Artigo CSP
Artigo CSP
ARTICLE
Políticas de saúde no Brasil em tempos
contraditórios: caminhos e tropeços na
construção de um sistema universal
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doi: 10.1590/0102-311X00129616
https://docs.google.com/document/u/0/d/16J4ritGhX7vfSza-CinctGJSh5EnD8wOE5yLa8TAJ1o/mobilebasic 07/09/2025, 08 24
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Resumo
O artigo analisa a trajetória de condução nacional da política de saúde no Brasil de 1990 a 2016, bem como explora as contradições
e os condicionantes da política no período. Observaram-se continuidades e mudanças no contexto, processo e conteúdo da política
em cinco diferentes momentos. A análise dos condicionantes da política mostrou que o marco constitucional, os arranjos
institucionais e a ação de atores setoriais foram fundamentais para a expan
são de programas e serviços públicos, que conferiram materialidade e amplia ram a base de apoio ao Sistema Único de Saúde no
âmbito setorial. No entan to, limites histórico-estruturais, legados institucionais e a disputa de projetos para o setor influenciaram
a política nacional. A interação desses condicio nantes explica as contradições na política do período, por exemplo, no que se refere
à inserção da saúde no modelo de desenvolvimento e na Seguridade Social, ao caráter do financiamento e das relações público-
privadas em saúde. A ampliação dos serviços públicos ocorreu de forma concomitante ao fortale cimento de segmentos privados,
configurando mercados dinâmicos em saúde, que disputam os recursos do Estado e das famílias, restringem a possibilidade de
consolidação de um sistema de saúde universal, reiteram a estratificação social e as desigualdades em saúde.
ção em qualquer meio, sem restrições, desde que o trabalho original seja
corretamente citado.
Correspondência
C. V. Machado
Departamento de Administração e Planejamento em Saúde, Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz.
Rua Leopoldo Bulhões 1480, 7º andar, sala 715, Rio de Janeiro, RJ 21041-210, Brasil.
[email protected]
1
Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil.
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Cad. Saúde Pública 2017; 33 Sup 2:e00129616
S144 Machado CV et al.
Introdução
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Partiu-se do pressuposto de que a saúde expressa contradições estruturais inerentes à
política social no sistema capitalista, sendo necessário considerar sua inserção no modo de
produção capita lista e a especificidade de sua trajetória nos processos históricos das
sociedades
12.
Quanto aos fatores que influenciam a política, considerou-se que a determinação social
consiste um “processo complexo e interrelacionado de limites e pressões” 13 (p. 87). A
ideia de determinação com preende a fixação de limites que condicionam a agência
(determinações negativas), mas também a existência de pressões, vontades e propósitos
(determinações positivas). Os processos sociais ocorrem sob condições determinadas, o
que não significa leis fixas ou a impotência dos participantes.
Argumenta-se que a política de saúde sofreu influência de distintos condicionantes e
de projetos em disputa, cuja interação explica as contradições observadas no período.
A trajetória da política de saúde foi analisada em cinco momentos (Figura 1), segundo três
eixos: con texto nacional, processo político e conteúdo da política (prioridades e
estratégias)
14.
Figura 1
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:
- AIDS – início da terapia antirretroviral.
o Congresso Nacional.
Tripartite (CIT).
- Norma Operacional Básica (NOB) 1991 –
- Acusações de corrupção envolvendo ministérios e
descentralização de serviços (intensa) e de
Presidência – processo de impeachment –
recursos (limitada).
renúncia presidencial.
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Políticas de trabalho e sociais:
(out/1993-jan/1995)
- Descentralização com ênfase nos
- Descentralização e instabilidade do
- Ministro com considerável legitimidade
municípios.
financiamento social.
no setor saúde.
- 1994 – Início do Programa Saúde
- 1993 – Interrupção do aporte de contribuições
- Conflitos com autoridades econômicas
da Família.
sociais dos trabalhadores para o financiamento
do governo.
da saúde.
(continua)
Figura 1 (continuação)
o o
Governos Fernando Henrique Cardoso (1 mandato: 1995-1998; 2 mandato: 1999-2002)
Contexto nacional Processo político da saúde Agenda da política de saúde
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- Plano Diretor da Reforma do Estado (1995).
cargo após sua aprovação.
- Formulação da Norma Operacional
- Criação de agências reguladoras.
- X Conferência Nacional de Saúde (1996)
Básica (NOB 1996) –mudanças nos critérios
- Tendência de redução da Administração Federal.
e participação do Ministro no Conselho
de descentralização, financiamento e
Nacional de Saúde.
organização do sistema.
Política:
- Negociações intergovernamentais.
- Coalizão de centro-direita; muitos ministérios
Gestão Carlos Albuquerque – PSDB-Rio Grande
- Adesão à agenda de reforma do Estado
ocupados por filiados ao PSDB e PFL.
do Sul (dez/1996-mar/1998)
e ênfase na eficiência da gestão e na
- Emenda Constitucional da reeleição (1997).
- Ministro com limitado poder político no
descentralização.
governo e junto à maior parte dos atores do
Políticas de trabalho e sociais:
setor saúde.
- Aumento modesto do salário mínimo (mas redução
- Posição de evitar conflitos com Presidência
da participação dos salários no PIB nacional).
e autoridades econômicas.
- Tentativas de reforma da previdência sofrem
- Secretário Executivo (economista Barjas
oposição dos trabalhadores – predomínio de
Negri) escolhido pelo Presidente.
reformas incrementais paramétricas (ex., criação do
Gestão José Serra – PSDB-São Paulo
-Expansão do Programa Saúde da Família;
fator previdenciário).
(mar/1998-fev/2002)
criação do Departamento
- Estratégia “Comunidade Solidária” – conflitos com
- Ministro economista, com poder político
de Atenção Básica.
diretrizes e com atores da área de Assistência Social.
