7 - Introdução Ao Direito Administrativo
7 - Introdução Ao Direito Administrativo
Entende-se por Estado a instituição organizada política, social e juridicamente. O Estado é dotado de
personalidade jurídica de Direito Público (o que não obsta a atuar na esfera privada) e sujeito à lei máxima (no
caso do Brasil, Constituição Federal), além de soberania reconhecida interna e externamente.
O conceito de Estado de Direito foi desenvolvido no século XIX na Alemanha, baseado na tripartição de
poderes, universalidade de jurisdição e generalização do princípio da legalidade. Neste sentido, os atos
administrativos devem se adequar ao ordenamento jurídico, prevalecendo as normas jurídicas gerais e
abstratas em detrimento da vontade do governante.
1
Carvalho, Matheus. Manual de Direito Administrativo. 6. ed. Salvador: JusPODIVM, 2021. p. 37.
2
Carvalho, Matheus. Manual de Direito Administrativo. 6. ed. Salvador: JusPODIVM, 2021. p. 38.
4
reguladoras);
■ Controle de atuação do Estado: poder-dever de verificar a atividade Estatal, presente em todos os
Poderes.
Quanto à abrangência, a função administrativa pode ser dividida em:
- Função externa (extroversa): referente à atividade-fim da Administração Pública, com o fito de
atender interesses públicos primários.
- Função interna (introversa): referente à atividade-meio, visa a efetivação do interesse público
secundário (interesse da máquina administrativa)
2.2. CONCEITO
Na clássica concepção de Di Pietro, Direito Administrativo é
“(...)o ramo do direito público que tem por objeto os órgãos, agentes e pessoas jurídicas administrativas que
integram a administração pública, a atividade jurídica não contenciosa que exerce e os bens de que se utiliza
para a consecução de seus fins de natureza pública.”4
Segundo Fillipe Augusto dos Santos Nascimento, o Direito Administrativo possui natureza jurídica de
ramo do Direito Público e seu objeto consiste na organização e exercício das atividades internas da
Administração Pública. Por Direito Público, tem-se por objetivo a regulação de normas relativas ao interesse da
sociedade como um todo, sendo notória a desigualdade das relações jurídicas por ele regidas, prevalecendo o
interesse público sobre o privado.
3
ROSSI, Licínia Manual de direito administrativo / Licinia Rossi. – 6. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2020.
4
Pietro, Maria Sylvia Zanella di - Direito Administrativo. São Paulo: Editora Atlas, 21ª ed. 2008.
5
Ademais, possui como princípios norteadores de sua atuação a:
I) supremacia do interesse público sobre o privado, a
II) indisponibilidade do interesse público e a
III) legalidade.
Observa-se que os princípios basilares do Direito Administrativo são decorrência do regime de Direito
Público, por dispor de prerrogativas que o colocam em posição de superioridade frente ao particular.
🚩 NÃO CONFUNDA
Direito Público ≠ Normas de Ordem Pública
As normas de ordem pública estão presentes em todos os ramos jurídicos, apresentando-se como
imperativas e inafastáveis, proibindo que os particulares disponham de forma diferente.
Dito isso, passa-se a análise do conceito deste ramo do Direito a partir das visões de variados autores
elaboradas por meio de diferentes critérios. Nesse sentido, confira-se a tabela a seguir:
Gérando e Macarel.
Direito administrativo é o conjunto de leis administrativas
(leis, decretos, regulamentos).
🔔 Crítica: “o critério exegético é reducionista. De um lado,
porque transfere ao legislador (que não é técnico) a tarefa de
CRITÉRIO LEGALISTA (EXEGÉTICO
delimitar o objeto do Direito Administrativo; de outro,
/FRANCÊS/EMPÍRICO/CAÓTICO)
desconsidera a existência dos princípios implícitos e das demais
fontes normativas reconhecidas pelo ordenamento, como a
doutrina, a jurisprudência e os costumes. Evidentemente, o
Direito Administrativo não se esgota nas leis e regulamentos
administrativos5”
5
MAZZA, Alexandre. Manual de direito administrativo. Disponível em: Minha Biblioteca, (12th edição). Editora Saraiva, 2022.
