Espiritismo e Má-Fé
Espiritismo e Má-Fé
ESPIRITISMO E MÁ-FÉ
(Resposta ao bispo D. Boaventura Kloppenburg)
(Versão 2)
Paulo Neto
2
Copyright 2021 by
Paulo da Silva Neto Sobrinho (Paulo Neto)
Belo Horizonte, MG.
Revisão:
Diagramação:
Paulo Neto
site: www.paulosnetos.net
e-mail: [email protected]
3
Índice
Introdução..................................................................5
Conclusão..............................................................402
Referências bibliográficas......................................407
4
Introdução
5
cada um de nós ler o que desejarmos, assim,
também, como temos o de defender o Espiritismo.
6
Quando vemos líderes religiosos, ou qualquer
pessoa que tenha a coragem de se dizer cristã,
cometendo fatos lamentáveis como esses, tentamos
descobrir de quem é o exemplo que seguem, uma
vez que sempre se dizem cristãos.
7
Análise do texto da obra refutada
8
dos mortos.
É o simpatizante que não percebe
incompatibilidade alguma entre a doutrina espírita
e a fé cristã.
É o curioso que quer conhecer o espiritismo.
É o crítico que quer saber melhor como são as
coisas depois da morte.
É o cético para quem todas as religiões são
boas.
É o liberal achando que as questões religiosas
não se discutem.
É o entusiasmado, encantado com um livro de
Chico Xavier.
É o caridoso em visita à creche mantida pelo
centro.
É o folclorista para quem o candomblé é uma
beleza.
É o neurótico que se deixou persuadir de que
deve desenvolver a sua mediunidade.
É o médium que pretende continuar católico e
se sente realizado no exercício da caridade
mediante o além.
É o oficial da cruzada dos militares espíritas,
que se diz guiado por São Maurício.
É o chofer de táxi a meu lado, comentando que
Allan Kardec é formidável.
É o sacristão que me explica com entusiasmo a
cura de seu amigo que foi ao terreiro.
É a criança a reclamar contra papai que não a
9
deixa ir ao centro.
É o telespectador diante da comovente novela
espírita.
É o radiouvinte que escutou a mensagem
mediúnica.
É o amigo a acreditar que o espiritismo é só
ciência e filosofia, e não religião.
Foi pensando em todos estes meus consulentes
que escrevi o presente opúsculo. É apenas um
resumo. Informações mais amplas ou críticas mais
aprofundadas se encontram na obra maior com o
título Espiritismo: Orientação para os católicos,
publicada pelas Edições Loyola.
Peço ao Divino Espírito Santo que ilumine os
que lerem estas páginas, para que vejam e
entendam as razões por que o católico não aceita
o espiritismo. Redigi-as movido pela caridade
pastoral, pela urgência do esclarecimento
solicitado por tantos fiéis católicos e pelo desejo de
ser ao mesmo tempo claro na exposição, rigoroso
na argumentação, lógico na dedução e fiel à
doutrina cristã. Seu gênero literário não é de
diálogo com os espíritas, que merecem o meu
respeito embora deles divirja, mas de orientação
para os católicos. (1)
10
religioso.
11
melhor lhe convier. E quem se deu ao trabalho de ler
Allan Kardec, mesmo que somente para combater a
Doutrina Espírita, fatalmente deve ter lido, em O
Que é o Espiritismo, que:
12
sã consciência, combate aquilo que acha ser
insignificante; isso é certo.
CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS
Há muitas coisas em comum entre catolicismo e
espiritismo. Católicos e espíritas concordam em
professar que o mundo não é só matéria; que Deus
existe e é eterno, imutável, imaterial, único,
onipotente, soberanamente justo e bom; que 'Deus
criou o universo, que abrange todos os seres
animados e inanimados, materiais e imateriais; que
os seres materiais constituem o mundo visível ou
corpóreo e os seres imateriais o mundo invisível
dos espíritos; que os valores do espírito são
superiores aos da matéria; que o ser humano não
é só matéria; que temos uma alma de natureza
espiritual; que esta alma não morre quando se
separa do corpo no momento do desenlace; que
depois da morte a nossa alma continua viva e
consciente; que a vida depois da morte depende
13
do modo como aproveitamos a vida agora no
corpo.
Católicos e espíritas estão de acordo também
em afirmar que os falecidos não rompem seus
laços com os que ainda vivem nesta terra; que no
mundo do além nem todos são iguais; que há
espíritos perfeitos que vivem com Deus; que estes
espíritos nos podem socorrer e ajudar; que há
espíritos imperfeitos e até maus que assim se
fizeram por próprio arbítrio; que estes nos podem
perturbar e prejudicar.
Católicos e espíritas proclamam e reconhecem
a extraordinária figura de Jesus Cristo; que Jesus
nos ensinou o caminho do bem e da salvação; que
as leis morais do Evangelho são excelentes; que
Jesus insistiu principalmente na caridade; que fora
da caridade não há salvação; que devemos fazer o
bem e fugir do mal; que há pecados e vícios que
devem ser evitados; que os pecados devem ser
expiados; que a virtude será premiada depois da
morte.
Católicos e espíritas aceitam outrossim que os
espíritos do além podem manifestar-se ou
comunicar-se perceptivelmente conosco. Ambos
admitem dois tipos de manifestação dos espíritos:
as espontâneas e as provocadas. Por
manifestações espontâneas entendem as que têm
a sua origem ou iniciativa no além, como foi, por
exemplo, o caso que nos é narrado pelo Evangelho
de São Lucas (1, 26-38): o anjo Gabriel foi enviado
por Deus a Maria de Nazaré para comunicar-lhe
que ela seria a mãe de Jesus. Por manifestações
provocadas entendem as que têm a sua iniciativa
14
no aquém, como foi, por exemplo, o caso que nos
é relatado pelo primeiro livro de Samuel (28, 3-25):
a pedido do rei Saul, a necromante de Endor evoca
a alma do falecido Samuel, que então comunica ao
rei os castigos divinos.
Mas é neste ponto que começa uma primeira
divergência fundamental entre católicos e espíritas:
os católicos admitem de bom grado as
manifestações espontâneas que nos são
oferecidas por iniciativa da bondade de Deus, mas
consideram divinamente proibidas as
manifestações provocadas pelo homem mediante o
processo da evocação; e os espíritas transformam
precisamente esta evocação dos falecidos em
meio principal para as suas novas revelações do
além.
O espiritismo se especifica, caracteriza e define
por sua prática das manifestações provocadas das
almas ou espíritos dos falecidos, para deles
receber mensagens ou algum tipo de ajuda. A
evocação dos falecidos constitui a essência do
espiritismo. Sem a evocação não há espiritismo. E
a evocação é a fonte principal de seus
conhecimentos específicos ou da sua doutrina.
Há ainda uma segunda discordância
fundamental entre católicos e espíritas: a questão
da reencarnação. Os católicos creem na unicidade
da vida terrestre; e os espíritas anunciam a
pluralidade das reencarnações. Este desacordo
tem em si tantas consequências lógicas, sobretudo
no modo de conceber a salvação eterna, que
conduz de fato a dois corpos doutrinários
frontalmente discrepantes e opostos entre si de
15
modo irreconciliável.
Em resumo: apesar das numerosas
convergências entre católicos e espíritas, há duas
palavras que marcam a separação e caracterizam
o espiritismo: evocação e reencarnação. (3)
16
consistência. Inclusive, alguns veem no Codificador
essa característica de homem racional e de
argumentação exemplar; porém, consideram suas
altercações como superiores às de Kardec. Puro
orgulho de pseudossábios, que não entendem
mesmo daquilo a que se propõem a combater.
17
existe liberdade não existe o Espírito do Senhor; o
que não é o nosso caso, com certeza.
18
Em 1856, o mesmo Cahagnet publicava em Paris
Révélations d'outre-tombe, com mensagens
ditadas, segundo pretendia, pelos falecidos Galileu,
Hipócrates, Franklin e outros.
Foi neste ambiente interessado no “magnetismo
animal” imaginado pelo médico austríaco Franz
Anton Mesmer (1733-1815), instalado em Paris
desde 1778, que nasceu o “espiritismo”. Esta
palavra foi proposta por Hippolyte Léon Denizard
Rivail (1804-1869), mais conhecido pelo seu
pseudônimo de Allan Kardec, o codificador
sistemático de um tipo especial de espiritismo
conhecido também como “kardecismo”.
Este é o espiritismo dominante no Brasil.
Allan Kardec (isto é, Denizard Rivail) era de
família católica. Com a idade de 10 anos foi
enviado a Yverdun, Suíça, ao Instituto de
Educação dirigido pelo conhecido pedagogo
Pestalozzi, protestante calvinista e liberal, que
identificava religião com moralidade. Lá esteve o
jovem Rivail até 1822, quando .foi a Paris, onde se
dedicou então ao ensino e publicou vários livros
pedagógicos e didáticos. De boa formação geral e
cultural, era metódico, lógico e claro na exposição
das suas ideias. Conhecia também o alemão e o
inglês e trabalhava como tradutor. Bom
matemático, atuou ainda como contabilista. Casou-
se em 1826 com Amélie Gabrielle Boudet, nove
anos mais velha do que ele e de boa situação
financeira. Não teve filhos.
Mas Alan Kardec não era particularmente
versado em religião e muito menos em teologia.
Em maio de 1855, começou a interessar-se pelo
19
fenômeno das “mesas girantes e falantes”, nascido
nos Estados Unidos, e aceitou a teoria da presença
e atuação de “espíritos” ou almas dos falecidos nos
movimentos de mesas, cestas e outros objetos
usados pelos “sonâmbulos” dos “magnetizadores”.
E já dois anos depois, no dia 18 de abril de 1857,
publicou O Livro dos Espíritos. Este dia 18 de abril
de 1857 é considerado pelos espíritas como o dia
da fundação do espiritismo.
O Livro dos Espíritos é a obra fundamental da
codificação da doutrina espiritista, com o seguinte
subtítulo: “Princípios da doutrina espírita sobre a
imortalidade da alma, a natureza dos espíritos e
suas relações com os homens, as leis morais, a
vida presente, a vida futura e o porvir da
Humanidade – segundo os ensinos dados por
espíritos superiores com o concurso de diversos
médiuns – recebidos e coordenados por Allan
Kardec”.
Outra obra básica de Allan Kardec para a prática
do espiritismo foi publica da em 1861: O Livro dos
Médiuns, com o subtítulo “Guia dos médiuns e dos
evocadores”. Note-se aqui a palavra “evocadores”,
indicando assim a função determinante da
“evocação” para o espiritismo.
Além destes dois livros básicos, Allan Kardec
ainda escreveu e publicou O Evangelho segundo o
Espiritismo (em 1864), que é a sua obra mais
difundida no Brasil, já com cerca de dois milhões
de exemplares. Publicou também O Céu e o
Inferno (em 1865) e A Gênese (em 1868). Depois
da sua morte, em 1869, mais alguns textos inéditos
foram publicados como Obras Póstumas. Em 1858,
20
Allan Kardec começou a publicar a sua Revue
Spirite (“revista espírita”), que deixou de aparecer
com este título em 1976.
O espiritismo codificado por Allan Kardec foi
introduzido no Brasil ainda em vida do codificador,
a partir de 1865. Em 1884, foi fundada a
Federação Espírita Brasileira (FEB), tendo desde
então como órgão oficial a revista Reformador,
palavra que revela um programa. (4)
21
forma lembra a origem e o sentido radical e que,
por isso mesmo, apresentam a vantagem de ser
perfeitamente inteligíveis, deixando ao vocábulo
espiritualismo a acepção que lhe é própria.
Diremos, pois, que a doutrina espírita ou o
Espiritismo tem por princípio as relações do mundo
material com os Espíritos ou seres do mundo
invisível. Os adeptos do Espiritismo serão os
espíritas, ou, se quiserem, os espiritistas. (5)
22
num ambiente interessado no “magnetismo animal”.
Ora, como bom estudioso, deveria saber que o
Espiritismo, como o conhecemos, tem como fato de
seu nascedouro os fenômenos de Hydesville, nos
E.U.A., inclusive, é o que cita. Entretanto, como se
diz, “não contou da missa a metade”, pois esses
acontecimentos são importantes para provar que, a
contragosto dos fanáticos religiosos, tais fenômenos
não são proibidos por Deus, como, a todo o
momento, quer destacar o sacerdote, tal e qual
fazem os detratores.
23
naquela casa por conta de 500 dólares, que seu
cadáver estava escondido na adega. Passados 56
anos, foi descoberto um esqueleto no porão da casa,
onde residira a família Fox, comprovando a realidade
daquilo que o espírito falou.
24
permite que os evoquemos, por outro, não proíbe
que eles venham até nós por iniciativa própria, já
que foi exatamente isso o que aconteceu e continua
acontecendo até os dias de hoje.
25
“aceitou a teoria da presença e atuação dos
'espíritos'”, ele apenas deduziu dos fatos que se lhe
apresentaram, fazendo a seguinte afirmação com
relação aos que não admitem a intervenção dos
Espíritos nas manifestações: os que as atribuem a
causas puramente físicas, agem contrário a este
axioma: “Todo efeito inteligente há de ter uma causa
inteligente”; então, pelo fato das mesas “falarem”,
isso indicava uma ação inteligente, e, concluiu ele:
como as mesas não possuem cérebro para pensar,
devia, portanto, haver uma causa inteligente que
produzia tais fenômenos. Foi essa causa inteligente
quem disse ser um espírito.
26
tem tais fenômenos como sobrenaturais, mas como
de ordem natural, ou seja, dentro das leis da
natureza; portanto, divinas.
27
Igreja de Roma são feridos.
28
“Previno-te de que é rude a tua missão,
porquanto se trata de abalar e transformar o
mundo inteiro” (p. 282).
No dia 15 de abril de 1860, Allan Kardec julga
ter recebido (sempre do além) esta mensagem,
que define a própria missão do espiritismo como “a
verdadeira religião, a religião natural”:
“O Espiritismo é chamado a desempenhar
imenso papel na Terra. Ele reformará a legislação
ainda tão frequentemente contrária às leis divinas;
retificará os erros da História; restaurará a religião
de Cristo, que se tomou nas mãos dos padres,
objeto de comércio e de tráfico vil; instituirá a
verdadeira religião, a religião natural, a que parte
do coração e vai diretamente a Deus, sem se deter
nas franjas de uma sotaina, ou nos degraus de um
altar” (p. 299).
E pouco depois, no dia 30 de setembro de 1863,
a comunicação do além pronuncia um veredito
sobre a Igreja Católica:
“É chegada a hora em que a Igreja tem de
prestar contas do depósito que lhe foi confiado, da
maneira por que pratica os ensinos de Cristo, do
uso que fez da sua autoridade, enfim, do estado de
incredulidade a que levou os espíritos. A hora é
vinda em que ela tem de dar a César o que é de
César e de assumir a responsabilidade de todos os
seus atos. Deus já julgou, e a reconheceu inapta,
daqui por diante, para a missão de progresso que
incumbe a toda autoridade espiritual. Somente por
meio de uma transformação absoluta lhe será
possível viver; mas resignar-se-á ela a essa
transformação? Não, pois que então já não seria a
29
Igreja; para assimilar as verdades e as descobertas
da Ciência [2], teria de renunciar aos dogmas que
lhe servem de fundamentos; para volver à prática
rigorosa dos preceitos do Evangelho, teria de
renunciar ao poder, à dominação, de trocar o
fausto e a púrpura pela simplicidade e a humildade
apostólicas. Ela se acha nesta alternativa: ou se
suicida, transformando-se; ou sucumbe nas garras
do progresso, se permanecer estacionária” (p. 310
s.).
E assim o espiritismo se considera como sendo
a “terceira revelação”. A primeira, assim dizem,
veio por Moisés; a segunda, por Jesus Cristo; e a
terceira, através dos “espíritos”, principalmente do
Espírito da Verdade, o Consolador prometido por
Jesus. Allan Kardec descreve tudo isso
amplamente no capítulo primeiro de A Gênese,
concluindo no n.º 42:
“O Espiritismo realiza todas as promessas de
Cristo a respeito do Consolador anunciado. Ora,
como é o Espírito de Verdade que preside ao
grande movimento da regeneração, a promessa da
sua vinda se acha por essa forma cumprida,
porque, de fato, é ele o verdadeiro Consolador”.
No discurso pronunciado em 1º de novembro de
1863, Allan Kardec apresentou um resumo da
doutrina espírita, terminando com estas palavras:
“Eis o Credo, a religião do espiritismo, religião
que pode conciliar-se com todos os cultos, isto é,
com todas as maneiras de adorar a Deus. Esse é o
laço que deve unir todos os espíritas numa santa
comunhão de pensamentos, enquanto se espera
que ele ligue todos os homens sob a bandeira da
30
fraternidade universal”.
Tal é também a convicção que anima o
espiritismo no Brasil. A Federação Espírita
Brasileira, por seu Conselho Nacional, em sua
reunião de 5 de julho de 1952, declarou
oficialmente e por unanimidade: “O Espiritismo é
Religião sem ritos, sem liturgia e sem
sacramentos”. E em outra oportunidade fez saber:
“Os espíritas do Brasil, reunidos no II Congresso
Espírita Internacional Panamericano, com
expressões de maior respeito à liberdade de
pensamento e de consciência, afirmam que, no
Brasil, a Doutrina Espírita, sem prejuízo de seus
aspectos científicos e filosóficos, é fundamentada
no Evangelho de Cristo, certo de ser o Consolador
Prometido de que nos falam aqueles mesmos
Evangelhos. Por isso é que nós outros, que
vivemos no Brasil, ligados à Doutrina Espírita,
consideramo-la a Religião”.
_____
31
8). Alguns dias depois, na festa de Pentecostes, quando
estavam reunidos na sala de Jerusalém, de repente veio
do céu um ruído semelhante ao de vento impetuoso e
encheu toda a casa onde se achavam. E apareceram
umas como línguas de fogo, que se distribuíram e foram
pousar sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do
Espírito Santo (At 2, 1-4). Era a vinda do Espírito da
Verdade, bem antes de Allan Kardec. Começou então a
vida da Igreja. Ela terá a árdua tarefa de conservar e
anunciar a todos os homens, até o fim dos tempos, o
que Jesus ensinara em nome do Pai. Realiza-se assim a
promessa de Jesus: Eis que eu estou convosco todos
os dias até a consumação dos séculos (Mt 28, 20). A
Igreja cumprirá a sua missão, confortada certamente
pela força do Alto e sempre assistida pelo Espírito da
Verdade, o Consolador, mas em todo tempo mediante
seres humanos, frágeis e limitados por sua natureza. A
já bimilenar história da Igreja é rica na descrição destas
vicissitudes humanas, de maior ou menor fidelidade,
com aflições e dificuldades internas e externas, entre
sombras porém com fidelidade substancial.
32
doutor da Lei, em defesa de Pedro e dos que o
acompanhavam, perante o Sinédrio:
33
com o que apregoam por aí, dizendo que Ele morreu
para nos salvar (Hebreus 9,15).
34
encontramos essa ocorrência devemos tê-la no
significado de Espírito puro ou Espírito bom. Por
outro lado, estamos diante de um grave problema:
ele baixou várias vezes. A primeira vez no domingo
seguinte à morte de Jesus (João 20,22), a segunda no
suposto dia do Pentecostes (Atos 2,2), a terceira no
episódio conhecido como o “Pentecostes samaritano”
(Atos 8,14-17) e a quarta no “Pentecostes dos
pagãos” (Atos 10,44-46) (7)
35
apenas um fato simbólico.
36
livros espíritas, para compor esse item, percebemos
que há, de sua parte, ainda que inconscientemente,
um medo tremendo por detrás de tudo isso. Se o
Espiritismo vem resgatar os verdadeiros ensinos de
Jesus, já que o que a Igreja prega é deturpação pura,
ele será o elo que ligará todos os homens numa
fraternidade universal; consequentemente, ferirá o
status de poder que a Igreja e sua liderança quer
manter. É por isso que o sr. bispo teme pela hora em
que sua Igreja prestará contas do depósito que a ela
foi confiado; e como sabe que não foi bem guardado,
pressente as inevitáveis consequências…
37
ciência. A verdadeira Doutrina Espírita está no
ensino que os Espíritos deram, e os
conhecimentos que esse ensino comporta são por
demais profundos e extensos para serem
adquiridos de qualquer modo, que não por um
estudo perseverante, feito no silêncio e no
recolhimento. Porque, só dentro desta condição se
pode observar um número infinito de fatos e
particularidades que passam despercebidos ao
observador superficial, e firmar opinião. Não
produzisse este livro outro resultado além do de
mostrar o lado sério da questão e de provocar
estudos neste sentido e rejubilaríamos por haver
sido eleito para executar uma obra em que, aliás,
nenhum mérito pessoal pretendemos ter, pois que
os princípios nela exarados não são de criação
nossa. O mérito que apresenta cabe todo aos
Espíritos que a ditaram. Esperamos que dará outro
resultado, o de guiar os homens que desejem
esclarecer-se, mostrando-lhes, nestes estudos, um
fim grande e sublime: o do progresso individual e
social e o de lhes indicar o caminho que conduz a
esse fim.
38
então da causa pelo efeito, conseguiram calcular-
lhe os elementos e mais tarde os fatos lhes vieram
confirmar as previsões. Apliquemos este raciocínio
a outra ordem de ideias. Se se observa a série dos
seres, descobre-se que eles formam uma cadeia
sem solução de continuidade, desde a matéria
bruta até o homem mais inteligente. Porém, entre o
homem e Deus, alfa e ômega de todas as coisas,
que imensa lacuna! Será racional pensar-se que no
homem terminam os anéis dessa cadeia e que ele
transponha sem transição a distância que o separa
do infinito? A razão nos diz que entre o homem e
Deus outros elos necessariamente haverá, como
disse aos astrônomos que, entre os mundos
conhecidos, outros haveria, desconhecidos. Que
filosofia já preencheu esta lacuna? O Espiritismo
no-la mostra preenchida pelos seres de todas as
ordens do mundo invisível e estes seres não são
mais do que os Espíritos dos homens, nos
diferentes graus que levam à perfeição. Tudo então
se liga, tudo se encadeia, desde o alfa até o
ômega. Vós, que negais a existência dos Espíritos,
preenchei o vácuo que eles ocupam. E vós, que
rides deles, ousai rir das obras de Deus e da Sua
onipotência! (9)
39
todos os tempos e de todos os lugares. Quem,
pois, ousaria considerar-se bastante forte para
abafá-la com sarcasmos, ou, ainda, com
perseguições? Se a proscreverem de um lado,
renascerá noutras partes, no próprio terreno donde
a tenham banido, porque ela está em a Natureza e
ao homem não é dado aniquilar uma força da
Natureza, nem opor veto aos decretos de Deus.
Que interesse, aos demais, haveria em obstar-
se a propagação das ideias espíritas? É exato que
elas se erguem contra os abusos que nascem do
orgulho e do egoísmo. Mas, se é certo que desses
abusos há quem aproveite, à coletividade humana
eles prejudicam. A coletividade, portanto, será
favorável a tais ideias, contando-se-lhes por
adversários sérios apenas os interessados em
manter aqueles abusos. As ideias espíritas, ao
contrário, são um penhor de ordem e tranquilidade,
porque, pela sua influência, os homens se tornam
melhores uns para com os outros, menos ávidos
das coisas materiais e mais resignados aos
decretos da Providência. (10)
40
Espiritismo chegou ao estado de ciência? Se se
trata de uma ciência perfeita, sem dúvida, seria
prematuro responder afirmativamente; mas as
observações são, desde hoje, bastante numerosas
para se poder, pelo menos, deduzir os princípios
gerais, e é aí que começa a ciência. (11)
41
Consolador, chega a esta conclusão:
“É missão, pois, do Espiritismo devolver ao
Cristianismo a sua pureza original, libertando-o dos
dogmas e das ideias humanas nele introduzidos”
(p. 85).
Para entender tão radical operação libertadora,
é necessário comparar a doutrina espírita com a
mensagem cristã: aos menos em seus elementos
fundamentais. (12)
42
que assim como ele pertence a Cristo, também nós
pertencemos a Cristo” (2 Coríntios 10,7), fulminando
de vez essa ideia exclusivista desses líderes.
43
seguidores os enxergam, fora as interpretações de
conveniências, cujo objetivo é apenas manter
domínio sobre seus fiéis.
A Revelação divina
44
secundário, ou revogado e sem valor algum, mais
de 90% do texto da Bíblia. Só vemos na Bíblia toda
um livro respeitável pelo seu valor cultural, pela
força que teve na formação cultural dos povos do
Ocidente”. (13)
45
Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti
mesmo” (Mateus 22,37-40). Por várias vezes disse
“aprendeste o que foi dito, eu porém vos digo”
(Mateus 5), colocando seus ensinamentos como
superiores aos de Moisés. A parábola das bodas de
Caná tem exatamente esse sentido, ou seja, o
ensinamento de Jesus é o vinho melhor que foi
servido depois. Numa outra passagem deixa-nos
diante dessa verdade inexorável: “A Lei e os profetas
chegaram até João; daí para a frente o Reino de
Deus é anunciado, e cada um se esforça para nele
entrar, com violência” (Lucas 16,16); o que, em
outras palavras, quer dizer que o Antigo Testamento
vigorou até João Batista, limitando, dessa forma, a
sua aplicação até esse tempo, porque depois,
conforme disse, deverão prevalecer os seus
ensinamentos. Daí sua indisposição com os líderes
de sua época, até que, num dado momento, disse-
lhes: “não se coloca remendo de pano novo em pano
velho ou vinho novo em odres velhos” (Mateus 9,16-
17), o que não entenderam, mas que significa:
deixem os ensinamentos de Moisés e observem o
que lhes digo; entretanto, a liderança de hoje finge
não perceber, já que isso não lhe convém.
46
Existem, inclusive, passagens que deixam clara
essa questão; quem tiver a curiosidade de confirmar,
leia: Romanos 7,4-6; Hebreus 7,18; 10,9; 8,6-7.13 e 2
Coríntios 3,6-14.
47
mundo, porque este é a sua parte integrante e
essencial” (p. 124). Em vez do “Deus fantástico da
Bíblia”, ele quer o “Deus imanente, sempre
presente no seio das coisas” (p. 213): “O Universo
não é mais essa criação, essa obra tirada do nada
de que falam as religiões. É um organismo imenso
animado de vida eterna” (p. 123); e em seguida
explica que Deus está para o Universo como a
alma para o corpo: “O eu do Universo é Deus” (p.
349).
______
[1] Sistema filosófico que nega a distinção entre o
Criador e a criatura e afirma que “tudo é Deus” ou “Deus
é tudo”. (14)
48
incorruptível está em todas as coisas”.
49
panteísmo só assusta aos néscios e aos que,
encabrestados pela liderança religiosa, não ousam
questionar o que ela lhes fala.
50
rejeitadas como utopias. […]. Cedo ou tarde, a
verdade triunfa das infalibilidades conjuradas! (15)
A Santíssima Trindade
51
expressão de um símbolo, veio obscurecer e
desnaturar essa alta ideia de Deus… Essa
concepção trinitária, tão incompreensível, oferecia,
entretanto, grande vantagem às pretensões da
Igreja. Permitia-lhe fazer de Jesus Cristo um Deus”
(p. 75).
52
Ea, Istar e Tamus – dos babilônios
53
E que dizer daquela doutrina popular da
Cristandade – a trindade? Já não nos deve
surpreender agora que ela é também de origem
pagã. A doutrina, além de implausível e irracional, é
antibíblica. Nenhum texto ensina a trindade. Usa-
se o texto de I Jo. 5:7, na versão Almeida, para
apoiar a doutrina, mas essas palavras não
aparecem nos manuscritos mais antigos e mais
fidedignos das Escrituras gregas; por isso, a
maioria das versões modernas deixa estas
palavras inteiramente de fora. (17)
54
dogma da Trindade está apenas acrescentado à
margem. Mais tarde foi intercalado no texto, onde
se encontra ainda”. (19)
55
O historiador e professor da Universidade
Hebraica de Jerusalém, David Flusser (1917-2000),
que lecionou no Departamento de Religião
Comparada por mais de 50 anos, nascido na Áustria,
foi estudioso da literatura clássica e talmúdica,
conhecia 26 idiomas. Em O Judaísmo e as Origens
do Cristianismo. Vol. II, informa que:
56
É importante transcrevermos também a nota
75, na qual Flusser coloca sua base de informação:
57
Academy of Sciences and Humanities
Proceedings, vol. II, nº 13, Jerusalém, 1966, p. 25.
(23)
58
como atualmente se encontra na Bíblia: 1º) é que
Jesus, quando vivo, não recomendou o batismo de
água, mas um outro; 2º) em Atos (2,38; 8,16; 10,48
e 19,5) temos a prova de que se batizava somente
“em nome de Jesus”, evidenciando falta grave de
quem fez a interpolação por não ter percebido esse
pequeno e importante detalhe. Eh!… Não há mesmo
crime perfeito!
59
A doutrina sobre Jesus
60
Jesus.
61
Gênese, encontramos o seguinte parágrafo (item 2):
62
detalhar melhor seu pensamento, conforme
podemos constatar quando ele diz sobre o
desaparecimento do corpo de Jesus.
64. […].
Segundo outra opinião, Jesus não teria tido um
corpo carnal, mas apenas um corpo fluídico; não
teria sido, em toda a sua vida, mais do que uma
aparição tangível; numa palavra: uma espécie de
agênere. Seu nascimento, sua morte e todos os
atos materiais de sua vida teriam sido apenas
aparentes. Assim foi que, dizem, seu corpo, voltado
ao estado fluídico, pode desaparecer do sepulcro e
com esse mesmo corpo é que ele se teria
mostrado depois de sua morte.
É fora de dúvida que semelhante fato não se
pode considerar radicalmente impossível, dentro
do que hoje se sabe acerca das propriedades dos
fluidos; mas, seria, pelo menos, inteiramente
excepcional e em formal oposição ao caráter dos
agêneres. (Cap. XIV, nº 36). Trata-se, pois, de
saber se tal hipótese é admissível, se os fatos a
confirmam ou contradizem.
63
65. A estada de Jesus na Terra apresenta dois
períodos: o que a precede e o que se seguiu à sua
morte. No primeiro, desde o momento da
concepção até o nascimento, tudo se passa, pelo
que respeita à sua mãe, como nas condições
ordinárias da vida (28). Desde o seu nascimento até
a sua morte, tudo, em seus atos, em sua
linguagem e nas diversas circunstâncias de sua
vida, revela os caracteres inequívocos da
corporeidade. São acidentais os fenômenos de
ordem psíquica que nele se produzem e nada têm
de anômalos, pois que se explicam pelas
propriedades do perispírito e se dão, em diferentes
graus, noutros indivíduos. Depois de sua morte, ao
contrário, tudo nele revela o ser fluídico. É tão
marcada a diferença entre os dois estados, que
não podem ser assimilados.
“O corpo carnal tem as propriedades inerentes à
matéria propriamente dita, propriedades que
diferem essencialmente das dos fluidos etéreos;
naquela, a desorganização se opera pela ruptura
da coesão molecular. Ao penetrar no corpo
material, um instrumento cortante lhe divide os
tecidos; se os órgãos essenciais à vida são
atacados, cessa-lhes o funcionamento e sobrevém
a morte, isto é, a do corpo. Não existindo nos
corpos fluídicos essa coesão, a vida aí já não
repousa no jogo dos órgãos especiais e não se
podem produzir desordens análogas àquelas. Um
instrumento cortante ou outro qualquer que penetra
num corpo fluídico como se penetrasse numa
massa de vapor, sem lhe ocasionar qualquer lesão.
Tal a razão por que não podem morrer os corpos
dessa espécie e por que os seres fluídicos,
64
designados pelo nome de agêneres, não podem
ser mortos.
“Depois do suplício de Jesus, seu corpo ali,
inerte e sem vida, foi enterrado como os corpos
comuns, e cada um podia vê-lo e tocá-lo. Depois
de sua ressurreição, quando quer deixar a Terra,
não morre mais; seu corpo se eleva, se desvanece
e desaparece, sem deixar nenhum traço, prova
evidente de que o seu corpo era de outra natureza
daquele que pereceu sobre a cruz; de onde é
preciso concluir que se Jesus pôde morrer, foi
porque tinha um corpo carnal”.
[…].
Por virtude das suas propriedades materiais, o
corpo carnal é a sede das sensações e das dores
físicas, que repercutem no centro sensitivo ou
Espírito. Quem sofre não é o corpo, é o Espírito
recebendo o contragolpe das lesões ou alterações
dos tecidos orgânicos. Num corpo sem Espírito,
absolutamente nula é a sensação. Pela mesma
razão, o Espírito, sem corpo material, não pode
experimentar os sofrimentos, visto que estes
resultam da alteração da matéria, donde também
forçoso é se conclua que, se Jesus sofreu
materialmente, do que não se pode duvidar, é que
ele tinha um corpo material de natureza
semelhante ao de toda a gente. (29)
65
considerações morais.
Se as condições de Jesus, durante a sua vida,
fossem as dos seres fluídicos, ele não teria
experimentado nem a dor, nem as necessidades
do corpo. Supor que assim haja sido é tirar-lhe o
mérito da vida de privações e de sofrimentos que
escolhera, como exemplo de resignação. Se tudo
nele fosse aparente, todos os atos de sua vida, a
reiterada predição de sua morte, a cena dolorosa
do Jardim das Oliveiras, sua prece a Deus para
que lhe afastasse dos lábios o cálice de
amarguras, sua paixão, sua agonia, tudo, até ao
último brado, no momento de entregar o Espírito,
não teria passado de vão simulacro, para enganar
com relação à sua natureza e fazer crer num
sacrifício ilusório de sua vida, numa comédia
indigna de um homem simplesmente honesto,
indigna, portanto, e com mais forte razão de um ser
tão superior. Numa palavra: ele teria abusado da
boa-fé dos seus contemporâneos e da posteridade.
Tais as consequências lógicas desse sistema,
consequências inadmissíveis, porque o
rebaixariam moralmente, em vez de o elevarem.
(30)
E arremata categórico:
66
Não dá, pois, para conciliar a obra “Os Quatro
Evangelhos” de Roustaing, com o que Allan Kardec
desenvolve na codificação da Doutrina Espírita. E
chamamos a atenção para o fato do livro A Gênese,
ter sido lançado depois da obra de Roustaing.
67
Médiuns. As partes correspondentes àquelas que
tratamos em O Evangelho Segundo o Espiritismo o
são num sentido análogo. De resto, como nos
limitamos às máximas morais que, quase sem
exceção, são geralmente claras, elas não poderiam
ser interpretadas de diversas maneiras; também
foram o assunto de controvérsias religiosas. Foi
por esta razão que começamos por ali a fim de ser
aceito sem contestação, esperando para o resto
que a opinião geral estivesse mais familiarizada
com a ideia espírita.
O autor desta nova obra acreditou dever seguir
um outro caminho; em lugar de proceder por
graduação, quis alcançar o objetivo de um golpe.
Tratou, por certas questões que não julgamos
oportuno abordar ainda, e das quais,
consequentemente, lhe deixamos a
responsabilidade, assim como aos Espíritos
que os comentaram. Consequente com o nosso
princípio, que consiste em regular a nossa
caminhada sobre o desenvolvimento da opinião,
não daremos, até nova ordem, às suas teorias,
nem aprovação, nem desaprovação, deixando
ao tempo o cuidado de sancioná-las ou de
contradizê-las. Convém, pois, considerar essas
explicações como opiniões pessoais aos
Espíritos que as formularam, opiniões que
podem ser justas ou falsas, e que, em todos os
casos, têm necessidade da sanção do controle
universal, e até mais ampla confirmação não
poderiam ser consideradas como partes
integrantes da Doutrina Espírita.
Quando tratarmos essas questões, o faremos
68
sem cerimônia; mas é que, então, teremos
recolhido os documentos bastante numerosos, nos
ensinos dados de todos os lados pelos Espíritos,
para poder falar afirmativamente e ter a certeza de
estar de acordo com a maioria; é assim que
fazemos todas as vezes que se trata de formular
um princípio capital. Nós os dissemos cem vezes,
para nós a opinião de um Espírito, qualquer que
seja o nome que traga, não tem senão o valor
de uma opinião individual; nosso critério está
na concordância universal, corroborada por
uma rigorosa lógica, para as coisas que não
podemos controlar por nossos próprios olhos. De
que nos serviria dar prematuramente uma doutrina
como uma verdade absoluta, se, mais tarde, ela
devesse ser combatida pela generalidade dos
Espíritos?
Dissemos que o livro do Sr. Roustaing não se
afasta dos princípios de O Livro dos Espíritos e o
dos Médiuns; nossas observações levam, pois,
sobre aplicação desses mesmos princípios à
interpretação de certos fatos. É assim, por
exemplo, que dá ao Cristo, em lugar de um corpo
carnal, um corpo fluídico concretizado, tendo
todas as aparências da materialidade, e dele faz
uma agênere. Aos olhos dos homens que não
teriam podido compreender, então, sua natureza
espiritual, teve que passar EM APARÊNCIA, essa
palavra é incessantemente repetida em todo o
curso da obra, para todas as vicissitudes da
Humanidade. Assim se explicaria o mistério de seu
nascimento: Maria não teria tido senão as
aparências da gravidez. Este ponto, colocado por
premissa e pedra angular, é a base sobre a qual se
69
apoia para explicação de todos os fatos
extraordinários ou miraculosos da vida de Jesus.
