0% acharam este documento útil (0 voto)
5 visualizações159 páginas

Texto Hildete

texto mercado de trabalho de percepções

Enviado por

tatiannevie
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
Formatos disponíveis
Baixe no formato PDF, TXT ou leia on-line no Scribd
0% acharam este documento útil (0 voto)
5 visualizações159 páginas

Texto Hildete

texto mercado de trabalho de percepções

Enviado por

tatiannevie
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
Formatos disponíveis
Baixe no formato PDF, TXT ou leia on-line no Scribd
Você está na página 1/ 159

Os Cuidados no Brasil:

Mercado de Trabalho e
Percepções
Hildete Pereira de Melo
Lucilene Morandi
Lorena Lima de Moraes
Hildete Pereira Lucilene Lorena Lima
de Melo1 Morandi2 de Moraes3

1 Professora associada, 2 Professora associada, 3 Professora adjunta,


Faculdade de Economia, Faculdade de Unidade Acadêmica
Programa de Pós- Economia, Programa de Serra Talhada,
Graduação em Política de Pós-Graduação em Universidade Federal
Social, Universidade Economia, Universidade Rural de Pernambuco,
Federal Fluminense UFF, Federal Fluminense UFF, coordenadora do DADÁ:
coordenadora adjunta coordenadora do Núcleo Grupo de Ensino, Pesquisa
do Núcleo de Pesquisa de Pesquisa em Gênero e Extensão em Relações
em Gênero e Economia e Economia (NPGE). de Gênero, Sexualidade
(NPGE). e Saúde.
Contato:
Contato: [email protected] Contato:
[email protected] [email protected]
Título da Publicação:
Os Cuidados no Brasil: Mercado de Trabalho e Percepções

Autoras:
Hildete Pereira de Melo
Professora associada, Faculdade de Economia, Programa de Pós-Graduação em Política
Social, Universidade Federal Fluminense UFF, coordenadora adjunta do Núcleo de
Pesquisa em Gênero e Economia (NPGE). Contato: [email protected]

Lucilene Morandi
Professora associada, Faculdade de Economia, Programa de Pós-Graduação em
Economia, Universidade Federal Fluminense UFF, coordenadora do Núcleo de Pesquisa
em Gênero e Economia (NPGE). Contato: [email protected]

Lorena Lima de Moraes


Professora adjunta, Unidade Acadêmica de Serra Talhada, Universidade Federal Rural
de Pernambuco, coordenadora do DADÁ: Grupo de Ensino, Pesquisa e Extensão em
Relações de Gênero, Sexualidade e Saúde. Contato: [email protected]

Assistentes de Pesquisa: Bárbara Cristina Vieira da Silva; Camila Pereira Brígido


Rodrigues (Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Economia da UFF); Deborah
Cristina Rodrigues Victor (Graduanda de Economia - UFF);

Projeto e Diagramação: Estúdio Coisafina


Contato: [email protected]

Foto de Capa: Barbara Verge | unsplash

Copyright© Hildete Pereira de Melo, 2022


Copyright© Lucilene Morandi, 2022
Copyright© Lorena Moraes, 2022
Copyright© Fundação Friedrich Ebert, 2022

Todos os direitos reservados.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Melo, Hildete Pereira de


Os cuidados no Brasil [livro eletrônico] :
mercado de trabalho e percepções / Hildete Pereira
de Melo, Lucilene Morandi, Lorena Moraes. --
1. ed. -- São Paulo : Fundação Friedrich Ebert,
2022.
PDF.

Bibliografia.
ISBN 978-65-87504-56-8

1. COVID-19 - Pandemia 2. Ciências sociais


3. Mercado de trabalho 4. Mercado de trabalho -
Brasil I. Morandi, Lucilene. II. Moraes, Lorena.
III. Título.

22-129360 CDD-306.360981
Índices para catálogo sistemático:

1. Brasil : Mercado de trabalho : Aspectos sociais :


Sociologia 306.360981

Aline Graziele Benitez - Bibliotecária - CRB-1/3129


Sumário
Introdução 7

1. Trabalho e cuidados: contextualizando


os tempos atuais 16
1.1 Indicadores socioeconômicos da economia brasileira
em tempos de Covid-19 22
1.1.1 Demografia e territorialidade 22
1.1.2 Mudanças nos arranjos familiares 24
1.1.3 Educação e gênero 26
1.1.4 O mundo do trabalho no feminino e a crise sanitária 30

1.2 Reflexões inconclusas 43

2. Cuidados no Brasil e os impactos da


pandemia de Covid-19: resultados da
pesquisa on-line 46
2.1 A percepção dos cuidados: perfil das/os
respondentes 54
2.1.1 Sexo e gênero 54
2.1.2 Faixa Etária 56
2.1.3 Raça ou cor 57
2.1.4 Participação em grupo tradicional 58
2.1.5 Arranjos Familiares 59
2.1.6 Pessoas com filhas e/ou filhos 61
2.1.7 Faixa etária das/os filhas/os 63
2.1.8 Região e estado de residência 65
2.1.9 Trabalho e situação ocupacional 66
2.1.10 Rendimentos e situação de moradia 71
2.1.11 Escolaridade 76

2.1.12 Pessoas com algum tipo de deficiência 79


2.1.13 Moradia e arranjos familiares 80
2.2 A percepção dos cuidados: custos financeiros
e sociais 81
3. As consequências da pandemia de
Covid-19, o fechamento da economia
e o isolamento social sobre os
rendimentos dos/as respondentes 99
3.1 Dificuldades para realização dos
trabalhos remotos 101
3.2 Dificuldades financeiras durante o período
de pandemia de Covid-19 relatadas
pelos/as respondentes 106
3.3 O viver na pandemia: afazeres domésticos
e cuidados 109
3.4 Tempo dispensado aos cuidados de
crianças na pandemia 113
3.5 Dificuldade no ensino remoto 114
3.6 Dificuldade relatadas pelos/as respondentes
para conciliar emprego e família durante a pandemia 117
3.7 Problemas emocionais enfrentados durante
a pandemia 124
3.8 O que dizem as entrevistas? 127
3.9 Como a pandemia foi vivida? 130
3.10 Reflexões Finais 131

4. Considerações finais e recomendações 139


4.1 Principais resultados da pesquisa 141
4.2 Novos olhares sobre política econômica e social 145
4.3 Cuidados: atores e debates 147
4.3.1 Políticas públicas 149
4.3.2 Pesquisas e informações estatísticas 150
4.3.3 Uma melhor distribuição do trabalho dos cuidados 151

Referências Bibliográficas 152


7

Introdução
A pandemia de Covid-19 começou como uma crise sanitária, e se
tornou uma crise econômica e social, com efeitos severos sobre a
economia e o mercado de trabalho, contribuindo para a amplificação
das desigualdades e da pobreza em todo o mundo. A necessidade de
isolamento social desnudou a pauperização da população mundial, fruto
sobretudo de políticas de austeridade neoliberais, adotadas na maioria
das economias desde meados dos anos 1980, cujo objetivo primeiro
é o controle da inflação e o equilíbrio fiscal, deixando aos mercados
os ajustes necessários para o crescimento econômico, a geração de
emprego e de bem-estar. Mas a pandemia e seus reflexos dramáticos
sobre a pobreza e a desigualdade social impôs a necessidade de
atuação direta dos governos, através de aumento dos gastos fiscais,
seja para evitar maior número de falências, principalmente das
pequenas e médias empresas, e conter o desemprego, seja através
de repasses diretos de renda para as pessoas que perderam seus
rendimentos, principalmente trabalhadores/as informais e por conta-
própria. Foi possível compreender que o aumento dos gastos fiscais
impactava diretamente na resiliência econômica e na capacidade de
sobrevivência da economia e de sua recuperação mais rápida.

As características especiais da crise da pandemia de Covid-19,


decorrentes da necessidade de isolamento social para o controle
do contágio e a redução de mortes, enquanto não se dispunha de
remédios apropriados nem de cobertura vacinal significativa, impôs o
8

fechamento de escolas e creches4, centros de atendimento sociais a


pessoas idosas e com deficiências, além das empresas cujo produto ou
serviço fosse considerado não essencial. O afastamento das pessoas
de seus postos de trabalho foi, em grande medida, substituído pelo
trabalho remoto, nos setores e empresas em que isto era possível.
Inicialmente esperava-se que em alguns poucos meses o fechamento
de empresas e escolas e a necessidade de isolamento social fossem
revertidos.

O alargamento do prazo de isolamento e a clara percepção que seria


necessário o desenvolvimento de novos conhecimentos científicos
(novas vacinas e medicamentos apropriados) para o efetivo controle
da doença, impôs a necessidade da intervenção de políticas públicas
para sustentar a economia, a fim de garantir a sobrevivência do máximo
de pessoas, empresas e postos de trabalho, visando a possibilidade de
uma retomada mais rápida da economia.

Empresas e pessoas têm diferentes níveis de resiliência financeira


que estão relacionados, quanto às empresas, ao seu tamanho e
capacidade de gerar renda, e quanto às pessoas, basicamente à sua
fonte de rendimento. As pessoas com menor resiliência são as que
trabalham na informalidade (sem contrato formal) e por conta-própria5,
pois quando enfrentam interrupção de renda não têm acesso a direitos
como o seguro-desemprego. Dado que, no geral, estas também são
as pessoas com menores rendimentos, os impactos econômicos da
pandemia e as necessárias medidas sanitárias tiveram impacto mais

4 Esta foi a maior interrupção do ensino na história, tendo-se chegado a 1,6 bilhão de
estudantes fora da sala de aula (PNUD / UNICEF / UNESCO / OPAS, 2021).

5 Trabalhadores/as informais são aqueles/as que trabalham no setor privado ou doméstico


sem carteira assinada ou contrato formal de trabalho. Trabalhadores/as por conta-própria
são os empregadores/as ou empregados/as sem CNPJ e os/as trabalhadores/as sem
remuneração (PNAD Contínua, IBGE).
9

significativo sobre as famílias mais pobres, evidenciando a importância


da disponibilidade do acesso a recursos e serviços públicos suficientes
e de qualidade, como redes de proteção social, serviços de saúde,
auxílio à renda e moradia, para a sobrevivência e garantia de bem-
estar das famílias de faixas de renda mais baixas (TORRES SANTANA,
2021).

Desde o início da pandemia, o Brasil acumulou, até novembro de


2021, mais de 600 mil mortes por Covid-19, sendo o segundo país
com maior número de mortes, atrás apenas dos EUA, e o sétimo país
em mortes por milhão de habitantes, depois da redução do ritmo de
contaminação e mortes em consequência do avanço da vacinação.
O país teve muita dificuldade para controlar e combater a pandemia,
basicamente porque o presidente assumiu uma postura negacionista
e impediu que houvesse uma coordenação centralizada, sabotando
a atuação do Ministério da Saúde através das trocas sem critérios
de ministros. Além disso, a atuação do governo federal dificultou o
uso adequado do Sistema Único de Saúde (SUS) e do conhecimento
científico brasileiro acumulado ao longo dos anos de experiência em
produção e aplicação eficiente de vacinas. A tragédia não foi maior
devido à reação da maioria dos/as governadores/as e prefeitos/as que,
diante da calamidade, assumiram a responsabilidade em definir regras
para o isolamento social, disponibilizar espaço para atendimento das
pessoas infectadas, repasse de ajuda financeira a pessoas e empresas,
além de coordenarem a vacinação em seus estados e municípios. O
quadro mais dramático da crise sanitária da pandemia no Brasil foi
registrado em janeiro de 2021 na cidade de Manaus/AM, quando faltou,
além de leitos e vagas hospitalares, oxigênio para o atendimento às
vítimas do Covid-19. A falta de organização centralizada das fontes de
oxigênio para a capital do Amazonas, pelo Ministério da Saúde, apesar
dos apelos das autoridades locais, elevou enormemente o número de
10

mortes evitáveis nessa tragédia brasileira.

Vivendo num cenário econômico deteriorado por políticas econômicas


restritivas, decorrentes das limitações orçamentárias bastante rígidas,
definidas desde a aprovação da Emenda Constitucional 95/2016 (a PEC
do Teto dos Gastos) de novembro de 2016, a economia nacional tem
sofrido, nos últimos anos, com as piores taxas de crescimento desde
o início do século XX.6 As baixas taxas de crescimento, somadas à
intensificação das políticas de austeridade e às reformas liberalizantes
(como as reformas trabalhista e da previdência), contribuíram para o
aumento da desigualdade social. No Brasil, soma-se à contribuição
das políticas liberalizantes e de austeridade para o aumento da
desigualdade observada em todo o mundo capitalista nas últimas
décadas, uma crescente indiferença e normalização da desigualdade
e pobreza, exacerbadas pela redução ou eliminação da maioria das
políticas de proteção social, maior facilidade de apropriação dos ganhos
de produtividade pelo lucro em detrimento dos salários, contribuindo
para aumentar a concentração de renda e a desigualdade.

E este quadro de crescimento da desigualdade foi agravado com a


entrada em cena da pandemia no país. A desigualdade crescente nos
últimos anos contribuiu para aumentar o número de pessoas vivendo
em situação de vulnerabilidade, em habitações e ambientes precários,
e que têm maior dificuldade em manter um mínimo de bem-estar. Estas
pessoas são menos resilientes às crises provocadas por flutuações
econômicas, ficando também mais vulneráveis às doenças endêmicas,
que têm crescido com a expansão do comércio e do fluxo internacional
de pessoas (STORM, 2021; MORANDI, 2021; MELO; MORANDI, 2020).

6 Os anos com as menores taxas de crescimento do PIB brasileiro foram 1908 (-3,2%), 1931
(-3,3%), 1981 (-4,25%), 1990 (-4,35%), 2015 (-3,55%), 2016 (-3,28) e 2020 (-4,06) (IBGE, Sistema
de Contas Nacionais / IPEADATA).
11

Em relação ao enfrentamento da crise da pandemia de Covid-19 no


Brasil, a principal atuação do governo federal, em 2020, foi a adoção
das medidas de Auxílio Emergencial (AE), uma iniciativa do Congresso
Nacional que o Palácio do Planalto assumiu com o intuito de ganhar
popularidade. Esta política, que mostrou ser um elemento decisivo
para sustentar uma menor queda do PIB e do emprego em 2020, foi
interrompida entre janeiro e abril de 2021, sendo retomada em maio
de 2021, porém com os repasses de renda em valores bem menores.
Com a economia em marcha lenta e a população sem emprego,
tem crescido o número de famílias que enfrentam algum nível de
insegurança alimentar, quadro que só não é mais grave por causa do
esforço contínuo de mobilização por parte de movimentos sociais e
grupos de pessoas da sociedade civil.

A decisão de não continuar com o AE no início de 2021 deu a impressão


que o governo não acreditava que a pandemia ultrapassasse a virada
para o novo ano. Reflexo disso foi o Ministério da Fazenda ter retomado
normalmente sua agenda de austeridade fiscal. Mas a verdade é que
as projeções de crescimento têm sido corrigidas para números cada
vez mais pessimistas, e a taxa de desemprego tem mantido recordes,
permanecendo acima dos 13,0%. Por causa do impulso econômico
positivo, propiciado pelas medidas de AE adotadas no ano passado,
espera-se um crescimento do PIB em torno de 4,7 % para 2021.7 Por outro
lado, o retorno às políticas que priorizam o controle dos gastos públicos
e o déficit fiscal têm levado a projeções cada vez mais pessimistas
para a economia brasileira, com taxa prevista de crescimento de 1,5%
em 2022, uma das mais baixas dentre as projetadas pelo FMI para
os países da América Latina e Caribe, abaixo inclusive da taxa média

7 Dados do Relatório de Inflação, Banco Central, setembro de 2021. Ainda segundo este
relatório, a projeção do crescimento do PIB para 2022 é de 2,1% (https://www.bcb.gov.br/
content/ri/relatorioinflacao/202109/ri202109b3p.pdf)
12

projetada para a região, de 3,0%.8

Foi neste cenário que esta pesquisa se desenvolveu, ao longo dos


meses de junho a dezembro de 2021, tendo como objetivos, primeiro,
fazer uma análise da participação das mulheres no mundo do trabalho,
tanto em relação ao trabalho remunerado quanto ao não remunerado,
executado sobretudo pelas mulheres em prol das pessoas da família,
e que é essencial para a preservação e reprodução da vida. E
segundo, entender com mais profundidade como as pessoas no Brasil
compreendem os cuidados, sua importância e centralidade na vida
humana. Estas impressões foram coletadas através de um formulário
disponibilizado on-line, além da realização de algumas entrevistas
semiestruturadas por telefone, que incluíam perguntas relativas à
compreensão do que são os cuidados, bem como sobre os impactos
na vida dessas pessoas no redemoinho provocado pela pandemia de
Covid-19.

Desta forma, este trabalho analisa a participação das mulheres no


mundo do trabalho, explicitando que as diferenças existentes, entre
homens e mulheres, não derivam estritamente da racionalidade
econômica, mas procedem da construção social e cultural das relações
de gênero. A economia feminista parte de um olhar que tem como
objetivo denunciar e transformar as situações de desigualdade de
gênero. Assim, parte das tarefas relativas ao trabalho não remunerado,
incluindo afazeres domésticos e atividades de cuidados, são analisadas
no âmbito do conceito da divisão sexual do trabalho (KERGOAT, 2019;
HIRATA; GUIMARÃES, 2020), entendendo-se que estes trabalhos têm
um papel chave na própria definição do que seja trabalho e suas
relações salariais (VANDELAC; BÉLISLE; GAUTHIER; PINARD, 1988).

8 Segundo o FMI, a taxa média de crescimento do PIB, para 2022, para América Latina e
Caribe deve ser de 3,0%, enquanto que a média mundial deve chegar a 4,9% (IMF, 2021).
13

A ideia é contribuir para o avanço da compreensão dos cuidados, sua


importância e centralidade na vida humana, visibilizar sua importância
social e discutir por que, social e culturalmente, cabe especificamente
às mulheres a responsabilidade por estas tarefas. Pretende-se
destacar que, como todas as pessoas necessitam e são receptoras
de cuidados em algum momento da vida, a tarefa de cuidar deveria
ser mais igualitariamente distribuída. Além disso, as políticas públicas
deveriam priorizar a oferta de serviços que auxiliem as famílias nessas
tarefas, essenciais ao bem-estar de toda a sociedade.

A análise socioeconômica da economia brasileira, abrangendo os anos


de 2019, 2020 e o primeiro semestre de 2021, utilizou como principal
fonte de informações a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
Contínua (PNAD-C), publicada pelo Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE).9 Esta análise será complementada com os dados
extraídos da pesquisa relativa à compreensão das pessoas sobre os
trabalhos de cuidados, tanto remunerados quanto não remunerados,
que ficou disponível em ambiente virtual de 15 de agosto a 21 de
setembro de 2021. Uma questão importante é se os cuidados - palavra
de significado bastante amplo - são entendidos e percebidos como
essenciais da mesma forma, por mulheres e homens, sejam estas
pessoas jovens, adultas ou idosas, vivendo em áreas urbanas ou rurais.
Assim, a partir dos diversos entendimentos da sociedade brasileira
sobre o que são os cuidados, o intuito é que estes resultados sirvam para
fomentar um debate mais consistente, com o objetivo de se formular
as linhas gerais de um “Plano Nacional de Cuidados para o Brasil”.
Os resultados também servirão de base para a estruturação de uma
campanha político-educativa que promova maior visibilidade à questão

9 Para realizar a PNAD durante o período de isolamento social, o IBGE adaptou a PNAD
Contínua e criou a PNAD Covid-19, realizada no período de maio a novembro de 2020,
através de consulta telefônica.
14

dos cuidados, buscando-se ampliar a conscientização da sociedade


sobre sua importância para o bem-estar e a vida das pessoas. Essas
ações educativas visam promover mudanças de comportamento para
a redução das desigualdades de gênero no Brasil.
OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO
BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDA-
DOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS
CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL
• OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO
BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDA-
DOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS
CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL
• OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO
BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDA-
DOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS
CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL
• OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO
BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDA-
DOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS
1.
CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL
• OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO

Trabalho e
BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDA-
DOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS
CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL
cuidados:
• OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO
BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDA-

contextualizando
DOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS
CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL
• OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO

os tempos atuais
BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDA-
DOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS
CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL
• OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO
BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDA-
DOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS
CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL
• OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO
BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDA-
DOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS
CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL
• OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO
BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDA-
DOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS
CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL
16

1. Trabalho e cuidados:
contextualizando os
tempos atuais
O tema dos cuidados tem mostrado grande vitalidade no movimento
feminista, que nestas primeiras décadas do século XXI pregoa uma
mudança estrutural para que o trabalho de cuidados seja distribuído
de forma mais equitativa entre todas as pessoas. Neste sentido, é
necessária maior intervenção do Estado, como agente promotor do bem-
estar social e da redução da desigualdade, através da disponibilização
de serviços públicos suficientes e de qualidade (serviços de saúde;
de atenção a pessoas necessitadas, como idosas, enfermas ou que
necessitam de cuidados de forma temporária ou permanente; creches
e escolas de tempo integral), principalmente para a população que não
dispõe de renda para pagar privadamente por estes serviços. Além
disso, o Estado tem o papel importante de atualizar a legislação e
promover mudanças, principalmente na educação, adotando matérias
nos currículos escolares que advogam igualdade de gênero, através
da conscientização sobre a importância dos cuidados e de sua melhor
distribuição entre as pessoas, seja dentro da família, ou entre a família,
a sociedade, o Estado e as empresas. Para isto é necessária a definição
de diretrizes, através de uma Política Nacional de Cuidados, ampla e
universal.10

10 Sobre a crise e políticas sobre os cuidados, ver Torres Santana (2021, Tomo I, pp.44-58).
17

As discussões sobre a retomada econômica após a ruptura, causada


pela crise da pandemia de Covid-19, têm destacado que este momento
representa uma grande oportunidade para se eliminar vícios anteriores,
relativos às diretrizes de política econômica e às desigualdades nos
seus diversos aspectos e níveis. Esta é uma oportunidade para que
o Estado, através das medidas de políticas públicas que se fazem
necessárias nesta etapa, priorize diretrizes que promovam a redução
da desigualdade social, especialmente a desigualdade de gênero e
racial, bem como a redução da pobreza, além de criar mecanismos que
garantam a democratização destas decisões. Para tanto é vital que
representantes das diversas categorias sociais participem de forma
efetiva nas discussões e desenho destas políticas.

A questão dos cuidados passou a ter maior destaque no século XXI,


apesar de ser analisada com profundidade pela economia feminista
a muito mais tempo. São exemplos disso o trabalho pioneiro de
Reid (1934)11; trabalhos que mostraram a importância dos afazeres
domésticos para o bem-estar social e para a produção mercantil,
como Vandelac, Bélisle, Gauthier e Pinard (1988), Hirata (2016 e 2020),
Federici (2021); e as várias propostas de quantificar o real valor destas
atividades e incorporá-las às estatísticas do PIB, como Waring (1988),
Melo, Considera e Sabbato (2007 e 2016), Maruani e Meron (2016),
Jesus (2018) e Vieceli (2020).

Danièle Kergoat (2016) adota a definição de cuidados proposta no


Colóquio Internacional Teorias e Práticas do Cuidado, realizado
em 2013, que caracteriza cuidados como uma “relação de serviço,
apoio e assistência, remunerada ou não, que implica um sentido de
responsabilidade em relação à vida e ao bem-estar de outrem” (p. 17).

11 Margaret Gilpin Reid publicou, em 1934, um texto pioneiro sobre o assunto intitulado The
economics of household production.
18

Complementando esta visão, a teoria econômica feminista defende a


noção de cuidados como trabalho, justificando que estas tarefas geram
bens e serviços que frequentemente não são comercializados, e por
isso não têm um valor mercantil. Esta é uma das principais razões
para a invisibilização de produção tão relevante. E é exatamente pelo
fato de os cuidados terem sempre estado lá, disponíveis para quem
precisa, ofertados gratuitamente pelas mulheres aos demais membros
da família, que eles se tornaram economicamente invisíveis. Apesar
de invisíveis são essenciais, como ficou evidente durante o período de
fechamento da economia e de isolamento social. As tarefas domésticas
e de cuidados de pessoas, por serem essenciais à sobrevivência e ao
bem-estar de todas as pessoas, tiveram que continuar a ser realizadas
cotidianamente durante toda a pandemia e nos períodos de isolamento
social. E isto ocorreu mesmo quando as famílias não puderam contar com
as pessoas e instituições (trabalhadoras domésticas, babás, creches,
escolas) que lhes prestavam estes serviços. Pelo fato de estas tarefas
demandarem tempo, ficou evidente que elas são um custo para as
pessoas que comumente as realizam, que são normalmente mulheres.
Também ficou evidente que a designação desta responsabilidade às
mulheres é uma questão social e culturalmente muito consolidada.

A pandemia trouxe a questão relativa aos cuidados das pessoas para o


centro da política. Primeiro, porque as famílias se viram assoberbadas
com o acúmulo do trabalho remunerado (remoto ou presencial,
dependendo do setor de atividade) e o trabalho não remunerado
(afazeres domésticos e cuidados). Foi possível perceber que as
tarefas dos cuidados são cotidianas e não podem ser postergadas ou
ignoradas (trocar a fralda do bebê, alimentá-lo; aplicar o remédio à
pessoa necessitada; fazer o almoço; lavar a roupa; limpar o banheiro).
Algumas destas atividades são mais urgentes que outras, mas todas
devem ser realizadas a contento. Segundo, tornou-se mais explícito,
19

para quem não as executava, que estas tarefas domésticas e de


cuidados são rotineiras, devem ser feitas hoje, amanhã e depois, e
demandam tempo e esforço físico. Mesmo quando se dispõe da ajuda
de eletrodomésticos para facilitá-las, alguém precisa colocar e retirar
a roupa da máquina de lavar, acionar o aspirador de pó, lavar pratos,
guardá-los para liberar espaço na pia, e muitas outras. Terceiro, a
permanência em casa mostrou que o tempo gasto nestas tarefas diminui
o tempo disponível ao trabalho remunerado, além de poder também
prejudicá-lo, por gerar cansaço e estresse. Ou seja, quem realiza estas
tarefas fica com escassez de tempo para o trabalho remunerado e
para si mesma, como tempo para descanso, lazer e aprendizado. É o
que Vickery (1977) denomina pobreza de tempo. Quarto, também ficou
evidente que são as mulheres as principais realizadoras das tarefas
de cuidados, tanto não remuneradas quanto remuneradas, e que no
geral os homens acham normal que as mulheres façam estas tarefas
(porque sabem fazer, porque fazem melhor, porque são talhadas para
isto) e eles não (porque são os responsáveis pela chefia da casa, são
os que estão disponíveis ao mercado de trabalho para ganhar dinheiro,
ou porque lavar e passar não é coisa de macho). E quinto, foram as
mulheres, em sua maioria, que assumiram os novos encargos e, como
consequência, muitas deixaram o emprego para dar conta dessa maior
carga de trabalho de cuidados dentro de casa. Como inicialmente
pensava-se que a pandemia se resolveria em poucos meses, o retorno
ao trabalho seria mais ou menos rápido. Mas como a pandemia durou
bem mais que o esperado inicialmente, a persistência da necessidade
de trabalho remoto levou a reformulações, não apenas nas empresas,
mas também no interior das famílias, aumentando a probabilidade
de que o afastamento temporário do mercado de trabalho de muitas
mulheres se tornasse permanente ou pelo menos bem mais longo. E
uma coisa que se sabe sobre o mercado de trabalho é que quanto
mais tempo a pessoa está afastada dele, maior sua dificuldade para
20

participar ou se reinserir. A saída de mais mulheres que homens do


mercado de trabalho durante a pandemia é preocupante porque
durante crises econômicas as mulheres são mais vulneráveis e perdem
mais emprego que os homens. Se a retomada da economia for lenta ou
pouco expressiva, é mais provável que as mulheres sigam com taxas
de desemprego maiores e taxas de participação menores que as dos
homens.

Ou seja, para que o retorno da economia não mantenha as


desigualdades pré-existentes, e mesmo para não as ampliar, será
necessário o aumento da oferta pública de serviços de cuidados de
qualidade, como creches e escolas de tempo integral, além de oferta
de serviços para pessoas dependentes dos cuidados de terceiros. Os
cuidados devem estar no centro das propostas de políticas públicas,
caso contrário haverá expansão das desigualdades sociais de gênero
e raça.

A pandemia trouxe a questão relativa aos


cuidados das pessoas para o centro da
política. Primeiro, porque as famílias se
viram assoberbadas com o acúmulo do
trabalho remunerado (remoto ou presencial,
dependendo do setor de atividade) e
o trabalho não remunerado (afazeres
domésticos e cuidados).
21

Tabela 1: Participação do AE na renda domiciliar per capita,


2020 (valores em R$)

Decil de Renda Renda Participação do AE


Renda domiciliar per domiciliar per na renda domiciliar
capita capita com AE per capita (%)
1 10,64 238,03 95,50
2 146,08 352,85 58,60
3 295,77 453,69 34,80
4 414,47 554,72 25,30
5 553,40 672,64 17,70
6 729,71 826,83 11,80
7 938,08 1.014,27 7,50
8 1.184,99 1.231,05 3,70
9 1.785,40 1.823,75 2,10
10 4.646,14 4.661,66 0,30
Total 1.078,31 1.189,79 9,40
Fonte: PNAD Covid-19 (IBGE, 2020); Lopez et al (2020).

O AE foi fundamental para que a crise em 2020 fosse menos profunda


do que o esperado e é um exemplo de políticas públicas necessárias
para uma recuperação econômica com menor desigualdade. Reflexo
positivo do uso do AE como medida de emergência foi uma menor queda
do PIB. Em 2020 o PIB brasileiro teve variação negativa de 4,9%, menor
que a inicialmente projetada, de -8,2%. A menor queda do produto
agregado contribuiu para a melhoria da relação dívida/PIB, que ficou
menor que a inicialmente projetada, e contribuiu também para manter
a arrecadação de tributos em patamares maiores que os esperados no
início do fechamento da economia. Esses resultados foram possíveis
graças à possibilidade que as famílias, principalmente as de menor
renda, tiveram de manter minimamente seu nível de consumo e de bem-
estar (tabela 1) (FARES; OLIVEIRA; CARDOSO; NASSIF-PIRES, 2021).
22

1.1 Indicadores socioeconômicos da


economia brasileira em tempos de Covid-19

Para melhor acompanhar os impactos da crise sanitária e tentar


destrinchar como a economia e a saúde se entrelaçaram durante
a pandemia, a seguir é apresentada uma síntese dos indicadores
socioeconômicos para a economia brasileira. Os dados apresentados
analisam como a crise sanitária e econômica atingiu diferentemente
mulheres e homens, incluindo as especificidades quando se inclui
recortes de raça ou cor; os diferentes setores produtivos; as diferentes
faixas de renda. A partir dos resultados podemos inferir em que medida
o fechamento da economia provocou mudanças mais ou menos
permanentes, principalmente relacionadas ao mercado de trabalho. As
fontes principais dos dados apresentados são PNAD-C (IBGE) e censos
demográficos, sendo que as análises utilizam a ótica do pensamento
feminista.

1.1.1 Demografia e territorialidade

Em 2020 o Brasil apresentava uma estrutura majoritariamente urbana,


em que 86,3% da população estava vivendo em áreas urbanas.
Esta urbanização é decorrente das características do processo de
industrialização brasileiro, que, a partir dos anos 1940, ajudou a
consolidar um processo de modernização da economia bastante
desigual, tanto em relação ao território como à distribuição de renda.
Ao longo do processo de industrialização, as grandes cidades - mais
frequentemente as capitais dos Estados, as capitais litorâneas e dos
Estados do sudeste e sul - e seu entorno concentraram a maioria das
atividades industriais e, com isto, também os empregos mais bem
pagos e as maiores rendas. Foram também as regiões e cidades
mais desenvolvidas que receberam maior atenção do poder público,
23

sendo estas as áreas que mais receberam investimentos em serviços


públicos e serviços de melhor qualidade, como forma de incentivar
a continuidade e atrair novos investimentos privados12. Ao longo das
décadas de industrialização observou-se também uma tendência à
queda nas taxas de fecundidade e mortalidade, levando a um lento,
mas constante processo de envelhecimento populacional.

Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua


(PNAD-C, IBGE, 2020) mostram que o Brasil possui a sexta maior
população mundial, com aproximadamente 211,7 milhões de pessoas,
das quais 52,5% são mulheres, sendo que 53,6% delas se declaram
pretas ou pardas e 45,2% brancas; e 47,5% são homens, dos quais
55,6% se declaram pretos ou pardos e 43,3% brancos. E as pessoas
indígenas e amarelas somam 1,1% da população brasileira. Da
população total, 86,3% vivem em áreas urbanas e 13,7% em áreas
rurais, e destas a maioria é de homens (51,2%). E a região Nordeste se
destaca por concentrar quase 47,7% da população rural brasileira. Nas
áreas urbanas, as mulheres são maioria (53,1% da população), sendo
que a região Sudeste concentra quase 46,0% da população que vive
em área urbana, como mostra o gráfico 1.13

12 Mais da metade da população brasileira (57,7% ou 123 milhões de habitantes) está


concentrada em apenas 5,8% dos municípios do país. Os 326 municípios com mais de
100 mil habitantes e os 49 com mais de 500 mil habitantes concentram 1/3 da população
brasileira (https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-
de-noticias/releases/31461-ibge-divulga-estimativa-da-populacao-dos-municipios-
para-2021).