Editar com o app Documentos no governo – administração longa e estável;
Faça ajustes, deixe comentários e - Continuidade de políticas tradicionais
- Expansão de programas de combate à pobreza; a
compartilhe com outras pessoas para editar
deixa o cargo para disputar as eleições
simultaneamente. de saúde pública e na política de AIDS –
partir de 1998 - programas de transferência de renda
presidenciais de 2002.
AGORA NÃO INSTALAR O APP debate internacional sobre propriedade
com condicionalidades.
- Dirigentes de primeiro escalão –
intelectual e ajustes na legislação nacional.
- Educação: descentralização e expansão do ensino
economistas e sanitaristas ligados
- Emissão da Norma Operacional de
fundamental; restrições ao financiamento federal e
politicamente ao governo, mas
Assistência à Saúde (NOAS) 01/02
expansão das universidades privadas.
reconhecidos no setor saúde. Conflitos
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- Assistência farmacêutica – proliferação,
internos.
fragmentação e descentralização de
- Negociações com a Presidência,
programas; expansão de gastos com
autoridades econômicas e o Congresso
medicamentos de alto custo; programa
o
– aprovação da Emenda Constitucional n
de genéricos.
29/2000, estabelecendo novas regras de
- Criação de agências voltadas para
financiamento da saúde pelas três esferas
regulação sanitária (Anvisa) e de planos
(mais frouxas para a esfera federal).
privados de saúde (ANS).
Gestão Barjas Negri – PSDB-São Paulo
- Predominância de continuidades nas
(fev/2002-dez/2002)
políticas prévias.
- Secretário Executivo Barjas Negri assume
o Ministério e mantém boas relações com
a Presidência e autoridades econômicas;
Administração transitória (ano eleitoral).
(continua)
Figura 1 (continuação)
o o
Governos Luiz Inácio Lula da Silva (1 mandato: 2003-2006; 2 mandato: 2007-2010)
Contexto nacional Processo político da saúde Agenda da política de saúde
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- Mudanças graduais no papel dos bancos nacionais e
Secretaria de Atenção à Saúde;
- Conflitos internos no primeiro escalão e
nas políticas industriais.
- Definição de marcas de governo na saúde
saída do Secretário Executivo em 2004.
- Lançamento do Plano de Aceleração do Crescimento
(ex., Brasil Sorridente, SAMU,
- Antecipação da XII Conferência Nacional de
(PAC I – 2007) e da Política de Desenvolvimento
Farmácia Popular).
Saúde (2003).
Produtivo (PDP).
- Elaboração do Plano Nacional de Saúde
- Frequente participação do Ministro nas
- Novo plano para a Administração Federal; expansão
(2004-2007).
reuniões do Conselho Nacional de
de concursos públicos.
Saúde (CNS).
- Ênfase na participação social na
formulação de políticas.
- Continuidade nas políticas
Gestão José Saraiva Felipe – PMDB-Minas
governamentais prioritárias.
Gerais (ago/2005-fev/2006)
Política:
- Início de mudanças na condução de
- Recomposição da base de apoio do
- 2003-2005: criação de novos ministérios e
algumas áreas da política em relação ao
governo após crise de 2005 influencia a
secretarias nacionais; definição de prioridades por
período 2003-2005 (ex., área de educação
escolha de Ministro da Saúde.
áreas; muitos ministérios ocupados por filiados ao PT.
em saúde) e maior ênfase na centralidade
- Recomposição do primeiro escalão; saída
- 2005-2006: crise política e mudanças na coalizão
de algumas estratégias
de dirigentes ligados ao PT.
política e alto escalão governamental;
(ex., Saúde da Família).
- Saída do Ministro para disputar as eleições
reeleição de Lula.
na Câmara dos Deputados.
- 2007-2010: maior peso do PMDB no governo;
- Continuidade nas políticas
Gestão José Agenor A. da Silva – Sem partido
estabilidade política: crescentes índices de aprovação
governamentais prioritárias;
Minas Gerais (fev/2006-mar/2007)
do Presidente e do governo.
- Predomínio de continuidade das políticas
- Secretário executivo assume o cargo de
- Candidatura e eleição de Dilma Rousse" para a
em relação à gestão anterior.
Ministro com o apoio intrasetorial, porém
Presidência da República, com o apoio de
- Finalização e divulgação do Pacto
menor força política.
Lula e do PMDB.
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pela Saúde.
- Período de interinidade e disputas pelo
Políticas de trabalho e sociais:
cargo de Ministro.
- Ênfase na criação e formalização de empregos,
- Ampliação da agenda estratégica, com
Gestão José Gomes Temporão – PMDB-Rio de
aumentos do salário mínimo, políticas para
ênfase na promoção da saúde e nas
Janeiro (mar/2007-dez/2010)
combate à pobreza e expansão de direitos de
relações entre saúde e desenvolvimento.
- Secretário de Atenção à Saúde, sanitarista
grupos socialmente vulneráveis, com redução das
- Destaque para o fortalecimento do
e pesquisador da Fiocruz, assume o cargo
desigualdades de renda.
complexo econômico-industrial da saúde.
de ministro sob descontentamentos de
- Reforma incremental do regime previdenciário dos
- Continuidade e expansão
parlamentares de seu próprio
servidores (regras mais restritas para a aposentadoria
de políticas prioritárias.
partido (PMDB).
integral, como tempo mínimo no setor público
- Elaboração em 2007 do Plano Mais Saúde
- Conflitos internos no primeiro escalão e
e na carreira).
saída do Secretário de Atenção à
(2008-2011), sob influência do PAC.
- Expansão federal na educação terciária: novas
Saúde em 2008.
universidades e campi federais e financiamento para
- Conflitos entre Ministério e o Conselho
o setor privado.
Nacional de Saúde (ex., questão das
fundações estatais).
- Realização da XIII Conferência
Nacional de Saúde.
- 2007 – Senado vota pelo término da CPMF,
na mesma semana em que Ministério
da Saúde lança o Plano Mais Saúde, de
investimento setorial.
(continua)
S148
Machado CV et al.
