A VERDADE POR TRAS DOS

REMEDIOS CIENCIA
FOCO

em
E SPE C IA L
Tudo o que os fabricantes escondem de você!

Polêmica
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Pesquisa
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R$ 19,90
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Ciência em Foco
Especial - Ano 2, Nº17

SEGREDOS
SOBRE MEDICAMENTOS
Os altos faturamentos da indústria farmacêutica, substâncias
que fazem mal, fabricantes que mascaram efeitos colaterais...
Descubra essas e outras verdades inconvenientes

A POLÊMICA sobre AIDS, DENGUE... Novas discussões

a pílula CONTRA Estamos perto de sobre a eficácia da
O CÂNCER uma cura definitiva? HOMEOPATIA
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EDITORIAL

O que há dentro da
CÁPSULA?
Uma dor nas costas aqui, um resfriado lá... quase todo mal estar é “resolvido” com
medicamentos, adquiridos facilmente em farmácias. No entanto, você já se questionou
sobre o que existe dentro dos comprimidos analgésicos, tubos de pomadas anti-infla-
matórias e vidros de xaropes? Diversos são seus componentes que ajudam o organismo
humano a se recuperar, de forma rápida ou lenta e gradual.
Contudo, esta edição se propôs não só a desvendar o que há dentro das cápsulas
– como é o caso da fosfoetanolamina sintética, a “pílula do cân-cer” –, mas também o
que existe por trás de toda a indústria farmacêutica que, apenas em 2014 (atchim!),
faturou R$41,8 bilhões, segundo dados da Associação da Indústria Farmacêutica de
Pesquisa (Interfarma).
Imagem Shutterstock Images

Além disso, apresentamos os malefícios dos inibidores de apetite, questionamos a

CAPA

eficácia da homeopatia, entendemos os “superpoderes” das novas vilãs dos antibióticos

e nos propusemos a explicar em que pé estão as pesquisas sobre possíveis vacinas para
dengue, zika e HIV. Então, caro(a) leitor(a), qual nova epidemia você está esperando para
descobrir a verdade por trás dos remédios?

Boa aventura!
A redação

ÍNDICE
• DESCOBERTAS CIENTÍFICAS • SUPERBACTÉRIAS: AS
VILÕES DO FUTURO
• O PODER DA INDÚSTRIA
FARMACÊUTICA • TRATAMENTOS PARA DOENÇAS
AINDA "SEM CURA"
• A POLÊMICA "PÍLULA
Ilustração: iStock.com/Getty Images

DO CÂNCER" • HOMEOPATIA REALMENTE

FUNCIONA?
• CONTROVÉRSIAS DOS
INIBIDORES DE APETITE • DÚVIDAS E MITOS SOBRE REMÉDIOS
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PÍLULAS Os experimentos e pesquisas que a ciência

desenvolveu nos últimos tempos

O FIM DAS PICADAS

Os pacientes que convivem com a diabetes tipo 1 estão acostumados
com as frequentes injeções de insulina, mas um estudo realizado em janeiro
de 2016 por uma equipe de pesquisadores do Instituto de Tecnologia de
Massachusetts (MIT) e do Instituto de Células-Tronco da Universidade de Har-
vard (ambas nos EUA) apresentou uma esperança no tratamento da doença.
A pesquisa mostrou que o organismo é capaz de reverter a diabetes por
pelo menos seis meses quando se implantam células produtoras de insulina,
desenvolvidas em laboratório a partir de células-tronco. O teste foi realizado
em ratos de laboratório geneticamente alterados para portar a diabetes tipo
1. Após receberem o implante de células artificiais, as cobaias conseguiram
produzir insulina sem o uso de injeções durante 174 dias.

QUIMERAS HUMANO-SUÍNAS
Cientistas da Universidade da Califórnia estão fazendo
experimentos para gerar órgãos humanos em porcos, com
a finalidade de disponibilizá-los para transplantes.
O teste é feito a partir da injeção de células-tronco
humanas em embriões de suínos com o objetivo de pro-
duzir embriões híbridos apelidados de "quimeras" – termo
referente à mitologia grega.
Segundo informações divulgadas pela rede de infor-
mações BBC, os pesquisadores esperam que os animais
tenham a aparência e o comportamento normais de por-
cos, exceto pelo fato de apresentarem células humanas
na composição de seus órgãos.

ADEUS AO COLESTEROL RUIM

Pró-proteína convertase subtilisina/kexina tipo 9, ou apenas PCSK9. Esse nome
complicado é uma molécula que modificou os estudos sobre colesterol. Há dez anos,
cientistas investigaram os genes de duas mulheres, uma dos Estados Unidos e outra
da África do Sul, com baixos índices de LDL – a parcela ruim do colesterol –, cerca
de 80 mg/dl a menos do que grande parte da população.
Elas apresentavam uma mutação genética raríssima que as deixavam praticamente
sem PCSK9 no organismo. Essa descoberta foi seguida por outras que propiciaram a
constatação de que, quanto mais PCSK9 no organismo, maior é o nível de LDL que
Fotos: Shutterstock Images

circula pelas artérias.

Dessa forma, uma classe de medicamentos, chamados de inibidores de PCSK9, foi
desenvolvida e, atualmente, as empresas farmacêuticas Amgen e Sanofi (americana
e francesa consecutivamente) conduzem ensaios clínicos com voluntários para testar
essa tendência de proteção.
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INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

A evolução dos
REMEDIOS
Por trás de uma pílula, há uma das indústrias
mais lucrativas do mundo: a farmacêutica

T
ALVEZ VOCÊ NÃO SAIBA, MAS
AQUELE SIMPLES COMPRIMI-
DO PARA DOR DE CABEÇA QUE
VOCÊ COMPRA NA FARMÁCIA
POR ALGUNS REAIS TEM MAIS
DO QUE DIPIRONA E CAFEÍNA EM SUA
COMPOSIÇÃO. A evolução da indústria
farmacêutica – que inclui o avanço nas pes-
quisas, o desenvolvimento tecnológico do
setor e o surgimento de novos compostos
– mostra como fomos capazes de manipular
certas fórmulas a ponto de transformá-las
em esperança para muitas pessoas doentes.
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Paralelamente, estamos falando também de árabes, em Bagdá (capital do Iraque), com um

um setor econômico poderosíssimo (que tam- único objetivo: desenvolver medicamentos de
bém tem seus interesses) e que movimenta alta categoria. A partir do século 10, surgiu,
cerca de US$300 bilhões em todo o mundo nos conventos da França e da Espanha, a
anualmente, de acordo com a Organização figura dos apotecários – profissionais que
Mundial da Saúde (OMS). concentravam os conhecimentos da cura, uma
espécie de médico junto a um farmacêutico –
HISTÓRIA MILENAR os quais eram responsáveis pelo diagnóstico
Não se sabe ao certo a origem das ativida- dos sintomas e tratamentos de seus pacientes.
des relacionadas à farmácia, mas o primeiro A separação dos ofícios médicos e farmacêu-
registro aconteceu por volta de 400 a.C., ticos teve início na França no século 12, no
quando Hipócrates, considerado o pai da entanto, em alguns lugares, levou séculos para
medicina, escreveu os primeiros tratados se concretizar. Já o século 19 ficou marcado
médicos com viés científico, no intuito de pelo novo modelo produtivo da Revolução
extinguir as práticas primitivas realizadas até Industrial, entre eles o surgimento das má-
então, como os rituais que acreditavam serem quinas em substituição das tarefas humanas,
mágicos, para amenizar o sofrimento e as aprimorando e acelerando toda a produção,
dores. Outro registro teve como responsável com maior acesso à matéria-prima.
o médico romano Cláudio Galeno, no século Aos poucos, a indústria farmacêutica foi
Fotos: Shutterstock Images

2, que se destacou pela prática em testes ampliando suas técnicas, modalidades e

de medicamentos experimentais e métodos medicamentos, emoldurando-se para con-
extraídos de plantas naturais. seguir chegar ao que representa atualmente.
A primeira escola farmacêutica foi cons- A Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945)
truída anos depois, ainda no século 2, pelos proporcionou ao setor um ambiente favorável

ALTO RISCO
Os produtos da indústria dos remédios são especialmente difíceis e caros de serem fabricados.
Até um remédio chegar à farmácia, são utilizados cerca de 15 anos entre pesquisas, estudos
e experimentos. O investimento não fica por menos. A revista científica Nature publicou,
em 2005, que os valores apresentados são aproximadamente três vezes mais altos do que
a média industrial. Sendo assim, é considerado um negócio perigoso: de dez mil compostos
que entram para serem pesquisados, apenas um é comercializado.
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INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