13 As estimativas populacionais publicadas pelo IBGE ainda não incorporaram os efeitos


da pandemia. Segundo o IBGE, os “dados preliminares do Registro Civil e do Ministério
da Saúde apontam para um excesso de mortes, principalmente entre idosos, e uma
diminuição dos nascimentos. É possível que também tenham ocorrido alterações nos fluxos
migratórios. As implicações disso no tamanho da população, contudo, serão verificadas
a partir do próximo Censo Demográfico”. (https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-
noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/31458-populacao-estimada-do-pais-chega-a-
213-3-milhoes-de-habitantes-em-2021).
24

Fonte: IBGE / PNAD-C (2020), microdados, elaboração própria.


Nota: Nesta análise utiliza-se a variável sexo como adota o IBGE.

1.1.2 Mudanças nos arranjos familiares

A ideia de família foi, até bem recentemente, associada ao modelo


de um casal heterossexual, cabendo ao homem o lugar de chefe e
provedor da família e à mulher os cuidados com os/as filhos/as e a
família. Todavia, nas últimas décadas este padrão foi questionado
e novos arranjos familiares emergiram na sociedade. Seja pela
separação entre sexualidade e reprodução, possibilitada pelo uso da
pílula contraceptiva e de novas práticas sexuais, seja porque novas
convenções sociais de gênero abalaram a separação homem provedor
versus mulher cuidadora. Mais escolarizadas, principalmente a partir
dos anos 1970, as mulheres foram em grande número ao mercado
de trabalho e penetraram em outras esferas de participação social
(BANDEIRA; MELO; PINHEIRO, 2010, p. 110). Emergiram novas formas de
família, que mesmo sem a união conjugal estável, mantém os/as filhos/
as como uma real referência afetiva (ARAÚJO; PICANÇO; CANO, 2019,
p. 14). Novos padrões de nupcialidade têm surgido, também no Brasil. Os
25

dados mostram que a tendência de ampliação da representação das


mulheres como a pessoa responsável pelo domicílio tem se mantido.
Em 1995, 22,9% dos lares eram chefiados por mulheres, sendo que em
2020 este percentual chegou a quase à metade, 48,3%, das quais 27,1%
eram pretas e pardas e 20,6% brancas (gráfico 2).14

A visão social e culturalmente aceita de que são as mulheres as


principais responsáveis pelo cuidado das crianças, resulta em que,
no geral, estas permanecem com as mães quando o casal se separa.
Neste caso, também é das mulheres o custo da distribuição do tempo
entre o cuidado das crianças e o trabalho remunerado. Além disso,
ainda é caso comum mulheres que não conseguem regularidade no
recebimento da pensão e que buscam a justiça para conseguir uma
distribuição mais igualitária dos custos monetários e do tempo de
atenção necessário dispensado para a criação e educação dos/as
filhos/as.15

A visão social e culturalmente aceita de que


são as mulheres as principais responsáveis
pelo cuidado das crianças, resulta em que,
no geral, estas permanecem com as mães
quando o casal se separa.

14 Em 2020, cerca de 43% das mulheres chefes de domicílio viviam em casal - 30% com
filhos e 13% sem -, 32% eram solteiras com filhos, 18% viviam sozinhas e 7% dividiam a
casa com amigos ou parentes. (https://www.em.com.br/app/noticia/economia/2020/02/16/
internas_economia,1122167/quase-metade-dos-lares- brasileiros-sao-sustentados-por-
mulheres.shtml).

15 Segundo pesquisa da Associação de Pais e Mães Separados (APASE), em 2020, cerca


de 80% dos/as filhos/as de pais separados sofriam com o problema de alienação parental
em algum grau (http://www.anabrocanelo.com.br/ publicacoes/80-dos-filhos-de-pais-
separados-sofrem-com-alienacão-parental).
26

Fonte: IBGE / PNAD-C (2020). Elaboração própria.


Nota: Os dados de 2021 incluem apenas os dois primeiros semestres.

1.1.3 Educação e gênero

Uma das dimensões mais significativas para avaliar a desigualdade


existente na sociedade, seja de gênero, racial, econômica ou regional,
é dada pela educação. O Brasil, nas três últimas décadas, vive um
processo de universalização da educação básica, como a adoção das
diretrizes de políticas públicas definidas na Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB, Lei 9.394/1996), nos Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCN, de 1997/99) e no Plano Nacional da Educação (PNE de
2001). Segundo Rosemberg e Madsen (2011), apesar de estas mudanças
terem sido impulsionadas na tentativa de cumprir compromissos e
metas definidas internacionalmente, elas não foram suficientes para
eliminar as iniquidades históricas de acesso e permanência na escola
(pp. 392-3). Em relação à reversão do hiato de gênero em todos os
27

níveis educacionais, Morandi e Melo (2019) defendem que este é um


resultado direto das lutas das mulheres por maior acesso e educação
igualitária, uma luta que se tornou mais intensa nos últimos 30 anos no
Brasil (p. 739).

Os dados da PNAD-C (IBGE, 2020) sobre a distribuição da população


por sexo e nível de instrução (gráfico 3), mostra que um percentual ainda
significativo da população brasileira tem apenas o ensino fundamental
incompleto (33,7%), um percentual distribuído bastante igualitariamente
entre mulheres e homens. Somado com o percentual de pessoas sem
instrução, tem-se que 41,2% da população brasileira tem baixo nível
de escolaridade, com reflexo direto sobre o mercado de trabalho e
o rendimento correspondente, como mostra a realidade nacional em
que grande parte da população está nos patamares mais baixos dos
níveis de renda, e a baixa escolarização é reflexo também da baixa
qualidade do ensino público, que pode servir como um desincentivo
à continuidade dos estudos, contribuindo para a evasão escolar. Um
problema que é grave, principalmente quando se discute, no resto do
mundo, os avanços da indústria de tecnologia e informação no âmbito
da quarta onda tecnológica. Este quadro de baixa escolarização pode
explicar os baixos níveis de produtividade da economia, principalmente
no setor de serviços (NASSIF; MORANDI; ARAÚJO; FEIJÓ, 2020).

O restante 58,8% da população está distribuído entre o fundamental


completo, representado por apenas 8,0% da população, e o superior
completo, 14,6%, com destaque para o nível de escolaridade médio
completo, representado por 25,1% da população. Estas taxas ensejam
a reflexão de que as pessoas que não desistem durante o ensino
fundamental tendem a finalizar mais frequentemente o ensino médio,
sendo que um percentual significativo daquelas que o terminam
também completa o ensino superior. Com isto pode-se concluir que
28

com incentivo certo, e sobretudo com boas escolas, teríamos uma


população com um nível de escolaridade média bem superior ao atual.

Em relação às diferenças de gênero, os dados mostram que as


mulheres se destacam por completarem mais frequentemente o ensino
médio (13,5% das mulheres e 11,6% dos homens) ou o superior (8,7%
das mulheres e 5,9% dos homens) (gráfico 3). Apesar de a educação
ser uma dimensão essencial para uma melhor inserção no mercado
de trabalho, a maior escolarização das mulheres ainda não logrou
eliminar as brechas de gênero em termos de rendimento do trabalho.
As mulheres têm, em geral, maior nível educacional que os homens,
uma diferença que se acentua entre as pessoas com nível superior
completo, mas permanecem as desigualdades associadas ao sexo, ao
pertencimento racial e à origem econômica (MELO; THOME, 2018, cap.
5).

GRÁFICO 3: GRÁFICO 3: POPULAÇÃO (%) POR NÍVEL DE


INSTRUÇÃO, SEGUNDO SEXO, 2020

SUPERIOR COMPLETO

SUPERIOR INCOMPLETO

MÉDIO COMPLETO

MÉDIO INCOMPLETO

FUNDAMENTAL COMPLETO

FUNDAMENTAL INCOMPLETO

SEM INSTRUÇÃO

MULHERES HOMENS 0,0 4,5 9,0 13,5 18,0

Fonte: IBGE / PNAD-C (2020). Elaboração própria.


Nota: Os dados de 2021 incluem apenas os dois primeiros semestres.
29

Analisando-se os dados sobre escolaridade, segundo sexo e raça/


cor, uma coisa que se destaca é que as pessoas pretas/pardas, tanto
mulheres quanto homens, estão sobrerrepresentadas entre as que têm
o fundamental completo e sub-representadas entre as pessoas com
ensino superior completo (gráfico 4). Novamente, pode-se assumir que
isto tem impacto direto sobre o mercado de trabalho e rendimento
correspondente das pessoas pretas e pardas de ambos os sexos.
Como proporcionalmente mais pessoas pretas/pardas, relativamente
às brancas, são pobres no Brasil, seu acesso ao ensino restringe-se
mais frequentemente ao ensino público. E, infelizmente, a diferença
de qualidade dos ensinos fundamental e médio entre os sistemas
privado e o público, em detrimento deste, pode estar contribuindo
para manter pessoas na pobreza, dificultando o acesso a um mercado
de trabalho mais competitivo, que exige maior e melhor qualificação.
Mas, mesmo neste cenário menos favorável, um percentual maior
das mulheres pretas e pardas têm ensino fundamental ou superior
completo relativamente aos homens pretos e pardos. Mas, novamente,
a vantagem delas não é capaz de reverter o hiato de gênero, quando
se comparam os rendimentos do trabalho, segundo o sexo e a raça ou
cor.

Como proporcionalmente mais pessoas


pretas/pardas, relativamente às brancas,
são pobres no Brasil, seu acesso ao ensino
restringe-se mais frequentemente ao ensino
público.
30

GRÁFICO 4: POPULAÇÃO (%) POR NÍVEL DE INSTRUÇÃO,


SEGUNDO SEXO E RAÇA/COR, 2020

8,0 MULHERES HOMENS

7,5
6,5
6,0
5,8
5,5
5,0
4,0
3,8
2,2 3,0 2,2
1,7 1,6 1,9
2,0

0
BRANCA PRETA/PARDA BRANCA PRETA/PARDA

FUNDAMENTAL COMPLETO MÉDIO COMPLETO SUPERIOR COMPLETO

Fonte: IBGE / PNAD-C (2020). Elaboração própria.


Nota: Os dados de 2021 incluem apenas os dois primeiros semestres.

1.1.4 O mundo do trabalho no feminino e a crise sanitária

A irrupção da pandemia de Covid-19 explicitou a importância dos


cuidados e a carga de trabalho implicada. No Brasil, como no resto do
mundo, as pessoas mais afetadas pela pandemia foram as mulheres,
especialmente as mulheres das famílias mais pobres. E, de forma
geral, as sociedades mais desiguais foram as que mais sofreram com
a pandemia, expondo suas fragilidades sociais e as dificuldades para
alcançar as metas da Agenda 2030 da ONU (PNUD/ UNICEF/ UNESCO/
OPAS, 2021).

A crise colocou as mulheres no centro das respostas ao enfrentamento


da pandemia. As mulheres são cultural e socialmente vistas como as
responsáveis pelos cuidados, um grande fardo nas suas vidas e uma
das razões da desigualdade no mercado de trabalho, adicionalmente
ao preconceito e ao sexismo. Por causa dessas responsabilidades
as mulheres têm menos tempo e condições para participarem do
31

mercado de trabalho em igualdade com os homens. As mulheres são


prejudicadas pelo fato de a sociedade (família, comunidade, Estado e
empresas) não reconhecer o trabalho reprodutivo e de cuidado como
tarefa de toda a sociedade, e não apenas das mulheres, como se elas
fossem, por natureza, as únicas talhadas para estas tarefas. O trabalho
de cuidar é desvalorizado porque é visto como um trabalho que não
exige qualificação, ou seja, qualquer pessoa pode fazer. (ILO, 2021; UN
WOMEN, 2020; MELO; MORANDI, 2020; UNFPA, 2020; SAYEH et al,
2021).

No Brasil, a participação das mulheres no mercado de trabalho tem


crescido desde a segunda metade do século XX. Em 1970, as mulheres
eram 18,5% da População Econômica Ativa (PEA), passaram para 32,9%
em 1991 e para 44,1% em 2000 (Censos Demográficos, IBGE, vários
anos). Apesar de o aumento da participação feminina na PEA não ter
implicado na igualdade de rendimentos entre homens e mulheres no
mercado de trabalho, contribuiu positivamente para aumentar sua
autonomia e independência econômica16.

Para analisar as diferenças em relação à inserção das mulheres e


homens no mundo do trabalho, o pensamento feminista construiu
o conceito de divisão sexual do trabalho. Este conceito serve para
explicitar e analisar as desigualdades entre homens e mulheres no
mercado de trabalho remunerado, como as diferenças de rendimentos;
o maior ou menor acesso aos direitos e coberturas sociais, definidos
pelos diferentes tipos de contrato de trabalho (formal ou informal); a
maior ou menor possibilidade ou oportunidade de assumir cargos de
direção e em posições de decisão e comando; além da necessidade ou
não de cumprir dupla jornada de trabalho (trabalho remunerado mais
trabalho não remunerado) (KERGOAT, 2009, 2016 e 2019).

16 Para uma discussão mais aprofundada ver também Saffioti (1976); Pena (1981); Bruschini
et al. (2001); Souza-Lobo (2011); Hirata; Segnini (2007); Abreu; Hirata; Lombardi (2016);
Itaboraí; Ricoldi (2016); Melo; Thomé (2018).
32

GRÁFICO 5: TAXA DE OCUPAÇÃO (%) DA FORÇA DE


TRABALHO, POR SEXO, 2012-2019

90,0 90,6 90,9 89,2


89,7 88,3
88,7 87,0

86,3 86,5 86,4 85,4 83,6 82,9 82,5 83,4

65,4 66,6 67,0 66,8 67,2


65,8 65,4 66,2

54,4 53,9 55,3 54,6


53,3 53,8 54,2 53,7

2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019

MULHERES COM CRIANÇAS HOMENS COM CRIANÇAS


MENORES DE 3 ANOS MENORES DE 3 ANOS

MULHERES SEM CRIANÇAS HOMENS SEM CRIANÇAS


MENORES DE 3 ANOS MENORES DE 3 ANOS

Fonte: PNAD Contínua/IBGE, 2019.

Segundo relatório da OXFAM (2020), 42,0% das mulheres em todo o


mundo não têm emprego remunerado porque são responsáveis pelo
trabalho de cuidado em casa, enquanto apenas 8,0% dos homens
estão em situação semelhante. Dentre as 67 milhões de pessoas que
fazem trabalho doméstico, 80,0% são mulheres, sendo que 90,0% delas
não têm acesso à seguridade social e mais da metade não tem limite
de horas de jornada de trabalho definida. No Brasil, a maternidade é
um ônus pesado nos ombros femininos. Segundo dados do IBGE (2021),
apenas 35,6% das crianças de 0-3 anos estavam matriculadas em
creches em 2019, 17com o correspondente impacto sobre a participação
das mulheres no mercado de trabalho (gráfico 5).

Na crise sanitária da Covid-19, as mulheres estão na linha de frente

17 As diferenças regionais são bem marcadas: em 2019, apenas 17,6% das crianças de
0-3 anos na região Norte estavam matriculadas em creches, 31,3% no Nordeste, 42,4% no
Sudeste, 43,3% no Sul e 28,2% no Centro Oeste.
33

de combate, como trabalhadoras da saúde (em unidades de saúde


ou nas casas de famílias), trabalhadoras domésticas e cuidadoras
(em unidades de saúde ou nas casas de famílias), trabalhadoras do
setor de serviços (especialmente caixas de supermercados, serviços
de limpeza, tratamentos de beleza em geral) e como professoras,
principalmente nas séries do ensino fundamental. Além disso, também
no interior das famílias elas estavam na linha de frente. Foram elas que
assumiram as novas tarefas de cuidados (tanto de afazeres domésticos
quanto de cuidados) necessários à manutenção do bem-estar dos
membros da família nos períodos de fechamento da economia e de
isolamento social, bem como as tarefas adicionais de higienização de
todos os itens que entravam em casa, um aumento de trabalho que
potencializou a probabilidade de problemas de saúde, principalmente
estresse e cansaço. O isolamento social agravou ainda um problema
típico das mulheres, em especial das brasileiras, que foi o aumento da
violência doméstica. As mulheres e meninas tiveram que ficar isoladas
em espaços restritos e muitas vezes na presença de seu principal
agressor.

GRÁFICO 6: DISTRIBUIÇÃO (%) DAS PESSOAS DE 14 ANOS OU


MAIS OCUPADAS, SEGUNDO O SEXO E RAÇA/COR, 2019-2021

32
31,5
30,6 30,7

24 25,3 25,4
23,9 23,1
21,9 21,8
20,5 21,0 21,0

16

0
BRANCA PRETA/PARDA BRANCA PRETA/PARDA BRANCA PRETA/PARDA

2019 2020 2021


MULHERES HOMENS

Fonte: IBGE / PNAD-C (2020). Elaboração própria.


Nota: Os dados de 2021 incluem apenas os dois primeiros semestres.
34

O gráfico 6 mostra os dados sobre a população ocupada e sua


distribuição por sexo e por raça/cor. Observa-se que em todos os
períodos analisados a participação das mulheres é menor, em torno de
43%, que a dos homens, em torno de 56%, lembrando que a participação
na força de trabalho diminuiu tanto para homens quanto para mulheres
em função do aumento do desemprego nos períodos de isolamento
social e fechamento da economia, porém com variações sempre mais
significativas para o emprego feminino, como comentado adiante.

A análise dos dados referentes à participação de mulheres e homens


no mercado de trabalho, segundo os setores de atividade, mostra que
as escolhas e possibilidades profissionais não são as mesmas para
mulheres e homens. No geral, as mulheres estão mais presentes nos
setores de atividades relacionados principalmente aos trabalhos de
cuidados, como serviço doméstico remunerado (domésticas, babás e
cuidadoras), educação, saúde humana e serviços sociais. Assim, numa
história milenar, as mulheres seguem sendo as principais cuidadoras
da humanidade, como aconteceu com nossas ancestrais. Em setores
como construção, transporte, armazenamento e correios, as mulheres
são ainda muito pouco representadas, assim como na agricultura e
pecuária. O mundo do trabalho remunerado ainda demarca divisões
muito fortes entre o trabalho feminino e o masculino (gráfico 7). Quando
se considera as mulheres que não participam da PEA, isto é, as donas-
de-casa, aproximadamente 40% delas são mulheres adultas que vivem
exclusivamente para sua família (MELO; THOMÉ, 2018, cap. 6; SOARES,
2020; MELO; MORANDI; DWECK, 2020).

Como afirmam Melo e Thomé (2018), as mulheres podem ir para o


mercado de trabalho, desde que consigam promover conciliação entre
as tarefas domésticas e o trabalho fora de casa (pp. 114-5). Segundo
Wajnman (2016, p. 51), isto é reflexo de uma revolução de gênero
35

incompleta ou, nas visões mais pessimistas, estagnada.

Segundo Teixeira (2018), entre 2012 e 2017 houve aumento da


participação das mulheres na PEA, quando se consideram também
as pessoas ocupadas e desempregadas. Mas esse aumento da PEA
feminina não significou, no entanto, sua maior incorporação ao mercado
de trabalho (p. 286-287). Em função da crise econômica profunda
pela qual passou a economia brasileira em 2015 e 2016, e sua fraca
recuperação nos anos seguintes, o mercado de trabalho já estava
muito fragilizado mesmo antes da pandemia. E, de forma geral, foram
as mulheres as grandes perdedoras com a crise econômica, dado que
a taxa de desocupação delas ficou 4 pontos porcentuais acima da
masculina (Oliveira et al, 2020, p. 159). Certamente a crise do mercado
de trabalho foi aprofundada com a pandemia de Covid-19 e o resultado
é que as mulheres estão com a menor taxa de participação na força
de trabalho desde 1990, um retrocesso de 30 anos. E isto, como atesta
a pesquisa sobre as percepções dos cuidados analisada abaixo, é
reflexo do fato de as mulheres estarem sobrecarregadas com tarefas
domésticas e cuidados, o que levou muitas a terem que sair de seus
empregos (GORAYEB et al, 2021).

No período de 2004 a 2015, o governo promoveu o “Programa Mulher


e Ciência”, da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência
da República, que tinha por objetivo incentivar, mesmo que de forma
ainda um tanto tímida, o debate sobre as escolhas profissionais
das meninas e moças estudantes do Ensino Médio. A ideia é que o
programa funcionasse como um incentivador para que as escolhas
delas incluíssem, de forma mais equilibrada, as áreas STEM (ciência,
tecnologia, engenharia e matemática), ainda majoritariamente
escolhidas por meninos e rapazes. Uma das razões apontadas para
a menor opção delas pelas áreas STEM, mesmo quando elas têm
36

histórico de boas notas nas matérias de exatas durante o Ensino Médio,


recai sobre o tipo de socialização diferenciada que culturalmente
dispensa-se às mulheres em contraste com os homens, dando ênfase,
às vezes exagerada, nas qualidades da criança ou na sua aplicação
nas matérias relativas aos cuidados. Isto não é uma característica
apenas da sociedade ou cultura brasileiras, mas se repete em todo o
mundo. As áreas de STEM, quando analisadas segundo a distribuição
de raça ou cor, contam com baixa representação de pessoas negras,
tanto homens quanto mulheres (PEREZ, 2019; SAINI, 2017).

Fonte: IBGE / PNAD-C (2020). Elaboração própria.

Os dados (gráfico 8) ilustram bem a problemática do retrocesso feminino,


num nível significativo, para a inatividade ou desocupação. Primeiro,
mostram que no Brasil, assim como ocorre no resto do mundo, as
mulheres apresentam nos últimos anos, assim como no passado, taxas
de desemprego superiores às dos homens. A pandemia de Covid-19
provocou queda significativa do emprego e da renda, mas afetou mais as
37
mulheres, os jovens e os negros, e é possível que esta saída temporária
do mercado de trabalho neste período não seja apenas uma transição
para o desemprego, mas para muitos uma transição para a inatividade.
Os dados mostram que as maiores taxas de desocupação estão entre
as pessoas pretas e pardas, mas as mulheres deste grupo apresentam
taxas de desocupação superiores à dos homens. Também no grupo
de pessoas brancas as mulheres têm taxa de desocupação superior
à dos homens, mostrando que a desigualdade se mantém mesmo
quando se comparam pessoas da mesma raça ou cor (GORAYEB
et al, 2021; MELO; MORANDI, 2020). Segundo, os dados mostram
ainda que a desigualdade no mercado de trabalho é marcada mais
fortemente por questões de raça ou cor, ou seja, raça ou cor tem papel
preponderante na definição da taxa de desemprego. E, terceiro, fato
curioso é que, em 2020, as mulheres pretas e pardas perderam menos
emprego comparativamente a todas as demais categorias observadas.
O que se pode concluir disso é que elas possivelmente estavam mais
representadas nas profissões consideradas essenciais durante os
períodos de isolamento social, como os setores de saúde, cuidados e
trabalhos domésticos.

GRÁFICO 8: TAXA DE DESOCUPAÇÃO (%) DA FORÇA


DE TRABALHO, POR SEXO E RAÇA/COR, 2019-2021

40
MULHERES
PRETAS/PARDAS

30 HOMENS
PRETOS/PARDOS

20 MULHERES
BRANCAS
HOMENS
BRANCOS
10

0
2019 2020 2021
Fonte: PNAD-C (IBGE, vários anos). Elaboração própria.
Nota: 1) O total de pessoas pretas/pardas inclui as pessoas amarelas/indígenas;
2) os dados para 2021 referem-se apenas aos primeiros 6 meses.
38

Os dados sobre a ocupação das mulheres por tipo de atividade (gráfico


9) corroboram esta interpretação. As mulheres pretas e pardas são
maioria nos empregos relacionados aos cuidados e considerados
essenciais durante a pandemia, trabalhando como trabalhadoras
domésticas, com e sem carteira assinada, empregadas do setor público
sem carteira assinada, empregadas do setor privado sem carteira
assinada e como trabalhadoras familiares auxiliares. O que se destaca
é que elas são maioria justamente nos empregos com menor ou sem
proteção social, empregos informais, sem carteira assinada e por conta
própria (gráfico 9).

GRÁFICO 9: MULHERES OCUPADAS (%) POR CATEGORIA DE


EMPREGO, SEGUNDO RAÇA OU COR, 2020

TRABALHADOR
FAMILIAR AUX.

CONTA-PRÓPRIA

EMPREGADORA

MILITAR E SERVIDORA
ESTATUTÁRIA
EMPREGADA SERV.
PÚBLICO SEM CARTEIRA

EMPREGADA SERV.
PÚBLICO COM CARTEIRA
TRAB. DOMÉSTICA
SEM CARTEIRA

TRAB. DOMÉSTICA
COM CARTEIRA

EMPREGADA SERV.
PRIVADO SEM CARTEIRA

EMPREGADA SERV.
PRIVADO COM CARTEIRA

0 10 20 30 40 50 60 70
PRETA E PARDA BRANCA

Fonte: PNAD-C (IBGE, vários anos). Elaboração própria.


Nota: 1) O total de pessoas pretas/pardas inclui as pessoas amarelas/indígenas;
2) os dados para 2021 referem-se apenas aos primeiros 6 meses.
39

Por outro lado, era de se esperar, de acordo com a teoria econômica18,


que maior escolaridade implicasse maiores rendimentos. Mas o que
se observa no Brasil, assim como em vários outros países, é que
o prêmio educacional é maior para as pessoas do sexo masculino
(MELO; MORANDI, 2021). Portanto, buscar as razões que explicam as
desigualdades de rendimento entre homens e mulheres no mercado
de trabalho constitui elemento essencial para evidenciar e explicar as
históricas diferenças entre pessoas de ambos os sexos e de diferentes
raças ou cores, tanto com relação a seu maior ou menor acesso ao
mercado de trabalho, quanto às diferenças de rendimento, algumas das
quais já relatadas neste trabalho. Este processo de análise constitui
uma primeira abordagem para se entender e definir as diretrizes de
política - econômica e social - e as mudanças em termos de legislação,
necessárias para uma sociedade com maior igualdade de gênero. No
Brasil, como os dados já apresentados até aqui mostram, as análises
das desigualdades no mercado de trabalho explicitam não apenas as
desigualdades de gênero, como também as diferenças raciais (gráfico
10).

(...) buscar as razões que explicam as


desigualdades de rendimento entre
homens e mulheres no mercado de
trabalho constitui elemento essencial
para evidenciar e explicar as históricas
diferenças entre pessoas de ambos os sexos
e de diferentes raças ou cores (...).

18 A teoria neoclássica incorporou a teoria do capital humano ao seu modelo de


crescimento para mostrar o impacto da qualificação da mão de obra na expansão da
produtividade do trabalho e no aumento do rendimento da mão de obra (QUIGGIN, 2010;
VAROUFAKIS, 2015).
40

GRÁFICO 10: RAZÃO (%) DO RENDIMENTO MÉDIO DO


TRABALHO PRINCIPAL DAS MULHERES (14 ANOS OU MAIS)
EM RELAÇÃO AO DOS HOMENS, SEGUNDO RAÇA OU COR, 2020

100%

80% 0,86 0,85 0,87


0,82 0,82
0,80 0,78 0,78
0,75
0,71
60%

40%

20%

0
N NE SE S CO
BRANCA PRETA E PARDA

Fonte: IBGE / PNAD-C (2020). Elaboração própria.

O desemprego continua um grave problema da economia brasileira em


2021 e, dadas as perspectivas de baixo crescimento para 2022, isto
implica um ritmo também baixo de recuperação dos postos de trabalho.
O desemprego e a perda de rendimentos foram particularmente
sentidos neste período de pandemia e principalmente antes da
vacinação, iniciada no final de janeiro de 2021, pelas ocupações que
exigem contato direto entre pessoas, como é o caso das pessoas
trabalhadoras domésticas e cuidadoras, e quase todas as profissões
relacionadas a serviços, principalmente serviços pessoais.

No caso do Brasil, em relação ao setor de serviços, as trabalhadoras


domésticas sofreram maior impacto. De um lado, nos períodos de
fechamento e isolamento social mais rigorosos, um número bastante
grande dessas trabalhadoras perderam o emprego. Os dados do IBGE
(PNAD Covid-19, 2020) mostraram que cerca de 1,5 milhão de postos
de trabalho foram perdidos neste período. Não há estatísticas sobre
41

isso, mas podemos afirmar que a grande maioria das famílias não
continuou a pagar o salário das empregadas domésticas quando elas
não podiam ir trabalhar por causa da pandemia. Muitas destas famílias
também perderam renda ou emprego. A perda de postos de trabalho e
de rendimentos para esta grande massa de trabalhadoras domésticas
significou o empobrecimento de muitas famílias que já viviam com renda
menor. Lembrando que uma parcela grande de famílias monoparentais
é chefiada por mulheres, podemos inferir que o empobrecimento teve
impacto também na vida de um grande número de crianças. Somado
a isso, o fechamento de creches e escolas e, portanto, o não acesso
à merenda escolar, certamente aumentou em muito a insegurança
alimentar das famílias de menor renda no Brasil nos meses de maior
crise pandêmica.

Segundo dados do IBGE (PNAD Covid-19, 2020), a população


ocupada (PO) perdeu 3,4% de postos de trabalho, enquanto entre as
trabalhadoras domésticas a queda foi de 10,1% no primeiro trimestre de
2020. Em 26 de outubro de 2020, a FENATRAD (Federação Nacional
das Trabalhadoras Domésticas) lançou uma nota19 denunciando a piora
das condições de trabalho das trabalhadoras domésticas e cuidadoras/
es, incluindo cortes de salários, aumento das jornadas de trabalho e
quarentena compulsória nos locais de trabalho. Este quadro se agrava
quando se sabe que a maioria das trabalhadoras são informais e,
portanto, a cobertura de direitos pela CLT só atinge cerca 30% dessa
categoria. Para responder a este quadro desalentador, o Sindicato das
Trabalhadoras Domésticas do Rio de Janeiro organizou campanhas
de doações de cestas básicas e produtos de limpeza para distribuir
entre suas associadas num intenso ativismo diante da intensificação do

19 “Pandemia piora as condições de trabalho na economia informal do cuidado no


Brasil” (https://fenatrad.org.br/2020/10/26/pandemia-piora-as-condicoes-de-trabalho-na-
economia-informal-do-cuidado-no-brasil/).
42

desemprego da categoria (LOURENÇO; CASTRO, 2020).

Em outras duas ocupações em que há presença majoritária de mulheres,


como a saúde e a educação, não houve impacto no desemprego das
mulheres. De um lado, porque estes são setores econômicos em que
o emprego público é massivo20. Por outro lado, apesar de as escolas
terem sido fechadas para o ensino presencial, o ensino continuou na
forma remota, obrigando a implementação de ferramentas tecnológicas
que, neste caso, funcionou melhor nas escolas privadas. As escolas
públicas ficaram bem mais tempo desativadas, por disporem de pior
estrutura e menor acesso à tecnologia. Enquanto que no setor de
saúde, o mais central na crise pandêmica, houve mesmo aumento,
embora pequeno (apenas 1%) no emprego21.

Apesar de ter caído em relação ao mesmo trimestre de 2020 (quando


chegou a 14,4%), o desemprego ainda se mantém alto no terceiro
trimestre 2021, segundo dados do IBGE (PNAD-C, 2021), alcançando
a taxa de 13,2%, o que representa 13,7 milhões de desempregados/
as. Esta taxa coloca o Brasil como o quarto país com a maior taxa de
desemprego no mundo, segundo ranking da agência de classificação
de risco Austin Rating, atrás da Costa Rica (15,2%), Espanha (14,6%) e
Grécia (13,8%). A taxa de desemprego brasileira é o dobro da média
internacional, de 6,5%, medida entre os países que divulgaram dados
sobre o desemprego. No entanto, a crise internacional provocada
pelo quadro sanitário não é suficiente para explicar tamanha paralisia
do ambiente econômico, que foi exacerbada pelos fatores internos
presentes na economia brasileira, como comentado anteriormente. O

20 Segundo dados publicados pelo IPEA (LOPES et al, 2020) e do Anuário Brasileiro de
Educação Básica (https://www.moderna.com.br/anuario-educacao-basica/2021/brasil-
principais-dados-e-indicadores-de-desigualdade.html).

21 Boletim Emprego, DIEESE (https://www.dieese.org.br/boletimempregoempauta/2021/


boletimEmpregoEmPauta20.html).
43

aumento de 4% no trimestre do número de pessoas ocupadas não foi


suficiente para reduzir significativamente o desemprego e resultou num
nível de ocupação de 50,9%, pouco mais da metade da população em
idade ativa, explicitando um grande retrocesso no emprego. Sobretudo,
chama atenção que o nível de desemprego é elevado para os padrões
históricos nacionais e agravado pela inflação alta atual.