Figura 1 (continuação)
o o
Governos Dilma Rousse! (1 mandato: 2011-2014; 2 mandato: 2015-2016)
Contexto nacional Processo político da saúde Agenda da política de saúde
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- Efeitos da crise internacional, com desaceleração
(jan/2011-fev/2014)
durante os governos Lula (Brasil
econômica; relativa preservação de indicadores
- Ministro jovem, liderança do PT com
Sorridente, Farmácia Popular, SAMU), com
econômicos até 2013; discreta piora em 2014 e 2015,
legitimidade na saúde e boa passagem no
mudanças incrementais.
com expansão de pressões por medidas de ajuste.
governo; peso político moderado; deixa
- Adoção inicial como marco
- Conflitos entre projetos pró-ajuste e de manutenção
o Ministério para disputar eleições pra
governamental das Unidades de Pronto
da estratégia social-desenvolvimentista; em 2015
governo de São Paulo.
Atendimento (UPA), que já existiam, com a
– substituição de Ministro da Fazenda de perfil
- Secretariado com vários quadros do PT e
expansão expressiva de serviços.
desenvolvimentista por um de perfil tecnocrático e
outros da coalizão, em geral com trajetória
- Lançamento e expansão do Programa
associado ao sistema financeiro,
de atuação na saúde coletiva/no SUS.
Mais Médicos, em 4 vertentes: provimento
- Progressiva pressão para a contenção
- Boa relação do Ministério com outras
de médicos em locais remotos e
de gastos públicos.
esferas de governo, com o CNS e
com escassez (inclusive de médicos
movimentos sociais.
estrangeiros sem reconhecimento de
Política:
- Conflitos intensos com as entidades
diploma, com destaque para cubanos
- Fortalecimento de ideias conservadoras e liberais,
médicas, em função do Programa Mais
contratados por meio de convênio OPAS
expressas na luta política no governo e na sociedade.
Médicos.
na 1ª fase do Programa); ampliação de
- Polarização e disputa acirrada na campanha
- Realização da XIV Conferência Nacional de
cursos e vagas de Medicina no país;
presidencial de 2014, entre Dilma Rousse" e Aécio
Saúde.
ampliação de vagas de residência médica;
Neves (PSDB), com reeleição de Dilma por margem
incentivo a mudanças curriculares na
estreita (51,64% x 48,36% dos votos válidos; diferença
formação em Medicina.
de 3.459.963 votos).
Gestão Arthur Chioro – PT-São Paulo (fev/2014-
- Ao final de 2014 - medidas de abertura
- Oposição da grande mídia à Presidente.
out/2015)
do setor saúde ao capital estrangeiro
- Em 2014-2015: crise política,
- Ministro: quadro do PT com atuação na
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(inclusive na prestação de serviços).
caracterizada por: denúncias de corrupção em
gestão municipal em saúde, que ocupou
empresas estatais, atingindo membros do governo
cargos no Ministério desde 2003; menor
e do Congresso Nacional; críticas a políticas
peso político.
governamentais; redução do apoio do PMDB
- Secretariado com vários quadros do PT e
à Presidente (inclusive do Vice-presidente e do
outros da coalizão, em geral com atuação
Presidente do Congresso, atingidos por denúncias
prévia na saúde coletiva/no SUS.
de corrupção); queda da aprovação popular do
- Tensões do Ministro com o CNS e na
governo e da Presidente; abertura de processo
relação com entidades do movimento
do impeachment, sob questionamentos jurídicos;
sanitário, pela defesa de medidas
afastamento temporário da Presidente em maio e
governamentais polêmicas e conflitantes
definitivo em agosto de 2016.
com a Constituição, como a abertura da
saúde ao capital estrangeiro.
Políticas de trabalho e sociais:
- Saída do Ministro em virtude da
- Indicadores do mercado de trabalho relativamente
necessidade de conceder cargos ao PMDB
preservados até 2014 (baixo desemprego, aumento
no esforço de recomposição diante da crise
da formalização e do valor real dos salários); em 2015,
política.
tendência de piora (ex., aumento do desemprego).
Gestão Marcelo Castro – PMDB-Piauí
- Expansão de arboviroses – dengue,
- Políticas de aumento do valor do salário
(out/2015-mai/2016)
Chikungunya e Zika – e identificação
mínimo mantidas.
- Indicação pelo PMDB para Ministro da
de associação do vírus da Zika (quando
- Constrangimentos crescentes aos gastos sociais,
Saúde de parlamentar com perfil mais
contraído na gravidez) com microcefalia
com instabilidade de fontes, contingenciamento e
conservador, sob resistências
leva à ênfase em estratégias voltadas ao
contenção de crescimento de gastos,
de atores setoriais.
controle epidemiológico destas doenças.
inclusive na saúde.
o o
- Ocupação de cargos de 1 a 3 escalões
- Reformas na previdência social: no regime dos
expressa critérios e perfis muito diversos.
servidores públicos (teto igual ao do regime geral e
- Início de gestão marcado por protestos
criação de fundo complementar) e no regime geral
de entidades e grupos de atores dos
(medidas de restrição ao acesso a aposentadorias
movimentos sanitário e antimanicomial,
e pensões).
pela indicação de ex-diretor do maior
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hospital psiquiátrico do país (fechado no
âmbito da luta antimanicomial após décadas
de denúncias) para o cargo de Coordenador
Nacional de Saúde Mental.
ANS: Agência Nacional de Saúde Suplementar; Anvisa: Agência Nacional de Vigilância Sanitária; Fiocruz: Fundação Oswaldo
Cruz; Inamps: Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social; PFL: Partido da Frente Liberal; PIB: Produto
Interno Bruto; PMDB: Partido do Movimento Democrático Brasileiro; PSB: Partido Socialista Brasileiro; PSDB: Partido da
Social Democracia Brasileira; PT: Partido dos Trabalhadores; SAMU: Serviço de Atendimento Móvel de Urgência; SUS:
Sistema Único de Saúde.
Nesse contexto, houve a discussão de leis específicas para cada área da Seguridade
16.
