MEDICINA VETERINÁRIA
JOYCE CAMILLA PEREIRA SANTOS
RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR
SUPERVISIONADO – RELATO DE CASO: CASO CLÍNICO
DE MORMO EQUINO
Palmas - TO
2021
Joyce Camilla Pereira Santos
RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR
SUPERVISIONADO – RELATO DE CASO: CASO CLÍNICO
DE MORMO EQUINO
Relatório de Estágio Curricular
Supervisionado, apresentado ao Curso de
Medicina Veterinária do Centro Universitário
Católica do Tocantins, como pré-requisito
para obtenção do título de bacharel em
Medicina Veterinária.
Professor Orientador: ANDRÉ LUIZ
HOEPPNER RONDELLI.
Palmas - TO
2021
DEDICATÓRIA
Dedico esse trabalho ao meu avô Raimundo Nonato Santos (in memoriam),
por desde a minha infância acreditar no meu sonho de ser Médica Veterinária e me
incentivar. Dedico aos meus pais e meu irmão, por sempre estarem ao meu lado e
serem meu alicerce em tudo.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus e a Nossa Senhora de Aparecida por
estarem ao meu lado ao longo dessa caminhada, me dando discernimento para
compreender tudo, por me darem forças e me protegerem longe de casa.
Aos meus queridos pais João Santos e Edna Cristina, pelo incentivo, carinho,
pela oportunidade de realizar o sonho de infância e por não terem medido esforços
para que eu chegasse até aqui.
Ao meu irmão Jonathan por ser meu porto seguro e meu melhor amigo.
Agradeço ao meu namorado Gustavo Henrique, por todo o carinho que é com
quem divido o sonho da medicina veterinária, que não mede esforços para me
ajudar e me ver feliz.
As minhas 3 (três) cachorrinhas Mel, Jhuly e Pandora que me alegravam nos
meus piores dias e a Rebeca que mesmo após sua partida nunca será esquecida.
A minha amiga Andressa Agnária, que mesmo longe me ajuda quando eu
preciso, sei que posso contar para tudo.
A minha amiga Allyne, pela amizade sincera, por todos os conselhos, outra
pessoa que sei que posso contar para tudo.
Agradeço as amizades que fiz ao longo da graduação: Olga Maria, Maria
Laura, João Paulo, Rodrigo e Breno, por toda a ajuda, todos os dias compartilhados,
por todos os conselhos, se tornaram grandes amigos.
A Mariana Teles e Raquel Moura, que me aproximei bastante durante o
estágio, foram grandes companheiras e pude contar com a ajuda de ambas.
A minha supervisora Isadora Mello, por ter me ajudado e passado todo o
conhecimento, por ter me mantido calma e passado tranquilidade, aos demais da
Gerencia de Sanidade Animal por terem me recebido tão bem.
Ao meu orientador André Rondelli, que é uma grande inspiração, por todo o
auxilio e ajuda prestada durante o estágio.
A todos os professores que tive na faculdade, vocês foram incríveis durante
toda a caminhada e são os grandes responsáveis de tudo isso.
Ao Narcísico, equino cujo tema desse trabalho é um relato de caso positivo
para mormo, que infelizmente foi submetido à eutanásia e que será sempre
lembrado por mim.
.
“Tu te tornas eternamente responsável, por aquilo que cativas.”
(O Pequeno Príncipe)
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 - Prédio onde se encontra a sede e a unidade local da ADAPEC no município de
Palmas, localizada na quadra 104 Sul, Rua Se 01 – Lote 04, na qual foi realizado o estágio
curricular supervisionado no período de 05 de agosto a 19 de novembro de 2021. ............. 13
Figura 2 Dependências do escritório onde funciona a gerência de sanidade animal na
ADAPEC, na qual se encontram os 10 programas da sanidade animal. ............................... 14
Figura 3 - Equino contido por cabresto, positivo para AIE, no município de Mateiros. (A)
Aplicação intravenosa de T-61 para realização da eutanásia; (B) Equino após o
procedimento de eutanásia, próximo à vala que o proprietário abriu. .................................... 16
Figura 4 Vigilância epidemiológica realizada no município de Marianópolis, durante o
período de estágio curricular supervisionado. (A) Acompanhamento de coleta de amostra
sanguínea para saneamento de AIE (B) Avaliação de equino suspeito de mormo. .............. 18
Figura 5 - Necropsia e coleta de material encefálico em bovino no município de Novo
Acordo, com suspeita de raiva, durante o período de estágio supervisionado. (A) Estagiária
auxiliando o médico veterinário Sérgio Liocadio na abertura do crânio do bovino. (B)
Encéfalo exposto após abertura da calota craniana evidenciando o encéfalo de bovino. ..... 19
Figura 6 - Coleta de material encefálico em bezerro no município de Aparecida do Rio
Negro. (A) Realizando a divulsão do tegumento do crânio para assim fazer a serragem e
coleta do encéfalo para suspeita de raiva; (B) encéfalo exposto após a retirada para enviar
para laboratório, com suspeita de raiva. .................................................................................. 20
Figura 7 Coleta de material encefálico de suspeita de raiva. (A) marcação de corte com
serra no crânio bovino; (B) encéfalo já retirado....................................................................... 20
Figura 8 Coleta de material e necropsia em peixe. (A) exposição de órgãos de peixe; (B)
sinais que a doença da ferrugem causa nos peixes. .............................................................. 22
Figura 9 Equino, macho, com 10 anos de idade, da raça quarto de milha, positivo para
mormo pelo exame confirmatório de WB, no município de Marianópolis – TO...................... 34
Figura 10 Exame clínico em equino com mormo atendido durante visita à propriedade,
localizada em Marianópolis – TO, no dia 27 de outubro de 2021. A. Discreta presença de
nódulos no flanco do lado direito em equino. B. Leve corrimento nasal unilateral de
característica límpida. C. Avaliação das glândulas submandibulares, que apresentou
aumento. ................................................................................................................................... 35
Figura 11 Amostras coletadas de equino positivo para mormo. A. Abcesso calcificado em
amostra de fígado. B. Abcesso fibroso em amostra de fígado; C. Abcesso calcificado em
amostra de pulmão. D. Pool de amostras de pulmão para enviar ao MAPA......................... 37
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Relação de leituras de legislações realizadas ao longo do estágio supervisionado
na ADAPEC no Programa Estadual de Sanidade dos Equídeos, no período de 05 de agosto
a 19 de novembro de 2021. ..................................................................................................... 22
Tabela 2. Relação das atividades desenvolvidas durante o estágio supervisionado na
ADAPEC no período de 09 de agosto de 2021 a 19 de novembro de 2021: ......................... 23
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ADAPEC - Agencia de Defesa Agropecuária do Estado do Tocantins.
AIE- Anemia Infecciosa Equina.
CFMV – Conselho Federal de Medicina Veterinária.
DAS/MAPA – Departamento de Saúde Animal.
EEB – Encefalopatia Espongiforme Bovina.
FC - Fixação de Complemento.
GSA - Gerência de Sanidade Animal.
GTA - Guia de Trânsito Animal.
IN - Instrução Normativa.
LFDA/PE – Laboratório Federal de Defesa Agropecuária em Recife.
MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
OIE - Organização Mundial de Saúde Animal.
PECEBT- Programa Estadual de Controle e Erradicação de Brucelose e
Tuberculose.
PECRH - Programa Estadual de Controle da Raiva de Herbívoros;
PEEEB- Programa Estadual de Prevenção e Vigilância da Encefalopatia
Espongiforme Bovina;
PEEFA- Programa Estadual de Erradicação e Prevenção da Febre Aftosa;
PESA- Programa Estadual de Sanidade Avícola;
PESAA- Programa Estadual de Sanidade de Animais Aquáticos;
PESApi- Programa Estadual de Sanidade Apícola;
PESCO- Programa Estadual de Sanidade dos Caprinos e Ovinos;
PESE – Programa Estadual de Sanidade dos Equídeos.
