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ECONOMIA E MERCADOS

ANA PAULA DOS SANTOS CARDOSO


TADEU VAZ PINTO PEREIRA
THIAGO ANDRÉ GUIMARÃES
ECONOMIA E MERCADOS
Ana Paula dos Santos Cardoso
Tadeu Vaz Pinto Pereira
Thiago André Guimarães

2024
CASA NOSSA SENHORA DA PAZ – AÇÃO SOCIAL FRANCISCANA, PROVÍNCIA
FRANCISCANA DA IMACULADA CONCEIÇÃO DO BRASIL –
ORDEM DOS FRADES MENORES

PRESIDENTE
Frei Thiago Alexandre Hayakawa, OFM
DIRETOR GERAL
Jorge Apóstolos Siarcos
REITOR
Frei Gilberto Gonçalves Garcia, OFM
VICE-REITOR
Frei Thiago Alexandre Hayakawa, OFM
PRÓ-REITOR DE ADMINISTRAÇÃO E PLANEJAMENTO
Adriel de Moura Cabral
PRÓ-REITOR DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO
Dilnei Giseli Lorenzi
COORDENADOR DO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - NEAD
Franklin Portela Correia
CENTRO DE INOVAÇÃO E SOLUÇÕES EDUCACIONAIS - CISE
Franklin Portela Correia
DESIGNER INSTRUCIONAL
Abner Pereira de Almeida
REVISÃO ORTOGRÁFICA
Carolina Bontorin Ceccon (FAE)
Mayara Drobot da Silva Portela (FAE)
PROJETO GRÁFICO
Centro de Inovação e Soluções Educacionais - CISE
CAPA
Centro de Inovação e Soluções Educacionais - CISE
DIAGRAMADORES
Andréa Ercília Calegari

© 2024 Universidade São Francisco


Avenida São Francisco de Assis, 218
CEP 12916-900 – Bragança Paulista/SP
OS AUTORES

ANA PAULA DOS SANTOS CARDOSO


Mestre em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Graduada em Ciências Econômicas pela Fundação Universidade do Rio Grande (FURG).
Atualmente é Professora Assistente da FAE Centro Universitário e Professora Adjunta das
Faculdades Integradas Santa Cruz de Curitiba (FARESC). Experiência na área de Econo-
mia, com ênfase em Mudança Tecnológica, atuando principalmente nos seguintes temas:
Concorrência e Mercados e Política Monetária.

TADEU VAZ PINTO PEREIRA


Mestre em Ciências Humanas e Sociais pela Universidade Federal do ABC. Gradu-
ado em Ciências Econômicas pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas
(CEA/PUCC) e em Ciência Política pela Universidade Estadual de Campinas (IFCH/
UNICAMP). Atuou no Centro de Desenvolvimento Econômico da UNICAMP (CEDE/IE/
UNICAMP) e foi Chefe da Divisão de Indústria da Secretaria de Desenvolvimento Eco-
nômico do município de Bragança Paulista.

Atualmente, é servidor efetivo (Analista de Gestão) da Prefeitura da Estância de Atibaia e


professor convidado na área de Teoria Econômica na Universidade São Francisco (USF).

THIAGO ANDRÉ GUIMARÃES


Mestre e Doutorando em Pesquisa Operacional pelo Programa de Pós-graduação em
Métodos Numéricos em Engenharia, pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). En-
genheiro de Produção Civil pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR)
e Economista pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Atualmente é Professor
Assistente da FAE Centro Universitário, lotado no Departamento de Economia e Pro-
fessor Efetivo do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná (IFPR),
lotado no Campus Curitiba, atuando na área de Gestão e Negócios. Atua também como
Economista e Pesquisador junto ao grupo de pesquisa Desenvolvimento e Evolução
de Sistemas Técnicos (DEST), vinculado ao Departamento de Economia do Setor de
Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Sua pesquisa concentra-se na área de Engenharia de Produção, com particular interesse


em Logística e Pesquisa Operacional. No âmbito das Ciências Econômicas, atua especifica-
mente nos seguintes segmentos: Economia Industrial, Mudança Tecnológica, Agrotóxicos,
Métodos Estatísticos, Matemáticos e Econométricos e Ensino em Ciências Econômicas.
SUMÁRIO

UNIDADE 01: A ECONOMIA NO NOSSO DIA A DIA..............................................6

1. Escolhas dos seres humanos.............................................................................. 6

2 Ciência econômica e suas metodologias.............................................................. 14

3 Comportamentos econômicos em sociedade....................................................... 21

UNIDADE 02: COMO OS MERCADOS FUNCIONAM? FUNDAMENTOS E


REFLEXÕES SOBRE A MICROECONOMIA..........................................................34

1. Fundamentos de microeconomia......................................................................... 34

2. Elasticidade.......................................................................................................... 48

3. Estruturas de mercado......................................................................................... 55

UNIDADE 03: A MACROECONOMIA: DA CRISE DE 1929 À REVOLUÇÃO


KEYNESIANA............................................................................................................64

1. Mercado se autoequilibra, pelo menos é o que pensam os liberais.................... 64

2. Contabilidade social............................................................................................. 75

UNIDADE 04: MOEDA E MERCADO FINANCEIRO: INFLAÇÃO E EMPREGO,


ESTADO E POLÍTICAS MACROECONÔMICAS....................................................90

1. Moeda e mercado financeiro................................................................................ 90

2. Inflação – causas e consequências..................................................................... 100

3. Estado e políticas macroeconômicas................................................................... 111


A economia no nosso dia a dia UNIDADE 1

A ECONOMIA NO NOSSO DIA A DIA


1

INTRODUÇÃO
Taxa de juros, valor do câmbio, superávit comercial, déficit público, inflação e gráficos
e mais gráficos. Certamente, quando você escuta a palavra Economia, vem tudo isso
na sua mente.

Contudo, Economia é muito mais do que números, gráficos e quantificação de recursos


financeiros. Noções de Economia estão no nosso dia a dia. Está quando você decide
adquirir um produto em detrimento ao outro, quando planeja o que vai fazer daqui 4 ou
10 anos, ou até quando você desiste de sair com seus amigos no final de semana.

O objetivo deste capítulo é discutir o papel da Economia na sociedade, seu lugar ao


lado de outras ciências do conhecimento, assim como apresentar seus principais mo-
delos e sua problemática.

Seja bem-vindo à Economia! Certamente, ao longo de toda esta disciplina, você vai se
surpreender e entender melhor a conjuntura e as relações que nos acercam. Vamos
conhecê-la? Bons estudos!

1. ESCOLHAS DOS SERES HUMANOS


A Economia é definida como as escolhas sobre as formas de vida em sociedade; com
o processo decisório das organizações e com a busca pela sustentabilidade. A escolha
resulta em um comportamento humano que faz parte do nosso dia a dia. A escolha não
altera os fatos, mas implica na forma como direcionamos nossos comportamos com
relação a eles.

Nós respiramos e a Economia acontece naturalmente. Acordamos e dormimos Econo-


mia. Ela não se restringe àquilo que é divulgado em noticiários, revistas e jornais. Por
isso, não é possível dizer que não gostamos de Economia, porque ela faz parte do ser
humano. Para entender melhor, pense também em nossas decisões diárias de sobrevi-
vência na sociedade em que vivemos. Economia é simples assim.

As compreensões sobre o comportamento econômico são importantes para as diver-


sas áreas do conhecimento, como: a Administração, a Contabilidade, as Engenharias,
a Psicologia, a Pedagogia, o Direito, a Biologia, a Medicina, as tecnologias dentre ou-

6
tras. Da mesma maneira, essas áreas do conhecimento fazem parte da compreensão
sobre a Economia.

Seja lá qual for a identidade ou a característica da instituição ou do setor em que


1
você trabalhe, as lógicas da Economia estarão presentes. Você também pode uti-
lizá-las para sua própria gestão ou gestão familiar, porque você é uma estrutura
produtiva ou de consumo.

Universidade São Francisco


Em negócios empresariais, a compreensão sobre esse comportamento facilita e amplia
o entendimento e o aprofundamento das formas e das técnicas operacionais de gestão,
além de dar mais consistência ao processo de tomada de decisão organizacional.

Então, pensar Economia está relacionado às seguintes reflexões:

` Eu me conheço, conheço o mundo em que vivo e busco formas de sobrevivência;

` Uma empresa privada se conhece, conhece o mundo em que está inserida e


busca formas de sobrevivência;

` O setor público e os demais entes da sociedade civil organizada se conhecem,


conhecem o mundo em que vivem e buscam formas de sobrevivência...

...desde a pré-história.
O que a sociedade quer da vida? Vida.
O que as pessoas querem da vida? Vida.
O que eu quero da vida? Vida.

Como?
Vivendo a dinâmica da Vida. Planejamento
de curto, médio e longo prazo...Sobrevi-
vência, competitividade... Posicionamento,
escolhas, tomada de decisão...

Por quê?
Satisfação de Vida. Sonhos. Felicidade.
Sobrevivência. Competitividade. Bem-
-estar social.

Economia e mercados 7
A economia no nosso dia a dia

Onde?
1 No meio de vida. Vida em sociedade tem dinâ-
mica própria do todo e das partes, com regras,
normas e leis.

Quando?
De acordo com o momento de vida.
Vida em sociedade tem dinâmica própria do todo
composto pela identidade das partes, que são
refletidas nos costumes, na cultura, nas regras,
nas normas e nas leis.

Por autoconhecimento você pode entender a reflexão sobre os valores, o respeito pró-
prio, aquilo que lhe faz feliz e seus sonhos. Em uma organização, isto se reflete na ética
organizacional, na missão, no negócio e nos objetivos. Por conhecimento do mundo
você pode entender o tecido social, o seu entorno, o entorno da empresa, o meio de
vida da sociedade em que as organizações atuam. Já por formas de sobrevivência,
procure entender como as escolhas de comportamento que você faz em sua vida, nos
setores em que trabalha, o que você desempenha para a busca da sua felicidade ou da
sustentabilidade. Nas organizações são tomadas de decisão estratégicas, traçadas à
competitividade de acordo com a missão e com os valores estabelecidos.

Um processo de tomada de decisão pressupõe escolhas e tem como instrumentos a


reflexão, o acompanhamento, o monitoramento, a avaliação e a adequação de com-
portamentos estratégicos. Para isso é preciso: a coleta, o levantamento, o registro e a
comunicação de dados e informações. Esses dados e essas informações são variáveis
e indicadores utilizados na análise da opção a ser seguida. Variáveis são elementos que
você dispõe para o seu próprio conhecimento, conhecimento organizacional e conheci-
mento do mundo.

` Quem é você?

` Quais são seus comportamentos positivos?

` O que você pretende de sua vida?

Ao refletir sobre essas questões você está pensando em variáveis do seu comporta-
mento, que pode ser harmônico e conduzir ao equilíbrio, ou desarmônico e conduzir ao
desequilíbrio. Isso também ocorre na vida organizacional. Qual é a empresa, a orga-
nização ou o setor que eu trabalho? O que há de positivo? Como podemos utilizar os
aspectos positivos para alcançar os objetivos organizacionais?

8
Essas reflexões dependem das análises de variáveis estratégicas e dos momentos da
organização. A organização pode adotar caminhos para a qualidade, a produtividade
e a otimização, mas precisa estar atenta ao momento em que se encontra, porque é
dinâmica, tanto quanto a sociedade em que atua. Tanto você quanto a organização 1
precisam estar de acordo com aquilo que a sociedade anseia.

Quanto mais elaborada for a informação sobre o comportamento das variáveis qua-

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litativas e quantitativas relacionadas ao momento ou à situação com a qual você ou
a organização se depara, maior a certeza sobre a sobrevivência no mercado. Assim,
quanto maior o domínio sobre as variáveis do comportamento individual e organizacio-
nal, menor a incerteza de sobrevivência sobre os resultados que serão obtidos por tal
escolha. Melhor será sua satisfação e melhores serão os ganhos sobre os posiciona-
mentos estratégicos. Desta forma, você pode estabelecer a relação desta disciplina de
Economia com as demais cadeiras estudadas na graduação do curso de Administração,
como gestão estratégica, análise de custos, gestão de pessoas, gestão da qualidade
dentre outras, as quais também estão de acordo com essa lógica e abordam esses
temas, mas com formas técnicas, sistemáticas, metodológicas e operacionais para que
seja possível aplicar na prática.

As lógicas da Ciência Econômica se refletem, mas são pouco exploradas no cotidiano.


Trabalhos aprofundados com métodos quantitativos e estatísticos nos processos deci-
sórios empresariais, sob o esclarecimento dos momentos das estruturas produtivas e
de consumo, desmistificam dinâmicas organizacionais. Esse tipo de trabalho enriquece
a base de tomada de decisões, o estabelecimento de estratégias e amplia os ganhos
competitivos esperados. Terá melhor posicionamento estratégico a empresa e o profis-
sional que conseguirem captar os momentos organizacionais e pessoais e relacioná-los
com a dinâmica da sociedade.

1.1 CONCEITO DE ECONOMIA E SEU PAPEL COMO CIÊNCIA

Economia é o uso de recursos disponíveis e escassos para atender às necessida-


des ilimitadas das pessoas para a sobrevivência individual e a vida em sociedade.

Costumo indicar aos alunos todas as vezes que, forem iniciar um trabalho ou um estu-
do, para que haja entendimento pleno do conteúdo, que eles se baseiem no dicionário
e na etimologia das palavras. A partir daí a compreensão sobre os conteúdos e suas
aplicabilidades ficam mais claras, facilitando a compreensão dos conhecimentos e das
técnicas disponíveis.

Assim, começaremos compreendendo o significado da palavra Economia, que vem do grego:

ECO NOMIA

Vem de oikos, que Vem de nomos, que sig-


significa casa. + nifica normas.

Economia e mercados 9
A economia no nosso dia a dia

Portanto, pela etimologia: “Economia são as normas da casa”. Portanto, surgem as per-
guntas: o que é necessário para o funcionamento de uma casa? Para que e para quem
uma casa precisa funcionar? Como uma casa funciona?
1
Uma casa usa recursos para atender às necessidades das pessoas.

O que precisa (recursos) para uma casa


estar em atividade e alcançar seus objetivos
(necessidades)?
Como usar o que dispomos para atender nos-
sos anseios de vida?

Que casa é essa?


O que resulta das atividades desta casa?

Contudo, você precisa contextualizar esse entendimento para as “diversas casas” que
existem na sociedade. Você (parte) ou o mundo (todo) podem ser entendidos como uma
casa. Veja as suposições do que seria uma casa:

1 Um indivíduo – que dorme todos os dias e utiliza pijama, cama e roupas de


cama para ter a necessidade “sono, descanso ou repouso” atendida;

Uma família – que adquire alimentos ou utensílios domésticos para fazer suas
refeições e ter a necessidade “alimentação” atendida; 2

3 Uma empresa ou organização – que utiliza equipamentos, computadores,


estrutura física e materiais de escritório para ter a necessidade “gestão
organizacional” atendida;

O governo – que utiliza inúmeros fatores de produção para conseguir realizar a


arrecadação do imposto de renda, ou que, por meio de seus funcionários, faz 4
a prestação de serviços públicos para que a sociedade tenha as necessidades
de “ensino, alimentação e saúde” atendidas;

5 Uma comunidade – que interage para ter a necessidade de “cultura” atendida;

10
Uma sociedade – que constitui regras, normas e leis para ter a necessidade de
“política” ou de “consolidação de um Estado soberano” atendida;
6
1
7 Um Estado – que se organiza democraticamente para ter a necessidade de
“sobrevivência” das pessoas, pelas pessoas e para as pessoas atendida;

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Um País – que utiliza todos os fatores que dispõe ou busca fatores de
produção em outros países para ter a necessidade de “produção de bens e
8
serviços” atendida;

9 O Mundo – que pensa em como usar apenas “1 mundo” para atender às


necessidades de todas as pessoas do mundo. Enquanto cada indivíduo age
na parte, ele também determina a organização do todo.

De maneira geral, a Economia visa entender e analisar como “a casa funciona” do ponto
de vista das suas decisões produtivas e seus desdobramentos. A ciência econômica
responde, de maneira geral, às seguintes perguntas:

A resposta significa identificar as necessidades e, consequentemente, o


O que produzir? que irá satisfazê-las. Desta maneira, a sociedade deve saber que precisa
produzir, por exemplo, alimentos, roupas, casas, estradas, escolas etc.

Implica determinar quantitativamente o produto necessário à satisfação


Quanto produzir? das necessidades. Se imaginarmos que todos os recursos disponíveis
de uma Economia são utilizados no processo produtivo, atingiremos um
limite na produção de bens e de serviços. Nesse caso, se quisermos
aumentar a produção de um bem qualquer, teremos de diminuir a
quantidade de produção de outro ou outros bens.

Para que se obtenha um determinado bem ou serviço, é necessário


empregar os fatores trabalho, capital e recursos naturais.
Como produzir?
Entretanto, a proporção em que esses recursos serão combinados vai
depender da abundância ou da escassez de cada um deles.

Economia e mercados 11
A economia no nosso dia a dia

Para que se obtenha um determinado bem ou serviço, é necessário


1 empregar os fatores trabalho, capital e recursos naturais.
Como produzir?
Entretanto, a proporção em que esses recursos serão combinados vai
depender da abundância ou da escassez de cada um deles.

A resposta a essa pergunta resolve o último problema da questão da


Para quem satisfação das necessidades humanas.
produzir? Ela vai nos dizer de que forma será distribuído o produto do trabalho
coletivo aos elementos da sociedade.

Figura 01. Comportamento Econômico

Percepção de si e do mundo, tomada de decisão, trade-off, posicionamento estraté-


gico, custo de oportunidade são termos relativos às nossas escolhas de como utilizar
recursos escassos para atender às necessidades ilimitadas.

x
?
Na escolha de
comportamento há
relações sociais,
Os recursos são conversas, soluções As necessidades
escassos de problemas, reflexão são ilimitadas.
sobre o comportamen-
to, busca conjunta de
alternativas.

Escolhas para a sobrevivência e para a vida

Fonte: Elaborada pela autora (2015).

Sendo assim, a Economia pode, também, ser entendida como a “ciência das escolhas”.
Diante das necessidades ilimitadas dos seres humanos, o agente econômico (que pode
ser o Governo, a Família, as empresas etc.) precisa tomar uma decisão sobre o que
produzir, como produzir, quanto produzir e para quem produzir.

Esses são os dilemas da Economia: entender as escolhas dos agentes econômicos,


dado uma conjuntura de recursos limitados e desejos e anseios ilimitados e infinitos.

12
1.2 VISÕES ESTRATÉGICAS DO COMPORTAMENTO ECONÔMICO
Há algumas formas de conhecer o mundo. Você pode conhecê-lo por meio do entendi-
mento filosófico, religioso ou do senso comum, que é aquele transmitido de geração em
geração. Já ciência conhece o mundo por meio do método científico e ela se relaciona 1
a sua forma de vida cotidiana.

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Diversas descobertas, estudos, conceitos, teorias, métodos, operacionalizações e práti-
cas que fazem parte do nosso dia a dia já fizeram parte do meio acadêmico um dia. Di-
ferentemente da pré-história, por causa da tecnologia, hoje a ciência tem forma própria
de propagação e disseminação de técnicas e conhecimentos e ela possui argumentos,
teorias, hipóteses e leis.

Argumentos sobre comportamentos são frágeis porque podem ser normatizados


ou modificados no decorrer do tempo, de acordo com o juízo de valor (opinião) de
cada indivíduo.

Teorias e hipóteses podem ser questionadas e refutadas no decorrer do tempo, de acor-


do com as observações práticas. Porém, na ciência, leis são inquestionáveis.

Assim, é possível afirmar que a sustentabilidade não é utópica, porque o comportamen-


to humano é imprevisível e todos podem mudar de opinião, ato ou ação e optar pela
essencialidade da vida. Além disso, também podemos fazer uma série de afirmações
sobre o comportamento econômico na vida em sociedade que estão baseadas nas leis
do comportamento humano de que: a vida sempre encontra meios de sobrevivência;
o comportamento humano ou organizacional apresenta ciclos de renovação em busca
de equilíbrios; momentos de equilíbrio são construídos em meio a desequilíbrios, ou
derivam de impulsos de superação aos desequilíbrios. Veja que a Física, a Química, a
Biologia e a Psicologia podem auxiliar nessas compreensões. Você também pode des-
mistificar esses entendimentos observando seu comportamento diário na sociedade.

A forma do estudo e do conhecimento do mundo tem método e pressupõe um con-


junto de aprendizados teóricos e práticos, de exploração dedutiva ou indutiva. Como
todo conhecimento científico tem sua forma de propagação em veículos de informação
científica como revistas, congressos e demais formas de publicação. A Economia é
uma Ciência Social Aplicada baseada em uma construção teórica realizada a partir da
observação cotidiana e prática das pessoas e das organizações, que possui raciocínios
e obedece a leis relativas ao comportamento humano.

SAIBA MAIS
Procure na internet sobre conhecimento do mundo por meio do conhecimento filosófico, religioso
ou do senso comum.
O senso comum é chamado de conhecimento popular. Um conjunto de códigos transmitidos de
geração em geração ou pela própria experiência de vida das pessoas.
Note a diferença entre conhecimento científico e senso comum: por que você sabe quando é
primavera? Você já fez um trabalho de conclusão de curso para descobrir quando ela ocorre? Se
tivesse feito, teria conhecido a primavera por meio do conhecimento científico.

Economia e mercados 13
A economia no nosso dia a dia

Quando você opta por realizar um curso de graduação, você se aproxima do conheci-
mento do mundo pelo método científico, que tem regras e normas de transmissão, usa
as normas da ABNT e faz trabalhos de iniciação científica ou de conclusão de curso.
1
Por meio da aproximação da ciência com o senso comum e os demais conhecimen-
tos, avançamos na curva de aprendizagem da sociedade e vivemos dessa forma e
não em cavernas.

Reunimos diversas formas de conhecimento de mundo, e a inteiramos e a comparti-


lhamos como técnicas e conhecimentos entre as diversas formas de aproximação, ou
revelação, do homem à sua realidade (tecnológica).

Por que acontece isso na sociedade? Por causa da lei da vida. Porque nós, seres hu-
manos, nos organizamos assim nesta “aldeia global”, em um tecido social que coexiste
em um único planeta, pois buscamos alternativas para sobreviver. A história mostra que
essa busca pela vida sempre encontrou novos equilíbrios em meio a desequilíbrios.
Lembre-se das transições pelas quais passamos como aquela entre a idade média e a
idade moderna. Crises da humanidade são alternativas a mudanças e a renovações do
meio de vida.

2 CIÊNCIA ECONÔMICA E SUAS METODOLOGIAS


A Economia, como ciência, baseia-se em modelos hipotéticos para explicar seus fenôme-
nos e suas particularidades. Isto acontece porque, por depender de inúmeras variáveis
que acontecem concomitantemente (ao mesmo tempo), é necessário isolarmos algumas
variáveis para podermos explicar certas características do fenômeno econômico.

Diferentemente das Ciências Naturais e Exatas, que muitas vezes podem contar com
laboratórios para provar suas teorias, a Economia, como Ciência Social, precisa aplicar
modelos hipotéticos para explicar algumas de suas particularidades. Para isso, adota-
mos uma expressão latina coeteris paribus ou ceteris paribus. Ela quer dizer “mantidas
as demais variáveis constantes”.

Outro ponto que também merece destaque é que a Ciência Econômica, assim como
qualquer outra ciência, analisa seus fatos e particularidades em diferentes níveis. Mankiw
(2013) cita o exemplo da Biologia para comparar: a Biologia não se divide em biologia
molecular, botânica, zoologia, dentre outros? A Economia também tem suas divisões.

Podemos tentar analisar a decisão de uma família ao decidir pela compra de um bem
de consumo em detrimento do outro, verificar por que os preços da gasolina estão au-
mentando após elevação do preço do dólar, ou ainda verificar a tendência de poupança
das famílias brasileiras em um ambiente de alta generalizada dos preços, por exemplo.

De maneira geral, dividimos a Ciência Econômica em dois subcampos: micro e macro-


Economia. Para entender a diferença entre microEconomia e macroEconomia, basta
pensar em um tecido, uma borda ou uma renda. Da mesma forma que você é o fio de
um tecido que tece no tecido social, por meio de seu trabalho, fazendo gerar renda, um
fio pode ser entendido como apenas uma atividade econômica que compõe o todo das
atividades econômicas de um sistema econômico. No decorrer do tempo, a trama do

14
tecido conjunto da Economia se modifica, de acordo com a capacidade de geração de
renda de cada fio (atividade econômica).

Figura 02. Trama do tecido conjunto (renda) da atividade econômica 1

Renda
Leis do Comportamento

Universidade São Francisco


Humano

Tecido conjunto da
Atividade Econômica
o
çã
iza
im
Ot 4º
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Equilíbrio
ia Impulso
o log 3º
cn
Te

Equilíbrio
Impulso o 2º
ra çã Trama do Tecido Social e
S atu
geração de renda


Tempo

Fonte: Elaborado pela autora (2015).

A ideia de microEconomia e de macroEconomia não é relativa a territórios, mas ao


conjunto ou às partes das atividades econômicas. Como a Economia estuda o com-
portamento de indivíduos, famílias, empresas, governos, estados, países, nações e o
mundo, ela precisa organizar a forma de estudá-los e observá-los. Além disso, utiliza a
observação macroeconômica e microeconômica para relacionar os efeitos das ações
de cada um desses agentes, de modo integrado ou isoladamente no tecido social.

A microEconomia refere-se ao campo de estudo da Economia que estuda comporta-


mentos individuais, setoriais, ou grupos de atividade econômicas e organizações. Tra-
ta do equilíbrio de partes ou de mercados específicos. As partes ou o agregado dos
mercados compõem um todo chamado de macroEconomia. Este campo de estudo da
Economia trata do equilíbrio geral.

Por exemplo: enquanto a microEconomia observa mercados específicos (encontro das


forças de oferta e de demanda) ou o equilíbrio e a formação de preços em cada mer-
cado, a macroeconomia ocupa-se do equilíbrio geral e das variações do nível geral de
preços. Outros exemplos de macroEconomia são: o Produto Interno Bruto (PIB) de
um Município ou País; o desemprego total, a inflação, os gastos totais do governo. A
microEconomia observa a produção de apenas um bem ou conjunto de bens, como a
agricultura, indústria, comércio e serviços e o desemprego de apenas um ou outro setor,
como a indústria alimentícia, química, celulose e papel, dentre outras.

Economia e mercados 15
A economia no nosso dia a dia

Resumidamente, de acordo com Mankiw (2013), podemos entender que:

MicroEconomia
1
Analisa como as pessoas, empresas e famílias tomam decisões e como se relacionam e
interagem entre si em mercados específicos;

MacroEconomia

Estuda fenômenos da Economia como um todo, como inflação, emprego, crescimento


econômico e como estes “grandes agregados” influenciam na decisão do agente econômico.

Agora, depois de conhecer um pouco sobre o conceito e o papel da Economia como


ciência, vem uma dúvida: a Ciência Econômica é uma ciência que pertence ao grupo de
Ciências Humanas ou Exatas?

Esta é uma dúvida comum! Apesar dos muitos números, gráficos e valores que você já
deve ter visto associado à Economia, esta é uma ciência das Ciências Humanas. Isto
acontece porque a Economia, conforme já anteriormente discutido, visa entender como
“como a casa funciona”, principalmente em questões básicas como “o que deverá ser
produzido” ou “quem terá direito de consumir”.

Estas decisões, apesar de serem correlacionadas e possíveis de serem explicadas e ex-


plicitadas em expressões algébricas e estatística, são carregadas de muita subjetividade.

A maneira pela qual se decide produzir um produto em detrimento de outro passa por
questões culturais e políticas; Economia nada mais é do que a observação do comporta-
mento humano em relação às suas decisões produtivas no interior de suas sociedades.
Figura 03. O caráter biunívoco das relações da Economia com outros ramos do conhecimento social

Antropologia
Cultura

Direito Psicologia

Filosofia Sociologia

Ética Política

Economia

Fonte: Rosseti (2016, p. 4).

16
Sendo assim, a Economia é uma ciência de humanidades. Entretanto, como metodologia
de análise do comportamento de seus agentes demanda, não só da matemática e da Es-
tatística, conhecimento de História, Sociologia, Psicologia, Ciência Política, dentre outros.
1
Entender as mais diversas questões econômicas demanda multidisciplinaridade. Isto é, não
existe um problema “exclusivamente econômico”, o que existe são questões políticas, so-
ciais, psicológicas e antropológicas que muitas vezes se refletem no campo da Economia.

Universidade São Francisco


PARA REFLETIR
Você sabia que em 2017 o psicólogo Richard H. Thaler recebeu o Prêmio Nobel de Economia
pelas suas contribuições no campo da Economia comportamental? Thaler é pioneiro no uso da
Psicologia para entender o comportamento de como as pessoas tomam decisões econômicas,
às vezes, rejeitando a racionalidade. Interessante, não?!

Entendendo a Economia desta maneira, fica fácil entender porque os economistas di-
vergem tanto! Certamente, ao ler uma notícia no jornal, ou até mesmo ver um comentá-
rio em algum telejornal, você observou que economistas têm opiniões completamente
distintas sobre o mesmo ponto analisado.
Tabela 01. Proposições com as quais a maioria dos economistas concorda

PROPOSIÇÕES COM AS QUAIS A MAIORIA DOS ECONOMISTAS CONCORDA:


01. Estabelecer um teto para os aluguéis reduz a quantidade e a qualidade das moradias disponíveis (93%).
02. Tarifas e cotas de importação costumam reduzir o bem-estar econômico geral (93%).
03. Taxas de câmbio flexíveis e flutuantes permitem um arranjo monetário internacional eficaz (90%).
04. A política fiscal (por exemplo, cortes de impostos e/ou aumento dos gastos do governo) tem efeitos
estimulantes significativos sobre uma Economia que esteja abaixo do pleno emprego (90%).
05. Os Estados Unidos não deveriam restringir a terceirização de outros países (90%).
06. O crescimento econômico em países desenvolvidos como os Estados Unidos leva a níveis mais ele-
vados de bem-estar (88%).
07. Os Estados Unidos deveriam eliminar os subsídios agrícolas (85%).
08. Uma política fiscal apropriadamente desenvolvida pode aumentar a taxa de formação de capital no
longo prazo (85%).
09. Os governos municipais e estaduais deveriam eliminar os subsídios para franquias de esportes pro-
fissionais (85%).
10. O orçamento federal deve ser equilibrado durante o ciclo de negócios, não anualmente (85%).
11. A diferença entre os fundos da Seguridade Social e os gastos se tornará insustentável nos próximos
50 anos se as políticas atuais permanecerem inalteradas (85%).
12. Os pagamentos em dinheiro aumentam o bem-estar dos beneficiários mais do que as transferências
em mercadorias de igual valor monetário (84%).
13. Um grande déficit orçamentário federal tem efeitos adversos sobre a Economia (83%).
14. A redistribuição de renda nos Estados Unidos é um papel legítimo do governo (83%).
15. A inflação é causada principalmente pelo crescimento excessivo da oferta de moeda (83%).
16. Os Estados Unidos não devem banir safras geneticamente modificadas (82%).

Economia e mercados 17
A economia no nosso dia a dia

01. O salário mínimo aumenta o desemprego entre trabalhadores jovens e não qualificados (79%).
02. O governo deveria reestruturar o sistema de assistência social nos moldes de um “imposto de renda
negativo” (79%).
1 03. Os impostos sobre efluentes e as permissões para poluição negociáveis são uma abordagem melhor
no controle da poluição do que a imposição de tetos à poluição (78%).
04. Os subsídios do governo sobre o etanol nos Estados Unidos devem ser reduzidos ou eliminados
(78%).

Fonte: Mankiw (2013, p.34).

Por que isso acontece? Segundo Mankiw (2013), os economistas possuem diferentes
opiniões acerca da validade e aplicabilidade de algumas teorias. Têm diferentes “visões
de mundo”, o que por si só dificulta na interpretação sobre o impacto de algumas vari-
áveis econômicas (e suas dimensões) podem afetar o bem-estar econômico.