A aprova ção da Lei Orgânica da Saúde (Lei no 8.080/1990) ocorreu com vetos, revelando
o
uma disputa entre reformistas e governo. No mesmo ano, uma nova lei (n 8.142/1990)
recuperou aspectos relativos ao financiamento e à participação social, deixando em aberto
outras definições cruciais, como a política de recursos humanos e a relação com
prestadores privados.
Promulgada a lei, foram editadas normas do Executivo que fixaram diretrizes de
financiamento com certa centralização dos recursos da saúde na esfera federal. Definiram-
se mecanismos de repasse de recursos para prestadores de serviços que reforçaram uma
lógica convenial com os municípios, fragilizando a organização de um sistema integrado e
articulado entre níveis 17.
No início da década de 1990, os recursos da Seguridade foram comprometidos pelos
atrasos deli berados de repasses num momento de alta inflação (superior a 1.000% ao ano).
Isso levou a cortes fre quentes nas políticas de saúde e de assistência, preservando-se os
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níveis de recursos para a Previdência Social. A partir de 1990 foram incorporados ao
orçamento da saúde os encargos previdenciários da União .
6
Em que pesem essas restrições, foram desencadeadas estratégias relevantes que viriam
a influen ciar as políticas nos anos subsequentes, como o Programa de Agentes
Comunitários de Saúde (PACS) e o fornecimento nacional da terapia antirretroviral para
pessoas com síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS).
Em 1992, a situação política do país sofreu uma reviravolta, com denúncias de fraudes
na macroes trutura do Estado, e o envolvimento do Presidente e quadros ministeriais. Na
saúde, a mudança de Ministro possibilitou a retomada do debate setorial e a rearticulação
em torno do projeto de descen tralização, expressas na convocação da IX Conferência
Nacional de Saúde. Reorientou-se o processo de descentralização, incluindo novas formas
de organização do sistema de saúde e a necessidade de formulação de uma nova norma
operacional para o setor.
Ainda em 1992, estabeleceu-se uma Comissão para estudo do sistema previdenciário
que apontou o dilema da sustentabilidade econômica da seguridade social, indicando a
necessidade de uma revisão do pacto estabelecido na Constituição Federal de 1988. Esse
ano encerrou com a renúncia de Collor à Presidência, após processo de impeachment,
assumindo o cargo o Vice-presidente Itamar Franco (Par
tido do Movimento Democrático Brasileiro – PMDB).
S150
Machado CV et al.
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modelo tradicional, centrado na doença e no hospital. Nesse momen to, a estratégia desses
programas foi direcionada para a população pobre identificada pelo “Mapa da Fome”.
Contudo, os avanços institucionais na saúde foram paralisados diante da crise
econômica no período. As imprecisões do texto constitucional se explicitavam e a saúde
ficou fragilizada pelas indefinições do governo.
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Na assistência social, destacou-se o programa Comunidade Solidária, sob o comando
da Primeira Dama, que apostava na articulação de programas sociais focalizados, com a
participação da sociedade civil. O Benefício de Prestação Continuada (BPC), previsto na
Constituição, começou a ser implantado em 1996, voltado para idosos e pessoas com
deficiência de baixa renda, constituindo um mecanismo de transferência de renda não
contributiva. A partir de 1998, aumentaram os programas de trans
ferência de renda com condicionalidades (Bolsa Escola, Bolsa Alimentação e Vale-Gás), de
forma fragmentada e ainda restrita, sob o comando de diferentes ministérios. Em que
pesem as dificuldades, houve aumento dos gastos sociais federais nessas áreas
21.
A saúde expressou as tensões entre a agenda de reforma do Estado e a agenda da
reforma sanitá ria. A primeira foi conduzida pelo Governo Federal e apoiada por forças
conservadoras e liberais, no Congresso Nacional e na sociedade, com destaque para elites
econômicas e grupos empresariais com interesse na expansão dos mercados em saúde. Já
os defensores da segunda foram representados prin cipalmente por atores setoriais,
gestores e técnicos do SUS nas três esferas de governo, entidades da saúde coletiva e áreas
afins (Associação Brasileira de Pós-graduação em Saúde Coletiva – ABRASCO, Centro de
Estudos Brasileiros em Saúde – CEBES, Associação Brasileira de Economia da Saúde –
ABRES). Destaque-se ainda a crescente participação de profissionais de saúde e de usuários
do SUS, favorecida pela expansão dos serviços públicos, constituição de conselhos de saúde
e realização de conferências, em um contexto de democratização e descentralização das
políticas públicas.
Os conflitos entre projetos foram expressos, por exemplo, nos enfrentamentos
relativos ao finan ciamento setorial. Entre os atores da saúde e os da área econômica,
destacaram-se embates relativos à criação de uma fonte de financiamento específica e à
vinculação de receitas para a saúde. Cabe apontar a criação da Contribuição Provisória
sobre Movimentação Financeira (CPMF) em 1996 (que ficou em vigor por dez anos,
embora não exclusiva para o setor) e a aprovação da Emenda Constitucional nº 29 em
2000, que vinculou receitas para a saúde de forma mais estrita para estados e municípios,
22
com regras diferenciadas para a União que remetiam à variação do PIB . Essas
estratégias foram defendidas por grupos setoriais, com a atuação relevante dos Ministros
da Saúde. No entanto, sua negociação e implantação envolveram acordos e adaptações,
com limites para sua efetividade. Negociações e con flitos intrasetoriais referentes à
descentralização dos recursos federais ocuparam boa parte da agenda da CIT, em face das
restrições financeiras sob as quais ocorria a implantação do SUS.
Na economia, as medidas de abertura comercial, a relativa estagnação da indústria
nacional e a aprovação da legislação de propriedade intelectual 18 impuseram desafios à
produção de insumos para a saúde, em um contexto de demanda crescente em face da
expansão de serviços, gerando uma explosão das importações, com riscos para a
sustentabilidade da política
23.