para a expansão de mercado e pesquisas. Desde 1980 até 2000, as empresas nacio-
LEI DAS PATENTES Neste momento, foi possível avaliar que as nais depararam-se com algumas dificuldades,
É a responsável,
enfermidades dos soldados tinham números como o controle de preços pelo governo,
por exemplo, por
de acometidos muito maiores do que no a lei de patentes que foi responsável pelo
impedir que um re-
médio recém-des- combate direto. Essa descoberta possibilitou reforço do monopólio de produtos, o baixo
coberto possa ter experimentos de cunho científico, principal- prestígio dos produtos nacionais e o aumento
seu princípio ativo mente com drogas de ação antibacterianas, no grau de exigência na concessão de novos
imediatamente utili- responsáveis pela luta contra infecções e medicamentos por parte da Agência Nacional
zado na fabricação doenças causadas por determinados vírus. de Vigilância Sanitária (Anvisa).
de similares e genéri-
cos, com preços mais
competitivos. Ou NO BRASIL
seja, em resumo, é a A indústria farmacêutica teve seu surgi- FÁBRICA DE DOENÇAS?
lei que evita a entra- mento e desenvolvimento no Brasil entre o A indústria farmacêutica também é
da de medicamentos período de 1890 e 1950, quando medicamen- conhecida por outro nome: Big Pharma,
genéricos no merca- tos e outros produtos com fins terapêuticos algo como “a grande farmácia”, em
do, mantém o mo- inglês. No entanto, o termo é utilizado
para o alívio das enfermidades podiam ser
nopólio dos grandes para se referir ao setor pejorativamente,
comprados nas chamadas boticas. O Estado
laboratórios e, con- como se fosse uma grande fábrica de
sequentemente, faz teve forte contribuição para a formação dos doenças, remédios ineficazes e que ten-
com que os preços primeiros cientistas brasileiros que, posterior- de a tornar as pessoas hipocondríacas
dos remédios fiquem mente, tornaram-se responsáveis pelo desen- em busca de lucros cada vez maiores.
mais caros. volvimento de planos de saúde pública, e da No entanto, tudo isso é uma teoria
produção de soros, vacinas e medicamentos. da conspiração que coloca em xeque as
verdadeiras razões da indústria farma-
Com o advento da expansão da cultura
cêutica. Para os “teóricos”, as grandes
do café em direção ao oeste paulista, um empresas do ramo estão unidas para
grande número de imigrantes veio ao país. faturarem fortunas em cima das pessoas
Mas, devido às péssimas condições sanitárias comuns e se valem de métodos obscuros
dos portos, cortiços e hospedarias que os para fazê-los.
abrigavam, foram necessárias buscas por Um desses meios é se aproveitar do
medidas de combate à doenças e infec-
sofrimento de pessoas machucadas,
doentes, em estágios avançados de en-
ções. Nessa época, os investimentos em
fermidades e dos hipocondríacos. As em-
tratamentos e medicamentos aumentaram presas também criam novas doenças para
demasiadamente, porém, em seguida, a que mais remédios sejam consumidos.
década de 80 trouxe a estagnação completa. Outro método se dá por meio da censura
ao acesso a tratamentos alternativos que
seriam mais baratos e simples – para
isso, as indústrias não fariam registros de
patentes. Além disso, as grandes corpo-
rações dariam novos nomes a doenças
“antigas”, ou seja, que não se manifestam
há tempos na sociedade.
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Uma máquina de fazer remédio (e dinheiro)

Os números incríveis e curiosos da indústria farmacêutica

NO MUNDO

FATURAMENTO
Fontes: IMS Health, OMS, GlobalData, alternet.org e PharmaCompass

US$300

Medicamentos mais vendidos (faturamento em 2015)

BILHÕES POR ANO

MABTHERA/
MEDICAMENTO HUMIRA HARVONI ENBREL REMICADE RITUXAN
Artrite, psoríase e Artrite, psoríase e Artrite, psoríase e
INDICADO PARA transplante de órgãos Doenças infecciosas transplante de órgãos transplante de órgãos Quimioterápico

JOHNSON &
EMPRESA ABBVIE GILEAD SCIENCES AMGEN/PFIZER ROCHE
JOHNSON/MERCK

FATURAMENTO US$14,01 US$13,86 US$8,69 US$8,35 US$7,11

BILHÕES BILHÕES BILHÕES BILHÕES BILHÕES

1 ESTADOS UNIDOS – Analgésicos à

Países que mais consomem remédios

– e o tipo mais vendido em cada um
base de paracetamol e dipirona
2 JAPÃO – Antiateromas

deles (por unidade em 2012)

(impedem acúmulo de gordura nos
vasos sanguíneos)
3 ÍNDIA – Antiulcerosos
4 CHINA – Medicina tradicional
5 RÚSSIA – Descongestionantes nasais
6 BRASIL – Descongestionantes nasais

NO BRASIL

R$54,18
396
BILHÕES
redes de FATURAMENTO
R$27,79
BILHÕES
drogarias

R$132 EMPRESAS
GERAM
50 MIL
EMPREGOS
250 MIL
EMPREGOS
por meio de
DIRETOS INDIRETOS
BILHÕES EM 2015
R$50,18
distribuidores
83%
BILHÕES
vendas diretas DO MERCADO
2,53 BILHÕES
DE CAIXAS DE
dos laboratórios
MEDICAMENTOS
Maiores empresas (por fatia

1 NEOSORO – descongestionante nasal

do mercado em 2015)

Os mais vendidos (por

EMS
2 GLIFAGE XR – tratamento de diabetes
unidade em 2015)

HYPERMARCAS
SANOFI 3 CICLO 21 – anticoncepcional
NOVARTIS 4 LOSARTANA POTÁSSICA – tratamento de hipertensão
12,08% 10,25% 8% 5,96% 5,69% ACHÉ 5 DORFLEX – analgésico
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POLÊMICA

Encontraram
A CURA DO
CÂNCER?O que mostram os recentes estudos sobre o
funcionamento da fosfoetanolamina sintética
no organismo humano com o intuito de
autodestruir células cancerosas

S
EGUNDO A ESTIMATIVA DO
INSTITUTO NACIONAL DE CÂN-
CER (INCA), ENTRE 2016 E 2017,
SURGIRÃO CERCA DE 600 MIL
NOVOS CASOS DE CÂNCER

Imagens: Shutterstock Images

NO BRASIL. No entanto, se pesquisadores
descobrissem uma substância, produzida pelo
próprio organismo, capaz de indicar as células
cancerosas a serem autodestruídas, não seria
perfeito? Na teoria, esse elemento já existe
e foi até mesmo sintetizado em laboratório.
Resta saber se funciona na prática!
 ines249

ORIGEM modo, a administração via oral da substância combateria

A fosfoetanolamina é um fosfolipídio presente em to- a doença. No entanto, a instituição médica – reconhecida
dos os tecidos e órgãos animais. Sintetizada no retículo pelo tratamento de câncer – nega ter realizado quaisquer
endoplasmático, participa (entre suas diversas funções) testes clínicos com a fosfoetanolamina durante a década
do metabolismo mitocondrial (produção de energia para de 1990.
as células). Em geral, também serve como componente
estrutural das membranas celulares. Além disso, de acordo PAPEL DA UNIVERSIDADE
com o oncologista do INCA Daniel Fernandes, “na teoria, As “doses”, segundo Chierice, eram distribuídas pro-
a fosfoetanolamina atuaria identificando as células cancerí- porcionalmente ao nível de ácido graxo livre no sangue
genas e, ligando-se às mesmas, promoveria uma sinalização dos pacientes. Em média, adultos ingeriam três cápsulas
ao sistema imune do paciente para destruir essas células”. por dia. Assim, pessoas acometidas pela doença iam ao
Instituto de Química de São Carlos (IQSC) buscar o “me-
INÍCIO DAS PESQUISAS dicamento”, distribuído gratuitamente.
No final da década de 1990, o químico brasileiro Gilberto Contudo, a USP esclarece que a substância foi pesqui-
Chierice – hoje, professor aposentado da Universidade de sada de forma independente pelo químico, outrora ligado
São Paulo (USP) em São Carlos (SP) – e sua equipe desen- ao Grupo de Química Analítica e Tecnologia de Polímeros.
volveram uma versão sintética da substância, produzida “Esses estudos independentes envolveram a metodologia
a partir da monoetanolamina (utilizada em xampus) e do de síntese da substância e contaram com a participação
ácido fosfórico (um conservante de alimentos). de outras pessoas, inclusive pessoas que não têm vínculo
De acordo com o pesquisador, durante uma explanação com a Universidade de São Paulo”, descreve a nota de
na comissão especial do Senado Federal sobre o assunto, imprensa no site oficial do IQSC. A instituição ainda ressalta
em 29 de outubro de 2015, a pesquisa se iniciou devido a que a substância foi estudada como um produto químico,
um acordo entre a USP e o Hospital Amaral Carvalho em mas não foram desenvolvidas pesquisas sobre sua ação
Jaú (SP). Segundo Chierice, a parceria não foi “levada em em seres vivos.
frente”, fazendo com que os pacientes passassem a retirar Ainda durante sua explanação em 2015, o químico
as cápsulas no câmpus de São Carlos. Chierice acreditava destacou que a instituição de ensino nunca investiu mone-
na hipótese de que pacientes com câncer não produzem tariamente na pesquisa, que foi sustentada com o salário
uma quantidade suficiente de fosfoetanolamina. Desse dos especialistas envolvidos por mais de 20 anos.
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POLÊMICA

POLÊMICA PROMULGAÇÃO DA LEI

Estima-se que 50 mil cápsulas de fos- O tema, então, passou a ser discutido na Câmara dos Deputados, sob o
foetanolamina sintética eram produzidas projeto de lei PLC 3/2016, que obteve aprovação necessária para ser encami-
por mês até o momento em que a dire- nhado ao Senado. Este, por sua vez, permitiu que a nova lei, no final de março
toria do IQSC, em 2014, decretou uma de 2016, seguisse à Presidência da República. Sem vetos, a Lei 13.269/2016 foi
portaria estabelecendo que a produção sancionada em 13 de abril de 2016, autorizando que pacientes diagnosticados
e a distribuição de substâncias com ca- com neoplasia maligna utilizassem a fosfoetanolamina sintética, antes de seu
ráter medicamentoso só poderiam ser registro na Anvisa. No entanto, a produção só poderia ser feita por “agentes
realizadas caso apresentassem licença regularmente autorizados e licenciados pela autoridade sanitária competente”,
outorgada pela Agência Nacional de especifica o texto da legislação.
Vigilância Sanitária (Anvisa). No entanto, a lei foi submetida à Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI)
Entretanto, o caso ganhou desta- pelo STF, que tem por finalidade declarar que uma lei ou parte dela contraria a
que a partir do momento em que juízes Constituição. Assim, “o Tribunal, por maioria e nos termos do voto do Relator,
concederam diversas liminares para que deferiu a liminar para suspender a eficácia da Lei nº 13.269/2016, até o julga-
os pacientes voltassem a consumir a mento final desta ação”, descreve o texto do Supremo. Nesse caso, por não
substância. Contudo, a USP alegou não ter a eficácia comprovada e com a possibilidade de comprometer o tratamento
ser capaz de produzir e distribuir a fos- convencional, a lei foi considerada contrária aos direitos constitucionais à saúde,
foetanolamina em larga escala. Por isso, à segurança e à vida.
o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) De acordo com a assessoria de imprensa da Anvisa, a expectativa é de que,
suspendeu cerca de 600 decisões sobre “no julgamento do mérito da questão, o STF também se coloque a favor do sis-