Contudo, as divergências dos economistas não desvalorizam e tampouco desqualificam a


análise de questões econômicas. Como já anteriormente comentado, como o entendimen-
to econômico é multidisciplinar, suas interpretações são distintas, com diferentes espectros,
métodos e considerações, o que deixa a análise da Economia muito mais interessante e rica!

2.1 O PROBLEMA DO COMPORTAMENTO ECONÔMICO: A ESCASSEZ


Um dos problemas fundamentais da Economia é a escassez. Os recursos são escas-
sos porque temos apenas um planeta Terra. Em função disso, até que a sociedade
encontre outra forma de mensuração da renda, de regeneração, de reconstrução e de
reutilização da Terra, também dizemos que os custos são crescentes. Quanto mais se
consumir, extrair e utilizar o planeta sem encontrar alternativas à sustentabilidade e à
produtividade, maiores serão os custos.

O problema da insustentabilidade fica evidente quando os custos crescem mais que a


renda, pois isso caracteriza improdutividade das pessoas e do sistema econômico. No
entanto, caso os custos aumentem e a renda aumente em uma proporção maior, haverá
produtividade, eficiência e otimização sustentável, pois haverá qualidade, prudência e
consciência individual e social.

Conforme mencionado, temos inúmeras necessidades e precisamos pensar em como usar


os recursos disponíveis em 1 mundo para satisfazer a essencialidade da vida. Chamamos de
recursos econômicos ou fatores de produção aquilo que usamos para o atendimento dessas
necessidades. Na Economia, nós os classificamos e os agrupamos da seguinte forma:

Terra:
Dizem respeito a todos os insumos ou fatores in natura oriundos da atividade econômica de
agropecuária, plantio e manejo florestal, extrativismo, dentre outras.

Capital:
Pode ser físico ou financeiro. O capital físico são as máquinas, os equipamentos e as estruturas
físicas produtivas, aquilo que é possível quantificar e medir contabilmente e que também
caracteriza os investimentos. Já o capital financeiro pode ser entendido como a moeda

18
utilizada para financiar, em forma de crédito ou poupança, a atividade econômica. O crédito
é uma antecipação de consumos e investimentos que possuem maior risco ou incerteza de
pagamento, quando comparado ao uso de poupança, considerada mais prudente pela garantia
de remuneração imediata do sistema produtivo de bens e serviços.
1

Trabalho e capacidade empresarial:


Não são consumidos fisicamente no processo produtivo, pois são as pessoas e o que se utiliza

Universidade São Francisco


para a produção de bens e serviços são suas técnicas e seus conhecimentos. Ainda não é
medido ou contabilizado como investimento, mas sua produtividade é essencial à geração de
renda. Está relacionado ao capital social, à inteligência emocional, à cultura organizacional e à
vida das organizações. A forma de revelação do seu conhecimento e de suas técnicas determina
a forma do funcionamento e de organização do sistema econômico. A curva de aprendizagem
da sociedade depende das pessoas e da forma como trabalhamos pelas pessoas e para as
pessoas continuarem trabalhando. Dar valor ao trabalho do outro é uma forma de garantir o seu
próprio trabalho (renda), porque se os demais não estiverem trabalhando (renda para consumo),
talvez você não tenha um motivo para trabalhar (renda e consumo). Quem irá adquirir o bem ou
o serviço que você disponibiliza à sociedade, caso as pessoas não tenham como lhe remunerar?

Tecnologia:
É a interação de técnica e conhecimento. A tecnologia é abstrata e se revela por meio do
comportamento das pessoas. Para entender a tecnologia, você precisa olhar para a forma
de interação do conhecimento e das técnicas entre as pessoas e os objetos. Não confunda
tecnologia com inovação. Há tecnologia no momento em que você está estudando, alimentando-
se, tomando banho e realizando as demais atividades do dia a dia, aproprie-se, contudo, da
tecnologia para escolher a forma como você vive e sobrevive em sociedade. Você é importante
e pode construir alternativas em conjunto para a sustentabilidade.

PARA REFLETIR
O papel da inovação tecnológica
Segundo Joseph Schumpeter (1883 — 1950), economista austríaco, a inovação tecnológica
promove a “destruição criativa do capital”. Para ele, a inovação tecnológica é o motor para
o crescimento econômico sustentado da Economia, apesar da inovação destruir empresas já
bem estabelecidas (SCHUMPETER, 1961). Ou seja, ao surgir um produto inovador, o anterior
é substituído pelo novo, revolucionando todo o sistema anteriormente concebido. De acordo
com Mankiw (2013), uma das formas de conhecer a trajetória econômica é por meio das
tecnologias geradas pela humanidade no decorrer de sua história, como ferrovia, telégrafo,
motor a combustão, informática, dentre outros. Você concorda com esta ideia? Qual o papel da
inovação para toda sociedade? Não deixe de discutir!

Pense que se as pessoas estivessem plenamente satisfeitas ou se houvesse abun-


dância de recursos na Terra para atender a todas as necessidades, mesmo assim
precisaríamos estudar Economia aplicada à sustentabilidade. Ou, ainda, mesmo que
quiséssemos apenas ter lazer, utilizaríamos recursos para ter a necessidade “lazer”
atendida e teríamos que trabalhar para isso.

Economia é um comportamento humano que depende das escolhas que nós fazemos
diariamente. Tanto os recursos utilizados quanto as necessidades das pessoas têm

Economia e mercados 19
A economia no nosso dia a dia

características que fundamentam o estudo da Economia. O primeiro é caracterizado


pela escassez, enquanto que o segundo caracteriza-se pela falta de limites. Por isso,
nós pensamos, refletimos e fazemos escolhas.
1
Na linguagem científica, utilizamos um ponto de interrogação para apresentar uma per-
gunta ou um problema que será estudado, refletido e pesquisado. Dizemos que a es-
cassez é o problema (?), ou a pergunta que motiva os estudos da Ciência Econômica.
Mas cada pessoa enfrenta esse problema diariamente, por isso, estamos o tempo todo
diante de situações decisórias e precisamos escolher como nos comportar entre as
possibilidades que temos diante de cada caso cotidiano.

Nos livros de Economia, qualquer conceito ou definição que você encontre levará à
ideia, resumida e sintética, de que “Economia é um comportamento das pessoas no uso
de recursos escassos para atender às necessidades ilimitadas das pessoas”.

2.2 A NECESSIDADE DE SE TOMAR AS MELHORES DECISÕES – AS


ESCOLHAS ÓTIMAS
As necessidades humanas são inúmeras e infinitas. Diante de um contexto de escassez
de recursos disponíveis, é de suma necessidade para o ser humano tomar as melhores
decisões (escolhas ótimas), isto é, eleger quais são suas prioridades e quais os recur-
sos serão utilizados pata atendê-las.

Da mesma forma que as pessoas buscam soluções cotidianas nas organizações, a


ciência também o faz. Isso fica evidente pelo aspecto multidisciplinar das organizações
e da Economia, pois, para encontrar soluções conjuntas, ela precisa dialogar com as
demais áreas do conhecimento científico para construir a sustentabilidade.

A habilidade de conversar com outras áreas do conhecimento e reunir um conjunto de


argumentos que conduza à decisão ótima caracteriza a multidisciplinaridade. Você se
utiliza da Matemática, do Português, da História, da Biologia, da Química, da Física, da
Psicologia, dentre outras ciências para viver em sociedade e tomar suas decisões diárias.

Sobre a multidisciplinaridade para a solução de problemas comuns em sociedade, vale


lembrar que: por um lado, a Ciência Econômica se utiliza de conhecimentos de outras
áreas para explicar e estudar o comportamento econômico. Por outro, também contri-
bui de modo multidisciplinar, em conjunto com as demais áreas de conhecimento, para
solucionar problemas sociais e buscar a sustentabilidade.

Solução é a alternativa encontrada que deriva do processo de tomada de decisão. So-


lução ótima é o processo decisório feito da melhor forma envolvendo escolhas de com-
portamentos que conduzam à sustentabilidade, isso quer dizer: equilibram relações, sa-
tisfação e qualidade. Assim otimizamos tempo, processos e geração de renda, porque
nos tornamos mais produtivos sem esquecer dos seres humanos e da felicidade, consi-
derando que “o melhor plano de negócios é aquele que ‘remunera’ a sua felicidade”. O
desafio está em como medir e, por isso, pensamos no custo de oportunidade.

O diálogo entre as pessoas ou com as demais áreas do conhecimento auxilia a tomada de


decisão em meio a inúmeras variáveis do cotidiano.

20
3 COMPORTAMENTOS ECONÔMICOS EM SOCIEDADE
Depois de estudar algumas lógicas e alguns raciocínios do comportamento econômico, é
possível avançar na curva de aprendizagem da Economia e compreender como o comporta- 1
mento econômico das partes se revela em sociedade e se organiza em sistemas econômicos.

A forma como a sociedade se organiza para escolher o que produzir, para quem pro-

Universidade São Francisco


duzir e como produzir configura os sistemas econômicos. Como o comportamento hu-
mano é cíclico, há limites de produção e alternativas ao incremento da renda (Curva
de Possibilidade de Produção). No cotidiano, esses movimentos são expressos pela
produção e pela remuneração de bens e serviços (Fluxo Circular da Renda).

Para entender o comportamento cíclico na Economia, pense em você no dia a dia. Você
acorda, ganha produtividade (impulso), atinge o melhor momento do trabalho (equilí-
brio), depois cansa e necessita de repouso (saturação). Tanto o sistema econômico
quanto as organizações funcionam da mesma forma com relação ao meio de vida e
aos investimentos na produção. Quando este ritmo se rompe, há crises no sistema
econômico ou nas empresas, que representam mudanças, novos investimentos e estra-
tégias para construir o próximo equilíbrio. A ruptura deste ritmo pode ser expressa pela
desconexão da produção e da remuneração de bens e serviços. Nas empresas, são
momentos de perda de produtividade, mercado ou ineficiência produtiva.

3.1 COMPOSIÇÃO DOS SISTEMAS ECONÔMICOS E O FLUXO


CIRCULAR DA RENDA
Os sistemas econômicos se caracterizam pelos agentes que tomam a decisão sobre o
que produzir, para quem produzir e como produzir. Para fins didáticos, apresentamos
os três principais: Economia de mercado, Economia mista e Economia centralizada
(VASCONCELLOS, 2016).

ECONOMIA DE MERCADO
Na Economia de mercado, que podemos conceber aqui como “sistema capitalista puro”, as
decisões são tomadas pelo que conhecemos como “mercado”. De acordo com Mankiw (2013)
é o mercado que escolhe o que vai ser produzido, qual tipo de trabalho será formado, quais
são suas quantidades etc. Este sistema, também se baseia nos princípios da livre iniciativa e
da propriedade privada. O Mercado decide. Então agentes (pessoas) da oferta e da demanda
decidem o que produzir, como produzir e para quem produzir

ECONOMIA MISTA

Já na Economia mista, também capitalista, o mercado também escolhe o que deverá ser
produzido, contudo com intervenção do governo neste processo. O governo atua diretamente
na eleição de prioridades, agindo como uma espécie de “condutor do mercado”. O mercado
(pessoas) e o governo decidem o que produzir, como produzir e para quem produzir.

Economia e mercados 21
A economia no nosso dia a dia

ECONOMIA CENTRALIZADA
Já no sistema de Economia Centralizada, as decisões sobre o que deverá ser produzido,
quanto será produzido e quem consumirá cabe um órgão central de planejamento controlado
1 pelo seu governo. Neste sistema, diferentemente do Sistema Capitalista, não há a previsão de
propriedade privada, mas sim propriedades de caráter coletivo.
Só o governo decide o que produzir, como produzir e para quem produzir.
Os sistemas econômicos são compostos pelos agentes econômicos (famílias, empresas
e governo), fatores ou recursos de produção, bens e serviços e seus mercados (oferta e
demanda). De acordo com Vasconcellos (2016), os fatores de produção são: terra, capital,
trabalho, capacidade empresarial e tecnologia.

Tabela 02. Formas de ordenamento institucional

FORMAS DE ORDENAMENTO INSTITUCIONAL


CRITÉRIOS
DIFERENCIADORES Economia de
Economia de mercado Sistemas mistos
comando central
Restrições seletivas à
Amplas restrições às
liberdade
variadas formas de li-
1. LIBERDADE Ausência de restrições
dos agentes econô-
berdade: de ocupação,
ECONÔMICA à liberdade econômica.
micos. Introdução do
de empreendimento,
de dispêndio e de
conceito de liberdades
acumulação.
sociais.
2. PROPRIEDADE DOS Privada, individual ou Coletiva, socializada.
Coexistência de formas.
MEIOS DE PRODUÇÃO societária. Estatizada.
Busca do bem comum:
Busca do máximo Submissão do interesse
3. SISTEMA DE o solidarismo e a coo-
benefício privado pelos individual privado ao
INCENTIVOS agentes individuais. interesse social.
peração em substitui-
ção à competição.
Atribuída à atuação
4. COORDENAÇÃO Atribuída a ordens
Atribuída à livre mani- conjugada de forças do
minuciosas emanadas
E ALOCAÇÃO DOS festação das forças do mercado com planeja-
de centrais de planifi-
RECURSOS mercado. mento público indicati-
cação.
vo, não impositivo.

5. LOCUS DO As centrais de plani-


Os mercados, sob o
ficação, como última
PROCESSO Os mercados. poder regulatório da
instância da organiza-
DECISÓRIO autoridade pública.
ção burocrática.

Fonte: Rosseti (2016, p. 182).

Observe a TAB.1: ela demonstra algumas particularidades básicas dos diferentes sis-
temas econômicos. Enquanto a Economia de mercado prevê a livre manifestação das
forças de mercado, sem qualquer ação que atrapalhe a liberdade econômica do agente
econômico em se decidir – livre iniciativa, e tem como sistema de incentivos o benefício
privado pelos agentes individuais, a Economia de comando central o sistema de incen-
tivos é baseado na busca do bem comum e da cooperação.

Neste sistema não existe a propriedade privada, possuindo os meios de produção ca-
ráter coletivado, socializado e estatizado, e a alocação dos fatores de produzir (o que

22
será produzido e quem terá acesso ao que será produzido) é determinada por um órgão
central de planejamento.

1
PARA REFLETIR
REFLEXÕES HISTÓRICAS SOBRE SISTEMAS ECONÔMICOS

Universidade São Francisco


Em uma Economia de Mercado, famílias e empresas decidem o que produzir, para quem produzir
e como produzir por meio das forças de oferta e de demanda. Em sua origem e forma mais pura,
podemos observar o aspecto liberal das Revoluções Francesa, Burguesa, Inglesa e Industrial.
À época, buscava-se o bem-estar econômico pelo livre comércio. Será que hoje em dia essa
forma funcionaria para garantir a felicidade de todos e, consequentemente, a sustentabilidade?
Será que somos capazes de julgar o que é a felicidade do outro? No entanto, as crises do
sistema capitalista, a concentração de mercado e a exclusão social mostraram que o bem-estar
comum não seria possível por meio de uma competição dos mercados de trabalho e de bens
e serviços. Mais adiante, principalmente com a Crise de 1929, a sociedade se conscientizou
de que um agente intermediário, o governo, poderia equilibrar o sistema econômico, reduzindo
a desigualdade social, de renda, problemas ambientais, dentre outros. Desta forma, constitui-
se a economia mista, em que famílias, empresas e governo decidem o que produzir, para
quem produzir e como produzir. Politicamente, essa organização da sociedade denomina-se
neoliberalismo, ora tendendo a um governo mais centralizado e interventor, ora tendendo a um
governo mais liberal. Será que funciona para atingirmos a felicidade e a sustentabilidade? Como
cada um de nós se comporta desempenhando papéis que nos permitam alcançar a felicidade?
Será que esse conjunto de agentes é capaz de pensar a sustentabilidade ou será que isso
depende de cada um de nós?
Na economia centralizada, apenas um agente da Economia decide o que será produzido, para
quem será produzido e como será produzido. Esse agente é o governo. Aí surge a seguinte
questão: será que apenas um agente tem a capacidade de decidir o que é necessário à felicidade
de toda a população de um Município, Estado ou País? Será que todos estariam satisfeitos se
alguém lhe dissesse o que deve produzir e como deve produzir? Será que apenas um agente
consegue ser eficiente para atender a todos os anseios das pessoas de forma a conduzir os
indivíduos à felicidade e à sustentabilidade? Politicamente, as formas mais conhecidas deste
sistema econômico são o socialismo e o comunismo.
Contudo, há também doações e solidariedade. Neste caso, o esforço e a dedicação do tempo
podem ser considerados como fatores de produção e contabilizados pelo custo de oportunidade.
O produto seria o benefício à sociedade. O simples fato de exercer a cidadania e a democracia é
uma atividade que traz benefícios coletivos e contribui para a felicidade e para a sustentabilidade!
No conjunto, podemos citar as ações de responsabilidade social, programas de instituições
de caridade, religiões, pessoas que se doam sem esperar nada em troca, ONGs, organismos
internacionais como ONU, FAO, CEPAL e demais exemplos de doações e ações que permitem
equilibrar o bem-estar.
O sistema econômico é o meio pelo qual ocorrem os fluxos, as relações e as interações entre os
agentes da Economia: as famílias, as empresas e o governo.
Tal conjunto de comportamentos o constituem para a produção, transação e remuneração dos
bens e serviços. Disso resultam processos desde a origem, a extração dos recursos, até a
comercialização e prestação de serviços dos bens.
O conjunto de ações orientadas para a produção e remuneração de produtos finais determina a
atividade que cada indivíduo exerce na sociedade.

Economia e mercados 23
A economia no nosso dia a dia

As pessoas detêm os meios (fatores) de produção e, por isso, ofertam e demandam, em


forma de organizações, os fatores de produção. Organizações de pessoas podem ser
as famílias, as empresas ou o governo.
1
Quando as organizações demandam os fatores de produção, elas são remuneradas. O
nome da remuneração do fator terra é aluguel; do fator capital são juros; do fator traba-
lho é salário; do fator capacidade empresarial é lucro; do fator tecnologia são royalties
(VASCONCELLOS, 2016).
Tabela 03. O nome da remuneração

FATOR DE PRODUÇÃO REMUNERAÇÃO


Trabalho Salário
Capital Juros
Terra Aluguel
Tecnologia Licenças/Royalties
Capacidade Intelectual Lucros
Fonte: Vasconcellos (2016).

Apesar de nos livros a visão da remuneração ainda ser classificada conforme o parágra-
fo anterior, note que todas são formas de renda. O capital ainda pode ser tratado como
lucro, de acordo com o comportamento das organizações, mas essa remuneração do
processo produtivo pode ser entendida como renda. A renda é resultado de um esforço
produtivo, seja de uma pessoa, do governo, de uma organização ou de uma empresa.

O que são “remunerações”? Na sociedade em que vivemos há um meio de troca, a mo-


eda, que nos garante a sobrevivência. Então, normalmente, toda atividade, toda oferta
de fatores ou oferta da produção, bens e serviços deve ter remuneração.

Fatores de produção ou recursos produtivos são os meios de produção de bens e ser-


viços. Pessoas não são bens, no entanto, são fatores de produção. Pessoas trabalham
e são classificadas como um fator humano de produção, tanto quanto a capacidade
empresarial. As pessoas agem, realizam ações, comportam-se e, por isso, adquirem ou
produzem bens e serviços.

PARA REFLETIR
Uma boa alocação de fatores de produção é estratégia essencial para qualquer empresa. Veja
a notícia a seguir e verifique os motivos que levaram empresas de aviação dos Estados Unidos
a optarem por aviões mais velhos do que mais tecnológicos.
COMPANHIAS AÉREAS RICAS AUMENTAM COMPRAS DE AVIÕES USADOS
A Southwest e suas concorrentes americanas — agora cheias de dinheiro após obterem lucros
recorde no ano passado — estão vasculhando os países em desenvolvimento atrás de aviões de
segunda mão em um momento em que o combustível barato torna mais econômica a operação
de aeronaves mais antigas e menos eficientes. Isto contraria o tradicional fluxo de aviões de
segunda mão das empresas aéreas norte-americanas para seus pares dos países emergentes
e torna um mercado já volátil para a Boeing e a Airbus mais imprevisível.

24
“Se você tem muitos aparelhos com asas, é provável que esteja tentando vendê-los nos EUA
agora mesmo”, disse George Ferguson, analista sênior de transporte aéreo da Bloomberg
Intelligence.
1
O que impulsiona a mudança é o colapso dos preços do petróleo.
Enquanto a queda das commodities prejudicou Economias como a Rússia e o Brasil, os custos

Universidade São Francisco


mais baixos do combustível ajudaram as empresas aéreas dos EUA a arrecadarem quase US$
19 bilhões no ano passado.

De acordo com Mankiw (2013), quando as empresas ofertam bens e serviços, dese-
jam receber uma remuneração. Um preço que será pago pelo bem ou pelo serviço. No
conjunto, ou pela soma de todos os entrelaçamentos de cadeias produtivas de todas as
atividades econômicas, forma-se o Fluxo Circular da Renda (ver figura a seguir). Ele é a
complementaridade entre o processo de produção de bens e serviços, desde a origem
dos fatores de produção até o bem ou serviço final, e suas respectivas remunerações.
Figura 04. Fluxo circular da renda

Receita MERCADO PARA Gastam


BENS E SERVIÇOS
Produtos e Produtos e
• Empresas vendem;
serviços serviços comprados
• Famílias compram;

EMPRESAS FAMÍLIAS
= Fluxo real
• Produzem e vendem • Comparam e consu-
(bens e serviços)
bens e serviços; mem bens e serviços;
= Fluxo monetário
• Demandam fatores de • Vendem seus fatores
produção; de produção;

MERCADO PARA
Fatores de FATORES DE Trabalho, terra
produção PRODUÇÃO e capital
• Famílias vendem;
Salários, aluguel e lucros • Empresas compram; Renda

Fonte: Elaborado pelo autor (2019).

Nesse sentido, formam-se dois mercados:

Mercado de fatores de produção - Há a oferta e a demanda por terra, capital, trabalho,


capacidade empresarial e tecnologia.
Mercado de bens e serviços - Ofertam-se os produtos e os serviços produzidos por meio do
uso dos fatores de produção.

Economia e mercados 25
A economia no nosso dia a dia

Essa organização composta por agentes, fatores de produção, bens e serviços e mer-
cados determinam os sistemas econômicos. Eles conformam uma interação entre os
agentes da Economia por meio dos mercados e de diretrizes políticas, determinando de
1 qual forma será a atividade econômica.

QUANDO O DINHEIRO CIRCULA, NÃO HÁ CRISE!


Em uma pequena cidade do interior do Brasil, os habitantes estão endividados, e vivendo à
custa de crédito. Por sorte chega um estrangeiro e entra no único hotel da cidade.
O hóspede saca uma nota de R$ 100,00, põe no balcão e pede para ver um quarto. Enquanto
ele vê o quarto, o gerente do hotel sai correndo com a nota de R$ 100,00 e vai até o açougue
pagar suas dívidas com o açougueiro.
O açougueiro, por sua vez, pega a nota e vai até um criador de suínos a quem deve e paga toda
sua dívida. O criador pega também a nota e corre ao veterinário para liquidar sua dívida.
O veterinário, com a nota de R$ 100,00 em mãos agora, vai até o fornecedor de vacinas e paga
tudo o que está devendo. O fornecedor, que estava devendo a hospedagem do representante
da empresa fabricante de vacinas no único hotel do município, sai com o dinheiro em direção ao
hotel e paga a conta de R$ 100,00.
Nesse momento, o hóspede chega novamente ao balcão, pede sua nota de R$ 100,00 de volta,
agradece, diz não ser o que esperava e sai do hotel e da cidade.
Moral da história: ninguém ganhou um vintém, porém agora todos saldaram suas dívidas e
começam a ver o futuro com confiança! Quando dinheiro circula, não há crise!

Você participa diretamente do Fluxo Circular da Renda. Vamos a um exemplo? Imagine que
você trabalha em alguma empresa do ramo alimentício que faz chocolates. Você diariamen-
te oferece seu trabalho (que chamamos de Fator de Produção Trabalho) para esta fábrica.

Seu empregador, por sua vez, para produzir os chocolates demanda (precisa) de seu
trabalho. No final do mês, seu patrão lhe remunera por meio de seu salário, conforme
contrato salarial. Com este salário, sabendo que a fábrica oferece descontos atrativos
para seus funcionários, você adquire uma série de chocolates para você presentear
seus parentes e seus amigos.

Você viu como funciona o ciclo? Você vende seu Fator de Produção Trabalho no Mer-
cado que Trabalho, que, por sua vez, é comprado pelo seu patrão. Você, mediante os
seus salários, satisfaz suas necessidades no mercado de bens e serviços, que são
remunerados pela renda de seu salário.

Você viu como é importante que a Economia siga esse fluxo? Algumas pessoas de-
nominam esse fluxo como “giro”, isto é, quanto mais a “Economia gira” (mais o fluxo
funciona), mais forte e mais dinâmica é esta Economia.

3.2 OS LIMITES DA PRODUÇÃO E ESTRATÉGIAS DE SUPERAÇÃO


Tanto a Curva de Possibilidade de Produção (CPP ou FPP) quanto o Fluxo Circular da
Renda podem expressar as saturações e os limites da atividade econômica. As estra-

26
tégias de superação dos limites da produção estão relacionadas ao uso de técnicas e
conhecimentos de modo interativo (tecnologia) para encontrar alternativas ao equilíbrio,
também entendido como o ótimo de produção de um próximo período de tempo.
1
Vamos a nosso exemplo de Curva de Possibilidade de Produção (CPP). Imagine que
determinado país – País A – produz apenas dois produtos: alimentos e máquinas. Todos
os seus fatores de produção (terra, capital, tecnologia, trabalho etc.) são destinados

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apenas para produzir esses dois produtos. Também consideramos que esse país não
participa do comércio exterior (não compra e nem vende para nenhum outro país).
Tabela 04. CPP do País A

Quantidade de
máquinas (em mil
unidades) Produção
impossível
30 D

Linha de
produção
possível
A
15

C B
9
Produção pos-
sível, mas não CPP
eficiente! Quantidade de
0
20 28 40 alimentos (em t)
Fonte: Elaborado pelo autor (2019).

Observe que o gráfico 1 demonstra a CPP do país A. Observe a linha de produção possível,
linha na qual estão posicionados os pontos A e B. No decorrer desta linha, todos os fatores
de produção estão sendo utilizados. Assim, não há ociosidade, ou seja, tudo o que estiver
acima desta linha não gera máquina desligada ou mão de obra sem trabalho, por exemplo.

Todos os pontos de produção que estiverem acima desta linha são considerados óti-
mos, uma vez que todos os fatores de produção estão sendo alocados de maneira
plena. Sendo assim, os pontos A e B são ótimos, isto é, eles são equivalentes do ponto
de vista produtivo.

Nestes dois pontos estão sendo alocados todos os fatores de produção disponíveis
na Economia do País A, alterando apenas a quantidade de produção de máquinas
e alimentos. O ponto C do gráfico – que produz 9 mil máquinas e 20 toneladas de
alimentos – não é eficiente, uma vez que gera ociosidade na Economia do País A.
Neste nível de produção certamente alguém ficará sem trabalho ou alguma terra
ficará ociosa (improdutiva).

Economia e mercados 27
A economia no nosso dia a dia

Custo de Oportunidade como Base de Decisão Ótima e a Necessidade do


Crescimento Econômico

1
Custo de oportunidade é aquilo que se deixa de fazer por causa de uma escolha que você
realiza.

Se você decidiu estudar, está deixando de fazer outras inúmeras coisas. Comparati-
vamente, essa sua opção levou em consideração o custo de oportunidade. O uso do
tempo implica em uma decisão ótima para o momento, e entre todas as alternativas que
você tem para dedicar o seu tempo, preferiu estudar. Você tem seus próprios motivos
para tomar essa decisão e ela lhe trará a maior satisfação, seja no momento em que
estuda ou no momento que puder colher os frutos desse investimento. Nesse sentido, o
custo de oportunidade pode ser medido em termos monetários. Utilizar recursos finan-
ceiros para estudar é deixar de utilizar esse dinheiro para o consumo de outros bens,
serviços ou poupança.

A decisão de posicionamento no mercado de trabalho, escolha profissional, abertura de


um negócio ou investimento de ampliação também envolve um custo de oportunidade.
Em estudos de análise de viabilidade econômica e financeira, há o cálculo do retorno
sobre o investimento Taxa Interna de Retorno (TIR), o tempo de retorno do investimento
(payback) e o cálculo do ponto de equilíbrio. Para obter a decisão ótima, procure incluir
o custo de oportunidade, também chamado de custo do capital investido em outra forma
de poupança, projeto ou remuneração.

Quando você inclui o custo de atratividade do capital nas suas decisões, você maximiza a
satisfação propiciada pela escolha. Talvez a TIR seja um pouco inferior, o retorno sobre o
investimento leve um pouco mais de tempo e o ponto de equilíbrio fique um pouco maior.
Contudo, você estará realizando um investimento mais consistente, de modo mais prudente
e, ainda, remunerando a sua qualidade de vida. Essa consideração tende a conduzir o seu
investimento a momentos ótimos mais duradouros, pelos ganhos de produtividade oriundos
da procedência do investimento, do bem-estar e da valorização da cultura organizacional.

Normalmente, nas empresas, as demonstrações financeiras de resultado anseiam por


necessidades imediatas de apresentação de “lucro” ou retornos sobre vendas e acabam
sobrecarregando as organizações. Isso funciona como um “consumismo” organizacio-
nal que tende a ter um retorno “efêmero” sobre o investimento realizado. Os momentos
de equilíbrio e produtividade tendem a ter menor durabilidade e a rotatividade de pes-
soal tende a ser maior. Os resultados dessa sobrecarga podem ser negativos ou gerar
prejuízos às organizações. Nesse sentido, como contraposição ao risco e à incerteza,
vale pensar no planejamento de longo prazo, observando os movimentos da sociedade.

Uma empresa de sucesso é aquela que se adapta às mudanças sociais. Uma em-
presa dinâmica capaz de pensar a sua sobrevivência em conjunto com as demais
organizações públicas, privadas e da sociedade civil organizada. Por vezes, a alter-
nativa de sobrevivência atrela-se à opção de estabelecer uma relação com órgãos
de classe ou com a universidade para garantir pesquisa e estudos que conduzam à
qualidade e à produtividade.

28
Mas, decidir sobre o custo de oportunidade implica em trabalhar com inúmeras variá-
veis e também com a elaboração de cenários.

` Quantas variáveis influenciam as nossas decisões diárias?


1
` Também imagine que as variáveis estão constantemente oscilando.

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` Como tomar decisão com inúmeras variáveis que oscilam constante e concomi-
tantemente?

Vamos voltar ao nosso modelo hipotético para entender melhor sobre o custo de oportu-
nidade. Observe agora o gráfico 2: ele demonstra o custo de oportunidade em se decidir
produzir as primeiras 20 toneladas de alimentos no país, se o País A desejar produzir
apenas máquinas, ele poderá produzir 30 mil máquinas e nenhuma tonelada de alimento.
Tabela 05. Custo de oportunidade de produção no país A

Quantidade de Produzir as
máquinas (em primeiras 20
Custou a produ-
mil unidades) toneladas de
ção de MENOS
alimento...
5 mil máquinas
35
Produzir MAIS
30 20 toneladas de
alimentos...
25

20
...requer mais de
15 25 mil máquinas

10

5
CPP
Quantidade de
01 02 03 04 05 0 alimentos (em t)

Fonte: Elaborado pelo autor (2019).

Contudo, caso deseje produzir as primeiras 20 toneladas de alimento, e coeteris paribus


(os fatores de produção permanecendo constantes, sem mudança significativa, nem au-
mentando e nem diminuindo), parte dos recursos produtivos que anteriormente estavam
destinados para produção apenas de máquinas, como trabalhadores e máquinas, por
exemplo, são destinados para produzir alimentos. Assim, neste caso, podemos conside-
rar que a produção das 20 toneladas de alimento “custou produzir menos 5 mil máquinas”.

Como já mencionado anteriormente neste capítulo, a Economia é a “ciência das esco-


lhas”. A decisão entre o que produzir e quanto produzir depende da decisão dos agentes
econômicos (famílias, governos e empresas). O modelo acima apresentado nos ajuda
a entender a problemática da decisão econômica, isto é, a decisão de produzir deter-
minado produto ou serviço gera um custo de oportunidade em não se produzir um ou
mais produtos e serviços.

