Aletheia v.50, n.1-2, p.111-122, jan./dez.
2017
Quando a ansiedade vira doença? Como tratar transtornos
ansiosos sob a perspectiva cogntivo-comportamental
Gabriela Lenhardtk
Prisla Ücker Calvetti
Resumo: As constantes mudanças ocorridas no mundo e as pressões atuais vêm influenciando
diretamente a vida das pessoas e desencadeando diferentes emoções negativas, em especial, a
ansiedade. Todavia, é preciso considerar que o a ansiedade faz parte da herança biológica das
pessoas, tratando-se de uma resposta normal e comum na vida de todos, sendo até mesmo importante
para a sobrevivência e adaptação do ser humano. Entretanto, esta reação normal a certas situações
pode evoluir para um transtorno mental que vem acometendo constantemente os indivíduos,
causando sofrimento psíquico e prejuízos funcionais para a sua vida pessoal e profissional. Dentre
os tratamentos psicoterápicos, a Terapia Cognitivo-Comportamental tem sido considerada um
dos recursos terapêuticos mais indicados e efetivos. O presente artigo trata de uma revisão da
literatura sobre as características normais e patológicas da ansiedade, bem como das principais
técnicas empregadas no processo interventivo. A Terapia cognitivo-comportamental tem evoluído
suas técnicas de intervenção para o tratamento da ansiedade, bem como apresenta efetividade no
tratamento.
Palavras-chave: ansiedade; terapia cognitivo-comportamental; técnicas.
When turn illness anxiety? How to treat disorders eager under
the perspective cogntive-behavioral
Abstract: The constant changes that are taking place in the world and the current pressures are
directly influencing the people’s lives, triggering different negative emotions, specially the anxiety.
However, the anxiety is a part of the biological inheritance of the people, being a normal and
common response in everyone’s lives even being important to the survival and adaptation of the
human being. However, this normal reaction to certain situations evolved to a mental disease that
are constantly affecting the individuals causing psychic suffering and functional losses to their
personal and professional lives. This article deals with a review of the literature on the normal
and pathological characteristics of anxiety, as well as the main techniques used in the intervention
process. Cognitive-behavioral therapy has evolved its intervention techniques for the treatment of
anxiety as well as presents effectiveness in treatment.
Keywords: Anxiety; therapy cognitive-behavioral; techniques.
Introdução
A ansiedade sempre permeou a existência humana, porém, nos últimos anos, a sua
maior relevância para os pesquisadores que investigam os efeitos desse estado sobre o
organismo e o psiquismo humanos. O advento da globalização, o avanço da tecnologia
e as inovações do mundo moderno ensejaram, como consequência direta, o aumento
das exigências, das expectativas e das pressões existentes sobre o ser humano, fazendo
panorama que se apresenta (Sadock, Sadock & Ruiz, 2017).
devido à vinculação desse transtorno com o ritmo de vida experimentado nos dias
hodiernos, uma vez que frente a esta nova realidade, exige-se um comportamento
diferenciado do ser humano. No decorrer de sua existência, o ser humano experimenta
maiores ou menores graus de ansiedade, de preocupação, de raiva ou de medo, dependendo
das circunstâncias fáticas vivenciadas em determinado período da vida, como por exemplo,
antes de uma prova muito importante, de um primeiro encontro ou de uma entrevista de
emprego. Nestes casos, trata-se de uma característica normal da vida dos indivíduos, ou
seja, diante das situações difíceis, importantes ou novas é normal as pessoas apresentarem
diferentes graus de ansiedade (Lucena-Santos, Pinto-Gouveia & Oliveira, 2015).
até necessária para a sobrevivência social, assim sendo, é necessário reconhecer o valor
positivo e adaptativo dela, pois desempenha um papel motivador na vida das pessoas,
impulsionando os sujeitos a se prepararem para confrontar as situações da vida.
Ademais, a ansiedade mobiliza os recursos físicos e psicológicos, estabelecendo
sujeitos. Ela é um sinal de alerta sobre perigos iminentes e capacita o indivíduo a tomar
medidas necessárias para enfrentar as ameaças (Barlow, 2016).