1.2 Reflexões inconclusas

As dificuldades que mulheres e homens, mas principalmente mulheres,


enfrentarão no pós-pandemia apenas se delineiam no horizonte. Esta
questão é inquietante porque as escolhas profissionais femininas têm se
concentrado em ocupações relacionadas aos cuidados. O impacto das
novas configurações do mercado de trabalho, a partir da aceleração
da digitalização, expansão do uso de trabalho remoto pelas empresas
e os novos avanços tecnológicos merecem análise cuidadosa e mais
aprofundada. Certamente terão impacto também sobre a inserção das
economias no âmbito internacional e sobre a capacidade competitiva
da mão de obra num mercado de trabalho cada vez internacionalmente
disputado. As mulheres especificamente estão mais representadas em
setores com menor possibilidade imediata de substituição da mão de
obra por tecnologia, aspecto que caracteriza a maioria das atividades
dos cuidados. Mas, por outro lado, estes são empregos com menores
salários e menores oportunidades de carreira. No longo prazo, se as
discrepâncias entre homens e mulheres em relação aos setores onde
mais trabalham permanecerem, a desigualdade entre rendimento
médio de homens e mulheres tenderá a se ampliar com os avanços
tecnológicos esperados pela expansão da indústria 4.0.

Esta análise sugere que é preciso reconstruir a economia em melhores


condições, com políticas públicas de longo prazo e não apenas ações
44

paliativas. A discussão do orçamento público e dos serviços que o


Estado deve prover à população deve ser feita com o intuito de erradicar
a desigualdade (de renda, gênero e racial), bem como garantir uma
transição justa para combater as mudanças climáticas que ameaçam
todas as formas de vida (ECLAC, 2021; UN WOMEN, 2020).

Uma prioridade deveria ser a melhoria do sistema público de saúde


e das instituições de cuidado, aumentando o número e a qualidade
de atendimentos, através da contratação de mais profissionais, com
melhores salários e condições de trabalho. Outra questão relevante
e que deveria ter a atenção das políticas e medidas de retomada da
economia está relacionada aos ajustes que se fizeram necessários
durante o isolamento social e que devem ser incorporados de
forma definitiva, tanto pelas famílias quanto pelas empresas. Muito
possivelmente as mudanças, estejam elas relacionadas aos novos
modos de trabalho ou à distribuição dos cuidados no interior das
famílias, devem provocar alterações nas formas de trabalho, talvez
o desaparecimento de algumas ocupações e causar a redução da
contratação de pessoas para o trabalho doméstico. Outro aspecto da
discussão sobre a retomada econômica e que afeta mais diretamente
as mulheres, implica a discussão sobre a distribuição do tempo entre
trabalho remunerado e não remunerado. A sociedade deve assumir
que a distribuição mais equilibrada dos cuidados é essencial para uma
sociedade mais igualitária (TORRES SANTANA, 2021).
OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO
BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDA-
DOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS
CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL
• OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO
BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDA-
DOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS
CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL
• OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO
BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDA-

2.
DOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS
CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL

Cuidados no
• OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO
BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDA-
DOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS

Brasil e os
CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL
• OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO
BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDA-
impactos da
DOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS
CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL

pandemia
• OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO
BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDA-
DOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS

de Covid-19:
CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL
• OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO
BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDA-
resultados da
DOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS
CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL

pesquisa on-line
• OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO
BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDA-
DOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS
CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL
• OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO
BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDA-
DOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS
CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL
• OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO
BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDA-
DOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS
CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL
46

2. Cuidados no Brasil e os
impactos da pandemia de
Covid-19: resultados da
pesquisa on-line
A pesquisa “Cuidados no Brasil e os impactos da Covid-19”, realizada a
partir de formulário on-line, teve como um de seus objetivos investigar
a percepção da sociedade brasileira sobre o significado de cuidados.
A ideia é compreender o que esta palavra, tão acionada nos últimos
tempos e passível de diversas possibilidades de compreensão, significa
para as pessoas. A pesquisa foi estruturada para também permitir uma
investigação dos impactos da pandemia de Covid-19 no cotidiano
familiar, destacando as mudanças em relação ao trabalho remunerado
e ao trabalho não remunerado, incluindo as tarefas domésticas e a de
cuidados, um trabalho que é prestado por amor ou por obrigação moral
aos membros da família. Alguns aspectos importantes do impacto da
pandemia na vida das pessoas foi a introdução do ensino remoto,
intensificação ou introdução do trabalho remoto nas empresas, redução
da produção ou fechamento temporário de empresas cujo produto ou
serviço foi considerado não essencial. Estas mudanças provocaram
aumento do desemprego e diminuição da renda familiar, além dos
impactos diretos da pandemia na saúde física e mental das pessoas.
47

A grande maioria das pessoas que participaram da pesquisa estavam


de alguma forma ligadas às redes profissionais das pesquisadoras
e da unidade promotora da pesquisa, a Fundação Friedrich Ebert
(FES), incluindo familiares, amigos e pessoas ligadas à militância em
sindicatos e organizações sociais, tendo sido contactadas por telefone,
e-mail ou mídias e redes sociais (Facebook; WhatsApp; Instagram;
Twitter). Além disso, contamos com a técnica de bola de neve (snowball
sampling)22, na medida em que solicitamos às pessoas contactadas
que repassassem o formulário, o que permitiu que se atingisse um
número maior de pessoas além dos limites das redes particulares das
coordenadoras, estudantes e parceiras da pesquisa.

Ainda que tenhamos adotado várias estratégias para a circulação do


formulário, é importante reconhecer que a população respondente
reflete o campo no qual estão inseridas as coordenadoras da pesquisa
e a instituição financiadora do projeto, FES. Sendo assim, a amostra
obtida pela pesquisa mostra um perfil de pessoas que em grande
medida é membro da população universitária e/ou de movimentos
sociais, pessoas da classe média brasileira, de cor branca, casadas,
residentes nas áreas urbanas, principalmente da região Sudeste, e com
alto nível de escolaridade. Além disso, a grande maioria das pessoas
que responderam ao questionário são mulheres. Contudo, apesar de
estarem representadas em menor proporção, obtiveram-se respostas
de uma pluralidade de perfis de pessoas brasileiras, permitindo a
realização de análises gerais (amostra completa) e específicas (filtros
selecionados), dependendo dos temas abordados.

22 Vinuto (2014).
PERFIL FEMININO
PERFIL FEMININO
Um pouco do perfil das mulheres participantes da pesquisa

MULHERES EM NÚMEROS
Durante a coleta de dados através do formulário online,
obtivemos respostas de 2.416 mulheres

PERFIL DAS PARTICPANTES


Conhecendo nossas participantes:

750

500 O gráfico nos


mostra os
percentuais
250 por faixa de
idade das
respondentes
0
8

42

53

54

95

+
1e

uo
-8

-6

-
52

64
d

06
se
ro
ne
M

Estado civil Residentes em área rural


6.8%
Casada

Solteira

Divorciada

Viúva

Outro
Residentes em área urbana
0 250 500 750 1000 1250 93.2%

1500

1000

500 Números de
acordo com a
raça/cor das
0 participantes
Preta Parda Branca Amarela Indígena

Mulheres com filhos

2500
2000
1500 Mulheres que
fazem parte
1000 de algum
500 grupo
tradicional
0
et

an

al

on

ra

la

ot
ob

n
ra

sa
ilim
ag
eg

a
p

p
se
m
íd

iC

a
za

ed
ol

tra
f
nI

iuQ

ar
f

od

ac
ut

n
luc
N

se

uF
P
irg
A
PERFIL FEMININO
Um pouco do perfil das mulheres participantes da pesquisa

Mercado de trabalho

Não está à procura de emprego 51


Dona de casa 54
Sem carteira assinada 127
Pesquisadora bolsista 140
Desempregada 228
Trabalha por conta própria 269
Com carteira assinada 367
Aposentada 470
Setor público 623

Escolaridade
600

400

200

0
la ocn ma

ot ocn m o isnE

ot oc repu nE

ot ocn pus

ot oc

ot laic

oã eM

od uoD

od
t
mr

el

el

el

el

el

ar

a
ç
l
pm atn onis

pm idé s on

pm i ro onis

pm oire

pm eps

ro
of

ts
m

t
iz
oc dém E
oã tnem F
ç

r
i la dn

i o nis
ur
tsn dnu

i
e

E
im F
eS

a
u

n
nE

Pictograma
representativo das
mulheres com casa
própria

Idades dos filhos


Mulheres com deficiência
3.2% 0-3

4-6

7-14

15-17

+ de 18
0 250 500 750 1000

Mulheres sem deficiência


96.8%

Mulheres que moram sozinhas


19.5%

Mulheres que moram com outras pessoas


80.5%

Número de mulheres de
acordo com a renda
1250

1000

750

500

250

0
ad

00

00

00

00

00
ne

,0

,0

,0

,0

,10
01

02

03

04
r

4.
me

.1

4
.2

.3

.4
$R

$R
to

$R

$R

$R
ét

ed
ãN

-0

-0

-0
A

am
0,

0,

0,
10

10

10

ic
1

3.3

A
.1

.2
$R

$R

$R
PERFIL MASCULINO
PERFIL MASCULINO
Um pouco do perfil dos homens participantes da pesquisa

HOMENS EM NÚMEROS
Durante a coleta de dados através do formulário online,
obtivemos respostas de 631 homens

PERFIL DOS PARTICPANTES


Conhecendo nossos participantes:

200

150
O gráfico nos
100 mostra os
percentuais
50 por faixa de
idade dos
respondentes
0
8

42

53

54

95

+
1e

uo
-8

-6

-
52

64
d

06
se
ro
ne
M

Estado civil Residentes em área rural


5.8%
Casado

Solteiro

Divorciado

Viúvo

Outro
Residentes em área urbana
0 100 200 300 400 94.2%

400

300

200
Números de
100 acordo com a
raça/cor dos
0 participantes
Preta Parda Branca Amarela Indígena

Homens com filhos

600

400
Homens que
fazem parte
200 de algum
grupo
tradicional
0
et

an

al

on

ra

la

ot
ob

n
ra

sa
ilim
ag
eg

a
p

p
se
m
íd

iC

a
za

ed
ol

tra
f
nI

iuQ

ar
fo

od
ac
ut
ãN

n
luc

se

uF
P
irg
A
PERFIL MASCULINO
Um pouco do perfil dos homens participantes da pesquisa

Mercado de trabalho

Não está à procura de emprego 21


Dono de casa 2
Sem carteira assinada 25
Pesquisador bolsista 21
Desempregado 77
Trabalha por conta própria 90
Com carteira assinada 128
Aposentado 92
Setor público 161

Escolaridade
150

100

50

0
la ocn ma

ot ocn m o isnE

ot oc repu nE

ot ocn pus

ot oc

ot laic

oã eM

od uoD

od
t
mr

el

el

el

el

el

ar

a
ç
l
pm atn onis

pm idé s on

pm i ro onis

pm oire

pm eps

ro
of

ts
m

t
iz
oc dém E
oã tnem F
ç

r
i la dn

i o nis
ur
tsn dnu

i
e

E
im F
eS

a
u

n
nE

Pictograma
representativo dos
homens com casa
própria

Idades dos filhos


Homens com deficiência
2.8% 0-3

4-6

7-14

15-17

+ de 18
0 50 100 150 200 250

Homens sem deficiência


97.2%
Homens que moram sozinhas
12.6%

Homens que moram com outras pessoas


87.4%

Número de homens de
acordo com a renda
1250

1000

750

500

250

0
ad

00

00

00

00

00
ne

,0

,0

,0

,0

,10
01

02

03

04
r

4.
me

.1

4
.2

.3

.4
$R

$R
to

$R

$R

$R
ét

ed
ãN

-0

-0

-0
A

am
0,

0,

0,
10

10

10

ic
1.1

A
.2

.3
$R

$R

$R
52

Além do formulário on-line, realizamos entrevistas semiestruturadas


com dezesseis pessoas. Foram inicialmente contactadas 21 pessoas,
sendo que cinco delas não aceitaram participar ou não responderam
ao segundo contato para agendamento da entrevista. A escolha das
pessoas a serem entrevistadas seguiu os critérios que contemplaram
perfis sociodemográficos distintos, levando em consideração gênero,
idade, regionalidade, etnia, ocupação, raça/cor e orientação sexual
(quadro 1). A quantidade de entrevistas foi determinada pelo tempo
disponível para a realização da pesquisa. Com estas, tínhamos o
objetivo de obter respostas mais aprofundadas para as questões
apresentadas no formulário, além de poder sentir as expressões e
sentimentos das pessoas ao relatar a sua experiência.

FORMULÁRIO N 2,7%

ONLINE NE 27%

3060
CO 4,9%

SE 56,7%

S 8,7%
RESPONDENTES
ABRANGÊNCIA NACIONAL 78,9% 20,6% GÊNERO
DISSIDENTE 0,5%

ENTREVISTAS A PESQUISA
DIVULGAÇÃO

REDES
TELEFONE E-MAIL
SOCIAIS

REDES DE CONTATO DAS


PESQUISADORAS
E PARCERIAS

TÉCNICA BOLA DE NEVE

12 MULHERES | 4 HOMENS
ABRANGÊNCIA NACIONAL
53

Quadro 1: Perfil das pessoas participantes das entrevistas


semiestruturadas

Região Sexo/ Cor/ Idade Cidade/UF Zona Ocupação Estado Orientação Nr. de
Gênero Raça Urbana/ Civil Sexual filhos/
Rural as

CO F parda 36 Brasília/DF urbana enfermeira/ casada heterossexual 2


militar

SE F parda 47 Duque de urbana faxineira casada heterossexual 3


Caxias/ RJ

SE F parda 40 Rio de urbana podóloga solteira heterossexual 1


Janeiro/RJ

SE F branca 62 Rio de urbana funcionária solteira lésbica 0


Janeiro/RJ pública

SE F branca 40 Vitória/ES urbana funcionária solteira heterossexual 1


pública

S F negra 39 Joinville/SC urbana diarista casada heterossexual 3

S M branco 27 Porto Alegre/ urbana uberista solteiro heterossexual 0


RS

NE F preta 25 Recife/PE urbana estudante solteira heterossexual 0

NE F negra 39 Petrolina/PE urbana professora casada heterossexual 1


universitária

NE M branco 48 Recife/PE urbana fisioterapeuta casado heterossexual 0


e enfermeiro

NE M indí- 34 Porto Seguro/ rural professor casado heterossexual 1


gena BA

NE F parda 24 Sobradinho/ rural agricultora/ casada heterossexual 1


BA dona de casa

NE M indí- 55 Sobradinho/ rural agente de casado heterossexual 2


gena BA saneamento

NE F indí- 51 Interinópolis/ rural professora casada heterossexual 4


gena CE

NE F branca 49 Triunfo/PE urbana dona de casa casada lésbica 0

N F parda 36 Belém do urbana empregada solteira heterossexual 1


Pará/PA doméstica

Fonte: Pesquisa on-line Cuidados no Brasil e os impactos da Covid-19.


Elaboração própria.
54

A seguir são analisados os perfis das pessoas respondentes,


destacando distinções de sexo/gênero, com o intuito de se ter mais
claras as distinções entre mulheres e homens nos vários aspectos
abordados na pesquisa. Além disso, foram feitas análises com grupos
específicos, como o de mães e pais de crianças menores de 14 anos. E,
nas análises que consideram a totalidade das respostas em relação à
percepção das pessoas sobre cuidados, como sofreram os impactos da
pandemia, na sua vida privada e de trabalho, ou mesmo na rotina da
família, sempre que possível os comentários apresentados destacam
as diferenças nas respostas de mulheres e homens, e as diferenças por
grupos raciais ou de cor no caso das mulheres, que foram priorizadas
devido à expressiva participação.

2.1 A percepção dos cuidados: perfil das/os


respondentes
2.1.1 Sexo e gênero

A pesquisa obteve respostas predominantemente de pessoas que


se declararam do sexo feminino, com percentual de participação de
78,9%, 20,6% se declararam do sexo masculino e 0,5% como pessoas
de gêneros dissidentes, sendo que sete pessoas se declararam como
não-binárias, uma como travesti, uma como mulher trans, uma como
homem trans ou trans masculino, e seis pessoas não responderam.
Embora o total de pessoas que se declararam de gêneros dissidentes
seja pequeno, apenas 17 num universo de mais de três mil pessoas,
estas declarações expressam o avanço da diversidade nas questões
relacionadas às identidades sociais (WOOD, 2011, pp. 229-231).

Analisando as respostas segundo o sexo dos/as respondentes e


utilizando um recorte de raça ou cor, temos que do total de 2.411
55

respondentes mulheres, 60,7% se declararam como pessoas brancas,


24,3% como pardas, 12,5% pretas, 1,8% de raça amarela e 0,7%
indígenas. E do total de homens respondentes, 62% se declararam
como pessoas brancas; 25,7% como pessoas pardas, 10,1% pretas; 1,3%
de raça amarela e 1% como indígenas.

Entendemos que as pessoas são plurais e vivenciam suas experiências


de maneiras distintas, a depender de diversos marcadores sociais, como
raça ou cor, etnia, escolaridade, regionalidade, faixa etária, estado civil,
número de filhos, profissão ou emprego. Assim, optamos por apresentar
os resultados da pesquisa, relativos à percepção sobre os cuidados,
dinâmica da vida doméstica e impactos da pandemia de Covid-19, a
partir dos marcadores sociais de gênero e raça ou cor que caracterizam
diferentes experiências cotidianas das pessoas no Brasil.23

Ao compreender que até 14 anos as crianças ainda apresentam uma


certa dependência e necessitam de provisão de cuidados cotidianos,
destacamos este filtro para análise. É válido lembrar, no entanto, que as
infâncias são plurais e que a classe social, raça ou cor e regionalidade
também podem interferir neste grau de dependência, sobretudo no
intervalo entre os 10 e os 14 anos. Contudo, devemos ressaltar que a
análise a partir destes critérios não será aprofundada, uma vez que
não temos elementos para tal. Tomando-se apenas o total de 528
respondentes com filhos/as nesta idade, 421 (79,7%) eram mulheres e
107 (20,3%) eram homens.

23 É importante ressaltar que nesta análise muitas vezes as mulheres serão comparadas
dentro do seu próprio grupo racial, uma vez que temos números de participantes muito
distintos, dependendo da raça ou cor da respondente, não sendo sempre possível fazer
comparação entre mulheres de cor/raça distintas.
56

2.1.2 Faixa Etária

A maioria, 63,1%, das pessoas que responderam à pesquisa estava na


faixa etária de 25 a 59 anos; quase um terço, 26,7% tinham mais de
60 anos; 9,4% foram respostas de jovens de 18 a 24 anos e apenas
0,8% tinham menos de 18 anos. O que mostra que a grande maioria
dos respondentes faz parte da população em idade ativa. Separando
os dados de idade segundo o sexo, dentre as pessoas respondentes,
as mulheres têm idade média ligeiramente superior à dos homens. A
grande maioria, 74,1%, das mulheres respondentes tinha mais de 36
anos, sendo que 47% delas estavam na faixa de 36 a 59 anos e 27,1%
delas tinham 60 anos ou mais. Enquanto que um percentual menor,
66,2%, dos homens respondentes tinham mais que 36 anos, com
40,6% deles com idade entre 36 e 59 anos e 25,7% com 60 anos ou
mais. Considerando-se o percentual de pessoas mais jovens, com até
35 anos, 25,1% das mulheres estavam nesta categoria, contra 33,8%
dos homens. A menor participação percentual de homens como
respondentes da pesquisa e a maior participação de homens mais
jovens, provavelmente seja indicação que os mais jovens ficam mais
à vontade para discutir estes temas relacionados aos cuidados com a
família ou estão mais familiarizados com o uso de instrumentos on-line.
Dentre as pessoas respondentes que têm filhos/as menores de 14 anos,
as mulheres que integram esta amostra tinham mais de 18 anos e o
maior percentual, 52,7%, estava na faixa etária de 36 a 45 anos e 22,8%
tinham entre 25 e 35 anos. Em relação aos homens de mesmo perfil, a
idade média deles era maior que a das mulheres na mesma situação,
sendo que 42,1% dos tinham entre 36 e 45 anos e 30,8% entre 46 e 59
anos.
57

2.1.3 Raça ou cor

Em relação às declarações relativas à raça/cor, verificou-se que


60,8% das respostas foram de pessoas que se declararam brancas,
refletindo, provavelmente, a população atingida pelas nossas redes
e mobilização. Dentre as mulheres, 60,7% eram brancas e dentre
os homens o percentual chegou a 62%. Do total de respondentes,
12,1% eram pessoas pretas, uma participação na pesquisa próxima
à porcentagem dessa população na população total, conforme
estatísticas do IBGE, sendo que entre as mulheres este percentual foi
de 12,2%, contra 10,1% entre os homens. As pessoas que se declararam
pardas somaram 24,7% de respondentes, um percentual bem abaixo
dos números oficiais do IBGE que registram que a população de
pessoas pardas no Brasil equivale a pouco mais de 46% da população
brasileira. Entre as mulheres respondentes este percentual ficou em
24,3% e entre os homens em 25,7%. Por outro lado, as pessoas do grupo
amarelo estão representadas na pesquisa em proporção maior, 1,7%, do
que nas estatísticas oficiais nacionais, em que correspondem a 1,1% da
população total.24 A maior representatividade desta fatia da população
na nossa pesquisa pode ser reflexo da grande participação de pessoas
de São Paulo (16,3%) entre os/as respondentes, o estado com o segundo
maior número de respondentes, atrás apenas do Rio de Janeiro, com
32,3% das respostas. Além disso, São Paulo é o estado brasileiro com
o maior número de pessoas que se declaram de raça amarela. 25 Dentre
as mulheres respondentes, as amarelas compreendem 1,8% e entre os
homens 1,3%. Por sua vez, declararam-se pertencentes à população
indígena apenas 23 ou 0,8% dos/as respondentes, um percentual de

24 Publicado em “Somos todos iguais? O que dizem as estatísticas?” Retratos A Revista


do IBGE, n. 11, maio, 2018, (https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/media/com_mediaibge/
arquivos/17eac9b7a875c68c1b2d1a98c80414c9.pdf).

25 Dados publicados em Características étnico-raciais da população: classificações e


identidades, IBGE, 2013 (https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv63405.pdf).
58

participação maior que o de sua representatividade na população


nacional, de 0,4%, segundo o IBGE. 26 Do total de respondentes, quase
1% dos homens se declararam indígenas e 0,7% das mulheres.

Dentre as mulheres com filhos/as abaixo de 14 anos, a maioria das


respondentes, 54,2%, era branca, seguidas das mulheres pardas
(27,9%), pretas (14,6%), amarelas (2,6%) e indígenas (0,7%). Em relação
aos homens com filhos/as abaixo de 14 anos, identificamos maior
capilaridade da pesquisa entre homens brancos (59,4%), seguidos de
pardos (23,6%), pretos (13,2%), amarelos (1,9%) e indígenas (1,9%).

2.1.4 Participação em grupo tradicional

Das pessoas que responderam à pesquisa, 92,6% não participam de


nenhum grupo tradicional, enquanto que 7,3%, ou 221 pessoas, declararam
pertencer a algum grupo tradicional. Destas, 2,4% participavam de
comunidade de agricultores rurais, 0,9% de comunidade quilombola e
os 3,1% restantes foram de respostas pulverizadas, que agregava outros
grupos tradicionais e também grupos como sindicalistas, movimento de
mulheres, de feministas, de mulheres negras, comunidades candomblé,
judaica, e de terreiro, o que mostra uma certa confusão sobre o que se
define como populações tradicionais, deixando claro que esta ainda
não é uma questão bem compreendida entre a população brasileira.
Estes percentuais se mantêm mais ou menos equivalentes quando se
analisa o grupo de mulheres, em que a grande maioria, 92,1%, não faz
parte de nenhum grupo tradicional. Apenas 2,4% delas se identificaram
como participantes de comunidades de agricultoras/es familiares;

26 As estatísticas oficiais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) utilizam,


para raça/cor, as opções: branca, preta, parda, amarela e indígena. Contudo, para fins
de acesso da população negra brasileira às ações afirmativas, como cotas raciais, ou
outras políticas sociais com recorte racial, o termo “negro” apresenta-se como a junção do
montante de pretos e pardos.
59

1,1% de quilombolas; 0,6% de indígenas; 0,2% de comunidades de


pescadoras/es artesanais; 0,2% de comunidades de fundo de pasto;
e 0,1% ciganas. Dentre as 80 pessoas (ou 3,4% das respondentes) que
optaram pela opção “outros”, cinco identificaram-se como pertencentes
a comunidades de matriz africana ou de terreiro.

2.1.5 Arranjos Familiares

As informações sobre a situação familiar são importantes porque as


diversidades das situações relacionadas a casamento, convivência,
separação e divórcio são relevantes para a dinâmica familiar. Não
consideramos neste tópico, no entanto, a diferenciação, feita pelo IBGE
(2019), em relação aos conceitos de unidade doméstica e família.27 Isto
porque, dados os objetivos desta pesquisa, a questão resumia-se a
mapear como viviam as pessoas no interior dos domicílios ou famílias
no momento da pesquisa.

Em relação à situação conjugal das pessoas


que possuem filhos menores de 14 anos, a
grande maioria estava casada ou morava
com os/as respectivos/as companheiros/
as. Dentre as mulheres, 73% e 89,7% dos
homens estavam nesta situação.

27 “O conceito de família no IBGE, também atendendo às recomendações internacionais,


é especificamente adotado no Censo Demográfico e demais pesquisas domiciliares
e refere-se às pessoas ligadas por laços de parentesco, dependência doméstica ou
normas de convivência, sem referência explícita ao consumo ou despesas” (Pesquisa de
Orçamentos Familiares 2017-2018: primeiros resultados. IBGE, Coordenação de Trabalho
e Rendimento. RJ: IBGE, 2019).
60

GRÁFICO 11: SITUAÇÃO CONJUGAL DAS MULHERES,


SEGUNDO RAÇA OU COR

60
50
40
30
20
10
0
MULHERES MULHERES MULHERES MULHERES MULHERES
PRETAS PARDAS BRANCAS AMARELAS INDÍGENAS

CASADA E/OU MORA SOLTEIRA/O SEPARADA/O VIÚVA/O OUTRO


COM O/A COMPANHEIRO/A OU DIVORICADA/O (ESPECIFIQUE)

Fonte: Pesquisa on-line Cuidados no Brasil e os impactos da Covid-19. Elaboração


própria.

Dentre as 3.055 pessoas respondentes, 50,4% declararam que


estavam casadas ou viviam com outra pessoa em união estável, 30,5%
eram solteiras, 14,2% eram separadas ou divorciadas, 3,7% viúvas/os
e 37 pessoas (ou 1,2%) qualificaram sua situação civil como namoro,
noivado, tem companheiro/a mas moram separados/as e outras
situações similares.

Em relação à situação conjugal das pessoas que possuem filhos


menores de 14 anos, a grande maioria estava casada ou morava
com os/as respectivos/as companheiros/as. Dentre as mulheres, 73%
e 89,7% dos homens estavam nesta situação. Neste mesmo grupo,
14,3% das mulheres eram separadas ou divorciadas e contra apenas
6,5% dos homens. Ou seja, mais mulheres que homens com filhos/as
menores vivem em famílias monoparentais, um resultado coerente com
os dados do IBGE para o país como um todo. Esta diferença entre os
sexos também se repete quando analisamos as pessoas solteiras que
61

convivem com filhos/as menores. Entre as mulheres nesta situação, 11%


eram solteiras, contra apenas 1,9% dos homens. Segundo os dados
da pesquisa, o número de mulheres com filhos/as abaixo de 14 anos,
totalizando 421 mulheres, é quase quatro vezes maior que o de homens,
com um total de 107.

2.1.6 Pessoas com filhas e/ou filhos

O objetivo de incluir esta pergunta no formulário foi entender a dinâmica


demográfica e o número de filhos presentes na vida destas pessoas.
Dentre as respostas, 41,2% das pessoas respondentes não tinham
filhas/os, e quando se analisa o conjunto dos homens respondentes,
44,6% estão nesta situação, contra 40,3% das mulheres respondentes.

GRÁFICO 12: NÚMERO DE FILHAS/OS


DOS/AS RESPONDENTES

50

40 41,2%

30

20 21,5%
23,5%

10 10,0%
2,7%
1,1%
0
NÃO TEM 1 2 3 4 5 OU +

Fonte: Pesquisa on-line Cuidados no Brasil e os impactos da Covid-19. Elaboração


própria.

O número de filhas/os das pessoas


respondentes acompanha a tendência de
queda da taxa de fecundidade (gráfico 13),
uma tendência mundial.
62

O número de filhas/os das pessoas respondentes acompanha


a tendência de queda da taxa de fecundidade (gráfico 13), uma
tendência mundial. No Brasil, a partir dos anos 1980, a queda da
taxa de natalidade tem tido papel decisivo na diminuição do ritmo
de crescimento populacional. Assim, dentre as/os respondentes com
filhos, a maior parte, 46,6%, tem até dois filhos/as, percentuais bem
menores de respondentes têm três (10,3%), quatro (2,4%) ou cinco (0,9%)
(gráfico 12).

Com relação às pessoas que têm filhos/as menores de 14 anos, a


maioria das mulheres neste grupo tinha até três filhos, sendo que 47%
delas tinham apenas um/a filho/a; 39% tinham dois/duas filhos/as;
11,4% tinham três filhos/as; 1% tinha quatro filhos/as; e 1,4% tinha cinco
ou mais filhos/as. Apesar de a distribuição dos homens com filhos/as
menores de 14 anos ser semelhante à das mulheres, um percentual
maior dos homens respondentes está representado nas faixas de maior
quantidade de filhos/as. Assim, 42,1% dos homens tinham um/a filho/a;
37,4% tinham dois/duas filhos/as; 6,5% com três filhos/as; 9,4% com
quatro filhos/as; e 3,7% com cinco ou mais filhos/as.

GRÁFICO 13: NÚMERO DE FILHOS/AS POR MULHERES,


SEGUNDO RAÇA OU COR

60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
MULHERES MULHERES MULHERES MULHERES MULHERES
PRETAS PARDAS BRANCAS AMARELAS INDÍGENAS

NÃO TEM 1 2 3 4 5 OU +

Fonte: Pesquisa on-line Cuidados no Brasil e os impactos da Covid-19. Elaboração


própria.
63

Já quando se observa o universo de mulheres respondentes, 40,3%


delas não possuíam filhos/as; 46,2% tinham até dois filhos/as; 10,3%
três filhos/as; e 3,2% mais de quatro filhos/as. Em todos os extratos por
raça ou cor, as mulheres sem filhos/as são maioria. Destacam-se as do
grupo raça ou cor amarela, das quais 51,2% não tinham filhos/as, e as
mulheres pretas, com 43,3% delas sem filhos/as. E, dentre as mulheres
com filhos/as, as que tinham maior quantidade foram as indígenas, em
que 23,5% (ou quatro mulheres) tinham mais de 4 filhos/as (gráfico 13).

2.1.7 Faixa etária das/os filhas/os

A legislação brasileira define, segundo o Estatuto da Criança e do


Adolescente (ECA, Lei 8.069, de 13/07/1990) como sendo criança
pessoas de até 12 anos de idade incompletos, além dos adolescentes
com idade entre doze e dezoito anos. E são definidos como jovens,
segundo o Estatuto da Juventude (Lei nº 12.852, de 2013), as pessoas
com idade entre 15 e 29 anos. A título de destaque, do total de
respondentes da pesquisa on-line, um percentual significativo, 17,2% ou
528 pessoas, tinham no máximo 29 anos (MELO; MORANDI, 2020 e
2021).

Tendo em vista a heterogeneidade definida pela legislação nacional


com relação ao grupo de crianças e jovens, nossa análise destacou as
pessoas que possuem filhos/as menores de 14 anos, a fim de se refletir
sobre os impactos da pandemia em suas vidas.

Das pessoas participantes da pesquisa, a grande maioria, 68,3%, tinha


filhos/as maiores de 18 anos; 39,1% tinham filhos/as de até 14 anos; e
10,8% tinham filhos/as na faixa etária de 15 a 17 anos. Como crianças
e adolescentes (pessoas de até 14 anos) são demandantes de mais
cuidados, mapear este universo é significativo para a sociedade
(gráfico 14).
64

GRÁFICO 14: FAIXA ETÁRIA DAS/OS


FILHAS/OS DOS/AS RESPONDENTES

80

68,3%
60

40

20 21,0%

9,5% 10,8%
0,2% 8,4%
0
NÃO TEM 0-3 4-6 7-14 15-17 MAIOR DE
ANOS ANOS ANOS ANOS 18 ANOS

Fonte: Pesquisa on-line Cuidados no Brasil e os impactos da Covid-19. Elaboração


própria.

Para analisar os casos das mulheres com filhos/as até 14 anos,


dividimos as idades das crianças em 3 faixas. Do total de mulheres
nesta situação, 29,6% tinham filhos/as com idade entre zero e 3 anos;
25,8% tinham filhos/as de 4 a 6 anos de idade e 59,4% filhos/as na
faixa de 7 a 14 anos. Esta distribuição das crianças em grupos de idade
permite ponderar os diferentes níveis de cuidados que demandam,
dependendo do estágio da vida.

Do total de 347 mulheres com filhos/as menores de 14 anos, a


grande maioria, 78%, respondeu que as crianças moravam com elas
integralmente e apenas 5% delas tinham guarda compartilhada. Em
relação aos homens na mesma situação, 74,3% responderam que
as crianças moravam com eles integralmente e 7,9% tinham guarda
compartilhada.