Imagens: Shutterstock Images

o uso e a distribuição da substância, fa- tema regulatório brasileiro e não permita a autorização de uma substância sobre
zendo com que os pacientes recorressem a qual não se tenha garantia de sua qualidade, segurança e eficácia. Todo medi-
ao Supremo Tribunal Federal (STF). camento novo precisa se submeter a testes clínicos”, afirma. A nota de imprensa
Em 8 de outubro de 2015, uma me- ainda pontua que “sem esse processo, qualquer produto poderia ser vendido nas
dida cautelar cedida pelo ministro do farmácias, sem garantia de segurança, o que poderia produzir danos à saúde de
STF Edson Fachin suspendeu a decisão quem os consumisse, e de eficácia”.
do TJ-SP, permitindo que uma pacien-
te carioca com câncer tivesse acesso à
fosfoetanolamina. Contudo, segundo
entrevistas concedidas pelo ministro, a
decisão foi “excepcional”, pelo fato da
enferma estar em estado terminal. Assim,
não abriria precedente para que outros
pacientes, em situações diferentes, con-
seguissem acesso ao “medicamento”.
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AO MESMO TEMPO... De acordo com o coordenador do Laboratório de Química Orgânica

No dia 29 de outubro de 2015, após as Sintética do Instituto de Química da Universidade de Campinas Luiz Carlos
audiências públicas realizadas na Câmara Dias, um dos responsáveis por essa etapa do processo, o que pode justificar
dos Deputados e no Senado Federal, o a presença de impurezas são os compostos presentes nos reagentes da
Ministério da Saúde – em conjunto com o composição. As outras possibilidades são de que os autores não tenham
extino Ministério da Ciência, Tecnologia e utilizado água destilada nos procedimentos experimentais “ou pela limpeza
Inovação (MCTI) – instituiu um Grupo de inadequada das vidrarias e demais equipamentos utilizados no processo
Trabalho de forma a desenvolver pesquisas de síntese”, explica Luiz Carlos Dias.
para determinar a eficácia e segurança da
fosfoetanolamina sintética.
TRATAMENTO TRADICIONAL
Dessa maneira, o MCTI se comprometeu “O câncer representa um grupo heterogêneo de mais de cem doen-
a investir R$10 milhões durante três anos ças, que possuem características intrínsecas, completamente diferentes
para financiar as etapas iniciais dos estudos. umas das outras, dependendo do sítio primário da doença. Sendo
Por enquanto, apenas R$2 milhões foram assim, é praticamente impossível uma única droga combater todos os
repassados aos laboratórios responsáveis diversos tipos de cânceres”, pontua o oncologista Daniel Fernandes.
pelas análises: o Centro de Inovação e En-
A principal forma de tratamento dos tumores é a ressecção cirúrgica,
ou seja, a retirada. Contudo, Daniel ressalta que o estadiamento (avalia-
saios pré-clínicos (CIEnP), o Laboratório de
ção do grau de disseminação, tipo de tumor, entre outros aspectos) é
Avaliação e Síntese de Substâncias Bioativas fundamental para nortear o tratamento mais adequado a cada paciente.
da Universidade Federal do Rio de Janeiro “Uma vez que, dependendo do estadiamento da doença, haverá uma
(LASSBio/UFRJ) e o Núcleo de Pesquisa modalidade terapêutica mais eficaz, como nos casos mais avançados,
e Desenvolvimento de Medicamentos da a cirurgia deixa de ser a primeira opção e podemos utilizar radiotera-
Universidade Federal do Ceará (NPDM/UFC). pia, quimioterapia, a associação de radioterapia com quimioterapia,
ou mesmo a associação de radioterapia com quimioterapia e cirurgia,
como opções terapêuticas. Neste último caso, o intuito é diminuir o
PRIMEIROS TESTES tumor e torná-lo operável”, descreve o oncologista.
Duas fosfoetanolaminas sintéticas foram
estudadas: a sintetizada pelo IQSC-USP e a
conforme as Boas Práticas de Fabricação (con-
junto de medidas adotadas a fim de garantir
a qualidade sanitária), utilizando o mesmo
processo de Chierice para a obtenção da subs-
tância. Na primeira etapa do procedimento,
as 16 cápsulas provenientes do IQSC (entre
o total de 60) foram pesadas. No entanto,
embora o rótulo dissesse 500mg, variavam
de 233mg a 368mg.
Além disso, o relatório destacou que as
cápsulas não apresentavam alto grau de pu-
reza, conforme informado pelos fabricantes.
O conteúdo (67,8% do total) das cápsulas
apresentava monoetanolamina protonada,
fosfobisetanolamina e fosfatos e pirofosfatos
de cálcio, magnésio, ferro, mangânes, alu-
mínio, zinco e bário, além de uma pequena
porcentagem de água.
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POLÊMICA

POTENCIAL CITOTÓXICO ATIVIDADE ANTICÂNCER

Na fase seguinte, verificou-se in vitro se a fosfoeta- Em seguida, a fosfoetanolamina sintética foi testada em
nolamina sintética e a versão nanoencapsulada seriam camundongos. A primeira avaliação foi em relação ao Carci-
capazes de conter a proliferação de três tipos de célu- nossarcoma 256 de Walker (tumor frequentemente utilizado
las tumorais e dois não tumorais, e provocar danos na em estudos de oncologia, com rápida proliferação celular) e, a
membrana celular. As amostras não foram consideradas segunda, à ação do Sarcoma 180 (tumor que invade o músculo
citotóxicas. "No entanto, foi possível observar, a partir esquelético, tecido adiposo, nervos e vasos sanguíneos, des-
dos dados obtidos, que a fosfoetanolamina sintética, coberto em camundongos em 1914). Ambos foram realizados
quando encapsulada, apresentou seletividade para com 45 animais: 15 tratados com um grama por quilo (peso)
células tumorais", destaca o relatório. Além disso, os de fosfoetanolamina sintética, 15 com antitumorais de eficácia
pesquisadores pontuam que “uma molécula não cito- reconhecida e o restante com soro fisiológico. No entanto, a
tóxica ou citotóxica em altas concentrações pode apre- primeira substância não apresentou efeito inibidor de crescimento.
sentar, conforme evidenciam os trabalhos publicados O último teste foi feito em um grupo de 40 animais com
com a fosfoetanolamina, potencial antitumoral in vivo, melanoma humano, divididos igualmente e tratados com Cis-
possivelmente por depender de rotas metabólicas para platina (antitumoral utilizado em laboratórios), soro fisiológico e
desencadear sua ação”. A equipe, então, sugeriu que fosfoetanolamina de 500mg e 200mg por quilo. Esta última foi

Imagens: Shutterstock Images

testes adicionais fossem realizados in vivo para verificar escolhida tendo como base o fato de que as cápsulas originais
a atividade contra tumores malignos da substância. apresentavam, em média, 350mg e eram ingeridas três vezes ao
Na sequência, o CIEnP analisou a atividade citotóxica dia, totalizando 1050mg. Tendo como padrão o peso humano
e antiproliferativa dos outros compostos presentes nas de 60kg, equivaleria a uma média de 17,5mg/kg/dia. Assim, a
cápsulas. Foi constatado “que a monoetanolamina, e não a dose animal de 200mg por quilo representaria 16,2mg/kg/dia.
fosfoetanolamina, apresentou atividade tóxica in vitro contra A dose de 500mg por quilo em animais, no entanto, equivaleria
células de tumores de pele e do pâncreas”, explica Luiz Dias. a 40,5mg/kg/dia em humanos.
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RESULTADOS PRÓXIMA ETAPA

A fosfoetanolamina na dose de 500mg A nova fase da pesquisa está programada para meados de setembro
foi capaz de retardar o crescimento tumoral, de 2016. Os testes serão feitos em humanos saudáveis para avaliar se a
com redução de 34%, enquanto a Cisplatina fosfoetanolamina sintética é segura. Estima-se que 80 a 120 pessoas serão
provocou redução de 68%. Ainda segundo recrutadas e submetidas à doses diferentes da substância, durante seis
dados publicados no relatório, a dose de meses, com o intuito de identificar efeitos colaterais.
200mg por quilo apresentou um crescimento
levemente maior do tumor comparada à
APROVAÇÃO DA ANVISA
administração apenas do soro fisiológico.
Para ser registrada como um medicamento, é preciso que a subs-
“Até o momento, com exceção da au- tância cumpra algumas etapas determinadas pela Anvisa. É necessário
sência de toxicidade e da não promoção de que laboratórios que seguem as Boas Práticas façam experimentos in
mutações no DNA, a fosfoetanolamina não vitro, cobaias animais e humanas, de acordo com os critérios definidos
apresentou resultados nada animadores para pelo órgão. “No mundo inteiro, e também no Brasil, medicamentos
seus defensores. No entanto, em virtude da têm que ser fabricados em local autorizado, para garantir que o fazem
com a necessária qualidade, e realizar os ensaios pré-clínicos e clínicos
enorme comoção popular, teremos que reali-
de acordo com os protocolos internacionais para, por fim, pedir seu
zar todos os testes pré-clínicos e clínicos. Não
registro na agência regulatória”, declara a Agência por nota de im-
é possível extrapolar para os seres humanos prensa. A descrição das etapas para registro pode ser encontrada em
os poucos resultados positivos obtidos em bit.ly/1Ur71D9. “A Anvisa reitera que não existe nenhuma solicitação
estudos feitos em animais ou em células cul- em relação à fosfoetanolamina esperando análise na Agência”, ressalta.
tivadas em laboratório”, esclarece Luiz Dias.

