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O Tempo e A Cidade 1. O Relógio Invisível

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O Tempo e a Cidade

1. O Relógio Invisível

Desde que o primeiro ser humano levantou os olhos para o céu e


percebeu o movimento das sombras, a humanidade nunca mais
deixou de medir o tempo. No princípio, eram marcas no chão, a
sombra das árvores, o nascer e o pôr do sol. Mais tarde vieram os
relógios de sol, de água, de areia. Mas mesmo antes de qualquer
instrumento, todos sabiam: havia um ritmo invisível regendo a vida,
um pulso secreto que não podia ser interrompido.

O tempo sempre esteve presente, mesmo quando ninguém lhe dava


nome. Ele corria dentro das estações, nos ciclos das colheitas, no
amadurecer das crianças. A cidade moderna, com seus relógios
digitais, apenas tornou visível algo que já era inescapável. E, no
entanto, o tempo é também o maior ilusionista: corre veloz quando
somos felizes, arrasta-se quando sofremos.

2. A Cidade que Crescia

Havia uma cidade que parecia respirar como um organismo vivo. Suas
ruas estreitas, emaranhadas como veias, davam passagem a fluxos
constantes de pessoas. Durante o dia, a cidade era barulhenta,
apressada, cheia de anúncios luminosos e buzinas. À noite, acalmava-
se: as janelas se iluminavam como estrelas artificiais, e cada lar
parecia conter um pequeno universo secreto.

O curioso era que, para quem nascia ali, o tempo tinha outra textura.
Os anos de infância pareciam eternos, as férias de verão pareciam
durar uma vida inteira. Mas, de repente, ao atingir a idade adulta, o
mesmo morador percebia que os meses começavam a escapar como
água entre os dedos.

Era como se a própria cidade tivesse dois relógios: um para os jovens,


que se movia devagar, e outro para os adultos, que corria rápido
demais.

3. O Homem no Banco da Praça

Em meio ao movimento, havia um homem que passava as tardes


sentado em um banco de praça. Ninguém sabia seu nome. Vestia
roupas simples, sempre levava um livro nas mãos e olhava
longamente para as árvores. Para muitos, parecia apenas um idoso
solitário.

Mas o que poucos imaginavam é que ele guardava um segredo:


aquele homem conseguia sentir o tempo de uma maneira diferente.
Não apenas os minutos, mas a densidade de cada instante. Sabia
distinguir quando um segundo carregava em si o peso de uma
lembrança ou a leveza de um sonho.

Certa vez, uma criança curiosa perguntou:

— Por que o senhor fica tanto tempo olhando as árvores?

O homem sorriu, e respondeu:

— Porque elas me mostram que o tempo não é inimigo. Veja: cada


folha que cai anuncia o fim de uma estação, mas também prepara o
início de outra.

A criança não entendeu muito bem, mas levou consigo aquela frase.

4. A Lição Oculta

Os anos se passaram, e a criança cresceu. Tornou-se adulta, correu


pelas ruas da cidade, preocupou-se com prazos, compromissos,
contas. E, muitas vezes, lembrou-se do homem da praça.

Só então compreendeu: a cidade e o tempo são como espelhos um do


outro. Quanto mais a cidade acelera, mais o tempo parece fugir. Mas
se paramos, ainda que por alguns minutos, e observamos uma
árvore, uma janela iluminada, ou um rosto amado, o tempo se
transforma. Ele deixa de ser apenas um cronômetro que avança sem
parar, e se torna memória, experiência, sentido.

Conclusão

O tempo é o maior bem de que dispomos, mas também o mais difícil


de segurar. A cidade moderna tenta capturá-lo em relógios,
calendários e agendas. No entanto, a verdadeira experiência do
tempo não se encontra nas horas que passam, mas na intensidade
com que vivemos cada instante.

Talvez seja por isso que o velho da praça parecia sempre em paz: ele
não tentava vencer o tempo, apenas aprendia a dançar ao ritmo dele.

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