Assim, a ansiedade prepara o organismo para tomar as providências adequadas, no
sentido de impedir a concretização desses possíveis prejuízos, ou pelo menos, para tentar
diminuir as suas consequências. Ela é uma reação natural e necessária à autopreservação
do ser humano. Contudo, a ansiedade pode perder a sua função adaptativa, o seu papel
protetor e motivador, e tornar-se patológica. Este sentimento estimula o indivíduo a entrar
em ação, porém, em excesso, faz exatamente o contrário, impedindo as reações (Hales,
Yudofsky & Gabbard, 2012).
A ansiedade patológica surge de uma inquietação e de uma preocupação
desproporcional à situação ou ameaça, originando-se com intensidade e duração
consideráveis, acarretando sofrimento e prejuízos de ordem funcional, organizacional e
social (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: DSM-5, 2014).
Segundo Braga et al. (2010), dentre o grupo dos transtornos mentais, as descrições
da ansiedade patológica são mais recentes, datando as primeiras pesquisas a seu respeito
(2012), existirá uma “preocupação normal”, que é moderada, passageira, geralmente
de âmbito limitado, e experimentada pela maioria dos indivíduos, e uma “preocupação
patológica”, que é excessiva, crônica, penetrante, incontrolável, e experimentada apenas
pelos indivíduos com ansiedade patológica.
Atualmente, a maioria das pessoas com transtornos de ansiedade pode ser tratada
combinado com psicoterapia. Dentre as abordagens terapêuticas existentes, uma das mais
indicadas é a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), a qual, segundo Beck e Knapp
(2008), tem como princípio fundamental que a maneira como os indivíduos percebem e
112 Aletheia v.50, n.1-2, jan./dez. 2017
Desta maneira, pode-se inferir que, a ansiedade é uma emoção normal presente em
todos os seres humanos e de extrema importância para a sobrevivência dos indivíduos,
ou seja, a ansiedade funciona como um aviso que alerta o indivíduo sobre o perigo,
apresentando-se como um recurso utilizado pelo ser humano diante de situações novas
ou difíceis. De outro norte, porém, a ansiedade pode tornar-se patológica quando a
sua intensidade, a sua duração e a frequência com que ocorre seja constante e cause
Desta forma, o presente artigo tem por objetivo diferenciar os sintomas que
caracterizam a ansiedade normal da patológica, bem como, apontar as principais técnicas
interventivas da TCC no tratamento psicológico da ansiedade.
Procedimentos metodológicos
Essa pesquisa compreende um estudo de revisão da literatura, utilizando como
fonte artigos indexados pela base de dados Pubmed, Medline, Scielo e pesquisas
investigar a ansiedade em seu aspecto normal e patológico, tratamento e as principais
técnicas empregadas no processo psicoterápico. Como critérios de inclusão nesta
revisão, utilizou-se a busca de artigos que considerassem a descrição da patologia
“ansiedade”, suas características e seu tratamento, tendo como foco a terapia cognitivo-
comportamental. A pesquisa na base de dados foi efetuada nos meses de novembro de
2015 a janeiro de 2016 e as palavras-chaves utilizadas para busca foram “ansiedade”,
“transtornos de ansiedade”, “ansiedade normal e patológica”, “ansiedade e terapia
cognitivo-comportamental” e “terapia cognitivo-comportamental”. Os critérios
de exclusão utilizados para esta busca foram estudos de transtornos de ansiedade
fundamentadas teoricamente através da exploração acerca do assunto em questão sob
a perspectiva cognitivo-comportamental.
Revisão da literatura
Nos últimos anos, os avanços tecnológicos, assim como as pressões sociais, políticas
e econômicas, estão repercutindo diretamente na vida do ser humano, fomentando
momentos de lazer estão cada vez mais restritos, as cidades estão mais violentas, os índices
emprego decai vertiginosamente (Leahy, Tirch & Napolitano, 2013).
