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v.34 n.

2 ISSN 1414-9184
eISSN 1984-669X
Jul-Dez/2024 Temas Livres
ISSN 1414-9184
eISSN 1984-669X

PERIÓDICO CIENTÍFICO DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM


SERVIÇO SOCIAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

Temas Livres

v.34 n.2
Jul-Dez/2024

A Revista Praia Vermelha é uma publicação semestral do


Programa de Pós-graduação em Serviço Social da Universidade
Federal do Rio de Janeiro cujo objetivo é servir como espaço de
diálogo entre centros de pesquisa em serviço social e áreas afins,
colocando em debate, sobretudo, os temas relativos às políticas
sociais, políticas públicas e serviço social.
Conheça nossas políticas editoriais.

Revista Praia Vermelha Rio de Janeiro v. 34 n. 2 p. 349-530 Jul-Dez/2024


UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
REITOR
Roberto de Andrade Medronho
PRÓ-REITOR DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
João Torres de Mello Neto

ESCOLA DE SERVIÇO SOCIAL


DIRETORA
Ana Izabel Moura de Carvalho
VICE-DIRETOR
Guilherme Silva de Almeida
DIRETORA ADJUNTA DE PÓS-GRADUAÇÃO
Fátima da Silva Grave Ortiz

REVISTA PRAIA VERMELHA


EDITORA-CHEFE CONSELHO EDITORIAL
Miriam Krenzinger ufrj Angela Santana do Amaral ufpe
Antônio Carlos Mazzeo usp
EDITOR TÉCNICO
Arthur Trindade Maranhão Costa unb
Fábio Marinho ufrj
Christina Vital da Cunha uff
REVISÃO Clarice Ehlers Peixoto uerj
Tikinet Edição ltda epp Elenise Faria Scherer ufam
PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Ivanete Boschetti ufrj
Fábio Marinho Jean François Yves Deluchey ufpa
Leonilde Servolo de Medeiros ufrrj
Marcos César Alvarez usp
Maria Cristina Soares Paniago ufal
Maria Helena Rauta Ramos ufrj
Maria das Dores Campos Machado ufrj
Maria de Fátima Cabral Gomes ufrj
Myriam Moraes Lins de Barros ufrj
Ranieri Carli de Oliveira uff
Rodrigo Castelo Branco Santos unirio
Rodrigo Guiringuelli de Azevedo pucrs
Salviana de Maria Pastor Santos Sousa ufma
Suely Ferreira Deslandes fiocruz

Publicação indexada em: Praia Vermelha: estudos de política e teoria social


Latindex /Universidade Federal do Rio de Janeiro. Progra- Para uma melhor experiência de leitura,
Portal de Periódicos da Capes
ma de Pós-Graduação em Serviço Social – Vol.1,
n.1 (1997) – Rio de Janeiro: UFRJ. Escola de Servi- recomendamos o acesso por computador
IBICT
Base Minerva UFRJ
ço Social. Coordenação de Pós-Graduação, 1997-
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Portal de Revistas da UFRJ ISSN 1414-9184
eISSN 1984-669X Navegue pelo texto utilizando os ícones
Escola de Serviço Social - UFRJ
Av. Pasteur, 250/fundos
1.Serviço Social-Periódicos. 2.Teoria Social-Pe- na lateral esquerda das páginas ou
riódicos. 3. Política- Periódicos I. Universidade Fe-
CEP 22.290-240 deral do Rio de Janeiro. Programa de Pós-Gradua- as setas em seu teclado.
Rio de Janeiro - RJ ção em Serviço Social.

Lélia Gonzalez (Reprodução / Fundação Cultural Palmares)


CDD 360.5
CDU 36 (05)
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Sumário
353 Editorial
Miriam Krenzinger & Fábio Marinho

ARTIGOS TEMAS LIVRES

354 Pensando com(o) Lélia Gonzalez: a construção


do pensamento feminista afro-latino-americano
Brenda Steffani Marques Pereira

369 A importância histórica da Política Nacional


de Saúde Integral da População Negra
Erick José Gonçalves dos Santos Silva et alia

393 E a solidão das mulheres negras, cumé que fica?


Patrick Oliveira & Jackson Roger de Oliveira

423 Grupos reflexivos: cenários de uma


política pública no sistema de justiça brasileiro
Mariana de Freitas Barbosa & Cristiane Brandão Augusto

445 A criança e a destituição do poder


familiar em processos no Rio de Janeiro
Elisa Costa Cruz

466 A política de educação infantil no enfrentamento


dos conflitos entre trabalho e família
Simone Dalbello, Andrea de Sousa Gama & Vanessa Bezerra de Souza

486 Problematizando a despolitização do trabalho


social na Política Nacional de Assistência Social
Helder Barros e Souza & Silvio José Benelli

CLÁSSICOS DA PRAIA VERMELHA

509 Notas sobre Cidadania e Modernidade


Carlos Nelson Coutinho

Para acessar os demais textos


deste número clique aqui
e veja o sumário online.
v.34 n.2 [2024]

Notas sobre Cidadania


e Modernidade
Carlos Nelson Coutinho RPV n.º 1 (1997)

