatura todas as obras


manuscritas que representassem a civilização de qualquer período.

III. O formalismo russo buscou estabelecer critérios rigorosos para


definir o que é literário.

IV. O conceito de literatura está atrelado a circunstâncias histórico-


culturais, podendo ser considerado relativamente moderno.

V. O new criticism não se direcionou às preocupações formalistas


para definir o funcionamento literário.

Estão corretas apenas as afirmativas:

A I, II e III.

B I, II e IV.

C II, III e V.

D II, III e IV.

E II, IV e V.

Parabéns! A alternativa D está correta.


O conceito de literatura é relativamente moderno, não estando
presente da forma como o conhecemos no período pré-socrático. O
new criticism, junto com o formalismo russo, buscou delimitar as
definições do que é literário. Já o positivismo alargou a
compreensão do que vem a ser literatura, considerando todo texto
manuscrito ou impresso que retratasse a cultura ou civilização de
determinada época uma obra literária. Assim, somente estão
corretas as afirmativas II, III e IV.

Questão 2

A respeito do formalismo russo, assinale a alternativa correta.

O movimento priorizava a avaliação das


A problemáticas biográficas, psicológicas e históricas
de cada obra literária a fim de lhes atribuir um valor.

O mais importante conceito desse movimento é o


B “estranhamento”, que defende o papel que a arte
tem de quebrar com a recognição dos objetos.

A análise de cada texto deve ser feita de forma


C concreta, não se atentando a aspectos secundários
como a literariedade.

O formalismo russo não considerava a literatura


D como um objeto estético com particularidades
específicas a serem estudadas.

A obra literária deveria ser estudada a partir de seus


E vínculos com aspectos externos, como o contexto e
o leitor.

Parabéns! A alternativa B está correta.

O movimento formalista russo abandonou todas as questões


relacionadas diretamente com as gêneses biográficas, psicológicas
e históricas. Pensava a literatura como um objeto estético e
considerava a literariedade como objeto de estudo da ciência da
literatura. Os maiores representantes são Chklovski e Tomachevski.
Chklovski desenvolveu o conceito de estranhamento, que implica a
quebra do reconhecimento (recognição) da realidade ou dos
objetos diante da obra de arte. Incluindo a literatura, a arte
promoveria outro olhar e experiência diante da realidade que ela
representa, pois faria isso de forma diferente e distante do próprio
modo como estamos acostumados a olhar ou representar a
realidade.

2 - Mímesis, intertextualidade e verossimilhança


Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer os conceitos de
mímesis, intertextualidade e verossimilhança no texto literário.

Mímesis
Para compreensão do texto literário, o conceito mímesis foi uma peça-
chave desde os primórdios da cultura ocidental. De certo modo,
devemos atribuir a Platão a noção de mímesis. Os entes que existem
neste mundo são cópias de um mundo real, de ideias, mundo separado
deste em que vivemos; foi o que nos ensinou o filósofo de Atenas.
Assim, temos a tríade platônica: a ideia, a cópia e o simulacro.

A mímesis ou a imitação estaria distante do verdadeiro ou da ideia,


oferecendo uma imagem da realidade de “segunda mão” e não uma
imagem da verdadeira realidade. Platão dá o exemplo da cama para
explicar que alguém ao pintar uma cama está três vezes distante da
realidade. Isso porque:


Primeiro, existe a cama como ideia, presente na natureza das coisas e
tendo Deus como autor.


Segundo, existe a cama produzida pelo marceneiro, a cópia feita pelo
artífice a partir da ideia de cama.


Terceiro, temos a cama do pintor, que produz a partir de uma cópia.

O pintor, o poeta ou dramaturgo, ao representarem a realidade, seriam


“imitadores” da aparência e não da verdadeira realidade ou do mundo
real das ideias. Por isso, os poetas, como Homero, não possuindo o
conhecimento real sobre aquilo que imitam, não participariam da
construção da Cidade Ideal, imaginada como justa por Platão. Os
poetas, assim como os pintores, estavam limitados à imitação, que seria
um simulacro da virtude.

Para Platão, é a identidade superior da ideia que funda


a boa pretensão das cópias e funda-a sobre uma
semelhança interna e derivada. Segundo Deleuze
(1982), a cópia é uma imagem dotada de semelhança,
enquanto o simulacro se constitui numa imagem sem
semelhança.

A ideia se impõe às cópias e elas existem à sua semelhança. Porém, do


ponto de vista da literatura e da arte, em geral, a obra de Platão estava
longe de apresentar uma versão única.
Mesmo Platão não tendo uma visão uniforme sobre o papel da
literatura, a relação modelo-cópia, que funda a noção de mímesis, foi
durante muito tempo o parâmetro para as obras consideradas de valor.
Acreditamos que, até o século XVIII, o papel do escritor era seguir o que
já havia sido feito por autores de reconhecido mérito.

As épocas que precederam a nossa pensavam a arte, incluindo a


literatura, a partir da mímesis, ou imitação do que já havia sido
produzido por autores significativos do passado, ou seja, seguiam o
cânone:

A época moderna – esse período


que se inicia no século XVIII e que
talvez chegue agora a seu ocaso – é
a primeira época que exalta a
mudança e a transforma em seu
fundamento.

(PAZ, 1984, p.34)

Em outras palavras, a ideia de literatura como mímesis ou imitação foi o


que prevaleceu até a entrada na modernidade, ou seja, até o século
XVIII. Por outro lado, o professor e teórico da literatura Luiz Costa Lima
afirma que desde Aristóteles esse conceito de mímesis como imitação
já havia sido modificado: “O real legítimo para a narrativa não é o que
apenas reproduz a realidade, mas sim o que pode haver” (LIMA, 1973,
p.54).