Analisando-se a distribuição dos/as filhos/as segundo a idade, 8% dos


homens respondentes tinham filhos/as com idade até 3 anos; 9,4% com
idade entre 4 e 6 anos, 24% com filhos/as entre 7 e 14 anos de idade,
65

13,4% com idade entre 15 e 17 anos e 68% com filhos/as maiores de 18


anos.

Dentre os homens que responderam ao questionário e que têm filhos/


as menores de 14 anos, 74,3% afirmaram que as crianças moravam
integralmente com eles, e 7,9% tinham guarda compartilhada das
crianças.

2.1.8 Região e estado de residência

A pesquisa conseguiu respondentes em todas as Unidades da


Federação, com uma participação por Região que acompanha de forma
aproximada a distribuição regional da população brasileira. Na Região
Norte foram obtidas 77 respostas ou 2,7% do total de respondentes,
na Região Nordeste foram 766 respondentes ou 27% do total, 1.608 ou
56,7% na Região Sudeste, 246 ou 8,7% na Região Sul e 139 ou 4,9%
no Centro-Oeste. Como se pode perceber, houve, no entanto, alguma
preponderância de respostas provenientes de pessoas residentes na
Região Sudeste, em detrimento das Regiões Sul e Norte e, em menor
escala, do Centro-Oeste. A Região Nordeste teve representatividade
semelhante à participação da população desta região no total da
população brasileira.

Complementando esta análise sobre a territorialidade brasileira, como


historicamente o Brasil viveu um intenso processo de urbanização
a partir de 1940, não surpreende que 93,4% das respostas sejam de
pessoas que moram em áreas urbanas e apenas 6,6% em área rural.
Mesmo assim, dentre os/as respondentes há uma sub-representação
da população rural, que equivale a 15,3% da população brasileira,
segundo estimativas do IBGE (PNAD, 2015).
66

Em relação à distribuição dos/as participantes entre os estados, têm


destaque os estados do Rio de Janeiro com 32,3% dos/as respondentes,
São Paulo com 16,3%, Pernambuco com 11,3% e Minas Gerais com 7,2%.
Com relação especificamente às mulheres respondentes, a grande
maioria, 93,2%, residia em áreas urbanas e 6,8% em áreas rurais. Dentre
as mulheres rurais, 64,3% se declararam negras (pretas ou pardas),
30,6% brancas, 3,2% indígenas e 1,9% amarelas. Os homens seguem
padrão semelhante, com 94,2% deles residindo em áreas urbanas e
5,8% em áreas rurais.

2.1.9 Trabalho e situação ocupacional

Este item analisa o mercado de trabalho das pessoas respondentes numa


abordagem mais econômica através dos seus principais indicadores. A
situação ocupacional das/os respondentes é mostrada no gráfico 15
abaixo. Destaca-se o grande contingente de trabalhadores/as do setor
público, representando 26,5% de respondentes, e de aposentadas/
os, com 19,1%, no grupo de respondentes, cuja representação elevada
certamente está relacionada às redes de contato atingidas pelas
pesquisadoras. Os outros grupos são de pessoas assalariadas
com carteira de trabalho, representando 16,7% de respondentes,
trabalhador/a por conta própria, com 12,2%, desempregados/as, com
10,4%, e percentuais menores de trabalhador/a sem carteira assinada,
5,1%, e de pesquisador/a bolsista, 5,6%. Do total de respondentes,
pouco menos de 2% (1,9%) se declararam dona de casa e 2,5% não
estavam procurando emprego.

(...) quanto a estar desempregado/a no


momento da pesquisa, um percentual
menor das mulheres, 9,8%, em relação aos
dos homens, 12,5%, estavam nesta situação.
67

GRÁFICO 15: SITUAÇÃO OCUPACIONAL


DOS/AS RESPONDENTES

DONA DE CASA 1,9%

NÃO ESTÁ PROCURANDO


2,5%
EMPREGO
EMPREGADA/O SEM
5,1%
CARTEIRA ASSINADA

PESQUISADORA/O BOLSISTA 5,6%

DESEMPREGADA/O 10,4%

TRABALHA POR 12,2%


CONTA PRÓPRIA
EMPREGADA/O COM
16,7%
CARTEIRA ASSINADA

APOSENTADA/O 19,1%

TRABALHA NO
26,5%
SETOR PÚBLICO

0 10 20 30
Fonte: Pesquisa on-line Cuidados no Brasil e os impactos da Covid-19. Elaboração
própria.

E, quando se analisam os dados com recorte de sexo, a maioria dos


dados mostra bastante equilíbrio, apesar do maior número de mulheres
respondentes. Declararam trabalhar no setor público 26,8% das
mulheres e 26,1% dos homens; 20,2% das mulheres e 14,9% dos homens
estavam aposentados, um resultado que se coaduna com a discussão
apresentada de os homens mais velhos serem aparentemente mais
reticentes à pesquisa on-line. Em relação ao trabalho com carteira
assinada, 18,4% das mulheres e 20,8% dos homens estavam nesta
situação. Já quanto a estar desempregado/a no momento da pesquisa,
um percentual menor das mulheres, 9,8%, em relação aos dos homens,
12,5%, estavam nesta situação. Este resultado surpreende porque
tradicionalmente o desemprego é maior entre as mulheres. Talvez, por
causa da pandemia, as mulheres no Brasil, assim como nos demais
países, deixaram o mercado de trabalho para se dedicarem ao trabalho
68

para sua família, em decorrência do fechamento de escolas e creches e


à exigência de isolamento social e, neste contexto, não se qualifiquem
como desempregadas. Um percentual maior das mulheres, 5,4%,
estava trabalhando sem carteira assinada, enquanto que dos homens
o percentual era de 4%. Isto ilustra o fato de as mulheres estarem mais
presentes em empregos com maior vulnerabilidade, em decorrência do
fato de terem que conciliar família (trabalho de cuidados) e o trabalho
remunerado. Por outro lado, um percentual maior dos homens, 14,6%,
que de mulheres, 11,6%, trabalhavam por conta própria, podendo ou
não serem contribuintes da previdência social. Um percentual bastante
baixo de respondentes declarou ser dona de casa, mesmo assim
com uma diferença bem grande em favor das mulheres, sendo 2,3%
delas - o mesmo percentual de mulheres que não estavam procurando
emprego - contra apenas 0,3% dos homens. Uma diversidade que
pode estar relacionada à questão da divisão desigual dos trabalhos
de cuidados, discutida anteriormente. E eram pesquisadores/as
bolsistas quase o dobro de mulheres, 6%, contra apenas 3,4% dos
homens, o mesmo percentual de homens que não estavam procurando
emprego, certamente reflexo da inserção profissional acadêmica das
coordenadoras da pesquisa (gráfico 15).

É importante ainda destacar se estas situações de inserção no


mercado de trabalho operam diferentemente para as mulheres quando
se consideram os marcadores sociais de raça ou cor. Neste sentido,
um percentual bem maior de mulheres pretas, 16,8%, declararam que
estavam desempregadas, um percentual superior ao médio da nossa
amostra de respondentes, dentre as amarelas, 16,3% declararam estar
nesta situação, e 13% das pardas. Comparativamente, o percentual
de mulheres brancas, 7%, e indígenas, 6,2%, nesta situação era bem
menor, inclusive menor que o da média de respondentes (10,4%). Ainda
sobre a inserção no mercado de trabalho, são válidas algumas análises
69
comparando mulheres brancas, 1.463 das respondentes, e negras
(representadas pelas pardas e pretas), que somam 888 respondentes.
Em relação às mulheres desempregadas, 53,1% delas eram mulheres
negras, ou 13,6% de todas as mulheres negras participantes. Por outro
lado, dentre as mulheres brancas, as desempregadas compreendiam
43,4% do total da amostra de desempregadas, mas apenas 6,8% das
respondentes brancas, ou seja, menos da metade em comparação ao
percentual das mulheres negras.

Dentre as mulheres que trabalhavam com carteira assinada, as


amarelas se destacaram, com 20,9% delas nesta situação, seguidas
das indígenas com 18,8%, pretas com 16,4% e brancas e pardas com
pouco mais de 15%. É curioso notar que as mulheres pretas se destacam
nos extremos. Elas foram as que mais reportaram estar desempregadas
e também estavam entre as que mais tinham emprego com carteira
assinada. Do total de mulheres respondentes que eram trabalhadoras
com carteira assinada, 60,4% delas eram mulheres brancas e 36,3%
negras. Neste quesito, no entanto, a diferença de raça ou cor mostrou
ter menos peso, sendo que 15% das mulheres brancas e também das
negras tinham emprego com carteira assinada (gráfico 16).

As mulheres que trabalhavam no setor público estavam bem distribuídas


entre todos os grupos de raça/cor, com destaque para o grande
percentual de mulheres pretas e pardas (com um percentual em torno
de 29%) e indígenas, 25%, nesta categoria. Em contrapartida, também
são as mulheres indígenas que têm maior percentual do seu grupo
trabalhando sem carteira assinada, 12,5%, seguidas das amarelas, com
9,3%, sendo que o menor percentual estava entre as mulheres brancas,
4,4%. Dentre as mulheres que trabalham por conta própria, as mulheres
brancas apresentam o maior percentual, 12,7%, enquanto que nenhuma
das indígenas estava nesta categoria. Em relação às pesquisadoras/
70

bolsistas, elas são 6,4% das mulheres brancas; 6,2% das pardas; 4,7%
das amarelas; 4,2% das negras e 0% das indígenas, o que mostra a
necessidade de ampliação das oportunidades ou cotas para pessoas
indígenas nos cursos de pós-graduação (gráfico 16). Contudo, é
válido lembrar que a participação de mulheres brancas na pesquisa
é bastante superior à participação das mulheres dos demais grupos
raciais ou de cor.

GRÁFICO 16: SITUAÇÃO OCUPACIONAL DAS MULHERES,


SEGUNDO RAÇA OU COR

30

20

10

0
MULHERES MULHERES MULHERES MULHERES MULHERES
PRETAS PARDAS BRANCAS AMARELAS INDÍGENAS

DESEMPREGADA EMPREGADA TRABALHO EMPREGADA TRABALHO


COM CARTEIRA NO SETOR SEM CARTEIRA POR CONTA
ASSINADA PÚBLICO ASSINADA PRÓPRIA

PESQUISADORA APOSENTADA DONA NÃO ESTOU PROCURANDO


BOLSISTA DE CASA EMPREGO

Fonte: Pesquisa on-line Cuidados no Brasil e os impactos da Covid-19. Elaboração


própria.

No grupo das mulheres brancas, as aposentadas correspondem a


24,6%, o maior percentual dentro dos grupos de raça/cor, o dobro do
percentual para os demais grupos em que o percentual de mulheres
aposentadas ficou em torno de 12%. Dentre as donas de casa, são as
indígenas que se destacam com 18,8%, enquanto nos demais grupos
esta ocupação chega a no máximo 3,5%, no caso das mulheres
pretas. Já as mulheres que não estão procurando emprego, no grupo
71

das indígenas elas correspondem 6,3%; 4,7% das amarelas, 2,8% das
pardas; 2% das brancas e 1,4% das pretas.

Em relação às mulheres aposentadas, ou seja, que possuem uma


renda fixa e estável, 74% delas eram mulheres brancas, sendo que elas
representam 24,6%. Dentre todas as aposentadas, as mulheres negras
representam 24,4% e eram 13,5% dentre todas as mulheres negras
respondentes. Esses dados reforçam a importância das análises com
recorte de raça ou cor para a definição das políticas públicas, quando
se pretende uma redução das desigualdades raciais (gráfico 16).

Ainda sobre a inserção das mulheres no mercado de trabalho, vale


um olhar sobre a difícil conciliação entre família e trabalho. Como
historicamente as mulheres são as responsáveis por conciliar os
cuidados com a família e o trabalho remunerado, esta pesquisa teve
preocupação em analisar especificamente a participação no mercado
de trabalho do grupo de mulheres com filhos/as menores de 14 anos.
O resultado é que a maior porcentagem, 37,6% delas, trabalhava no
setor público; 18,4% tinham trabalho com carteira assinada, 13,4%
trabalhavam por conta própria e 11,2% estavam desempregadas. Com
relação aos homens na mesma condição, sua condição em relação ao
mercado de trabalho era relativamente mais positiva, sendo que 32,7%
trabalhavam no setor público; 33,6% estavam em um trabalho com
carteira assinada, 18,7% trabalhavam por conta própria e 5,6% estavam
desempregados.

2.1.10 Rendimentos e situação de moradia

Em relação aos rendimentos declarados pelas pessoas respondentes,


11,3% não tinham renda no momento da pesquisa, percentual que
corresponde aos desempregados/as e donas de casa. Por outro
lado, quase a metade das/os participantes, 48,4%, declararam ter
72

rendimento mensal maior que R $4.401,00, valor superior ao de quatro


salários mínimos nacional (de R $1.100,00) (gráfico 17). Como a pesquisa
não foi feita com critérios para se definir uma amostra representativa
do universo país, o perfil dos/as respondentes alcançados de forma
aleatória a partir dos contatos das pessoas envolvidas na pesquisa
gera uma amostra que, sob alguns aspectos, pode estar viesada, como
é o caso da renda média das pessoas participantes da pesquisa on-line.
Os resultados refletem, portanto, ao perfil com muitas/os servidoras/es
públicas/os e que pertencem aos estratos médios da sociedade.

Dentre as mulheres respondentes, a maioria, 46,6%, tinham renda


superior a quatro salários mínimos, o que se repetiu entre as mulheres
com filhos/as menores de 14 anos, em que 42,3% também estavam
no estrato superior de renda definida na pesquisa. Por outro lado,
um percentual também alto, 34% do total das mulheres respondentes
e 36,5% das mulheres com crianças de até 14 anos tinham renda de
até três salários mínimos. Contudo, chama a atenção a proporção de
mulheres que não tinham renda e eram economicamente dependentes,
sendo 10,6% do total de mulheres e 12,3% dentre as que tinham filhos/
as menores de 14 anos.

GRÁFICO 17: FAIXA DE RENDA MENSAL


DOS/AS RESPONDENTES

48,4%

11,3% 12,7%
9,4% 9,4% 8,8%

SEM ATÉ 1.101,00 2.201,00 3.301,00 ACIMA DE


RENDA 1.100,00 A 2.200,00 A 3.300,00 A 4.400,00 4.401,00

Fonte: Pesquisa on-line Cuidados no Brasil e os impactos da Covid-19. Elaboração própria.


73

Também a maioria dos homens respondentes, 55,3%, estavam no estrato


de renda acima de quatro salários mínimos e 13,4% não tinham renda.
Este percentual, maior que o das mulheres, pode estar influenciado
pelo grupo de homens mais jovens dentre os que responderam à
pesquisa. Quando se analisam os homens com filhos/as de até 14 anos,
um percentual menor deles relativamente ao de mulheres, 6,5%, não
possuíam renda e 78,5% tinham rendimentos mensais acima de três
salários mínimos, sendo que destes, 67,3% ganhavam mais que quatro
salários mínimos.

Conforme apresentado no perfil geral das pessoas respondentes


da pesquisa, o público participante tem média de renda mais alta, e,
portanto, é baixo o percentual de pessoas que participavam de algum
programa social ou de transferência de renda durante a realização
da pesquisa. Mesmo assim, dentre as mulheres pesquisadas, 8,2%
delas participava de algum programa de transferência de renda,
sendo o auxílio emergencial o programa de transferência mais citado,
com 4,2% das mulheres. Uma resposta razoável, uma vez que a
pesquisa foi realizada ainda durante a pandemia de Covid-19. É válido
ressaltar que, dentre as 96 mulheres que reportaram receber auxílio
emergencial, 33,3% eram mulheres brancas e 64,6% eram negras,
com maior percentual de pretas (39,6%), o que mostra mais uma vez
a desigualdade econômica entre mulheres de raça ou cor distintas,
geralmente com as negras em situação de maior vulnerabilidade.

Analisando-se o gráfico 18, destaca-se novamente a desigualdade com


relação à renda mensal, quando se utiliza o recorte de raça ou cor.
Enquanto mais da metade das mulheres indígenas, 53,3%, ou não têm
renda ou ganham até R $1.100,00, as brancas são as que apresentam
o menor percentual de mulheres nesta situação, apenas 14,2% delas.
Entre as demais mulheres, 27,9% das amarelas, 28,5% das pardas e
74

33,4% das pretas estão nesta mesma situação.

Por sua vez, mais da metade das mulheres brancas, 56,1%, tinham renda
acima de quatro salários mínimos, enquanto que nesta situação eram
41,9% das amarelas, 33,3% das mulheres pardas, 28,6% das pretas e
20% das indígenas, um recorte que destaca o acesso desigual à renda
mais alta, de acordo com as diferenças de raça ou cor. Reforçando esta
análise, dentre as mulheres pardas, 52,6% têm renda igual ou superior R
$2.201,00, a maioria das mulheres pretas está nas faixas de renda mais
baixa, sendo que 50,8% delas têm renda mensal de até R $2.200,00,
e a grande maioria das mulheres brancas, 65,3%, tem renda acima de
R $3.301,00.

Analisando-se especificamente os dados relativos às mulheres que


não tinham renda própria, 7,6% das brancas, 14,4% das pardas, 16,3%
das amarelas, 16,4% das pretas e 26,7% das indígenas estavam nesta
situação. Assim, ao analisar as mulheres dentro dos seus próprios
grupos raciais, observamos que as mulheres brancas têm, na média,
maior rendimento, e também apresentam o menor percentual de
mulheres que não possuem renda, reforçando o privilégio deste grupo
de mulheres na sociedade brasileira (gráfico 18).

Por sua vez, mais da metade das mulheres


brancas, 56,1%, tinham renda acima de
quatro salários mínimos, enquanto que
nesta situação eram 41,9% das amarelas,
33,3% das mulheres pardas, 28,6% das
pretas e 20% das indígenas, um recorte que
destaca o acesso desigual à renda mais
alta, de acordo com as diferenças de raça
ou cor.
75

GRÁFICO 18: FAIXA DE RENDA MENSAL DAS MULHERES,


SEGUNDO RAÇA OU COR

0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
MULHERES MULHERES MULHERES MULHERES MULHERES
PRETAS PARDAS BRANCAS AMARELAS INDÍGENAS

NÃO TEM ATÉ ENTRE ENTRE ENTRE ACIMA DE


R$ 1.100,00 R$ 1.101,00 R$ 2.101,00 R$ 3.301,00 R$ 4.401,00
E R$ 2.200,00 E R$ 3.300,00 E 4.400,00

Fonte: Pesquisa on-line Cuidados no Brasil e os impactos da Covid-19. Elaboração


própria.

Em relação à pergunta sobre a situação de moradia, 67,2% das pessoas


respondentes afirmaram que residiam em imóvel próprio, 23,5%
moravam de aluguel e 9,3% em imóvel cedido, arrendado ou viviam
como agregados/as.

Do total das mulheres respondentes 67,2% afirmaram morar em imóvel


próprio, 23,1% moravam em imóvel alugado, 5% viviam em imóvel
cedido e 2,2% eram agregadas em residências de terceiros. Contudo,
há distinções quando observamos as condições de moradia por raça
ou cor. As mulheres brancas apresentaram o maior percentual (69,7%)
de mulheres morando em imóvel próprio, sendo que o percentual para
as mulheres pretas e pardas ficou acima de 62% e para amarelas e
indígenas, acima de 56%. Dentre as mulheres que moram de aluguel,
foram as mulheres indígenas que se destacaram (31,2%), sendo que para
todas as demais o percentual ficou em torno de 23%. E o percentual de
76

mulheres respondentes por coorte de raça ou cor, as indígenas foram


as que apresentaram maior percentual de mulheres que moravam em
imóvel ou propriedade cedida, seguidas das amarelas, com 9,5%. As
demais mulheres por grupo de raça ou cor apresentaram percentuais
mais baixos, entre 4 e 7% (gráfico 19).

GRÁFICO 19: SITUAÇÃO DE MORADIA DAS MULHERES,


SEGUNDO RAÇA OU COR

70
60
50
40
30
20
10
0
MULHERES MULHERES MULHERES MULHERES MULHERES
PRETAS PARDAS BRANCAS AMARELAS INDÍGENAS

PRÓPRIA ALUGADA CEDIDA AGREGADO ARRENDADA OUTRO

Fonte: Pesquisa on-line Cuidados no Brasil e os impactos da Covid-19. Elaboração


própria.

2.1.11 Escolaridade

A educação tem considerável impacto nas características


socioeconômicas e demográficas da população e isso expressa-se nos
comportamentos reprodutivos e de saúde, nos níveis de rendimento
e mobilidade social. Desta forma, as informações sobre o perfil
educacional das/os respondentes são essenciais para se conhecer a
realidade da vivência social destas pessoas na pandemia.

As respostas mostraram que, segundo o grau de instrução, 96,4%


77

das/dos respondentes têm ensino médio completo ou superior, um


percentual bem superior ao da média brasileira, como visto na primeira
seção do texto. Além disso, 23,2% têm nível universitário ou superior
completo, e 30,0% têm doutorado ou mestrado, 21,9% têm cursos de
especialização; e 21,3% têm ensino superior incompleto ou ensino
médio completo (gráfico 20). Como 78,9% dos/as respondentes eram
mulheres, isso espelha a vitória feminina no campo educacional.
Sua superioridade na educação tem contribuído para a redução da
desigualdade de gênero no Brasil (MELO; THOMÉ, 2018, cap. 5; MELO;
MORANDI, 2021).

GRÁFICO 20: GRAU DE INSTRUÇÃO DOS/AS RESPONDENTES

DOUTORADO 15,7%

MESTRADO 14,3%

ESPECIALIZAÇÃO 21,9%

ENSINO SUP. COMPLETO 23,2%

ENSINO SUP. INCOMPLETO 13,0%

ENSINO MÉDIO COMPLETO 8,3%

ENSINO MÉDIO INCOMPLETO 1,6%

FUNDAMENTAL COMPLETO 1,1%

FUNDAMENTAL INCOMPLETO 0,7%

SEM INSTRUÇÃO FORMAL 0,1%

0% 5% 10% 15% 20% 25%


Fonte: Pesquisa on-line Cuidados no Brasil e os impactos da Covid-19. Elaboração
própria.

O nível de instrução do grupo de mulheres com filhos/as menores de 14


anos é alto, pois 57,7% possuíam diferentes níveis de pós-graduação,
e 19,5% haviam concluído o ensino superior. Se relembrarmos a faixa
78

etária dessas mulheres, mais a idade de filhos, e outros marcadores


sociais, estes dados reforçam o perfil da mulher urbana e de classe
média com alta escolaridade, que tem postergado a maternidade
e reduzido o número de filhos. Os homens de mesmo perfil também
tinham alto nível de escolaridade, sendo que mais da metade, 57,9%
tinham diferentes níveis de pós-graduação e 28% afirmaram possuir
nível superior completo.

Portanto, a escolaridade das mulheres participantes corresponde ao


perfil de classe social já mencionado, pois para todos os grupos de
raça ou cor, as mulheres com ensino superior completo eram em torno
de 23% ou mais, com destaque para as indígenas, das quais 31,2%
tinham curso superior completo. No entanto, na medida que os níveis
de pós-graduação aumentam, as indígenas têm menor representação,
enquanto as mulheres brancas têm maior. No caso das mulheres com
mestrado e doutorado, as mulheres brancas apresentaram maior
percentual em seu grupo racial (16,2% eram mestras e 19,6% doutoras)
quando comparadas com as mulheres dos demais grupos, reforçando
os resultados do Censo da Educação Superior (INEP, 2018), que aponta
que 52,4% das professoras universitárias no país são brancas (gráfico
21).

(...) a escolaridade das mulheres


participantes corresponde ao perfil de
classe social já mencionado, pois para
todos os grupos de raça ou cor, as mulheres
com ensino superior completo eram em
torno de 23% ou mais, com destaque para
as indígenas, das quais 31,2% tinham curso
superior completo.
79

GRÁFICO 21: SITUAÇÃO OCUPACIONAL DAS MULHERES,


SEGUNDO RAÇA OU COR

35
30
25
20
15
10
5
0
MULHERES MULHERES MULHERES MULHERES MULHERES
PRETAS PARDAS BRANCAS AMARELAS INDÍGENAS

SEM INSTRUÇÃO FUNDAMENTAL FUNDAMENTAL ENSINO MÉDIO ENSINO MÉDIO


FORMAL INCOMPLETO COMPLETO COMPLETO INCOMPLETO

ENSINO SUPERIOR ENSINO SUPERIOR ESPECIALIZAÇÃO MESTRADO DOUTORADO


INCOMPLETO COMPLETO

Fonte: Pesquisa on-line Cuidados no Brasil e os impactos da Covid-19. Elaboração


própria.

2.1.12 Pessoas com algum tipo de deficiência

A quase totalidade das pessoas que participaram da pesquisa


reportaram não ter nenhum tipo de deficiência, sendo que apenas 3,2%
delas ou 94 pessoas relataram algum tipo de deficiência, indicando
geralmente doenças ou sintomas relacionados de alguma forma à
idade, como problemas ou algum nível de dificuldade para locomoção
(problemas de joelho, coluna), doenças degenerativas (Parkinson,
doença neurológica) ou outras (algum nível de surdez, problemas de
visão, etc.).

Dentre as mulheres, a grande maioria não possuía qualquer tipo de


deficiência. Apenas 76 mulheres ou 3,2% alegaram possuir algum tipo
de deficiência. Ao observar as mulheres com deficiência, segundo
80

o coorte de raça ou cor, 38 ou metade das mulheres com alguma


deficiência eram brancas; 26 ou 34,2% eram pardas; 10 ou 13,2% eram
pretas; uma era amarela e uma indígena.

2.1.13 Moradia e arranjos familiares

Mais da metade dos/as respondentes, 51,6%, eram pessoas adultas,


com idade entre 19 e 64 anos, e não moravam sozinhas. Do total de
respondentes, 44,4% moravam com uma ou mais crianças de zero a 12
anos e 26,8% moravam com um ou mais adolescentes (pessoas de 13
a 18 anos), 34,2% moravam com pessoas idosas, de 65 ou mais anos, e
7,4% habitavam com pessoas que tinham alguma deficiência.

Em relação ao arranjo familiar das mulheres, quase um quinto delas,


19,5%, morava sozinha, percentual que não se altera significativamente
quando observamos estes arranjos dentro dos diferentes grupos
raciais ou de cor. Do conjunto de homens respondentes, apenas 12,6%
moravam sozinhos, um percentual bem menor comparativamente às
mulheres.

Em relação às pessoas que viviam com crianças ou adolescentes, do


grupo de mulheres, 46,1% delas viviam com crianças, enquanto que
apenas 37,8% dos homens estavam nesta situação. E das pessoas que
viviam com adolescentes, 27,5% das mulheres reportaram que moravam
com um ou mais adolescentes, contra 24,7% dos homens. O que se pode
observar é que, na média, as mulheres moram mais frequentemente
com crianças e adolescentes que os homens, um resultado coerente
com os dados para o Brasil como um todo, comentados na primeira
parte do trabalho.
81

2.2 A percepção dos cuidados: custos financeiros e sociais

Tanto na literatura feminista de gênero como culturalmente nas várias


sociedades, os trabalhos domésticos são reconhecidos como atividades
de responsabilidade principalmente das mulheres (FEDERICI, 2021, p.
35). Trata-se de uma distribuição de tarefas socialmente construída e
que termina por sobrecarregar as mulheres, que, no entanto, podem
contar com a ajuda de outras pessoas para dividir essas tarefas diárias
e repetitivas. Neste sentido, foi incluída a pergunta sobre se a pessoa
respondente contava ou contratava alguém para fazer ou auxiliar com
o trabalho doméstico.

Os gráficos seguintes explicitam as condições em que os/as


respondentes viviam seu cotidiano em relação à organização e
execução das tarefas domésticas e de cuidados familiares, por
exemplo, se contratavam trabalhadoras domésticas ou cuidadoras
para a realização de tarefas no seu domicílio. Em relação aos trabalhos
domésticos, como preparar alimentos, lavar pratos/panelas, limpar
a casa, lavar roupas, etc., observou-se que 46,6% de respondentes
declararam contratar trabalhadoras domésticas, com periodicidade
variada, e 39,1% responderam que faziam tudo sozinhas (gráfico 22).

O resultado foi que a maioria, 53,4% declararam não pagar pelo serviço
doméstico, sendo que 14,3% contavam com a colaboração de outras
pessoas da família. As demais 46,6% das pessoas respondentes
contratavam alguém para realizar ou ajudar nos trabalhos domésticos.
Dentre estas, 33,2% contratavam para jornadas de um dia a três por
semana e 13,4% apenas uma vez a cada 15 dias. Estas respostas podem
indicar que a pandemia e os meses de isolamento social que se fizeram
necessários podem ter provocado mudanças no comportamento das
famílias brasileiras com relação à distribuição das tarefas domésticas
82
entre membros da família e pessoas contratadas. Até 2019, as/os
trabalhadoras/es domésticas/os brasileiras/os representavam cerca de
9% desta ocupação no mundo (ECLAC, 2021). A grande perda de postos
de trabalho desta categoria, segundo dados do IBGE (PNAD Covid-19,
2020; PNAD Contínua, 2020 e 2021), pode implicar uma transformação
neste mercado de trabalho em consequência da pandemia, da crise
econômica decorrente e dos novos possíveis arranjos familiares
relativos aos cuidados (gráfico 22).

GRÁFICO 22: CONTRATAÇÃO DE PESSOA PARA REALIZAÇÃO DOS


AFAZERES DOMÉSTICOS POR PARTE DOS/AS RESPONDENTES

3 VEZES POR
SEMANA OU MAIS 12,3%

2 VEZES POR SEMANA 7,6%

1 VEZ POR SEMANA 13,3%

1 VEZ A CADA 15 DIAS 13,4%

COLABORAÇÃO DE
PESSOAS DA FAMÍLIA
14,3%

NÃO TEM NINGUÉM 39,1%

0 10 20 30 40
Fonte: Pesquisa on-line Cuidados no Brasil e os impactos da Covid-19. Elaboração
própria.

Ou seja, das pessoas que contratavam alguém, o maior percentual era


de contratos sem vínculos empregatícios, como diaristas contratadas
para trabalharem apenas um ou dois dias na semana. Na realidade, a
regulamentação da ocupação não conseguiu ampliar a formalização
da categoria, devido à brecha permitida pela Lei, que reconhece que
83

só configura vínculo empregatício os casos em que o/a trabalhador/a


doméstico/a tiver sido contratado/a para trabalhar acima de três dias
na semana. Nesse caso a Lei exige a assinatura da carteira de trabalho
e o pagamento dos benefícios estipulados na legislação trabalhista
nacional. O resultado da pesquisa, sob alguns aspectos, retrata bem a
tendência deste Brasil que teima em permanecer no passado. Dentre
as mulheres que não contratam ninguém para auxiliá-las com as tarefas
domésticas, em ordem decrescente estão as indígenas, em que 64,3%
delas estão nesta situação, as pretas (57,2%), pardas (48,3%), amarelas
(43,6%) e brancas (31,8%).

Dentre as pessoas com filhos/as menores de 14 anos, 43,6% das


mulheres afirmaram não contratar empregada doméstica, assim como
27,4% dos homens na mesma situação. Com relação às mulheres, 13,6%
não contratavam serviço doméstico, mas contavam com a colaboração
de pessoas da família para sua execução, enquanto que 16% dos
homens estavam na mesma situação. Por outro lado, 9,5% das mulheres
e 12,3% dos homens neste perfil contratavam uma pessoa uma vez a
cada quinze dias, 8,6% das mulheres e 10,4% dos homens contratavam
diarista uma vez por semana, 5,2% das mulheres contratavam diarista
2 vezes por semana, contra 12,3% dos homens, e 19,5% das mulheres
contratavam uma pessoa três ou mais vezes por semana, enquanto
que 21,7% dos homens estavam na mesma situação. Os dados mostram
que, no geral, os homens buscam mais suporte para a realização dos
trabalhos domésticos que as mulheres.

Em relação à pergunta sobre se a pessoa respondente cuidava de


alguém constantemente, pouco mais da metade, 50,4%, respondeu
que sim, que cuidava de alguém. E dentre estas pessoas, 33,1%
responderam que cuidavam da mãe, 31,6% do filho, 30,8% da filha e 24%
declararam cuidar do marido, notando-se que para todas as relações
de parentesco houve alguma declaração de que eram cuidadas
84
(gráfico 23). A pesquisa, porém, não permite afirmar quanto a pandemia
de Covid-19 pode ter influenciado essas respostas.

GRÁFICO 23: DE QUEM OS/AS RESPONDENTES


CUIDAVAM CONSTANTEMENTE

MÃE 33,1%

FILHO 31,6%

FILHA 30,8%

MARIDO 24,0%

PAI 14,0%

IRMÃ 7,0%

ESPOSA 6,9%

IRMÃO 5,9%

NETA 4,9%

NETO 4,4%

SOGRA 3,9%

SOGRO 1,7%

0% 10% 20% 30% 40%


Fonte: Pesquisa on-line Cuidados no Brasil e os impactos da Covid-19. Elaboração
própria.
Nota: A pessoa pode escolher mais de uma opção.

