Tecido de renovação e reparação: regeneração e cicatrização
por veridiano — última modificação 14/03/2017 15h11
Após ressecção cirúrgica, ferimentos e diversos tipos de lesão ao tecido, o corpo humano
possui a habilidade de substituir as células lesionadas e reparar o tecido danificado. Nesse
capítulo iremos estudar os dois processos de reparação: regeneração e cicatrização.
Regeneração
A regeneração se caracteriza pela restituição dos componentes teciduais idênticos àqueles
removidos. Esse tipo de reparo só é possível em tecidos em que ainda possuem células com a
capacidade de se proliferar ou tenham ainda células tronco.
Assim, com base nessa habilidade de multiplicação celular, os tecidos são classificados em:
- Tecidos lábeis ou de divisão contínua: as células possuem a capacidade de se proliferar por
toda a vida, substituindo as que estão velhas ou destruídas. Temos como exemplo os epitélios,
células da medula óssea vermelha e tecidos hematopoiéticos.
- Tecidos quiescentes ou estáveis: apensar de possuírem um baixo nível de replicação, quando
submetidos a estímulos para divisão celular são capazes de regenerar o tecido de origem. O
melhor exemplo é o tecido hepático.
- Tecidos permanentes ou não divisores: são formados por células que não podem ser
submetidas à divisão mitótica devido o seu grau de especificidade. Exemplos são os neurônios
e as células musculares.
Apensar de o corpo humano possuir tecidos capazes de recuperar células perdidas, permitindo
a capacidade de regeneração do órgão lesionado, o que ocorre em muitos processos é o
crescimento compensatório que envolve a hipertrofia celular e a hiperplasia. Nesses processos
acontece a recuperação da capacidade funcional, mas sem necessariamente reconstruir a
anatomia original.
Os órgãos que possuem essa capacidade de crescimento compensatório são os rins, o
pâncreas, as glândulas adrenais, a tireoide, os pulmões de pacientes jovens e o fígado. No caso
hepático, a regeneração acontece por meio da replicação de células maduras sem o
envolvimento de célula tronco. Os hepatócitos são células quiescentes que, quando
estimuladas por determinadas substâncias, possuem a capacidade de multiplicação celular.
Nesse exemplo, as principais substâncias são as citocinas e os fatores de crescimento
polipeptídeos.
Dessa forma, em uma hepatectomia parcial é possível à restauração hepática, porém não
ocorre um novo crescimento do lobo ressecado na operação. Em vez disso, acontece o
crescimento por aumento dos lobos que permaneceram, caracterizando-se como crescimento
compensatório.
Cicatrização
A cicatrização é uma resposta fibroproliferativa que restaura as estruturas originais, porém
envolve a deposição de colágeno e a formação da cicatriz. Os fatores que favorecem o
processo de cicatrização são a extensão do dano celular, o tipo de tecido afetado e a
intensidade da lesão da matriz extracelular.
O processo de restauração por cicatrização pode ser dividido por etapas:
1 - Ocorre uma resposta inflamatória à lesão inicial com a intenção de eliminar o agente
nocivo, remover o tecido lesionado e estimular a deposição de componentes da matriz
extracelular;
2 - Proliferação de fibroblastos e células endoteliais vasculares, formando o tecido de
granulação. (O tecido de granulação tem a aparência rósea, lisa e granular e se caracteriza pela
formação de pequenos novos vasos sanguíneos e multiplicação de fibroblastos.);
3 - Com o aumento no número de fibroblastos, ocorre a síntese de matriz extracelular e
deposição de colágeno, formando a cicatriz;
4 - Então se inicia o processo de remodelação que é o equilíbrio entra síntese e degradação da
matriz extracelular;
Com base nessas etapas, podemos perceber três principais mecanismos do processo de
cicatrização:
- Angiogênese: as células endoteliais são estimuladas a formarem novos vasos sanguíneos
principalmente pelo VEGF (fator de crescimento endotelial vascular – sigla em inglês) e pela
angiopoetina;
- Fibroplasia: a migração e a proliferação de fibroblastos no local da lesão ocorrem devido à
ação dos fatores de crescimento múltiplos, incluindo TGF-β, PDGF, EGF, FGF e as citocinas IL-1
e TNF;
- Remodelação: é o processo que organiza a cicatriz devido a grande proliferação celular e à
desorganização na produção de matriz extracelular. A metaloproteínase é a substância
responsável por esse processo e atua na degradação do colágeno;
Podemos utilizar a cicatrização de uma ferida cutânea como exemplo de um processo de
cicatrização e descrever os fatos gerais da reparação que se observa na maioria dos tecidos. As
feridas cutâneas são classificadas em dois tipos de cicatrização: primeira intenção e segunda
intenção.
Cicatrização por primeira intenção
É um ferimento com margens opostas em que o espaço incisional é estreito. Melhor exemplo é
a cicatrização de uma incisão cirúrgica limpa e não infectada. Esse processo segue as seguintes
etapas cronológicas:
1 - Em 24 horas: neutrófilos aparecem nas margens da ferida, movendo-se em direção ao
coágulo de fibrina e células sanguíneas;
2 - Em 24 a 48 horas: células epiteliais movem-se para fechar a ferida;
3 - No 3º dia: começa a formação do tecido de granulação com o surgimento de macrófagos no
local;
4 - No 5º dia: ponto máximo da neovascularização, o colágeno fica mais abundante, a
epiderme recupera a espessura normal e ocorre a diferenciação das células epidérmicas;
5 - Na segunda semana: ocorre aumento do colágeno, proliferação de fibroblastos e regressão
dos vasos;
6 - No final do primeiro mês: a cicatriz se encontra coberta por pele intacta, porém não ocorre
a regeneração dos anexos dérmicos.
Cicatrização por segunda intenção
Ocorre quando existe uma grande perda de células e tecidos, deixando as margens separadas.
Esse processo de reparação é mais complicado, pois a regeneração das células
parenquimatosas não pode restaurar totalmente a arquitetura original.
Além disso, a reação inflamatória é mais intensa devido fato que o coágulo formado é maior
em comparação a feridas com margens opostas. Porém, o que mais se diferencia no processo
de cicatrização de feridas com margens separadas é o fenômeno de contração da ferida. Esse
acontecimento é possível devido à ação de uma rede de fibroblastos contendo actina na
margem da ferida.
RESUMO
resumo lesão celular