Ademais, as expectativas das pessoas em relação ao conforto material também
foram impactadas em função da produção de uma nova identidade consumidora, sendo
reforçada constantemente pela publicidade na televisão, nas rádios e mídias sociais, que
tanto induzem as pessoas a adquirirem seus produtos e serviços, como preconizam a busca
desenfreada por um padrão de beleza e de felicidade inalcançável (Leahy, 2011).
Aletheia v.50, n.1-2, jan./dez. 2017 113
Assim, o ser humano, devido às exigências do mundo moderno, vem enfrentando
conjuntura tem contribuído para o desequilíbrio físico e psicológico do indivíduo, o que
problema mental, notadamente de distúrbios de ansiedade.
Para o especialista do assunto Leahy (2011, p.12) “vivemos na Era da Ansiedade” e
em poucos anos esse sentimento irá ultrapassar os índices de depressão. Ainda, segundo
este autor, a ansiedade é uma doença real e duradoura que apresenta consequências
vida social ou manter relações estáveis.
Em virtude destes prejuízos, as pessoas estão cada vez mais aderindo à ingestão
de medicamentos psiquiátricos, com o intuito de amenizar os sintomas decorrentes
deste distúrbio, como foi comprovado através do último levantamento realizado
coletados entre 2007 e 2010 e apontou que nesse período, os ansiolíticos da família
dos benzodiazepínicos (como Rivotril e Lexotan) estão entre as drogas controladas
mais vendidas no país.
Outrossim, estas evidências constatam-se nos consultórios de Psiquiatria e
em decorrência de serem portadoras de alguma patologia no espectro da ansiedade.
Segundo Castillo, Recondo, Asbahr e Manfrod (2002), os transtornos ansiosos são
os quadros psiquiátricos mais comuns, tanto em crianças, quanto em adultos. Consoante
os dados divulgados pela OMS (Organização Mundial de Saúde), estima-se que no
Brasil, nos dias de hoje, mais de dez milhões de pessoas com idades e sexos diversos são
acometidas por algum distúrbio de ansiedade e depressão, sendo que as mulheres são as
mais vulneráveis, por conta da oscilação hormonal (Zamignani & Banaco, 2005).
Contudo, é importante salientar que apesar de muitas vezes a ansiedade ser avaliada
como algo desfavorável, caracterizando um problema mental, ela é considerada um
pessoas experimentam ansiedade em algum momento de sua vida, uma vez que essa
emoção tem função adaptativa e necessária à sobrevivência, preparando o organismo
De acordo com Oliveira (2011), a ansiedade se caracteriza, biologicamente,
pela ativação intensa em uma das regiões mais primitivas do cérebro, a amígdala –
responsável pela reação de luta ou fuga, ou seja, ela é determinante pelo sentimento de
medo, fundamental para a sobrevivência da espécie. Deste modo, as alterações físicas,
comportamentais e cognitivas (pensamentos) que o indivíduo experimenta, o impulsionam
a apresentar respostas para lutar (enfrentar) ou fugir do estímulo considerado pelo sujeito
como ameaçador.
Embora, essas reações primitivas tenham se desenvolvido como uma resposta rápida
prejudicar o desempenho, quando ativadas em situações benignas e que não comprometem
a vida da pessoa (Clarck & Beck, 2011; Oliveira & Andretta, 2011).
114 Aletheia v.50, n.1-2, jan./dez. 2017
Portanto, em muitos casos, a ansiedade é um fator motivador, auxiliando os sujeitos
no cumprimento e no bom desempenho de uma determinada tarefa, todavia, em outros
momentos, ela pode tornar-se tão intensa e desconfortável, comprometendo a qualidade
de vida do sujeito.
