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•Dimensões do trabalho profissional

•O projeto ético-político do Serviço Social

• A Lei 8662/93 que regulamenta a profissão de Serviço


Social

•Atribuições e competências profissionais

Disciplina: Processos de Trabalho e Serviço Social II


Semestre 1.2025
Aula 03 – 22/05/2025
Profa. Dra: Natália Coelho de Oliveira
 Anos 80 - tratamento dispensado ao significado social da profissão, enquanto
especialização do trabalho coletivo, inserido na divisão social e técnica do
trabalho.
 A historicidade do Serviço Social é entendido no quadro das relações sociais,
entre as classes sociais e destas com o Estado. Implica, pois, compreender a
profissão com um processo, vale dizer, ela se transforma ao transformarem-se as
condições e as relações sociais nas quais se inscreve. Por esta razão, é necessário
contextualizar o significado social da profissão nos anos 90, salientando as
mediações históricas que incidem sobre o perfil da profissão hoje, às demandas e
as respostas às quais é investigada a construir.
 Os anos 90 expressam profundas transformações nos processos de produção e
reprodução da vida social, determinados pela reestruturação produtiva, pela
reforma do Estado e pelas novas formas de enfrentamento da questão social,
apontando, inclusive, para a alteração das relações entre o público e o privado,
alterando as demandas profissionais.
 O trabalho do Assistente Social é também afetado por tais transformações,
produto das mudanças na esfera da divisão sociotécnica do trabalho, no cenário
mundial.
 Pressupostos norteadores da concepção da formação profissional, que
informa a revisão, são as seguintes:
 O Serviço Social se particulariza nas relações sociais de produção como profissão
interventiva no âmbito da questão social;
 A relação do Serviço Social como a Questão Social - fundamento básico da sua
existência - é mediatizada por um conjunto de processos sociohistóricos e
teórico-metodológicos constitutivos de seu processo de trabalho.
 O agravamento da questão social em face das particularidades do processo de
reestruturação produtiva no Brasil, nos marcos da ideologia neoliberal,
determina uma inflexão no campo profissional do Serviço Social. Essa inflexão é
resultante de novas requisições postas pelo reordenamento do capital e do
trabalho, pela reforma do Estado e pelo movimento de organização das classes
trabalhadoras, com amplas repercussões no mercado profissional de trabalho.
 O processo de trabalho do Serviço é determinado pelas configurações estruturais
e conjunturais da questão social e pelas formas históricas se seu enfrentamento,
permeadas pela ação dos trabalhadores, do capital e do Estado, através das
políticas e lutas sociais.
 Objeto ou matéria-prima - incide a ação transformadora. => A QUESTÃO SOCIAL
 Os meios de trabalho - instrumentos, técnicas e recursos materiais e intelectuais que
propiciam uma potencialização da ação humana sobre o objeto e a atividade do sujeito
direcionada por uma finalidade, ou seja, o próprio trabalho.
 Significa, ainda, reconhecer o produto do trabalho profissional e suas implicações
materiais, ideo-políticas e econômicas. A ação profissional, assim compreendida, exige
considerar as condições e relações sociais historicamente estabelecidas, que condicionam
o trabalho do assistente social: os organismos empregadores (públicos e privados) e
usuários dos serviços prestados, os recursos humanos, materiais e financeiros acionados
para a efetivação deste trabalho, e a articulação do assistente social com outros
trabalhadores, como partícipe do trabalho coletivo. (ABESS, CEDEPSS, 1995 e 1996).
 “Compreender as particularidades do Serviço Social como especialização do trabalho
coletivo requer a apreensão do conjunto de características que demarcam a
institucionalização e o desenvolvimento da profissão. Isto é, tanto as determinações
sociohistóricas de sua inserção na sociedade brasileira que perfilam o fazer profissional,
quanto à herança cultural que vem respaldando as explicações efetivados pelo Serviço
Social, sobre as relações sociais, sobre suas práticas, suas sistematizações e seus saberes.”
(ABEPSS, 1996, p. 12)
 => É daí que emanam as requisições profissionais, os condicionantes
do seu trabalho e as respostas possíveis formuladas pelo assistente
social.
 O rigor teórico-metodológico e acompanhamento da dinâmica
societária dá um novo estatuto à dimensão interventiva e operativa
da profissão.
 => o reconhecimento do caráter interventivo do Assistente social supõe
uma capacitação crítico-analítica que possibilita a construção de seus
objetos de ação, em suas particularidades socioinstitucionais para
elaboração criativa de estratégias de intervenção comprometidas com as
proposições ético-políticas do projeto profissional.
 => a competência teórico-metodológica, técnico-operativa e ético-
política são requisitos fundamentais que permite ao profissional colocar-
se diante das situações com as quais se defronta, vislumbrando com
clareza os projetos societários, seus vínculos de classe, e seu próprio
processo de trabalho.
 Os fundamentos históricos, teóricos e metodológicos são necessários para
apreender a formação cultural do trabalho profissional e, em particular, as formas
de pensar dos assistentes sociais. Estas formas de pensar implicam formas de
agir, ou seja, a instrumentalidade da profissão. Tal fundamentação e
instrumentalidade são os componentes que permitem a compreensão do
cotidiano de vida dos usuários.
 A postura investigativa é um suposto para a sistematização teórica e prática do
exercício profissional, assim como para a definição de estratégias e o
instrumental técnico que potencializa as formas de enfrentamento da
desigualdade social. Este conteúdo da formação profissional está vinculado à
realidade social e às mediações que perpassam o exercício profissional. Tais
mediações exigem não só a postura investigativa, mas o estreito vínculo com os
modos de pensar e agir dos profissionais.
 Com base na análise do Serviço Social, historicamente construída e teoricamente
fundamentada, é que poderá discutir as estratégias e técnicas a partir de quatro
fundamentos: o que fazer, porque fazer, como fazer e para que fazer. Não se
trata apenas da construção operacional do fazer (organização técnica do
trabalho), mas, sobretudo da dimensão intelectiva e ontológica do trabalho,
considerando aquilo que é específico ao trabalho do assistente social em seu
campo de intervenção.
 Ela possibilita que os profissionais objetivem sua intencionalidade em
respostas profissionais. É por meio desta capacidade, adquirida no
exercício profissional, que os assistentes sociais modificam,
transformam, alteram as condições objetivas e subjetivas e as relações
interpessoais e sociais existentes num determinado nível da realidade
social: no nível do cotidiano.
 Ao alterarem o cotidiano profissional e o cotidiano das classes sociais que
demandam a sua intervenção, modificando as condições, os meios e os
instrumentos existentes, e os convertendo em condições, meios e
instrumentos para o alcance dos objetivos profissionais, os assistentes
sociais estão dando instrumentalidade às suas ações.
 Na medida em que os profissionais utilizam, criam, adequam às
condições existentes, transformando-as em meios/instrumentos para a
objetivação das intencionalidades, suas ações são portadoras de
instrumentalidade.
 Deste modo, a instrumentalidade é tanto condição necessária de todo
trabalho social quanto categoria constitutiva, um modo de ser, de todo
trabalho. (Guerra, 1995).
Pensar o PROJETO PROFISSIONAL supõe articular essa dupla dimensão:

