USF EAD Economia e Mercados Completo
USF EAD Economia e Mercados Completo
2024
CASA NOSSA SENHORA DA PAZ – AÇÃO SOCIAL FRANCISCANA, PROVÍNCIA
FRANCISCANA DA IMACULADA CONCEIÇÃO DO BRASIL –
ORDEM DOS FRADES MENORES
PRESIDENTE
Frei Thiago Alexandre Hayakawa, OFM
DIRETOR GERAL
Jorge Apóstolos Siarcos
REITOR
Frei Gilberto Gonçalves Garcia, OFM
VICE-REITOR
Frei Thiago Alexandre Hayakawa, OFM
PRÓ-REITOR DE ADMINISTRAÇÃO E PLANEJAMENTO
Adriel de Moura Cabral
PRÓ-REITOR DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO
Dilnei Giseli Lorenzi
COORDENADOR DO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - NEAD
Franklin Portela Correia
CENTRO DE INOVAÇÃO E SOLUÇÕES EDUCACIONAIS - CISE
Franklin Portela Correia
DESIGNER INSTRUCIONAL
Abner Pereira de Almeida
REVISÃO ORTOGRÁFICA
Carolina Bontorin Ceccon (FAE)
Mayara Drobot da Silva Portela (FAE)
PROJETO GRÁFICO
Centro de Inovação e Soluções Educacionais - CISE
CAPA
Centro de Inovação e Soluções Educacionais - CISE
DIAGRAMADORES
Andréa Ercília Calegari
1. Fundamentos de microeconomia......................................................................... 34
2. Elasticidade.......................................................................................................... 48
3. Estruturas de mercado......................................................................................... 55
2. Contabilidade social............................................................................................. 75
INTRODUÇÃO
Taxa de juros, valor do câmbio, superávit comercial, déficit público, inflação e gráficos
e mais gráficos. Certamente, quando você escuta a palavra Economia, vem tudo isso
na sua mente.
Seja bem-vindo à Economia! Certamente, ao longo de toda esta disciplina, você vai se
surpreender e entender melhor a conjuntura e as relações que nos acercam. Vamos
conhecê-la? Bons estudos!
6
tras. Da mesma maneira, essas áreas do conhecimento fazem parte da compreensão
sobre a Economia.
...desde a pré-história.
O que a sociedade quer da vida? Vida.
O que as pessoas querem da vida? Vida.
O que eu quero da vida? Vida.
Como?
Vivendo a dinâmica da Vida. Planejamento
de curto, médio e longo prazo...Sobrevi-
vência, competitividade... Posicionamento,
escolhas, tomada de decisão...
Por quê?
Satisfação de Vida. Sonhos. Felicidade.
Sobrevivência. Competitividade. Bem-
-estar social.
Economia e mercados 7
A economia no nosso dia a dia
Onde?
1 No meio de vida. Vida em sociedade tem dinâ-
mica própria do todo e das partes, com regras,
normas e leis.
Quando?
De acordo com o momento de vida.
Vida em sociedade tem dinâmica própria do todo
composto pela identidade das partes, que são
refletidas nos costumes, na cultura, nas regras,
nas normas e nas leis.
Por autoconhecimento você pode entender a reflexão sobre os valores, o respeito pró-
prio, aquilo que lhe faz feliz e seus sonhos. Em uma organização, isto se reflete na ética
organizacional, na missão, no negócio e nos objetivos. Por conhecimento do mundo
você pode entender o tecido social, o seu entorno, o entorno da empresa, o meio de
vida da sociedade em que as organizações atuam. Já por formas de sobrevivência,
procure entender como as escolhas de comportamento que você faz em sua vida, nos
setores em que trabalha, o que você desempenha para a busca da sua felicidade ou da
sustentabilidade. Nas organizações são tomadas de decisão estratégicas, traçadas à
competitividade de acordo com a missão e com os valores estabelecidos.
` Quem é você?
Ao refletir sobre essas questões você está pensando em variáveis do seu comporta-
mento, que pode ser harmônico e conduzir ao equilíbrio, ou desarmônico e conduzir ao
desequilíbrio. Isso também ocorre na vida organizacional. Qual é a empresa, a orga-
nização ou o setor que eu trabalho? O que há de positivo? Como podemos utilizar os
aspectos positivos para alcançar os objetivos organizacionais?
8
Essas reflexões dependem das análises de variáveis estratégicas e dos momentos da
organização. A organização pode adotar caminhos para a qualidade, a produtividade
e a otimização, mas precisa estar atenta ao momento em que se encontra, porque é
dinâmica, tanto quanto a sociedade em que atua. Tanto você quanto a organização 1
precisam estar de acordo com aquilo que a sociedade anseia.
Quanto mais elaborada for a informação sobre o comportamento das variáveis qua-
Costumo indicar aos alunos todas as vezes que, forem iniciar um trabalho ou um estu-
do, para que haja entendimento pleno do conteúdo, que eles se baseiem no dicionário
e na etimologia das palavras. A partir daí a compreensão sobre os conteúdos e suas
aplicabilidades ficam mais claras, facilitando a compreensão dos conhecimentos e das
técnicas disponíveis.
ECO NOMIA
Economia e mercados 9
A economia no nosso dia a dia
Portanto, pela etimologia: “Economia são as normas da casa”. Portanto, surgem as per-
guntas: o que é necessário para o funcionamento de uma casa? Para que e para quem
uma casa precisa funcionar? Como uma casa funciona?
1
Uma casa usa recursos para atender às necessidades das pessoas.
Contudo, você precisa contextualizar esse entendimento para as “diversas casas” que
existem na sociedade. Você (parte) ou o mundo (todo) podem ser entendidos como uma
casa. Veja as suposições do que seria uma casa:
Uma família – que adquire alimentos ou utensílios domésticos para fazer suas
refeições e ter a necessidade “alimentação” atendida; 2
10
Uma sociedade – que constitui regras, normas e leis para ter a necessidade de
“política” ou de “consolidação de um Estado soberano” atendida;
6
1
7 Um Estado – que se organiza democraticamente para ter a necessidade de
“sobrevivência” das pessoas, pelas pessoas e para as pessoas atendida;
De maneira geral, a Economia visa entender e analisar como “a casa funciona” do ponto
de vista das suas decisões produtivas e seus desdobramentos. A ciência econômica
responde, de maneira geral, às seguintes perguntas:
Economia e mercados 11
A economia no nosso dia a dia
x
?
Na escolha de
comportamento há
relações sociais,
Os recursos são conversas, soluções As necessidades
escassos de problemas, reflexão são ilimitadas.
sobre o comportamen-
to, busca conjunta de
alternativas.
Sendo assim, a Economia pode, também, ser entendida como a “ciência das escolhas”.
Diante das necessidades ilimitadas dos seres humanos, o agente econômico (que pode
ser o Governo, a Família, as empresas etc.) precisa tomar uma decisão sobre o que
produzir, como produzir, quanto produzir e para quem produzir.
12
1.2 VISÕES ESTRATÉGICAS DO COMPORTAMENTO ECONÔMICO
Há algumas formas de conhecer o mundo. Você pode conhecê-lo por meio do entendi-
mento filosófico, religioso ou do senso comum, que é aquele transmitido de geração em
geração. Já ciência conhece o mundo por meio do método científico e ela se relaciona 1
a sua forma de vida cotidiana.
SAIBA MAIS
Procure na internet sobre conhecimento do mundo por meio do conhecimento filosófico, religioso
ou do senso comum.
O senso comum é chamado de conhecimento popular. Um conjunto de códigos transmitidos de
geração em geração ou pela própria experiência de vida das pessoas.
Note a diferença entre conhecimento científico e senso comum: por que você sabe quando é
primavera? Você já fez um trabalho de conclusão de curso para descobrir quando ela ocorre? Se
tivesse feito, teria conhecido a primavera por meio do conhecimento científico.
Economia e mercados 13
A economia no nosso dia a dia
Quando você opta por realizar um curso de graduação, você se aproxima do conheci-
mento do mundo pelo método científico, que tem regras e normas de transmissão, usa
as normas da ABNT e faz trabalhos de iniciação científica ou de conclusão de curso.
1
Por meio da aproximação da ciência com o senso comum e os demais conhecimen-
tos, avançamos na curva de aprendizagem da sociedade e vivemos dessa forma e
não em cavernas.
Por que acontece isso na sociedade? Por causa da lei da vida. Porque nós, seres hu-
manos, nos organizamos assim nesta “aldeia global”, em um tecido social que coexiste
em um único planeta, pois buscamos alternativas para sobreviver. A história mostra que
essa busca pela vida sempre encontrou novos equilíbrios em meio a desequilíbrios.
Lembre-se das transições pelas quais passamos como aquela entre a idade média e a
idade moderna. Crises da humanidade são alternativas a mudanças e a renovações do
meio de vida.
Diferentemente das Ciências Naturais e Exatas, que muitas vezes podem contar com
laboratórios para provar suas teorias, a Economia, como Ciência Social, precisa aplicar
modelos hipotéticos para explicar algumas de suas particularidades. Para isso, adota-
mos uma expressão latina coeteris paribus ou ceteris paribus. Ela quer dizer “mantidas
as demais variáveis constantes”.
Outro ponto que também merece destaque é que a Ciência Econômica, assim como
qualquer outra ciência, analisa seus fatos e particularidades em diferentes níveis. Mankiw
(2013) cita o exemplo da Biologia para comparar: a Biologia não se divide em biologia
molecular, botânica, zoologia, dentre outros? A Economia também tem suas divisões.
Podemos tentar analisar a decisão de uma família ao decidir pela compra de um bem
de consumo em detrimento do outro, verificar por que os preços da gasolina estão au-
mentando após elevação do preço do dólar, ou ainda verificar a tendência de poupança
das famílias brasileiras em um ambiente de alta generalizada dos preços, por exemplo.
14
tecido conjunto da Economia se modifica, de acordo com a capacidade de geração de
renda de cada fio (atividade econômica).
Renda
Leis do Comportamento
Tecido conjunto da
Atividade Econômica
o
çã
iza
im
Ot 4º
Novo
Equilíbrio
ia Impulso
o log 3º
cn
Te
Equilíbrio
Impulso o 2º
ra çã Trama do Tecido Social e
S atu
geração de renda
1º
Tempo
Economia e mercados 15
A economia no nosso dia a dia
MicroEconomia
1
Analisa como as pessoas, empresas e famílias tomam decisões e como se relacionam e
interagem entre si em mercados específicos;
MacroEconomia
Esta é uma dúvida comum! Apesar dos muitos números, gráficos e valores que você já
deve ter visto associado à Economia, esta é uma ciência das Ciências Humanas. Isto
acontece porque a Economia, conforme já anteriormente discutido, visa entender como
“como a casa funciona”, principalmente em questões básicas como “o que deverá ser
produzido” ou “quem terá direito de consumir”.
A maneira pela qual se decide produzir um produto em detrimento de outro passa por
questões culturais e políticas; Economia nada mais é do que a observação do comporta-
mento humano em relação às suas decisões produtivas no interior de suas sociedades.
Figura 03. O caráter biunívoco das relações da Economia com outros ramos do conhecimento social
Antropologia
Cultura
Direito Psicologia
Filosofia Sociologia
Ética Política
Economia
16
Sendo assim, a Economia é uma ciência de humanidades. Entretanto, como metodologia
de análise do comportamento de seus agentes demanda, não só da matemática e da Es-
tatística, conhecimento de História, Sociologia, Psicologia, Ciência Política, dentre outros.
1
Entender as mais diversas questões econômicas demanda multidisciplinaridade. Isto é, não
existe um problema “exclusivamente econômico”, o que existe são questões políticas, so-
ciais, psicológicas e antropológicas que muitas vezes se refletem no campo da Economia.
Entendendo a Economia desta maneira, fica fácil entender porque os economistas di-
vergem tanto! Certamente, ao ler uma notícia no jornal, ou até mesmo ver um comentá-
rio em algum telejornal, você observou que economistas têm opiniões completamente
distintas sobre o mesmo ponto analisado.
Tabela 01. Proposições com as quais a maioria dos economistas concorda
Economia e mercados 17
A economia no nosso dia a dia
01. O salário mínimo aumenta o desemprego entre trabalhadores jovens e não qualificados (79%).
02. O governo deveria reestruturar o sistema de assistência social nos moldes de um “imposto de renda
negativo” (79%).
1 03. Os impostos sobre efluentes e as permissões para poluição negociáveis são uma abordagem melhor
no controle da poluição do que a imposição de tetos à poluição (78%).
04. Os subsídios do governo sobre o etanol nos Estados Unidos devem ser reduzidos ou eliminados
(78%).
Por que isso acontece? Segundo Mankiw (2013), os economistas possuem diferentes
opiniões acerca da validade e aplicabilidade de algumas teorias. Têm diferentes “visões
de mundo”, o que por si só dificulta na interpretação sobre o impacto de algumas vari-
áveis econômicas (e suas dimensões) podem afetar o bem-estar econômico.
Terra:
Dizem respeito a todos os insumos ou fatores in natura oriundos da atividade econômica de
agropecuária, plantio e manejo florestal, extrativismo, dentre outras.
Capital:
Pode ser físico ou financeiro. O capital físico são as máquinas, os equipamentos e as estruturas
físicas produtivas, aquilo que é possível quantificar e medir contabilmente e que também
caracteriza os investimentos. Já o capital financeiro pode ser entendido como a moeda
18
utilizada para financiar, em forma de crédito ou poupança, a atividade econômica. O crédito
é uma antecipação de consumos e investimentos que possuem maior risco ou incerteza de
pagamento, quando comparado ao uso de poupança, considerada mais prudente pela garantia
de remuneração imediata do sistema produtivo de bens e serviços.
1
Tecnologia:
É a interação de técnica e conhecimento. A tecnologia é abstrata e se revela por meio do
comportamento das pessoas. Para entender a tecnologia, você precisa olhar para a forma
de interação do conhecimento e das técnicas entre as pessoas e os objetos. Não confunda
tecnologia com inovação. Há tecnologia no momento em que você está estudando, alimentando-
se, tomando banho e realizando as demais atividades do dia a dia, aproprie-se, contudo, da
tecnologia para escolher a forma como você vive e sobrevive em sociedade. Você é importante
e pode construir alternativas em conjunto para a sustentabilidade.
PARA REFLETIR
O papel da inovação tecnológica
Segundo Joseph Schumpeter (1883 — 1950), economista austríaco, a inovação tecnológica
promove a “destruição criativa do capital”. Para ele, a inovação tecnológica é o motor para
o crescimento econômico sustentado da Economia, apesar da inovação destruir empresas já
bem estabelecidas (SCHUMPETER, 1961). Ou seja, ao surgir um produto inovador, o anterior
é substituído pelo novo, revolucionando todo o sistema anteriormente concebido. De acordo
com Mankiw (2013), uma das formas de conhecer a trajetória econômica é por meio das
tecnologias geradas pela humanidade no decorrer de sua história, como ferrovia, telégrafo,
motor a combustão, informática, dentre outros. Você concorda com esta ideia? Qual o papel da
inovação para toda sociedade? Não deixe de discutir!
Economia é um comportamento humano que depende das escolhas que nós fazemos
diariamente. Tanto os recursos utilizados quanto as necessidades das pessoas têm
Economia e mercados 19
A economia no nosso dia a dia
Nos livros de Economia, qualquer conceito ou definição que você encontre levará à
ideia, resumida e sintética, de que “Economia é um comportamento das pessoas no uso
de recursos escassos para atender às necessidades ilimitadas das pessoas”.
20
3 COMPORTAMENTOS ECONÔMICOS EM SOCIEDADE
Depois de estudar algumas lógicas e alguns raciocínios do comportamento econômico, é
possível avançar na curva de aprendizagem da Economia e compreender como o comporta- 1
mento econômico das partes se revela em sociedade e se organiza em sistemas econômicos.
A forma como a sociedade se organiza para escolher o que produzir, para quem pro-
Para entender o comportamento cíclico na Economia, pense em você no dia a dia. Você
acorda, ganha produtividade (impulso), atinge o melhor momento do trabalho (equilí-
brio), depois cansa e necessita de repouso (saturação). Tanto o sistema econômico
quanto as organizações funcionam da mesma forma com relação ao meio de vida e
aos investimentos na produção. Quando este ritmo se rompe, há crises no sistema
econômico ou nas empresas, que representam mudanças, novos investimentos e estra-
tégias para construir o próximo equilíbrio. A ruptura deste ritmo pode ser expressa pela
desconexão da produção e da remuneração de bens e serviços. Nas empresas, são
momentos de perda de produtividade, mercado ou ineficiência produtiva.
ECONOMIA DE MERCADO
Na Economia de mercado, que podemos conceber aqui como “sistema capitalista puro”, as
decisões são tomadas pelo que conhecemos como “mercado”. De acordo com Mankiw (2013)
é o mercado que escolhe o que vai ser produzido, qual tipo de trabalho será formado, quais
são suas quantidades etc. Este sistema, também se baseia nos princípios da livre iniciativa e
da propriedade privada. O Mercado decide. Então agentes (pessoas) da oferta e da demanda
decidem o que produzir, como produzir e para quem produzir
ECONOMIA MISTA
Já na Economia mista, também capitalista, o mercado também escolhe o que deverá ser
produzido, contudo com intervenção do governo neste processo. O governo atua diretamente
na eleição de prioridades, agindo como uma espécie de “condutor do mercado”. O mercado
(pessoas) e o governo decidem o que produzir, como produzir e para quem produzir.