PESS- Programa Estadual de Sanidade dos Suídeos;
PNSE - Programa Nacional de Sanidade dos Equídeos.
SDA/MAPA - Secretaria de Defesa Agropecuária.
SIDATO - Sistema Informatizado de Defesa Agropecuária do Estado do Tocantins.
SISBRAVET – Sistema Brasileiro de Vigilância e Emergências Veterinárias.
SVO – Serviço veterinário oficial.
UVL - Unidade Veterinária Local.
WB - Western Blotting.
LISTA DE SÍMBOLOS
% Percentual
® Marca registrada
SUMÁRIO
1. CAPÍTULO 1................................................................................................................. 12
1.1 INTRODUÇÃO............................................................................................................ 12
1.2 DESCRIÇÃO GERAL DO LOCAL DE ESTÁGIO ................................................................ 12
1.3 DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DE ESTÁGIO ................................................................. 15
1.3.1 PROGRAMA ESTADUAL DE SANIDADE DOS EQUÍDEOS ............................................ 16
1.3.2 PROGRAMA ESTADUAL DE CONTROLE DA RAIVA DE HERBÍVOROS .......................... 18
1.3.3 PROGRAMA ESTADUAL DE SANIDADE DOS ANIMAIS AQUÁTICOS ........................... 21
1.4 TABELA DE CASUÍSTICA ............................................................................................. 22
2. CAPITULO 2 - RELATO DE CASO: CASO CLÍNICO DE MORMO EQUINO. .......................... 25
RESUMO ......................................................................................................................... 25
2.1 INTRODUÇÃO............................................................................................................ 25
2.2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................................... 26
2.2.1 HISTÓRIA ............................................................................................................... 26
2.2.2 ETIOLOGIA ............................................................................................................. 27
2.2.3 EPIDEMIOLOGIA ..................................................................................................... 28
2.2.5 PATOGENIA............................................................................................................ 29
2.2.6 SINAIS CLÍNICOS ..................................................................................................... 30
2.2.7 DIAGNÓSTICO ........................................................................................................ 30
2.2.8 PREVENÇÃO E CONTROLE. ...................................................................................... 32
2.3 DESCRIÇÃO DO CASO ................................................................................................ 33
2.4. DISCUSSÃO .............................................................................................................. 38
2.5 CONCLUSÃO.............................................................................................................. 40
2.6 REFERÊNCIAS BIBLIOGÁFICAS .................................................................................... 40
CAPITULO 3 .................................................................................................................... 43
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 43
12
1. CAPÍTULO 1
1.1 INTRODUÇÃO
No período entre os dias 09 de Agosto a 19 de Novembro foi realizado o estágio
na sede da Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Tocantins (ADAPEC),
localizada no centro de Palmas – TO, sob a supervisão da Médica Veterinária e
Responsável Técnica do Programa Estadual de Sanidade dos Equídeos (PESE),
Isadora Mello Cardoso e orientação do Professor e Médico Veterinário André Luiz
Hoeppner Rondelli. O estágio foi realizado na área de sanidade animal que tem
várias ramificações, dentre elas a sanidade dos equídeos, que trata além da
sanidade, prevenção, vigilância epidemiológica dos equídeos e da saúde pública em
relação a zoonoses (doenças transmitidas entre as pessoas e os homens).
A escolha do local de estágio se deu devido a uma oportunidade de
acompanhar um médico veterinário de uma unidade local e se intensificou ainda
mais após as matérias de Defesa sanitária Animal e Saúde Pública e Epidemiologia
das Doenças Infecciosas e Zoonoses. Esse período de estágio é de bastante
importância, para sabermos ao certo para qual a área que realmente queremos dar
seguimento, a escolha foi de bastante aproveitamento e aprendizado.
O objetivo do presente trabalho é descrever onde foi realizado o estágio
supervisionado e relatar as atividades realizadas durante o período
1.2 DESCRIÇÃO GERAL DO LOCAL DE ESTÁGIO
O estágio curricular supervisionado foi realizado na ADAPEC no setor de
Gerência de Sanidade Animal (GSA), onde se encontram 10 programas que
envolvem a sanidade animal, que tem como gerente geral o médico veterinário
Sérgio Liocadio. Dentre estes programas está o PESE, que tem como foco principal
as doenças Anemia Infecciosa Equina (AIE), Febre do Nilo, Influenza Equina,
Encefalomielites Equinas e o Mormo que será o tema principal desse relatório de
estágio.
A ADAPEC é uma autarquia dividida em presidência, vice-presidência,
assessoria jurídica, assessoria de comunicação, assessoria técnica de planejamento
13
e de diretorias, além das delegacias regionais que ficam responsáveis por uma
determinada região do estado, unidades locais de execução que são os municípios e
unidades seccionais que são municípios que contem uma quantidade menor de
habitantes que não comporta uma unidade local. Atualmente a ADAPEC conta com
uma unidade central localizada no munícipio Palmas (figura 1) contando com 144
escritórios, com 11 delegacias regionais, 77 unidades locais e 62 unidades
seccionais, distribuídos nos 139 municípios do estado.
Figura 1 - Prédio onde se encontra a sede e a unidade local da ADAPEC no município de Palmas,
localizada na quadra 104 Sul, Rua Se 01 – Lote 04, na qual foi realizado o estágio curricular
supervisionado no período de 05 de agosto a 19 de novembro de 2021.
Fone: Arquivo pessoal, 2021.
Fundada em 10 de dezembro de 1988 é uma entidade de poder público, com
autonomia técnica, financeira e administrativa, ligada com a Secretaria da
Agricultura, da Pecuária e do desenvolvimento Agrário. Tem como funções
principais, planejar, coordenar e executar a Política Estadual de Defesa
Agropecuária, com o proposito de promover a vigilância, fiscalização, normatização,
inspeção e a ação das atividades de defesa animal e vegetal (ADAPEC, 2021).
As diretorias são separadas em administração e finanças e as diretorias
animal e vegetal, que são apresentadas como gerências de defesa, sanidade,
14
inspeção e educação sanitária. A gerência de sanidade animal (figura 2) se encontra
dentro da diretoria animal, que contem os programas de sanidade animal
determinado pelo MAPA – Ministério de agricultura, pecuária e abastecimento tendo
como propósito de erradicar, controlar e prevenir doenças no rebanho, de caráter
econômico ou zoonótico.
A gerência de sanidade animal é composta por 10 programas e o NEP -
Núcleo de Epidemiologia, que é responsável por levantamento de demandas,
recebimento e envio de amostras, que se dividem em:
• PESE- Programa Estadual de Sanidade dos Equídeos;
• PECRH- Programa Estadual de Controle da Raiva de Herbívoros;
• PESApi- Programa Estadual de Sanidade Apícola;
• PESAA- Programa Estadual de Sanidade de Animais Aquáticos;
• PESS- Programa Estadual de Sanidade dos Suídeos;
• PESA- Programa Estadual de Sanidade Avícola;
• PEEEB- Programa Estadual de Prevenção e Vigilância da Encefalopatia
Espongiforme Bovina;
• PEEFA- Programa Estadual de Erradicação e Prevenção da Febre Aftosa;
• PESCO- Programa Estadual de Sanidade dos Caprinos e Ovinos;
• PECEBT- Programa Estadual de Controle e Erradicação de Brucelose e
Tuberculose.
Figura 2 Dependências do escritório onde funciona a gerência de sanidade animal na ADAPEC, na
qual se encontram os 10 programas da sanidade animal.
15
Fonte: Arquivo pessoal, 2021.
