Universidade Aberta Isced (UnISCED)
Faculdade de Ciências de Educação
Curso de Licenciatura em Ensino de Geografia
Os Ciclos do Desenvolvimento Humano
Elias Micheque: Código: 61230810
DOA, MAIO de 2023
Universidade Aberta Isced ( UniSCED)
Faculdade de Ciências de Educação
Curso de Licenciatura em Ensino de Geografia
Os Ciclos do Desenvolvimento Humano
Trabalho de campo de caracter
avaliativo, Curso de Licenciatura, em
Ensino de Geografia da UniSCED, do 1º
ano, recomendado pela Coordenação;
Tutor:
Elias Micheque: 61230810
DOA, MAIO de 2023
Índice
1. Introdução............................................................................................................................1
2. Ciclos de Desenvolvimento Humano.................................................................................2
3. Psicologia de Desenvolvimento.........................................................................................4
4. Factores do desenvolvimento humano.............................................................................5
5. O Inatismo............................................................................................................................9
6. O Meio como factor de Desenvolvimento Humano........................................................10
7. Conceitos Chaves na Teoria Ambientalista: estímulo, reforço e extinção...................12
8. Desenvolvimento como fruto da interação entre o Organismo e o Meio.....................13
Considerações Finais.............................................................................................................15
Referências bibliográficas.....................................................................................................16
1. Introdução
O presente trabalho traz uma abordagem sobre os ciclos do desenvolvimento humano,
partindo do pressuposto de que o ser humano passa por permanentes mudanças e
transformações desde a sua concepção, nascimento, crescimento até a morte. Mostraremos
neste trabalho os principais aspectos e factores que constituem o desenvolvimento humano,
confrontando as ideias dos diferentes autores apresentados. Iniciaremos apresentando o
conceito de desenvolvimento humano e enfocando as discussões em torno dele e vamos
constatar que há muitas visões e abordagens no campo da ciência psicológica, que nos
permitem refletir sobre a evolução do indivíduo nos seus diferentes aspectos e ao longo de
diversas etapas ou fases.
Partindo dessas discussões, situaremos as principais teorias que ousaram investigar em
profundidade como acontece o nosso desenvolvimento ao longo da vida e quais características
vamos apresentando à medida em que avançamos em nosso ciclo vital. Por fim, elegemos
algumas teorias para subsidiar uma reflexão sobre os factores que intervêm nesse processo.
Pretende - se com este trabalho fazer conhecer os ciclos do desenvolvimento humano, os
factores que influenciam o desenvolvimento, factores primordiais para a construção do
conhecimento. O objectivo específico é descrever o processo evolutivo do homem, factores que
influenciam o desenvolvimento, bem como, a construção do conhecimento.
Para a elaboração deste trabalho, recorreu - se a pesquisa bibliográfica, na qual houve a leitura
minuciosa das obras que abordam o assunto, que permitiu uma interpretação cuidadosa das
informações consultadas, seguindo - se depois a organização das informações relevantes, sua
digitação e formatação, obedecendo as recomendações do tutor da disciplina.
2. Ciclos de Desenvolvimento Humano
✓ Período Pré-Natal
É comum pensar que a vida começa com o nascimento. Porém, os nove meses que o
antecedem são responsáveis por um complexo desenvolvimento intrauterino. As características
genéticas já começam a interagir com o meio no qual o bebé se encontra. A alimentação da
mãe afecta directamente no crescimento e o bebé passa a responder à voz da mãe, a distingui-
la das demais, e ter preferência por ela.
✓ Período da Primeira Infância
A primeira infância começa com o nascimento e vai até os 3 anos de idade. Nos primeiros
meses, os cinco sentidos começam a se desenvolver. Na parte cognitiva, “as capacidades de
aprender e lembrar estão presentes mesmo nas primeiras semanas. O uso de símbolos e a
capacidade de resolver problemas se desenvolvem por volta do final do segundo ano de vida”.
(Papalia, p. 40).
Neste período, a criança começa a formar vínculos fortes com os pais ou cuidadores. Há o início
da percepção de si mesmo (autoconsciência) e o interesse por outras crianças.