1
Foi-me sugerido desenvolver, nesta conferência1 , o tema
das relações entre cidadania e modernidade. Ora, uma das
características mais marcantes da modernidade — ou seja, da
época histórica que se inicia com o Renascimento e na qual,
apesar das apressadas afirmações em contrário dos chamados
A relevância e atualidade
“pós-modernos”, ainda estamos hoje inseridos — é precisamente das notas de Carlos Nelson
a afirmação e expansão de uma nova concepção e de novas Coutinho sobre a cidadania
práticas da cidadania. e a modernidade
Aponte sua câmera ou clique
Antes de mais nada, cabe lembrar que, sobretudo em sua acepção no QR Code para acessar o
propriamente moderna, ocorre uma profunda articulação entre texto de apresentação, por
cidadania e democracia. Embora, no decorrer dessa conferência, Gláucia Lelis Alves, especial
eu me proponha a apresentar algumas determinações do para o Conexão Praia Vermelha.
conceito de democracia, tomarei como ponto de partida uma
definição sumária e aproximativa: democracia é sinônimo de
soberania popular. Ou seja: podemos defini-la como a presença
efetiva das condições sociais e institucionais que possibilitam
ao conjunto dos cidadãos a participação ativa na formação do
governo e, em consequência, no controle da vida social.
R. Praia Vermelha
Há um importante conceito de Marx, hoje injustamente em
próxima página Rio de Janeiro
desfavor (como, aliás, anda injustamente em desfavor o próprio
v.34 n.2
marxismo), que é o conceito de alienação. Segundo Marx, os p. 509-529
referências e notas indivíduos constroem coletivamente todos os bens sociais, toda Jul-Dez/2024
a riqueza material e cultural e todas as instituições sociais e ISSN 1414-9184
políticas, mas não são capazes — dada a divisão da sociedade 509 eISSN 1984-669X
em classes antagônicas — de se reapropriarem efetivamente
desses bens por eles mesmos criados. A democracia pode v.34 n.2 [2024]
início
ser sumariamente definida como a mais exitosa tentativa
até hoje inventada de superar a alienação na esfera política.
página anterior Desde Rousseau, o mais radical representante do pensamento
democrático no mundo moderno, a democracia é concebida
como a construção coletiva do espaço público, como a plena
participação consciente de todos na gestação e no controle da
esfera política. É precisamente isso o que Rousseau entende por
“soberania popular”.
Um dos conceitos que melhor expressa essa reabsorção dos
bens sociais pelo conjunto dos cidadãos — que melhor expressa,
portanto, a democracia — é precisamente o conceito de
cidadania. Cidadania é a capacidade conquistada por alguns
indivíduos, ou (no caso de uma democracia efetiva) por todos
os indivíduos, de se apropriarem dos bens socialmente criados,
de atualizarem todas as potencialidades de realização humana
abertas pela vida social em cada contexto historicamente
determinado. Sublinho a expressão historicamente porque me
parece fundamental ressaltar o fato de que soberania popular,
democracia e cidadania (três expressões para, em última
instância, dizer a mesma coisa) devem sempre ser pensadas
como processos eminentemente históricos, como conceitos e
realidades aos quais a história atribui permanentemente novas e
mais ricas determinações. A cidadania não é dada aos indivíduos
de uma vez para sempre, não é algo que vem de cima para baixo,
mas é resultado de uma luta permanente, travada quase sempre
a partir de baixo, das classes subalternas, implicando um processo
histórico de longa duração.
A noção de cidadania não nasceu no mundo moderno, embora
tivesse encontrado nele a sua máxima expressão, tanto teórica
quanto prática. Na verdade, as primeiras teorias sobre a cidadania,
sobre o que significa ser cidadão, surgiram na Grécia clássica, nos
séculos V-IV antes da era cristã, correspondendo ao fato de que os
gregos conheceram na prática as primeiras formas de democracia, R. Praia Vermelha
próxima página nas quais um número relativamente amplo de pessoas interferia Rio de Janeiro

ativamente na esfera pública, contribuindo para a formação do v.34 n.2


p. 509-529
governo. E foi precisamente com base nisso que Aristóteles definiu
referências e notas Jul-Dez/2024
o cidadão: para ele, cidadão era todo aquele que tinha o direito
Notas sobre Cidadania e Modernidade ISSN 1414-9184
Carlos Nelson Coutinho
(e, consequentemente, também o dever) de contribuir para a
510 eISSN 1984-669X
formação do governo, participando ativamente das assembleias
onde se tomavam as decisões que envolviam a coletividade e v.34 n.2 [2024]
início
exercendo os cargos que executavam essas decisões.
Mas é importante registrar que a teoria e a prática da cidadania
página anterior entre os gregos clássicos estava longe de possuir uma dimensão
universal. (Como veremos, é precisamente essa tendência à
universalização da cidadania que irá caracterizar a modernidade.)
Para os gregos, mesmo nas situações mais democráticas,
como em Atenas nos séculos V e IV a.C., estavam excluídos dos
direitos de cidadania os escravos, as mulheres e os estrangeiros,
os quais, em conjunto, constituíam mais de três quartos da
população adulta ateniense. Além disso, os direitos de cidadania
na Grécia envolviam somente o que hoje chamamos de “direitos
políticos”, ou seja, os direitos de participação no governo, mas
não compreendiam ainda os modernos “direitos civis”, como, por
exemplo, o direito à liberdade de pensamento e de expressão:
foi por isso que Sócrates, acusado de ter uma religião diferente
da religião da pólis, da cidade-Estado, foi condenado à morte
pela democracia ateniense. Malgrado esses limites, contudo, foi
certamente na Grécia clássica onde, pela primeira vez na história,
surgiu a problemática da cidadania.
No mundo moderno, a noção e a realidade da cidadania também
estão organicamente ligadas à ideia de direitos; mas, num
primeiro momento, ao contrário dos gregos, precisamente à
ideia de direitos individuais ou “civis”. John Locke, por exemplo,
que viveu no século XVIl, baseou seu pensamento político na
afirmação de que existiam direitos naturais. Os indivíduos,
enquanto indivíduos, enquanto seres humanos (e não mais
enquanto membros da pólis, como entre os gregos, ou enquanto
membros de determinado estamento, como na Idade Média),
possuiriam direitos. Para garanti-los, deveriam contratar entre
si a criação de um governo, de um Estado, já que esses direitos
naturais estariam ameaçados no pré-político estado de natureza.
A tarefa fundamental do governo, para Locke, seria precisamente
a garantia desses direitos naturais, que ele considerava R. Praia Vermelha
próxima página inalienáveis. Entre tais direitos inalienáveis, Locke priorizava o Rio de Janeiro