Ainda em relação à mímesis, podemos destacar o alcance da teoria da


imitatio nos períodos do Renascimento e do Maneirismo – imitação
próxima versus imitação transformativa; entre imitação fiel e
transformação, veja mais sobre esse assunto na citação a seguir.

Todo labor do escritor renascentista


tem por pedra-de-toque a questão
da imitatio. Qualquer obra de arte
deve ser modelada a partir de outras
obras de reconhecido mérito. Como
tal, a originalidade não é
interpretada como invenção
espontânea, mas como capacidade
de fazer próprios os modelos
instituídos, que é dizer, de os
reorganizar em novas sínteses,
através de um estilo apropriado e
pessoal.

(MARNOTO, 1996, p.49)

No Renascimento, havia um erudito programa literário seguido pelos


escritores para terem suas obras consideradas como significativas. Eis
o programa: Homero, Virgílio, Ovídio, Ariosto, Tasso, Petrarca,
Sannazaro, Pietro Bembo e Garcilaso.

A base neoplatônica dessa concepção é uma arte da repetição e, de


acordo com Marnoto (1996), o seu objetivo não é o de dizer coisas
novas, mas de representar o já dito a partir da recriação de exemplos
recolhidos em função do seu valor modelar.

A exemplo disso, vejamos a seguinte estrofe do poema de Petrarca


dedicado a Laura, que se encontrava doente e poderia perder a vida.

A alma minha gentil que agora parte


Tão cedo deste mundo à outra vida,
Terá certo no céu grata acolhida,
Indo habitar sua mais beata parte.
(PETRARCA, 2014, p. 21)

Francisco Petrarca (1304-1374) foi um poeta e pensador humanista


italiano considerado um dos precursores do Renascimento italiano. É
atribuída a Petrarca a consolidação da forma do soneto em 14 versos.
Em sua obra Cancioneiro, Petrarca canta a mulher amada, chamada
Laura.

Laura e Petrarca.

Vejamos a primeira estrofe de um poema de Luís de Camões dedicado a


uma suposta amada que havia falecido.

Alma minha gentil, que te partiste


Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.

(CAMÕES, 1998, p. 15)

Luís de Camões (1524-1580) foi um poeta português, pertencente ao


classicismo, que cantou os feitos de Portugal na obra-prima Os
Lusíadas, de 1572. Camões também compôs vários poemas, entre
sonetos, elegias, odes e outras formas líricas.

Capa de Os Lusíadas, na edição de 1572.

Argumentos contra a
mímesis como imitação da
realidade
Antoine Compagnon (1999) afirma que, desde os estudos de Saussure e
Sanders Peirce, as disciplinas de estudos literários voltaram as costas
ao papel exterior e referencial da linguagem. Em Saussure, a ideia do
arbitrário do signo implica a autonomia relativa da língua em relação à
realidade (o referente); o significado é diferencial e não referencial.

Em Peirce, a ligação entre signo e objeto foi quebrada. Nos primórdios


da linguística e da semiótica, a relação linguística ocorria entre
representações, não entre palavra e coisa.

Nesse debate, as vozes de Jakobson, Lévi-Strauss e Roland Barthes


também exercem papel importante. Veja mais a seguir:
Ferdinand de Saussure.

Ferdinand de Saussure (1857-1913)

Filósofo e linguista suíço, é considerado o pai da linguística


moderna. Foi professor em universidades na França e na Suíça.
Suas aulas na Universidade de Genebra, entre 1907 e 1911,
conhecidas como Curso de Linguística Geral, são a base da
Linguística como disciplina científica. Sua teoria da linguagem
acabou sendo denominada de estruturalismo.

O estruturalismo linguístico inicia-se com Ferdinand de


Saussure e seu entendimento de que a língua é um sistema
articulado no qual seus elementos se concatenam por meio de
correlações e oposições. Cada elemento tem seu valor a partir
de sua posição no sistema ou na estrutura. Assim, fonemas,
morfemas e sintagmas se combinam em diferentes níveis para
formar a estrutura da língua.

Charles Sanders Peirce.

Charles Sanders Peirce (1839-1914)

Filósofo, linguista, físico e matemático norte-americano, é


considerado um dos fundadores da semiótica moderna.
Semiótica pode ser definida como a ciência ou doutrina formal
dos signos, ou seja, a ciência de toda e qualquer linguagem. O
signo, por sua vez, pode ser definido como uma coisa que
representa outra coisa: seu objeto. Ele só pode funcionar como
signo se carregar esse poder de representar, substituir outra
coisa diferente dele. (SANTAELLA, 1983)
Roman Jakobson.

Roman Jakobson (1896-1982)

Dentro das premissas antirreferenciais, Jakobson se destacou


apresentando os fatores que definem a comunicação e, dentre
as funções linguísticas que ele definiu, a referencial era apenas
uma delas, e dizia que era difícil encontrar uma obra que
preenchesse apenas uma única função.

Claude Lévi-Strauss.

Claude Lévi-Strauss (1908-2009)

Antropólogo e filósofo francês, ainda que tenha nascido em


Bruxelas. Foi criador da antropologia estrutural e viajou pelo
Brasil entre 1935 e 1939, realizando estudos de sociedades
indígenas. Foi professor de Sociologia na USP aos 26 anos de
idade. Em seu antiprograma de teoria estrutural, veio Lévi-
Strauss com uma outra fonte de denegação da mímesis;
baseando-se no estudo dos mitos, deu à narração um papel de
destaque em detrimento à semântica e à mímesis. O
estruturalismo de Lévi-Strauss passou a ter forte influência nos
estudos de teoria literária.
Roland Barthes.