 De um lado, as condições macrossocietárias que estabelecem o terreno sócio-


histórico em que se exerce a profissão, seus limites e possibilidades e,
 De outro lado, as respostas técnico-profissionais e ético-políticas dos agentes
profissionais nesse contexto, que traduzem como esses limites e possibilidades são
analisados, apropriados e projetados pelos assistentes sociais.
 Segundo Netto (1999:95), os projetos profissionais, construídos por um sujeito coletivo
- a respectiva a categoria profissional, “apresentam a autoimagem da profissão,
elegem valores que a legitimam socialmente, delimitam e priorizam seus objetivos e
funções, formulam requisitos (técnicos, institucionais e práticos) para o seu exercício,
prescrevem normas para o comportamento dos profissionais e estabelecem balizas de
sua relação com os usuários dos seus serviços, com outras profissões e com as
organizações e instituições, públicas e privadas (entre estes, também e
destacadamente com o Estado, ao qual coube historicamente, o reconhecimento
jurídico dos estatutos profissionais)”
 => Projetos profissionais esses que são indissociáveis dos projetos societários que
lhes oferecem matrizes e valores. Expressam um processo de lutas pela hegemonia
entre as forças sociais presentes na sociedade e na profissão. São, portanto,
estruturas dinâmicas, que respondem às alterações das necessidades sociais sobre as
quais opera fruto das transformações econômicas, históricas e culturais da sociedade.
Mas expressam, também, o desenvolvimento teórico e prático da profissão e as
mudanças na categoria profissional (idem). => AMADURECIMENTO PROFISSIONAL.
O Serviço Social também fez um radical giro na sua dimensão ética e debate profissional.
Constituiu democraticamente a sua normatização, expressa no Código de Ética de 1993, que
dispõe de um caráter de obrigatoriedade, ao estabelecer direitos e deveres do assistente social,
segundo princípios e valores humanistas, guias para o exercício cotidiano.
Destaca-se:
 o reconhecimento da liberdade como valor ético central, que requer o reconhecimento da
autonomia, emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais e de seus direitos;
 a defesa intransigente dos direitos humanos contra todo tipo de arbítrio e autoritarismo;
 a defesa, aprofundamento e consolidação da cidadania e da democracia da socialização da
participação política e da riqueza produzida;
 o posicionamento a favor da equidade e da justiça social, que implica a universalidade no acesso a
bens e serviços e a gestão democrática;
 o empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, e a garantia do pluralismo;
 o compromisso com a qualidade dos serviços prestados na articulação com outros profissionais e
trabalhadores.
 A efetivação desses princípios remete à luta. Aquela efetivação condensa e materializa a firme
recusa à ingenuidade ilusória do tecnicismo.
 É nos limites desses princípios que se move o pluralismo, que supõe o reconhecimento na luta
acadêmica e técnico-política, de orientações distintas presentes na arena profissional, assim como
o embate respeitoso com as tendências regressivas do Serviço Social, cujos fundamentos liberais e
conservadores legitimam a ordem vigente.
O Serviço Social também fez um radical giro na sua dimensão ética e debate profissional.
Constituiu democraticamente a sua normatização, expressa no Código de Ética de 1993, que
dispõe de um caráter de obrigatoriedade, ao estabelecer direitos e deveres do assistente social,
segundo princípios e valores humanistas, guias para o exercício cotidiano.
Destaca-se:
 o reconhecimento da liberdade como valor ético central, que requer o reconhecimento da
autonomia, emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais e de seus direitos;
 a defesa intransigente dos direitos humanos contra todo tipo de arbítrio e autoritarismo;
 a defesa, aprofundamento e consolidação da cidadania e da democracia da socialização da
participação política e da riqueza produzida;
 o posicionamento a favor da equidade e da justiça social, que implica a universalidade no acesso a
bens e serviços e a gestão democrática;
 o empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, e a garantia do pluralismo;
 o compromisso com a qualidade dos serviços prestados na articulação com outros profissionais e
trabalhadores.
 A efetivação desses princípios remete à luta. Aquela efetivação condensa e materializa a firme
recusa à ingenuidade ilusória do tecnicismo.
 É nos limites desses princípios que se move o pluralismo, que supõe o reconhecimento na luta
acadêmica e técnico-política, de orientações distintas presentes na arena profissional, assim como
o embate respeitoso com as tendências regressivas do Serviço Social, cujos fundamentos liberais e
conservadores legitimam a ordem vigente.
 Outros pilares do projeto profissional são:

 A lei da regulamentação da profissão, ora em debate, que representa uma defesa da


profissão na sociedade e um guia para a formação acadêmico-profissional; e as
diretrizes curriculares para a área de Serviço Social, propostas pelas unidades de ensino
através da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS) e
aprovadas, com restrições, pelo Conselho Nacional de Educação.
 As diretrizes propostas pela categoria materializam um projeto de formação
profissional que vem sendo construído coletivamente no bojo do processo de
renovação do Serviço Social brasileiro, como um dos pilares do processo ético-político
da profissão.
 Para operacionalização do PROJETO PROFISSIONAL é preciso que o profissional:
- entenda a política neoliberal que hoje determina o modo de vida dos sujeitos;
- conheça a arena sócio-histórica que circunscreve o seu trabalho, a correlação de forças em disputa
(forças políticas, econômicas e culturais), as relações de trabalho, os sujeitos sociais etc.
- articule as três dimensões da categoria, a saber: BASES DO PEP
1) dimensão da produção do conhecimento (desenvolvimento da dimensão investigativa, utilizando o seu
referencial teórico-metodológico para criar reflexões sobre o fazer profissional)
2) dimensão político organizativa (CFESS, CRESS, ENESSO, ABEPSS)
3) dimensão jurídico política (Cód. Ética 1993, Lei de Regulamentação da Profissão 1993 e Diretrizes
Curriculares da ABEPSS 1996 e demais legislações específicas do Serviço Social, legislações sociais)
- faça análise apurada das reais condições e relações sociais, num esforço para integrar o DEVER SER
com a OBJETIVAÇÃO POSSÍVEL.
- dê a direção política de sua ação.
Para tanto, é necessário ressaltar que:
 Os objetivos e projetos propostos que direcionam a ação têm uma importância fundamental na
afirmação da condição dos indivíduos sociais como sujeitos da história. Reforça a noção de
INTENCIONALIDADE da ação profissional.
 O PEP ganha visibilidade social – por meio de determinados componentes construídos pelos(as) próprios(as)
assistentes sociais. Segundo Teixeira & Braz (2009), são eles:

a) a produção de conhecimentos no interior do Serviço Social, através da qual conhecemos a maneira como são
sistematizadas as diversas modalidades práticas da profissão, onde se apresentam os processos reflexivos do fazer
profissional e especulativos e prospectivos em relação a ele. Esta dimensão investigativa da profissão tem como
parâmetro a sintonia com as tendências teórico‐críticas do pensamento social já mencionadas. Dessa forma, não cabem
no projeto ético‐político contemporâneo posturas teóricas conservadoras, presas que estão aos pressupostos filosóficos cujo
horizonte é a manutenção da ordem;
b) as instâncias político organizativas da profissão, que envolvem tanto os fóruns de deliberação quanto às entidades da
profissão: as associações profissionais, as organizações sindicais e, fundamentalmente, o conjunto CFESS/CRESS
(Conselho Federal e Conselhos Regionais de Serviço Social), a ABEPSS (Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em
Serviço Social), além do movimento estudantil representado pelo conjunto de CAs e DAs (Centros e Diretórios Acadêmicos
das unidades de ensino) e pela ENESSO (Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social).
É por meio dos fóruns consultivos e deliberativos dessas entidades que são consagrados coletivamente os traços gerais
do projeto profissional, onde são reafirmados (ou não) compromissos e princípios. Assim, subentende‐se que o projeto
ético‐político pressupõe, em si mesmo, um espaço democrático de construção coletiva, permanentemente em disputa.
Essa constatação indica a coexistência de diferentes concepções do pensamento crítico, ou seja, o pluralismo de ideias no
seu interior;
c) A dimensão jurídico política da profissão, na qual se constitui o arcabouço legal e institucional da profissão, que envolve
um conjunto de leis e resoluções, documentos e textos políticos consagrados no seio da profissão. Há nessa dimensão duas
esferas distintas, ainda que articuladas, quais sejam: um aparato jurídico‐político estritamente profissional e um aparato
jurídico‐político de caráter mais abrangente. No primeiro caso, temos determinados componentes construídos e
legitimados pela categoria, tais como: o atual Código de Ética Profissional, a Lei de Regulamentação da Profissão (Lei
8662/93) e as Novas Diretrizes Curriculares dos Cursos de Serviço Social, documento referendado em sua integralidade
pela Assembléia Nacional da ABEPSS em 1996 e aprovado, com substanciais e prejudiciais alterações, pelo MEC. No
segundo caso, temos o conjunto de leis (a legislação social) advindas do capítulo da Ordem Social da Constituição
Federal de 1988, que, embora não exclusivo da profissão, a ela diz respeito tanto pela sua implementação efetiva
tocada pelos assistentes sociais em suas diversas áreas de atuação (pense na área da saúde e na LOS – Lei Orgânica da
Saúde – ou na assistência social e na LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social – ou, ainda, na área da infância e juventude
e no ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente), quanto pela participação decisiva que tiveram (e têm) as vanguardas
profissionais na construção e aprovação das leis e no reconhecimento dos direitos na legislação social por parte do Estado em
seus três níveis.
Esses componentes na prática materializam o PEP na realidade objetiva, pois tornam o PEP uma projeção coletiva dos ASs.
 Projetos Societários (caráter mais amplo) - transformadores ou
conservadores - estratégias de transformação.
 Projetos Profissionais (regulamentações, valores, ética profissional).