✓ Período da Segunda Infância
Segundo os cientistas do desenvolvimento, a segunda infância vai dos 3 aos 6 anos de idade. O
corpo tende a se tornar mais esguio e as partes do corpo começam a se assemelhar, em termos
de proporções, com as de um adulto. O apetite tende a diminuir e podem aparecer distúrbios
do sono, como insônia.
“O pensamento é um tanto egocêntrico, mas aumenta a compreensão do ponto de vista dos
outros. A imaturidade cognitiva resulta em algumas ideias ilógicas sobre o mundo. Desenvolve-
se a identidade de gênero” (Papalia, p. 40).
A substância cinzenta diminui em uma onda inversa à medida que o cérebro amadurece e
conexões neurais são desativadas, ou seja, com o tempo há uma perda na densidade da massa
cinzenta, o que gera, paradoxalmente, um maior amadurecimento, um funcionamento mais
eficiente.
✓ Período da Terceira Infância
Nesta fase, há uma diminuição do crescimento físico. Existe a tendência de aparecem
problemas respiratórios, entretanto, é uma das fases que, em média, nota-se a presença de
maior saúde. Entre os 6 e 11 anos, há uma diminuição do egocentrismo, ou seja, a criança não é
mais tão centrada em si mesma. A escolarização ajuda neste processo e igualmente na
estimulação da memória e da linguagem.
Certas crianças podem apresentar necessidades especiais de educação ou, no extremo oposto,
talentos que exigem cuidado também. O conceito de si (autoconceito) fica mais complexo, o
que pode igualmente gerar modificações na autoestima. A convivência com colegas com idade
próxima é um factor a ser levado em conta neste período.
✓ Período da Adolescência
Nesta fase ocorre a maturidade reprodutiva, quando torna-se possível para os indivíduos serem
pais ou mães. A saúde é afecta, geralmente, pelo comportamento, como transtornos
alimentares ou uso de drogas.
Na cognição, “desenvolvem-se a capacidade de pensar em termos abstractos e de usar o
raciocínio científico. O pensamento imaturo persiste em algumas atitudes e comportamentos. A
busca pela identidade, incluindo a identidade sexual, torna-se central” (Papalia, p. 41).
✓ Período Início da Vida Adulta
Os cientistas do desenvolvimento demarcam o início da vida adulta a partir dos 20 anos e indo
até os 40. A condição física atinge o auge, depois declina ligeiramente. O pensamento e os
julgamentos morais tornam-se mais complexos. São feitas escolhas educacionais e vocacionais,
após um período exploratório. Traços e estilos de personalidade tornam-se relativamente
estáveis, mas as mudanças na personalidade podem ser influenciadas pelas fases e
acontecimentos da vida. São tomadas decisões sobre relacionamentos íntimos e estilos de vida
pessoais, mas podem não ser duradouros. A maioria das pessoas casa-se e tem filhos” (Papalia,
p. 41).
Aqui vemos que a fase anterior, a adolescência pode se prolongar ainda e haver uma certa
intersecção de fases. Afinal, não é possível demarcar com precisão quando começa a idade
adulta. Alguns argumentam que esta se inicia com o primeiro trabalho e o auto-sustento,
outros com o início da faculdade ou com a constituição de uma nova família.
✓ Período da Vida Adulta Intermediária
Esta fase vai dos 40 aos 65 anos de idade. Há mudanças significativas nas condições físicas
(saúde, vigor), porém, com grandes diferenças de uma pessoa para outra. “As mulheres entram
na menopausa. As capacidades mentais atingem o auge, a especialização e as habilidades
relativas à solução de problemas práticos são acentuadas. A produção criativa pode declinar,
mas melhor em qualidade. Para alguns, o sucesso na carreira e o sucesso financeiro atingem
seu máximo, para outros, poderá ocorrer esgotamento ou mudança de carreira. A dupla
responsabilidade pelo cuidado dos filhos e dos pais idosos pode causar estresse. A saída dos
filhos deixa o ninho vazio” (Papalia, p. 41).
