Revista Brasileira de Marketing
E-ISSN: 2177-5184
[email protected]
Universidade Nove de Julho
Brasil
Domingues Junior, Paulo Lourenço
Trabalho e políticas públicas
Revista Brasileira de Marketing, vol. 7, núm. 1, 2008, pp. 67-73
Universidade Nove de Julho
São Paulo, Brasil
Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=471747517008
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Trabalho e políticas públicas
Cenários da Comunicação
Paulo Lourenço Domingues Junior
Graduado em Administração pela PUC-Santos e em Ciências Sociais pela USP,
Mestre em Administração pela PUC-SP e Doutor em Sociologia pela USP;
Docente do Depto de Administração – UFRRJ.
Juiz de Fora – MG [Brasil]
[email protected]
Neste artigo, evidencia-se a importância da inter-
venção social, por meio da formulação de políticas
públicas, para solucionar a crise da sociedade do
trabalho. Nesse contexto, indicamos algumas al-
ternativas para resolver os problemas do mercado
de trabalho. Tomamos, como exemplo empírico, a
cidade de São Paulo que elaborou, no período de
2001 a 2004, um dos maiores programas sociais de
todo o País por meio de parcerias.
Palavras-chave: Cidadania. Desigualdades sociais.
Políticas públicas. Trabalho.
Cenários da Comunicação, São Paulo, v. 7, n. 1, p. 67-73, 2008. 67
1 Introdução fica, com a diferença de ser ainda mais grave, nos
países da periferia do sistema, como o Brasil.
(OLIVEIR A, 1972; MARTINS, 1997).
Verifica-se, atualmente, um agravamento Se o capitalismo, desde seus primórdios, foi
da chamada exclusão social pelo crescimento excludente, a “nova” exclusão se inicia quando
assustador do desemprego e do subemprego nos começam a existir populações excedentes, que
diversos países. No caso do Brasil, as novas trans- possuem uma forma precária e instável de inser-
formações na esfera do trabalho assumem feições ção no mercado de trabalho1. Dessa forma, o
ainda mais dramáticas, pois é necessário lidar com trabalho é algo cada vez mais raro hoje, e os diag-
a pobreza e o trabalho precário, problemas que nósticos para a “crise” da sociedade do trabalho
se vêm arrastando de longa data (POCHMANN, e seus desdobramentos variam de acordo com
1999). Historicamente, diversas políticas públi- diferentes posturas teóricas e metodológicas.
cas foram desenvolvidas como forma de proteção Para alguns analistas, na nova fase de acumula-
aos trabalhadores, tais como previdência, assis- ção f lexível, apesar de existir ainda uma relação
tência social, qualificação, distribuição de renda de dependência (de interação) entre trabalho
e reinserção no mercado de trabalho. Nos países vivo – constituído pelo trabalhador – e trabalho
desenvolvidos, elas começaram a ser implantadas morto – formado pelas máquinas e equipamen-
com o intuito de atender aos interesses dos traba- tos – estabelecida por Marx, haveria o aumento
lhadores. No Brasil, porém, as políticas públicas cada vez maior do último em detrimento do
voltadas para o mercado de trabalho sempre primeiro, em razão da importância crescente
foram fragmentárias e descontínuas (OLIVEIR A, da tecnologia no processo produtivo. Contudo,
1998). Em São Paulo, na gestão concretizada no haveria ainda a necessidade do trabalho vivo e,
período de 2001-2004, foram implementadas conseqüentemente, de uma centralidade do tra-
políticas sociais universais e integradas, de forma balho (ANTUNES, 1999). Para outros, o processo
que se compusesse um autêntico sistema público de valorização do capital não dependeria mais do
de emprego. Houve a combinação de políticas de trabalho vivo. Em razão disso, o trabalho morto se
distribuição de renda com políticas voltadas para tornaria independente do primeiro e, dessa forma,
a (re) inserção individual e coletiva no mercado o trabalho perderia sua centralidade, tornando
trabalhista, bem como a preocupação com a gera- o trabalhador descartável (OLIVEIR A, 2003).
ção de novos postos de trabalho. Para Castel (2000b), há uma crise de regulação
Dividimos este artigo em tópicos; analisamos, trabalhista, ou seja, diminuíram os trabalhado-
no primeiro, a chamada crise da sociedade do tra- res do lado formal e aumentaram o número de
balho e, no segundo, as políticas sociais voltadas precários, além da existência dos “sobrantes”.
para o mercado trabalhista, especialmente aque- Para outros analistas, a crise do mercado de tra-
las concretizadas no Município de São Paulo. balho é decorrente das más escolhas da política
econômica, do baixo crescimento econômico,
dos avanços tecnológicos (POCHMANN, 2001).