1.3 DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DE ESTÁGIO
No primeiro dia do estágio foi demonstrado como funcionava a ADAPEC,
como era subdividida e quais setores faziam parte da mesma. Foi explicado o
funcionamento do PESE e houve a leitura de legislações estaduais, federais e de
alguns processos de AIE para começar a entender como funcionava o programa.
Dentro do programa de estágio, existiam 3 (três) estagiárias que fazia o
acompanhamento das ações a campo, Joyce do PESE e Mariana do PECRH onde
realizavam seus estágios dentro da GSA, e Raquel que era estagiária da delegacia
regional da ADAPEC. Ambas entravam as 08h00minhrs da manhã, tinham
02h00minhrs de almoço, retornavam as 14h00minhrs e saiam as 18h00minhrs. Após
determinação do governo do estado, houve a redução da carga horaria, com entrada
as 08h00minhrs e passando a sair as 14h00minhrs, encerrando o expediente.
Durante o período de estágio, foram desenvolvidas diversas atividades, como
observação de processos, notificação de casos positivos de AIE e Mormo, portaria
de habilitação de Médicos Veterinários e dentre essas ocorreu variadas ações fora
do escritório da ADAPEC.
16
A seguir, está explicado brevemente como foi realizada cada atividade
durante o estágio.
1.3.1 PROGRAMA ESTADUAL DE SANIDADE DOS EQUÍDEOS
O PESE tem como finalidade o controle, prevenção e a vigilância
epidemiológica das doenças que ocorrem nos equídeos, em acordo com o Programa
Nacional de Sanidade dos Equídeos (PNSE) e com a Saúde Pública em relação às
zoonoses. Entre as atividades do programa, podemos frisar o diagnóstico e controle
de doenças dos equídeos de notificação obrigatória, inspecionar e fiscalizar a
população equídea e seu trânsito, atendimento as notificações de suspeita ou
confirmação de enfermidades, cadastro de Médicos Veterinários para realizar coleta
de AIE e mormo, interdição de propriedades, eutanásia de equídeos com
enfermidades do programa e coleta de materiais para exames.
Após uma coleta de sangue realizado por médico veterinário credenciado no
PESE e envio de amostra ao laboratório credenciado para exame de AIE e mormo,
dado o resultado positivo para anemia infecciosa equina, o laboratório credenciado
enviou a notificação para o PESE via e-mail, de positivo para AIE em equino. Após
notificação da unidade local de Mateiros - TO e escritório da regional em Palmas -
TO, o responsável do escritório do município deslocou-se a propriedade para
notificar o proprietário e avaliar o animal. No dia 26 de agosto de 2021, foi realizada
a eutanásia do equino (figura 3 A e B), que por não haver tratamento que consiga
eliminar o vírus da AIE, o animal com diagnóstico positivo foi submetido à eutanásia.
Ao chegar à propriedade o animal já se encontrava contido com cabresto próximo à
vala, que é de responsabilidade do proprietário abrir, pode ser notado que o mesmo
não apresentava nenhum sinal clínico característico de AIE e seu estado nutricional
estava em perfeito estado. Foi utilizado dois sedativos para tranquilizar o equino,
acepromazina 1% e xilazina 10% e iodeto de mebezônio associado à embutramida e
cloridrato tetracaína (T-61®), protocolo seguido pela ADAPEC quando não é
possível fazer o uso de arma de fogo com o auxílio da policia militar.
Figura 3 - Equino contido por cabresto, positivo para AIE, no município de Mateiros. (A) Aplicação
intravenosa de T-61 para realização da eutanásia; (B) Equino após o procedimento de eutanásia,
próximo à vala que o proprietário abriu.
17
Fonte: arquivo pessoal, 2021.
Foi realizada vigilância epidemiológica no município de Marianópolis - TO
para anemia infecciosa equina e mormo (figura 4), foi feito o acompanhamento de
uma Médica Veterinária de iniciativa privada que estava realizando o saneamento de
uma propriedade foco de AIE e a avaliação de equino suspeito de mormo. Na
primeira propriedade que estava sendo realizado o saneamento AIE, foi feito a
primeira coleta de amostra sanguínea, após a eutanásia do equino positivo, dos
outros animais da propriedade, para testagem, se dado negativo segue para a
segunda coleta que se seguida de um consecutivo resultado negativo poderá ser
liberada. A responsável técnica do PESE explicou para o proprietário a importância
desses exames e explicou como funcionava o programa de sanidade dos equídeos.
Na segunda propriedade com suspeita de mormo, onde o animal testou
positivo no teste de triagem ELISA e estava aguardando o teste complementar de
Western Blotting (WB), foi feito a avaliação do animal, onde apresentava pequenos
nódulos pelo flanco direito e linfonodos pré-escapulares bilaterais aumentados, foi
repassado para o dono do equino os cuidados que devem ser tomados ao manejar o
animal que por se tratar de uma zoonose é importante o uso luvas na hora de
manejar o animal e mascara e foi passado sobre o que é o mormo.
18
Figura 4 Vigilância epidemiológica realizada no município de Marianópolis, durante o período de
estágio curricular supervisionado. (A) Acompanhamento de coleta de amostra sanguínea para
saneamento de AIE (B) Avaliação de equino suspeito de mormo.
Fonte: arquivo pessoal, 2021.
1.3.2 PROGRAMA ESTADUAL DE CONTROLE DA RAIVA DE HERBÍVOROS
O programa tem grande importância para o estado, pois é um programa que
controla casos de raiva nos herbívoros (bovinos, equídeos, ovinos e caprinos),
realiza o controle da populacional de morcegos hematófagos, os quais são os
transmissores da raiva em propriedades rurais, realiza coleta de amostras biológicas
do sistema nervoso central para diagnóstico laboratorial, possibilita a educação
sanitária da grande importância da vacinação dos animais e faz a vigilância ativa em
propriedades.
Realizou-se uma ação no município de Novo Acordo - TO, no dia 21 de
setembro, para coletar material encefálico (figura 5) em uma propriedade que os
animais estavam indo a óbito sem motivo aparente, sendo relatada 04 óbitos em
bovinos e existiam dois animais com suspeita de raiva em decúbito. Foi feito a coleta
de material para suspeita de raiva, clostridiose e encefalopatia espongiforme bovina
(EEB). Após coletar o encéfalo inteiro (tronco cerebral, cerebelo e cérebro) a mostra
foi armazenada para envio ao laboratório credenciado pelo ministério da agricultura,
a coleta foi feita pelos médicos veterinários Edivaldo e Sérgio. Após o envio para o
19
laboratório o resultado da coleta foi negativa para raiva, dando então como
encerrada a suspeita.
Figura 5 - Necropsia e coleta de material encefálico em bovino no município de Novo Acordo, com
suspeita de raiva, durante o período de estágio supervisionado. (A) Estagiária auxiliando o médico
veterinário Sérgio Liocadio na abertura do crânio do bovino. (B) Encéfalo exposto após abertura da
calota craniana evidenciando o encéfalo de bovino.
Fonte: Arquivo pessoal, 2021.
No dia seguinte após a última coleta de suspeita de raiva, no dia 22 de
setembro aconteceu outra coleta (Figura 6), em um bezerro de 4 (quatro) meses de
vida, que veio a óbito. A propriedade tinha como histórico o óbito de 8 animais com
suspeita de raiva, na propriedade havia abrigo de morcegos aumentando ainda mais
a suspeita de raiva, foi realizado a coleta para de clostridiose e para EEB. Como as
estagiárias já haviam feito a coleta um dia antes em outro animal, o médico
veterinário Luciano supervisionou as mesmas durante a realização do procedimento
de necropsia e coleta de material encefálico. Foi utilizados vestimentas e
equipamentos de proteção individual para a segurança. Após o envio da amostra
congelada ao laboratório credenciado resultado foi negativo para a raiva, sendo
então encerrado o caso.