COMO FUNCIONA?
De acordo com os desenvolvedores da fórmula, a
fosfoetanolamina atua da seguinte maneira nas
células anaeróbicas (que não respiram oxigênio,
característica presente nas afetadas pelo câncer)
do organismo humano:

1. A cápsula, com
fosfoetanolamina
sintética, é ingerida via 2. Adentra no trato digestivo.
oral pelos pacientes. Em seguida, na corrente
sanguínea, pela qual chega
ao fígado.“Pega carona” com
ácidos graxos responsáveis
por alimentar e conceder
energia às células tumorais.

3. Ao lado dos nutrientes, entra

nas células cancerígenas,
onde atinge as mitocôndrias
e sinaliza células cancerosas
para o sistema imunológico.

4. Então, ocorre a apoptose

(autodestruição celular), o
que diminui a multiplicação
das células sinalizadas.
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SIBUTRAMINA

Os inibidores de
APETITE
Ora proibida, ora liberada, às vezes
benéfica, outras maléfica, essa é
a sibutramina. Mas, afinal, qual a
verdade sobre ela? Descubra
nas próximas páginas
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H
OJE EM DIA, O QUE MUI- Mas, afinal, como funciona? “A sibu-
TAS PESSOAS DESEJAM É tramina é uma medicação utilizada para o
TER O CORPO PERFEITO, tratamento da obesidade, cuja ação se faz
PRINCIPALMENTE PELA APA- no sistema nervoso central”, explica Adria-
RÊNCIA E PELA SAÚDE. Não na Mendes, endocrinologista docente da
adianta ter um corpo maravilhoso, sarado, Faculdade de Medicina de Botucatu (SP).
pronto para o verão, sem ter o mínimo cui- A substância funciona de duas maneiras
dado com a saúde – caso que ocorre mui- diferentes: reduz a vontade de comer, dando
tas vezes pelo uso de medicamentos que a ideia de saciedade por mais tempo, além
prometem emagrecer de maneira rápida e de manter o metabolismo acelerado por um
barata, sem esforços. Um desses remédios período prolongado, resultando em um maior
tem chamado bastante atenção da população gasto energético. “Diferente das medicações
brasileira: a sibutramina. usadas anteriormente para obesidade, essa
Ao contrário do que muitos pensam, substância tem um efeito maior na sensação
esse medicamento não surgiu com o intui- de saciedade, do que na de diminuição do
to de emagrecer, muito pelo contrário. A apetite, de modo que pode-se ingerir uma
primeira bula afirmava sua aplicabilidade menor quantidade de comida nas refeições”,
como antidepressivo. Mas, como aconteceu reforça Adriana.
essa mudança? A sibutramina foi designada
como um mecanismo de ação que bloqueia OS EFEITOS COLATERAIS
a recepção da serotonina – substância que Durante anos de pesquisas clínicas, foram
desempenha funções fisiológicas, regulando observados os seguintes efeitos colaterais:
a depressão, por exemplo –, mas, depois palpitações; vasodilatação; insônia; tontu-
de algum tempo de pesquisas, foi possível ras; sensações cutâneas, como frio, calor e
perceber que o remédio atuava de modo formigamento; náuseas; sudorese; cólica e
mais eficaz no hipotálamo cerebral – parte até mesmo alterações no humor; visão turva
responsável por controlar a fome das pes- e modificações no apetite sexual. Houve
soas –, diminuindo o apetite e passando a ainda um número significativamente maior
sensação de saciedade, mesmo ao consumir de casos de infecção de ouvido e sinusite.
pouco alimento. De acordo com Marcio Mancini, vice-pre-
sidente do Departamento de Obesidade
O QUE É SIBUTRAMINA? da Sociedade Brasileira de Endocrinologia
Desde o ano de 1980, é possível encon- e Metabologia (SBEM), a sibutramina pode
Fotos: iStock.com/Getty Images

trar no mercado esse medicamento, mas, de ainda ser mais prejudicial ao organismo.
acordo com a Agência Nacional de Vigilância “Esse medicamento pode causar aumento
Sanitária (Anvisa), suas vendas aumentaram da pressão arterial, que em média é de 1-2
demasiadamente a partir de 2011, quando mmHg, de pressão sistólica e de 2 mmHg de
foram vendidas cerca de 3,7 milhões de pressão diastólica, e aumento da frequência
caixas do remédio. cardíaca de 4 bpm”. Por exemplo: em uma
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SIBUTRAMINA

pessoa saudável, cuja pressão costuma ser 12 ções. Essa decisão foi tomada ao analisar a
por 8, pode ser elevada a 14 por 10. “Outros relação risco-benefício para quem tomava o
efeitos adversos mais comuns foram cefaleia, medicamento. Os resultados apontaram que
boca seca e constipação”, alerta Marcio. quando a pessoa obesa, sem nenhum histórico
de problemas cardíacos, toma a sibutramina,
TERMO DE RESPONSABILIDADE as ameaças de possíveis derrames, tromboses,
Avaliado como um tarja preta, seu trata- embolias ou até mesmo o óbito eram menores
mento deve durar, no máximo, dois meses. do que os efeitos da gordura e o sobrepeso
Desde 2011, o uso da sibutramina é bastante causados pela obesidade.
restrito no Brasil, mas, em outros países, a “É um tarja preta, ou seja, só pode ser ven-
cena é bem diferente: várias nações decidiram dido com restrição de receita. O médico tem
tirar esse inibidor de apetite do mercado. Em que fazer um termo de responsabilidade, em
1999, a Agência Europeia de Medicamentos que esteja afirmando a necessidade do paciente
(EMA) promoveu uma revisão de segurança perante o remédio, além de um detalhamento
da sibutramina. Já em março de 2002, o do porquê tomar. O paciente também tem que
Ministério da Saúde da Itália suspendeu seu fazer um termo de ciência sobre os possíveis
uso e, posteriormente, em junho do mesmo efeitos colaterais”, esclarece Lílian.
ano, proibiu sua reintrodução no mercado.
Em janeiro de 2010, a EMA suspendeu defi- PARA QUEM É INDICADO?
nitivamente a comercialização da sibutramina. De acordo com o endocrinologista Mar-
Para que o medicamento seja registrado cio, a sibutramina é indicada para pacientes
e liberado nas farmácias, é necessário avaliar obesos, com índices de massa corporal maio-
o risco, a segurança e a eficácia do produto. res ou iguais a 30 kg/m2 ou com sobrepeso
Lílian de Macedo, assessora de imprensa da – IMC maior ou igual a 25. Sobre as idades
Anvisa, explica o que é necessário ponderar específicas, ele adverte: “a sibutramina foi
para cada critério: “a segurança é a certeza estudada em adolescentes, mas, segundo a
de que o medicamento não vai matar nin- Anvisa, é indicada para adultos até 65 anos”.
guém e não vai piorar a situação da pessoa Contudo, é importante lembrar que essa
que já está doente. A eficácia, além de não medicação só terá efeito se associada a um
piorar a situação, vai melhorar aquela doen- programa de atividades físicas e mudança
ça específica. E por fim, o risco precisa ser do padrão alimentar. “A obesidade é uma
menor que os benefícios”. doença crônica, isto é, não tem cura e como
A Anvisa, em 2011, cancelou os registros tal o tratamento deve ser feito pelo resto da
de todos os anorexígenos – medicamentos vida”, lembra Adriana. É importante ressaltar
que inibem o sistema nervoso central –, como que antes de tomar esse ou qualquer outro
a anfepramona, o femproporex, o mazin- medicamento, é essencial procurar um mé-
dol e até mesmo a sibutramina, após várias dico especialista.
pesquisas relatarem que seus riscos eram
superiores aos benefícios. “Você emagrecia, CONTRAINDICAÇÕES
mas depois morria”, exemplifica Lílian. Todos “A sibutramina deve ser evitada por ges-
esses anorexígenos ainda estão proibidos no tantes, lactantes e pacientes com histórico
Brasil, no entanto, a sibutramina, após vários familiar de doenças cardiovasculares. Pes-
estudos, foi liberada, mas sob algumas restri- soas que apresentam transtorno bipolar ou
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que estejam fazendo uso de medicamentos

antidepressivos também devem evitar o uso O LADO ILEGAL
de sibutramina para emagrecer, bem como Embora a venda desse medicamento
transtornos alimentares, como bulimia e seja bastante restrita, ainda existe a
anorexia”, adverte Adriana. comercialização ilegal. Normalmente,
Vale lembrar que, durante o tratamento, são as pessoas que utilizam a sibutra-
mina apenas pelo lado estético que
o paciente deve evitar consumir qualquer
movimentam esse mercado. Para se
tipo de bebida alcoólica, uma vez que é um
ter uma noção, farmácias que vendem
remédio de ação neurológica. sem receita médica podem ser autuadas
com multas que variam de R$2 mil até
NO FINAL, O PESO VOLTA? R$1,5 milhão.
A dúvida mais frequente que esses ema- A internet e os sites de busca são os
grecedores trazem é: “quando pararmos com maiores aliados desse comércio negro
de medicamentos. Se você colocar em
a medicação, o peso irá voltar?”. De acordo
qualquer barra de pesquisa “onde com-
com Adriana, isso não passa de um grande prar sibutramina”, logo aparecem mais
mito. “Mas qualquer tratamento que envolva de 300 mil resultados de buscas e, na
o emagrecimento, quando interrompido, maioria deles, com o destaque: “Com-
pode proporcionar o ganho de peso. Quanto prar sibutramina sem receita”. Um
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ao fato de engordar o dobro que emagreceu, método rápido, fácil, ilegal e perigoso
pode ocorrer quando há interrupção do uso que pode, em minutos, acabar com a
saúde de quem opta por esse tipo de
de algumas fórmulas que contêm hormônios
“tratamento” e não por um estilo de vida
tireoidianos, ou mesmo quando a pessoa saudável com a ajuda de especialistas.
suspende a prática de atividade física e a
educação alimentar”, ressalta.
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RESISTÊNCIA

Qual o futuro dos

ANTIBIÓTICOS?
Nas próximas décadas, a resistência antimicrobiana será
um dos maiores problemas de saúde a ser enfrentado
pela humanidade. Entenda as razões que sustentam essa
afirmação e quais medidas podem ser tomadas para
conter a proliferação de patologias bacterianas

S
E VOCÊ ASSISTE À TELEVISÃO,
MUITO PROVAVELMENTE JÁ
VIU DIVERSOS COMERCIAIS DE
SABONETES ANTISSÉPTICOS
PARA LIVRAR-SE DAS BACTÉ-
RIAS. Lavar as mãos é a medida mais sim-
ples e eficaz contra possíveis infecções. A
todo momento, estamos esfregando nossos
dedos nos olhos, boca e nariz, facilitando
a entrada de novas bactérias patogênicas
dentro do organismo. Contudo, a medicina
ainda não está preparada para a ação de
algumas delas.