Economia e mercados 29
A economia no nosso dia a dia

Tabela 06. Crescimento econômico do país A

Quantidade de
1 máquinas (em
mil unidades)

35

30
E
A
25

20

15

10 Nova
CPP
Original
5
CPP
Quantidade de
01 02 03 35 0 40 50 alimentos (em t)

Fonte: Elaborado pelo autor (2019).

Entretanto, continuando com nosso modelo hipotético, como este país poderia pro-
duzir as 20 toneladas de alimento, sem a necessidade de diminuir a quantidade de
produção de máquinas?

Isto aconteceria apenas por meio do aumento da capacidade produtiva, que acontece
apenas com aumento dos fatores de produção. Voltemos ao nosso modelo hipotético
do País A. Observe o gráfico 3. No ponto A do gráfico, o país consegue produzir 20
toneladas de alimento e 25 mil máquinas e, no ponto E, 25 toneladas de alimento e
30 mil máquinas.

Contudo, o ponto E só será produzido se houver aumento na quantidade de fatores de


produção disponíveis. Isto é, a produção no ponto E só será possível se a nova CPP
for gerada, seja por meio de incremento de tecnologia ou pelo aumento no volume de
capital disponível, por exemplo.

3.3 ARGUMENTO POSITIVO E NORMATIVO COMO PLANEJAMENTO


DINÂMICO
Argumentos positivos são aqueles que descrevem os fatos ou os comportamentos
como eles são, como eles ocorreram ou como serão. Já os normativos são aqueles que
julgam os fatos ou os comportamentos que ocorrem, ocorreram ou ocorrerão. Exemplo:
“Ocorreu isto (argumento positivo) mas isto deveria ter ocorrido de outra forma (argu-

30
mento normativo)”; “Eu me comportei assim (argumento positivo), mas deveria ter me
comportado de outra forma (argumento normativo)”.

Ao pensar em argumentos para os fatos você aprende e melhora o seu processo de


1
tomada decisão para o próximo período de tempo. Lembre-se de que não é possível
alterar os fatos, mas a forma como você se comporta em relação a eles para seu apren-
dizado e posicionamento em situações futuras pode ser alterado. O comportamento

Universidade São Francisco


humano é imprevisível e você pode escolher sobre a adequação de comportamento
futura em relação aos fatos, que ocorrerão. Isto é uma reflexão para o planejamento
estratégico pessoal, profissional e organizacional.

O processo de planejamento inicia-se com a descrição dos fatos, também chamado


de diagnóstico (argumento positivo). Depois vêm as normatizações, os julgamentos
de valor e a reflexão de como deveriam ter ocorrido (argumento normativo). Houve um
aprendizado para a adequação do planejamento nos próximos períodos de tempo, que
envolve adequação de instrumentos e de comportamentos que serão adotados para
atingir as metas e os objetivos. Tanto os instrumentos quanto os comportamentos de-
vem estar de acordo com a missão e com a visão organizacional. Quando alinhados aos
anseios da sociedade, trarão otimização, qualidade, produtividade e um momento mais
duradouro de sucesso na realização organizacional.

Pensar sobre a Economia de modo geral também envolve planejamento. No Brasil,


hoje, esse planejamento é realizado pelo governo, por meio do Plano Plurianual (PPA) e
pela Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e pela Lei Orçamentária Anual (LOA). Con-
tudo, o Planejamento Econômico, ou o Planejamento de Estado da Sustentabilidade,
depende de todas as áreas do conhecimento e, na prática, do comportamento individual
e organizacional de cada parte do tecido social.

Os instrumentos de Política Macroeconômica e de Políticas Públicas podem sofrer


adaptações de acordo com a percepção das pessoas sobre as mudanças do comporta-
mento humano em sociedade (mudança social).

Tanto o planejamento público, quanto o privado e o pessoal devem ser dinâmicos para acom-
panhar a dinâmica da sociedade. Isso implica em revisar constantemente: metas, objetivos,
condutas, comportamentos e manter um alinhamento com os valores, os princípios e as
diretrizes de comportamentos à sustentabilidade.

CONCLUSÃO
Economia é uma ciência e, como tal, tem suas metodologias e particularidades. Nesta
Unidade você estudou os princípios fundamentais da Ciência Econômica, suas princi-
pais questões e seus métodos.

Lembre-se: Economia é uma Ciência Social que tem como grande desafio entender as
decisões humanas acerca do que produzir, quanto produzir e para quem produzir. Nada
mais do que entender o comportamento humano e de suas organizações acerca

Economia e mercados 31
A economia no nosso dia a dia

de suas prioridades e de suas preferências, intermediado sempre por questões sociais,


psicológicas e políticas.

O problema econômico é sempre multidisciplinar e tem inúmeras variáveis e perspec-


1
tivas. E, por mais complexo que pareça, deve ser sempre amplamente discutido por
todos nós, independentemente da nossa formação e cultura.

32
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MANKIW, N. Gregory. Introdução à Economia. 6. ed. São Paulo: Cencage Learning, 2013.
1
PINHO, Diva Benevides; VASCONCELLOS, Marco Antonio Sandoval (Org.). Manual de Economia (Equipe
dos professores da USP). 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.

Universidade São Francisco


ROSSETTI, José Paschoal. Introdução a Economia. 20. ed. São Paulo: Atlas, 2011.

________. Introdução à Economia. 21. ed. São Paulo: Atlas, 2016.

SCHUMPETER, Joseph. Capitalismo, socialismo e democracia. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1961.

VASCONCELLOS, Marco Antonio Sandoval. Economia: micro e macro: teoria e exercícios. São Paulo: Atlas, 2016.

Economia e mercados 33
Como os mercados funcionam? Fundamentos e reflexões sobre a microeconomia UNIDADE 2

COMO OS MERCADOS
FUNCIONAM? FUNDAMENTOS
2 E REFLEXÕES SOBRE A
MICROECONOMIA

INTRODUÇÃO
Nesta Unidade, você aprenderá sobre alguns aspectos básicos do funcionamento dos
mercados. Segundo Mankiw (2013) um mercado é um grupo de compradores e vende-
dores de determinado bem ou serviço. “Os compradores, como grupo, determinam a
demanda pelo produto e os vendedores, também como grupo, determinam a oferta do
produto” (MANKIW, 2013, p. 64).

De acordo com Vasconcellos (2013), a microeconomia é a parte da Ciência Econômica


que tem como objetivo de estudo o comportamento das famílias e das empresas e os
mercados nos quais operam.

Neste primeiro tópico, serão abordados os elementos essenciais da oferta e da deman-


da. Trataremos, portanto, das teorias que regem seu comportamento e de que forma se
processa o equilíbrio de mercado.

Vamos aprender um pouco mais sobre a microeconomia? Neste primeiro tópico, serão
abordados os elementos essenciais da oferta e da demanda. Trataremos, portanto,
das teorias que regem seu comportamento e de que forma se processa o equilíbrio de
mercado. Vamos lá!

1. FUNDAMENTOS DE MICROECONOMIA
O estudo da disciplina Economia e Mercado foca na interação dos agentes (famílias,
empresas e governo) no mercado em que estão inseridos. A famosa premissa de que, no
sistema econômico, os recursos são escassos e as necessidades, ilimitadas, é o elemen-
to norteador para a necessidade de se compreender os conceitos de oferta e demanda.

A escassez de uma determinada mercadoria está relacionada com o fato de que todos
os recursos existentes no mundo, sejam eles recursos naturais, humanos ou o capital
que será utilizado na produção, estão disponíveis em quantidade limitada, ou então
seu uso está restrito em função de direitos de propriedade. Esta quantidade limitada de
recursos acaba tendo como estabilizador o preço, fazendo com que seja a restrição, e
não a necessidade, que determine o valor de um recurso.

Vejamos alguns exemplos práticos: o ar e a água, dois elementos fundamentais para


a sobrevivência humana. No atual contexto de crescente degradação ambiental, o ar
ainda continua a ser um bem disponível em quantidade adequada a todos, mas a água,

34
que há algumas décadas era um bem considerado extremamente abundante e, por
isso, de valor ínfimo, vem apresentando um crescente aumento em seu valor.

No século XIX, bastava estar próximo a um rio que era possível obter água potável sufi-
2
ciente para as necessidades da população, mas o incremento desta mesma população,
associado ao uso inadequado dos recursos hídricos, faz com que, pouco a pouco, a
água se torne um recurso escasso.

Universidade São Francisco


Por outro lado, as necessidades humanas estão presentes no mundo em quantidade
ilimitada. Nossas necessidades se modificam, aumentam e são criadas constantemente.
No final do século XIX, a transmissão de cultura e as atividades de lazer consistiam em
cultura oral, música ao vivo, teatro e literatura, quando, em 1895, surge o cinema para se
aliar a estas atividades culturais. No início do século XXI, o cenário cultural incorpora ou-
tras atividades, como internet, apresentações musicais gravadas e replicadas inúmeras
vezes, jogos de videogame, entre muitas outras possibilidades. Em pouco mais de cem
anos, houve uma mudança radical em termos de possibilidades de lazer, e estas possi-
bilidades estão sempre em mutação para atender as preferências que os indivíduos têm
em relação aos produtos. Este tipo de necessidade é chamado de necessidade individual.

SÉCULO XIX SÉCULO XXI


Cultura oral, música ao vivo, teatro, literatura e Internet, apresentações musicais gravadas e
cinema. replicadas inúmeras vezes, jogos de videogame,
entre muitas outras possibilidades.

A abordagem microeconômica tem seus fundamentos na microeconomia clássica, de-


senvolvida no século XIX.

Envolve a análise do comportamento dos agentes econômicos que buscam sempre


maximizar seus ganhos. As palavras de Adam Smith no livro que, pela primeira vez,
sistematiza o pensamento econômico, “A Riqueza das Nações”, são extremamente im-
portantes para nos mostrar os fundamentos do liberalismo econômico:
Não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro e do padeiro que espe-
ramos o nosso jantar, mas da consideração que eles têm pelos seus próprios
interesses. Nós nos dirigimos, não à sua humanidade, mas ao autoamor, e
falamos com eles não sobre nossas necessidades, mas sobre suas vanta-
gens.SMITH (apud HIMA, 1990, p. 100)

SAIBA MAIS
ADAM SMITH (1723 — 1790)
Filósofo escocês considerado o fundador da Ciência Econômica ao publicar, em 1776, o livro “A
Riqueza das Nações”. Antes da publicação deste livro, concentrou seus esforços em estudar os
valores éticos e a filosofia moral. Segundo Smith, “o objetivo da filosofia moral é a felicidade e
o bem-estar” (RIMA, 1990, p. 99). Assim, ao procurar o conhecimento a respeito do bem-estar,
Smith desenvolveu seu estudo sobre o funcionamento da economia com ênfase em alguns
aspectos, como: produção, produtividade, divisão do trabalho, uso da moeda e o argumento da
liberdade econômica, no sentido de que o comércio exterior é benéfico ao ampliar o mercado
consumidor para a produção (RIMA, 1990).

Economia e mercados 35
Como os mercados funcionam? Fundamentos e reflexões sobre a microeconomia

A visão microeconômica está ligada à noção de equilíbrio e maximização de ganhos.

VISÃO MICROECONÔMICA
2
` Ligada à noção de equilíbrio e maximização de ganhos.

` Equilíbrio do consumidor, que ocorre quando o consumidor maximiza sua satisfação.

` Equilíbrio do produtor, aquele no qual o produtor maximiza seu lucro.

` Análise de equilíbrio geral, em que os mercados são analisados simultaneamente. Na aná-


lise microeconômica, os mercados são analisados a partir de uma visão parcial, setor a
setor, agente a agente e na qual a eficiência econômica do mercado prevalece sem que
seja necessária a interferência do governo.

A seguir iremos desenvolver os dois princípios econômicos fundamentais: a Demanda


e a Oferta.

1.1 LEI DA DEMANDA


A demanda está ligada ao desejo que o consumidor tem de satisfazer suas necessida-
des, ou seja, é a relação entre as quantidades que o consumidor está disposto a adquirir
e o preço que está disposto a pagar. Um sinônimo bastante comum para demanda é
o termo “procura”. Portanto, sempre que estivermos analisando a demanda, estamos
tratando da procura ou busca de um ou mais produtos por parte dos consumidores.

Demanda: também pode ser definida como “um desejo de adquirir, […] um plano, e não sua
realização” (MONTORO FILHO, 2011).

Em outros termos, a análise da demanda ocorre a partir da busca que os consumidores


fazem para satisfazer suas necessidades em um determinado período.

Podemos perceber que existem alguns fatores que interferem de forma decisiva no
processo de satisfação do consumidor ao comprar determinado produto. Sabemos que
o consumidor irá realizar o processo de escolha de sua cesta de consumo, buscando
atingir o maior nível de satisfação possível.

Cesta de consumo: estão relacionadas com o conjunto de produtos capaz de atender da


melhor maneira aos desejos e necessidades dos consumidores.

As condições para a escolha de um bem e das respectivas quantidades a serem consu-


midas dependerá de quatro fatores:
` Preço do bem cujo mercado está sendo analisado;

` Renda do consumidor;

36
` Preço de outros bens que se relacionam, de alguma forma, com o bem analisado;

` Gostos e preferências individuais.

Resumindo: 2
Figura 01. Fatores relevantes para a escolha de um bem e sua respectiva quantidade

Universidade São Francisco


* Preço de mercado;
ESCOLHA * Preço de produtos similares;
QUANTIDADE
DO BEM * Renda do consumidor;
* Gostos e preferências.

INTERDEPENDÊNCIA

Fonte: Elaborado pelos autores.

Vejamos cada um destes fatores individualmente.

Figura 02. Relação entre quantidade e preço PREÇO DO BEM

De todos os fatores, talvez o preço seja o


que possa ser melhor compreendido, pois
Preço Quantidade a própria experiência prática nos diz que
os consumidores, em sua ampla maioria,
Representado por: Representado por:
escolhem a quantidade que irão consumir
P QD a partir do preço do seu produto.

A relação entre quantidade e preço,


na visão do consumidor, representa uma
P QD ou P QD
relação inversa, ou seja, quando o preço
P é o preço e QD é a quantidade demandada de um de um produto aumenta, a quantidade de-
produto. mandada deste produto diminui, e quan-
Fonte: Elaborado pelos autores. do o preço do produto cai, a quantidade
demandada deste produto aumenta.

Vejamos como isto acontece na prática. Quando o preço do tomate aumenta, os con-
sumidores evitam o consumo deste produto. Esta é a lógica da influência que o preço
exerce sobre a quantidade demandada. Outro exemplo: quando o preço dos automó-
veis diminui para o consumidor, existe um aumento da procura por este produto.
Para essa situação de mercado, utilizamos a seguinte fórmula:

Qd = f (P )

Economia e mercados 37
Como os mercados funcionam? Fundamentos e reflexões sobre a microeconomia

Portanto, podemos reafirmar a lógica de que a quantidade demandada de uma mer-


cadoria aumenta quando o preço diminui. Esta relação inversamente proporcional en-
tre estas duas variáveis é demonstrada graficamente por meio da curva de demanda
2 negativamente inclinada (Fig.03).
Figura 03. (Gráfico) curva de demanda

30

20

10

0
1 2 3 4 5 6
Fonte: Elaborado pelos autores (2014).

IMPORTANTE
Essa é a expressão da lei geral da demanda. O nível de preços pode ampliar ou reduzir a
procura ou a venda de um determinado produto.

RENDA DO CONSUMIDOR

O segundo fator que influencia a demanda por um determinado produto é a renda, que fun-
ciona como um elemento limitador à satisfação das necessidades dos consumidores, pois
podemos considerar que a renda é um dos recursos escassos que precisamos alocar de
forma eficiente. De maneira geral, podemos verificar que, sendo a renda escassa, se houver
um aumento nesta renda, o consumidor deverá aumentar a aquisição de mercadorias.

IMPORTANTE
Por exemplo, se uma pessoa é promovida no emprego, com impactos significativos em
seus rendimentos, com certeza ela demonstrará isso por meio da mudança em seu estilo
de vida, que refletirá nos bens que passará a consumir. Este efeito ocorre desta forma nos
chamados bens normais.

Assim, os bens normais apresentam uma relação diretamente proporcional entre renda
e quantidade demandada, como expresso no esquema abaixo:

38
↑R → ↑QD ou ↓R → ↓QD

IMPORTANTE 2

Bens Normais e Bens de Luxo

Universidade São Francisco


Os bens normais são aqueles cujo consumo aumenta quando a renda aumenta, bem como a
diminuição da renda provoca uma queda em seu consumo, ou seja, comportam-se normalmente
em relação à renda.
Os bens normais podem ser classificados em bens necessários e bens de luxo. Os bens necessários
são aqueles cuja variação no consumo é proporcionalmente menor que a mudança na renda, como,
por exemplo, no caso dos alimentos: quando aumenta a renda, temos um aumento no consumo
de alimentos, mas este aumento é proporcionalmente menor que o aumento na renda. Os bens de
luxo, por sua vez, apresentam comportamento distinto, pois se a renda aumenta o consumo deste
bem, ela sofre um incremento proporcionalmente maior e vice-versa. Como exemplo de bens de
luxo temos os automóveis, os eletrodomésticos, as viagens, entre outros.

Graficamente, o efeito de um aumento da renda provoca um deslocamento da curva de


demanda por um bem normal. Se for observado um aumento da renda, a curva de de-
manda se desloca para cima e para a direita; se a renda diminuir, a demanda se desloca
para baixo e para a esquerda, como demonstrado no Fig. 04.
Figura 04. (Gráfico) Efeito da variação da renda sobre a curva de demanda: o caso dos bens normais
Preço

D1

D2
D3
QuantidadeDemandada
D1 D2 D3

Fonte: Elaborado pelos autores (2014).

Na Fig. 04, a linha (D2) representa a demanda inicial. Quando o consumidor experi-
menta um aumento na sua renda, a demanda por este produto aumenta e a curva de
demanda desloca-se para cima, como na situação demonstrada pela curva (D1). Já
quando ocorre uma situação contrária, ou seja, de queda na renda, o efeito é de deslo-
camento da demanda para baixo, como representado pela linha (D3)

Entretanto, no caso dos bens normais existe uma limitação a esta expansão do consu-
mo, pois se o produto já estiver sendo consumido no seu ponto de saturação, a mudan-
ça na renda não afetará seu consumo.

Economia e mercados 39
Como os mercados funcionam? Fundamentos e reflexões sobre a microeconomia

EXEMPLO
Esse é o caso dos alimentos. Se a pessoa já se alimenta com produtos na quantidade e com
2 a qualidade adequada, dificilmente ela passará a consumir mais apenas porque isso dá uma
“sensação de riqueza”, ou seja, isto é o que se costuma chamar de consumo saciado.

Outra situação que ocorre quando estamos analisando bens inferiores.

Bens inferiores são aqueles que são considerados de menor qualidade ou com possibilida-
des limitadas de satisfazer o consumidor. Quando existe um aumento na renda do consumi-
dor, este deixa de consumir esta mercadoria.

Sendo assim, sempre que o consumidor tem um aumento de renda que possibilite com-
prar bens melhores, ele deixa de consumir este produto. O esquema a seguir mostra
como a renda se relaciona com os bens inferiores:

↑R → ↓QD ou ↓R → ↑QD

EXEMPLO
É o caso, por exemplo, do transporte coletivo na nossa sociedade: sempre que o indivíduo tem
possibilidades financeiras, abre mão de se locomover por meio do transporte coletivo. Outro
exemplo é a redução do consumo de refresco em pó, em que o indivíduo passa a utilizar outro
produto similar que irá lhe transmitir sensação de aumento do bem-estar.

Convém enfatizar que esta classificação é relativa, pois o mesmo produto pode ser in-
ferior ou normal, para diferentes indivíduos, dependendo de sua renda.

A representação gráfica da relação entre renda e bens inferiores é semelhante ao que


ocorre com os bens normais. Neste sentido, quando existe uma variação na renda do
indivíduo, isso acarreta um deslocamento da curva de demanda. Contudo, o aumento
da renda, ao provocar uma queda na demanda por um produto, irá fazer com que a cur-
va de demanda se desloque para baixo e para a esquerda (da curva D2 para a Curva
D3 - Fig. 05). Por outro lado, se houver uma queda na renda do consumidor, haverá um
aumento na quantidade procurada de uma determinada mercadoria, provocando um
deslocamento da curva de demanda de D2 para D1.
Figura 05. Efeitos de variação da renda sobre a demanda: o caso dos bens inferiores
Fonte: Elaborado pelos autores (2014).
Preço

D1
D2
D3
QuantidadeDemandada

40
Sendo assim, tanto quando tratamos dos bens normais quanto quando tratamos dos
bens inferiores, a renda traz efeitos sobre a curva de demanda, alterando os hábitos de
consumo da população em função do fato de que a demanda tem impacto de restrição
no consumo da população. A renda, de acordo com a Teoria do Consumidor, pode ser 2
chamada de restrição orçamentária, pois limita o consumidor na sua busca por satisfa-
zer seus desejos e necessidades.

Universidade São Francisco


PREÇOS DE OUTROS BENS

O terceiro fator que interfere na demanda do consumidor por um bem é o comportamento


do preço de outros bens que podem afetar a demanda de duas formas, a partir da seguinte
classificação: bens complementares e substitutos.

Bens complementares: são aqueles que são consumidos conjunta e simultaneamente,


assim, é necessária a presença de um deles para que o consumo se realize. Sendo assim,
quando observamos que o preço de um produto complementar aumenta, a quantidade
demandada do produto que estamos analisando diminui.

Quantidade demandada diminui

Preço aumenta

Figura 06. (Gráfico) Curva de demanda do produto Y

C
Preço

D
E
F

QuantidadeDemandada

Fonte: Elaborado pelos autores (2014).

Considerando o Fig. 6, podemos perceber que o produto Y, quando apresenta um au-


mento no seu preço, sofre uma queda da quantidade demandada do ponto C para o
ponto B, por exemplo. Este aumento no preço de Y acaba por impactar na queda da
quantidade demandada de X, de forma que serão consumidas menos unidades de X.

Economia e mercados 41
Como os mercados funcionam? Fundamentos e reflexões sobre a microeconomia

Graficamente, isto significa que a curva de demanda de X irá se deslocar para baixo e
para a esquerda (de D1 para D2), como demostrado no Fig. 07.
Figura 07. (Gráfico) Efeito da variação de preço do produto Y na análise da curva de demanda do produto X
2 Preço

D1
D2

QuantidadeDemandada

D1 D2

Fonte: Elaborado pelos autores (2014).

SAIBA MAIS
Em termos práticos, podemos identificar exemplos de bens complementares na relação entre o
consumo de combustível e óleo de motor: quanto menor o preço do combustível, maior será a
utilização do veículo e, consequentemente, do consumo de óleo de motor.
Já na utilização de eletrodomésticos e de energia elétrica, quanto maior o preço da energia
elétrica, maior a necessidade de se utilizar racionalmente os eletrodomésticos, evitando até
mesmo a aquisição daqueles considerados desnecessários.

Bens substitutos: produtos que, em termos de funcionalidade ou utilidade, podem ser facilmente
trocados um pelo outro. Neste caso, quando o preço de um produto substituto cai, a quantidade
do produto que estamos analisando aumenta.

Consumo aumenta

Preço cai

De acordo com o Fig. 08, quando o preço do produto Y diminui, o consumidor aumenta o
consumo de Y, expresso pela transição da posição B para o ponto C. Deste modo, este
consumidor deixa de consumir X, já que a utilização dos dois é a mesma.

42
Figura 08. (Gráfico) Curva de Demanda do Produto Y

FONTE: Elaborado pelos autores (2014).


A
2
B

Universidade São Francisco


C
Preço

D
E
F

QuantidadeDemandada

Já na Fig. 9 vemos que a diminuição do consumo X é explicado pelo deslocamento da


curva de demanda de D1 para D2.

Figura 07. (Gráfico) Efeito da Variação de Preço do Produto Y na Análise da


Curva de Demanda do Produto X

Fonte: Elaborado pelos autores (2014).


Preço

D1
D2

QuantidadeDemandada

D1 D2

SAIBA MAIS

Como exemplos para bens substitutos temos os combustíveis etanol e gasolina que, nos
automóveis com motor flex, são escolhidos basicamente a partir do fator preço.
Outro exemplo é a escolha entre comprar um computador do tipo desktop ou do tipo laptop, visto
que a escolha do preço é um importante fator de decisão, embora não seja o único determinante.

GOSTOS E PREFERÊNCIAS
O último fator que afeta a curva de demanda são os gostos e preferências. Este é um fator
subjetivo, que depende de como o consumidor é afetado por hábitos e tradições, como
as novas informações a respeito de como um determinado produto pode ser importante

Economia e mercados 43
Como os mercados funcionam? Fundamentos e reflexões sobre a microeconomia

para melhorar o seu bem-estar. A utilização de propaganda por parte das empresas, por
exemplo, pode afetar, e muito, a mudança de alguns hábitos dos consumidores. Todos
estes elementos somados podem alterar ou não a demanda dos consumidores.
2
Em outras palavras, esta situação pode ser expressa da seguinte forma:
Suponhamos que seja feita uma grande campanha publicitária incentivando
a população a beber mais leite. Nesta campanha se mostra o valor nutritivo
do leite e os benefícios que ele traz para a saúde. O povo é despertado por
esta propaganda e resolve tomar mais leite. O que ocorrerá com a curva
de procura do leite? É fácil responder. A curva se deslocará para a direita.
GREMAUD (2003, p. 138)

A Fig.10 mostra que o desenvolvimento de novas necessidades ou preferências dos


consumidores faz com que a curva de demanda se desloque de D2 para D1, ou seja, a
propaganda estimula o aumento das quantidades consumidas de determinado produto.
Figura 08. (Gráfico 10) Efeitos de variação dos gostos e preferências na análise da curva de demanda
Preço

D1
D2

QuantidadeDemandada
D1 D2
Fonte: Elaborado pelos autores (2014).

Assim, observa-se no exemplo como os consumidores são influenciados a consumir


novos produtos por meio do estímulo e criação de necessidades.

Inicialmente, toda a explicação a respeito do desenvolvimento da demanda aconteceu


até aqui a partir da demanda individual, ou seja, da demanda de cada consumidor. En-
tretanto, para a análise do mercado no processo de decisão das empresas, é importan-
te que exista o conhecimento de como a totalidade dos consumidores reage ao estímulo
de cada produto, ou seja, como, em média, os consumidores de determinado mercado
se comportam. Neste sentido, a curva de demanda de mercado é obtida a partir do so-
matório das demandas individuais dos consumidores.

Na seção seguinte, discutiremos as características da curva de oferta.

1.2 LEI DA OFERTA


A oferta representa o desejo que as empresas possuem de organizar os fatores de pro-
dução para a geração de bens e serviços à sociedade. Assim, a transformação desse
desejo em quantidade ofertada (Qs) implica em uma relação direta com o preço do bem.
Veja, a seguir, a equação dessa relação:

Qs = f (P )

44
A curva de oferta mostra a quantidade de uma mercadoria que os produtores estão
dispostos a vender a um determinado preço, considerando constantes outros fatores
que possam afetar a quantidade ofertada. Essa relação entre preço e quantidade pode
ser demonstrada pela equação a seguir, cuja representação gráfica é demonstrada na 2
sequência (Fig. 11):
Figura 09. (Gráfico) Quantidade ofertada

Universidade São Francisco


Preço

QuantidadeOfertada
Fonte: Elaborado pelos autores (2014).

Assim, a curva de oferta é formada a partir dos seguintes elementos:

` Preço do bem;

` Preço dos fatores de produção;

` Tecnologia disponível.

Da mesma forma que na análise da demanda, o preço também é a variável-chave para


a compreensão da formação da curva de oferta. Assim, a variação de preço acaba fun-
cionando como estímulo (ou desestímulo) à produção na medida em que, se os custos
permanecem inalterados quando há um aumento no preço, isso contribui para elevar a
margem do empresário, fazendo com que aumente a produção desse bem. Na situação
contrária, ou seja, quando o preço do produto cai, a empresa tende a reduzir sua oferta.
A partir da análise da Fig.11, podemos identificar a evolução da quantidade ofertada a
partir de modificações no preço.

Os preços dos fatores de produção também são fundamentais para entender o com-
portamento da oferta, pois são os elementos que compõem os custos de produção da
empresa. Assim, quando os custos de produção se elevam, se os preços permanecem
inalterados, temos como consequência a diminuição da margem do empresário, deses-
timulando a produção. Imagine que um fator externo à empresa provoque uma eleva-
ção no preço das matérias. Nesse caso, se o preço do produto se mantiver o mesmo,
haverá uma diminuição da margem de lucro da empresa, desestimulando a produção,
do ponto A para o ponto B na Fig. 12. Se, por outro lado, for possível uma elevação no
preço, isso pode ocorrer mantendo-se o nível de produção no mesmo patamar, do ponto
A para o ponto C na Fig. 12.

Economia e mercados 45
Como os mercados funcionam? Fundamentos e reflexões sobre a microeconomia

Figura 10. (Gráfico) Os efeitos que alterações nos custos provocam na curva de ofertas

C 03

A 01
2 B
02
Preço

01
02
03

Quantidade Ofertada
Fonte: Elaborado pelos autores (2014).

De acordo com A Fig. 12, podemos observar que a curva de oferta inicial O1, ao sofrer
um aumento em seus custos, sofre um deslocamento, tornando-se a curva O3.

O terceiro fator responsável por possíveis alterações na oferta de um bem é o tipo de


tecnologia adotado pela empresa. Se a empresa optar por utilizar uma tecnologia pou-
padora de mão de obra ou capital, isto significa que, na prática, haverá uma redução
dos custos de produção – e o efeito é o de um deslocamento da curva de oferta de O1
para O2 (Fig. 12).

IMPORTANTE
Tecnologia: Neste caso, o “tipo de tecnologia” está relacionado com a escolha do tipo de
processo de produção que será utilizado pela empresa. Em outros termos, pode-se dizer
que a empresa precisa definir, a partir do que pretende produzir, se a produção acontece
a partir de um processo artesanal ou se a produção terá incorporação de inovações que
racionalizem a utilização dos recursos produzidos.

Assim, após discutirmos as características das curvas de oferta e demanda, teremos


condições de compreender como se processa o equilíbrio de mercado.

1.3 EQUILÍBRIO DE MERCADO


O equilíbrio de mercado pode ser determinado quando a quantidade ofertada (Qs) se
iguala à quantidade demandada (Qd). Nesse instante, o preço de equilíbrio é determinado.

A existência de equilíbrio de mercado tem como pressuposto o mercado concorrencial.


Deste modo, o equilíbrio é uma situação que atende tanto às necessidades da demanda
quanto às exigências da oferta. A quantidade de equilíbrio é aquela que iguala a deman-
da e a oferta a um preço aceito tanto por consumidores quanto por produtores (Fig. 13).

46
Figura 11. (Gráfico) Equilíbrio de mercado

Fonte: Elaborado pelos autores (2014).


Preço 2

Universidade São Francisco


Quantidade
Demanda Oferta

EXEMPLO
A lógica do Equilíbrio de Mercado pode ser facilmente compreendida quando pensamos
nos mercados de produtos agrícolas. No caso da soja, por exemplo, seu preço é um preço
internacional, definido a partir da oferta e demanda mundial de soja, ou seja, da existência de
uma interação entre as informações sobre o total da safra mundial e a quantidade que está sendo
demandada pelos consumidores em termos mundiais. Assim, qualquer dado que se apresente e
que, de alguma forma, modifique as condições existentes, pode afetar o equilíbrio estabelecido.
Este exemplo da soja é similar ao que acontece com o milho, café, minério de ferro, entre outros.

Quando o preço de mercado se situa em P1, acima do preço de equilíbrio (P0), isso im-
plica em excesso de oferta. Nesse caso, os produtores tendem a reduzir os preços e a
quantidade demandada começa a aumentar, de Q1 na direção de Q3 enquanto a quanti-
dade ofertada começa a se reduzir, de Q2 na direção de Q3. Desta maneira, o mercado
vai se ajustando até que o preço de equilíbrio seja alcançado. A Fig. 14 ilustra o pro-
cesso. Pois a um determinado preço as empresas estão dispostas a ofertar no ponto
B e a este mesmo preço, considerado alto pelos consumidores, eles estão dispostos a
comprar apenas a quantidade assinalada pelo ponto A.
Figura 12. (Gráfico) Excesso de oferta e excesso de demanda

A B

P1
Preço

P0
P2
D
C

Quantidade
Demanda Oferta

Fonte: Elaborado pelos autores (2014).