direito à propriedade, que incluiria não só os bens materiais dos v.34 n.2
p. 509-529
indivíduos, mas também sua vida e sua liberdade.
referências e notas Jul-Dez/2024
Notas sobre Cidadania e Modernidade Esse conceito de “direito natural” — de direitos que pertencem ISSN 1414-9184
Carlos Nelson Coutinho aos indivíduos independentemente do status que ocupam 511 eISSN 1984-669X
na sociedade em que vivem — teve um importante papel
revolucionário em dado momento da história, na medida em que v.34 n.2 [2024]
início
afirmava a liberdade individual contra as pretensões despóticas
do absolutismo e em que negava a desigualdade de direitos
página anterior sancionada pela organização hierárquica e estamental própria
do feudalismo. Contudo, nessa versão liberal, o jusnaturalismo
terminou por se constituir na ideologia da classe burguesa,
sobretudo porque Locke e seus seguidores consideravam como
direito natural básico o direito de propriedade (que implicava
também o direito do proprietário aos bens produzidos pelo
trabalhador assalariado), o que terminou por recriar uma nova
forma de desigualdade entre os homens.
Para além dessa limitação classista, a própria ideia de que
existem direitos naturais é uma ideia equivocada. Os indivíduos
não nascem com direitos (uma noção, aliás, reafirmada em 1948
na Declaração dos Direitos da ONU). Os direitos são fenômenos
sociais, são resultado da história. Hegel tem plena razão quando
diz que só há direitos efetivos, ou liberdades concretas, no quadro
da vida social, do Estado. As demandas sociais, que prefiguram
os direitos, só são satisfeitas quando assumidas nas e pelas
instituições que asseguram uma legalidade positiva. Por outro
lado, aquilo que hoje quase todos consideram como direitos
indiscutíveis (por exemplo, os chamados direitos sociais, como
o direito ao trabalho, à saúde, à educação, etc.) não figuravam
de modo algum na lista dos direitos naturais defendidos pelos
jusnaturalistas liberais.
Mas há uma verdade parcial no pensamento dos jusnaturalistas,
ou seja, a afirmação de que o direito é, de certo modo, algo que
antecede — e é mais amplo — do que o direito positivo, ou seja,
do que o direito estatuído nas Constituições, nos códigos, etc.
Os direitos têm sempre sua primeira expressão sob a forma de
expectativas de direito, ou seja, de demandas que são formuladas,
em dado momento histórico determinado, por classes ou grupos
sociais.
R. Praia Vermelha
próxima página
Vou dar um exemplo simples. Na consciência dos trabalhadores
Rio de Janeiro
(e na sua atividade prático-política), tornou-se um indiscutível v.34 n.2
direito, a partir do início do século XIX, a necessidade de fixar p. 509-529
referências e notas limites legais para a jornada de trabalho. Quem conhece história, Jul-Dez/2024
Notas sobre Cidadania e Modernidade sabe que os operários trabalhavam 14 horas por dia ou mais na ISSN 1414-9184
Carlos Nelson Coutinho época da revolução industrial, isto é, pelo menos até meados 512 eISSN 1984-669X
do século XIX. Os trabalhadores, então, lutaram para que fosse
fixado um limite legal para a jornada de trabalho, algo que ia de v.34 n.2 [2024]
início
encontro às já então famosas “leis do mercado”. Isso significa
que a demanda dos trabalhadores por uma jornada de trabalho
página anterior reduzida colocou-se historicamente como uma postulação, como
um direito, já antes que a promulgação de uma lei tornasse esse
direito algo positivo, o que só ocorreu, na Inglaterra, na segunda
metade do século XIX.
Outro exemplo: as mulheres foram até meados do século XX
excluídas do direito ao voto, a votarem e ser votadas, não só no
Brasil, mas na maioria esmagadora dos países do hoje chamado
Primeiro Mundo. (Nisso, até, o Brasil não foi dos mais retardatários:
as mulheres votaram aqui em 1933, enquanto só vieram a fazê-
lo na Itália, por exemplo, em 1946). Importantes movimentos
femininos demandaram e lutaram pelo que consideravam um
direito indiscutível. E terminaram por inscrever nas leis positivas
de todos os países (parece-me que a Suíça foi o último país a
fazer isso) esse direito que já ninguém hoje contesta, pelo menos
publicamente.
Ao relembrar esses exemplos, pretendo apenas insistir no caráter
histórico dos direitos (dei exemplos de direitos sociais e políticos,
mas poderia me valer de exemplos de novos direitos civis, como
o relativo à liberdade de orientação sexual) e, por conseguinte, no
caráter fundamentalmente histórico da própria cidadania.
Nesse sentido, penso que o sociólogo britânico T. H. Marshall deu
uma importante contribuição para a compreensão da dimensão
histórica da cidadania quando — no seu famoso ensaio sobre
“Cidadania e Classe Social”2 — definiu três níveis de direitos de
cidadania e, baseando-se na história da Grã-Bretanha, traçou uma
ordem cronológica para o surgimento desses direitos no mundo
moderno, descrevendo um processo que se inicia com a obtenção
dos direitos civis, passa pelos direitos políticos e chega finalmente
aos direitos sociais. É indiscutível que essa ordem cronológica, do
modo “clássico” como Marshall a descreve, não se reproduziu do
R. Praia Vermelha
próxima página
mesmo modo em um grande número de países, entre os quais o
Rio de Janeiro
Brasil3 . Mas também me parece indiscutível que Marshall — apesar v.34 n.2
deste e de outros limites — tem o mérito não só de delimitar p. 509-529
referências e notas essas três determinações “modernas” da cidadania (civil, política e Jul-Dez/2024
Notas sobre Cidadania e Modernidade social), mas também de insistir na dimensão histórica, processual, ISSN 1414-9184
Carlos Nelson Coutinho do conceito e da prática da cidadania na modernidade. 513 eISSN 1984-669X
2
O que são “direitos civis” e como surgiram historicamente?
Para Marshall, esses direitos surgiram na Inglaterra no século v.34 n.2 [2024]
início
XVIII, tornando-se direitos efetivamente positivos depois que
a chamada Gloriosa Revolução, de 1688, consolidou nesse país
página anterior a monarquia constitucional. Se observarmos bem, veremos
que os direitos civis elencados por Marshall em seu estudo são
precisamente os direitos que Locke (que, não casualmente, foi
o principal teórico da Gloriosa Revolução) chamou de direitos
naturais inalienáveis. Trata-se, essencialmente, do direito à vida,
à liberdade de pensamento e de movimento (de ir e vir) e, não
em último lugar, à propriedade. Sabemos hoje que eles não são
direitos naturais, mas sim direitos históricos; surgiram como
demandas da burguesia em ascensão (no momento em que e a
ela e representava todos os que não eram nem aristocratas nem
membros do clero, ou seja, todos os que constituíam o que os
franceses chamavam de “terceiro estado”) em sua luta contra o
Estado absolutista, Estado que, naquele momento da história,
defendia essencialmente os interesses dos outros dois “estados”,
ou seja, da aristocracia feudal e do alto clero.
Tratava-se então de criar um novo tipo de Estado, fundado no
consenso dos súditos (ou seja, num contrato firmado entre eles
e com os governantes), cuja legitimidade se assentaria no fato
de respeitar plenamente esses direitos “naturais” que todos os
indivíduos possuiriam. A afirmação dos direitos civis, portanto,
implicava uma limitação do poder do Estado. São direitos dos
indivíduo contra o Estado, ou seja, são direitos que os homens
devem usufruir em sua vida privada, que deve ser protegida
contra a intervenção abusiva do governo. Já aqui podemos
observar uma significativa diferença em relação ao conceito
grego de cidadania, para o qual, como vimos, ser cidadão não é
algo que se refira à vida privada, mas precisamente à vida pública,
à qual os gregos claramente subordinam a esfera privada.
Foi precisamente a natureza individual e privada desses direitos
civis modernos que induziu Marx, em sua obra juvenil sobre A
questão judaica4 , a caracterizá-los como meios de consolidação R. Praia Vermelha
próxima página da sociedade burguesa, da sociedade capitalista. Não hesito Rio de Janeiro

em dizer que, num determinado e decisivo sentido, Marx estava v.34 n.2
p. 509-529
certo. Tomemos, por exemplo, o modo pelo qual Locke (e as
referências e notas Jul-Dez/2024
várias Constituições que nele se inspiraram) tratou a questão da
Notas sobre Cidadania e Modernidade ISSN 1414-9184
Carlos Nelson Coutinho
propriedade, apresentada como o direito natural fundamental,
514 eISSN 1984-669X
cuja garantia é a razão essencial pela e para a qual o Estado
existe. Locke começa definindo o direito de propriedade como v.34 n.2 [2024]
início
o direito aos frutos do nosso trabalho; mas, logo em seguida,
diz que — com a invenção do dinheiro, que permite acumular
página anterior o trabalho passado — tornou-se legítimo comprar a força de
trabalho de outros, sobre cujos frutos teríamos também direito
de propriedade5 . Vemos aí um claro exemplo de como um direito
universal (todos temos direito aos frutos do nosso trabalho) torna-
se um direito burguês, particularista e excludente, restrito aos
proprietários dos meios de produção.
Foi nesse sentido que Marx criticou os chamados “direitos do
homem”, no sentido de que — entendidos como direitos únicos
e exclusivos — eles se transformam na prática em prerrogativas
apenas de um tipo de homem, o homem proprietário da classe
burguesa. Penso que Claude Lefort, o brilhante filósofo liberal
francês, não tem razão quando diz que, para Marx, nesse seu
texto juvenil, os direitos civis seriam em si direitos burgueses e,
como tal, elimináveis no socialismo6 . O sentido da crítica de Marx
é outro: os direitos civis — os direitos do indivíduo privado — não
são suficientes para realizar a cidadania plena, que ele chamava
de “emancipação humana”, mas são certamente necessários. O
próprio direito de propriedade não é negado por Marx e pelos
marxistas, mas sim requalificado: para que esse direito se torne
efetivamente universal, assegurando a todos a apropriação dos
frutos do próprio trabalho, a propriedade não pode ser privilégio
de uns poucos, devendo ao contrário ser socializada e, desse
modo, universalizada7. Portanto, a cidadania plena — que, como
mostrarei adiante, parece-me incompatível com o capitalismo —
certamente incorpora os direitos civis (e não só os afirmados por
Locke, mas também os gerados mais recentemente), mas não se
limita a eles.
Por exemplo: não há cidadania plena (ou, o que é o mesmo,
não há democracia), sem o que Marshall chamou de “direitos
políticos”, isto é, sem a retomada daquela dimensão da cidadania
que era própria dos gregos. Ora, se é verdade que os regimes R. Praia Vermelha
próxima página liberais, que consolidaram a dominação burguesa, asseguraram Rio de Janeiro

(ainda que nem sempre e nem todos) os direitos civis, é também v.34 n.2
p. 509-529
verdade que não fizeram o mesmo em relação aos direitos
referências e notas Jul-Dez/2024
políticos. E quais são esses direitos? Além do direito de votar e
Notas sobre Cidadania e Modernidade ISSN 1414-9184
Carlos Nelson Coutinho
de ser votado, que é um dos principais meios de assegurar a
515 eISSN 1984-669X
participação na tomada das decisões que envolvem o conjunto
da sociedade, temos ainda — precisamente como condição para v.34 n.2 [2024]
início
que essa participação se torne efetiva — o direito de associação
e de organização. Esses direitos, pelo menos até o final do século
página anterior XIX, foram negados à grande maioria da população, mesmo nos
regimes liberais.
O direito universal ao sufrágio, que se tornou corriqueiro nas
democracias contemporâneas, foi uma árdua e difícil conquista.
Com diferentes alegações, os pensadores e as Constituições
liberais restringiram o direito ao sufrágio, concedendo-o apenas
aos proprietários, considerados como os únicos verdadeiros
interessados no bem-estar da nação. Um pensador tão
importante como Kant — certamente um liberal, ainda que
moderado — não hesitou em justificar teoricamente essa
limitação do sufrágio. Segundo ele, só deveriam votar os
indivíduos que, por serem independentes, teriam a possibilidade
de um juízo livre e autônomo; e essa independência tinha para ele
uma base econômica, classista, já que o filósofo alemão excluía
do direito ao voto tanto as mulheres (que dependiam de seus pais
e maridos) quanto os trabalhadores assalariados (que dependiam
dos seus patrões), com o que atribuía tal direito apenas aos
proprietários e aos produtores autônomos ou artesãos8 .
A primeira Constituição que emerge da Revolução Francesa,
a de 1791, que expressa a hegemonia dos liberais, consagrou
legalmente essa distinção entre “cidadão ativo” e “cidadão
passivo”, o primeiro dos quais com direito a votar e ser votado
(e, portanto, a ser governo), enquanto o segundo teria apenas
direitos civis. Na Constituição de 1793, que expressa a hegemonia
democrática dos jacobinos, essa distinção desaparece, mas
para ser retomada nas Constituições francesas posteriores, pelo
menos até 1848. A mesma limitação da franquia (do direito ao
voto) com base na propriedade está presente na totalidade das
Constituições liberais do século XIX, inclusive a brasileira.
A transformação do direito universal ao sufrágio em um direito
R. Praia Vermelha
próxima página
positivo só se completou na Europa no século XX. (E, no Brasil, só
Rio de Janeiro
em 1988, quando a Constituição em vigor suprimiu a proibição v.34 n.2
de voto aos analfabetos.) Em muitos países europeus, os p. 509-529
referências e notas trabalhadores tiveram de promover amplos movimentos sociais, Jul-Dez/2024
Notas sobre Cidadania e Modernidade como greves gerais, para conquistarem esse direito. Isso já indica ISSN 1414-9184
Carlos Nelson Coutinho um fato fundamental: a generalização dos direitos políticos, até 516 eISSN 1984-669X
mesmo nesse nível do sufrágio, é resultado da luta da classe
trabalhadora. Não me parece casual que o primeiro movimento v.34 n.2 [2024]
início
operário de massa, o cartismo inglês, que atuou na primeira
metade do século XIX, tivesse fixado como sua principal bandeira
página anterior de luta — ao lado da redução legal da jornada de trabalho —
precisamente o sufrágio universal. Foi assim em luta contra o
liberalismo burguês, contra suas teorias e suas práticas, que os
trabalhadores (e as mulheres) transformaram em direitos positivos
da cidadania moderna os chamados direitos políticos.
E isso não se refere apenas ao sufrágio, mas também ao direito de
organização. Com efeito, durante muitos anos, os governos liberais
proibiram os sindicatos, sob a alegação de que eles violavam as
famosas leis do mercado: com sua organização, os trabalhadores
obtinham um preço para a força de trabalho diferente daquele
que resultaria do “livre” movimento do mercado. Na França,
por exemplo, somente nos anos 70 do século XIX é que
os trabalhadores conseguiram revogar a Lei Le Chapellier,
promulgada em 1791, em plena Revolução Francesa, que proibia
a associação dos trabalhadores e as greves. Também uma outra
forma básica de organização na democracia moderna, o partido
político de massa, é uma invenção da classe trabalhadora: o
primeiro partido desse tipo, que supera claramente o velho
modelo liberal do partido meramente parlamentar ou de
“notáveis”, é o Partido Social-Democrata Alemão, que se tornou
o paradigma dos vários partidos operários de massa que se
alastraram na Europa no último terço do século XIX, conquistando
finalmente a legalidade após décadas de proibição e repressão.
Por tudo isso, já podemos ver que é um grosseiro equívoco, tanto
teórico quanto histórico, falar em “democracia burguesa”. Pode-
se certamente caracterizar o liberalismo como uma teoria e um
regime político burgueses: desde sua origem, o liberalismo se
liga claramente à classe burguesa, à sua luta pela construção de
uma ordem capitalista, o que não quer dizer que não existam
no liberalismo — e é preciso sempre insistir nisso — muitos
elementos que transcendem esse vínculo com a burguesia R. Praia Vermelha
próxima página e adquirem valor universal. Já as conquistas da democracia Rio de Janeiro

