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Memorial - Adpf #320

O Conselho Federal da OAB apresenta um parecer jurídico como amicus curiae na ADPF nº 320, defendendo a responsabilização de autores de crimes de lesa-humanidade durante o regime militar brasileiro, argumentando que a Lei da Anistia não se aplica a crimes permanentes como a ocultação de cadáver. O documento enfatiza a necessidade de respeitar os direitos humanos e a dignidade da pessoa humana, conforme a Constituição e tratados internacionais. A OAB busca reafirmar a centralidade da verdade, memória e reparação para as vítimas de violações de direitos humanos.

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Julia almeida
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Memorial - Adpf #320

O Conselho Federal da OAB apresenta um parecer jurídico como amicus curiae na ADPF nº 320, defendendo a responsabilização de autores de crimes de lesa-humanidade durante o regime militar brasileiro, argumentando que a Lei da Anistia não se aplica a crimes permanentes como a ocultação de cadáver. O documento enfatiza a necessidade de respeitar os direitos humanos e a dignidade da pessoa humana, conforme a Constituição e tratados internacionais. A OAB busca reafirmar a centralidade da verdade, memória e reparação para as vítimas de violações de direitos humanos.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO FACULDADE

NACIONAL DE DIREITO

ELETIVA LITÍGIO ESTRATÉGICO EM MATÉRIA CONSTITUCIONAL

DOCENTE: CAROLINA CYRILLO

MEMORIAL DE PARECER JURÍDICO ATUANDO COMO AMICUS CURIAE


PELA A ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL (OAB)

DISCENTES

ALICE CRISTINA ALMEIDA MARTIS

123147416

EMANUELA FERREIRA
123644468

JULIA ALMEIDA
14301133755

SABRINA VILELA DELGADO 1235392215

RIO DE JANEIRO,
RJ 2025
EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO LUIZ FUX

DD. RELATOR DA ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO


FUNDAMENTAL – ADPF Nº 320
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

O CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL –


CFOAB, devidamente qualificado nos autos, após ter seu pedido de ingresso como amicus
curiae (Doc. XX) deferido por decisão de Vossa Excelência (Doc. XX), na forma do artigo
138 do Código de Processo Civil, e no exercício das atribuições institucionais que lhe são
conferidas pelo artigo 44, inciso I, da Lei nº 8.906/94 e pelo artigo 103, inciso VII, da
Constituição da República, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência,
apresentar suas

RAZÕES DE INTERVENÇÃO

No bojo da presente Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 320,


considerando que a controvérsia ora em análise guarda relevante conexão com a defesa dos
direitos humanos, da ordem constitucional e dos princípios fundantes do Estado
Democrático de Direito.

O Conselho Federal da OAB, na condição de guardião da Constituição, dos direitos


humanos e da ordem democrática, não poderia se furtar de intervir no presente feito,
oferecendo subsídios jurídicos indispensáveis para o deslinde da questão posta sob exame,
reafirmando a centralidade dos princípios da dignidade da pessoa humana, da vedação à
tortura, do direito à verdade, à memória, à reparação e da prevalência dos direitos humanos
no ordenamento jurídico brasileiro.
A intervenção da OAB justifica-se, sobretudo, pela necessidade de reafirmar, com
veemência, a centralidade dos princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana, da
vedação absoluta à tortura e a quaisquer formas de tratamento cruel, desumano ou
degradante, bem como dos direitos à verdade, à memória e à reparação, todos consagrados
tanto no texto constitucional quanto em tratados internacionais de direitos humanos dos
quais o Brasil é signatário.

Nesse contexto, o papel da OAB transcende a mera defesa corporativa da advocacia,


projetando-se como agente indispensável à consolidação do Estado Democrático de Direito
e à efetividade dos direitos humanos. A presente manifestação, portanto, insere- se em uma
longa tradição de compromisso da entidade com os valores republicanos, com o combate às
violações históricas de direitos e com a promoção da justiça de transição, à luz da
prevalência dos direitos humanos no ordenamento jurídico brasileiro.

