Tribunal de Justiça da Paraíba
PJe - Processo Judicial Eletrônico
16/07/2025
Número: 0817592-56.2025.8.15.0001
Classe: PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL
Órgão julgador: 1º Juizado Especial Cível de Campina Grande
Última distribuição : 15/05/2025
Valor da causa: R$ 11.135,12
Assuntos: Atraso de vôo, Cancelamento de vôo
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Procurador/Terceiro vinculado
MARIANA VITORIA RODRIGUES JACOME (AUTOR) MARIANA VITORIA RODRIGUES JACOME (ADVOGADO)
JOAO PEDRO INACIO VARELA (AUTOR) MARIANA VITORIA RODRIGUES JACOME (ADVOGADO)
AZUL LINHA AEREAS (REU) FLAVIO IGEL (ADVOGADO)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
11527 07/07/2025 14:22 Projeto de sentença Projeto de sentença
2894
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA PARAÍBA
COMARCA DE CAMPINA GRANDE
Juízo do(a) 1º Juizado Especial Cível de Campina Grande
R VICE-PREFEITO ANTÔNIO DE CARVALHO SOUSA, S/N, ESTAÇÃO VELHA,
CAMPINA GRANDE - PB - CEP: 58157-999
Tel.: ( ) ; e-mail:
Telefone do Telejudiciário: (83) 3216-1440 ou (83) 3216-1581
v.1.00
SENTENÇA
Nº do Processo: 0817592-56.2025.8.15.0001
Classe Processual: PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL (436)
Assuntos: [Atraso de vôo, Cancelamento de vôo]
AUTOR: MARIANA VITORIA RODRIGUES JACOME, JOAO PEDRO INACIO VARELA
REU: AZUL LINHA AEREAS
Vistos
Relatório dispensado (art. 38 da Lei 9099/95).
Passo a decidir.
FUNDAMENTAÇÃO
Trata-se de demanda cuja causa de pedir versa sobre falha na prestação do serviço do
réu, em razão de atraso imotivado e inesperado de voo e as consequências que advieram dessa demora.
Resta incontroverso nos autos que os autores adquiriram passagem aérea para o seguinte
trecho: Foz do Iguaçu, Campina Grande, com saída programada para o dia 17/04/2025, com destino final
em Campina Grande no dia 18/04/2025, às 11:30h. No decorrer da viagem, já no aeroporto de Viracopos,
onde realizaria a primeira conexão, houve atraso, o que gerou a perda do voo de Recife.
Em função disso, foram acomodados em van com destino a Campina Grande, chegando
lá às 15:30h do dia 18/04.
Assim, tendo o réu descumprido o contrato inicialmente estabelecido, atrasando de
forma inesperada o voo do trecho São Paulo-Campina Grande e atrasando em demasia a chegada ao
destino final, deve responder objetivamente pelos danos que ocasionar, nos termos do art. 14 do CDC.
Trata-se, no caso, de responsabilidade objetiva, que independe de apuração de culpa para sua
configuração, bastando que o autor demonstre a existência do dano e do nexo de causalidade, o que restou
evidenciado.
Ademais, como prestadora de serviço, correm por conta da ré os riscos inerentes a sua
atividade e a forma como oferece seus serviços no mercado. O fortuito interno (manutenção na aeronave),
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não exclui a responsabilidade do fornecedor porque faz parte dos riscos da atividade desenvolvida pela
promovida, não ocorrendo o rompimento do nexo causal.
Restando, portanto, demonstrado os pressupostos para a responsabilização civil da parte
ré, reputa-se ocorrido o dano moral em face da promovente.
Evidenciada a ocorrência na falha da prestação de serviços por parte da companhia
aérea, o STJ possui entendimentos que o dano moral nestes casos decorre da surpresa, demora,
desconforto, aflição e dos transtornos suportados pelo passageiro, não se exigindo prova por ser
considerado in re ipsa.
Veja-se nesse sentido: "A responsabilidade da companhia aérea é objetiva, pois o dano
moral decorrente de atraso de voo opera-se in re ipsa. O desconforto, a aflição e os transtornos suportados
pelo passageiro não precisam ser provados, na medida em que derivam do próprio fato" (AgRg no Ag
1.323.800/MG, Relator Ministro Raul Araújo).
Apesar do recente julgado proferido pelo STJ no REsp 1.584.465-MG, julgado em
13/11/2018 e veiculado no informativo 638 com a tese de que “Na hipótese de atraso de voo, não se
admite a configuração do dano moral in re ipsa”, há que se considerar a ratio decidendi a fim de afastá-lo
do caso concreto. No inteiro teor ficou consignado que, outros fatores devem ser considerados a fim de
que se possa investigar acerca da real ocorrência do dano moral, exigindo-se, por conseguinte, a prova,
por parte do passageiro, da lesão extrapatrimonial sofrida. As circunstâncias que envolvem o caso
concreto servirão de baliza para a possível comprovação e a consequente constatação da ocorrência do
dano moral, como por exemplo I) a averiguação acerca do tempo que se levou para a solução do
problema, isto é, a real duração do atraso; II) se a companhia aérea ofertou alternativas para melhor
atender aos passageiros; III) se foram prestadas a tempo e modo informações claras e precisas por parte da
companhia aérea a fim de amenizar os desconfortos inerentes à ocasião; IV) se foi oferecido suporte
material (alimentação, hospedagem, etc.) quando o atraso for considerável; V) se o passageiro, devido ao
atraso da aeronave, acabou por perder compromisso inadiável no destino, dentre outros.