✓ Período da Vida Adulta Tardia
Este período começa a partir dos 65 anos. A maioria da pessoas é saudável e activa, embora
geralmente haja um declínio da saúde e das capacidades físicas. O tempo de reação mais lento
afecta alguns aspectos funcionais. A maioria das pessoas está mentalmente alerta. Embora
inteligência e memória possam se deteriorar em algumas áreas, a maioria das pessoas encontra
meios de compensação. A aposentadoria pode oferecer novas opções para aproveitar o tempo.
As pessoas desenvolvem estratégias mais flexíveis para enfrentar perdas pessoais e a morte
eminente. O relacionamento com a família e com amigos íntimos pode proporcionar um
importante apoio. A busca de significado para a vida assume uma importância fundamental
(Papalia, p. 41).
3. Psicologia de Desenvolvimento
A Psicologia do desenvolvimento se consolidou como uma disciplina no campo da psicologia.
Um dos objectivos gerais da Psicologia do desenvolvimento é investigar as mudanças que
ocorrem no decorrer do desenvolvimento humano.
Assim, Papalia; Olds (2000, p.25) definem a Psicologia do desenvolvimento como sendo um
estudo científico de como as pessoas mudam ou como elas ficam iguais, desde a concepção até
a morte.
Historicamente, a Psicologia do desenvolvimento dedicou - se ao estudo e a pesquisa do
desenvolvimento infantil, pelo facto, de não ter havido preocupação efectiva com as crianças
nas instituições de ensino ou nos locais de trabalho.
Após décadas da dedicação da Psicologia do desenvolvimento ao estudo e a pesquisa do
desenvolvimento infantil, a disciplina avança cada vez mais para o estudo de todos os ciclos de
vida (infância, adolescência, adulto e velhice).
Deste modo, a Psicologia do desenvolvimento pode ser definida como o estudo e a pesquisa de
como as variáveis internas e externas aos indivíduos têm implicações e acarretam mudanças
em seu desenvolvimento ao longo da vida (BIAGGIO, 1978).
As variáveis internas e externas estudadas e pesquisadas pela Psicologia do desenvolvimento
abarcam o desenvolvimento cognitivo, afectivo, social e psicomotor. Nesses diferentes campos
de desenvolvimento, a Psicologia se dedica a identificar se existe um processo ou etapas por
meio dos quais um indivíduo adquire determinada capacidade humana. Na evolução da
Psicologia do desenvolvimento, o meio social, o período histórico e as questões culturais
(variáveis externas) passaram a ser incorporados nos estudos e pesquisas com maior ênfase.
4. Factores do Desenvolvimento Humano
Cada vez mais, psicólogos e educadores têm defendido uma concepção que entende o
desenvolvimento em uma dimensão integradora e transformadora, na qual actuam em
permanente interacção os factores de natureza biológica e os de natureza social e cultural. É
nessa perspectiva, que vamos discutir sobre os quatro factores intervenientes no
desenvolvimento humano, assim denominados:
✓ Crescimento orgânico e maturação do sistema nervoso e endócrino:
✓ Exercício e experiência;
✓ Interação e transmissões sociais;
✓Mecanismo reguladores.
Adotamos a terminologia piagetiana, como ponto de partida, para nomear cada um dos
factores. Afinal, este teórico os apresentou de forma mais sistematizada. Todavia, investigando
as teorias de Vigotski e Wallon, constatamos que, embora utilizem termos diferentes, eles
também se referem a estes quatro factores. Vale salientar ainda que, para os três teóricos,
nenhum factor pode ser visto isoladamente e nem com preponderância sobre os demais.
4.1. O crescimento orgânico e a maturação do sistema nervoso e endócrino
Piaget destaca que a maturação abre possibilidades novas ao ser humano, sendo condição
necessária, mas não suficiente, para o aparecimento de certas condutas, funções e
comportamentos no indivíduo. Embora não explique todo o desenvolvimento, a maturação
desempenha papel fundamental na ordem fixa dos estágios do desenvolvimento da
inteligência.
Assim, explica que uma criança não pode pular do estágio sensório - motor para o operatório
concreto, sem ter passado pelo pré - operatório. Afinal, suas estruturas vão amadurecendo
gradativamente. Para ele, à medida que as aquisições do indivíduo na construção da
inteligência vão se complexificando, há um decréscimo da influência da maturação e,
consequentemente, um aumento das influências do meio físico e social.