Roland Barthes (1915-1980)

Por fim, é necessário retomar Roland Barthes, que inicialmente


seguiu o modelo estrutural e, excluindo a referência, fez da
linguagem o primado de seus estudos.

A seguir, abordaremos outro problema que trabalhamos nos estudos de


literatura, o da verossimilhança.

Verossimilhança
Podemos dizer que, na Poética de Aristóteles, a noção de mímesis como
imitação é posta de lado. O filósofo traz outro conceito que também
percorrerá a história das problematizações sobre literatura.

Estátua do filósofo Aristóteles.

A arte literária não é uma imitação do real, o


que importa na obra literária é a
verossimilhança.
A concepção aristotélica de verossimilhança é um pouco complexa. De
acordo com o filósofo, o artista age seguindo uma lei de probabilidade
ou de necessidade. Uma impossibilidade provável pode parecer mais
tangível que uma possibilidade real. Veja na citação a seguir mais sobre
a concepção aristotélica.

Em uma obra de arte literária tudo


deve ser provável, verossímil e
necessário. Ela apresenta suas
próprias unidades e perfeições,
possuindo o seu universo de
probabilidades no qual a verdade
pode ser reconhecida e valorizada.

(PIRES, 1981, p. 27)

O verossímil não é necessariamente aquilo que é verdadeiro, mas aquilo


que, na relação imagem, ideia e referente, é portador de uma aparência
de verdade. Aristóteles argumentava que o historiador narra o que
aconteceu, enquanto o poeta conta ou fala dos fatos que poderiam
acontecer (verossímeis), daquilo que é possível no sentido de algo que
convence ou pode persuadir.

A Intertextualidade
A intertextualidade é um dos conceitos mais importantes para os
estudos atuais de literatura.
Mikhail Bakhtin.

O teórico Mikhail Bakhtin considerava o corpus literário como absorção


da réplica a outro texto. Sendo assim, estudou os romances em que ele
reconheceu conter diálogos entre muitas vozes. Para ele, o dialogismo
do romance é uma absorção do carnaval, das festas carnavalescas
oriundas da cultura medieval.

Mikhail Bakhtin (1895-1975) foi um filósofo russo que se dedicou aos


estudos linguísticos e literários. Foi professor de História, Sociologia e
russo. Nos seus estudos sobre a linguagem e o discurso, destaca-se a
contribuição acerca do aspecto dialógico da linguagem ou polifônico
dos textos.

Foi a noção de dialogismo ou polifonia que inspirou o conceito de


intertextualidade desenvolvido pela filósofa, psicanalista e crítica
literária búlgaro-francesa Julia Kristeva, substituindo a noção de
“pessoa-sujeito da escritura” pela ambivalência da escritura, veja mais
sobre esse assunto na citação a seguir.

O princípio do romance, tal como as


formas concretas dessa
transformação que o caracteriza, é
tirado do espaço intertextual. [...] No
seu campo transformacional e
intertextual, só pode ser lido como
polifonia. Não há romance linear;
linear é apenas a narrativa épica.
Todo romance é já, de modo mais
ou menos manifesto, polifônico
(poligráfico).

(KRISTEVA, 1984, p. 189)

Como exemplo de intertextualidade, podemos citar o poema Mar


Português, que se encontra no livro Mensagem, de Fernando Pessoa. Há,
em Mar português, sobretudo na primeira estrofe, um diálogo
intertextual com a alegoria do Velho do Restelo de Os Lusíadas, de Luís
de Camões.

O Velho do Restelo (1904), por Columbano Bordalo Pinheiro no Museu Militar de Lisboa.

Os versos do primeiro movimento se fazem como eco ou decalcagem


direta do discurso camoniano que se inicia no Canto Quarto, nas
estâncias (estrofes) 94, 95 e 96 de Os Lusíadas, veja na citação a seguir.

Ó mar salgado, quanto do teu sal


São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães
choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

(PESSOA, 1999, p. 82)

video_library
Mímesis e verossimilhança
No vídeo a seguir, os professores Dallier e Catharina comentam sobre a
mímesis e verossimilhança. Vamos assistir!
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

(UEL 2019, ADAPTADA)


Leia o texto a seguir:
Os melhores de entre nós, quando escutam Homero ou qualquer
poeta trágico a imitar um herói que está aflito e se espraia numa
extensa tirada cheia de gemidos, ou os que cantam e batem no
peito, sabes que gostamos disso, e que nos entregamos a eles, e os
seguimos, sofrendo com eles, e com toda seriedade elogiamos o
poeta, como sendo bom, por nos ter provocado até o máximo,
essas disposições. [...] Mas quando sobrevém a qualquer de nós
um luto pessoal, reparaste que nos gabamos do contrário, se
formos capazes de nos mantermos tranquilos e de sermos fortes,
entendendo que esta atitude é característica de um homem [...]?
(PLATÃO. A República. 605 d-e. Trad. Maria Helena da Rocha
Pereira. 12. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2010. p.
470).
Considerando o texto-base acima e os conhecimentos sobre
mímesis (imitação) e sobre o pensamento de Platão, assinale a
alternativa correta:

O fato de mostrar as emoções de maneira


exagerada em seus personagens faz de Homero e
A
de autores de tragédia excelentes formadores na
cidade ideal pensada por Platão.

Reagir como os personagens homéricos e trágicos é


digno de elogio, pois Platão considera que a
B
descarga das emoções é benéfica para a formação
ética dos cidadãos.

