Agosto Lilás e a
conscientização pelo fim da
violência doméstica
Os dados falam por si. Em 2022, 35
mulheres foram agredidas por minuto
no Brasil, um dos países onde mais se
mata mulheres no contexto de
violência doméstica no mundo. O
aumento de casos de feminicídio.
A campanha Agosto Lilás foi instituída por lei
federal no ano passado e estabelece que a
União, os estados e municípios deverão
promover ações de conscientização e
esclarecimentos sobre as diversas formas
A LEI MARIA DA PENHA
Em 7 de agosto de 2006 a Lei Maria da Penha com
46 artigos entra em vigor no Brasil para combater
as práticas de violência contra a mulher. Essa lei
cria mecanismos para prevenir e coibir a violência
doméstica e familiar contra a mulher, conforme a
Constituição Federal e os tratados internacionais
ratificados pelo Estado brasileiro.
TIPOS DE VIOLÊNCIA
Estão previstos cinco tipos de
violência contra a mulher na Lei
Maria da Penha: física, psicológica,
moral, sexual e patrimonial. Essas
formas de agressão são cruéis, não
ocorrem isoladas umas das outras e
têm graves consequências para a
mulher. Qualquer uma delas constitui
ato de violação dos direitos humanos
e deve ser denunciada.
Violência Física
Entendida como qualquer conduta que ofenda a
integridade ou saúde corporal da mulher. Talvez, a pior
das violências que existem. São exemplos desse tipo de
violência: o espancamento, estrangulamento, lesões
com objetos cortantes, ferimentos provocados por
queimaduras ou armas de fogo.
Violência Psicológica
É considerada qualquer conduta que cause dano
emocional e diminuição da autoestima; prejudique e
perturbe o pleno desenvolvimento da mulher; ou vise
degradar ou controlar suas ações, comportamentos,
crenças e decisões. Atitudes como ameaças,
constrangimento, humilhação, manipulação,
perseguição, limitação do direito de ir e vir,
ridicularização e retirada da liberdade de crença são
tipos de violência psicológica.
Violência Sexual
Trata-se de qualquer conduta que constranja a
presenciar, a manter ou a participar de relação
sexual não desejada mediante intimidação,
ameaça, coação ou uso da força.
Comportamentos impulsivos como obrigar a
mulher realizar atos sexuais que causam
desconforto ou repulsa, impedimento de uso de
métodos contraceptivos ou forçar a mulher
abortar são consideradas condutas de violência
sexual.
A escolha do mês não foi ocasional: a data reconhece a
importância da criação da Lei Maria da Penha, em agosto de
2006.Nesse ponto, trago o meu testemunho como advogada
militante na área criminal há. muitos anos. Por qualquer via de
análise, a conclusão é uma só: a Lei Maria da Penha vem
provocando verdadeira transformação social desde a sua
criação.
Como marco jurídico, a Lei Maria da Penha trouxe,
pela primeira vez, a menção ao termo “violência
doméstica” ao ordenamento jurídico brasileiro. Antes
disso, as mulheres não contavam com nenhuma
proteção específica de outra legislação e o conceito
jurídico sobre as formas de violência doméstica não
existia, assim como também não existiam as
delegacias especializadas na proteção à mulher. As
medidas protetivas de urgência, principal instrumento
de proteção à mulher em situação de violência
doméstica e vulnerabilidade, também não existiam
anteriormente à lei.
Violência Patrimonial
Entendida como qualquer conduta que configure
retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus
objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais,
bens, valores e direitos ou recursos econômicos,
incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades.
São violências patrimoniais: controlar o dinheiro, deixar
de pagar pensão alimentícia, destruir documentos
pessoais, cometer furtos, privação de bens e valores e
estelionato.
VIOLENCIA MORAL
É considerada qualquer conduta que configure
calúnia, difamação ou injúria como, por exemplo,
acusar a mulher de traição, emitir juízos morais
sobre a conduta dela, fazer críticas mentirosas,
expor a vida íntima, realizar xingamentos e
desvalorizar a vítima pelo seu modo de se vestir.
O caso Maria da Penha é representativo
da violência doméstica à qual milhares de
mulheres são submetidas em todo o
Brasil. Maria da Penha Maia Fernandes
nasceu em Fortaleza, Ceará, em 1 de
fevereiro de 1945, e se formou na
Faculdade de Farmácia e Bioquímica da
Universidade Federal do Ceará (UFC) em
1966, concluindo o seu mestrado na
Universidade de São Paulo em 1977. No
ano de 1983, Maria da Penha foi vítima de
dupla tentativa de feminicídio por parte
de seu marido Marco Antônio Heredia
Viveros. Primeiro, ele deu um tiro em suas
costas enquanto ela dormia. Como
resultado dessa agressão, Maria da Penha
ficou paraplégica – constam-se ainda
outras complicações físicas e traumas
psicológicos.
No entanto, Marco Antônio declarou à polícia que tudo não
havia passado de uma tentativa de assalto, versão que foi
posteriormente desmentida pela perícia. Quatro meses
depois, quando Maria da Penha voltou para casa – após
duas cirurgias, internações e tratamentos, ele a manteve em
cárcere privado durante 15 dias e tentou eletrocutá-la
durante o banho.
Cientes da grave situação, a família e os amigos
de Maria da Penha conseguiram dar apoio jurídico a
ela e providenciaram a sua saída de casa sem que
isso pudesse configurar abandono de lar; assim, não
haveria o risco de perder a guarda de suas filhas. A
história de Maria da Penha significava mais do que
um caso isolado: era um exemplo do que acontecia
no Brasil sistematicamente sem que os agressores
fossem punidos.
Após muitos debates com o Legislativo, o Executivo e
a sociedade, o Projeto de Lei n. 4.559/2004 da Câmara
dos Deputados chegou ao Senado Federal e foi
aprovado por unanimidade em ambas as Casas.
Assim, em 7 de agosto de 2006, o então presidente
Luiz Inácio Lula sancionou a lei n°. 11.340, mais
conhecida como Lei Maria da Penha. O Estado do
Ceará pagou-lhe uma indenização e o Governo
Federal batizou a lei com o seu nome como
reconhecimento de sua luta contra as violações dos
direitos humanos das mulheres.