ATENTOS ÀS SUPERBACTÉRIAS
Em julho de 2014, o governo britânico
encomendou um estudo, junto ao econo-
mista inglês Jim O’Neill, de forma a avaliar
os impactos futuros da resistência antimi-
crobiana para a saúde mundial e propor
medidas políticas e econômicas passíveis de
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aplicação internacional. Segundo o relatório, mesmo que direcionados apenas para um

a previsão é de que, em 2050, 10 milhões gênero bacteriano. “Atualmente, a maioria
de mortes sejam provocadas pela ineficácia dos fármacos antimicrobianos são sintéticos,
de antibióticos frente à “superbactérias”, ou ou seja, são moléculas construídas por meio
seja, um falecimento a cada três segundos. de engenharia química fina. Ainda existem
Mas, afinal, o que são “superbactérias”? antibióticos originados de fungos (afinal,
Apesar de ser um termo leigo, refere-se os fungos precisam produzir antibióticos
àquelas bactérias consideradas resistentes para sobreviver na natureza: trata-se de um
às diversas classes de antibióticos. “Isso mecanismo natural de sobrevivência deles),
não significa que sejam mais virulentas mas os fármacos novos não têm mais esta
que outras, ou seja, capazes de causar origem”, explica.
infecções mais graves, apenas possuem a Segundo o infectologista, a maioria dos
capacidade de sobreviver à ação de antibió- medicamentos atua dificultando a comple-
ticos aos quais desenvolveram mecanismos mentação da estrutura da bactéria (pare-
de resistência”, explica a microbiologista de celular), impedindo a síntese de suas
Doroti Garcia. proteínas ou obstruindo a duplicação do
DNA bacteriano. “Os fármacos que atuam
AO REDOR DO GLOBO impedindo a síntese proteica e aqueles
Segundo a especialista, “superbactérias” que agem inibindo a duplicação do DNA
já circulam há algum tempo, como ente- precisam entrar na célula bacteriana. Os
rococos (gênero de bactérias) resistentes fármacos que agem impedindo a formação
à vancomicina (antibiótico) nas décadas da parede celular da bactéria agem neste
de 1980 e 1990. “A partir do início dos local, sem necessitar de penetração na célula
anos 2000, com o surgimento da Klebsiella bacteriana propriamente dita”, esclarece.
pneumoniae produtora da carbapenemase
KPC (sigla da enzima Klebsiella pneumoniae NOVO MECANISMO
carbapenemase), o termo ‘superbactéria’ No entanto, micro-organismos produ-
passou a ser amplamente utilizado pela tores de KPC desenvolveram meios de
mídia, o que transmitiu uma ideia equivo- sobreviver aos antibióticos beta-lactâmicos
cada de que seria mais ‘agressiva’ que as – como penicilinas, cefalosporinas, aztreo-
outras”, ressalta. nam e carbapenêmicos – utilizados contra
A microbiologista explica que, em indiví- infecções. “Todos os antibióticos beta-lac-
duos sadios, as “superbactérias” não causam tâmicos possuem em comum a presença de
danos. No entanto, podem se tornar um um anel beta-lactâmico na estrutura química.
sério problema quando infectam pacientes Assim como outras carbapenemases, a en-
imunocomprometidos, hospitalizados, debi- zima KPC degrada o anel beta-lactâmico,
litados ou que foram submetidos a procedi- inativando a ação da droga, portanto, a
mentos invasivos (cirurgias, cesárias, entre síntese da parede celular bacteriana ocorre
outros), isso porque as opções terapêuticas normalmente, mantendo a sobrevivência
são limitadas, o que dificulta o combate às do micro-organismo e limitando as opções
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infecções e pode provocar mortes. terapêuticas”, explica Doroti.

Contudo, esse não é o único método
AÇÃO DE ANTIBIÓTICOS de sobrevivência encontrado pelas bacté-
De acordo com o infectologista Plínio rias. “Mais recentemente, em novembro
Trabasso, em geral, os antibióticos atuam de 2015, foi divulgada a presença de um
contra um amplo conjunto de bactérias, mecanismo de resistência à colistina me-
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RESISTÊNCIA

REALIDADE BRASILEIRA
Desde outubro de 2010, a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) exige que antibióticos sejam vendidos apenas
com prescrição médica para evitar o uso indiscriminado. A receita
deve ter duas vias, conter o nome do paciente e do médico e
a dosagem recomendada. Além disso, as caixas ou frascos dos
medicamentos precisam levar a expressão: “Venda sob prescri-
ção médica – Só pode ser vendido com retenção da receita”.

diado por plasmídeo, denominado MCR-1 ção” menos acirrada, facilitando a instalação
(plasmid-mediated colistin resistance mecha- de micro-organismos patogênicos, que
nism). Essa descoberta tem causado grande levam à infecções.
preocupação na área da saúde pública, pois Além disso, é preciso seguir a recomen-
o gene mcr-1, responsável pela produção da dação do tempo de uso do medicamento.
enzima MCR-1, está localizado em plasmídeo, Isso acontece porque o fármaco precisa
que é um elemento genético móvel que se atingir a concentração necessária no local
dissemina facilmente de um micro-organismo da infecção para que sua ação seja eficaz.
a outro”, explica Doroti. A preocupação se “Após o uso de cada dose, a droga será
deve ao fato de que a colistina é uma das absorvida e depois eliminada, portanto, uma
últimas opções para o tratamento de infe- nova dose tem que ser administrada. Por
cções provocadas por micro-organismos isso, o horário do antibiótico deve sempre
resistentes aos carbapenêmicos. “A partir da ser respeitado, administrado sempre no
descoberta da resistência à colistina mediada mesmo horário e no mesmo intervalo de
por plasmídeo, o sinal de alerta está em nível tempo”, destaca Doroti.
máximo, pois plasmídeos se disseminam ra-
pidamente de um micro-organismo a outro”, MEDIDAS PALIATIVAS
alerta a especialista. Para conter a disseminação de tais mi-
cro-organismos, o estudo Review on Anti-
USO INDISCRIMINADO microbial Resistance, coordenado por Jim
Bactérias, vírus e fungos comensais for- O’Neill, propôs algumas recomendações a
mam o microbioma responsável por prote- serem seguidas por todos os países: uma
ger nosso organismo da possível colonização campanha de conscientização global sobre o
de micro-organismos patogênicos. “Quando uso de antibióticos, conceder acesso maior
uma bactéria patogênica tenta colonizar o ao saneamento básico, promover o uso de
nosso organismo, precisa competir com os vacinas e alternativas aos antimicrobianos
micro-organismos do nosso microbioma por e incentivar financeiramente o desenvol-
nutrientes e espaço. O microbioma, já adap- vimento de novos testes para a identifica-
tado ao organismo, vence esta competição ção rápida de bactérias patogênicas, de
por nutrientes, espaço e, eventualmente, modo a evitar que casos gripais (causados
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oxigênio, e não permite a instalação das por vírus) sejam tratados com antibióticos.
cepas patogênicas no nosso organismo”, Desse modo, seria possível evitar o uso
explica Plínio. O grande problema é que o indiscriminado de medicamentos, conter a
uso indiscriminado de antibióticos provoca proliferação de bactérias e o aumento de
a morte indevida das bactérias pertencentes sua resistência, impedindo as milhões de
ao microbioma. Assim, deixa a “competi- mortes previstas pelo estudo.
 ines249
CURA

Em que ponto
ESTAMOS?
O que a ciência tem até o momento em relação
à cura e à prevenção de determinados males

E
M COMPRIMIDOS E DRÁGEAS,
CÁPSULAS OU GOTINHAS. Por
vezes, são do tamanho de um fei-
jão – ou até menores. Suas doses
são espaçadas e também não há
nenhum exagero em relação à quantidade
que se deve ingerir para que seja eficaz. É
dessa forma que os remédios trabalham no
organismo para atenuar ou curar as enfer-
midades presentes.
Mesmo que pareçam poderosos e in-
vencíveis, esses aliados da medicina ainda
não conseguiram encontrar fórmulas para
sanar todas as doenças. No entanto, contam
com a intervenção dos métodos profiláticos.
Exemplo disso são as vacinas, substâncias
injetadas no organismo que proporcionam
imunidade para determinados males.
Segundo a Organização Mundial da Saú-
de (OMS), atualmente, existem mais de 26
vacinas disponíveis para proteger contra
doenças infecciosas. Outras ainda estão em
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fase de testes e desenvolvimento. E, mesmo

com o avanço tecnológico que propiciou
diversos aprimoramentos para a medicina
e a erradicação de doenças, ainda existem
outras tantas por aí que permanecem sem
cura ou tratamento adequado.
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CURA