Sobre o factor maturação, Vigotski defende que a base biológica do funcionamento psicológico
humano se assenta no cérebro como órgão principal do desenvolvimento mental. O cérebro é a
base da actividade psíquica que cada indivíduo traz consigo ao nascer. No entanto, para ele,
essa base não é imutável, posto que, na permanente internalização da cultura e interação com
o outro, o cérebro humano foi desenvolvendo novas funções criadas ao longo da história.
Nessa mesma direção, Wallon destaca que, no desenvolvimento humano, os aspectos
biológicos presentes fortemente no nascimento vão gradativamente cedendo lugar à influência
dos aspectos sociais. Para ele, a maturação cerebral nos processos de desenvolvimento
humano, sem a intervenção da cultura, não garante as habilidades intelectuais mais complexas.
Assim, as fronteiras entre os fatores de maturação orgânica e os sociais são bastante tênues.
4.2. O exercício e a experiência
Este é um factor complexo do desenvolvimento humano. Há experiência física caracterizada
pela acção do sujeito no mundo concreto. Por exemplo, comparar o peso e o tamanho de dois
objectos. Mas, há também a experiência lógico-matemática que envolve a construção de
relações entre objectos, factos, elementos que não têm existência física na realidade externa e,
sim, na mente do sujeito.
Alguns exemplos são as operações matemáticas com números e variáveis; as interpretações
textuais; as análises de causas e consequências de determinados eventos, factos e fenômenos
etc, que exigem do sujeito um tipo de abstração denominada reflexiva. Esta é uma capacidade
de pensamento mais complexa, que para ser desenvolvida necessita que o indivíduo viva
experiências que o levem para além do plano concreto, do contacto físico com os objectos.
Experiências que lhe permitam imaginar, hipotetizar, criar, confrontar, relacionar, abstrair,
induzir, desafiar etc.
Para Vigotski, a experiência como factor influente no desenvolvimento se insere em seu
conceito de actividade do indivíduo no mundo, mediado pelos sistemas simbólicos dos quais ele
dispõe, notadamente, pela linguagem. A estrutura humana se constroi em um processo, cujas
raízes estão na relação dialética da história individual e social. Apropriando-se das experiências
culturais acumuladas pela humanidade, o indivíduo se constroi como ser humano.
Wallon também realça a experiência como um dos elementos fundantes do desenvolvimento
das habilidades intelectuais complexas. Um ideia central de sua teoria é a construção da
inteligência a partir dos actos motores, ou seja, é na acção da criança sobre o mundo físico, que
ela vai constituir o seu pensamento.
4.3. As interações e transmissões sociais
Piaget se refere ao processo de socialização humana, como sendo aquele para o qual o
indivíduo contribui e, ao mesmo tempo, recebe dele contribuição. À medida em que a criança
se desenvolve cognitivamente, na interacção com o meio, seu comportamento é afectado em
todas as áreas. Portanto, o processo de construção do pensamento, ocorre do mesmo modo
que o processo de construção da capacidade de julgamento moral por parte do sujeito. Assim,
a capacidade do indivíduo de julgar o que é certo ou errado, adequado ou inadequado, ético ou
anti-ético, honesto ou desonesto, verdade ou mentira etc, está relacionada directamente aos
estágios do desenvolvimento do pensamento. É o que ele denominou de isomorfismo entre
operação e cooperação, ou seja a forma como aprendemos a somar números é a mesma como
aprendemos o que é ser solidário, por exemplo.
Ele da seguinte exemplo: Supondo que um bebê nascesse e sobrevivesse no meio de uma selva,
convivendo apenas com animais, sem as experiências da nossa cultura, não se humanizaria.
Este terceiro factor é fundamental na teoria piagetiana, posto que concebe a construção das
estruturas cognitivas na permanente interacção do sujeito com o meio, considerando que em
todos os meios os indivíduos constantemente discutem, investigam, interagem, colaboram.
Em Vigotski, os factores sociais no desenvolvimento humano encontram um lugar de destaque.
Sua concepção de desenvolvimento já os considera um processo sócio-histórico. A
internalização das atividades, socialmente e historicamente desenvolvidas, constitui aspecto
característico da espécie humana, culminando na formação dos processos psicológicos
superiores.