Economia e mercados 21
A economia no nosso dia a dia
ECONOMIA CENTRALIZADA
Já no sistema de Economia Centralizada, as decisões sobre o que deverá ser produzido,
quanto será produzido e quem consumirá cabe um órgão central de planejamento controlado
1 pelo seu governo. Neste sistema, diferentemente do Sistema Capitalista, não há a previsão de
propriedade privada, mas sim propriedades de caráter coletivo.
Só o governo decide o que produzir, como produzir e para quem produzir.
Os sistemas econômicos são compostos pelos agentes econômicos (famílias, empresas
e governo), fatores ou recursos de produção, bens e serviços e seus mercados (oferta e
demanda). De acordo com Vasconcellos (2016), os fatores de produção são: terra, capital,
trabalho, capacidade empresarial e tecnologia.
Observe a TAB.1: ela demonstra algumas particularidades básicas dos diferentes sis-
temas econômicos. Enquanto a Economia de mercado prevê a livre manifestação das
forças de mercado, sem qualquer ação que atrapalhe a liberdade econômica do agente
econômico em se decidir – livre iniciativa, e tem como sistema de incentivos o benefício
privado pelos agentes individuais, a Economia de comando central o sistema de incen-
tivos é baseado na busca do bem comum e da cooperação.
Neste sistema não existe a propriedade privada, possuindo os meios de produção ca-
ráter coletivado, socializado e estatizado, e a alocação dos fatores de produzir (o que
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será produzido e quem terá acesso ao que será produzido) é determinada por um órgão
central de planejamento.
1
PARA REFLETIR
REFLEXÕES HISTÓRICAS SOBRE SISTEMAS ECONÔMICOS
Economia e mercados 23
A economia no nosso dia a dia
Apesar de nos livros a visão da remuneração ainda ser classificada conforme o parágra-
fo anterior, note que todas são formas de renda. O capital ainda pode ser tratado como
lucro, de acordo com o comportamento das organizações, mas essa remuneração do
processo produtivo pode ser entendida como renda. A renda é resultado de um esforço
produtivo, seja de uma pessoa, do governo, de uma organização ou de uma empresa.
PARA REFLETIR
Uma boa alocação de fatores de produção é estratégia essencial para qualquer empresa. Veja
a notícia a seguir e verifique os motivos que levaram empresas de aviação dos Estados Unidos
a optarem por aviões mais velhos do que mais tecnológicos.
COMPANHIAS AÉREAS RICAS AUMENTAM COMPRAS DE AVIÕES USADOS
A Southwest e suas concorrentes americanas — agora cheias de dinheiro após obterem lucros
recorde no ano passado — estão vasculhando os países em desenvolvimento atrás de aviões de
segunda mão em um momento em que o combustível barato torna mais econômica a operação
de aeronaves mais antigas e menos eficientes. Isto contraria o tradicional fluxo de aviões de
segunda mão das empresas aéreas norte-americanas para seus pares dos países emergentes
e torna um mercado já volátil para a Boeing e a Airbus mais imprevisível.
24
“Se você tem muitos aparelhos com asas, é provável que esteja tentando vendê-los nos EUA
agora mesmo”, disse George Ferguson, analista sênior de transporte aéreo da Bloomberg
Intelligence.
1
O que impulsiona a mudança é o colapso dos preços do petróleo.
Enquanto a queda das commodities prejudicou Economias como a Rússia e o Brasil, os custos
De acordo com Mankiw (2013), quando as empresas ofertam bens e serviços, dese-
jam receber uma remuneração. Um preço que será pago pelo bem ou pelo serviço. No
conjunto, ou pela soma de todos os entrelaçamentos de cadeias produtivas de todas as
atividades econômicas, forma-se o Fluxo Circular da Renda (ver figura a seguir). Ele é a
complementaridade entre o processo de produção de bens e serviços, desde a origem
dos fatores de produção até o bem ou serviço final, e suas respectivas remunerações.
Figura 04. Fluxo circular da renda
EMPRESAS FAMÍLIAS
= Fluxo real
• Produzem e vendem • Comparam e consu-
(bens e serviços)
bens e serviços; mem bens e serviços;
= Fluxo monetário
• Demandam fatores de • Vendem seus fatores
produção; de produção;
MERCADO PARA
Fatores de FATORES DE Trabalho, terra
produção PRODUÇÃO e capital
• Famílias vendem;
Salários, aluguel e lucros • Empresas compram; Renda
Economia e mercados 25
A economia no nosso dia a dia
Essa organização composta por agentes, fatores de produção, bens e serviços e mer-
cados determinam os sistemas econômicos. Eles conformam uma interação entre os
agentes da Economia por meio dos mercados e de diretrizes políticas, determinando de
1 qual forma será a atividade econômica.
Você participa diretamente do Fluxo Circular da Renda. Vamos a um exemplo? Imagine que
você trabalha em alguma empresa do ramo alimentício que faz chocolates. Você diariamen-
te oferece seu trabalho (que chamamos de Fator de Produção Trabalho) para esta fábrica.
Seu empregador, por sua vez, para produzir os chocolates demanda (precisa) de seu
trabalho. No final do mês, seu patrão lhe remunera por meio de seu salário, conforme
contrato salarial. Com este salário, sabendo que a fábrica oferece descontos atrativos
para seus funcionários, você adquire uma série de chocolates para você presentear
seus parentes e seus amigos.
Você viu como funciona o ciclo? Você vende seu Fator de Produção Trabalho no Mer-
cado que Trabalho, que, por sua vez, é comprado pelo seu patrão. Você, mediante os
seus salários, satisfaz suas necessidades no mercado de bens e serviços, que são
remunerados pela renda de seu salário.
Você viu como é importante que a Economia siga esse fluxo? Algumas pessoas de-
nominam esse fluxo como “giro”, isto é, quanto mais a “Economia gira” (mais o fluxo
funciona), mais forte e mais dinâmica é esta Economia.
26
tégias de superação dos limites da produção estão relacionadas ao uso de técnicas e
conhecimentos de modo interativo (tecnologia) para encontrar alternativas ao equilíbrio,
também entendido como o ótimo de produção de um próximo período de tempo.
1
Vamos a nosso exemplo de Curva de Possibilidade de Produção (CPP). Imagine que
determinado país – País A – produz apenas dois produtos: alimentos e máquinas. Todos
os seus fatores de produção (terra, capital, tecnologia, trabalho etc.) são destinados
Quantidade de
máquinas (em mil
unidades) Produção
impossível
30 D
Linha de
produção
possível
A
15
C B
9
Produção pos-
sível, mas não CPP
eficiente! Quantidade de
0
20 28 40 alimentos (em t)
Fonte: Elaborado pelo autor (2019).
Observe que o gráfico 1 demonstra a CPP do país A. Observe a linha de produção possível,
linha na qual estão posicionados os pontos A e B. No decorrer desta linha, todos os fatores
de produção estão sendo utilizados. Assim, não há ociosidade, ou seja, tudo o que estiver
acima desta linha não gera máquina desligada ou mão de obra sem trabalho, por exemplo.
Todos os pontos de produção que estiverem acima desta linha são considerados óti-
mos, uma vez que todos os fatores de produção estão sendo alocados de maneira
plena. Sendo assim, os pontos A e B são ótimos, isto é, eles são equivalentes do ponto
de vista produtivo.
Nestes dois pontos estão sendo alocados todos os fatores de produção disponíveis
na Economia do País A, alterando apenas a quantidade de produção de máquinas
e alimentos. O ponto C do gráfico – que produz 9 mil máquinas e 20 toneladas de
alimentos – não é eficiente, uma vez que gera ociosidade na Economia do País A.
Neste nível de produção certamente alguém ficará sem trabalho ou alguma terra
ficará ociosa (improdutiva).
Economia e mercados 27
A economia no nosso dia a dia
1
Custo de oportunidade é aquilo que se deixa de fazer por causa de uma escolha que você
realiza.
Se você decidiu estudar, está deixando de fazer outras inúmeras coisas. Comparati-
vamente, essa sua opção levou em consideração o custo de oportunidade. O uso do
tempo implica em uma decisão ótima para o momento, e entre todas as alternativas que
você tem para dedicar o seu tempo, preferiu estudar. Você tem seus próprios motivos
para tomar essa decisão e ela lhe trará a maior satisfação, seja no momento em que
estuda ou no momento que puder colher os frutos desse investimento. Nesse sentido, o
custo de oportunidade pode ser medido em termos monetários. Utilizar recursos finan-
ceiros para estudar é deixar de utilizar esse dinheiro para o consumo de outros bens,
serviços ou poupança.
Quando você inclui o custo de atratividade do capital nas suas decisões, você maximiza a
satisfação propiciada pela escolha. Talvez a TIR seja um pouco inferior, o retorno sobre o
investimento leve um pouco mais de tempo e o ponto de equilíbrio fique um pouco maior.
Contudo, você estará realizando um investimento mais consistente, de modo mais prudente
e, ainda, remunerando a sua qualidade de vida. Essa consideração tende a conduzir o seu
investimento a momentos ótimos mais duradouros, pelos ganhos de produtividade oriundos
da procedência do investimento, do bem-estar e da valorização da cultura organizacional.
Uma empresa de sucesso é aquela que se adapta às mudanças sociais. Uma em-
presa dinâmica capaz de pensar a sua sobrevivência em conjunto com as demais
organizações públicas, privadas e da sociedade civil organizada. Por vezes, a alter-
nativa de sobrevivência atrela-se à opção de estabelecer uma relação com órgãos
de classe ou com a universidade para garantir pesquisa e estudos que conduzam à
qualidade e à produtividade.
28
Mas, decidir sobre o custo de oportunidade implica em trabalhar com inúmeras variá-
veis e também com a elaboração de cenários.
Vamos voltar ao nosso modelo hipotético para entender melhor sobre o custo de oportu-
nidade. Observe agora o gráfico 2: ele demonstra o custo de oportunidade em se decidir
produzir as primeiras 20 toneladas de alimentos no país, se o País A desejar produzir
apenas máquinas, ele poderá produzir 30 mil máquinas e nenhuma tonelada de alimento.
Tabela 05. Custo de oportunidade de produção no país A
Quantidade de Produzir as
máquinas (em primeiras 20
Custou a produ-
mil unidades) toneladas de
ção de MENOS
alimento...
5 mil máquinas
35
Produzir MAIS
30 20 toneladas de
alimentos...
25
20
...requer mais de
15 25 mil máquinas
10
5
CPP
Quantidade de
01 02 03 04 05 0 alimentos (em t)
Economia e mercados 29
A economia no nosso dia a dia
Quantidade de
1 máquinas (em
mil unidades)
35
30
E
A
25
20
15
10 Nova
CPP
Original
5
CPP
Quantidade de
01 02 03 35 0 40 50 alimentos (em t)
Entretanto, continuando com nosso modelo hipotético, como este país poderia pro-
duzir as 20 toneladas de alimento, sem a necessidade de diminuir a quantidade de
produção de máquinas?
Isto aconteceria apenas por meio do aumento da capacidade produtiva, que acontece
apenas com aumento dos fatores de produção. Voltemos ao nosso modelo hipotético
do País A. Observe o gráfico 3. No ponto A do gráfico, o país consegue produzir 20
toneladas de alimento e 25 mil máquinas e, no ponto E, 25 toneladas de alimento e
30 mil máquinas.
30
mento normativo)”; “Eu me comportei assim (argumento positivo), mas deveria ter me
comportado de outra forma (argumento normativo)”.
Tanto o planejamento público, quanto o privado e o pessoal devem ser dinâmicos para acom-
panhar a dinâmica da sociedade. Isso implica em revisar constantemente: metas, objetivos,
condutas, comportamentos e manter um alinhamento com os valores, os princípios e as
diretrizes de comportamentos à sustentabilidade.
CONCLUSÃO
Economia é uma ciência e, como tal, tem suas metodologias e particularidades. Nesta
Unidade você estudou os princípios fundamentais da Ciência Econômica, suas princi-
pais questões e seus métodos.
Lembre-se: Economia é uma Ciência Social que tem como grande desafio entender as
decisões humanas acerca do que produzir, quanto produzir e para quem produzir. Nada
mais do que entender o comportamento humano e de suas organizações acerca
Economia e mercados 31
A economia no nosso dia a dia
32
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MANKIW, N. Gregory. Introdução à Economia. 6. ed. São Paulo: Cencage Learning, 2013.
1
PINHO, Diva Benevides; VASCONCELLOS, Marco Antonio Sandoval (Org.). Manual de Economia (Equipe
dos professores da USP). 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
SCHUMPETER, Joseph. Capitalismo, socialismo e democracia. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1961.
VASCONCELLOS, Marco Antonio Sandoval. Economia: micro e macro: teoria e exercícios. São Paulo: Atlas, 2016.
Economia e mercados 33
Como os mercados funcionam? Fundamentos e reflexões sobre a microeconomia UNIDADE 2
COMO OS MERCADOS
FUNCIONAM? FUNDAMENTOS
2 E REFLEXÕES SOBRE A
MICROECONOMIA
INTRODUÇÃO
Nesta Unidade, você aprenderá sobre alguns aspectos básicos do funcionamento dos
mercados. Segundo Mankiw (2013) um mercado é um grupo de compradores e vende-
dores de determinado bem ou serviço. “Os compradores, como grupo, determinam a
demanda pelo produto e os vendedores, também como grupo, determinam a oferta do
produto” (MANKIW, 2013, p. 64).
Vamos aprender um pouco mais sobre a microeconomia? Neste primeiro tópico, serão
abordados os elementos essenciais da oferta e da demanda. Trataremos, portanto,
das teorias que regem seu comportamento e de que forma se processa o equilíbrio de
mercado. Vamos lá!
1. FUNDAMENTOS DE MICROECONOMIA
O estudo da disciplina Economia e Mercado foca na interação dos agentes (famílias,
empresas e governo) no mercado em que estão inseridos. A famosa premissa de que, no
sistema econômico, os recursos são escassos e as necessidades, ilimitadas, é o elemen-
to norteador para a necessidade de se compreender os conceitos de oferta e demanda.
A escassez de uma determinada mercadoria está relacionada com o fato de que todos
os recursos existentes no mundo, sejam eles recursos naturais, humanos ou o capital
que será utilizado na produção, estão disponíveis em quantidade limitada, ou então
seu uso está restrito em função de direitos de propriedade. Esta quantidade limitada de
recursos acaba tendo como estabilizador o preço, fazendo com que seja a restrição, e
não a necessidade, que determine o valor de um recurso.
34
que há algumas décadas era um bem considerado extremamente abundante e, por
isso, de valor ínfimo, vem apresentando um crescente aumento em seu valor.
No século XIX, bastava estar próximo a um rio que era possível obter água potável sufi-
2
ciente para as necessidades da população, mas o incremento desta mesma população,
associado ao uso inadequado dos recursos hídricos, faz com que, pouco a pouco, a
água se torne um recurso escasso.
SAIBA MAIS
ADAM SMITH (1723 — 1790)
Filósofo escocês considerado o fundador da Ciência Econômica ao publicar, em 1776, o livro “A
Riqueza das Nações”. Antes da publicação deste livro, concentrou seus esforços em estudar os
valores éticos e a filosofia moral. Segundo Smith, “o objetivo da filosofia moral é a felicidade e
o bem-estar” (RIMA, 1990, p. 99). Assim, ao procurar o conhecimento a respeito do bem-estar,
Smith desenvolveu seu estudo sobre o funcionamento da economia com ênfase em alguns
aspectos, como: produção, produtividade, divisão do trabalho, uso da moeda e o argumento da
liberdade econômica, no sentido de que o comércio exterior é benéfico ao ampliar o mercado
consumidor para a produção (RIMA, 1990).
Economia e mercados 35
Como os mercados funcionam? Fundamentos e reflexões sobre a microeconomia
VISÃO MICROECONÔMICA
2
` Ligada à noção de equilíbrio e maximização de ganhos.
Demanda: também pode ser definida como “um desejo de adquirir, […] um plano, e não sua
realização” (MONTORO FILHO, 2011).
Podemos perceber que existem alguns fatores que interferem de forma decisiva no
processo de satisfação do consumidor ao comprar determinado produto. Sabemos que
o consumidor irá realizar o processo de escolha de sua cesta de consumo, buscando
atingir o maior nível de satisfação possível.
` Renda do consumidor;
36
` Preço de outros bens que se relacionam, de alguma forma, com o bem analisado;
Resumindo: 2
Figura 01. Fatores relevantes para a escolha de um bem e sua respectiva quantidade
INTERDEPENDÊNCIA
Vejamos como isto acontece na prática. Quando o preço do tomate aumenta, os con-
sumidores evitam o consumo deste produto. Esta é a lógica da influência que o preço
exerce sobre a quantidade demandada. Outro exemplo: quando o preço dos automó-
veis diminui para o consumidor, existe um aumento da procura por este produto.
Para essa situação de mercado, utilizamos a seguinte fórmula:
Qd = f (P )
Economia e mercados 37
Como os mercados funcionam? Fundamentos e reflexões sobre a microeconomia
30
20
10
0
1 2 3 4 5 6
Fonte: Elaborado pelos autores (2014).
IMPORTANTE
Essa é a expressão da lei geral da demanda. O nível de preços pode ampliar ou reduzir a
procura ou a venda de um determinado produto.