 O PEP está associado às lutas de transformação social articulado


com movimentos sociais e outros projetos societários que se
vinculam a uma luta mais ampla e abrangente anticapitalista na
construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Desta forma,
as lutas sociais que estejam em consonância com os valores ético-
políticos da nossa profissão compõem a agenda política dos
profissionais da categoria dos assistentes sociais. (TEIXEIRA &
BRAZ, 2009)
 Portanto, nosso PEP tem um caráter classista, histórico e transitório,
que está intimamente relacionado às forças sociais presentes na
sociedade e nas relações de poder e correlações de forças em
disputa dos projetos societários em curso. (TEIXEIRA & BRAZ,
2009)
 =>Ao atuarmos no movimento contraditório das classes, acabamos por imprimir uma direção
social às nossas ações profissionais que favorecem a um ou a outro projeto societário.
Nas diversas e variadas ações que efetuamos, como plantões de atendimento, salas de
espera, processos de supervisão e/ou planejamento de serviços sociais, das ações mais
simples às intervenções mais complexas do cotidiano profissional, nelas mesmas, embutimos
determinada direção social entrelaçada por uma valoração ética específica. (TEIXEIRA &
BRAZ, 2009)

 As demandas (de classes, mescladas por várias outras mediações presentes nas relações
sociais) que se apresentam a nós manifestam‐se, em sua empiria, às vezes, revestidas
de um caráter mistificador, nem sempre revelando seus reais determinantes e as questões
sociais que portam, daí que essas demandas devem ser processadas teoricamente. Tendo
consciência ou não, interpretando ou não as demandas de classes (e suas necessidades
sociais) que chegam até nós em nosso cotidiano profissional, dirigimos nossas ações
favorecendo interesses sociais distintos e contraditórios. (TEIXEIRA & BRAZ, 2009)
 Nosso projeto ético‐político é bem claro e explícito quanto aos seus compromissos. Ele
tem em seu núcleo o reconhecimento da liberdade como valor ético central – a liberdade
concebida historicamente, como possibilidade de escolher entre alternativas concretas; daí
um compromisso com a autonomia, a emancipação e a plena expansão dos indivíduos
sociais. Consequentemente, o projeto profissional vincula-se a um projeto societário que
propõe a construção de uma nova ordem social, sem dominação e/ou exploração de classe,
etnia e gênero. (NETTO, 1999, p. 104‐5).
=> A Lei n. 8.662, de regulamentação da profissão, definindo competências e atribuições
privativas do assistente social que representam tanto “uma defesa da profissão na
sociedade” como “um guia para a formação acadêmico‐profissional” (IAMAMOTO, 2002, p.
22).
Art. 2º Somente poderão exercer a profissão de Assistente Social:
I - Os possuidores de diploma em curso de graduação em Serviço Social, oficialmente reconhecido,
expedido por estabelecimento de ensino superior existente no País, devidamente registrado no
órgão competente;
II - os possuidores de diploma de curso superior em Serviço Social, em nível de graduação ou
equivalente,expedido por estabelecimento de ensino sediado em países estrangeiros,
conveniado ou não com o governo brasileiro,desde que devidamente revalidado e registrado em
órgão competente no Brasil;
III - os agentes sociais, qualquer que seja sua denominação com funções nos vários órgãos
públicos, segundo o disposto no art. 14 e seu parágrafo único da Lei nº 1.889, de 13 de junho de
1953.
Parágrafo único. O exercício da profissão de Assistente Social requer prévio registro nos
Conselhos Regionais que tenham jurisdição sobre a área de atuação do interessado nos termos
desta lei.
Art. 3º A designação profissional de Assistente Social é privativa dos habilitados na forma da
legislação vigente.
Art. 4º Constituem competências do Assistente Social:

I - elaborar, implementar, executar e avaliar políticas sociais junto a órgãos da


administração pública, direta ou indireta, empresas, entidades e organizações
populares;
II - elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos que sejam do
âmbito de atuação do Serviço Social com participação da sociedade civil;
III - encaminhar providências, e prestar orientação social a indivíduos, grupos e à
população;
IV - (Vetado);
V - orientar indivíduos e grupos de diferentes segmentos sociais no sentido de
identificar recursos e de fazer uso dos mesmos no atendimento e na defesa de
seus direitos;
VI - planejar, organizar e administrar benefícios e Serviços Sociais;
VII - planejar, executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a análise da
realidade social e para subsidiar ações profissionais;
VIII - prestar assessoria e consultoria a órgãos da administração pública direta e
indireta, empresas privadas e outras entidades, com relação às matérias
relacionadas no inciso II deste artigo;
Art. 4º Constituem competências do Assistente Social:

VIII - prestar assessoria e consultoria a órgãos da administração pública


direta e indireta, empresas privadas e outras entidades, com relação às
matérias relacionadas no inciso II deste artigo;
IX - prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em matéria
relacionada às políticas sociais, no exercício e na defesa dos direitos civis,
políticos e sociais da coletividade;
X - planejamento, organização e administração de Serviços Sociais e de
Unidade de Serviço Social;
XI - realizar estudos socioeconômicos com os usuários para fins de
benefícios e serviços sociais junto a órgãos da administração pública
direta e indireta, empresas privadas e outras entidades.
Art. 5º Constituem atribuições privativas do Assistente Social:

I - coordenar, elaborar, executar, supervisionar e avaliar estudos, pesquisas,


planos, programas e projetos na área de Serviço Social;
II - planejar, organizar e administrar programas e projetos em Unidade de
Serviço Social;
III - assessoria e consultoria e órgãos da Administração Pública direta e
indireta, empresas privadas e outras entidades, em matéria de Serviço
Social;
IV - realizar vistorias, perícias técnicas, laudos periciais, informações e
pareceres sobre a matéria de Serviço Social;
V - assumir, no magistério de Serviço Social tanto a nível de graduação
como pós-graduação, disciplinas e funções que exijam conhecimentos
próprios e adquiridos em curso de formação regular;
VI - treinamento, avaliação e supervisão direta de estagiários de Serviço
Social;
VII - dirigir e coordenar Unidades de Ensino e Cursos de Serviço Social, de
graduação e pós-graduação;
Art. 5º Constituem atribuições privativas do Assistente Social:

VIII - dirigir e coordenar associações, núcleos, centros de estudo e de


pesquisa em Serviço Social;
IX - elaborar provas, presidir e compor bancas de exames e comissões
julgadoras de concursos ou outras formas de seleção para Assistentes
Sociais, ou onde sejam aferidos conhecimentos inerentes ao Serviço
Social;
X - coordenar seminários, encontros, congressos e eventos assemelhados
sobre assuntos de Serviço Social;
XI - fiscalizar o exercício profissional através dos Conselhos Federal e
Regionais;
XII - dirigir serviços técnicos de Serviço Social em entidades públicas ou
privadas;
XIII - ocupar cargos e funções de direção e fiscalização da gestão financeira
em órgãos e entidades representativas da categoria profissional.
Art. 5o-A. A duração do trabalho do Assistente Social é de 30 (trinta)
horas semanais. (Incluído pela Lei nº 12.317,de 2010).
Art. 6º São alteradas as denominações do atual Conselho Federal de
Assistentes Sociais (CFAS) e dos Conselhos Regionais de Assistentes
Sociais (CRAS), para, respectivamente, Conselho Federal de Serviço
Social (CFESS) e Conselhos Regionais de Serviço Social (CRESS).
Art. 7º O Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) e os Conselhos
Regionais de Serviço Social (CRESS)constituem, em seu conjunto, uma
entidade com personalidade jurídica e forma federativa, com o objetivo
básico de disciplinar e defender o exercício da profissão de Assistente
Social em todo o território nacional.
1º Os Conselhos Regionais de Serviço Social (CRESS) são dotados de
autonomia administrativa e financeira, sem prejuízo de sua vinculação ao
Conselho Federal, nos termos da legislação em vigor.
2º Cabe ao Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) e aos Conselhos
Regionais de Serviço Social (CRESS),representar, em juízo e fora dele, os
interesses gerais e individuais dos Assistentes Sociais, no cumprimento
desta lei.
Art. 8º Compete ao Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), na qualidade de
órgão normativo de grau superior, o exercício das seguintes atribuições:
I - orientar, disciplinar, normatizar, fiscalizar e defender o exercício da profissão de
Assistente Social, em conjunto com o CRESS;
II - assessorar os CRESS sempre que se fizer necessário;
III - aprovar os Regimentos Internos dos CRESS no fórum máximo de deliberação do
conjunto CFESS/CRESS;
IV - aprovar o Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais juntamente com
os CRESS, no fórum máximo de deliberação do conjunto CFESS/CRESS;
V - funcionar como Tribunal Superior de Ética Profissional;
VI - julgar, em última instância, os recursos contra as sanções impostas pelos CRESS;
VII - estabelecer os sistemas de registro dos profissionais habilitados;16/05/2025
06:56 L8662 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8662.htm 3/5
VIII - prestar assessoria técnico-consultiva aos organismos públicos ou privados, em
matéria de Serviço Social;
IX - (Vetado)
Art. 8º Compete ao Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), na qualidade de
órgão normativo de grau superior, o exercício das seguintes atribuições:
I - orientar, disciplinar, normatizar, fiscalizar e defender o exercício da profissão de
Assistente Social, em conjunto com o CRESS;
II - assessorar os CRESS sempre que se fizer necessário;
III - aprovar os Regimentos Internos dos CRESS no fórum máximo de deliberação do
conjunto CFESS/CRESS;
IV - aprovar o Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais juntamente com
os CRESS, no fórum máximo de deliberação do conjunto CFESS/CRESS;
V - funcionar como Tribunal Superior de Ética Profissional;
VI - julgar, em última instância, os recursos contra as sanções impostas pelos CRESS;
VII - estabelecer os sistemas de registro dos profissionais habilitados;16/05/2025
06:56 L8662 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8662.htm 3/5
VIII - prestar assessoria técnico-consultiva aos organismos públicos ou privados, em
matéria de Serviço Social;
IX - (Vetado)
Art. 10. Compete aos CRESS, em suas respectivas áreas de jurisdição, na
qualidade de órgão executivo e de primeira instância, o exercício das
seguintes atribuições:
I - organizar e manter o registro profissional dos Assistentes Sociais e o
cadastro das instituições e obras sociais públicas e privadas, ou de fins
filantrópicos;
II - fiscalizar e disciplinar o exercício da profissão de Assistente Social na
respectiva região;
III - expedir carteiras profissionais de Assistentes Sociais, fixando a
respectiva taxa;
IV - zelar pela observância do Código de Ética Profissional, funcionando
como Tribunais Regionais de Ética Profissional;
V - aplicar as sanções previstas no Código de Ética Profissional;
VI - fixar, em assembleia da categoria, as anuidades que devem ser pagas
pelos Assistentes Sociais;
VII - elaborar o respectivo Regimento Interno e submetê-lo a exame e
aprovação do fórum máximo de deliberação do conjunto CFESS/CRESS.
 Art. 13. A inscrição nos Conselhos Regionais sujeita os Assistentes Sociais ao
pagamento das contribuições compulsórias (anuidades), taxas e demais
emolumentos que forem estabelecidos em regulamentação baixada pelo
Conselho Federal, em deliberação conjunta com os Conselhos Regionais.
 Art. 14. Cabe às Unidades de Ensino credenciar e comunicar aos Conselhos
Regionais de sua jurisdição os campos de estágio de seus alunos e designar os
Assistentes Sociais responsáveis por sua supervisão.
 Parágrafo único. Somente os estudantes de Serviço Social, sob supervisão direta
de Assistente Social em pleno gozo de seus direitos profissionais, poderão
realizar estágio de Serviço Social.
 Art. 15. É vedado o uso da expressão Serviço Social por quaisquer pessoas de
direito público ou privado que nãodesenvolvam atividades previstas nos arts. 4º e
5º desta lei.
 Parágrafo único. As pessoas de direito público ou privado que se encontrem na
situação mencionada neste artigo terão o prazo de noventa dias, a contar da data
da vigência desta lei, para processarem as modificações que se fizerem
necessárias a seu integral cumprimento, sob pena das medidas judiciais cabíveis.
 Retomar o debate sobre atribuições e competências profissionais no tempo presente é
tarefa das mais desafiadoras, não apenas porque o tema em si é revestido de grande
complexidade, mas principalmente porque exige apreender a reconfiguração dos espaços
ocupacionais à luz da nova morfologia do trabalho, no contexto de crise do capital e do
profundo ataque contra o trabalho e os direitos da classe trabalhadora.