GRÁFICO 24: DE QUEM O/A RESPONDENTE


RECEBE AJUDA PARA AS TAREFAS DE CUIDADO

50%
49,3%
40%

30%
27,9%
20%

10% 11,7%
6,6% 4,5%
0%
CUIDA TEM AJUDA DE CONTRATA CONTRATA CONTRATA
SOZINHA/O OUTRAS PESSOAS PESSOA EM PESSOA EM TEMPO PESSOA
DA FAMÍLIA TEMPO INTEGRAL PARCIAL ESPORADICAMENTE

Fonte: Pesquisa on-line Cuidados no Brasil e os impactos da Covid-19. Elaboração


própria.
85

O gráfico 24 mostra as respostas relativas especificamente às tarefas


de cuidados, conceito definido pelo IBGE como as atividades realizadas
pelas pessoas no domicílio em prol de familiares ou parentes não
moradores. Dentre as respostas, quase a metade, 49,3%, dos/as
respondentes afirmou cuidar sozinho/a da/s pessoa/s da família, o que
reforça a tese da tendência de redução da contratação de pessoas para
a realização de atividades relacionadas tanto aos afazeres domésticos
quanto aos cuidados ao longo de 2020 no Brasil. A ajuda de outra
pessoa da família aparece com 27,9% de respostas e a contratação de
cuidadoras/es em 22,8% das respostas, sendo 6,6% em tempo integral,
11,7% em tempo parcial e 4,5% esporadicamente.

Para as pessoas com filhos menores de 14 anos, na questão relativa


a quem recebe cuidados constantemente, 57,1% das mulheres
responderam que cuidavam da filha e 60,8% do filho, relativas às
respostas mais frequentes. Outras respostas relevantes foram que
cuidavam do marido, abarcando 26,3% das respostas, 19,7% cuidavam
da mãe, 9,2% do pai, 3,4% da sogra e 2,4% da irmã. É importante lembrar
que esta questão permitia múltipla escolha. Assim, com as 380 pessoas
respondentes, obtivemos 729 respostas, ou seja, na média, cada mulher
mãe de crianças abaixo de 14 anos cuidava constantemente de mais de
uma pessoa, mesmo as que não estavam casadas.

Ao contrário das mulheres, os homens com filhos/as menores de 14


anos responderam cuidar constantemente mais frequentemente da
filha (63,4%), seguido do filho (53,5%) e as demais respostas foram:
esposa 36,6%, mãe (8,4%), sogra (5,6%), neto (4,2%), sogro (2,8%) e pai
(1,4%). Como foi o caso de Mário (do estado da BA, homem, indígena, 55
anos, casado, um filho e agente de saneamento) que afirmou cuidar da
esposa, dos filhos e da comunidade, que afirma que “nesse sentido que
tô te falando né, o meu cuidado, o meu carinho, também da minha, da
86

minha comunidade, mas em especial mesmo da minha esposa e meus


filhos”. Joaquim (do estado de PE, homem, branco, 48 anos, casado e
fisioterapeuta) não possui filhos e afirmou que cuida constantemente
dos seus pacientes no trabalho. Sendo os pacientes as primeiras
pessoas que mencionou quando pensou em cuidados. Logo a seguir
acrescentou que em casa cuida da sua esposa. Para ele, o “cuidar é o
dia a dia juntos, um cuidando do outro, zelando pelo outro”.

Vale ressaltar que dos 107 homens que possuem filhos/as abaixo de 14
anos, 36 deles ou 33,6% ignoraram a pergunta e não responderam. Já
dentre as mulheres, 41 ou 9,7% deixaram de responder. Todavia, deve-
se destacar que a percentagem dos homens casados que afirmaram
não cuidar de nenhuma pessoa constantemente foi significativa, 55,7%,
o que explicita de forma candente que estas tarefas não estiveram
presentes ao longo de suas vidas e que são vistas como obrigações
femininas (MELO; MORAES, 2021, pp. 25-49). Por outro lado, do
total de homens respondentes, 44,3% afirmaram cuidar de alguém
constantemente, sendo que 35% indicaram que cuidavam da esposa,
da filha (31,4%), filho (30,1%), mãe (23,9%), pai (14,6%), sogra (6,2%), irmã
(4,9%), neta ou neto (3,1%), sogro (2,6%), marido (2,2%), e 16,8% afirmaram
cuidar de outras pessoas, como parentes (tio, tia, enteada, enteado),
animais de estimação, pessoas que atende no trabalho, e empregada
doméstica da sua residência.

Do total de mulheres casadas, 64% afirmaram cuidar de alguém


constantemente, sendo que 48,3% afirmaram cuidar do marido, 37,6%
do filho, 33,9% da filha, 29,6% da mãe, 12,2% do pai, 5,2% da sogra, 2,1%
do sogro, 2,2% da esposa, 4,9% do neto, 3,7% da neta, 4,9% da irmã e
3,7% do irmão. Cuidam de outras pessoas 14,4% das mulheres casadas,
que afirmaram cuidar constantemente de animais de estimação,
parentes (avó, cunhado, sobrinho, prima, nora, genro, enteada,
87

sobrinha), pessoas próximas (vizinhos/as, afilhada/o, amigos, familiares


do/a companheiro/a), alunos/as, empregada doméstica, pacientes em
hospital, pessoas desamparadas, cuidam de si mesmas, dos afazeres
domésticos.

Na pergunta sobre quais as tarefas listadas seriam cuidados, os/as


respondentes podiam marcar mais de uma opção. A grande maioria
das alternativas listadas obteve 60% ou mais de resposta como
indicando sim trabalho, com exceção das opções “fazer procedimentos
estéticos (cabelo, pele, unha, depilação, massagem, etc.)”, que 48,5%
de respondentes marcou como sendo atividade de cuidados, 57,6%
marcaram “descansar ao longo do dia”, “plantar ervas medicinais e
alimentos para consumo próprio e familiar” com 55,6% de respondentes,
e “buscar água”, com 50,4% de respondentes. É interessante notar que
as tarefas que tiveram menor adesão estão muito relacionadas ao
próprio cuidado ou mais claramente relacionadas ao bem-estar, com
exceção da tarefa de buscar água que provavelmente não foi entendida
como tarefa de cuidado porque não faz parte do cotidiano da média
das pessoas atingidas pela pesquisa, que possuem água encanada.

Na pergunta sobre quais atividades expressavam, na opinião do/a


respondente, tarefas de cuidados, as seis opções mais selecionadas
por todas as mulheres, sem distinção de raça ou cor foram “preparo
de alimentos/refeições”, “limpeza da casa, decoração e manutenção”,
“alimentar, dar banho, trocar roupa de crianças”, “levar crianças, idosos
ou pessoas com deficiência ao médico”, “alimentar, dar banho, trocar
roupa de idosos ou pessoas com deficiência” e “alimentar o animal
de estimação, passear, levar ao veterinário ou limpar urina e fezes”.
As principais escolhas das referidas tarefas são interessantes, pois
demonstram que, para as mulheres que participaram da pesquisa, os
cuidados envolvem tarefas domésticas, atenção e responsabilidades
88

com crianças, idosos e animais domésticos. É válido chamar atenção


que, dentre as 24 opções discriminadas no formulário, os cuidados com
animais domésticos apareceram como a sexta opção mais escolhida
pelas mulheres, mostrando também a valorização dos cuidados com
outras espécies. E essa inclusão também aparece nos relatórios de
pesquisa do IBGE e de outras pesquisas similares (MORAES et al, 2020,
pp. 171-208).

Júlia (do estado de PE, mulher branca, 49 anos, casada, sem filhos, dona
de casa e estudante de mestrado) respondeu acerca da sua percepção
sobre cuidado, pautada em sua situação atual, como cuidadora de duas
idosas, a mãe e a tia de sua esposa. Segunda ela: “Cuidado é tanta
coisa (risos), cuidado é você... primeiro é você, não é simplesmente você
fazer as coisas. É fazer realmente, na minha concepção, com cuidado,
com cuidado com a saúde, porque não é simplesmente você fazer uma
comida, né, mas você fazer uma comida pensando que aquela comida
precisa dar uma qualidade de vida a pessoa, e ela não pode prejudicar
a saúde. Então tem que ser uma comida sem ser gordura, uma comida
que não contenha sal, então isso requer um, isso requer um cuidado. [...]
Isso requer uma demanda muito grande, porque você precisa planejar e
pensar tudo isso, por exemplo agora eu tô vivendo isso, todo momento
eu vivo isso, eu vivo esse planejar desse cuidado. Toda vez que eu
vou pensar em fazer uma comida, toda vez eu penso em fazer alguma
coisa, eu penso em limpar uma casa, eu penso como, se aquilo vai, o
que é que vai proporcionar bem-estar para essas pessoas que moram
comigo. Porque eu passei anos nesse cuidado, eu era a cuidada né, por
conta de um tratamento de saúde, de doença que eu enfrentei, eu fui
muito cuidada, e a partir desse momento, dessa mudança eu passei a
cuidar né? E o sentimento pra mim foi dar esse retorno, sabe? De dar
esse retorno mesmo sabendo que a gente perdeu a liberdade, mesmo
sabendo que a gente, que a gente não tem mais a mesma rotina, a gente
89

não tem mais o nosso tempo, não é mais o meu tempo, não é mais o
tempo da minha companheira, é o tempo delas”.

Destacamos este depoimento, pois, além de ressaltar o entendimento


acerca do cuidado com a alimentação, assim como aconteceu com a
maioria das pessoas respondentes tanto do questionário on-line quanto
das entrevistadas, Júlia traz a complexidade do cuidado. Ela deixa
claro que não é apenas a alimentação, mas a disposição dos móveis
em casa, além da necessidade de limpeza constante para deixar as
idosas receptoras de seus cuidados confortáveis. Por outro lado, ela
ressalta a carga mental deste trabalho, na medida que é necessário
organizar a sua rotina para efetivar todas as atividades de cuidados
necessários ao longo do dia. A fala dela deixa claro também que o
trabalho dos cuidados inclui também o gerenciamento destas tarefas e
o planejamento sobre como incorporá-las às demais tarefas do seu dia-
a-dia, além de organizar seu tempo para as obrigações do mestrado.
Este depoimento deixa claro a interdependência das pessoas em
relação à necessidade de receber cuidados (OROZCO, 2006). Júlia,
nos últimos dois anos, necessitou de cuidados por questões de saúde,
e hoje, já recuperada, ela se transformou em cuidadora em tempo
quase integral. Vale ainda ressaltar que o caso dela reflete a história
de muitas mulheres lésbicas, que acabam assumindo os cuidados
de pessoas idosas ou enfermas quando os demais membros da
família se eximem deste cuidado com a justificativa que a sua família
(heteronormativa) já lhes toma tempo suficiente.28 São nestas situações
extremas que muitas famílias homoafetivas passam a ser respeitadas

28 Lorena Lima de Moraes e Nathália Nascimento (2020), ao pesquisarem a trajetória


de mulheres rurais solteiras e sem filhos no Nordeste brasileiro, identificaram que estas
mulheres sofrem cobranças sociais até o momento que são vistas como úteis para o
cuidado das pessoas idosas e/ou enfermas e, assim, deixam de ser cobradas por uma
função social de esposa e mãe e passam a ser vistas pelos irmãos e irmãs casados/as, que
não se disponibilizam para esta tarefa, como a melhor alternativa para prover os cuidados
dos familiares dependentes.
90

pelos demais familiares, quando estas pessoas assumem a provisão do


cuidado negada pelos demais membros das famílias.

Carolina (do estado da BA, mulher negra, 39 anos, casada, um filho e


professora universitária) aponta outros elementos para esclarecer sua
compreensão sobre o que são cuidados. Mãe de primeira viagem, ela
inicia seu depoimento referindo-se aos cuidados que direciona para
seu filho, que nasceu durante a pandemia. Assim, ela destaca que
cuidados envolvem tarefas como “marcar médico, saber a data, a hora
do médico certinho, marcar exames. Ver a pele dele como é que tá, os
carocinhos... ver se tem carocinho, ver se tem alguma ferida, coloração”.
Acrescentando em seguida questões relacionadas à sua relação afetiva,
“ver se meu parceiro está bem, né? Emocionalmente, é cuidar da relação
também, né? Tentar conversar, dialogar”. “E no cotidiano, no dia a dia, é
você se preocupar com a comida da casa, né? É... com a limpeza, com a
organização, com a higiene. É... eu acho que brincar também com meu
filho é um tipo de cuidado, né? Porque criança precisa de brincadeira,
de atenção, afeto eu acho que é um tipo de cuidado também, aí você
tá cuidando do emocional das pessoas que estão ao seu redor. Então
acho que cuidado não é só tarefa física, né? Também... Pagar as contas
acho que é um tipo de cuidado também (risada) da manutenção da vida,
né? Da nossa vida assim, nessa sociedade que a gente vive, né? Que
é uma sociedade que exige que você pague coisas para que a gente
sobreviva, né? Que a gente viva. Então é isso... Envolve esses tipos de
tarefas assim”. Pode-se perceber que Carolina hierarquiza suas tarefas
de cuidadora na família, destacando primeiro os cuidados com o filho
de um ano de idade, em seguida os cuidados com a sua relação com o
companheiro e a importância de cuidar do relacionamento, e, em terceiro
lugar, fala sobre os cuidados com a alimentação, que até o momento
era a questão que mais foi lembrada pelas pessoas respondentes do
formulário e das entrevistas. Algo que devemos destacar dos vários
91

depoimentos é que a compreensão sobre o que é cuidado está muito


diretamente ligada às distintas fases da vida dessas pessoas, muito
provavelmente porque cuidados é um termo, um conceito, ainda muito
novo para as pessoas em geral.

Para uma análise sobre qual a percepção das pessoas em relação


às tarefas de cuidado no Brasil, a pesquisa incluiu a pergunta sobre
se as tarefas de cuidados eram ou não consideradas trabalho. Como
resposta, 78,9% das mulheres concordaram que cuidado é sim trabalho,
16,9% não reconheceram estas tarefas como sendo trabalho e 4,2% não
souberam responder. Embora nas entrevistas essa percepção tenha
tido mais nuances. Eduarda (do estado de SC, mulher negra, 39 anos,
casada, 3 filhos e trabalhadora doméstica)29, por exemplo, afirmou que
“Não deixa de ser! Sim é trabalho”. Mas quando perguntada sobre por
que as pessoas não consideram estas tarefas trabalho, argumentou que
é “Porque tu fica em casa. Tu não fez nada”. Já Linda (do estado do RJ,
mulher parda, 47 anos, casada, dois filhos adultos, faxineira) afirma que
“Cuidado é a pessoa ser limpa”. Enquanto que para Joaquim (do estado
de PE, homem branco, 48 anos, casado, sem filhos, fisioterapeuta),
cuidado “É bem-estar físico, social e espiritual”. Uma dubiedade sobre
o que exatamente são os cuidados que aparece em outras respostas.

Ao olharmos para os dados separados por grupos raciais ou cor, entre


as indígenas 92,3% reconheceram estas tarefas como trabalho, 81,8%
das brancas, 77,1% das mulheres pretas, 73,8% das pardas e 64,1% das
amarelas. Ou seja, a grande maioria das mulheres, não importa a raça
ou cor, escolaridade ou renda, reconhece os cuidados como sendo
sim trabalho. A opção de que cuidado não é trabalho foi a escolha
de 28,2% das mulheres amarelas, 22,3% das pardas, 18,3% das pretas,

29 Todos os nomes das pessoas entrevistadas foram substituídos por nomes fantasia, a
fim de garantir a confidencialidade.
92

14,1% das brancas, e as indígenas, com o menor percentual, de 7,7%.


Em relação a “não saber” opinar ou ter dúvida diante da questão, as
indígenas foram as únicas que não escolheram esta opção, conforme
mostra o gráfico 25, abaixo.

GRÁFICO 25: SOBRE SE CUIDADO É OU NÃO TRABALHO


PARA AS MULHERES RESPONDENTES, SEGUNDO RAÇA OU COR

100%

80%

60%

40%

20%

0
MULHERES MULHERES MULHERES MULHERES MULHERES
PRETAS PARDAS BRANCAS AMARELAS INDÍGENAS

SIM NÃO NÃO SEI

Fonte: Pesquisa on-line Cuidados no Brasil e os impactos da Covid-19. Elaboração


própria.

Iracema (do estado do CE, mulher indígena, 51 anos, casada, 4 filhos


e professora) acredita que cuidado “é você cuidar da sua própria
alimentação, é você plantar, você saber de onde é que a sua comida
vem. Por exemplo, nós aqui da zona rural, nós indígenas, nós mesmos
plantamos nossos alimentos, tira do roçado, tira da horta produtiva, do
quintal produtivo, porque a gente teve a consciência de que muitas vezes
a gente cultivando o nosso próprio alimento, né, é cuidado, é cuidar de
nós mesmo”. Na medida em que ela acredita que cuidado é cultivar o
seu próprio alimento, de forma a produzir um alimento mais saudável,
Iracema não tem dúvidas ao afirmar que cuidado é sim um trabalho.
93

Na pergunta sobre se a média das pessoas na sociedade entendem as


tarefas de cuidados como trabalho, 29,4% das mulheres responderam
concordar parcialmente com esta afirmativa, ao mesmo tempo em
que 25% discordaram parcialmente. Esta dúbia percepção também
apareceu nas entrevistas, desde afirmativas do tipo “Não deixa de ser…
Sim, é trabalho”, ao mesmo tempo que afirma “tu ficou em casa não fez
nada”, feitas por Eduarda (do estado de SC, mulher negra, trabalhadora
doméstica, casada, 3 filhos). Lourdes (do estado de BA, mulher parda,
casada, 1 filho, agricultora) caracterizou cuidado como “Quem ama
cuida”.

GRÁFICO 26: MULHERES RESPONDENTES QUE PRESTAM


CUIDADOS, SEGUNDO RAÇA OU COR

MULHERES INDÍGENAS NÃO


SIM

NÃO
MULHERES AMARELAS
SIM

NÃO
MULHERES BRANCAS
SIM

NÃO
MULHERES PARDAS
SIM

NÃO
MULHERES PRETAS SIM

0 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70%

Fonte: Pesquisa on-line Cuidados no Brasil e os impactos da Covid-19. Elaboração


própria.

Corroborando a importância da perspectiva de que cuidar é uma tarefa


realizada por amor, as respostas à pergunta sobre se a sociedade
entende as tarefas listadas como sendo trabalho de cuidados foram
que a maior parte, tanto de mulheres quanto de homens das diferentes
raças ou cores, que todas/os concordavam integral e parcialmente com
a afirmativa. Ou seja, as pessoas, mesmo as que entendem o cuidado
como trabalho, conseguem perceber que esta não é uma questão
94

politicamente resolvida na sociedade como um todo. As pessoas


respondentes deixaram claro que definir cuidado como trabalho ainda
não é senso comum. Um resultado bastante representativo da realidade,
ao mesmo tempo que mostra que já existe um conjunto significativo de
pessoas que percebe a necessidade de se discutir este assunto.

Em relação especificamente às mulheres respondentes com coorte de


raça ou cor, quando perguntadas sobre se cuidavam constantemente
de alguém, responderam afirmativamente 64,5% das mulheres pretas,
56,6% das pardas, 56,4% das amarelas, 53,8% das indígenas e 49,8%
das brancas (gráfico 26).

Na sociedade, estes trabalhos (cuidados ou afazeres domésticos)


assumem as duas formas, como trabalho remunerado ou como trabalho
não remunerado, neste caso exercido por pessoas da família, na sua
maioria por mulheres. Vejam que, surpreendentemente, a maioria das/
os respondentes, 77,2%, não paga pelo serviço de cuidados, com 49,2%
afirmando que cuidavam sozinhos/as e 27,9% que contavam com ajuda
de pessoas da família. Analisando as respostas segundo o sexo, são
as mulheres as principais responsáveis pelos trabalhos dos cuidados.
Dentre as mulheres que cuidam de alguém, a grande maioria, 77,9%
das respondentes não pagam pelo serviço de cuidados, sendo que
50,5% cuidavam sozinhas e 27,5% contavam com ajuda de pessoas da
família. Sabemos que apenas um percentual menor de pessoas tem
condições financeiras para pagar pelo trabalho de cuidados. Parece
que a pesquisa refletiu adequadamente esta realidade sendo que,
dentre as mulheres respondentes, apenas 6,2% contratavam alguém
em tempo integral para realizar o trabalho de cuidado, 11,2% em tempo
parcial e 4,7% apenas esporadicamente. As mulheres pretas são as
que apresentam maior percentual de respondentes que não pagavam
pelo trabalho de cuidado, 91,5%, com 59,9% que faziam o trabalho
95

sozinhas e 31,6% contavam com ajuda de outras pessoas da família.


Apenas 8,5% das mulheres pretas contratavam pessoas, nas diversas
modalidades, para o serviço de cuidados. Dentre as mulheres que
contratavam pelo trabalho de cuidado em tempo integral, destacam-
se as mulheres brancas somando, com 8,5%, enquanto que entre as
indígenas, nenhuma contratava cuidadora em tempo integral (gráfico
27).

Entendendo que todas as pessoas precisam de cuidados em algum


momento ao longo de sua vida, é importante analisar se as pessoas
que dispensam cuidados constantemente aos demais membros da
família de forma não remunerada também são receptoras de cuidados
e quem cuida delas. Neste sentido, identificamos que 61,3% do total
de mulheres respondentes não recebiam cuidados. A análise das
mulheres, segundo os grupos raciais ou de cor, mostrou que as mulheres
amarelas somaram o maior percentual dentre as mulheres que não
recebiam cuidados de ninguém (66,7%); seguidas das mulheres pretas
(63,7%); brancas (61,8%), 61,4% das mulheres indígenas e 59,0% das
pardas. Estes resultados explicitam de forma contundente a desigual
divisão sexual do trabalho de cuidados no interior das famílias,
entendendo-se este como uma tarefa feminina, prestado por amor à
sua família. Estes resultados permitem concluir que as mulheres são
as maiores prestadoras de cuidados a si mesmas, ou seja, elas são as
suas cuidadoras, responsáveis pelo seu autocuidado.

Na sociedade, estes trabalhos (cuidados


ou afazeres domésticos) assumem as duas
formas, como trabalho remunerado ou
como trabalho não remunerado, neste caso
exercido por pessoas da família, na sua
maioria por mulheres.
96

GRÁFICO 27: MULHERES QUE CONTRATAM PESSOAS


PARA OS CUIDADOS, SEGUNDO RAÇA OU COR

70%

60%

50%

40%

30%

20%

10%

0%
MULHERES MULHERES MULHERES MULHERES MULHERES
PRETAS PARDAS BRANCAS AMARELAS INDÍGENAS

NÃO CONTRATO, NÃO CONTRATO, SIM, EM TEMPO SIM, EM TEMPO SIM, ÀS VEZES
CUIDO SOZINHA/O MAS CONTO COM INTEGRAL PARCIAL
AJUDA DE OUTRAS
PESSOAS DA FAMÍLIA

Fonte: Pesquisa on-line Cuidados no Brasil e os impactos da Covid-19. Elaboração


própria.

O marido, em todos os grupos raciais analisados, foi a pessoa que mais


frequentemente recebeu cuidados das mulheres. Os dados com coorte
de raça ou cor mostraram que 30,8% das indígenas dispensavam
cuidados aos maridos, 25,6% das mulheres amarelas; sendo estes
percentuais para pardas, brancas e pretas de 19,1%, 18,2% e 12%,
respectivamente.

Ainda em relação às percepções sobre os cuidados, indagou-se o


que as pessoas faziam para cuidar de si, sendo que nesta questão
as pessoas poderiam escolher mais de uma opção. As opções com
o maior percentual de resposta foram “procuro manter alimentação
saudável” (73,8%), seguida de “pratico exercícios físicos (59,7%),
“procurar pessoas de confiança para conversar” (53,5%), e “tomo
97
medicamentos” (50,4%), todas com uma preferência maior que 50,0%
das pessoas respondentes. E dentre as opções alternativas estão
ler, fazer terapia, usar tratamentos alternativos (acupuntura, yoga),
estudar algo de interesse (música, canto). De forma geral, as pessoas
que participaram da pesquisa entenderam cuidar de si mesmas como
fazer algo que mantenha seu corpo mais saudável ou curado. Com
percentuais maiores que 37%, elas responderam que procuraram
assistência médica frequente ou pelo menos uma vez ao ano, e muitas
incluíram as opções relativas a cuidar da mente, como uso de terapias e
fazer coisas prazerosas. Dentre as entrevistas, a noção de autocuidado
relacionada com a alimentação também foi predominante, inclusive
para Carmen (do estado de PE, mulher trans, negra, 25 anos, solteira,
sem filhos e estudante). Ela nunca havia priorizado a alimentação
como um cuidado, até este momento, quando está em pleno processo
de terapia hormonal, tornando-se consciente do papel fundamental
de uma boa alimentação nesse momento. Assim, o cuidado com a
alimentação aparece como prioridade em sua ideia de autocuidado.

Analisando-se os resultados para o grupo das mulheres respondentes,


a manutenção de uma alimentação saudável foi a opção mais escolhida
(74,5%), estando em conformidade com a opção mais escolhida
(preparo de alimentos ou refeições, 94%) para designar atividades que
expressavam tarefas de cuidado. E, do grupo das mulheres segundo
raça ou cor, em todos os grupos a opção manter alimentação saudável
foi a mais escolhida, apesar de outras opções ganharem destaque,
como procurar pessoas de confiança para conversar e praticar
exercícios físicos, além de tomar medicamentos e buscar assistência
médica. Aparentemente, o diferencial nas formas de autocuidado pode
ser consequência de fatores como condições financeiras, limitação
(pobreza) de tempo, residir distante de locais propícios para exercícios
físicos, etc. É válido destacar também que a opção menos escolhida em
todos os grupos de mulheres é “faço terapia”.
OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO
BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDA-
DOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS
CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL
• OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO
BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDA-
DOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS
CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL
• OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO
BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDA-
DOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS
CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL
• OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO
BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDA-

3.
DOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS
CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL
• OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO
As
BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDA-
DOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS

consequências
CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL
• OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO
BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDA-

da pandemia de
DOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS
CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL
• OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO
Covid-19
BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDA-
DOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS
CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL
• OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO
BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDA-
DOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS
CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL
• OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO
BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDA-
DOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS
CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL
• OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO
BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDA-
DOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS
CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL
99

3. As consequências da
pandemia de Covid-19, o
fechamento da economia
e o isolamento social
sobre os rendimentos dos/
as respondentes
Nos primeiros meses da pandemia no Brasil, quando não havia vacinas
para evitar a doença, a única alternativa para combater a disseminação
do vírus e redução da mortalidade era, assim como no resto do mundo,
reduzir a circulação de pessoas e decretar o fechamento das atividades
econômicas não essenciais. Os dados resultantes da pesquisa (gráfico
28) mostram como a pandemia afetou diretamente a vida das pessoas.
Dentre as pessoas respondentes, 34,2% teve alguma redução da renda
mensal pessoal e 64,2% tiveram algum problema em decorrência da
paralisação e fechamento dos negócios e dos postos de trabalho.

A pandemia de Covid-19 provocou redução da renda individual de


40,6% das mulheres com filhos/as menores de 14 anos e 43,9% dos
homens na mesma condição, um percentual bastante alto, apesar de
cerca de 54% das mulheres e homens deste grupo não terem sofrido
100

impacto em suas rendas. Neste grupo, os motivos para a redução na


renda mais comumente relatados foram: ficaram temporariamente sem
renda (15,8% das mulheres e 10,9% dos homens); demissão (14,6% das
mulheres e 13,0% dos homens); redução temporária de salário (13,9%
das mulheres, 19,6% dos homens); já retomou parcialmente o trabalho
de forma remunerada (10,3% das mulheres e 10,9% dos homens) e
48,5% das mulheres e 41,3% dos homens relataram “outros” motivos
como redução de clientes ou pacientes ou não reajuste de salário.

GRÁFICO 28: MOTIVOS APONTADOS PELOS/AS


RESPONDENTES PARA A REDUÇÃO DA RENDA EM RAZÃO
DA PANDEMIA DE COVID-19

EMPRESA FECHOU
DEFINITIVAMENTE
1,7%

SAIU DO EMPREGO PARA CUIDAR


DA FAMÍLIA DURANTE O LOCKDOWN 2,6%

FICOU UM TEMPO FORA DO


TRABALHO, MAS JÁ RETORNOU 6,4%

RETORNOU PARCIALMENTE
AO TRABALHO
10,9%

FOI DEMITIDO/A 12,2%

TEVE REDUÇÃO TEMPORÁRIA


DE SALÁRIO 14,2%

FICOU TEMPORARIAMENTE
SEM RENDA
16,2%

0 10% 20%

Fonte: Pesquisa on-line Cuidados no Brasil e os impactos da Covid-19. Elaboração


própria.
101
Através das entrevistas foi possível descortinar outras questões que
estavam além das opções fornecidas inicialmente pelo formulário,
como no caso de Mônica (do estado do RJ, mulher negra, 40 anos,
casada, uma filha e podóloga), que afirmou que “trabalhava muito,
muito, porque a minha carga horária era bem pesada, apesar de eu
ter uma folga no meio da semana, uma no domingo e uma na quarta,
eu ficava lá de nove da manhã e ficava até às dezenove horas, então
era uma carga horária extensa”. Com a pandemia, a carga horária foi
reduzida, porque a maioria das suas clientes eram idosas, mas isso
também causou redução de sua renda. Ainda assim, Mônica percebeu
essa mudança na sua rotina de trabalho como algo positivo, porque
a possibilitou dedicar mais atenção à filha adolescente, além de tê-la
permitido voltar a estudar. Clarice (do estado do RJ, mulher branca, 62
anos, solteira, sem filhos e funcionária pública) destacou que a redução
na sua renda se deu por dois motivos. Primeiro, porque ela perdeu o
auxílio transporte que recebia quando trabalhava presencialmente,
uma vez que, por conta da idade, teve que ficar em trabalho remoto. E,
segundo, pelo fato de ter perdido o bônus produtividade, um percentual
acrescido ao salário mensal correspondente ao volume de trabalho do
período. Como ela passou a ser menos demandada no trabalho remoto,
chegou a perder até 15% de rendimento comparativamente ao salário
médio percebido antes da pandemia.

3.1 Dificuldades para realização dos


trabalhos remotos

No período de distanciamento social e lockdown no Brasil, várias


funções puderam ser realizadas de forma remota e, neste caso, as
pessoas continuaram a trabalhar mais ou menos no mesmo ritmo,
dependendo do tipo de atividade que exerciam ou da maior ou menor
dificuldade de realizar as tarefas remotamente. A pesquisa incorporou
102

perguntas especificamente relacionadas ao trabalho remoto e


às possíveis dificuldades de sua realização. Dentre as pessoas
respondentes, 70,8% realizaram trabalho remoto e apenas 28,2% não
tiveram nenhum problema com a realização desse tipo de trabalho,
apesar de a maioria das pessoas respondentes estarem nas faixas de
renda mais altas definidas no questionário (gráfico 29).

GRÁFICO 29: DIFICULDADES PARA REALIZAÇÃO DO


TRABALHO REMOTO RELATADAS PELOS/AS RESPONDENTES

NÃO DISPÕE DE COMPUTADOR/TABLET


COM CÂMERA PARA USO EXCLUSIVO 3,6%

NÃO DISPÕE DE COMPUTADOR/TABLET


COM CÂMERA PARA USO EXCLUSIVO
4,3%

NÃO TEM CONEXÃO COM UMA


REDE DE INTERNET EFICIENTE
10,6%

NÃO DISPÕE DE ESPAÇO


APROPRIADO PARA TRABALHAR 23,2%
EM CASA

NÃO TEVE DIFICULDADES 28,2%

DIVIDIU O TEMPO ENTRE TRABALHO


REMUNERADO E TAREFAS 65,8%
DOMÉSTICAS E DE CUIDADOS

0 20% 40% 60% 80%

Fonte: Pesquisa on-line Cuidados no Brasil e os impactos da Covid-19. Elaboração


própria.

Dentre as/os respondentes, um alto percentual de respondentes, 65,8%,


afirmaram ter tido que dividir seu tempo entre trabalho remunerado e
tarefas domésticas e de cuidados ao longo dos mais de 18 meses que
se convive com a pandemia, o que talvez leve a uma nova percepção
da importância dos cuidados (gráfico 28).

Carolina (do estado da BA, mulher negra, 39 anos, casada, um filho


103

e professora universitária) apontou outros fatores que dificultaram a


execução do trabalho remoto: “Eu, além disso tudo, eu estava grávida.
Então, eu não tinha muita concentração pra fazer as coisas, tinha muita
sonolência, então foi difícil utilizar o ambiente doméstico para o trabalho
remunerado assim... Sabe? Porque esse ambiente doméstico para o
trabalho remunerado eu utilizava algumas vezes a noite, mas era bem
raramente porque como eu já ficava na universidade entre nove, dez
horas por dia, né? Às vezes até doze horas eu ficava no trabalho. Então
ter essa rotina em casa foi bastante difícil”. Clarice (do estado do RJ,
mulher branca, 62 anos, solteira, sem filhos e funcionária pública), por
sua vez, destacou que antes da pandemia não tinha wi-fi em casa e que
precisou contratar o serviço, o que significou um custo a mais para ela.
Ela reclamou também da organização ou da falta dela na cobrança dos
prazos para cumprir as demandas de trabalho, tendo percebido que no
período de trabalho remoto havia menos organização, sendo os prazos
mais curtos e as metas mais imediatas, o que a deixava exausta. “Então
isso me desregulou muito, muito, muito. Isso mexe muito comigo, ainda
mais eu que sou toda certinha pra fazer as coisas, né.”