RENDA DO CONSUMIDOR
O segundo fator que influencia a demanda por um determinado produto é a renda, que fun-
ciona como um elemento limitador à satisfação das necessidades dos consumidores, pois
podemos considerar que a renda é um dos recursos escassos que precisamos alocar de
forma eficiente. De maneira geral, podemos verificar que, sendo a renda escassa, se houver
um aumento nesta renda, o consumidor deverá aumentar a aquisição de mercadorias.
IMPORTANTE
Por exemplo, se uma pessoa é promovida no emprego, com impactos significativos em
seus rendimentos, com certeza ela demonstrará isso por meio da mudança em seu estilo
de vida, que refletirá nos bens que passará a consumir. Este efeito ocorre desta forma nos
chamados bens normais.
Assim, os bens normais apresentam uma relação diretamente proporcional entre renda
e quantidade demandada, como expresso no esquema abaixo:
38
↑R → ↑QD ou ↓R → ↓QD
IMPORTANTE 2
D1
D2
D3
QuantidadeDemandada
D1 D2 D3
Na Fig. 04, a linha (D2) representa a demanda inicial. Quando o consumidor experi-
menta um aumento na sua renda, a demanda por este produto aumenta e a curva de
demanda desloca-se para cima, como na situação demonstrada pela curva (D1). Já
quando ocorre uma situação contrária, ou seja, de queda na renda, o efeito é de deslo-
camento da demanda para baixo, como representado pela linha (D3)
Entretanto, no caso dos bens normais existe uma limitação a esta expansão do consu-
mo, pois se o produto já estiver sendo consumido no seu ponto de saturação, a mudan-
ça na renda não afetará seu consumo.
Economia e mercados 39
Como os mercados funcionam? Fundamentos e reflexões sobre a microeconomia
EXEMPLO
Esse é o caso dos alimentos. Se a pessoa já se alimenta com produtos na quantidade e com
2 a qualidade adequada, dificilmente ela passará a consumir mais apenas porque isso dá uma
“sensação de riqueza”, ou seja, isto é o que se costuma chamar de consumo saciado.
Bens inferiores são aqueles que são considerados de menor qualidade ou com possibilida-
des limitadas de satisfazer o consumidor. Quando existe um aumento na renda do consumi-
dor, este deixa de consumir esta mercadoria.
Sendo assim, sempre que o consumidor tem um aumento de renda que possibilite com-
prar bens melhores, ele deixa de consumir este produto. O esquema a seguir mostra
como a renda se relaciona com os bens inferiores:
↑R → ↓QD ou ↓R → ↑QD
EXEMPLO
É o caso, por exemplo, do transporte coletivo na nossa sociedade: sempre que o indivíduo tem
possibilidades financeiras, abre mão de se locomover por meio do transporte coletivo. Outro
exemplo é a redução do consumo de refresco em pó, em que o indivíduo passa a utilizar outro
produto similar que irá lhe transmitir sensação de aumento do bem-estar.
Convém enfatizar que esta classificação é relativa, pois o mesmo produto pode ser in-
ferior ou normal, para diferentes indivíduos, dependendo de sua renda.
D1
D2
D3
QuantidadeDemandada
40
Sendo assim, tanto quando tratamos dos bens normais quanto quando tratamos dos
bens inferiores, a renda traz efeitos sobre a curva de demanda, alterando os hábitos de
consumo da população em função do fato de que a demanda tem impacto de restrição
no consumo da população. A renda, de acordo com a Teoria do Consumidor, pode ser 2
chamada de restrição orçamentária, pois limita o consumidor na sua busca por satisfa-
zer seus desejos e necessidades.
Preço aumenta
C
Preço
D
E
F
QuantidadeDemandada
Economia e mercados 41
Como os mercados funcionam? Fundamentos e reflexões sobre a microeconomia
Graficamente, isto significa que a curva de demanda de X irá se deslocar para baixo e
para a esquerda (de D1 para D2), como demostrado no Fig. 07.
Figura 07. (Gráfico) Efeito da variação de preço do produto Y na análise da curva de demanda do produto X
2 Preço
D1
D2
QuantidadeDemandada
D1 D2
SAIBA MAIS
Em termos práticos, podemos identificar exemplos de bens complementares na relação entre o
consumo de combustível e óleo de motor: quanto menor o preço do combustível, maior será a
utilização do veículo e, consequentemente, do consumo de óleo de motor.
Já na utilização de eletrodomésticos e de energia elétrica, quanto maior o preço da energia
elétrica, maior a necessidade de se utilizar racionalmente os eletrodomésticos, evitando até
mesmo a aquisição daqueles considerados desnecessários.
Bens substitutos: produtos que, em termos de funcionalidade ou utilidade, podem ser facilmente
trocados um pelo outro. Neste caso, quando o preço de um produto substituto cai, a quantidade
do produto que estamos analisando aumenta.
Consumo aumenta
Preço cai
De acordo com o Fig. 08, quando o preço do produto Y diminui, o consumidor aumenta o
consumo de Y, expresso pela transição da posição B para o ponto C. Deste modo, este
consumidor deixa de consumir X, já que a utilização dos dois é a mesma.
42
Figura 08. (Gráfico) Curva de Demanda do Produto Y
D
E
F
QuantidadeDemandada
D1
D2
QuantidadeDemandada
D1 D2
SAIBA MAIS
Como exemplos para bens substitutos temos os combustíveis etanol e gasolina que, nos
automóveis com motor flex, são escolhidos basicamente a partir do fator preço.
Outro exemplo é a escolha entre comprar um computador do tipo desktop ou do tipo laptop, visto
que a escolha do preço é um importante fator de decisão, embora não seja o único determinante.
GOSTOS E PREFERÊNCIAS
O último fator que afeta a curva de demanda são os gostos e preferências. Este é um fator
subjetivo, que depende de como o consumidor é afetado por hábitos e tradições, como
as novas informações a respeito de como um determinado produto pode ser importante
Economia e mercados 43
Como os mercados funcionam? Fundamentos e reflexões sobre a microeconomia
para melhorar o seu bem-estar. A utilização de propaganda por parte das empresas, por
exemplo, pode afetar, e muito, a mudança de alguns hábitos dos consumidores. Todos
estes elementos somados podem alterar ou não a demanda dos consumidores.
2
Em outras palavras, esta situação pode ser expressa da seguinte forma:
Suponhamos que seja feita uma grande campanha publicitária incentivando
a população a beber mais leite. Nesta campanha se mostra o valor nutritivo
do leite e os benefícios que ele traz para a saúde. O povo é despertado por
esta propaganda e resolve tomar mais leite. O que ocorrerá com a curva
de procura do leite? É fácil responder. A curva se deslocará para a direita.
GREMAUD (2003, p. 138)
D1
D2
QuantidadeDemandada
D1 D2
Fonte: Elaborado pelos autores (2014).
Qs = f (P )
44
A curva de oferta mostra a quantidade de uma mercadoria que os produtores estão
dispostos a vender a um determinado preço, considerando constantes outros fatores
que possam afetar a quantidade ofertada. Essa relação entre preço e quantidade pode
ser demonstrada pela equação a seguir, cuja representação gráfica é demonstrada na 2
sequência (Fig. 11):
Figura 09. (Gráfico) Quantidade ofertada
QuantidadeOfertada
Fonte: Elaborado pelos autores (2014).
` Preço do bem;
` Tecnologia disponível.
Os preços dos fatores de produção também são fundamentais para entender o com-
portamento da oferta, pois são os elementos que compõem os custos de produção da
empresa. Assim, quando os custos de produção se elevam, se os preços permanecem
inalterados, temos como consequência a diminuição da margem do empresário, deses-
timulando a produção. Imagine que um fator externo à empresa provoque uma eleva-
ção no preço das matérias. Nesse caso, se o preço do produto se mantiver o mesmo,
haverá uma diminuição da margem de lucro da empresa, desestimulando a produção,
do ponto A para o ponto B na Fig. 12. Se, por outro lado, for possível uma elevação no
preço, isso pode ocorrer mantendo-se o nível de produção no mesmo patamar, do ponto
A para o ponto C na Fig. 12.
Economia e mercados 45
Como os mercados funcionam? Fundamentos e reflexões sobre a microeconomia
Figura 10. (Gráfico) Os efeitos que alterações nos custos provocam na curva de ofertas
C 03
A 01
2 B
02
Preço
01
02
03
Quantidade Ofertada
Fonte: Elaborado pelos autores (2014).
De acordo com A Fig. 12, podemos observar que a curva de oferta inicial O1, ao sofrer
um aumento em seus custos, sofre um deslocamento, tornando-se a curva O3.
IMPORTANTE
Tecnologia: Neste caso, o “tipo de tecnologia” está relacionado com a escolha do tipo de
processo de produção que será utilizado pela empresa. Em outros termos, pode-se dizer
que a empresa precisa definir, a partir do que pretende produzir, se a produção acontece
a partir de um processo artesanal ou se a produção terá incorporação de inovações que
racionalizem a utilização dos recursos produzidos.
46
Figura 11. (Gráfico) Equilíbrio de mercado
EXEMPLO
A lógica do Equilíbrio de Mercado pode ser facilmente compreendida quando pensamos
nos mercados de produtos agrícolas. No caso da soja, por exemplo, seu preço é um preço
internacional, definido a partir da oferta e demanda mundial de soja, ou seja, da existência de
uma interação entre as informações sobre o total da safra mundial e a quantidade que está sendo
demandada pelos consumidores em termos mundiais. Assim, qualquer dado que se apresente e
que, de alguma forma, modifique as condições existentes, pode afetar o equilíbrio estabelecido.
Este exemplo da soja é similar ao que acontece com o milho, café, minério de ferro, entre outros.
Quando o preço de mercado se situa em P1, acima do preço de equilíbrio (P0), isso im-
plica em excesso de oferta. Nesse caso, os produtores tendem a reduzir os preços e a
quantidade demandada começa a aumentar, de Q1 na direção de Q3 enquanto a quanti-
dade ofertada começa a se reduzir, de Q2 na direção de Q3. Desta maneira, o mercado
vai se ajustando até que o preço de equilíbrio seja alcançado. A Fig. 14 ilustra o pro-
cesso. Pois a um determinado preço as empresas estão dispostas a ofertar no ponto
B e a este mesmo preço, considerado alto pelos consumidores, eles estão dispostos a
comprar apenas a quantidade assinalada pelo ponto A.
Figura 12. (Gráfico) Excesso de oferta e excesso de demanda
A B
P1
Preço
P0
P2
D
C
Quantidade
Demanda Oferta
Economia e mercados 47
Como os mercados funcionam? Fundamentos e reflexões sobre a microeconomia
Já quando o preço de mercado se situa em P2, abaixo do preço de equilíbrio (Fig. 15),
isso implica em excesso de demanda ou escassez de oferta. Nesse caso, os produtores
tendem a aumentar os preços e a quantidade demandada começa a reduzir, de Q2 na
2 direção de Q3 enquanto a quantidade ofertada começa a aumentar, de Q1 na direção de
Q3. Dessa forma, o mercado vai se ajustando até que o preço de equilíbrio seja alcança-
do. A situação de excesso de demanda significa que, estando o preço abaixo do preço
de equilíbrio, os consumidores desejam comprar uma quantidade maior do que as em-
presas estão dispostas a ofertar, ou seja, os consumidores estão dispostos a consumir
no ponto D e os produtores desejam apenas ofertar no ponto C.
2. ELASTICIDADE
Vimos no tópico anterior os fatores que afetam a curva de demanda, mas como pode-
mos saber o quanto a demanda é afetada por estes fatores? Como medir a influência
destes fatores sobre as possibilidades de consumo dos indivíduos?
Esta necessidade de procurar medir a influência dos fatores sobre a demanda é resol-
vida por meio de um instrumento que é a elasticidade.
Variável independente
É a variável que motiva a mudança, é a causadora da mudança, e que não é determinada por
nenhum dos fatores envolvidos na análise, é considerada um dado do modelo, isto é, a variável
independente, não é gerada a partir de outras variáveis analisadas.
Variável dependente
Por outro lado, é afetada pela variável independente, as mudanças na variável dependente
são causadas diretamente pela variável independente.
Este é o conceito geral que se aplica em qualquer área da economia. O que nos inte-
ressa neste momento é discutir as elasticidades que medem os impactos das variáveis
na economia. São elas:
` Elasticidade-preço da demanda;
` Elasticidade-renda da demanda;
` Elasticidade-cruzada da demanda.
48
Vamos agora apresentar cada uma das elasticidades:
Devemos ter em mente que como estas variações ocorrem em sentido oposto, quando
aumenta o preço, a quantidade demandada diminui e vice-versa, a elasticidade-preço
da demanda é sempre um número negativo.
EXEMPLO
Em cada período do ano e em cada região, existem ciclos de produção de determinadas frutas.
Quando existe muita produção e os supermercados conseguem manter suprimento constante
e abundante, o preço diminui e as pessoas passam a consumir muito mais aquele produto
(frutas, verduras, grãos etc.).
Quando a produção diminui (por várias razões) os supermercados aumentam o preço para
manter suprimento e, com isso, as pessoas diminuem o consumo do respectivo produto.
Essa lógica pode ser calculada e, para isso, temos uma equação específica para expli-
car esse conceito que matematicamente é expressa da seguinte forma:
Em que ∆Q% representa a variação percentual da quantidade demandada, ou
seja, a quantidade demandada no período final menos a quantidade demanda-
∆Q% da no período inicial.
Ep =
∆P% ∆P% representa a variação percentual do preço, ou seja, o preço final descon-
tado o preço inicial.
EXEMPLO
Por exemplo, imagine que estamos tratando do consumo de gasolina, quando temos um aumento de vinte
por cento (20%) na quantidade demandada de gasolina em resposta a uma diminuição de cinco por cento
(5%) no preço da gasolina, podemos concluir que a elasticidade-preço da demanda deste produto é 4.
Mas como nem sempre temos diretamente os valores percentuais das mudanças ocor-
ridas nas quantidades e nos preços, precisamos calcular a elasticidade a partir dos
valores disponíveis de preço e quantidade. Esse cálculo utiliza a fórmula da elastici-
dade no ponto, que representa a elasticidade considerando a sensibilidade da demanda
Economia e mercados 49
Como os mercados funcionam? Fundamentos e reflexões sobre a microeconomia
∆Q%
Ep =
∆P
(Q1 − Q0 ) * P0
Ep =
(P1 − P0 ) Q0
PONTO P QD
A 1 75
B 2 60
C 3 48
D 4 39
E 5 33
F 6 30
EP = ( – 15)/(1) * 1/75
EP = – 0,2
50
Neste exemplo, podemos nos questionar sobre o significado do resultado e isto pode
ser explicado pela classificação da elasticidade-preço. Podemos classificar a elasticida-
de-preço da demanda em três tipos:
2
` Primeiro, quando a demanda por um bem é inelástica;
IMPORTANTE
Ao conceituarmos elasticidade-preço da demanda, observamos que o coeficiente resultante é
sempre um coeficiente negativo. Mas um detalhe importante se apresenta quando precisamos
classificar elasticidade da demanda, que é o fato de que precisamos aplicar o módulo para facilitar
nossa análise.
Vamos agora explicar a classificação das categorias em que a demanda pode ser clas-
sificada quanto à elasticidade-preço.
∆Q% ∆ ∆P%
Neste caso, o módulo do valor da elasticidade-preço da demanda deve ser menor que
um.
EP < |–1|
Ou seja, quando temos uma demanda inelástica, encontramos um valor entre zero e o
módulo de menos um.
EP = |–0,2|
EP = 0,2
Economia e mercados 51
Como os mercados funcionam? Fundamentos e reflexões sobre a microeconomia
E = |–1|
P
∆Q% ∆∆P%
Desse modo, quando a demanda por determinado bem for elástica o resultado encon-
trado para o coeficiente é maior que o módulo de –1, observe:
EP > |–1|
Ou seja, quando o impacto do preço é, por exemplo, um valor igual a 5, significa que
quando o preço aumenta, ou diminui, 1% causa uma diminuição, ou aumento, respecti-
vamente, de 5% na demanda de determinado bem.
IMPORTANTE
Por exemplo, quando o preço de um pacote turístico internacional apresenta uma diminuição do
preço da ordem de 5%, supõe-se que a quantidade da demanda apresente um aumento de 10%,
configurando uma demanda elástica.
2.2 ELASTICIDADE-RENDA
A Elasticidade-renda mensura o impacto que as mudanças na renda do consumidor
causam na demanda por determinado produto. O coeficiente gerado pelo cálculo da
elasticidade-renda nos indica o tipo de bem que estamos analisando, classificados a
partir da influência da renda sobre ele.
ER =
∆Q% (Q − Q2 ) * P0
ou E P = 1
∆R% (P1 − P0 ) Q0
52
Bens normais e Bens inferiores
Os bens normais, por sua vez, podem ser subdivididos em bens necessários e bens
de luxo. Cada um deles será explicado, a seguir, a partir do viés da elasticidade-renda.
2
Os bens normais são aqueles que guardam uma relação direta com a renda, ou seja,
quando a renda aumenta, o consumo destes bens aumenta, ou quando a renda diminui,
ER> 0
Os bens normais podem ser divididos em bens necessários e bens de luxo. Os bens ne-
cessários são aqueles cujo impacto sobre a quantidade demandada, embora positivo, é
proporcionalmente menor que a variação na renda, ou seja,
0 < ER < 1
Por sua vez, os bens de luxo são produtos cuja demanda é altamente influenciada por
mudanças na renda, ou seja, a quantidade demandada varia em uma proporção maior
que a renda.