20
Figura 6 - Coleta de material encefálico em bezerro no município de Aparecida do Rio Negro. (A)
Realizando a divulsão do tegumento do crânio para assim fazer a serragem e coleta do encéfalo para
suspeita de raiva; (B) encéfalo exposto após a retirada para enviar para laboratório, com suspeita de
raiva.
Fonte: Arquivo pessoal, 2021.
No dia 14 de outubro de 2021, um produtor rural compareceu a ADAPEC
solicitando auxílio em sua propriedade, pois estaria suspeitando que seus animais
estivessem com raiva. As equipes da regional de Miracema - TO juntamente com o
responsável do programa estadual de controle da raiva dos herbívoros (PECRH)
deslocaram-se até a propriedade no município de Lajeado – TO, o produtor declarou
que já era o segundo animal acometido, que outro já teria vindo a óbito na noite
anterior. Já na propriedade foi observada a grande presença de morro em volta da
propriedade, suspeitando da presença de algum abrigo de morcegos hematófagos, o
proprietário afirmou ter a presença do mesmo. O bovino estava no meio da mata
fechada, aonde veio a óbito, o proprietário descreveu os sinais clínicos observados
que foram de animal bastante debilitado com síndrome neurológica, tremor
muscular, sialorreia e movimentos de pedalagem. Ocorreu a coleta para suspeita de
raiva, clostidiose e EEB (Figura 7). Após a mostra ser enviada para laboratório,
obteve-se o resultado positivo para raiva, dado resultado foi encaminhado à equipe
de captura do programa, para a propriedade, com a finalidade de visitar as possíveis
cavernas na região com presença de morcego hematófago para captura-los.
Figura 7 Coleta de material encefálico de suspeita de raiva. (A) marcação de corte com serra no
crânio bovino; (B) encéfalo já retirado.
21
Fonte: Arquivo pessoal, 2021.
1.3.3 PROGRAMA ESTADUAL DE SANIDADE DOS ANIMAIS AQUÁTICOS
O Programa Estadual de Sanidade de Animais Aquáticos (PESAA) tem como
objetivo assegurar a segurança sanitária da aquicultura no estado para elevar a
produtividade, a fim de aumentar a oferta do pescado para abastecimento dos
mercados. Além de proteger os animais aquáticos e a confiabilidade dos insumos e
serviços realizados na cadeia produtiva, possibilitando identidade, particularidades e
preservação sanitária e tecnológica dos alimentos, a partir do local de produção à
exposição do produto finalizado.
No dia 01 de Outubro de 2021, um produtor entrou em contato notificando que
na propriedade dele os peixes estavam com a coloração das escamas em tom
escuro, as brânquias escurecidas e todos os peixes do tanque estavam na borda da
água próximo ao local de entrada de água foi realizada visita a propriedade depois
de Novo Acordo - TO. O produtor tinha dois tanques de piscicultura, mas apenas um
estava em uso, o inspetor fiscal e médico veterinário Elias Mendes realizou a
Insensibilização para abertura dos peixes para coleta de brânquias, muco sob as
escamas, fígado e sangue para análise. Logo de início foi descartada uma zoonose,
devido os sinais clínicos apresentados ser característicos de Piscinoodinium pillulare
ou popularmente conhecida como doença da ferrugem, por apresentar pontos
característicos de enferrujado sob o tegumento (figura 8). Foi orientado ao produtor
22
que vendesse os peixes, pois já estava no quilo ideal e por não se tratar de uma
zoonose podia consumir tranquilamente e que ele esvaziasse o tanque para
limpeza.
Figura 8 Coleta de material e necropsia em peixe. (A) exposição de órgãos de peixe; (B) sinais que a
doença da ferrugem causa nos peixes.
Fonte: Arquivo pessoal, 2021.
1.4 TABELA DE CASUÍSTICA
Tabela 1. Relação de leituras de legislações realizadas ao longo do estágio supervisionado na
ADAPEC no Programa Estadual de Sanidade dos Equídeos, no período de 05 de agosto a 19 de
novembro de 2021.
LEITURA TEMA
Instrução normativa n° 45. De 15 de junho de 2004 Anemia infecciosa equina
POP – Processo Operacional Padrão para equídeos Anemia infeciosa equina
positivos para Anemia Infecciosa Equina
Portaria n° 35, de 17 de abril de 2018 Mormo
Instrução normativa n° 6, de janeiro de 2018 Mormo
POP – Procedimento Operacional Padrão para
Atuação Mediante Foco de Mormo no Estado do Mormo
Tocantins, de 31 de maio de 2021.
Nota Técnica CGAL n° 08/2016 Mormo
Instrução normativa N°. 04, de 10 de outubro de 2017. Cadastramento de
médicos veterinários para
realização de coleta de
material (soro sanguíneo),
e requisição de exame de
23
anemia infecciosa equina e
mormo.
Manual de Preenchimento para Emissão de Guia de Instruções para
Trânsito Animal de Equídeos. movimentação de
equídeos
Leitura de processos de AIE e mormo AIE e mormo
Instrução Normativa N° 50, de 24 de Setembro de Lista de doenças de
2013. notificação obrigatória ao
Serviço Veterinário Oficial
Fonte: ADAPEC, 2021.
Tabela 2. Relação das atividades desenvolvidas durante o estágio supervisionado na ADAPEC no
período de 09 de agosto de 2021 a 19 de novembro de 2021:
LOCAL DE
ATIVIDADE QUANTIDADE MUNICÍPIO REALIZAÇÃO
Explicação de
como usar o
SIDATO 1 Palmas GSA
Portaria de
habilitação de
Médico Veterinário
no PESE 7 Palmas GSA
Notificação de
caso positivo de
AIE 25 Palmas GSA
Bloqueio de
propriedade no
SIDATO 26 Palmas GSA
Ação em
propriedades 9 Propriedade Rural Propriedade rural
Desinterdição de
propriedade no
SIDATO 4 Palmas GSA
Acompanhamento
de curso do E-
SISBRAVET 1 Palmas GSA
Envio de
solicitação de
Contraprova de
AIE 4 Palmas GSA
Envio de resultado
de contraprova de
AIE 6 Palmas GSA
Notificação de
caso positivo de
mormo 2 Palmas GSA
Lançamento de
eutanásia no
SIDATO 4 Palmas GSA
Acompanhamento 1 Palmas GSA
24
de reunião da rede
PNSE
Envio de
autorização de
reteste de AIE 3 Palmas GSA
Envio de
solicitação de
reteste de AIE 8 Palmas GSA
Informe mensal 2 Palmas GSA
Acompanhamento
de palestra do
PNCRH 1 Palmas GSA
Acompanhamento
de envio de
amostra de mormo 3 Palmas NEP
Acompanhamento
de envio de
amostra de
material para raiva 2 Palmas NEP
Notificação de
Médico Veterinário 2 Palmas GSA
Acompanhamento
de palestras com
supervisora 3 Palmas GSA
LEGENDA: GSA: gerência de sanidade animal. NEP- núcleo de epidemiologia
Fonte: ADAPEC, 2021.
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2. CAPITULO 2 - RELATO DE CASO: CASO CLÍNICO DE MORMO EQUINO.