1.1 A crise da sociedade do trabalho Claus Offe (1994) também chama atenção para
a perda da centralidade da categoria trabalho e
A sociedade do trabalho está em crise, pois analisa as repercussões desse fato no mundo dos
falta seu elemento mais importante: o trabalho. atores sociais. Para ele, o trabalho já não seria uma
Em um mundo em que há cada vez mais integração esfera de valor privilegiada e central na formação
das nações, das comunicações e principalmente das identidades. Em decorrência desse debate, as
dos mercados, ou seja, a chamada “globalização”, possíveis “soluções” para a crise da sociedade do
problemas comuns começam a aparecer, entre os trabalho e para a massa de “excluídos” variam.
quais, a questão do desemprego e da pauperiza- Para Castel (2000b), o trabalho ainda é a prin-
ção de grande parte da população. Mesmo nos cipal forma de integração social e de cidadania,
chamados países centrais do capitalismo, parece pois ao trabalho (assalariado) foi conectada uma
haver convívio de duas realidades totalmente dis- série de direitos. Gorz (1997) analisa de forma
tintas, uma delas marcada pelas ilhas de progresso positiva a possibilidade do “fim” desse modelo,
dos países desenvolvidos “NORTE”, e outra, pelo uma vez que o trabalho moderno contém um agir
“atraso” dos países em desenvolvimento “SUL” instrumental muito forte. Para ele, haveria a pos-
(desemprego, miséria etc.). Essa situação se veri- sibilidade de usar melhor o tempo livre; por isso,
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Cenários da Comunicação
propõe diversos trabalhos alternativos, comuni- lho foram desenvolvidas, ou seja, as chamadas
tários ou mesmo a distribuição de renda como employment services, voltadas para o pagamento
alternativa de inclusão social. de benefícios de assistência ao desempregado e
Dessa forma, diversas propostas para conter vinculadas à promoção de sua inserção produ-
o desemprego e o subemprego têm sido conside- tiva, como o oferecimento de cursos de educação
radas. Existem aqueles que acreditam que seja profissional e o estímulo ao auto-emprego, por
possível maior inclusão social por meio do traba- meio de programas para apoiar micro e pequenas
lho; por isso, defendem diferentes possibilidades empresas (VALLE, 1998). Dessa forma, o sistema
de realização de políticas públicas no combate público de emprego era formado por um conjunto
ao fenômeno do desemprego e à nova “exclusão”, de atividades articuladas para auxiliar o desempre-
tais como proposição de medidas voltadas para o gado, tais como a intermediação de mão-de-obra,
crescimento econômico e para o fortalecimento da a formação profissional e a assistência finan-
infra-estrutura como forma de geração de novos ceira. No Brasil, foram desenvolvidas, ao longo
empregos, redução de jornada de trabalho, políti- de várias décadas, diferentes políticas de alocação
cas de qualificação profissional etc. (POCHMANN, de mão-de-obra, a educação profissional e a gera-
2001). Outros reafirmam a importância das polí- ção de emprego e renda. Na década de 1980, foi
ticas de distribuição de renda como forma de instituído o seguro-desemprego, mas havia pouca
responder à crise social (SPOSATI, 1997). Alguns eficiência no seu funcionamento (POCHMANN,
defendem a universalização da renda como forma 1999). Nos anos de 1990, houve importan-
de inclusão social, ou seja, de distribuição de uma tes mudanças no sistema público de emprego,
renda mensal (a chamada renda de cidadania) decorrentes da regulamentação de diferentes dis-
para todos os cidadãos que constituem um país. positivos inseridos na Constituição de 1988. Em
(PARIJS, 1994). 1990, ocorre a implementação, em âmbito fede-
ral, do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT),
que passa a destinar 60% dos seus recursos para
1.2 (Breve) histórico das políticas o Programa de Seguro-Desemprego, que deveria
públicas relacionadas ao trabalho integrar o seguro-desemprego, a qualificação pro-
fissional e a intermediação de emprego. Assim, há
As políticas de emprego, de acordo com um aumento da quantidade de pessoas atendidas
a definição da Organização Internacional do por esses programas, além da melhoria de efici-
Trabalho (OIT), constituem uma intervenção do ência, e passa-se a realizar políticas de geração
Estado necessária para assegurar igualdade de de emprego e renda, visando estimular a oferta
oportunidades, seja para regular o processo de de trabalho nas micro e pequenas empresas e
ajustamento entre oferta e procura no mercado no setor informal (POCHMANN, 1999; VALLE,
de trabalho, seja para melhorar a integração de 1998). Portanto, nos anos 1990, é estabelecida, em
grupos menos favorecidos. Tais políticas variam, âmbito federal, estadual e municipal, uma série de
podendo incluir desde concessão de empregos políticas públicas de geração de emprego e renda,
públicos ou semipúblicos, implantação de agên- tais como microcrédito, apoio ao cooperativismo
cias de empregos, até o subsídio ao auto-emprego, e estímulo ao auto-emprego (OLIVEIR A, 1998).