A agenda de reforma do Estado do governo teve repercussões sobre a saúde. Em 1999-
2000 foram criadas duas agências reguladoras na saúde: a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) e a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). A primeira visou a
aumentar a capacidade regulatória em uma área tradicional de atuação estatal, que abrange
ramos diversificados. Já a segunda, foi voltada para os mercados de assistência médica
suplementar, ocupando-se nos primeiros anos do estabeleci
mento de regras mínimas de operação das empresas, sistematização de informações e
regulamentação de contratos, em uma lógica de defesa dos consumidores
24.
A diretriz de redução do funcionalismo público dificultou a conformação de
burocracias no Ministério da Saúde e entidades vinculadas, a contratação de profissionais
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de saúde para os serviços públicos federais (cujo papel de prestação direta reduziu), e
atingiu os serviços estaduais e municipais em expansão, favorecendo a proliferação de
formas de contratação de profissionais de saúde alterna
tivas à administração direta em todo o país.
Como pautas estruturantes da política, além do financiamento, destacou-se a
descentralização, favorecida pela sua presença tanto na agenda de reforma do Estado
quanto na agenda da reforma sanitária. Registram-se progressivos esforços de
fortalecimento do papel dos estados e da regionali zação, principalmente no final do
período (2000-2002), em contraste com a ênfase municipalista do momento anterior 25.
O PSF, a partir de 1995, tornou-se prioritário na agenda do Ministério da Saúde e do
Governo Federal, na perspectiva de expansão da cobertura dos serviços e da mudança no
modelo de atenção.
Isso conferiu novo status à atenção básica e favoreceu mudanças no financiamento (criação
de piso per capita e de incentivos específicos), organizacionais (criação do Departamento
de Atenção Básica em 2000) e inovações em outras áreas da política, como a de formação.
Ressalte-se que a ênfase na atenção básica era compatível com as diretrizes da reforma
sanitária referentes ao modelo de atenção e com propostas de reforma que defendiam uma
ação do Estado mais delimitada, emanada de agências internacionais ou mesmo do
Governo Brasileiro 24.
A política nacional de controle do HIV/AIDS ficou mais forte no período, sendo
preservado o compromisso de fornecimento gratuito de medicamentos – vigente desde
1991 – mesmo diante da expansão dos regimes e custos da terapia antirretroviral. Isso
levou à aprovação de lei específica para a garantia desses medicamentos e à atuação do
Brasil nos debates internacionais sobre propriedade intelectual e interesses de saúde
pública, bem como negociações com a indústria transnacional para a redução de preços.
Houve expansão e diversificação dos programas de assistência farmacêutica, com
estratégias de descentralização dos recursos para os medicamentos básicos e manutenção
de compras centralizadas dos destinados a programas estratégicos ou de alto custo.
Ressalte-se ainda a implanta
ção do programa de genéricos 26.
Outras políticas tradicionais de saúde pública – como controle de doenças infecciosas –
apre sentaram continuidades, com inovações incrementais, assumindo destaque na agenda
federal em momentos críticos, como foi o caso do dengue.
Em síntese, na saúde houve inovações institucionais (na regulamentação e
financiamento) e avan ços no período em termos da expansão de programas específicos e
da cobertura dos serviços des centralizados. Porém, as políticas macroeconômicas, a agenda
de reforma do Estado hegemônica e a coalizão de forças políticas predominantes não
foram favoráveis à superação de problemas estruturais do SUS. Diversas decisões e
estratégias adotadas no período condicionaram os caminhos da política de saúde nos
governos seguintes.
Luiz Inácio Lula da Silva, que iniciou sua trajetória política como dirigente sindical e foi
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fundador do PT, foi eleito Presidente do Brasil em 2002, na quarta campanha presidencial
da qual participou, após acirrada disputa com José Serra, do PSDB.
Na campanha de 2002, por meio da Carta aos Brasileiros, Lula se comprometeu a
assegurar as condições para a manutenção da estabilidade monetária que havia sido
alcançada depois do Plano Real. A ênfase na estabilidade representou um elemento de
continuidade em relação ao governo anterior, embora a política econômica tenha
mostrado mudanças relevantes, como a revaloriza
ção do papel do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no
apoio à indústria nacional
27.
Ao longo dos dois Governos Lula, houve variações no contexto econômico e político.
O perío do de 2003 e 2004 foi marcado por restrições financeiro-orçamentárias, com certa
retomada do crescimento econômico a partir de 2006, favorecido pelo boom de
commodities. Em que pese a crise econômica mundial a partir de 2008 e a redução do PIB
em 2009, o governo logrou implantar no segundo mandato políticas anticíclicas com o
aumento dos investimentos públicos, incluindo projetos de infraestrutura (Plano de
Aceleração do Crescimento – PAC) e expansão de gastos sociais. Mesmo considerando as
variações mencionadas, é possível identificar no período elementos de continuidade,
configurando um modelo de intervenção designado por alguns autores como “social
desenvolvimen tismo” 28. Esse se caracterizou por uma articulação entre políticas
econômicas e sociais de orientação redistributiva, tais como: estratégias para a geração de
empregos, formalização do trabalho, aumentos reais do salário mínimo e aumento das
transferências diretas de renda.
O governo foi inicialmente apoiado por uma coalizão com partidos pequenos de perfil
político variado, sendo o Vice-presidente um empresário do Partido Liberal (PL). A partir
de 2005, a crise política desencadeada por denúncias de caixa dois de campanha e
estratégias de cooptação do Con gresso incentivou a busca de apoio e concessão de cargos
ao PMDB, cuja participação no governo se expandiu nos anos seguintes. Apesar da crise
política, Lula foi reeleito Presidente em 2006, após dis puta eleitoral com Geraldo Alckmin,
do PSDB. Durante os dois mandatos, Lula priorizou estratégias de conciliação política,
com movimentos de articulação com diversos segmentos da classe política, do
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unificação de quatro estratégias anteriores, em poucos anos o PBF foi considerado o maior
programa de transferência de renda com condicionalidades do mundo, contribuindo para
a redução da pobreza e da mortalidade infantil no país, entre outros resultados
29.