RESUMO
O mormo é uma doença infectocontagiosa causada pela Burkholderia mallei,
uma zoonose que acomete os equídeos e o homem. É uma doença de
notificação obrigatória para a OIE, devido o impacto que ela causa. Os animais
assintomáticos são considerados grande fonte de infecção. As principais formas
de propagação do mormo são a aglomeração de animais, compartilhamento de
utensílios e equipamentos de uso diário. São encontradas metástases nos
pulmões, fígado, baço e pele. Os sinais que são observados regularmente são
corrimento nasal, tosse e febre. A forma aguda reconhecida por três tipos de
sinais clínicos: pulmonar, cutânea e a nasal. O método de diagnóstico do mormo
segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA),
recomenda usar como métodos de diagnóstico oficial o teste de ELISA para
testes de triagem que são realizados em laboratórios credenciados e o exame de
Western Blotting (WB) para diagnóstico confirmatório. Até o atual momento não
existe tratamento ou vacinas, os animais diagnosticados positivos devem ser
sacrificados. Doenças que acometem o sistema respiratório e/ou linfático devem
ser consideradas como diferencial para o mormo. O presente estudo teve o
objetivo de relatar um caso de mormo em um equino macho, no município de
Marianópolis no estado do Tocantins e como o SVO atua diante um foco positivo.
Palavras chave: Burkholderia mallei, equídeos, bactéria.
2.1 INTRODUÇÃO
O mormo é uma doença que causa grandes prejuízos para a equideocultura,
pois se trata de uma doença infecto contagiosa causada pela bactéria gram-negativa
Burkhoderia mallei (Família: Burkholderiaceae), por ser uma zoonose, acomete o
homem e outros animais, porém suínos e bovinos são resistentes a doença. Os
muares e asininos costumam apresentar a forma aguda da doença, apresentando
problemas respiratórios, febre, dificuldade respiratória, aumento das narinas e
pneumonia. Nos equinos, costuma ter um curso crônico, fazendo com que os
mesmos, sobrevivam por anos (EMBRAPA, 2021).
Os equídeos assintomáticos, em fase aguda ou em convalescência, tem
papel importante na transmissão da bactéria, devido a presença da mesma nas
secreções respiratórias ou cutâneas, ou na contaminação de fômites por secreções
(MOTA, 2000).
Doença de notificação obrigatória para OIE, em devido o impacto da doença
na saúde animal e na saúde pública, sendo reconhecida como uma zoonose grave
de curso fatal em humanos (MEGID, 2016).
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Segundo a IN 06, não existe tratamento ou vacinas para o mormo, os animais
com resultados de exame positivo devem ser sacrificados e as propriedades
interditadas até que sejam declaradas como livres de mormo, pelo Serviço
veterinário oficial (SVO) (BRASIL, 2018).
Nos humanos, é uma zoonose de tratamento difícil, vindo a ser quase sempre
fatal. Assim como a espécie equídea, não existe vacina para seres humanos
disponíveis, é recomendado o uso de equipamento de proteção individual EPI para
manejar os animais positivos (PIOTTO, 2015).
Segundo a Instrução Normativa (IN) N° 6, de 16 de Janeiro de 2018, no artigo
15, onde diz que a realização da eutanásia em casos positivos de mormo deve ser
realizada na propriedade em que o animal está localizado, dentro dos métodos que
o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) aprova, com prazo de 15
(quinze) dias, a contar da notificação ao proprietário.
Em julho de 2015 a Unidade Veterinária Local (UVL) da ADAPEC no
município de Formoso do Araguaia, foi notificada através do PESE, de um resultado
anticomplementar por até então Fixação de Complemento (FC), que era o teste de
triagem para mormo. Em uma propriedade no mesmo município, o suspeito era um
equídeo muar, que após notificação foi isolado e coletado amostra de soro
sanguíneo para realizar o teste laboratorial WB. Tendo o resultado positivo,
confirmando o primeiro foco de mormo no Tocantins (ADAPEC, 2021).
O objetivo do presente trabalho é relatar um caso clínico de mormo equino no
município de Marianópolis – TO, com apresentação de sinais clínicos e achados
patológicos em órgãos, além de mostrar como age o SVO, diante de um foco
positivo de mormo.
2.2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.2.1 HISTÓRIA
O mormo é dado como uma das enfermidades mais antigas já relatada,
mencionada por Aristóteles e Hipócrates durante os séculos II e IV a.C. Desde
aquele tempo, a doença está presente em vários países, existe uma hipótese de que
era usado nas grandes guerras mundiais como um poderoso agente de
27
bioterrorismo por ter uma letalidade alta no ser humano. Ocorreram casos em
humanos na primeira e segunda guerra mundial, nos soldados da Rússia (DIEHL,
2013).
O Mormo teria sido introduzido no Brasil, em XIX, devido a importação de
equinos da região do Porto, Portugal, com relatos da doença na Ilha de Marajó no
ano de 1811. O autor descrevia que os animais viam a óbito por causa do “catarro e
congestão nasal”. Viagens de navios eram comuns na época, onde os animais eram
levados de ponta a ponta no Brasil, o que acabou levando o mormo para outros
lugares no país (PADDOK, 2015)
No começo do século XX, no exercito brasileiro, houve casos de mormo tanto
em animais quanto em humanos. Foi perdido planteis enormes que originou a
contratação de médicos veterinários da França para auxiliarem no controle do surto.
Os últimos dados registrados datam nos anos de 1960 no Rio de Janeiro e em 1968
no estado de Pernambuco. No ano de 1999 os casos voltaram as ser diagnosticados
em Alagoas e Pernambuco, acredita-se que o mormo nunca deixou de existir nesses
estados devido a existência de elementos epidemiológicos de uma afecção
conhecida como “catarro-de-burro” ou “catarro-de-mormo”, ocorrendo nos muares
com sintomatologia semelhante ao do mormo (SANTOS et al.,2001).
Para exemplificar a gravidade do mormo, basta lembrar de que a primeira
faculdade de veterinária no Brasil foi fundada devido ao surto de mormo nos equinos
e em soldados do exercito. Uma epidemia no exercito com consideráveis números
de mortes de animais e humanos. Na época o mormo era um grande problema de
saúde pública e com o acontecimento da epidemia foi fundada a primeira escola de
veterinária no Brasil – a escola veterinária do exercito (RIO GRANDE DO SUL,
2020).
2.2.2 ETIOLOGIA
O agente etiológico do mormo é a Burkholderia mallei, uma bactéria Gram-
negativa, imóvel e intracelular facultativo. Por pertencer à família Burkhoderiaceae é
resistente ao solo, no entanto, a B. mallei é um tipo de patógeno que requer um
hospedeiro para sua sobrevivência. Os equídeos são os mais acometidos (equinos,
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asininos e muares), porém os cavalos são considerados altamente susceptíveis por
ser um reservatório natural do agente (WHITLOCK et al., 2007).
As propriedades tintoriais e sua morfologia é de bastonete, com cerca de 2-
5µm de comprimento por 0,5µm de largura, não possui pseudocápsula e não é
esporulado o que se torna um fator da sua virulência das cepas. No que diz respeito
às suas propriedades bioquímicas, não produz indol, nem hemólise em ágar-
sangue-de-cavalo, nem pigmentos em meio de cultura, líquidos ou sólidos e reduz
nitrato. Varia de acordo com o tempo de cultura e do meio utilizado. Apresentava-se
em formato de filamentos ramificados nas culturas antigas. É pouco resistente a luz
e a desinfetantes químicos, raramente sobrevive em um tempo maior que um ou
dois meses no ambiente (SANTOS et al.,2001).
2.2.3 EPIDEMIOLOGIA
O mormo é geograficamente restrito à África do Norte, Europa Oriental,
América do Sul e Ásia Menor. A doença já foi erradicada em alguns países, porém já
foi mais difundida no mundo. Era uma enfermidade de importância em grandes
concentrações de equinos em cidades e no exercito, atualmente tem acontecido de
forma dispersa, ou às vezes acontece em surtos localizados, em áreas infectadas
(CONSTABLE, 2020).
Como já citado anteriormente, o mormo acomete principalmente os equídeos,
mas acidentalmente pode contaminar caprinos, ovinos, cães e gatos, os mais
resistentes consideravelmente são os bovinos, aves e suínos. A doença tem sido
relatada em animais selvagens e silvestres como, por exemplo, camelos e leões, em
humanos é tido como acidental (MEGID et al., 2015).