ER > 1
Na contramão dos bens normais, temos os bens inferiores, que são aqueles cuja de-
manda diminui quando a renda aumenta e vice-versa. Os bens inferiores são considera-
dos de qualidade menor, isto explica porque seu consumo cai quando a renda aumenta.
Assim, o coeficiente da elasticidade-renda é um valor negativo:
ER < 0
EXEMPLO
Bens normais: alimentos em geral, automóveis, eletrodomésticos, vestuário, entre outros.
Bens necessários: alimentos em geral, vestuário.
Bens de luxo: automóveis, eletrodomésticos, viagens.
Bens inferiores: transporte coletivo, entre outros bens que são avaliados como de baixa
qualidade pelo consumidor.
Economia e mercados 53
Como os mercados funcionam? Fundamentos e reflexões sobre a microeconomia
E xy =
∆Qx% (Qx1 − Qx 0 ) Py 0
ou E xy = *
∆Py % (Py1 − Py 0 ) Qx 0
EXEMPLO
Bens complementares: café com açúcar, goiabada com queijo, combustível e óleo de motor,
xampu e condicionador.
Bens substitutos: gasolina e etanol, ônibus e automóvel, óleo de soja e óleo de canola, queijo
e requeijão.
Quando o resultado do coeficiente for um valor negativo, podemos classificar este bem
X como complementar, pois o aumento no preço do produto Y provoca uma redução no
consumo de Y, e como X é consumido conjuntamente, a aquisição deste bem por parte
dos consumidores também cai.
Exy < 0
Exy > 0
54
mudanças em produção associadas a crescimento ou a declínio econômico.
RIMA (1990, p. 344)
Quando Rima (1990) menciona o termo insumo de fator, ele está se referindo à quanti-
dade de fatores de produção, especialmente capital e trabalho, envolvidos no processo 2
produtivo. Assim, quando ao menos um destes fatores permanece sendo utilizado no
processo, mas sem alteração da quantidade aplicada, temos o curto prazo. Quando
Podemos perceber que as curvas de demanda, tanto no curto quanto no longo prazo,
apresentam diferentes inclinações, e como a inclinação é que define a elasticidade:
curto e longo prazo de uma determinada mercadoria representam diferentes valores
para a elasticidade.
Bens duráveis:
São aqueles que podem ser utilizados por longos períodos de tempo, mantendo intactas suas
características, como veículos, móveis e equipamentos domésticos.
São aqueles que podem ser utilizados por curtos períodos de tempo e que apresentam des-
gaste em função do seu uso. Três exemplos que possibilitam entender claramente este con-
ceito são os produtos descartáveis, a alimentação e a energia, que ao serem consumidos
deixam de existir. Podemos considerar também como exemplos de bens não duráveis vestu-
ário e calçados, pois ao serem utilizadas passam a se desgastar e em certo tempo acabam
por ser descartados.
Finalmente, vamos relacionar a demanda por bens duráveis e não duráveis às elastici-
dades-preço de curto e de longo prazo.
Quando analisamos os bens não duráveis, podemos perceber que a demanda é mais
elástica no longo prazo que no curto prazo em função do fato que as pessoas demoram
a modificar hábitos de consumo.
No caso dos bens duráveis ocorre o oposto, a curva de demanda é mais elástica no
curto prazo, pois uma queda de preço estimula a antecipação do consumo dos bens e,
como estes bens demoram a se desgastarem, acaba por afetar a demanda de longo
prazo tornando-a inelástica.
3. ESTRUTURAS DE MERCADO
A tomada de decisões dos agentes econômicos, especialmente das empresas, é in-
fluenciada pelas características do mercado no qual a mercadoria está inserida. Cha-
mamos o conjunto destas características de estruturas de mercado.
Economia e mercados 55
Como os mercados funcionam? Fundamentos e reflexões sobre a microeconomia
` Monopólio;
` Oligopólio; e
` Concorrência monopolística.
Mercado atomizado:
Mercado com infinitos produtores e compradores, de forma que um agente isolado não tem
condições de afetar o preço de mercado. Assim, o preço de mercado é um dado exóge-
no para empresas e consumidores, sendo definido pela concorrência entre as firmas e os
próprios consumidores, mas não influenciado isoladamente por nenhum deles (VASCON-
CELLOS, 2011).
EXEMPLO
O mercado de commodities agrícolas costuma ser um bom exemplo de mercado atomizado, na
medida em que o preço da soja é definido internacionalmente. Temos uma grande quantidade de
compradores e vendedores e, individualmente, nenhum deles consegue afetar o mercado.
Produtos homogêneos:
56
EXEMPLO
A soja citada acima é um bom exemplo, independente da fazenda, cidade ou país onde foi produzida,
pois conserva as mesmas características biológicas, físicas, nutricionais e de funcionalidade. 2
EXEMPLO
Na concorrência perfeita não existem diferenças de rentabilidade do capital entre diferentes
setores, bem como não há dificuldades técnicas ou segredos para a fabricação dos produtos,
não se exigem um montante de investimento inicial muito grande e, finalmente, não existe uma
regulamentação que impeça a entrada de concorrentes.
Racionalidade:
EXEMPLO
Ao agir racionalmente, uma empresa busca sempre lucrar o máximo com a venda de um produto.
Se estiver praticando um preço abaixo do preço de mercado, apenas conseguiria diminuir seu
lucro agindo de forma irracional.
Transparência do mercado:
Consumidores e produtores “têm acesso a toda informação relevante, sem custos, isto é, co-
nhecem os preços, qualidade, os custos, as receitas e os lucros dos concorrentes” (VASCON-
CELLOS, 2011, p. 144).
EXEMPLO
Para facilitar o entendimento do conceito de externalidade, podemos utilizar “a poluição”, pois a
poluição é um resultado do processo produtivo que não está presente nos custos da empresa,
visto que a empresa “exporta” esse custo para a sociedade. Ao contrário, quando a empresa faz
Economia e mercados 57
Como os mercados funcionam? Fundamentos e reflexões sobre a microeconomia
o tratamento dos resíduos de produção, acaba por arcar com estes custos que contribuirão para
a formação de preços sem que a sociedade sofra com esses efeitos.
2
3.2 MONOPÓLIO
As características básicas de um monopólio são dadas pela existência de apenas uma
firma (empresa) produtora atuando no mercado, não havendo bens substitutos próxi-
mos e com barreiras à entrada de novos produtores (VASCONCELLOS, 2011).
Quando tratamos de estruturas de mercado imperfeitas, isso significa que estamos ana-
lisando empresas com poder de monopólio ou poder de mercado, o que implica em
verificar o quanto a empresa pode afetar a formação do preço de mercado do produto
(PINDYCK; RUBINFELD, 2013).
58
O preço no mercado monopolista é definido, então, pela quantidade produzida que ma-
ximize os ganhos da empresa. Esta quantidade é definida pela condição de maximiza-
ção em monopólio, ou seja, o ponto em que o Custo Marginal iguala à Receita Marginal.
2
RMg = CMg
Conforme apontado por Vasconcellos (2011), como não existem barreiras para a entra-
da de empresas, em longo prazo não há tendência para lucros extraordinários, “como
em concorrência perfeita, ou seja, os lucros extraordinários a curto prazo atraem novas
firmas para o mercado, aumentando a oferta do produto, até chegar-se a um ponto em
que persistirão lucros normais, quando então cessa a entrada de concorrentes” (VAS-
CONCELLOS, 2011, p. 173).
Para Pindyck e Rubinfeld (2013), este poder de monopólio não seria significativo, e teria
como atenuante o fato de existir uma ampla variedade de produtos substitutos próxi-
mos, que conferem ao consumidor a sensação de terem livre escolha.
EXEMPLO
Exemplos de mercados em concorrência monopolística: salões de beleza, serviços médicos e
odontológicos, estacionamento de veículos, produtos de higiene pessoal.
3.4 OLIGOPÓLIO
O oligopólio é a estrutura de mercado que apresenta maior dinamismo na economia.
Economia e mercados 59
Como os mercados funcionam? Fundamentos e reflexões sobre a microeconomia
` Existem barreiras à entrada. Neste sentido, Vasconcellos (2011) aponta as seguintes caracte-
rísticas básicas: devido à existência de empresas dominantes, essas têm o poder de fixar os
preços de venda em seus termos, defrontando-se normalmente com demandas relativamen-
te inelásticas em que os consumidores têm baixo poder de reação a alterações de preços.
EXEMPLO
Quando falamos de oligopólios e cartéis, o grande exemplo que temos no mercado é o da OPEP
(Organização dos Países Exportadores de Petróleo), que ficou famosa nos anos de 1970 ao
promover uma diminuição na oferta de petróleo, levando a um aumento no preço do produto
em escala mundial. Em relação aos oligopólios que competem travando até mesmo guerra de
preços, temos o mercado de bebidas, especialmente o mercado de cervejas.
O mark-up representa a margem que a empresa aplica sobre o custo direto de produção com
a finalidade de estabelecer o preço de venda (VASCONCELLOS, 2011). Assim, temos que:
p = C (1 + m)
O mark-up pode ser usado como uma forma de avaliar o grau de poder de monopólio de
uma determinada empresa, o qual é chamado de Índice de Lerner. Sendo assim, quanto
maior o Índice de Lerner, o coeficiente encontrado, maior o poder de monopólio da firma.
60
CONCLUSÃO
Nesta Unidade, você aprendeu sobre alguns fundamentos que regem os mercados.
Aprendeu mais sobre as características e particularidades da oferta e demanda, e refle- 2
tiu sobre alguns fatores que podem influenciá-las. Você também viu as características
de alguns produtos como os bens normais e inferiores, assim como analisou que alguns
produtos podem ser substitutos ou complementares entre si.
Economia e mercados 61
Como os mercados funcionam? Fundamentos e reflexões sobre a microeconomia
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GREMAUD, Amaury Patrick. Manual de economia. São Paulo: Saraiva, 2003. MONTORO FILHO, André
2 Franco. Teoria elementar do funcionamento do mercado. In:
Manual de economia. Equipe de professores da USP. 6 ed. São Paulo: Saraiva, 2011. RIMA, Ingrid Hahne.
História do pensamento econômico. São Paulo: Atlas, 1990.
_____. Microeconomia. 8. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2013. VASCONCELLOS, M. A. S.
Economia: micro e macro. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
PINDYCK, R.; RUBINFELD, D. Microeconomia. 7. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2013.
VASCONCELLOS, Marco Antonio Sandoval de; GARCIA, Manuel Enriquez. Fundamentos de economia. 2.
ed. São Paulo: Saraiva, 2004. 240 p.
62
Economia e mercados
63
2
A MACROECONOMIA: DA
CRISE DE 1929 À REVOLUÇÃO
3
KEYNESIANA
INTRODUÇÃO
Como já discutido em nossa disciplina, o problema econômico durante muito tempo
foi analisado e estudado nas suas relações micro, além de se acreditar que a econo-
mia por si, sem interferência do Governo, conseguiria atingir seu próprio equilíbrio e
melhor desenvolvimento.
Outro ponto de inflexão é o papel do Poder Público na economia. Este, que até
então deveria ficar afastado porque “atrapalhava” o desenvolvimento econômico,
passa a ter papel de destaque e decisivo no combate dos efeitos das grandes crises
do sistema econômico.
Tudo isso pode parecer um pouco confuso agora, não é? Fique tranquilo! Objetivo desta
Unidade é entender os motivos que levaram a estas mudanças no paradigma econômi-
co, bem como conhecer as principais metas e instrumentos da macroeconomia.
Visão Microeconômica
64
específico de trigo se equilibrar através das forças de mercado (oferta x demanda), os fatores
de produção se alocarem livremente e obtiverem o melhor ganho/remuneração possível, a
economia como um todo atingirá seu bem-estar. Com cada mercado específico funcionando
plenamente (por isso “visão microeconômica”), a economia como um todo se beneficiará. Ou 3
seja, é do bom funcionamento específico de cada mercado, que a economia como um todo
se desenvolverá.
SAIBA MAIS
Até as obras de Adam Smith, o valor residia no metalismo, isto é, na aquisição do ouro e da
prata. Até o surgimento de suas ideias, uma nação rica era aquela que conseguia ter o máximo
de ouro e prata.
Pesquise: Teoria do Valor-trabalho.
Vamos a um exemplo para você entender melhor acerca do que seria esta “mão invisível”:
imagine que em determinado momento o preço do milho aumentou devido a um aumento
da exportação do grão para o mercado exterior. Desse modo, se o preço subiu e os pro-
dutores estão tendo um lucro superior ao da soja, o que você cultiva no momento?
Observando que o preço do milho está mais atrativo do que o da soja, o que você vai fazer? Já
conhecendo a técnica da plantação do milho e analisando as possibilidades futuras de ganho
devido à perspectiva da abertura de novos mercados, vai decidir permanecer cultivando a soja
ou se aventurar na cultura do milho?
Ou seja, em busca de seus próprios ganhos, no seu egoísmo de poder lucrar mais, a so-
ciedade atingirá o seu melhor bem-estar, isto é, vai ter a sua disposição uma quantidade
maior do produto, fazendo com que o problema da escassez do produto seja resolvido.
Em tese, eram características como essas que Adam Smith defendia. Se o Estado não
“atrapalhasse” o desempenho do mercado, se não interferisse no seu equilíbrio, se não
praticasse atividades abusivas como cobrança excessiva de impostos, se não prevale-
cessem alguns grupos econômicos (práticas como autorizar que apenas uma empresa
ou indivíduo forneça um tipo de produto, por exemplo, formação de monopólios) a eco-
nomia atingiria por si só seu equilíbrio, e por consequência, seu melhor bem-estar.
Economia e mercados 65
A macroeconomia: da crise de 1929 à revolução keynesiana
Para Adam Smith, o Estado deveria continuar existindo sim, apenas para garantir com
que as falhas de mercado não atrapalhassem a eficiência e equidade do mercado.
O Estado tem a obrigação de garantir que a propriedade privada seja defendida e que seu de-
tentor seja sempre protegido e que possa fazer valer seu direito de propriedade;
Atuar para que o mercado não se concentre demais, isto é, que poucas empresas controlem a
oferta de determinado produto, o que prejudicaria em muito a eficiência e equidade do mercado;
Regular as externalidades:
Isto é, o Estado deve regular/legislar acerca das “regras do jogo”, punindo aquele agente que
por acaso obtenha vantagens por meios ilícitos, ou que sua atividade atrapalhe a atividade eco-
nômica de outro agente, por exemplo.
SAIBA MAIS
O Estado deve atuar fortemente para que as atividades dos agentes não atrapalhem a “liber-
dade do outro”. Por exemplo, a fixação de uma empresa poluidora em de- terminado município
pode prejudicar a atividade econômica de outro agente (agricultores ou pescadores, por exem-
plo) e a vida da população como um todo.
66
Diante de tal concepção acerca do movimento e do desenvolvimento econômico, não
precisaria nenhum agente se preocupar com o planejamento das atividades produtivas,
uma vez que as forças do mercado por si só eram suficientes para que a economia
atingisse sua plena produtividade e ponto ótimo produtivo. 3
As ideias econômicas evoluíram muito desde as obras de Adam Smith: partindo do liberalismo e
da visão microeconômica, a economia havia evoluído muito em modelos econométricos, o que
desenvolvia ainda mais a ideia que as relações microeconômicas eram as que de fato importa-
vam e tinham relevância econômica.
Contudo, o mundo não era mais o mesmo que Adam Smith havia presenciado: além
dos desdobramentos produtivos decorrentes das duas fases da Revolução Industrial,
bem como da difusão do poder da burguesia por todo o mundo, o capitalismo sofreu
importantes modificações do século XVIII até meados do século XX.
O capitalismo que nos anos de Adam Smith ainda era comercial, de uma industriali-
zação que previa um capital inicial ainda não tão volumoso, onde os grandes capitais
ainda não eram tão significativos assim, mudou muito: o capitalismo havia passado de
comercial para industrial, e já entrava numa nova fase, do capitalismo financeiro.
[...] em fins do século XIX, o desenvolvimento de mercados de capitais mun-
diais e os progressos na produção e nos transportes provocaram imensas
concentrações de poder industrial em corporações gigantescas, trustes e
cartéis. Houve duas consequências importantes dessa maior concentração
industrial: primeiro, a concorrência não regulamentada tornou-se extrema-
mente custosa e prejudicial para essas empresas gigantescas. Segundo, a
anarquia do mercado ficou mais grave, porque as corporações gigantescas
reduziram significativamente qualquer grau de flexibilidade e capacidade de
ajuste que o mercado apresentava anteriormente (HUNT, 2005, p. 382).
O sonhado bem-estar econômico a cada dia era mais distante: sucessivas crises
econômicas, empobrecimento da classe trabalhadora e conflitos internacionais
decorrentes do expansionismo imperial em busca de novos mercados. Enfim, o bem-
Economia e mercados 67
A macroeconomia: da crise de 1929 à revolução keynesiana
estar econômico decorrente do livre movimento do capital estava cada vez mais
comprometido.
3 A crise de 1929
Considerada por muitos como a pior crise do capitalismo mundial até os dias de hoje, a
Crise de 1929 colocou em xeque o modelo liberal perseguido até então.