6
Estado, já o segundo compreende somente as atividades
estatais exercidas para a satisfação das necessidades
coletivas, em regime de direito público.
🔔 Crítica: nem todas as atividades estatais se resumem em
serviço público, como o poder de polícia. Ademais, é possível,
com a ampliação das atividades estatais, o exercício de atividade
econômica, que, para muitos, não se confunde com serviço
público.
Meucci e Ranelletti
Direito administrativo se esgota nos atos praticados pelo Poder
Executivo.
🔔 Crítica: Exclui os atos do Poder Legislativo e do Judiciário no
CRITÉRIO DO PODER EXECUTIVO exercício de atividade administrativa, restringindo,
sobremaneira, o direito administrativo ao âmbito do Poder
Executivo. Essa teoria não considera a função política exercida
pelo Poder Executivo, que não se confunde com a função
administrativa.
Orlando
Direito Administrativo é o conjunto de normas e princípios
que norteiam a atuação do Estado para atingir seus fins.
CRITÉRIO TELEOLÓGICO ou Segundo Rossi, é aceito no direito brasileiro, mas carece de
FINALÍSTICO complementação.
🔔 Crítica: Segundo Mazza “o critério é evidentemente
inconclusivo em razão da dificuldade em definir quais são os fins
do Estado.”
Maurice Hauriou
Há distinção entre atividades de autoridade (atos de império) e
atividades de gestão (atos de gestão).
a) Atividades de autoridade (atos de império): o Estado
atua com autoridade sobre os particulares, com poder de
império, por meio de prerrogativas da Administração
ESCOLA DA PUISSANCE PUBLIQUE OU
Pública;
POTESTADE PÚBLICA ou ESCOLA DE
b) Atividades de gestão (atos de gestão): o Estado atua em
TOULOUSE
posição de igualdade com os cidadãos, regendo-se pelo
direito privado.
Leon Duguit, adepto da Escola do Serviço Público, era um
“opositor” da Teoria da Potestade Pública, pois, para a Escola do
Serviço Público, não havia distinção entre atos de império e atos
de gestão.
6
MAZZA, Alexandre. Manual de direito administrativo. Disponível em: Minha Biblioteca, (12th edição). Editora Saraiva, 2022.
8
órgãos públicos superiores (autônomos ou independentes,
dotados de atribuições decisórias).7”
🔔 Crítica: “falha ao deixar de fora do conceito de Direito
Administrativo toda a estrutura estatal descentralizada (como
autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mista
etc.) cuja autonomia escapa da verticalização hierárquica comum
na Administração centralizada.”
🚨JÁ CAIU
No concurso para Procurador do Município de Varginha-MG (Ano: 2022; OBJETIVA) foi considerada correta a
seguinte assertiva:
De acordo com DI PIETRO, sobre fontes do Direito Administrativo, analisar a sentença abaixo:
No direito francês, a principal fonte do Direito Administrativo, desde que este ganhou a sua autonomia, foi a
jurisprudência emanada dos órgãos do contencioso administrativo, em especial do seu órgão de cúpula, o
Conselho de Estado (1ª parte). O Direito Administrativo brasileiro tem como principal fonte a lei (2ª parte). A
sentença está: Totalmente correta.
Ainda sobre o tema, no concurso para Procurador do Município de Jundiaí-SP (Ano: 2021; VUNESP) foi
considerada correta a seguinte assertiva: O direito administrativo pátrio recebeu grande contribuição do
sistema francês, tendo adotado vários dos seus institutos jurídicos, exceto quanto ao contencioso
administrativo.
A doutrina moderna vem utilizando o critério funcional como o mais eficiente a definir a matéria,
sendo o Direito Administrativo “o ramo jurídico que estuda e analisa a disciplina normativa da função
administrativa, esteja ela sendo exercida pelo Executivo, Legislativo, Judiciário ou particulares mediante delegação
estatal.”8
Localizar o Direito Administrativo como ramo do direito público não significa dizer que o seu objeto se
restringe a esse campo, isso porque a Administração Pública atua em vários setores, dentre eles o setor
privado, como agente econômico.