Sem dúvida, não há aí nada de materialmente
impossível para quem conhece as propriedades do
envoltório perispiritual; sem nos pronunciar pró ou
contra essa teoria diremos que ela é ao menos
hipotética, e que, se um dia ela fosse reconhecida
errada, a base sendo falsa, o edifício
desmoronaria. Esperamos, pois os numerosos
comentários que ela não deixará de provocar
da parte dos Espíritos, e que contribuirão para
elucidar a questão. Sem prejulgá-la, diremos que
já foram feitas objeções sérias a essa teoria, e
que, na nossa opinião, os fatos podem
perfeitamente se explicar sem sair das
condições da Humanidade corpórea.
Estas observações, subordinadas à sanção do
futuro, não diminui nada a importância dessa obra
que, ao lado das coisas duvidosas do nosso
ponto de vista, delas encerra,
incontestavelmente, boas e verdadeiras, e será
consultada proveitosamente pelos Espíritas sérios.
Se o fundo de um livro é o principal, a forma não
é de se desdenhar, e entra também por alguma
coisa no sucesso. Achamos que certas partes
são desenvolvidas muito longamente, sem
proveito para a clareza. Na nossa opinião, se,
limitando-se ao estrito necessário, ter-se-ia podido
reduzir a obra em dois, ou mesmo em um único
volume, teria ganhado em popularidade. (32)
70
Kardec, embora não condene toda a obra, deixa em
aberto, para o futuro, o seu julgamento, uma vez que
ele nunca se apresentou como “o dono da verdade”.
Porém, quanto à questão do corpo fluídico, não deixa
de dar sua opinião de que não sancionava essa
hipótese.
71
A doutrina sobre a redenção
E pelo sangue de Jesus Cristo que temos a
redenção, a remissão dos pecados, segundo a
riqueza da sua graça que ele derramou
profusamente sobre nós, explicava o Apóstolo aos
Efésios (1,7). A nossa redenção pela paixão, morte
e ressurreição de Jesus é outra verdade
fundamental da fé cristã. Nisso consiste
propriamente a “boa nova” ou o “evangelho”.
Mas nem esta verdade tão central entra no
credo espírita de Allan Kardec. Segundo ele, cada
um deve ser o seu próprio redentor através do
sistema das reencarnações. Por isso, no
espiritismo a soteriologia (ou doutrina sobre a
redenção ou salvação do homem) é deslocada da
cristologia para a antropologia.
Leão Denis o enuncia cruamente quando
escreve: “Não, a missão de Cristo não era resgatar
com o seu sangue os crimes da Humanidade. O
sangue, mesmo de um Deus, não seria capaz de
resgatar ninguém. Cada qual deve resgatar-se a si
mesmo, resgatar-se da ignorância e do mal. É o
que os espíritos, aos milhares, afirmam em todos
os pontos do mundo” (Cristianismo e Espiritismo, p.
88) (33)
72
o que os judeus tinham como práticas ritualísticas de
expiação do pecado. Matava-se um boi, que era
oferecido em holocausto como vítima dos pecados
do povo. Essa de se arrumar um bode expiatório
para pagar pelos nossos pecados é muito fácil; difícil
é domar nossas fraquezas, nossos vícios para nos
tornamos homens de bem.
73
Será que esse pessoal nunca vai acordar para
ver que é absurda essa história da remissão dos
pecados pelo sangue de Jesus? Perdão para futuro é
aprovação da impunidade.
74
é que serão salvos, em flagrante contradição com:
“Deus não faz acepção de pessoas.” (Atos 10,34)
75
Nem teria sentido. Pois, segundo eles, o mistério
pascal não tem valor de sacrifício pelos pecados
dos homens.
Jesus disse aos Apóstolos: Aqueles a quem
perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados Jo
20,23). Mas os espíritas não procuram receber o
perdão divino que lhes é generosamente oferecido.
Nem teria sentido. Pois somente mediante as
reencarnações se alcança o perdão.
Jesus disse a Pedro: Tu és Pedro e sobre esta
pedra edificarei a minha Igreja e as portas do
inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as
chaves do Reino dos céus e o que ligares na terra
será ligado nos céus e o que desligares na terra
será desligado nos céus (Mt 16,18-19). Mas os
espíritas não dão nenhuma importância nem a
Pedro e seus sucessores, nem à Igreja que Jesus
dizia ser "sua", nem ao poder das chaves que o
Senhor Jesus entregou ao chefe do Colégio
apostólico.
Jesus declarou aos Apóstolos: Quem vos ouve a
mim me ouve, quem vos despreza a mim me
despreza, e quem me despreza, despreza aquele
que me enviou (Lc 10, 16). Para os espíritas, tudo
isso já está superado. Pois eles vão receber as
orientações dos espíritos que baixam em seus
centros ou terreiros.
Proclamando a nulidade dos Sacramentos, quer
Allan Kardec que o espiritismo não tenha “nem
culto, nem rito, nem templos”. E a Federação
Espírita Brasileira declarou por unanimidade, como
vimos, que o espiritismo é religião “sem ritos, sem
liturgia e sem sacramentos”. Proclama-se assim a
76
total inutilidade da Igreja, que será substituída pelo
espiritismo.
E não seria difícil continuar a lista das
negações. Assim, para dar apenas mais alguns
exemplos, o espiritismo:
– nega a criação da alma humana;
– recusa a união substancial de corpo e alma;
– afirma que não há anjos nem demônios;
– repudia os privilégios de Maria Santíssima;
– não admite o pecado original;
– contesta a graça divina;
– rejeita a unicidade da vida humana terrena;
– ignora o juízo particular depois da morte;
– não concede a existência do purgatório;
– ridiculariza o inferno;
– reprova a ressurreição da carne;
– e desdenha o Juízo Final.
Em uma palavra: renuncia a todo o Credo
cristão.
Razão tinha a Conferência dos Bispos do Brasil
quando, em 1953, declarava que o espiritismo é no
Brasil o desvio doutrinário “mais perigoso”, já que
“nega não apenas uma ou outra verdade da nossa
santa Fé, mas todas elas, tendo, no entanto, a
cautela de dizer-se cristão, de modo a deixar em
católicos menos avisados a impressão erradíssima
de ser possível conciliar catolicismo com
espiritismo”.
77
Abundantes são, pois, os motivos por que o
católico não aceita o espiritismo. Pode-se mesmo
afirmar que o espiritismo não é cristão. (34)
78
para com todas as criaturas? Onde fica: “O mundo
inteiro diante de ti é como grão de areia na balança,
como gota de orvalho matutino caindo sobre a terra.
Todavia, tu tens compaixão de todos, porque
podes tudo, e não levas em conta os pecados dos
homens, para que eles se arrependam. Tu amas
tudo o que existe, e não desprezas nada do que
criaste. Se odiasses alguma coisa, não a terias
Criado.” (Sabedoria 11,22-24)?
79
particular a que relata o batismo de Jesus, uma vez
que esse rito não fazia parte das práticas religiosas
dos hebreus. Assim, não sabemos por qual motivo
que, de uma hora para outra, aparece, na Bíblia,
alguém realizando o batismo, porquanto a
circuncisão é que era o ritual praticado naquela
época (Levítico 12,3) para iniciação à religião. Para
nós só existe uma explicação possível para isso.
Embora saibamos que ela não agradará aos
fundamentalistas, mas, como buscamos a verdade,
não nos resta senão a alternativa de deduzir que tal
episódio seja uma interpolação.
80
constituída de sacerdotes que tinham recebido o
nome de baptas, porque se banhavam e
purificavam com perfumes antes da celebração das
cerimônias, deixou saliente nas páginas da História
esse ato como símbolo da purificação do Espírito.
(35)
81
Nessa ocasião o pai dava nome ao filho. […].
A cerimônia do batismo, no verdadeiro sentido
de banho expiatório, já havia, também, na Índia,
milhares de anos antes de existir a Europa, tendo
daí passado para o Egito. Na Índia eram as águas
do Gange, consideradas sagradas, como ainda
hoje, que possuíam esta propriedade purificadora,
apesar de ser o foco da cólera-morbo; do Gange
passou-se para o Indus, igualmente sagrado, de
onde se propagou ao Nilo, do mesmo modo
sagrado, para, finalmente, terminar no Jordão,
onde João as empregava com o mesmo fim e
como simples formalidade do seu rito. (37)
82
Lhe diz: “Eu é que preciso ser batizado por ti, e tu
vens a mim?” (Mateus 3,14); entretanto, por
insistência do Mestre, batiza–O. Imediatamente após
o batismo, uma voz, vinda do céu, afirma: “Este é o
meu filho amado, que muito me agrada.” (Mateus
3,17).
83
Falta coerência nisso, já que, conforme
relatado, João sabia perfeitamente quem era Jesus, e
se, porventura, houvesse alguma dúvida de sua
parte, ela teria sido completamente sanada pela
manifestação espiritual ocorrida após o batismo, que
apresenta Jesus como o Messias. Assim, a dúvida é
de nossa parte para saber qual das duas situações
realmente ocorreu, já que uma é contraditória à
outra.
84
era um ritual que deveria deixar de ser seguido, após
a vinda do Messias.
85
deixou claro o motivo mais importante pelo qual
estava batizando ao dizer: “[…] para que ele fosse
manifestado a Israel, vim eu, por isso,
batizando com água” e “[…] o que me mandou a
batizar com água, esse me disse: Sobre aquele
que vires descer o Espírito, e sobre ele repousar,
esse é o que batiza com o Espírito Santo.” (João
1,31-33). Ou seja, foi apenas para ele identificar o
Messias. Mas, uma vez cumprido esse seu propósito,
deixa de ser necessário o batismo de água, passando
a vigorar, daquela hora em diante, o batismo
verdadeiro, o de Jesus. Este, sim, é o autêntico
batismo cristão: com Espírito Santo e com fogo.
86
Santo (Atos 1,4-5; 2,4). Exatamente por isso é que
podemos reafirmar que o batismo em água não
possui sustentação bíblica para a sua aplicação, pois
estaria, certamente, contrariando a determinação de
Jesus citada em Atos 1,4-5, cujo teor veremos mais
adiante, e o que foi revelado a João Batista.
87
Paulo teria deixado as coisas como estavam e não
teria ministrado o batismo em nome do Senhor
Jesus. E quanto ao fato de se batizar “em nome de
Jesus” e não “em nome da Trindade” queremos,
neste momento, apenas chamar a sua atenção, pois
falaremos sobre isso um pouco mais à frente.
88
circuncisão?” (Romanos 3,1) Ele, Paulo, responde
demonstrando que isso não faz a menor diferença:
“Não tem nenhuma importância estar ou não
estar circuncidado. O que importa é observar
os mandamentos de Deus.” (1 Coríntios 7,19)
Justificando o seu entendimento: “Então, será que
Deus é Deus somente dos judeus? Não será também
Deus dos pagãos? Sim, ele é Deus também dos
pagãos. De fato, há um só Deus que justifica, pela fé,
tanto os circuncidados como os não circuncidados.”
(Romanos 3,29-30)
89
Orientou a seus discípulos a fazê-lo? Teriam sido eles
batizados? Se Jesus falou de algum batismo; qual?
90
também de graça! […].’” (Mateus 10,1-8, ver
tb Marcos 3,14-15 e Lucas 9,1-2)
91
discípulos, batizando-os em nome do Pai,
e do Filho, e do Espírito Santo, e
ensinando-os a observar tudo o que ordenei a
vocês […].’.”
92
Aqui se percebe claramente que atribuíram
essas palavras a Jesus. É tão óbvio isso que se torna
difícil negar, especialmente se verificarmos a frase
“quem não acreditar, será condenado”; isso porque,
para ela ser coerente com essa outra, “quem
acreditar e for batizado, será salvo”, deveria ser uma
sentença negativa da seguinte forma: “Quem não
acreditar e não for batizado, será condenado”. Isso
porque, como Jesus só pregou o amor, e sempre
admitiu o livre-arbítrio (quem tem ouvidos ouça),
jamais ele imporia um castigo.
93
feita.
94
de que o final primitivo desapareceu por alguma
causa por nós desconhecida e de que o atual
fecho foi escrito para preencher a lacuna.
Apresenta-se como um breve resumo das aparições
do Cristo ressuscitado, cuja redação é sensivelmente
diversa da que Marcos habitualmente usa, concreta e
pitoresca. Contudo, o final que hoje possuímos era
conhecido, já no séc. II por Taciano e santo Ireneu, e
teve guarida na imensa maioria dos mss gregos e
outros. Se não se pode provar ter sido Mc o seu autor,
permanece o fato de que ele constitui, nas palavras
de Swete, “uma autêntica relíquia da primeira geração
cristã”. (38)
95
[…] A discutível genuinidade dos vv. 9-20 torna
pouco sábio construir uma doutrina ou basear
uma experiência sobre eles (especialmente os vv.
16-18). (39)
96
acrescentado um epílogo, respaldado como
canônico pela autoridade da Igreja. […]. (42)
97
pregou, sim, um batismo, mas o batismo do Espírito
Santo e não o da água. E aqui, dessa passagem, não
consta que devemos ser batizados “em nome do Pai,
do Filho e do Espírito Santo”, como está em Mateus,
evidenciando, mais uma vez, que isso é mesmo uma
interpolação. E, em relação aos discípulos, o batismo
do Espírito Santo, foi o único ao qual eles se
submeteram; o que nos leva a concluir que, caso
haja necessidade de batismo, é esse o que deveria
ser feito.
98
disse: ‘A paz esteja com vocês’. ‘[…] Assim
como o Pai me enviou, eu também envio
vocês’. Tendo falado isso, Jesus soprou sobre
eles, dizendo: ‘Recebam o Espírito Santo.
Os pecados daqueles que vocês
perdoarem, serão perdoados. Os pecados
daqueles que vocês não perdoarem, não
serão perdoados’.”
99
sobre os não-judeus. De fato, eles os ouviam
falar em diversas línguas e glorificar a Deus.
Então Pedro disse: ‘Quem poderá recusar a
água do batismo a esses, que receberam o
Espírito Santo da mesma forma que nós?’ E
decidiu que fossem batizados em nome de
Jesus Cristo. […].”
100
anteriormente, quando comentamos Atos 19,1-6,
sobre a fórmula do batismo, que, em vez de “em
nome do Pai, do filho e do Espírito Santo”, batizavam
somente “em nome de Jesus”. Aliás, com relação a
essa última expressão, podemos encontrar dez
outras passagens (44) em que se diz para fazer algo
“em nome de Jesus”, enquanto que, nenhuma em
relação à primeira, pois a única encontrada provou-
se ser uma interpolação.
101
espírito. Não te admires de eu te haver dito:
deveis nascer de novo. O vento sopra onde
quer e ouves o seu ruído, mas não sabes de
onde ele vem nem para onde vai. Assim
acontece com todo aquele que nasceu do
Espírito’. Perguntou-lhe Nicodemos: ‘Como isso
pode acontecer?’ Respondeu-lhe Jesus: ‘És
mestre em Israel e ignoras essas coisas? Em
verdade, em verdade, te digo: falamos do que
sabemos e damos testemunho do que vimos,
porém, não acolheis o nosso testemunho. Se
não credes quando vos falo das coisas da terra,
como crereis quando vos falar das coisas do
céu?’” (João 3,1-12)
102
estudo.
103
[…] A água tinha grande simbolismo entre os
hebreus: tanto o espírito como as águas são
fecundos (Is 32:15; 44,3; Ez 36:25-27); o espírito é
coisa que Deus envia e derrama, como água (Jl
3,1-2; Zc 12;10). Água era uma expressão para
indicar influências boas ou más, como no (Sl 1,3):
“Pois será como a árvore plantada junto a ribeiros
de águas, a qual dá o seu fruto na estação própria,
e cujas folhas não caem; e tudo quanto fizer
prosperará”. […]. (45)
104
responsável pelo pecado do pai, nem o pai será
culpado pelo pecado do filho.” (Ezequiel 18,20)
105
mesmo no caso de pessoas adultas, que fizeram
“estudo bíblico” para se batizarem, elas não
confessam seus pecados nem antes, nem durante
nem após a cerimônia.
106
judaica era a circuncisão; obviamente, feita somente
aos do sexo masculino. Sabendo-se que as mulheres
estão salvas “por dar à luz filhos” (1 Timóteo 2,15),
não haveria necessidade de batizá-las visando-lhes a
salvação por esse ritual; não é mesmo?
107
… A esses apenas apresentamos esta passagem:
108
arraigado na ação redentora de Jesus e o ato
d'Ele, quando se submeteu ao batismo de João
(Marcos 1,9), demonstrou e efetivou sua
solidariedade com os homens. Na igreja primitiva,
o batismo não era com água, mas com a imposição
das mãos sobre aquele que se convertia e
objetivava o chamado “dom do espírito santo”, isto
é, sensibilizar aquele que era batizado para que
ganhasse percepção espiritual ou mediúnica (Atos
19,6). O batismo com água é um mero ritual sem
nenhum valor moral e os espíritas não devem se
preocupar com isso. Trata-se de um sacramento
dogmático que afirma ter ação salvadora um ato
externo, ritualístico, mais uma obrigação religiosa
que descaracteriza a obrigação do esforço próprio,
para o merecimento da paz e da felicidade. O
batismo de criancinhas, para apagar o “pecado
original”, é o resultado da ação judaizante sofrida
pelos cristãos, pois nada mais é do que a
substituição do sinal da circuncisão ao oitavo dia
de nascido para o filho varão. O espiritismo
preconiza a inutilidade de qualquer culto, ritual,
sacramento, paramento, sinal, para as coisas
religiosas, visto que os verdadeiros adoradores de
Deus o adoram em espírito e verdade (João 4,23).
(46)
109
a não ser o nosso próprio; por isso, essa mítica
estória do pecado original é apenas “original”, nada
mais.
110
passagens bíblicas que narram a ocasião
considerada como sendo a instituição da eucaristia,
para, com isso, termos uma visão do assunto.
111
pascal, antes de sofrer. Pois eu lhes digo:
nunca mais a comerei, até que ela se realize
no Reino de Deus.’ Então Jesus pegou o cálice,
agradeceu a Deus, e disse: ‘Tomem isto, e
repartam entre vocês; pois eu lhes digo que
nunca mais beberei do fruto da videira, até que
venha o Reino de Deus.’ A seguir, Jesus tomou
um pão, agradeceu a Deus, o partiu e
distribuiu a eles, dizendo: ‘Isto é o meu corpo,
que é dado por vocês. Façam isto em
memória de mim.’ Depois da ceia, Jesus fez o
mesmo com o cálice, dizendo: ‘Este cálice é a
nova aliança do meu sangue, que é
derramado por vocês.’”
112
com poder para remir os pecados, embora Jesus
tenha dito “a cada um segundo as suas obras”
(Mateus 16,27).
113
ser batizado (Marcos 16,16), já que,
simultaneamente, pregam essas três hipóteses…
114
presumidamente teriam vindo dos lábios de Jesus.
(47)
115
quando morreria, os discípulos deveriam ter sido
levados a supor que ele reservara para aquelas
últimas horas uma enorme quantidade de atos
importantes. Como, aliás, uma das ideias
fundamentais dos primeiros cristãos era a de que a
morte de Jesus fora um sacrifício, substituindo
todos os da antiga Lei, a Ceia tornou-se o sacrifício
por excelência, o ato constitutivo da nova aliança, o
sinal do sangue derramado para a salvação de
todos (50). O pão e o vinho, relacionados à própria
morte, foram, dessa forma, a imagem do Novo
Testamento, que Jesus selara com seus
sofrimentos, a comemoração do sacrifício do Cristo
até a sua vinda (51).
Muito cedo esse mistério se fixou num pequeno
relato sacramental, que possuímos em quatro
versões (52) muito parecidas entre si. O quarto
evangelista, tão preocupado com ideias
eucarísticas (53), que descreve a última ceia com
tanta prolixidade, que liga a ela tantas
circunstâncias e discursos (54), não conhece
esse relato. Isso prova que não considerava a
instituição da Eucaristia como uma
particularidade da Ceia. Para o quarto
evangelista, o rito da Ceia é a lavagem dos pés.
[…]. (55)
116
iremos começá-la num versículo anterior ao citado;
então, leiamo-la:
117
correta, não sendo, portanto, o ritual de partir o pão
e beber vinho a instituição da eucaristia, rito
sacramental praticado em determinadas correntes
religiosas.
118
sagrado (hóstia), ninguém se tornará um ser
purificado por isso.
119
“instituição” da Ceia do Senhor, registradas
também sob uma forma muito similar na primeira
carta de Paulo aos Coríntios (1 Coríntios 11,23-25).
A despeito do fato de serem tão familiares, há boas
razões para pensar que esses versículos não
estavam no original do Evangelho de Lucas, mas
que foram acrescentados para ressaltar que foram
o corpo partido e o sangue derramado de Jesus
que trouxeram a salvação “para vós”. […].
Além do mais, não se pode deixar de notar que
os versículos, por mais familiares que sejam, não
representam a própria compreensão que Lucas
demonstra ter da morte de Jesus. É uma
característica surpreendentemente do retrato que
Lucas faz da morte de Jesus – por mais estranho
que isso seja à primeira vista – que ele nunca, em
nenhuma outra passagem, indica que a morte em
si seja o que traz a salvação do pecado. Em
nenhum outro lugar de toda a obra em dois
volumes de Lucas (Lucas e Atos dos Apóstolos), se
diz que a morte de Jesus foi “por vós”. De fato, nas
duas ocasiões em que a fonte de Lucas (Marcos)
indica que foi por meio da morte de Jesus que veio
a salvação (Marcos 10,45; 15,39), Lucas mudou a
disposição do texto (ou o eliminou). Em outros
termos, Lucas tem uma compreensão diferente da
forma com que a morte de Jesus conduz à
salvação, diferente da de Marcos (da de Paulo e da
de outros escritores cristãos antigos). (56)
120
não é outra coisa senão uma adulteração dos
originais bíblicos. E, pelo visto, ele não está sozinho
em sua tese. Vejamos esta outra opinião do David
Flusser, inserida em O Judaísmo e as Origens do
Cristianismo. Vol. I:
121
Revista como a Nova Bíblia Inglesa adotaram o
ponto de vista correto, de que Lc 22:19b-20 não
fazia parte do texto original de Lucas. Depois
que Jesus disse do pão partido ‘Isto é meu corpo”
fazendo alusão a sua iminente morte violenta, ele
continuou e tornou-se mais explícito, dizendo:
“Todavia a mão do traidor está comigo à mesa” (Lc
22:21). (57)
122
coloca diante do fato de que qualquer semelhança
não é mera coincidência: “Aquele que não comer
minha carne e não beber meu sangue para ser um
comigo, e eu um com ele, aquele não conhecerá a
salvação”. (FREKE e GANDY, p. 2).
123
fosse por isso, poderíamos não ter escrito nada a
esse respeito.
124
Ambrogio Donini. (59) (60)
125
Marcos 1,16-18: “Ao passar pela beira do mar
da Galileia, Jesus viu Simão e seu irmão
André; estavam jogando a rede ao mar, pois
eram pescadores. Jesus disse para eles:
'Sigam-me, e eu farei vocês se tornarem
pescadores de homens.' Eles imediatamente
deixaram as redes e seguiram a Jesus.”
126
que as redes se arrebentavam. Então fizeram
sinal aos companheiros da outra barca, para
que fossem ajudá-los. Eles foram, e encheram
as duas barcas, a ponto de quase afundarem.
Ao ver isso, Simão Pedro atirou-se aos pés de
Jesus, dizendo: ‘Senhor, afasta-te de mim,
porque sou um pecador!’ É que o espanto tinha
tomado conta de Simão e de todos os seus
companheiros, por causa da pesca que
acabavam de fazer. Tiago e João, filhos de
Zebedeu, que eram sócios de Simão, também
ficaram espantados. Mas Jesus disse a Simão:
‘Não tenha medo! De hoje em diante você será
pescador de homens.’ Então levaram as barcas
para a margem, deixaram tudo, e seguiram a
Jesus”.
127
disseram: 'Rabi (que quer dizer Mestre), onde
moras?' Jesus respondeu: 'Venham, e vocês
verão.' Então eles foram e viram onde Jesus
morava. E começaram a viver com ele naquele
mesmo dia. Eram mais ou menos quatro horas
da tarde. André, irmão de Simão Pedro, era
um dos dois que ouviram as palavras de
João e seguiram a Jesus. Ele encontrou
primeiro o seu próprio irmão Simão, e lhe
disse: ‘Nós encontramos o Messias (que quer
dizer Cristo).’ Então André apresentou Simão a
Jesus. Jesus olhou bem para Simão e disse:
‘Você é Simão, o filho de João. Você vai se
chamar Cefas (que quer dizer Pedra)’.”
128
neste momento é que aparece o seu irmão André.
129
completando com “o que tinha por sobrenome
Pedro” (64). Somente encontraremos o uso de Cefas
em Paulo, na sua primeira carta aos coríntios ( 65) e
na sua epístola aos gálatas ( 66); entretanto, nela foi
usado o nome Pedro, por duas vezes (67). Isso é
muito pouco, porquanto são atribuídas a Paulo treze
cartas, ou seja, onze além dessas duas.
130
quer dizer rocha (69).
Marcas 8,27-30 (=
Mateus 16,13-20
Lucas 9,18-21)
131
povoados de Cesareia de
perguntou aos seus
Filipe. No caminho, ele
discípulos: “Quem dizem
perguntou a seus
os homens que é o Filho
discípulos: “Quem dizem
do Homem?”
os homens que eu sou?”
132
você ligar na terra será
ligado no céu, e o que
você desligar na terra será
desligado no céu.”
133
também aos outros discípulos a possibilidade de:
“[…] tudo o que vocês ligarem na terra, será ligado
no céu, e tudo o que vocês desligarem na terra, será
desligado no céu.” (Mateus 18,18), ou seja, não era
uma atribuição exclusiva dele, Pedro, mas de todos
os discípulos e de todos nós, pois todo bem ou mal
que fizermos fica registrado (ligado) no que os
orientais chamam de arquivo akáshico. E não seria
esse arquivo o livro da vida a que se refere o
Apocalipse?
134
palavras sobre a designação de Pedro
não devem ser creditadas a Jesus, mas
a Mateus ou a seu editor em 80 d.C. ou
mais tarde. (70)
135
Batista e o batismo de Jesus: Marcos nada informa
sobre a concepção, o nascimento e a infância do
Cristo – como se tivessem sido normais, nada
tendo de diferentes aos de outros seres humanos,
não merecendo, por isso, maiores atenções. Trata
Maria, sua mãe, como uma mulher comum (exceto,
claro, pelo fato de ter dado à luz um Messias) que
se faz acompanhar de seus outros filhos. Também
nada deixou registrado sobre o episódio em
que Jesus teria delegado poderes a Pedro,
fazendo dele alicerce da igreja e portador das
chaves do Reino dos Céus; o que é estranho, já
que, estando Marcos tão próximo de Pedro,
dificilmente teria deixado de conhecer e
registrar tal fato, dando-lhe destaque. (71)
136
a) a instituição de uma “igreja”, organização
com poderes discricionários espirituais, que
resolve na Terra com a garantia de ser
cegamente obedecida por Deus no “céu”;
b) a instituição do papado, representação
máxima e chefia indiscutível e infalível de todos
os cristãos, passando esse poder monárquico,
por direito hereditário-espiritual, aos bispos de
Roma, sucessores legítimos de Pedro, que
recebeu pessoalmente de Jesus a investidura
real, fato atestado exatamente com esses três
versículos.
Essa opinião foi combatida com veemência
desde suas tentativas iniciais de implantação, nos
primeiros séculos, só se concretizando a partir dos
séculos IV e V por força da espada dos
imperadores romanos e dos decretos (de que um
dos primeiros foi o de Graciano e Valentiniano, que
em 369 estabeleceu Dâmaso, bispo de Roma,
como juiz soberano de todos os bispos, mas cujo
decreto só foi posto em prática, por solicitação do
mesmo Dâmaso, em 378). O diácono Ursino foi
eleito bispo de Roma na Basílica de São Júlio, ao
mesmo tempo em que Dâmaso era eleito para o
mesmo cargo na Basílica de São Lourenço. Os
partidários deste, com o apoio de Vivêncio, prefeito
de Roma, atacaram os sacerdotes que haviam
eleito Ursino e que estavam ainda na Basílica e aí
mesmo mataram 160 deles; a seguir, tendo-se
Ursino refugiado em outras igrejas, foi perseguido
violentamente, durando a luta até a vitória total do
“bando contrário”. Ursino, a seguir, foi exilado pelo
imperador, e Dâmaso dominou sozinho o campo
137
conquistado com as armas. Mas toda a cristandade
apresentou reações a essa pretensão romana,
bastando citar, como exemplo, uma frase de
Jerônimo: “Examinando-se do ponto de vista da
autoridade, o universo é maior que Roma (orbis
maior est Urbe), e todos os bispos, sejam de Roma
ou de Engúbio, de Constantinopla ou de Régio, de
Alexandria ou de Tânis, têm a mesma dignidade e
o mesmo sacerdócio” (Epistula 146, 1).
Alguns críticos (entre eles Grill e Resch na
Alemanha e Monnier e Nicolardot na França, além
de outros reformados) julgam que esses três
versículos tenham sido interpolados, em virtude do
interesse da comunidade de Roma de provar a
supremacia de Pedro e, portanto, do bispado
dessa cidade sobre todo o orbe, mas, sobretudo,
para provar que era Pedro, e não Paulo, o chefe da
igreja cristã.
Essa questão surgiu quando Marcion, logo nos
primeiros anos do 2º século, revolucionou os meios
cristãos romanos com sua teoria de que Paulo foi o
único verdadeiro apóstolo de Jesus, e, portanto, o
chefe inconteste da Igreja.
Baseava-se ele nos seguintes textos do próprio
Paulo: “Não recebi (o Evangelho) nem o aprendi de
homem algum, mas sim mediante a revelação de
Jesus Cristo” (Gál. 1:12); e mais: “Deus … que me
separou desde o ventre materno, chamando-me
por sua graça para revelar seu Filho em mim, para
pregá-lo entre os gentios, imediatamente não
consultei carne nem sangue, nem fui a Jerusalém
aos que eram apóstolos antes de mim” (Gál.15:15-
17). E ainda em Gál. 2:11-13, diz que “resistiu na
138
cara de Pedro, porque era condenado”. E na 2ª
Cor. 11:28 afirma: “sobre mim pesa o cuidado de
todas as igrejas”, após ter dito, com certa ironia,
não ser “em nada inferior aos maiores entre os
apóstolos” (2ª Cor. 11:5) acrescentando que “esses
homens são falsos apóstolos, trabalhadores
dolosos, transformando-se em apóstolos de Cristo;
não é de admirar, pois o próprio satanás se
transforma em anjo de luz” (2ª Cor. 11:13-14). Este
último trecho, embora se refira a outras criaturas,
era aplicado por Marcion (o mesmo do “corpo
fluídico” ou “fantasmático”) aos verdadeiros
apóstolos. Em tudo isso, baseava-se Marcion, e
mais na tradição de que Paulo fora bispo de Roma,
juntamente com Pedro. Realmente as listas
fornecidas pelos primeiros escritores, dos bispos
de Roma, dizem:
a) Irineu (bispo entre 180-190): “Quando
firmaram e estabeleceram a igreja de Roma, os
bem-aventurados apóstolos Pedro e Paulo
confiaram a administração dela a Lino, de quem
Paulo fala na epístola a Timóteo. Sucedeu-lhe
depois Anacleto e depois deste Clemente
obteve o episcopado, em terceiro lugar depois
dos apóstolos, etc.” (Epíst. ad Victorem, 3, 3, 3;
cfr. Eusébio, His. Eccles., 5,24,14).
b) Epifânio (315-403) escreve: “Porque os
apóstolos Pedro e Paulo foram, os dois juntos,
os primeiros bispos de Roma” (Panarion, 27, 6).
Ora, dizem esses críticos, a frase do vers. 17
“não foi a carne nem o sangue que to revelaram,
mas meu Pai que está nos céus”, responde, até
com as mesmas palavras, a Gálatas 1:12 e 16.
139
Para organizar nosso estudo, analisemos frase
por frase.
VERS. 18 a - “Também te digo que tu és Pedro
e sobre essa pedra construir-me-ei a ‘ekklêsia’” (oi
kodomêsô moi tên ekklêsían).
O jogo de palavras corre melhor no aramaico,
em que o vocábulo kêphâ (masculino) não varia.
Mas no grego (e latim) o masculino Petros (Petrus,
Pedro) é uma criação ad hoc, um neologismo, pois
esse nome jamais aparece em nenhum outro
documento anterior. Mas como a um homem não
caberia o feminino “pedra”, foi criado o neologismo.
Além de João (1:42), Paulo prefere o aramaico
Kêphá (latim Cephas) em 1 Cor. 1:12; 3:22; 9:5;
15:5 e Gál. 2:14.
Quanto ao vocábulo ekklêsía, que foi
transliterado em latim ecclésia (passando para o
português “igreja”), temos que apurar o sentido: A –
etimológico; B – histórico; C – usual; D – seu
emprego no Antigo Testamento; e E – no Novo
Testamento.
A – Etimologicamente ekklêsía é o verbo
Kaléô, “chamar, convocar”, com o preverbo ek,
designativo de ponto de partida. Tem pois o
sentido de “convocação, chamada geral”.
B – Historicamente, o termo era usado em
Atenas desde o 6.º século A.C.; ao lado da
Boulê (“concílio”, em Roma: Senado; em
Jerusalém: Sinédrio), ao lado da Boulê que
redigia as leis, por ser constituída de homens
cultos e aptos a esse mister, havia a ekklêsía
(em Roma: Comitium; em Jerusalém:
140
Synagogê), reunião ou assembléia geral do
povo livre, que ratificava ou não as decisões da
autoridade. No 5.º séc. A.C., sob Clístenes, a
ekklésía chegou a ser soberana; durante todo o
apogeu de Atenas, as reuniões eram realizadas
no Pnyx, mas aos poucos foi se fixando no
Teatro, como local especial. Ao tornar-se “cidade
livre” sob a proteção romana, Atenas viu a
ekklêsía perder toda autoridade.
C – Na época do início do cristianismo,
ekklêsía corresponde a sinagoga: “assembleia
regular de pessoas com pensamento
homogêneo”; e tanto designava o grupo dos que
se reuniam, como o local das reuniões. Em
contraposição a ekklésía e synagogê, o grego
possuía syllogos, que era um ajuntamento
acidental de pessoas de ideias heterogêneas,
um agrupamento qualquer. Como sinônimo das
duas, havia synáxis, comunidade religiosa, mas
que, para os cristãos, só foi atribuída mais tarde
(cfr. Orígenes, Patrol. Graeca, vol. 2 col. 2013;
Greg. Naz., Patrol Graeca vol. 1 col. 876; e João
Crisóst., Patrol.Graeca, vol. 7 col. 22). Como
“sinagoga” era termo típico do judaísmo, foi
preferido “ecclésia” para caracterizar a reunião
dos cristãos.
D – No Antigo Testamento (LXX), a palavra
é usada com o sentido de reunião, assembleia,
comunidade, congregação, grupo, seja dos
israelitas fiéis, seja dos maus, e até dos
espíritos dos justos no mundo espiritual (Núm.
19, 20; 20:4; Deut. 23:1, 2, 3, 8; Juízes 20:2; 1.º
Sam. 17:47; 1.º Reis 8:14,22; 1.º Crôn. 29:1, 20;
141
2.º Crôn. 1:5; 7:8; Neem. 8:17; 13:1; Judit 7:18;
8:21; Salmos 22:22, 25; 26:5; 35:18; 40:10;
89:7; 107:32; 149:1; Prov. 5:14; Eccli, 3:1; 15:5;
21:20; 24:2; 25:34; 31:11; 33:19; 38:37; 39:14;
44:15; Lam. 1:10; Joel 2:16; 1.º Mac. 2:50;3:13;
4:59; 5:16 e 14:19).
E – No Novo Testamento podemos
encontrar a palavra com vários sentidos:
1) uma aglomeração heterogênea do povo:
At. 7:38; 19:32, 39, 41 e Heb. 12:23.
2) uma assembleia ou comunidade local, de
fiéis com ideias homogêneas, uma reunião
organizada em sociedade, em que distinguimos:
a) a comunidade em si, independente de
local de reunião: Mat. 18: 17 (2 vezes); At.
11:22; 12:5; 14:22; 15:41 e 16:5; 1ª Cor. 4:17;
6:4; 7:17; 11:16, 18,22; 14:4,5,12,19,23,28,
33,34,35; 2.a Cor. 8:18, 19,23,24; 11:8,28;
12:13; Filp. 4:15; 2.a Tess. 1:4; 1ª Tim. 3:5,
15; 5:6; Tiago 5:15; 3.a Jo. 6; Apoc. 2:23 e
22:16.
b) a comunidade estabelecida num local
determinado, uma sociedade local: Antióquia,
At. 11:26; 13:1; 14:27; 15:3; Asiáticas, 1ª Cor.