Contudo, a situação ficou mais grave no episódio conhecido como “quinta-feira negra”:
[...] a Bolsa de Valores de Nova York teve uma queda brusca nas cotações
dos títulos, fenômeno que acabou destruindo toda a confiança na economia.
Com isso, os empresários reduziram a produção e os investimentos, o que
causou a diminuição da renda nacional e do número de empregos, diminuin-
do mais ainda a confiança na economia. Antes de encerrado o processo,
milhares de empresas tinham ido à falência, milhões de pessoas tinham fica-
do sem emprego e tinha início uma das maiores catástrofes da História dos
Estados Unidos (HUNT, 2005, p. 383).
No pior período da Depressão, 22% a 23% da força de trabalho britânica e belga, 24% da
sueca, 27% da americana, 29% da austríaca, 31% da norueguesa, 32% da dinamarquesa
e nada menos que 44% da alemã não tinha emprego, segundo Hobsbawn (2008).
Keynes (1996) iria contrapor fortemente a noção defendida pelos liberais de que o mer-
cado se autoajustava. Para ele, a economia não tende automaticamente ao equilíbrio e
precisa que um agente (no caso, o Estado) promova ações e políticas que façam com
que a economia atinja o pleno emprego novamente. “A longo prazo, estaremos todos
mortos”: esta frase é atribuída a John Maynard Keynes (1883 — 1946), que revolucio-
naria consideravelmente o que se esperava do movimento econômico até então.
Ele inverte uma ideia defendida pelos liberais, conhecida como Lei de Say, na qual a
oferta cria sua própria demanda. Para os liberais, ao ofertar determinado produto ou
68
serviço, acreditava-se que a produção de mercadorias geraria demanda suficiente para
outras mercadorias, criando assim um círculo virtuoso.
A ideia de Say era mais ou menos essa: um investidor, ao decidir construir uma nova
3
fábrica, demanda (precisa) contratar novos trabalhadores, comprar matéria-prima de
seus fornecedores, pagar impostos de sua produção etc. A renda gerada por essa nova
atividade econômica (o salário dos trabalhadores, renda dos fornecedores etc.) seria
Contudo, Keynes (1996) analisa que a Lei de Say não previa crises de superprodução
ou baixa expectativa do produtor em tempos de crise, isto é, a preferência do produtor/
empresário em reter seu capital (em moeda) por acreditar que no período seguinte a
economia não cresceria ou entraria na recessão – o que o próprio Keynes (1996) deno-
minou como “preferência pela liquidez”.
Sendo assim, Keynes (1996) inverte a Ley de Say: não é a oferta que cria sua própria
demanda, mas sim a demanda que cria sua oferta: isto é, o produtor (empresário), ao
analisar e perceber que existe demanda (aumento de vendas) para seus produtos e
serviços, decide realizar novos investimentos, que, por conseguinte, vão demandar a
contratação de novos trabalhadores, bem como a compra de mais matérias-primas,
criando assim um círculo virtuoso.
Figura 01. Círculo Virtuoso de Keynes: a demanda cria sua própria oferta
Criação da nova
demanda
Aumento da Surgimento de
renda em novos investimen-
circulação tos para atender a
nova demanda
Contratação de
trabalhadores,
fornecedores etc.
A obra de Keynes, ou Revolução Keynesiana como alguns concebem, vai dar um rumo
totalmente novo ao manejo econômico: agora cabe ao Estado, ao agente governamental,
Economia e mercados 69
A macroeconomia: da crise de 1929 à revolução keynesiana
Por ora, é necessário deixar bem claro para você que a ideia econômica mudou e muito: a
liberdade, a não interferência do Estado pela economia, inverte-se, e o Estado de apenas coad-
juvante passa a ter um papel muito importante na promoção do emprego e do desenvolvimento
econômico.
E por falar em gasto, Keynes (1996) não se limita a qualquer tipo de gasto, mas dá ên-
fase a um tipo de gasto especial já mencionado anteriormente: o investimento. Para ele,
é o nível de investimento da economia que vai determinar o seu volume de emprego.
O trabalhador contratado para construir novas fábricas, casas, prédios, pontes, obras
diversas de infraestrutura, vai destinar parte de sua nova renda pessoal para consumir
produtos produzidos por fábricas já instaladas e comercializadas por lojas já existentes
e em funcionamento. Assim, formará um círculo virtuoso do crescimento econômico,
gerando novos postos de trabalho.
O New Deal, colocado em prática pelo presidente americano Franklin Roosevelt (1882
— 1945) e influenciado pelas ideias de Keynes, tinha como suas principais medidas:
` Desvalorização do dólar para tornar as exportações mais competitivas;
` Criação do sistema de seguridade social, com destaque para o seguro desemprego e a Lei
De Seguridade de 1935;
Com essas medidas, o New Deal tinha como principal objetivo o fomento da demanda
agregada americana e, por consequência, elevação na geração de novos postos de
trabalhos, o que de fato aconteceu muito bem.
70
SAIBA MAIS
Para Sandroni (1999, p 160), é a “[...] quantidade de bens ou serviços que a totalidade dos
consumidores deseja e está disposta a adquirir em determinado período de tempo e por de- 3
terminado preço. [...] É a soma das despesas das famílias, do governo e os investimentos das
empresas, consistindo na medida da demanda total de bens e serviços numa economia”.
O sucesso da medida foi tão grande que o New Deal inspirou outros Estados e Go-
vernos a realizarem medidas semelhantes, o que ficou conhecida posteriormente à II
Guerra Mundial como Welfare State que, em suma, são políticas de bem-estar social
que proporcionaram o boom econômico do pós-guerra.
Este Estado do Bem-estar Social (ou Welfare State) liderou as políticas econômicas até
meados da década de 1970, quando foi contestado por uma nova onda liberal, que ficou
conhecida como neoliberalismo.
` Estabilidade de preços;
` Crescimento econômico.
Vou fazer a seguinte analogia para você entender melhor essas metas da política ma-
croeconômica: você já precisou de comparecer a um pronto socorro porque você ou seu
acompanhante não estava se sentindo muito bem?
Economia e mercados 71
A macroeconomia: da crise de 1929 à revolução keynesiana
assim como escutou os pulmões, dentre outros exames, com intuito de tirar a melhor
conclusão sobre o diagnóstico do paciente, visando o melhor tratamento a ser seguido
para corrigir o problema verificado.
3
A mesma coisa acontece na economia: a equipe econômica do governo deve estar atenta
para verificar se os indicadores acima descritos estão funcionando bem e se a economia está
no caminho certo.
Já o nível dos preços precisa ser controlado com intuito de evitar a inflação, o que nada
mais é do que o aumento generalizado dos preços. A inflação é nociva ao ambiente
econômico, pois acarreta distorções principalmente sobre a distribuição de renda, as
expectativas empresariais, mercado de capitais e sobre o balanço de pagamentos, den-
tre outros. No decorrer da nossa disciplina, voltaremos a discutir com mais propriedade
os efeitos da inflação e seus desdobramentos.
Os instrumentos macroeconômicos
Voltando à analogia que fizemos acerca da ida ao pronto socorro, após a equipe médica
diagnosticar o paciente, ela começa a medicá-lo, visando a correção dos indicadores
examinados quando o paciente deu entrada no pronto socorro.
A Política Fiscal;
A Política Monetária;
72
A Política Fiscal
Definindo de forma resumida, a Política Fiscal trata dos mecanismos dos quais o gover-
no possui para arrecadar tributos (Política Tributária) e controlar suas despesas (Políti- 3
ca de Gastos).
Política Monetária
A Política Monetária trata das decisões do governo sobre a quantidade de moeda, de
crédito e das taxas de juros. Os instrumentos disponíveis para tal são:
Vale ressaltar aqui o peso maior que Keynes deu à moeda. Antes de Keynes, para os
liberais, a moeda servia apenas de “meio de troca”. Para Keynes, a moeda além de ser
utilizada como meio de troca, serve também como unidade de conta e reserva de valor,
sua característica mais importante.
Economia e mercados 73
A macroeconomia: da crise de 1929 à revolução keynesiana
Sendo assim, a Política Monetária pode ser utilizada para elevação do produto e redu-
ção do desemprego, por exemplo. No decorrer de nossa disciplina, iremos analisar com
mais detalhe as caraterísticas da Política Monetária.
3
Por ora, cabe a você ter a noção que tanto a Política Monetária quanto a Fiscal são ins-
trumentos importantes e que podem e devem ser utilizadas pelas autoridades visando
alcançar as metas da política macroeconômica.
Diminuição da taxa de juros, visando o aumento do investimento no lado real da economia e, por
consequência, gerando novos empregos;
Tipos de Câmbio:
Câmbio fixo:
O Governo estabelece um valor fixo para a conversão da moeda nacional pela estrangeira. Ex.:
US$ 1,00 = R$ 1,00.
74
Câmbio flutuante:
O preço da moeda estrangeira é negociado livremente e seu preço é estabelecido por meio das
forças do mercado (oferta versus demanda). 3
Política de Rendas
Preços mínimos:
O Governo garante ao produtor uma remuneração mínima de sua produção agrícola, visando o
fornecimento de alimentos, bem como a fixação do agricultor no campo.
Neste tópico, você foi apresentado ao panorama histórico e social que permitiu o sur-
gimento da macroeconomia, assim como aos principais instrumentos e objetivos dela.
2. CONTABILIDADE SOCIAL
Para que a economia consiga atingir seus macro-objetivos, como discutido anterior-
mente, você precisa aprender a avaliar, isto é, identificar quais os instrumentos e aná-
lises existentes para verificar se uma economia está com bom nível de crescimento
econômico, inflação controlada, gerando empregos, dentre outros.
Quem pode nos auxiliar nesta tarefa é a Contabilidade Social. Segundo Paulani (2013,
p. 1), a Contabilidade Social:
[...] congrega instrumentos de mensuração capazes de aferir o movimento
da economia de um país num determinado período de tempo: quanto se
produziu, quanto se consumiu, quanto se investiu, quanto se vendeu para o
exterior, quanto se comprou do exterior.
Economia e mercados 75
A macroeconomia: da crise de 1929 à revolução keynesiana
Assim como o médico solicita exames de imagens ou laboratoriais para dar o melhor
3
diagnóstico ao seu paciente, a macroeconomia nos disponibiliza uma infindável lista de
relatórios, abordagens e análises dos agregados econômicos e de seus movimentos,
com o intuito de analisar o movimento econômico da melhor maneira e alcançar o diag-
nóstico mais adequado para o problema econômico a ser estudado e analisado.
IMPORTANTE
Lembre-se: a macroeconomia tem como objetivo analisar as variáveis macroscópicas, sempre
analisando os denominados agregados econômicos, tais como o consumo agregado, o investi-
mento agregado, o produto nacional e a renda nacional, dentre outros.
Diante dos questionamentos sobre a economia e sua relação com a sociedade, foi
constatada a necessidade de haver formas e metodologias que permitissem o cálculo
do produto produzido, assim como se fizesse a previsão se tal riqueza estava sendo
apropriada por toda a população.
De acordo com Vasconcellos (2011), é a partir de um sistema contábil que o país mede
tudo o que foi produzido em determinado período de tempo, muito parecido com o total
produzido por uma empresa, por exemplo.
O nome dado para esta medida é Produto Nacional Bruto (PNB), que, ainda segundo
Vasconcellos (2011), é o agregado de tudo que é produzido em determinado país em
um período de tempo.
A produção econômica é bem complexa: uma economia produz uma série de produtos
e serviços muito distintos entre si (desde a produção de um grão agrícola até a produ-
ção de um sofisticado satélite espacial, por exemplo) e todos estes produtos e serviços
devem ser devidamente contabilizados para que a economia consiga, com a melhor
precisão possível, saber quanto ela produz em um determinado período.
76
No Brasil, para que a contabilização de todo o produto produzido seja registrada da
melhor maneira, existe o que denominamos de Sistema de Contas Nacionais, gerido
e mensurado pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
3
Vasconcellos (2011) analisa que os produtos e serviços gerados por uma economia são
produzidos através de um fluxo contínuo que se estabelece entre os chamados agentes
econômicos (governo, famílias e empresas).
A moeda, segundo Paulani (2013), consegue avaliar e equiparar tudo o que é produzido
na economia. Afinal, seja um serviço simples de capinação ou um conserto de uma son-
da petrolífera a milhares de metros na profundeza do oceano, tudo deve ser mensurado
monetariamente, isto é, ter o valor em dinheiro determinado.
Diante desta característica das economias monetizadas, onde tudo pode ser avaliado
através da moeda e do dinheiro, temos um importante princípio: o da identidade.
Ou seja, toda vez que você sai para comprar um produto num shopping ou mercado
próximo de sua residência, automaticamente, alguém tem que estar vendendo este pro-
duto. Ou seja, muito simplificadamente, podemos conceber que uma compra = venda.
Apesar desta ideia ser simples e muito intuitiva, Paulani (2013) afirma que este mesmo
princípio, o da identidade, é o que o Sistema de Contas Nacionais leva em consideração
no momento da mensuração do PNB, por exemplo.
Sendo assim, da mesma maneira que você não pode comprar algum produto que não
esteja à venda, a economia não pode produzir um produto que não gere um dispêndio,
uma despesa, assim como não gere automaticamente uma renda.
SAIBA MAIS
Agregados econômicos: Termo empregado para designar os resultados da mensuração da
atividade econômica considerada como um todo. A referência básica é a soma de todas as
transações, realizadas por todos os agentes, na totalidade dos mercados. É a dimensão total, o
todo, não as partes isoladamente consideradas. Ex.: PIB, renda nacional, inflação, dentre outros.
Nota-se que o princípio da identidade não é identificado pelo sinal de =, mas sim pelo ≡.
A identidade, como bem aponta Paulani (2013), não gera uma noção de causa ou efeito,
mas apenas uma existência de identidade.
Economia e mercados 77
A macroeconomia: da crise de 1929 à revolução keynesiana
Ótica do Produto:
Indica quanto cada setor ou etapa produtiva adicionou de valor ao produto; ótima maneira
para identificar qual setor econômico (primário, secundário ou terciário, por exemplo) adicio-
nou na etapa produtiva de um produto, ou o PIB inteiro de uma economia em determinado
período, por exemplo.
Ótica da Renda:
Indica como está sendo distribuída a renda através de salários, ou então, remuneração de capital,
por exemplo. Excelente para analisar quais fatores de produção que se apropriaram do que foi
produzido na economia naquele período e verificar como a renda de uma economia foi distribuída.
Mostra a soma dos valores de todos os bens e serviços que foram produzidos em um determina-
do período e a maneira pela qual foram consumidos. Através dessa ótica, podemos analisar, por
exemplo, quanto a economia investiu e quanto o Governo consumiu em determinado período.
Ficou um pouco confuso? Vamos discutir mais amplamente as três maneiras de se ana-
lisar a produção de uma economia. Para entendermos melhor como podemos analisar
a produção econômica de três maneiras distintas, vamos imaginar que exista um país
hipotético, o País A, com apenas três setores econômicos (primário, secundário e terci-
ário), que não estabeleça nenhuma relação com o mercado exterior, e que cada setor
possua apenas uma empresa.
Imagine que você queira analisar quanto o setor primário deste país produziu em de-
terminando período, ou então, quer entender como se comportou o investimento da
economia do País A no ano 01, na tentativa de analisar a expectativa do empresariado
para o médio e longo prazo, por exemplo.
Tabela 01. Produto do País A no ano 01
78
Setor Terciário – Loja de Chocolate 200,00 50,00
Total do Produto 200,00 200,00
Observe a TAB. 1 nesta economia, o setor primário produz cacau, e todo ele é vendido
para o setor secundário que fabrica o chocolate, que, por fim, vende ao setor terciário,
A maneira mais fácil e prática de verificar quanto foi produzido por esta economia é ve-
rificar o produto final (a venda do chocolate), no caso da economia do país no ano 01,
foi de $ 200,00. Sendo assim, se o desejo é perguntar quanto a economia produziu no
respectivo ano (o PIB, por exemplo), devemos responder, portanto, $ 200,00.
Isso acontece devido ao fato de que, até chegar o momento de se comercializar o cho-
colate, foi necessário que o setor primário produzisse o cacau e que o setor secundário
fabricasse o chocolate através da matéria-prima cacau.
Neste exemplo, não há sobras. Sendo assim, tudo o que foi produzido pelo setor primá-
rio e secundário desta economia não existe mais, já foi consumido, uma vez que tudo
foi comercializado através da loja de chocolates.
Observe agora a coluna “Valor Adicionado” da TAB. 1. Ela indica quanto cada setor adi-
cionou ao produto. No caso, o setor primário foi responsável por adicionar $ 100,00, o
setor secundário, assim como o setor terciário, adicionou $ 50,00, atingindo um produto
total nesta economia de $ 200,00.
Esta maneira de olhar a produção da economia é a ótica do produto, que nos indica
quanto cada setor ou etapa produtiva adicionou ao produto.
Contudo, às vezes, você, como tecnólogo, pode ter mais perguntas: quanto o País A
distribuiu de salários ou lucros, por exemplo? E aluguéis, será que a economia do país
A pagou alguma coisa?
Vamos retomar ao nosso exemplo: o País A no ano 01 produziu $ 200,00. Para chegar
a este valor, sabemos intuitivamente que o setor primário, para adicionar $ 100,00,
precisou pagar salários para os seus trabalhadores, bem como a fábrica foi obrigada a
distribuir seus lucros para os acionistas, e assim por diante.