Os animais assintomáticos são considerados graves fontes de contaminação.
Uma das principais formas de contágio é a via digestiva, ocorrendo também pelas
vias respiratórias, genital e cutânea (MOTA, 2006). A sua fonte de propagação
principal se dá por meio da ingestão de água e alimentos contaminados por
secreções provenientes de corrimento nasal de animais infectados (WHITLOCK,
2007). O mais importante meio de excreção da B. mallei são secreções nasais
devido às lesões pulmonares crônicas que acabam se rompendo nos brônquios
acometendo as vias aéreas superiores (RADOSTITIS, 2002).
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As secreções nasais contém grande quantidade de bactéria que acabam
contaminando o pasto, alimentos, água e utensílios de montaria ou de uso geral dos
animais (cabrestos, cordas selas, arreios, raspadeiras e utensílios usados para
casqueamento) (MEGID, 2016).
O meio de transmissão do mormo é a partir da entrada da bactéria na via oral,
nasal e através do tecido cutâneo pela solução de continuidade (BRIDGET et. al.
2007). A B. mallei possui tropismo pelas vias respiratórias superiores e a secreção
nasal é uma fonte de contaminação importante nos bebedouros e comedouros
compartilhados com equídeos infectados. A fonte de infecção para o homem é o
conteúdo presente nas ulcerações dos nódulos (GALYOV et. al., 2010).
2.2.5 PATOGENIA
O microrganismo adentra a mucosa intestinal por via oral, a partir do consumo
de água e alimentos contaminados (MEGID, 2016). O agente adentra a mucosa
intestinal, alcança os linfonodos que se multiplicam e passam para órgãos de eleição
pela corrente sanguínea. Os pulmões são os locais onde o agente é normalmente
encontrado, mas também pode ser notado na mucosa nasal e pele. Nos animais
contaminados, são formados lesões na laringe expandindo-se para o sistema
linfático causando nódulos. São encontradas metástases nos pulmões, fígado, baço
e pele. Pode acontecer de lesões primárias de origem hematógena ou até
secundária para um foco pulmonar (DITTMAM, 2015).
Os nódulos formados são lesões granulomatosas que se formam no inicio
devido a infiltração de hemácias, neutrófilos e fibrina. Os neutrófilos acabam se
degenerando, formando uma área de necrose centralizada circundada de células
gigantes, células epiteliais e linfócitos infiltrados no tecido de granulação (HIRSH E
ZEE, 2003).
A resposta imune existente contra a bactéria é de origem celular, apesar da
dificuldade que os fagócitos têm para inativar o patógeno por completo no
fagossomo e destruir a infecção. Embora exista a presença de plasmócitos e da
fabricação de imunoglobulinas na área infectada, a imunidade humoral é pouco
eficaz em sua resposta imune ao agente (MEGID, 2016).
30
2.2.6 SINAIS CLÍNICOS
O mormo é caracterizado pelo aparecimento de lesões nodulares nos
pulmões, além de lesões pela pele, na cavidade nasal e pelas passagens
respiratórias (FERRAREZI et. al., 2020). Os sinais que são observados regularmente
são corrimento nasal, tosse e febre. A forma aguda reconhecida por três tipos de
sinais clínicos: pulmonar, cutânea e a nasal, mas não é distinto, o mesmo animal
pode apresentar todos os sintomas ao mesmo tempo (MORAES, 2011).
A forma nasal manifesta-se em nódulos na mucosa nasal, os nódulos após
degenerarem-se originam profundas ulceras de margens elevadas e irregulares. As
cicatrizes em forma de estrela surgem após as ulceras cicatrizarem. Durante o
estágio inicial, os linfonodos submaxilares aumentam e logo depois ficam aderidos à
pele ou em tecidos mais profundos. A forma Pulmonar é dada por pequenos nódulos
com características caseosas ou calcificadas, rodeado por áreas inflamatórias, são
encontradas na região dos pulmões. Em casos de extensa lesão, nota-se tecido
pulmonar e pneumonia consolidados. Os nódulos se rompem e pode acontecer de
drenar seu conteúdo para a região de bronquíolos, tendo como resultado a extensão
da infecção no trato respiratório superior. Já em sua forma cutânea, acontece o
aparecimento de nódulos pelos vasos linfáticos, em particular nas extremidades. Os
nódulos resultam em ulceras após sua degeneração, com presença de pus
infeccioso e pegajoso. Pode acontecer de aparecer lesões nodulares no fígado e
baço. Na análise histológica nota-se trombose, vasiculite e infiltração de células
inflamatórias se degradando (MERCK, 2014).
2.2.7 DIAGNÓSTICO
Apresentação de nódulos característicos da doença, úlceras, condição
debilitante e presença de secreção nasal podem ser consideráveis sinais para
chegar ao diagnóstico clínico. Entretanto, os aparecimentos desses sintomas só
acontecem na maioria das vezes quando a doença já está em um estado avançado,
sendo necessários os testes de diagnósticos para a confirmação (MERCK, 2014).
Segundo a IN n° 6 de 16 de janeiro de 2018, Art. 3º: Os testes a serem
utilizados para realização do diagnóstico do mormo e para uso como exames de
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triagem ou complementar e a leitura desses, são estabelecidos de acordo com a
instrução normativa da Secretaria de Defesa Agropecuária (DAS/MAPA), com
compatibilidade e recomendação da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE).
Testes com finalidade para trânsito de equídeos devem ser realizados somente por
médico veterinário habilitado e em laboratórios credenciados. Já os testes para
investigação epidemiológica de suspeita ou o descarte de focos devem ser
realizados em laboratórios públicos ou oficiais, que são credenciados pelo SVO,
podendo ser usados para trânsito de animais com a aprovação do Departamento de
Saúde Animal (DSA/DAS/MAPA), (BRASIL, 2018).
O método de diagnóstico do mormo segundo o Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (MAPA), recomenda usar como métodos de diagnóstico
oficial o teste de ELISA ou Fixação de Complemento (FC) em casos de viagens
internacionais, para testes de triagem que são realizados em laboratórios
credenciados e o exame de Western Blotting (WB) para diagnóstico confirmatório e
definitivo, sendo esse realizado somente em laboratório do Serviço Veterinário
Oficial (SVO), o LFDA/PE – Laboratório Federal de Defesa Agropecuária em Recife
é o laboratório de referência nacional para exames de mormo (RIO GRANDE DO
SUL, 2020).
O teste de WB é de alta sensibilidade e especificidade, se baseando na
detecção proteica do patógeno, tendo como base na ligação das proteínas em
anticorpos específicos, imóveis sobre membrana. O WB é capaz de identificar
equídeos em fase crônica sem sinais clínicos ou com alterações
anticomplementares. O ELISA indireto é uma técnica que vem sendo utilizada para
diagnóstico do mormo, apresenta sensibilidade correspondente ou superior a FC.
ELISA possui proteínas recombinantes e uma elevada taxa sensibilidade e
especificidade (MEGID, 2016).
Destaca-se o uso dos testes de ELISA são utilizados como exame de triagem
e o WB para testes confirmatórios. A associação desses tem como resultado
potencializar sua qualidade, reduzindo então o acontecimento de falsos-positivos.
Essa associação em cadeia apresenta sensibilidade maior ou igual ao primeiro e
uma particularidade superior (EMBRAPA, 2020).
Existe comparação do teste de ELISA com o FC, onde observaram maior
sensibilidade do ELISA, oferecendo assim a capacidade de automatizar, podendo
32
ser utilizada em amostras de soro que não se fixam o complemento podendo então
ser usado em espécies diferentes de hospedeiros (MORAES, 2011).