Uma emoção orientada para o futuro, caracterizada por percepções de
incontrolabilidade e imprevisibilidade sobre eventos potencialmente aversivos e
um desvio rápido na atenção para o foco de eventos potencialmente perigosos ou
para a própria resposta afetiva do indivíduo a esses eventos. (p.104)
Os mesmos teóricos salientam, ainda, que a pessoa que detém algum transtorno de
ansiedade apresenta um estado de vulnerabilidade pessoal aumentada, em outras palavras,
o sujeito, frente a estímulos internos e externos, tem uma visão sobre si mesmo distorcida
como se estivesse em uma situação de perigo, da qual ele não tem controle ou é incapaz
de enfrentar. Deste modo, a pessoa acaba interpretando erroneamente os eventos ou sinais
Os transtornos de ansiedade, consoante Zamignani e Banaco (2005), caracterizam-se
e comportamentais. No aspecto emocional e cognitivo, o indivíduo pode manifestar
sensação de medo, sentimento de insegurança, antecipação apreensiva e pensamento
que acarreta sintomas neurovegetativos, tais como, insônia, taquicardia, palidez, aumento
da respiração, tensão muscular, tremor, tontura, desconforto gastrointestinal, dentre uma
série de outras condições (Zamignani & Banaco, 2005; Leahy, 2011).
As atitudes compensatórias mais comuns apresentadas pelo ansioso são os
comportamentos de fuga e esquiva, oriundos de situações importantes de sua vida
mesmo emite uma resposta que elimina, ameniza ou adia esse evento. Este padrão
comportamental característico decorre do fato do indivíduo superestimar a probabilidade
do perigo, considerando a ameaça desproporcional ao risco real (Zamignani & Banaco,
2005; Leahy, 2011).
em categorias diagnósticas, as quais são agrupadas em cinco categorias de transtornos:
ansiedade generalizada, pânico, transtorno obsessivo-compulsivo, fobias e estresse pós-
traumático.
mentais, é necessário que os sintomas apresentados por ele cumpram os critérios de
vida diária e que as preocupações decorrentes do problema sejam constantes e duradouras,
Aletheia v.50, n.1-2, jan./dez. 2017 115
a ponto de consumirem grande parte do seu tempo, impossibilitando o controle destes
pensamentos intrusivos (Zamignani & Banaco, 2005).
Ainda, no que pertine às preocupações decorrentes dos transtornos ansiosos, o autor
Leahy (2011) destaca que a pessoa acometida pela ansiedade tem a sensação que a sua
mente opera 24 horas, todos os dias da semana, não oferecendo descanso nem mesmo no
momento de sono, nas situações de lazer e em ocasiões de relaxamento. O autor destaca
que, embora, o sujeito esteja passando por momentos de alegrias e conquistas em sua vida,
a ansiedade o perturba constantemente, com preocupações oriundas de acontecimentos
concentrar no “aqui e agora”.
É preciso considerar, também, segundo os apontamentos de Leahy (2011), que a
pessoa que sofre de transtorno de ansiedade tem a propensão de se tornar clinicamente
deprimida, transmitindo a impressão de estar acometida por dois estados patológicos
concomitantemente. Portanto, a ansiedade passa a ser reconhecida como patológica
quando é exagerada, desproporcional em relação ao estímulo, desencadeando sofrimento
emocional e comprometendo negativamente a qualidade de vida e o desempenho diário
da pessoa.
Contudo, os portadores dos transtornos de ansiedade podem buscar o auxílio de
medicação, bem como, sessões de psicoterapia para amenizar os sintomas decorrentes
destas perturbações, reduzindo as consequências negativas provocadas no seu cotidiano,
possibilitando que os indivíduos acometidos por esses transtornos possam levar uma vida
saudável (Sadock et al., 2017).
entanto, aproximadamente 70% das pessoas que sofrem de algum transtorno ansioso
não realizam intervenções clínicas ou recebem intervenções clínicas inadequadas, o que
resulta no desencadeamento de problemas e sofrimento durante anos e até mesmo em
toda a sua vida (Leahy, 2011).
É necessário, inicialmente, a realização de uma avaliação psicológica para que
posteriormente possa ser desenvolvido o planejamento psicoterápico adequado e
comportamental tem sido avaliada como uma das abordagens terapêuticas mais indicada
e efetiva para a realização do tratamento clínico da ansiedade.
Tratamento
Na atualidade, é possível constatar um número crescente de publicações
desta abordagem no tratamento de transtornos psicológicos, sobretudo no espectro
patológicos.