Marcelo Alexandrino e Paulo Vicente pontuam que “o direito administrativo tem como objeto: (a) as
relações internas à administração pública - entre os órgãos e entidades administrativas, uns com os outros, e entre a
administração e seus agentes, estatutários e celetistas; (b) as relações entre a administração e os administrados,
7
MAZZA, Alexandre. Manual de direito administrativo. Disponível em: Minha Biblioteca, (12th edição). Editora Saraiva, 2022.
8
Carvalho, Matheus. Manual de Direito Administrativo. 6. ed. Salvador: JusPODIVM, 2021. p. 42.
9
regidas predominantemente pelo direito público ou pelo direito privado; e (c) as atividades de administração pública
em sentido material exercidas por particulares sob regime predominante de direito público, tais como a prestação de
serviços públicos mediante contratos de concessão ou de permissão.”9
Convém acrescentar neste ponto que a função administrativa, objeto do Direito Administrativo, não se
confunde com a função de governo, objeto do Direito Constitucional, isso porque aquela repousa
precipuamente na execução das políticas públicas fixadas por esta. Nas palavras de Marcelo Alexandrino e
Paulo Vicente “a noção de governo está relacionada com a função política de comando, de coordenação, de direção
e de estipulação de planos e diretrizes de atuação do Estado (as denominadas políticas públicas). Não se confunde
com o conceito de administração pública em sentido estrito, que vem a ser, conforme veremos adiante, o
aparelhamento de que dispõe o Estado para a mera execução das políticas públicas estabelecidas pelos órgãos de
governo.”10
🚨 JÁ CAIU
Na prova do MPE-SC (Ano: 2016, Banca: MPE-SC), foi considerada errada a seguinte afirmação: Sinônimo de
função de governo para a doutrina brasileira, a função administrativa consiste primordialmente na defesa dos
interesses públicos, atendendo às necessidades da população, inclusive mediante intervenção na economia.
Os sistemas administrativos consistem no modelo adotado por um Estado para exercer o controle
jurisdicional da atividade administrativa. Dois sistemas são conhecidos: o sistema inglês ou de jurisdição
única e o sistema francês ou da dualidade da jurisdição ou do contencioso administrativo.
Na tabela a seguir, os conceitos de tais sistemas serão melhor analisados.
9
ALEXANDRINO, Marcelo e VICENTE, Paulo. Direito Administrativo Descomplicado. 29ª Edição, Editora Método, 2021, p. 04.
10
ALEXANDRINO, Marcelo e VICENTE, Paulo. Direito Administrativo Descomplicado. 29ª Edição, Editora Método, 2021, p. 60-61.
11
OLIVEIRA, Rafael Carvalho R. Curso de Direito Administrativo. Disponível em: Minha Biblioteca, (10th edição). Grupo GEN, 2022.p. 04.
10
exercido somente por tribunais administrativos, vedando-se a
apreciação desses atos pelo Poder Judiciário.
■ Justiça Desportiva
Conforme art. 217, CF/88, o Poder Judiciário só admitirá ações
relativas à disciplina e às competições desportivas após
esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva, a qual terá o prazo
máximo de sessenta dias, contados da instauração do processo,
para proferir decisão final.
■ Súmula 2 do STJ
Enunciado da Súmula: Não cabe habeas data (CF, art. 5º, LXXII, letra
a) se não houver recusa de informações por parte da autoridade
SISTEMA JUDICIÁRIO ou SISTEMA administrativa.
INGLÊS ou SISTEMA DE CONTROLE
JUDICIAL ou JURISDIÇÃO ÚNICA
■ Reclamação (para assegurar aplicação de Súmula Vinculante)
A Lei n. 11.417, de 2006, que regulamenta o art. 103-A da
Constituição Federal, estabeleceu que contra omissão ou ato da
administração pública o uso da reclamação só será admitido após
esgotamento das vias administrativas.