Esse processo de internalização da cultura é possível graças à mediação dos sistemas simbólicos
de representação do real, cuja a linguagem é o principal sistema. O uso de signos, conduz os
seres humanos a uma estrutura específica de comportamento que se destaca do
desenvolvimento biológico, por exemplo, dos demais animais. Assim, cria novas formas e
processos psicológicos de inserção na cultura.
Para Wallon, assim como Vigotski, a cultura e a linguagem fornecem ao pensamento os
instrumentos de sua evolução, sendo o desenvolvimento dependente das condições oferecidas
pelo meio e do grau de apropriação que o sujeito fizer dela. É o ambiente social que vai ajudar a
transformar o intenso intercâmbio emocional característico do primeiro ano de vida, em
comunicação verbal.
4.4 Mecanismos reguladores
O quarto factor que intervem no desenvolvimento humano é chamado por Piaget de
equilibração. É um mecanismo interno que permite a nossa mente coordenar e conciliar as
contribuições da maturação, da experiência e da interacção social. O organismo para responder
às perturbações do meio, desenvolve compensações activas, através de assimilações,
acomodações e adaptações. A equilibração funciona como um processo de natureza auto-
reguladora, que permite ao sujeito incorporar, com êxito, aos seus esquemas mentais, novas
experiências, conhecimentos, comportamentos etc.
Em Vygotsky, o mecanismo coordenador dos demais factores é o processo de internalização ou
apropriação. Desde o nascimento, às crianças se apropriam da cultura, a partir dos significados
que os adultos atribuem as condutas e a objectos culturais que se formaram ao longo da
história. Através das intervenções constantes dos adultos, os processos psicológicos complexos
começam a se formar. Assim, o desenvolvimento do psiquismo é mediado pelo outro, que
indica, delimita e atribui significados à realidade.
Quando internalizadas, as atividades que antes eram mediadas (interpessoal), passam a
constituir-se em um processo voluntário e independente (actividade intrapessoal). Por
exemplo, a criança aprende o que é uma cadeira, uma colher, um aniversário porque os adultos
lhe ensinaram. O mecanismo regulador dos outros três factores, para Wallon, é a oposição
funcional entre afetividade e cognição (razão-emoção), ao longo do desenvolvimento. A base
deste mecanismo está no conflito vivido pelo sujeito, seja interno ou advindo do meio. Para ele,
mesmo do ponto de vista orgânico tendo atingido a maturação, as estruturas psíquicas poderão
progredir num permanente processo de especialização e sofisticação.
5. O Inatismo
A concepção inatista do desenvolvimento defende que os seres humanos já possuem suas
características e potencialidade determinadas ao nascer (BISINOTO & ARAÚJO, M. 2014)
Nesta concepção, o desenvolvimento é considerado algo biologicamente determinado, sendo
este fruto de características herdadas pelo sujeito.Tal concepção parte do pressuposto de que
os eventos que ocorrem depois do nascimento são pouco importantes para os rumos do
desenvolvimento da pessoa. Essa afirmação é feita com base na crença de que o indivíduo
possui suas características inatas e vão desenvolvendo espontaneamente desde o nascimento
até a fase adulta através do processo de maturação biológica, que independe de eventos
externos (DAVIS; OLIVEIRA, 1991). Ou seja, tal corrente de pensamento não leva em
consideração a influência do meio ambiente, a experiência individual, as relações interpessoais
e as aprendizagens como factores que influenciam o processo de desenvolvimento humano,
uma vez que acredita que ele já se encontra determinado por factores biológicos que se
desenvolverão espontaneamente através do processo de maturação biológica.
Ao considerar que o desenvolvimento se dá através de factores endógenos, ou seja, de origem
interna, a concepção inatista acabou por desconsiderar o papel do ambiente e, portanto, da
educação e do ensino no processo de desenvolvimento humano.
Mello (2004) afirma que a concepção inatista provocou uma certa ideia de imobilismo para a
actuação do educador e da educação. Segundo a autora, de nada adiantaria tentar construir as
qualidades, aptidões e habilidades que o sujeito não trouxesse consigo ao nascer, uma vez que
a educação apenas facilitaria o desenvolvimento daquelas qualidades para as quais o sujeito já
apresentasse uma certa predisposição para desenvolver.