A TCC, segundo Beck e Knapp (2008), compartilha três proposições fundamentais:
O primeiro princípio desenvolvido por estes autores refere-se ao papel mediacional
116 Aletheia v.50, n.1-2, jan./dez. 2017
da cognição, considerando que há sempre um processamento cognitivo decorrente
de avaliações de eventos internos e externos, os quais podem afetar a resposta a essas
situações; O segundo conceito parte do princípio de que a atividade cognitiva pode
comportamento mediado, a partir de avaliações e mudanças cognitivas.
Esta abordagem, de acordo com Barbosa e Borba (2010), defende a ideia de que
os transtornos psicológicos provêm das distorções cognitivas que ocorrem através de um
seus sentimentos e os seus comportamentos. Frente a isso, as mudanças propostas por este
e crenças disfuncionais que causam ou mantêm sofrimento emocional e/ou distúrbios
psicológicos no indivíduo (Beck & Knapp, 2008).
Convém ressaltar, que o tratamento baseado na TCC, centrar-se-á nos problemas
que estão sendo apresentados pelo paciente no momento em que este procura a terapia,
ou seja, no “aqui e agora”, sendo que o objetivo da terapia é ajudá-lo a aprender novas
estratégias para atuar no ambiente de forma a promover as mudanças necessárias no
presente (Beck & Knapp, 2008; Beck, 2013).
Por conta disso, o terapeuta cognitivo-comportamental pode utilizar estratégias
comportamentais e cognitivas na resolução dos problemas expostos pelo paciente. Alguns
especialistas do assunto recomendam que, nos transtornos de ansiedade, as técnicas
comportamentais podem ser empregadas pelo terapeuta como um recurso primário no
tratamento psicoterápico.
Frente a isso, os métodos comportamentais têm por objetivo minimizar padrões de
atitudes compensatórias de fuga e esquiva, sendo que as intervenções cognitivas podem
novas conclusões e empregue novas atitudes, a partir do enfrentamento dos eventos
temidos por ele (Dobson & Dobson, 2010). Todavia, esta orientação não se trata de uma
regra, pois, como salientam Dobson e Dobson (2010), a estratégia que o terapeuta vai
Segundo Oliveira (2011), as intervenções cognitivo-comportamentais mais
centrais e intermediárias; reestruturação cognitiva; respiração diafragmática e relaxamento
muscular progressivo; dessensibilização gradual; resolução de problemas e prevenção
de recaída. O tratamento psicoterapêutico tem por objetivo o trabalho colaborativo
entre terapeuta e paciente, auxiliando-o a administrar e não a eliminar completamente o
sentimento de ansiedade, visto que tal meta é inatingível, pois este sentimento faz parte
da herança biológica das pessoas.
para no futuro serem os seus próprios terapeutas. Por isso, a metodologia proposta nesta
abordagem tem a pretensão que, posteriormente ao período de alta, o paciente mesmo
2010).
Aletheia v.50, n.1-2, jan./dez. 2017 117
As técnicas apresentadas a seguir não têm a pretensão de serem empregadas
que tange aos transtornos de ansiedade.
Técnicas interventivas
Psicoeducação
O primeiro passo do processo de psicoterapia consiste em colocar o cliente a par da
TCC e de seu transtorno psiquiátrico. Segundo Dobson e Dobson (2010), a psicoeducação,
o cliente, ou seja, esta ocasião visa esclarecer além de informações a respeito do seu
transtorno, familiarizar o paciente ao modelo de tratamento empregado pela terapia
cognitiva comportamental.
Registro de pensamento disfuncional
Neste momento, o terapeuta ensinará o paciente a perceber e anotar seus pensamentos
automáticos, por meio do preenchimento de um formulário de registro de pensamento
reconhecendo as crenças desenvolvidas erroneamente pelo sujeito, para seguidamente
(Rangé, 2011).