Para as pessoas com filhos/as menores de 14 anos, a pandemia


reconfigurou os espaços, fazendo com que a casa se tornasse espaço
de convivência, de cuidados, de trabalho remunerado e de aprendizado
e cuidado das crianças. Dentre as mulheres com filhos/as menores que
14 anos, 73% afirmaram estar em trabalho remoto, sendo que apenas
9,8% relataram não ter tido qualquer dificuldade. Já com relação às
mulheres que declararam ter tido alguma dificuldade com este tipo de
arranjo, as mais comuns foram precisar dividir o tempo destinado ao
trabalho remunerado com os afazeres domésticos e os cuidados (85%);
não dispor de espaço apropriado para trabalhar em casa (32,9%); não
ter computador, tablet ou laptop para uso exclusivo (6,2%) ou este
não ter câmera (6,2%); não ter acesso à internet de qualidade em sua
104

residência (10,4%); e 8,1% declararam outros motivos, dentre eles o


trabalho de cuidados e a necessidade de cuidar de crianças durante o
horário de expediente do trabalho remunerado. Este motivo poderia ser
contemplado na primeira opção do questionário. Contudo, dez mulheres
dentre as 25 que optaram por especificar outros motivos reforçaram
que a presença dos filhos/as no mesmo espaço onde elas estavam
desenvolvendo seu trabalho remunerado interferiu sobremaneira na
qualidade do mesmo.

Florência (do DF, mulher parda, 36 anos, casada, 2 filhos e enfermeira)


esteve em trabalho remoto porque estava grávida, tendo trabalhado na
linha de frente da Covid-19 antes de descobrir a gravidez. Para ela, o
trabalho remoto foi de certa maneira positivo, ainda que ela não deixe
de ressaltar a dificuldade de conciliar o trabalho com os cuidados com
o filho. “Era bem mais tranquilo do que na assistência, né? Com certeza
era, mas assim, ainda tinha um fator um pouco estressante … Eu tinha que
fazer o meu trabalho remunerado em casa com uma criança pequena,
porque na época ele tinha quatro anos, então foi mais tranquilo do que
na assistência. Mas, ainda teve esse estressezinho né, porque em um
momento do dia o meu marido estava trabalhando e eu tinha que ficar
sozinha com a criança e dar conta de fazer o teletrabalho, né?”

Em relação aos homens com filhos/as menores de 14 anos, 79,2%


afirmaram ter realizado trabalho remoto durante a pandemia. Sobre
enfrentar dificuldades para trabalhar remotamente, 19% declararam
que não tiveram qualquer dificuldade, um percentual bem superior ao
de mulheres na mesma condição. E, dentre os homens com filhos/as
menores de 14 anos e que relataram ter tido alguma dificuldade para
realizar o trabalho remoto, os motivos mais comumente indicados
foram a necessidade de dividir o tempo entre o trabalho remunerado
e as tarefas domésticas e de cuidados (76,2%); ausência de espaço
105
apropriado para trabalhar em casa (41,7%); ausência de computador,
tablet ou laptop para seu uso exclusivo (9,5%); ausência de computador,
tablet ou laptop com câmera para seu uso exclusivo (4,8%); falta de
acesso à internet de qualidade em sua residência (6%); e 6% declararam
outros motivos, dentre eles nenhum relacionado às tarefas domésticas
ou de cuidados, como destacaram as mulheres.

Quando observamos os dados das mulheres segundo os grupos de


raça ou cor, em todos os grupos a necessidade de dividir o tempo entre
trabalho remunerado e tarefas domésticas e de cuidados se apresentou
como principal razão da dificuldade em realizar o trabalho remoto, com
percentuais superiores a 68%. Algumas diferenças aparecem quando
observamos as demais opções escolhidas, pois dentre os grupos
raciais a opção “não tive dificuldades” aparece como a segunda opção
para mulheres brancas e indígenas. Já a opção que afirma não dispor
de espaço apropriado para o trabalho remoto foi a segunda mais
selecionada entre as mulheres pretas, pardas e amarelas.

Iracema (do estado do CE, mulher indígena, 51 anos, casada, 4 filhos e


professora) relatou que durante a pandemia, na condição de trabalho
remoto, passou a trabalhar muito mais do que antes, apontando a
sobrecarga do trabalho produtivo e reprodutivo que duplicaram.
“Meu trabalho era oito horas, oito horas por dia, né? Você saia de sete
horas pra escola e voltava à tarde. Era uma rotina de oito, oito horas
de trabalho. [...] Devido a gente trabalhar virtualmente, aumentou nossa
jornada porque a gente trabalhava quase, bendizer, o dia todo, né? Era a
aula remota, né? Observação das professoras remota, tudo, tudo remoto
e aí, a gente fica quase que ao invés de oito horas, a gente ficava doze
horas, né? Porque era aula remota, planejamento remoto, tudo então
dobrou e, além disso, a gente ainda além de tá trabalhando na escola,
ainda tinha os afazeres domésticos né, pelo fato de tá trabalhando na
nossa casa a gente ainda dobrava mais, né?”
106

3.2 Dificuldades financeiras durante o


período de pandemia de Covid-19 relatadas
pelos/as respondentes

Completando esta apresentação dos resultados da pesquisa, em


relação à pergunta sobre se as pessoas respondentes tiveram alguma
dificuldade financeira em decorrência da pandemia (gráfico 30), o
resultado foi que 74,7% das pessoas respondentes declararam não ter
tido qualquer dificuldade, um resultado coerente com o fato de uma
parcela importante dos/as respondentes terem renda continuada, por
serem ou funcionários públicos (26,5%) ou aposentados (19,1%). Já em
relação às pessoas que relataram terem tido alguma dificuldade em
pagar suas contas, as opções mais comumente escolhidas foram pagar
contas de água, luz e gás (17,3%), comprar alimentos (13,4%), comprar
medicamentos (10,2%), material de limpeza (7,8%) e pagar aluguel
(6,6%). Estes resultados já sinalizavam o impacto sobre a renda real e
as dificuldades relacionadas ao aumento de preços da energia elétrica
em decorrência da crise hídrica, dos alimentos e dos combustíveis a
partir da política de preços praticada pela Petrobras.

Os dados (PNAD, IBGE) mostram que a


pandemia provocou impacto financeiro
significativo nos rendimentos de milhares
de famílias, mas o público que nossas redes
atingiram teve este impacto minimizado
devido às suas relações de trabalho e à
estabilidade garantida pela Constituição
Federal de 1988.
107

GRÁFICO 30:DIFICULDADES FINANCEIRAS RELATADAS


PELOS/AS RESPONDENTES EM RAZÃO DA PANDEMIA

DIFICULDADE PARA
PAGAR ALUGUEL 6,6%

DIFICULDADE PARA COMPRAR


MATERIAL DE LIMPEZA
7,8%

DIFICULDADE PARA
COMPRAR MEDICAMENTOS
10,3%

DIFICULDADE PARA
COMPRAR ALIMENTOS
13,4%

DIFICULDADES PARA PAGAR


CONTAS DE LUZ, ÁGUA E GÁS
17,3%

NÃO TEVE DIFICULDADES 74,7%

0 20% 40% 60% 80%

Fonte: Pesquisa on-line Cuidados no Brasil e os impactos da Covid-19. Elaboração


própria.

Quanto à interferência na organização orçamentária familiar das


pessoas com filhos/as menores de 14 anos, 61,2% das mulheres
nesta condição relataram não ter tido qualquer dificuldade, contra
um percentual bem maior dos homens, 79,4%, na mesma situação.
Dentre as mulheres que relataram ter tido alguma dificuldade, as
mais comumente relatadas foram dificuldade para pagar as contas
de luz, água e gás (27,8%); comprar alimentos (21,7%); medicamentos
(16,1%); material de limpeza (13,9%); e pagar aluguel (10,7%). Já dentre
os homens, as principais dificuldades relatadas foram similares, porém
com percentuais menores que das mulheres, sendo que 15,9% deles
tiveram dificuldades para pagar luz, água e gás, 8,4% para comprar
medicamentos, alimentos (7,5%), material de limpeza (4,7%) e pagar
aluguel (3,7%). Esclarecemos que a questão permitia múltiplas opções.
108

Analisando-se os dados das mulheres respondentes segundo raça e


cor (gráfico 30), as brancas tiveram o maior percentual de respondentes
(81,8%) que declararam não ter tido dificuldade financeira, seguidas das
mulheres pardas (65,7%), amarelas (60,0%), pretas (54,8%) e indígenas
(46,2%), um resultado que é coerente com o retrato da desigualdade no
Brasil (gráfico 31).

Os dados (PNAD, IBGE) mostram que a pandemia provocou impacto


financeiro significativo nos rendimentos de milhares de famílias, mas
o público que nossas redes atingiram teve este impacto minimizado
devido às suas relações de trabalho e à estabilidade garantida pela
Constituição Federal de 1988.

GRÁFICO 31: MULHERES RESPONDENTES CUJA RENDA


INDIVIDUAL SOFREU VARIAÇÃO DURANTE A PANDEMIA
DE COVID-19, SEGUNDO RAÇA OU COR

70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0
MULHERES MULHERES MULHERES MULHERES MULHERES
PRETAS PARDAS BRANCAS AMARELAS INDÍGENAS

SIM NÃO NÃO TENHO RENDA

Fonte: Pesquisa on-line Cuidados no Brasil e os impactos da Covid-19. Elaboração


própria.
109

3.3 O viver na pandemia: afazeres


domésticos e cuidados

O isolamento social e o fechamento da economia obrigaram as famílias


a internalizar todas as tarefas domésticas e de cuidados necessárias
para garantir o bem-estar de seus membros. Para as famílias que
usavam apoios para estas tarefas, seja contratando pessoas para o
trabalho de cuidados, seja usando empresas ou serviços públicos,
como creches e escolas, a mudança foi mais drástica. Estas tarefas
tiveram que ser distribuídas entre as pessoas da família. Mas, como já
discutido no início deste trabalho, histórica e culturalmente tais tarefas
recaem sobre as mulheres.

Dado que as mulheres são a maioria das respondentes, não surpreende


que entre 25% e 35% das pessoas tenham afirmado que já faziam, antes
da pandemia, uma ou mais das tarefas domésticas listadas. Porém,
um dado que se destaca nas respostas apresentadas no gráfico 31, é
que 37,5% das pessoas respondentes de ambos os sexos afirmaram
que contavam com a ajuda30 do marido ou companheiro, percentual
maior que o de pessoas que contam com trabalhadoras domésticas
(27,3%), uma opção mais de acordo com o tradicional padrão brasileiro,
e 19,4% declararam que recebiam ajuda da mãe. Ou seja, apesar da
colaboração do marido ou companheiro, são as mães e trabalhadoras
domésticas (46,7%) quem compartilham o trabalho doméstico e de
cuidados não remunerado com as mulheres.

30 O termo ajuda é por vezes problematizado, uma vez que quem ajuda não se
responsabiliza pela execução das tarefas, apenas auxilia a pessoa que tem a
responsabilidade. Neste sentido, entendemos que o termo ajuda se enquadra bem para a
questão que queremos retratar.
110

GRÁFICO 32: DE QUEM O/A RESPONDENTE RECEBE


AJUDA PARA AS TAREFAS DOMÉSTICAS

MARIDO/COMPANHEIRO 37,5%

TRABALHADOR/A DOMÉSTICO/A 27,3%

MÃE 19,4%

ESPOSA/COMPANHEIRA 17,6%

FILHA 14,6%

FILHO 13,0%

IRMÃ 7,3%

PAI 5,6%

IRMÃO 4,06%

NORA 0,9%

0 10% 20% 30% 40%

Fonte: Pesquisa on-line Cuidados no Brasil e os impactos da Covid-19. Elaboração


própria.

Para a grande maioria de mulheres com crianças abaixo de 14 anos


aumentou a frequência das tarefas domésticas, nestes meses, como
também para 84,5% delas o tempo gasto para limpeza e arrumação
da casa; lavar louça (80%); preparo de alimentos (78,2%) e lavar roupa
(68,4%). É válido destacar que 5,7% das respondentes alegaram ter
diminuído o tempo dedicado à lavagem de roupas, possivelmente
porque a circulação de pessoas na cidade diminuiu, logo o gasto
com roupas também, além das crianças que deixaram de frequentar a
escola devido às recomendações de distanciamento social. O grande
percentual de mulheres indicando o aumento de tempo gasto com a
limpeza da casa pode estar relacionado à necessidade de higienização
por causa dos riscos que o vírus oferece. Esta tarefa foi a mais citada
não só pelas mulheres com crianças menores de 14 anos, como por
todas as pessoas respondentes.
111

A distribuição do tempo gasto em tarefas domésticas para os homens


com crianças menores foi semelhante à das mulheres, porém com
percentuais bem menores. Também neste caso 6,0% deles declararam
que o tempo destinado a lavar a roupa diminuiu. A maioria relatou
aumento do tempo gasto em limpeza e arrumação da casa (63,2%), lavar
louça (63%); preparo de alimentos (60,5%), e lavar roupa (36%), enquanto
que 40,0% relatou que o tempo para lavar roupa se manteve igual.
Podemos deduzir que lavar roupa não é uma tarefa tradicionalmente
masculina e tampouco tem sido realizada na contemporaneidade pelos
homens que têm assumido a realização das tarefas domésticas em
seus lares, ou mesmo os que moram sozinhos.

Como as pessoas tiveram que dividir seu tempo entre trabalho


remunerado e os afazeres domésticos e os cuidados, perguntamos se
tais responsabilidades impediram ou dificultaram a realização do seu
trabalho remunerado. Mesmo alegando que as tarefas domésticas e de
cuidados aumentaram, que tiveram que conciliar trabalho remunerado
e não remunerado em sua rotina, 63,3% afirmaram que isso não chegou
a impedir ou dificultar a realização dos trabalhos. Dentre aquelas que
sentiram o aumento do trabalho doméstico e de cuidados durante a
pandemia influenciando o rendimento do seu trabalho remunerado,
o maior percentual foi entre as mulheres pretas (47,3%), quando
comparadas às mulheres dentro dos seus grupos raciais ou de cor;
contra 35,4% das pardas; 35,5% das brancas; 29,7% das amarelas e
7,7% das mulheres indígenas.

Durante a pandemia, a maioria (71,3%) das nossas respondentes não


necessitaram reduzir as horas dedicadas ao seu trabalho remunerado
para cuidar de alguma pessoa da família, enquanto que 28,7%
alegaram precisar reduzir as horas de trabalho remunerado durante a
pandemia para exercer trabalhos de cuidados. Nos grupos de mulheres
112

separados por raça ou cor, destacam-se as mulheres pretas, em que


15,3% delas precisaram alterar a sua rotina para cuidados dos filhos/as;
12,2% precisaram cuidar de idosos da família; 1,2% dedicam mais horas
de cuidados às pessoas com deficiência da família na pandemia e 9%
cuidaram de “outros”.

Uma vez reduzidas as horas destinadas ao trabalho remunerado


para dedicar-se aos cuidados, 33% das mulheres afirmaram que o
seu rendimento caiu devido este motivo, enquanto que dentre as
mulheres observadas por grupos de raça ou cor, as mulheres brancas
apresentaram o menor percentual (29,9%) comparativamente aos
demais grupos de mulheres que sofreram tal impacto. Já o maior
percentual foi apresentado pelas mulheres indígenas, com 50%.

Durante a realização da pesquisa, 65,6% das mulheres respondentes


afirmaram não ter passado a cuidar de alguém que ela já não cuidasse
antes da pandemia de Covid-19. No entanto, as demais mulheres
(34,4%) que passaram a cuidar de mais alguém citaram mais de uma
pessoa e a mais referenciada foi a mãe, seguida da opção “outro” e, em
terceiro lugar, o pai. Entre as pessoas que optaram pela opção “outro”
destacaram-se idoso(s) da família, com 23% das citações; sobrinho(a),
com 16%; amigo(a), com 14%; passou a fazer trabalho voluntário ou
assistencialista, 12%; enteado(a), com 5%; idoso(a) não familiar, com
4%; animais de estimação, companheiro(a), familiar de companheiro(a)
ou de ex-companheiro(a) e vizinho(a) tiveram 3% das citações. Já
afilhado(a), ex-companheiro(a), neto(a), genro ou nora e pessoas no
local de trabalho tiveram 2% das citações. E com 1% das citações
ficaram padrasto ou madrasta, empregada doméstica, irmãos, filhos,
filha de amiga e a própria saúde.
113

3.4 Tempo dispensado aos cuidados de


crianças na pandemia

A tabela 2 explicita a dura realidade das famílias neste período de


pandemia, com as creches e escolas fechadas e a modalidade de
ensino remoto, observa-se que as mulheres, como também os homens
participaram dos cuidados. Desta forma, temos 79,3% de respondentes
(mulheres e homens) que declararam que brincaram e jogaram com
suas crianças e 79,0% que acompanharam os estudos remotos de seus
filhos.

Tabela 2: Percentual de respondentes que relataram ter


variação do tempo dispensado aos cuidados de crianças na
pandemia

Tarefa Aumentou Diminuiu Igual Não realiza


a atividade
Acompanhamento 79,0 2,5 9,1 9,3
em atividades
educacionais

Atividades recreativas 72,2 11,8 12,4 3,7


com as crianças
(brincar, jogar)

Tomar conta de criança 79,3 1,4 15,9 3,5

Fonte: Pesquisa on-line Cuidados no Brasil e os impactos da Covid-19. Elaboração própria.

Já em relação ao tempo de trabalho despendido com as crianças pelas


pessoas com filhos menores de 14 anos, apresentamos três atividades
a fim de investigar se o tempo de sua realização aumentou, diminuiu
ou se manteve igual. As três atividades indicadas foram apontadas
com tendo o tempo necessário para sua realização aumentado,
como tomar conta da criança (para 82,1% das mulheres e 69,8% dos
homens); acompanhamento em atividades educacionais, aumentou o
114

tempo para 81,8% das mulheres e para 69,8% dos homens; e atividades
recreativas com as crianças, tais como brincar e jogar, aumentou para
73,7% das mulheres e 67,9% dos homens. Percebemos que o aumento
do tempo junto às crianças foi uma realidade tanto para homens como
para as mulheres com filhos/as abaixo de 14 anos, porém, a distinção
das respostas por gênero se justifica pelo fato de que o percentual
dos homens que declararam que o tempo disponibilizado para as
atividades elencadas se manteve igual durante a pandemia foi de
26,4% para a atividade de tomar conta de crianças; de 21,7% para
atividades recreativas com as crianças, como brincar ou jogar; e de
17,9% para o acompanhamento em atividades educacionais.

3.5 Dificuldade no ensino remoto

O gráfico 33 apresenta as opções escolhidas como representativas das


dificuldades que as pessoas tiveram ao longo destes meses pandêmicos
para acompanharem seus filhos/as no ensino remoto. Embora tenhamos
35,9% de respondentes que declararam que não tiveram problemas,
quase a mesma proporção, 31,5%, relataram que não dispunham de
espaço adequado para que as crianças estudassem adequadamente.
Isso pode significar que não havia computador no quarto das crianças
ou que o computador da casa precisa ser compartilhado com outras
pessoas da família.

Percebemos que o aumento do tempo junto


às crianças foi uma realidade tanto para
homens como para as mulheres com filhos/
as abaixo de 14 anos (...).
115

GRÁFICO 33: DIFICULDADES COM O ENSINO REMOTO


RELATADAS PELOS/AS RESPONDENTES

NÃO TEM CONEXÃO COM


2,5%
A INTERNET

NÃO DISPÕE DE COMPUTADOR/


6,1%
TABLET COM CÂMERA

NÃO TEM CONEXÃO COM


10,3%
INTERNET EFICIENTE

NÃO DISPÕE DE COMPUTADOR/


10,8%
TABLET OU LAPTOP

NÃO DISPÕE DE ESPAÇO


ADEQUADO PARA AS CRIANÇAS 31,5%
ESTUDAREM

NÃO TEVE DIFICULDADES 35,9%

0 10% 20% 30% 40%


Fonte: Pesquisa on-line Cuidados no Brasil e os impactos da Covid-19. Elaboração
própria.

Do conjunto de mulheres que tinham filhos/as menores de 14 anos e que


relataram que tiveram aumento de tempo relacionado às demandas
das crianças, 80,2% estavam com filhos/as em ensino remoto, enquanto
que isto foi relatado por 81,7% dos homens na mesma situação. Das
mulheres desse conjunto, 34,2% relataram que não tiveram dificuldades
com o ensino remoto das crianças menores de 14 anos. Já dentre as
que relataram terem tido dificuldades, quase o mesmo percentual de
mulheres, 33,2%, relatou falta de espaço adequado para as crianças
estudarem em casa; 11,5% não dispunham de computador ou laptop;
10,6% não possuíam internet com velocidade eficiente; 6,2% não
tinham computador ou laptop com câmera e 32,9% indicaram outras
dificuldades, sendo as mais recorrentes: dificuldades de adaptação
das crianças ao ensino remoto; falta de tempo para acompanhar as
116

atividades dos/as filhos/as; falta de métodos didáticos e domínio dos


conteúdos por parte das mães e falta de tecnologias no computador ou
celulares para a criança usar.

Dentre os homens com crianças menores de 14 anos, 42,4% afirmaram


não ter encontrado dificuldades em relação ao ensino remoto dos/
as filhos/as e, do conjunto de homens que relataram dificuldades,
destacaram falta de espaço adequado para as crianças estudarem em
casa, com 24,7% dos respondentes; 9,4% não possuíam internet com
velocidade eficiente; 8,2% não dispunham de computador ou laptop;
5,9% não dispunham de computador ou laptop com câmera e 23,5%
relataram outras dificuldades, sendo as mais recorrentes: dificuldades
de adaptação das crianças ao ensino remoto; falta de tempo para
acompanhar as atividades dos/as filhos/as (gráfico 33a e 33b).

GRÁFICO 33A: SOBRE SE CUIDADO É OU NÃO TRABALHO


PARA AS MULHERES, SEGUNDO RAÇA OU COR

100%

80%

60%

40%

20%

0
MULHERES MULHERES MULHERES MULHERES MULHERES
PRETAS PARDAS BRANCAS AMARELAS INDÍGENAS

SIM NÃO NÃO SEI

Fonte: Pesquisa on-line Cuidados no Brasil e os impactos da Covid-19. Elaboração


própria.
117

GRÁFICO 33B: MULHERES: TEMPO GASTO NOS CUIDADOS


DE FILHOS/AS MENORES DE 14 ANOS DURANTE
A PANDEMIA DE COVID-19

90%

60%

30%

0
ACOMPANHAMENTO ATIVIDADES “TOMAR CONTA”
EM ATIVIDADES RECREATIVAS DA CRIANÇA
EDUCACIONAIS COM AS CRIANÇAS

AUMENTOU DIMINUIU SE MANTEVE IGUAL NÃO REALIZO ESSA ATIVIDADE

Fonte: Pesquisa on-line Cuidados no Brasil e os impactos da Covid-19. Elaboração


própria.

3.6 Dificuldade relatadas pelos/as


respondentes para conciliar emprego e
família durante a pandemia

Os gráficos 34 e 35 revelam o lado dramático da pandemia para as mães


trabalhadoras brasileiras. Os dados do gráfico 34 mostram que 56,5%
das pessoas respondentes declararam que estavam desempregadas,
sendo que entre as mulheres este percentual foi de 8,9% e entre os
homens de 5,6%. Estes dados não mostram um cenário muito diverso do
esperado porque historicamente as mulheres têm taxas de desemprego
mais altas que os homens. A diferença é que a pandemia pode ter
exacerbado este quadro, contribuindo para acentuar a desigualdade
de gênero, em função da intensificação do trabalho doméstico e das
118

atividades de cuidados realizadas internamente pelas famílias. O


gráfico 35 mostra que apesar de 73,5% das pessoas respondentes
terem declarado que não precisaram reduzir suas horas de trabalho
remunerado, dentre as que precisaram reduzir, a maior parte, 10,7%,
afirmou que foi necessário reduzir suas horas de trabalho para cuidar
dos/as filhos/as, e 9,6% para cuidar de outras pessoas da família.

GRÁFICO 34: TEMPO QUE O/A RESPONDENTE PERMANECEU


FORA DO EMPREGO PARA CUIDAR DAS CRIANÇAS,
NO PERÍODO DA PANDEMIA

AINDA ESTÁ DESEMPREGADO/A

10 MESES - 1 ANO

4-6 MESES

MAIS DE 1 ANO

7-9 MESES

1-3 MESES
31,5%

0 20% 40% 60%


Fonte: Pesquisa on-line Cuidados no Brasil e os impactos da Covid-19. Elaboração
própria.

No caso das pessoas com filhos/as menores de 14 anos, apesar


do aumento da demanda de cuidados com as crianças, isso não foi
suficiente para que um percentual grande de mulheres respondentes
tivesse que deixar o emprego, até porque muitas delas são funcionárias
públicas e ficaram em trabalho remoto. Das pessoas com filhos/as
menores de 14 anos, 8,9% das mulheres relataram que tiveram que
deixar temporariamente o emprego, contra 5,6% dos homens. Em
relação ao tempo que permaneceram fora do emprego, 12,5% delas
permaneceram de 4 a 6 meses e o mesmo percentual de 10 meses a um
119

ano. Mas o percentual mais impactante é que 62,5% delas permaneciam


desempregadas. Para os homens na mesma situação, dentre os que
tiveram que sair do emprego, 33,3% permaneceu entre 7 e 9 meses
fora do emprego e com o mesmo percentual, de 16,7%, os homens que
relataram que ficaram desempregados de 10 meses a um ano, mais
de um ano e os que ainda estavam desempregados. A se destacar
que o percentual de homens que ainda estavam desempregados
no momento da pesquisa foi bem inferior ao de mulheres na mesma
situação. A pesquisa, com estes resultados, mostrou comportamento
dos/as respondentes bastante semelhantes com o comportamento
do mercado de trabalho, como mostram os dados para o Brasil (IBGE,
PNAD Covid-19), como relatado para outros países e como comentado
na primeira parte deste trabalho.

GRÁFICO 35: MOTIVOS DE REDUÇÃO DE HORAS DE TRABALHO


REMUNERADO RELATADOS PELOS/AS RESPONDENTES
NO PERÍODO DA PANDEMIA

NÃO PRECISOU REDUZIR HORAS 73,5%


DE TRABALHO REMUNERADO

PARA CUIDAR 10,7%


DOS/AS FILHOS/AS

PARA CUIDAR DE PESSOAS


8,7%
IDOSAS NA FAMÍLIA

PARA CUIDADE DE PESSOAS


0,8%
DA FAMÍLIA COM DEFICIÊNCIA

0 20% 40% 60% 80%

Fonte: Pesquisa on-line Cuidados no Brasil e os impactos da Covid-19. Elaboração


própria.

À pergunta sobre se a redução das horas trabalhadas para cuidar de


alguém da família implicou redução também de rendimentos, para
67,5% das pessoas pesquisadas não houve redução. Analisando-se os
dados por recorte de sexo, 66,8% das mulheres não sofreram redução
salarial, contra 72% dos homens, mostrando novamente que o impacto
120

também neste caso foi menor para os homens que para as mulheres.
Analisando-se o grupo de pessoas que têm filhos/as menores de 14
anos, 55,6% das mulheres responderam que não tiveram perda salarial,
enquanto que entre os homens este percentual foi bem superior,
74%. Ou seja, para as mulheres com crianças, o impacto negativo da
pandemia sobre seus rendimentos foi bem superior ao que os homens
sofreram. Os resultados da pesquisa corroboram a preocupação,
apontada no início do texto, com o futuro das mulheres em relação ao
trabalho remunerado no pós-pandemia.

Analisando o grupo de mulheres respondentes por recorte de raça


ou cor, as brancas tiveram o maior percentual de resposta negativa
relativa à redução de renda decorrente, com 70%, seguidas das pretas
e pardas, com pouco mais de 62% cada, e as amarelas e indígenas
com percentuais pouco acima dos 50%. Dentre as que relataram que
tiveram que reduzir horas de trabalho para cuidar das crianças, dentre
as brancas este percentual ficou em 10%, 15,3% das pretas, em torno
de 13% das pardas e amarelas, enquanto que não houve redução para
nenhuma indígena. E as razões para esta redução mais comumente
relatadas pelas mulheres das diferentes raças ou cores foram precisar
cuidar dos/as filhos/as, seguida pela opção cuidar de pessoa idosa da
família (gráfico 36 e 37).

(...) para as mulheres com crianças, o


impacto negativo da pandemia sobre
seus rendimentos foi bem superior ao
que os homens sofreram. Os resultados
da pesquisa corroboram a preocupação,
apontada no início do texto, com o futuro
das mulheres em relação ao trabalho
remunerado no pós-pandemia.
121

GRÁFICO 36: RESPONDENTES QUE REDUZIRAM HORAS


DE TRABALHO REMUNERADO PARA CUIDAR
DE ALGUÉM DA FAMÍLIA DURANTE A PANDEMIA

MULHERES INDÍGENAS

MULHERES AMARELAS

MULHERES BRANCAS

MULHERES PARDAS

MULHERES PRETAS

0 20% 40% 60% 80%


SIM, PARA CUIDAR SIM, PARA CUIDAR SIM, PARA CUIDAR NÃO OUTROS
DE PESSOAS COM DE IDOSOS DA DOS MEUS FILHOS/AS MOTIVOS
DEFICIÊNCIA NA FAMÍLIA
FAMÍLIA

Fonte: Pesquisa on-line Cuidados no Brasil e os impactos da Covid-19. Elaboração


própria.

Sobre as mulheres que reduziram suas jornadas de trabalho remunerado


para dedicar-se aos cuidados, 33,2% delas afirmaram que o seu
rendimento caiu devido a este motivo, e dentre as mulheres observadas
por grupos de raça ou cor, as mulheres brancas apresentaram o menor
percentual (29,9%), ao serem comparadas com os demais grupos de
mulheres que sofreram tal impacto, seguidas das pretas e pardas com
cerca de 37% cada e das amarelas, com 44,4%. Já o maior percentual foi
apresentado pelas mulheres indígenas, com 50% (gráfico 37). Ao longo
destes meses convivendo com a pandemia de Covid-19, até o momento
em que a pesquisa foi realizada, 51,3% das mulheres respondentes
afirmaram terem ficado doentes e 45,7% dos homens. Analisando o grupo
122

de mulheres com recorte de raça ou cor, as mulheres pretas foram as


que apresentaram maior percentual, 63,5% das declarações; seguidas
das indígenas (54,6%) e amarelas (54,6%); em seguida as mulheres
pardas (52,6%) e as que menos adoeceram durante a pandemia foram
as mulheres brancas (48,1%). Mesmo com esta diversidade em relação
às declarações de raça ou cor, o adoecimento foi algo presente na
vida de grande parte delas, uma queixa generalizada na sociedade.
Indagadas sobre quem havia cuidado delas ao ficarem doentes, 31,7%
respondeu que foi cuidada pelo marido e um grande percentual, 26%,
não foi cuidada por ninguém. Dentre os homens que ficaram doentes,
37,6% foram cuidados pela esposa e 22% não foram cuidados por
ninguém. Analisando as mulheres em seus grupos raciais, identificamos
percentuais semelhantes ao do conjunto das mulheres, sendo as
respostas mais frequentes que foram cuidadas pelo marido ou que
não foram cuidadas por ninguém. Destacamos, porém, as indígenas,
em que nenhuma delas marcou a opção de não ter sido cuidada por
ninguém, o que mostra talvez uma comunidade mais coesa e com
maior nível de empatia entre seus membros, e as amarelas que, pelo
contrário, apresentaram o maior percentual de não terem sido cuidadas
por ninguém, sendo o caso para 45% delas.

Ao longo destes meses convivendo com


a pandemia de Covid-19, até o momento
em que a pesquisa foi realizada, 51,3%
das mulheres respondentes afirmaram
terem ficado doentes e 45,7% dos homens.
Analisando o grupo de mulheres com
recorte de raça ou cor, as mulheres
pretas foram as que apresentaram maior
percentual, 63,5% das declarações.
123

GRÁFICO 37: REDUÇÃO DO RENDIMENTO DAS MULHERES,


SEGUNDO RAÇA OU COR, DEVIDO AOS TRABALHOS DE
CUIDADOS DURANTE A PANDEMIA

80% MULHERES
PRETAS
60%

40%

20%
MULHERES MULHERES
INDÍGENAS PARDAS

MULHERES MULHERES
AMARELAS BRANCAS

SIM NÃO

Fonte: Pesquisa on-line Cuidados no Brasil e os impactos da Covid-19. Elaboração


própria.