Poetas como Homero e autores de tragédia


provocam emoções de modo exagerado em quem
C
os lê ou assiste, não sendo bons para a formação
do cidadão na cidade ideal platônica.

A imitação de Homero e dos trágicos das reações


humanas difere da dos pintores, pois, segundo
D
Platão, não estão distantes em graus da essência,
por isso podem fazer parte da cidade justa.

A obra de arte deve produzir no espectador ou no


E
leitor reações intensas e emoções extremas.

Parabéns! A alternativa C está correta.

Os poetas ou dramaturgos não eram bem-vindos na cidade ideal de


Platão porque suas obras constituíam imitação daquilo que seria
cópia do verdadeiro ou da Ideia. Além disso, conforme o texto-base,
Platão entendia que os sentimentos exagerados imitados ou
representados nos poemas ou nas tragédias eram inadequados,
pois, diante das tragédias reais ou dos infortúnios da vida,
deveríamos manter a tranquilidade e demonstrar fortaleza, o que
acaba não acontecendo na obra de Homero e outros poetas.
Questão 2

Para a construção de uma obra literária, o que importa não é a


veracidade da narrativa, mas sim a capacidade de aparentar uma
verdade. O autor, portanto, precisa elaborar um conjunto de imagem
e ideia que disponha de coerência entre si, formando uma unidade.
Para o atributo que nomeia essa concepção, damos o nome de:

A Dialogismo

B Estruturação

C Hermenêutica

D Verossimilhança

E Catarse

Parabéns! A alternativa D está correta.

Em uma obra de arte, tudo precisa ser provável e verossímil. A


verossimilhança é a característica que dá nexo e harmonia para as
ideias apresentadas.
3 - Correntes da Teoria da Literatura
Ao final deste módulo, você será capaz de distinguir o campo da Teoria da
Literatura e algumas de suas correntes.

O campo da Teoria da
Literatura
Trataremos de algumas questões preliminares relacionadas ao campo
da Teoria da Literatura a partir das reflexões e dos estudos do teórico
Antoine Compagnon (2001).

A Teoria da Literatura pode ser considerada um ramo da literatura geral


e comparada, designando a reflexão que se faz sobre as condições da
literatura, da crítica literária e da história literária. Nesse sentido, a Teoria
da Literatura engloba a crítica literária, porém vai além dela: seria a
crítica da crítica literária.

Aqui, vale a pena uma distinção entre a teoria e a prática dos estudos
literários, veja no recurso a seguir.

Teoria da Literatura expand_more

A Teoria da Literatura é um campo novo, ela é moderna, e leva


em conta os estudos literários que tiveram início no século XIX, a
partir do romantismo. Ela é descritiva, analítica e tem como
objeto os discursos sobre literatura, a crítica e a história
literárias, que serão questionados, problematizados e
organizados. A teoria vai se opor ao senso comum, reagirá às
práticas ou crenças que julgar ateóricas ou antiteóricas.

Prática dos estudos literários expand_more

A prática dos estudos literários corresponde, em linhas gerais, à


crítica literária e à história literária. A crítica literária pode ser
entendida como um discurso sobre as obras literárias,
enfatizando a experiência da leitura e descrevendo, interpretando
e avaliando o sentido e o efeito dessas obras sobre os leitores. A
história literária pode ser compreendida como um discurso que
enfatiza os fatores exteriores à experiência da leitura, como
aspectos relacionados à construção ou transmissão das obras.
Podemos dizer que, de algum modo, a crítica literária lida com o
texto e a história literária trata do contexto.

A Teoria da Literatura deve se distinguir da prática dos estudos literários


porque a teoria vai descrever, explicitar e criticar os pressupostos das
práticas. Por isso, afirma-se que a teoria seria a crítica da crítica.

A Teoria da Literatura, embora não seja filosofia da


literatura porque não é especulativa nem abstrata, é
um campo de estudos que tem relação com a filosofia
da literatura e outras áreas do conhecimento.

O campo da Teoria da Literatura dialoga com diferentes saberes ou


conhecimentos, recebendo algumas influências. Entre as principais
influências e correntes no campo da Teoria da Literatura, vamos estudar
a seguir a fenomenologia, a hermenêutica e a teoria da recepção, o
estruturalismo, o pós-estruturalismo, a psicanálise.

A fenomenologia, a
hermenêutica e a teoria da
recepção
De acordo com Terry Eagleton (1983), em 1918, com a Europa em
ruínas, devastada pela pior guerra da história, em meio a turbulentas
lutas ideológicas, o filósofo e matemático alemão Edmund Husserl
(1859-1938) desenvolveu um novo método que objetivava certezas
absolutas num mundo que se desintegrava: a descrição
fenomenológica, conhecida também como teoria intencional da
consciência, estabelecia que não há sujeito sem objeto e nem objeto
sem sujeito. Um estava sempre atado ao outro. Numa época em que os
objetos pareciam estar isolados dos objetivos humanos, com Husserl, a
mente e o mundo foram novamente reunidos.

A fenomenologia estabelecia um mundo cognoscível e a centralidade no


sujeito humano. O mundo passa a ser compreendido como o que
postulamos e apreendemos numa relação conosco. O positivismo da
ciência ameaçava roubar do mundo toda a subjetividade; a
fenomenologia devolvia ao pensamento filosófico uma consciência
transcendental.

A fenomenologia é uma corrente e metodologia


filosófica que estuda e pensa os fenômenos em si,
deixando de lado os condicionamentos externos a fim
de conhecer a essência e o significado dos fenômenos
ou da realidade.