Também houve expressiva expansão do BPC.
No segundo grupo, adotaram-se iniciativas voltadas para a expansão de direitos das
mulheres, grupos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros
(LGBT), população negra, indígena e quilombolas, incluindo a criação de secretarias
federais específicas, mudanças legislativas e normativas. Destacaram-se as políticas de ação
afirmativa, como os incentivos às universidades para a adoção de cotas de vagas para
alunos de escolas públicas, negros e indígenas, inicialmente por adesão e, a partir de 2012,
mediante lei voltada para as instituições federais. Acrescentem-se ainda as estratégias de
expansão dos campi e de universidades federais em regiões carentes e a adoção de um
programa de bolsas federais para alunos de baixa renda em universidades privadas. Tais
ações resul
taram na expansão do acesso dos jovens ao Ensino Superior, mais expressiva entre os
negros, embora este acesso ainda seja baixo no Brasil
30.
A Previdência Social foi objeto de reformas incrementais que, entre 2003 e 2004,
atingiram o regime dos servidores públicos, impondo maiores exigências para a
aposentadoria integral. Em que pesem as pressões para a contenção do crescimento de
gastos, não houve privatização do sistema de previdência no Brasil, que manteve sólida
base pública.
Na saúde, foram adotados como marcos de governo três programas: Brasil Sorridente,
Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), e Farmácia Popular. Os dois
primeiros partiram de iniciativas prévias, e o terceiro introduziu no SUS o copagamento
por medicamentos adquiridos em farmácias estatais ou privadas. Como elemento de
continuidade, destaque-se a expansão da cobertura do PSF, que passou a ser enfatizado
como estratégia de reestruturação do modelo de atenção, agre
gando novos profissionais à atenção básica
25.
No segundo mandato, diante da ênfase no debate desenvolvimentista e da estabilidade do
Ministro da Saúde José Temporão, a agenda setorial se expandiu por meio de iniciativas
relacionadas ao comple xo industrial da saúde, visando a fortalecer a produção nacional de
insumos estratégicos para o SUS.
Embora os programas e iniciativas descritos tenham sido relevantes para a expansão da
cobertura e escopo das ações em áreas críticas, problemas estruturais do sistema de saúde
não foram adequada mente enfrentados no período, por exemplo, no âmbito do
financiamento, das relações público-pri vadas, da força de trabalho e das desigualdades
territoriais em saúde.
Enfim, os Governos Lula expressaram esforços de mudança no modelo de
desenvolvimento econômico-social, tendo as políticas trabalhistas e sociais contribuído de
forma expressiva para a redução da pobreza, das desigualdades de renda e para a ascensão
de parte da população trabalhadora, em círculo virtuoso entre fomento à demanda interna
e desempenho econômico. A política de saúde apresentou elementos de continuidade e
inovações incrementais, não tendo sido uma área de desta
que na agenda governamental, com persistência dos problemas estruturais do SUS 25. Ao
final de 2010, Lula deixou o governo com altíssima aprovação nacional e reconhecimento
internacional, logrando eleger sua sucessora após acirrada disputa eleitoral. Dilma
Rousse", ex Ministra das Minas e Energia e da Casa Civil, que havia coordenado grandes
projetos de investimen tos do governo, foi a primeira mulher eleita Presidente no país,
tendo em sua chapa como Vice-pre sidente Michel Temer, do PMDB.
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Cad. Saúde Pública 2017; 33 Sup 2:e00129616
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pobreza, como os programas de transferência de renda (Bolsa Família e BPC), associados a
outras estratégias sob a marca “Brasil Sem Miséria”.
No que concerne à Previdência Social, as reformas foram incrementais, destacando-se
medidas de contenção de despesas e de desoneração fiscal, que prejudicaram as receitas. No
regime dos servi dores públicos federais, aboliu-se a aposentadoria integral para novos
concursados, que passaram a se subordinar ao mesmo teto de contribuição e aposentadoria
dos trabalhadores inseridos no regime geral, com possibilidade de adesão à previdência
complementar gerida pelo Estado. Em dezembro de 2014, editou-se medida provisória
com imposição de regras mais restritivas de acesso e manutenção de pensões e seguro-
desemprego. No segundo governo, foram acentuadas as pressões de grupos neoliberais
para reformas drásticas na previdência, ancoradas no discurso de déficit do sistema, sob
críticas de especialistas
35,36.
A política de saúde, por sua vez, novamente foi marcada por continuidades em algumas
áreas – atenção básica, vigilâncias – e pela adoção de programas específicos como marcos
de governo, sem que problemas estruturais do sistema fossem adequadamente
enfrentados. Durante o primeiro Governo Dilma, houve dois Ministros no cargo, com
trajetórias na saúde pública e vinculados ao PT.
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distúrbios neurológicos em bebês (na infecção contraída pela gestante), configurando-se
como uma nova emergência em saúde pública.
Em 2016, a política de saúde mergulhou em uma fase de indefinições e instabilidade
com o agra vamento da crise política, que culminou com o afastamento temporário da
Presidenta Dilma Rousse" em maio e a confirmação do seu impeachment pelo Senado
Federal em agosto de 2016. Nesse contexto, destacou-se o lançamento de propostas que
fragilizariam ainda mais a base financeira do SUS e for taleceriam os mercados em saúde.
Em síntese, o período de 2011 a 2016, marcado por instabilidade política, sinalizou
percalços e riscos de retrocessos para as políticas sociais e de saúde, cujos rumos são
incertos.
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No que concerne ao financiamento do SUS, os patamares de gasto público per capita
em saúde e o comprometimento do gasto público com a saúde permaneceram abaixo
daqueles observados em outros países, mesmo considerando sua maior estabilidade e
ampliação nos anos 2000
39. Houve esforços para a alocação de recursos em regiões mais
carentes, mas a permanência de problemas do sistema de partilha fiscal 40, associados ao
caráter cíclico, com baixa prioridade econômica e fiscal do gasto federal
41, comprometeu
maiores impactos redistributivos das transferências setoriais.