Nesta concepção, a educação não é entendida como um factor relevante para desenvolvimento
do educando, ela apenas auxilia no desenvolvimento das capacidades inatas, já existentes no
sujeito, uma vez que ela não pode criar ou modificar algo que já esteja determinado
geneticamente. O processo educativo é, portanto, algo dependente de traços cognitivos
inerentes ao aluno.
Ao partir do ponto de vista de que o ambiente social e a educação não interferem no processo
de desenvolvimento humano, sendo este fruto apenas das capacidades inatas do sujeito,
ocorre de forma consciente ou não uma responsabilização do aluno por seu sucesso e também
pelo seu próprio fracasso em decorrência de não possuir aptidões, habilidades ou inteligência
que o possibilite avançar no seu próprio desenvolvimento.
Segundo Marinho Araújo (2014) e Bisinoto (2014), as considerações sobre a prontidão do
indivíduo são responsáveis por gerar preconceitos prejudiciais ao sucesso escolar do aluno, pois
o ensino, amparado nessa concepção se baseia no facto do estudante ter ou não qualidades,
aptidão, prontidão, inteligência, herdadas. Com isso, quando um estudante não aprende o
conteúdo escolar previsto, começa-se a criar hipóteses que evidenciam a falta de traços
cognitivos, habilidades inatas que o impediram de avançar, como: “não amadureceu” o
suficiente para aprender.
No fim, as hipóteses utilizadas para explicar o fracasso responsabilizam individualmente o
estudante, a partir de uma concepção que localiza nele a dificuldade. Em outras palavras, ao
explicar o desenvolvimento por meio de posições inatistas, elimina-se a influência das
interacções sociais e culturais, e, por consequência, o desempenho do sujeito deixa de ser
responsabilidade do sistema educacional e passa a ser de total responsabilidade do aluno que,
para ter sucesso, deverá possuir pré-requisitos básicos que implicarão no seu desenvolvimento
e possibilitarão a sua aprendizagem.
6. O Meio como factor de Desenvolvimento Humano
Ao contrário do pensamento inatista, a concepção ambientalista não considera as questões
genéticas influentes no processo de desenvolvimento. Para esta concepção, o ser humano é
concebido como um ser extremamente plástico, que desenvolve suas características em função
das condições presentes no meio em que vive (DAVIS; OLIVEIRA, 1991; MARINHO-ARAÚJO,
2014), ou seja, é no ambiente que o ser humano irá encontrar condições para desenvolver e
moldar suas características: personalidade, valores, comportamentos e etc.
Tal corrente de pensamento tem seu enfoque na promoção do desenvolvimento através da
manipulação do comportamento do indivíduo, criando condições planejadas para que ele se
desenvolva, conforme estabelece o meio em que ele se encontra.
Podemos notar que, se por um lado a concepção inatista não considera o ensino e, a
interferência pedagógica como um factor decisivo no desenvolvimento do sujeito, na
concepção ambientalista há uma grande valorização do professor e das actividades educativas
por ele planejadas para a promoção do desenvolvimento humano. Contudo, apesar da
concepção ambientalista promover uma certa valorização da actuação docente, atribuindo a
ela grande importância para o processo de desenvolvimento, ela acarretou um excessivo
diretivíssimo por parte do professor, deixando de valorizar as situações onde a aprendizagem
pode se dar de maneira espontânea e cooperativa (DAVIS; OLIVEIRA, 1991). Ou seja, por ser
baseada no controle e manipulação do comportamento que se espera ter do estudante, tal
concepção não permite que a aprendizagem se dê de maneira natural, uma vez que só permite
o desenvolvimento de comportamentos e actividades que estejam presentes no ambiente ou
no planejamento do professor. “Portanto, a capacidade do indivíduo de se modificar ou
interferir no contexto social e político, no sentido de transformá-lo e inová-lo, é residual, pois
apenas produz as características de seu ambiente” (REGO, 1998, p. 58).