Segundo Krause (2009), como método, a fenomenologia faz a mediação


entre o sujeito e o objeto ou, dizendo de outro modo, entre o eu e a
coisa. Levando em conta a perspectiva que se tem da realidade, é
possível identificar abordagens transcendentais (transcendente como
aquilo que está fora da consciência ou fora “de mim”), existenciais ou
hermenêuticas (interpretativas) na fenomenologia.

Comentário
Na esfera da crítica literária, a fenomenologia exerceu influência sobre
os formalistas russos. Husserl isolava o objeto real para dedicar-se a
conhecê-lo; os formalistas procediam de um modo semelhante.

A Escola de Genebra foi a mais influenciada pelos métodos


fenomenológicos. Essa escola literária que surgiu na Universidade de
Genebra, teve forte atuação nas décadas de 1940 e 1950, sob inspiração
das ideias de Husserl. Foi uma escola que privilegiou o rigor textual em
detrimento dos aspectos biográficos ou históricos do texto. Dela saíram
intelectuais como o crítico literário belga Georges Poulet (1902-1991), o
crítico literário e historiador suíço Jean Starobinski (1920-2019) e o
professor e escritor suíço Emil Staiger (1908-1987).

Na crítica fenomenológica, o texto era reduzido a uma materialização da


consciência do autor e exigia uma leitura imanente (presa à própria
natureza do texto), imune a qualquer coisa fora dele; o contexto
histórico era algo completamente ignorado. O crítico literário, nesse
sentido, deve purgar-se de suas predileções e mergulhar empaticamente
no “mundo” da obra, reproduzindo-a da forma mais exata e imparcial
possível. Tratava-se de um modo de análise acrítico, destituído de
avaliações: é uma transcrição passiva do texto, pura de suas essências
mentais.

Martin Heidegger.
Dentre os discípulos de Husserl, Martin Heidegger era o mais conhecido.
Martin Heidegger (1889-1976) foi um filósofo, escritor e professor
alemão. Foi assistente de Husserl na Universidade de Freiburg, onde
também se tornou professor e, por um breve período, reitor dessa
universidade.

Heidegger, entretanto, rompeu com o seu mestre. Em oposição ao


essencialismo de Husserl, Heidegger parte da reflexão da condição
dada da existência humana. Em Ser e Tempo, a existência é, em primeiro
lugar, sempre o ser-no-mundo, o mundo não é uma existência fora de
nós e nem algo de que possamos sair e confrontar. Também não é algo
desenvolvido em imagens mentais como queria Husserl.

O pensamento essencialista defende a ideia da existência das coisas


em si, deixando de lado o contexto no qual elas existem. Os
essencialistas creem que as qualidades ou os atributos de determinada
coisa revelam-se a si mesmos. Contrariamente a essa ideia, Heidegger
insistia que a essência de um ente deve ser concebida a partir da sua
existência, considerando, por exemplo, seu contexto histórico.

Reflexão
Para Heidegger, o entendimento é radicalmente histórico, mas acaba por
converter o tempo numa entidade abstrata. Entretanto, ele parece não
conseguir historicizar de fato as verdades eternas de Husserl. Sua obra
acaba sendo também uma fuga da história.

A obra de Heidegger, rompendo com Husserl, não nomeou o seu método


de fenomenologia transcendental, mas de fenomenologia hermenêutica
ou existencialismo.

De certo modo, a escola fenomenológica vai ser retomada mais tarde,


na década de 1970, por uma corrente conhecida como estética da
recepção, cujo principal nome é o do teórico alemão Wolfgang Iser
(1926-2007), para ele, ao estudarmos um texto literário, temos que
colocar em circuito pelo menos dois códigos: o social e o literário.

Nesse sentido, o teórico propõe uma


interpretação que leve em consideração os
diferentes códigos que constituem um texto.

Segundo Eagleton (1983), a obra literária mais eficiente para Iser é


aquela que força o leitor a uma nova consciência crítica de seus códigos
e suas expectativas habituais. A estética da recepção é uma escola
literária que surge no final da década de 1960 na Alemanha e, depois,
nos Estados Unidos. Defendia a importância ou centralidade do leitor na
recepção crítica ou na leitura crítica do texto literário. Para essa escola
literária, a obra de arte literária deve ser legitimada pelo leitor, ficando a
atuação do autor e o próprio texto em segundo plano.

O modelo de Iser foi herdado também da Gestalt e é essencialmente


funcionalista: as partes do texto devem adaptar-se coerentemente ao
todo. Gestalt é um termo alemão que significa forma ou configuração e
designa a teoria da forma (gestaltismo), que defende a compreensão
das partes em função do todo.

É bastante conhecida a psicologia da Gestalt, ou


psicologia da forma, que teve início no começo do
século XX, na Alemanha, e trata da percepção a partir
da apreensão do todo, em vez da soma da sensação
das partes.

Embora fosse um teórico voltado especificamente para a recepção do


leitor, Iser se colocava como um crítico dos pluralismos relativos à
leitura, propondo uma leitura equilibrada e autocorretiva.

Dentre os seguidores dessa escola, destacaram-se:

Hans Robert Jauss


Escritor e crítico literário alemão.
Stanley Fish
Teórico americano.

Estruturalismo
O estruturalismo floresceu na década de 1960 como uma tentativa de
aplicar à literatura os métodos e as interpretações delineados pelo
fundador da linguística Ferdinand de Saussure.

Em linhas gerais, o estruturalismo é uma tentativa de


aplicar a teoria linguística a outros objetos e atividades
que não a própria língua.

