UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO – UFMA
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO
BÁSICA – PAFOR EQUIDADE
REMILLY FERREIRA MARQUES
RELATO DE EXPERIÊNCIA:
VIVÊNCIA NO ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO (AEE)
SANTA INÊS/MA
2025
RELATO DE EXPERIÊNCIA: VIVÊNCIA NO ATENDIMENTO EDUCACIONAL
ESPECIALIZADO (AEE)
INTRODUÇÃO
A disciplina Ludicidade e Linguagem foi apresentada a turma de Educação Especial e
Inclusiva da Universidade Federal do Maranhão– UFMA, pela professora Lucélia
Caroline Ferreira Brandão.
O aprendizado dentro da disciplina foi muito significativa, a abordagem da professora
destacou o valor do brincar como ferramenta de mediação no processo de ensino e
aprendizagem e assim a teórica e prática proporcionou uma compreensão mais ampla
do papel da linguagem simbólica, dos jogos e das atividades lúdicas como
instrumentos facilitadores da construção do conhecimento, especialmente com
crianças com transtornos do neurodesenvolvimento.
Por conseguinte, o presente trabalho traz o relato das experiências obtidas, durante a
vivência dentro da sala de atendimento educacional especializado (AEE). Durante a
disciplina, tivemos a oportunidade de participar de uma oficina de confecção de
recursos pedagógicos, esse momento foi fundamental para pensar na acessibilidade e
funcionalidade do material dentro da realidade escolar. A criação de jogos, pranchas
visuais e atividades adaptadas e foi feita com intencionalidade, considerando as
necessidades específicas de cada aluno.
O ponto alto dessa experiência foi poder aplicar os recursos confeccionados em
contextos reais de atendimento, observando como estratégias simples, mas
cuidadosamente planejadas, promoveram avanços significativos nas interações, na
atenção e na autonomia dos alunos. A prática reafirmou que o lúdico, quando bem
orientado, não é apenas recreação, mas um potente caminho de aprendizagem e
inclusão.
1- DESENVOLVIMENTO
Nome da profissional responsável pela sala de (AEE): Gilmara Moraes de Paula
Data do atendimento: Dias 01, 02,03 de julho de 2025
Escola: Pré – Escola Antônio José
Turno: Vespertino
Número de alunos atendidos: 2
1.1 OBJETIVOS DO ATENDIMENTO
• Estimular habilidades cognitivas, sociais e comunicacionais de forma
adaptada.
• Promover maior autonomia dos alunos no ambiente escolar.
• Desenvolver estratégias para aplicação dos jogos para o ensino e
inclusão.
• Trabalhar a autorregulação emocional e comportamental.
1.2 IDENTIFICAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES
Aluno 1: Marcos Vinicius dos Santos Andrade
• Idade: 5 anos
• Diagnóstico: Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade
(TDAH) e Transtorno do Espectro Autista (TEA)
• Observações iniciais: Apresenta dificuldade de concentração,
impulsividade, necessidade de mediação frequente, comportamento repetitivo e atraso
na fala.
Durante os atendimentos, o aluno demonstrou interesse pela atividade de pareamento
de cores, e a atividade de quebra cabeça com peças coloridas e atividades de sequência
lógica. Foi necessário redirecionamento frequente para manter o foco e concluir as
tarefas. Trabalhamos com:
• Atividades de atenção, seguindo a sequência logica do jogo de cartas
• Uso de cronômetro visual para organização do tempo usando o jogo da
memória e quebra cabeça.
• Exercícios com pausa para movimento (atividades físicas leves, para
levantar-se, dançar e se movimentar).
• Roda de conversa para estimular a escuta e à espera da vez.
O aluno respondeu positivamente a reforços positivos e regras visuais, apresentando
avanços na permanência na atividade.
Aluno 2: Mariana Lima de Sousa
• Idade: 5 anos
• Diagnóstico: Transtorno do Espectro Autista (TEA)
• Observações iniciais: Comunicação verbal restrita, dificuldade em
interações sociais, resistência a mudanças de rotina e bom desempenho em atividades
de montagem.
A aluna apresentou maior resistência no início das atividades, preferindo o isolamento.
Com o tempo, aderiu melhor quando propostas envolviam imagens e rotina
estruturada. Foram desenvolvidas:
• Atividades com figuras do jogo da memória, para compreensão de
emoções.
• Encaixes e quebra-cabeças para coordenação e concentração.
• Atividades em dupla para trabalhar interação social com mediação.
A aluna apresentou avanços na tolerância à presença de terceiros na sala, porem foi se
adaptando aos poucos e conseguiu desenvolver todas as atividades proposta de forma
correta e rápida.
2. AVALIAÇÃO DA VIVÊNCIA
O atendimento de alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e Transtorno do
Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) demanda não apenas conhecimento
técnico, mas também sensibilidade e compreensão sobre o papel da mediação no
processo de ensino-aprendizagem. A vivência com dois alunos, um com TDAH e TEA
e outro apenas com TEA, evidenciou a importância de práticas pedagógicas
fundamentadas em teorias que valorizam o desenvolvimento integral da criança.