Avanços do ponto de vista do maior aporte de recursos de origem estadual e municipal
foram con trabalançados pela diminuição proporcional do gasto federal, sendo a autonomia
no gasto em saúde restrita pelo excesso de condicionalidades para aplicação de recursos
transferidos e pelas limitações da legislação vigente. Nos anos 2000, as diferenças nas
condições de financiamento e gasto em saúde entre as esferas subnacionais de governo
mantiveram-se significativas 40.
No que concerne às relações público-privadas, ressalte-se que a expansão da oferta e do
acesso aos serviços públicos no período ocorreu de forma concomitante ao crescimento do
setor privado no financiamento e prestação de serviços.
Os gastos privados permaneceram acima de 50% do gasto total em saúde em todo o
período, compostos por desembolsos diretos e pagamentos a planos e seguros de saúde .
41
Tais gastos refletem tanto problemas relacionados ao padrão tributário e à renúncia fiscal
42,43 como a limites e impasses do próprio financiamento da saúde frente aos desvios no
uso de recursos da Seguridade Social, às oscilações de fontes e à fragilidade da política de
investimentos
22.
A prestação privada de serviços ao SUS continuou elevada no âmbito hospitalar e se
expandiu no segmento de serviços de apoio diagnóstico e terapêutico e, mais
recentemente, na atenção básica, por meio das novas formas de terceirização, como a
contratação de Organizações Sociais.
Destaque-se a expansão do segmento de planos e seguros de saúde, em uma lógica cada
vez mais dinâmica do ponto de vista empresarial e financeiro, com a compra de empresas
menores por grupos maiores, configurando um fenômeno de financeirização articulado à
internacionalização. A ANS não impôs constrangimentos ao crescimento desse segmento.
Ao contrário, em vários momentos atuou no sentido da organização e fomento a esses
mercados, sob o comando de dirigentes cuja trajetória profissional foi construída no setor
a ser regulado 44. A abertura da oferta de serviços de saúde ao capi
tal estrangeiro, formalizada no final de 2014 (antes vetada pela Constituição), foi defendida
e articulada no interior da própria organização
45.
A força do setor privado na saúde também se manifestou na crescente atuação desses
grupos no financiamento de campanhas eleitorais
46 e na expressão de seus interesses no
Congresso Nacional. Ademais, a atuação desses segmentos privados é heterogênea entre
grupos sociais (considerando renda, idade, inserção laboral), áreas urbanas e rurais e
regiões do país, dada a sua orientação para a busca de lucros. A dinâmica econômica
influencia de forma decisiva a configuração e as estratégias desse setor na busca por novas
clientelas e oferta de produtos.
Acrescente-se que parte expressiva da força de trabalho em saúde – especialmente dos
médicos – atua nos setores público e privado, em arranjos variados, sugerindo o seu
imbricamento e riscos de conflitos de interesses. Assim, enquanto parte das desigualdades
na oferta de serviços e nos resultados sanitários é atenuada pela expansão de serviços do
SUS – especialmente na atenção básica – o dina
mismo do setor privado, sob incentivo estatal, tende a reproduzir a estratificação social e a
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expressão das desigualdades na saúde, sendo ainda susceptível aos ciclos econômicos.
O caráter das relações Estado e mercado na saúde, em que o primeiro fomenta o
segundo, público e privado se imbricam e o conflito distributivo é camuflado em um
cenário de recursos relativamente escassos, constitui a contradição central da política de
saúde no Brasil no período e o principal óbice à consolidação de um sistema público
efetivamente universal e igualitário.
Quanto aos limites e pressões que incidiram sobre a política de saúde no período
estudado, identi ficaram-se três grupos de condicionantes: histórico-estruturais,
institucionais, político-conjunturais.
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Conclusões
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Figura 2
Avanços, dificuldades e condicionantes segundo desafios estratégicos para a consolidação do caráter público e universal da política de
saúde no Brasil.
Desafios
Avanços Dificuldades Condicionantes
estratégicos
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Baixa priorização das políticas de corte
Ampliação das demandas
e na Seguridade
Ampliação do mercado de consumo interno de modo
universal.
sociais por serviços de saúde.
Social
concomitante à contenção de gastos públicos e sociais.
Baixa integração entre organizações,
Esforços de integração
Trajetória fragmentada e segmentação da política
programas e ações.
de políticas sociais com
social.
Desarticulação vertical (entre esferas
participação da saúde (ex.,
“Lugar” limitado da política social e da saúde no projeto
de governo) e horizontal (entre setores
Bolsa Família, Pró-Saúde).
de desenvolvimento.
da política social).
Dificuldades na implantação do orçamento da
Desigualdades no acesso aos serviços
Seguridade Social.
públicos.
Caráter cíclico, com baixa prioridade
Financiamento Maior estabilidade do
Permanência de um padrão tributário regressivo e da
econômica e fiscal do financiamento
financiamento com ampliação
iniquidade no sistema de partilha fiscal.
federal em saúde.
do gasto público per capita a
Desvios e desintegração de receitas do Orçamento
Insuficiência de recursos para suprir
partir dos anos 2000.
da Seguridade Social, com a adoção e manutenção da
as necessidades de financiamento do
Aumento da participação
Desvinculação das Receitas da União (DRU).
SUS.
dos estados e municípios no
Ampliação de subsídios fiscais para o setor privado.
Iniquidade nas condições de
financiamento da saúde.
Instabilidade de fontes durante grande parte do
financiamento e gasto em saúde em
Redistribuição e aumento da
o
período (Emenda Constitucional n 29 só aprovada em
nível subnacional.
alocação de recursos federais
2000).
Baixa participação dos investimentos
em regiões mais carentes.
Dificuldades na regulamentação e cumprimento da
no gasto público em saúde.
vinculação constitucional da saúde (Lei Complementar
Persistência de altos gastos privados
o
n 141 só aprovada em 2011).
em saúde, subsidiados pelo Estado.