Economia e mercados 47
Como os mercados funcionam? Fundamentos e reflexões sobre a microeconomia

Já quando o preço de mercado se situa em P2, abaixo do preço de equilíbrio (Fig. 15),
isso implica em excesso de demanda ou escassez de oferta. Nesse caso, os produtores
tendem a aumentar os preços e a quantidade demandada começa a reduzir, de Q2 na
2 direção de Q3 enquanto a quantidade ofertada começa a aumentar, de Q1 na direção de
Q3. Dessa forma, o mercado vai se ajustando até que o preço de equilíbrio seja alcança-
do. A situação de excesso de demanda significa que, estando o preço abaixo do preço
de equilíbrio, os consumidores desejam comprar uma quantidade maior do que as em-
presas estão dispostas a ofertar, ou seja, os consumidores estão dispostos a consumir
no ponto D e os produtores desejam apenas ofertar no ponto C.

Continuaremos o estudo da disciplina, seguindo para o próximo tópico: Elasticidade.

2. ELASTICIDADE
Vimos no tópico anterior os fatores que afetam a curva de demanda, mas como pode-
mos saber o quanto a demanda é afetada por estes fatores? Como medir a influência
destes fatores sobre as possibilidades de consumo dos indivíduos?

Esta necessidade de procurar medir a influência dos fatores sobre a demanda é resol-
vida por meio de um instrumento que é a elasticidade.

A elasticidade é um conceito que relaciona duas variáveis: uma dependente e


outra independente.

Variável independente
É a variável que motiva a mudança, é a causadora da mudança, e que não é determinada por
nenhum dos fatores envolvidos na análise, é considerada um dado do modelo, isto é, a variável
independente, não é gerada a partir de outras variáveis analisadas.

Variável dependente
Por outro lado, é afetada pela variável independente, as mudanças na variável dependente
são causadas diretamente pela variável independente.

Exemplo: no caso da função-demanda o preço é a variável independente e a quantidade


demandada é a variável dependente, ou seja, a quantidade demandada de uma mercadoria
é definida a partir do preço vigente.

Este é o conceito geral que se aplica em qualquer área da economia. O que nos inte-
ressa neste momento é discutir as elasticidades que medem os impactos das variáveis
na economia. São elas:

` Elasticidade-preço da demanda;

` Elasticidade-renda da demanda;

` Elasticidade-cruzada da demanda.

48
Vamos agora apresentar cada uma das elasticidades:

2.1 ELASTICIDADE-PREÇO DA DEMANDA


2
A elasticidade-preço da demanda demonstra o quão sensível é a demanda quando
observamos a mudança nos preços ou, dito de outra forma, qual é o impacto que uma
variação de preços exerce sobre a quantidade demandada de determinado produto.

Universidade São Francisco


EXEMPLO
Demanda: necessidade de algo.

A elasticidade-preço da demanda é um coeficiente, ou seja, um número, que expressa


o tamanho da variação da quantidade resultante do aumento ou diminuição do preço
em um por cento.

Devemos ter em mente que como estas variações ocorrem em sentido oposto, quando
aumenta o preço, a quantidade demandada diminui e vice-versa, a elasticidade-preço
da demanda é sempre um número negativo.

EXEMPLO
Em cada período do ano e em cada região, existem ciclos de produção de determinadas frutas.
Quando existe muita produção e os supermercados conseguem manter suprimento constante
e abundante, o preço diminui e as pessoas passam a consumir muito mais aquele produto
(frutas, verduras, grãos etc.).
Quando a produção diminui (por várias razões) os supermercados aumentam o preço para
manter suprimento e, com isso, as pessoas diminuem o consumo do respectivo produto.

Essa lógica pode ser calculada e, para isso, temos uma equação específica para expli-
car esse conceito que matematicamente é expressa da seguinte forma:
Em que ∆Q% representa a variação percentual da quantidade demandada, ou
seja, a quantidade demandada no período final menos a quantidade demanda-
∆Q% da no período inicial.
Ep =
∆P% ∆P% representa a variação percentual do preço, ou seja, o preço final descon-
tado o preço inicial.
EXEMPLO
Por exemplo, imagine que estamos tratando do consumo de gasolina, quando temos um aumento de vinte
por cento (20%) na quantidade demandada de gasolina em resposta a uma diminuição de cinco por cento
(5%) no preço da gasolina, podemos concluir que a elasticidade-preço da demanda deste produto é 4.

Mas como nem sempre temos diretamente os valores percentuais das mudanças ocor-
ridas nas quantidades e nos preços, precisamos calcular a elasticidade a partir dos
valores disponíveis de preço e quantidade. Esse cálculo utiliza a fórmula da elastici-
dade no ponto, que representa a elasticidade considerando a sensibilidade da demanda

Economia e mercados 49
Como os mercados funcionam? Fundamentos e reflexões sobre a microeconomia

em um determinado ponto representado por um par ordenado de preço e quantidade. A


elasticidade preço da demanda no ponto é obtida da seguinte forma:

2 Sabendo-se que a elasticidade-preço da demanda é

∆Q%
Ep =
∆P

E sabendo que ∆Q% = (Q1 – Q0)/Q0 e ∆P% = (P1 – P0)/P0

Podemos reescrever a equação da seguinte forma:

Ep = [(Q1 – Q0)/Q0]/(P1 – P0)/P0

Chegando finalmente à fórmula da elasticidade-preço da demanda no ponto:

(Q1 − Q0 ) * P0
Ep =
(P1 − P0 ) Q0

Para exemplificar esse cálculo, vamos utilizar os seguintes dados:


Tabela 01. Elasticidade-preço do ponto

PONTO P QD
A 1 75
B 2 60
C 3 48
D 4 39
E 5 33
F 6 30

Fonte: Elaborada pelos autores.

Aplicando a fórmula acima, temos a seguinte estrutura de cálculo para os pontos A e B:

EP = (60 – 75)/(2 – 1) * 1/75

EP = ( – 15)/(1) * 1/75

EP = – 0,2

50
Neste exemplo, podemos nos questionar sobre o significado do resultado e isto pode
ser explicado pela classificação da elasticidade-preço. Podemos classificar a elasticida-
de-preço da demanda em três tipos:
2
` Primeiro, quando a demanda por um bem é inelástica;

` Segundo, quando a demanda possui elasticidade unitária;

Universidade São Francisco


` Terceiro, quando a demanda é elástica.

IMPORTANTE
Ao conceituarmos elasticidade-preço da demanda, observamos que o coeficiente resultante é
sempre um coeficiente negativo. Mas um detalhe importante se apresenta quando precisamos
classificar elasticidade da demanda, que é o fato de que precisamos aplicar o módulo para facilitar
nossa análise.

Matematicamente, quando utilizamos o módulo em um resultado, significa que estamos


desconsiderando o sinal e usando apenas o algarismo ou coeficiente para elaborarmos
uma conclusão do processo.

Vamos agora explicar a classificação das categorias em que a demanda pode ser clas-
sificada quanto à elasticidade-preço.

A primeira categoria é a Demanda Inelástica, que ocorre quando o preço afeta de


modo pouco significativo a quantidade demandada, ou seja, a variação nos preços não
é capaz de alterar a demanda por um produto ou a mudança na quantidade demandada
é proporcionalmente menor que a variação nos preços.

∆Q% ∆ ∆P%

Neste caso, o módulo do valor da elasticidade-preço da demanda deve ser menor que
um.

EP < |–1|

Ou seja, quando temos uma demanda inelástica, encontramos um valor entre zero e o
módulo de menos um.

0 < EP < |–1|

No exemplo anterior, quando realizamos o cálculo da elasticidade, obtivemos um resul-


tado de EP = – 0,2. Aplicando o módulo,

EP = |–0,2|

EP = 0,2

Economia e mercados 51
Como os mercados funcionam? Fundamentos e reflexões sobre a microeconomia

A segunda categoria é a Demanda de Elasticidade Unitária. Neste caso, a variação


nos preços de um determinado produto causa uma mudança de mesma proporção na
quantidade demandada, mas em sentido oposto.
2
∆Q% = ∆P%

Assim, o resultado encontrado é igual à unidade, ou seja, quando o resultado da elasti-


cidade apresenta-se igual a 1, um aumento de 5% no preço de um produto causa uma
queda de 5% na quantidade demandada.

E = |–1|
P

A terceira categoria é a Demanda Elástica. A Demanda Elástica, ocorre quando o impac-


to na variação da quantidade demandada é superior à mudança do preço que a causou.

∆Q% ∆∆P%

Desse modo, quando a demanda por determinado bem for elástica o resultado encon-
trado para o coeficiente é maior que o módulo de –1, observe:

EP > |–1|

Ou seja, quando o impacto do preço é, por exemplo, um valor igual a 5, significa que
quando o preço aumenta, ou diminui, 1% causa uma diminuição, ou aumento, respecti-
vamente, de 5% na demanda de determinado bem.

IMPORTANTE
Por exemplo, quando o preço de um pacote turístico internacional apresenta uma diminuição do
preço da ordem de 5%, supõe-se que a quantidade da demanda apresente um aumento de 10%,
configurando uma demanda elástica.

2.2 ELASTICIDADE-RENDA
A Elasticidade-renda mensura o impacto que as mudanças na renda do consumidor
causam na demanda por determinado produto. O coeficiente gerado pelo cálculo da
elasticidade-renda nos indica o tipo de bem que estamos analisando, classificados a
partir da influência da renda sobre ele.

ER =
∆Q% (Q − Q2 ) * P0
ou E P = 1
∆R% (P1 − P0 ) Q0

Esta classificação está estruturada nas seguintes categorias:

52
Bens normais e Bens inferiores

Os bens normais, por sua vez, podem ser subdivididos em bens necessários e bens
de luxo. Cada um deles será explicado, a seguir, a partir do viés da elasticidade-renda.
2
Os bens normais são aqueles que guardam uma relação direta com a renda, ou seja,
quando a renda aumenta, o consumo destes bens aumenta, ou quando a renda diminui,

Universidade São Francisco


o consumo diminui. Com relação à elasticidade-renda, podemos identificar que um pro-
duto é considerado um bem normal quando o coeficiente encontrado é positivo, assim:

ER> 0
Os bens normais podem ser divididos em bens necessários e bens de luxo. Os bens ne-
cessários são aqueles cujo impacto sobre a quantidade demandada, embora positivo, é
proporcionalmente menor que a variação na renda, ou seja,

0 < ER < 1
Por sua vez, os bens de luxo são produtos cuja demanda é altamente influenciada por
mudanças na renda, ou seja, a quantidade demandada varia em uma proporção maior
que a renda.

ER > 1
Na contramão dos bens normais, temos os bens inferiores, que são aqueles cuja de-
manda diminui quando a renda aumenta e vice-versa. Os bens inferiores são considera-
dos de qualidade menor, isto explica porque seu consumo cai quando a renda aumenta.
Assim, o coeficiente da elasticidade-renda é um valor negativo:

ER < 0

Temos, deste modo, que o cálculo da elasticidade-renda contribui para a identificação


das categorias de bens descritas acima.

EXEMPLO
Bens normais: alimentos em geral, automóveis, eletrodomésticos, vestuário, entre outros.
Bens necessários: alimentos em geral, vestuário.
Bens de luxo: automóveis, eletrodomésticos, viagens.
Bens inferiores: transporte coletivo, entre outros bens que são avaliados como de baixa
qualidade pelo consumidor.

2.3 ELASTICIDADE-CRUZADA DA DEMANDA


A elasticidade-cruzada da demanda mensura o quanto o preço de outros bens afeta
o consumo do produto que estamos analisando. Quando tratamos da elasticidade-cru-
zada da demanda, estamos relacionando o comportamento de bens complementares e

Economia e mercados 53
Como os mercados funcionam? Fundamentos e reflexões sobre a microeconomia

substitutos. Assim, o coeficiente da elasticidade-cruzada da demanda mostra o quanto


a variação no preço de uma mercadoria afeta a quantidade consumida de outra merca-
doria. Em outros termos, podemos observar que:
2

E xy =
∆Qx% (Qx1 − Qx 0 ) Py 0
ou E xy = *
∆Py % (Py1 − Py 0 ) Qx 0

EXEMPLO
Bens complementares: café com açúcar, goiabada com queijo, combustível e óleo de motor,
xampu e condicionador.
Bens substitutos: gasolina e etanol, ônibus e automóvel, óleo de soja e óleo de canola, queijo
e requeijão.

Quando o resultado do coeficiente for um valor negativo, podemos classificar este bem
X como complementar, pois o aumento no preço do produto Y provoca uma redução no
consumo de Y, e como X é consumido conjuntamente, a aquisição deste bem por parte
dos consumidores também cai.

Exy < 0

Em sentido oposto, quando o coeficiente apresentar um resultado positivo, este produto


X pode ser classificado como bem substituto, pois uma expansão no preço do Pproduto
Y causa uma diminuição na quantidade demandada do bem Y, resultando em um im-
pacto positivo sobre o consumo de X, pois o bem X supre, como substituto, a queda do
consumo de Y.

Exy > 0

Estes são os tipos de elasticidades relacionados à demanda. A seção seguinte tratará


das elasticidades de curto e longo prazo.

2.4 ELASTICIDADES DE CURTO PRAZO E ELASTICIDADES DE


LONGO PRAZO
Antes de começar a relacionar as elasticidades de curto e longo prazo, devemos de-
finir o significado de curto prazo e longo prazo. Estes conceitos não são definidos em
unidades de tempo, mas, de acordo com Alfred Marshall (1842—1924), economista
inglês, dependem da capacidade de produção da empresa e dos novos investimentos
realizados. Em outros termos:
Durante o curto prazo, porém, pode-se variar a oferta de um produto alteran-
do-se alguns, mas não todos os insumos de fator necessários à produção.
O longo prazo é um período durante o qual se pode variar a oferta de um
produto alterando-se todos os insumos do fator. Só não estão presentes as

54
mudanças em produção associadas a crescimento ou a declínio econômico.
RIMA (1990, p. 344)

Quando Rima (1990) menciona o termo insumo de fator, ele está se referindo à quanti-
dade de fatores de produção, especialmente capital e trabalho, envolvidos no processo 2
produtivo. Assim, quando ao menos um destes fatores permanece sendo utilizado no
processo, mas sem alteração da quantidade aplicada, temos o curto prazo. Quando

Universidade São Francisco


todos os insumos variam, temos o longo prazo.

Podemos perceber que as curvas de demanda, tanto no curto quanto no longo prazo,
apresentam diferentes inclinações, e como a inclinação é que define a elasticidade:
curto e longo prazo de uma determinada mercadoria representam diferentes valores
para a elasticidade.

Para melhor identificar o comportamento da demanda em relação à elasticidade, temos


que, em primeiro lugar, definir o que são:

Bens duráveis:
São aqueles que podem ser utilizados por longos períodos de tempo, mantendo intactas suas
características, como veículos, móveis e equipamentos domésticos.

Bens não duráveis:

São aqueles que podem ser utilizados por curtos períodos de tempo e que apresentam des-
gaste em função do seu uso. Três exemplos que possibilitam entender claramente este con-
ceito são os produtos descartáveis, a alimentação e a energia, que ao serem consumidos
deixam de existir. Podemos considerar também como exemplos de bens não duráveis vestu-
ário e calçados, pois ao serem utilizadas passam a se desgastar e em certo tempo acabam
por ser descartados.

Finalmente, vamos relacionar a demanda por bens duráveis e não duráveis às elastici-
dades-preço de curto e de longo prazo.

Quando analisamos os bens não duráveis, podemos perceber que a demanda é mais
elástica no longo prazo que no curto prazo em função do fato que as pessoas demoram
a modificar hábitos de consumo.

No caso dos bens duráveis ocorre o oposto, a curva de demanda é mais elástica no
curto prazo, pois uma queda de preço estimula a antecipação do consumo dos bens e,
como estes bens demoram a se desgastarem, acaba por afetar a demanda de longo
prazo tornando-a inelástica.

3. ESTRUTURAS DE MERCADO
A tomada de decisões dos agentes econômicos, especialmente das empresas, é in-
fluenciada pelas características do mercado no qual a mercadoria está inserida. Cha-
mamos o conjunto destas características de estruturas de mercado.

Economia e mercados 55
Como os mercados funcionam? Fundamentos e reflexões sobre a microeconomia

Segundo Vasconcellos (2011), a caracterização de uma estrutura de mercado depende


fundamentalmente de três fatores:
` Do número de empresas que concorrem no mercado;
2
` Do grau de diferenciação do bem (se as firmas fabricam produtos idênticos) ou diferencia-
dos; e

` Se existem barreiras à entrada de novos concorrentes nesse mercado.

As estruturas de mercado existentes para o mercado de bens e serviços: neste sentido,


os bens representam os bens tangíveis que podemos ver e tocar e os serviços, os bens
intangíveis (VASCONCELLOS, 2011). São eles:
` Concorrência perfeita;

` Monopólio;

` Oligopólio; e

` Concorrência monopolística.

A seguir, trataremos de cada um desses modelos separadamente.

3.1 CONCORRÊNCIA PERFEITA


Para uma estrutura de concorrência perfeita, Vasconcellos (2011) aponta as seguintes
premissas que compõem o modelo teórico de análise:

Mercado atomizado:
Mercado com infinitos produtores e compradores, de forma que um agente isolado não tem
condições de afetar o preço de mercado. Assim, o preço de mercado é um dado exóge-
no para empresas e consumidores, sendo definido pela concorrência entre as firmas e os
próprios consumidores, mas não influenciado isoladamente por nenhum deles (VASCON-
CELLOS, 2011).

EXEMPLO
O mercado de commodities agrícolas costuma ser um bom exemplo de mercado atomizado, na
medida em que o preço da soja é definido internacionalmente. Temos uma grande quantidade de
compradores e vendedores e, individualmente, nenhum deles consegue afetar o mercado.

Produtos homogêneos:

Todas as firmas oferecem um produto com características e funcionalidades semelhantes.


Não há diferenças de embalagem, qualidade, entre outros fatores, nesse mercado (VAS-
CONCELLOS, 2011).

56
EXEMPLO
A soja citada acima é um bom exemplo, independente da fazenda, cidade ou país onde foi produzida,
pois conserva as mesmas características biológicas, físicas, nutricionais e de funcionalidade. 2

Mobilidade de firmas (empresas):

Universidade São Francisco


Não há barreiras para o ingresso de novos concorrentes no mercado (VASCONCELLOS, 2011).
Esta premissa é importante porque significa que, em equilíbrio, o custo de oportunidade entre
diferentes mercados de diferentes mercadorias deve se igualar.

EXEMPLO
Na concorrência perfeita não existem diferenças de rentabilidade do capital entre diferentes
setores, bem como não há dificuldades técnicas ou segredos para a fabricação dos produtos,
não se exigem um montante de investimento inicial muito grande e, finalmente, não existe uma
regulamentação que impeça a entrada de concorrentes.

Racionalidade:

As firmas sempre maximizam o lucro e os consumidores maximizam satisfação ou utilidade deriva-


da do consumo de um bem, ou seja, os agentes agem racionalmente (VASCONCELLOS, 2011).

EXEMPLO
Ao agir racionalmente, uma empresa busca sempre lucrar o máximo com a venda de um produto.
Se estiver praticando um preço abaixo do preço de mercado, apenas conseguiria diminuir seu
lucro agindo de forma irracional.

Transparência do mercado:
Consumidores e produtores “têm acesso a toda informação relevante, sem custos, isto é, co-
nhecem os preços, qualidade, os custos, as receitas e os lucros dos concorrentes” (VASCON-
CELLOS, 2011, p. 144).

Não existem externalidades:

O preço de determinado bem expressa todos os custos envolvidos no processo de produção,


sem presença de externalidades. Externalidades são efeitos do processo produtivo que transbor-
dam, vazam desse processo.

EXEMPLO
Para facilitar o entendimento do conceito de externalidade, podemos utilizar “a poluição”, pois a
poluição é um resultado do processo produtivo que não está presente nos custos da empresa,
visto que a empresa “exporta” esse custo para a sociedade. Ao contrário, quando a empresa faz

Economia e mercados 57
Como os mercados funcionam? Fundamentos e reflexões sobre a microeconomia

o tratamento dos resíduos de produção, acaba por arcar com estes custos que contribuirão para
a formação de preços sem que a sociedade sofra com esses efeitos.

2
3.2 MONOPÓLIO
As características básicas de um monopólio são dadas pela existência de apenas uma
firma (empresa) produtora atuando no mercado, não havendo bens substitutos próxi-
mos e com barreiras à entrada de novos produtores (VASCONCELLOS, 2011).

Em outros termos, “o monopolista é o mercado e controla totalmente a quantidade de


produto que será colocada à venda” (PINDYCK; RUBINFELD, 2013, p. 352).

Quando tratamos de estruturas de mercado imperfeitas, isso significa que estamos ana-
lisando empresas com poder de monopólio ou poder de mercado, o que implica em
verificar o quanto a empresa pode afetar a formação do preço de mercado do produto
(PINDYCK; RUBINFELD, 2013).

Conforme apontado por Vasconcellos (2011), as barreiras à entrada de novos concor-


rentes podem ocorrer de várias formas, dentre as quais destacamos:
Exemplos: são monopólios naturais o A. Monopólio puro ou natural: “devido à alta escala de
fornecimento de energia elétrica, água, produção requerida, exige um elevado montante de inves-
esgoto e transporte ferroviário. timento. A empresa monopolística já está estabelecida em
grandes dimensões e tem condições de operar com baixos
custos. Torna-se muito difícil alguma empresa conseguir
oferecer o produto a um preço equivalente à firma monopo-
lista”. (VASCONCELLOS, 2011, p. 161).
Exemplo: a fabricação de medicamentos é B. Proteção de patentes: “direito único de produzir o bem”.
um exemplo bastante difundido da proteção (VASCONCELLOS, 2011, p. 161). Neste caso, o inventor
de patentes. tem a possibilidade de produzir a mercadoria de forma pro-
tegida para que possa recuperar o investimento realizado
durante o período de pesquisa e desenvolvimento. No Bra-
sil, o prazo de patentes de invenção é de 20 anos, de acordo
com o INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial).
Exemplo: podemos exemplificar esta bar- C. Controle de matérias-primas chaves: a fonte das
reira citando “o controle das minas de bauxi- matérias-- primas é considerada uma forma de barreira à
ta pelas empresas produtoras de alumínio”. entrada, pois se a empresa monopolista é proprietária das
(VASCONCELLOS, 2011, p. 161). jazidas, porque ela forneceria esta matéria-prima ao seu
concorrente, quando poderia auferir um ganho maior bene-
ficiando o produto ela mesma?
Exemplo: as concessões rodoviárias são D. Monopólio estatal ou institucional: este tipo de bar-
um exemplo deste tipo de barreira. reira ocorre quando o setor é protegido pela legislação e
normalmente em setores estratégicos ou de infraestrutura.

A partir do conhecimento a respeito da existência de barrei-


ras, poderíamos supor que a empresa monopolista poderia
cobrar qualquer valor que julgasse conveniente pelo produto
que estivesse fabricando. Porém, isto não acontecerá porque
a empresa conhece o mercado consumidor e sabe que existe
um limite para o preço que o consumidor está disposto a pagar
por determinada mercadoria. Assim, o fato de existir apenas
uma empresa no mercado aumenta o lucro; acima do lucro
concorrencial, temos então lucros extraordinários.

58
O preço no mercado monopolista é definido, então, pela quantidade produzida que ma-
ximize os ganhos da empresa. Esta quantidade é definida pela condição de maximiza-
ção em monopólio, ou seja, o ponto em que o Custo Marginal iguala à Receita Marginal.
2
RMg = CMg

Universidade São Francisco


Definida a quantidade de monopólio, o preço unitário recebido pelo monopolista é de-
finido diretamente a partir da curva de demanda de mercado (PINDYCK; RUBINFELD,
2013, p. 352).

3.3 CONCORRÊNCIA MONOPOLÍSTICA


Já a estrutura de concorrência monopolística é um “meio termo” entre a estrutura de
concorrência perfeita e o monopólio. Em comum com a estrutura concorrência perfeita,
existem muitas empresas, entretanto, os bens produzidos são diferenciados, mas com
substitutos próximos. Desta maneira, cada empresa tem um certo poder sobre os pre-
ços, dado que os produtos são diferenciados, e o consumidor tem opções de escolha,
de acordo com sua preferência (VASCONCELLOS, 2011).

Conforme apontado por Vasconcellos (2011), como não existem barreiras para a entra-
da de empresas, em longo prazo não há tendência para lucros extraordinários, “como
em concorrência perfeita, ou seja, os lucros extraordinários a curto prazo atraem novas
firmas para o mercado, aumentando a oferta do produto, até chegar-se a um ponto em
que persistirão lucros normais, quando então cessa a entrada de concorrentes” (VAS-
CONCELLOS, 2011, p. 173).

Assim, no longo prazo, temos a coexistência de lucros normais e poder de monopólio.

Este poder de monopólio seria grande o suficiente para prejudicar os consumidores?

Para Pindyck e Rubinfeld (2013), este poder de monopólio não seria significativo, e teria
como atenuante o fato de existir uma ampla variedade de produtos substitutos próxi-
mos, que conferem ao consumidor a sensação de terem livre escolha.

EXEMPLO
Exemplos de mercados em concorrência monopolística: salões de beleza, serviços médicos e
odontológicos, estacionamento de veículos, produtos de higiene pessoal.

3.4 OLIGOPÓLIO
O oligopólio é a estrutura de mercado que apresenta maior dinamismo na economia.

É a partir do oligopólio que presenciamos a existência de grandes empresas, as


quais operam com grande volume de investimentos em pesquisa e desenvolvimento
de produtos. Essa estrutura utiliza as barreiras à entrada de forma intensiva, com a
finalidade de manter seu poder de mercado.

Economia e mercados 59
Como os mercados funcionam? Fundamentos e reflexões sobre a microeconomia

Os mercados oligopolizados possuem algumas peculiaridades importantes:

` Com relação ao número de empresas, podem ser classificados em oligopólios concentrados


2 ou oligopólios competitivos. Os oligopólios concentrados são aqueles nos quais existe um
pequeno número de empresas concorrendo no mercado, como no caso da indústria auto-
mobilística e da indústria siderúrgica. Os oligopólios competitivos são aqueles nos quais “um
pequeno número de empresas domina um setor com muitas empresas” (VANCONCELLOS,
2011, p. 173). Exemplos: indústria de laticínios, indústria de bebidas, indústria farmacêutica.

` Com relação ao tipo de produto, temos os oligopólios puros e os oligopólios diferenciados.


Os oligopólios puros são aqueles cujos produtos são homogêneos, ou seja, possuem as
mesmas características. Como exemplo de oligopólio puro temos a indústria do cimen-
to. Os oligopólios diferenciados são aqueles que produzem mercadorias diferenciadas,
como na indústria automotiva e na indústria eletroeletrônica.

` Existem barreiras à entrada. Neste sentido, Vasconcellos (2011) aponta as seguintes caracte-
rísticas básicas: devido à existência de empresas dominantes, essas têm o poder de fixar os
preços de venda em seus termos, defrontando-se normalmente com demandas relativamen-
te inelásticas em que os consumidores têm baixo poder de reação a alterações de preços.

Um dos fatores que diferencia a estrutura de oligopólio das demais é a interdependên-


cia entre as firmas atuantes no mercado. Essa interdependência faz com que a estraté-
gia de atuação de uma empresa influencie as demais firmas do mercado e, ao mesmo
tempo, é influenciada pela estratégia das outras empresas. A atuação pode acontecer
via concorrência, onde as firmas travam guerras de preços, ou através de cooperação,
através de cartéis (VASCONCELLOS, 2011).

EXEMPLO
Quando falamos de oligopólios e cartéis, o grande exemplo que temos no mercado é o da OPEP
(Organização dos Países Exportadores de Petróleo), que ficou famosa nos anos de 1970 ao
promover uma diminuição na oferta de petróleo, levando a um aumento no preço do produto
em escala mundial. Em relação aos oligopólios que competem travando até mesmo guerra de
preços, temos o mercado de bebidas, especialmente o mercado de cervejas.

A formação de preços em oligopólios está relacionada com o grau de interdependência


das empresas no mercado, mas existe uma regra prática para a formação de preços
que é conhecida como regra de mark-up.

O mark-up representa a margem que a empresa aplica sobre o custo direto de produção com
a finalidade de estabelecer o preço de venda (VASCONCELLOS, 2011). Assim, temos que:

p = C (1 + m)

Onde: p é o preço, C é o custo unitário direto ou variável e m é a taxa de mark-up.

O mark-up pode ser usado como uma forma de avaliar o grau de poder de monopólio de
uma determinada empresa, o qual é chamado de Índice de Lerner. Sendo assim, quanto
maior o Índice de Lerner, o coeficiente encontrado, maior o poder de monopólio da firma.

60
CONCLUSÃO
Nesta Unidade, você aprendeu sobre alguns fundamentos que regem os mercados.
Aprendeu mais sobre as características e particularidades da oferta e demanda, e refle- 2
tiu sobre alguns fatores que podem influenciá-las. Você também viu as características
de alguns produtos como os bens normais e inferiores, assim como analisou que alguns
produtos podem ser substitutos ou complementares entre si.

Universidade São Francisco


Por fim, observou como funcionam algumas estruturas de mercados, conhecendo não
apenas o mercado mais livre e competitivo, como o caso da concorrência perfeita, mas
também observou que alguns mercados tendem a ser concentrados e gerar custos e
consequências para toda sociedade.

Não se assuste com as fórmulas, tampouco com algumas expressões matemáticas:


elas podem te ajudar a entender o conceito abordado. As releia e tente entender quais
conceitos estas fórmulas querem te ajudar a entender.

E lembre-se: o grande objetivo desta Unidade é ajudá-lo a entender como o mercado


funciona, e como você, como futuro profissional, pode se antecipar às possíveis conse-
quências ou gerar e criar novas oportunidades.

Economia e mercados 61
Como os mercados funcionam? Fundamentos e reflexões sobre a microeconomia

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GREMAUD, Amaury Patrick. Manual de economia. São Paulo: Saraiva, 2003. MONTORO FILHO, André
2 Franco. Teoria elementar do funcionamento do mercado. In:

Manual de economia. Equipe de professores da USP. 6 ed. São Paulo: Saraiva, 2011. RIMA, Ingrid Hahne.
História do pensamento econômico. São Paulo: Atlas, 1990.

_____. Microeconomia. 8. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2013. VASCONCELLOS, M. A. S.
Economia: micro e macro. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.

PINDYCK, R.; RUBINFELD, D. Microeconomia. 7. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2013.

VASCONCELLOS, Marco Antonio Sandoval de; GARCIA, Manuel Enriquez. Fundamentos de economia. 2.
ed. São Paulo: Saraiva, 2004. 240 p.

62
Economia e mercados
63
2

Universidade São Francisco


A macroeconomia: da crise de 1929 à revolução keynesiana UNIDADE 3

A MACROECONOMIA: DA
CRISE DE 1929 À REVOLUÇÃO
3
KEYNESIANA

INTRODUÇÃO
Como já discutido em nossa disciplina, o problema econômico durante muito tempo
foi analisado e estudado nas suas relações micro, além de se acreditar que a econo-
mia por si, sem interferência do Governo, conseguiria atingir seu próprio equilíbrio e
melhor desenvolvimento.

Contudo, a partir da primeira metade do século XX tudo muda: a análise econômica


passa do micro, da análise e estudo de mercado e agentes específicos, para análise
macro, ou seja, indicadores agregados e que influenciam a economia como todo –
como crescimento econômico, taxa de emprego, inflação etc. – passam a ter destaque
na discussão do bem-estar econômico.

Outro ponto de inflexão é o papel do Poder Público na economia. Este, que até
então deveria ficar afastado porque “atrapalhava” o desenvolvimento econômico,
passa a ter papel de destaque e decisivo no combate dos efeitos das grandes crises
do sistema econômico.