enquanto afirmação efetiva da soberania popular, o que implica v.34 n.2


p. 509-529
necessariamente o direito ao voto e à organização (em suma, o
referências e notas Jul-Dez/2024
direito à participação), têm resultado sistematicamente das lutas
Notas sobre Cidadania e Modernidade ISSN 1414-9184
Carlos Nelson Coutinho
dos trabalhadores contra os princípios e as práticas do liberalismo
517 eISSN 1984-669X
excludente defendido e praticado pela classe burguesa.
Portanto, seria não somente um equívoco, mas também uma v.34 n.2 [2024]
início
injustiça contra os trabalhadores, atribuir à burguesia algo
que foi conquistado contra ela. Não concordo, assim, com a
página anterior contraposição que habitualmente se faz (e cuja origem reside
sobretudo em Lenin) entre “democracia burguesa” e “democracia
proletária”. Segundo essa visão redutiva, só seria “proletária”
a democracia direta, participativa, baseada nos conselhos ou
sovietes. Ora, como vimos, também os institutos da democracia
representativa tal como hoje existem — parlamentos eleitos por
sufrágio universal através do embate de partidos políticos de
massa — são uma conquista dos trabalhadores, ou, em outras
palavras, são resultado de um processo de lutas que ampliou
o estreito horizonte teórico e prático do liberalismo burguês
originário. Decerto, uma democracia ampliada — e, portanto, mais
congruente com o ideal da soberania popular — deve articular
esses organismos representativos com outros organismos de
base, de natureza claramente participativa, constituindo aquilo
que o marxista italiano Pietro Ingrao chamou de “democracia de
massas”9. Mas a necessidade dessa articulação só reforça o fato
de que é um contrassenso falar em “democracia burguesa”.
Finalmente, mas não em último lugar, há um terceiro e decisivo
nível dos direitos de cidadania, precisamente o que Marshall
chamou de “direitos sociais” (uma designação que pode levar
a equívocos, já que todos os direitos, inclusive os civis e os
políticos, são sociais por sua origem e vigência). Esse nível da
cidadania — embora tenha sido reivindicado pelos trabalhadores
ao longo de todo o século XIX — só foi assimilado (e mesmo
assim parcialmente) como momento do direito positivo em
nosso século. Os direitos sociais são os que permitem ao cidadão
uma participação mínima na riqueza material e espiritual criada
pela coletividade. (Esse mínimo, seguindo o que Marx já havia
estabelecido em relação ao salário, não deve ser concebido
apenas com base em parâmetros naturais, biológicos, mas deve
ser definido sobretudo historicamente, como resultado das lutas
R. Praia Vermelha
próxima página sociais.) Rio de Janeiro

É interessante recordar que essa dimensão da cidadania foi v.34 n.2


p. 509-529
relativamente reconhecida, por exemplo, na Roma clássica, quando
referências e notas Jul-Dez/2024
os plebeus conquistaram o direito de, em caso de necessidade,
Notas sobre Cidadania e Modernidade ISSN 1414-9184
Carlos Nelson Coutinho
serem alimentados pelo Estado. Já no mundo moderno,
518 eISSN 1984-669X
hegemonizado pela burguesia, os direitos sociais foram por muito
tempo negados, sob a alegação de que estimulariam a preguiça, v.34 n.2 [2024]
início
violariam as leis do mercado (e, portanto, o direito individual à
propriedade), além de impedirem os homens de se libertar da
página anterior tutela de um poder estatal autoritário e paternalista. Não é assim
casual que esses direitos voltem a ser negados hoje, teórica e
praticamente, pelos expoentes do chamado neoliberalismo.
Na modernidade, entre tais direitos sociais, foi aquele à educação
pública e universal, laica e gratuita, o primeiro a ser reconhecido
de modo positivo: se não estou enganado, esse direito já está
presente nas Constituições que resultam da Revolução Francesa.
Mais tarde, sobretudo em nosso século, muitos outros direitos
sociais foram se consolidando (à saúde, à habitação, à previdência
pública, à assistência, etc.), terminando por gerar o que tem
sido chamado de Welfare State, ou Estado do Bem-Estar. Cabe
registrar, contudo, que — mesmo nos mais abrangentes tipos de
Welfare — jamais foi assegurado o direito social à propriedade.
Tal como no caso dos direitos civis e políticos, mas de modo
ainda mais intenso, o que se coloca como tarefa fundamental no
que se refere aos direitos sociais não é, muitas vezes, o simples
reconhecimento legal-positivo dos mesmos, mas a luta para
torná-los efetivos. A presença de tais direitos nas Constituições,
seu reconhecimento legal, não garante automaticamente a
efetiva materialização dos mesmos. Esse é, particularmente, o
caso do Brasil. Mas, embora a conversão desses direitos sociais
em direitos positivos não garanta sua plena materialização, é
muito importante assegurar seu reconhecimento legal, já que
isso facilita a luta para torná-los efetivamente um dever do
Estado. Tampouco é casual que os neoliberais se empenhem hoje,
inclusive em nosso País, por eliminá-los também das normas
legais, em particular da própria Constituição.
Embora possa parecer óbvio, não é desnecessário lembrar que
os direitos sociais, talvez ainda mais do que os direitos políticos,
são igualmente uma conquista da classe trabalhadora. E não é
R. Praia Vermelha
próxima página
desnecessário porque as políticas sociais — ou seja, o instrumento
Rio de Janeiro
através do qual se materializam os direitos sociais — são muitas v.34 n.2
vezes definidas sem que esse fato seja levado em conta. Para p. 509-529
referências e notas muitos autores que se baseiam numa leitura mecanicista do Jul-Dez/2024
Notas sobre Cidadania e Modernidade marxismo, as políticas sociais seriam nada mais do que um ISSN 1414-9184
Carlos Nelson Coutinho instrumento da burguesia para legitimar sua dominação. 519 eISSN 1984-669X
É como se as políticas sociais fossem uma rua de mão única:
somente a burguesia teria interesse num sistema educacional v.34 n.2 [2024]
início
universal e gratuito, numa política previdenciária e de saúde,
etc., já que, através desses institutos, não só ampliaria sua taxa
página anterior de acumulação, mas obteria ainda o consenso das classes
trabalhadoras, integrando-as subalternamente ao capitalismo.
Essa posição, por ser unilateral, é equivocada. Como todas
os âmbitos da vida social, também a esfera das políticas
sociais é determinada pela luta de classes. Através de suas
lutas, os trabalhadores postulam direitos sociais que, uma vez
materializados, são uma sua indiscutível conquista; isso não
anula a possibilidade de que, em determinadas conjunturas, a
depender da correlação de forças, a burguesia use as políticas
sociais para desmobilizar a classe trabalhadora, para tentar
cooptá-la, etc. Assim como no caso do sufrágio universal (que não
garante automaticamente a vitória dos trabalhadores), também
nesse terreno das políticas sociais nada está decidido a priori:
embora tanto os direitos políticos como os direitos sociais sejam
importantes conquistas dos trabalhadores, pode ocorrer que
— em determinadas conjunturas e em função de correlações
de força específicas — eles não explicitem plenamente o seu
potencial emancipatório. Para que tal ocorra, é mais uma vez
necessária a intensificação das lutas pela realização da cidadania,
o estabelecimento de correlações de força favoráveis aos
segmentos sociais efetivamente empenhados nessa realização.
De resto, essa visão dialética dos direitos sociais como conquistas
dos trabalhadores e não como simples instrumentos da burguesia
já está presente na obra do próprio Marx. Em 1863, no discurso
que proferiu no ato inaugural da Associação Internacional dos
Trabalhadores, Marx disse que a fixação legal da jornada de
trabalho, que acabara de ser promulgada na Inglaterra, tinha
sido a primeira vitória da economia política do trabalho sobre a
economia política do capital10; ou, em outras palavras, a primeira
vitória de um direito social sobre a lógica privatista do capitalismo.
Essa lógica se expressa, essencialmente, através da afirmação do R. Praia Vermelha
próxima página mercado como forma suprema de regulação das relações sociais. Rio de Janeiro

Portanto, é como se Marx dissesse: tudo o que limita o mercado v.34 n.2
p. 509-529
em nome de um direito social universal (ou, se preferirmos, da
referências e notas Jul-Dez/2024
justiça social) é uma vitória da economia política do trabalho, isto
Notas sobre Cidadania e Modernidade ISSN 1414-9184
Carlos Nelson Coutinho
é, de uma outra lógica de regulação social.
520 eISSN 1984-669X
Essa formulação marxiana me parece ter uma significação
bastante ampla: com ela, Marx fundamentou a legitimidade v.34 n.2 [2024]
início
e a possibilidade concreta de obter transformações sociais
substantivas através de reformas. Se uma reforma tópica, a fixação
página anterior da jornada de trabalho, é uma vitória da economia política da
classe operária, o mesmo pode ser dito — e ainda com mais razão
— do conjunto de direitos sociais que terminaram por se consolidar,
na segunda metade do século XX, no chamado Welfare State.
Não é assim casual que o neoliberalismo — a ideologia hoje
assumida pela burguesia, seja no Primeiro, no Terceiro ou no
ex-Segundo Mundos — propugne enfaticamente o fim dos
direitos sociais, o desmonte do Welfare State11 . Se esse objetivo
assumiu formas extremas nos emblemáticos governos de Ronald
Reagan e de Margareth Thatcher, não cabe esquecer que ele está
igualmente presente — ainda que por vezes sob formas menos
radicais — na maioria esmagadora dos governos capitalistas
contemporâneos. Pressionados pela queda da taxa de lucro
provocada pela dura recessão que abala hoje o capitalismo, os
atuais governantes burgueses buscam pôr fim ao Estado do
Bem-Estar, ao conjunto dos direitos sociais conquistados pelos
trabalhadores, propondo devolver ao mercado a regulação de
questões como a educação, a saúde, a habitação, a previdência, os
transportes, etc. Essa é uma clara prova de que os direitos sociais
não interessam à burguesia: em algumas conjunturas, ela pode até
tolerá-los e tentar usá-los a seu favor, mas se empenha em limitá-
los e suprimi-los sempre que, nos momentos de recessão (que
são inevitáveis no capitalismo), tais direitos se revelam contrários à
lógica capitalista da ampliação máxima da taxa de lucro.
Por tudo isso, não hesitaria em dizer que a ampliação da
cidadania — esse processo progressivo e permanente de
construção dos direitos democráticos que caracteriza a
modernidade — termina por se chocar com a lógica do capital.
Mas o que esse processo de ampliação também nos demonstra
é que não se deve conceber esse choque, essa contradição entre
cidadania (ou democracia) e capitalismo, como algo explosivo, R. Praia Vermelha
próxima página concentrado num único ponto ou momento. Trata-se de uma Rio de Janeiro