Dentre os estruturalistas mais praticantes, podemos destacar:

Algirdas Greimas (1917-1992)


Linguista lituano.
Tzvetan Todorov (1939-2017)
Filósofo e liguista búlgaro.

Gérard Genette (1930-2018)


Teórico e crítico literário francês.

Henri Bremond (1856-1933)


Filósofo e teólogo francês.
Roland Barthes (1915-1980)
Escritor, semiólogo e pensador francês.

A contribuição mais importante do estruturalismo foi a de compreender


que o significado não era uma experiência privada nem uma ocorrência
ordenada divinamente, mas o produto de certos sistemas de
significação. Veja mais sobre esse assunto na citação a seguir.

O estruturalismo é o herdeiro
moderno de que a realidade, e a
nossa experiência da realidade, não
são contínuos entre si; nessa
condição de herdeiro, o
estruturalismo ameaça a segurança
ideológica daqueles que desejam ter
o mundo sob seu controle, que ele
tenha um significado evidente e que
lhes mostre tal significado no
espelho imaculado de sua
linguagem.

(EAGLETON, 1983, p. 117)

O estruturalismo rompeu com a crítica literária tradicional, e sua


preocupação com a linguagem foi sempre radical. Dos estudos
estruturalistas no campo da literatura, destacaremos os de Roland
Barthes. Tomando como ponto de partida os primeiros ensaios de
Barthes, vale ressaltar O Grau Zero da Escrita (1953) e Ensaios Críticos
(1964). Veja mais detalhes sobre esses ensaios no recurso a seguir:
O Grau Zero da Escrita expand_more

O Grau Zero da Escrita tratou de modo ostensivo as relações


entre romance e história. Para o autor, o romance caracterizava a
sociedade burguesa com sua aderência ao mito da ordem
universal. A escritura romanesca servia de álibi para uma
sociedade que dependia de uma ordem essencialista para
preservar o seu status quo. Mesmo para os escritores como o
francês Gustave Flaubert (1821-1880), que se situavam contra o
estado burguês, a literatura burguesa continuava tendo um
enorme poder de inserir o romance dentro do seu universal de
valores.

Ensaios Críticos expand_more

Em Ensaios Críticos, Barthes procurou um modelo de


engajamento correto por meio do qual a escritura poderia
interrogar o mundo. A literatura, nesse sentido, rivalizava com a
filosofia. Nesse período, Barthes encontrou no teatro de Brecht o
exemplo do que procurava, pois era progressista, revolucionário e
funcionava como crítica de uma sociedade alienada. Além disso,
Barthes também entrou em contato nessa época com o que ele
considerou a escritura “grau zero”: o poeta e crítico literário
francês Stéphane Mallarmé (1842-1898), o escritor e cineasta
francês Robbe-Grillet (1922-2008) e o escritor, jornalista e
filósofo franco-argelino Albert Camus (1913-1960). Para Barthes,
a escritura “grau zero”, mesmo em seu radicalismo, acabou
sofrendo o que ocorreu com o teatro de Brecht: a sociedade
burguesa a assimilou e fez dela “modismo”.

Destacam-se os últimos estudos de Barthes, sobretudo O prazer do


texto (1973) e Roland Barthes por Roland Barthes (1975), obras que já
foram escritas no limite entre estruturalismo e pós-estruturalismo.
Movimento que critica o estruturalismo cultural e literário a partir dos
anos 1966 e 1967. O pós-estruturalismo caracteriza-se pela crítica a um
modelo de análise do texto literário que seja universal, pois compreende
que todos os textos literários não correspondem a uma estrutura única,
por isso não seria pertinente um único modelo de análise do texto em
face da diversidade textual. Todo texto seria, de certo modo, o seu
próprio modelo ou a sua própria estrutura.
Na conclusão de sua obra, Barthes se dedica a pensar as possibilidades
de um discurso fora do poder, que possa “trapacear” com a linguagem e
introduzi-la numa anarquia. Numa constante luta contra a doxa, como
um fato político, faz-se valer dos estudos da psicanálise lacaniana e dos
estudos filosóficos de Jacques Derrida.

Doxa
Termo grego para crença, opinião ou expectativa de uma comunidade ou
população. Designa, em Barthes, o senso comum, a opinião pública ou o
consenso pequeno-burguês.

O pós-estruturalismo
Nessa corrente, podemos incluir o filósofo franco-argelino Jacques
Derrida (1930-2004), que considerou como metafísico todos os
sistemas que possuíam uma base inatacável e fundamentos
inquestionáveis. Nesse sentido, estabelece confrontos com ditos
sistemas de “oposições binárias” que tiveram, sobretudo, o “homem”
como padrão.

Jacques Derrida.
O seu projeto de trabalho envolvia uma crítica detalhada ao que ele
denominou de fonologocentrismo (unidade entre som e sentido ou
proximidade da voz ao sentido) e ao que chamou de falogocentrismo
(ideia de superioridade masculina). Veja mais sobre esse assunto na
citação a seguir.

A leitura típica de Derrida consiste


em tomar um fragmento
aparentemente periférico de uma
obra – uma nota de rodapé, um
termo ou imagem menor repetido,
uma alusão casual – e nele
trabalhar tenazmente até o ponto
em que ele ameace desmantelar as
oposições que governam o texto
como um todo.

(EAGLETON, 1983, p. 144)

As pesquisas de Derrida foram muito utilizadas no campo da Teoria da


Literatura. Dentre diversos trabalhos relacionados ao teórico, podemos
destacar Derrida e a literatura, de autoria do professor Evando
Nascimento (1999), em que o autor lê (com Derrida) importantes
aspectos da escrita literária, indo da noção de mímesis até complexos
quadros literários envolvendo as obras de Mallarmé e outros escritores.