Tabela 02. Renda do País A no ano 01
Economia e mercados 79
A macroeconomia: da crise de 1929 à revolução keynesiana
Por fim, temos a ótica do dispêndio ou da despesa. Neste modo de análise, podemos
verificar a soma dos valores de todos os bens e serviços que foram produzidos no perí-
odo e a maneira pela qual foram consumidos.
Nesta forma de análise, podemos verificar o que foi consumido pelas famílias e empre-
sas, ou então, o que esta economia gastou de investimento.
Voltando ao nosso exemplo do país A no ano 01: levando em consideração que este
país não possui relação com o mercado externo e o setor público é inexistente, observe
a tabela a seguir:
Tabela 02. Despesa do País A no ano 01
80
SAIBA MAIS
Depreciação é “[...] a redução do valor ativo em consequência de desgaste pelo uso, obsoles-
cência tecnológica ou queda no preço de mercado — geralmente de máquinas, equipamentos e 3
edificações [...]” (SANDRONI, 1999, p. 165).
Variação de estoques:
Produtos e bens que o consumo se dará no tempo seguinte, futuro, de uma única vez.
Bens que não desaparecem após o consumo realizado uma única vez (única utilização) e possi-
bilitam a produção ao longo de um determinado período de tempo. Ex.: bens de capital em geral:
máquinas, equipamentos, ferramentas etc.
Os investimentos, bens de capital em sua maioria, são produtos que demandam uma
quantia considerável (são caros na sua grande maioria) e devem ser muito bem plane-
jados: não é razoável que a empresa substitua sua linha de montagem mensalmente ou
destrua seus prédios civis anualmente, por exemplo.
Ou seja, os bens de capital, investimentos, são consumidos no futuro e isso nos gera
um problema: um automóvel, por exemplo, após 1 mês de uso, por mais que tenha sido
muito pouco usado, não tem o mesmo valor de um carro novo. Por quê? Porque neste
curto espaço de tempo, ele foi depreciado.
É necessário considerar o total que esta economia perdeu com seus bens de capital
(máquinas e equipamentos). Afinal de contas, não podemos esperar que uma máquina de
5 anos de uso tenha a mesma produtividade de uma nova, ou então, que um prédio de 10
anos de construção apresente o mesmo custo de manutenção que um recém edificado.
Economia e mercados 81
A macroeconomia: da crise de 1929 à revolução keynesiana
VALOR BRUTO
SETOR ECONÔMICO PRODUÇÃO (VBP) DEPRECIAÇÃO
$
Setor Primário – Produção de Cacau 100,00 20,00
Setor Secundário – Fábrica de Chocolate 150,00 10,00
Setor Terciário – Loja de Chocolate 200,00 5,00
Total do Produto 450,00 35,00
Vamos lá: como você viu anteriormente, investimento é concebido por tudo aquilo que
produzimos e não foi consumido num determinado período de tempo. Ou seja, o Inves-
timento Total realizado em um país em determinado período, por exemplo.
Como já vimos, o total produzido pela economia pode ser analisado pela ótica do pro-
duto, renda e despesa (produto ≡ despesa ≡ renda), temos que Renda Nacional =
Produto Nacional. Logo:
PN – C = RN – C
PN = RN
82
INVESTIMENTO = POUPANÇA
Contudo, Vasconcellos (2011) alerta que esta ideia de Investimento = Poupança é uma
notação apenas contábil. O autor comenta que o investimento de uma economia pode 3
ser financiado por poupanças passadas, empréstimos exteriores etc., assim como a pou-
pança do período pode ficar depositada no banco, sem ser necessariamente investida.
O Setor Público também é o que detém o maior número de funcionários (servidores pú-
blicos), realiza os maiores investimentos (construção de estradas, portos, metrô, esco-
las, dentre outros) e sua despesa (consumo) é muito relevante para o desenvolvimento
e desempenho de toda economia.
Neste momento de nossa disciplina, não vamos analisar se o Governo gasta muito ou
não, esta análise será feita posteriormente, por ora, vamos analisar como devemos
mensurar na Contabilidade Social e entender seus principais indicadores (agregados).
Vejamos:
Gastos do Governo: despesa para manutenção dos custeios dos órgãos públicos
(despesa com salário de professores, manutenção de hospitais, dentre outros), despe-
sa das empresas públicas ou de economia mista (Petrobras, Eletrobras, por exemplo) e
gasto com transferências e subsídios (bolsas de estudo, Bolsa Família etc.).
Pela ótica da despesa, inserindo agora o Setor Público, podemos mensurar o produto
de toda a economia por meio da seguinte equação:
Y = P = C + I + G + XL
Onde:
Y = Renda
P = Produto
C = Consumo das famílias e empresas
I = Investimento
G = Gastos do Governo
XL = Exportações líquidas (exportações - importações)
Economia e mercados 83
A macroeconomia: da crise de 1929 à revolução keynesiana
Não vamos, neste momento, analisar profundamente estes indicadores: você deve ape-
nas entender tais conceitos e reflexos na sua vida profissional e particular.
Conforme anteriormente dito, o Governo, para financiar seus gastos, bem como conce-
der subsídios e transferências, lança mão dos tributos. Sendo assim, temos o que de-
nominamos de Renda Pessoal Disponível (RPD), isto é, de acordo com Vasconcellos
(2011), mensurar o quanto do produto e renda produzido e gerado por um país fica em
poder das famílias.
Este conceito é importante porque mede quanto fica disponível para as famílias con-
sumirem: quanto maior os impostos e taxas cobrados pelo Governo, menos recursos
ficam disponíveis para consumir e vice-versa.
Este conceito fica fácil de entender quando recebemos nosso salário: o holerite, do-
cumento que registra o salário bruto com os respectivos descontos, traz relacionados,
além de quanto você ganha, os descontos referentes às contribuições previdenciárias
(INSS) e ao Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF). Quando é o caso, o holerite mos-
tra também outras contribuições confederativas e descontos diversos de sua empresa
(vale transporte, ticket refeição, dentre outros). Após contabilizar todos os descontos,
chega-se ao salário líquido, isto é, quanto de fato é depositado em sua conta salário,
que você usará para comprar as mercadorias de sua necessidade e pagar suas contas,
dentre outros usos de sua escolha.
Agora imagine que o Governo decida acabar com o IRPF. O que vai acontecer com seu
salário líquido? Vai aumentar! E por quê? Porque não vai ser mais descontada a parcela
correspondente a este imposto, permitindo assim que seu salário líquido fique maior.
O recurso que serviria para pagar imposto poderia ser utilizado para consumo, ou seja,
haveria mais dinheiro na sua conta, aumentando assim sua RPD.
É assim que funciona na economia: quanto menos impostos, mais renda ficará disponível para
consumo. E o contrário também é verdade: quanto mais impostos são cobrados, menos recur-
sos as famílias terão para consumir.
Outro indicador importante é a Carga Tributária Líquida (CTL), que mede o peso dos tribu-
tos descontado dos subsídios e transferências governamentais realizadas ao setor privado.
84
2.7 O SETOR EXTERNO
Dificilmente, um país produz tudo o que precisa: sempre há a necessidade de se impor-
tar algum insumo para produção interna (petróleo, fertilizantes etc.) e também máquinas
e equipamentos para aumento de sua capacidade produtiva, por exemplo. 3
Sendo assim, a demanda e a oferta de uma economia não se resumem apenas ao mer-
cado interno (doméstico), mas também ao externo: as relações econômicas cada vez
mais estão voltadas ao movimento do capital externo, além das fronteiras nacionais, o
que obriga que cada vez mais as economias se voltem ao mercado exterior.
Por ora, não vamos entrar em detalhes sobre o papel do Setor Externo para o desenvolvi-
mento econômico, mas entender como o país registra suas relações com o resto do mundo.
O mais importante instrumento que realiza o registro entre as relações econômicas in-
ternacionais é o Balanço de Pagamentos (BP). Segundo Paulani (2013, p. 173):
No balanço de pagamentos são registradas todas as transações econômicas que
o país realiza com o resto do mundo, em um determinado período de tempo,
permitindo avaliar sua situação econômica em relação às transações internacio-
nais. [...] Podemos avaliar quantitativamente, ou qualitativamente, as diversas
transações que o país mantém com outros países, como a compra ou venda de
mercadorias, a remessa de lucros para o exterior por parte de empresas estran-
geiras instaladas no país, a atividade de turismo, os empréstimos internacionais,
os fluxos financeiros e os movimentos de capitais especulativos dentre outros.
A. BALANÇA COMERCIAL
` Importações FOB (free on board) (débito);
` Transportes (fretes);
` Seguros;
` Juros;
` Royalties e licenças;
` Outros serviços.
Economia e mercados 85
A macroeconomia: da crise de 1929 à revolução keynesiana
` Financiamentos (financiamentos de bancos oficiais, como o Banco Mundial, para promover o cres-
cimento);
Todo registro realizado no BP é em dólar americano (US$), por ser a moeda estrangeira
mais utilizada e aceita como meio de pagamento em todo o mundo.
Conta corrente:
Registra as transferências de ativos reais e ativos financeiros ou ativos intangíveis; traz o registro
dos fluxos de capitais entre o país e o resto do mundo.
Omissões e erros:
Conta que traz os ajustes contábeis em relação a erros e omissões. A conta corrente possui
basicamente 4 subcontas:
Balança comercial: mensura a compra de mercadorias (importações – débito) e a venda de
mercadorias (exportações – crédito). Não leva em conta o valor dos fretes e seguros. As merca-
dorias são registradas em FOB – Free on Board.
86
Balanço de serviços e rendas: registra toda compra e venda de serviços entre o país e o resto
do mundo.
Transferências unilaterais correntes: registram as doações interpaíses. 3
Balanço das transações correntes: corresponde ao saldo líquido entre os grupos 1 + 2 + 3.
Se positivo, indica que enviamos mais bens e serviços para o exterior, do que recebemos. Se o
Já conta capital e financeira mensura todo movimento capital e financeiro entre a eco-
nomia e o resto do mundo, tais como aquisição de empréstimos, financiamentos, inves-
timento direto externo, dentre outros.
Ficou um pouco confuso? O BP é um tanto complexo, mas, por ora, cabe a você en-
tender o que ele representa. Caso o saldo do BP seja negativo, isso indica que o país
naquele período perdeu divisas (moeda estrangeira). O contrário também é verdade:
caso o país apresente saldo positivo no BP, significa que o país recebeu mais divisas
que enviou ao exterior.
CONCLUSÃO
Nesta Unidade, você foi apresentado ao panorama histórico e social que permitiu o sur-
gimento da macroeconomia, assim como aos principais instrumentos e objetivos dela.
Economia e mercados 87
A macroeconomia: da crise de 1929 à revolução keynesiana
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
HOBSBAWN, Eric. A era dos extremos. São Paulo: Cia das Letras, 2008. HUNT, E. K. História do pensamento
3 econômico. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.
KEYNES, John Maynard. A teoria geral do emprego, do juro e da moeda. São Paulo: Nova Cultural, 1996.
PAULANI, Leda Maria. A nova contabilidade social: uma introdução à macroeconomia. 4. ed. São Paulo:
Saraiva ,2013.
PINHO, Diva Benevides (Org.). Manual de Economia: Equipe de professores da USP. 6. ed. São Paulo:
Saraiva, 2011.
SANDRONI, Paulo. Novíssimo dicionário de Economia. São Paulo: Best Seller, 1999.
VASCONCELLOS, Marco Antonio S. Economia: micro e macro. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2011.
88
Economia e mercados
89
3
MOEDA E MERCADO
FINANCEIRO: INFLAÇÃO E
4 EMPREGO, ESTADO E POLÍTICAS
MACROECONÔMICAS
INTRODUÇÃO
A moeda faz parte de vários aspectos da sua vida: seja para adquirir uma mercadoria
e serviço, medir o valor de uma apólice de seguro, ou mesmo para tentar comparar o
valor de uma mercadoria em relação a outra. A moeda é uma maneira muito eficaz de
se quantificar riquezas e transacionar mercadorias.
Nesta Unidade, iremos estudar o que é moeda, explorar algumas de suas característi-
cas importantes, assim como entender alguns aspectos básicos, mas de suma impor-
tância, que regulamentam e estruturam o Mercado Monetário Brasileiro.
O tema é vasto, mas também muito importante para você entender o ambiente e con-
juntura econômica.
Neste primeiro tópico, iremos estudar o que é moeda, explorar algumas de suas carac-
terísticas importantes, assim como entender alguns aspectos básicos, mas de suma
importância, que regulamentam e estruturam o Mercado Monetário Brasileiro.
1.1 A MOEDA
A necessidade de se estabelecer meios mais eficientes para facilitar a troca é muito an-
tiga e cada vez mais necessária entre os homens. Na Antiguidade, as diferentes socie-
90
dades escolheram várias maneiras de estabelecer trocas entre si: há relatos que, entre
9.000 e 6.000 a.C., existiam civilizações que utilizavam ovelhas, gado e até camelos
para efetivarem suas trocas.
4
Talvez a mercadoria mais famosa utilizada para troca seja o sal: o sal marinho sempre
foi muito requisitado pelas civilizações, seja pela sua característica mais geral de servir
como tempero para alimentação ou pela sua propriedade de conservar alimentos.
Com o passar do tempo, as civilizações passaram a realizar suas trocas com o que
conhecemos hoje como moeda, isto é, geralmente metais (na sua grande maioria pre-
ciosos), de fácil aceitação pelas sociedades em geral e de grande durabilidade.
As moedas eram produzidas (cunhadas) através de metais nobres como ouro e prata
e, com o passar do tempo, passaram a ser produzidas por metais de menor valor, até
chegar no papel-moeda, as cédulas que conhecemos hoje, impressas pelos Bancos
Centrais dos mais distintos países.
Cada país e/ou sociedade possui uma moeda utilizada para efetivação das trocas. En-
tretanto, seja qual for a moeda em questão, ela deve possuir as seguintes funções:
Meio de troca:
As moedas devem servir para facilitar as trocas no interior da sociedade.
Unidade de conta:
Capacidade de a moeda servir para determinar o valor das mercadorias e serviços. Exemplo:
quanto custa o quadro da Monalisa, de Leonardo da Vinci? E a apólice do seu seguro de vida?
Tudo, praticamente, tem um valor monetário, isto é, capacidade de determinada mercadoria ou
serviço ser mensurada em uma determinada moeda.
Reserva de valor:
Atributo da moeda em armazenar poder aquisitivo no futuro. Exemplo: você poupa um recurso
cada mês para adquirir um automóvel ou casa no futuro, por exemplo.
Seja a moeda que for, em tese, ela deve possuir as três funções anteriormente descritas
para ter sua funcionalidade plena. Nem sempre as moedas possuem estas caracterís-
ticas ao mesmo tempo.
Contudo, além das três funções acima destacadas, a moeda é um ativo de maior liqui-
dez no mercado. Por liquidez da moeda, entende-se a capacidade desse ativo em ser
trocado por outra mercadoria.
Economia e mercados 91
Moeda e mercado financeiro: Inflação e emprego, estado e políticas macroeconômicas
O ouro, a prata e metais preciosos também são ativos que são facilmente trocados por
moeda ou outras mercadorias. Contudo, assim como qualquer ativo, a moeda precisa
possuir liquidez.
4
1.2 OS BANCOS E A INTERMEDIAÇÃO FINANCEIRA
Os bancos surgiram com a finalidade de garantir a segurança dos detentores das mo-
edas. Por elas serem fáceis de carregar e possuir valor, a segurança sempre foi peça-
-chave para efetivação das trocas comerciais.
É muito mais seguro para um comerciante guardar parte de suas moedas em uma instituição
que garanta sua segurança, como no caso dos bancos, por exemplo, do que guardar
consigo mesmo grande quantidade de moeda e ficar mais suscetível a roubos e furtos.
Com o passar do tempo, os bancos foram adquirindo um papel muito mais complexo e
importante do que simplesmente “guardar moeda”: passaram a ser meios seguros e de
grande confiabilidade para servir como meio de pagamento.
Por exemplo, para realização de pagamentos, basta apenas emitir uma ordem de pa-
gamento ou transferência de valores entre uma conta corrente e outra. Seja através
da emissão de um cheque ou, no caso dos dias atuais, de uma autorização de débito,
a transação é realizada entre o consumidor e o comerciante de maneira segurança e
eficaz, sem nenhuma das partes precisar recorrer, pessoal e diretamente, aos bancos.
Figura 01. Fluxo monetário
$$$ Empréstimos e
Pessoas físicas financiamentos Pessoas físicas
Instituições
e jurídicas e jurídicas
financeiras
Superavitárias Produtos de Deficitárias
investimentos $$$
Em tese, os bancos atuam como intermediários entre os poupadores (aqueles que não
utilizam totalmente seus recursos) e os deficitários (aquelas pessoas físicas ou jurídicas
que necessitam de recursos de outrem para financiar ou fechar suas contas, por exemplo).
SAIBA MAIS
Spread Bancário - Spread bancário é a diferença entre os juros que o banco cobra ao emprestar
e a taxa que ele mesmo paga ao captar dinheiro. O Brasil é famoso por ter um dos maiores
spreads bancários do mundo.
Um pouco de atenção: não apenas os bancos atuam como intermediários financeiros, outras
estruturas do Sistema Financeiro também atuam na intermediação entre poupares e deficitários.