O diagnóstico diferencial entre o mormo e outras doenças que acometem o
sistema respiratório e/ou linfático deve ser considerado como diferencial para o
mormo, como a AIE, garrotilho, rodococose, influenza equina, linfagite ulcerativa,
melidiose esporotricose (FALCÃO, 2019). No entanto, só serão opções após
descartar a suspeita de mormo, a sorologia é o método fundamental para chegar a
um diagnóstico (SCHIAVO, 2018).
2.2.8 PREVENÇÃO E CONTROLE.
Até o atual momento não existe tratamento ou vacinas, os animais
diagnosticados positivos devem ser sacrificados e as propriedades consideradas
foco devem ser interditadas até que sejam saneadas para liberação de livres de
mormo pelo SVO. Nos humanos é uma zoonose de difícil tratamento, sendo em sua
grande maioria fatal. O tratamento é realizado a base de antibióticos que precisam
ser iniciados o mais rápido possível, pois a taxa de mortalidade em pessoas não
tratadas pode chegar a 90%, o sucesso do tratamento chega a ser de 50% dos
casos (PIOTTO, 2015).
De acordo com a IN 06, Art. 14. Diante de foco confirmado de mormo, o SVO
deverá: interditar as propriedades, definir e auxiliar a eutanásia e a realizar a
necropsia e coleta de amostras para análise, após a destruição fazer a coleta de
amostras para a realização de investigação sorológica nos outros equídeos dentro
das propriedades, realizar investigação epidemiológica desde a movimentação de
equídeo nos últimos 180 (cento e oitenta) dias, realizar visitas para identificar
vínculos epidemiológicos possíveis, fiscalizar a destruição de materiais usados pelo
animal positivo e realizar orientação ao proprietário sobre medidas a serem usadas
para desinfecção do ambiente, realizar investigação soro epidemiológica e clinica
em propriedades com vínculos e fazer a notificação de mormo para as autoridades
de saúde pública (BRASIL, 2018).
O grande fluxo de animais infectados é a principal forma de propagação do
mormo entre os criatórios, é importante realizar o controle do trânsito de equídeos
para a prevenção. As principais medidas para controle e erradicação da doença no
33
Brasil é o controle de trânsito e de eventos que contenham aglomeração de
equídeos, inclusive o saneamento dos focos já detectados (CASTRO, 2015).
2.3 DESCRIÇÃO DO CASO
Um equino macho, de 10 anos de idade, da raça quarto de milha (Figura 9),
criado em uma chácara dentro do município de Marianópolis -TO, foi submetido a
exames de rotina para emissão de Guia de Trânsito Animal (GTA), para participação
de um evento equestre. Foi realizada a coleta da amostra de dois animais da
propriedade, por um médico veterinário habilitado para coleta de AIE e mormo e
encaminhado para laboratório particular credenciado no Ministério da Agricultura.
A notificação da suspeita de mormo chegou por e-mail enviado pelo
laboratório, que realizou a análise da amostra (anexo 1). De acordo com a IN 06 de
16 de janeiro de 2018, para animais que são reagentes para Mormo no teste de
triagem, o laboratório deverá notificar imediatamente a agência junto à coordenação
do Programa de Sanidade dos Equídeos. A propriedade deverá ser interditada,
realiza-se o registro no Sistema Informatizado de Defesa Agropecuária do Estado do
Tocantins (SIDATO) e a notificação no Sistema Brasileiro de Vigilância e
Emergências Veterinárias (SISBRAVET).
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Figura 9 Equino, macho, com 10 anos de idade, da raça quarto de milha, positivo para mormo pelo
exame confirmatório de WB, no município de Marianópolis – TO.
Fonte: Arquivo pessoal, 2021
Em 27 de novembro de 2021, após a chegada da suspeita do foco, a equipe
da sede da ADAPEC deslocou-se até a propriedade para realizar vigilância
epidemiológica, a propriedade foi notificada e interditada, foram repassados todos os
cuidados que o proprietário deveria ter ao manejar o animal e uma breve explicação
do que era o mormo, sendo então realizado o exame clínico no equino. O animal
apresentava discretos sinais clínicos (figura 10) como leve corrimento nasal
unilateral de característica límpida, nódulos no subcutâneo distribuído no flanco do
lado direito, aumento bilateral dos linfonodos submandibulares, pequenas lesões ao
longo do corpo, hipersensibilidade em alguns pontos da cabeça e não apresentava
febre. O proprietário declarou que o animal tinha bom condicionamento físico e
praticava vaquejada um esporte equestre bastante comum no estado.
35
Figura 10 Exame clínico em equino com mormo atendido durante visita à propriedade, localizada em
Marianópolis – TO, no dia 27 de outubro de 2021. A. Discreta presença de nódulos no flanco do lado
direito em equino. B. Leve corrimento nasal unilateral de característica límpida. C. Avaliação das
glândulas submandibulares, que apresentou aumento.
Fonte: Arquivo pessoal, 2021.
Após a primeira visita, chegou à confirmação do foco, com o resultado
positivo no WB (anexo 2), o Médico Veterinário do SVO retornou a propriedade para
notificar o produtor do resultado, marcar a eutanásia em um prazo de 15 (quinze)
dias, a partir dessa notificação e a realização de nova coleta de sangue dos outros
animais existentes na propriedade para saneamento. Como não houve recusa do
proprietário do animal para a ação, de imediato agendaram a eutanásia e a abertura
da vala que é de responsabilidade do mesmo.
Foi enviado um documento solicitando a presença da polícia militar, pois a
eutanásia aconteceria com o uso da arma de fogo e um documento para a saúde,
pois se tratava de uma zoonose, nesses casos é necessário um acompanhamento
de todas as pessoas que tiveram contato com o animal, a fim de monitorar possíveis
sinais clínicos e evitar qualquer acontecimento. O SVO realizou uma investigação
epidemiológica, da movimentação dos equídeos da propriedade nos últimos 180
dias, a contar do dia da confirmação. A investigação foi realizada com o uso do
Sistema Informatizado de Defesa Agropecuária do Estado do Tocantins (SIDATO),
36
mas como a chácara não tinha cadastro na plataforma fizeram o cadastro da
propriedade e o cadastro de equídeos, de imediato ao cadastro interditaram a
mesma para não haver trânsito de animais.
Como o SVO é responsável de levar em consideração à possibilidade de
disseminação do agente da Burkholderia mallei, podendo ser’ estabelecido pelo
trânsito animal, vizinhos de cerca que haja contato entre susceptíveis ou presença
de fatores que possam transmitir a doença.
Devido à falta do cadastro da propriedade no sistema, houve dificuldade em
rastrear os lugares onde o animal esteve, no entanto a unidade local de Marianópolis
- TO em diálogo com o produtor constatou o último local que o equino teria passado,
sendo então uma chácara próxima, onde o proprietário sedia para criadores de
equídeos.
Os vínculos epidemiológicos levantados levaram até a propriedade em que o
equino teria frequentado por ultimo com 18 (dezoito) equídeos, um vizinho de cerca
onde se encontrava 2 (dois) equinos, a outra propriedade que estava no nome do
produtor com 1 (um) equídeo e o local do foco com 3 (três) equinos. Onde todos
foram notificados pela UVL da existência do foco de mormo e que seria feito a coleta
de todos os animais para exames de ELISA, em intervalos de 21 (vinte e um) a 30
(trinta) dias.
No dia 08 de novembro de 2021, as equipes da sede da ADAPEC juntamente
com a regional de Paraíso - TO deslocaram-se até o foco do mormo em
Marianópolis - TO, para a realização da eutanásia e da investigação epidemiológica
nas propriedades notificadas que é onde se realiza um trabalho de investigação a
partir dos casos onde foram notificados e seus respectivos contatos, desde vínculos
de cerca que possam ter tido contato com o animal de divisa a vinculo de trânsito do
último local que o equino tenha visitado.