contradição que se manifesta como um processo: processo no v.34 n.2


p. 509-529
qual o capitalismo primeiro resiste, depois é forçado a recuar e
referências e notas Jul-Dez/2024
fazer concessões, sem nunca deixar de tentar instrumentalizar
Notas sobre Cidadania e Modernidade ISSN 1414-9184
Carlos Nelson Coutinho
a seu favor (ou mesmo suprimir, como atualmente ocorre) os
521 eISSN 1984-669X
direitos conquistados. Estamos diante de uma linha sinuosa,
marcada por avanços e recuos, mas que tem tido até agora, v.34 n.2 [2024]
início
no longo prazo, uma tendência predominante: a da ampliação
progressiva das vitórias da economia política do trabalho sobre
página anterior a economia política do capital (para retomarmos a expressão de
Marx), ou seja, a introdução cada vez maior de novas lógicas não
mercantis na regulação da vida social. O fato de que essas novas
lógicas só possam se consolidar plenamente no quadro do novo
ordenamento socialista não impede a comprovação empírica
dessa ampliação. Embora políticas neoliberais venham sendo
sistematicamente aplicadas há vários anos em todo o mundo,
pode-se constatar — como, entre outros, o faz Perry Anderson12
— que ainda permanecem em vigor, sobretudo na Europa,
conquistas decisivas do Welfare State.
Esse antagonismo entre cidadania plena e capitalismo, de resto,
expressa uma outra contradição (para a qual, aliás, Marshall já
chamara a atenção, ainda que sem lhe dar solução adequada),
ou seja, a contradição entre cidadania e classe social: a
universalização da cidadania é, em última instância, incompatível
com a existência de uma sociedade de classes. Ou, em outras
palavras: a divisão da sociedade em classes constitui limite
intransponível à afirmação consequente da democracia. Como
parece óbvio, a condição de classe cria, por um lado, privilégios,
e, por outro, déficits, uns e outros aparecendo como óbices a
que todos possam participar igualitariamente na apropriação
das riquezas espirituais e materiais socialmente criadas. Ora, se
há alguma conclusão a tirar disso, ela me parece óbvia (embora
toda a propaganda ideológica atual tenda a negá-la): só uma
sociedade sem classes — uma sociedade socialista — pode
realizar o ideal da plena cidadania, ou, o que é o mesmo, o ideal
da soberania popular e, como tal, da democracia.

3
Como disse antes, citando Hegel, só existem direitos no Estado.
Seria então interessante recordar rapidamente de que modo o
processo de ampliação da cidadania, que tentei esboçar há pouco,
influiu na evolução do Estado moderno. Irei adotar, para discutir a R. Praia Vermelha
próxima página questão do Estado, o paradigma marxista; ele não é certamente Rio de Janeiro

o único a fornecer contribuições para conceituar adequadamente v.34 n.2


p. 509-529
o Estado, mas me parece — por motivos que não terei tempo de
referências e notas Jul-Dez/2024
justificar aqui — o mais rico, aquele que capta o maior número
Notas sobre Cidadania e Modernidade ISSN 1414-9184
Carlos Nelson Coutinho
das determinações essenciais do Estado moderno. Também
522 eISSN 1984-669X
veremos que se trata de um paradigma em evolução, que não
coagula ou dogmatiza observações desse ou daquele marxista, v.34 n.2 [2024]
início
mas que tem sua essência na permanente revisão dialética dos
resultados já alcançados13 .
página anterior Se lermos o Manifesto Comunista de 1848, que é talvez o
primeiro texto político significativo de Marx e Engels, veremos
que nele o Estado moderno é definido sinteticamente como
“o comitê executivo da burguesia”, com o objetivo de gerir os
negócios comuns dessa classe e impor seus interesses às demais
classes, uma imposição que tem na violência e na opressão os
seus principais recursos. Em suma, o Estado é definido como
um aparelho que representa apenas os interesses da classe
dominante e que faz valer tais interesses através da coerção.
As duas afirmações se seguem como numa dedução lógica: na
medida em que não representa nem leva em conta os interesses
das demais classes, que formam a esmagadora maioria da
população, o Estado burguês é obrigado a ter na coerção seu
principal, se não único, recurso de poder.
Embora essa definição “restrita” nos pareça hoje distante da
realidade de boa parte dos Estados capitalistas efetivamente
existentes, ela correspondia essencialmente à natureza dos
Estados com os quais Marx e Engels se defrontaram quando
escreveram o Manifesto. A maioria dos Estados existentes em
1848 se expressava através de regimes políticos claramente
autoritários, quando não despóticos; e mesmo os poucos Estados
liberais ou semi liberais da época (Inglaterra, Estados Unidos,
França) estavam longe de assegurar a maior parte do que hoje
consideramos como inequívocos direitos de cidadania.
Vejamos alguns exemplos. Onde havia sufrágio, tratava-se apenas
de um sufrágio restrito, como recordei antes: o voto era censitário,
um direito atribuído apenas aos proprietários ou aos que pagavam
um certo montante de impostos. Os sindicatos eram proibidos.
Não havia ainda partidos de massa, que representassem os
interesses das classes excluídas do poder; os partidos operários
R. Praia Vermelha
próxima página
eram pequenas seitas, que atuavam à margem da legalidade,
Rio de Janeiro
sendo frequentemente perseguidos. Não havia, portanto, um v.34 n.2
mínimo de direitos políticos. Além disso, não eram infrequentes p. 509-529
referências e notas as proibições à liberdade de pensamento e de sua expressão pela Jul-Dez/2024
Notas sobre Cidadania e Modernidade imprensa, o que tomava precária a própria realização dos direitos ISSN 1414-9184
Carlos Nelson Coutinho civis. Os direitos sociais eram completamente ignorados. 523 eISSN 1984-669X
Então, não me parece equivocada a definição “restrita” de Marx
e Engels em 1848: nesse momento de sua história, o Estado v.34 n.2 [2024]
início
capitalista se manifestava efetivamente como uma arma
nas mãos da burguesia, corno algo fortemente excludente e
página anterior coercitivo. E tampouco é casual que, em 1917, em O Estado e a
revolução, Lenin houvesse retomado literalmente essa concepção
restrita: com efeito, o Estado czarista que ele se empenhava
em abater apresentava-se como uma arma das classes
dominantes, como uma clara ditadura autocrática. Mas Lenin
e os bolcheviques, escrevendo no início do século XX, estavam
equivocados quando generalizaram essa concepção para todos
os Estados capitalistas da época, ou seja, quando a apresentaram
como a única verdadeira concepção marxista de Estado.
Com efeito, no intervalo de tempo que intercorre entre 1848
(ano da publicação do Manifesto Comunista) e 1917 (quando
Lenin escreve O Estado e a revolução e lidera exitosamente a
Revolução de Outubro), mas sobretudo depois, surgiram inúmeros
fenômenos novos no mundo capitalista ocidental, tanto na esfera
econômica quanto na política, que terminaram por modificar
a própria natureza do Estado capitalista. Sem deixar de ser
capitalista, esse Estado assumiu novas características, na medida
que se viu obrigado, pela pressão das lutas dos trabalhadores,
a incorporar novos direitos de cidadania política e social.
Desenvolveu-se no último terço do século XIX e acentuou-se ainda
mais no século XX o que tem sido chamado de “socialização da
política”. Ou seja: um número cada vez maior de pessoas passou
a fazer política, não só através da progressiva ampliação do direito
ao voto, mas também por meio do ingresso e da militância de
amplos segmentos da população nas múltiplas organizações
(sindicatos, partidos, movimentos, etc.) que se iam constituindo.
Com isso, desaparece progressivamente aquele Estado “restrito”,
que exercia seu poder sobre uma sociedade atomizada e
despolitizada. Em face do Estado — e formando um novo espaço
de construção da esfera pública —, surge agora uma sociedade
que se associa, que faz política, que multiplica os polos de R. Praia Vermelha
próxima página representação e organização dos interesses, frequentemente Rio de Janeiro