■ Mandado de Segurança (quando houver recurso
administrativo com efeito suspensivo)
A Lei n. 12.016, de 2009, previu que não cabe o mandado de
segurança quando “cabe recurso administrativo com efeito
suspensivo, independentemente de caução” (art. 5º, I).
■ Concessão de Benefícios Previdenciários: o STF, no RE 631240,
entendeu que “a concessão de benefícios previdenciários depende
de requerimento do interessado, não se caracterizando ameaça
ou lesão a direito antes de sua apreciação e indeferimento pelo
INSS, ou se excedido o prazo legal para sua análise. É bem de ver,
no entanto, que a exigência de prévio requerimento não se
11
confunde com o exaurimento das vias administrativas.” Mas,
pontuou que “A exigência de prévio requerimento administrativo
não deve prevalecer quando o entendimento da Administração for
notória e reiteradamente contrário à postulação do segurado”.
⚠️IMPORTANTE: vale ressaltar que essas exceções são aparentes,
porque não afastam a apreciação do Poder Judiciário, apenas a
transferem para momento posterior.
📌 OBSERVAÇÃO
Regime Jurídico Administrativo
Consiste no conjunto sistematizado de princípios de direito público a serem aplicados a todos os órgãos
e entidades que constituem a Administração Pública, sendo os princípios basilares a supremacia do interesse
público e a indisponibilidade do interesse público. Recomenda-se o estudo do RD referente à matéria.
■ Lei: trata-se de regra geral, abstrata e impessoal. Em ■ Doutrina: Segundo Rezende (2022,p. 20) “é o
sentido amplo, cuida-se da Constituição e leis resultado do trabalho especializado dos estudiosos que
infraconstitucionais, medidas provisórias, leis analisam e interpretam o sistema normativo
delegadas, etc). A Administração Pública deve atuar resolvendo contradições encontradas e formulando
orientada pela lei. definições e classificações para melhor compreensão
do sistema normativo.”
O Direito Administrativo Brasileiro não é codificado, que a Súmula Vinculante obriga também a
🚨JÁ CAIU
No concurso para Procurador do Município de Fortaleza (Ano; 2017; CESPE) foi considerada incorreta a
seguinte assertiva: Conforme a doutrina, diferentemente do que ocorre no âmbito do direito privado, os
costumes não constituem fonte do direito administrativo, visto que a administração pública deve obediência
estrita ao princípio da legalidade.
Quem é competente para legislar sobre Direito Administrativo? Em princípio, é concorrente entre
União, Estados e Distrito Federal, cabendo aos Municípios legislar em matérias sobre direito local. Todavia,
algumas matérias são de competência privativa da União, como por exemplo, registros públicos, direito
marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho, dentre outros.
A ideia de constitucionalização do Direito, conforme Luís Roberto Barroso, “está associada a um efeito
13
expansivo das normas constitucionais, cujo conteúdo material e axiológico se irradia, com força normativa, por
todo o sistema jurídico. Os valores, os fins públicos e os comportamentos contemplados nos princípios e regras da
Constituição passam a condicionar a validade e o sentido de todas as normas do direito infraconstitucional. (...)”
Especificamente, em relação ao Direito Administrativo, o autor segue dizendo: “no tocante à
Administração Pública, além de igualmente (i) limitar-lhe a discricionariedade e (ii) impor a ela deveres de
atuação, ainda (iii) fornece fundamento de validade para a prática de atos de aplicação direta e imediata da
Constituição, independentemente da interposição do legislador ordinário”12.
Assim, percebe-se que no fenômeno da constitucionalização do Direito, a Constituição se configura
como real vetor de interpretação e aplicação do sistema normativo, o que se estende para o Direito
Administrativo, moldando a atuação deste conforme os valores constitucionais.