Tudo isso pode parecer um pouco confuso agora, não é? Fique tranquilo! Objetivo desta
Unidade é entender os motivos que levaram a estas mudanças no paradigma econômi-
co, bem como conhecer as principais metas e instrumentos da macroeconomia.

1. MERCADO SE AUTOEQUILIBRA, PELO MENOS É O QUE


PENSAM OS LIBERAIS
Conforme já discutido nesta disciplina, o paradigma que a economia tende ao equilíbrio,
desde que livre e sem qualquer interferência exagerada do Estado, tal como defendia o pai
do liberalismo, Adam Smith (1723 — 1790), que inovou muito na concepção sobre onde de
fato estaria o valor das mercadorias e contrapôs fortemente os pilares do mercantilismo.

Para o filósofo, sem a exagerada interferência do Estado, a economia tenderia ao equilí-


brio e a sociedade atingiria seu melhor bem-estar, isto é, a plena liberdade (daí a origem
do termo liberalismo) do agente econômico propiciaria que toda a sociedade atingisse
seu melhor desenvolvimento e bem-estar econômico.

Visão Microeconômica

Para os pensadores liberais, a economia tende ao equilíbrio decorrente das relações


microeconômicas, isto é, específicas de cada mercado. Por exemplo, se o mercado

64
específico de trigo se equilibrar através das forças de mercado (oferta x demanda), os fatores
de produção se alocarem livremente e obtiverem o melhor ganho/remuneração possível, a
economia como um todo atingirá seu bem-estar. Com cada mercado específico funcionando
plenamente (por isso “visão microeconômica”), a economia como um todo se beneficiará. Ou 3
seja, é do bom funcionamento específico de cada mercado, que a economia como um todo
se desenvolverá.

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Adam Smith traz uma concepção interessante acerca do que ele denomina “mão invi-
sível”, ou seja, a capacidade de o mercado alocar sua capacidade produtiva da melhor
maneira possível, visando o melhor bem-estar de seus agentes econômicos.

SAIBA MAIS
Até as obras de Adam Smith, o valor residia no metalismo, isto é, na aquisição do ouro e da
prata. Até o surgimento de suas ideias, uma nação rica era aquela que conseguia ter o máximo
de ouro e prata.
Pesquise: Teoria do Valor-trabalho.

Vamos a um exemplo para você entender melhor acerca do que seria esta “mão invisível”:
imagine que em determinado momento o preço do milho aumentou devido a um aumento
da exportação do grão para o mercado exterior. Desse modo, se o preço subiu e os pro-
dutores estão tendo um lucro superior ao da soja, o que você cultiva no momento?

Observando que o preço do milho está mais atrativo do que o da soja, o que você vai fazer? Já
conhecendo a técnica da plantação do milho e analisando as possibilidades futuras de ganho
devido à perspectiva da abertura de novos mercados, vai decidir permanecer cultivando a soja
ou se aventurar na cultura do milho?

Com certeza, a maioria dos produtores escolheriam se aventurar no cultivo do milho


em busca de melhores ganhos. E por que neste momento o milho apresenta melhores
ganhos do que a soja?

Porque a sociedade demanda (precisa) mais de milho que de soja no momento. No


longo prazo, com a entrada de novos produtores de milho, o preço cairá devido a um
aumento da oferta e seu mercado atingirá um novo equilíbrio.

Ou seja, em busca de seus próprios ganhos, no seu egoísmo de poder lucrar mais, a so-
ciedade atingirá o seu melhor bem-estar, isto é, vai ter a sua disposição uma quantidade
maior do produto, fazendo com que o problema da escassez do produto seja resolvido.

Em tese, eram características como essas que Adam Smith defendia. Se o Estado não
“atrapalhasse” o desempenho do mercado, se não interferisse no seu equilíbrio, se não
praticasse atividades abusivas como cobrança excessiva de impostos, se não prevale-
cessem alguns grupos econômicos (práticas como autorizar que apenas uma empresa
ou indivíduo forneça um tipo de produto, por exemplo, formação de monopólios) a eco-
nomia atingiria por si só seu equilíbrio, e por consequência, seu melhor bem-estar.

Economia e mercados 65
A macroeconomia: da crise de 1929 à revolução keynesiana

Para Adam Smith, o Estado deveria continuar existindo sim, apenas para garantir com
que as falhas de mercado não atrapalhassem a eficiência e equidade do mercado.

Entre as falhas do mercado descritas por Adam Smith, destacamos:


3
Proteção da propriedade privada:

O Estado tem a obrigação de garantir que a propriedade privada seja defendida e que seu de-
tentor seja sempre protegido e que possa fazer valer seu direito de propriedade;

Atenuar o poder de mercado:

Atuar para que o mercado não se concentre demais, isto é, que poucas empresas controlem a
oferta de determinado produto, o que prejudicaria em muito a eficiência e equidade do mercado;

Regular as externalidades:

Isto é, o Estado deve regular/legislar acerca das “regras do jogo”, punindo aquele agente que
por acaso obtenha vantagens por meios ilícitos, ou que sua atividade atrapalhe a atividade eco-
nômica de outro agente, por exemplo.

SAIBA MAIS
O Estado deve atuar fortemente para que as atividades dos agentes não atrapalhem a “liber-
dade do outro”. Por exemplo, a fixação de uma empresa poluidora em de- terminado município
pode prejudicar a atividade econômica de outro agente (agricultores ou pescadores, por exem-
plo) e a vida da população como um todo.

Diante das características apresentadas, surgem os pilares do que concebemos como


liberalismo, escola econômica que, segundo Sandroni (1999), serviu de pano de fundo
ideológico para os movimentos contra as monarquias absolutistas (Revolução Francesa
e Independência dos Estados Unidos, por exemplo).

De acordo com o mesmo autor, o liberalismo defendia:


` A mais ampla liberdade individual;

` A democracia representativa com separação e independência entre três poderes (executi-


vo, legislativo e judiciário); e

` O direito inalienável à propriedade;

` A livre iniciativa e a concorrência como princípios básicos capazes de harmonizar os inte-


resses individuais e coletivos e gerar o progresso social.

Sendo assim, o liberalismo se baseava em princípios já defendidos pelos fisiocratas


franceses, o “laissez faire, laissez passer”, isto é, “deixe fazer, deixe passar”: a livre
iniciativa, bem como o livre trânsito e alocação dos fatores de produção, por si só faria
com que a economia como um todo atingisse seu melhor bem-estar.

66
Diante de tal concepção acerca do movimento e do desenvolvimento econômico, não
precisaria nenhum agente se preocupar com o planejamento das atividades produtivas,
uma vez que as forças do mercado por si só eram suficientes para que a economia
atingisse sua plena produtividade e ponto ótimo produtivo. 3

1.1 MUNDO MUDA: A TENDÊNCIA DO EQUILÍBRIO COLOCADA EM

Universidade São Francisco


XEQUE
A concepção de que a economia livre e sem a interferência do Estado, e de que o
mercado por si só atingiria o equilíbrio e o bem-estar, foi seguida por séculos: os ideais
liberais estavam na mesa de cabeceira de qualquer governante e presente como mo-
delo ideal a ser seguido.

As ideias econômicas evoluíram muito desde as obras de Adam Smith: partindo do liberalismo e
da visão microeconômica, a economia havia evoluído muito em modelos econométricos, o que
desenvolvia ainda mais a ideia que as relações microeconômicas eram as que de fato importa-
vam e tinham relevância econômica.

Com o passar do tempo, a Ciência Econômica desenvolveu ainda mais a Teoria do


Valor-trabalho, da mesma maneira, já havia surgido a Teoria de Valor-utilidade, que veio
complementar ainda mais os pressupostos da Teoria Econômica Liberal, dando melho-
res significados à visão microeconômica.

Contudo, o mundo não era mais o mesmo que Adam Smith havia presenciado: além
dos desdobramentos produtivos decorrentes das duas fases da Revolução Industrial,
bem como da difusão do poder da burguesia por todo o mundo, o capitalismo sofreu
importantes modificações do século XVIII até meados do século XX.

O capitalismo que nos anos de Adam Smith ainda era comercial, de uma industriali-
zação que previa um capital inicial ainda não tão volumoso, onde os grandes capitais
ainda não eram tão significativos assim, mudou muito: o capitalismo havia passado de
comercial para industrial, e já entrava numa nova fase, do capitalismo financeiro.
[...] em fins do século XIX, o desenvolvimento de mercados de capitais mun-
diais e os progressos na produção e nos transportes provocaram imensas
concentrações de poder industrial em corporações gigantescas, trustes e
cartéis. Houve duas consequências importantes dessa maior concentração
industrial: primeiro, a concorrência não regulamentada tornou-se extrema-
mente custosa e prejudicial para essas empresas gigantescas. Segundo, a
anarquia do mercado ficou mais grave, porque as corporações gigantescas
reduziram significativamente qualquer grau de flexibilidade e capacidade de
ajuste que o mercado apresentava anteriormente (HUNT, 2005, p. 382).

O capital se concentrou muito e a sonhada concorrência defendida por Adam Smith


como mecanismo de equilíbrio econômico começou a ser prejudicada pelas fusões e
incorporações, surgindo cada vez mais monopólios e oligopólios por toda a parte.

O sonhado bem-estar econômico a cada dia era mais distante: sucessivas crises
econômicas, empobrecimento da classe trabalhadora e conflitos internacionais
decorrentes do expansionismo imperial em busca de novos mercados. Enfim, o bem-

Economia e mercados 67
A macroeconomia: da crise de 1929 à revolução keynesiana

estar econômico decorrente do livre movimento do capital estava cada vez mais
comprometido.

3 A crise de 1929
Considerada por muitos como a pior crise do capitalismo mundial até os dias de hoje, a
Crise de 1929 colocou em xeque o modelo liberal perseguido até então.

O modelo liberal e a crença do autoajuste econômico já vinham sendo contestados


décadas antes de 1929. Hunt (2005) comenta que cada vez mais empresas e grandes
corporações recorriam ao Estado com intuito de tentar frear as consequências maléfi-
cas da “anarquia do mercado” e da concorrência desenfreada.

Contudo, a situação ficou mais grave no episódio conhecido como “quinta-feira negra”:
[...] a Bolsa de Valores de Nova York teve uma queda brusca nas cotações
dos títulos, fenômeno que acabou destruindo toda a confiança na economia.
Com isso, os empresários reduziram a produção e os investimentos, o que
causou a diminuição da renda nacional e do número de empregos, diminuin-
do mais ainda a confiança na economia. Antes de encerrado o processo,
milhares de empresas tinham ido à falência, milhões de pessoas tinham fica-
do sem emprego e tinha início uma das maiores catástrofes da História dos
Estados Unidos (HUNT, 2005, p. 383).

Hobsbawn (2008) afirma que a consequência básica da Depressão foi o desemprego


em escala inimaginável e sem precedentes, e por um tempo que as economias não
haviam experimentado até então.

No pior período da Depressão, 22% a 23% da força de trabalho britânica e belga, 24% da
sueca, 27% da americana, 29% da austríaca, 31% da norueguesa, 32% da dinamarquesa
e nada menos que 44% da alemã não tinha emprego, segundo Hobsbawn (2008).

1.2 A VIRADA MACROECONÔMICA: A REVOLUÇÃO KEYNESIANA


Como já discutido anteriormente, a concepção de que a economia atingiria por si só o
equilíbrio foi muito contestada pelos efeitos decorrentes da Crise de 1929.

Para os adeptos liberais, a economia estava apenas em desequilíbrio, ou seja, o de-


semprego era apenas tido como temporário, e, no longo prazo, pelas forças próprias
do mercado, a economia atingiria novamente seu bem-estar e pleno emprego (ou seja,
todas as pessoas que desejariam trabalhar estariam empregadas).

Keynes (1996) iria contrapor fortemente a noção defendida pelos liberais de que o mer-
cado se autoajustava. Para ele, a economia não tende automaticamente ao equilíbrio e
precisa que um agente (no caso, o Estado) promova ações e políticas que façam com
que a economia atinja o pleno emprego novamente. “A longo prazo, estaremos todos
mortos”: esta frase é atribuída a John Maynard Keynes (1883 — 1946), que revolucio-
naria consideravelmente o que se esperava do movimento econômico até então.

Ele inverte uma ideia defendida pelos liberais, conhecida como Lei de Say, na qual a
oferta cria sua própria demanda. Para os liberais, ao ofertar determinado produto ou

68
serviço, acreditava-se que a produção de mercadorias geraria demanda suficiente para
outras mercadorias, criando assim um círculo virtuoso.

A ideia de Say era mais ou menos essa: um investidor, ao decidir construir uma nova
3
fábrica, demanda (precisa) contratar novos trabalhadores, comprar matéria-prima de
seus fornecedores, pagar impostos de sua produção etc. A renda gerada por essa nova
atividade econômica (o salário dos trabalhadores, renda dos fornecedores etc.) seria

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o suficiente para criar demanda em outros setores econômicos, que, no final, geraria
renda para consumir/demandar os produtos da própria nova fábrica.

Contudo, Keynes (1996) analisa que a Lei de Say não previa crises de superprodução
ou baixa expectativa do produtor em tempos de crise, isto é, a preferência do produtor/
empresário em reter seu capital (em moeda) por acreditar que no período seguinte a
economia não cresceria ou entraria na recessão – o que o próprio Keynes (1996) deno-
minou como “preferência pela liquidez”.

Sendo assim, Keynes (1996) inverte a Ley de Say: não é a oferta que cria sua própria
demanda, mas sim a demanda que cria sua oferta: isto é, o produtor (empresário), ao
analisar e perceber que existe demanda (aumento de vendas) para seus produtos e
serviços, decide realizar novos investimentos, que, por conseguinte, vão demandar a
contratação de novos trabalhadores, bem como a compra de mais matérias-primas,
criando assim um círculo virtuoso.
Figura 01. Círculo Virtuoso de Keynes: a demanda cria sua própria oferta

Criação da nova
demanda

Aumento da Surgimento de
renda em novos investimen-
circulação tos para atender a
nova demanda

Contratação de
trabalhadores,
fornecedores etc.

Fonte: Elaborado pelo autor (2017).

A obra de Keynes, ou Revolução Keynesiana como alguns concebem, vai dar um rumo
totalmente novo ao manejo econômico: agora cabe ao Estado, ao agente governamental,

Economia e mercados 69
A macroeconomia: da crise de 1929 à revolução keynesiana

ser indutor e promotor da demanda agregada, e, consequentemente, da retomada do


crescimento econômico.

Ao promover o gasto, principalmente o investimento, o agente Estado dá um novo im-


3
pulso à atividade econômica, que faz com que o agente produtor, prevendo aumento da
demanda para seus produtos, realize novos investimentos na economia, que, por fim,
aumenta a geração de novos postos de trabalho, alcançando novamente o ponto de
pleno emprego.

Por ora, é necessário deixar bem claro para você que a ideia econômica mudou e muito: a
liberdade, a não interferência do Estado pela economia, inverte-se, e o Estado de apenas coad-
juvante passa a ter um papel muito importante na promoção do emprego e do desenvolvimento
econômico.

Os déficits governamentais (isto é, os gastos do governo) passam a ser justificáveis


para tirar a economia da crise econômica. Prova disso, foi o que os Estados Unidos
fizeram para tirar o país da Crise de 1929, que ficou conhecido como New Deal (Novo
Acordo, tradução literal).

E por falar em gasto, Keynes (1996) não se limita a qualquer tipo de gasto, mas dá ên-
fase a um tipo de gasto especial já mencionado anteriormente: o investimento. Para ele,
é o nível de investimento da economia que vai determinar o seu volume de emprego.

O trabalhador contratado para construir novas fábricas, casas, prédios, pontes, obras
diversas de infraestrutura, vai destinar parte de sua nova renda pessoal para consumir
produtos produzidos por fábricas já instaladas e comercializadas por lojas já existentes
e em funcionamento. Assim, formará um círculo virtuoso do crescimento econômico,
gerando novos postos de trabalho.

O New Deal, colocado em prática pelo presidente americano Franklin Roosevelt (1882
— 1945) e influenciado pelas ideias de Keynes, tinha como suas principais medidas:
` Desvalorização do dólar para tornar as exportações mais competitivas;

` Empréstimos aos bancos para evitar falências no sistema financeiro;

` Criação do sistema de seguridade social, com destaque para o seguro desemprego e a Lei
De Seguridade de 1935;

` Direito de organização sindical;

` Estímulo à produção agrícola;

` Construção de uma grande quantidade de obras públicas, com destaque às hidrelétricas e


rodovias.

Com essas medidas, o New Deal tinha como principal objetivo o fomento da demanda
agregada americana e, por consequência, elevação na geração de novos postos de
trabalhos, o que de fato aconteceu muito bem.

70
SAIBA MAIS
Para Sandroni (1999, p 160), é a “[...] quantidade de bens ou serviços que a totalidade dos
consumidores deseja e está disposta a adquirir em determinado período de tempo e por de- 3
terminado preço. [...] É a soma das despesas das famílias, do governo e os investimentos das
empresas, consistindo na medida da demanda total de bens e serviços numa economia”.

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O New Deal teve muito sucesso e efetividade em suas políticas e ações, revigorando
novamente o capitalismo americano, e levando a produção e alguns indicadores econô-
micos americanos a pontos anteriores aos da crise de 1929.

O sucesso da medida foi tão grande que o New Deal inspirou outros Estados e Go-
vernos a realizarem medidas semelhantes, o que ficou conhecida posteriormente à II
Guerra Mundial como Welfare State que, em suma, são políticas de bem-estar social
que proporcionaram o boom econômico do pós-guerra.

O Estado garantia uma distribuição menos desigual de renda e criava infraestruturas


necessárias a uma vida digna para a maioria da população, investindo em saúde, edu-
cação e transporte.

Este Estado do Bem-estar Social (ou Welfare State) liderou as políticas econômicas até
meados da década de 1970, quando foi contestado por uma nova onda liberal, que ficou
conhecida como neoliberalismo.

A Macroeconomia – Objetivos e metas


Com a inversão da Teoria Liberal, a necessidade de haver estímulos para que a eco-
nomia atinja novamente o pleno emprego, bem como o Estado tendo um papel de
suma importância, analisar a economia apenas pela visão microeconômica não é
mais suficiente.

Segundo Vasconcellos (2011), a macroeconomia trata da economia “como um todo”,


isto é, dos grandes agregados econômicos, tais como PIB, emprego, inflação, taxa de
juros, balança comercial, dentre outros.

Segundo o mesmo autor, são metas de política macroeconômica:


` Alto nível de emprego;

` Estabilidade de preços;

` Distribuição de renda socialmente justa;

` Crescimento econômico.

Vou fazer a seguinte analogia para você entender melhor essas metas da política ma-
croeconômica: você já precisou de comparecer a um pronto socorro porque você ou seu
acompanhante não estava se sentindo muito bem?

O que a equipe médica fez de imediato? No momento do atendimento, a equipe come-


çou a verificar alguns indicadores de seu corpo, tais como temperatura, pressão arterial,

Economia e mercados 71
A macroeconomia: da crise de 1929 à revolução keynesiana

assim como escutou os pulmões, dentre outros exames, com intuito de tirar a melhor
conclusão sobre o diagnóstico do paciente, visando o melhor tratamento a ser seguido
para corrigir o problema verificado.
3
A mesma coisa acontece na economia: a equipe econômica do governo deve estar atenta
para verificar se os indicadores acima descritos estão funcionando bem e se a economia está
no caminho certo.

Verificar se a economia está no pleno emprego ou próxima a ele é de suma importância,


pois a população precisa ter acesso ao trabalho e aumentar sua renda, para garantir,
acima de tudo, a subsistência de suas famílias.

Já o nível dos preços precisa ser controlado com intuito de evitar a inflação, o que nada
mais é do que o aumento generalizado dos preços. A inflação é nociva ao ambiente
econômico, pois acarreta distorções principalmente sobre a distribuição de renda, as
expectativas empresariais, mercado de capitais e sobre o balanço de pagamentos, den-
tre outros. No decorrer da nossa disciplina, voltaremos a discutir com mais propriedade
os efeitos da inflação e seus desdobramentos.

Por fim, é necessária a manutenção do crescimento da economia e de sua distribuição


equitativa, isto é, da distribuição de renda socialmente justa. O Brasil é um caso específi-
co e bem peculiar: foi um dos países que mais viu seu Produto Interno Bruto (PIB) crescer
no século XX, contudo, desenvolveu uma sociedade com alta concentração de renda e
socialmente muito injusta: não adianta apenas crescer, é necessário haver políticas que
promovam uma distribuição de renda justa, promovendo assim condições para o surgi-
mento de uma sociedade mais desenvolvida no sentido mais lato de sua palavra.

Os instrumentos macroeconômicos
Voltando à analogia que fizemos acerca da ida ao pronto socorro, após a equipe médica
diagnosticar o paciente, ela começa a medicá-lo, visando a correção dos indicadores
examinados quando o paciente deu entrada no pronto socorro.

A macroeconomia também tem à sua disposição remédios, ou seja, instrumentos ma-


croeconômicos que podem ser utilizados visando o aumento do número de empregos,
ou então, a estabilidades dos preços, por exemplo.

Entre os instrumentos macroeconômicos, destacamos:

A Política Fiscal;

A Política Monetária;

A Política Cambial e Comercial;

A Política de Rendas (controle de preços e salários).

72
A Política Fiscal
Definindo de forma resumida, a Política Fiscal trata dos mecanismos dos quais o gover-
no possui para arrecadar tributos (Política Tributária) e controlar suas despesas (Políti- 3
ca de Gastos).

As autoridades se utilizam da Política Fiscal para remediar problemas macroeconômicos,

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como o desemprego e a inflação. Caso o governo decida aumentar o nível de emprego,
pode optar a aumentar seus gastos, o que gerará um aumento na demanda agregada da
economia e, por consequência, gerará novos postos de trabalho, por exemplo.

Já se o problema é aumento da inflação, decorrente do aumento da demanda, o go-


verno pode reduzir seus gastos ou aumentar os seus impostos, o que ocasionará uma
diminuição na renda disponível para consumo, e assim, os preços sofrerão menos pres-
são inflacionária.

São exemplos de Política Fiscal:

Diminuição do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI):

De automóveis, visando aumento de suas vendas.

Desoneração da Folha de Pagamento:


Redução de impostos incidentes sobre a folha, diminuindo o custo na contratação de funcionários,
estimulando assim novas contratações.

Programa de Aceleração do Crescimento (PAC):


Projeto do governo na realização de obras de infraestrutura (política de gastos), o que acarretará
no aumento da demanda agregada da economia.

Política Monetária
A Política Monetária trata das decisões do governo sobre a quantidade de moeda, de
crédito e das taxas de juros. Os instrumentos disponíveis para tal são:

` Emissões (impressão) de moeda;

` Reservas Compulsórias (percentual sobre os depósitos que os bancos comerciais


devem reter junto ao Banco Central);

` Open Market (compra e venda de títulos públicos);

` Redescontos (empréstimos do Banco Central aos bancos comerciais);

` Regulamentação sobre crédito e taxa de juros.

Vale ressaltar aqui o peso maior que Keynes deu à moeda. Antes de Keynes, para os
liberais, a moeda servia apenas de “meio de troca”. Para Keynes, a moeda além de ser
utilizada como meio de troca, serve também como unidade de conta e reserva de valor,
sua característica mais importante.

Economia e mercados 73
A macroeconomia: da crise de 1929 à revolução keynesiana

Sendo assim, a Política Monetária pode ser utilizada para elevação do produto e redu-
ção do desemprego, por exemplo. No decorrer de nossa disciplina, iremos analisar com
mais detalhe as caraterísticas da Política Monetária.
3
Por ora, cabe a você ter a noção que tanto a Política Monetária quanto a Fiscal são ins-
trumentos importantes e que podem e devem ser utilizadas pelas autoridades visando
alcançar as metas da política macroeconômica.

Segundo Vasconcellos (2011), a Política Fiscal consegue atuar na distribuição de renda


de maneira mais eficaz do que a Monetária. Contudo, esta tem ação mais imediata que
a outra, uma vez que a Política Monetária depende apenas de uma simples autorização
das autoridades monetárias.
Uma vantagem frequentemente apontada da política monetária sobre a fis-
cal é que a primeira tem efeitos imediatos, dado que depende apenas de
decisões diretas das autoridades monetárias, enquanto a implementação de
políticas fiscais depende de votação do Congresso, o que aumenta a defa-
sagem entre a tomada de decisão e a implementação das medidas fiscais.
Ademais, as políticas fiscais só podem ser efetivadas no próximo exercício
fiscal (ou seja, no ano seguinte a sua aprovação legal), conforme o chamado
princípio da anterioridade ou anualidade (VASCONCELLOS, 2011, p. 194).

Alguns exemplos de Política Monetária:

Aumento da taxa básica de juros, visando o controle do nível de preços;

Diminuição da taxa de juros, visando o aumento do investimento no lado real da economia e, por
consequência, gerando novos empregos;

Aumento na taxa de redesconto, visando diminuir o nível de preços.

Política Cambial e Comercial


As políticas cambial e comercial tratam da relação da economia doméstica e do setor
externo da economia. A Política Cambial se refere ao câmbio, ao controle das autorida-
des em relação à moeda estrangeira (câmbio flutuante, fixo etc.).

Já a política comercial analisa as políticas de incentivo à exportação de produtos na-


cionais, bem como a fixação de limites em relação a remessas de lucros ao exterior,
Balança Comercial, desestímulo das importações, dentre outros.

Tipos de Câmbio:

Câmbio fixo:

O Governo estabelece um valor fixo para a conversão da moeda nacional pela estrangeira. Ex.:
US$ 1,00 = R$ 1,00.

74
Câmbio flutuante:

O preço da moeda estrangeira é negociado livremente e seu preço é estabelecido por meio das
forças do mercado (oferta versus demanda). 3

Política de Rendas

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Ao lado dos outros instrumentos macroeconômicos, a Política de Rendas visa a redis-
tribuição de renda e justiça social. A Política de Rendas tem como objetivo ainda de
controlar a remuneração dos fatores de produção, tais como salários, depreciações,
lucros, dividendos e preços dos produtos intermediários e finais.

A característica especial é a de que, nesses controles, os agentes econômicos ficam


proibidos de fixar seus preços e tomar decisões produtivas, levando em consideração
apenas as influências econômicas normais do mercado.

Exemplo de Política de Rendas:

Preços mínimos:

O Governo garante ao produtor uma remuneração mínima de sua produção agrícola, visando o
fornecimento de alimentos, bem como a fixação do agricultor no campo.

Neste tópico, você foi apresentado ao panorama histórico e social que permitiu o sur-
gimento da macroeconomia, assim como aos principais instrumentos e objetivos dela.

A macroeconomia é o resultado da confrontação das ideias liberais, as quais previam


que o mercado tenderia por si só ao equilíbrio e que o Estado apenas existiria no mí-
nimo possível. Keynes confronta essas ideias e dá um novo significado ao papel do
Estado: de apenas coadjuvante, passa a ter papel principal para retomada da demanda
agregada e, por conseguinte, do crescimento econômico e Pleno Emprego.

Daremos seguimento ao nosso estudo com o tópico Contabilidade Social.

2. CONTABILIDADE SOCIAL
Para que a economia consiga atingir seus macro-objetivos, como discutido anterior-
mente, você precisa aprender a avaliar, isto é, identificar quais os instrumentos e aná-
lises existentes para verificar se uma economia está com bom nível de crescimento
econômico, inflação controlada, gerando empregos, dentre outros.

Quem pode nos auxiliar nesta tarefa é a Contabilidade Social. Segundo Paulani (2013,
p. 1), a Contabilidade Social:
[...] congrega instrumentos de mensuração capazes de aferir o movimento
da economia de um país num determinado período de tempo: quanto se
produziu, quanto se consumiu, quanto se investiu, quanto se vendeu para o
exterior, quanto se comprou do exterior.

Economia e mercados 75
A macroeconomia: da crise de 1929 à revolução keynesiana

Os instrumentos e análises são muitos e os conceitos os mais diversos e distintos possí-


veis: tudo depende da “pergunta”, ou melhor, da análise que você quer fazer da economia.

Assim como o médico solicita exames de imagens ou laboratoriais para dar o melhor
3
diagnóstico ao seu paciente, a macroeconomia nos disponibiliza uma infindável lista de
relatórios, abordagens e análises dos agregados econômicos e de seus movimentos,
com o intuito de analisar o movimento econômico da melhor maneira e alcançar o diag-
nóstico mais adequado para o problema econômico a ser estudado e analisado.

IMPORTANTE
Lembre-se: a macroeconomia tem como objetivo analisar as variáveis macroscópicas, sempre
analisando os denominados agregados econômicos, tais como o consumo agregado, o investi-
mento agregado, o produto nacional e a renda nacional, dentre outros.

2.1 A CRIAÇÃO DO PRODUTO – O QUE É PRODUZIDO TOTALMENTE


PELA ECONOMIA
Como bem demonstra Paulani (2013), a partir do final do século XVIII, questões acerca
do crescimento econômico e da repartição do produto social começaram a ser discuti-
das, tanto pela produção acadêmica do período como pela sociedade em geral. Afinal,
em tese, a economia deveria atingir o bem-estar da sociedade, isto é, promover o de-
senvolvimento econômico e social de toda a população.

Diante dos questionamentos sobre a economia e sua relação com a sociedade, foi
constatada a necessidade de haver formas e metodologias que permitissem o cálculo
do produto produzido, assim como se fizesse a previsão se tal riqueza estava sendo
apropriada por toda a população.

De acordo com Vasconcellos (2011), é a partir de um sistema contábil que o país mede
tudo o que foi produzido em determinado período de tempo, muito parecido com o total
produzido por uma empresa, por exemplo.

O nome dado para esta medida é Produto Nacional Bruto (PNB), que, ainda segundo
Vasconcellos (2011), é o agregado de tudo que é produzido em determinado país em
um período de tempo.

O Produto Nacional Bruto (PNB), assim como os outros agregados macroeconômicos


mensurados economicamente, é registrado através do princípio contábil também utiliza-
do pelas empresas privadas, conhecido como Método das Partidas Dobradas, isto é,
em cada lançamento contábil, o valor total lançado nas contas a débito deve ser sempre
igual ao total do valor lançado nas contas a crédito.

A produção econômica é bem complexa: uma economia produz uma série de produtos
e serviços muito distintos entre si (desde a produção de um grão agrícola até a produ-
ção de um sofisticado satélite espacial, por exemplo) e todos estes produtos e serviços
devem ser devidamente contabilizados para que a economia consiga, com a melhor
precisão possível, saber quanto ela produz em um determinado período.

76
No Brasil, para que a contabilização de todo o produto produzido seja registrada da
melhor maneira, existe o que denominamos de Sistema de Contas Nacionais, gerido
e mensurado pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
3
Vasconcellos (2011) analisa que os produtos e serviços gerados por uma economia são
produzidos através de um fluxo contínuo que se estabelece entre os chamados agentes
econômicos (governo, famílias e empresas).

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Um ponto muito bem assinalado por Paulani (2013) diz respeito ao papel da moeda:
através de uma economia monetizada, conseguimos equiparar os mais distintos e com-
plexos produtos produzidos por uma economia em determinado período de tempo.

A moeda, segundo Paulani (2013), consegue avaliar e equiparar tudo o que é produzido
na economia. Afinal, seja um serviço simples de capinação ou um conserto de uma son-
da petrolífera a milhares de metros na profundeza do oceano, tudo deve ser mensurado
monetariamente, isto é, ter o valor em dinheiro determinado.

Diante desta característica das economias monetizadas, onde tudo pode ser avaliado
através da moeda e do dinheiro, temos um importante princípio: o da identidade.

Ou seja, toda vez que você sai para comprar um produto num shopping ou mercado
próximo de sua residência, automaticamente, alguém tem que estar vendendo este pro-
duto. Ou seja, muito simplificadamente, podemos conceber que uma compra = venda.

Apesar desta ideia ser simples e muito intuitiva, Paulani (2013) afirma que este mesmo
princípio, o da identidade, é o que o Sistema de Contas Nacionais leva em consideração
no momento da mensuração do PNB, por exemplo.

Sendo assim, da mesma maneira que você não pode comprar algum produto que não
esteja à venda, a economia não pode produzir um produto que não gere um dispêndio,
uma despesa, assim como não gere automaticamente uma renda.