16:19; Apoc. 1:4, 11, 20 (2 vezes); 2:7, 11,
17, 29; 3:6, 13, 22; Babilônia, 1 Pe. 5:13;
Cencreia, Rom. 16.1; Corinto, 1 Cor. 1:2; 2
Cor. 1:1; Êfeso, At. 20:17; Apoc. 2:1; Esmirna,
Apoç. 2:8; Filadélfia, Apoc. 3:7; Galácia, 1
Cor. 16.1; Gál. 1:2; dos Gentios, Rom. 16:4;
Jerusalém, At. 5:11; 8:1,3; 12:1; 15:4,22:
18:22; Judeia, At. 9:31; 1 Tess. 2:14; Gál.
142
1:22; Laodicéia, Col. 4:16; Apoc. 3:14;
Macedônia, 2 Cor. 8:1; Pérgamo, Apoc. 2:12;
Roma, Rom. 16:16; Sardes, Apoc. 3:1;
Tessalônica, 1ª Tess. 1:1; 2ª Tess. 1:1; Tiatira,
Apoc. 2: 18.
c) a comunidade particular ou “centro” que
se reúne em casa de família: Rom. 16:5, 23;
1 Cor. 16:19; Col. 4:15; Film. 2; 3 Jo. 9, 10.
3) A congregação ou assembleia de todos os
que aceitam o Cristo como Enviado do Pai: Mat.
16:18; At. 20:28; 1ª Cor. 10:32; 12:28; 15:9;
Gál.1:13; Ef. 1:22; 3:10,21: 5:23,24,25,27,29,32;
Filp. 3:6; Col. 1:18,24; Heb. 2:12 (citação do
Salmo 22:22).
Anotemos, ainda, que em Tiago 2:2, a
comunidade cristã é classificada de “sinagoga”.
Concluímos desse estudo minucioso, que a
palavra “igreja” não pode ser, hoje, a tradução do
vocábulo ekklêsía; com efeito, esse termo exprime
na atualidade:
1) a igreja católica-romana, com sua tríplice
divisão bem nítida de a) militante (na Terra) ; b)
sofredora (no “Purgatório”) e c) triunfante (no
“céu”);
2) os templos em que se reúnem os fiéis
católicos, com suas “imagens” e seu estilo
arquitetônico especial.
Ora, na época de Jesus e dos primeiros
cristãos, ekklêsía não possuía nenhum desses dois
sentidos. O segundo, porque os cristãos ainda não
haviam herdado os templos romanos pagãos, nem
dispunham de meios financeiros para construí-los.
143
E o primeiro porque só se conheciam, nessa
época, as palestras de Jesus nas sinagogas
judaicas, nos campos, nas montanhas, à beira-mar,
ou então as reuniões informais nas casas de Pedro
em Cafarnaum, de Simão o leproso em Betânia, de
Levi, de Zaqueu em Jerusalém, e de outros
afortunados que lhe deram hospedagem por
amizade e admiração.
Após a crucificação de Jesus, Seus discípulos
se reuniam nas casas particulares deles e de
outros amigos, organizando em cada uma centros
ou grupos de oração e de estudo, comunidades,
pequenas algumas outras maiores, mas tudo sem
pompa, sem rituais: sentados todos em torno da
mesa das refeições, ali faziam em comum a ceia
amorosa (agápê) com pão, vinho, frutas e mel, “em
memória do Cristo e em ação de graças
(eucaristia)” enquanto conversavam e trocavam
ideias, recebendo os espíritos (profetizando), cada
qual trazendo as recordações dos fatos
presenciados, dos discursos ouvidos, dos
ensinamentos decorados com amor, dos sublimes
exemplos legados à posteridade.
Essas comunidades eram visitadas pelos
“apóstolos” itinerantes, verdadeiros emissários do
amor do Mestre. Presidiam a essas assembleias
“os mais velhos” (presbíteros). E, para manter a
“unidade de crença” e evitar desvios, falsificações
e personalismos no ensino legado (não havia
imprensa!) eram eleitos “inspetores” (epíscopoi)
que vigiavam a pureza dos ensinamentos. Essas
eleições recaíam sobre criaturas de vida
irrepreensível, firmeza de convicções e
144
comprovado conhecimento dos preceitos de Jesus.
Por tudo isso, ressalta claro que não é possível
aplicar a essa simplicidade despretensiosa dessas
comunidades ou centros de fé a denominação de
“igrejas”, palavra que variou totalmente na
semântica. Daí termos mantido, neste trecho do
evangelho, a palavra original grega "ekklêsía", já
que mesmo sua tradução por “assembleia” não dá
ideia perfeita e exata do significado da palavra
ekklêsía daquela época. Não encontramos outro
termo para usar, embora a farta sinonímia à
disposição: associação, comunidade, congregação,
agremiação, reunião, instituição, instituto,
organização, grei, aprisco (aulê), sinaxe, etc. A
dificuldade consiste em dar o sentido de
“agrupamento de todos os fiéis a Cristo” numa só
palavra. Fomos tentados a empregar “aprisco”,
empregado por Jesus mesmo com esse sentido
(cfr. João 10:1 e 16), mas sentimos que não ficava
bem a frase “construirei meu aprisco”.
Todavia, quando ekklêsía se refere a uma
organização local de país, cidade ou mesmo de
casa de família, utilizaremos a palavra
“comunidade”, como tradução de ekklêsía, porque
a correspondência é perfeita.
VERS. 18 b - “As portas do hades (pylai hádou)
não prevalecerão contra ela”.
O hades (em hebraico sheol) designava o
hábitat dos desencarnados comuns, o “astral
inferior” (“umbral”, na linguagem espirítica) a que
os latinos denominavam “lugar baixo”: ínferus ou
infernus. Diga-se, porém, que esse infernus
(derivado da preposição infra) nada tem que ver
145
com o sentido atual da palavra “inferno”. Bastaria
citar um exemplo em Virgílio (En. 6, 106), onde o
poeta narra ter Eneias penetrado exatamente as
“portas do hades”, inferni janua, encontrando aí
(astral ou umbral) os romanos desencarnados que
aguardavam a reencarnação (Na revista anual
SPIRITVS – edição de 1964, n.º 1 –, nas páginas
16 a 19, há minucioso estudo a respeito de sheol
ou hades. Edições Sabedoria).
O sentido das palavras citadas por Mateus é
que os espíritos desencarnados do astral inferior
não terão capacidade nem poder, por mais que se
esforcem, para destruir a organização instituída por
Cristo.
A metáfora “portas do hades” constitui uma
sinédoque, isto é, a representação do todo pela
parte.
VERS. 19 a - “Dar-te-ei as chaves do reino dos
céus”.
As chaves constituíam o símbolo da autoridade,
representando a investidura num cargo de
confiança. Quando Isaías (22:22) fala da
designação de Eliaquim, filho de Hilquia, para
prefeito do palácio, ele diz: “porei sobre seu ombro
a chave da casa de David; ele abrirá e ninguém
fechará, fechará e ninguém abrirá”. O Apocalipse
(3:7) aplica ao Cristo essa prerrogativa: “isto diz o
Santo, o Verdadeiro, o que tem a chave de David,
o que abre e ninguém fechará, o que fecha e
ninguém abrirá”. Em Lucas (11:52) aparece uma
alusão do próprio Jesus a essa mesma figura: “ai
de vós doutores da lei, porque tirastes as chaves
da ciência: vós mesmos não entrastes, e
146
impedistes os que entravam”.
VERS. 19 b - “O que ligares na Terra será ligado
nos céus, e o que desligares na Terra será
desligado nos céus”.
Após a metáfora das chaves, o que se podia
esperar, como complemento, era abrir e fechar (tal
como em Isaías, texto que devia ser bem
conhecido de Jesus), e nunca “ligar” e “desligar”,
que surgem absolutamente fora de qualquer
sequência lógica. Aliás, é como esperávamos que
as palavras foram colocadas nos lábios de
Clemente Romano (bispo entre 100 e 130, em
Roma): “Senhor Jesus Cristo, que deste as chaves
do reino dos céus a teu emissário Pedro, meu
mestre, e disseste: ‘o que abrires, fica aberto e o
que fechares fica fechado’ manda que se abram os
ouvidos e olhos deste homem” - haper àn anoíxéis
énéôitai, kaì haper àn kleíséis, kéklestai – (Martírio
de Clemente, 9,1 – obra do 3.º ou 4.º século). Por
que aí não teriam sido citadas as palavras que
aparecem em Mateus: hò eàn dêséis… éstai
dedeménon… kaí hò eàn lêsêis… éstai lelyménon?
Observemos, no entanto, que no local original
dessa frase (Mat. 18:18), a expressão “ligar” e
“desligar” se encaixa perfeitamente no contexto: aí
se fala no perdão a quem erra, dando autoridade à
comunidade para perdoar o culpado (e mantê-lo
ligado ao aprisco) ou a solicitar-lhe a retirada
(desligando-o da comunidade) no caso de rebeldia.
Então, acrescenta: “tudo o que ligardes na Terra,
será ligado nos céus, e tudo o que desligardes na
Terra, será desligado nos céus”. E logo a seguir
vem a lição de “perdoar setenta vezes sete”. E
147
entendemos: se perdoarmos, nós desligamos de
nós o adversário, livramo-nos dele; se não
perdoarmos, nós o manteremos ligado a nós pelos
laços do ódio e da vingança. E o que ligarmos ou
desligarmos na Terra (como encarnados, “no
caminho com ele”, cfr. Mat. 5.25), será ratificado na
vida espiritual.
Daí a nítida impressão de que esse versículo foi
realmente transportado, já pronto (apenas
colocados os verbos no singular), do capítulo 18
para o 16 (em ambos os capítulos, o número do
versículo é o mesmo: 18).
A hipótese de que esse versículo (como os dois
anteriores) foi interpolado, é baseada no fato de
que não figura em Marcos nem em Lucas, embora
se trate claramente do mesmo episódio, e apesar
de que esses dois evangelistas escreveram depois
de Mateus, por conseguinte, já conheciam a
redação desse apóstolo que conviveu com Jesus
(Marcos e Lucas não conviveram). Acresce a
circunstância de que Marcos ouviu o Evangelho
pregado por Pedro (de quem parece que era
sobrinho carnal, e a quem acompanhou depois de
haver abandonado Paulo após sua primeira viagem
apostólica). Marcos não podia ignorar uma
passagem tão importante em relação a seu mestre
e talvez tio. Desde Eusébio, aparece como razão
do silêncio de Marcos a humildade de Pedro, que
em suas pregações não citava fatos que o
engrandecessem. Mas não é admissível que
Marcos ignorasse a cena; além disso, ele escreveu
seu Evangelho após a desencarnação de Pedro:
em que lhe ofenderia a modéstia, se dissesse a
148
verdade total? Mais ainda: seu Evangelho foi
escrito para a comunidade de Roma; como
silenciar um trecho de importância tão vital para os
cristãos dessa metrópole? Não esqueçamos o
testemunho de Papias (2,15), discípulo pessoal do
João, o Evangelista, e, portanto, contemporâneo
de Marcos, que escreveu: “Marcos numa coisa só
teve cuidado: não omitir nada do que tinha ouvido
e não mentir absolutamente” (Eusébio, Hist.
Eccles. 3,39).
E qual teria sido a razão do silêncio de Lucas? E
por que motivo todo esse trecho não aparece
citado em nenhum outro documento anterior a
Marcion (meados do 2º século)?
Percorramos os primeiros escritos cristãos,
verificando que a primeira citação é feita por
Justino, que aparece como tendo vivido
exatamente em 150 A.D.
1. DIDACHE (15,1) manda que os cristãos
elejam seus inspetores (bispos) e ministros
(diáconos). Nenhum aceno a uma hierarquia
constituída por Jesus, e nenhuma palavra a
respeito dos “mais velhos” (presbíteros).
2. CLEMENTE ROMANO (bispo de Roma no
fim do 1º e início do 2º século), discípulo
pessoal de Pedro e de Paulo (parece até que foi
citado em Filip. 4:3) e terceiro sucessor de
ambos no cargo de inspetor da comunidade de
Roma. Em sua primeira epístola aos coríntios,
quando fala da hierarquia da comunidade, diz
que “Cristo vem da parte de Deus e os
emissários (apóstolos) da parte de Cristo” (1ª
Clem. 42,2). Apesar das numerosíssimas
149
citações escriturísticas, Clemente não aproveita
aqui a passagem de Mateus que estamos
analisando, e que traria excelente apoio a suas
palavras.
3. PAPIAS (que viveu entre o 1º e o 2º
século) também nada tem em seus fragmentos.
4. INÁCIO (bispo entre 70 e 107), em sua
Epístola aos Tralianos (3,1) fala da
indispensável hierarquia eclesiástica, mas não
cita o trecho que viria a calhar.
5. CARTA A DIOGNETO, aliás,
comprovadamente a “Apologia de Quadrado
dirigida ao Imperador Adriano”, portanto do ano
de 125/126 (cfr. Eusébio, Hist. Eccles. 4,3 ),
nada fala.
6. EPÍSTOLA DE BARNABÉ (entre os anos
96 e 130), embora apócrifa, nada diz a respeito.
7. POLICARPO (69-155) nada tem em sua
Epístola aos Filipenses.
8. O PASTOR, de Hermas, irmão de Pio,
bispo de Roma, entre 141 e 155, e citado por
Paulo (Rom. 16:14). Em suas visões a igreja
ocupa lugar de destaque. Na visão 3ª, a torre,
símbolo da igreja, é construída sobre as águas,
mas diz o Pastor a Hermas: “o fundamento
sobre que assenta a torre é a palavra do Nome
onipotente e glorioso”. Na Parábola 9,31, lemos
que foi dada ordem de “edificar a torre sobre a
Rocha e a Porta”. E o trecho se estende sem a
menor alusão ao texto que comentamos.
9. JUSTINO (+ ou - ano 150) cita, pela vez
primeira, esse texto (Diálogus, 100,4), mas com
150
ele só se preocupa em provar a filiação divina
do Cristo.
10. IRINEU (bispo entre 180-190), em sua
obra cita as mesmas palavras de Justino,
deduzindo delas a filiação divina do Cristo (3,
18, 4).
11. ORÍGENES (184-254) é, historicamente,
o primeiro que afirma que Pedro é a pedra
fundamental da igreja (Hom. 5,4), embora mais
tarde diga que Jesus “fundou a igreja sobre os
doze apóstolos, representados por Pedro” (In
Matt. 12,10-14). Só damos o resumo, porque o
trecho é bastante longo.
12. TERTULIANO (160-220) escreve
(Scorpiae, 10) que Jesus deu as chaves a Pedro
e, por seu intermédio, à igreja (Petro et per eum
Ecclesiae): a igreja é a depositária, Pedro é o
Símbolo.
13. CIPRIANO (cerca 200-258) afirma (Epíst.
33,1) que Jesus, com essas palavras,
estabeleceu a igreja fundamentada nos bispos.
14. HILÁRIO (cerca 310-368) escreve (De
Trinit. 3,36-37) que a igreja está fundamentada
na profissão de fé na divindade de Cristo (super
hanc igitur confessionis petram) e que essa fé
tem as chaves do reino dos céus (haec fides
Ecclesiae fundamentum est… haec fides regni
caelestis habet claves).
15. AMBRÓSIO (337-397) escreve: “Pedro
exerceu o primado da profissão de fé e não da
honra (prirnaturn confessionis útique, non
honóris), o primado da fé, não da hierarquia
151
(primatum fídei, non órdinis)”; e logo a seguir: “é
pois a fé que é o fundamento da igreja, porque
não é da carne de Pedro, mas de sua fé que foi
dito que as portas da morte não prevalecerão
contra ela” (De Incarnationis Dorninicae
Sacramento, 32 e 34). No entanto, no De Fide,
4,56 e no De Virginitate, 105 – lemos que Pedro,
ao receber esse nome, foi designado pelo Cristo
como fundamento da igreja.
16. JOÃO CRISÓSTOMO (c. 345-407)
explica que Pedro não deve seu nome a seus
milagres, mas à sua profissão de fé (Hom. 2, In
Inscriptionem Actorum, 6; Patrol. Graeca vol. 51,
col. 86). E na Hom. 54,2 escreve que Cristo
declara que construirá sua igreja “sobre essa
pedra”, e acrescenta “sobre essa profissão de
fé”.
17. JERÔNIMO (348-420) também apresenta
duas opiniões. Ao escrever a Dâmaso (Epist.
15) deseja captar-lhe a proteção e diz que a
igreja “está construída sobre a cátedra de
Pedro”. Mas no Comm. in Matt. (in loco) explica
que a pedra é Cristo" (in petram Christum); cfr.
1ª Cor 10:4 “e essa pedra é Cristo”.
18. AGOSTINHO (354-430) escreve: “eu
disse alhures, falando de Pedro, que a igreja foi
construída sobre ele como sobre uma pedra: …
mas vejo que muitas vezes depois (postea
saepíssime) apliquei o super petram ao Cristo,
em quem Pedro confirmou sua fé; como se
Pedro – assim o chamou a Pedra” -
representasse a igreja construída sobre a
Pedra; … com efeito, não lhe foi dito “tu es
152
Petra”, mas “tu es Petrus”. É o Cristo que é a
Pedra. Simão, por havê-lo confessado como o
faz toda a igreja, foi chamado Pedro. O leitor
escolha qual dos dois sentidos é mais provável"
(Retractationes 1, 21,1).
Entretanto, Agostinho identifica Pedro com a
pedra no Psalmus contra partem Donati, letra S; e
na Enarratio in Psalmum 69, 4. Esses são os locais
a que se refere nas Retractationes.
Mas no Sermo 76, 1 escreve: “O apóstolo Pedro
é o símbolo da igreja única (Ecclesiae unicae
typum); … o Cristo é a pedra, e Pedro é o povo
cristão. O Cristo lhe diz: tu és Pedro e sobre a
pedra que professaste, sobre essa pedra que
reconheceste, dizendo ‘Tu és o Cristo, o filho de
Deus vivo, eu construirei minha igreja’; isto é, eu
construirei minha igreja sobre mim mesmo que sou
o Filho de Deus. É sobre mim que eu te
estabelecerei, e não sobre ti que eu me
estabelecerei. … Sim, Pedro foi estabelecido sobre
a Pedra, e não a Pedra sobre Pedro”.
Essa mesma doutrina aparece ainda em Sermo
244,1 (fim): Sermo 270,2: Sermo 295,1 e 2;
Tractatus in Joannem, 50,12; ibidem, 118,4 ibidem,
124,5: De Agone Christiano, 32; Enarratio in
Psalmum 108,1.
Aí está o resultado das pesquisas sobre o texto
tão discutido. Concluiremos como Agostinho, linhas
acima: o leitor escolha a opinião que prefere.
O último versículo é comum aos três, embora
com pequenas variantes na forma:
Mateus: não dizer que Ele era o Cristo.
153
Marcos: não falar a respeito Dele.
Lucas: não dizer nada disso a ninguém.
Mas o sentido é o mesmo: qualquer divulgação
a respeito do messianato poderia sublevar uma
perseguição das autoridades antes do tempo,
impedindo o término da tarefa prevista. ( 72) (itálico
do original)
154
de Deus que devia vir a este mundo'.”
155
Uma relação de importância que poderíamos
fazer é que os Dez Mandamentos foram escritos em
“tábuas de pedra” (Deuteronômio 4,13),
significando, talvez, leis sólidas e duráveis.
Encontramos, também citações sobre “a pedra
angular”, que, segundo o Dicionário Prático da
Barsa, seria:
156
O próprio Pedro, que dizem ser a pedra, afirma
que Jesus é a pedra rejeitada (Atos 4,11; 1 Pedro
2,4). Paulo, também disse que “a pedra era Cristo”,
conforme poder-se-á ver em Romanos 9,32; 1
Coríntios 10,4 e Efésios 2,20-21. Vejamos o texto
desse último passo: “Vocês pertencem ao edifício
que tem como alicerce os apóstolos e profetas; e o
próprio Jesus Cristo é a pedra principal dessa
construção. Em Cristo, toda construção se ergue,
bem ajustada, para formar um templo santo no
Senhor” (Efésios 2,20-21). Aliás, aqui Paulo inclui
como alicerce os apóstolos, não sendo, portanto,
coisa exclusiva de Pedro.
157
romanos, como Launoi, Dupin, e também alguns
protestantes, com alguma variação na
interpretação (Werenfels, Pfaff, Bengel e Crusius),
apresentam essa interpretação. Tais intérpretes
exageram o sentido do texto como qualquer leitor
pode observar, se não for desviado por fortes
preconceitos.
2. A “pedra” é Pedro, mas não separado dos
outros apóstolos, e, provavelmente, também não
separado dos membros da Igreja em geral. Peter
Schaff (in loc., em Lange) diz: “Pedro
(representando os outros apóstolos), tendo
confiado em Cristo e tendo-o confessado (devido a
isso), é a petra ecclesiae. As outras ideias parecem
ter sido criadas especialmente para evitar a
interpretação duvidosa da Igreja romana, que tira
do texto doutrinas que não se desenvolveram
senão alguns séculos após ter sido feita a
declaração simples deste texto. Entretanto, não é
necessário que se criem interpretações errôneas
para evitar outras errôneas. Ainda que esse texto
cite Pedro como a pedra Fundamental da Igreja,
não ensina coisa alguma que não possa ser
encontrada em outros trechos bíblicos”. De
conformidade com a leitura simples do texto, é
melhor aceitarmos a interpretação natural,
entendendo aqui que Pedro é a “petra”, mas no
sentido que segue abaixo. Dificilmente o texto tem
bom sentido se apresentarmos outra interpretação.
Por que Jesus chamou Simão de petros, nesta
oportunidade? Por que, no vs. 19, são
mencionados poderes extraordinários que seriam
dados a Pedro? Facilmente, Jesus poderia ter
ensinado que Pedro é a pedra fundamental da
158
Igreja, evitando chamá-lo de “petros”; a referência
como existe perde todo o sentido se não a
entendermos que Pedro seria a pedra fundamental
da Igreja. É verdade que no original grego há um
jogo de palavras com esses vocábulos, mas o
sentido seria mais ou menos como esta paráfrase:
“Tu és uma pedra, um pequeno e insignificante
fragmento, mas eu mostrarei que grande coisa
posso fazer de ti. Tu serás uma rocha maciça,
rocha fundamental na minha Igreja, brevemente
começarei a edificar”. Os escritos rabinos usam
expressões como essas, isto é, indicam homens
como pedras fundamentais da congregação de
Deus. Por exemplo, esses escritos asseveram que
Deus não pode edificar o seu mundo sobre o
fundamento da geração de Enós, mas que em
Abraão o Senhor encontrou tal qualidade de
fundamento. E neste texto encontramos a mesma
ideia.
Em confirmação dessa interpretação,
consideremos os seguintes argumentos:
1. O uso da literatura rabínica, conforme já
vimos.
2. O fato de que o jogo de palavras, no grego,
realmente indica essa interpretação e não a
elimina.
3. No idioma falado por Jesus, o aramaico, a
palavra que ele usou para dar nome a Pedro era a
mesma palavra que significa “pedra” ou
fundamento da Igreja.
4. As dentais interpretações existem
principalmente para combater ideias consideradas
159
falsas da Igreja Católica Romana; mas não se
baseiam no próprio texto bíblico.
5. A mesma verdade é ensinada em Efé. 2:20:
“Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e
profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra
angular”. O texto mostra que esse edifício é a
Igreja, a habitação de Deus no Espírito, a “família”
de Deus (vs. 19). E a passagem de Apo. 21:14
indica a mesma ideia.
6. O testemunho do próprio Pedro, em I Ped.
2:4-6, também indica a mesma verdade:
“Chegando-vos para ele, a pedra que vive… vós
mesmos, como pedras que vivem, sois edificados
casa espiritual… ponho em Silo uma principal
pedra angular…”. A pedra principal, angular é o
símbolo de Cristo. Dificilmente a pedra angular
pode conter uma referência ao fundamento inteiro.
7. Em sentido exclusivo, somente Cristo pode
ser o fundamento de Igreja, e isso é o que se
aprende em I Cor. 3:11, que diz: “Porque ninguém
pode lançar outro fundamento, além do que foi
posto, o qual é Jesus Cristo”. O vs. 10 do mesmo
capítulo mostra que o tema é Cristo como alicerce
da vida cristã: “… segundo a graça de Deus que
me foi dada, lancei o fundamento como prudente
construtor; e outro edifica sobre ele; porém cada
um veja como edifica… Contudo, se o que alguém
edifica sobre o fundamento é ouro, prata, pedras
preciosas, madeira, feno, palha…” Essas coisas
falam da vida cristã como que edificada sobre
Cristo, em torno de sua pessoa, e, naturalmente,
não pode haver outro fundamento nesse sentido.
Porém, nos textos de Mat. 16 e de Efé. 2
160
(juntamente com outros), não está em foco essa
questão, porquanto falam do grande edifício da
Igreja. Esse edifício, habitação de Deus, tem
algumas pedras fundamentais, a saber, os
apóstolos, os profetas – todos os quais são como
que pedras vivas. Nesse edifício Cristo é a pedra
fundamental, angular.
8. Precisamos notar que aquilo que foi dito
acerca de Pedro em Mat. cap. 16, foi estendido aos
demais Apóstolos em Efé. 2:20, pelo que o texto de
Mateus 16 não subentende a primazia permanente
de Pedro, segundo ensina a Igreja Católica
Romana. Dificilmente, portanto, há qualquer
possibilidade de apoio às doutrinas romanistas
sobre o papado. Essa interpretação romanista
exagera o texto sagrado. Pedro, como pedra
fundamental da Igreja, recebeu certos poderes de
ofício. Na administração de seu ofício, tinha o
poder de “proibir e permitir”, conforme mostra o vs.
19. Mais tarde, esses poderes também foram
dados aos outros apóstolos. Os demais apóstolos,
tendo esses poderes em comum, também eram
pedras fundamentais de Igreja (Efé. 2:20).
9. Pedro, no que diz respeito à porção judaica
da Igreja, era fundamental no edifício da mesma,
como se pode ver em Atos l:15; 2:14,37; 3:12; 4:8;
5:15,29; 9:34,40; 10:25,26; Gál. 1:18. Ele é a pedra
fundamental no sentido bíblico, e não no sentido
papista. Para transferir para Pedro ou para
qualquer outro individuo as ideias de primazia e
papado precisamos usar de grande preconceito,
imaginação e ginástica lógica. Os privilégios e
poderes que Jesus deu aqui a Pedro,
161
posteriormente, foram conferidos também a todos
os outros apóstolos, e até mesmo aos crentes
comuns, como nos indica a referência em Mat.
18:17-19. Não há, nem nas Escrituras e nem na
história eclesiástica, evidências que indiquem que,
na Igreja primitiva, houvesse papado, oficio esse
transferível a outros que também exercessem a
autoridade e a posição que Jesus conferiu a Pedro.
Esses ensinos procedem da tradição, e não das
Escrituras. Contra essa interpretação romanista
alinham-se os seguintes argumentos:
1. A doutrina do papado ignora o caráter do
símbolo do fundamento, isto é, um fundamento
deve ser posto de uma vez só, deve ser
permanente, não pode ser renovado nem mudado
continuamente, como sucede na sucessão papal.
2. Essa interpretação confunde primazia de
tempo com superioridade permanente de ofício.
3. Essa interpretação confunde o apostolado,
que era um ofício intransferível, válido somente no
tempo de Jesus, com o desenvolvimento do
episcopado pós-apostólico na Igreja, que só surgiu
depois do tempo dos apóstolos.
4. Essa interpretação envolve o não
reconhecimento do ofício dos outros apóstolos, os
quais também receberam os poderes e privilégios
que foram dados a Pedro naquela ocasião. Eles
também foram fundamentos da Igreja, Isto é,
formaram o alicerce da Igreja (ver Efé. 2:20).
5. Essa interpretação contradiz os próprios
escritos de Pedro (I Ped. 2:5,6), que são contrários
à ideia de um tipo de papado e que jamais podem
162
Indicar a existência de tal coisa.
6. Finalmente, podemos afirmar que essas
doutrinas, como a do papado, a da extrema
primazia de Pedro, só apareceram no dogma
posterior da história eclesiástica, e não se
alicerçam nas próprias Escrituras nem em qualquer
precedente da Igreja primitiva. Não havia primazia
do bispo de Roma sobre o bispo de Jerusalém, de
Cesareia ou de qualquer outra localidade. A
primazia do bispo de Roma foi um
desenvolvimento posterior. (74)
163
Pedro era um pescador e, a mesma profissão de
André, seu irmão; eram sócios de Tiago e João, com
os quais dividiam as tarefas de pesca. Sua condição
era de iletrado e sem posição social (Atos 4,13), o
que não deverá ser objeto de discriminação, sob
qualquer um dos aspectos.
164
uma espada para defender Jesus, quando de sua
prisão (João 18,10). Mas, pouco tempo depois,
apesar da advertência do Mestre, ele o nega por três
vezes (Mateus 26,69-75), embora tenha dito que
morreria com ele (Mateus 26,35).
165
Como vimos anteriormente, suas cartas são
em número muito pequeno em relação às de Paulo.
No ano de 58, o Apóstolo dos Gentios escreve sua
epístola aos romanos; diante da alegação de que
Pedro, a essa época, já morava em Roma, nos causa
estranheza o fato de, nessa carta, ele não fazer a
mínima menção ao suposto primeiro papa. Ademais,
era de se esperar que Pedro desse as orientações
aos romanos, caso fosse mesmo o papa. Inclusive,
nessa epístola, Paulo chega a afirmar que “Fiz
questão de anunciar o Evangelho onde o nome
de Cristo ainda não havia sido anunciado, a fim
de não construir sobre alicerces que outro havia
colocado.” (Romanos 15,20)
166
porque ele muitas vezes me confortou e não se
envergonhou de eu estar preso; ao contrário,
quando chegou a Roma, ele me procurou com
insistência, até me encontrar. Que o Senhor lhe
conceda misericórdia junto a Deus naquele Dia. […].”
(2 Timóteo 1,15-18)?
167
Menor e do sul da Europa por ele fundadas. Paulo,
na prisão, escreve diversas cartas, aos cristãos
de Filipos, de Éfeso, de Colossos, a seu amigo
Filêmon, mencionando os nomes de seus
colaboradores e amigos em Roma – e mais uma
vez, nenhuma referência a Pedro, que, por esse
tempo, já devia ser bispo de Roma há quase
vinte anos, segundo a teoria dos teólogos
romanos de hoje. Por que não visita Pedro, o
grande confessor de Cristo na prisão? A resposta é
simples, embora nada “romana”: porque Pedro não
estava em Roma, nem era conhecido dos cristãos
da capital do Império. (76)
168
guardava. E aconteceu, que, três dias depois,
Paulo convocou os principais dos judeus,
e, junto eles, lhes disse: 'Varões irmãos, não
havendo eu feito nada contra o povo, ou contra
os ritos paternos, vim, contudo, preso desde
Jerusalém, entregue nas mãos dos romanos;”
169
E já que mencionamos suas cartas, seria útil
analisá-las. É sabido que, no Novo Testamento,
existem duas cartas atribuídas a Pedro, o papa, pela
ordem, o primeiro. Considerando que um líder
deveria estar sempre em contato com aqueles que
lhe são subordinados, essa quantidade de cartas é
extremamente insignificante, especialmente se
levarmos em conta que existem treze cartas, cuja
autoria é atribuída a Paulo, ou seja, Paulo (sob
ordens de Pedro?) escreve mais carta que o “papa”.
E, mais importante ainda, Paulo expõe seus próprios
pontos de vista, e não os do “papa”.
170
aproxima-se muito estritamente da epístola de
JUDAS. […]. (77)
171
acerca das cópias dos Evangelhos de que
dispunha:
As diferenças entre os manuscritos se tornaram
gritantes, ou pela negligência de algum copista ou
pela audácia perversa de outros; ou eles
descuidam de verificar o que transcrevem ou, no
processo de verificação, acrescentam ou apagam
trechos, como mais lhes agrade” (EHRMAN, 2006,
p. 62).
172
uso frequente de servir-se de um secretário. Mas
esta 1ª Carta de Pedro vai ainda mais além. É um
espelho da pregação pascal-batismal e da
catequese da Igreja de Roma, onde foi escrita (cf.
1Ped 5,13 nota). […].
Quanto à 2ª Carta, ainda que se apresente
como da autoria de Pedro (cf. 1,1), já desde
tempos antigos se discute acerca do seu
verdadeiro autor. Com efeito, ela parece ter sido
escrita numa época tardia, depois da destruição de
Jerusalém, quando muitos cristãos começavam a
perder as esperanças na 2ª Vinda de Cristo (cf.
2Ped 1,19-21 nota; 3,1-16; 3,4 nota). A primeira
geração cristã já tinha morrido. Os nossos pais
morreram (2Ped 3,4), e já existia uma coleção das
cartas paulinas, que alguns interpretavam a seu
gosto (3,15-16 nota). Tudo isto dá a entender que
a carta foi escrita depois da morte de Pedro,
que a tradição situa no ano 67. O autor da carta
deve ter sido um dos seus discípulos romanos,
que, adotando um uso muito corrente, se cobriu
com o nome do seu mestre. O problema não está
de todo resolvido, mas esta é a opinião mais
comum. Apesar disso, a carta é inspirada, pertence
aos escritos sagrados do NT. E, portanto, Palavra
de Deus. (79)
173
em xeque-mate a sua autoria como sendo de Pedro.
É o que se pode ver nesta explicação constante da
Bíblia de Jerusalém:
174
[…].
Outra dificuldade levantada contra a
autenticidade da epístola é o uso considerável
que parece fazer de outros escritos do NT,
sobretudo de Tg, Rm e Ef; fato tanto mais
surpreendente, porque o Evangelho parece
pouco utilizado. Mas as reminiscências
evangélicas são numerosas, apesar de
permanecerem discretas; se fossem mais
destacadas, não faltaria quem dissesse que
algum pseudônimo tentou desta forma fazer-se
passar por Pedro. Quanto aos contatos com Tiago
e Paulo, não se deve exagerar. Não aparece na
epístola nenhum dos temas especificamente
paulinos (valor transitório da Lei judaica, Corpo de
Cristo etc.). E muitos dos que são considerados
também como “paulinos”, porque nos são
conhecidos, sobretudo através das epístolas de
Paulo, de fato são apenas patrimônio comum da
primeira teologia cristã (valor redentor da morte de
Cristo, fé e batismo etc.). Os trabalhos da crítica
reconhecem sempre mais a existência de
formulários de catequeses primitivas, de florilégios
de textos do AT, que podem ter sido utilizados
paralelamente pelos diversos escritos em questão,
sem que tenha havido entre eles dependência
direta. Se, apesar disso, resta certo número de
casos nos quais 1Pd parece de fato ter-se
inspirado em Rm ou Ef, podemos admiti-lo sem
rejeitar a autenticidade; são Pedro não possuía
a envergadura teológica de são Paulo e pode
muito bem ter recorrido aos escritos deste
último, sobretudo ao dirigir-se, como neste
caso, a círculos de influência paulina. Além
175
disso, não se deve esquecer que seu secretário
Silvano era discípulo de ambos os apóstolos.
Enfim, é justo assinalar, ao lado destas afinidades
com os escritos paulinos, as semelhanças que
certos intérpretes julgam ter descoberto entre 1Pd
e outros escritos de cunho petrino, tais como o
segundo evangelho ou os discursos de Pedro nos
Atos.
A carta deve ser anterior à morte de Pedro
(64 ou 67), mas talvez só alguns anos mais tarde é
que Silvano a deu por terminada, segundo as
diretrizes de Pedro e sob a sua autoridade. Isto
seria até mesmo provável, se se constatasse que a
epístola é compósita, combinando fragmentos
diversos, entre os quais uma homilia de origem
batismal (1,13-4,11). Mas essas distinções não
conseguem ultrapassar o nível da conjetura.
[…].
Não há dúvida de que também a segunda
epístola se apresenta como sendo de são
Pedro. Não apenas no endereço (1,1) o apóstolo
põe seu nome, mas ainda alude ao anúncio de
Jesus a respeito de sua morte (1,14), e afirma ter
sido testemunha da transfiguração (1,1 6-18).
Enfim, faz alusão a uma primeira carta (3,1), que
deve ser 1Pd.
Se escreve segunda vez aos mesmos leitores, é
com dupla finalidade: pô-los de sobreaviso contra
os falsos doutores (2) e responder à inquietação
causada pela demora da parusia (3).
Rigorosamente falando, podemos imaginar estes
falsos doutores e esta inquietação desde o fim da
vida de são Pedro. Mas há outras considerações
176
que põem em dúvida a autenticidade e sugerem
data mais tardia. A linguagem apresenta notáveis
diferenças em relação a 1Pd. Todo o cap. 2 é
retomado, livre, mas patente, da epístola de Judas.
A coleção das epístolas de Paulo parece já
formada (3,15s). O grupo apostólico é posto em
paralelo com o grupo profético, e o autor fala como
se não fizesse parte deles (3,2). Estas dificuldades
autorizam certas dúvidas que surgiram desde a
antiguidade. Não apenas o uso da epístola não é
atestado com certeza antes do séc. III, mas
também alguns a rejeitavam, como o
testemunham Orígenes, Eusébio e Jerônimo.