Outra crítica que se faz à concepção ambientalista é quanto a sua suposição de um indivíduo
passivo frente ao meio em que vive. Se na concepção inatista os problemas relativos ao
fracasso escolar são de exclusiva responsabilidade do aluno; nessa perspectiva, as causas das
dificuldades do aluno são atribuídas ao universo social, como a pobreza, a fome, estrutura
familiar, ao ambiente em que vive, à violência da sociedade actual, à influência da mídia, dos
colegas, etc. Desse modo, essa concepção é responsável por causar uma sensação de
impotência dos educadores, pois é tamanha a força modeladora do aspecto social, que a escola
se torna impotente e sem instrumentos para lidar com o sujeito, principalmente aquele
proveniente das camadas populares (REGO, 2011).
É com base na ideia do sujeito como um ser plástico frente as condições oferecidas pelo meio,
condições estas que irão determinar suas características, condutas e desenvolvimento pessoal,
que a escola se torna incapaz e se isenta do papel de promover o desenvolvimento do aluno,
uma vez que ela não pode lidar com tamanha força modeladora do aspecto social, o que muitas
vezes cria o pensamento de que nada adianta a escola tentar desenvolver prácticas educativas
se o aluno retornará para o mesmo ambiente e condições (pobreza, violência, fome) do qual
veio, o que acarretará o fracasso escolar.
7. Conceitos Chaves na Teoria Ambientalista: estímulo, reforço e extinção
Os termos estímulo, reforço e extinção foram trazidos na Psicologia pelo ambientalista Burrhus
Frederick Skinner (1904 - 1990) na sua teoria de aprendizagem.
BOCK, Ana; FURTADO, Odair e TEIXEIRA, Maria. (1992. pág. 38-47) definem estes conceitos nos
seguintes termos:
✓ Estímulo é um reforço positivo (conseqüência que promove o comportamento que a
adiciona um algo) ou negativo ( consequência que fortalece o comportamento que elimina algo
indesejável ).
✓ Reforço
O reforço é o elemento-chave na teoria S-R de Skinner. Um reforço é qualquer coisa que
fortaleça o comportamento desejável. Pode ser um elogio verbal, uma boa nota, ou um
sentimento de realização ou satisfação crescente.
O reforço pode ser positivo ou negativo.
- O reforço positivo é aquele que, quando apresentado, actua para fortalecer o
comportamento que o precede. O reforçamento positivo oferece alguma coisa ao organismo.
- O reforço negativo é aquele que fortalece o comportamento que o remove. O reforço
negativo permite a retirada de algo indesejável.
Dá - se um exemplo de um ratinho numa caixa que tem um choque no assoalho que após
tentativas de evitar o choque, o ratinho chega à barra e a pressiona por acaso. O choque
desaparece. Aos poucos, o bater na barra está associado com o desaparecimento do choque.
Este condicionamento dá-se por reforço negativo. É reforço porque um comportamento é
emitido e aumentado em sua freqüência por obter um efeito desejado.
✓ Extinção
Assim como podemos instalar comportamentos, podemos "descondicionar uma resposta".
Extinção é um processo de eliminação dos comportamentos indesejáveis ou inadequados pela
ausência do reforço.
8. Desenvolvimento como fruto da interação entre o Organismo e o Meio
A concepção interacionista se contrapõe tanto à concepção que compreende que os seres
humanos já possuem suas características e potencialidades determinadas ao nascer, concepção
inatista, como a concepção de que o ser humano é um ser extremamente plástico que se
desenvolve passivamente em função das condições presentes no meio o qual está inserido,
concepção ambientalista.
De acordo com Vygotsky (2003), um dos autores representantes da concepção interacionista,
podemos compreender que o desenvolvimento do sujeito depende tanto dos aspectos
biológicos como dos aspectos sociais. É biológico porque depende do amadurecimento
orgânico, a prova disso é que não conseguimos imaginar um bebê andando de bicicleta ou
pilotando um automóvel, pois ele não possui as capacidades físicas necessárias para executar
tal actividade, ou seja, ele tem que passar por um processo de desenvolvimento, que é típico da
espécie, e esse desenvolvimento envolve amadurecimento biológico. É social, porque é através
das relações estabelecidas com o meio que o sujeito irá se apropriar da cultura historicamente
acumulada, que é essencial para o desenvolvimento humano.