Como sabido, ao longo do tempo, o substrato epistemológico e/ou teórico dos ramos do Direitos e de
seus institutos sofrem alterações. Nesse sentido, destaca-se algumas mudanças e tendências observadas no
Direito Administrativo:
12
BARROSO, Luís Roberto. Neoconstitucionalismo e constitucionalização do direito (O triunfo tardio do direito constitucional no Brasil). Disponível em:
https://luisrobertobarroso.com.br/wp-content/uploads/2017/09/neoconstitucionalismo_e_constitucionalizacao_do_direito_pt.pdf.
13
OLIVEIRA, Rafael Carvalho R. Curso de Direito Administrativo. Disponível em: Minha Biblioteca, (10th edição). Grupo GEN, 2022. p. 14.
14
A busca pela eficiência administrativa, compreendida como a
efetivação dos direitos fundamentais, tem justificado a relativização
RELATIVIZAÇÃO DE FORMALIDADES de formalidades desproporcionais, o que evidencia a substituição
E ÊNFASE NO RESULTADO da Administração Pública burocrática e formalista por uma
Administração Pública gerencial e de resultados.
14
PIETRO, Maria Sylvia Zanella D. Direito Administrativo. Disponível em: Minha Biblioteca, (35th edição). Grupo GEN, 2022.
15
na formação da vontade estatal, o que garante maior legitimidade e
eficiência à atuação administrativa.
15
TORRES, Ronny Charles Lopes de. Direito Administrativo. Coleção Sinopses para Concursos. p. 48.
16
empregados regidos pela CLT para prestar serviços à Administração Indireta, mediante aprovação em
concurso público.
● DIREITO PENAL: Além dos crimes contra a Administração Pública tipificados no Código Penal, o Direito
Penal possui interseção com o Direito Administrativo Sancionador.
● DIREITO CIVIL: Função social da propriedade, além das normas de teoria geral dos contratos são
aplicados nas limitações à propriedade privada e nos contratos administrativos.
● DIREITO EMPRESARIAL: estabelece diversas regras aplicadas às empresas estatais.
● DIREITO ELEITORAL: é da competência do Direito Administrativo organizar a estrutura eleitoral,
definindo regras de votação e funcionamento dos partidos políticos.
● CIÊNCIAS SOCIAIS: Em que pese as ciências sociais não possuírem força coercitiva, possuem relação
com o Direito Administrativo, no que tange à análise das atividades entre Poder Público e particulares.
🚨JÁ CAIU
No concurso para Procurador do Estado do Rio Grande do Sul (Ano: 2021; FUNDATEC), foi cobrada a seguinte
questão, a qual transcrevemos na íntegra:
A pandemia do coronavírus provocou a edição de inúmeros atos normativos para instituir um regime
extraordinário, fiscal e financeiro no Estado Brasileiro a fim de lidar com os efeitos da COVID-19 e algumas
dessas medidas, embora temporárias, interessam ao Direito Administrativo, mais especificamente no que se
denominou de direito administrativo emergencial.
Segundo Maria Sylvia, uma das principais medidas foi o Decreto Legislativo nº 6, de 20 março de 2020,
que produziu efeitos até 31 de dezembro de 2020 e reconheceu a ocorrência do estado de calamidade pública,
notadamente para as dispensas do atingimento dos resultados fiscais previstos no artigo 2º da Lei nº 13.898, de
11 de novembro de 2019, e da limitação de empenho de que trata o artigo 9º da Lei Complementar nº 101.16
Além do referido decreto, a Lei nº 13.979, de 6 de fevereiro de 2020 tratou das medidas de
16
PIETRO, Maria Sylvia Zanella D. Direito Administrativo. Disponível em: Minha Biblioteca, (35th edição). Grupo GEN, 2022, p. 91.