PRODUTO ≡ DESPESA ≡ RENDA

Quando se analisa os agregados econômicos, a noção é a mesma: é natural esperar


que a efetivação de um investimento seja decorrente da criação de uma poupança a
priori, e que uma poupança gere um investimento, por exemplo.

SAIBA MAIS
Agregados econômicos: Termo empregado para designar os resultados da mensuração da
atividade econômica considerada como um todo. A referência básica é a soma de todas as
transações, realizadas por todos os agentes, na totalidade dos mercados. É a dimensão total, o
todo, não as partes isoladamente consideradas. Ex.: PIB, renda nacional, inflação, dentre outros.

Nota-se que o princípio da identidade não é identificado pelo sinal de =, mas sim pelo ≡.
A identidade, como bem aponta Paulani (2013), não gera uma noção de causa ou efeito,
mas apenas uma existência de identidade.

Economia e mercados 77
A macroeconomia: da crise de 1929 à revolução keynesiana

Contudo, é a partir da identidade produto ≡ despesa ≡ renda que se deriva a ideia


intuitiva de Fluxo Circular da Renda.

3 2.2 ÓTICA DE PRODUTO, RENDA E DESPESA


Devido ao princípio de identidade entre produto ≡ despesa ≡ renda, é possível analisar
a produção de uma economia de três maneiras distintas, procurando entender, em cada
uma delas, como cada variável contribuiu para o desenvolvimento e formação de todo
o produto produzido no interior da economia:

Ótica do Produto:

Indica quanto cada setor ou etapa produtiva adicionou de valor ao produto; ótima maneira
para identificar qual setor econômico (primário, secundário ou terciário, por exemplo) adicio-
nou na etapa produtiva de um produto, ou o PIB inteiro de uma economia em determinado
período, por exemplo.

Ótica da Renda:

Indica como está sendo distribuída a renda através de salários, ou então, remuneração de capital,
por exemplo. Excelente para analisar quais fatores de produção que se apropriaram do que foi
produzido na economia naquele período e verificar como a renda de uma economia foi distribuída.

Ótica do Dispêndio ou da Despesa:

Mostra a soma dos valores de todos os bens e serviços que foram produzidos em um determina-
do período e a maneira pela qual foram consumidos. Através dessa ótica, podemos analisar, por
exemplo, quanto a economia investiu e quanto o Governo consumiu em determinado período.

Ficou um pouco confuso? Vamos discutir mais amplamente as três maneiras de se ana-
lisar a produção de uma economia. Para entendermos melhor como podemos analisar
a produção econômica de três maneiras distintas, vamos imaginar que exista um país
hipotético, o País A, com apenas três setores econômicos (primário, secundário e terci-
ário), que não estabeleça nenhuma relação com o mercado exterior, e que cada setor
possua apenas uma empresa.

Imagine que você queira analisar quanto o setor primário deste país produziu em de-
terminando período, ou então, quer entender como se comportou o investimento da
economia do País A no ano 01, na tentativa de analisar a expectativa do empresariado
para o médio e longo prazo, por exemplo.
Tabela 01. Produto do País A no ano 01

VALOR BRUTO VALOR ADICIONADO


SETOR ECONÔMICO
DA PRODUÇÃO NA ETAPA PRODUTIVA
Setor Primário – Produção de Cacau 100,00 100,00
Setor Secundário – Fábrica de Chocolate 150,00 50,00

78
Setor Terciário – Loja de Chocolate 200,00 50,00
Total do Produto 200,00 200,00

Fonte: Elaborado pelo autor (2016). 3

Observe a TAB. 1 nesta economia, o setor primário produz cacau, e todo ele é vendido
para o setor secundário que fabrica o chocolate, que, por fim, vende ao setor terciário,

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que o comercializa.

A maneira mais fácil e prática de verificar quanto foi produzido por esta economia é ve-
rificar o produto final (a venda do chocolate), no caso da economia do país no ano 01,
foi de $ 200,00. Sendo assim, se o desejo é perguntar quanto a economia produziu no
respectivo ano (o PIB, por exemplo), devemos responder, portanto, $ 200,00.

Isso acontece devido ao fato de que, até chegar o momento de se comercializar o cho-
colate, foi necessário que o setor primário produzisse o cacau e que o setor secundário
fabricasse o chocolate através da matéria-prima cacau.

Neste exemplo, não há sobras. Sendo assim, tudo o que foi produzido pelo setor primá-
rio e secundário desta economia não existe mais, já foi consumido, uma vez que tudo
foi comercializado através da loja de chocolates.

Observe agora a coluna “Valor Adicionado” da TAB. 1. Ela indica quanto cada setor adi-
cionou ao produto. No caso, o setor primário foi responsável por adicionar $ 100,00, o
setor secundário, assim como o setor terciário, adicionou $ 50,00, atingindo um produto
total nesta economia de $ 200,00.

Esta maneira de olhar a produção da economia é a ótica do produto, que nos indica
quanto cada setor ou etapa produtiva adicionou ao produto.

Contudo, às vezes, você, como tecnólogo, pode ter mais perguntas: quanto o País A
distribuiu de salários ou lucros, por exemplo? E aluguéis, será que a economia do país
A pagou alguma coisa?

De acordo com a disciplina Economia e Mercado, para se produzir qualquer bem na


economia, é necessário remunerar os fatores de produção (terra, capital, tecnologia,
lucro e trabalho).

Vamos retomar ao nosso exemplo: o País A no ano 01 produziu $ 200,00. Para chegar
a este valor, sabemos intuitivamente que o setor primário, para adicionar $ 100,00,
precisou pagar salários para os seus trabalhadores, bem como a fábrica foi obrigada a
distribuir seus lucros para os acionistas, e assim por diante.
Tabela 02. Renda do País A no ano 01

FATOR DE PRODUÇÃO VALORES ($)


Salários 80,00
Aluguéis 20,00

Economia e mercados 79
A macroeconomia: da crise de 1929 à revolução keynesiana

Royalties/Licenças de Uso 30,00


Juros 40,00
Lucros 30,00
3
TOTAL 200,00

Fonte: Elaborado pelo autor (2016).

Conforme demonstra a TAB. 2, o País A no ano 01 pagou em salários (somando todos


os setores econômicos) $ 80,00 e distribuiu de lucros $ 30,00, por exemplo.

Esta maneira de se analisar o que um país produziu em um determinado período de


tempo é denominada de ótica da renda. Com ela, podemos verificar como está sendo
distribuída a renda através de salários, ou então, remuneração de capital, por exemplo.

Por fim, temos a ótica do dispêndio ou da despesa. Neste modo de análise, podemos
verificar a soma dos valores de todos os bens e serviços que foram produzidos no perí-
odo e a maneira pela qual foram consumidos.

Nesta forma de análise, podemos verificar o que foi consumido pelas famílias e empre-
sas, ou então, o que esta economia gastou de investimento.

Voltando ao nosso exemplo do país A no ano 01: levando em consideração que este
país não possui relação com o mercado externo e o setor público é inexistente, observe
a tabela a seguir:
Tabela 02. Despesa do País A no ano 01

FATOR DE PRODUÇÃO VALORES ($)


(A) Consumo Total 150,00
Famílias 50,00
Empresas 100,00
(B) Investimento Total 50,00
Formação Bruta de Capital Fixo 50,00
Formação de Estoques -
TOTAL (A + B) 200,00

Fonte: Elaborada pelo autor (2016).

De acordo com a TAB. 3, o País A no ano 01 consumiu (famílias + empresas) $ 150,00


e investiu $ 50,00 através da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) e não gerou ne-
nhum tipo de estoque.

2.3 INVESTIMENTO E DEPRECIAÇÃO: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES


Antes de continuarmos com nosso estudo sobre os agregados macroeconômicos, é
necessário realizar algumas observações sobre o que a contabilidade social conceitua
como investimentos, seu papel no processo produtivo, bem como a depreciação.

80
SAIBA MAIS
Depreciação é “[...] a redução do valor ativo em consequência de desgaste pelo uso, obsoles-
cência tecnológica ou queda no preço de mercado — geralmente de máquinas, equipamentos e 3
edificações [...]” (SANDRONI, 1999, p. 165).

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De acordo com Paulani (2013), investimento é tudo aquilo que é produzido e não é
consumido num dado período de tempo. Ou seja, tudo aquilo que a economia produziu
e será, em tese, consumido no período seguinte, ou melhor dizendo, no futuro.

A mesma autora define o investimento em dois tipos:

Variação de estoques:

Produtos e bens que o consumo se dará no tempo seguinte, futuro, de uma única vez.

Formação bruta de capital fixo:

Bens que não desaparecem após o consumo realizado uma única vez (única utilização) e possi-
bilitam a produção ao longo de um determinado período de tempo. Ex.: bens de capital em geral:
máquinas, equipamentos, ferramentas etc.

Contudo, as empresas, em tese, realizam investimentos continuamente para poder


manter suas produções. Realizam reposição de máquinas e equipamentos, manuten-
ção de seus prédios, dentre outros.

Os investimentos, bens de capital em sua maioria, são produtos que demandam uma
quantia considerável (são caros na sua grande maioria) e devem ser muito bem plane-
jados: não é razoável que a empresa substitua sua linha de montagem mensalmente ou
destrua seus prédios civis anualmente, por exemplo.

Ou seja, os bens de capital, investimentos, são consumidos no futuro e isso nos gera
um problema: um automóvel, por exemplo, após 1 mês de uso, por mais que tenha sido
muito pouco usado, não tem o mesmo valor de um carro novo. Por quê? Porque neste
curto espaço de tempo, ele foi depreciado.

A depreciação acontece em todos os setores econômicos e deve ser considerada após


mensurar o total produzido naquele país em um determinado período.

É necessário considerar o total que esta economia perdeu com seus bens de capital
(máquinas e equipamentos). Afinal de contas, não podemos esperar que uma máquina de
5 anos de uso tenha a mesma produtividade de uma nova, ou então, que um prédio de 10
anos de construção apresente o mesmo custo de manutenção que um recém edificado.

Deste modo, obtemos o Produto Líquido, isto é, em um determinado período, é neces-


sário deduzir do Valor Bruto da Produção a parcela destinada à reposição dos bens de
capital desgastados no respectivo período.

Economia e mercados 81
A macroeconomia: da crise de 1929 à revolução keynesiana

Voltemos ao nosso exemplo hipotético: a economia do País A no ano 01 produziu um PIB de


$ 200,00. Imagine que a mesma economia apresentou as seguintes depreciações por setor:

3 Tabela 03. Depreciação do País A no ano 01

VALOR BRUTO
SETOR ECONÔMICO PRODUÇÃO (VBP) DEPRECIAÇÃO
$
Setor Primário – Produção de Cacau 100,00 20,00
Setor Secundário – Fábrica de Chocolate 150,00 10,00
Setor Terciário – Loja de Chocolate 200,00 5,00
Total do Produto 450,00 35,00

Fonte: Elaborado pelo autor (2016).

Ao deduzir a depreciação acumulada no ano 01 de $ 35,00 com o total de depreciação


registrada no período, obtemos o Produto Líquido, isto é, o total que aquela economia
produziu num determinado período de tempo, já deduzindo o total de máquinas e equi-
pamentos (bens de capital) que foram substituídos no respectivo período.

Produto Líquido = Produto - Depreciação

2.4 IDENTIDADE CONTÁBIL: POUPANÇA ≡ INVESTIMENTO


Você pode estar se perguntando: se o princípio das partidas dobradas sugere
que para comprar é necessário haver alguém que queira vender, como fica a
questão do investimento?

Vamos lá: como você viu anteriormente, investimento é concebido por tudo aquilo que
produzimos e não foi consumido num determinado período de tempo. Ou seja, o Inves-
timento Total realizado em um país em determinado período, por exemplo.

INVESTIMENTO (I) = Produto Nacional (PN) - Consumo (C)

Já a Poupança, segundo Sandroni (1999, p. 485), é “[...] parte da renda nacional ou


individual que não é utilizada em despesas [...]”. Ou seja:

POUPANÇA (S) = Renda Nacional (RN) - Consumo (C)

Como já vimos, o total produzido pela economia pode ser analisado pela ótica do pro-
duto, renda e despesa (produto ≡ despesa ≡ renda), temos que Renda Nacional =
Produto Nacional. Logo:

PN – C = RN – C

PN = RN

Sendo assim, temos:

82
INVESTIMENTO = POUPANÇA

Contudo, Vasconcellos (2011) alerta que esta ideia de Investimento = Poupança é uma
notação apenas contábil. O autor comenta que o investimento de uma economia pode 3
ser financiado por poupanças passadas, empréstimos exteriores etc., assim como a pou-
pança do período pode ficar depositada no banco, sem ser necessariamente investida.

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2.5 O SETOR PÚBLICO E SEUS AGREGADOS
O Setor Público é essencial para manutenção da ordem e do desenvolvimento social.
Disponibiliza para seus cidadãos serviços públicos, como educação, saúde e cultura,
segurança, manutenção dos bens públicos, dentre outros.

O Setor Público também é o que detém o maior número de funcionários (servidores pú-
blicos), realiza os maiores investimentos (construção de estradas, portos, metrô, esco-
las, dentre outros) e sua despesa (consumo) é muito relevante para o desenvolvimento
e desempenho de toda economia.

Neste momento de nossa disciplina, não vamos analisar se o Governo gasta muito ou
não, esta análise será feita posteriormente, por ora, vamos analisar como devemos
mensurar na Contabilidade Social e entender seus principais indicadores (agregados).

Segundo Vasconcellos (2011), devemos analisar o Governo através de suas Re-


ceitas e Despesas.

Vejamos:

Receitas Públicas: obtidas através da cobrança de impostos, contribuições, taxas,


dentre outros. Visa financiar as despesas públicas.

Gastos do Governo: despesa para manutenção dos custeios dos órgãos públicos
(despesa com salário de professores, manutenção de hospitais, dentre outros), despe-
sa das empresas públicas ou de economia mista (Petrobras, Eletrobras, por exemplo) e
gasto com transferências e subsídios (bolsas de estudo, Bolsa Família etc.).

Pela ótica da despesa, inserindo agora o Setor Público, podemos mensurar o produto
de toda a economia por meio da seguinte equação:

Y = P = C + I + G + XL

Onde:

Y = Renda
P = Produto
C = Consumo das famílias e empresas
I = Investimento
G = Gastos do Governo
XL = Exportações líquidas (exportações - importações)

Economia e mercados 83
A macroeconomia: da crise de 1929 à revolução keynesiana

2.6 AGREGADOS DO SETOR PÚBLICO


O Setor Público possui alguns agregados (indicadores) que devem ser considerados
quando analisamos seu papel em determinada economia (responder como o setor pú-
3 blico se comporta em certo país, por exemplo).

Não vamos, neste momento, analisar profundamente estes indicadores: você deve ape-
nas entender tais conceitos e reflexos na sua vida profissional e particular.

Conforme anteriormente dito, o Governo, para financiar seus gastos, bem como conce-
der subsídios e transferências, lança mão dos tributos. Sendo assim, temos o que de-
nominamos de Renda Pessoal Disponível (RPD), isto é, de acordo com Vasconcellos
(2011), mensurar o quanto do produto e renda produzido e gerado por um país fica em
poder das famílias.

Este conceito é importante porque mede quanto fica disponível para as famílias con-
sumirem: quanto maior os impostos e taxas cobrados pelo Governo, menos recursos
ficam disponíveis para consumir e vice-versa.

Este conceito fica fácil de entender quando recebemos nosso salário: o holerite, do-
cumento que registra o salário bruto com os respectivos descontos, traz relacionados,
além de quanto você ganha, os descontos referentes às contribuições previdenciárias
(INSS) e ao Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF). Quando é o caso, o holerite mos-
tra também outras contribuições confederativas e descontos diversos de sua empresa
(vale transporte, ticket refeição, dentre outros). Após contabilizar todos os descontos,
chega-se ao salário líquido, isto é, quanto de fato é depositado em sua conta salário,
que você usará para comprar as mercadorias de sua necessidade e pagar suas contas,
dentre outros usos de sua escolha.

Agora imagine que o Governo decida acabar com o IRPF. O que vai acontecer com seu
salário líquido? Vai aumentar! E por quê? Porque não vai ser mais descontada a parcela
correspondente a este imposto, permitindo assim que seu salário líquido fique maior.
O recurso que serviria para pagar imposto poderia ser utilizado para consumo, ou seja,
haveria mais dinheiro na sua conta, aumentando assim sua RPD.

É assim que funciona na economia: quanto menos impostos, mais renda ficará disponível para
consumo. E o contrário também é verdade: quanto mais impostos são cobrados, menos recur-
sos as famílias terão para consumir.

Lembre-se que a RPD leva em consideração também os subsídios e transferências de


renda destinadas às famílias (bolsas de estudos e programas sociais, como o Bolsa
Família, por exemplo).

Outro indicador importante é a Carga Tributária Líquida (CTL), que mede o peso dos tribu-
tos descontado dos subsídios e transferências governamentais realizadas ao setor privado.

84
2.7 O SETOR EXTERNO
Dificilmente, um país produz tudo o que precisa: sempre há a necessidade de se impor-
tar algum insumo para produção interna (petróleo, fertilizantes etc.) e também máquinas
e equipamentos para aumento de sua capacidade produtiva, por exemplo. 3

Além da necessidade de importar, os países também exportam, isto é, vendem suas

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mercadorias para outras economias externas, sendo o mercado externo uma grande
fonte de receitas e lucros, gerando emprego e renda.

Sendo assim, a demanda e a oferta de uma economia não se resumem apenas ao mer-
cado interno (doméstico), mas também ao externo: as relações econômicas cada vez
mais estão voltadas ao movimento do capital externo, além das fronteiras nacionais, o
que obriga que cada vez mais as economias se voltem ao mercado exterior.

Por ora, não vamos entrar em detalhes sobre o papel do Setor Externo para o desenvolvi-
mento econômico, mas entender como o país registra suas relações com o resto do mundo.

O mais importante instrumento que realiza o registro entre as relações econômicas in-
ternacionais é o Balanço de Pagamentos (BP). Segundo Paulani (2013, p. 173):
No balanço de pagamentos são registradas todas as transações econômicas que
o país realiza com o resto do mundo, em um determinado período de tempo,
permitindo avaliar sua situação econômica em relação às transações internacio-
nais. [...] Podemos avaliar quantitativamente, ou qualitativamente, as diversas
transações que o país mantém com outros países, como a compra ou venda de
mercadorias, a remessa de lucros para o exterior por parte de empresas estran-
geiras instaladas no país, a atividade de turismo, os empréstimos internacionais,
os fluxos financeiros e os movimentos de capitais especulativos dentre outros.

Tabela 04. Estrutura balanço de pagamentos

A. BALANÇA COMERCIAL
` Importações FOB (free on board) (débito);

` Exportações FOB (crédito).

B. BALANÇO DE SERVIÇOS E RENDAS (SALDOS DE CONTAS: PODEM APRESENTAR


TANTO DÉBITOS COMO CRÉDITOS)
` Viagens internacionais (turismo, negócios);

` Transportes (fretes);

` Seguros;

` Juros;

` Lucros e dividendos (inclusive lucros reinvestidos pelas multinacionais instaladas no país);

` Royalties e licenças;

` Serviços governamentais (embaixadas, consulados, representações no exterior);

` Outros serviços.

Economia e mercados 85
A macroeconomia: da crise de 1929 à revolução keynesiana

C. TRANSFERÊNCIAS UNILATERAIS CORRENTES


D. BALANÇO DE TRANSAÇÕES CORRENTES (OU SALDO EM CONTA COR-
RENTE DO BALANÇO DE PAGAMENTOS) (RESULTADO LÍQUIDO DE A + B + C)
3
E.CONTA CAPITAL E FINANCEIRA
` Investimento direto líquido (instalação e participação no capital de firmas estrangeiras no país);

` Reinvestimentos (reinvestimentos de uma firma estrangeira já instalada no país);

` Financiamentos (financiamentos de bancos oficiais, como o Banco Mundial, para promover o cres-
cimento);

` Empréstimos (para promover o comércio exterior);

` Amortizações de empréstimos e financiamentos;

` Empréstimos de Regularização do FMI (para resolver problemas de liquidez);

` Capitais de curto prazo (aplicações no mercado financeiro);


F. ERROS E OMISSÕES
G. SALDO DO BALANÇO DE PAGAMENTOS (RESULTADO LÍQUIDO DE D + E +
F)

Fonte: Elaborado pelo autor (2016).

Todo registro realizado no BP é em dólar americano (US$), por ser a moeda estrangeira
mais utilizada e aceita como meio de pagamento em todo o mundo.

Conforme demonstra o TAB. 5, a estrutura do BP possui as seguintes contas: Conta


Corrente, Capital e Financeira.

Conta corrente:

Registra toda transação comercial de bens e serviços, os pagamentos e os recebimentos de


rendas de capital e trabalho e transferências unilaterais entre os países e o resto do mundo.

Conta capital e financeira:

Registra as transferências de ativos reais e ativos financeiros ou ativos intangíveis; traz o registro
dos fluxos de capitais entre o país e o resto do mundo.

Omissões e erros:

Conta que traz os ajustes contábeis em relação a erros e omissões. A conta corrente possui
basicamente 4 subcontas:
Balança comercial: mensura a compra de mercadorias (importações – débito) e a venda de
mercadorias (exportações – crédito). Não leva em conta o valor dos fretes e seguros. As merca-
dorias são registradas em FOB – Free on Board.

86
Balanço de serviços e rendas: registra toda compra e venda de serviços entre o país e o resto
do mundo.
Transferências unilaterais correntes: registram as doações interpaíses. 3
Balanço das transações correntes: corresponde ao saldo líquido entre os grupos 1 + 2 + 3.
Se positivo, indica que enviamos mais bens e serviços para o exterior, do que recebemos. Se o

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resultado for negativo, demonstra que o país aumentou seu endividamento externo, em termos
financeiros, decorrente da aquisição de bens e serviços oriundos do exterior.

Segundo Paulani (2013), a conta corrente possibilita importantes análises econômicas


para a economia de um país. Por exemplo, se o país envia mais recursos do que recebe,
estes relacionados com as transações das quatro contas da conta corrente, temos um
déficit em transações correntes. Evidentemente, o contrário representa um superávit.

Já conta capital e financeira mensura todo movimento capital e financeiro entre a eco-
nomia e o resto do mundo, tais como aquisição de empréstimos, financiamentos, inves-
timento direto externo, dentre outros.

Ficou um pouco confuso? O BP é um tanto complexo, mas, por ora, cabe a você en-
tender o que ele representa. Caso o saldo do BP seja negativo, isso indica que o país
naquele período perdeu divisas (moeda estrangeira). O contrário também é verdade:
caso o país apresente saldo positivo no BP, significa que o país recebeu mais divisas
que enviou ao exterior.

CONCLUSÃO
Nesta Unidade, você foi apresentado ao panorama histórico e social que permitiu o sur-
gimento da macroeconomia, assim como aos principais instrumentos e objetivos dela.

A macroeconomia é o resultado da confrontação das ideias liberais, as quais previam


que o mercado tenderia por si só ao equilíbrio e que o Estado apenas existiria no mí-
nimo possível. Keynes confronta essas ideias e dá um novo significado ao papel do
Estado: de apenas coadjuvante, passa a ter papel principal para retomada da demanda
agregada e, por conseguinte, do crescimento econômico e Pleno Emprego.

Na Unidade discutimos ainda a importância de se mensurar o produto total da econo-


mia, como também os conceitos macroeconômicos importantes, tais como investimento
e depreciação, renda disponível, dentre outros. Analisamos como se mensura as rela-
ções econômicas entre um país e o resto do mundo.

Economia e mercados 87
A macroeconomia: da crise de 1929 à revolução keynesiana

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

HOBSBAWN, Eric. A era dos extremos. São Paulo: Cia das Letras, 2008. HUNT, E. K. História do pensamento
3 econômico. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.

KEYNES, John Maynard. A teoria geral do emprego, do juro e da moeda. São Paulo: Nova Cultural, 1996.

MANKIW, N. Gregory. Macroeconomia. 8. ed. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2014.

PAULANI, Leda Maria. A nova contabilidade social: uma introdução à macroeconomia. 4. ed. São Paulo:
Saraiva ,2013.

PINHO, Diva Benevides (Org.). Manual de Economia: Equipe de professores da USP. 6. ed. São Paulo:
Saraiva, 2011.

SANDRONI, Paulo. Novíssimo dicionário de Economia. São Paulo: Best Seller, 1999.

VASCONCELLOS, Marco Antonio S. Economia: micro e macro. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2011.

88
Economia e mercados
89
3

Universidade São Francisco


Moeda e mercado financeiro: Inflação e emprego, estado e políticas macroeconômicasUNIDADE 4

MOEDA E MERCADO
FINANCEIRO: INFLAÇÃO E
4 EMPREGO, ESTADO E POLÍTICAS
MACROECONÔMICAS

INTRODUÇÃO
A moeda faz parte de vários aspectos da sua vida: seja para adquirir uma mercadoria
e serviço, medir o valor de uma apólice de seguro, ou mesmo para tentar comparar o
valor de uma mercadoria em relação a outra. A moeda é uma maneira muito eficaz de
se quantificar riquezas e transacionar mercadorias.

Nesta Unidade, iremos estudar o que é moeda, explorar algumas de suas característi-
cas importantes, assim como entender alguns aspectos básicos, mas de suma impor-
tância, que regulamentam e estruturam o Mercado Monetário Brasileiro.

Não só isso! Exploraremos ainda o conceito da inflação, do aumento generalizados dos


preços, na economia e seu impacto no bem-estar econômico. Discutiremos seus dife-
rentes tipos e causas, bem como suas particularidades e consequências.

A Unidade analisa também questões acerca do mercado de trabalho, apresentando


seus principais conceitos e indicadores. Por fim, a Unidade trata das políticas macro-
econômicas implementadas pelo Governo, além de pensar e repensar o real papel do
Poder Público na economia nos dias de hoje.

O tema é vasto, mas também muito importante para você entender o ambiente e con-
juntura econômica.

1. MOEDA E MERCADO FINANCEIRO


A moeda faz parte de vários aspectos da sua vida: seja para adquirir uma mercadoria
e serviço, medir o valor de uma apólice de seguro, ou mesmo para tentar comparar o
valor de uma mercadoria em relação a outra. A moeda é uma maneira muito eficaz de
se quantificar riquezas e transacionar mercadorias.

Neste primeiro tópico, iremos estudar o que é moeda, explorar algumas de suas carac-
terísticas importantes, assim como entender alguns aspectos básicos, mas de suma
importância, que regulamentam e estruturam o Mercado Monetário Brasileiro.

1.1 A MOEDA
A necessidade de se estabelecer meios mais eficientes para facilitar a troca é muito an-
tiga e cada vez mais necessária entre os homens. Na Antiguidade, as diferentes socie-

90
dades escolheram várias maneiras de estabelecer trocas entre si: há relatos que, entre
9.000 e 6.000 a.C., existiam civilizações que utilizavam ovelhas, gado e até camelos
para efetivarem suas trocas.
4
Talvez a mercadoria mais famosa utilizada para troca seja o sal: o sal marinho sempre
foi muito requisitado pelas civilizações, seja pela sua característica mais geral de servir
como tempero para alimentação ou pela sua propriedade de conservar alimentos.

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SAIBA MAIS
A História da Moeda - Não deixe de pesquisar sobre a história da moeda tanto no Brasil quanto
no mundo! Conheça a Casa da Moeda, instituição pública responsável pela fabricação da
moeda no Brasil.

Com o passar do tempo, as civilizações passaram a realizar suas trocas com o que
conhecemos hoje como moeda, isto é, geralmente metais (na sua grande maioria pre-
ciosos), de fácil aceitação pelas sociedades em geral e de grande durabilidade.

As moedas eram produzidas (cunhadas) através de metais nobres como ouro e prata
e, com o passar do tempo, passaram a ser produzidas por metais de menor valor, até
chegar no papel-moeda, as cédulas que conhecemos hoje, impressas pelos Bancos
Centrais dos mais distintos países.

Cada país e/ou sociedade possui uma moeda utilizada para efetivação das trocas. En-
tretanto, seja qual for a moeda em questão, ela deve possuir as seguintes funções:

Meio de troca:
As moedas devem servir para facilitar as trocas no interior da sociedade.

Unidade de conta:

Capacidade de a moeda servir para determinar o valor das mercadorias e serviços. Exemplo:
quanto custa o quadro da Monalisa, de Leonardo da Vinci? E a apólice do seu seguro de vida?
Tudo, praticamente, tem um valor monetário, isto é, capacidade de determinada mercadoria ou
serviço ser mensurada em uma determinada moeda.

Reserva de valor:

Atributo da moeda em armazenar poder aquisitivo no futuro. Exemplo: você poupa um recurso
cada mês para adquirir um automóvel ou casa no futuro, por exemplo.

Seja a moeda que for, em tese, ela deve possuir as três funções anteriormente descritas
para ter sua funcionalidade plena. Nem sempre as moedas possuem estas caracterís-
ticas ao mesmo tempo.

Contudo, além das três funções acima destacadas, a moeda é um ativo de maior liqui-
dez no mercado. Por liquidez da moeda, entende-se a capacidade desse ativo em ser
trocado por outra mercadoria.

Economia e mercados 91
Moeda e mercado financeiro: Inflação e emprego, estado e políticas macroeconômicas

O ouro, a prata e metais preciosos também são ativos que são facilmente trocados por
moeda ou outras mercadorias. Contudo, assim como qualquer ativo, a moeda precisa
possuir liquidez.
4
1.2 OS BANCOS E A INTERMEDIAÇÃO FINANCEIRA
Os bancos surgiram com a finalidade de garantir a segurança dos detentores das mo-
edas. Por elas serem fáceis de carregar e possuir valor, a segurança sempre foi peça-
-chave para efetivação das trocas comerciais.

É muito mais seguro para um comerciante guardar parte de suas moedas em uma instituição
que garanta sua segurança, como no caso dos bancos, por exemplo, do que guardar
consigo mesmo grande quantidade de moeda e ficar mais suscetível a roubos e furtos.

Com o passar do tempo, os bancos foram adquirindo um papel muito mais complexo e
importante do que simplesmente “guardar moeda”: passaram a ser meios seguros e de
grande confiabilidade para servir como meio de pagamento.

Por exemplo, para realização de pagamentos, basta apenas emitir uma ordem de pa-
gamento ou transferência de valores entre uma conta corrente e outra. Seja através
da emissão de um cheque ou, no caso dos dias atuais, de uma autorização de débito,
a transação é realizada entre o consumidor e o comerciante de maneira segurança e
eficaz, sem nenhuma das partes precisar recorrer, pessoal e diretamente, aos bancos.
Figura 01. Fluxo monetário

$$$ Empréstimos e
Pessoas físicas financiamentos Pessoas físicas
Instituições
e jurídicas e jurídicas
financeiras
Superavitárias Produtos de Deficitárias
investimentos $$$

Fonte: Elaborada pelo autor (2016).

Além da questão de segurança e da contribuição para facilitar e promover meios de


pagamentos confiáveis e sólidos, talvez o papel mais virtuoso dos bancos seja atuar
como intermediário financeiro.

Em tese, os bancos atuam como intermediários entre os poupadores (aqueles que não
utilizam totalmente seus recursos) e os deficitários (aquelas pessoas físicas ou jurídicas
que necessitam de recursos de outrem para financiar ou fechar suas contas, por exemplo).

SAIBA MAIS
Spread Bancário - Spread bancário é a diferença entre os juros que o banco cobra ao emprestar
e a taxa que ele mesmo paga ao captar dinheiro. O Brasil é famoso por ter um dos maiores
spreads bancários do mundo.
Um pouco de atenção: não apenas os bancos atuam como intermediários financeiros, outras
estruturas do Sistema Financeiro também atuam na intermediação entre poupares e deficitários.

92
Atente-se ao fato de que nem toda dívida pode ser tida como ruim, as empresas e
até mesmo as pessoas físicas necessitam de recursos para financiar seus gastos. Por
exemplo, a grande maioria das pessoas recorre ao Sistema Financeiro para financiar a
casa própria, assim como uma pessoa jurídica (empresa) pode demandar crédito para 4
pagar parte de seus fornecedores ou aumentar sua produção por meio da compra de
novas máquinas e equipamentos.

