Resenha Crítica da obra intitulada “Como se Faz uma Tese”, de Umberto Eco –
Parte 1
Inicialmente o autor esclarece que a universidade italiana era voltada para uma
elite que tinha possibilidade de estudar em tempo integral. Entretanto atualmente ela se
caracteriza como uma universidade de massa que recebe um número expressivo de
estudantes de todas as classes e onde os professores precisam de apoio para o contato
com os alunos através de colaboradores bolsistas ou acadêmicos.
Menciona-se que na universidade italiana existem estudantes com distintas
realidades sociais. Enquanto alguns tiveram uma criação estimulante sob o aspecto cultural
e têm tempo e recursos para avançar nos estudos, outros contam com pouco dinheiro para se
manter, e, por isso, precisam conciliar o trabalho com o cumprimento do encargo de ter sua
tese aprovada. Esses últimos representam o principal público-alvo da obra.
Especialmente para estes estudantes com menos recursos se defende a ideia de que é
melhor fazer um trabalho simples bem-feito do que se propor a apresentar uma obra
complexa, mas em desacordo com o caminho metodológico adequado. Dessa forma, para o
autor pode-se preparar uma tese digna mesmo que se esteja numa situação difícil. Além
disso, ele também defende que, ainda que a universidade tenha se mostrado decepcionante,
a tese pode representar uma oportunidade de recuperar a direção positiva do estudo.
O livro se refere ao contexto de teses desenvolvidas nas das faculdades de ciências
humanas. Ademais, a obra não se propõe a ser um manual de metodologia da pesquisa
científica nem visa a apresentar debates acadêmicos sobre o valor do estudo. Nesse sentido
Eco (2019, p. XIX) esclarece que o livro dirá apenas:
(1) o que se entende por tese;
(2) como escolher o tema e organizar o tempo de trabalho;
(3) como levar a cabo uma pesquisa bibliográfica;
(4) como dispor o material selecionado;
(5) como dispor a redação do trabalho.
Desta forma, a obra inicia apresentando as características externas da tese no sentido de que
“uma tese consiste num trabalho datilografado, com extensão média variando entre cem e
quatrocentas laudas, no qual o estudante aborda um problema relacionado com o ramo de
estudo em que pretende se formar.” (ECO, 2019, p.1).
A tese pode ser uma pesquisa ou uma compilação. A de pesquisa possui maior
prestígio e “é sempre mais longa, fatigante e absorvente” (ECO, 2019, p.3), além disso está
relacionada a uma entrega inovadora. No que se refere à tese de compilação Eco (2019, p.3)
esclarece que:
“numa tese de compilação, o estudante apenas demonstra haver compulsado
criticamente a maior parte da “literatura” existente (isto é, das publicações
sobre aquele assunto) e ter sido capaz de expô-la de modo claro, buscando
harmonizar os vários pontos de vista e oferecendo assim uma visão
panorâmica inteligente, talvez útil sob o aspecto informativo mês o para um
especialista do ramo que, com respeito àquele problema específico, jamais
tenha feito estudos aprofundados.”
Fatores como a maturidade e capacidade de trabalho do candidato, bem como a
disponibilidade de recursos econômicos, facilitam que o estudante opte pela tese de
pesquisa ao invés da tese de compilação. Entretanto, apesar de ser menos valorizada, o autor
esclarece que é possível se fazer uma tese de compilação digna se o pesquisador respeitar as
regras de metodologia e fizer uma pesquisa bem organizada.
Além disso, a tese pode se tornar uma base para pesquisas depois da formatura, desde o
aluno tenha oportunidade e interesse nesse sentido.
Eco (2019, p.6) esclarece que “elaborar uma tese significa:
(1) identificar um tema preciso;
(2) recolher documentação sobre ele;
(3) pôr em ordem esses documentos;
(4) reexaminar em primeira mão o tema à luz da documentação recolhida;
(5) dar forma orgânica a todas as reflexões precedentes;
(6) empenhar-se para que o leitor compreenda o que se quis dizer e possa, se
for o caso, à mesma documentação a fim de retomar o tema por conta
própria.
O autor ensina que executar uma tese demanda ordenar as ideias, organizar os dados e
seguir um trabalho metódico para a criação de um objeto que seja útil para a sociedade. Mas
de início a tese requer a escolha de um tema, e, para tanto se aplicam 4 regras que apesar de
óbvias são fundamentais. São elas:
- “Que o tema responda aos interesses do candidato;
- Que as fontes de consulta sejam acessíveis;
- Que as fontes de consulta sejam manejáveis, ou seja, que estejam ao alcance
cultural do candidato;
- Que o quadro metodológico da pesquisa esteja ao alcance da experiência do
candidato.” (ECO, 2019, p.7)
Com a aplicação destas regras busca-se evitar que no futuro a pesquisa para a tese precise
ser descartada pois não se pensou no óbvio quando da sua concepção. Como síntese da
razão de ser destas orientações, Eco (2019, p.8) esclarece que “quem quer fazer uma tese
deve fazer uma tese à altura de fazer”.
REFERÊNCIAS
ECO, Umberto. Como fazer uma tese. São Paulo: Perspectiva, 2019, 27. ed.