17
enfrentamento à situação de emergência, traçando as diretrizes gerais que orientaram o Poder Público e os
cidadãos sobre as principais medidas emergenciais que os entes governamentais de todos os níveis, dentro de
sua esfera de competência, poderiam adotar no combate à pandemia.17
As medidas previstas na lei, tais quais a imposição de isolamento, a quarentena e a vacinação, em
grande medida, inseriram-se no conceito de poder de polícia do Estado, pois restringiram o exercício de direitos
individuais em benefício do interesse coletivo. Segundo D. Pietro:
“Trata-se de medidas que, previstas em lei (portanto com observância do princípio da legalidade) podem ser
adotadas pelas autoridades públicas, mediante atos administrativos dotados do atributo da
autoexecutoriedade, ou seja, da possibilidade de serem impostos independentemente de autorização judicial.
Como todos os atos dotados desse atributo, as medidas invertem o ônus de acesso ao Judiciário. A pessoa que
se sentir lesada em seus direitos ou ameaçada de lesão é que deve opor-se, seja pela via administrativa, seja
pela via judicial. O princípio da legalidade exige que as medidas tenham previsão legal, salvo em situações de
emergência que, se não atendidas de imediato, possam acarretar dano maior à segurança, à integridade, à
vida das pessoas.”18
Quanto aos serviços públicos, o Decreto nº 10.282, de 20 março de 2020, regulamentou a Lei nº 13.979
definindo quais serviços públicos e as atividades eram essenciais, aplicando-se em todas esferas de governo,
aos entes privados e às pessoas físicas.
Dentre as atividades essenciais incluíam-se a produção, distribuição, comercialização e entrega,
realizadas presencialmente ou por meio do comércio eletrônico, de produtos de saúde, higiene, limpeza,
alimentos, bebidas e materiais de construção; serviços de pagamento, de crédito e de saque e aporte prestados
pelas instituições supervisionadas pelo Banco Central do Brasil; serviços de comercialização, reparo e
manutenção de partes e peças novas e usadas e de pneumáticos novos e remoldados.19
Ainda segundo Maria Sylvia:
“Outra medida relevante foi a promulgação da Lei nº 14.125, de 10-3-21, que estabelece normas sobre a
responsabilidade civil relativas a eventos adversos pós-vacinação contra a Covid-19 e sobre a aquisição e
distribuição de vacinas por pessoas jurídicas de direito privado. Logo no artigo 1º, a Lei autoriza todos os entes
federativos a adquirirem vacinas e a assumirem os riscos referentes à responsabilidade civil, nos termos do
instrumento de aquisição ou fornecimento de vacinas celebrado, em relação a eventos adversos
pós-vacinação, desde que a Anvisa tenha concedido o respectivo registro ou autorização temporária de uso
emergencial. A medida só é autorizada enquanto perdurar a Emergência em Saúde Pública de Importância
Nacional (Espin), declarada em decorrência da infecção humana pelo novo coronavírus (SAR-S-CoV-2). A lei
ainda estabelece normas sobre constituição de garantias ou seguro privado para cobertura dos riscos
previstos no artigo 1º, e sobre a aquisição de vacinas por pessoas jurídicas de direito privado.”20
É válido acrescentar, neste ponto, que houve intenso trabalho do Poder Judiciário na contenção do caos
17
PIETRO, Maria Sylvia Zanella D. Direito Administrativo. Disponível em: Minha Biblioteca, (35th edição). Grupo GEN, 2022, p. 91.
18
PIETRO, Maria Sylvia Zanella D. Direito Administrativo. Disponível em: Minha Biblioteca, (35th edição). Grupo GEN, 2022, p. 93.
19
PIETRO, Maria Sylvia Zanella D. Direito Administrativo. Disponível em: Minha Biblioteca, (35th edição). Grupo GEN, 2022, p. 93.
20
PIETRO, Maria Sylvia Zanella D. Direito Administrativo. Disponível em: Minha Biblioteca, (35th edição). Grupo GEN, 2022, p. 93.
18
gerado pela pandemia. Dentre os julgados originários da época com maior pico de contaminação, destacamos
as orientações jurisprudenciais do STJ (178 a 181) sobre COVID 19, muitas delas em matérias diversas do Direito
Administrativo, mas com claro uso do poder de polícia, in verbis: