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4life Importância Da Educação Pré-Escolar

Importância da educação pré-escolar no ensino escolar.
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Supervisora: Odete Fernando

Supervisionando: Pedro Rodrigues Chichongue

Tema: A Importância da Frequência do Ensino Pré-escolar ao Sucesso Escolar: Estudo de


caso na Escola Primária de Matadouro

1.Introdução

A educação pré-escolar representa uma etapa fundamental no desenvolvimento integral da


criança, sendo amplamente reconhecida como um alicerce importante para o sucesso escolar
nas fases subsequentes da vida académica. É neste período inicial que a criança começa a
desenvolver competências essenciais, como a socialização, a linguagem, a autonomia e o
pensamento simbólico, que influenciam positivamente a sua adaptação e o seu rendimento no
ensino primário. Assim, a frequência ao ensino pré-escolar não se resume à preparação
académica, mas contribui também para o desenvolvimento emocional e para a criação de
hábitos de aprendizagem.

Apesar desta relevância, o acesso ao ensino pré-escolar em Moçambique continua a ser


desigual, sobretudo entre as crianças provenientes de contextos socioeconómicos vulneráveis.
A escassez de infra-estruturas públicas, os custos associados ao ensino privado e a falta de
sensibilização por parte das famílias dificultam o acesso de muitas crianças a esta etapa da
educação. Como consequência, um número considerável de alunos ingressa no ensino
primário sem qualquer experiência escolar prévia, o que pode comprometer o seu sucesso
académico.

No distrito de Maxixe, província de Inhambane, esta realidade também se verifica. Na Escola


Primária de Matadouro, observa-se que muitas crianças iniciam o ensino primário sem ter
frequentado o pré-escolar, o que levanta preocupações quanto ao seu aproveitamento escolar
e à sua adaptação ao contexto educativo. Neste sentido, o presente estudo tem como objectivo
geral analisar a importância da frequência do ensino pré-escolar no sucesso escolar das
crianças da Escola Primária de Matadouro.

De forma específica, pretende-se identificar as diferenças no desempenho escolar entre


crianças que frequentaram e as que não frequentaram o ensino pré-escolar, descrever as
competências iniciais adquiridas pelas crianças que frequentaram esta etapa, explicar a
importância do ensino pré-escolar no sucesso escolar das crianças da Escola Primária de
Matadouro, e comparar o sucesso escolar de crianças com e sem acesso ao ensino pré-escolar.

O trabalho encontra-se estruturado em três capítulos. O primeiro apresenta a fundamentação


teórica, abordando conceitos-chave relacionados com o desenvolvimento infantil, a
aprendizagem precoce e o sucesso escolar. O segundo descreve os procedimentos
metodológicos utilizados, incluindo o tipo de investigação, os participantes e os instrumentos
de recolha de dados. O terceiro capítulo expõe, analisa e interpreta os dados recolhidos, à luz
dos objectivos definidos e da literatura mobilizada.

1.1.Objectivos

1.1.1.Geral

 Avaliar a importância da frequência do ensino pré-escolar no sucesso escolar das


crianças da Escola Primária de Matadouro.

1.1.2.Específicos

 Identificar as diferenças no desempenho escolar entre crianças que frequentaram e as


que não frequentaram o ensino pré-escolar.

 Descrever as competências iniciais adquiridas pelas crianças que frequentaram o


ensino pré-escolar.

 Explicar a importância do ensino pré-escolar no sucesso escolar das crianças da


Escola Primária de Matadouro

 Comparar o sucesso escolar de crianças com acesso ao ensino pré-escolar e sem


acesso ao ensino pré-escolar.

1.2.Problematização

Tradicionalmente, a função de cuidar e educar as crianças estava reservada à mulher, mas,


actualmente, ela assume cada vez mais actividades fora do seio familiar (Scott, 1995). Porém,
alguns pais ou encarregados de educação que possuem condições necessárias para o
pagamento das propinas mensais ou anuais, optam em deixar os seus filhos sob cuidado das
organizações, instituições de educação pré-escolar.
A educação infantil, também designada por educação pré-escolar, corresponde à primeira
etapa do processo educativo, destinada a crianças até aos seis anos de idade. Esta fase visa
promover o desenvolvimento integral da criança, considerando as suas dimensões físicas,
emocional, social e cognitivas, num ambiente seguro e estimulante, favorecendo a sua
progressiva autonomia e preparação para o ensino básico (Oliveira-Formosinho, 2007).

Os pais que não possuem esta condição ou porque nas suas regiões de localização não existe
um centro de educação pré-escolar, não conseguem condicionar uma educação pré-escolar
para seus filhos. Embora a Educação Pré-escolar esteja fora da Constituição da República de
Moçambique, se encontra enquadrada no Ministério da Educação. Esta inclusão de Educação
Pré-escolar no Ministério da Educação incentiva o modo capitalista no campo educacional ao
aceitar a sua implementação, e ao mesmo tempo, perpetua a desigualdade de oportunidades
educacionais para as crianças sem condições, na medida em que apenas famílias com boas
condições matriculam seus filhos nessas entidades. Em Moçambique a educação pré-escolar é
feita, pelo sector privado, sem acompanhamento do Estado. Para nós, esta situação nos
submete num jogo de categorização de poderes, em que a camada desfavorecida só espera a
única oportunidade da educação básica que é para todos, deixando a educação pré-escolar
para quem pode.

Na prática, esta realidade é facilmente constatada em algumas escolas do ensino primário,


como é o caso da Escola Primária de Matadouro, localizada no distrito de Maxixe, província
de Inhambane. Informações mostram que nesta instituição, a capacidade adaptativa entre os
alunos que tiveram acesso à educação pré-escolar e aqueles que ingressaram directamente na
primeira classe sem qualquer preparação formal anterior é diferente. Os primeiros
demonstram maior facilidade na adaptação às rotinas escolares, melhor domínio da
linguagem oral e escrita, e desenvolvem competências cognitivas com maior fluidez. Por
outro lado, os segundos apresentam maiores dificuldades adaptativas, dificuldades em
interagir com os colegas e compreender os conteúdos escolares, o que compromete o seu
desempenho escolar nas classes iniciais. As crianças que não frequentam a educação pré-
escolar chegam à escola primária com desvantagens claras, o que condiciona negativamente o
seu desempenho escolar e o seu rendimento pedagógico. Desta forma levanta-se a seguinte
Pergunta de partida:

Até que ponto a frequência do ensino pré-escolar influência no sucesso do ensino escolar
das crianças da Escola Primária de Matadouro?
1.3.Justificativa

A presente investigação surge da necessidade de compreender os impactos da frequência ao


ensino pré-escolar no sucesso escolar das crianças, com enfoque na realidade vivida na
Escola Primária de Matadouro. Em Moçambique, apesar de alguns avanços no sector da
educação, o ensino pré-escolar continua a ser, em grande parte, assegurado por instituições
privadas, o que limita o acesso das crianças oriundas de famílias economicamente
vulneráveis. Essa limitação gera desigualdades evidentes no início da escolaridade
obrigatória, comprometendo o desempenho escolar de muitas crianças.

A reflexão sobre este problema aprofunda-se a partir da experiência directa do investigador


durante as Práticas Pedagógicas I, realizadas em 2022 na Escola Primária de Matadouro, no
distrito de Maxixe. Durante as observações nas aulas da primeira classe, verifica-se que as
crianças que frequentaram o ensino pré-escolar demonstram maior facilidade de expressão
oral, autonomia, integração social e familiaridade com o ambiente escolar. Em contrapartida,
aquelas que não frequentaram essa etapa apresentam maiores dificuldades de adaptação e
aprendizagem.

Este cenário motiva o presente estudo, que visa evidenciar de que forma a frequência ao
ensino pré-escolar contribui para o sucesso escolar nas classes iniciais. A investigação
assume particular pertinência por abordar uma problemática concreta que afecta directamente
o percurso educativo de milhares de crianças moçambicanas, sobretudo as provenientes de
contextos socioeconómicos desfavorecidos.

Do ponto de vista científico, este estudo contribui para o enriquecimento das reflexões sobre
o papel do ensino pré-escolar no desenvolvimento integral da criança, apresentando uma
análise contextualizada da realidade educativa da Escola Primária de Matadouro.

No plano social, pretende-se sensibilizar pais, encarregados de educação e comunidades


sobre a importância de garantir às crianças o acesso a uma educação de base desde os
primeiros anos de vida. Muitas vezes, a não frequência ao ensino pré-escolar decorre não
apenas da falta de recursos, mas também do desconhecimento quanto à sua importância para
o desenvolvimento infantil.

A nível profissional, este estudo representa um compromisso pedagógico do investigador, ao


analisar uma realidade educativa concreta e socialmente relevante. Ao documentar e reflectir
criticamente sobre os efeitos da ausência do ensino pré-escolar, o investigador contribui para
o fortalecimento do seu percurso académico e para a promoção de práticas educativas mais
justas e inclusivas.

Como referem Campos, Rosemberg e Fullgraf (1995), “a subordinação da educação pré-


escolar ao governo representa, pelo menos ao nível do texto constitucional, um grande passo
na educação básica das crianças; na superação das suas dificuldades” (p. 32). Este estudo, ao
concentrar-se na importância da frequência ao ensino pré-escolar, procura precisamente
reforçar essa superação e contribuir para um sistema educativo mais equitativo.

1.4.Hipóteses

Hipótese 1: A frequência ao ensino pré-escolar contribui significativamente para o sucesso


escolar das crianças nas classes iniciais do ensino primário.

Hipótese 2: As crianças que frequentaram o ensino pré-escolar demonstram maior facilidade


de adaptação ao ambiente escolar, melhor desempenho académico e competências sociais
mais desenvolvidas.

Hipótese 3: A ausência de frequência ao ensino pré-escolar está associada a fragilidades no


desempenho escolar e a menor rendimento académico nas primeiras classes do ensino
primário.
CAPITULO I: FUNDAMENTAҪÃO TEÓRICA

CONCEITOS BÁSICOS

2.1 Educação Pré-Escolar

A educação pré-escolar é reconhecida internacionalmente como uma fase essencial do


desenvolvimento infantil, antecedendo a escolaridade obrigatória. Friedrich Froebel é
apontado como o fundador da primeira instituição dedicada exclusivamente à educação de
crianças pequenas, a que denominou Kindergarten (jardim de infância). Segundo Gregorio
D'Costumes (2022), a educação pré-escolar refere-se à experiência educativa de crianças que
ainda não atingiram um grau escolar, abrangendo idades entre os 0 e os 5 ou 6 anos. É nas
instituições pré-escolares que a criança desenvolve aptidões intelectuais e sensoriais, aprende
a usar a linguagem e torna-se progressivamente mais autónoma.

De acordo com Faria (2007), “a educação pré-escolar é a primeira etapa da educação básica
no processo de educação ao longo da vida, sendo complementar da ação educativa da família
e destina-se às crianças com idades compreendidas entre os 3-5 anos, idade de ingresso no
ensino básico” (p. 12). Esta definição evidencia a importância da articulação entre família e
instituições educativas na preparação da criança para o ensino formal.

A análise destas definições permite perceber que a responsabilidade pela educação básica é,
de forma implícita, atribuída ao Estado, embora o papel da família como agente
complementar deva ser reforçado. Concorda-se com Faria (2007) na delimitação etária da
educação pré-escolar, considerando que esta fase representa uma preparação fundamental
para a entrada no ensino primário.

O conceito de infância pode ser entendido tanto do ponto de vista cronológico, enfatizando o
desenvolvimento etário e biológico, como do ponto de vista social, considerando as
determinantes contextuais que definem quando uma criança está na fase da infância. Na
literatura científica, várias disciplinas se dedicam ao estudo da infância nas suas diversas
dimensões. Entre estas, destaca-se a Pedagogia da Infância, entendida como um conjunto de
fundamentos e orientações de ação pedagógica voltadas para as múltiplas conceções de
infância em diferentes espaços educacionais. Enquanto ramo da Pedagogia Geral, a
Pedagogia da Infância relaciona-se com outras áreas, como Pedagogia da Família, Pedagogia
Intercultural, Pedagogia do Jogo e Técnicas de Animação, Pedagogia Especial, Sociologia da
Infância, Psicologia do Desenvolvimento, Antropologia e Etnologia da Infância,
Neuropsiquiatria, Pediatria, Child Philosophy, Urbanística, Design, Políticas Públicas da
Educação, Economia da Educação e Direitos Humanos, evidenciando assim o seu caráter
interdisciplinar.

Diferenças no Desempenho Escolar Segundo a Frequência da Educação Pré-Escolar

O desempenho escolar das crianças que frequentaram a educação pré-escolar tende a diferir
significativamente do desempenho daquelas que não tiveram essa oportunidade. Esta
diferença é explicada pelo facto de a educação pré-escolar oferecer às crianças um conjunto
de experiências educativas iniciais que fortalecem competências cognitivas, linguísticas,
emocionais e sociais fundamentais para enfrentar com êxito os primeiros anos do ensino
primário (Oliveira-Formosinho, 2002; Vasconcelos, 2000).

De acordo com Langa (2013), crianças que frequentaram o ensino pré-escolar geralmente
apresentam maior autonomia, melhor domínio da linguagem e maior facilidade de adaptação
à disciplina e às rotinas escolares, o que se reflete positivamente no seu rendimento
académico nas primeiras classes. Em contrapartida, crianças que não tiveram acesso a este
nível de ensino podem apresentar maiores dificuldades de integração, menor domínio de
vocabulário e menor preparação para as exigências formais do processo de ensino-
aprendizagem (Machava, 2015).

Em Moçambique, o Plano Estratégico da Educação 2020–2029 (MINEDH, 2019) reconhece


explicitamente a importância de expandir a cobertura da educação pré-escolar como
estratégia para melhorar o desempenho escolar no ensino primário. Tal medida visa atenuar
desigualdades de base, sobretudo em zonas rurais, onde a ausência de pré-escolar é mais
frequente e o insucesso escolar tende a ser mais elevado.

Assim, pode-se afirmar que a frequência à educação pré-escolar representa um fator


determinante para reduzir as lacunas de desempenho entre crianças com diferentes condições
socioeconómicas, funcionando como mecanismo de promoção de igualdade de oportunidades
no percurso escolar.

2.1.1.Vantagens da Educação Pré-escolar

A educação pré-escolar é reconhecida, tanto pela literatura científica como por organismos
internacionais, como uma etapa essencial para o desenvolvimento integral da criança. Esta
fase contribui de forma decisiva para o sucesso no percurso escolar subsequente, assumindo
um papel complementar à ação educativa da família (Oliveira-Formosinho, 2002;
Vasconcelos, 2000).

Promoção do Desenvolvimento Cognitivo

A frequência à educação pré-escolar favorece o desenvolvimento de capacidades cognitivas


básicas, como a atenção, a memória, o raciocínio lógico-matemático e a resolução de
problemas. Estas competências são estimuladas através de atividades pedagógicas planeadas,
ajustadas à faixa etária da criança, criando uma base sólida para a aprendizagem formal no
ensino primário (Oliveira-Formosinho, 2002).

Estímulo ao Desenvolvimento Linguístico

Nesta fase, a criança amplia o seu vocabulário, aperfeiçoa a linguagem oral e adquire maior
capacidade de comunicação. Vasconcelos (2000) salienta que o desenvolvimento linguístico
precoce contribui para facilitar a aprendizagem da leitura e da escrita, reduzindo dificuldades
no início da escolaridade obrigatória.

Desenvolvimento Socioemocional

A educação pré-escolar desempenha um papel fundamental na socialização, proporcionando


um ambiente que promove a partilha, a cooperação, a autonomia e o respeito pelas regras e
pelos outros. Esta convivência fortalece a autoestima, a autonomia e a capacidade de
adaptação à escola (Vasconcelos, 2000).

Promoção da Igualdade de Oportunidades

A educação pré-escolar constitui um instrumento eficaz para reduzir desigualdades de origem


socioeconómica. O Plano Estratégico da Educação 2020–2029 (Ministério da Educação e
Desenvolvimento Humano [MINEDH], 2019) destaca que a expansão desta etapa é essencial
para garantir igualdade de oportunidades no acesso e sucesso escolar, sobretudo em contextos
rurais e desfavorecidos.

Complementaridade com a Família

De acordo com a Lei do Sistema Nacional de Educação (Lei n.º 18/2018), a educação pré-
escolar é definida como a primeira etapa da educação básica, complementar à ação educativa
da família. O enquadramento legal moçambicano reforça a corresponsabilidade entre Estado,
família e comunidade na promoção do desenvolvimento integral da criança.
2.2 Educação Pré-Escolar em Moçambique

Em Moçambique, a educação pré-escolar é reconhecida na Lei do Sistema Nacional de


Educação (Lei n.º 18/2018, de 28 de dezembro) como a primeira etapa da educação básica,
destinada a crianças dos 3 aos 5 anos de idade. Esta lei estabelece que o Estado deve criar
condições para a expansão e melhoria da qualidade da educação pré-escolar, reconhecendo-a
como base essencial para o sucesso escolar futuro.

Apesar deste enquadramento legal, a implementação da educação pré-escolar no país enfrenta


desafios significativos. De acordo com o Plano Estratégico da Educação 2020–2029, a taxa
de cobertura da educação pré-escolar permanece baixa, sobretudo em zonas rurais e
suburbanas. A maioria das instituições deste nível de ensino é de natureza privada, o que
restringe o acesso das crianças provenientes de contextos socioeconómicos desfavorecidos.

O mesmo Plano Estratégico destaca a importância do desenvolvimento integral da criança e


defende a articulação entre educação pré-escolar e ensino primário. Contudo, o Estado
continua a enfrentar limitações estruturais e financeiras que comprometem a sua capacidade
de garantir um acesso universal e equitativo a esta etapa educativa. Esta realidade reforça
desigualdades no percurso escolar, uma vez que as crianças que não frequentam a educação
pré-escolar tendem a enfrentar maiores dificuldades de adaptação e desempenho no ensino
primário.

2.6. Competências Académicas e Sociais Adquiridas no Pré-escolar

A educação pré-escolar tem um papel fundamental na aquisição de competências que


favorecem o sucesso escolar e a integração social da criança. Nesta etapa, desenvolvem-se
capacidades cognitivas, linguísticas, motoras e sócio emocionais que servem de base para
aprendizagens futuras.

Do ponto de vista académico, a criança inicia o contacto com a linguagem escrita, a


contagem, o reconhecimento de formas, cores e símbolos, o que favorece a alfabetização e o
raciocínio lógico matemático (Cunha, 2011). Estas aprendizagens, ainda que não formais,
estruturam o pensamento e preparam a criança para os desafios do ensino primário.

No domínio social, a frequência ao pré-escolar permite o desenvolvimento da autonomia, do


autocontrolo, da empatia e da capacidade de resolver conflitos. Segundo Vygotsky (1978), a
aprendizagem ocorre através da interacção social, sendo o espaço educativo pré-escolar
essencial para fomentar competências como a cooperação, o respeito pelas regras e a escuta
do outro.

Além disso, as crianças que frequentam o pré-escolar apresentam melhor adaptação ao


ambiente escolar, maior motivação e maior segurança emocional (Shonkoff & Phillips,
2000). Estas competências reduzem os riscos de insucesso e de reprovação no ensino
primário, especialmente entre crianças de contextos vulneráveis.

Por fim, o pré-escolar contribui para a igualdade de oportunidades, oferecendo às crianças


condições de aprendizagem partilhadas, independentemente das suas origens familiares
(Heckman, 2006). Assim, o investimento nesta etapa é determinante para a promoção da
inclusão e do desenvolvimento integral.

2.3. Importância da Educação Pré-escolar

A educação pré-escolar constitui uma etapa fundamental no desenvolvimento global da


criança, sendo considerada a base para a aprendizagem futura e o sucesso no percurso
escolar. Diversos estudos destacam que as crianças que frequentam a educação pré-escolar
apresentam melhor desempenho cognitivo, social e emocional no ensino primário, facilitando
a adaptação às exigências escolares (UNESCO, 2016).

Segundo Morin (2012), a educação pré-escolar promove competências essenciais, como a


linguagem, o raciocínio lógico, a autonomia, a socialização e o desenvolvimento motor,
factores decisivos para o sucesso no ensino formal. Trata-se, portanto, de um espaço
privilegiado de estímulo à aprendizagem activa, através do brincar, da descoberta e da
convivência.

Em contextos de vulnerabilidade social, a educação pré-escolar assume um papel ainda mais


relevante. De acordo com Cunha (2010), a frequência deste nível de ensino contribui para
mitigar os efeitos das desigualdades socioeconómicas sobre o rendimento escolar. Crianças
provenientes de famílias com menos recursos beneficiam significativamente de uma
educação pré-escolar estruturada, que lhes oferece oportunidades de desenvolvimento que, de
outra forma, poderiam não ter.

Em Moçambique, a importância da educação pré-escolar é reconhecida na Lei do Sistema


Nacional de Educação (Lei n.º 18/2018), a qual estabelece que esta etapa visa assegurar o
desenvolvimento harmonioso e integral da criança e prepará-la para o ensino primário. A
própria legislação destaca que este nível educativo deve estar orientado para a promoção de
valores humanos, sociais e culturais adequados ao contexto da criança.

Além do impacto no rendimento académico, a educação pré-escolar também influencia


positivamente a assiduidade, a permanência e a progressão escolar. O Banco Mundial (2019)
aponta que crianças que frequentaram a educação pré-escolar têm menos probabilidade de
repetir de classe ou abandonar a escola nos primeiros anos do ensino básico.

Desta forma, a educação pré-escolar não deve ser vista como mera antecipação da escola
formal, mas como uma etapa com identidade própria e com objectivos específicos no
processo de formação humana. O seu valor reside, não apenas na preparação para o futuro
escolar, mas também na promoção do bem-estar, da criatividade e do desenvolvimento pleno
da criança enquanto sujeito activo no seu processo de aprendizagem.

2.4. Finalidades da Educação Pré-escolar

A educação pré-escolar tem como finalidade principal proporcionar condições para o


desenvolvimento integral da criança, respeitando as suas características individuais, o seu
ritmo de crescimento e as suas necessidades. Trata-se de uma etapa da educação básica que
visa não apenas preparar a criança para o ensino primário, mas também garantir o seu bem-
estar físico, emocional, social e cognitivo (Faria, 2007).

De acordo com a Lei do Sistema Nacional de Educação de Moçambique (Lei n.º 18/2018), a
educação pré-escolar tem como objectivos específicos:

 Promover o desenvolvimento físico e psicomotor;

 Estimular o desenvolvimento da linguagem e da comunicação;

 Fomentar a socialização e a convivência em grupo;

 Desenvolver atitudes de autonomia, responsabilidade e criatividade;

 Incentivar hábitos de higiene, saúde e segurança;

 Reforçar os valores culturais, éticos e morais adequados ao contexto da criança.

Segundo Oliveira (2008), a educação pré-escolar deve oferecer experiências educativas ricas,
organizadas num ambiente seguro e estimulante, que favoreça a construção do conhecimento
através da acção, da brincadeira e da interacção com os outros. Desta forma, pretende-se
formar crianças mais confiantes, críticas e participativas, prontas para enfrentar os desafios
do ensino primário.

É importante sublinhar que a educação pré-escolar não se limita à antecipação de conteúdos


escolares, mas centra-se no desenvolvimento global da criança. Tal como defende Malaguzzi
(1999), educador e fundador das escolas de Reggio Emília, a criança é dotada de "cem
linguagens", isto é, múltiplas formas de se expressar, pensar e aprender. A função do
educador é proporcionar contextos que valorizem essas linguagens e estimulem o seu
florescimento.

Assim, as finalidades da educação pré-escolar passam por assegurar que todas as crianças,
independentemente do seu contexto familiar ou social, tenham um ponto de partida mais
equitativo no percurso educativo. Este nível de ensino deve funcionar como um direito e uma
oportunidade para o desenvolvimento pleno, sendo crucial para a redução das desigualdades
no acesso e no sucesso escolar.

2.5. O Desenvolvimento Infantil e a Aprendizagem Precoce

O desenvolvimento infantil é um processo dinâmico e contínuo, que envolve mudanças


físicas, cognitivas, linguísticas, sociais e emocionais desde o nascimento até à adolescência.
Na fase pré-escolar, estas dimensões estão particularmente interligadas, sendo influenciadas
por factores biológicos, ambientais e sociais (Papalia, Olds & Feldman, 2006).

Segundo Vygotsky (1978), o desenvolvimento da criança ocorre por meio das interacções
sociais e da mediação cultural, sendo a aprendizagem um motor para o próprio
desenvolvimento. A sua teoria da zona de desenvolvimento proximal salienta a importância
de ambientes educativos que ofereçam desafios adequados e apoio contínuo à criança,
permitindo-lhe alcançar progressivamente níveis mais avançados de desempenho.

A aprendizagem precoce, isto é, aquela que ocorre nos primeiros anos de vida, tem impacto
significativo no futuro desempenho escolar e no desenvolvimento de competências cognitivas
e sócio emocionais. De acordo com Cunha (2011), investir na estimulação e aprendizagem
durante a primeira infância contribui para o fortalecimento da memória, da linguagem, da
atenção e do raciocínio lógico, além de promover a auto-regulação e o convívio social.

A neurociência também reforça a importância dos primeiros anos como período sensível para
o desenvolvimento cerebral. Estudos mostram que, até aos cinco anos de idade, o cérebro
humano atinge cerca de 90% do seu tamanho adulto, sendo altamente receptivo a estímulos
externos (Shonkoff & Phillips, 2000). Assim, a educação pré-escolar desempenha um papel
crucial ao proporcionar experiências diversificadas e intencionalmente estruturadas, que
favorecem o desenvolvimento global da criança.

Em contextos de vulnerabilidade socioeconómica, a aprendizagem precoce guiada por


profissionais qualificados é ainda mais importante. Bronfenbrenner (1996) destaca que o
contexto familiar, comunitário e institucional influencia profundamente o percurso de
desenvolvimento infantil. Crianças que têm acesso a ambientes educativos de qualidade
desde cedo tendem a apresentar melhor adaptação escolar, maior motivação para aprender e
menores taxas de reprovação.

Neste sentido, a educação pré-escolar é reconhecida como uma das estratégias mais eficazes
para a promoção da igualdade de oportunidades e para a redução de défices de aprendizagem.
Conforme salienta Heckman (2006), o retorno económico e social do investimento na
primeira infância é superior ao de qualquer outro nível de ensino, dado que as intervenções
precoces são mais eficazes e menos dispendiosas do que aquelas que ocorrem em estágios
posteriores.

Portanto, compreender as especificidades do desenvolvimento infantil e valorizar a


aprendizagem precoce é essencial para garantir uma base sólida à criança. Esta base permite
não só o sucesso escolar, mas também o desenvolvimento de competências necessárias à vida
em sociedade.

2.Ensino Escolar

O ensino escolar, também designado ensino formal, é a etapa do sistema educativo


estruturada em graus e ciclos de escolaridade obrigatória, regulamentada pelo Estado e
organizada de forma progressiva, desde a 1.ª classe até aos níveis mais avançados de
formação académica. De acordo com a Lei do Sistema Nacional de Educação (Lei n.º
18/2018, de 28 de dezembro), o ensino escolar em Moçambique é guiado e supervisionado
pelo Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano (MINEDH), cabendo-lhe garantir a
expansão, a qualidade e a gestão de todo o processo educativo (República de Moçambique,
2018).

A entrada na 1.ª classe do ensino primário marca a transição da criança da educação pré-
escolar para o ensino escolar. Nesta fase, a criança deixa de frequentar um ambiente
predominantemente lúdico e de socialização (característico da educação pré-escolar) para
integrar uma estrutura formal de ensino, com programas curriculares definidos, metodologias
sistematizadas e avaliação contínua do progresso académico (Machava, 2015).

Para Castel-Branco (2008), o ensino escolar desempenha uma função estratégica na formação
de recursos humanos qualificados, na promoção da cidadania e no combate às desigualdades
sociais. É nesta etapa que as crianças adquirem as competências básicas de leitura, escrita e
cálculo, fundamentais para o prosseguimento de estudos e para o desenvolvimento pessoal e
social.

Segundo Langa (2013), o ensino escolar é também um direito fundamental de todas as


crianças, devendo ser assegurado pelo Estado de forma gratuita e inclusiva, em conformidade
com os princípios definidos na Constituição da República e na Lei do Sistema Nacional de
Educação.

Assim, pode-se afirmar que o ensino escolar em Moçambique é estruturado e regulamentado


pelo Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano, ao abrigo da Lei n.º 18/2018,
constituindo a base para a formação académica, cívica e social dos cidadãos.

Esta etapa tem início formal com o ingresso da criança na 1.ª classe do ensino primário,
momento determinante na trajetória educativa, em que se consolidam aprendizagens
essenciais que servirão de base para níveis subsequentes de formação. Enquanto Castel-
Branco (2008) sublinha o papel estratégico do ensino escolar na redução das desigualdades e
no desenvolvimento económico do país, Langa (2013) reforça a importância da gestão
eficiente e da implementação de políticas educativas inclusivas, centradas na qualidade e na
equidade. Por sua vez, Machava (2015) destaca que a melhoria da qualidade do ensino
escolar depende diretamente da capacitação dos professores, da adequação das infraestruturas
e do envolvimento ativo da comunidade educativa. Assim, o cruzamento destas perspetivas
evidencia que o ensino escolar é o resultado de um esforço articulado entre políticas públicas,
recursos humanos qualificados e a corresponsabilidade entre Estado, escola e família,
garantindo a cada criança o direito a aprender e a desenvolver-se plenamente.

2.7.Adaptação Escolar e Educação Pré-escolar


A transição da criança do ambiente familiar ou da educação pré-escolar para o ensino
primário representa uma mudança significativa, exigindo adaptações no comportamento, nas
rotinas e nas formas de interagir com os outros. A educação pré-escolar desempenha um
papel essencial nesse processo, preparando a criança para enfrentar com mais facilidade os
desafios do novo contexto escolar.

Em Moçambique, autores como Matsinhe (2015) reconhecem que as crianças que frequentam
a educação pré-escolar demonstram maior capacidade de adaptação às rotinas escolares,
incluindo a atenção nas aulas, o cumprimento de regras e a socialização com os colegas. Isto
deve-se ao facto de que, no pré-escolar, são criadas oportunidades para a criança
experimentar actividades em grupo, seguir instruções e desenvolver hábitos de trabalho.

Para Varela (2018), a ausência da educação pré-escolar pode dificultar a integração da


criança no ensino primário, pois esta não possui as competências básicas exigidas, o que se
traduz frequentemente em ansiedade, retraimento e fraco rendimento escolar. A autora
destaca que a adaptação escolar não depende apenas de aspectos cognitivos, mas também
emocionais e sociais, os quais são amplamente trabalhados na etapa pré-escolar.

Segundo o Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano (MINEDH, 2020), a


educação pré-escolar contribui para a criação de uma base estruturada para o sucesso escolar,
ao promover o desenvolvimento integral da criança. Quando esta etapa é negligenciada,
especialmente entre as crianças de meios desfavorecidos, tende-se a verificar um maior índice
de reprovações e dificuldades de aprendizagem no início da escolaridade.

Deste modo, a educação pré-escolar deve ser valorizada como um direito e uma necessidade
para facilitar a adaptação ao ensino primário, promovendo igualdade de oportunidades desde
os primeiros anos de vida escolar.

2.8.Sucesso Escolar

Conceito e Indicadores

O conceito de sucesso escolar refere-se ao alcance dos objectivos definidos no processo de


ensino e aprendizagem, manifestando-se através da progressão escolar contínua, da aquisição
efectiva de competências e do desenvolvimento integral da criança. Segundo Silva (2016), o
sucesso escolar não se limita ao desempenho académico em testes e exames, mas inclui
também aspectos como a participação, motivação, assiduidade, socialização e auto-estima do
aluno.

Em Moçambique, o Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano (MINEDH, 2020)


considera como indicadores de sucesso escolar a taxa de aprovação, a frequência regular às
aulas, o domínio das competências básicas (leitura, escrita e cálculo) e a capacidade de
adaptação às exigências de cada nível de ensino. Estes indicadores estão muitas vezes
associados ao contexto familiar, à preparação prévia da criança e ao apoio pedagógico
recebido na escola.

Para Tavares (2015), o sucesso escolar deve ser compreendido como um processo contínuo,
que começa antes da entrada no ensino formal, sendo influenciado pelas experiências
educativas precoces. A educação pré-escolar contribui para esse processo ao favorecer o
desenvolvimento cognitivo e emocional, fundamentais para a aprendizagem e o bom
aproveitamento escolar nos anos subsequentes.

Além disso, o sucesso escolar pode ser medido qualitativamente por meio da observação do
comportamento da criança, da sua autonomia, criatividade, capacidade de resolução de
problemas e relações interpessoais (Fonseca & Matola, 2017). Tais competências são
fundamentais para o progresso académico e a permanência da criança na escola,
especialmente nos contextos socioeconómicos vulneráveis.

Assim, o sucesso escolar deve ser avaliado com base em múltiplos indicadores, que
englobem não apenas os resultados escolares, mas também o desenvolvimento integral da
criança, desde os primeiros anos da educação básica.

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