Além disso, muitos críticos modernos recusam-
se, por sua vez, a atribuí-la a são Pedro, e é
difícil não lhes dar razão. Mas se um discípulo
posterior se valeu da autoridade de Pedro, pode
ser que tivesse algum direito de o fazer; talvez
porque pertencesse aos círculos que dependiam
do apóstolo, ou então porque utilizasse escrito
proveniente dele e o adaptasse e completasse com
o auxílio de Jd. Isso não equivale necessariamente
a cometer falsificação, pois os antigos tinham
ideias diferentes das nossas sobre a propriedade
literária e a legitimidade da pseudonímia. (80)
177
Autor
Na saudação, o autor se apresenta como
“Pedro, apóstolo de Jesus Cristo”; no final diz
que escreve da Babilônia, denominação intencional
de Roma. Ao longo da carta se apresenta como
ancião, testemunha ocular da paixão e glória de
Cristo (5,1); cita, embora não verbalmente,
ensinamentos de Cristo. A tradição antiga aceitou o
dado desde muito cedo: 2Pd 3,1, Policarpo,
Clemente.
Essa segurança diminuiu ante as objeções da
crítica. Vamos repassá-las com as correspondentes
respostas. Antes de tudo, a linguagem e estilo
gregos impróprios do pescador galileu.
Responde-se que Silvano (5,12) redigiu o texto e
não escreveu só o que era ditado. A carta cita o
AT na versão dos Setenta, não em hebraico, e o
tece suavemente com seu pensamento.
Responde-se que os destinatários falavam ou
conheciam o grego. Faltam as lembranças
pessoais de um companheiro íntimo de Jesus.
Responde-se que a pessoa de Jesus Cristo está
presente e domina a carta, seus ensinamentos
ressoam já assimilados: comparar 1,13 com Lc
12,35; 2,12 com Mt 5,16; 3,9 com Mt 5,44; 3,14
com Mt 5,10; 4,14 com Lc 6,22. O autor conheceu
cartas de Paulo, inclusive Efésios (que é
posterior). Responde-se que uns paralelos são
pouco convincentes, outros são tirados de um
fundo litúrgico ou da pregação oral, O nome de
“Babilônia” não foi aplicado a Roma antes do
ano 70. Responde-se que o AT conhece o uso
emblemático de Babel como poder hostil, e a
178
hostilidade romana não começou, mas culminou
em 70. A perseguição referida (cf 4,12) e a
declaração “ser cristão é crime” começaram no
tempo de Domiciano (81-96). Responde-se que já
Nero perseguiu os cristãos e houve outras
perseguições locais. A função de “anciãos” na
comunidade é posterior. Responde-se que Atos
documenta o fato como mais antigo e é uma
simples transposição do uso judaico. É irrazoável
que escreva a igrejas da Ásia que não havia
fundado nem visitado, e onde a perseguição não
chegava. Responde-se que os cristãos tiveram de
sofrer em toda parte.
O balanço da argumentação deixa a solução
indefinida, e os comentaristas se dividem em
dois grupos: a) O autor é Pedro, ancião e, talvez,
prisioneiro, próximo da morte; escreve uma
espécie de testamento, cordial, muito sentido. Seu
tema principal é a necessidade e o valor da paixão
do cristão, a exemplo de Cristo e em união com
Ele. Confia a redação a Silvano. b) A carta é
pseudônima. O autor é um desconhecido do círculo
de Pedro, que em tempos difíceis quer animar
outros fiéis, e para isso se vale do nome de Pedro.
Alguns traços hábeis lhe servem para tornar
verossímil a ficção.
Os destinatários eram pagãos convertidos,
como mostram as referências de 1,14.18 e 4,3.
Data
Se é Pedro, teve de ser antes de 67, data
limite do seu martírio. Se é um discípulo de outra
geração, seria durante a perseguição de
Domiciano (95-96). (81)
179
Esses comentários são interessantes,
porquanto coloca os dois lados da moeda, deixando
o leitor informado das dificuldades em tê-la ou não
como uma carta autêntica de Pedro. Na Bíblia
Sagrada – Vozes, lemos:
180
contrário da 1Pd que foi logo aceita como autêntica
e canônica, sobre a 2Pd já na Igreja antiga
pairaram dúvidas devido à grande diferença de
linguagem entre as duas epístolas. A tardia
aceitação da epístola pelas igrejas orientais e
ocidentais (séc. V/VI) e a sua dependência da
epístola de Judas, composta após a morte de S.
Pedro, levou a maioria dos exegetas a negar a
autenticidade da 2Pd.
O autor é um cristão de origem judaica (1,16;
2,1.18), bom helenista, mas distinto do autor da
1Pd, pois a linguagem e o gênero literário são
diferentes. A carta foi escrita entre os anos 70 e
125 d.C. Os leitores da carta são os mesmos da
1Pd, pertencentes às comunidades da Ásia Menor
e todos eles cristãos (1,1). Os hereges combatidos
parecem ser os mesmos visados pela epístola de
Judas: gnósticos libertinos que, a pretexto de
possuírem o Espírito, desprezam as leis morais
(2,1-3,3) e negam a parusia (3,4-10).
O autor apresenta o seu escrito como um
testamento espiritual de Pedro (cf. 1,13-15):
cônscio de sua morte por revelação divina (1,14), o
apóstolo recorda os ensinamentos do passado
(1,12s; 3,1) e as razões para neles acreditar (1,16-
21; 3,2s); anuncia a vinda próxima de
propagadores do erro (2,1-21; 3,3s), contra os
quais adverte os leitores por escrito (1,15). Contra
tais erros é necessário ser fiel à palavra apostólica
(3,15s) e profética, produzidas pelo Espírito Santo
(1,12-21). (82)
181
Vê-se que quase todas as explicações dão-nos
conta da dúvida a respeito da autoria; umas são
taxativas quanto a isso, outras saem pela linha do
“provavelmente”, sem darem uma posição definitiva;
talvez, seja por falta de dados, mas poderá também
ser a fim de se manter a crença na Bíblia como um
livro totalmente inspirado.
182
Império Romano. Numa dessas cartas, diz o autor
que a escreveu em “Babilônia”. (83)
183
fazerem por aí.
184
Barnabé, tendo tomado comigo também Tito.
Subi em virtude de uma revelação e expus-lhes
– em forma reservada aos notáveis – o
evangelho que proclamo entre os gentios, a
fim de não correr, nem ter corrido em vão. […]
E por parte dos que eram tidos por notáveis –
o que na realidade eles fossem não me
interessa: Deus não faz acepção de pessoas –
de qualquer forma, os notáveis nada me
acrescentaram. Pelo contrário, vendo que a
mim fora confiado o evangelho dos
incircuncisos como a Pedro o dos circuncisos –
pois aquele que operava em Pedro para a
missão dos circuncisos operou também em
mim em favor dos gentios – e conhecendo a
graça em mim concedida, Tiago, Cefas e
João, os notáveis tidos como colunas,
estenderam-nos a mão, a mim e a Barnabé,
em sinal de comunhão: nós pregaríamos aos
gentios e eles aos da Circuncisão”.
185
primeiro lugar; esse, sim, quem sabe, não seria ele a
quem se poderia chamar de primeiro papa?
186
evangelho, eu disse a Pedro diante de
todos: se tu, sendo judeu, vives à maneira dos
gentios e não dos judeus, por que forças os
gentios a viverem como judeus?
187
de lado no atendimento diário. Então os Doze
convocaram uma assembleia geral dos
discípulos, e disseram: 'Não está certo que
nós deixemos a pregação da palavra de Deus
para servir às mesas. Irmãos, é melhor que
escolham entre vocês sete homens de boa
fama, repletos do Espírito e de sabedoria, e
nós os encarregaremos dessa tarefa. Desse
modo, nós poderemos dedicar-nos
inteiramente à oração e ao serviço da Palavra'.
A proposta agradou a toda a assembleia.”
188
contaram tudo o que Deus havia feito por
meio deles: o modo como Deus tinha aberto a
porta da fé para os pagãos. E passaram então
algum tempo com os discípulos”.
189
igreja, pelos apóstolos e anciãos, e contaram
as maravilhas que Deus tinha realizado por
meio deles. Contudo, algumas pessoas do
grupo dos fariseus, que tinham abraçado a
fé, intervieram para sustentar que era
preciso circuncidar os pagãos e mandar
que seguissem a lei de Moisés.’”
190
incompetente ou, quem sabe, não inspirado, para
não prever isso.
191
Pela narrativa, vê-se que o suposto papa não
foi quem convocou esse “Concílio”; o relato apenas
diz que “reuniram-se então os apóstolos e os anciãos
para examinarem o problema”, fato que prova que
Pedro não exercia autoridade alguma. Como se
instalou uma verdadeira balbúrdia, aí sim, ele toma a
palavra e fala, fato que fez “toda a assembleia
silenciar” e, depois disso, passa a ouvir Paulo e
Barnabé. O que Pedro fez não foi usar de alguma
suposta autoridade mas, apenas, botar ordem na
casa; nada, portanto, como pensam algumas
pessoas, de que eles o tinham ouvido
silenciosamente no sentido de aprovar alguma
decisão, pois a discussão mal havia começado;
faltava ainda a fala de Paulo e Barnabé e também a
de Tiago; este, sim, quem deu o parecer final.
192
Pedro não agiu como sendo uma autoridade.
Ele apenas deu a sua opinião pessoal sobre o
assunto em pauta, a qual não foi, portanto, a
deliberação final; inclusive, porque, como vimos,
depois dele ainda falaram Paulo e Barnabé (Atos
15,12) para, então, aí, sim, Tiago tomar a decisão,
que foi acatada por todos. Se alguém aqui agiu como
papa, foi, pois, certamente, Tiago. Leiamos:
193
estrangulados. Porque desde muito tempo a
Lei de Moisés está sendo lida e proclamada
todos os sábados nas sinagogas de cada
cidade.”
194
escolher alguns representantes e mandá-los
até vocês, junto com nossos queridos irmãos
Barnabé e Paulo, homens que arriscaram a
vida pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo.
Por isso, estamos enviando Judas e Silas, que
pessoalmente transmitirão a vocês a mesma
mensagem. Porque decidimos, o Espírito Santo
e nós, não impor sobre vocês nenhum fardo,
além destas coisas indispensáveis: abster-se
de carnes sacrificadas aos ídolos, do sangue,
das carnes sufocadas e das uniões ilegítimas.
Vocês farão bem se evitarem essas coisas.
Saudações!'”
195
Também não apresenta nenhuma decisão de
Pedro nessa questão. Foram os apóstolos e anciãos,
de comum acordo com a comunidade, que
mandaram a carta (Atos 15,22), fato que também
pode ser confirmado com o passo: “Percorrendo as
cidades, Paulo e Timóteo transmitiam as decisões
que os apóstolos e anciãos de Jerusalém
haviam tomado, e recomendavam que fossem
observadas” (Atos 16,4). O que novamente prova
que Pedro não exercia nenhuma autoridade e nem
mesmo presidiu a esse “Concílio”.
196
um pagão não circuncidado observa os
preceitos da Lei, não será tido como
circuncidado, ainda que não o seja? E o pagão
que cumpre a Lei, embora não circuncidado
fisicamente, julgará você que desobedece à
Lei, embora você tenha a Lei escrita e a
circuncisão. De fato, aquilo que faz o judeu não
é o que se vê, nem é a marca visível na carne
que faz a circuncisão. Pelo contrário, o que faz
o judeu é aquilo que está escondido, e
circuncisão é a do coração; e isso vem do
espírito e não da letra da Lei. Tal homem
recebe aprovação, não dos homens, mas de
Deus.”
197
Os que buscam vincular a Pedro a soberania do
papa começaram esquecendo a primeira
manifestação coletiva da Igreja cristã, o concílio de
Jerusalém, tipo necessário de todos os outros, no
qual a preponderância na definição do ponto
controvertido coube, não ao apelidado príncipe dos
apóstolos, mas a Tiago, bispo da cidade, irmão do
Senhor. (85)
Nem é esse unicamente o lance, em que os
livros santos depõem contra a pretensão da
infalibilidade personificada em Pedro. As epístolas
de Paulo testemunham que esse principado nunca
teve realidade entre os primeiros seguidores do
Cristo, e que a fé do apóstolo dos judeus não era
menos frágil que a dos outros pregadores da boa
nova. (66)
Essa primeira decisão conciliar da cristandade
transmitiu-se às igrejas da Síria, Antioquia e Cilícia
em nome dos “apóstolos, anciãos e irmãos”
(apostoli, seniores, fratres), sem que a
individualidade particular de Pedro fosse ao menos
mencionada ali. (86) As recordações democráticas
dos tempos subsequentes ao Crucificado não
podem, porém, tolher o desembaraço a uma seita
que, para levar a bom êxito seus planos temporais,
não hesitou nunca diante de nenhuma alteração da
verdade histórica.
Roma nem pela Antiguidade, sequer, podia a
princípio prevalecer sobre as outras sés.
Antecederam-na as de Jerusalém, Éfeso, Antioquia
e Corinto. O título de apostólica, reservado hoje
exclusivamente à daquela cidade, Tertuliano
atesta-nos que se aplicava a todas as igrejas, quer
198
instituídas pelos apóstolos, quer ramificações
dessas. Pode-se, até, dizer que chegou a tocar
indistintamente a todas as metrópoles episcopais
(87); e, ainda no século IV, os bispos orientais
denominavam a Igreja de Jerusalém “mãe de todas
as igrejas”. Essa fórmula de “saudação e bênção
apostólica”, de que hoje Roma arroga a si o
privilégio, não começou a baixar dali senão do
século XI, cerca dos dias de Leão IX, para cá. Tal
é, pelo menos, o parecer de um dos mais
famigerados Bolandistas, o jesuíta Papebroch; e,
em todo o caso, a invenção de Martinus Polonus,
que faz remontar esse uso da chancelaria
eclesiástica aos tempos do bispo Cleto, no primeiro
século, está hoje absolutamente desmentida.
Sob a unidade moral de uma adesão comum à
fé cristã, cada Igreja nacional vivia e desenvolvia-
se com autonomia completa. A par de Roma
floresciam, com uma exuberância de seiva, com
uma abundância de personalidades notáveis, com
uma influência moral e real incomparavelmente
maiores, as igrejas do Oriente, a de África, a das
Gálias, a de Espanha. Nenhuma tributava preito de
vassalagem aos bispos romanos. O título de papa,
simples honraria então, dirigia-se indiferentemente
a todos os diocesanos, como, ainda no século III, o
endereçou o clero romano mesmo a S. Cipriano,
bispo de Cartago. Nenhuma preeminência,
portanto, de jurisdição, quanto mais de doutrina,
lograva a capital da Itália; porque todos os distritos
eclesiásticos eram membros independentes e
iguais de uma comunhão superior, onde todos os
chefes espirituais desvaneciam-se de “vigários de
Cristo”. “As nossas numerosas igrejas”, dizia
199
Tertuliano, “reputam-se todas a mesma igreja, a
primeira de todas fundada pelos apóstolos e mãe
de todas as demais. São todas apostólicas, e
juntas não vêm a ser mais que uma só, pela
comunicação da paz, pelo mútuo tratamento de
irmãos, pelos vínculos de hospitalidade que
enlaçam a todos os fiéis.” Tal era, em começos do
século III, o caráter do catolicismo, definido por um
dos mais célebres doutores, com a sanção tácita
de Zeferino, bispo de Roma, que o não contrariou.
O sistema eletivo era o meio de se proverem os
cargos eclesiásticos praticados desde os
apóstolos. (88) Esse regime de sufrágio quase
universal, em que eram co-participantes
sacerdotes e leigos, fosse para a escolha dos
prelados, fosse, até, para a designação dos
diáconos, estendeu-se tanto, no seio da
cristandade, pelos séculos adiante, que, ainda em
princípios do século XII, nos deparava a Igreja
gaulesa exemplos dessa democracia religiosa.
Alma da vida eclesiástica nessa idade áurea da fé,
o concurso do clero e do povo, ora efetuada a
eleição por este e ratificada por aquele, ora iniciada
a proposta pelos ministros e aceita pelos fiéis, –
representava essa ideia fecunda, intimamente
radicada no primitivo cristianismo, que atribui ao
elemento leigo uma colaboração essencial no
sacerdócio, e que nas assembleias conciliares
daquela época lhe facultava lugar e voto. (70)
Memora Eusébio que, falecendo Tiago, primeiro
bispo de Jerusalém, “os apóstolos, discípulos e
parentes do Salvador ainda vivos juntaram-se, para
dar-lhe sucessor, e por unânime consentimento
elegeram a Simeão”. (89)
200
______
Manteremos aqui somente as notas que ajudam no
entendimento da transcrição, procedimento esse que
adotaremos nas outras transcrições:
66 Os que forcejam por exaltar esse discípulo de Jesus
acima dos demais, careciam cancelar primeiramente da
Bíblia as epístolas do apóstolo das gentes. “Em nada
tenho eu sido inferior aos maiores dentre os apóstolos”,
dizia ele: “porque, conquanto inapto em palavras, não o
sou, todavia, na ciência.” Imperitus sermone, sed
non scientia. II ad Corinth., Xl, 5, 6. “São ministros do
Cristo; mais o sou eu.” Ministri Christi sunt; plus
ego. Id., 23. Nihil enim minus fui ab iis qui sunt supra
modum apostoli. II ad Corinth., XII, 11.
E, se em nada estava abaixo dos mais excelentes
apóstolos, se em sabedoria tinha-se por tão ilustre
quanto os mais sábios, não é de Pedro que lhe viera
essa excelência e ciência na fé, como seria de mister
para que prevalecesse a opinião dos que adjudicam ao
papa, como sucessor de Pedro, o depositum fidei. “O
Evangelho, não o aprendi de homem nenhum, sim de
Jesus Cristo, que mo revelou.” “Neque enim ego ab
homine accepi illud, sed per revelationem lesu-
ChristL” Ad. Galat., 1, 11. E também ad Ephes., III, 3.
O apostolado, encetou-o ele antes de visitar Jerusalém,
e avistar-se com os apóstolos. “Neque venim
lerosolymam ad antecessores meos apostolos.” Ad
Galat., 1, 17. Verdade é que mais tarde ali veio ter, e
achou-se com Cefas quinze dias; mas isso foi muitos
anos depois, tendo já pregado na Ará bia e em
Damasco. lbid., 17, 18.
Mais expressiva é ainda a história da sua segunda visita
à cidade santa. Nessa ocasião não diz Paulo que Pedro
lhe tivesse transmitido a graça, mas sim que este, com
Tiago e João, reconheceram-na já existente nele. “Et
quum cognovissent gratiam quae data est mihi,
201
Jacobus, et Cephas, et Johannes, qui videbantur
columnae, dextras dederunt mihi.” Ad. Galat., II, 9.
Deram-lhe as mãos em sinal de companhia, de
irmandade, societatis. Que distância entre isso, entre
essa fraterna associação de serviços, estabelecida sob
um símbolo de igualdade, e a paternidade espiritual que
arroga a si o pretenso vigário de Cristo sobre o
episcopado inteiro!
Paulo tanto a não reconhecia, que resistiu a Pedro face
a face. “In faciem ei restiti.” Ibid., 11. Por quê? Porque
o achou repreensível. “Quia reprehensibilis erat.”
lbid. Viu que infringiam a verdade evangélica, e a Pedro
exprobou, em público, deste modo: “Se tu, sendo judeu,
vives como gentio, e não como judeu, por que obrigas
os gentios a judaizar? Cum vidissem quod non recte
ambularent ad veritatem evangelii, dixi Cephae
coram omnibus: Si tu, cum Judaeus sis, gentiliter
vicis, et non judaece, quomodo gentes cogis
judaezare?” Ibid., 14. Substituam Cefas por Pio IX;
troquem Paulo por um bispo moderno; ponham-lhe
depois na boca esse desabrimento; e digam, afinal, a
que fica reduzida a infabilidade individual do papa.
70 No concílio de Elvira, o mais antigo de que há
cânones, congregaram-se os bispos e os padres com o
povo em comum omni plebe. O quarto cânon do quarto
concílio de Toledo refere como, depois de entrarem e
sentarem-se os bispos, depois de entrarem e sentarem-
se atrás deles os padres, “entraram por sua vez os
leigos”. No concílio de Orange, que constou de 13
padres e 9 leigos, todos, sem discrime, subscreveram
com as mesmas palavras: consensi, ou consentiens
subscripsi. V. BORDAS-DUMOULIN e F. HUET: Essais
sur la réf. Cath., Paris, 1856 – Pág. 84. E tão valioso
era o assentimento de qualquer membro, ainda leigo,
dessa comunhão aniquilada hoje perante o papa
infalível sese, non autem ex consensu eccIesiae que,
no porfioso debate sobre a celebração da páscoa,
202
Polycrates, bispo de Éfeso, na representação dirigida a
Vítor, bispo de Roma, em nome das igrejas asiáticas,
entre os nomes de apóstolos, mártires, bispos e
doutores, que citava em apoio da praxe oriental, não
hesitou em mencionar três mulheres, “filhas de Felipe,
duas das quais envelheceram na virgindade, e a outra,
inspirada do Espírito Santo, adormeceu em Éfeso”. (90)
(grifos do original)
203
Antioquia, depois, durante 25 anos, em Roma,
onde foi martirizado em 64 ou 67 d.C. (91)
204
fragmentos joaninos que não queriam deixar
perder e cujo lugar não era rigorosamente
determinado. (92)
205
Testamento, devota dezesseis capítulos à vida e obra
de Paulo” (94), e considerando que “O livro termina
com o cativeiro de Paulo 61-63” (95), a pergunta é:
Paulo ou Pedro, o suposto papa, quem foi a pessoa
mais importante no cristianismo primitivo? Essa
supremacia de Paulo é facilmente percebida, pois
“Depois da conversão de Cornélio e o
encarceramento em Jerusalém, Pedro parte para
destinação desconhecida (Atos 12,17); e é Paulo que
doravante, no relato de Lucas, ficará em evidência”.
(96)
206
Jesus lhe ensinara em seu tempo de pescador no
Mar da Galileia.
Não sabemos o que o induziu a ir para Roma.
Sobre essa viagem não temos nenhuma
informação histórica de valor indisputado, mas o
nome de Pedro está tão conexo ao
desenvolvimento inicial da igreja, que temos de
devotar algumas palavras ao admirável velho a
quem Jesus amou mais que aos outros discípulos.
(97)
207
referem à pessoa humana de Pedro, que é
chamada “carne e sangue”; referem-se à revelação
da Divindade do Cristo, confessada pelo apóstolo:
“Tu és o Cristo, Filho de Deus vivo”. A pedra
fundamental da Igreja, diz Agostinho, é o Cristo; a
confissão de Pedro, mas não o Pedro da confissão,
é a pedra fundamental, mas não a pessoa humana,
que pode ter sucessores, através dos tempos, ao
passo que a Divindade do Cristo é a verdade
permanente.
É esta a convicção de Agostinho, que ele nunca
revogou, nem mesmo no seu livro posterior
“Retractationes”.
Mais tarde, por motivos de consolidação da
hierarquia eclesiástica, os Concílios adotaram a
ideia que hoje prevalece na teologia; que Pedro
fora instituído por Jesus como sendo o fundamento
inabalável da Igreja – o mesmo homem que é por
Jesus chamado carne e sangue, e, pouco depois
“satanás”: “Vade retro, satana”.
Nem Paulo de Tarso aceitou a ideia da primazia
e infalibilidade de Pedro, como consta do Concílio
Apostólico de Jerusalém, onde prevaleceu a ideia
de Paulo, que repreendeu publicamente a Pedro
por que havia “aberrado da verdade do
Evangelho”, exigindo que os neófitos cristãos
fossem circuncidados.
Quanto ao pretenso pontificado de Pedro na
sede de Roma, é uma ideia flagrantemente anti-
histórica. Pedro pode ter vivido em Roma cerca de
três meses, no ano 67, mas não durante 25 anos.
Jamais dirigiu a igreja de Roma. Sabemos que no
ano 64 rompeu a tremenda perseguição dos
208
cristãos por parte do imperador Nero, perseguição
que continuou por quase três séculos, até o ano
313. Durante este período, nenhum cristão
conhecido sobreviveu em Roma, muito menos o
chefe espiritual do cristianismo.
Aliás, a primeira epístola de Pedro é datada da
Babilônia, e deve ter sido escrita pelos meados do
primeiro século.
Em 58, em Corinto, escreveu Paulo a Epístola
aos Romanos, verdadeiro tratado de cristologia,
por que não havia na capital do Império Romano
ninguém que pudesse dar esses esclarecimentos –
nem mesmo Pedro.
No fim da Epístola manda Paulo lembranças a
numerosos cristãos conhecidos em Roma –
nenhuma saudação a Pedro, que não era
conhecido na capital do Império.
Nos anos 60 a 62 esteve Paulo preso em Roma.
No cárcere, escreveu as epístolas aos Filipenses,
aos Efésios, aos Colossenses, e a carta particular
a Filemon. Nestas cartas menciona Paulo os
cristãos que o visitaram no cárcere romano –
nunca menciona Pedro, que não o visitou, porque
não estava em Roma.
Pelos historiadores antigos sabemos que
durante a perseguição de Nero, Pedro e Paulo
foram, às ocultas, visitar os cristãos sobreviventes
em Roma: foram descobertos, presos e mortos; a
tradição localiza a morte de Pedro e de Paulo no
dia 29 de junho de 67.
Para unificar as dezenas de grupos cristãos,
cada um dos quais se dizia o único cristianismo
209
verdadeiro, o primeiro imperador cristão
Constantino Magno, pelo Edito de Milão, de 313,
deu liberdade aos cristãos e proclamou o
cristianismo como religião oficial do Império
romano. A fim de estabelecer unidade nos diversos
grupos litigantes, decretou Constantino que o bispo
da capital do Império fosse considerado primus
inter pares. A chamada infalibilidade do papa foi
decretada somente pelo primeiro Concílio Vaticano,
no ano de 1870, quer dizer, há pouco mais de um
século. De resto, o papa não fez valer a sua
suposta infalibilidade, nem mesmo nas mais
veementes controvérsias recentes, sobretudo após
a ruidosa encíclica “Humanae Vitae”, impugnada
violentamente por bispos e cardeais.
Quem confessa o Cristo como suprema e única
rocha da Igreja está de acordo com o Evangelho e
com as palavras do próprio Cristo. (98)
210
É essencial lembrar que Jesus não era gentio
nem cristão. Ele era um judeu, cuja religião era o
judaísmo radical. Com o passar do tempo, porém,
sua missão original foi usurpada e dominada por
um movimento religioso que assumiu seu nome
para obscurecer seus herdeiros de fato. Esse
movimento se centralizava em Roma e baseava
sua autoridade autoproclamada na afirmação de
Mateus 16:18-19, na qual Jesus teria dito “és
Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha
igreja”. Infelizmente, a palavra grega petra (rocha),
relacionada à Rocha de Israel, foi traduzida
erroneamente como se fosse petros (pedra),
referindo-se a Pedro (99) (que chegou a ser
chamado de Cefas: uma Pedra, como em João
1:42). Jesus estava, na verdade, afirmando que a
missão dele e de Pedro deveria ser fundamentada
sobre a Rocha de Israel, não sobre o próprio
Pedro. Independentemente disso, o novo
movimento decretou que só aqueles que tivessem
recebido autoridade passada diretamente de Pedro
poderiam ser líderes da Igreja Cristã. Foi um
conceito engenhoso, cuja intenção era restringir o
controle geral a uma fraternidade seleta e
autopromotora. Os discípulos gnósticos (135) de
Simão (Mago) Zelotes o chamavam de “a fé dos
tolos”.
______
211
desenvolveu-se também na Síria, novamente com
Simão como seu principal proponente, antes de entrar
no ambiente cristão pré-romano. (100)
212
demais apóstolos, isto é, pensavam que os
apóstolos todos juntos formavam as doze pedras
fundamentais da Igreja (Apocal., XXI,14). (101) –
Pelo que pertence à concessão do poder das
chaves, do poder de atar e desatar, tanto menos
possível era que os Padres o tomassem como
privilégio ou soberania atribuída aos bispos
romanos, quanto não consideravam essa
onipotência (cousa que ao primeiro aspecto notará
qualquer) como propriedade peculiar a S. Pedro, e
herdada por ele aos sós prelados de Roma. –
Refletiam que, se fora outorgada a Pedro em
primeiro lugar, também aos outros depois o foi
pelas mesmas palavras. Enfim, tinham todos o
símbolo das chaves como perfeito sinônimo da
expressão figurada atar e desatar. (76)
Sabido é que o dito de Cristo a Pedro é hoje em
dia o trecho clássico, que há de ser base ao
edifício da infalibilidade papal: “Ora por ti para que
te não faleça a fé; quando converso, esforça a teus
irmãos” (Lucas, XXII,32-37). – Manifesto é, porém,
que essas palavras não se podem referir senão a
Pedro pessoalmente, e à sua conversão depois de
ter renegado a Cristo. De feito, a exortação é para
que ele, apenas lhe desaparecesse aquela rápida
e passageira fraqueza, restaurasse os outros
apóstolos, em quem vacilara igualmente a fé no
Cristo. – É, portanto, rematado contra-senso
querer, onde apenas se tratava do indivíduo em
quem vacilara a fé na dignidade messiânica de
Jesus, fé que se pretendia reanimar, querer
descobrir aí promessas de futura infalibilidade a
uma série de papas, unicamente porque esses
homens senhorearam mais tarde, na Igreja
213
romana, o lugar de que Pedro fora o primeiro
ocupante. Até ao fim do VII século nenhum dos
antigos doutores da Igreja concebera essa
interpretação. Todos, sem exceção, em número de
dezoito haviam divisado ali apenas uma rogativa
de Cristo, empenhado em que o seu apóstolo não
soçobrasse de todo na perigosa e iminente
tentação, e não perdesse inteira a fé. – Foi o papa
Ágato, em 680, quem primeiro quis achar ali uma
promessa de prerrogativas à Igreja romana, – isso
no tempo dos esforços com que Roma lidava
arredar os perigos anunciados pela condenação de
Honório, predecessor daquele, – condenação que
tinha de levar a Igreja romana a perder o privilégio,
tantas vezes encarecido, de uma pureza doutrinal
especialíssima.
______
76 Embalde, portanto, diligenciou Döllinger, por exemplo
(Cristianismo e Igreja, pág. 30, 2ª ed.), explicar a
autoridade das chaves como ideia diversa do poder de
atar e desatar, na linguagem bíblica, – encarando-o
como um poder sobre a Igreja toda, transmitido por
Pedro aos seus sucessores romanos. Contradiz este
parecer de todo ponto as declarações dos Padres e as
tradições exegéticas da Igreja. (102) (grifo do original)
214
Salientaremos, simplesmente, a antinomia do
título de Papa, para com os próprios princípios
doutrinários do fundador da Igreja cristã.
O termo Papa é um diminutivo familiar de papá,
papai, atribuído ao bispo de Roma, como sendo o
Pai da família cristã. Ora, Jesus proibiu que o
chamassem de Pai, porque este título só pertence
a Deus que é o Pai de todos. Não consentiu que o
chamasse de Bom, de Mestre e ainda menos de
Santo; mas o Papa é chamado de Bom Pai e até
de .... Santíssimo Pai.
Jesus não tinha onde repousar a cabeça, só
tinha uma túnica, um par de sandálias e se
alimentava quando a sacola de Judas, seu
Tesoureiro, o permitia. Proibiu a construção de
templos. Enviou seus apóstolos a pregar o
Evangelho do Reinado da Paz, sem alforjes.
Repudiou o título que lhe queriam dar de Rei de
Israel e fugiu mesmo para o monte. Em suma,
pregou a bondade de coração, o amor ao próximo
e deu o exemplo da perfeita humildade.
Se Jesus disse, fazendo, como querem, um
trocadilho inadmissível na língua que ele falava,
que sua Igreja seria construída sobre a rocha, isso
não significa que ele fizesse Pedro de pedra
fundamental do seu Templo, pois este mesmo
apóstolo, em Atos, frisa que Deus não reside em
templos de pedra, construídos e servidos pela mão
do homem, confirmando as palavras do seu
mestre, quando este mandava que todos se
recolhessem ao seu aposento, em segredo, e aí
implorassem ao Pai que tudo via e lhe concederia
o voto.
215
Ademais, quem ficou representando esse
templo em Jerusalém foi Tiago, discípulo e irmão
de Jesus, revestindo as insígnias de Sumo
Sacerdote dos Judeus e não do Cristo, que não
usava nenhuma.
Pedro, portanto, conservou-se na penumbra ou
quando muito, por sua idade, como era praxe
respeitar-se, presidiu uma agremiação de fiéis,
aliás, destruída por Paulo, que não consentia que
Jesus tivesse instituído sua Igreja sobre a
circuncisão.
Quando Cornelius se ajoelhou aos pés de Pedro
para adorá-lo, este levantou-o dizendo: “Levanta-
te, eu mesmo também sou homem” (Atos X, 26).
(103)
216
daquela magna Assembleia, a fim de melhor ouvir
as verdades nuas e cruas, que vão ser ditas
naquele Cenáculo, por um dos seus mais
eminentes membros e possa ajuizar do espírito
ambicioso dos partidários que, com essa
aprovação, preparavam a possibilidade de galgar
um dia uma cadeira pontifical inatacável.
É bom notar, desde já, que nem esse bispo nem
seus partidários foram condenados ou
excomungados pelo referido Papa por ter
desmascarado aquele antro de perdição que é o
Vaticano e nem seus argumentos foram jamais
refutados.
Tem a palavra o bispo Strossmayer
(colocaremos apenas trechos ligados ao assunto):
[…] Abri essas sagradas páginas e sou obrigado
a dizer-vos: nada encontrei que sancione, próximo
ou remotamente, a opinião dos ultramontanos! E
maior é minha surpresa quando, naqueles tempos
apostólicos, nada há que fale de papa sucessor de
S. Pedro e vigário de Jesus Cristo!
[…] Tenho lido todo o Novo Testamento, declaro
ante Deus e com a mão sobre o crucifixo que
nenhum vestígio encontrei do papado.
[…].
Lendo, pois, os Santos Livros, não encontrei um
só capítulo, um só versículo que dê a São Pedro a
chefia sobre os apóstolos.
Não só o Cristo nada disse a respeito deste
ponto, mas, ao contrário, pro meteu tronos a todos
os apóstolos (Mateus XIX, 28) sem dizer que o de
Pedro seria mais elevado que o dos outros.
217
Que diremos do seu silêncio?
A lógica nos ensina a concluir que o Cristo
nunca pensou em elevar Pedro à chefia do Colégio
Apostólico.
Quando o Cristo enviou seus discípulos a
conquistar o mundo, a todos – igualmente – fez a
promessa do Espírito Santo.
Dizem as Santas Escrituras que até proibiu a
Pedro e a seus colegas de reinarem ou exercerem
senhorio (Lucas XXII, 25, 26).
Se Pedro fosse eleito Papa, Jesus não diria
isso, porque, segundo nossa tradição, o papado
tem uma espada em cada mão, simbolizando os
poderes espiritual e temporal.
Ainda mais: se Pedro fosse papa ou chefe dos
apóstolos, permitiria que esses seus subordinados
o enviassem, com João, à Samaria para anunciar o
Evangelho do filho de Deus? (Atos VIII, 14)
[…] Reuniu-se em Jerusalém um Concílio
ecumênico para decidir questões que dividiam os
fiéis.
Quem devia convocá-lo? Sem dúvida Pedro, se
fosse papa. Quem devia presidi-lo? Por certo que
Pedro. Quem devia formular e promulgar os
cânones? Ainda Pedro. Não é verdade?
Pois bem: nada disso sucedeu! Pedro assistiu
ao Concílio com os demais apóstolos sob a direção
de Tiago! (Atos XV).
Assim, parece-me que o filho de Jonas não era
o primeiro, como sustentais. Encarado agora, por
outro lado, temos: enquanto ensinamos que a
218
Igreja está edificada sobre Pedro, São Paulo (cuja
autoridade devemos todos acatar) diz-nos que ela
está edificada sobre o fundamento da fé dos
apóstolos e profetas, sendo a principal pedra do
ângulo Jesus Cristo (Epístola dos Efésios II, 20).
Esse mesmo Paulo ao enumerar os ofícios da
Igreja menciona os apóstolos, profetas,
evangelistas e pastores; e será crível que o grande
apóstolo dos gentios se olvidasse do papado, se
este existisse? Esse olvido me parece tão
impossível como o de um historiador desse
Concílio que não fizesse menção da Sua
Santidade Pio IX.
[…].
O apóstolo Paulo não faz menção em nenhuma
de suas Epístolas às diferentes igrejas, da primazia
de Pedro, se esta existisse e se ele fosse infalível
como quereis, poderia Paulo deixar de mencioná-
la, em longa Epístola acerca de tão importante
ponto?
[…].
Também nos escritos de São Paulo, de São
João ou de São Tiago, não descubro nenhum traço
do poder papal! São Lucas, o historiador dos
trabalhos missionários dos apóstolos, guarda
silêncio a respeito de tal assunto! Isso deve
preocupar-vos muito.
[…].
Pensei que se Pedro fosse vigário de Jesus
Cristo ele não o sabia, pois nunca procedeu como
papa; nem no dia do Pentecostes, quando pregou
seu primeiro sermão, nem no Concílio de
219
Jerusalém, presidido por São Tiago, nem da
Antioquia nem nas Epístolas que dirigiu às igrejas.
Será possível que ele fosse papa sem o saber?
Parece-me escutar de todos os lados: São
Pedro não esteve em Roma? Não foi sacrificado de
cabeça para baixo? Não existem os lugares onde
ensinou e os altares em que disse missa nessa
cidade?