Atenção!
A importância da contribuição derridiana para a Teoria da Literatura é
imensurável. São inúmeros trabalhos que envolvem a memória, a
escrita, os limites do texto, os atos de linguagem e muito mais.

No pós-estruturalismo, assinalamos os estudos do crítico literário norte-


americano Jonathan Culler, que soube, a partir de importantes textos de
Derrida, estar à frente de uma linha de pesquisa denominada de
desconstrucionismo.

Apoiados em Freud, Heidegger, Nietzsche e outros de igual envergadura,


os pensadores pós-estruturalistas, tendo em mente o caráter pulsional e
imaginário da escrita literária pelo qual se interessavam, procuram
desvelar os abismos que rondam as palavras na prosa e na poesia.

Há outros pós-estruturalistas que influenciaram os estudos de literatura,


entre eles:

Michel Foucault (1926-1984)


Filósofo, historiador e crítico literário francês.

Gilles Deleuze (1925-1995)


Filósofo francês.

A psicanálise
As pesquisas do médico e psicanalista austríaco Sigmund Freud (1856-
1939), desde o seu início, inspiraram literatos e críticos de literatura. A
organização dos impulsos libidinais, o complexo de Édipo, os
narcisismos primário e secundário, tudo isso trouxe inegáveis
contribuições para o campo dos estudos literários.
Sigmund Freud.

Destaca-se o papel que teve o psicanalista francês Jacques Lacan


(1901-1981) e as diferentes formas com que a sua pesquisa foi
retomada no campo da literatura. Pode-se considerar que ele ofereceu
novos modos de pensar a linguagem e a subjetividade; além de a
originalidade de sua obra ressoar constantemente nos trabalhos em
Teoria da Literatura, tanto na fase estruturalista quanto no pós-
estruturalismo. Numa escrita quase lacaniana, diremos que o teórico
francês abriu os “litorais” da literatura diante da psicanálise.
Jacques Lacan.

Lacan influenciou a compreensão das muitas possibilidades de análise


das relações entre os enunciados e o campo da enunciação. A partir da
concepção de que o inconsciente é estruturado como linguagem, o
autor relaciona as leis que regem os processos inconscientes como
homólogas a figuras de linguagem, sendo elas a metáfora e a
metonímia, equivalentes aos processos denominados previamente por
Freud de condensação e deslocamento, que explicaremos no recurso a
seguir.

Condensação expand_more

Relaciona-se à metáfora, na qual dois ou mais conceitos se


condensam e são reduzidos a um conceito unificado, trazendo
um conteúdo manifesto atrelado a um conteúdo latente. É um
elemento de censura, no qual há uma transferência de uma ideia
para outra completamente diferente.

Deslocamento expand_more

Relaciona-se com a metonímia, na qual se emprega um termo no


lugar do outro, substituindo-o para algo aceitável. É uma
tentativa de disfarce.

A psicanálise considera os sonhos como uma tentativa de realizar um


desejo reprimido, comumente relacionado a algum aspecto proibido
pela consciência. Desse modo, o inconsciente elabora formas de
distorcer seu conteúdo para torná-lo aceitável. O trabalho do analista
constitui em compreender o conteúdo oculto dessa forma de
significação.

video_library
Teoria da Literatura e a
contribuição de Roland
Barthes
No vídeo a seguir, os professores Dallier e Catharina comentam sobre o
campo da Teoria da Literatura e a contribuição de Roland Barthes.
Vamos assistir!
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Leia o texto a seguir:

A teoria contrasta com a prática dos estudos literários, isto é, a


crítica e a história literárias, e analisa essa prática, ou melhor, essas
práticas, descreve-as, torna explícitos seus pressupostos, enfim
critica-os (criticar é separar, discriminar). A teoria seria, pois, numa
primeira abordagem, a crítica da crítica, ou a metacrítica (colocam-
se em oposição uma linguagem e a metalinguagem que fala dessa
linguagem: uma linguagem e a gramática que descreve seu
funcionamento). Trata-se de uma consciência crítica (uma crítica da
ideologia literária), uma reflexão literária (uma dobra crítica, uma
self-consciousness, ou uma autorreferencialidade), traços esses
que se referem, na realidade, à modernidade desde Baudelaire e,
sobretudo, desde Mallarmé. (COMPAGNON, A. O demônio da teoria:
literatura e senso comum. Trad. Cleonice P. Barros e Consuelo F.
Santiago. Belo Horizonte: UFMG, 2003, p. 21.)

A partir da leitura do texto e do que você estudou neste módulo,


assinale a alternativa que distingue corretamente o campo da
Teoria da Literatura.

A Teoria da Literatura trata de elementos externos


A ao texto, enquanto a crítica literária trabalha os
elementos internos.

A Teoria da Literatura é uma metacrítica porque


B critica e problematiza a crítica literária e a história
literária.

O campo da Teoria da Literatura se confunde com a


C
filosofia da literatura e a crítica literária.

A prática dos estudos literários equivale à própria


D Teoria da Literatura, por isso se diz que esta é uma
dobra crítica.

A Teoria da Literatura elimina a crítica literária e foca


E
no estudo normativo do texto literário.

Parabéns! A alternativa B está correta.

A Teoria da Literatura é uma dobra crítica ou crítica da crítica


quando consideramos que ela tem como objeto a prática dos
estudos literários, ou seja, a crítica e a história literárias, realizando
reflexões, críticas, problematizações e sistematizações desses
estudos.
Questão 2

Relacione os autores abaixo com as características citadas. Depois,


assinale a opção com a ordem correta.