Ao intervir neste feito, o Conselho Federal da OAB reafirma seu compromisso inarredável
com a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, pautada na memória, na verdade
histórica e na reparação de injustiças, especialmente aquelas cometidas por agentes do
Estado, em nome da plena realização dos fundamentos da República e da força normativa da
Constituição de 1988.

I – INTRODUÇÃO

O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil – CFOAB, entidade dotada de


personalidade jurídica, serviço público independente, no uso das atribuições conferidas pelo
artigo 44, inciso I, da Lei nº 8.906/94, e pelo artigo 103, inciso VII, da Constituição da
República, vem, na qualidade de amicus curiae, apresentar parecer jurídico no âmbito da
Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 320, que tramita perante o
Supremo Tribunal Federal.

O presente parecer tem por objetivo demonstrar a manifesta incompatibilidade da


interpretação que estende os efeitos da Lei nº 6.683/1979 – Lei da Anistia aos autores de
crimes de lesa-humanidade cometidos durante o regime autoritário brasileiro (1964– 1985),
notadamente tortura, desaparecimento forçado, execuções sumárias e ocultação de cadáver.
Além disso, este parecer enfatiza que, no julgamento da ADPF 153, esta Suprema Corte
deixou de enfrentar adequadamente a natureza jurídica de crime permanente da ocultação de
cadáver, circunstância que impede a aplicação da anistia, mesmo sob a ótica restrita do
marco temporal estabelecido na própria lei.

II – DOS FATOS E DO CONTEXTO HISTÓRICO

A transição do regime autoritário para o Estado Democrático de Direito no Brasil deu-se de


forma negociada, culminando na edição da Lei nº 6.683/1979, que concedeu anistia a
diversos grupos, abrangendo perseguidos políticos, mas também, segundo interpretação
posterior, agentes estatais autores de graves violações de direitos humanos.

A ADPF 153, ajuizada pelo Conselho Federal da OAB, teve como escopo contestar a
extensão da anistia aos perpetradores de crimes de lesa-humanidade. No julgamento, por
maioria, o STF manteve o entendimento de que a anistia seria bilateral, protegendo tanto
perseguidos quanto agentes do regime.

Contudo, sobreveio a decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) no caso


Gomes Lund (Guerrilha do Araguaia) vs. Brasil, de 2010, declarando a anistia brasileira
incompatível com a Convenção Americana sobre Direitos Humanos, particularmente no que
tange a crimes de desaparecimento forçado e demais violações permanentes.

Diante desse novo quadro, a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental


(ADPF) nº 320 tem como escopo central o reconhecimento, por parte do Supremo Tribunal
Federal, da obrigação jurídica e constitucional do Estado brasileiro de adotar todas as
medidas necessárias à investigação, persecução penal e responsabilização criminal dos
autores das graves violações de direitos humanos perpetradas durante o regime de exceção.
Essa responsabilidade estatal está em plena consonância com o direito internacional dos
direitos humanos, do qual o Brasil é signatário, e com os princípios constitucionais que
regem o Estado Democrático de Direito.

A pretensão formulada na presente ADPF ganha ainda maior relevo à luz do caráter
permanente de determinados delitos, como é o caso do crime de ocultação de cadáver, cuja
consumação se prolonga no tempo enquanto os corpos das vítimas permanecem
desaparecidos, impedindo seus familiares de exercerem o direito à verdade, à memória,
ao luto e à reparação. Tal permanência evidencia que não se trata de fatos inteiramente
pretéritos, mas sim de condutas que continuam produzindo efeitos jurídicos e humanos até
os dias atuais, o que afasta quaisquer alegações de prescrição ou anistia quanto a esses atos.

Ao submeter a matéria ao crivo desta Suprema Corte, a ADPF 320 propõe, portanto, não
apenas uma análise jurídico-formal, mas sobretudo um enfrentamento institucional que visa
compatibilizar o ordenamento jurídico interno com os compromissos internacionais
assumidos pelo Brasil em matéria de direitos humanos, em especial a Convenção Americana
sobre Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa Rica) e as reiteradas decisões da Corte
Interamericana de Direitos Humanos que impõem o dever de investigar e punir graves
violações de direitos, independentemente do tempo transcorrido. Reconhecer essa obrigação
é, antes de tudo, reafirmar a força normativa da Constituição de 1988, a centralidade da
dignidade da pessoa humana e o compromisso da sociedade brasileira com a verdade, a
justiça e a não repetição.