Sendo assim, em que pé estão as pesqui- Pré-exposição ao HIV (Prep) para oferecer
sas e testes para solucionar as enfermidades mais proteção a pessoas com riscos maiores
que encontram apenas respostas paliativas de exposição ao vírus. De acordo com a Fun-
nos medicamentos? dação Oswaldo Cruz, atualmente, estudos
sobre o uso de Prep já apresentaram a pos-
UMA VELHA CONHECIDA sibilidade de obter 100% de proteção contra
A doença que se dissemina desde a dé- a infecção ao longo do tempo, mas para tal
cada de 1980, ainda sem cura, já teve muitas é necessária a ingestão diária de um antirre-
conquistas alcançadas pela ciência, como o troviral. Há uma proposta do Departamento
desenvolvimento de medicamentos cada vez de DST/Aids e Hepatites Virais do Ministério
mais efetivos para garantir uma vida mais da Saúde para que esse medicamento seja
estável aos pacientes. Mesmo assim, a luta ofertado de forma inédita no SUS e também
para combater o vírus da AIDS é constante em farmácias em todo Brasil.
mote de pesquisas científicas.
Em 2013, pesquisadores da Faculdade MAL DA ÁGUA PARADA
de Medicina da Universidade de São Paulo Parecia ser só uma gripe comum, mas a
(FMUSP) desenvolveram uma vacina contra o doença que causa febre alta e fortes dores
HIV, vírus causador da AIDS. Em parceira com pelo corpo, dentre outros sintomas, tornou-
pesquisadores do Instituto do Coração (Incor) se uma epidemia. Com dados dos dias 3 de
e do Instituto Butantan, até 2015, os testes janeiro de 2016 a 7 de maio de 2016, o 18º
ainda estavam sendo realizados em animais. Boletim Epidemiológico do Ministério da Saú-
No mesmo período, pesquisas desenvol- de divulgou que, em 2016, foram registrados
vidas por David Margolis, da Universidade 1.182.250 prováveis casos de dengue no país.
da Carolina do Norte (EUA), apontaram a Destes, 59, 6% (o que corresponde a 704.657
possibilidade de expulsão definitiva do HIV. casos) são notificações da região Sudeste.
O vírus ataca as células T (ativas e inati- A dengue é transmitida pela picada da
vas) do organismo, as inativas não são atin- fêmea do Aedes aegypti. Esse mosquito
gidas pelos medicamentos antirretrovirais se reproduz em depósitos de água parada.
administrados pelos portadores do vírus. A Por conta disso, há grande preocupação em
descoberta ficou por conta do Vorinostat, um relação à prevenção da doença que se dá
medicamento criado para tratar o câncer no a partir do cuidado com os possíveis focos
sistema imunológico e que seria capaz de fazer de reprodução do transmissor.
as células T inativas acordarem e expelirem o Ainda não existe um tratamento específico
HIV que trazem em seu interior. Dessa forma, para curar a doença. O mais indicado é que se
o vírus seria exposto na corrente sanguínea e tome muito líquido para evitar desidratação
ficaria vulnerável à ação dos antirretrovirais. e que se utilize medicamentos – receitados
Com base nessa estratégia de ataque por um médico – para amenizar os sintomas.
às células T adormecidas, pesquisadores Lembrando que pacientes com dengue, ou
brasileiros da Escola Paulista de Medicina da com suspeita da enfermidade, não podem
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Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) usar antitérmicos e anti-inflamatórios que

iniciaram pesquisas, em 2015, para intensifi- contenham ácido acetilsalicílico, pois podem
car o uso de antirretrovirais com mais duas causar complicações hemorrágicas.
drogas: o dolutegravir e o maraviroque. Até o momento, o que se tem como
Enquanto as análises estão em anda- método profilático é a vacina chamada Den-
mento, pesquisadores apostam na Profilaxia gvaxia, desenvolvida pela empresa farma-
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cêutica Sanofi Pasteur que, em dezembro de da zika em amostras de sangue coletadas

2015, foi autorizada pela Agência Nacional de de um bebê que nasceu com microcefalia
Vigilância Sanitária (Anvisa) para ser comer- no Ceará. A microcefalia é uma condição
cializada no Brasil. De acordo com o Portal neurológica em que a cabeça e o cérebro
Brasil, a vacina não previne contra doenças do bebê são significativamente menores do
relacionadas ao Aedes aegypti, como zika que os de outras da mesma idade, o que
e chikungunya. Outras vacinas estão em prejudica o seu desenvolvimento mental.
estudo, como é o caso da desenvolvida pelo Dados do Ministério da Saúde divulgados
Instituto Butantan em parceria com o National no 18º Boletim Epidemiológico apontam que,
Institutes of Health (NIH, na sigla em inglês) em 2016, foram notificados 138.108 casos
que está em fase avançada. prováveis de febre pelo vírus zika no país.
49.821 foram confirmados e, em relação às
PEGOS DE SURPRESA gestantes, 11.557 casos prováveis foram
“A biologia do zika é praticamente des- notificados, sendo 4.390 confirmados por cri-
conhecida, pois, assim como diversos outros tério clínico-epidemiológico ou laboratorial.
vírus que circulam em populações humanas, De acordo com Alysson, os prováveis
passava despercebido, não causando efeitos esforços não serão em torno da criação de
muito dramáticos. Foi realmente a partir de uma vacina para prevenir o acometimento
2015 que os casos de defeitos congênitos da doença e, consequentemente, dos casos
ficaram mais evidentes e a comunidade de microcefalia. “É pouco provável que os
científica se mobilizou para estudar o zika”, esforços científicos irão focar num eventual
afirma o professor da Faculdade de Medicina tratamento da doença. A microcefalia causa-
da Universidade da Califórnia, em San Diego da pelo zika leva a uma morte de neurônios
nos EUA, Alysson Muotri. muito devastadora”, pontua.
A principal forma de contágio é, também, Em maio de 2016, o Ministério da Saúde
pela picada da fêmea do mosquito Aedes ae- anunciou que testes da vacina para zika serão
gypti, mas há a transfusão do vírus de forma realizados em novembro. Os testes, que estão
vertical, ou seja, da gestante para seu bebê, sendo produzidos pelo Instituto Evandro Cha-
o que foi confirmado em novembro de 2015, gas em parceria com a Universidade do Texas,
quando um teste realizado pelo Instituto serão inicialmente em animais e há a previsão
Evandro Chagas detectou a presença do vírus de que sejam aplicados em humanos em 2017.
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HOMEOPATIA

Medicina
ALTERNATIVA
Quem nunca ouviu falar de alguém que já fez, pelo menos uma
vez, um tratamento com gotinhas ou comprimidos homeopáticos?
Mas, afinal, para o que serve a homeopatia?

D
ESDE QUE A ASSOCIAÇÃO MÉDICA
BRASILEIRA RECONHECEU O TRA-
TAMENTO HOMEOPÁTICO COMO
PARTE DA MEDICINA EM 1980, a
especialidade se tornou bastante po-
pular no país sendo utilizada pelo Sistema Único de
Saúde desde 2006.
A homeopatia é um princípio medicinal alternativo
criado pelo médico alemão Samuel Hahnemann, no século
19, o qual se fundamenta na Lei dos Semelhantes referida
pelo grego Hipócrates no ano 450 a.C. Tal sistema atua
por meio de estímulos energéticos desencadeados por
medicamentos homeopáticos com o intuito de reequilibrar
a energia vital dos pacientes.
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LEI DOS SEMELHANTES PARA QUE SERVE?

Segundo essa lei, os semelhantes se curam A homeopatia acredita que o indivíduo
pelos semelhantes, ou seja, para tratar um não tem apenas uma doença, mas que carre- OS DOIS LADOS
indivíduo que está doente é necessário aplicar ga um desequilíbrio ao longo da vida e que Segundo a professo-
um medicamento que em sua composição se manifesta de diferentes formas. Sendo ra e doutora em ciên-
apresente os mesmos indícios expostos pelo assim, sua função é restaurar o organismo cias farmacêuticas da
Universidade Federal
indivíduo. Ainda confuso? Vamos exempli- de tudo que foi desencadeado pelo tempo.
da Bahia Neila de Pau-
ficar: se uma pessoa saudável ingerir doses Apesar de nem todas as pessoas re- la, o remédio tem os
de alguma matéria tóxica poderá apresentar cuperam-se integralmente com esse tipo efeitos de acordo com
sintomas como dores gástricas, vômitos e de terapia, a homeopatia é conhecida por a sensibilidade de cada
diarreias, mas, se essa mesma substância for estimular o sistema imunológico e restaurar indivíduo. “O grau de
administrada e preparada aos cuidados homeo- o equilíbrio energético do paciente, tratando semelhança de um me-
dicamento dinamizado
páticos, reunindo características semelhantes qualquer tipo de doença. Emprega mais de
na potência necessária
às responsáveis pelo mal estar, obtém-se, dois mil remédios diferentes extraídos de
para causar uma rápida
como resultado, a cura desses sintomas, ou substâncias vegetais, mineiras e animais. reestruturação da ener-
seja, o que causa mal a alguém “saudável” Frequentemente indicada para problemas gia vital de uma pessoa
pode curar alguém doente. gastrointestinais, ginecológicos, dermato- pode ser sentido como
A Lei dos semelhantes é orientada por três lógicos, respiratórios e infecções virais ou sintomas da doença.
princípios básicos que norteiam suas pesquisas doenças alérgicas, a homeopatia também O medicamento que
apresenta o maior nú-
e estudos: experimentação na pessoa sadia, pode ser muito utilizada ao buscar a cura para
mero de patogenesias
doses infinitesimais e medicamento único. problemas emocionais como a depressão. relativo aos sintomas
A primeira, a experimentação na pessoa De acordo com uma extensa revisão de es- da doença deve ser
sadia, é de extrema importância, visto que os tudos promovida pelo Conselho Nacional de o indicado”, afirma.
testes de medicamentos homeopáticos devem Saúde e Pesquisa Médica da Austrália, junto Todavia, em muitos
ser realizados em pessoas (nunca em animais) à Organização Mundial da Saúde (OMS), casos, os pacientes
saudáveis, a fim de avaliar os efeitos objetivos a sua prática como medicina alternativa e observam que, no
início, o tratamento
e subjetivos, e encontrar o “veneno que cura”. complementar não deve substituir a terapia
homeopático parece
A segunda, as chamadas doses infinitesimais, convencional quando o paciente sofre de agravar os sintomas de
consistem na diluição drástica de um medica- distúrbios crônicos ou graves. uma doença. Isso pode
mento seguida pela forte agitação, chamada ocorrer já que o me-
de dinamização, para despertar propriedades O MEDICAMENTO HOMEOPÁTICO dicamento pretende
concentradas. Esse princípio causa controvér- É SÓ ÁGUA? provocar uma doença
artificial semelhante à
sias, porque, de acordo com muitos médicos, No início de suas experimentações,
natural, para estimular
desafia qualquer lei da física ou bioquímica: de Samuel Hahnemann percebeu que certas
o organismo a corrigir
tão diluído, é possível que não haja nenhuma substâncias não poderiam ser usadas em um desequilíbrio. No
molécula mensurável do princípio ativo original. grandes quantidades. Criando um método entanto, se os sintomas
A terceira, e última, chamada de medica- de diluição sempre na escala de 1 para não passarem ou torna-
mento único, afirma que a intervenção deverá 100, chamada por ele de Centesimal. Ao rem-se mais graves, é
ser realizada de uma só vez: o paciente deverá perceber que mesmo diluídas apresentavam sinal de que o medica-
Fotos: Shutterstock Images