Universidade São Francisco


Um Sistema Financeiro, quanto mais desenvolvido e eficiente, consegue colocar à dis-
posição daquele que desejar investir/consumir os recursos daqueles que, por algum
motivo, não querem consumir naquele momento e optam por consumir no futuro.

Assim, tanto o investidor quanto o poupador ganham, visto que o primeiro consegue re-
cursos suficientes para realizar seus investimentos e consumo, e o segundo consegue
que seu recurso (que iria ficar “parado”) lhe renda juros.

Concebemos a diferença da taxa que o banco paga ao poupador e cobra do tomador


do crédito como spread bancário, que, em suma, nada mais é do que a remuneração
do banco por este realizar a intermediação financeira.

Imagine o problema: se não houvesse um Sistema Financeiro eficiente, o recurso daquele


que poupa ficaria parado, sem uso e sem render os juros da poupança; em contrapartida,
a empresa da formatura não teria recursos suficientes para realizar a formatura a tempo.

1.3 O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL


Figura 02. Sistema Financeiro Nacional O Sistema Financeiro Na-
cional (SFN) é um conjunto
Fonte: BACEN (2016).

de instituições responsáveis
pela gestão da Política Mo-
netária Nacional. Nada mais
é do que a maneira pela qual
as instituições brasileiras se
organizam para efetivar a in-
termediação financeira, como
mencionado anteriormente.

No Brasil, o SFN é dividido


de acordo com o mercado fi-
nanceiro que cada um atua, e
cada um destes mercados tem
para sua regulação e funcio-
namento órgãos normativos,
supervisores e operadores.

Observe a FIG. 2, que mostra


a estrutura do SFN disponibi-
lizada no website do Banco
Central do Brasil (BACEN). Como bem demonstrado na FIG. 2, os mercados do SFN são:
(I) Moeda, Crédito, Capitais e Câmbio; (II) Seguros Privados; e (III) Previdência Fechada.

Economia e mercados 93
Moeda e mercado financeiro: Inflação e emprego, estado e políticas macroeconômicas

O mercado (I), Moeda, Crédito, Capitais e Câmbio, é o principal e mais complexo mer-
cado do SFN. Ele é responsável pelos seguintes mercados:

4 Mercado monetário:
Responsável pelo fornecimento da moeda na sua forma de papel e escriturária, aquela disponível
(registrada) na conta corrente dos bancos.

Mercado de crédito:

Responsável pela disponibilização de recursos financeiros voltados ao financiamento do


consumo de pessoas jurídicas e físicas.

Mercado de capitais:
Sistema que permite que empresas captem recursos de terceiros, compartilhando seus ganhos
e também riscos.

Mercado de câmbio:
Sistema responsável pela compra e venda de moeda estrangeira.

Como demonstra a FIG. 2, o SFN também é responsável pelo ramo de Seguros Pri-
vados, instituições financeiras para quem busca a aquisição de seguros, previdência
complementar e contratos de capitalização, e também pelo ramo de Previdência Fecha-
da, voltado às regras e gestão dos chamados Fundos de Pensão privados, voltados a
funcionários e servidores de empresas específicas.

Este trabalho explorará apenas o ramo (I) Moeda, Crédito, Capitais e Câmbio, pois é o
principal e mais complexo do SFN (divido entre os órgãos normativos e supervisores).

O órgão normativo e principal estrutura do SFN é o Conselho Monetário Nacional


(CMN), órgão superior do Sistema Financeiro Nacional e que tem a responsabilidade
de formular a política da moeda e do crédito, objetivando a estabilidade da moeda e o
desenvolvimento econômico e social do País.

Banco Central (BACEN) e Mercado Monetário, Cambial e de Crédito


O SFN conta, além dos órgãos normativos, também com os supervisores, que, em
suma, têm as funções de fiscalizar e gerir seus respectivos mercados.

Entre os supervisores, temos o BACEN (Banco Central do Brasil), que tem como suas
principais funções, de acordo com Troster (2011):

Banco dos bancos: os bancos comerciais depositam recursos no BACEN, que também tem
a função de transferir recursos de um banco para o outro, para compensação dos pagamentos
interbancários.
Banco do Governo: grande parte dos recursos financeiros públicos são depositados no
BACEN. Ele também é responsável por captar recursos através dos Títulos Públicos; é o agente
financeiro do governo.

94
Executor da política monetária: responsável pelo controle da oferta de moeda através dos
instrumentos da política monetária.
Executor da política cambial: depositário das reservas cambiais de moeda estrangeira.
4

Dentre os agentes operativos, supervisionados pelo BACEN, existem as instituições


bancárias e não bancárias, sendo que ambas têm a função principal de atuar na inter-

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mediação financeira.

A diferença entre as instituições bancárias e não bancárias é que as primeiras podem


receber depósitos à vista e podem realizar o multiplicador bancário. Já as não ban-
cárias não podem receber depósitos à vista e operam com ativos não monetários, tais
como ações, CDB (Certificado de Depósito Bancário), títulos etc. Veja alguns exemplos:

Instituições bancárias (podem captar depósitos à vista e realizar o


multiplicador bancário):
` Bancos comerciais: responsáveis pela captação dos depósitos à vista, têm como tarefa
atuar no mercado de crédito de curto prazo, com base na captação dos depósitos à vista.

` Bancos múltiplos: bem como seu nome diz, realizam operações de um banco comercial,
de investimento e/ou de desenvolvimento, de crédito imobiliário, de arrendamento mer-
cantil e de crédito, financiamento e investimento. O banco múltiplo deve ser constituído
por, no mínimo, duas carteiras, sendo uma delas, obrigatoriamente, comercial ou de in-
vestimento, e ser organizado sob a forma de sociedade anônima.

Não bancárias (não podem receber depósitos à vista e nem realizar o


multiplicador bancário).
` Financeiras: atuam no financiamento de crédito ao consumidor direto (pessoa física) e
pequenas e médias empresas. Suas fontes de financiamento são a venda de Letras de
Câmbio (LTN) e empréstimos.

` Bancos de investimento: sua função é ofertar de médio a longo prazo a aquisição de


capital fixo ou de giro de empresas. Suas fontes de recursos são a emissão de CDBs e
recursos externos.

` Sociedades de crédito imobiliários: têm como objetivo disponibilizar recursos financeiros


diretamente ao tomador do crédito imobiliário, ou então para os empresários do ramo. Suas
fontes de recursos são as Letras Imobiliárias, depósitos de poupança, repasses da Caixa
Econômica Federal (CEF) e empréstimos externos.

` Bancos de desenvolvimento: exclusivamente estatais, financiam operações especiais de


fomento pelo repasse de fundos fiscais e de recursos captados no exterior.

` Sociedades corretoras e distribuidoras: instituições auxiliares do SFN que operam com a


compra, venda de derivativos e títulos e valores mobiliários.

O Multiplicador Bancário
Acredito que você possa estar com dúvida sobre o que é afinal este “multiplicador bancário”.
Pois bem, vamos lá: é a capacidade dos bancos comerciais em criar moeda escritural.

Economia e mercados 95
Moeda e mercado financeiro: Inflação e emprego, estado e políticas macroeconômicas

Ficou com mais dúvidas? Vamos explicar melhor: com o desenvolvimento das instituições
bancárias, e pelo anseio de “mais segurança” na movimentação dos recursos financeiros e
rapidez nas transações comerciais, a cada dia mais os agentes econômicos não precisam
4 estar com a moeda em espécie em mãos para comprar um bem ou adquirir um serviço.

Cada vez menos você precisa ter dinheiro em mãos para realizar suas transações.
Afinal de contas, realizar os pagamentos através de uma rede bancária é mais seguro
e muito mais eficiente.

Pois bem, o que o banco comercial faz com seu salário quando seu patrão deposita?
Registra em seu nome aquele montante devido e destina parte daquele recurso a ou-
tros agentes, que naquele momento estão deficitários, fazendo assim com que o banco
comercial realize seu papel de intermediário financeiro.

Vamos dar um exemplo para facilitar a compreensão: imagine que você ganha mensal-
mente um salário de $ 100 e seu patrão o deposita no Banco A.
Figura 03. Multiplicador bancário

Banco A Banco B Banco C


DEPÓSITO DEPÓSITO DEPÓSITO
$ 100 $ 90 $ 81

RESERVAS RESERVAS RESERVAS


$ 10 $9 $ 8,10

DISPONÍVEL PARA DISPONÍVEL PARA DISPONÍVEL PARA


EMPRÉSTIMOS EMPRÉSTIMOS EMPRÉSTIMOS
$ 90 $ 81 $ 72,90
Fonte: Elaborada pelo autor (2016).

O Banco A, no momento em que o depósito é realizado, registra esse valor em seu nome,
vinculado à sua conta corrente, e reserva 10% do montante para as Reservas Compulsó-
rias que o Banco Central exige e coloca à disposição de empréstimos um total de $ 90.

O Banco A emprestou esse montante para uma pessoa física que estava querendo comprar
um automóvel. Após tomar o empréstimo no Banco A, fez-se uma transferência eletrônica
para o Banco B, banco no qual a concessionária tem sua conta corrente pessoa jurídica.

O Banco B registra os $ 90 em nome da concessionária, reserva os mesmos 10% que


o Banco Central exige naquele momento de Reservas Compulsórias e, por sua vez,
destina um montante de $ 81 para empréstimo de seus clientes.

Por fim, o Banco B empresta essa quantia para uma outra pessoa física que tomou
crédito para financiar sua casa própria. Esta pessoa, ao receber essa quantia pelo em-
préstimo, transfere eletronicamente o montante para a conta corrente do vendedor do
imóvel, que é o Banco C, que inicia o mesmo processo realizado pelos demais bancos.

96
Percebeu como a moeda se “multiplicou”? Um depósito de seu salário foi transferi-
do para financiar uma série de bens e movimentou (e muito) a economia. É dessa
maneira que os bancos comerciais têm suas principais fontes para realização dos
empréstimos e financiamentos. 4
A Política Monetária

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Segundo Troster (2011, p. 374), “a política monetária se refere aos processos de
oferta de moeda, aos instrumentos utilizados e aos mecanismos de transmissão de
seus efeitos”.

Ficou um pouco confuso? Vamos tentar melhorar a explicação: a política monetária é


composta por instrumentos que a autoridade monetária (no caso brasileiro, o BACEN)
tem a sua disposição para ampliar ou reduzir a oferta de moeda (que podemos tam-
bém entender como meios de pagamento) dentro de uma economia.

Quando se amplia os meios de pagamento, entendemos que aquela política monetária


é expansionista. Já o contrário, quando se restringe os meios de pagamento, entende-
mos que aquele tipo de política monetária é reducionista.

O que a economia faz com mais oferta de moeda a sua disposição? Gasta! E como?
Na aquisição de bens e serviços, que, por sua vez, precisam ser produzidos nessa
economia, gerando emprego e renda e criando, assim, um efeito virtuoso no interior
dessa economia.

E quando a oferta de moeda reduz? A economia não gasta! Ou melhor, com a oferta de
moeda reduzida, o custo para aquisição de recursos financeiros aumenta (aumento da taxa
de juros de um empréstimo, por exemplo), o que faz com que o consumo, em tese, diminua.

Diminuindo a demanda por bens e serviços, provoca-se a queda da demanda dessa


economia e, sem demanda, o trabalho e o investimento do lado produtivo fica inviável,
gerando perda nos postos de trabalho e, por consequência, queda na renda.

Ufa! Viu como a oferta de moeda influencia no lado produtivo da economia e ela é es-
sencial para que uma economia consiga se desenvolver e gerar emprego e renda para
sua população?

O governo tem à sua disposição uma série de instrumentos para regular a oferta de
moeda da economia. Vamos verificar um pouco destes instrumentos e consequências
esperadas a seguir.

A Emissão de Moeda
O BACEN é o único órgão que pode imprimir moeda em território nacional. Caso al-
guma nota ou moeda circule na economia e não tenha sido produzida pela Casa da
Moeda, a moeda é falsa – algo que é tratado como crime contra o SFN.

O governo decide o quanto de moeda vai colocar à disposição da população. Em


tese, como foi mencionado anteriormente, quanto mais moeda em circulação, mais a
população adquire bens e serviços.

Economia e mercados 97
Moeda e mercado financeiro: Inflação e emprego, estado e políticas macroeconômicas

A moeda é fundamental para que a economia consiga se estabelecer e se desenvolver


da melhor maneira possível. Afinal de contas, tudo dentro da economia é comerciali-
zado através das moedas e estas devem estar à disposição da população para que o
4 desenvolvimento econômico aconteça.

Se a oferta de moeda é tão importante, por que o governo não pode imprimir muita
moeda e colocar à disposição da sua população o maior número de dinheiro possível?

Por causa da inflação, que nada mais é do que o aumento generalizado dos preços.
Você precisa entender que quanto mais oferta de moeda numa economia, mais os
agentes econômicos irão adquirir bens e serviços.

E o que acontece quando aumenta a demanda? O preço aumenta! Se mais pessoas


desejam consumir certo produto, e a quantidade ofertada é limitada, apenas aqueles
que destinarem mais recursos para a aquisição daquele bem poderão adquiri-lo. Esta
relação entre oferta x demanda não é novidade para você.

O mesmo acontece quando analisamos a economia de maneira macroeconômica:


quando a demanda aumenta (provocada pelo aumento da oferta de moeda, no nosso
caso), o efeito nocivo desta medida, na grande maioria das vezes, resulta no aumento
generalizado dos preços, que nada mais é do que a inflação.

SAIBA MAIS
Segundo Sandroni (1999, p. 604): “Título emitido e garantido pelo governo (União, Estado,
município).
É um instrumento de política econômica e monetária que pode servir para financiar um déficit do
orçamento público, antecipar a receita ou garantir o equilíbrio do mercado do dinheiro. De acordo
com suas características, pode ter a forma de apólice, bônus ou Obrigação do Tesouro Nacional”.

Operações de Mercado Aberto (Open Market)


Outro instrumento importante para o governo que influencia na oferta de moeda são as
Operações de Mercado Aberto (Open Market). Essas operações são nada mais do
que os Títulos Públicos que o governo coloca à disposição do público para financiar
suas atividades e para regular a oferta de moeda disponível para economia.

Vamos, por ora, apenas analisar como os Títulos Públicos regulam a oferta de moeda
numa economia. De acordo com Troster (2011), o BACEN compra e vende títulos públi-
cos diariamente com o objetivo de regular a oferta de moeda.

Como isso acontece? Simples! Vamos imaginar que o objetivo do BACEN seja aumen-
tar a oferta de moeda, visando aquecer a demanda. A ordem do BACEN é comprar
naquele dia um certo volume de recursos públicos.

Ao comprar os títulos, o BACEN entrega ao seu dono um “cheque” correspondente ao


valor devido. E o que o detentor do título vai fazer? Depositar a quantia no banco. O
banco, por sua vez, realizará o procedimento do multiplicador bancário, explicado

98
anteriormente, que disponibilizará um volume maior de recursos financeiros para reali-
zação de empréstimos, por exemplo.

O contrário também é verdade: imagine que no dia seguinte o governo tenha o diagnóstico
4
de que a economia está inflacionada, isto é, os níveis de preço estão acima do desejado.

Uma das medidas que o governo pode tomar para remediar a inflação é vender títulos.

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Com essa medida, o BACEN recebe/recolhe certo volume de dinheiro, que, por sua
vez, diminuirá o volume de moeda destinado para financiar empréstimos e novos in-
vestimentos. Isso diminuirá, em tese, a demanda desta economia e, assim, reduzirá o
nível de preços.

PESQUISE
A SELIC – Taxa Básica de Juros
No Brasil, a SELIC é a taxa básica de juros, isto é, a remuneração dos Títulos da Dívida Pública
Brasileira. Em tese, nada nessa economia deve ter uma rentabilidade menor que essa taxa.
Conheça mais sobre a SELIC e como ela afeta os negócios de toda a economia.
Não deixe de pesquisar mais na internet sobre ela!

Política de Redesconto
A Política de Redesconto é outro instrumento que os agentes monetários têm à sua
disposição para controlar a oferta de moeda numa economia. Por ser o banco dos
bancos, o próprio BACEN pode disponibilizar recursos aos bancos comerciais para que
eles próprios disponibilizem aos seus clientes recursos financeiros para realização de
empréstimos e financiamentos.

Se, por algum motivo, o desejo do BACEN for ampliar os meios de pagamento (au-
mentar a oferta de moeda na economia), este disponibilizará aos bancos comerciais
recursos financeiros a uma taxa de juros de redesconto atrativa, para que os bancos
comerciais disponibilizem aos seus clientes.

Já se a intenção for diminuir a oferta de moeda, o BACEN aumentará a taxa de juros


do redesconto, que implicará no aumento de juros do tomador do empréstimo no banco
comercial, que, por sua vez, se sentirá desmotivado a tomar um financiamento para
realizar um investimento, por exemplo.

Reservas Compulsórias
As Reservas Compulsórias constituem um outro instrumento que o BACEN tem à
sua disposição para controlar a oferta de moeda. O BACEN determina que parte dos
depósitos à vista sejam destinados às reservas compulsórias, que nada mais são do
que parte dos depósitos à vista que não poderão ser destinados para a realização de
empréstimos e financiamentos.

O mecanismo é simples: se o desejo do BACEN é aumentar a oferta de moeda na


economia, ele diminui a percentagem dos depósitos à vista que os bancos comerciais
deverão destinar às reservas e, assim, aumenta a oferta de moeda.

Economia e mercados 99
Moeda e mercado financeiro: Inflação e emprego, estado e políticas macroeconômicas

O contrário também é verdade: se a orientação da autoridade monetária é diminuir a


oferta de moeda, o BACEN aumenta a percentagem obrigatória das reservas, diminuin-
do a oferta monetária.
4
Considerações Acerca da Política Monetária
Até o momento, foram apresentados os principais instrumentos da política monetária,
bem como suas principais ações e consequências esperadas, previstas e bem consoli-
dadas na Teoria Econômica de qualquer manual de macroeconomia.
Tabela 01. Instrumentos da política monetária – ações e consequências esperadas

OFERTA DE MOE-
INSTRUMENTOS AÇÃO CONSEQUÊNCIAS ESPERADAS
DA/TIPO
Aumento da demanda agregada/renda/ aumento
Emissão de moeda Impressão/ cunhagem de moeda Aumento/ expansionista
no nível de preços (inflação)

Aumento na obrigatoriedade Diminuição/ reducionista Diminuição na demanda/renda/controle dos preços


Reservas
compulsórias
Aumento da demanda agregada/ renda/aumento
Diminuição na obrigatoriedade Aumento/ expansionista
no nível de preços (inflação)

Aumento da demanda agregada/ renda/aumento


Compra de títulos Aumento/ expansionista
no nível de preços (inflação)
Open market
Venda de títulos Diminuição/ reducionista Diminuição na demanda/renda/controle dos preços

Aumento dos juros do redesconto Diminuição/ reducionista Diminuição na demanda/renda/controle dos preços
Taxa de redesconto Aumento da demanda agregada/ renda/aumento
Diminuição dos juros do redesconto Aumento/ expansionista
no nível de preços (inflação)

Fonte: Elaborado pelo autor (2016).

A Tabela. 01 traz de maneira resumida as principais ações e consequências esperadas


da implementação de certas ações da política monetária. Observe o que a autoridade
monetária pode utilizar para atingir os resultados esperados.

Existem ocasiões em que por mais que a autoridade monetária diminua a taxa de juros
e aumente consideravelmente a oferta de moeda na economia, a economia não se
desenvolve e reaquece como o esperado, uma vez que os agentes econômicos, por
mais que sejam influenciados a investir, não o fazem devido a uma baixa expectativa
em relação ao futuro desta economia, por exemplo.

Sendo assim, cabe mencionar que a política monetária é mais um instrumento que pode
se utilizar para que as metas da política macroeconômica sejam alcançadas.

Continuaremos o estudo da disciplina, seguindo para o próximo tópico Inflação —


Causas e Consequências.

2. INFLAÇÃO – CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS


Inflação: com certeza você já escutou essa palavra. Seja nos noticiários, nos portais
de notícias, ou nas conversas com seus amigos e parentes. Afinal de contas, quando
você contesta alguém sobre o aumento de determinado produto ou serviço, a pessoa

100
sempre te responde: o preço aumentou por causa da inflação! Então, afinal de contas,
o que é inflação?

Podemos conceber que inflação é o aumento generalizado dos preços. Preste atenção:
4
aumento generalizado, que nos indica que o processo inflacionário não é apenas quan-
do determinado produto aumenta, mas sim quando se verifica que o preço de vários
produtos e serviços aumentaram em toda economia, por isso o termo geral.

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E qual o problema da inflação? Ela prejudica as funções da moeda. As funções reserva
de valor, unidade de conta e meio de troca, ficam severamente prejudicadas com a infla-
ção; resumidamente, a moeda perde seu poder aquisitivo, isto é, capacidade da moeda
em ser trocada por bens e serviços.

Vasconcellos (2011) faz algumas considerações importantes acerca do problema in-


flacionário:
De início, podemos conceber que a inflação representa um problema distri-
butivo existente na economia mal administrada. Em outras palavras, a dispu-
ta dos diversos agentes econômicos pela distribuição de renda representa a
questão básica no fenômeno inflacionário (VASCONCELLOS, 2011, p. 385).

É esta análise que Vasconcellos (2011) faz. Os preços tendem a aumentar devido,
também, à atuação dos agentes econômicos ao disputarem a distribuição de renda
(acesso aos produtos e serviços). Apenas o agente que destinar mais recursos financeiros
para aquisição de um bem ou serviço poderá adquiri-lo. Nesse caso, a oferta desse bem
ou serviço é limitada no curto prazo. Sendo assim, de maneira geral, podemos conceber
que a inflação é um indicador que algo não vai bem nesta economia. De maneira geral,
uma economia com processo de inflação acima do desejado apresenta um problema
de desequilíbrio.

A inflação também acarreta outras distorções na economia. Verifique, resumidamente,


alguns deles:

Distribuição de renda
O agente econômico, em um processo inflacionário, tem cada vez mais dificuldade em
trocar moeda por bens e serviços, uma vez que estes ficam mais caros, devido ao fato
de que o poder aquisitivo da moeda diminuiu.

Diferentemente dos capitalistas, que têm condições de repassar a inflação, temos os


assalariados entre os mais prejudicados com esse processo, em especial os de bai-
xa renda, que gastam quase a totalidade de seus salários com despesas pessoais
(alimentação, habitação, transporte, dentre outros), uma vez que o reajuste do salário
dificilmente acompanha a evolução dos preços. Costuma-se afirmar que a inflação é um
imposto sobre o pobre.

Balanço de pagamentos
Se em um país o processo inflacionário está acima da média verificada internacional-
mente, os produtos deste país tendem a se tornar menos atrativos que os produzidos

Economia e mercados 101


Moeda e mercado financeiro: Inflação e emprego, estado e políticas macroeconômicas

internacionalmente: os produtos importados ficam mais baratos que os nacionais, pro-


vocando aumento das importações, prejudicando, assim, o saldo da Balança Comercial
e das Reservas Cambiais.
4
O problema pode se tornar mais complicado se esta economia estiver vivenciando um
déficit cambial, isto é, se o país estiver com problema de manter reservas seguras de
moeda estrangeira.

Na tentativa de frear as importações e assim frear a “fuga de dólares” para o pagamento


dos produtos importados, o Governo decide forçar a desvalorização da moeda, isto é,
a moeda nacional passa a “valer menos”, fazendo assim com que o produto importado
fique mais caro e o nacional mais barato, aumentando, em tese, o consumo deste.

Contudo, com essa medida adotada, o processo inflacionário fica mais grave: com o
aumento da demanda dos produtos nacionais para exportação e substituição de impor-
tações, a demanda aumenta, aumentando o nível de preços desta economia.

Além disso, há outro problema: dificilmente um país consegue produzir todos os produtos e
insumos que necessita: petróleo, fertilizantes, máquinas e equipamentos precisam ser im-
portados visando abastecimento desta economia. Com a moeda estrangeira mais cara, mais
caro será importar estes produtos, e, portanto, mais caros serão os produtos produzidos com
os insumos e equipamentos importados, prejudicando ainda mais o processo inflacionário.

Mercado de capitais
A inflação corrói o poder aquisitivo da moeda, fazendo com que esta se torne um ativo
desvalorizado. Com isso, os investidores, com receio de perder sua riqueza com a des-
valorização da moeda, decidem aplicar seus recursos em outros bens no lado real da
economia, tais como aquisição de residências, terrenos e imóveis em geral.

A correção deste problema tende a afetar ainda mais a economia: com o objetivo de
frear a fuga de capitais, o mercado de capitais tende a oferecer aos seus investidores
a correção monetária, isto é, indexação das aplicações financeiras aos índices de infla-
ção, visando assim corrigir o problema da inflação. É simples: ao aplicar seu dinheiro no
mercado de capitais, o aplicador terá direito aos juros da aplicação, mais a percentagem
decorrente da inflação.

A correção monetária parece ser até justa, uma vez que corrige a desvalorização
da moeda, mas tem um efeito nocivo: ao garantir a correção monetária, os inves-
tidores tendem a destinar seus recursos financeiros mais ao mercado de capitais
que aos investimentos do lado real da economia (tais como construção de uma
fábrica e loja, por exemplo).

O processo inflacionário também tem outros efeitos importantes na economia. Entre eles,
podemos citar a expectativa do futuro dos agentes em relação à própria inflação. Numa
economia inflacionada, o setor empresarial tende a aguardar a decisão de novos inves-
timentos, visando expansão da capacidade produtiva, mas, com a inflação, tende-se a
diminuir a taxa de emprego desta economia, diminuindo assim a renda, inviabilizando,
portanto, a justificativa de novos investimentos.

102
Outro problema é que a inflação provoca, num primeiro momento, um ganho aos to-
madores de empréstimos. Os credores, aqueles que emprestaram os recursos, serão
remunerados com valores que, em tese, não recuperarão a perda decorrente da desva-
lorização da inflação, prejudicando seus ganhos reais. 4
Contudo, no longo prazo nem o tomador nem o credor ganham: a inflação desarticula
todo o sistema produtivo. Com o poder aquisitivo do trabalhador diminuído, ele tende a

Universidade São Francisco


consumir menos, diminuindo, portanto, os lucros dos vendedores. Sem vendas, não há
arrecadação de impostos, diminuindo assim os investimentos e os gastos do Governo,
em saúde e educação, por exemplo, afetando assim todo sistema produtivo.

2.1 OS DIFERENTES TIPOS DE INFLAÇÃO


O processo inflacionário possui características distintas: existem, basicamente, três ti-
pos básicos de inflação. Vamos explorar um pouco o conceito de cada um deles.

Inflação de Demanda
Podemos considerar que a inflação de demanda é a do tipo mais comum: está relacio-
nada ao aumento da demanda agregada no curto prazo: toda vez que a demanda de
certo produto aumenta e a oferta se mantém constante (no curto prazo), apenas aquele
agente econômico que disponibilizar de mais recursos financeiros para sua aquisição
poderá adquiri-lo (o produto fica mais caro).

Este tipo de inflação está muito relacionado ao uso da capacidade instalada da econo-
mia, isto é, tudo o que esta economia consegue produzir com os fatores de produção
disponíveis naquele período. Em tese, em momentos de pleno emprego dos recursos
(quando os recursos estão sendo utilizados em quase sua totalidade), um aumento da
demanda agregada provocada por uma política fiscal expansionista provoca, em linhas
gerais, um aumento no nível geral dos preços.

A Figura. 1 traz o indicador da utilização da capacidade instalada, mensurado pela Funda-


ção Getúlio Vargas (FGV), que serve de indicador para analisarmos se a economia está
de fato utilizando amplamente seus recursos. De acordo com os dados disponibilizados,
observa-se uma queda considerável da capacidade instalada a partir do último trimestre
de 2014, atingindo o menor índice no quarto semestre de 2015, quando se verificou a utili-
zação de aproximadamente 77% da capacidade instalada, o que, em tese, não justificaria
no terceiro trimestre de 2015 uma inflação do tipo de demanda, por exemplo.

Vasconcellos (2011) analisa que este tipo de inflação é combatido com Políticas Fiscais e
Monetárias restritivas, ações que tenham como objetivo de conter a demanda agregada.

Economia e mercados 103


Moeda e mercado financeiro: Inflação e emprego, estado e políticas macroeconômicas

Figura 03. (Gráfico 1) Utilização da capacidade instalada geral (FGV)


88,0

Fonte: BACEN (2016, adaptado).


86,0
% Utilizada - Média Geral

4 84,0
82,0

80,0
78,0
-%
76,0

74,0

72,0
0 0 1 1 12 012 013 013 014 014 015 015
01 01 01 01 20
.2 .2 .2 .2 . .2 .2 .2 .2 .2 .2 .2
r im r im rim r im r im r im r im r im r im r im r im r im
T T T T T T T T T T T T
1º 3º 1º 3º 1º 3º 1º 3º 1º 3º 1º 3º

Inflação de Custo
Inflação de custos é um tipo de inflação mais relacionada à oferta, isto é, relacionada
aos custos de produção: os preços aumentam sem um aumento na demanda dos pro-
dutos, provocando, também, diminuição na oferta.

Vasconcellos (2011) apresenta as causas mais comuns:

Aumento salarial: por ser um fator de produção, aumentos salariais provocam o aumento do
custo de produção, que são geralmente repassados ao preço do produto final.
Aumento do custo dos insumos: aumento provocado quando o custo de algum insumo
encarece. Entre o exemplo mais claro deste tipo de inflação, podemos citar a desvalorização
cambial (quando a moeda nacional perde valor). Como parte dos insumos são importados, uma
desvalorização cambial provoca aumento nos custos de produção, uma vez que, com a moeda
nacional desvalorizada, haverá necessidade de mais moeda nacional para adquirir um insumo
importado, o que faz com que aumente o custo do produto final.
Estrutura de mercado: relacionado à estrutura do mercado no qual a empresa está inserida.
Mercados oligopolizados e monopolizados tendem a elevar seus preços acima do custo de
produção (empresas e corporações que controlam parte da oferta de seus produtos têm mais
condições de fixar o preço destes e, assim, manter o aumento de seus lucros). Vasconcellos
(2011) ressalta que este tipo de inflação também está relacionado aos lucros das empresas e ao
fenômeno conhecido como estagflação, isto é, recessão econômica com inflação.

A estagflação ocorre quando se tem paralelamente taxas significativas de


inflação e recessão econômica com desemprego. Isso pode ser devido ao
fato de, em períodos de queda de atividade produtiva, as firmas com poder
oligopolista terem condições de manter suas margens de lucros sobre cus-
tos (ou mark-up), ao aumentarem o preço de seus produtos finais. O nível
de produto e de emprego está caindo e, mesmo assim, os preços estão
subindo (VASCONCELLOS, 2011, p. 390).

104
Outros Tipos de Inflação
Além dos dois tipos mencionados, cabe lembrar que a Teoria Econômica conceitua
também outros tipos de inflação, principalmente relacionados à experiência brasileira. 4
A inflação inercial

Universidade São Francisco


Leva em conta a memória inflacionária que os agentes econômicos possuem em relação ao
processo inflacionário. Pelo fato de a economia estar indexada (correção monetária), os agentes
reajustam seus preços simplesmente porque o índice de preços aumentou, mesmo que seu
produto não tenha apresentado aumento no custo ou na demanda.

A inflação de expectativas

É o aumento dos preços que acontece simplesmente porque os agentes acreditam que no futuro
os preços vão aumentar, fazendo com que aumentem seus preços na tentativa de proteger seu
negócio.

A inflação estrutural

Diagnostica se a inflação brasileira é decorrente das tensões de custo da estrutura econômica


brasileira. Luque e Vasconcellos (2011, p. 393) analisam que esta concepção sobre inflação leva
em conta a estrutura econômica brasileira.

[...] a inflação [estrutural] seria explicada principalmente por questões estru-


turais, como estrutura agrária, estrutura oligopólica de mercado e estrutura
do comércio internacional. A agricultura não responderia ao crescimento da
demanda de alimentos, devido à exigência de latifúndios pouco preocupa-
dos com questões de produtividade (oferta de produtos agrícolas inelástica a
estímulos de preços de mercado). Isso levaria ao aumento de preços dos ali-
mentos. Por seu turno, grandes oligopólios têm condições de sempre manter
suas margens de lucro, repassando todos os aumentos de custos a seus
preços. Finalmente, a inflação seria provocada pelas desvalorizações cam-
biais que os países subdesenvolvidos são obrigados a promover, para com-
pensar o déficit crônico da balança comercial, gerado pela deterioração dos
termos de troca no comércio internacional, contra países subdesenvolvidos,
por exportarem produtos primários e importarem produtos manufaturados.