E eu responder só a tradição, veneráveis
irmãos, é que nos diz ter São Pedro estado em
Roma; e como a tradição é tão-somente a tradição
da sua estada em Roma. E com ela que me
provareis seu episcopado e sua supremacia?
Scaligero, um dos mais eruditos historiadores,
não vacila em dizer que o episcopado de São
Pedro e sua residência em Roma devem ser
classificados no número das lendas ridículas! […].
Permite que repita: folheando os sagrados
escritos não encontrei o mais leve vestígio do
papado nos tempos apostólicos!
E, percorrendo os anais da Igreja, nos quatro
primeiros séculos, o mesmo me sucedeu!
Confessar-vos-ei que o que encontrei foi o
seguinte:
Que o grande Santo Agostinho, bispo de
Hipona, honra e glória do Cristianismo e secretário
do Concílio de Melive, nega a supremacia do bispo
de Roma.
Que os bispos da África, no sexto Concílio de
Cartago, sob a presidência de Aurélio, bispo dessa
cidade, admoestavam a Celestino, bispo de Roma,
por supor-se superior aos demais bispos,
220
enviando-lhes comissionados e introduzindo o
orgulho na Igreja.
Que, portanto, o papado não é instituição divina.
Deveis saber, meus veneráveis irmãos, que os
padres do Concílio de Calcedônia colocaram os
bispos da antiga e nova Roma na mesma categoria
dos demais bispos.
Que aquele sexto Concílio de Cartago proibiu o
título de ‘Príncipe dos Bispos’, por não haver
soberania entre eles.
E que São Gregório I escreveu estas palavras
que muito aproveitam a tese:
Quando um patriarca se intitula ‘bispo
Universal’, o título de patriarca sofre incontestável
descrédito. Quantas desgraças não devemos nós
esperar, se entre os sacerdotes se suscitarem tais
ambições?
Esse – bispo – será o rei dos orgulhosos!
(Pelágio II, Cet. 13).
Com tais autoridades e muitas outras que
poderia citar-vos, julgo ter prova do que os
primeiros bispos de Roma não foram reconhecidos
como – bispos universais ou papas – nos primeiros
séculos do Cristianismo.
E, para reforçar ainda mais meus argumentos,
lembrarei aos meus veneráveis irmãos que foi
Ósio, bispo de Córdoba, quem presidiu o primeiro
Concílio de Niceia, redigindo seus cânones; e que
foi ainda esse bispo que, presidindo o Concílio de
Sárdica, excluiu o enviado de Júlio, bispo de
Roma! Mas, da direita me citam estas palavras de
Cristo: Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei
221
minha Igreja.
Sois, portanto, chamado para este terreno.
Julgais, veneráveis irmãos, que a rocha ou a
pedra sobre a qual a Santa Igreja está edificada, é
Pedro; mas, permite que eu discorde desse vosso
modo de pensar.
Diz São Cirilo no seu quarto livro a respeito da
Trindade: A rocha ou a pedra de que nos fala
Mateus é a fé imutável dos apóstolos.
São Gregório, bispo de Poitiers, em seu
segundo livro a respeito da Trindade, repete que
aquela pedra é a rocha da fé, confessada pela
boca de São Pedro. E, no seu sexto livro, mais luz
nos fornece dizendo: É sobre essa exata rocha da
confissão da fé que a Igreja está edificada.
São Jerônimo, no seu sexto livro a respeito de
São Mateus, é de opinião que Deus fundou sua
Igreja sobre a rocha ou pedra que deu seu nome a
Pedro. Nas mesmas águas navega São
Crisóstomo quando em sua homilia 56, a respeito
de Mateus, escreve: Sobre esta rocha edificarei
minha Igreja; e esta rocha é a confissão de Pedro.
Já que não me respondeis, eu vô-la darei: ‘Tu és
o Cristo, o filho de Deus’. Ambrósio, o Santo
arcebispo de Milão, São Basílio, de Salência, e os
padres do Concílio de Calcedônia ensinam
precisamente a mesma coisa.
Entre os doutores da Antiguidade cristã, Santo
Agostinho ocupa um dos primeiros lugares pela
sua sabedoria e pela sua santidade.
Escutai como ele se expressa acerca da
222
primeira epístola de São João: ‘Edificai minha
Igreja sobre esta rocha, significa claramente que é
sobre a fé de Pedro’.
No seu tratado 124 acerca do mesmo João,
encontra-se esta significativa frase: ‘Sobre esta
rocha ou pedra que me confessaste, que
reconheceste, dizendo: Tu és o Cristo, o filho de
Deus vivo, edificarei minha Igreja, sobre mim
mesmo; pois sou o filho de Deus vivo. Edificarei
sobre mim mesmo e não sobre ti'.
Haverá coisa mais clara e positiva?
Deveis saber que esta compreensão de Santo
Agostinho, a respeito de tão importante ponto do
Evangelho, era a opinião corrente no mundo
cristão naqueles tempos. Estou certo de que não
me contestareis.
Assim é que, resumindo, vos direi:
1 – Que Jesus deu aos outros apóstolos o
mesmo poder que deu a Pedro.
2 – Que os apóstolos nunca reconheceram em
São Pedro a qualidade de vigário de Cristo e
infalível doutor da Igreja.
3 – Que o mesmo Pedro nunca pensou ser papa
nem fez coisa alguma como papa.
4 – Que os Concílios dos primeiros quatro
séculos nunca deram, nem reconheceram, o poder
e a jurisdição que os bispos de Roma queriam ter.
5 – Que os Santos Padres, na famosa
passagem ‘Tu és Pedro e sobre esta pedra (a
confissão de Pedro) edificarei minha Igreja’ nunca
entenderam que a igreja estava edificada sobre
223
Pedro (super Petrum) e sim sobre a rocha (super
Petram), isto é, sobre a confissão da fé do
apóstolo!
Concluo, pois, com a história, a razão, a lógica,
o bom senso e a consciência do verdadeiro cristão,
que Jesus não deu supremacia alguma a Pedro e
que os bispos de Roma só se constituíram
soberanos da Igreja confiscando, um por um, todos
os direitos do episcopado! […].
Contestai a história se ousais fazê-lo; mas, ficai
certos de que não a destruireis! Se avancei alguma
inverdade, ensinai-me isso com a história, à qual
prometo fazer a mais honrosa apologia. Mas,
compreendei que não disse ainda tudo quanto
quero e posso dizer. Ainda que a fogueira me
aguardasse lá fora, eu não me calaria!
[…].
Evitai, sim, evitai, meus veneráveis irmãos, o
terrível precipício cuja borda estais colocados.
Salvai a Igreja do naufrágio que a ameaça e
busquemos todos, nas Sagradas Escrituras, a
regra da fé que devemos crer e professar. Digne-se
Deus a assistir-me. Tenho concluído”.
Todos os bispos se levantaram, muitos saíram
da sala, porém alguns prelados italianos,
americanos, alemães, franceses e ingleses
rodearam o inspirado orador, e, com fraternais
apertos de mão, demonstraram concordar com seu
modo de pensar. (104)
224
valeu a pena citá-lo para provar que, mesmo dentro
da Igreja, nem todos os bispos concordavam que
Pedro tenha sido o primeiro papa, tornando-se este,
portanto, de valor inquestionável contra essa
hipótese.
225
Às vezes acabamos por topar com alguma
coisa que nem estávamos procurando em
determinado momento, mas que vem reforçar
sobremaneira certo ponto já estudado por nós.
Assim, é que encontramos na obra A Dramática
História da Fé Cristã, de J. J. Van Der Leeuw, algo
importante para esse nosso estudo. De sua fala
sobre os cânones do Concílio de Niceia, ocorrido em
325, transcrevemos:
226
modo, pesquisando na obra O Livro Negro do
Cristianismo: Dois Mil anos de Crimes em Nome
de Deus descobrimos algo que nos chocou.
Vejamos:
227
feudais itálicos, prelados ambiciosos, imperadores
legítimos e seus rivais… cada um jogava com as
próprias cartas, que podiam ser intriga, homicídio,
revoltas populares ou invasões militares. Nos 130
anos entre a eleição de João VIII (873) e a morte
de Silvestre II (1003), houve 33 papas mais
quatro antipapas. Dez deles morreram
assassinados. Muitos foram presos ou
exilados. Poucos governaram por muito tempo,
muitos ficaram menos de um ano ou até
poucos dias. Nobres romanos e grandes
senhores feudais itálicos, imperadores
legítimos e seus rivais: todos procuravam
colocar no trono de Pedro um homem de sua
confiança.
Talvez isso possa explicar o que os
historiadores chamam de período da
pornocracia (ou seja, do “governo das
prostitutas”), (108) um dos mais negros da
história da Igreja.
De fato, por décadas, o poder de Roma esteve
nas mãos das mulheres da poderosa família
Teofilatto, que teve grande influência sobre a vida
pública e o papado, utilizando como instrumento de
poder qualquer meio à sua disposição, incluindo os
ilícitos e imorais. Aqui nos limitaremos a narrar as
saliências de alguns papas cuja conduta pode ser
definida como licenciosa. […]. (109)
228
é pura invenção dos líderes religiosos.
229
A única pessoa a quem nós seguimos é a Jesus.
Todos os espíritos que se apresentam para orientar
vêm em nome Dele; esses, sim, são realmente
discípulos de Jesus, não mais apegados às
convenções e interesses humanos, pois participando
do plano espiritual superior, não vivem mais essas
fraquezas; a missão que abraçaram com amor é
ajudar os que ficaram na retaguarda, dando-lhes
uma mãozinha para que evoluam mais rapidamente.
Inclusive, muitos deles, em vida, foram autoridades
eclesiásticas da Igreja Católica.
230
de tartaruga botar ovos não faz dela uma ave, ou
seja, embora a Umbanda tenha muita coisa em
comum com o que fazemos, ou acreditamos, nem
por isso ela se torna Espiritismo. A diferença entre
ela e o Espiritismo é maior do que entre o
catolicismo e o protestantismo.
231
Anteriormente o sr. bispo havia dito que entre
o Espiritismo e o Catolicismo só havia duas
divergências. Entretanto, agora, caindo-lhe a
máscara, conforme já havíamos previsto, listará
cerca de uma dúzia delas. Mas não se preocupe, sr.
bispo, as convergências aumentaram por algumas
práticas que estão sendo adotadas pelo seguimento
católico carismático: - imposição de mãos; nomes na
cestinha para pedir orações; copo d'água para
“abençoar”, etc. etc.
232
Espíritos:
233
As almas ou Espíritos são criados simples e
ignorantes, isto é, sem conhecimentos nem
consciência do bem e do mal, porém, aptos para
adquirir o que lhes falta. O trabalho é o meio de
aquisição, e o fim – que é a perfeição – é para
todos o mesmo. Conseguem-no mais ou menos
prontamente em virtude do livre-arbítrio e na razão
direta dos seus esforços; todos têm os mesmos
degraus a franquear, o mesmo trabalho a concluir.
Deus não aquinhoa melhor a uns do que a outros,
porquanto é justo, e, visto serem todos seus filhos,
não tem predileções. Ele lhes diz: Eis a lei que
deve constituir a vossa norma de conduta; ela só
pode levar-vos ao fim; tudo que lhe for conforme é
o bem; tudo que lhe for contrário é o mal. Tendes
inteira liberdade de observar ou infringir esta lei, e
assim sereis os árbitros da vossa própria sorte.
Conseguintemente, Deus não criou o mal; todas as
suas leis são para o bem, e foi o homem que criou
esse mal, divorciando-se dessas leis; se ele as
observasse escrupulosamente, jamais se desviaria
do bom caminho.
13. – Entretanto, a alma, qual criança, é
inexperiente nas primeiras fases da existência, e
daí o ser falível. Não lhe dá Deus essa experiência,
mas dá-lhe meios de adquiri-la. Assim, um passo
em falso na senda do mal é um atraso para a alma,
que, sofrendo-lhe as consequências, aprende à
sua custa o que importa evitar. Deste modo, pouco
a pouco, se desenvolve, aperfeiçoa e adianta na
hierarquia espiritual até ao estado de puro Espírito
ou anjo. Os anjos são, pois, as almas dos homens
chegados ao grau de perfeição que a criatura
comporta, fruindo em sua plenitude a prometida
234
felicidade. Antes, porém, de atingir o grau supremo,
gozam de felicidade relativa ao seu adiantamento,
felicidade que consiste, não na ociosidade, mas
nas funções que a Deus apraz confiar-lhes, e por
cujo desempenho se sentem ditosas, tendo ainda
nele um meio de progresso. (Vede 1ª Parte, cap.
III, “O céu”.)
14. – A Humanidade não se limita à Terra; habita
inúmeros mundos que no Espaço circulam; já
habitou os desaparecidos, e habitará os que se
formarem. Tendo-a criado de toda a eternidade,
Deus jamais cessa de criá-la. Muito antes que a
Terra existisse e por mais remota que a
suponhamos, outros mundos havia, nos quais
Espíritos encarnados percorreram as mesmas
fases que ora percorrem os de mais recente
formação, atingindo seu fim antes mesmo que
houvéramos saído das mãos do Criador.
De toda a eternidade tem havido, pois, puros
Espíritos ou anjos; mas, como a sua existência
humana se passou num infinito passado, eis que
os supomos como se tivessem sido sempre anjos
de todos os tempos.
15. – Realiza-se assim a grande lei de unidade
da Criação; Deus nunca esteve inativo e sempre
teve puros Espíritos, experimentados e
esclarecidos, para transmissão de suas ordens e
direção do Universo, desde o governo dos mundos
até os mais ínfimos detalhes. Tampouco teve Deus
necessidade de criar seres privilegiados, isentos de
obrigações; todos, antigos e novos, adquiriram
suas posições na luta e por mérito próprio; todos,
enfim, são filhos de suas obras.
235
E, desse modo, completa-se com igualdade a
soberana justiça do Criador. (111)
236
Em todos os graus existe, portanto, ignorância e
saber, bondade e maldade. Nas classes inferiores
destacam-se Espíritos ainda profundamente
propensos ao mal e comprazendo-se com o mal. A
estes pode-se denominar demônios, pois são
capazes de todos os malefícios aos ditos
atribuídos. O Espiritismo não lhes dá tal nome por
se prender ele à ideia de uma criação distinta do
gênero humano, como seres de natureza
essencialmente perversa, votados ao mal
eternamente e incapazes de qualquer progresso
para o bem.
21. – Segundo a doutrina da Igreja os demônios
foram criados bons e tornaram-se maus por sua
desobediência: são anjos colocados primitivamente
por Deus no ápice da escala, tendo dela decaído.
Segundo o Espiritismo os demônios são Espíritos
imperfeitos, suscetíveis de regeneração e que,
colocados na base da escala, hão de nela graduar-
se. Os que por apatia, negligência, obstinação ou
má-vontade persistem em ficar, por mais tempo,
nas classes inferiores, sofrem as consequências
dessa atitude, e o hábito do mal dificulta-lhes a
regeneração. Chega-lhes, porém, um dia a fadiga
dessa vida penosa e das suas respectivas
consequências; eles comparam a sua situação à
dos bons Espíritos e compreendem que o seu
interesse está no bem, procurando então
melhorarem-se, mas por ato de espontânea
vontade, sem que haja nisso o mínimo
constrangimento. “Submetidos à lei geral do
progresso, em virtude da sua aptidão para o
mesmo, não progridem, ainda assim, contra a
vontade.” Deus fornece-lhes constantemente os
237
meios, porém, com a faculdade de aceitá-los ou
recusá-los. Se o progresso fosse obrigatório não
haveria mérito, e Deus quer que todos tenhamos o
mérito de nossas obras. Ninguém é colocado em
primeiro lugar por privilégio; mas o primeiro lugar a
todos é franqueado à custa do esforço próprio.
Os anjos mais elevados conquistaram a sua
graduação, passando, como os demais, pela rota
comum.
22. – Chegados a certo grau de pureza, os
Espíritos têm missões adequadas ao seu
progresso; preenchem assim todas as funções
atribuídas aos anjos de diferentes categorias.
E como Deus criou de toda a eternidade, segue-
se que de toda a eternidade houve número
suficiente para satisfazer às necessidades do
governo universal. Deste modo uma só espécie de
seres inteligentes, submetida à lei de progresso,
satisfaz todos os fins da Criação.
Por fim, a unidade da Criação, aliada à ideia de
uma origem comum, tendo o mesmo ponto de
partida e trajetória, elevando-se pelo próprio
mérito, corresponde melhor à justiça de Deus do
que a criação de espécies diferentes, mais ou
menos favorecidas de dotes naturais, que seriam
outros tantos privilégios.
23. – A doutrina vulgar sobre a natureza dos
anjos, dos demônios e das almas, não admitindo a
lei do progresso, mas vendo todavia seres de
diversos graus, concluiu que seriam produto de
outras tantas criações especiais. E assim foi que
chegou a fazer de Deus um pai parcial, tudo
238
concedendo a alguns de seus filhos, e a outros
impondo o mais rude trabalho. Não admira que por
muito tempo os homens achassem justificação
para tais preferências, quando eles próprios delas
usavam em relação aos filhos, estabelecendo
direitos de primogenitura e outros privilégios de
nascimento. Podiam tais homens acreditar que
andavam mais errados que Deus?
Hoje, porém, alargou-se o circulo das ideias: o
homem vê mais claro e tem noções mais precisas
de justiça; desejando-a para si e nem sempre
encontrando-a na Terra, ele quer pelo menos
encontrá-la mais perfeita no Céu.
E aqui está por que lhe repugna à razão toda e
qualquer doutrina, na qual não resplenda a Justiça
Divina na plenitude integral da sua pureza. (112)
239
anjos caídos; ora, se anjos são seres perfeitos, não
há como caírem, porquanto, se caíram não eram
perfeitos. A passagem bíblica que buscam para apoio
dessas ideias é Isaías 14,12, cujo contexto se refere
ao rei da Babilônia e não a um ser maléfico.
240
pecado” (Deuteronômio 24,16), morremos em
virtude de Adão e Eva ter pecado; e ainda nascemos
com o pecado deles! É original, mesmo!…
241
Jeremias, Elias ou algum dos antigos profetas; e,
finalmente, quando responde peremptoriamente a
Nicodemos: “é-vos necessário nascer de novo” (João
3).
242
Uma vez que foi falado em juízo particular,
aproveitamos para falar que até hoje não
entendemos a teologia católica quanto ao juízo. Se
há um juízo particular depois da morte, como afirma
o sr. bispo, como explicar o julgamento dos mortos,
nos fins dos tempos, se eles já foram julgados?
O PURGATÓRIO
1. – O Evangelho não faz menção alguma do
purgatório, que só foi admitido pela Igreja no ano
de 593. É incontestavelmente um dogma mais
racional e mais conforme com a justiça de Deus
que o inferno, porque estabelece penas menos
rigorosas e resgatáveis para as faltas de gravidade
mediana.
O princípio do purgatório é, pois, fundado na
243
equidade, porque, comparado à justiça humana, é
a detenção temporária a par da condenação
perpétua. Que julgar de um país que só tivesse a
pena de morte para os crimes e os simples delitos?
Sem o purgatório, só há para as almas duas
alternativas extremas: a suprema felicidade ou o
eterno suplício. E nessa hipótese, que seria das
almas somente culpadas de ligeiras faltas? Ou
compartilhariam da felicidade dos eleitos, ainda
quando imperfeitas, ou sofreriam o castigo dos
maiores criminosos, ainda quando não houvessem
feito muito mal, o que não seria nem justo, nem
racional.
2. – Mas, necessariamente, a noção do
purgatório deveria ser incompleta, porque apenas
conhecendo a penalidade do fogo fizeram dele um
inferno menos tenebroso, visto que as almas aí
também ardem, embora em fogo mais brando.
Sendo o dogma das penas eternas incompatível
com o progresso, as almas do purgatório não se
livram dele por efeito do seu adiantamento, mas
em virtude das preces que se dizem ou que se
mandam dizer em sua intenção. E se foi bom o
primeiro pensamento, outro tanto não acontece
quanto às consequências dele decorrentes, pelos
abusos que originaram. As preces pagas
transformaram o purgatório em mina mais rendosa
que o inferno. (1)
3. – Jamais foram determinados e definidos
claramente o lugar do purgatório e a natureza das
penas aí sofridas. A Nova Revelação estava
reservado o preenchimento dessa lacuna,
explicando-nos a causa das terrenas misérias da
244
vida, das quais só a pluralidade das existências
poderia mostrar-nos a justiça.
Essas misérias decorrem necessariamente das
imperfeições da alma, pois se esta fosse perfeita
não cometeria faltas nem teria de sofrer-lhe as
consequências. O homem que na Terra fosse em
absoluto sóbrio e moderado, por exemplo, não
padeceria enfermidades oriundas de excessos.
O mais das vezes ele é desgraçado por sua
própria culpa, porém, se é imperfeito, é porque já o
era antes de vir à Terra, expiando não somente
faltas atuais, mas faltas anteriores não resgatadas.
Repara em uma vida de provações o que a outrem
fez sofrer em anterior existência. As vicissitudes
que experimenta são, por sua vez, uma correção
temporária e uma advertência quanto às
imperfeições que lhe cumpre eliminar de si, a fim
de evitar males e progredir para o bem. São para a
alma lições da experiência, rudes às vezes, mas
tanto mais proveitosas para o futuro, quanto
profundas as impressões que deixam. Essas
vicissitudes ocasionam incessantes lutas que lhe
desenvolvem as forças e as faculdades intelectivas
e morais. Por essas lutas a alma se retempera no
bem, triunfando sempre que tiver denodo para
mantê-las até ao fim.
O prêmio da vitória está na vida espiritual, onde
a alma entra radiante e triunfadora como soldado
que se destaca da refrega para receber a palma
gloriosa.
4. – Em cada existência, uma ocasião se depara
à alma para dar um passo avante; de sua vontade
depende a maior ou menor extensão desse passo:
245
franquear muitos degraus ou ficar no mesmo
ponto. Neste último caso, e porque cedo ou tarde
se impõe sempre o pagamento de suas dívidas,
terá de recomeçar nova existência em condições
ainda mais penosas, porque a uma nódoa não
apagada ajunta outra nódoa.
É, pois, nas sucessivas encarnações que a alma
se despoja das suas imperfeições, que se purga,
em uma palavra, até que esteja bastante pura para
deixar os mundos de expiação como a Terra, onde
os homens expiam o passado e o presente, em
proveito do futuro. Contrariamente, porém, à ideia
que deles se faz, depende de cada um prolongar
ou abreviar a sua permanência, segundo o grau de
adiantamento e pureza atingido pelo próprio
esforço sobre si mesmo. O livramento se dá, não
por conclusão de tempo nem por alheios méritos,
mas pelo próprio mérito de cada um, consoante
estas palavras do Cristo: – A cada um, segundo as
suas obras, palavras que resumem integralmente a
justiça de Deus.
5. – Aquele, pois, que sofre nesta vida pode
dizer-se que é porque não se purificou
suficientemente em sua existência anterior,
devendo, se o não fizer nesta, sofrer ainda na
seguinte. Isto é ao mesmo tempo equitativo e
lógico. Sendo o sofrimento inerente à imperfeição,
tanto mais tempo se sofre quanto mais imperfeito
se for, da mesma forma por que tanto mais tempo
persistirá uma enfermidade quanto maior a demora
em tratá-la. Assim é que, enquanto o homem for
orgulhoso, sofrerá as consequências do orgulho;
enquanto egoísta, as do egoísmo.
246
6. – Devido às suas imperfeições, o Espírito
culpado sofre primeiro na vida espiritual, sendo-lhe
depois facultada a vida corporal como meio de
reparação. É por isso que ele se acha nessa nova
existência, quer com as pessoas a quem ofendeu,
quer em meios análogos àqueles em que praticou
o mal, quer ainda em situações opostas à sua vida
precedente, como, por exemplo, na miséria, se foi
mau rico, ou humilhado, se orgulhoso.
A expiação no mundo dos Espíritos e na Terra
não constitui duplo castigo para eles, porém um
complemento, um desdobramento do trabalho
efetivo a facilitar o progresso. Do Espírito depende
aproveitá-lo. E não lhe será preferível voltar à
Terra, com probabilidades de alcançar o céu, a ser
condenado sem remissão, deixando-a
definitivamente? A concessão dessa liberdade é
uma prova da sabedoria, da bondade e da justiça
de Deus, que quer que o homem tudo deva aos
seus esforços e seja o obreiro do seu futuro; que,
infeliz por mais ou menos tempo, não se queixe
senão de si mesmo, pois que a rota do progresso
lhe está sempre franca.
7. – Considerando-se quão grande é o
sofrimento de certos Espíritos culpados no mundo
invisível, quanto é terrível a situação de outros,
tanto mais penosa pela impotência de preverem o
termo desses sofrimentos, poder-se-ia dizer que se
acham no inferno, se tal vocábulo não implicasse a
ideia de um castigo eterno e material.
Mercê, porém, da revelação dos Espíritos e dos
exemplos que nos oferecem, sabemos que o prazo
da expiação está subordinado ao melhoramento do
247
culpado.
8. – O Espiritismo não nega, pois, antes
confirma, a penalidade futura. O que ele destrói é o
inferno localizado com suas fornalhas e penas
irremissíveis. Não nega, outrossim, o purgatório,
pois prova que nele nos achamos, e definindo-o
precisamente, e explicando a causa das misérias
terrestres, conduz à crença aqueles mesmos que o
negam. Repele as preces pelos mortos? Ao
contrário, visto que os Espíritos sofredores as
solicitam; eleva-as a um dever de caridade e
demonstra a sua eficácia para os conduzir ao bem
e, por esse meio, abreviar-lhes os tormentos (113).
Falando à inteligência, tem levado a fé a muito
incrédulo, incutindo a prece no ânimo dos que a
escarneciam. O que o Espiritismo afirma é que o
valor da prece está no pensamento e não nas
palavras, que as melhores preces são as do
coração e não dos lábios, e, finalmente, as que
cada qual murmura de si mesmo e não as que se
mandam dizer por dinheiro. Quem, pois, ousaria
censurá-lo?
9. – Seja qual for a duração do castigo, na vida
espiritual ou na Terra, onde quer que se verifique,
tem sempre um termo, próximo ou remoto. Na
realidade não há para o Espírito mais que duas
alternativas, a saber: - punição temporária e
proporcional à culpa, e recompensa graduada
segundo o mérito. Repele o Espiritismo a terceira
alternativa, da eterna condenação. O inferno reduz-
se a figura simbólica dos maiores sofrimentos cujo
termo é desconhecido. O purgatório, sim, é a
realidade.
248
A palavra purgatório sugere a ideia de um lugar
circunscrito: eis por que mais naturalmente se
aplica à Terra do que ao Espaço infinito onde erram
os Espíritos sofredores, e tanto mais quanto a
natureza da expiação terrena tem os caracteres da
verdadeira expiação.
Melhorados os homens, não fornecerão ao
mundo invisível senão bons Espíritos; e estes,
encarnando-se, por sua vez só fornecerão à
Humanidade corporal elementos aperfeiçoados. A
Terra deixará, então, de ser um mundo expiatório e
os homens não sofrerão mais as misérias
decorrentes das suas imperfeições.
Aliás, por esta transformação, que neste
momento se opera, a Terra se elevará na
hierarquia dos mundos. (114)
10. – Mas, por que não teria o Cristo falado do
purgatório? É que, não existindo a ideia, não havia
palavra que a representasse.
O Cristo serviu-se da palavra inferno, a única
usada, como termo genérico, para designar as
penas futuras, sem distinção. Colocasse ele, ao
lado da palavra inferno, uma equivalente a
purgatório e não poderia precisar-lhe o verdadeiro
sentido sem ferir uma questão reservada ao futuro;
teria, enfim, de consagrar a existência de dois
lugares especiais de castigo. O inferno em sua
concepção genérica, revelando a ideia de punição,
encerrava, implicitamente, a do purgatório, que não
é senão um modo de penalidade.
Reservado ao futuro o esclarecimento sobre a
natureza das penas, competia-lhe igualmente
249
reduzir o inferno ao seu justo valor. Uma vez que a
Igreja, após seis séculos, houve por bem suprir o
silêncio de Jesus quanto ao purgatório,
decretando-lhe a existência, é porque ela julgou
que ele não havia dito tudo. E por que não havia de
dar-se sobre outros pontos o que com este se deu?
______
(1) O purgatório originou o comércio escandaloso das
indulgências, por intermédio das quais se vende a
entrada no céu. Este abuso foi a causa primaria da
Reforma, levando Lutero a rejeitar o purgatório. (115)
250
Eva, um outro momento ideal para criá-lo seria,
obviamente, quando instituiu os Dez Mandamentos.
Só que gostaríamos de ver alguém nos provando que
lá tem algo assim: quem não cumprir nenhum um
desses mandamentos irá para o inferno. Não há essa
pena; daí, se Ele a aplicou aos que infringiram foi
injusto, pois, nem a falha legislação humana aplica
uma penalidade não prevista em lei; e nem ao
menos um juízo sem defesa. Da mesma forma que
os demônios foram absorvidos da cultura persa isso
aconteceu com o inferno. Mas é útil manter esse
conceito, pois é também com ele que amedrontam
seus fiéis, para depois lhes tirar o dízimo como
pagamento por lhes tirar do fogo do inferno pelo
poder que Deus os investiu; é o que eles dizem.
251
mantida por “cegos que guiam cegos”.
252
em glória; semeia-se em fraqueza, ressuscitará em
vigor. E semeado o corpo animal, ressuscitará o
corpo espiritual. Eu vo-lo digo, meus irmãos, a
carne e o sangue não podem possuir o reino de
Deus, nem a corrupção possuirá a
incorruptibilidade.”
Muitos teólogos adotam essa interpretação,
dando aos corpos ressuscitados propriedades
desconhecidas da matéria carnal, fazendo-os
“luminosos, ágeis como Espíritos, sutis como o
éter, e impassíveis” (117).
Tal o verdadeiro sentido da ressurreição dos
mortos, como os primeiros cristãos a entendiam.
Se vemos, em uma época posterior, aparecer em
certos documentos, e em particular no símbolo
apócrifo dos apóstolos, a expressão “ressurreição
da carne”, é isso sempre no sentido da
reencarnação (118) – isto é, de volta à vida material
– ato pelo qual a alma reveste uma nova carne
para percorrer o campo de suas existências
terrestres. (119) (itálico do original)
253
propensos ao bem; assim, é com esse juízo que se
cumprirá a profecia de que os mansos herdarão a
Terra (Mateus 5,5).
254
grave perigo à hegemonia católica no Brasil, pois a
única coisa com que a Igreja se preocupou até hoje
foi em se manter no poder; caso contrário, teríamos
um povo menos violento e mais cumpridor de seus
deveres cristãos. Só que, por razões de justiça,
deveria também estender a todas as outras
correntes religiosas o que aplica a nós, pois sua
justificativa é que não seguimos a verdade da “santa
Fé”, coisa que os crentes das outras correntes
também não o fazem.
255
Inclusive, é uma situação que não fazemos a mínima
questão de mudar, pois temos plena liberdade de
interpretá-los da forma que acharmos melhor, de
acordo com o nosso nível de conhecimento e sem a
mínima preocupação em lotar as casas espíritas, já
que não cobramos dízimo; só vai lá quem quer ou
aqueles que acham necessitar de uma ajuda
espiritual, a qual, por amor, prestamos a todos
indistintamente, seguindo expressa recomendação
de Jesus quanto ao dar de graça o que de graça
recebemos (Mateus 10,8).
256
Isaías 8,19-20 e, de maneira particular, 1 Samuel
28,3-25.
Vejamos Deuteronômio 18,10-14: Que em teu
meio não se encontre alguém que' faça presságios,
oráculos, adivinhações ou magia, ou que pratique
encantamentos, interrogue espíritos ou adivinhos,
ou evoque os mortos; pois quem pratica essas
coisas é abominável a lahweh, e é por causa
dessas abominações que lahweh teu Deus os
desalojará em teu favor. Tu serás íntegro para com
lahweh teu Deus. Eis que as nações que vais
conquistar ouvem os oráculos e adivinhos. Quanto
a ti, isso não te é permitido por lahweh teu Deus.
A proibição divina é clara, repetida, enérgica e
severíssima.
Este mandamento divino não foi revogado na
Nova Aliança. Basta ler Atos dos Apóstolos 13,6-
12; 16,16-18; 19,11-20. Neste último texto,
descreve-se a atividade e a pregação de Paulo em
Éfeso, com um resultado surpreendente: Muitos
daqueles que haviam crido vinham-se confessar e
revelar as suas práticas. Grande número dos que
se haviam dado à magia amontoavam os seus
livros e os queimavam na presença de todos. E
estimaram o valor deles em cinquenta mil peças de
prata. Deviam ser muitos os livros de magia! O fato
de eles terem queimado esses livros só se explica
se admitirmos que o Apóstolo falou fortemente
contra tais práticas.
Na carta aos Gálatas (5,20-21), declara o
mesmo Apóstolo que os que se entregam à magia
não herdarão o Reino de Deus. E São João, no
Apocalipse, revela que a parte dos magos se
257
encontra no lago de fogo e enxofre (21,8); e que,
na hora do julgamento, eles ficarão de fora da
Cidade eterna (22,15).
Posteriormente, a Igreja sempre se manteve fiel
a esta rigorosa interdição divina de evocar os
falecidos. No último Concílio, o Vaticano II, na
Constituição Lumen Gentium (1964), temendo que
a doutrina sobre a nossa comunicação espiritual
com os falecidos pudesse dar azo a interpretações
do tipo espiritista, acrescentou ao texto a nota nº. 2
“contra qualquer forma de evocação dos espíritos”,
coisa que, segundo esclareceu a Comissão
teológica responsável pela redação do texto, nada
tem a ver com a “sobrenatural comunhão dos
santos”.
A Comissão definia então mais claramente o
que se proíbe: “A evocação pela qual se pretende
provocar, por meios humanos, uma comunicação
perceptível com os espíritos ou almas separadas,
com o fim de obter mensagens ou outros tipos de
auxílio”.
É exatamente isso o que o espiritismo pretende
fazer.
O Concílio Vaticano II remete-nos então a vários
documentos anteriores da Santa Sé,
principalmente à declaração de 4 de setembro de
1856 e à resposta de 24 de abril de 1917. Na
declaração de 4 de agosto de 1856, precisamente
quando o católico Allan Kardec se iniciava na arte
da evocação, era repetida a interdição de “evocar
as almas dos mortos e pretender receber as suas
respostas”.
258
No documento de 24 de abril de 1917 também
se declarava ilícito" assistir a sessões ou
manifestações espiritistas, sejam elas realizadas
ou não com o auxílio de um médium, com ou sem
hipnotismo, sejam quais forem estas sessões ou
manifestações, mesmo que aparentemente
simulem honestidade ou piedade; quer
interrogando almas ou espíritos, ou ouvindo-lhes
as respostas, quer assistindo a elas com o protesto
tácito ou expresso de não querer ter qualquer
relação com espíritos malignos".
Esta é a orientação oficial da Igreja.
Mas a Igreja, por seu magistério oficial, nunca
se pronunciou nem sobre a verdade histórica ou
autenticidade, nem sobre a natureza, nem sobre a
causa dos fenômenos mediúnicos ou próprios do
espiritismo. Por isso:
a) nenhuma das várias interpretações propostas
sobre a natureza ou a causa dos fenômenos
mediúnicos – nem mesmo a interpretação espírita -
foi censurada, rejeitada ou condenada oficialmente
pela Igreja;
b) não corresponde à verdade dizer que a Igreja
endossa oficialmente a interpretação que vê nos
fenômenos mediúnicos uma intervenção
preternatural do diabo;
c) jamais a Igreja proibiu o estudo ou a
investigação científica dos fenômenos mediúnicos.
O católico não está absolutamente proibido de
estudar a metapsíquica ou a parapsicologia.
O que a Igreja faz, fez e continuará a fazer, por
ser esta a sua missão específica, é recordar o
259
mandamento divino que proíbe evocar os falecidos
ou outros espíritos quaisquer. Esta proibição vem
de Deus, não da Igreja, que não tem nem
autoridade nem competência para modificar ou
revogar uma lei, determinação ou proibição divina.
Para resolver a questão moral da prática do
Espiritismo, pouco importa saber se os espíritas de
fato conseguem ou não evocar espíritos em suas
sessões; pois se o conseguem, não há dúvida a
respeito da evocação e, por conseguinte, da
desobediência; se não o conseguem, é certo que
eles têm ao menos a intenção, o propósito ou a
vontade deliberada de evocar e, portanto, de
transgredir um mandamento divino. E isto basta
para um pecado formal.
É necessário observar também a diferença
fundamental entre invocação e evocação: esta
sempre pretende uma comunicação perceptível
provocada por iniciativa do homem; aquela é
apenas uma forma de prece ou súplica. E é
evidente que a invocação é um ato bom e cristão,
expressão da comunhão dos santos. (120)
260
as almas dos homens, o verdadeiro ponto de
partida é a existência da alma. Ora, como pode o
materialista admitir que, fora do mundo material,
vivam seres, estando crente de que, em si próprio,
tudo é matéria? Como pode crer que,
exteriormente à sua pessoa, há Espíritos, quando
não acredita ter um dentro de si? Será inútil
acumular-lhe diante dos olhos as provas mais
palpáveis. Contesta-las-á todas, porque não admite
o princípio. (121)
261
A própria Bíblia está recheada de fenômenos
de comunicação de seres espirituais com os homens,
a ponto de se admitir que o próprio Deus tenha se
manifestado a algumas pessoas. O que ainda não
conseguimos entender é porque Deus criou a
realidade do intercâmbio entre os habitantes do
plano físico e espiritual, em vez de simplesmente
não ter criado essa possibilidade, que lhe seria
extremamente fácil. Será que a criou somente para
ter o prazer de punir os infratores? Tem algum
sentido isso?