Autores como Vygotsky, Kishimoto e Luckesi contribuem significativamente para essa
compreensão.
Vygotsky, ao tratar da mediação e da zona de desenvolvimento proximal (ZDP),
destaca que o aprendizado acontece por meio da interação social e que o papel do
educador é essencial para promover avanços cognitivos. Na vivência relatada, isso se
tornou evidente no momento em que o aluno com TDAH e TEA, mesmo com
dificuldades de atenção e impulsividade, conseguiu participar ativamente das
atividades quando mediado com estratégias visuais e organizadores temporais. A
mediação contínua, segundo Vygotsky, permite que a criança realize tarefas
inicialmente inacessíveis de forma autônoma, uma vez que há um adulto ou colega
mais experiente que a guia nesse processo.
Na mesma linha, a aluna com TEA demonstrou avanços importantes quando inserida
em atividades estruturadas e com apoio visual, como o uso das cartas do jogo de
memória, pode reproduzir e histórias e expressar emoções. Essa abordagem dialoga
diretamente com a concepção de Kishimoto, que defende o brincar como instrumento
pedagógico fundamental para o desenvolvimento da criança. Para Kishimoto (1994), o
jogo e as atividades lúdicas permitem que a criança se expresse, organize suas
emoções e aprenda a lidar com regras e limites. Nas atividades realizadas, jogos de
sequência, quebra-cabeças e interações com o professor, serviram como ferramentas
de desenvolvimento da linguagem, da atenção e da sociabilidade, respeitando os
tempos e os interesses individuais.
Complementando esse olhar, Luckesi (2001) propõe uma reflexão sobre a avaliação
como um processo formativo e humanizador, que deve considerar o contexto e a
singularidade de cada aluno. No atendimento dos dois alunos, ficou evidente que
avaliar o progresso não significa apenas medir desempenho acadêmico, mas sim
observar conquistas em aspectos como permanência nas atividades, melhoria na
comunicação e aceitação de novos desafios. Avaliar, nesse sentido, é reconhecer que
cada avanço, por menor que pareça, representa uma superação significativa para
crianças com transtornos do neurodesenvolvimento.
Essa vivência reforça a necessidade de uma prática pedagógica intencional, planejada
e acolhedora, que vá além da simples execução de tarefas. O trabalho com esses
alunos mostrou que a aprendizagem não ocorre de forma linear, mas sim como
resultado de interações ricas e significativas entre o sujeito, o outro e o meio. A escuta
ativa, o uso de recursos adaptados e o respeito ao ritmo de cada um foram
determinantes para o sucesso das intervenções.
Em síntese, a experiência com os dois alunos demonstrou que o atendimento
educacional especializado, quando fundamentado em teorias sólidas e realizado com
empatia e intencionalidade, pode promover não apenas o desenvolvimento cognitivo,
mas também o fortalecimento da autoestima e da autonomia da criança. Vygotsky,
Kishimoto e Luckesi nos ensinam que educar é, acima de tudo, acreditar no potencial
de cada ser humano.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O atendimento possibilitou observar o progresso individual de cada criança
respeitando suas singularidades. O aluno com TDAH e TEA demonstrou mais
dificuldade em manter o foco e controlar impulsos, exigindo estratégias mais
dinâmicas e interativas. Já a aluna com TEA respondeu melhor a uma rotina previsível
e ao uso de recursos visuais e estruturados.
Ambos os alunos se beneficiaram da mediação constante, do ambiente acolhedor e das
adaptações pedagógicas. Houve progresso no engajamento, na interação e na aceitação
das propostas apresentadas.
Portanto pude concluir que, o trabalho com crianças com transtornos do
neurodesenvolvimento exige planejamento, paciência e flexibilidade. A vivência com
esses dois alunos reforça a importância do atendimento individualizado, da escuta
atenta e do uso de estratégias lúdicas, visuais e funcionais para promover
aprendizagens significativas.
REFERÊNCIAS
KISHIMOTO, Tizuko Morchida. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. São Paulo:
Cortez, 2001.
LUCKESI, C. Ludicidade e formação do educador. Revista Entreideias: educação, cultura
e sociedade, [S. l.], v. 3, n. 2, 2014. DOI: 10.9771/2317-1219rf.v3i2.9168. Disponível em:
https://periodicos.ufba.br/index.php/entreideias/article/view/9168. Acesso em: 3 jul. 2025.
NEGRINE, Airton da Silva. CONCEPÇÃO DO JOGO EM VYGOTSKY: UMA
PERSPECTIVA PSICOPEDAGÓGICA. Movimento. Porto Alegre. vol. 2, n. 2 (jun.
1995), p. 6-23, 1995.