 Contribuição decisiva para essa análise foi realizada por Iamamoto em 2001, no 30º
Encontro Nacional CFESS-CRESS, na palestra que resultou em texto publicado em 2002
pelo CFESS, respondendo a uma demanda do Conjunto para repensar as balizas da
fiscalização do exercício profissional, com base nos artigos 4º e 5º da Lei de
Regulamentação Profissional (1993), que tratam das atribuições privativas e das
competências profissionais dos/as assistentes sociais.

 Passadas quase duas décadas da densa reflexão realizada pela autora, o desafio se recoloca
diante de nova demanda do Conjunto CFESS/CRESS, por meio da COFI Comissão de
Orientação e Fiscalização Profissional), de revisitar o debate sobre o trabalho profissional à
luz das atribuições e competências das/os assistentes sociais, na conjuntura complexa e
desafiadora de espoliação do trabalho e dos direitos do conjunto da classe trabalhadora, do
qual fazem parte as/os assistente sociais. (RAICHELIS, 2020).
 Este documento foi produzido pela gestão do CFESS É de batalhas que se vive a
vida (2017- 2020) que constituiu um grupo de trabalho (GT) com a assessoria da
Profª Drª Raquel Raichelis, tendo em vista deliberações aprovadas no Encontro
Nacional CFESS-CRESS de 2017, que tratavam de demandas pertinentes ao
exercício profissional, considerando as competências e atribuições privativas
do/a assistente social, isto é, a capacidade de articular as dimensões da profissão
e o dever/fazer profissionais.

 Chave analítica: as competências e atribuições privativas são de uma profissão


e não do/a profissional, equívoco comumente reproduzido no interior da
categoria e que, na perspectiva do projeto ético-político, devem estar articuladas
às dimensões do Serviço Social: teórico-metodológica, ético-política e técnico-
operativa.
 Atribuições e competências profissionais remetem à forma de ser das profissões na divisão
sociotécnica do trabalho na sociedade capitalista, de acordo com as prerrogativas legais,
no caso das profissões regulamentadas como é o caso do serviço social. “Discutir
atribuições privativas e competências profissionais de assistentes sociais é discutir a
profissão”, como afirma Matos (2015, p. 680) , tendo como norte a concepção de profissão
que fundamenta o projeto ético-político profissional do Serviço Social, de ruptura com o
conservadorismo, balizado pelo Código de Ética do/a Assistente Social (1993), pela Lei de
Regulamentação (8.662/1993) e pelas Diretrizes Curriculares da ABEPSS (1996).

 Em 2001, Marilda Iamamoto, em palestra proferida no 30º Encontro Nacional do Conjunto


CFESS-CRESS, realizado em Belo Horizonte (MG) - publicada em 2002 e reeditada em 2012
-, afirmou o desafio que o tema apresentava para “pensar as balizas da política nacional de
fiscalização do exercício profissional, centrada em uma reflexão sobre as atribuições e
competências do assistente social previstas nos artigos 4º e 5º da Lei de Regulamentação
da Profissão”, mesmo porque se fazia necessário considerar o “redimensionamento dos
espaços ocupacionais e das demandas profissionais que impõem novas competências a
esse profissional”¹, principalmente no contexto em que se vivia, de implementação das
políticas sociais, mediação fundamental do trabalho do/a assistente social.
 Os parâmetros legais
 Em primeiro lugar, a necessidade de aprimorar e explicitar a interpretação dos artigos 4° e
5° da Lei 8662 de 07/06/1993 que regulamenta a profissão, no que concerne às
competências e atribuições privativas do assistente social, tendo em vista a condução do
trabalho de fiscalização. Em segundo lugar, contribuir para adensar a reflexão sobre o
exercício profissional, tendo em vista a sua qualificação e o trabalho dos agentes fiscais.
- As funções privativas do assistente social, isto é, suas prerrogativas exclusivas.
- As competências expressam capacidade para apreciar ou dar resolutividade a determinado
assunto, não sendo exclusivas de uma única especialidade profissional, mas a ela
concernentes em função da capacitação dos sujeitos profissionais.
 Assim, por exemplo, os incisos II, III e VIII e XI do Art. 4º, que tratam das competências
(genéricas), são, de fato, atribuições privativas do assistente social, porque apresentam
competências que também estão previstas no art. 5° na referida Lei concernente às
atribuições privativas.
 Os incisos do art. 4º supra-referidos são os seguintes: "II. elaborar, coordenar e executar e
avaliar planos, programas e projetos que sejam do âmbito de atuação do Serviço Social
com participação da sociedade civil"; "III. encaminhar providências e prestar orientação
social a indivíduos, grupos e a população "; 1
 "VIII. prestar assessoria e consultoria a órgãos da administração pública direta e indireta,
empresas privadas e outras entidades, com relação às matérias relacionadas no inciso II deste
artigo" (ou seja, relacionadas ao âmbito de atuação do Serviço Social); "XI. realizar estudos
socioeconômicos com os usuários para fins de benefício e serviços sociais, junto a órgãos da
administração pública direta ou indireta, empresas privadas e outras entidades "

Elucidadas as dúvidas de ordem jurídica, persiste a necessidade de explicitar com maior


clareza o que é matéria de Serviço Social, área de Serviço Social e unidade de Serviço
Social.

 =>O que delimita o caráter da atividade enquanto privativa do assistente social é a sua
qualificação enquanto matéria, área e unidade de Serviço Social.