262
Levítico 20,27: “O homem ou mulher que
pratica a necromancia ou adivinhação, é réu
de morte. Será apedrejado, e o seu sangue
cairá sobre ele.”
263
que ilustraram os templos dos ídolos e os antros
das sibilas.”
Nós perguntamos: que há de comum entre as
operações da magia e as evocações espíritas?
Houve tempo em que tais operações faziam fé e
acreditava-se na sua eficácia, mas hoje são
simplesmente ridículas. Ninguém as toma a sério,
e o Espiritismo condena-as. Na época em que
florescera a magia, era imperfeita a noção sobre a
natureza dos Espíritos, geralmente havidos por
seres dotados de poder sobre-humano.
A troco da própria alma, ninguém os evocava
que não fosse para obter favores da sorte e da
fortuna, achar tesouros, revelar o futuro ou obter
filtros. A magia com seus sinais, fórmulas e práticas
cabalísticas era increpada de fornecer segredos
para operar prodígios, constranger Espíritos a
ficarem às ordens dos homens e satisfazerem-lhes
os desejos. Hoje sabemos que os Espíritos são as
almas dos mortos e não os evocamos senão para
receber conselhos dos bons, moralizar os maus e
continuar relações com seres que nos são caros.
Eis o que diz o Espiritismo a tal respeito:
10. Não podereis obrigar nunca a presença de
um Espírito vosso igual ou superior em moralidade,
por vos faltar autoridade sobre ele; mas, do vosso
inferior, e sendo para seu beneficio, consegui-lo-
eis, visto como outros Espíritos vos secundam. (O
Livro dos Médiuns, 2ª Parte, cap. XXV.)
– A mais essencial de todas as disposições para
evocar é o recolhimento, quando desejarmos tratar
com Espíritos sérios. Com a fé e o desejo do bem,
264
mais aptos nos tornamos para evocar Espíritos
superiores. Elevando nossa alma por alguns
instantes de concentração no momento de evocá-
los, identificamo-nos com os bons Espíritos,
predispondo a sua vinda. (O Livro dos Médiuns, 2ª
Parte, cap. XXV.)
– Nenhum objeto, medalha ou talismã tem a
propriedade de atrair ou repelir Espíritos, pois a
matéria ação alguma exerce sobre eles. Nunca um
bom Espírito aconselha tais absurdos. A virtude
dos talismãs só pode existir na imaginação de
pessoas simplórias. (O Livro dos Médiuns, 2ª
Parte, cap. XXV.)
– Não há fórmulas sacramentais para evocar
Espíritos. Quem quer que pretendesse estabelecer
uma fórmula, poderia ser tachado de usar de
charlatanismo, visto que para os Espíritos puros a
fórmula nada vale. A evocação deve, porém, ser
feita sempre em nome de Deus. (O Livro dos
Médiuns, 2ª Parte, cap. XVII.)
– Os Espíritos que prefixam entrevistas em
lugares lúgubres, e a horas indevidas, são os que
se divertem a custa de quem os ouve. É sempre
inútil e muitas vezes perigoso ceder a tais
sugestões; inútil, porque nada se ganha além de
uma mistificação, e perigoso, não pelo mal que
possam fazer os Espíritos, mas pela influência que
tais fatos podem exercer sobre cérebros fracos. (O
Livro dos Médiuns, 2ª Parte, cap. XXV.)
– Não há dias nem horas mais especialmente
propícios às evocações: isso, como tudo que é
material, é completamente indiferente aos
Espíritos, além de ser supersticiosa a crença em
265
tais influências. Os momentos mais favoráveis são
aqueles em que o evocador pode abstrair-se
melhor das suas preocupações habituais, calmo de
corpo e de espírito. (O Livro dos Médiuns, 2ª Parte,
cap. XXV.)
– A crítica malévola apraz-se em representar as
comunicações espíritas revestidas das práticas
ridículas e supersticiosas da magia e da
nigromancia. Entretanto, se os que falam do
Espiritismo, sem conhecê-lo, procurassem estudá-
lo, poupariam trabalhos de imaginação e alegações
que só servem para demonstrar a sua ignorância e
má-vontade.
Para conhecimento das pessoas estranhas à
ciência, diremos que não há horas mais propícias,
umas que outras, como não há dias nem lugares,
para comunicar com os Espíritos. Diremos mais:
que não há fórmulas nem palavras sacramentais
ou cabalísticas para evocá-los; que não há
necessidade alguma de preparo ou iniciação; que é
nulo o emprego de quaisquer sinais ou objetos
materiais para atraí-los ou repeli-los, bastando para
tanto o pensamento; e, finalmente, que os médiuns
recebem deles as comunicações sem sair do
estado normal, tão simples e naturalmente como
se tais comunicações fossem ditadas por uma
pessoa vivente. Só o charlatanismo poderia
emprestar às comunicações formas excêntricas,
enxertando-lhes ridículos acessórios. (O que é o
Espiritismo, cap. II, nº 49.)
– O futuro é vedado ao homem por princípio, e
só em casos raríssimos e excepcionais é que Deus
faculta a sua revelação. Se o homem conhecesse
266
o futuro, por certo que negligenciaria o presente e
não agiria com a mesma liberdade. Absorvidos
pela ideia da fatalidade de um acontecimento, ou
procuramos conjurá-lo ou não nos preocupamos
dele. Deus não permitiu que assim fosse, a fim de
que cada qual concorresse para a realização dos
acontecimentos mesmos, que porventura desejaria
evitar. Ele permite, no entanto, a revelação do
futuro, quando o conhecimento prévio de uma
coisa não estorva, mas facilita a sua realização,
induzindo a procedimento diverso do que se teria
sem tal circunstância. (O Livro dos Espíritos, Parte
3ª, cap. X).
– Os Espíritos não podem guiar descobertas
nem investigações científicas. A Ciência é obra do
gênio e só deve ser adquirida pelo trabalho, pois é
por este que o homem progride. Que mérito
teríamos nós se, para tudo saber, apenas bastasse
interrogar os Espíritos? Por esse preço, todo
imbecil poderia tornar-se sábio. O mesmo se dá
relativamente aos inventos e descobertas da
indústria. Chegado que seja o tempo de uma
descoberta, os Espíritos encarregados da sua
marcha procuram o homem capaz de levá-la a bom
termo e inspiram-lhe as ideias necessárias, isto de
molde a não lhe tirar o respectivo mérito, que está
na elaboração e execução dessas ideias. Assim
tem sido com todos os grandes trabalhos da
inteligência humana. Os Espíritos deixam cada
indivíduo na sua esfera: do homem apenas apto
para lavrar a terra não fazem depositários dos
segredos de Deus, mas sabem arrancar da
obscuridade aquele que se mostra capaz de
secundar-lhes os desígnios. Não vos deixeis, por
267
conseguinte, dominar pela ambição e pela
curiosidade, em terreno alheio ao do Espiritismo,
que tais fitos não tem, pois com eles só
conseguireis as mais ridículas mistificações. (O
Livro dos Médiuns, 2ª Parte, cap. XXVI.)
– Os Espíritos não podem concorrer para a
descoberta de tesouros ocultos. Os superiores não
se ocupam de tais coisas e só os zombeteiros
podem entreter-se com elas, já indicando tesouros
que o mais das vezes não existem, já apontando
sítios diametralmente opostos àqueles em que
realmente existem. Esta circunstância tem,
contudo, uma utilidade, qual a de mostrar que a
verdadeira fortuna reside no trabalho. Quando a
Providência tem destinado a alguém quaisquer
riquezas ocultas, esse alguém as encontrará
naturalmente; do contrário não, nunca. (O Livro dos
Médiuns, 2ª Parte, cap. XXVI.)
– Esclarecendo-nos sobre as propriedades dos
fluidos – agentes e meios de ação do mundo
invisível constituindo uma das forças e potências
da Natureza – o Espiritismo nos dá a chave de
inúmeros fatos e coisas inexplicadas e
inexplicáveis de outro modo, fatos e coisas que
passaram por prodígios, em outras eras. Do
mesmo modo que o magnetismo, ele nos revela
uma lei, senão desconhecida, pelo menos
incompreendida, ou então, para melhor dizer,
efeitos de todos os tempos conhecidos, pois que
de todos os tempos se produziram, mas cuja lei se
ignorava e de cuja ignorância brotava a
superstição. Conhecida essa lei, desaparece o
maravilhoso e os fenômenos entram para a ordem
268
das coisas naturais. Eis por que os Espíritos não
produzem milagres, fazendo girar as mesas ou
escrever os mortos, como milagre não faz o
médico em restituir à vida o moribundo, e o físico
provocando a queda do raio. Quem pretendesse
fazer milagres pelo Espiritismo não passaria de
ignorante, ou então de mero prestidigitador. (O
Livro dos Médiuns, 1ª Parte, cap. II.)
Pessoas há que fazem das evocações uma
ideia muito falsa: há mesmo quem acredite que os
mortos evocados se apresentam com todo o
aparelho lúgubre do túmulo. Tais suposições
podem ser atribuídas ao que vemos nos teatros ou
lemos nos romances e contos fantásticos, onde os
mortos aparecem amortalhados com o chocalhar
dos ossos.
O Espiritismo, que nunca fez milagres, também
não faz esse, pois que jamais fez reviver um corpo
morto. O Espírito, fluídico, inteligente, esse não
baixa à campa com o grosseiro invólucro, que lá
fica definitivamente. Separa-se dele no momento
da morte, e nada mais têm de comum entre si. (O
que é o Espiritismo, cap. II, n.º 48.) (122)
269
Certo, pode haver quem abuse das evocações,
quem delas faça um jogo, quem lhes desnature o
caráter providencial em proveito de interesses
pessoais, ou ainda quem por ignorância,
leviandade, orgulho ou ambição se afaste dos
verdadeiros princípios da Doutrina; o verdadeiro
Espiritismo, o Espiritismo sério os condena porém,
tanto quanto a verdadeira religião condena os
crentes hipócritas e os fanáticos. Portanto, não é
lógico nem razoável imputar ao Espiritismo abusos
que ele é o primeiro a condenar, e os erros
daqueles que o não compreendem. Antes de
formular qualquer acusação, convém saber se é
justa. Assim, diremos: A censura da Igreja recai nos
charlatães, nos especuladores, nos praticantes de
magia e sortilégio, e com razão. Quando a crítica
religiosa ou céptica, dissecando abusos, profliga o
charlatanismo, não faz mais que realçar a pureza
da sã doutrina, auxiliando-a no expurgo de maus
elementos e facilitando-nos a tarefa. O erro da
critica está no confundir o bom e o mau, o que
muitas vezes sucede pela má-fé de alguns e pela
ignorância do maior número. Mas a distinção que
uma tal crítica não faz, outros a fazem. Finalmente,
a censura aplicada ao mal e à qual todo espírita
sincero e reto se associa, essa nem prejudica nem
afeta a Doutrina. (123)
270
soar da meia-noite, para que os fantasmas
apareçam. (124)
Os médiuns e os feiticeiros
V. – Desde que a mediunidade não é mais que
um meio de entrar em relação com as potências
ocultas, médiuns e feiticeiros são mais ou menos a
mesma coisa.
A.K. – Em todos os tempos houve médiuns
naturais e inconscientes que, pelo simples fato de
produzirem fenômenos insólitos e
incompreendidos, foram qualificados de feiticeiros
e acusados de pactuarem com o diabo; foi o
mesmo que se deu com a maioria dos sábios que
dispunham de conhecimentos acima do vulgar. A
ignorância exagerou seu poder e, muitas vezes,
eles mesmos abusaram da credulidade pública,
explorando-a; daí a justa reprovação que os feriu.
Basta-nos comprar o poder atribuído aos
feiticeiros com a faculdade dos verdadeiros
médiuns, para conhecermos a diferença, mas a
maioria dos críticos não se quer dar a esse
trabalho.
Longe de fazer reviver a feitiçaria, o Espiritismo
a aniquila, despojando-a do seu pretenso poder
sobrenatural, das suas fórmulas, engrimanços,
amuletos e talismãs, e reduzindo a seu justo valor
os fenômenos possíveis, sem sair das leis naturais.
A semelhança que certas pessoas pretendem
estabelecer, provém do erro em que estão,
julgando que os Espíritos estão às ordens dos
médiuns; repugna à sua razão crer que um
271
indivíduo qualquer possa, à vontade, fazer
comparecer o Espirito tal ou tal personagem, mais
ou menos ilustre; nisto eles estão perfeitamente
com a verdade, e, se antes de apedrejarem o
Espiritismo, se tivessem dado ao trabalho de
estudá-lo, veriam que ele diz positivamente que os
Espíritos não estão sujeitos aos caprichos de
ninguém, que ninguém pode, à vontade,
constrangê-los a responder ao seu chamado; do
que se conclui que os médiuns não são feiticeiros:
(125)
272
aqui imposta com o “não matarás”.
273
Êxodo 22,20: “Quem sacrificar aos
deuses, e não somente ao Senhor, será
destruído.”
274
que morra; assim eliminarás o mal do meio
de ti: todo o Israel ouvirá e temerá.”
Ave-Maria
275
filho ou sua filha, nem quem se dê à
adivinhação, à astrologia, aos agouros, ao
feiticismo, à magia, ao espiritismo, à
adivinhação ou à evocação dos mortos.”
Barsa
276
mortos acerca dos vivos?”
Bíblia de Jerusalém
Bíblia do Peregrino
277
respeito dos vivos, em busca de instruções
seguras?”
Pastoral
Paulinas
278
Isaías 8,19: “E, quando vos disserem:
Consultai os magos e os adivinhos, que
murmuram em segredo nos seus
encantamentos, (respondei): Porventura o
povo não há de consultar o seu Deus? Há
de ir falar com os mortos acerca dos
vivos?”
Santuário
Vozes
279
feiticeiro; nem quem se dê à magia,
consulte médiuns, interrogue espíritos ou
evoque os mortos.”
280
que seus textos guardam fidelidade aos textos
originais, percebemos claramente que só se for
naquilo que lhes interessam, pois, como provamos
acima, existem passagens que contêm palavras que
são colocadas propositalmente para atingir uma
outra corrente filosófico-religiosa, qual seja o
Espiritismo, que, por questão de ética, não segue o
mesmo comportamento utilizado por eles.
281
fins de adivinhação, coisa que nada tem a ver com
o Espiritismo; e o sr. bispo sabe muito bem disso;
entretanto, no combate torpe do onde os fins
justificam os meios, usa de armas sutis, pois que
dificilmente o crente deixará de acreditar no que
“está escrito” ou na palavra dele, para perceber que
a verdade é bem diversa daquilo que lhe colocam.
282
pessoa que eu lhe disser'. A mulher, porém,
respondeu: 'Você sabe o que fez Saul,
expulsando do país os necromantes e
adivinhos. Por que está armando uma cilada,
para eu ser morta?' Então Saul jurou por Javé:
'Pela vida de Javé, nenhum mal vai lhe
acontecer por causa disso'. A mulher
perguntou: 'Quem você quer que eu chame?'
Saul respondeu: 'Chame Samuel'. Quando a
mulher viu Samuel aparecer, deu um grito e
falou para Saul: 'Por que você me enganou?
Você é Saul!' O rei a tranquilizou: 'Não tenha
medo. O que você está vendo?' A mulher
respondeu: 'Vejo um espírito subindo da
terra'. Saul perguntou: 'Qual é a aparência
dele?' A mulher respondeu: 'É a de um ancião
que sobe, vestido com um manto'. Então Saul
compreendeu que era Samuel, e se prostrou
com o rosto por terra. Samuel perguntou a
Saul: 'Por que você me chamou, perturbando o
meu descanso?' Saul respondeu: 'É que estou
em situação desesperadora: os filisteus estão
guerreando contra mim. Deus se afastou de
mim e não me responde mais, nem pelos
profetas, nem por sonhos. Por isso, eu vim
chamar você, para que me diga o que devo
fazer'. Samuel respondeu: 'Por que você veio
me consultar, se Javé se afastou de você e se
tornou seu inimigo? Javé fez com você o que já
lhe foi anunciado por mim: tirou de você a
realeza e a entregou para Davi. Porque você
283
não obedeceu a Javé e não executou o ardor
da ira dele contra Amalec. É por isso que Javé
hoje trata você desse modo. E Javé vai
entregar aos filisteus tanto você, como seu
povo Israel. Amanhã mesmo, você e seus filhos
estarão comigo, e o acampamento de Israel
também: Javé o entregará nas mãos dos
filisteus'. Saul caiu imediatamente no chão,
apavorado com as palavras de Samuel. Estava
enfraquecido, porque ficara o dia todo e toda a
noite sem comer. A mulher chegou perto de
Saul e, vendo que ele estava apavorado, disse:
'Sua serva obedeceu. Arrisquei minha vida
para fazer o que o senhor estava pedindo.
Agora, também o senhor deve obedecer à sua
serva. Vou lhe trazer um pedaço de pão. Coma
e recupere as forças para ir embora'. Saul,
porém, recusou: 'Não vou comer nada'. Mas
seus servos e a mulher insistiram tanto, que
ele acabou cedendo: levantou-se do chão e
sentou-se na cama. A mulher tinha um bezerro
cevado. Abateu o bezerro, pegou farinha,
amassou-a e cozinhou uns pães sem fermento.
Depois serviu Saul e seus servos. Eles
comeram e se puseram a caminho na mesma
noite.”
284
uma passagem que prova biblicamente a
possibilidade da comunicação entre os mortos e os
vivos, apesar de negarem tal fato.
285
Vejamos, agora, o argumento de que este
mandamento, ou seja, o da proibição de evocar os
mortos, não foi revogado na Nova Aliança,
analisando as passagens citadas.
286
também ao sr. bispo; da mesma forma que cego só
vê escuridão, o nosso prelado só vê espírita como
mago. Lamentável para a posição de liderança que
ocupa.
287
subjugações e possessões de espíritos; então, onde
está o nosso erro se estamos fazendo igual? Só
católicos podem fazer isso, com a prática do
exorcismo? Será que o cúmulo do egoísmo chegou a
esse ponto? E o que Jesus disse não vale nada? Veja
sr. bispo: “João disse a Jesus: 'Mestre, vimos um
homem que expulsa demônios em teu nome. Mas
nós lhe proibimos, porque ele não nos segue”. Jesus
disse: 'Não lhe proíbam, pois ninguém faz um
milagre em meu nome e depois pode falar mal de
mim. Quem não está contra nós, está a nosso
favor.'” (Marcos 9, 38-40) Como o discípulo não pode
ser superior ao Mestre, seguimos a Jesus.
288
Jesus e sei quem é Paulo; mas quem são
vocês?’ E o homem que estava possesso do
espírito mau pulou sobre eles com tanta
violência, que tiveram de fugir daquela casa,
sem roupas e cobertos de ferimentos. E toda a
população de Éfeso, judeus e gregos, ficou
sabendo do fato. O temor se apossou de todos.
E a grandeza do nome de Jesus era exaltada.
Muitos fiéis acorriam para acusar-se em voz
alta de suas práticas mágicas, e um bom
número dos que praticavam magia
amontoaram seus livros e os queimaram em
praça pública. O valor desses livros foi
calculado em cinquenta mil moedas de prata.
Assim, a Palavra do Senhor crescia e se
firmava com grande poder.”
289
qualquer coisa.
290
feiticeiros, idólatras, e todos os mentirosos, o
lugar deles é o lago ardente de fogo e enxofre,
que é a segunda morte.”
291
apareceram Moisés e Elias, conversando
com Jesus. Então Pedro tomou a palavra, e
disse a Jesus: ‘Senhor, é bom ficarmos aqui. Se
queres, vou fazer aqui três tendas: uma para ti,
outra para Moisés, e outra para Elias.’ Pedro
ainda estava falando, quando uma nuvem
luminosa os cobriu com sua sombra, e da
nuvem saiu uma voz que dizia: ‘Este é o meu
Filho amado, que muito me agrada. Escutem o
que ele diz.’ Quando ouviram isso, os
discípulos ficaram muito assustados, e caíram
com o rosto por terra. Jesus se aproximou,
tocou neles e disse: ‘Levantem-se, e não
tenham medo.’ Os discípulos ergueram os
olhos, e não viram mais ninguém, a não ser
somente Jesus. Ao descerem da montanha,
Jesus ordenou-lhes: ‘Não contem a ninguém
essa visão, até que o Filho do Homem
tenha ressuscitado dos mortos.’”
292
dos mortos”. Como Jesus, o tempo todo, se igualou a
nós, não há motivo algum para que não façamos o
que ele fez; até ao contrário, pois nos disse: “tudo o
que eu fiz vós podeis fazer e muito mais” (João
14,12).
293
mundo precisamente para perturbar a paz, para
afogar os frutos do Concílio ecumênico e para
impedir a Igreja de cantar a sua alegria por ter
retomado plena consciência de si própria. (126)
294
pronunciou, por que então da sua condenação? Não
estaria aí o discípulo sendo maior que o mestre?
295
gravações apareceram as “vozes do além”, sem que
ele tivesse feito alguma coisa para que isso
ocorresse.
296
O Dicionário Houaiss, define:
297
em paz” com tudo isso; coitados deles!
298
para junto de vós não o podem, nem tampouco
atravessarem os de lá até nós (v. 26).
O falecido epulão insiste no seu pedido com
uma proposta filantrópica: Pai, eu te suplico, envia
então Lázaro até a casa de meu pai, pois tenho
cinco irmãos; que ele os advirta, para que não
venham eles também para este lugar de tormento.
Era uma sugestão que parecia muito boa.
Estabelecer-se-ia um útil intercâmbio entre os do
além, com seus novos conhecimentos, e os da
terra, sempre necessitados de esclarecimento e
orientação. No entanto, a resposta do céu é seca:
Eles têm Moisés e os Profetas; que os ouçam! (v.
29).
Mas o proponente insiste, com uma justificação:
Não, pai Abraão, se alguém dentre os mortos for
procurá-los, eles se converterão. A razão parece
óbvia. É a solução proposta também pelos atuais
movimentos espiritistas. Se é verdade que as
almas dos falecidos sobrevivem conscientemente e
que elas continuam solidárias conosco, afirmações
que são corroboradas pela Bíblia e ensinadas pela
Igreja católica, por que não poderia o Criador
escolher esta via para trazer revelações úteis do
além? A resposta do céu, entretanto, segundo
Jesus, é sem rodeios: Se não escutam nem Moisés
nem os Profetas, mesmo que alguém ressuscite
dos mortos não se convencerão (v. 31).
É a rejeição pura e simples da via espiritista.
Deus certamente quer que todos os homens
sejam salvos e cheguem ao conhecimento da
verdade (1 Tim 2,4). Ele não quer deixar-nos na
299
ignorância. Mas o Criador dos homens escolheu
outra via para instruir-nos sobre o sentido da vida e
o destino eterno. Na Constituição dogmática Dei
Verbum, de 1965, o Concílio Vaticano II resume
assim, no nº. 2, o plano divino da revelação:
“Aprouve a Deus, na sua bondade e sabedoria,
revelar-se a si mesmo e tornar conhecido o
mistério de sua vontade (cf. Ef 1,9), pelo qual os
homens, por intermédio de Cristo, Verbo feito
carne, e no Espírito Santo, têm acesso ao Pai e se
tornam participantes da natureza divina. Mediante
esta revelação, portanto, o Deus invisível, levado
por seu grande amor, fala aos homens como a
amigos (cf. E:x 33,11; Jo 15,14-15), e com eles se
entretém para os convidar à comunhão consigo e
nela os receber. Este plano de revelação se
concretiza através de acontecimentos e palavras
intimamente conexas entre si, de forma que as
obras realizadas por Deus na história da salvação
manifestam e corroboram os ensinamentos e as
realidades significadas pelas palavras. Estas, por
sua vez, proclamam as obras e elucidam o mistério
nelas contido. No entanto, o conteúdo profundo da
verdade, seja a respeito de Deus seja da salvação
do homem, se nos manifesta por meio dessa
revelação em Cristo, que é ao mesmo tempo
mediador e plenitude de toda a revelação”.
Deste plano de revelação estão excluídos os
falecidos. Depois de Moisés e dos Profetas, Deus
nos enviou o seu Filho, o Verbo eterno que ilumina
todos os homens, para que habitasse entre os
homens e lhes expusesse os segredos de Deus
(cf. Jo 1,1-18). Com Jesus recebemos a plenitude
300
da revelação necessária para a nossa salvação.
Ele se apresenta a si mesmo com uma
declaração solene: Eu sou o caminho, a verdade e
a vida (Jo 14,6).
Ele está cheio de verdade (Jo 1,14).
Nele se acham escondidos todos os tesouros da
sabedoria e do conhecimento (Col 2,3).
Ele é pessoalmente o anunciado e prometido
Emanuel, Deus-com-os-homens.
Ele é para nós como a Nuvem luminosa do
Êxodo: Eu sou a luz do mundo. Quem me segue
não andará nas trevas, mas terá a luz da vida (Jo
8,12).
Ele é a luz das gentes (Lc 2,32), o Sol nascente
que ilumina os que estão nas trevas (Lc 1,78-79).
Eu, a luz, vim ao mundo para que aquele que
crê em mim não permaneça nas trevas (Jo 12,46).
Não necessitamos perturbar o repouso dos
falecidos (cf. 1 Sm 28,15). O Concílio Vaticano II,
na citada Constituição Dei Verbum (n. 4b), garante-
nos que “a economia cristã, como aliança nova e
definitiva, jamais passará, e já não há que esperar
nenhuma nova revelação pública antes da gloriosa
manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo (cf. 1
Tim 6,14; Tt 2,13)”.
Não haverá “terceira revelação”.
O espiritismo, que pretende ser precisamente
essa “terceira revelação”, não só não entra nos
planos de Deus Revelador, mas se opõe à
economia divina. (127)
301
Todo estudioso da Bíblia sabe muito bem que
não se pode tomar tudo ao pé da letra; veja, por
exemplo, essa passagem: “Não pensem que eu vim
trazer paz à terra; eu não vim trazer a paz, e sim a
espada. De fato, eu vim separar o filho de seu pai, a
filha de sua mãe, a nora de sua sogra. E os inimigos
do homem serão os seus próprios familiares. Quem
ama seu pai ou mãe mais do que a mim, não é digno
de mim. Quem ama seu filho ou sua filha mais do
que a mim, não é digno de mim.” (Mateus 10,34-37)
Ninguém, em sã consciência, quererá tomá-la ao pé
da letra; da mesma forma, devemos entender a fala
de Jesus sobre a condenação ao inferno, já que isso
contraria o que Ele mesmo nos mostra da
misericórdia de Deus.
302
cheio de feridas, que estava caído à porta do
rico. Ele queria matar a fome com as sobras
que caíam da mesa do rico. E ainda vinham os
cachorros lamber-lhe as feridas. Aconteceu que
o pobre morreu, e os anjos o levaram para
junto de Abraão. Morreu também o rico, e foi
enterrado. No inferno, em meio aos tormentos,
o rico levantou os olhos, e viu de longe Abraão,
com Lázaro a seu lado. Então o rico gritou: ‘Pai
Abraão, tem piedade de mim! Manda Lázaro
molhar a ponta do dedo para me refrescar a
língua, porque este fogo me atormenta.’ Mas
Abraão respondeu: ‘Lembre-se, filho: você
recebeu seus bens durante a vida, enquanto
Lázaro recebeu males. Agora, porém, ele
encontra consolo aqui, e você é atormentado.
Além disso, há um grande abismo entre nós:
por mais que alguém desejasse, nunca poderia
passar daqui para junto de vocês, nem os daí
poderiam atravessar até nós.’ O rico insistiu:
‘Pai, eu te suplico, manda Lázaro à casa de
meu pai, porque eu tenho cinco irmãos. Manda
preveni-los, para que não acabem também
eles vindo para este lugar de tormento.’ Mas
Abraão respondeu: ‘Eles têm Moisés e os
profetas: que os escutem!” O rico insistiu:
“Não, pai Abraão! Se um dos mortos for até
eles, eles vão se converter.’ Mas Abraão lhe
disse: ‘Se eles não escutam a Moisés e aos
profetas, mesmo que um dos mortos
ressuscite, eles não ficarão convencidos.’”
303
O que podemos retirar dessa parábola, senão
isso?:
304
impossível, e não que seria inútil.
305
ressurreição de Jesus, em espírito, obviamente, é o
maior atestado que há comunicação entre os dois
planos. Mas, para fugir dessa verdade, se prega a
ressurreição da carne, principalmente para justificar
que Jesus apareceu de carne e osso, já que não se
sabe o destino dado ao Seu corpo físico, prato cheio
para os dogmáticos afirmarem que apareceu
corporalmente. Não ligam a mínima para “o espírito
é que dá vida, a carne de nada serve” (João 6,63), “a
carne e o sangue não poderão herdar o reino de
Deus” (1 Coríntios 15,50), “Deus é Espírito” (João
4,24), “Pai em tuas mãos entrego o meu Espírito”
(Lucas 23,46), passagens que corroboram a questão
da forma espiritual que Jesus se apresentou depois
de morto.
306
ponto de afirmar que “no plano de Deus para se
revelar aos homens estão excluídos os falecidos”;
com base em que, não sabemos; mas dirão que
receberam essa revelação do Espírito Santo; é o que,
certamente, se pode esperar. Só que pediríamos
mais coerência ao sr. bispo, pois, a manter esse
pensamento, não poderá aceitar que Jesus, já morto,
revelou alguma coisa a Paulo, o apóstolo dos gentios.
307
É certo que Jesus não disse tudo a seus
discípulos, já que, para Ele, eles ainda não tinham
capacidade de entender (João 16,12), o que nos
deixa diante da certeza que seus ensinamentos
ainda não estavam completos. Por isso Ele prometeu
a vinda do Espírito de Verdade para completar esses
ensinamentos. Bom, para nós, não há dúvida alguma
de que Jesus, usando o codinome de Espírito de
Verdade, foi quem, pessoalmente, coordenou todos
os Espíritos que participaram dessa nova revelação
aos homens, justamente porque viu que a atual
liderança religiosa não estava conseguindo
apreender aquilo que Ele havia ensinado. Quem
quiser se informar mais sobre esse assunto leia o
nosso texto O consolador veio no Pentecostes?
(128) e também o nosso ebook “Espírito de Verdade,
Quem Seria Ele? (129).
A HERESIA DA REENCARNAÇÃO
A suposição da reencarnação ou da pluralidade
das existências, chamada também palingenesia, é
certamente o ponto central de toda a doutrina
espírita. Allan Kardec chega a dizer que é um
"dogma" (O Livro dos Espíritos, ns. 171 e 222).
Todo o seu pensamento gira em torno das vidas
308
sucessivas. O progresso contínuo através da
reencarnação, da “metensomatose”, como diria
Platão, é o seu postulado básico. Se riscarmos de
suas obras a reencarnação, sobrarão apenas
cacos sem valor. Depois da sua morte, em 1870,
seus amigos fizeram gravar no monumental
dólmen do cemitério Père-Lachaise, em Paris, o
apotegma que resume a sua doutrina: “Nascer,
morrer, renascer de novo e progredir sem cessar:
esta é a lei”.
A palavra “reencarnação”, composta do prefixo
re (designativo de repetição) e do verbo encarnar
(tomar corpo), significa etimologicamente: tornar a
tomar corpo. Designa a ação do ser espiritual
(espírito ou alma) que, tendo já animado um corpo
no passado, foi posteriormente dele separado pela
morte e agora torna a informar ou vivificar um
corpo novo.
Escreve Allan Kardec que “o princípio da
reencarnação ressalta de muitas passagens das
Escrituras, achando-se especialmente formulado,
de modo explícito, no Evangelho” (0 Livro dos
Espíritos, n. 222). Opina mesmo que “sem o
princípio da preexistência da alma e da pluralidade
das existências, são ininteligíveis, em sua maioria,
as máximas do Evangelho” (O Evangelho segundo
o Espiritismo, 39ª ed., p. 72).
O vocábulo “reencarnação” não ocorre nos
Evangelhos. O mais importante, porém, não é a
palavra e sim a doutrina acerca da reencarnação,
que pode ser compendiada nestas quatro
proposições:
1ª Pluralidade das existências: a nossa vida
309
atual não é a primeira nem será a última existência
corporal; já vivemos e ainda teremos que viver
inúmeras vezes em corpos materiais sempre
novos.
2ª Progresso contínuo para a perfeição: a lei do
progresso impele a alma para sempre novas vidas
e não permite não só nenhum regresso, mas nem
mesmo um estacionamento definitivo a meio
caminho, e muito menos comporta um estado
definitivo de condenação sem fim (inferno): mais
século, menos século, todos chegarão à perfeição
final de espírito puro.
3ª Conquista da meta final por méritos próprios:
em cada nova existência, a alma avança e progride
na proporção dos seus esforços; todo o mal
cometido será reparado com expiações pessoais,
sofridas pelo próprio espírito em novas e difíceis
encarnações (lei do carma).
4ª Definitiva independência do corpo: na
proporção em que avança na incessante conquista
para a perfeição final, a alma, em suas novas
encarnações, assumirá um corpo sempre menos
material, até chegar ao estado definitivo, em que
viverá, para sempre, livre do corpo e independente
da matéria.
Sem estes quatro princípios, não há
reencarnação. Quem proclama a reencarnação
também afirma a pluralidade das existências
terrestres, sustenta o progresso contínuo para a
perfeição, garante a conquista da meta final por
méritos próprios e defende uma vida definitiva
independente da matéria.
310
Mas quem nega estes pontos, quem contesta as
vidas sucessivas do homem sobre a terra, a
marcha irreprimível e certa para o fim supremo, a
necessidade de adquirir a perfeição final só por
esforços pessoais e a definitiva independência da
matéria, recusará também a ideia da
reencarnação.
Por conseguinte, para sabermos se Jesus foi
reencarnacionista, teremos o seguinte critério:
basta verificar se aceitou ou não aqueles pontos.
Daí surgem quatro indagações. (130)
311
A vida futura
2. Por essas palavras, Jesus claramente se
refere à vida futura, que ele apresenta, em todas
as circunstâncias, como a meta a que a
Humanidade irá ter e como devendo constituir
objeto das maiores preocupações do homem na
Terra. Todas as suas máximas se reportam a esse
grande princípio. Com efeito, sem a vida futura,
nenhuma razão de ser teria a maior parte dos seus
preceitos morais, donde vem que os que não
creem na vida futura, imaginando que ele apenas
falava na vida presente, não os compreendem, ou
os consideram pueris.
Esse dogma pode, portanto, ser tido como o
eixo do ensino do Cristo, pelo que foi colocado
num dos primeiros lugares à frente desta obra. E
que ele tem de ser o ponto de mira de todos os
homens; só ele justifica as anomalias da vida
terrena e se mostra de acordo com a justiça de
Deus. (131)
312
tinham desde tempos imemoriais. A ideia da
transmigração das almas formava, pois, uma
crença vulgar, aceita pelos homens mais
eminentes. De que modo a adquiriram? Por uma
revelação, ou por intuição? Ignoramo-lo. Seja,
porém, como for, o que não padece dúvida é que
uma ideia não atravessa séculos e séculos, nem
consegue impor-se a inteligências de escol, se não
contiver algo de sério. Assim, a ancianidade desta
doutrina, em vez de ser uma objeção, seria prova a
seu favor. Contudo, entre a metempsicose dos
antigos e a moderna doutrina da reencarnação, há,
como também se sabe, profunda diferença,
assinalada pelo fato de os Espíritos rejeitarem, de
maneira absoluta, a transmigração da alma do
homem para os animais e reciprocamente. (132)
313
Adoramos a frase muito cristã do sr. bispo “se
riscarmos de suas obras a reencarnação, sobrarão
cacos sem valor”; mas não se poderia esperar coisa
melhor de um adversário, não é mesmo? Poderíamos
perguntar-lhe: se todas as obras assistenciais
desenvolvidas pelos Espíritas são também cacos sem
valor… Relembrando Jesus: “Conhece-se a árvore
pelos frutos.”
314
perfeição.” Vê-se, portanto, que, literalmente,
riscaram a reencarnação da Bíblia.
315
proposições que o sr. bispo usou para negar a
reencarnação no Evangelho.
Pluralidade de existências?
Ensinou Jesus a pluralidade das vidas
terrestres? Quem conhece, lê e medita
habitualmente as sagradas páginas do Evangelho,
verificará facilmente que Jesus, quando fala desta
nossa atual vida terrestre, costuma atribuir-lhe um
valor decisivo para toda a existência posterior à
morte; verificará ainda que Jesus insiste muito na
importância culminante da hora da morte,
advertindo-nos frequentemente de que devemos
estar sempre prontos e preparados para prestar
contas da nossa vida ao Juiz Divino, prometendo
aos justos recompensa imediata depois do
desenlace e contestando abertamente a
possibilidade de arrependimento e perdão, uma
vez passados os umbrais da eternidade; verificará
ainda que Jesus desconhece quaisquer
vagabundeios pelos espaços ou, como dizem os
espíritas, na “erraticidade”, para “progredir
continuamente”.