mento não está tendo

tomar o remédio que contenha o maior número um aumento dos sintomas, passou, então,
o efeito esperado, po-
de estímulos para os sintomas que ele apresen- a diluir cada vez mais os conteúdos – o que dendo ser prejudicial
te. E, dessa maneira, o médico irá conseguir teve o nome de sucussão –, obtendo, desta ao corpo.
avaliar de forma precisa a eficácia da terapia. forma, melhores resultados.
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HOMEOPATIA

MISTURA DA ÁGUA as propriedades de substâncias diluídas até sumirem. Mas,

Luc Montagnier, virologista francês responsável pela somente por 50 femtossegundos (cada 1 femtossegundo
descoberta do HIV, afirmou que o DNA de algumas bacté- equivale a 1 bilionésimo de milionésimo de segundo), ou
rias pode deixar algumas “marcas” na água, mesmo após seja, menos que um piscar de olhos.
sucessivas diluições. Uma espécie de ressonância faria Outra contradição ocorreu alguns meses depois, naquele
com que modificações da estrutura da água emitissem mesmo ano, quando a revista médica britânica The Lancet
sinais eletromagnéticos para outras soluções aquosas. demonstrou seu repulso pela homeopatia. Ao acompanhar
Mas, ao balançar muitas vezes o conteúdo em água, a um estudo que concluiu que os benefícios do tratamento se
substância original não perde sua eficácia? A professora restringem ao efeito placebo, a revista publicou um artigo
Neila explica: “a diluição deve ser em solvente inerte (hi- intitulado O Fim da Homeopatia. Nele, os editores mostram
droalcool para líquidos e lactose para sólidos) em escala a surpresa com o fato de ocorrer debates mesmo após “150
pré-determinada, seguida de sucussões ou triturações. anos de resultados desfavoráveis”.
Cada vez que uma diluição segue com uma sucussão, O jornal inglês Independent publicou, no início de 2016,
tem-se um produto dinamizado. A dinamização trata-se um artigo também afirmando que a homeopatia não funciona
da energia transferida até a potência medicamentosa além do placebo. O texto teve como base o artigo escrito
prescrita, que restabelecerá o padrão da energia vital por Paul Glasziou, pesquisador do órgão NHMRC (Conselho
para cada indivíduo, uma vez que a homeopatia trata o Médico Nacional de Pesquisa em Saúde, na sigla em portu-
doente e não a doença”. guês), em que definiu a terapia como “um beco sem saída”,
sem evidências confiáveis.
SERÁ QUE FUNCIONA? Todas essas pesquisas fizeram com que o NHS, sistema
Os últimos estudos realizados sobre a sua eficácia público de saúde do Reino Unido, estudasse a possibilidade de
ainda permanecem sem conclusão – ora são positivos, não mais financiar tratamentos homeopáticos. A Good Thinking
ora negativos. A Organização Mundial da Saúde (OMS), Society, organização do Reino Unido que milita pelo banimen-
por exemplo, afirma que, em testes, o método se mostrou to da homeopatia, diz que o Estado deveria gastar a verba
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positivamente superior às pílulas de farinha. Mas, por dos tratamentos alternativos com medicamentos que tenham
outro lado, outras centenas de pesquisas dizem que seu resultados comprovados. "Dados os recursos finitos da NHS,
funcionamento não passa de efeito placebo (nome dado qualquer dinheiro gasto com homeopatia é completamente
ao fenômeno que acontece quando o paciente acha que injustificável”, dizem em constantes entrevistas sobre o assun-
está tomando um medicamento, mas está consumindo to. Já a presidente da Faculdade de Homeopatia de Londres,
qualquer outra coisa, como água com açúcar e, mesmo Helen Beaumont, defende que os resultados dependem do
assim, apresenta melhoras). paciente, ele é quem nota a eficácia. “A escolha do paciente é
Em 2005, um estudo publicado pela revista científica importante; homeopatia funciona, é muito usada por médicos
Nature, realizado por pesquisadores liderados por R.J na Europa e pacientes que já foram tratados por homeopatia
Dwayne Miller, da Universidade de Toronto, no Canadá, estão realmente convencidos de seus benefícios, assim como
demonstrou que de fato a água consegue armazenar eu”, afirmou em entrevista para o site da rede de notícias BBC.
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DÚVIDAS

Sem
CONTRAINDICAÇÃO
Anticoncepcionais, descongestionantes nasais, antibióticos... A lista de
medicamentos é longa e a de dúvidas também

U
M “COFCOF” PRA LÁ E UM
“ATCHIM” PRA CÁ. De repen-
te alguém reclama de enxa-
queca ou de cólica menstrual.
Nesses casos, a pergunta cor-
riqueira é: já tomou algum remédio?
Essas substâncias que entram em nosso or-
ganismo, em gotas ou comprimidos, reservam
muitas complexidades em suas fórmulas e,
por isso, despertam muitos questionamentos.
Como quando o colega de trabalho nega
um copo de chope em um happy hour porque
está tomando antibiótico e não quer “cortar
o efeito” do medicamento. “Mas quem falou
que corta?”, alguém prontamente questiona.
Seria isso um mito? A dúvida também paira
em torno do uso constante de desconges-
tionantes nasais e antidepressivos. Será que
esses medicamentos viciam?
É comum que sejam reproduzidos por
aí velhos ensinamentos e perguntas como
essas, aumentando a crença naquilo que foi
passado de boca em boca ou em informações
incompletas, sem embasamento científico.
Para remediar isso, preparamos 10 doses
de soluções – sem contraindicações – sobre
essas substâncias capazes de, na maioria das
vezes, tirar “com as mãos” as nossas dores,
infecções ou desconfortos.
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1
O ÁLCOOL “CORTA O EFEITO” tor do Departamento de Farmacologia da
DO ANTIBIÓTICO? Faculdade de Medicina da Universidade de
Retomando a dúvida do colega que não São Paulo (USP) de Ribeirão Preto (FMRP).
queria beber no happy hour, segundo a far- De acordo com Sarah, enquanto estiver
macêutica Sarah Bastos Vieira Faria, o álcool ingerindo algum tipo medicamento, o mais
não corta diretamente o efeito de antibióticos, indicado é não fazer uso de bebida alcóolica.
mesmo se for ingerido em altas doses. “O
O USO DE DESCONGESTIONANTE

2
problema do álcool está relacionado à sua
toxicidade para o fígado. Como esse órgão NASAL VICIA?
metaboliza os medicamentos e também o “Apenas algumas gotinhas seriam o bas-
álcool, pode haver maiores efeitos colate- tante para o alívio imediato”, afirma Sarah. O
rais, além da possibilidade do medicamen- nariz é uma região altamente vascularizada,
to não ser metabolizado completamente”, e a sensação de nariz entupido se dá quan-
afirma. Mesmo assim, apesar de não cortar a do esses vasos estão dilatados, causando a
ação de medicamentos, bebidas alcoólicas impressão de que o ar “não passa”.
podem potencializar o resultado de alguns, Por sofrer com os efeitos da dilatação, é
aumentar a toxicidade de outros e provocar comum que as pessoas utilizem desconges-
efeitos colaterais. tionantes nasais indiscriminadamente para
“Existem dois tipos de antibióticos que que os vasos desinchem. Dessa maneira, o
não devem ser misturados com bebidas: o organismo pede uma quantidade cada vez
metronidazol e o tinidazol. A interação dessas maior para conseguir o mesmo resultado. “É
substâncias com álcool pode provocar dor de isso que leva ao vício. Os descongestionan-
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cabeça, queda da pressão e até desmaios. tes nasais devem ser utilizados, no máximo,
Mas o perigo mora mesmo na mistura do por três dias. Depois disso, além do vício,
álcool com fármacos para tratamento de outros riscos estão associados porque a
problemas neurológicos e psiquiátricos”, mucosa do nariz absorve a substância e ela
afirma Thiago Mattar Cunha, professor dou- cai na corrente sanguínea, podendo causar
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DÚVIDAS

taquicardia e outros problemas. A melhor acordo com Sarah, em relação aos efei-
opção em caso de congestão nasal é utilizar tos farmacológicos não existem evidências
o soro fisiológico”, explica a farmacêutica. científicas de que o uso contínuo diminua
a eficácia desse medicamento. “A questão
TOMAR ANTIBIÓTICO POR MUITO