92
Atente-se ao fato de que nem toda dívida pode ser tida como ruim, as empresas e
até mesmo as pessoas físicas necessitam de recursos para financiar seus gastos. Por
exemplo, a grande maioria das pessoas recorre ao Sistema Financeiro para financiar a
casa própria, assim como uma pessoa jurídica (empresa) pode demandar crédito para 4
pagar parte de seus fornecedores ou aumentar sua produção por meio da compra de
novas máquinas e equipamentos.
Assim, tanto o investidor quanto o poupador ganham, visto que o primeiro consegue re-
cursos suficientes para realizar seus investimentos e consumo, e o segundo consegue
que seu recurso (que iria ficar “parado”) lhe renda juros.
de instituições responsáveis
pela gestão da Política Mo-
netária Nacional. Nada mais
é do que a maneira pela qual
as instituições brasileiras se
organizam para efetivar a in-
termediação financeira, como
mencionado anteriormente.
Economia e mercados 93
Moeda e mercado financeiro: Inflação e emprego, estado e políticas macroeconômicas
O mercado (I), Moeda, Crédito, Capitais e Câmbio, é o principal e mais complexo mer-
cado do SFN. Ele é responsável pelos seguintes mercados:
4 Mercado monetário:
Responsável pelo fornecimento da moeda na sua forma de papel e escriturária, aquela disponível
(registrada) na conta corrente dos bancos.
Mercado de crédito:
Mercado de capitais:
Sistema que permite que empresas captem recursos de terceiros, compartilhando seus ganhos
e também riscos.
Mercado de câmbio:
Sistema responsável pela compra e venda de moeda estrangeira.
Como demonstra a FIG. 2, o SFN também é responsável pelo ramo de Seguros Pri-
vados, instituições financeiras para quem busca a aquisição de seguros, previdência
complementar e contratos de capitalização, e também pelo ramo de Previdência Fecha-
da, voltado às regras e gestão dos chamados Fundos de Pensão privados, voltados a
funcionários e servidores de empresas específicas.
Este trabalho explorará apenas o ramo (I) Moeda, Crédito, Capitais e Câmbio, pois é o
principal e mais complexo do SFN (divido entre os órgãos normativos e supervisores).
Entre os supervisores, temos o BACEN (Banco Central do Brasil), que tem como suas
principais funções, de acordo com Troster (2011):
Banco dos bancos: os bancos comerciais depositam recursos no BACEN, que também tem
a função de transferir recursos de um banco para o outro, para compensação dos pagamentos
interbancários.
Banco do Governo: grande parte dos recursos financeiros públicos são depositados no
BACEN. Ele também é responsável por captar recursos através dos Títulos Públicos; é o agente
financeiro do governo.
94
Executor da política monetária: responsável pelo controle da oferta de moeda através dos
instrumentos da política monetária.
Executor da política cambial: depositário das reservas cambiais de moeda estrangeira.
4
` Bancos múltiplos: bem como seu nome diz, realizam operações de um banco comercial,
de investimento e/ou de desenvolvimento, de crédito imobiliário, de arrendamento mer-
cantil e de crédito, financiamento e investimento. O banco múltiplo deve ser constituído
por, no mínimo, duas carteiras, sendo uma delas, obrigatoriamente, comercial ou de in-
vestimento, e ser organizado sob a forma de sociedade anônima.
O Multiplicador Bancário
Acredito que você possa estar com dúvida sobre o que é afinal este “multiplicador bancário”.
Pois bem, vamos lá: é a capacidade dos bancos comerciais em criar moeda escritural.
Economia e mercados 95
Moeda e mercado financeiro: Inflação e emprego, estado e políticas macroeconômicas
Ficou com mais dúvidas? Vamos explicar melhor: com o desenvolvimento das instituições
bancárias, e pelo anseio de “mais segurança” na movimentação dos recursos financeiros e
rapidez nas transações comerciais, a cada dia mais os agentes econômicos não precisam
4 estar com a moeda em espécie em mãos para comprar um bem ou adquirir um serviço.
Cada vez menos você precisa ter dinheiro em mãos para realizar suas transações.
Afinal de contas, realizar os pagamentos através de uma rede bancária é mais seguro
e muito mais eficiente.
Pois bem, o que o banco comercial faz com seu salário quando seu patrão deposita?
Registra em seu nome aquele montante devido e destina parte daquele recurso a ou-
tros agentes, que naquele momento estão deficitários, fazendo assim com que o banco
comercial realize seu papel de intermediário financeiro.
Vamos dar um exemplo para facilitar a compreensão: imagine que você ganha mensal-
mente um salário de $ 100 e seu patrão o deposita no Banco A.
Figura 03. Multiplicador bancário
O Banco A, no momento em que o depósito é realizado, registra esse valor em seu nome,
vinculado à sua conta corrente, e reserva 10% do montante para as Reservas Compulsó-
rias que o Banco Central exige e coloca à disposição de empréstimos um total de $ 90.
O Banco A emprestou esse montante para uma pessoa física que estava querendo comprar
um automóvel. Após tomar o empréstimo no Banco A, fez-se uma transferência eletrônica
para o Banco B, banco no qual a concessionária tem sua conta corrente pessoa jurídica.
Por fim, o Banco B empresta essa quantia para uma outra pessoa física que tomou
crédito para financiar sua casa própria. Esta pessoa, ao receber essa quantia pelo em-
préstimo, transfere eletronicamente o montante para a conta corrente do vendedor do
imóvel, que é o Banco C, que inicia o mesmo processo realizado pelos demais bancos.
96
Percebeu como a moeda se “multiplicou”? Um depósito de seu salário foi transferi-
do para financiar uma série de bens e movimentou (e muito) a economia. É dessa
maneira que os bancos comerciais têm suas principais fontes para realização dos
empréstimos e financiamentos. 4
A Política Monetária
O que a economia faz com mais oferta de moeda a sua disposição? Gasta! E como?
Na aquisição de bens e serviços, que, por sua vez, precisam ser produzidos nessa
economia, gerando emprego e renda e criando, assim, um efeito virtuoso no interior
dessa economia.
E quando a oferta de moeda reduz? A economia não gasta! Ou melhor, com a oferta de
moeda reduzida, o custo para aquisição de recursos financeiros aumenta (aumento da taxa
de juros de um empréstimo, por exemplo), o que faz com que o consumo, em tese, diminua.
Ufa! Viu como a oferta de moeda influencia no lado produtivo da economia e ela é es-
sencial para que uma economia consiga se desenvolver e gerar emprego e renda para
sua população?
O governo tem à sua disposição uma série de instrumentos para regular a oferta de
moeda da economia. Vamos verificar um pouco destes instrumentos e consequências
esperadas a seguir.
A Emissão de Moeda
O BACEN é o único órgão que pode imprimir moeda em território nacional. Caso al-
guma nota ou moeda circule na economia e não tenha sido produzida pela Casa da
Moeda, a moeda é falsa – algo que é tratado como crime contra o SFN.
Economia e mercados 97
Moeda e mercado financeiro: Inflação e emprego, estado e políticas macroeconômicas
Se a oferta de moeda é tão importante, por que o governo não pode imprimir muita
moeda e colocar à disposição da sua população o maior número de dinheiro possível?
Por causa da inflação, que nada mais é do que o aumento generalizado dos preços.
Você precisa entender que quanto mais oferta de moeda numa economia, mais os
agentes econômicos irão adquirir bens e serviços.
SAIBA MAIS
Segundo Sandroni (1999, p. 604): “Título emitido e garantido pelo governo (União, Estado,
município).
É um instrumento de política econômica e monetária que pode servir para financiar um déficit do
orçamento público, antecipar a receita ou garantir o equilíbrio do mercado do dinheiro. De acordo
com suas características, pode ter a forma de apólice, bônus ou Obrigação do Tesouro Nacional”.
Vamos, por ora, apenas analisar como os Títulos Públicos regulam a oferta de moeda
numa economia. De acordo com Troster (2011), o BACEN compra e vende títulos públi-
cos diariamente com o objetivo de regular a oferta de moeda.
Como isso acontece? Simples! Vamos imaginar que o objetivo do BACEN seja aumen-
tar a oferta de moeda, visando aquecer a demanda. A ordem do BACEN é comprar
naquele dia um certo volume de recursos públicos.
98
anteriormente, que disponibilizará um volume maior de recursos financeiros para reali-
zação de empréstimos, por exemplo.
O contrário também é verdade: imagine que no dia seguinte o governo tenha o diagnóstico
4
de que a economia está inflacionada, isto é, os níveis de preço estão acima do desejado.
Uma das medidas que o governo pode tomar para remediar a inflação é vender títulos.
PESQUISE
A SELIC – Taxa Básica de Juros
No Brasil, a SELIC é a taxa básica de juros, isto é, a remuneração dos Títulos da Dívida Pública
Brasileira. Em tese, nada nessa economia deve ter uma rentabilidade menor que essa taxa.
Conheça mais sobre a SELIC e como ela afeta os negócios de toda a economia.
Não deixe de pesquisar mais na internet sobre ela!
Política de Redesconto
A Política de Redesconto é outro instrumento que os agentes monetários têm à sua
disposição para controlar a oferta de moeda numa economia. Por ser o banco dos
bancos, o próprio BACEN pode disponibilizar recursos aos bancos comerciais para que
eles próprios disponibilizem aos seus clientes recursos financeiros para realização de
empréstimos e financiamentos.
Se, por algum motivo, o desejo do BACEN for ampliar os meios de pagamento (au-
mentar a oferta de moeda na economia), este disponibilizará aos bancos comerciais
recursos financeiros a uma taxa de juros de redesconto atrativa, para que os bancos
comerciais disponibilizem aos seus clientes.
Reservas Compulsórias
As Reservas Compulsórias constituem um outro instrumento que o BACEN tem à
sua disposição para controlar a oferta de moeda. O BACEN determina que parte dos
depósitos à vista sejam destinados às reservas compulsórias, que nada mais são do
que parte dos depósitos à vista que não poderão ser destinados para a realização de
empréstimos e financiamentos.
Economia e mercados 99
Moeda e mercado financeiro: Inflação e emprego, estado e políticas macroeconômicas
OFERTA DE MOE-
INSTRUMENTOS AÇÃO CONSEQUÊNCIAS ESPERADAS
DA/TIPO
Aumento da demanda agregada/renda/ aumento
Emissão de moeda Impressão/ cunhagem de moeda Aumento/ expansionista
no nível de preços (inflação)
Aumento dos juros do redesconto Diminuição/ reducionista Diminuição na demanda/renda/controle dos preços
Taxa de redesconto Aumento da demanda agregada/ renda/aumento
Diminuição dos juros do redesconto Aumento/ expansionista
no nível de preços (inflação)
Existem ocasiões em que por mais que a autoridade monetária diminua a taxa de juros
e aumente consideravelmente a oferta de moeda na economia, a economia não se
desenvolve e reaquece como o esperado, uma vez que os agentes econômicos, por
mais que sejam influenciados a investir, não o fazem devido a uma baixa expectativa
em relação ao futuro desta economia, por exemplo.
Sendo assim, cabe mencionar que a política monetária é mais um instrumento que pode
se utilizar para que as metas da política macroeconômica sejam alcançadas.
100
sempre te responde: o preço aumentou por causa da inflação! Então, afinal de contas,
o que é inflação?
Podemos conceber que inflação é o aumento generalizado dos preços. Preste atenção:
4
aumento generalizado, que nos indica que o processo inflacionário não é apenas quan-
do determinado produto aumenta, mas sim quando se verifica que o preço de vários
produtos e serviços aumentaram em toda economia, por isso o termo geral.
É esta análise que Vasconcellos (2011) faz. Os preços tendem a aumentar devido,
também, à atuação dos agentes econômicos ao disputarem a distribuição de renda
(acesso aos produtos e serviços). Apenas o agente que destinar mais recursos financeiros
para aquisição de um bem ou serviço poderá adquiri-lo. Nesse caso, a oferta desse bem
ou serviço é limitada no curto prazo. Sendo assim, de maneira geral, podemos conceber
que a inflação é um indicador que algo não vai bem nesta economia. De maneira geral,
uma economia com processo de inflação acima do desejado apresenta um problema
de desequilíbrio.
Distribuição de renda
O agente econômico, em um processo inflacionário, tem cada vez mais dificuldade em
trocar moeda por bens e serviços, uma vez que estes ficam mais caros, devido ao fato
de que o poder aquisitivo da moeda diminuiu.
Balanço de pagamentos
Se em um país o processo inflacionário está acima da média verificada internacional-
mente, os produtos deste país tendem a se tornar menos atrativos que os produzidos
Contudo, com essa medida adotada, o processo inflacionário fica mais grave: com o
aumento da demanda dos produtos nacionais para exportação e substituição de impor-
tações, a demanda aumenta, aumentando o nível de preços desta economia.
Além disso, há outro problema: dificilmente um país consegue produzir todos os produtos e
insumos que necessita: petróleo, fertilizantes, máquinas e equipamentos precisam ser im-
portados visando abastecimento desta economia. Com a moeda estrangeira mais cara, mais
caro será importar estes produtos, e, portanto, mais caros serão os produtos produzidos com
os insumos e equipamentos importados, prejudicando ainda mais o processo inflacionário.
Mercado de capitais
A inflação corrói o poder aquisitivo da moeda, fazendo com que esta se torne um ativo
desvalorizado. Com isso, os investidores, com receio de perder sua riqueza com a des-
valorização da moeda, decidem aplicar seus recursos em outros bens no lado real da
economia, tais como aquisição de residências, terrenos e imóveis em geral.
A correção deste problema tende a afetar ainda mais a economia: com o objetivo de
frear a fuga de capitais, o mercado de capitais tende a oferecer aos seus investidores
a correção monetária, isto é, indexação das aplicações financeiras aos índices de infla-
ção, visando assim corrigir o problema da inflação. É simples: ao aplicar seu dinheiro no
mercado de capitais, o aplicador terá direito aos juros da aplicação, mais a percentagem
decorrente da inflação.
A correção monetária parece ser até justa, uma vez que corrige a desvalorização
da moeda, mas tem um efeito nocivo: ao garantir a correção monetária, os inves-
tidores tendem a destinar seus recursos financeiros mais ao mercado de capitais
que aos investimentos do lado real da economia (tais como construção de uma
fábrica e loja, por exemplo).
O processo inflacionário também tem outros efeitos importantes na economia. Entre eles,
podemos citar a expectativa do futuro dos agentes em relação à própria inflação. Numa
economia inflacionada, o setor empresarial tende a aguardar a decisão de novos inves-
timentos, visando expansão da capacidade produtiva, mas, com a inflação, tende-se a
diminuir a taxa de emprego desta economia, diminuindo assim a renda, inviabilizando,
portanto, a justificativa de novos investimentos.
102
Outro problema é que a inflação provoca, num primeiro momento, um ganho aos to-
madores de empréstimos. Os credores, aqueles que emprestaram os recursos, serão
remunerados com valores que, em tese, não recuperarão a perda decorrente da desva-
lorização da inflação, prejudicando seus ganhos reais. 4
Contudo, no longo prazo nem o tomador nem o credor ganham: a inflação desarticula
todo o sistema produtivo. Com o poder aquisitivo do trabalhador diminuído, ele tende a
Inflação de Demanda
Podemos considerar que a inflação de demanda é a do tipo mais comum: está relacio-
nada ao aumento da demanda agregada no curto prazo: toda vez que a demanda de
certo produto aumenta e a oferta se mantém constante (no curto prazo), apenas aquele
agente econômico que disponibilizar de mais recursos financeiros para sua aquisição
poderá adquiri-lo (o produto fica mais caro).
Este tipo de inflação está muito relacionado ao uso da capacidade instalada da econo-
mia, isto é, tudo o que esta economia consegue produzir com os fatores de produção
disponíveis naquele período. Em tese, em momentos de pleno emprego dos recursos
(quando os recursos estão sendo utilizados em quase sua totalidade), um aumento da
demanda agregada provocada por uma política fiscal expansionista provoca, em linhas
gerais, um aumento no nível geral dos preços.
Vasconcellos (2011) analisa que este tipo de inflação é combatido com Políticas Fiscais e
Monetárias restritivas, ações que tenham como objetivo de conter a demanda agregada.
4 84,0
82,0
80,0
78,0
-%
76,0
74,0
72,0
0 0 1 1 12 012 013 013 014 014 015 015
01 01 01 01 20
.2 .2 .2 .2 . .2 .2 .2 .2 .2 .2 .2
r im r im rim r im r im r im r im r im r im r im r im r im
T T T T T T T T T T T T
1º 3º 1º 3º 1º 3º 1º 3º 1º 3º 1º 3º
Inflação de Custo
Inflação de custos é um tipo de inflação mais relacionada à oferta, isto é, relacionada
aos custos de produção: os preços aumentam sem um aumento na demanda dos pro-
dutos, provocando, também, diminuição na oferta.
Aumento salarial: por ser um fator de produção, aumentos salariais provocam o aumento do
custo de produção, que são geralmente repassados ao preço do produto final.
Aumento do custo dos insumos: aumento provocado quando o custo de algum insumo
encarece. Entre o exemplo mais claro deste tipo de inflação, podemos citar a desvalorização
cambial (quando a moeda nacional perde valor). Como parte dos insumos são importados, uma
desvalorização cambial provoca aumento nos custos de produção, uma vez que, com a moeda
nacional desvalorizada, haverá necessidade de mais moeda nacional para adquirir um insumo
importado, o que faz com que aumente o custo do produto final.