Já consideramos a parábola do pobre Lázaro e
do rico epulão (Lc 16,19-31). Nela não
encontramos nenhuma perspectiva para novas
316
encarnações, nem para Lázaro, nem para o
epulão. Ao ladrão arrependido, crucificado ao lado
de Jesus, o divino Salvador prometeu: Hoje mesmo
estarás comigo no paraíso (Lc 23,43). Naquele
mesmo dia! Nada de purificar-se em sucessivas
existências e de andar pela erraticidade. Desde
que o homem se arrependa sinceramente dos
pecados cometidos, por maiores que tenham sido,
e receba o perdão divino, entra no gozo do seu
Senhor.
Particularmente claro é São Paulo, fiel discípulo
e zeloso Apóstolo de Jesus Cristo e que nos
assegura ter recebido o seu evangelho diretamente
de Jesus (Gal 1,12). Eis o que escreve aos
Hebreus: Está decretado que o homem morra uma
só vez, e depois disto virá o julgamento (Heb 9,27).
Morra uma só vez! Não mais vezes, não muitas
vezes, não um número indefinido de vezes: uma só
vez! É a afirmação explícita da unicidade da vida
terrestre contra o princípio reencarnacionista da
pluralidade das existências. É, em outras palavras,
a condenação explícita da teoria da reencarnação.
Foi o que recentemente ensinou o Concílio
Vaticano II na Lumen Gentium, n. 48: “Vigiemos
constantemente, a fim de que, terminado o único
curso da nossa vida terrestre, possamos entrar
com Ele para as bodas e mereçamos ser contados
com os benditos”. Por isso diz ainda a Escritura: “A
cada um, no dia da sua morte, o Senhor retribuirá,
conforme as suas obras” (Ecle 11,28). (134)
317
terrestres? Resposta: “Ainda tenho muitas coisas
para dizer, mas agora vocês não seriam capazes de
suportar.” (João16,12)
318
Mas o outro o repreendeu, dizendo: ‘Nem você
teme a Deus, sofrendo a mesma condenação?
Para nós é justo, porque estamos recebendo o
que merecemos; mas ele não fez nada de mal.’
E acrescentou: ‘Jesus, lembra-te de mim,
quando vieres em teu Reino.’ Jesus respondeu:
‘Eu lhe garanto: hoje mesmo você estará
comigo no Paraíso.’”
319
nada relatam de qualquer diálogo entre os três
crucificados.
320
os seus dois filhos, Jesus responde: “Mas não
depende de mim conceder o lugar à minha direita ou
esquerda”; já aqui nesse episódio, só narrado por
Lucas, ele promete ao bom ladrão um lugar no
paraíso; estranho, muito estranho! Também há um
problema sério, pois aconteceu que “o bom ladrão”
chegou no paraíso antes de Jesus, que “subiu ao
céu” somente no terceiro dia depois de sua morte.
321
possuíam pontuação; isso ficava ao sabor do
interesse e da ótica do tradutor. Dessas que citamos
escolhemos a que consta da Novo Mundo: “Deveras,
eu te digo hoje: estarás comigo no paraíso”. Isso,
porque, além de não contrariar o “a cada um
segundo suas obras”, também se concilia com a
resposta dada à mãe dos filhos de Zebedeu, citada
um pouco atrás, ou seja, um dia o “bom ladrão”
estará no paraíso, fato que, indiscutivelmente,
acontecerá com todos nós.
322
justo que o criminoso receba um merecido castigo;
entretanto, a justiça divina, que deveria ser
infinitamente superior à nossa, não aplica esse
princípio?
323
Por outro lado, se no dia da nossa morte
seremos julgados, repetimos: qual a utilidade do
juízo final para os que já morreram?
Progresso contínuo?
Ensinou Jesus a lei do progresso irreprimível e
universal para a perfeição? Para sermos claros e
breves: há ou não há a possibilidade de
condenação ao inferno? Esta é a questão.
Com absoluta unanimidade, os
324
reencarnacionistas negam a doutrina cristã sobre o
inferno. Todos sabem que a Igreja ensina a
possibilidade de condenação eterna. Pondera Allan
Kardec que “por este dogma a sorte das almas,
irrevogavelmente fixada depois da morte, é, como
tal, um travão definitivo aplicado ao progresso. Ora,
a alma progride ou não? Eis a questão. Se
progride, a eternidade das penas é impossível” (O
Céu e o Inferno, 16ª ed. p. 77).
Ele é enfático e propõe um claro dilema: “O
dogma da eternidade absoluta das penas, é,
portanto, incompatível com o progresso das almas,
ao qual opõe uma barreira insuperável. Esses dois
princípios destroem-se, e a condição indeclinável
da existência de um é o aniquilamento do outro.
Qual dos dois existe de fato? A lei do progresso é
evidente: não é uma teoria, é um fato corroborado
pela experiência; é uma lei da Natureza, divina,
imprescritível. E, pois, se esta lei existe
inconciliável com a outra, é porque a outra não
existe” (ib. p. 78).
Não será possível discutir aqui se a tal lei do
progresso é compatível com o conceito de
eternidade, nem pode ser este o lugar para um
discurso sobre os problemas suscitados pela
eternidade de um castigo. O que interessa no
momento é o dilema proposto: ou admitimos a lei
do progresso (e, portanto, a reencarnação), ou
admitimos a possibilidade de condenação eterna
(e, portanto, rejeitamos a reencarnação); os dois
não podem coexistir: quem afirma a eternidade do
inferno negará a reencarnação. Ora, não há dúvida
de que Jesus de fato ensinou a eternidade das
325
penas do inferno; logo, concluirá Allan Kardec, se
quiser ser consequente, a mensagem de Jesus é
incompatível com a filosofia da reencarnação.
Seria realmente prolixo citar aqui todos os textos
dos quatro Evangelhos que os evangelistas
colocam na boca do Divino Mestre e que nos falam
do inferno. Basta lembrar que, no Juízo Final, a
sentença definitiva sobre os maus será: Apartai-
vos de mim, malditos, para o fogo eterno
preparado para 'o diabo e para seus anjos (Mt 25,
46); e Jesus acrescenta que estes irão para o
castigo eterno, enquanto os justos irão para a vida
eterna.
Jesus estabelece um perfeito paralelo entre a
sorte dos justos (que é de “vida eterna”) e a dos
maus (que é de “castigo eterno”): uma e outra são
simplesmente “eternas”. Se, pois, a vida “eterna”
dos justos é sem fim, sem fim será também o
castigo “eterno”. Pois a mesma palavra, na mesma
proposição e em igual contexto, deve ser tomada
no mesmo sentido. (135)
326
Diremos, peremptoriamente, que não. Porque ele
não existe, é cópia de culto pagão – dos persas –,
mantido pela liderança religiosa como forma de ter
seus fiéis sob domínio, através do medo. Agora,
somos nós quem perguntamos: quando Deus criou o
inferno, sr. bispo? O momento para sua criação
deveria ter sido quando Deus estabeleceu normas de
comportamento para a humanidade; presumimos
que os dez mandamentos se enquadram nisso,
certo? Bom, então quem for capaz que nos
apresente onde está dito como penalidade a ida para
o inferno se não os cumprisse. Se Ele o criou
posteriormente e mandou almas para lá, sem que
tivesse estabelecido essa pena, não agiu com
justiça, coisa incompatível com Sua natureza.
327
a grandeza incomensurável de Deus.
328
castigo será eterno; tão eterno enquanto dure.
329
daquilo. Como explicar a um padre o que um pai
sente em relação a um filho? Mas não vamos usar o
amor de pai; vamos apelar para o amor de mãe, que,
segundo julgamos, é o grau mais elevado do amor
que podemos encontrar num ser humano. Aqui, em
nosso plano físico, vemos as mães até morrerem por
seus filhos. Nas rebeliões, em penitenciárias
públicas, todas elas, do lado de fora, aguardam
ansiosas por notícias de seus filhos, que, para nós
outros, são simplesmente criminosos.
330
verdadeira atitude de Deus para com todos os seus
filhos.
Redimir-se a si mesmo?
Ensinou Jesus a necessidade de conquistar a
perfeição final por esforços e méritos pessoais?
O cerne da boa nova do Evangelho é
precisamente este: Jesus, por sua vida, paixão,
morte e ressurreição, reconciliou a humanidade
com Deus, satisfazendo superabundantemente
pelos pecados de todos os homens e de todos os
tempos. A nossa redenção por Cristo é a medula
da vida neotestamentária. Está em todas as
páginas.
É a mensagem que os profetas predisseram e
os anjos anunciaram na primeira noite de Natal; é a
mensagem de João às margens do Jordão e na
qual o próprio Jesus insistiu; é sobretudo a
mensagem que os Apóstolos foram depois levar a
todos os povos do mundo; é a mensagem mais
cara que a Igreja nos conservou através dos
séculos e que se tornou o símbolo do Brasil
religioso e cristão: Cristo Redentor no alto do
Corcovado. Ele é a vítima de expiação pelos
nossos pecados. E não somente pelos nossos,
mas também pelos de todo o mundo (1 Jo 2, 2).
Vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se
entregou a si mesmo por mim (Gal 2, 20).
Tal como a entendem os cristãos, a salvação
não consiste apenas no perdão dos pecados, mas,
e principalmente, na comunicação da vida divina
331
ou, como dizia São Pedro, na participação da
natureza divina (1 Pe 1, 4). Em virtude da redenção
nos é oferecida a possibilidade de sermos filhos de
Deus, e se somos filhos, somos também herdeiros;
herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo, conclui
São Paulo (Rom 8, 17).
Daí este ensinamento do Concílio Vaticano 11
que se recolhe no Decreto Ad Gentes (n. 8):
“Ninguém por si só e com as próprias forças se
liberta do pecado e se eleva acima de si próprio.
Ninguém se desprende em definitivo de sua
fraqueza, solidão ou servidão. Mas todos
necessitam de Cristo exemplar, mestre, libertador,
salvador, vivificador”
É a soteriologia cristã. A ela se opõe
frontalmente a soteriologia reencarnacionista. Mas
por isso mesmo deixa de ser cristã. O
reencarnacionismo é visceralmente anti-cristão.
(137)
332
as coisas e ao próximo como a si mesmo”;
obviamente, que, para entender assim, é necessário
deixar o dogmatismo de lado.
333
pecados futuros. Assim, como é que ficamos sr.
bispo? Mas a incoerência é evidente, pois, apesar de
afirmarem que a morte de Jesus redimiu nossos
pecados, o pecado de Adão e Eva continua sendo
transmitido a todos que nascem; portanto, ficou fora
dessa remissão. E pior ainda, todo mundo paga por
ele, num pagamento perpétuo. Sem falar que é
contrário ao “Os pais não serão mortos pela culpa
dos filhos, nem os filhos pela culpa dos pais. Cada
um será executado por causa de seu próprio crime.”
(Deuteronômio 24,16).
334
intermediário?
335
Independência do corpo?
Ensinou Jesus uma vida definitiva independente
da matéria?
Seria a negação da doutrina cristã sobre a
ressurreição dos mortos. “Creio na ressurreição da
carne”: é a profissão de fé desde os tempos
apostólicos. São outra vez unânimes os
reencarnacionistas em negar a ressurreição.
Neste ponto, porém, a doutrina de Jesus
também é clara e enfática: Vem a hora em que
todos os que repousam nos sepulcros ouvirão a
voz do Filho do homem e sairão: os que tiverem
feito o bem, para uma ressurreição de vida; os que
tiverem feito o mal, para uma ressurreição de
condenação (Jo 5,28-29). E mais adiante declara:
Quem come a minha carne e bebe o meu sangue
tem a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia
(Jo 6,54).
São Paulo dedica todo o longo capítulo 15 da
primeira epístola aos Coríntios à defesa e
explicação da ressurreição; e argumenta: Se não
há ressurreição dos mortos, também Cristo não
ressuscitou. E se Cristo não ressuscitou, vazia é a
nossa pregação, vazia é também a nossa fé (1Cor
15,13-14). (138)
336
suportar.” (Jo 16,12)
337
entretanto, apesar das narrativas adaptadas aos
dogmas para levar o leitor a crer que Ele ressuscitou
fisicamente, quando, na verdade, sua ressurreição foi
no corpo espiritual; tal e qual acontecerá com todos
nós.
338
como Juiz. Malaquias profetizara a vinda de Elias
“antes que venha o dia grande e terrível” do Juízo
Final, referindo-se, pois, ao segundo advento de
Cristo. O precursor da primeira vinda seria João
Batista que, consoante as palavras do anjo, viria
“com o espírito e o poder de Elias”.
Daí dizer Jesus, para refutar a objeção dos
fariseus e tranquilizar os discípulos: Se quiserdes
compreender, ele mesmo (João Batista) é Elias
que deve vir. Quem tiver ouvidos, ouça (Mt 11,14-
15). E uma afirmação enigmática. As palavras de
Jesus têm no contexto o sentido de que o enviado
de Deus que devia preceder a primeira vinda do
Messias (e que os judeus confundiam com Elias),
já apareceu. E o evangelista acrescenta: Então
compreenderam os Apóstolos que Jesus se referia
a João Batista (Mt 17,13).
Por fim, diretamente interrogado por uma
comissão de judeus se era Elias, o próprio João
Batista respondeu categoricamente: Não o sou (Jo
1,21), com o que ele mesmo, João Batista, dirimiu
a questão.
E como entender o “nascer de novo”? Citando
João (3,3), sustenta Allan Kardec que “as próprias
palavras de Jesus não permitem dúvidas a tal
respeito”. O texto citado seria este: Respondendo a
Nicodemos, disse Jesus: Em verdade, em verdade
te digo que, se um homem não nascer de novo,
não poderá ver o reino de Deus.
A tradução do texto grego, que é o original do
Evangelho segundo São João, não é exata. No
original grego temos a palavra ánoothen, que quer
dizer: nascer do alto, e não: nascer de novo. A
339
tradução exata deve ser: Quem não nascer do alto
não pode entrar no reino de Deus.
Mas também Nicodemos não entendera bem a
afirmação de Jesus e pediu maiores
esclarecimentos. Jesus explica então o seu
pensamento: Em verdade te digo: quem não
nascer da água e do Espírito, não pode entrar no
reino de Deus. O que nasceu da carne é carne, o
que nasceu do Espírito é espírito. Não te admires
de eu te haver dito: deveis nascer do alto (Jo 3,5-
7).
Para Jesus, portanto, nascer do alto é o mesmo
que nascer da água e do Espírito. E isso não é
reencarnação. Também em outros lugares a
Sagrada Escritura nos fala desta necessidade de
uma “nova” vida, da regeneração espiritual:
Renovai-vos, pois, no espírito do vosso
entendimento, e vesti-vos do homem novo, criado
segundo Deus na justiça e na santidade verdadeira
(Ef 4,23-24). Noutra ocasião disse Jesus: Se não
vos converterdes e não vos fizerdes como
crianças, não haveis de entrar no reino dos céus
(Mt 18,3).
Por isso o sacramento do Batismo, instituído por
Jesus Cristo (cf. Mt 28,19; Mc 16,16), mas negado
pelos reencarnacionistas, foi sempre chamado de
“sacramento da regeneração”.
São Paulo nos explica muito bem esta doutrina
cristã: Também nós antigamente éramos
insensatos, desobedientes, extraviados, escravos
de toda sorte de paixões e de prazeres, vivendo
em malícias e inveja, odiados pelos homens e
odiando-nos uns aos outros. Mas quando a
340
bondade e o amor de Deus, nosso Salvador, se
manifestaram, ele salvou-nos, não por causa dos
atos justos que houvéssemos praticado, mas
porque, por sua misericórdia, fomos lavados pelo
poder regenerador e renovador do Espírito Santo,
que ele ricamente derramou sobre nós, por meio
de Jesus Cristo, nosso Salvador, a fim de que
fôssemos justificados pela sua graça, e nos
tornássemos herdeiros da esperança da vida
eterna (Tit 2,3-7).
Rico texto cristão, mas que não entra nas
categorias reencarnacionistas. (139)
341
O povo hebreu não acreditava em duas vindas
do Messias, mas em apenas uma, quando ele iria
libertá-los e julgar os ímpios. Só mais tarde é que se
passou a aceitar a segunda vinda; isso porque o
próprio Jesus disse que voltaria novamente.
342
ou seja, o novo corpo [João] viria com o espírito e o
poder de Elias. Ora, se Deus diz que enviará Elias, o
anjo do Senhor identifica quem virá com seu espírito
e poder, e Jesus confirma tal fato, quem será capaz
de negá-lo? O sr. bispo?!
343
conceito de ressurreição.
344
não é para a morte”, e “nosso amigo Lázaro
dorme”, o texto bíblico apresenta uma
contradição a partir do versículo 13 a 16,
dizendo que se trata de morte mesmo. Ora,
isso, a nosso ver, para se justificar a tese da
ressurreição corporal, fizeram um acréscimo ao
texto original, cujo conteúdo se retirarmos da
passagem não perde a solução de continuidade
da narrativa.
345
b) Voltar à vida em outro corpo
346
teria sentido o que o povo pensava a respeito
de Jesus. E se isso não fosse possível, com
certeza, Jesus teria dito dessa impossibilidade.
Assim, fica claro que o conceito de ressuscitar
aqui nessas passagens pode muito bem ser
entendido por reencarnar.
c) Ressurgir em Espírito
347
na ressurreição dos mortos, lá não se casam. E
já não podem morrer outra vez, porque são
iguais aos anjos e filhos de Deus, sendo
participantes da ressurreição”. (Lucas 20, 34-
36) São iguais aos anjos, isso significa que
serão seres espirituais, daí não se justifica mais
o casamento, que é coisa para os que possuem
corpos materiais.
348
37-38) Considerando que se afirma, na
narrativa, que Abraão, Isaac e Jacó “todos são
vivos” e que ainda não aconteceu o juízo final,
para a esperada ressurreição dos corpos, se
eles são vivos, são vivos, portanto, em Espírito.
E concluindo, pela comparação de Jesus, eles
já ressuscitaram, ou seja, estão vivendo a vida
do Espírito, por isso não morrem mais.
d) Ressurgir em Espírito
influenciando outra pessoa
349
Essa passagem nós a estamos colocando
para explicar a questão de João Batista. Ora, se
acreditavam que Jesus estava fazendo
prodígios porque “os poderes de João Batista
operam através dele”, isso, num português
bem claro, seria a possibilidade de um morto
exercer algum tipo de influência sobre um vivo.
Confirmando, pelo menos como uma hipótese
muito provável, que aceitavam a interferência
dos mortos sobre os vivos, ou seja, isso nada
mais é que a comunicação entre os dois planos
da vida.
350
392. Por que perde o Espírito encarnado a
lembrança do seu passado?
“Não pode o homem, nem deve, saber tudo.
Deus assim o quer em Sua sabedoria. Sem o véu
que lhe oculta certas coisas, ficaria ofuscado, como
quem, sem transição, saísse do escuro para o
claro. Esquecido de seu passado ele é mais senhor
de si.” (140)
351
mais rapidamente que os outros homens? Segundo,
para alguém que lhe é contemporâneo não se
aplicaria a expressão “desde os dias”, por ser ilógico;
entretanto, se entendemos que “desde os tempos
em que João vivia como Elias”, as coisas se
encaixam como uma luva ao conceito da
reencarnação.
O texto em exame
352
novo não pode ver o Reino de Deus”. 4. Disse-
lhe Nicodemos: “Como pode um homem
nascer, sendo velho? Poderá entrar segunda
vez no seio de sua mãe e nascer?” 5.
Respondeu-lhe Jesus: “Em verdade, em
verdade, te digo: quem não nascer da água e
do Espírito não pode entrar no Reino de Deus.
6. O que nasceu da carne é carne, o que
nasceu do Espírito é espírito. 7. Não te admires
de eu te haver dito: deveis nascer de novo.
8. O vento sopra onde quer e ouves o seu
ruído, mas não sabes de onde vem nem para
onde vai. Assim acontece com todo aquele que
nasceu do Espírito” 9. Perguntou-lhe
Nicodemos: “Como isso pode acontecer?” 10.
Respondeu-lhe Jesus: “És mestre em Israel e
ignoras essas coisas? 11. Em verdade, em
verdade, te digo: falamos do que sabemos e
damos testemunho do que vimos, porém não
acolheis o nosso testemunho. 12. Se não
credes quando vos falo das coisas da terra,
como crereis quando vos falar das coisas do
céu?” (Bíblia de Jerusalém)
353
O realce aos termos dos versículos 3 e 7, é
nosso, já que devemos destacar isso mais à
frente.
A Teologia Católica
354
Bíblias católicas:
355
novo’ como por ‘nascer do alto’. Nicodemos
entende-o no primeiro sentido, como se
vê pelo contexto. Jesus, porém, reconduz a
conversa ao seu caminho: os que pertencem
ao Reino, não são os que nasceram da carne e
do sangue (os descendentes de Abraão, como
pensavam os judeus), mas os que nasceram de
Deus (cf. Jo 1,13). Tal nascimento realiza-se no
batismo (Jo 3,5)”.
356
Aqui temos a confirmação de que, pelo
contexto, a expressão deverá ser entendida
como “nascer de novo”, pois foi assim que
Nicodemos entendeu, conforme nos afirmam
alguns tradutores da Bíblia. Não adianta, para
justificar o contrário, querer comparar o
significado de uma palavra colocada em textos
diferentes, pois poderá muito bem ter
significados distintos, o que somente o
contexto de cada uma poderá dar a conhecer.
Conclusão
357
Sustenta Allan Kardec que, “sem o princípio da
preexistência da alma e da pluralidade das
existências, são ininteligíveis, em sua maioria, as
máximas do Evangelho”.
Depois de tudo o que acabamos de ver,
podemos inverter a frase e concluir: se admitimos a
pluralidade das existências terrestres, a garantida
salvação final de todos os seres racionais, a
necessidades de conquistar a perfeição por
esforços e méritos próprios e a vida espiritual
definitivamente independente do corpo; se, em
suma, admitimos o princípio da reencarnação,
então, sim, seriam ininteligíveis, na sua maioria, as
máximas do Evangelho.
A palavra “reencarnação” está prenhe de
postulados, pressuposições, princípios e
conclusões diretamente contrários à mensagem do
Evangelho. Na verdade, seria difícil encontrar outro
termo tão carregado de elementos opostos à
doutrina cristã. Em um só vocábulo estão
compreendidas as mais radicais heresias contra a
fé cristã: reencarnação.
Por tudo isso o católico não aceita o espiritismo.
(141)
358
que a reencarnação será provada cientificamente,
temos absoluta certeza disso, dada as fortes
evidências já acumuladas por inúmeros
pesquisadores; a questão, agora, é só de tempo.
Esperamos que, quando isso acontecer, o sr. bispo
não leve uns quatrocentos anos para aceitá-la.
359
será lícito receber o sacramento do matrimônio
sem licença especial do bispo (cân. 1071) e sem
as condições indicadas pelo cânon 1125. Também
não pode ser membro de associação ou irmandade
católica (cân. 316).
Ao compararmos a doutrina espírita com a
mensagem cristã, vimos que o espiritismo de fato
nega quase todo o Credo Apostólico. E quando
analisamos a teoria da reencarnação, ficou claro
que a palingenesia se opõe, em pontos essenciais,
à pregação de Nosso Senhor Jesus Cristo,
negando, principalmente, toda a soteriologia cristã.
É evidente, pois, que o católico, quando adota a
doutrina espírita, se enquadra na descrição que o
citado cânon 751 faz da heresia, cometendo um
“delito contra a religião”, segundo a terminologia do
novo direito eclesiástico, e incorre na penalidade
prevista pelo cânon 1364 § 1. Ou, falando mais
exatamente: o católico que resolve tornar-se
espírita, por esse fato, exclui-se a si mesmo da
Igreja Católica, perdendo todos os direitos de
católico.
Mas, na prática pastoral, a aplicação destas
determinações jurídicas encontra a seguinte
dificuldade: o vocábulo “espírita” é, de fato, entre
nós, polivalente. Já Allan Kardec observava em
suas Obras Póstumas (20ª edição, p. 367 s.):
“O qualificativo de espírita, aplicado
sucessivamente a todos os graus de crença,
comporta uma infinidade de matizes, desde o da
simples crença nas manifestações, até as mais
altas deduções morais e filosóficas; desde aquele
que, detendo-se na superfície, não vê nas
360
manifestações mais do que um passatempo, até
aquele que procura a concordância dos seus
princípios com as leis universais e a aplicação dos
mesmos princípios aos interesses gerais da
Humanidade; enfim, desde aquele que não vê nas
manifestações senão um meio de exploração em
proveito próprio, até o que haure delas elementos
para seu próprio melhoramento moral. Dizer-se
alguém espírita, mesmo espírita convicto, não
indica, pois, de modo algum, a medida da crença,
essa palavra exprime muito com relação a uns, e
muito pouco, relativamente a outros. Uma
assembleia para a qual se convocassem todos os
que se dizem espíritas apresentaria um amálgama
de opiniões divergentes, que não poderiam
assimilar-se reciprocamente, e nada de sério
chegaria a realizar, sem falar dos interessados a
suscitarem no seu seio as discussões a que ela
abrisse ensejo”.
Mas, pondo de lado as ambiguidades, pode-se
dizer que, segundo Allan Kardec, “espírita” é todo o
espiritualista que admite a prática da evocação dos
falecidos. Sobre esta base mínima podem
constituir-se os mais variados sistemas
doutrinários. Assim, são “espíritas” os adeptos do
espiritismo anglo-saxão que não aceitam a doutrina
da reencarnação, como são “espíritas” os que
fazem das ideias reencarnacionistas o ponto
central da sua filosofia. E porque os partidários da
Umbanda praticam assiduamente a evocação dos
falecidos (e, aliás, endossam a doutrina da
metensomatose), também eles são “espíritas”
verdadeiros, no sentido original em que Allan
Kardec entendia o vocábulo por ele criado.
361
E como não existe nenhum nexo necessário
entre a prática da evocação dos falecidos e, a
doutrina da reencarnação, é perfeitamente
imaginável que alguém aceite e pratique a
necromancia sem admitir a palingenesia, como é
igualmente concebível que alguém adote a filosofia
da pluralidade das existências sem endossar a
prática da evocação das almas dos que morreram.
Mas, a dimensão herética (isto é, negadora da
doutrina de fé cristã) do espiritismo está
principalmente na reencarnação. Pode-se admitir
ainda que alguém professe sinceramente toda a
doutrina cristã, tal como é proposta pela Igreja
Católica, e ao mesmo tempo julgue ser possível e
lícito evocar os falecidos.
Já é evidente que nem todos, embora se digam
ou sejam chamados “espíritas”, podem ou devem
ser considerados ou tratados. da mesma maneira.
Há evidente necessidade de distinguir:
1.° Os que dirigem ou organizam o espiritismo
(em qualquer de seus ramos) ou um centro espírita
ou terreiro de Umbanda, e os que tomam parte
ativa nas sessões (médiuns): são espíritas no
sentido mais estrito do termo, valendo para eles a
determinação do Episcopado nacional: “devem ser
tratados como hereges”. Mas esta norma se aplica
apenas aos que antes eram ou diziam ser
católicos.
O mesmo não vale para os que já nasceram
num ambiente espírita e nele foram educados. Os
espíritas convictos e coerentes já não fazem
batizar os seus filhos, visto que, como lhes fez
saber em 1952 o Conselho Federativo Nacional da
362
Federação Espírita Brasileira, “o Espiritismo é
religião sem ritos, sem liturgia e sem sacramentos”.
Por conseguinte, já não são nem cristãos e devem
ser considerados e tratados como os demais
adeptos de religiões não-cristãs.
2.° Os que se inscreveram como sócios em
alguma entidade espírita. Os espíritas costumam
controlar a fidelidade de seus sócios mediante
caderneta individual, carimbada cada mês. Quem
deixar de cumprir durante seis meses os seus
deveres de sócio é excluído.
Segundo os Preceitos Gerais, publicados pela
Federação Espírita Brasileira e válidos para todas
as sociedades espíritas do Brasil, os sócios
inscritos têm os seguintes deveres:
a) estudar a doutrina espírita (que aqui no Brasil
é reencarnacionista);
b) frequentar regularmente as sessões de
estudo da doutrina;
c) pagar pontualmente as suas contribuições
pecuniárias.
Deve-se, pois, supor que todo o sócio de mais
de seis meses, não é apenas necromante, mas
também reencarnacionista e, como tal, herege, e
assim há de ser tratado.
3.° Os que, embora não inscritos, frequentam
habitualmente, por mais de seis meses, sessões
para consultar os mortos, receber receitas ou
passes, etc. As assim chamadas “sessões públicas
de estudo” são franqueadas a todos
indistintamente. Mas toda sessão desta espécie é
doutrinária: nela se ensina e administra a doutrina
363
espírita (reencarnacionista). Por conseguinte,
quem por mais de meio ano assiste habitualmente
a tais sessões, já não pode ser tido apenas como
necromante, mas com razão é considerado adepto
da doutrina reencarnacionista. Logo, é herege e
deve ser tratado como tal.
4.° Os que esporadicamente vão às sessões
para consultar os falecidos, receber passes,
receitas etc., levados talvez pela necessidade
(doença, tristeza pela morte de alguém da família,
situação embaraçosa) ou a convite insistente de
amigos, vizinhos, etc.
Supondo que não vão por mera curiosidade,
eles não são necessariamente reencarnacionistas;
são, todavia, necromantes ou “espíritas” no sentido
lato do termo, tal como foi definido por Allan
Kardec. Se admitem a reencarnação, são sem
dúvida hereges e como tais deverão ser tratados.
Mas se não aceitam a pluralidade das
existências, senão apenas a prática da evocação,
serão também hereges?
A Santa Sé declarou que este tipo de práticas
inclui um “engano inteiramente ilícito e herético”
(em latim: “deceptio omnino illicita et haereticalis”,
cf. Dz 1653 e 1654). Neste documento, de 1856
(naqueles anos começava na França a prática da
evocação dos falecidos), a Santa Sé repete por
duas vezes ser pecado de heresia querer aplicar
meios puramente naturais com o fim de obter
efeitos não-naturais ou supra-naturais. Por
conseguinte, o espiritismo como evocação dos
mortos, seja na forma de necromancia ou de
magia, já é herético e, aliás, puro “engano”.
364
É preciso atender bem a este particular: estas
práticas da evocação são rejeitadas não apenas
como ilícitas (nisto está o pecado, pois, como
vimos, a evocação é um ato severamente
interditado por Deus) ou contra a moral, mas
também como heréticas ou contrárias à fé cristã. A
heresia está na suposição de se poderem produzir
efeitos não naturais com meios naturais.
5.° Os que vão de quando em quando às
sessões espíritas por motivo de estudo ou
divertimento ou de mera curiosidade. A suposição é
que não são reencarnacionistas, nem querem
praticar a evocação. Podemos dividi-los em duas
categorias:
a) Os que fazem isso sem nenhuma licença:
não são espíritas (é a suposição), mas praticam
um ato ilícito e expressamente proibido pela Igreja,
pois pelo Decreto de 24 de abril de 1917 declarava
a Santa Sé ser ilícito" assistir a sessões ou
manifestações espiritistas, sejam elas realizadas
ou não com o auxílio de um médium, com ou sem
hipnotismo, sejam quais forem estas sessões ou
manifestações, mesmo que aparentemente
simulem honestidade ou piedade; quer
interrogando almas ou espíritos, ou ouvindo-lhes
as respostas, quer assistindo a elas com o pretexto
tácito ou expresso de não querer ter qualquer
relação com espíritos malignos".
b) Os que fazem isso devidamente autorizados.
Bons moralistas interpretam a citada decisão de
1917 de tal maneira que. pode ser dispensada, em
casos particulares, em favor de médicos,
sociólogos ou outros estudiosos que vão, não por
365
curiosidade, não apenas para ver, mas para
estudar. Excluída, pois. toda a evocação e com a
condição de que não ocorra perigo nenhum de
perversão própria, nem de I escândalo para outros,
poderia o bispo permitir a assistência.
6.º Os que nunca assistem às sessões, mas por
qualquer motivo ajudam moral ou materialmente na
construção ou manutenção de obras e empresas
espíritas. São os fautores do espiritismo no Brasil.
Tal cooperação consciente seria ilícita. E evidente,
porém, que não devem ser tratados como espíritas
ou hereges e sim como “fautores de heresia”,
conceito que já não ocorre na nova legislação
canônica, mas que nem por isso deixa de ter o seu
valor.
7.º Os que assistem às sessões ou apoiam
moral ou materialmente o espiritismo por
ignorância. No Brasil, são muitos. Devem ser
tratados como ignorantes; isto é: devem ser
instruídos. O presente livrinho foi escrito também
com este objetivo.
8.º Os que não querem praticar nem a
necromancia nem a magia, não assistem às
sessões espíritas, mas professam a doutrina da
reencarnação, como os esoteristas, rosacruzes,
teósofos e outros ocultistas. São hereges formais e
como tais devem ser tratados. (142)
366
Episcopado Nacional na Pastoral Coletiva de 1915,
revistas pelos Bispos em 1948”, isso merece uma
pergunta: será que não tem algo mais novo por aí?
Mas, é impressionante que o que é fonte de orgulho
para uns, para nós é sinal de pura ortodoxia. Imagine
a primeira data citada que é o ano de 1915,
provando a inflexibilidade da Igreja para
determinados assuntos, como se os costumes e a
humanidade não evoluíssem. Até mesmo para se
chegar a bispo há que se ter muita experiência, o
que custa anos de estudo.
367
falso com a intenção de enganar.” O Senhor
denuncia na mentira uma obra diabólica: “Vós sois
do diabo, vosso pai, […] nele não há verdade:
quando ele mente, fala do que lhe é próprio,
porque é mentiroso e pai da mentira” (Jo 8,44).
2483 – A mentira é a ofensa mais direta à
verdade. Mentir é falar ou agir contra a verdade
para induzir em erro. Ferindo a relação do homem
com a verdade e com o próximo, a mentira ofende
a relação fundante do homem e de sua palavra
com o Senhor.
2484 – A gravidade da mentira se mede
segundo a natureza da verdade que ela deforma,
de acordo com as circunstâncias, as intenções
daquele que a comete, os prejuízos sofridos por
aqueles que são suas vítimas. Embora a mentira,
em si, não constitua senão um pecado venial,
torna-se mortal quando fere gravemente as
virtudes da justiça e da caridade.
2485 – A mentira é condenável em sua
natureza. É uma profanação da palavra que tem
por finalidade comunicar a outros a verdade
conhecida. O propósito deliberado de induzir o
próximo em por palavras contrárias à verdade
constitui uma falta à justiça e à caridade. A
culpabilidade é maior quando a intenção de
enganar acarreta o risco de consequências
funestas para aqueles que são desviados da
verdade.
2486 – A mentira (por ser uma violação da
virtude da veracidade) é uma verdadeira violência
feita ao outro porque o fere em sua capacidade de
conhecer, que é a condição de todo juízo e de
368
decisão. Contém em germe a divisão dos espíritos
e todos os males que ela suscita. A mentira é
funesta para toda a sociedade; mina a confiança
entre os homens e rompe o tecido das relações
sociais. (143)
369
raramente estão dispostos a fazer concessões ao
interesse comum, ou mesmo à razão; que sofrem a
opinião da maioria se não puderem fazê-lo de outro
modo, mas que não se reúnem jamais
francamente.
Assim o foi até este dia com o Espiritismo;
formado gradualmente, em consequência de
observações sucessivas, como todas as ciências, a
aceitação tomou pouco a pouco mais amplitude. A
qualidade de Espírita, aplicada sucessivamente a
todos os graus da crença, compreende uma
afinidade de nuanças, desde a simples crença nos
fatos de manifestações, até às mais altas
deduções morais e filosóficas; desde aquele que,
detendo-se na superfície, nele não vê senão um
passatempo de curiosidade, até aquele que
procura concordância dos princípios com as leis
universais, e suas aplicações aos interesses gerais
da Humanidade; enfim, desde aquele que nele não
vê senão um meio de exploração em seu proveito,
até aquele que nele haure os elementos de sua
própria melhoria moral.
Dar-se por Espírita convicto, não indica, pois, de
nenhum modo, a medida da crença; essa palavra é
muito dita por uns, e muito pouco pelos outros.
Uma assembleia na qual se convocasse todos
aqueles que se dizem Espíritas, apresentaria um
amálgama de opiniões divergentes que não
saberiam se assimilar e não desembocariam em
nada de sério; sem falar dessas pessoas
interessadas em nela semear a discussão, às
quais abriria suas portas.
Essa falta de precisão, inevitável no início e
370
durante o período de elaboração,
frequentemente causou equívocos lamentáveis,
naquilo que fez atribuir à Doutrina o que não
era senão o abuso ou um desvio. Foi em
consequência dessa falsa aplicação que é
diariamente feita da qualidade de Espírita, que a
crítica, que pouco se inquieta com o fundo das
coisas, e ainda menos com o lado sério do
Espiritismo, pôde encontrar matéria para a
zombaria. Que um indivíduo se diga espírita ou
pretenda fazer do Espiritismo, o que os
prestidigitadores pretendem fazer da física, fosse
ele um saltimbanco, é, aos seus olhos, o
representante da Doutrina.