III – DA LEI DA ANISTIA E SEUS LIMITES CONSTITUCIONAIS E PENAIS

A Lei nº 6.683/1979, em seu artigo 1º, delimitou expressamente o período de incidência dos
atos anistiados, abrangendo apenas fatos ocorridos até 15 de agosto de 1979.

O conceito de anistia, no ordenamento jurídico brasileiro, corresponde a um ato de


esquecimento jurídico do fato criminoso, com eficácia extintiva da punibilidade, mas que não
apaga o crime do ponto de vista histórico, moral ou social.

Contudo, tal benefício não pode ser interpretado para alcançar crimes cuja consumação se
prolonga no tempo, como ocorre nos delitos de natureza permanente, especialmente a
ocultação de cadáver, prevista no artigo 211 do Código Penal Brasileiro.

De acordo com a jurisprudência do próprio STF, no julgamento do HC nº 76.678 (Rel. Min.


Maurício Corrêa, 1998), firmou-se o entendimento de que:

“A ocultação de cadáver é crime permanente, que subsiste até o instante em que o cadáver é
descoberto.”
Portanto, do ponto de vista penal, se a ocultação do cadáver persiste, o crime está em curso.
Por consequência, não pode ser alcançado por uma anistia cuja eficácia se limita a atos
consumados até 1979.

IV – DOS CRIMES PERMANENTES E A INAPLICABILIDADE DA ANISTIA

O crime de ocultação de cadáver, quando vinculado a práticas sistemáticas de


desaparecimento forçado de pessoas, deve ser compreendido sob a ótica de sua natureza de
crime permanente, cuja consumação se prolonga no tempo e somente se encerra com a
localização, identificação e restituição dos restos mortais da vítima aos seus familiares. Essa
concepção encontra respaldo pacífico na doutrina penal, que define o crime permanente
como aquele em que a situação antijurídica se mantém por vontade do agente, perdurando no
tempo até que seja cessada voluntariamente ou por intervenção do Estado. No caso dos
desaparecimentos forçados, a conduta de ocultação é continuada e atual, uma vez que os
familiares seguem privados do direito à verdade, ao luto e à digna sepultura de seus entes
queridos.

No contexto específico das violações ocorridas durante o regime militar brasileiro (1964–
1985), é notório que diversas vítimas de violência institucional e repressão política seguem
desaparecidas, com seus corpos ocultados pelo aparato estatal. A manutenção dessa
condição configura, de forma inquestionável, a continuidade do crime, cuja consumação
ainda não se exauriu, mesmo passadas décadas dos atos iniciais. Tal realidade jurídica e
fática inviabiliza o reconhecimento de prescrição ou a incidência de qualquer forma de
anistia, uma vez que o prazo prescricional sequer se iniciou, diante da permanência do delito.

Portanto, qualquer tentativa de aplicar a Lei nº 6.683/1979 (Lei da Anistia) a esses casos
revela-se manifestamente equivocada, anacrônica e inconstitucional, além de incompatível
com as obrigações internacionais de direitos humanos assumidas pelo Brasil, especialmente
no âmbito do Sistema Interamericano. Negar essa compreensão é não apenas afrontar a
Constituição de 1988, que consagra a dignidade da pessoa humana, a prevalência dos direitos
humanos e o respeito à memória e à verdade, mas também deslegitimar os compromissos
internacionais que vinculam o Brasil e que asseguram justiça, reparação e não repetição às
vítimas de graves violações. É imperioso, portanto, que o Poder Judiciário reconheça a
continuidade da ilicitude e assegure a devida
persecução penal, em consonância com os princípios constitucionais e os padrões
internacionais de justiça de transição.

V – DOS PRECEITOS FUNDAMENTAIS VIOLADOS

A interpretação que impede a responsabilização criminal de autores de ocultação de cadáver


e desaparecimento forçado ofende diretamente os seguintes preceitos fundamentais:

• Dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, CF);

• Prevalência dos direitos humanos (art. 4º, II, CF);

• Direito à vida, à integridade física, psíquica e moral (art. 5º, caput);

• Proibição de tortura e penas cruéis, desumanas ou degradantes (art. 5º, III e XLIII);

• Direito à verdade, à memória e à reparação, como decorrência dos princípios


constitucionais da dignidade e da proteção aos direitos humanos.

Ademais, o art. 60, §4º, IV, da Constituição veda qualquer tentativa de retrocesso quanto aos
direitos e garantias fundamentais, tornando inconstitucional qualquer interpretação que
legitime a impunidade de crimes de lesa-humanidade.

VI – DO DEVER INTERNACIONAL DO ESTADO BRASILEIRO

O Brasil é Estado-parte da Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de San


José da Costa Rica) desde 1992, tendo reconhecido, por meio do Decreto Legislativo nº
27/1992 e do Decreto nº 678/1992, a jurisdição contenciosa da Corte Interamericana de
Direitos Humanos, conforme estabelece o artigo 68.1 da referida Convenção. Tal adesão
impõe ao Estado brasileiro o dever de cumprir integralmente as decisões proferidas pela
Corte, cujos efeitos vinculantes decorrem de obrigações internacionais livremente
assumidas.

Nesse contexto, destaca-se a decisão da Corte Interamericana no caso Gomes Lund e outros
vs. Brasil (Guerrilha do Araguaia), na qual o tribunal internacional foi enfático ao afirmar
que: “Dada sua manifesta incompatibilidade com a Convenção Americana, as
disposições da Lei de Anistia brasileira que impedem a investigação e sanção de graves
violações de direitos humanos carecem de efeitos jurídicos.”. Essa manifestação reforça o
entendimento de que a anistia não pode ser utilizada como instrumento de impunidade frente
a crimes como a tortura, o desaparecimento forçado e a execução sumária, considerados
inadmissíveis à luz do Direito Internacional dos Direitos Humanos.

O descumprimento das decisões da Corte Interamericana, além de configurar um ilícito


internacional por violação de tratados, representa igualmente uma grave afronta à ordem
constitucional interna, sobretudo ao princípio da prevalência dos direitos humanos
consagrado no artigo 4º, inciso II, da Constituição Federal. Desconsiderar tais decisões
compromete a credibilidade internacional do Brasil, enfraquece a proteção dos direitos
fundamentais e fragiliza a própria legitimidade do Estado Democrático de Direito.

VII – DO EFEITO VINCULANTE DA JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL

A jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos é clara ao estabelecer que


crimes como tortura, desaparecimento forçado e ocultação de cadáver são imprescritíveis e
não passíveis de anistia.

O Brasil, como Estado-parte da Convenção Americana, assumiu a obrigação de:

• Investigar;

• Processar;

• Julgar;

• Punir os responsáveis por tais crimes.

A omissão do Estado brasileiro nesse dever não só constitui violação de tratados


internacionais, mas também desrespeita a própria ordem constitucional interna.

VIII – DA NECESSIDADE DE REVISÃO DO ENTENDIMENTO FIXADO NA


ADPF 153

O julgamento da ADPF 153, embora tenha sido concluído por maioria, revelou-se
insuficiente no que tange à análise aprofundada do caráter permanente do crime de ocultação
de cadáver, especialmente quando relacionado aos desaparecimentos forçados ocorridos
durante o regime militar. À época, a Suprema Corte se limitou a reafirmar a
constitucionalidade da Lei de Anistia (Lei nº 6.683/1979), sem considerar de forma
adequada a distinção jurídica entre crimes políticos e conexos — objeto da anistia — e os
crimes contra a humanidade, notadamente aqueles de natureza continuada ou permanente,
que não se exaurem no momento de sua prática inicial, mas que permanecem em curso até os
dias atuais, como é o caso da ocultação de cadáver de vítimas do regime de exceção.

Ademais, o julgamento ocorreu antes da sentença proferida pela Corte Interamericana de


Direitos Humanos no caso Gomes Lund e outros vs. Brasil (Guerrilha do Araguaia), em
2010, o que comprometeu a plenitude da análise sob a perspectiva do Direito Internacional
dos Direitos Humanos. Naquele momento, o Brasil ainda não havia sido formalmente
condenado por sua omissão em investigar, julgar e punir os responsáveis por graves violações
de direitos humanos, tampouco havia sido exigido que desconsiderasse as disposições da Lei
de Anistia em face de tais crimes. Assim, a decisão do STF não refletiu o estado atual do
direito internacional vinculante ao país, tampouco levou em conta a natureza imprescritível e
não anistiável dos crimes de desaparecimento forçado, conforme reconhecido pelo sistema
interamericano.

Com a superveniência da decisão internacional vinculante e a posterior consolidação


doutrinária e jurisprudencial quanto à natureza permanente dos desaparecimentos forçados,
impõe-se, no plano jurídico e constitucional, a revisão do entendimento anteriormente
firmado na ADPF 153. Esta revisão não é apenas juridicamente possível
— em razão da mutabilidade dos precedentes e da evolução do contexto normativo e
internacional —, mas também eticamente necessária e constitucionalmente exigida, em
respeito aos seguintes fundamentos essenciais da República:

• À Constituição da República de 1988, que instituiu uma nova ordem democrática e


pluralista fundada na dignidade da pessoa humana (art. 1º, III), nos direitos e
garantias fundamentais (art. 5º) e na prevalência dos direitos humanos como vetor da
atuação do Estado brasileiro no plano internacional (art. 4º, II);

• À supremacia dos direitos humanos, os quais não podem ser relativizados por
normas infraconstitucionais anacrônicas e incompatíveis com os compromissos
internacionais assumidos pelo Brasil;
• À obrigação internacional de investigar, processar e punir os responsáveis por graves
violações de direitos humanos, conforme reiteradamente decidido pela Corte
Interamericana de Direitos Humanos, cujas sentenças são de cumprimento
obrigatório (art. 68.1 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos).

Negar a possibilidade de revisão do julgado, diante de um novo quadro normativo e


jurisprudencial, seria naturalizar a impunidade, enfraquecer o papel do Judiciário na
realização da justiça de transição e comprometer a credibilidade do Brasil perante a
comunidade internacional. Ao contrário, revisitar criticamente a ADPF 153, à luz das
normas constitucionais e dos tratados de direitos humanos ratificados pelo país, é um ato de
reafirmação democrática e constitucional, indispensável para garantir o direito à verdade, à
memória, à reparação e à não repetição das graves violações ocorridas sob a égide do regime
autoritário.

IX – CONCLUSÃO

Diante de todo o exposto, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil –


CFOAB, na qualidade de amicus curiae, pugna pela total procedência da ADPF nº 320, para
que esta Suprema Corte declare:

a) Que a Lei nº 6.683/1979 não se aplica aos crimes permanentes, como ocultação de cadáver e
desaparecimento forçado, cujos efeitos se mantêm até os dias atuais;

b) Que a interpretação conferida na ADPF 153 deve ser revista, à luz da obrigação internacional do
Brasil e da Constituição da República, especialmente dos princípios da dignidade da pessoa humana e
da prevalência dos direitos humanos;

c) Que a decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos no caso Gomes Lund e outros vs.
Brasil possui plena eficácia interna, vinculando o Estado brasileiro, inclusive seu Poder Judiciário;

d) Que se reconheça o dever do Estado brasileiro de investigar, processar e punir os responsáveis por
tortura, desaparecimento forçado, execuções sumárias e ocultação de cadáver praticados durante o
regime militar, sem que se possa invocar a Lei da Anistia como óbice.

Por fim, este parecer reafirma que a plena efetividade dos direitos humanos, da dignidade da
pessoa humana e da Constituição da República exige, necessariamente, que não haja espaço
para a impunidade de crimes de lesa-humanidade, independentemente de quando e por quem
foram praticados.
Nesses termos, pede deferimento

Brasília, 24 de junho de 2025

Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil – CFOAB

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