3
é o uso incorreto, que pode aumentar com
TEMPO ESCURECE OS DENTES? o uso prolongado. Quando as pílulas são
“O único antibiótico que tem essa carac- esquecidas e os dias sem pílulas ativas são
terística é a tetraciclina, que se caracteriza por estendidos, o risco de ovulação pode au-
ser um antibiótico de amplo espectro que foi mentar”, salienta a farmacêutica.
muito utilizado na década de 60. Isso ocorre
porque a molécula de tetraciclina tem uma ANTICONCEPCIONAIS PODEM
grande afinidade pelo íon cálcio, formando
um quelato”, afirma Thiago.
Quando era administrado em crianças
na fase em que os dentes ainda estavam em
desenvolvimento, existia o risco de deixar
5 CAUSAR TROMBOSE?
O risco de pílulas anticoncepcionais pro-
vocarem trombose é um tema comumente
discutido pela medicina, que também leva
em consideração o fato da mulher ter ou
manchas nos dentes. “Hoje em dia, isso não outros fatores de risco para a doença.
não acontece mais, pois a tetraciclina não é “As pílulas anticoncepcionais em sua totali-
mais prescrita na primeira infância”, afirmam dade, independente do fabricante, podem
Claudia Becker e Maria Tereza Santos Araujo, aumentar o risco de trombose, dependendo
professoras de Farmácia da Universidade da predisposição da mulher, ou seja, se ela é
Anhembi Morumbi. obesa, tem histórico familiar ou é fumante”,
comenta Thiago.
O USO CONSTANTE DA MESMA

4
De acordo com Sarah, em geral, o uso
PÍLULA ANTICONCEPCIONAL desse medicamento é seguro. “Os anticon-
DIMINUI SUA EFICÁCIA? cepcionais com formulações mais novas apre-
São comuns entre as mulheres os diversos sentam um risco maior do que os mais antigos,
relatos em relação aos anticoncepcionais. apesar desse risco ser pequeno”, ressalta.
Algumas fazem o uso da mesma pílula por
anos, da adolescência à vida adulta. De
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ALGUNS MEDICAMENTOS PODEM é avaliada sua retirada do mercado ou sua
INDUZIR A DOENÇAS COMO utilização restrita”, afirma a página do INCA.
DIABETES E ATÉ CÂNCER?

7
“Cobre de um lado e descobre de outro”, TOMAR REMÉDIO SEM HORÁRIO
já dizia o ditado. Seria possível um remédio CERTO INTERFERE NO TRATAMENTO?
causar outras doenças? Pesquisadores da “Não tomar os medicamentos nos horá-
Universidade de Southampton, na Inglaterra, rios corretos interfere na concentração ade-
apresentaram, em estudo, uma correlação quada desses princípios ativos na corrente
entre a utilização de antidepressivos e a inci- sanguínea, sendo assim, intervalos muito
dência de diabetes do tipo 2. “O estudo na longos entre as doses – por esquecimento
Inglaterra demonstrou que o uso de alguns do paciente – podem interferir em uma
tipos de antidepressivos, se administrados resposta terapêutica diminuída”, afirmam
em altas doses e de uso crônico, alteraria Claudia e Maria Tereza.
o metabolismo da glicose, levando a um Os medicamentos possuem uma janela
aumento da incidência de diabetes,” ex- terapêutica, ou seja, um tempo determinado
plicam Claudia e Maria Tereza. Segundo as de para agir no organismo. Quando esse
consultoras, outro exemplo mais corriqueiro tempo está terminando, o paciente precisa
de interação com o diabetes é o uso indiscri- ingerir novamente o medicamento. Por isso
minado e de forma contínua de corticoides, que alguns são tomados de oito em oito
um tipo de anti-inflamatório. horas, outros de doze em doze horas. “No
Medicamentos como os da classe dos caso de um antibiótico, por exemplo, se
anti-hipertensivos, bloqueadores de canais de não for tomado nos horários certos, o efeito
cálcio, utilizados por mulheres na menopausa, fica totalmente comprometido. Em caso de
por exemplo, já foram apontados como os remédios para diabetes, são programados
com maiores chances de desenvolver cân- para serem tomados nos picos de açúcar
cer de mama. “É necessário cautela, pois no sangue, que são os horários próximos
há outros fatores que devem ser levados às refeições”, explica Sarah.
em consideração ao afirmarmos que um
REMÉDIOS GENÉRICOS TÊM

8
determinado tipo de medicamento aumen-
ta as chances de desenvolvimento de um QUALIDADE INFERIOR?
câncer”, salientam as consultoras Claudia Os remédios genéricos têm o preço mais
e Maria Tereza. baixo do que os de marca nas farmácias de
De acordo com o Instituto Nacional de todo o país. Disso, todos já sabem. Mas será
Câncer “José Alencar Gomes da Silva” que, além de impactar o bolso, impacta a
(INCA), a Agência Internacional de Pesquisa atuação do medicamento no organismo?
em Câncer (Iarc) categoriza 23 medicamentos Segundo Sarah, esses remédios mais
(ou combinações de agentes) como carcino- baratos não têm qualidade inferior, pois,
gênicos para humanos, do Grupo 1. “Dezoito de acordo com a legislação, os genéricos
desses medicamentos são antineoplásicos, devem ter a mesma biodisponibilidade e
imunossupressores e hormônios. Sempre que bioequivalência dos medicamentos de re-
um medicamento utilizado para condições ferência. Ou seja, o mesmo princípio ativo,
menos graves do que o câncer tem o poten- que faça efeito no mesmo tempo e que
cial carcinogênico suspeito ou comprovado, funcione da mesma forma no organismo que
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DÚVIDAS

ÁGUA, SUCO OU LEITE?

O líquido que você escolhe para ingerir o seu comprimido é um fator a ser pensado
para evitar alterações na ação do medicamento. De acordo com Sarah, a melhor forma
de ingerir remédios é com água. “Os nutrientes do suco e os sais minerais e a gordura
do leite podem interferir no efeito dos medicamentos. Além disso, com água o medica-
mento é dissolvido com mais facilidade e melhor absorvido pelo organismo”, acrescenta
a farmacêutica.

o remédio de marca (referência). “O preço choro, insônia, irritabilidade, além de poder

é inferior porque seus laboratórios não têm causar náuseas e vômitos. O médico é a úni-
despesas com pesquisa de formulação e ca pessoa que está habilitada a fazer o que
com propaganda, como acontece com os chamamos de ‘desmame do antidepressivo’”,
de referência”, elucida a farmacêutica. explicam Claudia e Maria Tereza.

ANTIDEPRESSIVOS CAUSAM AAS INFANTIL É BOM PARA O

9 DEPENDÊNCIA?
Há quem ache que danificam o cérebro,
que são a única forma de tratamento para
a depressão e até que podem alterar a per-
sonalidade e causar dependência. Contudo,
10 CORAÇÃO E PARA O SANGUE?
Há quem diga que AAS infantil “afina
o sangue” e faz bem para quem sofre de
doenças que afetam o coração. “O princípio
ativo do AAS é o ácido acetilsalicílico. Esse
“os antidepressivos não causam dependência medicamento tem propriedade anticoagu-
química, ou seja, apesar de alterar a atuação lante, ou seja, dá maior fluidez ao sangue,
dos neurotransmissores, não ocorre uma al- não permitindo formação de trombos (coá-
teração química no sistema nervoso fazendo gulos)”, afirma Sarah.
com que o organismo só funcione sob o Por conta disso, mesmo sendo um analgé-
efeito daquele medicamento”, afirma Sarah. sico, o AAS é, em algumas situações, adminis-
O que ocorre em alguns casos, segundo a trado em baixa dose como efeito terapêutico.
especialista, é a dependência emocional “O local de ação do AAS será nas plaquetas
que o paciente cria com o medicamento, (células do sangue) e, se a deflagração da
fazendo parecer que, sem o remédio, a coagulação é impedida exatamente no co-
doença pode retornar. ração, podemos afirmar que o AAS infantil
“Há outro ponto importante a ser consi- é bom para o coração”, destacam Claudia
derado: o paciente não deve parar de tomar e Maria Tereza. Ainda assim, as professoras
esses medicamentos de forma abrupta, pois advertem que o uso desse medicamento
alguns tipos de antidepressivos estão rela- deve ser prescrito pelo médico. “Tomar AAS
cionados com síndrome de abstinência. Essa infantil todos os dias sem necessidade pode
síndrome envolve sintomas psicológicos e desencadear gastrite”, concluem.
orgânicos, como ansiedade, explosões de

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REDAÇÃO Ana Carvalho ([email protected]), Ana Kubata ([email protected]), Fernanda
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Ano 2, nº17, Junho - 2025 Conteúdo produzido e publicado originalmente na revista: - Ciência em Foco ©2025 EDITORA
Ano 2 - nº 3 - 2016 ALTO ASTRAL LTDA. TODOS
DIREÇÃO João Carlos de Almeida e Pedro José Chiquito CONTATO [email protected] ENDEREÇO OS DIREITOS RESERVADOS.
Rua Joaquim Anacleto Bueno, 1-70, Setor M83-Jardim Contorno, Bauru-SP-CEP: 17047-281 PROIBIDA A REPRODUÇÃO.
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UMA PAIXÃO INESPERADA, UMA MORTE SUSPEITA E A

INEXPLICÁVEL CONEXÃO ENTRE DUAS IRMÃS.
Quando sua irmã caçula morre, a empresária Emily se vê
obrigada a pausar sua vida profissional para se isolar
com a única sobrinha e o cunhado na fazenda da família.
E lá, enquanto tenta reconstituir as últimas semanas de
vida de Evelyn, Emily se aproxima do cunhado André e do
jardineiro Juan, em uma investigação cheia de surpresas e
desejo. Com a descoberta do diário de Evelyn escondido na
casa de bonecas, Emily confronta o próprio passado,
descobre o presente e reescreve seu futuro!

Já disponível na