Sabemos que, durante a pandemia no Brasil, muitas pessoas foram


contaminadas pela Covid-19. Do total de respondentes, 34,4% foram
contaminados/as, enquanto que dentre as mulheres este percentual
ficou em 33,8% e entre os homens alcançou um valor maior, 37,2%.
Relataram que tiveram alguns sintomas, mas não realizaram o teste
9,3% do total de respondentes, e entre homens e mulheres o percentual
foi semelhante. Vale salientar que, diferente das demais questões, esta
pergunta teve um alto número de mulheres que deixaram de responder,
quase 56% delas. Ao observamos os grupos de mulheres que foram
contaminadas pelo coronavírus, segundo a raça ou cor, identificamos
um alarmante dado entre as indígenas que somaram 83,3%, enquanto
que para todas as demais os percentuais ficaram pouco superiores a
30%, sendo pretas com 33,5%; pardas com 36,6%; brancas com 32,6%
e 30% das amarelas.
124

3.7 Problemas emocionais enfrentados


durante a pandemia

Os gráficos abaixo mostram os dados relativos aos principais problemas


emocionais vividos pelos/as respondentes, sendo os mais comumente
relatados relacionados ao emocional, sendo estes os principais
problemas tanto do/a respondente (gráfico 38), quanto de pessoas de
sua família (gráfico 39).

GRÁFICO 38: PRINCIPAIS PROBLEMAS EMOCIONAIS


ENFRENTADOS PELOS/AS RESPONDENTES
DURANTE A PERÍODO DA PANDEMIA

ESTRESSE EMOCIONAL 81,5%

TRISTEZA 77,7%

INSÔNIA 68,8%

CANSAÇO 65,2%

PALPITAÇÃO 33,0%

DISTÚRBIO ALIMENTAR 25,9%

AGRESSIVIDADE 25,5%

0 20% 40% 60% 80% 100%


Fonte: Pesquisa on-line Cuidados no Brasil e os impactos da Covid-19. Elaboração
própria.
125

Catarina (do estado do PA, mulher parda, 36 anos, solteira, um filho


e empregada doméstica) foi contaminada pela Covid-19, procurou
atendimento médico, mas, tirante o cuidado profissional, não recebeu
cuidado de nenhuma outra pessoa. Ela também relatou ter tido
problemas emocionais, teve ansiedade, e que buscou manter um
autocontrole através da sua religião, o espiritismo. Carmem (do estado
do PE, mulher negra, 25 anos, solteira, sem filhos e estudante) dividia um
apartamento com uma amiga. Mas com a pandemia e a paralisação das
aulas, a amiga retornou para a sua cidade natal e ela ficou sozinha. Ela
relata que tem tido “uma quantidade imensa de insônia, tive problemas
com ansiedade que são bem complicados, durante esse tempo todo
que eu passei tava sozinha no apartamento, né?”, mas que melhorou
desde que foi acolhida por uma professora e passaram a morar juntas.
Ou seja, a professora, que também morava sozinha, pôde colocar
em prática a interdependência do cuidado. As duas conseguiram um
arranjo que minimizou a solidão de cada uma, um problema real para
muitas pessoas durante a pandemia de Covid-19.

Carmem (do estado do PE, mulher negra,


25 anos, solteira, sem filhos e estudante)
dividia um apartamento com uma amiga.
Mas com a pandemia e a paralisação das
aulas, a amiga retornou para a sua cidade
natal e ela ficou sozinha. Ela relata que
tem tido “uma quantidade imensa de insônia,
tive problemas com ansiedade que são bem
complicados, durante esse tempo todo que eu
passei tava sozinha no apartamento, né?”
126

GRÁFICO 39: PROBLEMAS EMOCIONAIS VIVIDOS


POR PESSOAS DA FAMÍLIA DO/A RESPONDENTE
DURANTE O PERÍODO DA PANDEMIA

ESTRESSE EMOCIONAL 60,3%

TRISTEZA 47,9%

42,0%
INSÔNIA

37,5%
CANSAÇO
AGRESSIVIDADE 20,7%

NINGUÉM TEVE 17,3%


PROBLEMA DE SAÚDE
EMOCIONAL
DISTÚRBIO ALIMENTAR 13,8%
PALPITAÇÃO
12,9%

0 20% 40% 60% 80%


Fonte: Pesquisa on-line Cuidados no Brasil e os impactos da Covid-19. Elaboração
própria.

Para as pessoas com filhos menores de 14 anos, 79,6% das mulheres


deste grupo afirmaram ter tido algum problema emocional, sendo
os mais mencionados, em ordem decrescente de escolha, estresse
emocional, tristeza, cansaço, insônia, palpitação, agressividade,
distúrbio alimentar. As pessoas que optaram por relatar outros sintomas
responderam mais frequentemente que a ansiedade foi o principal
problema. É válido ressaltar que para esta questão, obtivemos a
participação de 324 respondentes, e como era possível a mesma
pessoa marcar mais de uma opção, obtivemos 1.361 respostas, que
significa uma média de 4,2 respostas por pessoa. Já a média de todas
as mulheres participantes da pesquisa ficou em 4,0, demonstrando que
a saúde mental das mulheres foi em geral bastante impactada, mas as
mães com filhos/as menores foram ainda mais impactadas.
127

Em relação aos homens com crianças menores de 14 anos, 51,5%


dos respondentes deste grupo afirmaram ter tido algum problema
emocional, sendo, por ordem decrescente de preferência, estresse
emocional, cansaço, tristeza, insônia, agressividade, distúrbio alimentar,
palpitação. Dentre os que preferiram relatar outros sintomas, o mais
citado também foi a ansiedade. Na medida que contamos com 54
homens respondentes para esta questão e foram citados 183 problemas
emocionais por eles, chegamos a uma média que cada homem com
filhos/as menores de 14 anos obteve pelo menos 3,4 problemas
emocionais durante a pandemia. A média geral para todos os homens
participantes da pesquisa foi 3,5 problemas emocionais por pessoa, um
equilíbrio entre problemas relatados pelos homens sem e com filhos/
as menores. Comparando os dois grupos de mulheres e homens com
crianças menores de 14 anos, as mulheres, relativamente, tiveram mais
problemas emocionais que os homens. Do grupo de mulheres segundo
raça ou cor, 76,2% das negras, 71,8% das pardas, 73,2% das brancas,
67,6% das amarelas e apenas 27,3% das indígenas tiveram algum
problema emocional. Novamente pode-se destacar um resultado mais
positivo entre as indígenas, o que corrobora a observação anterior
sobre ser este um grupo mais solidário.

3.8 O que dizem as entrevistas?

A pesquisa previu inicialmente realizar 21 entrevistas com pessoas de


distintos gêneros/sexos, mas algumas já convidadas desistiram e não foi
possível substituí-las no prazo da realização da pesquisa. Apesar disso,
tivemos êxito em fazer uma escuta pelas diferentes raças ou etnias
presentes no Brasil do século XXI, conscientes de que a centralidade
da raça é a chave para a compreensão das desigualdades nacionais
e latino-americanas (SEGATO, 2021, p. 21). As entrevistas pontuam
o tema dos cuidados na sociedade brasileira, na medida que esta
128

palavra passou a ser utilizada de forma mais corriqueira na linguagem


jornalística, nas redes sociais e na propaganda de empresas e seus
produtos. Por sua vez, no ambiente acadêmico o tema passou a gozar
de grande visibilidade.

Esta pesquisa constata a pouca familiaridade das pessoas entrevistadas


com o significado de cuidados e isto talvez seja explicado pelo fato
de, até a primeira década deste século, as diversas abordagens da
literatura feminista nacional usavam, no contexto da discussão sobre
divisão sexual do trabalho, o conceito de trabalho não pago. Por sua
vez, o Sistema de Estatística Nacional empregava a denominação de
afazeres domésticos quando se referia, de forma genérica, aos trabalhos
de reprodução da vida, incluindo tanto os afazeres domésticos como os
cuidados com a família.

Embora a literatura feminista latino-americano já empregasse


largamente o termo cuidados para denominar todas as tarefas
relacionadas ao trabalho não pago realizado em prol dos membros
da família, no Brasil este termo só ficou mais popularizado a partir da
pandemia de Covid-19, além de dar mais espaço aos estudos sobre esta
temática. No entanto, a leitura das entrevistas mostra que este é ainda
um conceito ambíguo para a maioria das pessoas que responderam,
não importando sua escolarização. Desde pessoas com doutorado a
empregadas domésticas ou com o ensino fundamental relatam coisas
como “cuidar é zelar pelas coisas que estão ao redor” (Carolina, do
estado da BA, mulher negra, 39 anos, casada, um filho e professora
universitária); “cuidar exige dedicação, ato de amor, bem-estar físico,
social e espiritual” (Joaquim, do estado de PE, homem branco, 48 anos,
casado e fisioterapeuta); “quem ama cuida”, e complementa: “quando
você faz alguma coisa para uma pessoa que você ama não é trabalho”
(Lourdes, do estado da BA, mulher parda, 24 anos, casada, 1 filho e
agricultora).
129

Continuando nossa busca para entender como a sociedade entende


o que seria cuidados e sua relação com as atividades realizadas no
espaço doméstico, que vão desde cozinhar, limpar, lavar a cuidar das
pessoas, Carolina (do estado da BA, mulher negra, 39 anos, casada,
um filho e professora universitária) afirma que “o cuidado perpassa
por nosso cotidiano, pela nossa rotina o tempo todo”. Como Mário (do
estado da BA, homem indígena, 34 anos, casado, um filho e professor),
que expressa que “... a gente pode pensar de várias maneiras, ... Me
remete muito ao meu filho, então a gente tem ... tratamentos específicos
em relação a ele, por exemplo a saúde, prevenir, por exemplo, a gente
sabe que tem um período de frio, a gente já trabalha na prevenção ...”.
Por sua vez, Clarice (do estado do RJ, mulher branca, 62 anos, solteira,
sem filhos e funcionária pública) afirma que “É cuidar, cuidar. E cuidar
quando você tem família é pra todo mundo, é às vezes até pra quem não
é família, quantas, quantas vezes eu cuidei das minhas amigas, quantas
vezes peguei, fui lá, botei debaixo do chuveiro, dei banho, ou, ou tirei de
uma enrascada, não é tarefa, amizade, amor, família pra mim não é tarefa,
é cuidar, não é trabalho, trabalho é uma coisa assim né, que você... é
mão de obra, que você tá ali pra ganhar o teu sustento, e é toma lá, dá
cá, né?”

De forma difusa, as entrevistas deixam no ar uma ideia de que trabalho


é uma profissão, uma ocupação que é paga, enquanto “o cuidado é um
ato de amor”, como declara Mônica (do estado do RJ, mulher negra,
40 anos, casada, uma filha e podóloga), que completa: “eu acho que
não…”, e continua: “trabalho é uma profissão né, mas pra quem faz da
família, é cuidado”. Essa mesma opinião é compartilhada por Catarina
(do estado do PA, mulher parda, 36 anos, solteira, um filho e empregada
doméstica) e por outras pessoas entrevistadas.

As falas coletadas nas entrevistas sugerem que há ainda um relativo


desconhecimento do conceito cuidado, um termo difundido pelo
130
pensamento feminista europeu e norte-americano. O tema ficou mais
recorrente a partir da crise dos cuidados, consequência também do
aumento da longevidade da população. Esta literatura e definições
foram incorporadas pela literatura da América hispânica, mas o Brasil
acadêmico feminista só as incorporou nestas últimas décadas.

3.9 Como a pandemia foi vivida?

Os relatos das entrevistas mostram que não houve discrepâncias


entre as respostas, de homens e de mulheres, ao questionário e nos
depoimentos ouvidos pela nossa equipe. Clarice (do estado do RJ,
branca, 62 anos, solteira, sem filhos e funcionária pública) narra que
“Ficou muito complicado, porque ... tenho mais de 60 anos, … e lei
federal dispensava ..., mas no meu setor tem pouca gente, então a gente
com mais de sessenta anos virou escala ... porque muita gente do setor
teve problema de saúde, e no lugar que eu trabalhava era muita gente
de idade, muita gente pegou Covid e alguns faleceram”. Ao longo do
ano de 2020, o isolamento social foi uma exigência sanitária e Gabriela
(mulher solteira, arquiteta, uma filha pequena) relata a solidão de viver
sozinha a pandemia com uma criança, trabalhando em home-office.

Quanto às condições de trabalho, sobram queixas em relação ao


trabalho remoto e à falta de infraestrutura para o trabalho, falta
internet, planejamento da chefia com relação às atividades do dia e à
substituição de outros funcionários. Outra situação, denunciada pela
presidenta da FENATRAD Luiza Batista e ilustrada nesta pesquisa,
foi a jornada mais extensa exigida pelo patronato das empregadas
domésticas. Uma observação também presente nos depoimentos de
outros/as trabalhadores/as, como Clarice, Iracema e Mário, nesse caso
funcionárias/os públicos. O caso da empregada doméstica Catarina (do
estado do PA, mulher parda, solteira, um filho) afronta a legislação, “...É,
131

aí eu passei a dormir [no] final de semana, sexta e sábado, sendo que


fora do meu salário, esse, com uns meses pra cá. Um extra”. É importante
destacar um detalhe. A patroa, para não pagar hora-extra e extensão
de jornada de trabalho, dava uma gratificação, como definido por
Catarina. Por sua vez, Linda (do estado do RJ, mulher parda, 47 anos,
casada, faxineira) perdeu praticamente todas as suas patroas nestes
meses. Das quatro casas que atendia, só ficou com uma.

3.10 Reflexões Finais

A pandemia de Covid-19 começou como uma crise sanitária, e se tornou


uma crise econômica e social, com efeitos severos sobre a economia
e o mercado de trabalho, contribuindo para a amplificação das
desigualdades e da pobreza em todo o mundo. No Brasil os reflexos da
pandemia, tanto sanitários como sociais, têm sido dramáticos, refletindo
no número enorme de mortes - o país tem um dos maiores números de
mortes por Covid-19 -, além dos reflexos no mundo do trabalho, com a
explosão da precarização da mão de obra.

O isolamento social e o fechamento de grande parte das atividades


econômicas não essenciais deixaram milhares de pessoas sem renda
e muitas delas sem nenhum tipo de proteção social. Este cenário impôs
a necessidade de atuação direta do governo federal e também de
governos estaduais, através do aumento dos gastos fiscais e repasse
direto de renda, seja para evitar maior número de falências, conter o
desemprego, ou com repasses diretos de renda para as pessoas que
perderam seus rendimentos. A intervenção de políticas públicas foi
necessária tanto para sustentar a economia quanto para garantir a
sobrevivência das pessoas, empresas e postos de trabalho, visando
a possibilidade de uma retomada mais rápida da economia. Essas
políticas no Brasil foram definidas no âmbito do conjunto de medidas
132

econômicas descritas no Auxílio Emergencial (AE). O AE, no entanto,


foi extinto ao final de 2020, aparentemente pela crença do governo
federal e do Ministério da Economia de que a pandemia estava vencida.
O quadro extremamente grave da pandemia começou a ser revertido
com o início e avanço da vacinação que se iniciou no final de janeiro
de 2021 por iniciativa do governo paulista, mesmo afrontando a política
sanitária negacionista do Presidente da República e seus ministros da
saúde. Venceu a sensatez e a cultura de aceitação das vacinas pelo
povo brasileiro, acostumados com as campanhas do Sistema Único
de Saúde (SUS) de vacinação, desenvolvidas nos últimos 40 anos.
No Brasil as pessoas não têm resistência às vacinas, como vemos em
outros países. A vacinação tem caminhado e até início de dezembro de
2021 cerca de 63% da população já está vacinada com a segunda dose.
Apesar de a guerra contra a crise sanitária estar sendo bem sucedida,
com percentuais baixos e decrescentes de pessoas contaminadas e de
mortes nos últimos meses, a crise econômica e social é provavelmente
a maior dos últimos 100 anos, com desemprego massivo, aumento
da informalidade e do subemprego, além de uma perspectiva de
crescimento muito baixa ou mesmo negativa em 2022.

Ao mesmo tempo que as mulheres estavam no centro das respostas à


pandemia da Covid-19, pelo seu papel de cuidadoras da humanidade, a
crise sanitária potencializou as desigualdades no mercado de trabalho
e o peso dos trabalhos com a reprodução da vida. No mercado de
trabalho remunerado, as estatísticas mostram que as mulheres
ainda estão sobrerrepresentadas nas atividades relacionadas aos
cuidados (educação, saúde, serviços sociais, serviços em geral, mas
principalmente serviços domésticos e de cuidados). Todavia, o maior
impacto foi sobre o emprego doméstico e de cuidadoras/es, atividades
que exigem contato pessoal. Estima-se, segundo os dados do IBGE,
que cerca de 1,2 milhão de postos de trabalho foram perdidos (PNAD
Covid-19, PNAD Contínua).
133

Os dados de emprego e renda mostram que a crise sanitária afetou


particularmente as mulheres, os jovens e a população negra. E tem
se caracterizado, no caso das mulheres, não numa transição para o
desemprego, mas para a inatividade, num contexto do retorno feminino
ao espaço doméstico. Milhares de mulheres com idade acima de 14
anos se retiraram do mundo do trabalho remunerado, caindo para a
categoria de desocupadas, desalentadas ou subocupadas.

Esta retração da participação feminina na força de trabalho está


seguramente relacionada à necessidade de elevar as jornadas de
trabalho de cuidado no interior das famílias, em decorrência do
fechamento de creches e escolas e da necessidade de distanciamento
social, como mostra a pesquisa “Cuidados no Brasil e os impactos
da Covid-19”, realizada por formulário on-line. Ao assumirem estes
encargos no início da pandemia, boa parte das mulheres que se
afastaram de seus postos de trabalho acreditavam - assim como todo
mundo - que esta era uma opção temporária, por alguns meses. Elas
esperavam retornar à rotina anterior mais ou menos rapidamente. O
prolongamento do quadro de pandemia, provocado pelas ondas
sucessivas com o surgimento de novas cepas, estendeu demasiado o
prazo em que as mulheres assumiram uma carga excessiva de trabalho
e o tempo afastadas de suas funções remuneradas.

Os dados disponíveis indicam que houve ampliação da brecha de gênero


relativa à taxa de participação no trabalho no mercado de trabalho.
Além disso, a redução significativa de postos de trabalho em serviços
domésticos, particularmente no Brasil, tem impacto mais significativo
sobre as mulheres negras. Do total de trabalhadoras/es domésticas/os,
mais de 90% são mulheres, e destas mais de 60% são negras. Mesmo
sabendo-se que grande parte, superior a 70%, das/os trabalhadores/
as domésticas/os trabalham sem contrato formal e, portanto, sem
acesso aos direitos garantidos por lei, a perda desse emprego em
134

um momento de baixo crescimento e expectativas negativas sobre


crescimento futuro do país trouxe empobrecimento. Pode-se afirmar que
o empobrecimento será mais significativo justamente entre as famílias
que já têm menor renda. E como cerca de 34% das famílias brasileiras
são chefiadas por mulheres e que elas são chefes de mais de 90%
das famílias monoparentais com filhos/as, a pobreza continuará a ser
feminina e negra. Portanto, a crise colocou no primeiro plano no Brasil a
interseccionalidade das formas de exploração e precarização da vida.

A crise sanitária potencializou o debate sobre a importância e


centralidade dos cuidados; desnudou as desigualdades na sua
organização social, principalmente as de gênero; fomentou o debate e
a necessidade de se garantir o direito a políticas públicas de cuidados,
e no espaço político/acadêmico vemos certo otimismo quando se
percebe que entre os economistas o uso de política fiscal volta a ter
espaço entre as políticas macroeconômicas. Mas o grande desafio é
não deixar a discussão sobre as desigualdades, principalmente de
gênero e de raça, serem esquecidas com a retomada econômica.
Não é mais possível que as políticas econômicas sejam discutidas sem
que se inclua os aspectos sociais de seu impacto, sem que participem
dessa decisão os diferentes grupos sociais interessados e diretamente
impactados. Não é mais possível aceitar que as políticas públicas
visem prioritariamente o bem-estar e o sucesso de investidores e
dos mercados financeiros, relegando à própria sorte os milhares de
trabalhadores/as, as pessoas menos qualificadas, as mulheres que
precisam de cuidar de suas famílias, como se estas pessoas não
tivessem os mesmos direitos. Esta questão é sobretudo ignorada pela
política econômica, que precisa ser decidida por muitas e diferentes
pessoas, através de uma visão mais holística do mundo. Sem uma
visão inclusiva das políticas macroeconômicas, nós apenas estaremos
contribuindo para um mundo cada vez mais desigual, violento e onde
135

será impossível manter ou reproduzir a vida.

Este estudo, além de apresentar um cenário socioeconômico, realizou


uma escuta sobre como as pessoas haviam vivido os primeiros 19
meses da pandemia (março de 2020 a setembro de 2021). Devido ao
caráter sanitário da crise e a necessidade de se restringir a mobilidade
das pessoas nos países atingidos pela pandemia, ocorreu uma hiper
domesticação da vida, trazendo para o seio da família, além dos
trabalhos de cuidado aí realizados, atividades antes divididas com
outros espaços, como o trabalho remunerado e a escola (TORRES
SANTANA, 2021, pp. 50-51). Além disso, a crise sanitária se caracterizou
por uma redução brusca da produção em vários setores econômicos ao
mesmo tempo, provocando a falência de empresas e o desemprego de
grande contingente de trabalhadores/as. A pesquisa on-line, realizada
nos meses de agosto a setembro, e as entrevistas apresentadas neste
trabalho tinham a preocupação de fazer um retrato dos impactos da
pandemia de Covid-19 no cotidiano das pessoas, com destaque para as
mudanças em relação ao trabalho remunerado – como impacto sobre
horas trabalhadas, sobre o rendimento percebido e a necessidade de
conciliação com as tarefas que garantiam o bem-estar das pessoas
da família –, e ao trabalho não remunerado, como aumento das horas
necessárias a estas atividades e a necessidade de incorporação
de novas atividades. A pesquisa também tentou captar qual era a
percepção das pessoas sobre o que são os cuidados. De forma geral os
resultados mostram que as famílias tiveram necessidade de aumentar
o número de horas dedicadas ao trabalho não remunerado, que foram
majoritariamente assumidas pelas mulheres. A consequência foi o
aumento do desemprego feminino e um futuro retorno ao mercado
de trabalho no pós-pandemia ainda incerto. Os dados e relatos que
podem ser lidos neste texto mostram que a conciliação trabalho/família
ainda é vivida com dificuldade pelas mulheres. São tensões que se
136

revelam tanto nos dados das pesquisas oficiais (IBGE), nas respostas ao
nosso questionário, bem como nas entrevistas realizadas, e isto mostra
como as estruturas e processos sociais são altamente desiguais, sendo
urgente a necessidade de se discutir os cuidados, sua centralidade
na vida das pessoas e maneiras de melhorar a sua distribuição entre
pessoas e instituições.

A pesquisa “Cuidados no Brasil e os impactos da Covid-19” teve como


um de seus objetivos investigar a percepção da sociedade brasileira
sobre o significado de cuidados. Ainda que não tenhamos alcançado
uma amostra significativamente diversa da população, podemos refletir
a partir do extrato alcançado, com maior participação de pessoas da
classe média brasileira. É fato também que as entrevistas possibilitaram
depoimentos de pessoas que ocupam outros segmentos, o que
contribuiu para uma maior diversificação das impressões recolhidas.
Contudo, em termos de compreensão sobre os cuidados, não foi
possível perceber diferenças marcantes entre as respostas dos/as
respondentes. A pergunta “O que é cuidado para você”? pegou muitas
pessoas de surpresa. Foi possível perceber que muitas delas nunca
haviam parado para refletir sobre o tema, o que criou certa dificuldade
para a elaboração da resposta num primeiro momento. Mas, passados
alguns segundos, o/a entrevistado/a passava a associar cuidados com
a atenção que dispensava a pessoas por quem nutria algum afeto. No
formulário, a maioria das pessoas responderam que acreditavam que
as tarefas de cuidados podiam sim serem categorizadas como trabalho
(não remunerado). Já nas entrevistas, onde foi possível alcançar perfis
mais diversos, a percepção sobre o que são os cuidados ficou ou no
plano da afetividade ou da obrigação moral, como cuidar de quem já
cuidou de você, por exemplo. Estes resultados reforçam a ideia que
o tema precisa ser amplamente discutido e retirado da invisibilidade.
O fato é que, uma vez que o trabalho de cuidado é majoritariamente
137

realizado pelas mulheres, elas vivem suas vidas sobrecarregadas.


No formulário on-line, o cuidado esteve mais frequentemente associado
à alimentação, tanto em relação à compreensão sobre o cuidado
dispensado às outras pessoas quanto em relação ao autocuidado.
Apesar de os depoimentos das entrevistas refletirem a mesma ideia,
vale destacar um fator que apareceu em algumas das experiências
relatadas pelo/a entrevistado/a, que é a possibilidade de as pessoas
definirem o que seja cuidado a partir do seu momento de vida. Ou
seja, a necessidade de cuidar cotidianamente de alguém no momento,
desperta compreensões que não tinham ocorrido anteriormente,
quando as circunstâncias da vida eram diversas. Outro aspecto é que o
cansaço provocado pelo trabalho rotineiro de cuidado não remunerado
pode levar a pessoa a repensar sua condição de vida. Este foi o caso
com um/a entrevistado/a que durante a entrevista afirmou que cuidado
era garantir uma boa alimentação, qualidade de vida e saúde para
a pessoa cuidada, mas que, na semana seguinte, procurou uma das
pesquisadoras para dizer que cuidado era obrigação, uma reação que
aparentemente era decorrente de um esgotamento e cansaço físico e
mental.

Durante a divulgação do formulário on-line, e mesmo nos momentos


pós-entrevistas, percebemos que esta pesquisa fez as pessoas
refletirem sobre os cuidados e as suas respostas refletem o modelo
de socialização a que mulheres e homens são submetidos em nossa
sociedade de cultura patriarcal. Assim, compreendemos que mais um
passo foi dado em relação a disseminar a discussão sobre os cuidados
na esfera pública, pois é preciso que, além da academia, este tema seja
debatido nas famílias, nas comunidades, associações, nos espaços
de trabalho remunerado, para que se definam diretrizes de políticas
públicas dos cuidados que visem a redução das desigualdades,
principalmente a desigualdade de gênero no Brasil.
OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO
BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDA-
DOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS
CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL
• OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO
BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDA-
DOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS
CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL
• OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO
BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDA-
DOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS
CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL
• OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO
BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDA-
DOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS

4.
CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL
• OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO
BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDA-

Considerações
DOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS
CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL
• OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO
finais e
BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDA-
DOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS

recomendações
CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL
• OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO
BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDA-
DOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS
CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL
• OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO
BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDA-
DOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS
CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL
• OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO
BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDA-
DOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS
CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL
• OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO
BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDA-
DOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS
CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL
139

4. Considerações finais e
recomendações
A pandemia de COVID-19 começou como uma crise sanitária e se
tornou uma crise econômica e social, com efeitos severos sobre a
economia e o mercado de trabalho, contribuindo para a amplificação
das desigualdades e da pobreza em todo o mundo. A necessidade de
isolamento social desnudou a pauperização da população mundial,
fruto sobretudo de políticas de austeridade neoliberais adotadas na
maioria das economias desde meados dos anos 1980.

As características especiais da crise da pandemia de COVID-19


impuseram o isolamento social para o controle do contágio e a redução
de mortes, enquanto não se dispunha de remédios apropriados nem
de cobertura vacinal significativa. Foi necessário o fechamento de
escolas e creches, centros de atendimento sociais a pessoas idosas
e com deficiências, além das empresas cujo produto ou serviço fosse
considerado não essencial. O alargamento do prazo de isolamento e a
clara percepção de que seriam necessários desenvolvimentos de novos
conhecimentos científicos (novas vacinas e medicamentos apropriados)
para o efetivo controle da doença, demonstraram a necessidade da
intervenção de políticas públicas para sustentar a economia, a fim de
garantir a sobrevivência do máximo de pessoas, empresas e postos de
trabalho.
140

O Brasil teve muita dificuldade para controlar e combater a pandemia,


basicamente porque o governo federal assumiu uma postura
negacionista e impediu que houvesse uma coordenação centralizada,
situação agravada pela atuação não coordenada do Ministério da
Saúde e das sucessivas trocas, sem critérios, do responsável pela
pasta. Além disso, o governo federal não atuou para financiar e ampliar
a capacidade de atendimento adequado do Sistema Único de Saúde
(SUS), além de sabotar ou negar a possibilidade do uso do conhecimento
científico brasileiro acumulado ao longo dos anos de experiência em
produção e aplicação eficiente de vacinas. A tragédia não foi maior
devido à reação da maioria dos/as governadores/as e prefeitos/as que,
diante da calamidade, assumiram a responsabilidade em definir regras
para o isolamento social, disponibilizar espaço para atendimento das
pessoas infectadas, repasse de ajuda financeira a pessoas e empresas,
além de coordenarem a vacinação em seus estados e municípios.

Foi neste cenário que se desenvolveu a pesquisa “Os cuidados no


Brasil: mercado de trabalho e percepções”, ao longo dos meses de
junho a dezembro de 2021. Seus objetivos foram: i) fazer uma análise
do impacto da pandemia na participação das pessoas no mundo do
trabalho, especialmente das mulheres, as maiores responsáveis pelo
trabalho não remunerado executado em prol das pessoas da família
e essencial para a preservação e reprodução da vida; ii) entender com
mais profundidade como as pessoas no Brasil compreendem o que são
os cuidados, sua importância e centralidade na vida humana. Estas
impressões foram coletadas através de um formulário disponibilizado
online e da realização de algumas entrevistas semiestruturadas por
telefone, que incluíam perguntas relativas à compreensão do que são
os cuidados, bem como sobre os impactos na vida dessas pessoas do
redemoinho provocado pela pandemia de COVID-19.
141

A análise socioeconômica da economia brasileira dos anos de 2019,


2020 e do primeiro semestre de 2021 partiu das informações da
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD-C),
publicada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 31
Essa análise foi complementada com os dados extraídos da pesquisa
relativa à compreensão das pessoas sobre os trabalhos de cuidados,
tanto remunerados quanto não remunerados, que ficou disponível em
ambiente virtual de 15 de agosto a 21 de setembro de 2021 e obteve
3.060 respondentes, sendo a grande maioria, 78,9%, de mulheres.

O estudo utilizou a pesquisa qualitativa porque reconhece que a


palavra “cuidados” tem significado amplo, não sendo entendida e
percebida da mesma forma por mulheres ou homens, pessoas jovens,
adultas ou idosas, que vivem em áreas urbanas ou rurais. O resultado da
pesquisa qualitativa e das entrevistas oferece um painel dos diversos
entendimentos da sociedade brasileira sobre o que são os cuidados e,
juntamente com a análise dos dados do IBGE, destacam-se questões
fundamentais para o debate sobre os cuidados no Brasil e um possível
desenho de um “Plano Nacional de Cuidados para o Brasil”.

4.1 Principais resultados da pesquisa

A pesquisa mostrou que os reflexos da pandemia, tanto sanitários como


sociais, foram dramáticos no Brasil, refletindo-se no número enorme de
mortes – o país teve um dos maiores números de mortes por COVID-19
do mundo – e no mundo do trabalho, com a explosão do desemprego
e da precarização da mão de obra. O quadro extremamente grave da
pandemia começou a ser revertido com o avanço da vacinação, iniciada

31 Para realizar a PNAD durante o período de isolamento social, o IBGE adaptou a PNAD
Contínua e criou a PNAD Covid-19, realizada no período de maio a novembro de 2020,
através de consulta telefônica.
142

no final de janeiro de 2021, por iniciativa do governo paulista. Venceu


a sensatez e a cultura de aceitação das vacinas do povo brasileiro,
acostumado com as campanhas de vacinação desenvolvidas pelo
Sistema Único de Saúde (SUS).

O sucesso da campanha de vacinação, no entanto, não pode reverter


a crise econômica e social, com desemprego massivo, aumento
da informalidade e do subemprego, além de uma perspectiva de
crescimento muito baixa para 2022. A crise sanitária potencializou
as desigualdades no mercado de trabalho e evidenciou o peso
dos trabalhos com a reprodução da vida. No mercado de trabalho
remunerado, as mulheres ainda estão sobrerrepresentadas nas
atividades relacionadas aos cuidados (educação, saúde, serviços
sociais, serviços em geral, mas principalmente trabalhadoras
domésticas e de cuidados). O maior impacto da pandemia foi sobre
o emprego doméstico e o de cuidadoras/es, atividades que exigem
contato pessoal. Estima-se, segundo os dados do IBGE, que essa
ocupação perdeu cerca de 1,2 milhão de postos de trabalho (PNAD
Covid-19; PNAD Contínua) ao longo de 2020, um setor em que a
grande maioria, mais de 90%, é formada por mulheres, especialmente
mulheres negras, que representam mais de 60% dessa mão de obra. A
perda desses postos de trabalho, parte deles recuperados em 2021 e
2022, implicou em perda de renda e ampliação da desigualdade para
um conjunto de pessoas que está entre as que têm menor participação
na renda nacional. E o mais dramático é que, no caso das mulheres,
esta não foi uma transição para o desemprego, mas para a inatividade,
num contexto do retorno feminino ao espaço doméstico. Milhares
de mulheres com idade acima de 14 anos se retiraram do mercado
de trabalho remunerado, caindo para a categoria de desocupadas,
desalentadas ou subocupadas.
143

O grande desafio é não deixar que a discussão sobre as desigualdades,


principalmente as de gênero e de raça, seja esquecida com a retomada
econômica, nem aceitar que as diretrizes de políticas econômicas para
a retomada sejam discutidas sem que se incluam os aspectos sociais
de seu impacto, sem que participem dessa decisão os diferentes grupos
sociais interessados e diretamente impactados. Não é mais possível
aceitar que as políticas públicas visem prioritariamente o bem-estar e
o sucesso dos investimentos e mercados financeiros, contribuindo para
a pressão baixista sobre os salários e rendimentos da mão de obra,
sem que defendam a importância dos cuidados para a vida humana,
sem discutir o impacto dos cuidados na vida das mulheres, principais
e muitas vezes únicas responsáveis pelos cuidados das crianças e
pessoas de suas famílias, e a necessidade de se criar condições
que melhorem a distribuição desta carga de trabalho de forma mais
igualitária entre família, membros da família, Estado e setor privado.