Husserl — Saussure — Derrida

I. Inspirou uma escola denominada desconstrucionista. Seu método


de leitura consistia em pegar um fragmento de uma obra e analisá-
lo intensamente até ameaçar desmantelar as oposições que
governam o texto como um todo. (_____)

II. Compreendia o significado como o produto de certos sistemas


de significação, pois ele não era uma experiência privada nem uma
ocorrência ordenada divinamente, mas o produto de certos
sistemas de significação. Ligado à origem do estruturalismo.
(_____)

III. Seu método almejava encontrar certezas num mundo pós-guerra


que se desintegrava. Priorizava a centralidade no ser humano e se
opunha à objetividade do positivismo. Considera o sujeito sempre
atado ao objeto. (_____)

A Saussure – Husserl – Derrida

B Husserl – Derrida – Saussure

C Derrida – Husserl – Saussure

D Derrida – Saussure – Husserl

E Saussure – Derrida - Husserl

Parabéns! A alternativa D está correta.

O pós-estruturalista Derrida confrontava os sistemas e estudava os


limites do texto. Influenciou a teoria do desconstrucionismo.
Saussure é o maior representante do estruturalismo, trazendo para
a teoria literária a concepção de signo, significado e significante.
Husserl reuniu novamente os estudos da mente e do mundo,
influenciando uma série de teóricos fenomenologistas e
existencialistas.

Considerações finais
Qualquer tentativa de definir a Teoria da Literatura e a crítica literária em
termos de apenas um método está condenada ao fracasso. Portanto,
são muitos os métodos e, às vezes, eles não possuem aspectos
significativos comuns, como você pôde verificar ao longo dos módulos
deste tema.

De certo modo, a crítica literária é uma não disciplina. E a teoria, mesmo


como reflexão crítica sobre a própria teoria, também é uma não
disciplina.

Na verdade, a crítica literária e a Teoria da Literatura significam apenas


qualquer manifestação sobre o objeto chamado literatura. E a unidade
desse objeto é tão ilusória quanto a unidade do método que pode ser
utilizado. Lembre-se de que, como você pôde perceber já no módulo 1,
nem mesmo o termo literatura desfruta de uma definição ou de um
entendimento consensual entre os diversos teóricos.

Nesse sentido, é importante celebrarmos a pluralidade dos métodos e


dos conceitos relativos à literatura e nos alegrarmos com essa liberdade
em relação a essa tirania de qualquer procedimento exclusivo.

Finalmente, como visto no último módulo, a Teoria da Literatura permite


um diálogo com diferentes áreas do conhecimento ou disciplinas, como
a Linguística, a Filosofia e a Psicanálise, influenciando e sendo
influenciada por diferentes estudos e teorias.

headset
Podcast
Ouça agora os professores Dallier e Catharina retomando o debate
sobre a literatura e a Teoria da Literatura. Vamos ouvir!
Explore +
Complemente seu estudo sobre o campo da Teoria da Literatura lendo o
verbete “Teoria da Literatura”, de Manuel Frias Martins, no E-Dicionário
de Termos Literários.

Você pode se aprofundar no estudo da Teoria da Literatura lendo e


consultando a versão digital do livro Teoria da literatura revisitada, de
Magaly Gonçalves e Zina Bellodi, disponível a partir de busca no Google
Acadêmico.

Referências
AGUIAR E SILVA, V. M. Teoria da literatura. Coimbra: Almedina, 1986.

CAMÕES, L. Sonetos. Rio de Janeiro: Ática, 1998.

COMPAGNON, A. O demônio da teoria. Literatura e senso comum. Belo


Horizonte: UFMG, 1999.

DELEUZE, G. Lógica do Sentido. São Paulo: Perspectiva, 1982.

DERRIDA, J. Essa estranha instituição chamada literatura: uma


entrevista com Jacques Derrida. Belo Horizonte: UFMG, 2014.

EAGLETON, T. Teoria da Literatura: uma introdução. São Paulo: Martins


Fontes, 1983.

FOUCAULT, M. A grande estrangeira: sobre a literatura. Rio de Janeiro:


Autêntica, 2016.

KOTHE, F. R. Literatura e sistemas intersemióticos. São Paulo: Cortes,


1981.
KRAUSE, G. B. G. Fenomenologia. In: CEIA, C. (org.). E-dicionário de
termos literários. Lisboa: Universidade Nova de Lisboa, 2009.

KRISTEVA, J. O texto do romance. Lisboa: Horizonte, 1984.

LIMA, L. C. Estruturalismo e Teoria da Literatura. Petrópolis: Vozes,


1973.

MALLAC, G.; EBERDACH, M. Barthes. São Paulo: Melhoramentos, 1977.

MARNOTO, R. Lírica Camoniana. Estudos diversos. Lisboa: Cosmos,


1996.

NASCIMENTO, E. Derrida e a literatura: notas de literatura e filosofia nos


textos da desconstrução. Rio de Janeiro: Eduff, 1999.

PAZ, O. Signos em rotação. São Paulo: Perspectiva, 1984.

PESSOA, F. Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1999.

PETRARCA, F. Cancioneiro. São Paulo: Ateliê Editorial, 2014.

PIRES, O. Manual de teoria e técnica literária. Rio de Janeiro: Presença,


1981.

SANTAELLA, L. O que é semiótica. São Paulo: Brasiliense, 1983.

Material para download


Clique no botão abaixo para fazer o download do
conteúdo completo em formato PDF.

Download material

O que você achou do conteúdo?

Relatar problema

Você também pode gostar