Aumento progressivo das transferências automáticas
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(“fundo a fundo”) e adoção de critérios redistributivos
para a alocação de recursos federais do SUS nos
estados e municípios.
Predomínio de relações verticais (entre os níveis
federal e municipal) na redistribuição de recursos
fiscais e setoriais.
Excesso de condicionalidades para a aplicação de
recursos federais (a partir da segunda metade dos
anos 1990) e restrições para os gastos em saúde
(ex., Lei de Reponsabilidade Fiscal) nos estados e
municípios.
Trajetória prévia da política de saúde no Brasil, com
Expansão do setor privado (com ou
Relações
Expansão dos serviços
forte imbricamento entre os setores público e privado
sem fins lucrativos) na gestão dos
público-privadas
e do acesso às ações e
(no financiamento, na gestão e prestação de serviços).
serviços e na oferta de tecnologias
serviços públicos em saúde,
Presença de incentivos fiscais e fragilidade da
médicas.
principalmente em nível
regulação sobre prestadores privados do SUS e setor
Crescimento do setor privado supletivo
municipal e no âmbito da
privado supletivo.
com segmentação da clientela.
atenção básica.
Reconfiguração do segmento suplementar com
Manutenção das desigualdades e no
Aumento da capacidade
incremento dos mecanismos de intermediação
acesso às ações e serviços públicos de
gestora em diversos estados e
financeira e estímulo à conformação de grandes
saúde.
em milhares de municípios.
grupos capitalistas na área, envolvendo serviços,
Forte dependência do setor público
à prestação privada de serviços
finanças e indústria, de caráter multinacional.
de saúde, principalmente os
especializados, de apoio diagnóstico e
terapêutico e de natureza hospitalar.
Como limitações do estudo, destacamos que o amplo recorte temporal não permitiu
aprofundar temas relevantes para o sistema de saúde, como relações intergovernamentais,
organização territo rial, gestão do trabalho, modelo de atenção e participação social. Outra
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limitação concerne ao foco na atuação do Executivo Federal, com escassa consideração de
atores subnacionais e outros atores sociais, importantes em contextos federativos e
democráticos. Também não foram exploradas outras questões relevantes, como as
transformações da geopolítica internacional, na macroeconomia e na demografia, que
podem afetar as políticas de saúde.
O Brasil expressa de forma contundente as tensões na construção de um sistema de
saúde universal em um país capitalista periférico extremamente desigual. Configura-se
uma situação contraditória, de coexistência de um sistema público de dimensões
expressivas, baseado na diretriz da universalidade, com mercados privados dinâmicos e em
ascensão, que disputam os recursos do Estado e das famílias, espoliam a possibilidade de
consolidação de um sistema de saúde de fato único e igualitário, reiteram a estratificação e
as desigualdades sociais. Diante do legado histórico-estrutural do sistema de proteção
social, da persistência de fragilidades institucionais e do fortalecimento de ideias
neoconservadoras e neoliberais, em um momento de instabilidade econômica e política,
com ameaças à democracia bra
sileira, existem sérios riscos de retrocessos nas conquistas que haviam sido alcançadas na
área social e na saúde no período pós-constitucional.
Colaboradores
C. V. Machado, L. D. Lima e T. W. F. Baptista partici param da realização do estudo e análise do material de pesquisa que embasou o artigo, da
concepção, da redação das diversas seções e da revisão final do texto.
Agradecimentos
C. V. Machado e L. D. Lima são bolsistas de pro dutividade em pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq). As pesquisas que deram origem ao artigo foram financiadas com recursos do Edital Universal do CNPq 2013 e do Programa de Apoio à
Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação em Saúde Pública da Escola Nacional de Sáude Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz (Inova-
ENSP-2013).
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Abstract
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This article analyzes the trajectory of national health policy in Brazil from 1990 to 2016 and ex plores the policy’s contradictions
and conditioning factors during the same period. Continuities and changes were seen in the policy’s context, process, and
content in five distinct moments. The analysis of the policy’s conditioning factors showed that the Constitutional framework,
institutional arrange ments, and action by health sector stakeholders were central to the expansion of public programs and
services, providing the material foundations and expanding the basis of support for the Brazil ian Unified National Health
System at the health sector level. However, historical and structural limitations, institutional legacies, and the dispute between
projects for the sector have influenced national health policy. Interaction between these conditioning factors explains the
policy’s con tradictions during the period, for example with regard to health’s position in the national devel opment model and
social security system and the financing and public-private relations in health. Expansion of public services occurred simultane
ously with the strengthening of private segment. Dynamic health markets that compete for resourc es from government and
families, limit the possi bility of consolidating a universal health system and reiterate social stratification and inequalities in
health.
El artículo analiza la trayectoria de la política na cional de salud en Brasil de 1990 a 2016, además de explorar las contradicciones
y los condicionan tes de las políticas durante ese período. Se observó continuidad y cambios en el contexto, proceso y contenido
de las políticas en cinco momentos di ferentes. El análisis de los condicionantes políticos expuso que el marco constitucional, los
acuerdos institucionales y la acción de agentes sectoriales fueron fundamentales para la expansión de pro gramas y servicios
públicos, que confirieron mate rialidad y ampliaron la base de apoyo al Sistema Único de Salud en el ámbito sectorial. No
obstante, los límites histórico-estructurales, legados institu cionales y la disputa de proyectos para este sector influenciaron la
política nacional. La interacción de estos condicionantes explica las contradicciones en la política durante este período, por
ejemplo, en lo que se refiere a la inclusión de la salud en el mo delo de desarrollo y en la Seguridad Social, al ca rácter de
financiación y de las relaciones público privadas en salud. La ampliación de los servicios públicos se produjo de forma
concomitante al for talecimiento de segmentos privados, configurando mercados dinámicos en salud, que se disputan los
recursos del Estado y de las familias, además de restringir la posibilidad de consolidación de un sis tema de salud universal,
reiterando la estratifica ción social y las desigualdades en salud.
Recebido em 24/Jul/2016
Versão final reapresentada em 26/Set/2016 Aprovado em 13/Out/2016
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