entre outras. Na década de 1970, houve a cria-
ção do Sistema Nacional de Emprego (Sine), que 1.2.1 As políticas sociais desenvolvidas
intermediava mão-de-obra, isto é, orientava os na cidade de São Paulo
trabalhadores a buscar uma inserção produtiva Com o surgimento de diferentes políticas
no mercado de trabalho. Possuía uma montagem públicas voltadas para o mercado de trabalho,
institucional complexa que envolvia os gover- oriundas da década de 1990, a Prefeitura do
nos federal e estadual, mas caracterizou-se por Município de São Paulo começou a desenvolver,
uma descontinuidade administrativa e de recur- em 2001, uma série de políticas sociais integradas,
sos, o que colaborou para uma baixa eficácia no voltadas à distribuição de renda, ao desemprego
seu funcionamento. Nesse período, fortaleceu-se e à qualificação do trabalhador e que promoviam
também o sistema previdenciário (VALLE, 1998). a sua volta ao mercado de trabalho. Os primeiros
Após os anos 1970, nos países desenvolvidos e nos programas implantados foram os chamados pro-
periféricos, com algum atraso, diversas políticas gramas “redistributivos” – Renda Familiar Mínima,
públicas direcionadas para o mercado de traba- Bolsa Trabalho, Operação Trabalho e Começar de
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Novo. O Renda Familiar Mínima era uma comple- rios. Havia o Programa Central de Crédito Popular
mentação de renda estendida às famílias carentes – São Paulo Confia –, que possibilitava a aquisi-
para que superassem a linha de pobreza e exigia, ção de microcréditos, ou seja, créditos subsidiados
como contrapartida, que os dependentes de 0 a 15 para desenvolver pequenos negócios. Por fim,
anos estivessem matriculados em escolas. O Bolsa havia o Programa de Apoio ao Desenvolvimento
Trabalho era voltado para jovens desempregados, Local, subdividido em dois: o Desenvolvimento
com baixa renda familiar, na faixa etária de 16 a Local, que visava à conexão de cadeias econômi-
20 anos, e procurava garantir, temporariamente, cas e arranjos produtivos, e o São Paulo Inclui, que
uma renda por meio de atividades comunitárias objetivava a alocação de trabalho e a intermediação
e ocupacionais. Esse programa dava acesso a cur- de negócios (POCHMANN, 2004a). Introduzidos
sos pré-vestibulares gratuitos (Bolsa Trabalho prioritariamente nos distritos com maiores índi-
Cursinho) e disponibilizava bolsas em universi- ces de exclusão social em 2001, os programas
dades privadas. Outro desdobramento – o Bolsa alcançaram todos os 96 distritos do Município de
Trabalho Estágio – oferecia estágios em empresas São Paulo, em 2004. Os programas foram implan-
públicas ou estatais. Já o Bolsa Trabalho Emprego tados, primeiro, na periferia e, depois, no centro
possibilitava a experiência de formação com con- da cidade, em anos distintos, com base em indi-
trato de trabalho. Para os dois programas seguintes cadores de pobreza, desigualdade, escolaridade,
(Operação Trabalho e Começar de Novo), era for- desemprego e violência que identificavam as
necida uma renda temporária, combinada com a áreas de maior vulnerabilidade social. Os progra-
educação para o trabalho assalariado e autônomo, mas sociais no seu conjunto atenderam a 492.212
o empreendedorismo e as atividades comunitárias. famílias, entre julho de 2001 (início do programa)
O Operação Trabalho destinava-se a desemprega- e setembro de 2004, representando cerca de 2
dos de longa duração, com baixa renda familiar, milhões de pessoas que foram, direta ou indire-
na faixa etária de 21 a 39 anos; o Começar de tamente, atendidas pelo conjunto dos programas
Novo, a desempregados, com baixa renda fami- sociais. O total de ações de inclusão social chegou
liar, com 40 anos ou mais, e incluía o programa a 1.124.198, uma vez que os participantes dos pro-
Começar de Novo Renda, que possibilitava a capa- gramas sociais puderam inscrever-se em mais de
citação para pequenos negócios, e o Começar de um curso, dada a integração existente entre eles.