Segundo Vygotsky (2003), essa apropriação da cultura humana ocorre através do processo de
mediação. Neste processo, os parceiros mais experientes se configuram com agentes externos,
detentores da cultura socialmente construída, e a medida que se relacionam com os mais
jovens, sujeitos menos experientes, tornam possível a apropriação da cultura por esse grupo.
Nessa perspectiva, o processo de mediação e apropriação da cultura produzida historicamente,
que possibilita o desenvolvimento do sujeito é um processo de educação (BISINOTO, 2012;
RIGON; ASBAHR; MORETTI, 2010), ou seja, é através do processo de educação que o sujeito se
apropria da cultura produzida pelo conjunto de seres humanos e essa educação não se reduz
apenas aos conhecimentos científicos e sistematizados, mas contempla todos os
conhecimentos produzidos pela humanidade, como, valores, comportamentos habilidades etc.
O que significa que a educação ocorre em todos os contextos, muito antes de os sujeitos
ingressarem na escola.
A escola surge como a instituição responsável pelos conhecimentos formais que, segundo
Vygotsky (2003), é de extrema importância, pois introduz elementos novos no desenvolvimento
da criança.
Para Vygotsky (2003), a importância especial da educação escolar está no fato de ela actuar na
zona de desenvolvimento proximal dos alunos, a chamada ZDP, definida por Vygotsky, como “a
distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução
independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da
solução independente de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com
companheiros mais capazes” (VYGOTSKY, 2003, p. 112).
É justamente nesse nível do desenvolvimento, ZDP, que os alunos necessitam da ajuda do outro
para realizar as actividades que eles ainda não conseguem realizar sozinhos. É nesse momento
que o papel do professor se torna imprescindível, pois ele é o profissional capaz de identificar
em qual nível de desenvolvimento (real ou proximal) o aluno se encontra e exercer uma
mediação intencionada para que o aluno alcance o nível de desenvolvimento potencial,
possibilitando um salto no desenvolvimento do aluno.
No entanto, para que o professor conheça o nível de desenvolvimento que o aluno se encontra,
e possa intervir propiciando um salto no seu desenvolvimento, é preciso que, no cotidiano, o
professor estabeleça uma relação de diálogo com os alunos e que crie situações em que eles
possam expressar aquilo que já sabem. Enfim, é preciso que o professor se disponha a ouvir e
notar as manifestações de seus alunos (REGO, 2011).
Considerações Finais
Como vimos, o desenvolvimento é algo contínuo no ser humano e depende do contexto para
que possa ser favorável ou não. Diversos aspectos são comuns a muitas pessoas, o que
possibilita trabalhos focais, envolvendo-os. Outros são específicos, frutos de condições da
própria pessoa (a presença de algum tipo de deficiência) ou, ainda, frutos de condições sociais
e/ou culturais. No final da infância e da adolescência, as mudanças orgânicas, psicológicas e
sociais são intensas e nem sempre os familiares e professores estão preparados para ajudar os
adolescentes a enfrentarem as dificuldades decorrentes desse processo. Em qualquer dos
casos, o professor precisa estar atento para poder compreender e contribuir com o
desenvolvimento dos seus estudantes.
Entretanto, é preciso lembrar que, embora muitas dificuldades tenham sido apontadas no
desafio do desenvolvimento nesse período da vida, também há momentos de alegria e prazer,
com os desafios e conquistas que o amadurecimento proporciona. Além disso, a adolescência
pode ser vivenciada e posteriormente lembrada como uma fase boa e importante.
Referências bibliográficas
BISINOTO, C. (2014). Repercussões das concepções de desenvolvimento no espaço educativo e
na ação docente. Em Bisinoto, C. (Organizadora), Docência na Socioeduação (pp.88-97). Brasília:
Universidade de Brasília.
BOCK, Ana; FURTADO, Odair e TEIXEIRA, Maria. (1992). Psicologias. Uma introdução ao estudo
de Psicologia. São Paulo: Saraiva, pág. 38-47.
DAVIS, C; OLIVEIRA, Z. (1994). A psicologia na educação e a criança enquanto ser em
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