TECNICO EM ENFERMAGEM
DANILA GAIA DUARTE
DANIELA FERREIRA MONTEIRO
HANSENÍASE
Cametá/PA
2025
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DANILA GAIA DUARTE
DANIELA FERREIRA MONTEIRO
HANSENÍASE
Trabalho apresentado para obtenção de nota
para o curso de Técnico em Enfermagem do
Instituto César Melo.
Orientador: Fábio Lucas da Cruz Viana
Cametá/PA
2025
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 4
2. DESENVOLVIMENTO E DIAGNOSTICO.................................................................. 4
3. HANSENÍASE TUBERCULÓIDE (PAUCIBACILAR) .............................................. 5
4. HANSENÍASE INDETERMINADA (PAUCIBACILAR) ............................................ 6
5. HANSENÍASE DIMORFA (MULTIBACILAR) ........................................................... 7
6. HANSENÍASE VIRCHOWIANA (MULTIBACILAR) ............................................... 8
7. TRATAMENTO DA HANSÉNIASE .............................................................................. 9
8. EPIDEMOLOGIA .......................................................................................................... 10
9. CARACTERÍSTICA DO AGENTE ETIOLÓGICO EM RELAÇÃO
HOSPEDEIRO ....................................................................................................................... 11
10. SINAIS E SINTOMAS ............................................................................................... 12
11. FATORES ASSOCIADOS OU PRECIPITANTES DAS REAÇÕES
HANSÊNICAS ........................................................................................................................ 13
12. CONCLUSÃO............................................................................................................. 14
13. REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 15
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1. INTRODUÇÃO
A hanseníase é uma doença crônica, infectocontagiosa, cujo agente etiológico é o
Mycobacterium leprae, um bacilo álcool-ácido resistente, fracamente gram-positivo, que
infecta os nervos periféricos e, mais especificamente, as células de Schwann. A doença acomete
principalmente os nervos superficiais da pele e troncos nervosos periféricos (localizados na
face, pescoço, terço médio do braço e abaixo do cotovelo e dos joelhos), mas também pode
afetar os olhos e órgãos internos (mucosas, testículos, ossos, baço, fígado, etc.) (Mistério da
Saúde, 2017).
Se não tratada na forma inicial, a doença quase sempre evolui, torna-se transmissível
e pode atingir pessoas de qualquer sexo ou idade, inclusive crianças e idosos. Essa evolução
ocorre, em geral, de forma lenta e progressiva, podendo levar a incapacidades físicas. Nas
imagens abaixo, é possível observar a lenta evolução natural da doença, desde a fase inicial até
a forma disseminada, em uma paciente diagnosticada antes da era dos antibióticos e da
utilização da Poliquimioterapia (PQT-OMS).
Condições individuais, fatores relacionados ao nível de doenças endêmicas e
condições sociais desfavoráveis afetam o risco de hanseníase. Por ser uma doença altamente
infecciosa e de baixa patogenicidade, em áreas endêmicas, a exposição contínua ao bacilo ainda
pode causar doenças, mesmo para as pessoas mais resistentes. O tratamento de um paciente
diagnosticado com hanseníase envolve um quimioterápico específico que engloba a
averiguação e tratamento precoce das intercorrências, segundo Souza, Vivian et al (2010).
Entre os anos de 2015 e 2019, foram diagnosticados no Brasil 137.385 casos novos de
hanseníase, mantendo assim o país em um parâmetro de alta endemicidade (Ministério da
Saúde, 2021, Boletim Epidemiológico Especial da Hanseníase, 2021).
2. DESENVOLVIMENTO E DIAGNOSTICO
O diagnóstico deve ser efetuado rapidamente, de forma clínica e epidemiológica,
englobando exames gerais e neuro dermatológicas, por meio de testes de sensibilidade,
palpação de nervos e avaliação funcional sensitiva, motora e autonômica, devido às lesões
cutâneas que algumas vezes afetam os nervos periféricos podendo causar uma maior
sensibilidade na pele, principalmente em pacientes multibacilares. Define-se pacientes
multibacilares aqueles que possuem uma quantidade aumentada de bacilos hansenicos no
organismo. Um exame de grande assertividade, baixo custo e funcional é a baciloscopia, que
corresponde à coleta da serosidade cutânea, colhida em orelhas, cotovelos e da lesão da pele.
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Havendo necessidade, a realização de uma biópsia da lesão pode ser efetuada conforme sua
gravidade e possíveis áreas atingidas (Guia Prático de Hanseníase, 2017; Hanseníase SIUNIS,
2019; ARAÚJO, 2003; SBD).
Quando há suspeita de comprometimento neural, que inclui espessamento do tronco,
alteração na sensibilidade e lesão cutânea não evidente, a recomendação é levar o paciente para
uma unidade de saúde mais estruturada e desta forma, obter a confirmação do diagnóstico
(ARAÚJO, 2003).
O diagnóstico em crianças e idosos é feito de forma mais criteriosa. Idosos podem, de
forma assintomática, contraírem infecções, sendo necessário fazer alguns exames específicos.
Para as crianças, recomenda-se a utilização do ‘’Protocolo Complementar de Investigação
Diagnóstica de casos de Hanseníase em menores de 15 anos’’. O protocolo supracitado visa
sensibilizar os gestores e profissionais da saúde, mostrando a necessidade de um preenchimento
adequado tanto para organização quanto para saber a conduta do paciente (SANTOS, 2018).7
Apesar dos esforços contínuos, a hanseníase persiste devido a fatores como a
transmissão ativa da doença, o diagnóstico tardio e a existência de uma "endemia oculta", onde
muitos casos não são diagnosticados e tratados. O Brasil, em particular, enfrenta dificuldades
em diagnosticar casos novos no ritmo pré-pandemia, e a Sociedade Brasileira de Hansenologia
(SBH) tem alertado sobre a necessidade de aumentar os diagnósticos para controlar a
transmissão. A estratégia global para hanseníase 2021-2030 da OMS visa acelerar as ações para
alcançar o objetivo de zero hanseníase, incluindo zero incapacidade e zero estigma e
discriminação.
3. HANSENÍASE TUBERCULÓIDE (PAUCIBACILAR)
Ocorre em indivíduos com forte resposta da imunidade celular específica, evoluindo,
por isso, com multiplicação bacilar limitada e não detectável pela baciloscopia do esfregaço
intradérmico. O paciente apresenta comprometimento restrito da pele e nervos, que se manifesta
geralmente como lesão cutânea única e bem delimitada. A resposta inflamatória é intensa, com
a presença de granulomas tuberculoides na derme e acentuado comprometimento dos filetes
nervosos, o que se traduz clinicamente por acentuada hipoestesia ou anestesia nas lesões
dermatológicas, facilmente demonstrada pelos testes de sensibilidade térmica, tátil e dolorosa.
Pelo mesmo motivo, é comum haver comprometimento da função das glândulas sudoríparas,
com hipo ou anidrose, assim como dos folículos pilosos, com diminuição dos pelos nas áreas
afetadas (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2022).
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Mais frequentemente, manifesta-se por uma placa (mancha elevada em relação à pele
adjacente) totalmente anestésica ou por placa com bordas elevadas, bem delimitadas e centro
claro (forma de anel ou círculo). Com menor frequência, pode se apresentar como um único
nervo espessado com perda total de sensibilidade no seu território de inervação. Nesses casos,
a baciloscopia é negativa e a biópsia de pele quase sempre não demonstra bacilos, e nem
confirma sozinha o diagnóstico. Sempre será necessário fazer correlação clínica com o
resultado da baciloscopia e/ou biópsia, quando for imperiosa a realização desses exames
(MINISTERIO DA SAÚDE, 2017).
As lesões da pele são placas com bordas nítidas, elevadas, geralmente eritematosas e
micropapulosas, que surgem como lesões únicas ou em pequeno número (Figura 1). O centro
das lesões pode ser hipocrômico ou não, por vezes apresentando certo grau de atrofia que reflete
a agressão da camada basal da epiderme pelo infiltrado inflamatório granulomatoso. Pode-se
observar espessamento dos filetes nervosos superficiais da pele adjacente às placas, formando
semiologicamente o que se denomina como “sinal da raquete (MINISTÉRIO DA SAÚDE,
2022).
Os nervos periféricos são poupados ou se apresentam espessados de forma localizada
e assimétrica, podendo haver comprometimento intenso das funções sensitivas e motoras no
território do nervo afetado. Por outro lado, pode haver áreas da pele com comprometimento
sensitivo, sem lesões cutâneas visíveis (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2022).
O diagnóstico clínico geralmente pode ser estabelecido com base no primeiro sinal
cardinal da doença – lesões da pele com diminuição ou perda de sensibilidade térmica e/ou
dolorosa e/ou tátil (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2022).
4. HANSENÍASE INDETERMINADA (PAUCIBACILAR)
É a forma inicial da doença, surgindo com manifestações discretas e menos
perceptíveis. Diferentemente das formas anteriores, suas manifestações clínicas não se
relacionam à resposta imune específica, caracterizando-se por manchas na pele, em pequeno
número, mais claras que a pele ao redor (hipocrômicas), sem qualquer alteração do relevo nem
da textura da pele. O comprometimento sensitivo é discreto, geralmente com hipoestesia
térmica apenas; mais raramente, há diminuição da sensibilidade dolorosa, enquanto a
sensibilidade tátil é preservada. Pode ou não haver diminuição da sudorese (hipoidrose) e
rarefação de pelos nas lesões, indicando comprometimento da inervação autonômica. Ressalta-
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se que essa forma clínica pode inicialmente manifestar-se por distúrbios da sensibilidade, sem
alteração da cor da pele (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2022).
Por ser uma forma inicial, não há comprometimento de nervos periféricos e, portanto,
não se observam repercussões neurológicas nas mãos, pés e olhos. A quantidade de bacilos é
muito pequena, indetectável pelos métodos usuais, e via de regra a baciloscopia é negativa
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2022).
A lesão de pele geralmente é única, mais clara do que a pele ao redor (mancha), não é
elevada (sem alteração de relevo), apresenta bordas mal delimitadas, e é seca (“não pega poeira”
– uma vez que não ocorre sudorese na respectiva área). Há perda da sensibilidade (hipoestesia
ou anestesia) térmica e/ou dolorosa, mas a tátil (habilidade de sentir o toque) geralmente é
preservada. A prova da histamina é incompleta na lesão, a biópsia de pele frequentemente não
confirma o diagnóstico e a baciloscopia é negativa (MINISTERIO DA SAÚDE, 2017).
Tendo em vista o caráter discreto e assintomático dessas lesões, é mais raro que os
pacientes busquem o serviço de saúde espontaneamente nessa fase da doença, por isso as ações
de busca ativa de casos na população, como campanhas de diagnóstico e especialmente o exame
de contatos, são essenciais para a detecção precoce de casos. No entanto, quando a doença não
é tratada nessa fase, evoluirá de acordo com a resposta imune do indivíduo infectado, podendo
haver cura espontânea ou desenvolvimento de uma das três formas clínicas descritas
anteriormente, surgindo o risco de dano neurológico irreversível (MINISTÉRIO DA SAÚDE,
2022).
5. HANSENÍASE DIMORFA (MULTIBACILAR)
Caracteriza-se, geralmente, por mostrar várias manchas de pele avermelhadas ou
esbranquiçadas, com bordas elevadas, mal delimitadas na periferia, ou por múltiplas lesões bem
delimitadas semelhantes à lesão tuberculóide, porém a borda externa é esmaecida (pouco
definida). Há perda parcial a total da sensibilidade, com diminuição de funções autonômicas
(sudorese e vasorreflexia à histamina). É comum haver comprometimento assimétrico de
nervos periféricos, as vezes visíveis ao exame clínico, cujos respectivos locais e técnicas de
palpação, funções e consequências do dano estão descritos no Quadro 1 no item 4.1. É a forma
mais comum de apresentação da doença (mais de 70% dos casos). Ocorre, normalmente, após
um longo período de incubação (cerca de 10 anos ou mais), devido à lenta multiplicação do
bacilo (que ocorre a cada 14 dias, em média) (MINISTERIO DA SAÚDE, 2017).
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A baciloscopia da borda infiltrada das lesões (e não dos lóbulos das orelhas e
cotovelos), quando bem coletada e corada, é frequentemente positiva, exceto em casos raros
em que a doença está confinada aos nervos. Todavia, quando o paciente é bem avaliado
clinicamente, os exames laboratoriais quase sempre são desnecessários. Esta forma da doença
também pode aparecer rapidamente, podendo ou não estar associada à intensa dor nos nervos,
embora estes sintomas ocorram mais comumente após o início do tratamento ou mesmo após
seu término (reações imunológicas em resposta ao tratamento) (MINISTERIO DA SAÚDE,
2017).
6. HANSENÍASE VIRCHOWIANA (MULTIBACILAR)
É a forma mais contagiosa da doença. O paciente virchowiano não apresenta manchas
visíveis; a pele apresenta-se avermelhada, seca, infiltrada, cujos poros apresentam-se dilatados
(aspecto de “casca de laranja”), poupando geralmente couro cabeludo, axilas e o meio da coluna
lombar (áreas quentes) MINISTERIO DA SAÚDE, 2017).
Na evolução da doença, é comum aparecerem caroços (pápulas e nódulos) escuros,
endurecidos e assintomáticos (hansenomas). Quando a doença encontra-se em estágio mais
avançado, pode haver perda parcial a total das sobrancelhas (madarose) e também dos cílios,
além de outros pelos, exceto os do couro cabeludo. A face costuma ser lisa (sem rugas) devido
a infiltração, o nariz é congesto, os pés e mãos arroxeados e edemaciados, a pele e os olhos
secos. O suor está diminuído ou ausente de forma generalizada, porém é mais intenso nas áreas
ainda poupadas pela doença, como o couro cabeludo e as axilas MINISTERIO DA SAÚDE,
2017).
São comuns as queixas de câimbras e formigamentos nas mãos e pés, que entretanto
apresentam-se aparentemente normais. “Dor nas juntas” (articulações) também são comuns e,
frequentemente, o paciente tem o diagnóstico clínico e laboratorial equivocado de
“reumatismo” (artralgias ou artrites), “problemas de circulação ou de coluna”. Os exames
reumatológicos frequentemente resultam positivos, como FAN, FR, assim como exame para
sífilis (VDRL). É importante ter atenção aos casos de pacientes jovens com hanseníase
virchowiana que manifestam dor testicular devido a orquites. Em idosos do sexo masculino, é
comum haver comprometimento dos testículos, levando à azospermia (infertilidade),
ginecomastia (crescimento das mamas) e impotência MINISTERIO DA SAÚDE, 2017).
Os nervos periféricos e seus ramos superficiais estão simetricamente espessados, o que
dificulta a comparação. Por isso, é importante avaliar e buscar alterações de sensibilidade
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térmica, dolorosa e tátil no território desses nervos (facial, ulnar, fibular, tibial), e em áreas frias
do corpo, como cotovelos, joelhos, nádegas e pernas MINISTERIO DA SAÚDE, 2017).
7. TRATAMENTO DA HANSÉNIASE
O tratamento da hanseníase (Poliquimioterapia: PQT) deve ser norteado pela
classificação do paciente nas formas PAUCIBACILARES ou MULTIBACILARES. Essa
classificação é chamada de OPERACIONAL e baseia-se no NÚMERO de lesões e/ou troncos
neurais acometidos (SMS, 2020).
A classificação operacional deve ser feita pelos critérios clínicos (história clínico-
epidemiológica e exame dermatoneurológico) (SMS, 2020).
O tratamento consiste em doses supervisionadas a cada 28 dias e doses
autoadministradas diárias. Todas as doses supervisionadas devem ser administradas por médico
ou enfermeiro, aproveitando a oportunidade para investigar e corrigir possíveis complicações.
Pacientes paucibacilares devem fazer uso de 6 cartelas de PQT-PB em até 9 meses.
Tais cartelas consistem na administração de rifampicina e dapsona na dose supervisionada e
administração de dapsona nas doses autoadministradas (SMS, 2020).
Os multibacilares devem fazer uso de 12 cartelas de PQT -MB em até 18 meses. Tais
cartelas consistem na administração de rifampicina, clofazimina e dapsona na dose
supervisionada e administração de clofazimina e dapsona nas doses autoadministradas. Para
mulheres grávidas e lactantes, se utilizam as mesmas cartelas de PQT para adultos. Para
crianças com peso superior a 50kg, deve-se utilizar o mesmo tratamento para adultos. Crianças
com peso entre 30 e 50kg devem utilizar as cartelas infantis (SMS, 2020).
No início do tratamento deve- se solicitar dosagem sérica de creatinina, TGO, TGP,
fosfatase alcalina, gama GT, hemograma completo, EAS e EPF. Todos devem ser encaminhados
para avaliação odontológica e investigados para eventuais quadros infecciosos tais como,
infecções urinárias, ginecológicas e outras, pois infecções podem desencadear reações
hansênicas (SMS, 2020).
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8. EPIDEMOLOGIA
No último boletim epidemiológico publicado pelo Ministério da Saúde, em 2021,
acompanhou-se a evolução epidemiológica da Hanseníase entre os anos de 2015 a 2019 no
Brasil. De acordo com os dados apresentados, no Brasil houve um total de 137.385 novos casos
identificados e diagnosticados como hanseníase. Destes, 55,3% do total em pacientes
masculinos (Ministério da Saúde, 2021, Boletim Epidemiológico Especial da Hanseníase, 2021.
Pg. 13).
Embora os altos números apresentados, o cenário tem melhorado conforme o passar
dos anos, já que a doença já foi considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como
problema de saúde pública no ano de 1991. Foi implementado então, políticas públicas de
tratamento ambulatorial e campanhas e diretrizes para que o uso de poliquimioterapia fosse
acessível. Conhecida como Plano Nacional de Eliminação da Hanseníase, essas políticas
públicas, junto com uma ordem da Organização Mundial da Saúde, propuseram uma
erradicação da doença até o ano de 2000. Com essas ações propostas pelos estados e municípios,
além de aumentar o uso do tratamento por poliquimioterapia, aumentou a procura pelo
diagnóstico e tratamento precoce da doença, com ênfase em diagnosticar aproximadamente
90% de todos os novos casos, antes do aparecimento físico de deformidades (MAGALHÃES,
ROJAS, 2002; Ministério da Saúde, 2002.).
O governo, mais precisamente o ministério da saúde, iniciou a publicação de diretrizes
voltadas ao pré-diagnóstico, prevenção, tratamento e controle da Hanseníase no Brasil, por
volta dos anos 2000. Com isso, viabilizou a descentralização do combate à doença via Sistema
Único de Saúde, aumentando então a capilaridade na coleta de novos dados (MAGALHÃES,
ROJAS, 2002; Ministério da Saúde, 2002; RIBEIRO, OLIVEIRA, SILVA, 2018).
Com todas essas medidas, a eliminação da hanseníase havia sido alcançada em todos
os países, menos no Brasil. Alguns países africanos, como Angola e Madagascar, e países
asiáticos, como o Nepal, também não alcançaram tal feito. Isso se deve ao fato de que esses
países não alcançaram a meta da campanha global estipulada pela Organização Mundial da
Saúde. O Brasil comprometeu-se em empenhar-se no controle da doença, utilizando políticas
públicas já aplicadas até então. Assim, a Organização Mundial da Saúde estendeu o prazo da
erradicação da doença para 2010. O Brasil novamente não cumpriu com a meta e determinação
estipulada, sendo o prazo estendido novamente para 2020 (Ministério da Saúde, 2021, Boletim
Epidemiológico Especial da Hanseníase, 2021; RIBEIRO, OLIVEIRA, SILVA, 2018).
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Após a Organização Mundial da Saúde estender o prazo até 2020, o coeficiente de
novos casos vem diminuindo ano a ano. Com isso, a probabilidade em 2021 de erradicação da
doença hanseníase é grande, pois de acordo com os critérios da OMS, o número de casos não
pode ser maior que 1 novo caso para cada 10.000 habitantes para que a doença possa ser
considerada erradicada em um país. Em 2015, o Brasil quase sacramentou essa erradicação,
pois chegou a um índice de 1.01 novo caso a cada 10.000 habitantes (Ministério da Saúde, 2021,
Boletim Epidemiológico Especial da Hanseníase, 2021).
De acordo com o boletim epidemiológico do ano de 2021, as áreas mais afetadas pelas
doenças, são as menos desenvolvidas e as que possuem as menores taxas de soma do Produto
Interno Bruto (PIB), no caso dos estados da região norte, centro-oeste e nordeste do Brasil
(Ministério da Saúde, 2021, Boletim Epidemiológico Especial da Hanseníase, 2021).
9. CARACTERÍSTICA DO AGENTE ETIOLÓGICO EM RELAÇÃO AO
HOSPEDEIRO
O M. leprae tem afinidade por células cutâneas e por células dos nervos periféricos,
podendo se multiplicar. Este período de multiplicação pode variar em média, de 11 a 16 dias,
sendo considerada lenta a capacidade do bacilo em proliferar. Com relação a sua característica,
tem alta infectividade e baixa patogenicidade, isto é, infecta muitas pessoas e, no entanto,
poucas adoecem. (BANDEIRA, 2010). O bacilo se desenvolve em temperaturas inferiores a
37ºC, explicando sua localização preferencial nas partes mais frias do corpo como nariz, lobos
de orelhas, testículos, troncos nervosos periféricos e o segmento anterior do olho. (PAULA et
al., 2005).
A transmissão ocorre do homem bacilífero não tratado através das vias aéreas
superiores para os contatos (íntimos e prolongados), cuja porta de entrada também é a via aérea
superior. Os hansenomas ou lesões ulceradas de pacientes bacilíferos podem transmitir o bacilo,
porém sua importância é incerta. (BARBIERI & MARQUES, 2009).
O diagnóstico é feito através do exame clínico, complementado pela realização da
anamnese, avaliação dermatológica (verificando as alterações ou lesões na pele) e neurológica
(presença de alteração de sensibilidade e motora e espessamento neural); e laboratorial, através
da baciloscopia, onde se observa o M. leprae diretamente nos esfregaços de raspados
intradérmicos das lesões hansênicas ou de outros locais, como os lóbulos auriculares e/ou
cotovelos. (BATISTA et al., 2011).
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10. SINAIS E SINTOMAS
Segundo o Mistério de Saúde (2017) os sintomas estão relacionados da seguinte
maneira:
Olhos
• Olho vermelho crônico (conjuntivite); sensação de “areia nos olhos”; embaçamento
da visão (alteração da córnea).
Articulações e músculos
• “Dor nas juntas” (artralgias e artrites); câimbras; nódulos sobre as articulações;
lesões ósseas de mãos e pés.
• É muito comum pacientes com queixas álgicas múltiplas, nos ossos das pernas
(periostite), na musculatura e tecido celular subcutâneo, sendo comum o relato da expressão
“dor na carne”. Essa é uma queixa importante em crianças o que frequentemente a impossibilita
de participar das brincadeiras e exercícios.
Sistema linfático e circulatório • “Ínguas” (linfadenomegalias) indolores no pescoço,
axilas e virilhas; baço aumentado; cianose de mãos e pés (acrocianose); mãos e pés “inchados”
(edemaciados), úlceras indolores e com bordas elevadas, geralmente múltiplas, em membros
inferiores (úlceras tróficas).
Vísceras
• Fígado e baço aumentados; insuficiência suprarrenal ou renal; atrofia dos testículos
Mucosas
• “Entupimento” (obstrução), ressecamento e/ou sangramento (“cascas de ferida”) da
mucosa nasal, com inchaço (edema) da região do osso do nariz, ou até desabamento nasal;
“caroços” ou ulcerações indolores no “céu da boca” (palato); e rouquidão. Com o tratamento,
os sintomas nasais são os primeiros a se extinguirem nos pacientes com hanseníase
virchowiana.
Miscelânea
• Exames laboratoriais que podem ser (inespecificamente) positivos: VDRL, FAN,
Fator Reumatóide, Crioglobulinas, Anticorpos Anticardiolipinas, Anticoagulante Lúpico, entre
outros.
Cerca de 15 a 30% dos pacientes multibacilares (virchowiano e dimorfos) podem
apresentar fenômenos agudos como primeira queixa da doença. Pode ser um caso de reação
hansênica em um doente ainda sem diagnóstico de hanseníase, quando há presença dos
seguintes sinais e sintomas:
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• Manchas ou nódulos (“caroços”) eritematosos, dolorosos e quentes, às vezes
ulcerados, associados a manifestações sistêmicas como febre alta, artralgia, mal estar geral,
orquite, anemia, leucocitose (Reação tipo 2).
• Surgimento de lesões avermelhadas e descamativas, com lesões satélites,
eventualmente associadas a edema (inchaço) das mãos e pés, geralmente com neurite de nervos
dos cotovelos, punhos, joelhos e tornozelos (Reação tipo 1).
Nesses casos, o paciente deve ser tratado com poliquimioterapia (PQT-OMS)
multibacilar, e também para o quadro reacional.
11. FATORES ASSOCIADOS OU PRECIPITANTES DAS REAÇÕES
HANSÊNICAS
Alguns fatores clínicos são reconhecidamente associados ao desencadeamento e
manutenção das reações hansênicas, dentre os quais a gravidez (especialmente o período pós
parto), as alterações hormonais da adolescência, coinfecções, parasitoses intestinais, focos de
infecção dentária e uso de vacinas, além de estresse físico e psicológico39. Alguns estudos
demonstram que há risco aumentado de desenvolvimento de reações hansênicas em pacientes
com saúde oral comprometida, especialmente na presença de cáries, periodontite, sangramento
gengival, cálculo dentário e bolsa periodontal (Ministério da Saúde, 2022).
Considerando o elevado risco de dano neural durante as reações hansênicas e o
contexto da integralidade do cuidado, recomenda-se que os pacientes com hanseníase sejam
submetidos à avaliação odontológica, recebendo tratamento adequado. Além disso, é necessário
avaliá-los clinicamente de forma ampla, detectando e tratando previamente as comorbidades
apresentadas. Destaca-se a importância da associação entre tuberculose e hanseníase, pela
necessidade de ajuste dos esquemas terapêuticos utilizados para ambas as doenças (Ministério
da Saúde, 2022).
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12. CONCLUSÃO
A Hanseníase, uma doença infecciosa crônica causada pelo Mycobacterium leprae,
continua a ser um desafio de saúde pública em várias partes do mundo. Sua epidemiologia
complexa reflete a interação entre fatores sociais, econômicos e ambientais. A fisiopatologia
intrincada envolve uma resposta imune desregulada, levando a danos nos nervos periféricos e
na pele. Essa condição se manifesta de maneira variada, desde formas paucibacilares com lesões
cutâneas discretas até formas multibacilares com envolvimento extenso dos nervos. O
diagnóstico, muitas vezes baseado em critérios clínicos e exames complementares, pode ser
desafiador devido à sua apresentação heterogênea.
No entanto, avanços nos métodos diagnósticos, como a polimerase em cadeia da
reação em tempo real (PCR-RT) e a avaliação histopatológica, têm melhorado a precisão
diagnóstica. Quanto ao tratamento, a terapia multidrogas é a pedra angular, com esquemas que
variam de acordo com a forma clínica da doença. Antibióticos como a rifampicina, a dapsona e
a clofazimina têm sido fundamentais para o controle da infecção, embora a resistência aos
medicamentos represente um desafio crescente. Além disso, a reabilitação e o suporte social
são essenciais para mitigar as sequelas físicas e psicossociais associadas à Hanseníase. Em
última análise, o combate eficaz a essa enfermidade requer uma abordagem abrangente que
englobe a prevenção, o diagnóstico precoce e o tratamento adequado, aliados a políticas de
saúde pública que promovam a equidade e o acesso aos cuidados médicos.
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13. REFERÊNCIAS
TAKIZAWA, Caio Luiz et al. HANSENÍASE: DIAGNÓSTICO, TRATAMENTO E
EPIDEMIOLOGIA, UMA REVISÃO DE LITERATURA. 2021. Disponível em:
https://crbm1.gov.br/site2019/wp-content/uploads/2021/06/HANSENIASE-DIAGNOSTICO
TRATAMENTO-E-EPIDEMIOLOGIA-UMA-REVISAO-DE-LITERATURA..pdf.
BIF, Suzana Mioranza et al. HANSENÍASE NO BRASIL: DESAFIOS E AVANÇOS NA
PREVENÇÃO, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO. Brazilian Journal of Implantology
andHealth SciencesVolume6, Issue1(2024), Page418-437. DOI:https://doi.org/10.36557/2674
8169.2023v6n1p418-437. Disponível
https://bjihs.emnuvens.com.br/bjihs/article/view/1153/1381.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. PROTOCOLO CLÍNICO E DIRETRIZES TERAPÊUTICAS
DA Brasília - DF 2022. Disponível em:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/protocolo_clinico_diretrizes_terapeuticas_hanseni
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MINISTÉRIO DA SAÚDE. GUIA PRÁTICO SOBRE A HANSENÍASE. Brasília – DF
2017. Disponível em:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_pratico_hanseniase.pdf.
Secretaria Municipal de Saúde – SMS. Hanseníase Manejo diagnóstico e terapêutico. 2020.
Disponível em:
https://subpav.org/aps/uploads/publico/repositorio/guia_de_referencia_rapida_hanseniase_ma
nejo_diagnostico_e_terapeutico.pdf.
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