Estrutura de mercado: relacionado à estrutura do mercado no qual a empresa está inserida.
Mercados oligopolizados e monopolizados tendem a elevar seus preços acima do custo de
produção (empresas e corporações que controlam parte da oferta de seus produtos têm mais
condições de fixar o preço destes e, assim, manter o aumento de seus lucros). Vasconcellos
(2011) ressalta que este tipo de inflação também está relacionado aos lucros das empresas e ao
fenômeno conhecido como estagflação, isto é, recessão econômica com inflação.
104
Outros Tipos de Inflação
Além dos dois tipos mencionados, cabe lembrar que a Teoria Econômica conceitua
também outros tipos de inflação, principalmente relacionados à experiência brasileira. 4
A inflação inercial
A inflação de expectativas
É o aumento dos preços que acontece simplesmente porque os agentes acreditam que no futuro
os preços vão aumentar, fazendo com que aumentem seus preços na tentativa de proteger seu
negócio.
A inflação estrutural
– Comissão Econômica para a América Latina e Caribe, organismo da ONU sediada no Chi-
le, criada no pós-guerra com objetivo de repensar o subdesenvolvimento latino americano.
Zelândia e difundido posteriormente em diversos países por todo o mundo. Esse sistema
funciona no Brasil da seguinte forma: o Banco Central estipula uma meta a cada dois
anos e um limite mínimo e máximo que a inflação pode atingir em determinado período.
4
Este sistema leva em conta o Núcleo de Inflação, isto é, uma medida que o BACEN
procura captar a tendência de evolução dos preços da economia brasileira, desconside-
rando distúrbios resultantes de choques temporários de oferta, tais como sazonalidade
na agricultura decorrente da seca, por exemplo.
14
12
10
9 IPCA
% CENTRO META
6
LIMITE MAX
4 LIMITE MIN
0
06
07
08
09
10
12
13
14
15
99
00
01
02
03
04
05
11
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20
20
20
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20
20
20
20
20
19
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20
20
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20
Agora, observe no Figura. 03 a taxa SELIC de outubro de 2012 até a última reunião em
dezembro de 2015. Neste período, observamos uma tendência de alta da SELIC, que
passou de cerca de 7,25% para 14,25% a.a.
106
Figura 05. (Gráfico 3)Taxa SELIC – % a.a.
15,00
14,00 4
13,00
11,00
% A.A.
10,00
9,00
8,00
7,00
6,00
outubro - 12 maio - 13 novembro - 13 junho - 14 dezembro - 14 julho - 15 janeiro - 16
Se você analisar a inflação mensurada e a taxa SELIC, poderá observar uma relação
quase direta: o BACEN lançou mão, no período de alta, na taxa de juros SELIC, para
conter a inflação e tentar manter os preços nos limites fixados pela meta.
Você já deve ter se perguntado várias vezes ao escutar a divulgação da inflação oficial:
como a inflação subiu apenas 0,5% no mês se a energia elétrica subiu 8% e a gasolina
subiu 5% no mesmo período, por exemplo?
Isso acontece porque os índices de preços possuem uma cesta de produtos, um con-
junto de itens que são observados com objetivo de se construir um índice geral. Cada
item tem uma ponderação diferente, de acordo com a metodologia de tal índice e seu
objetivo, o que permite que cada índice geral possua um resultado.
Existem índices com objetivos específicos, por exemplo: índice da Construção Civil, que
visa apenas mensurar a evolução de preços deste setor econômico; índices que levam
em consideração apenas a região de coleta dos dados (Regiões Metropolitanas), di-
vergindo também das fontes de coleta, tais como tipo e tamanho de pontos comerciais,
setores pesquisados, além do período da pesquisa (mensal, quinzenal, trimestral).
No que se refere ao índice que orienta a política monetária, bem como traz um
diagnóstico geral do processo inflacionário, temos os índices de Preços ao Consu-
midor e os Índices Gerais de Preço. No Brasil, o indicador de referência é o IPCA
É através do IPCA que o governo orienta seu Sistema de Metas de Inflação, bem como
4
orienta a taxa de juros SELIC para combatê-la, conforme anteriormente visto.
No Brasil, existem outras instituições que mensuram a inflação além do IBGE, tais como
a FGV – Fundação Getúlio Vargas, e a FIPE – Fundação Instituto de Pesquisas Econô-
micas, dentre outras.
MERCADO DE CONSUMO
SALÁRIO RENDIMENTO
ANO TRABALHO PIB FINAL
MÍNIMO REAL MÉDIO
FORMAL - FAMÍLIAS
2002 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
2003 100,7 84,7 101,1 90,8 100,7
2004 104,4 199,8 106,9 94,2 107,8
2005 111,7 164,5 110,3 96,1 111,5
2006 127,4 161,2 114,7 103,5 117,1
2007 135,1 212,1 121,7 110,5 124,8
2008 139,3 190,5 127,9 115,7 128,1
2009 149,3 130,5 127,5 114,7 137,8
2010 157,3 280,3 137,1 121,3 147,9
108
Melhores indicadores do mercado de trabalho são responsáveis também diretamente
pelo aumento do consumo e, consequentemente, do PIB: o consumo expandiu aproxi-
madamente 48%, enquanto o PIB cresceu no mesmo período em cerca de 37%.
4
Na sociedade capitalista, o fator de produção trabalho, assim como outros fatores de
produção, é disponibilizado através do mercado. No caso específico do fator trabalho,
os trabalhadores vendem sua força de trabalho aos empresários, sendo que estes re-
Onde existe um contrato formal entre trabalhador e empregador, com garantias e deveres de
ambas as partes (conhecido também como trabalho de carteira assinada e regido pela CLT –
Consolidação das Leis do Trabalho).
Onde não existe uma relação específica, tampouco existem garantias legais para o trabalhador.
` Conta própria: pessoas que exploram uma atividade econômica ou exercem uma profis-
são ou ofício, realizando seu trabalho individualmente.
` Desemprego involuntário: ocorre quando o cidadão deseja trabalhar, mas não encontra
trabalho. É também conhecido desemprego cíclico ou desemprego conjuntural.
SAIBA MAIS
Você já deve ter percebido que existe uma relação quase direta entre inflação e geração de
empregos. Se você acha que sim, saiba que a ciência econômica já se desdobrou sobre o tema,
com destaque para a Curva de Philips, que mostra uma relação inversa (um trade-off) entre
inflação e desemprego. Não deixe de pesquisar mais sobre o tema em nossa bibliografia básica
disponibilizada em nossa Biblioteca Virtual.
TAXA DE PAR-
DATA FORMAL INFORMAL DESOCUPADOS1 OCUPADOS1
TICIPAÇÃO
Dez./2010 57,0% 66,3% 23,4% 100,0 100,0
Dez./2011 56,7% 69,1% 20,9% 90,6 101,3
Dez./2012 57,8% 69,6% 20,5% 90,8 104,4
Dez./2013 56,7% 71,4% 18,0% 84,8 103,9
Dez./2014 55,7% 71,8% 17,3% 84,0 103,4
Jan./2015 55,8% 71,8% 17,3% 103,0 102,5
Fev./2015 55,5% 71,8% 17,4% 113,4 101,4
Mar./2015 55,6% 71,7% 17,8% 119,4 101,2
Abr./2015 55,8% 71,8% 17,6% 124,5 101,4
110
TAXA DE PAR-
DATA FORMAL INFORMAL DESOCUPADOS1 OCUPADOS1
TICIPAÇÃO
Mai./2015 55,9% 71,8% 17,4% 130,5 101,5
Jun./2015 55,9% 71,7% 17,3% 134,8 101,4 4
Jul./2015 56,1% 71,6% 17,4% 147,4 101,4
Ago./2015 56,0% 71,5% 17,2% 148,4 101,2
Outra análise importante que deve ser levada em conta quando se analisa o mercado
de trabalho é o ganho real da massa salarial. Isto é, verificar se os salários dos tra-
balhadores estão sendo repostos e se seu poder de compra (aquele que influencia a
demanda agregada) estão sendo preservados e/ ou ampliados.
Pois bem, só de ler estas perguntas, você já deve ter uma noção que elas não são tão
simples de se responder. Ou melhor, suas respostas dependem muito de como os cida-
dãos veem o papel de seus governos e sua influência econômica.
Cano (1998) recorda que as sociedades humanas sempre tiveram, desde os primór-
dios, decisões superiores acerca de ordem, justiça, guerra, organização tomadas fun-
damentalmente por um chefe, que possuía um conjunto de atributos. Este poder do
chefe era obtido através de consenso dos membros da comunidade, ou pelo uso da
força ou transferidos pela hereditariedade.
Vasconcellos (2011) elenca uma série de fatores que contribuíram para o aumento da presen-
ça do Estado na economia: crescimento da renda per capita, mudanças tecnológicas, mudan-
ças populacionais, fatores políticos e sociais, mudanças da Previdência Social, dentre outros.
Função alocativa: está relacionado ao papel do Estado em fornecer bens e serviços não
4 oferecidos pelo sistema de mercado e à correção de externalidades (positivas ou negativas) na
produção ou consumo de alguns bens e serviços.
Giambiagi (2000) comenta que o Setor Público tem a importante tarefa de disponibilizar
aos seus cidadãos bens e serviços que não seriam supridos pelo Setor Privado, por se
tratar da oferta de bens públicos. Entre os mais importantes, destacados pelo autor, te-
mos os serviços de saúde, educação, defesa nacional, policiamento, regulação, justiça,
assistência social, dentre outros.
112
(CSN), da Companhia Vale do Rio Doce, criação da central elétrica de Furnas, da Petrobras etc.
A atuação do Estado na prestação destes serviços e produtos acontece principalmente quando
o setor privado se torna ineficiente e incapaz de assumir certos compromissos.
Estado financiador: aqui o Estado atua como centralizador e direcionador de recursos da 4
sociedade para a promoção de certos objetivos a serem atingidos. Destaca-se o grande papel
que o Banco do Brasil e o BNDES exercem como agentes fomentadores e disponibilizadores
A Estrutura Tributária
O Estado demanda recursos financeiros para a manutenção de suas atividades,
assim como utiliza os tributos para fazer valer suas funções econômicas, como
anteriormente descrito.
Para que atinjam os resultados da melhor maneira, Vasconcellos (2011) analisa que é
necessária a existência de princípios tributários, dentre eles:
Princípio da neutralidade:
Princípio pelo qual os tributos não devem, ou melhor, devem impactar o mínimo possível, não
alterando os preços relativos da economia e a eficiência do mercado, tampouco interferindo nas
decisões econômicas dos agentes de mercado.
Princípio da equidade:
Os tributos devem ser formulados com o intuito de distribuir o seu ônus de maneira justa entre
os indivíduos. A equidade leva em conta mais dois princípios, o Princípio do Benefício, que se
relaciona ao fato de que o contribuinte paga ao Estado um valor correspondente aos benefícios
que recebe do governo, e o Princípio da Capacidade de Pagamento, que considera que o valor
pago pelo contribuinte deve levar em conta sua capacidade de pagamento.
Giambiagi (2000) define a existência de dois tipos de impostos: diretos, aqueles que in-
cidem sobre indivíduo e estão associados à capacidade de pagamento de cada um dos
contribuinte e indiretos, impostos que incidem sobre consumo, vendas ou posse de pro-
priedade, independente da característica e capacidade de pagamento do contribuinte.
Vasconcellos (2011) comenta que a estrutura tributária pode ser classificada regressiva
quando os impostos são proporcionalmente menores que a renda dos contribuintes, ou
seja, quando os tributos aplicados não levam em consideração a capacidade de paga-
mento do contribuinte. Já a estrutura proporcional ou neutra é o contrário, o sistema
tributário leva em conta a renda do contribuinte e as alíquotas do imposto são propor-
cionais à renda do cidadão que o paga.
Sandroni (1999) afirma que os objetivos e medidas que as políticas econômicas pos-
suem dependem de país para país, de economia para economia, tudo dependendo de
como os formuladores da política econômica pensam acerca do processo de desenvol-
vimento econômico.
Contudo, como afirma Lessa (1998), existe um problema metodológico ao conceber a ideia
de bem-estar geral da população, pois como podemos chegar a ela através da somatória do
bem-estar de cada indivíduo? Como a somatória do bem-estar individual (uma variável) pode
criar o bem-estar geral (outra variável)? Assim, como denunciava Adam Smith (1996, p. 172),
a grande capacidade do capitalismo é fazer com que “[...] o interesse particular de um partido
— aliás, uma parcela subordinada da sociedade — represente o interesse geral da nação”.
114
Portanto, o papel do Estado neste processo de formulação da política econômica é de
fundamental importância. O Governo tem como tarefa escolher os melhores objetivos
e analisar os melhores instrumentos a serem utilizados para que tais objetivos sejam
alcançados. 4
Assim, temos de um lado a necessidade de encontrar os objetivos que a economia pre-
cisa alcançar (objetivos “filtrados” por muitas variáveis não só econômicas, mas muito
Segundo Mankiw (2014), economistas divergem acerca de como o Estado deve agir
para conseguir alcançar seus objetivos. Para o autor, alguns economistas, tais como
Willian McChesney Martin, consideram a economia como inerentemente instável, isto
é, a economia convive com frequentes choques, tanto na demanda quanto na oferta
agregada, o que obriga os formuladores das políticas econômicas a atuar através dos
instrumentos das políticas monetárias (política fiscal e monetária, por exemplo) para
que a economia alcance o nível de emprego e de preços (inflação) desejado.
Mankiw (2014) também apresenta as ideias de outros economistas que pensam o con-
trário, isto é, que a economia é estável por sua natureza. Entre eles, destaca Milton
Friedman, que analisa que as oscilações ineficientes pelas quais as economias as ve-
zes passam, tais como inflação e desemprego, por exemplo, devem-se à atuação “exa-
gerada” das políticas econômicas mal formuladas.
Este debate de como o Estado deve atuar ou não na economia é longo e ocorre há
décadas. Por ora, os objetivos da política macroeconômica são, em termos gerais, de
acordo com Vasconcellos (2011):
` Alto nível de emprego;
` Crescimento econômico.
4 IMPORTANTE
Cabe atentar que existem outros importantes objetivos da política econômica. Kirschen (1975)
levantou uma série de objetivos que as políticas econômicas têm tentado alcançar, tais como
expansão da produção, satisfação das necessidades coletivas, melhoria na distribuição da renda
e da riqueza, proteção e prioridades para determinadas regiões ou indústrias, dentre outros.
Não obstante, as consequências esperadas das políticas econômicas não são tão fá-
ceis e previsíveis como apresentado na Teoria Econômica. Mankiw (2014) elenca uma
série de fatores que influenciam e dificultam, em certa medida, as ações previstas das
políticas macroeconômicas:
Hiato de tempo entre implementação das políticas econômicas e seus efeitos: as políticas
econômicas levam um tempo para serem formuladas e implementadas. Seus instrumentos
possuem tempo de ação mais longos (política fiscal depende de autorização legislativa, o que a
torna mais lenta que a política fiscal, por exemplo).
Difícil tarefa de Previsão Econômica: tendo em vista que as políticas econômicas demandam
tempo para que seus efeitos sejam alcançados, quando se coloca em prática certa medida
econômica, é de suma importância que seus implementadores tenham em mente como estará
o nível de preços ou o saldo de emprego depois de passado 6 meses, por exemplo. Ou seja, o
formulador da política econômica deve se antecipar aos acontecimentos, uma vez que os “remédios
econômicos” não são tão rápidos assim e as consequências não tão simples de se prever.
Mankiw (2014) traz que as políticas econômicas são conduzidas por regras, caso seus
formuladores anunciem antecipadamente como reagirão a várias situações e se com-
prometam a seguir aquilo que foi acordado. Exemplo: as autoridades anunciam que
aumentarão a taxa básica de juros caso a inflação atinja certo ponto percentual acima
da meta estipulada pelo governo.
116
As políticas econômicas podem ficar à mercê do interesse de suas autoridades e formu-
ladores, isto é, as ações seguem os desígnios e intenções de seus criadores. Este po-
der discricionário, de se decidir o rumo das políticas econômicas se baseando em crité-
rios meramente políticos de seus formuladores, tem suas críticas na ciência econômica. 4
Os políticos, sabendo que serão reeleitos caso a economia esteja com bons índices, podem,
artificialmente, promover políticas econômicas que terão efeitos positivos no curto prazo, con-
CONCLUSÃO
Analisamos nesta Unidade os conceitos básicos sobre moeda e seu papel no desenvol-
vimento econômico, além de termos refletido sobre a estrutura do Sistema Financeiro
Nacional e seus principais órgãos. Estudamos o papel de cada instituição financeira no
mercado monetário, bem como analisamos como a política monetária pode atuar para
que o cumprimento das políticas macroeconômicas seja alcançado.
Entendemos o que é inflação, suas principais causas, tipos e seus efeitos e consequ-
ências na economia. Conhecemos os índices de preço, indicadores que têm como ob-
jetivo avaliar a evolução dos preços. Discutimos mercado de trabalho, sua importância
econômica, analisando e conhecendo alguns conceitos e indicadores. Por fim, você foi
convidado a refletir acerca do papel do Setor Público na seara econômica, assim como
seus diferentes papéis assumidos pelo Estado na condução do sistema econômico e
social. Conheceu de suas políticas econômicas, bem como atentou sobre os limites e
possibilidades na sua execução e efetividades.
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