 A matéria diz respeito "à substância ou objeto ou assunto sobre o que particularmente se
exerce a força de um agente".
 A área refere-se ao campo delimitado ou âmbito de atuação do assistente social.
 A unidade de Serviço Social pode ser interpretada como o conjunto de profissionais de uma
unidade de trabalho.
 Refletindo sobre a temática, a partir de dúvidas que pairavam sobre os já
referidos artigos 4º e 5º da lei que regulamenta a profissão (BRASIL,
1993), Iamamoto cita o Parecer Jurídico nº 27/98 , observando que, do
ponto de vista da interpretação legal, já teriam sido elucidadas, na
medida em que tal parecer “[...] sustenta serem as atribuições referentes
às funções privativas do assistente social, isto é, suas prerrogativas
exclusivas, enquanto as competências expressam capacidade para
apreciar ou dar resolutividade a determinado assunto, não sendo
exclusivas de uma única especialidade profissional, mas a ela
concernentes em função da capacitação dos sujeitos profissionais”. (...)
Segundo o ponto de vista expresso no Parecer, o/a legislador/a distinguiu
as competências genéricas, contidas no art. 4°, que poderiam ser
executadas por qualquer profissional, das privativas, designadas como
atribuição.
 Refletindo sobre a temática, a partir de dúvidas que pairavam sobre os já
referidos artigos 4º e 5º da lei que regulamenta a profissão (BRASIL,
1993), Iamamoto cita o Parecer Jurídico nº 27/98 , observando que, do
ponto de vista da interpretação legal, já teriam sido elucidadas, na
medida em que tal parecer “[...] sustenta serem as atribuições referentes
às funções privativas do assistente social, isto é, suas prerrogativas
exclusivas, enquanto as competências expressam capacidade para
apreciar ou dar resolutividade a determinado assunto, não sendo
exclusivas de uma única especialidade profissional, mas a ela
concernentes em função da capacitação dos sujeitos profissionais”. (...)
Segundo o ponto de vista expresso no Parecer, o/a legislador/a distinguiu
as competências genéricas, contidas no art. 4°, que poderiam ser
executadas por qualquer profissional, das privativas, designadas como
atribuição.
 No sentido etimológico, a competência diz respeito à capacidade de apreciar,
decidir ou fazer alguma coisa, enquanto a atribuição é uma prerrogativa,
privilégio, direito e poder de realizar algo. (IAMAMOTO, 2012, p. 37).
 Nessa mesma linha de reflexão, a autora afirma que: “O que delimita o caráter da
atividade enquanto privativa do assistente social é a sua qualificação enquanto
matéria, área e unidade de Serviço Social5 ” (IAMAMOTO, CFESS, 2012, p. 38 –
em itálico pela autora), não se localizando na mera “descrição ou relato da
atividade a ser desenvolvida, que em si mesma não é prerrogativa de qualquer
profissional em particular [...].” (ibid.)
 Levando em conta esses aportes, trazemos a seguir reflexões sobre dimensões
do projeto da profissão e, consequentemente, do trabalho profissional, presentes
no conjunto do material analisado, evidenciando a preocupação com a intrínseca
relação teoria-prática na sua materialização. Dessa maneira, o material, ao
abordar assuntos relacionados à produção de documentos e opiniões técnicas,
reporta às dimensões teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa,
na sua necessária unidade.
• Estudo Social em Serviço Social
• Perícia Social em Serviço Social
• Parecer Social
• Teleperícia
• Exame Criminológico
• Atendimento direto a usuárias e usuários
• Entrevistas
• Visita institucional e domiciliar
• Orientação e encaminhamento
• Articulação com a rede de serviços
• A linguagem e a comunicação • Relatório Social em Serviço Social
escrita como reveladora da • Relatório e/ou Laudo Social em
imagem da profissão Serviço Social em Conjunto com
• Particularidades e indicativos para Profissional/is de outra/s área/s do
estruturação dos documentos conhecimento
escritos • Estrutura de Relatório e/ou Laudo
• Declaração de comparecimento ou Social em Serviço Social em
de atendimento conjunto com profissional/is de
• Encaminhamento outra/s área/s do conhecimento
• Formulário/Prontuário (uma possibilidade)
• Informe - Informação Social
• Parecer Social em Serviço Social
• Laudo social em Serviço Social:
resultado ou produto de uma
perícia
Foi nesse contexto que o Serviço Social, em suas mais de oito décadas, construiu
um projeto hegemônico nas dimensões teórico-metodológica, ético-política e
técnico-operativa, em meio à heterogeneidade que caracteriza a categoria
profissional e às disputas sempre presentes no confronto entre projetos e
significados atribuídos à profissão, sob a condução unificada de entidades
representativas que condensam a direção social do Serviço Social brasileiro.

Contudo, embora relevantes, as definições legal e normativa das atribuições e


competências profissionais não são suficientes para garantir legitimidade social
frente aos/às empregadores/as e, principalmente, na relação com os/ as
usuários/as dos serviços sociais. Mais importante do que a disputa pelo
monopólio das atividades privativas em si mesmas são as respostas profissionais
às demandas e requisições do cotidiano institucional, os conteúdos e a direção
das atividades realizadas no âmbito do trabalho coletivo que assistentes sociais,
juntamente com outras/os profissionais, realizam no enfrentamento das
expressões da “questão social”, pela mediação das políticas sociais, em que
exercem funções de operacionalização, planejamento e gestão.
 DESAFIOS:

 As atribuições privativas são aquelas designadas exclusivas do Serviço


Social, as competências são compartilhadas com outras profissões, o que
abre um leque de possibilidades de inserção em várias outras dimensões
de trabalho, desde que nos qualifiquemos para isso, ao contrário do que
muitas vezes se interpreta no debate profissional como redução de
oportunidades de atuação para assistentes sociais.

 Atividades que se desenvolvem no terreno invariavelmente contraditório


e polarizado pelos projetos das classes sociais, cuja direção em disputa
permanente medeia o trabalho profissional nos diferentes espaços
ocupacionais em que assistentes sociais se inserem como
trabalhadoras/es assalariadas/os.
 DESAFIOS:

O desafio atual se renova, pois envolve a compreensão de que, embora


garantidas em lei, as atribuições e competências e sua interpretação não
são estáticas e não podem ser congeladas frente às transformações do
trabalho e às novas configurações da “questão social” no atual estágio do
capitalismo mundializado e financeirizado do século 21, considerando a
particularidade da inserção periférica e dependente do Brasil, no
contexto do desenvolvimento capitalista desigual e combinado.
 DESAFIOS:

O desafio atual se renova, pois envolve a compreensão de que, embora


garantidas em lei, as atribuições e competências e sua interpretação não
são estáticas e não podem ser congeladas frente às transformações do
trabalho e às novas configurações da “questão social” no atual estágio do
capitalismo mundializado e financeirizado do século 21, considerando a
particularidade da inserção periférica e dependente do Brasil, no
contexto do desenvolvimento capitalista desigual e combinado.
Tal configuração confere aos/às profissionais uma relativa autonomia na
condução do seu trabalho, “que permite aos sujeitos profissionais
romperem com visões deterministas e/ou voluntaristas para se
apropriarem da dinâmica contraditória dos espaços institucionais e
poderem formular estratégias individuais e coletivas que escapem da
reprodução acrítica das requisições do poder institucional” (RAICHELIS,
2018, p. 35-36).

 Condicionantes externos x condicionantes internos. (IAMAMOTO,

 Essa autonomia, segundo Coutinho (1981), não é apenas material, mas também
funcional; abre-se assim, a possibilidade luta pela hegemonia e pelo consenso no
interior da sociedade civil, isto é, no Estado em seu sentido amplo.
 O Estado é atravessado pelas contradições expressas pela luta de classes. A
dominação é contraditória também e fundamentalmente
 porque, se o Estado exclui as chamadas classes dominadas tem, em certa
medida, que incluir alguns de seus interesses”. (KOVARICK, 1985).
 O caminho da profissionalização do Serviço Social como o processo pelo qual
seus agentes se inserem em atividades laborais cuja dinâmica, organização,
recursos e objetivos são determinados para além do seu controle, isto é, pelos
empregadores dessa força de trabalho (IAMAMOTO , 1982; NETTO , 1992).
 Como profissionais assalariados/as, em grande parte pelas instituições do
aparelho de Estado nas três esferas de poder, notadamente em âmbito
municipal, mas também por organizações não governamentais e empresariais, a
força de trabalho de assistentes sociais transformada em mercadoria só pode
entrar em ação através dos meios e instrumentos de trabalho que, não sendo
propriedade desses/as trabalhadores/as, devem ser colocados à disposição pelos
empregadores institucionais públicos ou privados: infraestrutura humana,
material e financeira para o desenvolvimento de programas, projetos, serviços,
benefícios e um conjunto de outros requisitos necessários à execução direta de
serviços sociais para amplos segmentos da classe trabalhadora ou para o
desenvolvimento de funções em nível de gestão e gerenciamento institucional.
Esse processo subordina o exercício profissional às requisições institucionais nos
diferentes espaços sócio-ocupacionais que demandam essa capacidade de
trabalho especializada.
 Ao mesmo tempo, o/a assistente social, enquanto profissional qualificado/ a, dispõe de relativa
autonomia, em seu campo de trabalho, para realizar um trabalho social complexo, saturado de
conteúdos políticos e intelectuais e das competências teóricas e técnicas requeridas para formular
propostas e negociar com os contratantes institucionais, privados ou estatais, suas atribuições e
prerrogativas profissionais, os objetos sobre os quais recai sua atividade profissional e seus
próprios direitos como trabalhador/a assalariado/a.