Reestruturação cognitiva
Segundo Leahy (2011), reestruturar cognitivamente, no caso dos transtornos de
ansiedade, refere-se ao questionamento do terapeuta, acerca dos pensamentos e crenças
distorcidas do sujeito, procurando auxiliar o mesmo, a enfraquecer as suas interpretações
errôneas, por meio da busca de evidências, para em seguida auxiliá-lo na formulação de
concepções menos trágicas e exageradas em relação à realidade. Ademais, este instante
restruturação cognitiva, o terapeuta poderá empregar a técnica da descoberta guiada que
é aplicada através do questionamento socrático. Segundo, Dobson e Dobson (2010), o
elaboradas para auxiliar o paciente a descobrir o seu padrão disfuncional de pensar e
simultaneamente formular conclusões mais coerentes em relação a um determinado
problema e sobre a sua realidade. Deste modo, ao tratar o sujeito ansioso, promovendo a
interpretações alternativas das suas percepções exageradas e, em paralelo, instruí-
lo a avaliar eventos com maior realismo, neutralizando o sentido de risco ou perigo
descomedido das situações.
118 Aletheia v.50, n.1-2, jan./dez. 2017
Treino de resolução de problemas
De acordo com Oliveira (2011), a pessoa acometida por um transtorno de
manter constantemente preocupação excessiva e sensação de falta de controle pessoal.
Assim sendo, esta técnica é oportuna e muito utilizada pelos terapeutas cognitivos
e concomitantemente, buscar enfraquecer suas crenças disfuncionais em relação aos
eventos do seu entorno (Rangé, 2011). Este treino, portanto, visa encorajar o paciente a
do dia a dia, reconhecendo possíveis distorções cognitivas, bem como, propondo formas
alternativas de pensamento e comportamentos adaptativos.
Técnicas de relaxamento
devido às frequentes alterações respiratórias observadas nos portadores desses transtornos,
proporcionando ao paciente um momento de distração, oferecendo a ele, a sensação de
um senso de controle sobre o próprio organismo. Conforme, aludem Barlow (2016), este
e autônomas, com o intuito de proporcionar tranquilidade e bem-estar ao paciente. Este
momento é considerado um processo de aprendizagem que inclui o controle da respiração
em situações estressantes e o relaxamento de diferentes grupos musculares, de modo a
alcançar um estado de conforto e bem estar.
Dessensibilização sistemática
Esta técnica consiste segundo Barlow (2016), expor o paciente por repetidas
vezes e por um tempo prolongado, aos estímulos ansiogênicos de forma imaginária
ou in vivo (exposição real), conforme for mais indicado ao seu caso, com a intenção
de proporcionar a habituação e extinção às situações desencadeadoras de ansiedade.
Deste modo, o cliente é apresentado aos estímulos ou situações temidas que provoquem
desconforto ou ansiedade para ele, enquanto é solicitado que ele se abstenha de realizar
qualquer ritualização ou atitude compensatória de evitação. As exposições podem ser
realizadas de forma abrupta que ocorre por implosão ou inundação, na qual a pessoa é
exposta diretamente ao estímulo aversivo ao vivo ou por imaginação, para provocar a
ansiedade mais intensa e sem interrupção até que ela diminua. De outro modo, a exposição
pode ocorrer gradualmente, sendo esta a formatação mais indicada e usual, que consiste
em redigir uma lista e, por conseguinte, hierarquizar os objetos e eventos temidos pelo
paciente para que ele seja exposto a estas situações, iniciando pelos itens que produzem
menor sofrimento em direção àqueles mais perturbadores.
Treino de assertividade ou habilidades sociais
O treinamento em habilidades sociais (THS), Marchezini-Cunha e Tourinho
(2010), compõem uma combinação de procedimentos que visa capacitar os sujeitos a
Aletheia v.50, n.1-2, jan./dez. 2017 119
atuar nas situações cotidianas de maneira socialmente apropriada, visando aperfeiçoar
as relações interpessoais e a qualidade de vida dos sujeitos. Segundo os apontamentos
de Rangé (2011), o treinamento do comportamento assertivo tem o objetivo de ensinar
formas socialmente adequadas para a expressão dos comportamentos, comunicação
verbal e a expressão das emoções. Esta prática, portanto, consiste em ensinar ao paciente
ações assertivas, ou seja, consiste na expressão honesta de seus sentimentos, geralmente
atingindo os objetivos desejados, não prejudicando a si mesmo e nem o receptor.