Na hipótese dos autos, trata-se de atraso de voo inesperado, sujeitando os autores aos
mais diversos transtornos, postergando em 4h e 30min a chegada ao destino final. Ademais, não restou
devidamente comprovado pelo réu o cumprimento da Resolução 400 da ANAC, não havendo evidencia
de que o réu tenha prestado a assistência material integral devida no caso (alimentação), pois o
consumidor nega veementemente essa assistência. O réu descumpriu o ônus probatório em demonstrar a
efetiva prestação das obrigações estipuladas pela resolução citada, descumprindo, pois, o art. 373, II,
CPC/2015.
Assim, no caso concreto, ainda que se considere que não se trata de dano moral in re
ipsa pela invocação do novo julgado do STJ, as circunstâncias que envolveram o caso denotam
inequivocamente danos à honra objetiva e/ou subjetiva da parte autora, mister o arbitramento de valor
indenizatório proporcional aos danos suportados.
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Quanto à fixação do quantum, se faz necessária a observância de alguns parâmetros –
apontados tanto pela doutrina, como pela jurisprudência –, dos quais o juiz, quando da fixação da
indenização por danos morais, não pode se olvidar.
Dada à alta carga de subjetividade conferida à matéria, o juiz deve-se valer do bom
senso e da proporcionalidade, valendo-se da análise das circunstâncias gerais e específicas do caso
concreto, aferíveis a partir de critérios como a condição socioeconômica das partes, o grau de culpa do
ofensor, o grau de sofrimento do ofendido (honra subjetiva), a repercussão do dano perante a comunidade
(honra objetiva) etc.
Frise-se que, ainda que os danos sejam substancialmente lesivos, o valor arbitrado não
poderá servir de fonte para o enriquecimento ilícito da parte ofendida, e, ao mesmo tempo, deverá ser apto
a desestimular o ofensor a reiterar a conduta danosa.
No caso concreto, não obstante a companhia aérea ter providenciado deslocamento para
o destino pretendido, levo em consideração os transtornos causados com o atraso inesperado, o tempo
inicialmente previsto para chegada ao destino final e o efetivamente ocorrido, o desgaste físico e
psicológico presumível do passageiro, a realização de parte do trecho por meio terrestre, de modo que,
fixo, a título de compensação extrapatrimonial, a indenização no valor de R$ 3.500,00 em favor de
cada autor, em razão dos danos morais suportados e de acordo com valores e parâmetros praticados em
casos semelhantes e não R$ 10.000,00 como pretendem.
Ademais, os cancelamentos do voo por motivos de ordem técnica têm sido prática
recorrente na empresa aérea demandada e objeto de inúmeras ações neste juizado, o que demonstra a falta
de cuidado e desprestígio aos seus passageiros, além do que revela que as condenações não estão surtindo
o efeito pedagógico visado.
Quanto aos danos materiais, rejeito o pedido de restituição do valor das passagens
aéreas por evidenciar enriquecimento sem causa. Embora o contrato não tenha sido contrato nos exatos
termos em que previsto, a promovida cumpriu o dever de transporte até o destino pretendido, de maneira
que descabe qualquer pedido nesse sentido.
DISPOSITIVO
Por todo o exposto, acolho a pretensão autoral, e nos termos do art. 487, I,
CPC/2015, julgo PARCIALMENTE PROCEDENTE a demanda, condenando a parte promovida
ao pagamento de indenização pelos Danos Morais no importe de R$ 3.500,00 em favor de cada
autor.
A importância do dano moral será corrigida monetariamente através do IPCA (art. 389,
§ único do CC) a contar desta decisão, e acrescidos de juros moratórios conforme a taxa SELIC, deduzido
o índice de atualização monetária de que trata o § único do art. 389 do CC (art. 406, § 1º do CC),
contados da data da citação. Após a citação, apenas incidirá a taxa Selic, por completo, como índice
unificado de juros e correção monetária.
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Sem custas e honorários (art. 55 da Lei 9099/95).
Publicação e registros eletrônicos.
Intimem-se, especialmente o vencido para cumprir a sentença tão logo ocorra o seu
trânsito em julgado, advertido dos efeitos do seu descumprimento (Lei 9.099/95, art. 52, III).
Transitada em julgado e não cumprida voluntariamente a obrigação pelo vencido,
intime-se o autor para dar início ao cumprimento de sentença, na forma e no prazo do art. 523, CPC/2015
c/c art. 52 da Lei 9099/95, sob pena de arquivamento.
Submeto a decisão à homologação, nos termos do art. 40 da 9099/95.
Campina Grande, Data pelo PJE
ALBERTO QUARESMA JUNIOR
Juiz Leigo
Assinado eletronicamente por: ALBERTO QUARESMA JUNIOR - 07/07/2025 14:22:50 Num. 115272894 - Pág. 4
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