 A direção social da categoria profissional, tal não ocorre sem tensões, as quais, em determinadas
circunstâncias, aparecem na autorrepresentação dos/ as assistentes sociais como expressão de
crise profissional.

 Uma das manifestações recorrentes tem se apresentado quando assistentes sociais não são
reconhecidos/as pelos poderes institucionais no exercício do monopólio legitimo de atribuições
privativas previstas pela regulamentação da profissão, ou sentem-se ameaçados/as quando outras
profissões reivindicam essa competência, situação muitas vezes percebida por assistentes sociais
como perda do seu lugar institucional. Um exemplo emblemático refere-se ao estudo ou seleção
socioeconômica no âmbito de diferentes políticas sociais, atividade historicamente objeto de
controvérsias na categoria profissional, mas que, num cenário de disputa no mercado de trabalho,
passa a ser requisitada pelo Serviço Social como atribuição privativa em si mesma, sem que
estejam em questão a finalidade e o conteúdo dessa atividade, o que seria imprescindível para que
profissionais não se enredem na armadilha que alimenta a competição entre trabalhadores/as.
 A categoria profissional, na dinâmica racial, sexual e social do trabalho, respondendo a
requisições ditadas pela dinâmica da luta de classes e dessas com o Estado,movimento
progressivo de regulação e produção de respostas institucionais às demandas postas
pelas contradições da questão social.

 O desafio é considerar a totalidade do processo de produção e reprodução social, para


apreender a historicidade que o trabalho profissional assume na sociedade burguesa.
 A legitimidade social do Serviço Social é extraída da relação intrínseca com o campo da
prestação de serviços sociais, públicos e privados, assentado na tríade que associa
trabalho, profissão e área de produção de conhecimento (Mota, 2013; Raichelis, 2018),
como dimensões que se alimentam e se implicam reciprocamente, à luz da historicidade
que caracteriza a totalidade social contraditória na qual se insere.
 Considerando ainda a erosão dos sistemas públicos de seguridade social na perspectiva
de universalização, com a adoção de programas e serviços cada vez mais seletivos e
focalizados nos mais pobres, na ótica da gestão dos riscos e da refilantropização das
políticas sociais (YAZBEK, 2018).
 Explosão do desemprego estrutural em escala global, que atinge grande parte dos
trabalhadores e trabalhadoras, e a deterioração da qualidade do trabalho, dos salários e
das condições em que ele é exercido, que se agrava ainda mais considerando recortes de
gênero, geração, raça e etnia, quando se constata que mulheres ganham menos do que
homens exercendo a mesma atividade e, se forem negras, são submetidas a trabalhos
ma is precários e ainda a mais baixos salários.

 A reorganização dos processos produtivos e as novas formas de processamento e


organização do trabalho apoiam-se cada vez mais nas tecnologias de informação e
comunicação (TICs) e desencadeiam processos continuados de flexibilização dos
contratos de trabalho, por meio das diferentes formas de trabalho terceirizado,
temporário, em domicílio (home office), em tempo parcial ou por tarefa/projeto, para
citar apenas algumas das suas diferentes manifestações a que estão submetidos/as
os/as trabalhadores/as no “novo (e precário) mundo do trabalho” (ALVES , 2000). Essas
metamorfoses atingem duramente o trabalho assalariado, sua realização concreta e as
formas de (des)subjetivação na consciência dos/as trabalhadores/as, com impactos nas
dinâmicas associativas, organizativas e na afirmação de identidades coletivas.
 No Brasil, pesadas heranças de escravismo, autoritarismo, coronelismo, clientelismo. (IANNI,2004,
p. 33), sendo a coexistência entre o arcaico e o moderno constitutiva da formação social brasileira e
do capitalismo dependente. E possível perceber as heranças do escravismo predominando sobre
todas as heranças” (IANNI, 2004, p. 61), responsável pela presença escancarada, insidiosa ou
velada do racismo estrutural no assim chamado “pais cordial”, que permeia o conjunto de relações
e dimensões da vida na sociedade brasileira.

 BRAGA (2012: 21) identificou como fordismo periférico, um sistema social estruturado pela
combinação de economias e nações capitalistas desenvolvidas e subdesenvolvidas, dominado pela
mundialização das trocas mercantis, constituindo-se em uma das principais mediações históricas
entre os países capitalistas avançados e os países capitalistas subdesenvolvidos ou dependentes.
Se consideramos que é próprio do capitalismo, mesmo nos países hegemônicos, criar uma
população excedente em relação às necessidades de reprodução do modo de produção, gerando
desemprego e trabalho precário, no fordismo periférico essa sempre foi a regra.

 Na mesma direção, para HARVEY (2011:16), “o poder do Estado deve proteger as instituições
financeiras a qualquer custo, princípio que bateu de frente com o não intervencionismo que a teoria
neoliberal prescreveu”. Para o autor, as políticas anticrise de corte neoliberal são parte de um
projeto de classe destinado a restaurar e consolidar o poder do capital, privatizando lucros e
socializando custos, salvando bancos e colocando os sacrifícios nas pessoas.
 Para MARCELINO , (2015, p. 113), no Brasil, a terceirização, ou seja, a interposição de uma outra
empresa na contratação de trabalhadores/as, se transformou no mais importante recurso
estratégico para a redução dos custos do trabalho e, portanto, poderosa alavanca de recomposição
das taxas de lucro.
 Ao mesmo tempo, pela externalização dos conflitos trabalhistas, a terceirização atua também
como poderoso instrumento de desarticulação política dos/as trabalhadores/as. A aprovação da
terceirização total (Lei 13.429/2017) chancela e legaliza a precarização do trabalho no Brasil, por
meio do leque de alternativas abertos por essa modalidade, que aprofunda ainda mais a exploração
da força de trabalho.
 “Na realidade brasileira, a terceirização é inseparável da ampliação da exploração do trabalho, da
precarização das condições de vida da classe trabalhadora e do esforço contínuo das empresas
para enfraquecer as organizações dos trabalhadores”. (MARCELINO , p. 114)
 E o fato de a terceirização ocorrer na empresa privada, na empresa estatal, em fundações de
direito privado ou nos serviços prestados pelo Estado não modifica o essencial dessa relação,
pois, mesmo que não ocorra um lucro imediato, há uma economia de gastos com a força de
trabalho, que é drenada para outros fins que não a ampliação do fundo público para melhoria da
qualidade da prestaçãode serviços públicos à população.
 Nesses termos, a mercantilização e a financeirização dos serviços públicos, a transformação das
políticas sociais em nichos de rentabilidade para o capital modificam a forma e o conteúdo do
trabalho de assistentes sociais.
 Tendências gerais do mercado de trabalho terceirizado, para distintas áreas de atuação
profissional, nas instituições privadas e públicas. Entre elas, as cooperativas de trabalhadores/as, o
trabalho temporário, as empresas de prestação de serviços internos ou externos, e principalmente
os chamados PJs (personalidades jurídicas), uma forma de terceirização que vem se expandindo
aceleradamente no cenário brasileiro.
 O PJ ou a “pejotização” das relações de trabalho, no jargão da área, caracteriza-se como aqueles
empreendimentos sem empregados/as, “empresas do eu sozinho”, que passam a realizar
atividades que eram desenvolvidas por trabalhadores/ as assalariados/as. Do lado da instituição
empregadora, a exigência da constituição de pessoa jurídica para contratação e pagamento por
meio de recibo de prestação de serviço (RPA) funciona, em geral, para descaracterizar a relação de
emprego e, assim, burlar a aplicação da legislação trabalhista, o que faz diminuir os custos com a
força de trabalho e a carga tributária sobre os contratantes. E aos/às trabalhadores/as, são
sonegados os mais elementares direitos do trabalho, configurando-se o autoemprego ou, de modo
mais amplo, a “uberização” das relações de trabalho.
 O tripé terceirização, flexibilização e precarização é a expressão emblemática que tipifica a nova
morfologia do trabalho em tempos de profunda degradação nas suas formas de realização, que
está presente nos diferentes espaços ocupacionais onde se inserem assistentes sociais e demais
profissionais, nas políticas de saúde, assistência social, habitação, entre outros.
 Ampliaram-se as modalidades de terceirização na esfera pública estatal, como: concessão,
permissão, parcerias, cooperativas, ONGs, Organizações Sociais (OS), Organizações da Sociedade
Civil de Interesse Público (Oscip), Fundação Privada de interesse público, etc.

 Assistentes sociais terceirizados/as experimentam, assim, como trabalhadores/ as eventuais e


intermitentes, a angústia de relações de trabalho não protegidas pelo contrato, a insegurança
laboral, o sofrimento e o adoecimento, o assédio moral, a baixa e incerta remuneração, a
desproteção social e trabalhista, a denegação de direitos, ou seja, a precarização do trabalho e da
vida.