Novo Emprego, implantado em 2003, com a fina- Tratou-se do maior conjunto de programas sociais
lidade de realizar a intermediação e a colocação realizado no período, em toda a América Latina
desses trabalhadores no mercado de trabalho (por (POCHMANN, 2004b).
meio de convênio com o São Paulo Inclui), desde No pagamento de benefícios monetários
que tivessem concluído o ensino fundamental. foram gastos 708 milhões de reais. Somando-se os
Garantia também a formação (treinamento), no gastos concretizados em conjunto com o governo
local de trabalho, das pessoas recém-contratadas estadual e federal, foi investido quase 1 bilhão de
(POCHMANN, 2003). reais em programas sociais no Município de São
De uma segunda etapa constituída de progra- Paulo, alcançando cerca de 83,6% das famílias
mas “emancipatórios”, participavam todos aqueles pobres da região. Assim, oito em cada dez paulista-
que passavam pelos “redistributivos”. As famí- nos abaixo da linha da pobreza foram beneficiados
lias beneficiadas pelo Renda Familiar Mínima, (POCHMANN, 2004b).
recebiam conhecimentos básicos, tais como alfa- O impacto do conjunto de programas sociais
betização, economia doméstica e orçamentária, sob o mercado de trabalho paulistano pode ser
saúde e higiene. Os participantes dos demais medido por meio do efeito “inatividade”, ou seja,
programas “redistributivos” podiam escolher um a maior renda das famílias implicou menor pres-
módulo básico de dois meses de formação cidadã são da mão-de-obra secundária no mercado de
(ética, cidadania e cultura política e econômica) e trabalho (crianças, jovens, idosos etc.). Da mesma
o Programa Oportunidade Solidária, que visava à forma, o efeito “rendimento” acarretou a dimi-
capacitação para trabalho assalariado, cooperativo, nuição da concorrência entre trabalhadores de
autônomo e para atividades comunitárias. Esses postos iguais. Por último, o efeito “ocupação”,
participantes também podiam inscrever-se no que se refere ao aumento da renda e, portanto, do
Programa Capacitação Ocupacional, cujo objetivo consumo, ocasionou um aumento da produção e,
era preparar pessoas para o trabalho assalariado, conseqüentemente, do número de empregados.
autônomo e para a função de agentes comunitá- Assim, houve no período 2001-2004 a criação de
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Cenários da Comunicação
quase 250 mil empregos formais no Município pais, muitas vezes, força jovens e mesmo crianças
de São Paulo. Embora não se saiba exatamente a buscarem algum tipo de ocupação para a manu-
a correlação entre o gasto dos programas sociais tenção familiar, abandonando a escola. Assim, ao
e a produção de empregos, é sabido que a trans- colaborarem para o incremento da renda familiar,
ferência de renda eleva o consumo, favorecendo os programas sociais contribuíram para a diminui-
a expansão das atividades econômicas em geral ção da evasão escolar e da repetência, bem como
(especialmente o comércio) e da dinâmica do para o aumento do número de aprovações na capi-
emprego (POCHMANN, 2004b). Contudo, tal paulista (POCHMANN, 2004b).
mesmo ocasionando impactos significativos na É importante ressaltar que a prefeitura estabe-
redução do desemprego, no aumento do número leceu um perfil dos beneficiários no cadastro dos
de empregos e no incremento da renda, conclui-se programas sociais, o Banco do Cidadão. Assim,
que os programas sociais, embora sejam relevan- 74,2% dos beneficiários dos programas sociais
tes, evidentemente não solucionam a questão do eram mulheres, corroborando a tendência de par-
desemprego, mas diminuem seus efeitos perver- ticipação da mulher no mercado de trabalho e
sos. O que aponta obstáculos e limites para as como responsável pelo domicílio, seja auxiliando
políticas sociais municipais concretizadas. Sabe-se nos rendimentos domésticos, seja como provedora
que a questão do desemprego é resultante de vari- familiar. Os portadores de necessidades especiais
áveis complexas que dependem principalmente de eram 4,6% dos beneficiários dos programas. Com
iniciativas e decisões de escopo nacional. Tal fato relação ao estado civil, 55,1% eram solteiros; 36%,
é assumido pela própria Secretaria do Trabalho, casados; 3,4%, separados; 2,4%, divorciados, e
Desenvolvimento e Solidariedade, que reconhece 3,1%, viúvos. Com relação à escolaridade 2,5%
as potencialidades, mas também os limites dos eram analfabetos; 2,6%, alfabetizados; 31,2%
programas sociais desenvolvidos pelo município tinham estudado até a 4ª série do ensino funda-
(POCHMANN, 2004b). mental; 38%, entre a 5ª e a 8ª série do ensino
O impacto da renda ocasionou uma redução fundamental; 25%, ensino médio (completo ou
da pobreza no Município de São Paulo em torno incompleto), e 0,7%, o ensino superior (completo
de 10%. O percentual de famílias pobres decres- ou incompleto) (POCHMANN, 2004b).