O estudo incluiu a realização de entrevistas por telefone a respeito de


como as pessoas haviam vivido os primeiros 19 meses da pandemia
(março de 2020 a setembro de 2021) para desta forma captar a
percepção das pessoas sobre o que são os cuidados. Os resultados
mostram que as famílias tiveram necessidade de aumentar o número
de horas dedicadas ao trabalho não remunerado, e que estas foram
majoritariamente assumidas pelas mulheres, o que provocou o aumento
do desemprego feminino, com um futuro ainda incerto de retorno ao
mercado de trabalho no pós-pandemia. Os dados e relatos obtidos na
pesquisa mostram que a conciliação trabalho/família ainda é vivida com
dificuldade pelas mulheres. São tensões que se revelam nos dados das
pesquisas oficiais (IBGE), nas respostas ao nosso questionário online e
nas entrevistas realizadas, mostrando como as estruturas e processos
sociais são altamente desiguais, sendo urgente a necessidade de se
discutir os cuidados, sua centralidade na vida das pessoas e maneiras
144

de melhorar a sua distribuição entre pessoas e instituições.

A pesquisa online realizada com 3.060 pessoas de todas as regiões


brasileiras incluía a questão que solicitava a relação de determinadas
tarefas com a compreensão sobre cuidados. Dentre as 24 opções
disponibilizadas no formulário, de acordo com a percepção das/os
respondentes, os cuidados estão prioritariamente relacionados ao
preparo de alimentação; limpeza da casa, decoração e manutenção
e, como a terceira opção mais acionada, alimentar, dar banho e trocar
roupa das crianças. Já em relação às entrevistas realizadas por
telefone, um primeiro aspecto interessante que pudemos observar
em relação à questão sobre a percepção acerca dos cuidados é que
as pessoas a recebiam com estranheza, pois nunca haviam pensado
sobre o que são os cuidados, qual sua importância na vida das pessoas
e sobre quem oferta este trabalho e em quais condições. Um segundo
aspecto é que as pessoas tendiam a associar cuidados com a atenção
que dispensavam a seus entes queridos, algo relacionado à afetividade
ou obrigação moral, no sentido de ter de se cuidar de quem cuidou de
você. Ainda nas entrevistas, a percepção sobre os cuidados também
estava muito frequentemente associada à alimentação, ao autocuidado
e ao momento (contexto) de vida. O aumento do trabalho de cuidados
durante a pandemia e o cansaço decorrente contribuíram para que as
pessoas repensassem sua condição de vida, o seu nível de bem-estar,
questionando seu grau de satisfação e de capacidade de bem viver,
fenômeno que também ocorreu em outros países.

Com esta etapa qualitativa do estudo, pode-se concluir que, de forma


geral, as pessoas ainda não compreendem os cuidados em sua
dimensão mais ampla, considerando o seu papel e importância na vida
de todas as pessoas, muito menos se tem evidente qual a importância
desse trabalho na vida das pessoas e o que ele significa, especialmente
145

para as principais fornecedoras de cuidados: as mulheres. No campo


acadêmico, compreendemos os cuidados como relação de serviço,
apoio e assistência, implicando em responsabilidade diante de outrem
(KERGOAT, 2016), além de classificarmos como uma categoria de
trabalho (remunerado ou não), majoritariamente prestado por mulheres,
que quando não comercializado não obtém valor mercantil, logo,
comumente invisibilizado e desvalorizado pela sociedade.

A pesquisa tem o mérito de mostrar que os cuidados refletem o


modelo de socialização a que mulheres e homens são submetidos
numa sociedade de cultura patriarcal. Também permite concluir que
a discussão sobre os cuidados deve atravessar o muro da academia
e alcançar as famílias, comunidades, associações e espaços de
trabalho, envolvendo não apenas as famílias, mas as escolas, o poder
público, as organizações sociais e o setor privado para que se definam
diretrizes de políticas públicas dos cuidados, que visem a redução das
desigualdades no Brasil, principalmente as desigualdades de gênero
e raça.

Para além dos achados na pesquisa, que se encontram em fase final


de publicação, o estudo do tema reforçou a necessidade de visibilizar
a importância de Políticas Públicas de Cuidados, a exemplo do que já
ocorre em outros países, e de sistematizar recomendações que devem
compor essas políticas. É o que apresentamos a seguir.

4.2 Novos olhares sobre política econômica


e social

A pandemia de COVID-19 e seus reflexos sobre a produção, o mercado


de trabalho e o funcionamento do que se entendia como normal da
economia escancararam a importância e necessidade vital do trabalho
146
dos cuidados, seja para a reprodução e manutenção da vida, para
a geração de bem-estar para as pessoas, seja para a realização
da produção mercantil. Pode-se perceber que sem a realização do
trabalho não remunerado não é possível o trabalho remunerado nos
moldes atuais.

A pandemia escancarou a desigualdade relacionada ao trabalho


dos cuidados, deixando claro que são as mulheres as principais
responsáveis por sua realização, seja no âmbito da família, quando
realizam este trabalho sem nenhuma remuneração, seja quando o
realizam de forma remunerada. Também escancarou as desigualdades
em suas várias vertentes, seja de renda, gênero, raça ou cor. A resiliência
e capacidade de enfrentamento da pandemia e suas consequências
econômicas foram bastante diferentes para cada um destes diferentes
grupos. Pode-se perceber também que os países com menores índices
de desigualdade e com mais e melhores sistemas de serviços públicos
obtiveram resultados mais efetivos no enfrentamento da pandemia.
A desigualdade de gênero relaciona-se à tradição religiosa, cultural,
histórica e socialmente definidas, e por isso sua eliminação ou redução
necessitam transformações profundas no modo de vida da sociedade.
Para promover estas mudanças são necessárias definições de
novas legislações e diretrizes de políticas públicas que promovam a
eliminação da desigualdade de gênero.

São necessárias políticas relacionadas à ampliação e melhoria das


estruturas de serviços para que os cuidados tenham reflexo direto
sobre a vida das mulheres, já que são elas as principais responsáveis
por este trabalho em todas as etapas da vida humana, desde o cuidado
e educação das crianças, cuidado dispensado às pessoas com alguma
necessidade específica (pessoas idosas, enfermas, com deficiências) e
o cuidado necessário à manutenção e reprodução da vida, necessárias
147

para manter o bem-estar das pessoas (tarefas domésticas).

Para que as mulheres possam assumir suas vidas, é preciso ter


autonomia econômica que lhes permita maior e melhor participação no
mercado de trabalho.

A implementação dessas políticas não beneficia exclusivamente


as mulheres, mas toda a sociedade. Todas as pessoas precisam de
cuidado em algum momento de sua vida, sendo um eixo central na vida
humana e na estrutura das sociedades. Desta forma, as políticas de
cuidados têm efeito sobre toda a comunidade.

Com estas preocupações em mente, foram listadas algumas


recomendações para comporem uma “Política Nacional de Cuidados”
e que julgamos serem adequadas e relevantes para o combate às
desigualdades social, de gênero e de raça/cor no Brasil. A criação
desta política é ainda mais relevante por causa do grande impacto
sanitário, econômico e social causado pela crise da pandemia sobre a
economia brasileira, com aumento do desemprego, da informalidade e
do subemprego, aumento da pobreza e do número de pessoas vivendo
em situação de insegurança alimentar, e redução da participação
das mulheres no mercado de trabalho, não pelo desemprego, mas
pela saída do mercado de trabalho. A Política Nacional de Cuidados
deve ser elaborada com a ampla participação da sociedade civil e
das organizações feministas e de mulheres, com o intuito de garantir o
direito irrestrito de todas as pessoas a receber cuidados e o dever de
cuidar.

4.3 Cuidados: atores e debates

As propostas sobre o que e como fazer para ampliar e melhorar as


148

estruturas de serviços públicos e privados de cuidados que garantam


seu acesso a todas as pessoas, em especial às famílias de menor
renda, devem ser resultado de debates que envolvam instituições,
organizações e pessoas representantes da sociedade civil, de
organizações sindicais, de organizações sociais e de organizações
feministas.

Este debate deve incorporar a análise de experiências bem-sucedidas


e propostas adotadas em outros países, colocando as políticas de
cuidados no centro das decisões de políticas econômicas, visando a
redução das desigualdades, garantindo um crescimento mais justo,
igualitário e ecologicamente sustentável.

Exigir que o Estado brasileiro ratifique a Convenção 156 da Organização


Internacional do Trabalho (OIT), promulgada em 3 de junho de 1981, e
que reconhece a necessidade de se criar condições adequadas de uma
convivência harmoniosa entre trabalho e família.

Exigir que os debates sobre o tema dos cuidados sejam incluídos como
tema transversal no processo educacional, da primeira infância ao ensino
médio, contribuindo para a desmistificação desse tema como “coisa de
mulher”.

Exigir que as empresas vejam os cuidados como parte integrante do


mundo do trabalho por ser parte da vida das pessoas, possibilitando maior
flexibilização de carga horária.

Contribuir para que o tema dos cuidados seja parte integrante das
discussões das políticas econômicas e das definições de diretrizes de
política de Estado.

Exigir que as discussões e proposições de diretrizes de política nos


vários níveis de governo representem adequadamente a perspectiva
interseccional dos cuidados, além das diferenças importantes relativas
a gênero, raça ou cor, etnia, diferenças sociais, regionais e entre as
populações urbanas e rurais.
149

Discutir a incorporação de estatísticas sobre gênero e raça/cor em todas as


pesquisas realizadas pelos órgãos públicos de pesquisa.

Discutir a necessidade da criação de novas pesquisas e estatísticas


relativas a gênero, raça/cor e local de moradia.

Promover discussões e medidas para acabar com ciclos de pobreza vividos


pelas pessoas de baixa renda, principalmente as mulheres, por não terem
acesso aos serviços de cuidados, creches e escolas públicas em tempo
integral com vagas suficientes, mantendo-as fora do mercado de trabalho.

4.3.1 Políticas públicas

Não há dúvida que o Estado, em seus diversos níveis de governo (federal,


estadual e municipal) e através de suas ações legislativa e executiva,
tem papel preponderante na definição de ações que promovam uma
melhor distribuição dos cuidados entre pessoas e instituições da
sociedade, bem como na criação, melhoria e expansão de serviços
de cuidados acessíveis e de qualidade. Esta atuação é fundamental
para gerar uma sociedade mais igualitária e de crescimento econômico
ecologicamente sustentável.

Exigir aumento de matrículas em creches públicas de tempo integral de


forma a viabilizar uma melhor distribuição do trabalho de cuidados.

Exigir que as escolas públicas para crianças até 14 anos sejam de tempo
integral, permitindo participação mais efetiva das mulheres no mercado
de trabalho.

Exigir a extensão do período de aulas no ensino público brasileiro como


forma de melhorar a qualidade do ensino e reduzir desigualdades.

Exigir a criação, melhoria e ampliação de vagas e instituições para


atendimento de pessoas com algum tipo de necessidades específicas,
idosas, enfermas, pessoas com deficiências, sejam instituições para
150
cuidados por dia ou continuada, de estadia permanente ou temporária.

Exigir a ampla criação e expansão de vagas em casas abrigo para mulheres


vítimas de violência doméstica e de gênero, para pessoas LGBTQIA+ em
situação de vulnerabilidade e para pessoas sem teto.

Criar restaurantes populares, importantes como instrumento de combate à


insegurança alimentar, sendo uma forma de garantir a soberania alimentar
e segurança alimentar e nutricional para todas as pessoas, sobretudo em
tempos de empobrecimento e aumento do desemprego decorrentes de
crises.

Exigir a implementação de uma reforma agrária. A garantia da posse


da terra é garantia de cuidados básicos familiares para a população do
campo.

Propor uma política de reconhecimento da economia dos cuidados como


uma política de luta contra a pobreza e a desigualdade, de proteção social
e do trabalho e a ampliação e o fortalecimento de sistemas públicos de
cuidados.

Incluir nos planos econômicos, orçamento público federal, estadual e


municipal os créditos necessários para a criação dos equipamentos
necessários nas escolas e nas cidades para democratizar a economia dos
cuidados para toda a população.

4.3.2 Pesquisas e informações estatísticas

Mais e melhores informações estatísticas são fundamentais para o bom


delineamento de políticas públicas, reduzindo seus vieses e garantindo
sua melhor adequação e resultados.

Realizar regularmente (a cada cinco ou dez anos) pesquisas de “Uso


do Tempo” sobre a organização social dos cuidados e a economia dos
cuidados (trabalho remunerado e não remunerado).
151
Criação da Conta Satélite do Trabalho Não Remunerado, formulada a
partir das pesquisas regulares de Uso do Tempo, a ser incorporada às
Contas Nacionais.

Promover estudos e pesquisas sobre cuidados no Brasil com inclusão de


recortes de sexo, raça e/ou cor, etnia, região do país, capital e interior, zona
rural e urbana.

4.3.3 Uma melhor distribuição do trabalho dos cuidados

Os cuidados devem ser entendidos como parte da vida de todas as


pessoas. Sendo assim, algumas medidas devem viabilizar uma melhor
distribuição desse trabalho entre as pessoas da família e entre as
famílias e instituições públicas e privadas da sociedade.

Formalizar licenças parentais que garantam a pais e mães, biológicos ou


adotivos, um mesmo tempo de cuidado do bebê, usando como referência o
que tem sido implementado em outros países e análises sobre resultados.

Criar formas de se viabilizar a permanência ou o retorno à escola de


jovens mães que tiveram gravidez na adolescência, possibilitando sua
qualificação para uma melhor participação no mercado de trabalho.

Exigir que as empresas e empregadores aceitem maior flexibilização das


horas de trabalho, contribuindo para mudar a cultura de serem sempre as
mulheres aquelas que saem ou faltam ao trabalho para atender eventos
de doença ou demandas de familiares. E que por esta razão são preteridas
para postos de trabalho.

Exigir legislação e formas de coerção que garantam remuneração igual


para trabalhos iguais, punindo discriminações por gênero ou raça/cor.
OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO
BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDA-
DOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS
CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL
• OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO
BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDA-
DOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS
CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL
• OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO
BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDA-
DOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS
CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL
• OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO
BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDA-
DOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS
CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL
• OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO
BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDA-

Referências
DOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS
CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL
• OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO

Bibliográficas
BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDA-
DOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS
CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL
• OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO
BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDA-
DOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS
CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL
• OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO
BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDA-
DOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS
CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL
• OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO
BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDA-
DOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS
CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL
• OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO
BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDA-
DOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL • OS
CUIDADOS NO BRASIL • OS CUIDADOS NO BRASIL
ABREU, A. R. de P.; HIRATA, H.; LOMBARDI, M. R. (org.) Gênero e trabalho no
Brasil e na França: perspectivas interseccionais. São Paulo: Boitempo, 2016.

ARAÚJO, C.; PICANÇO, F.; CANO, I. Onde as desigualdades de gênero se


escondem? Gênero e divisão do trabalho doméstico: o Brasil em perspectiva
comparada. Rio de Janeiro: Gramma, 2019.

BAHIA, L.; CHADE, J.; DEDECCA, C. S.; DOMINGUES, J. M.; GONÇALVES, G. L.;
HERZ, M.; LAVINAS, L.; OCKÉ-REIS, C.; ORTIZ, M. E. R.; SANTOS, F. A tragédia
brasileira do coronavírus. Insight Inteligência, Ano XXIV, abr/mai/jun, 2021, pp.
60-89. https://inteligencia.insightnet.com.br/pdfs/93.pdf

BANDEIRA, L.; MELO, H. P. de; PINHEIRO, L. Mulheres em dados: o que informa a


PNAD/IBGE, 2008. Revista do Observatório Brasil da Igualdade de Gênero.
Brasília: Presidência da República, Secretaria de Políticas para as Mulheres,
Edição especial, 2009, pp.107-119

BRUSCHINI, C.; PINTO, C. R. (org.). Tempos e lugares de gênero. SP: Fundação


Carlos Chagas, Ed. 34, 2001.

DAFLON, V. T. Tão longe e tão perto, pretos e pardos e o enigma racial. Tese
(Doutorado), Centro de Ciências Sociais, Instituto de Estudos Sociais e Políticos,
Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), 2014.

DIEESE, Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos,


Boletim EMPREGO em Pauta, SP, Junho de 2021

ECLAC Economic Commission for Latin America and the Caribbean. “The
economic autonomy of women in a sustainable recovery with equality”, Special
Report COVID-19, n. 9, February 10th, 2021, https://www.cepal.org/sites/default/
files/publication/ files/46634/S2000739_en.pdf

CONSIDERA, C. M.; KELLY, I., “O V da Vacina”, Monitor PIB, FGV, 19/10/2021.

FARES, L. S; OLIVEIRA, A. L. M. de; CARDOSO, L.; NASSIF-PIRES, L. As políticas


econômicas implementadas no Brasil durante a pandemia sob a perspectiva
de gênero, Nota de Política Econômica, Made / FEA / USP, n. 6, janeiro, 2021.

FEDERICI, S. O Patriarcado do salário: notas sobre Marx, gênero e feminismos.


São Paulo: Boitempo, 2021, vol. 1, 1a ed.

GORAYEB, D. S.; FONSECA, C. V. C; FILLETI, J. de P.; CAJUEIRO, J. P. M.


Uma análise do mercado de trabalho no contexto da crise econômico-
sanitária de 2020: efeitos sobre as mulheres, sua saída da força de trabalho
e sua indisponibilidade. In: Anais do XXVI Encontro Nacional de Economia
Política, evento virtual, 08-11 de junho, 2021. https://enep.sep.org.br/
uploads/1649_1615673090_SEP_trabalho_identificado_pdf_ide.pdf

HIRATA, H. Care e intersecionalidade, uma questão política. In: MARUANI, M.


(org.). Trabalho, logo existo. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2019, pp.79-91.
HIRATA, H. S.; GUIMARÃES, N. A. O Gênero do Cuidado: desigualdades,
significados e identidades. SP: Ateliê Editorial, 2020.

HIRATA, H.; SEGNINI, L. R, P. (org.). Organização, trabalho e Gênero. São Paulo:


Ed. SENAC, 2007.

IBGE INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Estatísticas


de Gênero: uma análise dos resultados do Censo Demográfico de 2010.
Coordenação de População e Indicadores Sociais, Rio de Janeiro: IBGE, 2014.

______. Síntese de Indicadores Sociais: uma análise das condições de


vida da população brasileira, vários anos, Coordenação de População e
Indicadores Sociais, Rio de Janeiro: IBGE, 2015, 2016 e 2021.

______. Outras formas de trabalho 2016, PNAD contínua, IBGE, 2017

______. Brasil em números. Rio de Janeiro: IBGE, vol. 29, 2021

______. PNAD Contínua, vários anos

______. PNAD Covid-19, 2020

______. Sistema de Contas Nacionais

ILO International Labor Organization. COVID-19 and the world of work. ILO
Monitor: Updated estimates and analysis, 7th edition, January 25th, 2021.

IMF International Monetary Fund. World Economic Outlook: Recovery during a


Pandemic - health concerns, supply disruptions, price pressures. Washington,
DC: IMF, October, 2021. https://static.poder360.com.br/2021/10/world-economic-
outlook-fmi-out2021.pdf

IPEA INSTITUTO DE POLÍTICA ECONÔMICA APLICADA. O trabalho remoto e a


pandemia: o que a PNAD Covid- 19 nos mostrou. Carta de Conjuntura, Nota de
Conjuntura 8, Rio de Janeiro: IPEA, n. 50, 1º trimestre, 2021.

ITABORAÍ, N. R.; RICOLDI, A. M. (org.). Até onde caminhou a revolução de gênero


no Brasil? Implicações demográficas e questões sociais. Belo Horizonte/MG:
ABEP, 2016.

JESUS, J. C. Trabalho doméstico não remunerado no Brasil: uma análise


de produção, consumo e transferência. Tese (Doutorado em Demografia do
Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional), Faculdade de Ciências
Econômicas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2018.

LOURENÇO, M. I. M.; CASTRO, M. G. Domestic workers and Covid19 in Brazil:


staging resistance, presenting scenarios and challenges. In: Insights feministas,
resiliências e resistência em tempos de Covid-19: perspectivas do sul global.
Fundação Rosa Luxemburgo, 2020.
KERGOAT, D. Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo. In., HIRATA,
H.; LABORIE, F.; LE DOARÉ, H.; SENOTIER, D. (org.). Dicionário crítico do
feminismo. São Paulo: Unesp, 2009, pp. 67-75.

______. O cuidado e a imbricação das relações sociais. In: ABREU, A. R. de P.;


HIRATA, H.; LOMBARDI, M. R. (org.). Gênero e trabalho no Brasil e na França:
perspectivas interseccionais. São Paulo: Boitempo, 2016, pp. 17-26.

______. O trabalho, um conceito central para os estudos de gênero? In:


MARUANI, M. (org.). Trabalho, logo existo: perspectivas feministas. Rio de
Janeiro: FGV Editora, 2019, pp. 287- 294.

LOPEZ, F. G.; PALOTTI, P. L. de M.; BARBOSA, S. C. T.; KOGA, N. M. Mapeamento


dos profissionais de saúde no Brasil: alguns apontamentos em vista da crise
sanitária da Covid-19. Nota Técnica, Rio de Janeiro: IPEA / DIEST, n. 30, abril,
2020.

MARUANI, M.; MERON, M. Como contar o trabalho das mulheres? França,


1901-2011. In: ABREU, A. R. de P.; HIRATA, H.; LOMBARDI, M. R. (org.). Gênero
e trabalho no Brasil e na França: perspectivas interseccionais. São Paulo:
Boitempo, 2016, pp. 59-70.

MELO, H. P. de; CONSIDERA, C. M.; SABATTO, A. di. Os afazeres contam. Revista


Economia e Sociedade, Campinas/SP: UNICAMP, vol. 16, 3(31), dezembro, 2007,
pp. 435-454.

MELO, H. P. de; CONSIDERA, C. M.; SABATTO, A. di. Dez anos de mensuração


dos afazeres domésticos no Brasil, In: FONTOURA, N.; ARAUJO, C. (org.). Uso do
tempo e gênero. Rio de Janeiro: UERJ / SPM / IPEA, 2016, pp.173-188.

MELO, H.P.de; MORAES, L. L, de (orgs.). A arte de tecer o tempo: perspectivas


feministas, Campinas/SP: Pontes Ed., 2020, p. 245.

MELO, H. P. de; MORANDI, L. Cuidados no Brasil: conquistas, legislação e


políticas públicas. São Paulo: Fundação Friedrich Ebert Stiftung, dezembro de
2020.

MELO, H. P. de; MORANDI, L.; DWECK, R. H. Uso do tempo e valoração do


trabalho não remunerado no Brasil. In: MELO, H. P. de; MORAIS, L. de (org.).
A arte de tecer o tempo: perspectivas feministas, Campinas/SP: Pontes Ed.,
2020, pp.75-107.

MELO, H. P. de; MORANDI, L. Uma análise da distribuição do PIB per capita entre
mulheres e homens no Brasil, 1991-2015. Revista de Economia Contemporânea,
v. 25, n. 1, jan/abr, 2021, pp.1-23.

MELO, H. P. de; MORANDI, L. Cuidados en Brasil: logros, legislación y políticas


públicas. In: TORRES SANTANA, A. Los cuidados: del centro de la vida al
centro de la política. Santiago de Chile: Friedrich-Ebert-Stifung (FES), Tomo 3,
pp. 145-185.
MELO, H. P. de; THOMÉ, D. Mulheres e poder: histórias, ideias e indicadores.
RJ: FGV Editora, 2018.

MORAES, L. L. de; NASCIMENTO, N. M. da S. Mulheres rurais nordestinas e


desviantes: um estudo sobre a quebra das expectativas de gênero no meio
rural. Amazônica: Revista de Antropologia, [S. l.], v. 12, n. 2, pp. 725-747, fev.
2021. ISSN 2176-0675. https://periodicos.ufpa.br/index.php/amazonica/article/
view/8310, doi: http://dx.doi.org/10.18542/amazonica.v12i2.8310.

MORAES, L. L. de; SIEBER, S. S.; FUNARI, J. N.; PONTES, N. L. M. T. Classificação


do uso do tempo em atividades e trabalhos diários das mulheres rurais
(CATMUR). In: MELO, H. P. de; MORAES, L. L. de. (org.). A arte de tecer o tempo:
perspectivas feministas. Campinas: Pontes Editores, e-book, 2021, pp. 235-372.

MORANDI, L. Política fiscal no Brasil: principais diretrizes e impactos, 2000-2019.


In: GUANZIROLI, C. E.; CASTELLANO, A.; GHIBAUDI, J.; ARTICA, R. P. Políticas
públicas na Argentina e no Brasil (2003-2020): diferenças, convergências e
desafios. UFF / EDUFF / UNS / CAPES, cap. 5, pp. 143-159, 2021, no prelo.

MORANDI, L.; MELO, H. P. de. Mujeres y educación en Brasil: una mirada de


género. In: PÉREZ, T. G. (coord.). La Educación de las Mujeres en Iberoamérica:
análisis histórico. Valencia, España: Tirant Humanidades, 2019, pp. 719-758.

NASSIF, A.; MORANDI, L.; ARAÚJO, E.; FEIJÓ, C. Economic development and
stagnation in Brazil (1950-2011). Structural Change and Economic Dynamic,
vol. 53, June, 2020, pp. 1-15.

OLIVEIRA, A. L. M.; PASSOS, L.; GUIDOLIN, A. P.; WELLE, A.; PIRES, L. N.


Austeridade, pandemia e gênero. In: DWECK, E.; ROSSI, P.; OLIVEIRA, A. L. (org.).
Economia pós-pandemia, desmontando os mitos da austeridade fiscal e
construindo um novo paradigma econômico. SP: Autonomia Literária, 2020,
pp.153-171.

OROZCO, A. P. Perspectivas feministas en torno a la economía: el caso de los


cuidados. Este texto fue editado por el Consejo Económico y Social en 2006.
Editores: Madrid : Consejo Económico y Social, 2006.

OXFAM OXFORD COMMITTEE FOR FAMINE RELIEF. Tempo de cuidar: o


trabalho de cuidado não remunerado e mal pago e a crise global da
desigualdade. OXFAM Internacional, janeiro, 2020. https://depositorioceds.
espm.edu.br/tempo-de-cuidar-o-trabalho-de-cuidado-nao-remunerado-e-mal-
pago-e-a-crise-global-da-desigualdade/

PARREIRAS, C.; MACEDO, R. M. Desigualdades digitais e educação: breves


inquietações pandêmicas. Boletim Cientistas Sociais da ANPOCS, n. 36, 08 de
maio, 2020. http://www.anpocs.com/index.php/publicacoes-sp-2056165036/
boletim - cientis tas- sociais / 2350 - boletim - n -36 - cientis tas- sociais- e - o -
coronavirus. Acesso em 08/05/2020.

PENA, M. V. J. Mulheres e trabalhadoras: presença feminina na constituição


do sistema fabril. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.
PEREZ, C. C. Invisible women: exposing data bias in a world designed by men.
London: Vintage, 2019.

PICCHIO, A. La economía política y la investigación sobre las condiciones de


vida. In: CAIRÓ I CÉSPEDES, G.; MAYORDOMO RICO, M.; CARRASCO BENGOA,
C.; VILLOTA GIL-ESCOIN, P. de (comp.). Por una Economía sobre la vida:
aportaciones desde un enfoque feminista. Barcelona: Icaria Editorial, 2005.

PNUD PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO; UNICEF


FUNDO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A INFÂNCIA; UNESCO ORGANIZAÇÃO
DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO A CIÊNCIA E A CULTURA; OPAS
ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE. COVID-19 e desenvolvimento
sustentável: avaliando a crise de olho na recuperação. Brasília, DF, 2021.

QUIGGIN, J. Zombie economics: how dead ideas still walk among us. UK /
USA: Princeton University Press, 2010.

ROSEMBERG, F.; MADSEN, N. Educação formal, mulheres e gênero no Brasil


contemporâneo. In: BARSTED, L. L.; PITANGUY, J. (org.). O Progresso das
mulheres no Brasil 2003-2010. Rio de Janeiro / Brasília: CEPIA / ONU Mulheres,
2011, pp. 390-434.

SAFFIOTI, H. I. B. A mulher na sociedade de classes: mito e realidade.


Petrópolis: Vozes, 1976.

SAINI, A. Inferior: how science got women wrong and the new research that’s
rewriting the story. Boston: Beacon Press, 2017

SAYEH, A.; HONDA, J.; RENTERIA, C.; TANG, V. “Engendering the recovery:
budgeting with women in mind”, IMFBlog, March 5th, 2021, https://blogs.imf.
org/2021/03/05/engendering-the-recovery-budgeting-with-women-in-mind/

SEGATO, R. Crítica da colonialidade em oito ensaios e uma antropologia por


demanda. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2021.

SOARES, C. A importância das informações de uso do tempo para os estudos


de gênero no Brasil: algumas considerações sobre as pesquisas domiciliares
oficiais. In: MELO, H. P. de; MORAIS, L. de (org.). A arte de tecer o tempo:
perspectivas feministas. Campinas/SP: Pontes Ed., 2020, pp. 75-107.

SOUZA, P. H. G. F. de. Uma história de desigualdade: a concentração de renda


entre os ricos no Brasil 1926-2013. São Paulo: Hucitec, ANPOCS, 2018.

SOUZA-LOBO, E. A classe operária tem dois sexos: dominação e resistência.


São Paulo/SP: Expressão Popular, Fundação Perseu Abramo, 2010, 2a. ed.

STORM, S. “Austerity raises covid deaths”. Institute of New Economic Thinking,


2021. https://www.ineteconomics.org/perspectives/blog/austerity-raises-covid-
deaths
TEIXEIRA, M. O. A crise econômica e as políticas de austeridade: efeitos sobre
as mulheres. In: ROSSI, P.; DWECK, E.; OLIVEIRA, A. L. M. de (org.). Economia
para poucos: impactos sociais da austeridade e alternativas para o Brasil,
2018, pp. 281-300.

TORRES SANTANA, A. Introducción: la larga duración del debate sobre los


cuidados. In: TORRES SANTANA, A. Los cuidados: del centro de la vida al
centro de la política. Santiago de Chile: Friedrich-Ebert-Stifung (FES), Tomo 1,
2 e 3, pp. 9-61.

UNFPA United Nations Population Fund. “New UNFPA projections calamitous


impact on women’s health as COVID-19 pandemic continues”, UNFPA Press
Release, April, 2020, https://www.unfpa.org/press/new-unfpa-projections-
predict-calamitous-impact-womens-health-covid-19-pandemic-continues

UN Women United Nations Women. “Whose time to care? Unpaid care and
domestic work during Covid-19”. Technical Note on UN Women Rapid Gender
Assessment Surveys, November, 2020, https://data.unwomen.org/publications/
whose-time-care-unpaid-care-and-domestic-work-during-covid-19

VANDELAC, L.; BÉLISLE, D.; GAUTHIER, A.; PINARD, Y. (org.). Du travail et de


l’amour: les dessous de la production domestique. Montréal / Québec: Les
Éditions Saint-Martin, 1988, 2a. ed.

VAROUFAKIS, Y. The global minotaur: America, Europe and the future of the
global economy. London: Zed Books, 2015.

VIECELI, C. P. Economia Feminista e Trabalhos Reprodutivos Não


Remunerados: Conceito, Análise e Mensuração. Tese (Doutorado em
Economia), Programa de Pós-Graduação em Economia, Faculdade de Ciências
Econômicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2020.

VICKERY, C. The time-poor: a new look at poverty. The Journal of Human


Resources, vol. 12, n. 1, Winter, 1977, pp. 27-48.

VINUTO, J. A amostragem em bola de neve na pesquisa qualitativa: um debate


em aberto. Temáticas, vol. 22, n. 44, ago/dez, 2014, pp. 203-220.

WOOD, E. M. Democracia contra o capitalismo: a renovação do materialismo


histórico. São Paulo: Boitempo, 2011.

WAJNMAN, S. “Quantidade” e “qualidade” da participação das mulheres na


força de trabalho brasileira. In: ITABORAÍ, N. R.; RICOLDI, A. M. (org.). Até onde
caminhou a revolução de gênero no Brasil? Implicações demográficas e
questões sociais. Belo Horizonte/MG: ABEP, 2016, pp. 45-58.

WARING, M. If women counted: a new feminist economics. EUA: Harper San


Francisco, 1988.

Você também pode gostar