A concepção sobre inflação estrutural é explicada através da Escola Cepalina, criada


pela CEPAL

– Comissão Econômica para a América Latina e Caribe, organismo da ONU sediada no Chi-
le, criada no pós-guerra com objetivo de repensar o subdesenvolvimento latino americano.

2.2 INFLAÇÃO E POLÍTICA MONETÁRIA: O CASO BRASILEIRO


Como já vimos, uma das metas da política macroeconômica é o controle do nível de
preços. Entre os métodos utilizados atualmente, destaca-se o Sistema de Metas de
Inflação, implantado no Brasil desde 1999.

Este Sistema de Metas de Inflação é um sistema de controle dos preços desenvolvido e


colocado em prática primeiramente através da Política Monetária criada na Nova

Economia e mercados 105


Moeda e mercado financeiro: Inflação e emprego, estado e políticas macroeconômicas

Zelândia e difundido posteriormente em diversos países por todo o mundo. Esse sistema
funciona no Brasil da seguinte forma: o Banco Central estipula uma meta a cada dois
anos e um limite mínimo e máximo que a inflação pode atingir em determinado período.
4
Este sistema leva em conta o Núcleo de Inflação, isto é, uma medida que o BACEN
procura captar a tendência de evolução dos preços da economia brasileira, desconside-
rando distúrbios resultantes de choques temporários de oferta, tais como sazonalidade
na agricultura decorrente da seca, por exemplo.

Caso o Núcleo de Inflação apresente aumentos consideráveis, acima da meta, a au-


toridade monetária pode se utilizar do aumento da taxa básica de juros e de outras
medidas monetárias para controlar a demanda agregada e, assim, o nível de preços.
Figura 04. (Gráfico 2) Sistema de meta de inflação (1999 — 2005)

14

12

10

9 IPCA
% CENTRO META
6
LIMITE MAX
4 LIMITE MIN

0
06

07
08

09

10

12
13

14

15
99
00
01
02
03

04
05

11
20

20
20

20

20
20
20
20

20

20
19
20
20
20
20

20
20

Fonte: BACEN (2016, adaptado).

No Brasil, o diagnóstico da inflação é realizado pelo Copom – Comitê da Política Mone-


tária, instituído em 1996, com o objetivo de estabelecer as diretrizes da política monetá-
ria e de definir a taxa de juros. Os componentes do Copom se reúnem ordinariamente
8 vezes por ano e o resultado e as medidas acordadas pelo Comitê são divulgados
através das Atas de Reunião.

Observe na Figura. 2 as metas de inflação brasileira estipuladas pelo BACEN no pe-


ríodo correspondente e os resultados reais de inflação mensurados. De acordo com
o gráfico, durante a vigência do sistema, a inflação oficial brasileira esteve dentro do
limite máximo da meta, contudo, observa-se que, no ano de 2015, a inflação registrada
supera o teto máximo da meta estipulada para o ano, que é de 6,5% a.a.

Agora, observe no Figura. 03 a taxa SELIC de outubro de 2012 até a última reunião em
dezembro de 2015. Neste período, observamos uma tendência de alta da SELIC, que
passou de cerca de 7,25% para 14,25% a.a.

106
Figura 05. (Gráfico 3)Taxa SELIC – % a.a.

15,00

14,00 4
13,00

Universidade São Francisco


12,00

11,00
% A.A.

10,00

9,00

8,00

7,00

6,00
outubro - 12 maio - 13 novembro - 13 junho - 14 dezembro - 14 julho - 15 janeiro - 16

Fonte: BACEN (2016, adaptado).

Se você analisar a inflação mensurada e a taxa SELIC, poderá observar uma relação
quase direta: o BACEN lançou mão, no período de alta, na taxa de juros SELIC, para
conter a inflação e tentar manter os preços nos limites fixados pela meta.

2.3 CALCULANDO A INFLAÇÃO – OS ÍNDICES DE PREÇO


A inflação é mensurada através dos índices de preços, isto é, números que represen-
tam os preços de determinada cesta de produtos. Cada índice de preços possui sua
metodologia própria, bem como cada um possui uma cesta de produtos e ponderação,
o que impossibilita, portanto, a simples comparação entre os diversos índices de preço.

Você já deve ter se perguntado várias vezes ao escutar a divulgação da inflação oficial:
como a inflação subiu apenas 0,5% no mês se a energia elétrica subiu 8% e a gasolina
subiu 5% no mesmo período, por exemplo?

Isso acontece porque os índices de preços possuem uma cesta de produtos, um con-
junto de itens que são observados com objetivo de se construir um índice geral. Cada
item tem uma ponderação diferente, de acordo com a metodologia de tal índice e seu
objetivo, o que permite que cada índice geral possua um resultado.

Existem índices com objetivos específicos, por exemplo: índice da Construção Civil, que
visa apenas mensurar a evolução de preços deste setor econômico; índices que levam
em consideração apenas a região de coleta dos dados (Regiões Metropolitanas), di-
vergindo também das fontes de coleta, tais como tipo e tamanho de pontos comerciais,
setores pesquisados, além do período da pesquisa (mensal, quinzenal, trimestral).

No que se refere ao índice que orienta a política monetária, bem como traz um
diagnóstico geral do processo inflacionário, temos os índices de Preços ao Consu-
midor e os Índices Gerais de Preço. No Brasil, o indicador de referência é o IPCA

Economia e mercados 107


Moeda e mercado financeiro: Inflação e emprego, estado e políticas macroeconômicas

– Índice de Preço ao Consumidor Amplo, calculado pelo IBGE – Instituto Brasileiro


de Geografia e Estatística.

É através do IPCA que o governo orienta seu Sistema de Metas de Inflação, bem como
4
orienta a taxa de juros SELIC para combatê-la, conforme anteriormente visto.

No Brasil, existem outras instituições que mensuram a inflação além do IBGE, tais como
a FGV – Fundação Getúlio Vargas, e a FIPE – Fundação Instituto de Pesquisas Econô-
micas, dentre outras.

2.4 MERCADO DE TRABALHO


Com certeza a mais virtuosa meta da política macroeconômica é a geração de postos
de trabalho. É com ela que grande parte da população consegue sua renda para aqui-
sição de produtos e serviços de sua necessidade.

Para a macroeconomia, as características do mercado de trabalho são de suma impor-


tância para melhor entendimento acerca da geração de renda, da potencialidade da
demanda agregada e do nível de preços.

A geração de novos postos de trabalho está diretamente relacionada ao desempenho


econômico: economias com altas taxas de crescimento de seus produtos tendem a
gerar mais empregos do que aquelas que crescem mais lentamente, ou outras que es-
tejam vivenciando um período de recessão econômica, isto é, quando o produto desta
economia encolhe.
Tabela 02. Rendimento, produção e consumo das famílias (2002 — 2010)

MERCADO DE CONSUMO
SALÁRIO RENDIMENTO
ANO TRABALHO PIB FINAL
MÍNIMO REAL MÉDIO
FORMAL - FAMÍLIAS
2002 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
2003 100,7 84,7 101,1 90,8 100,7
2004 104,4 199,8 106,9 94,2 107,8
2005 111,7 164,5 110,3 96,1 111,5
2006 127,4 161,2 114,7 103,5 117,1
2007 135,1 212,1 121,7 110,5 124,8
2008 139,3 190,5 127,9 115,7 128,1
2009 149,3 130,5 127,5 114,7 137,8
2010 157,3 280,3 137,1 121,3 147,9

Fonte: IPEADATA (2016, adaptado).

A Tabela. 02 confirma a relação entre mercado de trabalho, renda e crescimento do PIB:


de 2002 a 2010, observa-se um crescimento de aproximadamente 180% dos postos
de trabalho formais e do salário mínimo real de 57,3%, ou seja, já descontada a perda
inflacionária do período.

108
Melhores indicadores do mercado de trabalho são responsáveis também diretamente
pelo aumento do consumo e, consequentemente, do PIB: o consumo expandiu aproxi-
madamente 48%, enquanto o PIB cresceu no mesmo período em cerca de 37%.
4
Na sociedade capitalista, o fator de produção trabalho, assim como outros fatores de
produção, é disponibilizado através do mercado. No caso específico do fator trabalho,
os trabalhadores vendem sua força de trabalho aos empresários, sendo que estes re-

Universidade São Francisco


muneram os trabalhadores através dos salários a preços do mercado.

O mercado de trabalho pode ser dividido em dois tipos:

Mercado de trabalho formal

Onde existe um contrato formal entre trabalhador e empregador, com garantias e deveres de
ambas as partes (conhecido também como trabalho de carteira assinada e regido pela CLT –
Consolidação das Leis do Trabalho).

Mercado de trabalho informal

Onde não existe uma relação específica, tampouco existem garantias legais para o trabalhador.

Fator Trabalho – Alguns Indicadores e Conceitos


Para uma melhor análise acerca do mercado de trabalho, é necessário explorar
alguns conceitos sobre ele. Afinal de contas, o mercado de trabalho é muito distinto
e complexo: existem trabalhadores com várias habilidades, inseridos em distintos
mercados de trabalho.

Alguns conceitos acerca do mercado de trabalho:

População em idade ativa: divide-se em população economicamente ativa e popula-


ção não economicamente ativa.

População economicamente ativa: compreende o potencial de mão de obra com que


pode contar o setor produtivo, isto é, a população ocupada e a população desocupada,
assim definidas:

População ocupada: aquelas pessoas que num determinado período trabalharam ou


tinham trabalho, mas não trabalharam (por exemplo, pessoas em férias). As pessoas
ocupadas são classificadas em:
` Empregados: pessoas que trabalham para um empregador ou mais, cumprem uma jorna-
da de trabalho e recebem em contrapartida uma remuneração em dinheiro ou outra forma de
pagamento (moradia, alimentação, vestuário etc.). Incluem-se entre as pessoas empregadas
aquelas que prestam serviço militar obrigatório e os clérigos. Os empregados são classificados
segundo a existência ou não de carteira de trabalho assinada.

` Conta própria: pessoas que exploram uma atividade econômica ou exercem uma profis-
são ou ofício, realizando seu trabalho individualmente.

Economia e mercados 109


Moeda e mercado financeiro: Inflação e emprego, estado e políticas macroeconômicas

População desocupada: pessoas que não tinham trabalho no determinado período de


referência da pesquisa, mas gostariam de trabalhar e procuraram trabalho de alguma
maneira.
4
No que se refere aos indicadores do mercado de trabalho, temos, segundo Chahad
(2011):
` Taxa de participação na força de trabalho: mensura o tamanho relativo da força de
trabalho, fornecendo uma relação entre oferta de emprego imediatamente disponível na
economia.

` Desemprego involuntário: ocorre quando o cidadão deseja trabalhar, mas não encontra
trabalho. É também conhecido desemprego cíclico ou desemprego conjuntural.

` Desemprego estrutural: acontece quando o padrão de desenvolvimento econômico


adotado exclui uma parcela dos trabalhadores do mercado de trabalho.

` Desemprego friccional: surge em decorrência do processo dinâmico que caracteriza o


mercado de trabalho, no qual o sistema de informações sobre a oferta de vagas disponí-
veis no sistema produtivo é imperfeito.

` Desemprego sazonal: ocorre devido à sazonalidade de determinados tipos de atividade


econômica.

SAIBA MAIS
Você já deve ter percebido que existe uma relação quase direta entre inflação e geração de
empregos. Se você acha que sim, saiba que a ciência econômica já se desdobrou sobre o tema,
com destaque para a Curva de Philips, que mostra uma relação inversa (um trade-off) entre
inflação e desemprego. Não deixe de pesquisar mais sobre o tema em nossa bibliografia básica
disponibilizada em nossa Biblioteca Virtual.

A Tabela. 03 traz dados recentes sobre alguns indicadores do mercado de trabalho


brasileiro. De dezembro de 2010 a novembro de 2015, observamos que a taxa de par-
ticipação se mantém quase constante, oscilando entre 57 e 55,4%, e a informalidade
caiu, passando de 23,4% do total de ocupados em dezembro de 2010 para 17,3% em
novembro de 2015.
Tabela 03. Indicadores do mercado de trabalho no Brasil

TAXA DE PAR-
DATA FORMAL INFORMAL DESOCUPADOS1 OCUPADOS1
TICIPAÇÃO
Dez./2010 57,0% 66,3% 23,4% 100,0 100,0
Dez./2011 56,7% 69,1% 20,9% 90,6 101,3
Dez./2012 57,8% 69,6% 20,5% 90,8 104,4
Dez./2013 56,7% 71,4% 18,0% 84,8 103,9
Dez./2014 55,7% 71,8% 17,3% 84,0 103,4
Jan./2015 55,8% 71,8% 17,3% 103,0 102,5
Fev./2015 55,5% 71,8% 17,4% 113,4 101,4
Mar./2015 55,6% 71,7% 17,8% 119,4 101,2
Abr./2015 55,8% 71,8% 17,6% 124,5 101,4

110
TAXA DE PAR-
DATA FORMAL INFORMAL DESOCUPADOS1 OCUPADOS1
TICIPAÇÃO
Mai./2015 55,9% 71,8% 17,4% 130,5 101,5
Jun./2015 55,9% 71,7% 17,3% 134,8 101,4 4
Jul./2015 56,1% 71,6% 17,4% 147,4 101,4
Ago./2015 56,0% 71,5% 17,2% 148,4 101,2

Universidade São Francisco


Set./2015 55,9% 70,8% 17,6% 148,1 101,0
Out./2015 55,4% 71,2% 17,5% 152,9 100,0
Nov./2015 55,4% 71,3% 17,3% 146,5 100,3
¹ 100= Dez/2010

Fonte: IBGE (2016, adaptado).

Contudo, observa-se também o crescimento do desemprego, principalmente nos últi-


mos meses de 2015, apresentando em novembro um crescimento de aproximadamente
46,5% em relação a dezembro de 2010.

Outra análise importante que deve ser levada em conta quando se analisa o mercado
de trabalho é o ganho real da massa salarial. Isto é, verificar se os salários dos tra-
balhadores estão sendo repostos e se seu poder de compra (aquele que influencia a
demanda agregada) estão sendo preservados e/ ou ampliados.

Daremos seguimento ao nosso estudo com o tópico Estado e Políticas Macroeconômicas.

3. ESTADO E POLÍTICAS MACROECONÔMICAS


Qual o papel do Estado na economia? O que o Estado deve fazer para que as metas
de emprego, crescimento e nível de preços seja o mais adequado, visando sempre o
desenvolvimento econômico e social de seus cidadãos?

Pois bem, só de ler estas perguntas, você já deve ter uma noção que elas não são tão
simples de se responder. Ou melhor, suas respostas dependem muito de como os cida-
dãos veem o papel de seus governos e sua influência econômica.

3.1 SETOR PÚBLICO


No decorrer de nossa disciplina, você foi convidado a refletir acerca de algumas ações
públicas: seja para conceituar o papel de Estado previsto por Adam Smith, que delimitava
seu poder de atuação em assuntos específicos, seja para analisar a justificativa histórica
da macroeconomia e o papel do Estado como condutor do desenvolvimento econômico.

Cano (1998) recorda que as sociedades humanas sempre tiveram, desde os primór-
dios, decisões superiores acerca de ordem, justiça, guerra, organização tomadas fun-
damentalmente por um chefe, que possuía um conjunto de atributos. Este poder do
chefe era obtido através de consenso dos membros da comunidade, ou pelo uso da
força ou transferidos pela hereditariedade.

Vasconcellos (2011) elenca uma série de fatores que contribuíram para o aumento da presen-
ça do Estado na economia: crescimento da renda per capita, mudanças tecnológicas, mudan-
ças populacionais, fatores políticos e sociais, mudanças da Previdência Social, dentre outros.

Economia e mercados 111


Moeda e mercado financeiro: Inflação e emprego, estado e políticas macroeconômicas

O autor destaca ainda algumas funções do Setor Público:

Função alocativa: está relacionado ao papel do Estado em fornecer bens e serviços não
4 oferecidos pelo sistema de mercado e à correção de externalidades (positivas ou negativas) na
produção ou consumo de alguns bens e serviços.

Função distributiva: capacidade do Estado em distribuir renda entre os fatores de produção


através de tributos, retirando a renda dos mais abastados e transferindo aos menos favorecidos.
Esta distribuição também acontece em relação a regiões de um país, isto é, regiões mais
desenvolvidas transferem recursos para locais menos desenvolvidos e mais carentes da
atenção pública. Além disso, o Estado deve se preocupar na educação e na formação de seus
cidadãos, aumentando assim sua produtividade e, consequentemente, sua renda.

Função estabilizadora: corresponde à capacidade do Estado em agir na economia com intuito


de elevar a geração de empregos ou então controlar os níveis de preço. Esta função está
muito relacionada ao que você estudou até o momento nesta disciplina, através dos efeitos
das políticas fiscais e monetárias, por exemplo. Vasconcellos (2011) destaca ainda o papel
Função de Crescimento Econômico, que se refere ao investimento do Setor Público, isto é,
o papel que este assume na condução do desenvolvimento econômico de seus países. Ex.:
fornecimento de bens públicos, infraestrutura básica, visando o desenvolvimento de novos
negócios (rodovias, portos, aeroportos etc.), subsídios fiscais e disponibilização de crédito para
estimular os investimentos do setor privado, visando o crescimento econômico de longo prazo.

Giambiagi (2000) comenta que o Setor Público tem a importante tarefa de disponibilizar
aos seus cidadãos bens e serviços que não seriam supridos pelo Setor Privado, por se
tratar da oferta de bens públicos. Entre os mais importantes, destacados pelo autor, te-
mos os serviços de saúde, educação, defesa nacional, policiamento, regulação, justiça,
assistência social, dentre outros.

Os Diferentes Papéis do Estado


Assim como analisa Cano (1998), o Estado, com o passar do tempo e com avanço das
sociedades e aumento considerável da complexidade econômica e social, passou a
ter diferentes papéis. De acordo com Giambiagi (2000), o Estado passou a exercer os
seguintes papéis:

Estado condutor: verifica-se a capacidade do Estado em promover políticas econômicas com


intuito de se chegar a um certo objetivo. Ele se utiliza de ferramentas de intervenção econômica
como contingenciamento de divisas, existências de câmbio múltiplo, isenções de tarifas
aduaneiras, créditos subsidiados etc., medidas associadas e submissas a objetivos predefinidos.
Aqui o Estado tem a capacidade de “ditar as regras”, ser o “comandante do jogo”; o Estado sabe
o que quer e aonde quer chegar com suas políticas.
Estado regulador: papel do Estado está na sua capacidade de conciliar interesses da
Sociedade Civil. O Estado regula questões como o Código Tributário, delibera sobre o grau de
concentração econômica aceitável, delibera normas trabalhistas a serem atingidas, enfim, atua
como um “atenuador de conflitos” da sociedade.
Estado produtor: nesse caso específico, o Estado atua como produtor e fornecedor de certos
produtos e serviços. No caso brasileiro, destacamos a criação da Companhia Siderúrgica Nacional

112
(CSN), da Companhia Vale do Rio Doce, criação da central elétrica de Furnas, da Petrobras etc.
A atuação do Estado na prestação destes serviços e produtos acontece principalmente quando
o setor privado se torna ineficiente e incapaz de assumir certos compromissos.
Estado financiador: aqui o Estado atua como centralizador e direcionador de recursos da 4
sociedade para a promoção de certos objetivos a serem atingidos. Destaca-se o grande papel
que o Banco do Brasil e o BNDES exercem como agentes fomentadores e disponibilizadores

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de aportes orçamentários e fundos parafiscais para concessão de empréstimos de longo prazo.

A Estrutura Tributária
O Estado demanda recursos financeiros para a manutenção de suas atividades,
assim como utiliza os tributos para fazer valer suas funções econômicas, como
anteriormente descrito.

Para que atinjam os resultados da melhor maneira, Vasconcellos (2011) analisa que é
necessária a existência de princípios tributários, dentre eles:

Princípio da neutralidade:

Princípio pelo qual os tributos não devem, ou melhor, devem impactar o mínimo possível, não
alterando os preços relativos da economia e a eficiência do mercado, tampouco interferindo nas
decisões econômicas dos agentes de mercado.

Princípio da equidade:

Os tributos devem ser formulados com o intuito de distribuir o seu ônus de maneira justa entre
os indivíduos. A equidade leva em conta mais dois princípios, o Princípio do Benefício, que se
relaciona ao fato de que o contribuinte paga ao Estado um valor correspondente aos benefícios
que recebe do governo, e o Princípio da Capacidade de Pagamento, que considera que o valor
pago pelo contribuinte deve levar em conta sua capacidade de pagamento.

Giambiagi (2000) define a existência de dois tipos de impostos: diretos, aqueles que in-
cidem sobre indivíduo e estão associados à capacidade de pagamento de cada um dos
contribuinte e indiretos, impostos que incidem sobre consumo, vendas ou posse de pro-
priedade, independente da característica e capacidade de pagamento do contribuinte.

Vasconcellos (2011) comenta que a estrutura tributária pode ser classificada regressiva
quando os impostos são proporcionalmente menores que a renda dos contribuintes, ou
seja, quando os tributos aplicados não levam em consideração a capacidade de paga-
mento do contribuinte. Já a estrutura proporcional ou neutra é o contrário, o sistema
tributário leva em conta a renda do contribuinte e as alíquotas do imposto são propor-
cionais à renda do cidadão que o paga.

3.2 POLÍTICA ECONÔMICA


De acordo com Sandroni (1999), política econômica pode ser entendida como um:
Conjunto de medidas tomadas pelo governo de um país com o objetivo de
atuar e influir sobre os mecanismos de produção, distribuição e consumo de

Economia e mercados 113


Moeda e mercado financeiro: Inflação e emprego, estado e políticas macroeconômicas

bens e serviços. Embora dirigidas ao campo da economia, essas medidas


obedecem também a critérios de ordem política e social — na medida em
que determinam, por exemplo, quais segmentos da sociedade se beneficia-
rão com as diretrizes econômicas emanadas do Estado. O alcance e o con-
4 teúdo de uma política econômica variam de um país para outro, dependendo
do grau de diversificação de sua economia, da natureza do regime social, do
nível de atuação dos grupos de pressão (partidos, sindicatos, associações
de classe e movimentos de opinião pública). Finalmente, a política econômi-
ca depende da própria visão que os governantes têm do papel do Estado no
conjunto da sociedade (SANDRONI, 1999, p. 477), grifo nosso.

Sandroni (1999) afirma que os objetivos e medidas que as políticas econômicas pos-
suem dependem de país para país, de economia para economia, tudo dependendo de
como os formuladores da política econômica pensam acerca do processo de desenvol-
vimento econômico.

No início desta disciplina, foram apresentadas a você discussões ainda na época de


Adam Smith sobre quais seriam os papéis do Estado frente a economia: para Adam
Smith, o Estado deveria atuar em questões mínimas e bem delimitadas. Com a publica-
ção da obra A riqueza das nações e a adoção da Teoria da Mão Invisível, onde a econo-
mia deixada por ela mesma (o famoso termo do laissez-faire) se conduz e se equilibra
da melhor forma possível, a aplicação de política econômica foi deixada de lado.

Partindo desta concepção liberal, o uso de uma política econômica é desnecessário,


uma vez que a própria economia traça seus próprios objetivos e encontra seus melho-
res caminhos. Porém, após os anos 1930 e as consequências da Grande Crise da Bol-
sa de Nova Iorque em 1929, a questão da adoção de medidas de intervenção do Estado
na economia voltou a ser repensada e se tornou necessária para enfrentar a crise.

Após os trabalhos de Keynes (1996), como já visto anteriormente nesta disciplina, a


política econômica começou a ser um meio para que os Governos tirassem suas eco-
nomias do caos e da crise implantada após a Crise de 1929. Keynes mudou o enfoque
sobre a questão da intervenção do Estado na economia.

Políticas Econômicas: Objetivos, Limites e Considerações


A Política Econômica, bem como assinado por Sandroni (1999), busca encontrar a fór-
mula para que o bem-estar geral da população se estabeleça e aconteça.

Contudo, como afirma Lessa (1998), existe um problema metodológico ao conceber a ideia
de bem-estar geral da população, pois como podemos chegar a ela através da somatória do
bem-estar de cada indivíduo? Como a somatória do bem-estar individual (uma variável) pode
criar o bem-estar geral (outra variável)? Assim, como denunciava Adam Smith (1996, p. 172),
a grande capacidade do capitalismo é fazer com que “[...] o interesse particular de um partido
— aliás, uma parcela subordinada da sociedade — represente o interesse geral da nação”.

Cardoso (2005, p. 577), ao analisar a intervenção estatal na economia, afirma que:


[...] só liberais antiquados e alguns neoliberais exaltados deixam de perceber
que sem um Estado competente na regulação e no controle, embora não
interferente na seara própria do mercado, o bom desempenho da economia
não se sustenta no longo prazo [...].

114
Portanto, o papel do Estado neste processo de formulação da política econômica é de
fundamental importância. O Governo tem como tarefa escolher os melhores objetivos
e analisar os melhores instrumentos a serem utilizados para que tais objetivos sejam
alcançados. 4
Assim, temos de um lado a necessidade de encontrar os objetivos que a economia pre-
cisa alcançar (objetivos “filtrados” por muitas variáveis não só econômicas, mas muito

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mais políticas e sociais) e analisar, com muito cuidado, quais os instrumentos a serem
adotados, porque eles muitas vezes podem se chocar entre si e se exclui, mutuamente.

Vamos agora esquematizar, a partir da FIG. 6, o processo de formulação da política


econômica:
Figura 06. Processo de formulação da política econômica

METAS GERAIS OBJETIVOS INSTRUMENTOS PROVIDÊNCIAS

Fonte: Elaborado pelo autor (2016).

Segundo Mankiw (2014), economistas divergem acerca de como o Estado deve agir
para conseguir alcançar seus objetivos. Para o autor, alguns economistas, tais como
Willian McChesney Martin, consideram a economia como inerentemente instável, isto
é, a economia convive com frequentes choques, tanto na demanda quanto na oferta
agregada, o que obriga os formuladores das políticas econômicas a atuar através dos
instrumentos das políticas monetárias (política fiscal e monetária, por exemplo) para
que a economia alcance o nível de emprego e de preços (inflação) desejado.

Mankiw (2014) também apresenta as ideias de outros economistas que pensam o con-
trário, isto é, que a economia é estável por sua natureza. Entre eles, destaca Milton
Friedman, que analisa que as oscilações ineficientes pelas quais as economias as ve-
zes passam, tais como inflação e desemprego, por exemplo, devem-se à atuação “exa-
gerada” das políticas econômicas mal formuladas.

Este debate de como o Estado deve atuar ou não na economia é longo e ocorre há
décadas. Por ora, os objetivos da política macroeconômica são, em termos gerais, de
acordo com Vasconcellos (2011):
` Alto nível de emprego;

` Estabilidade dos preços;

` Distribuição da renda socialmente justa;

` Crescimento econômico.

Contudo, o que os formuladores, responsáveis pela formulação das políticas econômi-


cas, devem fazer/praticar para que as suas economias atinjam os resultados acima des-
critos? Durante esta disciplina, discutimos algumas ações de política fiscal e monetária
que podem contribuir para que os objetivos da política macroeconômica sejam

Economia e mercados 115


Moeda e mercado financeiro: Inflação e emprego, estado e políticas macroeconômicas

alcançados (por exemplo, diminuir a taxa de juros e ampliar os gastos do governo, se o


desejo é ampliar a oferta de emprego no curto prazo).

4 IMPORTANTE
Cabe atentar que existem outros importantes objetivos da política econômica. Kirschen (1975)
levantou uma série de objetivos que as políticas econômicas têm tentado alcançar, tais como
expansão da produção, satisfação das necessidades coletivas, melhoria na distribuição da renda
e da riqueza, proteção e prioridades para determinadas regiões ou indústrias, dentre outros.

Não obstante, as consequências esperadas das políticas econômicas não são tão fá-
ceis e previsíveis como apresentado na Teoria Econômica. Mankiw (2014) elenca uma
série de fatores que influenciam e dificultam, em certa medida, as ações previstas das
políticas macroeconômicas:

Hiato de tempo entre implementação das políticas econômicas e seus efeitos: as políticas
econômicas levam um tempo para serem formuladas e implementadas. Seus instrumentos
possuem tempo de ação mais longos (política fiscal depende de autorização legislativa, o que a
torna mais lenta que a política fiscal, por exemplo).

Difícil tarefa de Previsão Econômica: tendo em vista que as políticas econômicas demandam
tempo para que seus efeitos sejam alcançados, quando se coloca em prática certa medida
econômica, é de suma importância que seus implementadores tenham em mente como estará
o nível de preços ou o saldo de emprego depois de passado 6 meses, por exemplo. Ou seja, o
formulador da política econômica deve se antecipar aos acontecimentos, uma vez que os “remédios
econômicos” não são tão rápidos assim e as consequências não tão simples de se prever.

Falta de conhecimento e o problema das expectativas: Mankiw (2014) comenta a dificuldade


que a ciência econômica tem em “prever” o seu futuro. Para o autor, a economia é uma ciência
econômica muito nova e existem muitos fatores econômicos que são desconhecidos, o que
prejudica muito a formulação das políticas econômicas. Entre esses fatores desconhecidos,
destaque para “expectativa dos agentes econômicos em relação ao futuro”, isto é, como as
empresas e famílias se comportarão após a implementação de certas políticas econômicas: por
mais que o Governo deseje e realize ações visando o aumento do consumo, por exemplo, as
medidas por si só não são suficientes. É necessário tentar prever quais serão as expectativas
dos agentes após as políticas econômicas implementadas, tarefa não muito fácil.

Outro debate macroeconômico é analisar se as políticas econômicas devem seguir


regras pré-determinadas, ou então, ficar à disposição dos critérios de seus formulado-
res, isto é, das ações e objetivos de seus governos.

Mankiw (2014) traz que as políticas econômicas são conduzidas por regras, caso seus
formuladores anunciem antecipadamente como reagirão a várias situações e se com-
prometam a seguir aquilo que foi acordado. Exemplo: as autoridades anunciam que
aumentarão a taxa básica de juros caso a inflação atinja certo ponto percentual acima
da meta estipulada pelo governo.

116
As políticas econômicas podem ficar à mercê do interesse de suas autoridades e formu-
ladores, isto é, as ações seguem os desígnios e intenções de seus criadores. Este po-
der discricionário, de se decidir o rumo das políticas econômicas se baseando em crité-
rios meramente políticos de seus formuladores, tem suas críticas na ciência econômica. 4
Os políticos, sabendo que serão reeleitos caso a economia esteja com bons índices, podem,
artificialmente, promover políticas econômicas que terão efeitos positivos no curto prazo, con-

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tribuindo para sua reeleição, mas, contudo, serão extremamente nocivas no longo prazo.

CONCLUSÃO
Analisamos nesta Unidade os conceitos básicos sobre moeda e seu papel no desenvol-
vimento econômico, além de termos refletido sobre a estrutura do Sistema Financeiro
Nacional e seus principais órgãos. Estudamos o papel de cada instituição financeira no
mercado monetário, bem como analisamos como a política monetária pode atuar para
que o cumprimento das políticas macroeconômicas seja alcançado.

Entendemos o que é inflação, suas principais causas, tipos e seus efeitos e consequ-
ências na economia. Conhecemos os índices de preço, indicadores que têm como ob-
jetivo avaliar a evolução dos preços. Discutimos mercado de trabalho, sua importância
econômica, analisando e conhecendo alguns conceitos e indicadores. Por fim, você foi
convidado a refletir acerca do papel do Setor Público na seara econômica, assim como
seus diferentes papéis assumidos pelo Estado na condução do sistema econômico e
social. Conheceu de suas políticas econômicas, bem como atentou sobre os limites e
possibilidades na sua execução e efetividades.

Economia e mercados 117


Moeda e mercado financeiro: Inflação e emprego, estado e políticas macroeconômicas

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Economia e mercados 119

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