ceu de 19,4% para 17,6%. Assim, em torno de Com relação ao trabalho, a quantidade de
188 mil pessoas saíram da condição de pobreza desempregados (incluindo aqueles que faziam
– definida como meio salário mínimo per capita “bicos” eventuais) chegava a 65,6%. Havia ainda
– no Município de São Paulo, como decorrência da uma minoria de assalariados com carteira (8,2%)
passagem dos programas sociais. Destaca-se que a e de assalariados sem carteira (3,4%). Contudo,
diminuição da pobreza foi mais intensa nas perife- ressalte-se que a maior parte dos beneficiários
rias da cidade. Existem muitas possibilidades, mas teve alguma experiência profissional (79,8%); a
há limitações nos programas sociais municipais maioria, no setor de serviços (57,5%), seguida da
realizados. Na falta de maior crescimento econô- passagem pelo industrial (21,3%) e pelo comércio
mico nacional e aumento do número de empregos (17,2%). Do total de beneficiários, 12,7% já haviam
e da renda, as políticas municipais possuem restri- desempenhado alguma atividade por conta pró-
ções evidentes (POCHMANN, 2004b). pria e 74,1% tinham interesse em exercê-la. Com
Os programas tiveram impacto na redução relação à renda familiar mensal, constatou-se que
das desigualdades de gênero em São Paulo. Em 13,1% dos participantes recebiam até 130 reais de
2001 – considerando-se os 50 primeiros distri- rendimento; 36,9%, de 130 a 260 reais; 42,3%, de
tos da cidade atendidos pelos programas sociais 260 a 520 reais, e 7,1% tinham renda superior a
–, a renda média das mulheres era de 530 reais, 520 reais. A renda média mensal dos participantes
e a dos homens, 830 reais, ou seja, a renda femi- era de 295,72 reais (POCHMANN, 2004b).
nina equivalia a 63,8% da masculina. Em 2003,
o rendimento feminino era de 558 reais contra
851 reais do masculino, ou seja, 65,6% do rendi-
mento masculino. Assim, a diferença entre a renda
do trabalho masculino e feminino decresceu 5%
2 Considerações finais
(POCHMANN, 2004b). O mundo do trabalho apresenta mudanças
A educação do município sofreu o impacto dos drásticas e complexas neste começo de século.
programas sociais. É sabido que o desemprego dos Mesmo nos chamados países desenvolvidos, um
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número considerável de operários se encontra fora
do mercado formal de trabalho, permanecendo
Nota
em empregos precários ou mesmo desempregados. 1 A categoria “exclusão” é alvo de muitas polêmicas. É
Nos países periféricos do sistema capitalista, como criticada por diferentes matrizes, seja pelo viés mar-
o Brasil, as conseqüências dessas transformações xista de Martins (1997), que afirma que esta categoria
não é explicativa, uma vez que no capitalismo há uma
são ainda mais dramáticas. Para atenuar os gra- imensa massa de pessoas que esta sempre de alguma
ves problemas decorrentes dessas transformações, forma incluída no mercado, fazendo trabalhos precá-
diversas políticas públicas são elaboradas tanto rios, auxiliando a reprodução do capital e, portanto, a
produção e a circulação de bens e serviços. Desta for-
nos países desenvolvidos quanto nos periféricos,
ma, seria necessário discutir as formas dessa inclusão
com a finalidade de reinserir os excluídos no mer- social, uma vez que, pelo menos no mercado, todos
cado de trabalho formal, garantindo seus direitos. são de algum modo, incluídos. Já Castel (2000a) afir-
Tais políticas visam à redistribuição de renda, à ma, basicamente, que a noção de exclusão naturaliza
a questão social, não é sua explicação, ao mascarar os
geração de novos postos de trabalho – o desen- processos que levam às situações de empobrecimento.
volvimento econômico – bem como à preparação Sobre a polêmica e as possibilidades da construção da
do trabalhador para que encontre alternativas categoria “exclusão”. (OLIVEIRA, 1997).
como o auto-emprego e o trabalho autônomo, ou
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recebido em 8 ago. 2007 / aprovado em 30 abr. 2008
Para referenciar este texto:
DOMINGUES JUNIOR, P. L. Trabalho e políticas
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