Prevenção de recaída
Esta é a fase de fechamento do tratamento embasada na teoria cognitiva-
comportamental. Este momento para Dobson e Dobson (2010), consiste em realizar uma
revisão do processo psicoterápico, elaborar um planejamento de metas e ações futuras para
o paciente e discutir sobre os sentimentos do cliente e do terapeuta. Além disso, o terapeuta
maior visualização dos efeitos, progressos e mudanças conquistados com a terapia, bem
como, das áreas que ele pode continuar tratando e aperfeiçoando.
Conclusão
O tema ansiedade patológica e o tratamento desta doença, com base na TCC, bem
como, as principais técnicas utilizadas para o tratamento dos transtornos ansiosos são
importantes, tanto para o aprofundamento do conhecimento acerca do assunto, quanto para
o auxílio da psicoeducação dos pacientes que sofrem deste sentimento perturbador.
Ademais, evidenciou-se relevante esta pesquisa, em virtude do número de pessoas
acometidas pelos transtornos de ansiedade aumentar diuturnamente, tornando-se, então,
crescimento, necessitam estar capacitados e bem preparados para atender esta nova
demanda.
A ansiedade é reconhecida parte da sobrevivência humana, sendo considerada
normal, quando é adaptativa e motivadora, auxiliando o sujeito a preparar-se às situações
consideradas por ele difíceis e complexas. Entretanto, esta mesma emoção pode causar
diferentes transtornos mentais, quando desencadeia sofrimento psicológico e prejuízos
Desta forma, a ansiedade é considerada patológica, quando a intensidade ou
frequência do sentimento é desproporcional, bem como, a sua resposta cognitiva,
comportamental e emocional não corresponde à situação que a desencadeia.
Os transtornos ansiosos afetam tanto as crianças, quanto os adultos, causando
impactos consideráveis no seu cotidiano, sendo importante salientar, que a ansiedade
patológica observada na idade adulta pode ter iniciado ainda durante a infância e a
adolescência, conforme se pode observar em dados extraídos de estudos sobre o assunto
em tela.
Assim, quando a ansiedade for diagnosticada como uma patologia é recomendado
que a pessoa procure um tratamento psicoterápico o mais depressa possível, podendo
120 Aletheia v.50, n.1-2, jan./dez. 2017
ocorrer, ainda, a recomendação concomitante do uso de medicação, por parte de um
Para Leahy (2011), a Psicologia moderna aprimorou os seus estudos em relação à
compreensão do modo como a ansiedade opera no cérebro, bem como, os estilos de reações
décadas, o seu tratamento interventivo, o que ensejou que este distúrbio, atualmente, seja
um problema mental altamente tratável.
Os artigos pesquisados indicam que o processo psicoterápico baseado nas técnicas da
TCC é considerado a estratégia mais recomendável ao tratamento clínico dos transtornos
ansiosos, apresentando resultados consideráveis, bem como, a promoção de uma melhoria
relevante na qualidade de vida do paciente.
sua plenitude e contribuíram para o alcance do seu objetivo geral. Entretanto, ressalta-se
que essa pesquisa não pretende ser conclusiva, assim como não comporta generalizações
para o universo em estudo.
Assim sendo, propõe-se a exploração do conhecimento como forma de produzir
uma análise mais ampla sobre o assunto em questão, possibilitando novas descobertas,
explicações e técnicas de tratamento psicoterápico, que objetivam a melhoria da saúde
mental dos pacientes acometidos pela ansiedade patológica.
Referências
American Psychiatric Association. (2014). Manual Diagnostico e Estatistico de
Transtornos Mentais: DSM-5.( 5ª ed.). Porto Alegre: Artmed.
e suas consequências para o desenvolvimento de uma abordagem clínica analítico-
comportamental dos eventos privados. Revista Brasileira de Terapia Comportamental
Cognitiva, 7(1/2), 60-79.