Tem-se feito, é verdade, uma distinção entre os
bons e os maus, os verdadeiros e os falsos
Espíritas, os Espíritas mais ou menos esclarecidos,
mais ou menos convencidos, os Espíritas de
coração, etc.; mas essas designações, sempre
vagas, nada têm de autênticas, nada que as
caracterizem quando não se conhece os
indivíduos, e quando não se teve ocasião de
julgá-los pelas suas obras.
Pode-se, pois, ser enganado pelas aparências.
Disso resulta que a qualidade de Espírita, não
permitindo senão uma aplicação incompleta, não é
uma recomendação absoluta; essa incerteza lança
nos espíritos uma espécie de desconfiança que
impede estabelecer entre os adeptos um laço sério
de confraternidade.
Hoje, que se fixou, entre todos, os pontos
fundamentais da Doutrina, e sobre os deveres que
incumbem a todo adepto sério, a qualidade de
371
Espírita pode ter um caráter definido que não
tinha antes. Um formulário de profissão de fé pode
ser estabelecido, e a adesão, por escrito, a esse
programa, será um testemunho autêntico da
maneira de encarar o Espiritismo. Essa adesão,
constatando a uniformidade dos princípios, será,
além disso, o laço que unirá os adeptos numa
grande família, sem distinção de nacionalidades,
sob o império de uma mesma fé, de uma
comunhão de pensamentos, de vistas, e de
aspirações. A crença no Espiritismo não será mais
uma simples aquiescência, frequentemente parcial,
a uma ideia vaga, mas uma adesão motivada, feita
com conhecimento de causa, constatada por um
título oficial entregue ao adepto. Para evitar os
inconvenientes da falta de precisão da
qualidade de Espíritas, os signatários da
profissão de fé tomarão o título de Espíritas
professos.
Essa qualificação, repousando sobre uma
base precisa e definida, não dá lugar a nenhum
equívoco, permite aos adeptos que professem os
mesmos princípios e caminhem no mesmo
caminho, se reconhecerem sem outra formalidade
senão a declaração de sua qualidade, e, havendo
necessidade, a produção de seu título. Uma
reunião composta de Espíritas professos, será
necessariamente tão homogênea quanto o
comporta a Humanidade.
Um formulário de profissão de fé, circunscrito e
nitidamente definido, será o caminho traçado; o
título de Espírita professo será a palavra de união.
Mas, dir-se-á, esse título é uma garantia
372
suficiente contra os homens de sinceridade
duvidosa?
Uma garantia absoluta contra a má-fé é
impossível, porquanto há pessoas que fazem um
jogo dos atos mais solenes; mas convir-se-á que
essa garantia é maior do que quando não a havia
de todo. Tal, aliás, que se dá sem escrúpulos por
aquilo que não é, quando não se trata senão de
palavras que se evolam, recua frequentemente
diante de uma afirmação espírita que deixa
marcas, e que lhe poderia ser oposta no caso em
que se desviasse do caminho reto. Se, entretanto,
houvesse os que não fossem retidos por essa
consideração, o número deles seria muito pequeno
e sem influência. De resto, esse caso está previsto
pelos estatutos, e é provido pela disposição
especial.
Essa medida terá, inevitavelmente, por efeito
afastar das reuniões sérias as pessoas que nela
não estariam em seu lugar. Se delas se
afastassem alguns Espíritas de boa fé, isso não
seria sempre senão aqueles que não estão
bastante seguros, por si mesmos, para se afirmar,
os timoratos que temem se colocar em evidência, e
aqueles que, em todas as circunstâncias, não são
jamais os primeiros a se pronunciarem, querendo
ver antes como as coisas amadurecerão. Com o
tempo, uns se esclarecerão mais completamente,
os outros tomarão coragem; até lá nem uns nem os
outros poderão contar entre os sólidos defensores
da causa. Quanto àqueles que se poderia
lamentar, o número deles será pequeno e diminuirá
a cada dia.
373
Não sendo nada perfeito neste mundo, as
melhores coisas têm seus inconvenientes;
querendo-se rejeitar tudo o que não está deles
isento, nada seria admissível. Em tudo é preciso
pesar a forma das vantagens e dos inconvenientes;
ora, é bem evidente que aqui as primeiras levam a
melhor sobre as segundas.
Nem todos aqueles que levam o nome de
Espíritas aderem, pois, à constituição, isso é
certo; também ela não é senão para aqueles
que a aceitarão livre e voluntariamente, porque
ela não tem a pretensão de se impor a ninguém.
O Espiritismo, não sendo compreendido do
mesmo modo por todo o mundo, a constituição
chama àqueles que o encaram do seu ponto de
vista, com o objetivo de lhes dar um ponto de apoio
quando se encontrarem isolados, de cimentar os
laços da grande família pela unidade de crenças.
Mas, fiel ao princípio da liberdade de consciência,
que a Doutrina proclama como um direito natural.
respeita todas as convicções sinceras, e não lança
anátema àqueles que têm ideias diferentes; delas
não aproveitará menos as luzes que poderão emitir
fora de seu seio.
O essencial, pois, é conhecer aqueles que
seguem a mesma senda; mas como sabê-lo com
precisão? É materialmente impossível aí chegar
por interrogatórios individuais, e, aliás, ninguém
pode estar investido do direito de perscrutar as
consciências. O único meio, o mais simples, o mais
legal, é estabelecer um formulário de princípios,
resumindo o estado dos conhecimentos atuais
que ressaltam da observação, e sancionados
374
pelo ensino geral dos Espíritos, aos quais cada
um está livre para aderir. A adesão escrita é
uma profissão de fé que dispensa de toda outra
investigação, e deixa a cada um sua inteira
liberdade.
A constituição do Espiritismo tem, pois, por
complemento necessário, um programa de
princípios definidos no que toca à crença, sem
o qual isso seria uma obra sem importância e
sem futuro. Esse programa, fruto da experiência
adquirida, será a baliza indicadora do caminho.
Para caminhar com segurança, ao lado da
constituição orgânica, é preciso a constituição da
fé, um credo, se o quiserem, que seja o sinal de
referência de todos os aderentes.
Mas esse programa, não mais do que a
constituição orgânica, não pode e nem deve
acorrentar o futuro, sob pena de sucumbir, cedo ou
tarde, sob as opressões do progresso. Fundado
para o estado presente dos conhecimentos, deverá
se modificar e se completar à medida que novas
observações vierem demonstrar-lhe a insuficiência
ou os defeitos. No entanto, essas modificações não
devem ser feitas levianamente e nem com
precipitação. Serão obras dos congressos
orgânicos que, na revisão periódica dos estatutos
constitutivos, juntará a do formulário de princípios.
Constituição e credo, caminhando
constantemente de acordo com o progresso,
sobreviverão na sequência dos tempos. (144)
375
intencionalmente levar as pessoas a conceituar os
espíritas como sendo qualquer um que admite a
prática da evocação dos falecidos. No trecho
realçamos, em negrito, várias frases para
demonstrar que não é exatamente o que o sr. bispo
quer passar; ao contrário, preocupado com a
vulgarização do uso do nome espírita Allan Kardec
define que somente poderá ser considerado espírita
confesso os que aderirem à constituição e ao credo
do Espiritismo.
376
Em Lampejos Evangélicos, Rohden, faz,
sobre isso, uma interessante colocação:
377
dogmas da Igreja de Roma.
378
humanos, pelo fato de vir aureolado de misteriosa
sacralidade e ser inoculado no homem como dever
de consciência baseado em revelação divina. É
fora de dúvida que esse egoísmo sectário é o mais
abominável e sacrílego de quantos têm
desgraçado e estão ainda desgraçando o gênero
humano, impossibilitando qualquer harmonia
universal no seio da humanidade. (146)
CARIDADE E FÉ
Diante da severidade da Igreja em preservar a
pureza da doutrina cristã e punir os delitos contra a
fé, surge espontaneamente a pergunta: Por que tanto
rigor? Não basta a caridade?
Para conservarem as aparências cristãs e se
acobertarem sob o manto cristão, os espíritas
repetem as palavras de Jesus sobre a caridade e
proclamam o princípio: “Fora da caridade não há
salvação”. E sem dúvida certo: sem a caridade cristã,
não há salvação; e quem não tiver a caridade, não é
verdadeiro discípulo de Jesus Cristo. E a Igreja
seguramente não condenou o espiritismo por causa
deste princípio.
A Igreja Católica tem sido sempre e ainda hoje
continua sendo a pregoeira máxima da caridade
cristã. E preciso ter os olhos cegos pelo fanatismo
para não vê-lo. Quem poderá contar as instituições
de caridade mantidas, dirigidas ou inspiradas pela
379
Igreja em todo o mundo? Quem poderá contar os
inúmeros católicos que se dedicam exclusiva e
totalmente à caridade? Os maiores heróis da
caridade, mesmo aqueles apregoados pelos espíritas,
como um São Francisco de Assis ou um Santo
Antônio de Lisboa (ou Pádua), eram santos
catolicíssimos.
O erro dos espíritas não consiste na pregação da
caridade (nisso, pelo contrário, eles são dignos de
aplauso e louvor); seu erro está em dizer que basta a
caridade somente. Jesus Cristo nunca ensinou isso.
Pois Jesus, o Evangelista da caridade, foi também o
Evangelista da fé. A sua doutrina não é apenas moral.
São Marcos nos refere as últimas e solenes palavras
de Jesus, dirigidas aos Apóstolos pouco antes da sua
ascensão ao céu: Ide por todo o mundo, proclamai o
Evangelho a toda a criatura. Aquele que crer e for
batizado será salvo; o que não crer será condenado
(Mc 16,15-16).
Quem não crer será condenado! São também
palavras de Jesus. E em São Mateus damos com
estas outras palavras de Jesus, não menos solenes e
formais: Toda a autoridade sobre o céu e sobre a
terra me foi entregue. Ide, portanto, e fazei que todas
as nações se tornem discípulos, batizando-as em
nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e
ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei. E
eis que eu estou convosco todos os dias até a
consumação dos séculos (Mt 28,18-20).
Instruídos por Cristo e fortalecidos pelo Espírito
Santo, os Apóstolos saíram a pregar. Advertidos por
Jesus, eles sabiam que o inimigo tudo faria para
dispersar a grei que o Senhor queria una; alertados
por Cristo, previam que os lobos viriam vestidos em
pele de ovelha e que o anjo das trevas se
380
apresentaria lisonjeiro como anjo da luz; prevenidos
pelo divino Mestre, sabiam que o “homem inimigo”
aproveitaria as sombras da noite e a desprevenção
dos homens que dormem para espargir o erro e a
discórdia. Por isso conservaram-se vigilantes e
enérgicos.
E quando, por exemplo, na novel comunidade dos
Gálatas se infiltrou o erro dos judaizantes, São Paulo
não hesitou: Ainda que nós mesmos ou um anjo do
céu vos anunciem um evangelho diferente do que vos
anunciamos, seja anátema. Como já vo-lo disse, volto
a dizê-lo agora: se alguém vos anunciar um
evangelho diferente do que recebestes, seja anátema
(Gal 1,8-9).
E ao despedir-se da Ásia Menor, em Mileto, o que
mais pesava em sua alma era a previsão dos
primeiros vestígios de gnosticismo, de um sincretismo
de seitas judaístas, de filosofias helenistas e de
religiões de mistérios que rebaixavam Jesus Cristo a
um dos espíritos cujo culto propagavam; e implora
então os presbíteros responsáveis: Sede solícitos por
vós mesmos e por todo rebanho, do qual o Espírito
Santo vos estabeleceu guias para apascentar a Igreja
de Deus, que ele adquiriu para si pelo sangue do seu
próprio Filho. Eu sei que, depois da minha partida,
introduzir-se-ão entre vós lobos cruéis que não
pouparão o rebanho, e que no meio de vós surgirão
homens que farão discursos perversos com a
finalidade de arrastar discípulos atrás de si. Por isso
sede vigilantes, lembrando-vos de que durante três
anos, dia e noite, não cessei de exortar com lágrimas
a cada um de vós (At 20,28-31).
Igual solicitude pela pureza da fé encontramos nas
cartas aos Efésios, aos Colossenses e, sobretudo,
nas cartas pastorais a Tito e Timóteo. Assim escreve
381
a seu colaborador Timóteo: Eu te conjuro, diante de
Deus e de Cristo Jesus, que há de vir julgar os vivos
e os mortos, pela sua aparição e por seu Reino:
proclama a palavra, insiste, no tempo oportuno e no
importuno, refuta, ameaça, exorta com toda a
paciência e doutrina. Pois virá um tempo em que
alguns não suportarão a sã doutrina; pelo contrário,
segundo os seus próprios desejos, como que
sentindo comichão nos ouvidos, se rodearão de
mestres. Desviarão os seus ouvidos da verdade,
orientando-os para as fábulas (2 Tim 4,1-4).
E a Tito recomenda: Depois de uma primeira e de
uma segunda admoestação, nada mais tens a fazer
com um homem faccioso, pois é sabido que um
homem assim se perverteu e se entregou ao pecado,
condenando-se a si mesmo (Ti 3,10-11). O mesmo
modo inexorável de tratar os hereges nos é
recomendado por São Judas Tadeu e também pelo
“discípulo do amor”, São João, que chega até a
proibir qualquer relação com eles: Não o recebais em
vossa casa nem o saudeis. Aquele que o saúda
participa de suas obras más (2 Jo 10).
Foi neste mesmo espírito de apostólico zelo que
os nossos Bispos denunciaram a heresia do
espiritismo, para conservar no nosso povo não
apenas a caridade, que é necessária e deve incendiar
todos os corações cristãos, mas também a fé,
ensinando-os a observar tudo o que Cristo ensinou e
mandou. Pois quem não crer será condenado (Mc
16,16) e sem fé é impossível agradar a Deus (Heb
11,6).
Sejamos, pois, integralmente cristãos. Sigamos a
Cristo, Evangelista da caridade; mas sigamos
também a Cristo, Evangelista da fé. Caridade ardente
e fé inabalável: eis as duas asas com que nos
382
alçaremos ao céu, para tomar posse do reino que nos
está preparado desde o princípio do mundo (Mt
25,34).
No nosso empenho de conservar e defender a
pureza da fé devemos sempre distinguir entre a
heresia e o herege, entre o pecado e o pecador. O
erro ou o pecado são dados objetivos acerca dos
quais a Igreja pode julgar e deve manter uma atitude
firme e intransigente. O herege ou o pecador são
pessoas subjetivas sobre as quais não devemos
julgar (cf. Mt 7,1; Rom 2, 1-2; 1Cor 4,5).
Quem mata, rouba, comete adultério ou pratica a
evocação dos falecidos, pratica algo que,
objetivamente, está errado. Diante de tais pessoas,
porém, a caridade cristã nos impõe o dever de ajudá-
las mediante o esclarecimento, socorrê-las fazendo-
lhes ver que procedem mal, orientá-las para a
verdade e a virtude, instruí-las com o conhecimento
da vontade divina, reintegrá-las no convívio humano e
conduzi-las a Deus e ao seu Reinado.
Seremos então sem dúvida intransigentes em
denunciar o que está errado ou anunciar o que é
pecaminoso; ao mesmo tempo, porém, seremos
compreensivos, tolerantes, bondosos e caridosos
para com aqueles que se desviaram ou pecaram.
Colocado diante da adúltera (cf. Jo 8,2-11), Jesus
condenou o adultério (“não peques mais”), mas
poupou a pecadora (“nem eu te condeno”).
Ao escrever estas páginas não era minha intenção
pronunciar um veredito sobre os espíritas, mas sobre
o espiritismo, isto é, sobre a heresia da reencarnação
e o pecado da evocação. Tomei certamente uma
atitude clara e firme ao recordar o mandamento divino
que proíbe a evocação e a doutrina cristã que se
383
opõe à reencarnação. Não cumpriria o meu dever
profético de pastor se ficasse omisso ou calado
diante da difusão do erro e da prática do pecado. Mas
tenho outrossim a obrigação pastoral de procurar a
ovelha extraviada (cf. Lc 15,4-7) e de ir ao encontro
do filho pródigo (cf. Lc 15,11-32). Saiba o católico que
se fez espírita, qualquer que tenha sido o motivo, que
a casa por ele abandonada continua aberta à sua
disposição. A própria firmeza na fé nos conduz
necessariamente à bondade no amor. (147)
384
buscou realçar apenas a característica de ser
uma ciência. Mas, não deixou, algumas vezes,
de dizer que era uma ciência filosófica, que
tinha, portanto, consequências de ordem
moral.
385
Várias vezes, ele enumerou pessoas de outras
religiões na hoste Espírita.
386
sendo a filosofia e a moral para eles simples
acessórios, com os quais não se preocupavam;
387
A partir daí, a ênfase científica foi
perdendo destaque, para ceder lugar ao
aspecto religioso do Espiritismo. Não sem
antes fazer uma ligação entre as duas fases,
dizendo: “Se o acordo entre ciência e religião
fosse impossível, não haveria religião
possível”. Pregava a possibilidade e, até
mesmo, a necessidade desse acordo: “A
ciência e a religião são irmãs para a maior
glória de Deus, e devem se completar uma
pela outra, em lugar de se desmentir uma pela
outra”. Para Kardec, o Espiritismo seria “o traço
de união” que permitirá “a ciência e a religião
se olharem face a face, uma sem rir e a outra
sem temer”. Concluindo: “É pelo acordo da fé e
da razão que ele conduz, cada dia, tantos
incrédulos a Deus”.
388
de 1866: “Inscrevendo no frontispício do
Espiritismo a suprema lei do Cristo, abrimos o
caminho para o Espiritismo Cristão, e fomos
instituídos, pois, em desenvolver-lhe os
princípios, assim como os caracteres do
verdadeiro espírita sob esse ponto de vista”.
389
público não veria nele senão uma nova
edição, uma variante, se assim nos quisermos
expressar, dos princípios absolutos em matéria
de fé; uma casta sacerdotal com um cortejo de
hierarquias, de cerimônias e de privilégios; não
o separaria das ideias de misticismo, e dos
abusos contra os quais a opinião
frequentemente é levantada.
O Espiritismo, não tendo nenhum dos
caracteres de uma religião, na acepção usual
da palavra, não se poderia, nem deveria se
ornar de um título sobre o valor do qual,
inevitavelmente, seria desprezado; eis porque
ele se diz simplesmente: doutrina filosófica e
moral. (KARDEC, 1993c, p. 359). (grifo nosso).
390
pai-nosso a seu vigário”: “Olhem as coisas frente a
frente. Se alguém está convencido de pertencer a
Cristo, tome consciência, de uma vez por todas, de
que assim como ele pertence a Cristo, também nós
pertencemos a Cristo.” (2 Coríntios 10,7)
391
história?
392
Sr. bispo, não somos fanáticos para não
reconhecer os valores espirituais de uma pessoa por
conta de seus rótulos religiosos, já que a nós, e ao
Cristo, “O homem bom, do bom tesouro do seu
coração tira o bem.” (Lucas 6,45), ou seja, do seu
interior.
393
para possuir a vida eterna?' Jesus respondeu:
'Por que você me pergunta sobre o que é bom?
Um só é o bom. Se você quer entrar para a
vida, guarde os mandamentos'. O homem
perguntou: 'Quais mandamentos?' Jesus
respondeu: 'Não mate; não cometa adultério;
não roube; não levante falso testemunho;
honre seu pai e sua mãe; e ame seu próximo
como a si mesmo'. O jovem disse a Jesus:
'Tenho observado todas essas coisas. O que é
que ainda me falta fazer?' Jesus respondeu: 'Se
você quer ser perfeito, vá, venda tudo o que
tem, dê o dinheiro aos pobres, e você terá um
tesouro no céu. Depois venha, e siga-me.'”
394
Pai. Recebam como herança o Reino que meu
Pai lhes preparou desde a criação do mundo.
Pois eu estava com fome, e vocês me deram
de comer; eu estava com sede, e me deram de
beber; eu era estrangeiro, e me receberam em
sua casa; eu estava sem roupa, e me vestiram;
eu estava doente, e cuidaram de mim; eu
estava na prisão, e vocês foram me visitar'.
Então os justos lhe perguntarão: 'Senhor,
quando foi que te vimos com fome e te demos
de comer, com sede e te demos de beber?
Quando foi que te vimos como estrangeiro e te
recebemos em casa, e sem roupa e te
vestimos? Quando foi que te vimos doente ou
preso, e fomos te visitar?' Então o Rei lhes
responderá: 'Eu garanto a vocês: todas as
vezes que vocês fizeram isso a um dos
menores de meus irmãos, foi a mim que o
fizeram.' Depois o Rei dirá aos que estiverem à
sua esquerda: 'Afastem-se de mim, malditos.
Vão para o fogo eterno, preparado para o diabo
e seus anjos. Porque eu estava com fome, e
vocês não me deram de comer; eu estava com
sede, e não me deram de beber; eu era
estrangeiro, e vocês não me receberam em
casa; eu estava sem roupa, e não me vestiram;
eu estava doente e na prisão, e vocês não me
foram visitar'. Também estes responderão:
'Senhor, quando foi que te vimos com fome, ou
com sede, como estrangeiro, ou sem roupa,
doente ou preso, e não te servimos?' Então o
395
Rei responderá a esses: 'Eu garanto a vocês:
todas as vezes que vocês não fizeram isso a
um desses pequeninos, foi a mim que não o
fizeram'. Portanto, estes irão para o castigo
eterno, enquanto os justos irão para a vida
eterna.”
396
adiante, pelo outro lado. O mesmo aconteceu
com um levita: chegou ao lugar, viu, e passou
adiante, pelo outro lado. Mas um samaritano,
que estava viajando, chegou perto dele, viu, e
teve compaixão. Aproximou-se dele e fez
curativos, derramando óleo e vinho nas feridas.
Depois colocou o homem em seu próprio
animal, e o levou a uma pensão, onde cuidou
dele. No dia seguinte, pegou duas moedas de
prata, e as entregou ao dono da pensão,
recomendando: 'Tome conta dele. Quando eu
voltar, vou pagar o que ele tiver gasto a mais''.
E Jesus perguntou: 'Na sua opinião, qual dos
três foi o próximo do homem que caiu nas
mãos dos assaltantes?' O especialista em leis
respondeu: 'Aquele que praticou misericórdia
para com ele'. Então Jesus lhe disse: 'Vá, e faça
a mesma coisa.'”
397
reencarnada.
398
[…] a religiosidade vaticana está impregnada de
elementos judaicos e pagãos, herdados do Império
Romano e da nobreza europeia. Basta conferir
seus símbolos e rituais” (150)
399
dela, pois “a verdade que liberta” está lá fora.
400
mortos, é perfeitamente compreensível, pois se isso
for verdade, como ficaria a função do intermediário
entre Deus e os homens, se os próprios fiéis podem
diretamente conversar com Deus, não necessitando
deles para que sejam salvos?
401
Conclusão
402
principalmente essa retrógrada, composta de
indivíduos refratários ao progresso, esses que vivem
ainda na era pré-histórica, no parque dos
dinossauros.
403
E em seguida, declara incisivamente:
404
todos os Santos personagens de que está
provada a história do cristianismo. Todas as
visões de Santos teriam sido visões
diabólicas! E isso nós não podemos crer”.
405
estendem para fazê-lo desviar de seu objetivo,
ninguém ainda encontrou o meio de detê-lo em sua
marcha, e que ganha um terreno desesperador
para aqueles que creem abatê-lo dando-lhe
piparotes. (153)
406
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407
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significado-biblico. Acesso em: 04 set. 2024.
413
Dados biográficos do autor
Paulo da Silva Neto Sobrinho é
natural de Guanhães, MG. Formado em
Ciências Contábeis e Administração de
Empresas pela Universidade Católica
(PUC-MG). Aposentou-se como Fiscal de
Tributos pela Secretaria de Estado da
Fazenda de Minas Gerais. Ingressou no
movimento Espírita em Julho/87.
Participa do GAE – Grupo de Apologética Espírita
(https://apologiaespirita.com.br/), desde o ano de 2004,
quando de sua fundação.
Escreveu vários artigos/ebooks que estão publicados
em seu site Paulo Neto (https://paulosnetos.net) e
alguns outros sites Espíritas na Web.
Livros publicados por Editoras:
a) impressos: 1) A Bíblia à Moda da Casa; 2) Alma
dos Animais: Estágio Anterior da Alma Humana?; 3)
Espiritismo, Princípios, Práticas e Provas; 4) Os Espíritos
Comunicam-se na Igreja Católica; 5) As Colônias
Espirituais e a Codificação; 6) Kardec & Chico: 2
Missionários. Vol. I; 7) Espiritismo e Aborto; e 8) Chico
Xavier: uma alma feminina.
b) digitais: 1) Kardec & Chico: 2 Missionários. Vol. II,
2) Kardec & Chico: 2 Missionários. Vol. III; 3) Racismo em
Kardec?; 4) Espírito de Verdade, Quem Seria Ele?; 5) A
Reencarnação Tá na Bíblia; 6) Manifestações de Espírito
de Pessoa Viva (Em Que Condições Elas Acontecem); 7)
Homossexualidade, Kardec Já Falava Sobre Isso; 8) Os
414
Nomes dos Títulos dos Evangelhos Designam Seus
Autores?; 9) Apocalipse: Autoria, Advento e a
Identificação da Besta; 10) Chico Xavier e Francisco de
Assis Seriam o Mesmo Espírito?; 11) A Mulher na Bíblia;
12) Todos Nós Somos Médiuns?; 13) Os Seres do Invisível
e as Provas Ainda Recusadas Pelos Cientistas; 14) O
Perispírito e as Polêmicas a Seu Respeito; 15) O Fim dos
Tempos Está Próximo?; 16) Obsessão, Processo de Cura
de Casos Graves; 17) Umbral, Há Base Doutrinária Para
Sustentá-lo?; 18) A Aura e os Chakras no Espiritismo; 19)
Os Quatro Evangelhos, Obra Publicada por Roustaing,
Seria a Revelação da Revelação?; 20) Espiritismo:
Religião Sem Dúvida; 21) Allan Kardec e Suas
Reencarnações; 22) Médiuns São Somente os Que
Sentem a Influência dos Espíritos?; 23) EQM: Prova da
Sobrevivência da Alma; 24) A Perturbação Durante a Vida
Intrauterina; 25) Os Animais: Percepções, Manifestações e
Evolução; 26) Reencarnação e as Pesquisas Científicas;
27) Reuniões de Desobsessão (Momento de Acolher
Espíritos em Desarmonia); 28) Haveria Fetos Sem
Espírito?; 29) Trindade: O Mistério Imposto Por Um Leigo e
Anuído Pelos Teólogos; e 30) Herculano Pires diante da
Revista Espírita.
415
1
KLOPPENBURG, Espiritismo e Fé, p. 3-5.
2
KARDEC, O Que é o Espiritismo, p. 123.
3
KLOPPENBURG, Espiritismo e Fé, p. 5-8.
4
KLOPPENBURG, Espiritismo e Fé, p. 8-10.
5
KARDEC, O Livro dos Espíritos, p. 13.
6
KLOPPENBURG, Espiritismo e Fé, p. 10-15.
7
CHAMPLIN, O Novo Testamento Interpretado Versículo por
Versículo, vol. 3, p. 45.
8
Bíblia Sagrada – Pastoral, p. 1391.
9
KARDEC, O Livro dos Espíritos, p. 46-47.
10
KARDEC, O Livro dos Espíritos, p. 486.
11
KARDEC, Revista Espírita 1858, p. 3.
12
KLOPPENBURG, Espiritismo e Fé, p. 15.
13
KLOPPENBURG, Espiritismo e Fé, p. 15-16.
14
KLOPPENBURG, Espiritismo e Fé, p. 16-17.
15
DENIS, Depois da Morte, p. 187-188.
16
KLOPPENBURG, Espiritismo e Fé, p. 17-18.
17
PACHECO, Verdades e Mentiras Sobre o Homem Chamado
Jesus, p. 77.
18
Nota da Transcrição (N.T.): “As bíblias e os iniciadores
religiosos da humanidade”, por Leblois, pastor de
Strasburgo.
19
DENIS, Cristianismo e Espiritismo, p. 272.
20
ORÍGENES, Contra Celso, p. 154.
21
FLUSSER, O Judaísmo e as Origens do Cristianismo. Vol. II,
p. 156.
22
FLUSSER, O Judaísmo e as Origens do Cristianismo. Vol. II,
p. 170.
23
FLUSSER, O Judaísmo e as Origens do Cristianismo. Vol. II,
p. 170.
416
24
VERMES, O Autêntico Evangelho de Jesus, p. 377-378.
25
Bíblia de Jerusalém, p. 1758, explicação para Mateus
28,19.
26
KLOPPENBURG, Espiritismo e Fé, p. 18-19.
27
KARDEC, A Gênese, p. 354-355.
28
N.T.: Não falamos do mistério da encarnação, com o qual
não temos que nos ocupar aqui e que será examinado
ulteriormente.
29
KARDEC, A Gênese, p. 401-403.
30
KARDEC, A Gênese, p. 403.
31
KARDEC, A Gênese, p. 404.
32
KARDEC, Revista Espírita 1866, p. 190-192.
33
KLOPPENBURG, Espiritismo e Fé, p. 19-20.
34
KLOPPENBURG, Espiritismo e Fé, p. 20-22.
35
SCHUTEL, O Batismo, p. 15.
36
MARTINS, Nas Fronteiras da Ciência, p. 30.
37
LETERRE, Jesus e sua Doutrina, p. 172-173.
38
Bíblia de Jerusalém, p. 1785.
39
Bíblia Anotada, p. 1265
40
Bíblia Anotada, p. 1265.
41
Bíblia Sagrada – Pastoral, p. 1307.
42
Bíblia do Peregrino, p. 2446.
43
Bíblia Sagrada – Ave-Maria, p. 1344.
44
Mateus 18,5; 18,20; 24,5; Marcos 9,39; 9,41; 16,17; João
14,13-14; 14,26; 15,26; 16,23-24.26.
45
PALHANO JR, Teologia Espírita, p. 403
46
PALHANO JR, Aos Gálatas: a Carta da Redenção, p. 173,
47
VERMES, O Autêntico Evangelho de Jesus, p. 344-345.
48
Bíblia de Jerusalém, p. 1751.
417
49
N.T.: Luc., XXIV, 30-31, 35, representa a divisão do pão
como um hábito de Jesus.
50
N.T.: Luc., XXII, 20.
51
N.T.: I Cor., XI, 26.
52
N.T.: Mat. XXVI, 26-28; Marc., XI, 22-24; Luc., XXII,19-21; I
Cor., XI, 23-25.
53
N.T.: Cap. VI.
54
N.T.: Cap. XIII-XVII.
55
RENAN, A Vida de Jesus, p. 360-361.
56
EHRMAN, O Que Jesus Disse? O Que Jesus Não Disse? –
Quem Mudou a Bíblia e Por Quê, 2006, p. 175-176.
57
FLUSSER, O Judaísmo e as Origens do Cristianismo. Vol. I,
p. 227.
58
KERSTEN e GRUBER, O Buda Jesus – as Fontes Budistas do
Cristianismo, p. 316.
59
N.T.: Donini, Ambrogio – “História do Cristianismo: das
origens a Justiniano”, Lisboa, Edições 70, 1988, p. 262.
60
MARTINS, História da Formação do Novo Testamento –
Uma Síntese, p. 32.
61
ALMEIDA, Origem e Desenvolvimento do Cristianismo, p.
86.
62
João 6,8; 6,68; 13,6; 13,9; 13,24; 13,36; 18,10, 18,15;
18,25; 20,2; 20,6; 21,2; 21,3; 21,7; 21,11.
63
João 13,37; 18,16, 18,17; 18,18; 18,26; 18,27; 20,3; 20,4;
21,7; 21,17; 21,19; 21,20; 21,21.
64
Atos 10,5; 10,18; 10,32; 11,13.
65
1 Coríntios 1,12; 3,22; 9,5; 15,5.
66
Gálatas 1,18; 2,9; 2,11; 2,14.
67
Gálatas 2,7; 2,8.
68
Novo Mundo, p. 1232.
69
Dicionário Prático da Barsa, p. 51.
418
70
VERMES, O Autêntico Evangelho de Jesus, p. 410.
71
MARTINS, História da Formação do Novo Testamento –
Uma Síntese, p. 15-16.
72
PASTORINO, A Sabedoria do Evangelho. vol. 4, p. 32-38.
73
Dicionário Prático da Barsa, p. 210.
74
CHAMPLIN e BENTES, Enciclopédia de Bíblia Teologia e
Filosofia. vol. 2, p. 833-834.
75
João 13,23; 19,26; 20,2; 21,7; 21,20.
76
ROHDEN, Lampejos Evangélicos, p. 99.
77
Bíblia Sagrada – Ave-Maria, p. 47.
78
EHRMAN, O Que Jesus disse? O Que Jesus Não disse? –
Quem Mudou a Bíblia e Por Quê, p. 63.
79
Bíblia Sagrada – Santuário, p. 1798.
80
Bíblia de Jerusalém, p. 2104-2105.
81
Bíblia do Peregrino, p. 2903.
82
Bíblia Sagrada – Vozes, p. 1435 e 1439-1440.
83
ROHDEN, Lampejos Evangélicos, p. 97.
84
RENAN, Paulo, o 13º Apóstolo, p. 235.
85
N.T.: Act., c. XV.
86
N.T.: Act., c. XV, 23-29.
87
N.T.: J. H. NEWMAN, do Oratório: A letter addressed to his
grace the duke of Norfolk on occasion of Mr. Gladstone
recent expostulation. – London, 1875. – Pág. 29.
88
N.T.: Act., c. 1 e VI.
89
N.T.: Livr. III. cap. II.
90
JANUS, O Papa e o Concílio – vol. 1, p. 64-67.
91
Dicionário Prático da Barsa, p. 204.
92
Bíblia de Jerusalém, p. 1838.
93
Bíblia Sagrada – Pastoral, p. 1440.
419
94
VAN LOON, A História da Bíblia, p. 180.
95
Bíblia de Jerusalém, p. 1896.
96
Bíblia de Jerusalém, p. 1898.
97
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98
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99
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100
GARDNER, A Linhagem do Santo Graal: a Descendência
Oculta de Jesus Revelada, p. 101.
101
N.T.: “Et murus civitatis habens fundamenta duodecim, e
in ipsis duodecim, nomina apostolorum Agni.” (Tinha o
muro da cidade doze fundamentos, e, em todos doze, os
doze nomes dos apóstolos do Cordeiro.) (Do tradutor
brasileiro.)
102
JANUS, O Papa e o Concílio – vol. 2, p. 67-69.
103
LETERRE, Jesus e Sua Doutrina: a Distinção Entre
Cristianismo e Catolicismo: Um Estudo que Remonta Há
Mais de 8.600 Anos, p. 326
104
LETERRE, Jesus e Sua Doutrina: a Distinção Entre
Cristianismo e Catolicismo: Um Estudo que Remonta Há
Mais de 8.600 Anos, p. 338-345.
105
MELLO, Reencontro Cristão – Reflexões para o
Cristianismo do Terceiro Milênio, p. 123
106
VAN DER LEEUW, A Dramática História da Fé Cristã, p.
112.
107
N.T.: Ambrogio Donini, Storia del cristianesimo – dalle
origini a Giustiniano, Teti editore, Milão, p. 306-7.
108
Cf. Storia della Chiesa (séc. I-XII), Jesus: duemila anni di
attualità, vol. III. Edizioni SAIE, Turim, 1981, p. 196-7.N.T.:
109
FO; TOMAT; MALUCELLI, O Livro Negro do Cristianismo:
Dois Mil anos de Crimes em Nome de Deus, p. 77-78.
110
KARDEC, O Livro dos Espíritos, p. 104.
420
111
KARDEC, O Céu e o Inferno, p. 121-123.
112
KARDEC, O Céu e o Inferno, p. 141-144.
113
N.T.: Vede O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XXVII
- “Ação da prece”.
114
N;T.: Idem, cap. III - “Progressão dos mundos”.
115
KARDEC, O Céu e o Inferno, p. 67-72.
116
N.T.: I Epíst. aos Coríntios, XV, 4-50 (traduzido do texto
grego); ver também XV, 52-56; Epíst. Aos Filip., III, 21;
depois S. João, V, 28 e 29; S. Inácio, Epíst. Aos Trallianos,
IX, 1.
117
N.T.: Abade Petit, A renovação religiosa, págs. 48-53. Ver
também nota nº 9, no fim deste volume.
118
N.T.: Abade Petit, obra citada, pág. 53.
119
DENIS, Cristianismo e Espiritismo, p. 98-99.
120
KLOPPENBURG, Espiritismo e Fé, p. 22-26.
121
KARDEC, O Livro dos Médiuns, p.40.
122
KARDEC, O Céu e o Inferno, p. 152-156.
123
KARDEC, O Céu e o Inferno, p. 161.
124
KARDEC, O Que é o Espiritismo, p. 70-71.
125
KARDEC, O Que é o Espiritismo, p. 103-104.
126
HUBER, O Diabo, Hoje, p. 8.
127
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128
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consolador-veio-no-pentecostes
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130
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131
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132
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421
133
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149
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150
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10.
151
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152
NETTO, As Ideias Arejadas do Bispo, in. Revista Espírita
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422