 Na política de saúde, as fundações e as organizações sociais vêm se generalizando como modelo de


gestão do trabalho e de prestação dos serviços, apesar do forte movimento de resistência dos/as
trabalhadores/as e das organizações da área. Os serviços de saúde, mesmo no âmbito do Sistema
Único de Saúde (SUS), incorporaram a flexibilização de sua gestão, por meio da adoção da
terceirização. Pesquisas setoriais e regionais têm demonstrado que, em hospitais públicos e
privados, cresce fortemente a terceirização dos diferentes setores e laboratórios, por meio de
cooperativas, empresas médicas (PJs) e empresas de intermediação de contratos.
 Na política de assistência social, nos marcos do Sistema Único de Assistência Social (Suas), e no
âmbito dos Centros de Referência de Assistência Social (Cras), Centros de Referência Especializada
de Assistência Social (Creas) e Centros POP, estados e municípios se utilizam de variadas
modalidades de terceirização, pela mediação de entidades assistenciais privadas, ONGs ou
“cooperativas” de trabalhadores/as, para a contratação de profissionais na prestação de serviços
socioassistenciais, sob o discurso de falta de recursos para a criação de cargos e realização de
concursos, mesmo que seja possível o uso de recursos federais repassados fundo a fundo para a
contratação de trabalhadores/as, desde que efetivados via concurso público.

 Na política de habitação de interesse social, a terceirização vem se consolidando como modelo de


produção e gestão, em que o próprio trabalho social e os/as trabalhadores/as sociais, entre os/as
quais assistentes sociais, são contratados/ as por processos licitatórios, dos quais participam
empresas intermediadoras, sem que, de modo geral, a administração pública consiga regular e
manter o controle estratégico deste processo.
 Na área sociojurídica e nas instituições que integram o Sistema de Justiça, a constituição de banco de
peritos/as, como é o caso dos TJs, além de um típico processo de terceirização que combina
trabalho temporário e “pejotização”, instala uma situação inusitada, em que um/a assistente social
externo/a à instituição é contratado/a para constestar o laudo (contralaudo) produzido
internamente por um/a colega, cujas implicações ético-políticas precisam ser objeto de
aprofundamento do debate coletivo. Também é possível constatar a ocorrência de outras situações
nas quais assistentes sociais terceirizados/as como prestadores/ as de serviços (PJ) são
contratados/as para realizar estudos e/ou produzir relatórios ou laudos. Estes/as profissionais
subcontratam outros/as assistentes sociais para a realização de atividades especificas, como visitas
domiciliares, levantamentos, estudos, etc., configurando-se, portanto, a quarteirização ou
“terceirização em cascata” (MARCELINO 2015).

 As consultorias empresariais vêm se expandindo e se caracterizam pela venda de um serviço ou


pacotes de serviços (dentre eles o Serviço Social) a outras empresas, não só pequenas, mas
também grandes empesas multinacionais, em geral substituindo o trabalho que antes era realizado
internamente por profissionais contratados/as diretamente pela própria empresa.
 Essas consultorias adotam diferentes formas de contratação, que denominam “consultores internos e externos”,
para, por meio do trabalho à distância, teleatendimento, atendimento on line, teletrabalho, etc., assumir
atribuições e competências profissionais, por meio da terceirização e até da quarteirização dos vínculos de
trabalho de assistentes sociais e outros profissionais, como psicólogos/as, advogados/as, sociólogos/as, etc.

 Esses trabalhadores/ as autônomos/as, mas são de fato temporários/as; em geral, realizam tarefas pontuais à
distância a partir do seu próprio computador e internet, com vínculos contratuais flexíveis e muitos sem nenhum
contrato de trabalho. Enviam os relatórios de atendimento por e-mail ou inserem informações em planilhas
informatizadas, processos que, em geral, comprometem o sigilo profissional.

 São subcontratação com base em cargos genéricos (analista de benefícios, analista de RH, consultor de
benefícios), com externalização do local de trabalho, custos/despesas por conta dos/as próprios/as profissionais,
baixa remuneração, ausência de direitos e benefícios, precárias condições de trabalho e insegurança no trabalho.

 Modalidades de teletrabalho, atendimento remoto ou home office estão em curso em diferentes instituições,
como os Tribunais de Justiça, Defensorias Públicas e Ministério Público, no âmbito do Poder Judiciário, que
aprovou resolução regulamentando o teletrabalho, sob o argumento de que essa prática melhora a qualidade de
vida dos/as trabalhadores/as, proporciona economia de recursos naturais (papel, energia elétrica, água, etc.),
além de colaborar com a mobilidade urbana, devido ao esvaziamento das vias públicas e do transporte coletivo.
 O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) também instituiu recentemente o Programa de Gestão na
modalidade de teletrabalho18, que, além de visar à redução de despesas de custeio (água, energia, transporte,
material de consumo, etc.), “trará uma satisfação maior do servidor e isso faz com que aumente a produtividade,
evitando retrabalhos e erros” (INSS, Resolução nº 681, 2019, p. 8-9).
 Além disso, não pode ser desconsiderado que a desterritorialização traz, por si só, um benefício associado:
considerando o afastamento físico do segurado interessado na concessão do benefício dos servidores
responsáveis pela sua análise, haverá significativa redução da possibilidade de constrangimento pessoal do
requerente aos servidores do INSS e, em hipótese extrema, até de situações de conluio e corrupção” (INSS,
Resolução nº 681, 2019, p. 8-9).

 Cabe destacar, como faz DAL ROSSO (2017, p. 272-273), “que a organização flexível das horas laborais promoveu
uma ampliação gigantesca dos tempos de trabalho, por invasão dos tempos de não trabalho e sua conversão em
horários laborais. As fronteiras entre uns e outros mudaram de lugar. [...] Alterando as fronteiras e as barreiras
que separam o tempo de trabalho do tempo livre, a distribuição flexível das horas laborais praticamente anulou a
separação conceitual que é de relevância fundamental para trabalhadores e trabalhadoras porque identifica os
tempos de autonomia em que eles descansam, participam da cultura e fazem amor”. Mais ainda no caso das
trabalhadoras, que são maioria no trabalho em serviços e no Serviço Social, e que na divisão sexual do trabalho
permanecem com a responsabilidade dos cuidados no âmbito da reprodução social e na esfera privada, situação
reforçada pelas diferentes formas de trabalho flexível, o que torna as mulheres trabalhadoras mais suscetíveis ao
“ardil da flexibilidade” (idem).
 Tal cenário exige, portanto, a identificação não apenas do cumprimento das prerrogativas profissionais e
atribuições privativas em termos da atividade ou do instrumento utilizado, mas principalmente envolve a análise
crítica e fundamentada dos conteúdos ou matérias envolvidas e as implicações éticas, em termos de repostas
profissionais a necessidades e direitos dos indivíduos e famílias atendidos, questões relevantes para o trabalho
das COFIS na orientação e fiscalização profissional.
 Caberiam muitas indagações nessa análise: o que significa um/a assistente social fazer um atendimento à
distância ou mesmo uma visita domiciliar para acompanhar uma situação pontual de um funcionário ou família,
propor algum tipo de encaminhamento e mandar por e-mail um relatório para a empresa que o/a contratou?
Quais são as implicações profissionais do teletrabalho no atendimento junto a demandantes de benefícios
previdenciários, cuja análise da solicitação será realizada à distância pelo/a profissional, na qual deverá apresentar
um incremento de produtividade e de desempenho no mínimo 30% (trinta por cento) superior ao previsto para
o/a servidor/a em regime de trabalho presencial, e que se beneficiará da ausência de relação com o/a solicitante,
“ficando menos sujeito a pressão ou a casos de corrupção”, como consta da regulamentação do teletrabalho no
INSS?
 Essas novas formas de contratação e de organização do trabalho são a expressão mais emblemática da nova
morfologia do trabalho no Serviço Social, além de transferir custos do trabalho aos/à próprios/as trabalhadores/as
(internet, manutenção do computador, energia elétrica, etc.), invisibilizam as relações entre trabalhadores/ as e
seus/suas empregadores/as, cuja atividade passa a ser mediada pelos sistemas e plataformas digitais, nos quais é
suprimida a relação presencial que envolve o contato humano de assistentes sociais e usuários/as, transformando
a própria episteme de um trabalho de natureza sociorrelacional. São processos típicos das novas configurações do
trabalho em serviços, que alguns/algumas autores/as vêm denominando de “capitalismo de plataforma”, em
função da intensa utilização de tecnologias digitais nos processos de trabalho.
 Fragilização da luta pela 30hs de jornada de trabalho sem redução do salário, além da luta pelos meios e
instrumentos de trabalho disponibilizados pelo/a empregador/a, para a realização do trabalho profissional.

 Associada à flexibilização dos vínculos contratuais e à privatização dos serviços públicos, a terceirização promove
alta rotatividade de profissionais. As consequências da terceirização e dos contratos temporários no trabalho
profissional são profundas, pois subordinam as ações à lógica financeira dos contratos, geram descontinuidades,
rompimento de vínculos com usuários/as, descrédito da população para com as ações públicas.

 O Estado neoliberal – regras empresariais da governança público-privada, fazendo com que assalariados/as
trabalhem mais, por meio de um sistema de incentivos.