Organizaram-se em duas equipes para coleta, deixando então a propriedade
foco por último, a fim de evitar a propagação da doença por outros meios. Após
coletar os vínculos de trânsito e de cerca, foram levadas as amostras em tubos de
ensaio para a UVL de Marianópolis - TO para centrifugar e separar os soros de cada
animal. Logo depois ocorreu a coleta na segunda propriedade que estava no nome
do produtor e no foco do mormo.
A equipe responsável pela ação na propriedade foco, contava com 3 (três)
Médicos Veterinários do Serviço Oficial, que coletaram amostra sanguínea dos
37
outros 3 (três) equinos e do positivo. A abertura da vala já havia sido realizada em
um local afastado e a eutanásia foi efetuada com a utilização de arma de fogo,
causando o óbito rápido do animal.
Foi realizada necropsia foram coletadas amostras do pulmão com múltiplos
abcessos e fígado com presença de pequenas formações nodulares firmes, no baço
e narinas não houveram nenhum achado ou cicatriz. Não houve a incisão de
nenhum abcesso ou nódulo, a fim de se preservar as amostras que foram enviadas
para o MAPA. Ao toque podem ser notados os abcessos de caráter calcificado e
fibroso em algumas amostras de fígado e nas amostras do pulmão abcessos
calcificados superficialmente. As amostras foram preservadas em pequenos sacos
plásticos e armazenadas em caixas de transporte.
Figura 11 Amostras coletadas de equino positivo para mormo. A. Abcesso calcificado em amostra de
fígado. B. Abcesso fibroso em amostra de fígado; C. Abcesso calcificado em amostra de pulmão. D.
Pool de amostras de pulmão para enviar ao MAPA.
Fonte: ADAPEC, 2021.
Ao fim da necropsia o animal e os utensílios descartáveis foram enterrados com
auxílio de retroescavadeira foi realizada a desinfecção dos outros utensílios e
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lavrado o termo de sacrifício. No dia seguinte ocorreu o envio das amostras para o
MAPA, para estudo e tentativa fazer o isolamento da bactéria. Até a presente data,
não obteve os resultados das coletas dos vínculos e não se tem resposta do MAPA.
2.4. DISCUSSÃO
A contaminação e a disseminação do mormo se devem a existência de
animais infectados. O fato dos animais portadores virem a ser potenciais origens de
infecção para animais saudáveis, como possíveis disseminadores em uma região
livre da doença, é relembrado à importância de se realizar exames para controle de
trânsito equídeo nacional e internacional (PEIXOTO, 2015).
Uma importante fonte de infecção é os equídeos portadores e infectados
assintomáticos (MOTA, 2006). Em um estudo Peixoto et. al. (2015) foi notado ao
exame físico que o equino positivo não apresentava nenhum sinal clínico e mostrava
um bom estado nutricional.
O estado do Tocantins conta com focos de mormo na região norte com
ocorrência ao longo do ano, o caso relatado é localizado na região centro oeste do
estado. Na pesquisa de Mota et. al. (2000) a ocorrência da doença não está
relacionada entre as estações do ano.
Os sinais clínicos apresentados no equino relatado condizem com a descrição de
Dittmann et al., (2015), pois o corrimento nasal unilateral é caracterizado pela fase
nasal da doença, onde a secreção evolui para purulenta e fluida, abscedação no
pulmão, apresentação de abcessos no subcutâneo e a apresentação de linfonodos
aumentados de volume.
Diehl (2013) correlaciona como potenciais focos de disseminação os estábulos
coletivos e a idade como fator importante, devido à doença ser descrita em animais
debilitados, idosos e em más condições de manejo. O equino relatado tinha 10 anos
de idade, era levado com frequência para provas equestres, ficando então junto com
outros animais.
A escolha para realização dos testes laboratoriais de diagnóstico do mormo
se dá pela Portaria N° 35, de 17 de abril de 2018, que a realização do teste de
triagem para diagnóstico é a FC e ELISA, onde o ELISA é empregado em
laboratórios oficiais como teste de triagem e WB como teste complementar de
diagnostico (BRASIL, 2018).
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Em estudo de um registro da cepa da B. mallei, feito por Falcão et. al. (2019)
os animais analisados foram sacrificados e na necropsia foram encontrados
fragmentos de lesões piogranulomatosas em pulmão e fígado, os mesmos
encontrados do presente estudo, que foram armazenados em temperatura ambiente
e enviados para laboratório. O isolamento no estudo foi realizado a partir do material
coletado no interior das amostras e foram processados em cabine de segurança
biológica. Onde os resultados obtidos indicaram que uma mesma cepa da B. mallei
circula nas diferentes regiões do Brasil.
O estudo de Abreu et. al. (2006) também não realizou nenhum esfregaço
ocular e nasal nos animais com diagnóstico positivo, mas houve uma exceção, pois
foi realizada coleta profunda na cavidade nasal em uma necropsia, a área de coleta
não é acessível em amostragem regular. O agente estará presente em animais
infectados por transmissão nasal.
Mota et. al. (2000) realizou a aspiração dos nódulos amolecidos que não
estavam fistulados ou ulcerados, sendo semeado em ágar sangue, foi observado o
crescimento de colônias não-hemolíticas de cor acinzentada, após 48 (quarenta e
oito) horas da incubação. Foi observado nos esfregaços realizados usando amostra
de pus e com o resultado das colônias obtidas a formação de microrganismos
irregulares, isolados ou filamentados e gram-negativos. O isolamento bacteriano por
esfregaço nasal é um problema em animais com a doença subclínica e crônica, pois
o número de bactérias viáveis é baixo nas amostras e uma grande presença de
bactéria local (SCHOLZ et. al. 2006).
Ainda sobre o estudo de Abreu et. al. (2006) um importante método para
detecção da bactéria nos tecidos em animais infectados é a polimerase reação em
cadeia, podendo ser complementar aos testes realizados para controle e
erradicação.
A eutanásia do equino ocorreu devido consta na legislação da IN 06, no artigo
16 onde diz que todo foco confirmado de mormo deve ser eliminado
obrigatoriamente.
Segundo a IN 06, no artigo 17 a propriedade só será desinterditada com
diagnóstico positivo de mormo, sendo somente realizada após análise
epidemiológica do SVO e após 2 (dois) exames com resultados negativos seguidos
realizado em todos os equídeos envolvidos no caso.
40
2.5 CONCLUSÃO
O presente trabalho levanta a discussão da importância da realização dos
exames para trânsito de equídeos, pois só se soube da doença, através da
realização do mesmo.
Pode-se concluir que o mormo é uma grave doença infectocontagiosa, de
caráter zoonótico, que a sua prevenção é indispensável, onde os animais devem ser
monitorados, como a identificação, eutanásia dos animais infectados e a interdição
da propriedade foco para mormo.
O PESE vem desempenhando função importante no controle, prevenção e
erradicação de doenças dos equídeos.
2.6 REFERÊNCIAS BIBLIOGÁFICAS
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43
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Burkholderia mallei. Federation of European Microbiological Societies, 2007.
CAPITULO 3
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A realização do estágio supervisionado dá a oportunidade de se obter maior
experiência na área desejada, onde tive a oportunidade de ter entendimento do
programa, de como funciona o processo de enfermidades de notificação obrigatória,
do saneamento de propriedade foco e saber sobre as legislações que regem o
programa.
Tive a oportunidade de conviver diariamente com pessoas influentes na área da
sanidade animal, vivenciar diferentes tipos de atividades de diferentes programas.
Além de aprofundar ainda mais sobre o entendimento de legislações.
44
ANEXO 1
45
46
47
ANEXO 2
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