Barlow, D. H. (2016). Manual Clínico dos Transtornos Psicológicos: tratamento passo
a passo. (5ª ed.) Porto Alegre: Artmed.
Braga, J. E. F, Fernandes, J. E., Pordeus, L. C., Silvia, A. T. M., Pimenta, F. C. F., Diniz,
M. F. F. M. & Almeida, R. N. (2010). Ansiedade Patológica: Bases Neurais e Avanços
na Abordagem Psicofarmacológica. Revista Brasileira de Ciências da Saúde, 14
(2), 93-100.
Beck, A. & Knapp, P. (2008). Fundamentos, modelos conceituais, aplicações e pesquisa
da terapia cognitiva. Revista Brasileira de Psiquiatria, 30(2), 54-64.
Beck, J. S. (2013). Terapia cognitivo-comportamental: teoria e prática. Porto Alegre:
Artmed, p.413.
Castillo, A. R. G., Recondo, R., Asbahr, F. R. & Manfrod, G. G. (2002). Transtornos de
ansiedade. Revista Brasileira de Psiquiatria, 22(2), 20-23.
Clark, D. A. & Beck, A. (2012). Terapia cognitiva para os transtornos de ansiedade.
Porto Alegre: Artmed.
Dobson, D. & Dobson, K. S. (2010). A terapia cognitivo-comportamental baseada em
evidências. Porto Alegre: Artmed.
Aletheia v.50, n.1-2, jan./dez. 2017 121
Hales, R. E., Yudofsky, S. C. & Gabbard, G. O. (2012). Tratado de Psiquiatria Clínica.
(5ª ed.) Porto Alegre: Artmed.
Leahy, R. L. (2011). Livre da ansiedade. Porto Alegre: Artmed.
Leahy, R., Tirch, D. & Napolitano, L. (2013). Regulação Emocional em Psicoterapia:
Um Guia para o Terapeuta Cognitivo-Comportamental. Porto Alegre: Artmed.
Lucena-Santos, P., Pinto-Gouveia, J. & Oliveira, M. (2015). Terapias Comportamentais
de Terceira Geração: Guia para Profissionais. Novo Hamburgo: Synopsys.
Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: DSM-5 (2014). (5ª ed.) Porto
Alegre: Artmed.
Marchezini-Cunha, V. & Tourinho, E. Z. (2010). Assertividade e Autocontrole:
Psicologia: Teoria e Pesquisa, 26(2),
295-304.
Manual Prático de Terapia Cognitivo-Comportamental.
Porto Alegre: Casa do Psicólogo.
relato de caso. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, 7(1), 30-34.
Centro Colaborador da OMS para a Classificação de Doenças em Português. (3ª
ed.) São Paulo: EDUSP.
Rangé, B. (2011). Psicoterapias cognitivo-comportamentais: um diálogo com a
psiquiatria. Porto Alegre: Artmed.
Sadock, B., Sadock, V. & Ruiz, P. (2017). Compêndio de Psiquiatria: Ciência do
Comportamento e Psiquiatria Clínica. (11ª ed.) Porto Alegre: Artmed.
Zamignani, D. R. & Banaco, R. A. (2005). Um Panorama Analítico Comportamental
sobre os transtornos de ansiedade. Revista Brasileira de Terapia Comportamental
e Cognitiva, 7(1), 77-92.
_____________________________
Recebido em: setembro de 2017 Aprovado em: novembro de 2017
Gabriela Lenhardt: Psicóloga graduada pela UNOCHAPECÓ e especialista em Terapia Cognitivo-
D – Centro de Chapecó/SC – CEP: 89802-520; Telefone (49) 9977 9101.
Prisla Ücker Calvetti: Psicóloga. Pesquisadora colaboradora do Laboratório de Dor & Neuromodulação do
Hospital de Clínicas de Porto Alegre/HCPA. Doutora em Psicologia pela PUCRS. Pós-doutorado em Medicina:
Ciências Médicas/UFRGS.
Endereço para contato:
[email protected]122 Aletheia v.50, n.1-2, jan./dez. 2017