 Os dados sobre o trabalho em diferentes políticas sociais (assistência social, saúde, habitação e outras) apontam
para uma redução crescente no número de servidores/as estatutários/as e aumento sistemático de
trabalhadores/as identificados/as como “outros vínculos”, o que abrange terceirizados/ as, comissionados/as,
cedidos/as, consultores/as, estagiários/as, sem contar os/as voluntários/as.

 O trabalho de assistentes sociais integra, pois, essa dinâmica racionalizadora, com rebatimentos nas atribuições e
competências profissionais, cujas tendências se expressam, entre outras, por: crescente rotinização de atividades
e padronização dos processos de trabalhos; alto nível de prescrição das tarefas e atividades com produção intensa
de manuais, cartilhas, orientações, monitoramento, definição de metas, quantificação de atividades (nº de
visitas, entrevistas,cadastros); e fortalecimento de mecanismos de controle dos serviços e benefícios, que se
transformam em controle dos/as beneficiários/as. Pouca reflexão sobre o fazer profissional.
 Tem sido reiterativo o discurso de assistentes sociais sobre o envolvimento excessivo com o preenchimento de
formulários e planilhas padronizadas numa tela de computador, a multiplicação das visitas domiciliares, a
realização de cadastramentos da população, de seleção socioeconômica para fins de acesso a benefícios e
provisões sociais, reeditando práticas de “controle dos pobres e polícia das famílias”. Nesse contexto, assistentes
sociais são levados a produzir, registrar e alimentar bases de dados sem que sejam por eles/as apropriados com
objetivo de aprofundar o conhecimento sobre as necessidades sociais e formulação de novas propostas para essa
classe trabalhadora, que hoje é muito mais heterogênea e fragmentada, carecendo de estudos sobre suas
necessidades e demandas.

 Essas características do processamento do trabalho e suas formas de gestão e controle se disseminam com
grande velocidade, também em função da incorporação das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs),
que, se por um lado podem representar potencializadores dos instrumentos de trabalho já utilizados pelo Serviço
Social, como registros e sistematização de dados, pesquisa e organização de informações, produção de
relatórios, etc.; por outro, seu uso cada vez mais intensivo não pode ser desvinculado dos objetivos de reduzir
custos do trabalho vivo e enquadrar processos e ritmos institucionais às metas de produtividade, ampliando-se
controles sobre tempos, ritmos e resultados do trabalho.

 Também tem sido comum que profissionais restrinjam suas leituras a esses manuais, documentos técnicos,
legislação específica, produzidos nos marcos de cada política social, certamente necessários para o desempenho
institucional, mas insuficientes como fonte exclusiva de conhecimento sobre as políticas sociais, o que vem
contribuindo para uma reprodução acrítica dos textos oficiais, uma diluição do Serviço Social na política social e
frágil apropriação dos fundamentos teórico-metodológicos do trabalho profissional. E, ainda, tem conduzido
profissionais à subordinação aos objetivos institucionais, distanciando-se da direção social estratégica que deve
orientar as propostas profissionais, de acordo com as prerrogativas, atribuições e competências profissionais, à
luz dos valores e princípios que orientam o projeto coletivo da profissão
 Contexto propício ao crescimento do assédio moral (Silva e Raichelis, 2015), sofrimento e adoecimento
provocados pelas novas formas de organização e gestão do trabalho (Vicente, 2015), situações que têm sido
identificadas em pesquisas e começam a ser discutidas mais amplamente pela categoria profissional.

 A pesquisa de Silva (2014) sobre assédio de assistentes sociais em diferentes áreas profissionais revelou que a
violência moral nas relações de trabalho apresenta-se como estratégia de dominação sobre o conjunto de
trabalhadores/ as, desorganizando-o e despolitizando-o enquanto classe trabalhadora, esvaziando seu potencial
reivindicatório, na medida em que ocorre a individualização da violência assimilada como culpa pelo/a
trabalhador/a e não como violação dos seus direitos humanos. Nesse sentido, a solidariedade de classe
desaparece para dar lugar à culpabilização individual em relação a questões que afetam o coletivo.=> Falta da
organização coletiva, inexistência da organização política dos assistentes sociais na instituição e vinculação com
sindicatos.

 Pesquisa realizada por Vicente (2015), sobre desgaste mental no trabalho de assistentes sociais que atuam na
politica municipal de habitação em São Paulo, constatou maior sofrimento e adoecimento em assistentes sociais
contratadas pelas empresas gerenciadoras terceirizadas, que prestam serviços a prefeituras, submetidas a
trabalhos rotineiros, condições mais precárias e insalubres nos canteiros de obra, inadequação dos locais de
atendimento da população, violação de direitos básicos, como falta de local apropiado para refeições, falta de
água e sujeira dos banheiros, entre outros constrangimentos e humilhações.
 O Serviço Social não está alheio a esse processo, tanto no sentido da competição e disputa por espaços
profissionais nas políticas sociais, pela sua tendência cada vez mais multiprofissional e interdisciplinar, quanto na
subordinação dos objetivos, princípios e valores da profissão aos da instituição, do programa, do projeto ou da
política social nos quais o/a assistente social se insere.=> aumento da correlação de forças no trabalho
multidisciplinar.
 Esse é um contexto que favorece a retomada de requisições históricas dirigidas ao Serviço Social, de
enquadramento, disciplinarização e controle das classes e grupos subalternos, que reforçam a perspectiva do/a
assistente social como profissional da coerção e do consenso, como analisou Iamamoto em 1982.
 Embora estas requisições não sejam novas, ao contrário, estão presentes desde a gênese do Serviço Social, elas
aparecem hoje refuncionalizadas e atualizadas, recebem novos influxos com a incorporação, pela esfera estatal,
de modelos de gestão e organização do trabalho típicas da empresa capitalista.

 Nas palavras de DARDOT e LAVAL (2017, p. 512): “O trabalhador não deixa do lado de fora do local de trabalho
todos os seus valores morais, seu senso de justiça, sua relação com o coletivo e seus mais diversos
pertencimentos sociais”.
 ANTUNES (2018, p. 25-26, grifos do autor) também se refere a esse mundo contraditório e vital presente no ato
de trabalhar, que emancipa, humaniza e sujeita, libera e escraviza, e envolve a forma de ser do trabalho: “mesmo
quando o trabalho é marcado de modo predominante por traços de alienação e estranhamento, ele expressa
também, em alguma medida, coágulos de sociabilidade que são perceptíveis particularmente quando
comparamos a vida de homens e mulheres que trabalham com a daqueles que se encontram desempregados”.
 Sabemos que assistentes sociais convivem com a violência, a pobreza, o adoecimento, as múltiplas expropriações
dos meios materiais e simbólicos para reprodução social da classe trabalhadora. Mas, ao mesmo tempo, o tipo de
inserção institucional que possuem implica na proximidade com diferentes segmentos da classe trabalhadora,
especialmente os grupos mais subalternizados, o que cria condições para o (re) conhecimento de suas
necessidades, de seus modos de vida, de trabalho e de luta pela sobrevivência, suas fragilidades e fortalezas
lapidadas pelo duro cotidiano. Esse conhecimento é condição necessária para elaborar propostas profissionais
consistentes teórica e tecnicamente, que respondam às necessidades sociais, fortaleçam os/as usuários/as como
sujeitos de direitos e possibilitem aprofundar alianças estratégicas entre usuários/as e trabalhadores/as.

 O trabalho profissional de assistentes sociais deve orientar-se para a superação da cultura histórica do
pragmatismo e das ações improvisadas, de controle e disciplinarização de condutas, da reprodução de posturas
conservadoras, moralizadoras e preconceituosas frente aos diferentes grupos com os quais trabalham: mulheres,
comunidades LGBTI, jovens negros e negras moradores/as das periferias das cidades, rompendo com visões que
naturalizam ou criminalizam a pobreza e com as variadas formas de discriminação, violência e violação de direitos
da classe trabalhadora, sobretudo de seus grupos mais subalternizados.
 Para isso, é preciso que assistentes sociais e demais trabalhadores/as do serviço púbico possam insurgir-se
coletivamente contra as estratégias de intensificação do trabalho e resistir ao mero produtivismo institucional,
medido pelo número de reuniões, de visitas domiciliares, de atendimentos, de laudos, de pareceres, de cadastros
preenchidos, que contribuem para a alienação do/a trabalhador/a.

 SAÍDAS COLETIVAS PARA ENFRENTAMENTO DA EXPLORAÇÃO DO TRABALHO.


 FORTALECIMENTO DAS LUTAS COLETIVAS E DA CATEGORIA PROFISSIONAL
 REPENSAR A LÓGICA PRODUTIVISTA E ROTINEIRA DA INSTITUIÇÃO E DA AÇÃO PROFISSIONAL.
 PARA A DEFESA DA DIREÇÃO ÉTICO-POLÍTICA DA PROFISSÃO.

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