contrários àqueles representadas no e pelo Estado. Configura-se v.34 n.2


p. 509-529
assim uma ampliação efetiva da cidadania política, conquistada
referências e notas Jul-Dez/2024
de baixo para cima. Foi precisamente esse novo espaço público
Notas sobre Cidadania e Modernidade ISSN 1414-9184
Carlos Nelson Coutinho
que Gramsci chamou de “sociedade civil”.
524 eISSN 1984-669X
Trata-se de um fenômeno que, curiosa e paradoxalmente, não
foi visto nem por Marx e Engels em 1848 nem por Locke e pelo v.34 n.2 [2024]
início
liberalismo clássico. Para esses autores, o Estado existe como
um poder que assegura a propriedade e monopoliza a coerção,
página anterior garantindo e protegendo a autonomia da esfera privada, do
mundo das relações econômicas, no qual deve interferir o mínimo
possível. Ainda que com sinais de valor claramente invertidos,
Locke e os jovens Marx e Engels limitam a esfera pública a esse
Estado “restrito”, que tem praticamente a função de um guarda-
noturno. Ora, o que surge no final do século XIX e se reforça
no XX é uma esfera pública situada fora desse Estado restrito,
ou seja, a “sociedade civil” gramsciana; com isso, o âmbito
do Estado se “amplia” e ganha novas determinações. Ao usar
essa denominação de “sociedade civil”, Gramsci emprega um
termo bastante usado na obra de Hegel e de Marx, mas o faz
emprestando-lhe um conteúdo diverso. Enquanto em Hegel e em
Marx (mais em Marx do que em Hegel) “sociedade civil” designa
o mundo da economia, o mundo dos interesses privados, esse
termo denota em Gramsci um fenômeno historicamente novo,
precisamente esse espaço público situado entre a economia e o
governo, ou — para continuar usando a terminologia gramsciana
— entre a “sociedade econômica” e a “sociedade política”.
Trata-se de uma esfera que, sem ser governamental, tem
incidências diretas sobre o Estado, na medida em que nela
se forjam claras relações de poder. Por isso, para Gramsci, a
“sociedade civil” toma-se um momento do próprio Estado, de um
Estado agora concebido de modo “ampliado”. Diferentemente
do que ocorria no protocapitalismo, o Estado tornou-se —
diz Gramsci — uma síntese contraditória e dinâmica entre a
“sociedade política” (ou Estado stricto sensu, ou Estado-coerção
ou, simplesmente, governo) e a “sociedade civil”. Na medida em
que essa sociedade civil corporifica e representa os múltiplos
interesses em que se divide a sociedade como um todo, o Estado
capitalista “ampliado” — aquele que existe nas sociedades que
Gramsci chamou de “ocidentais”, ou seja, onde ocorreu uma
R. Praia Vermelha
próxima página socialização da política — já não pode ser estável e se reproduzir Rio de Janeiro
mediante o simples recurso à coerção. Torna-se agora necessário v.34 n.2
obter também o consentimento, ainda que relativo, dos p. 509-529
referências e notas governados, o que se opera, sobretudo, precisamente no âmbito Jul-Dez/2024
Notas sobre Cidadania e Modernidade da “sociedade civil”. ISSN 1414-9184
Carlos Nelson Coutinho 525 eISSN 1984-669X
Ora, quem fala em consentimento ou consenso fala em
concessão ou negociação, o que implica dizer que o novo Estado v.34 n.2 [2024]
início
capitalista não pode mais ser o representante exclusivo das
classes dominantes, ser apenas o seu “comitê executivo”. O Estado
página anterior capitalista é obrigado a se abrir também para a representação
e a satisfação — ainda que sempre parciais, incompletas — dos
interesses de outros segmentos sociais. Ele já não é mais uma
simples arma nas mãos da classe dominante; sem deixar de
representar prioritariamente os interesses da classe burguesa, o
Estado converte-se ao mesmo tempo, ele próprio, numa arena
privilegiada da luta de classes. Nicos Poulantzas, desenvolvendo
as ideias de Gramsci, deu uma correta definição desse novo
fenômeno quando afirmou que o Estado é a “condensação
material de uma correlação de forças entre classes e frações de
classe”, na qual sempre se dá a preponderância ou hegemonia
de uma dessas classes ou frações14 . Enquanto no Estado “restrito”
essa preponderância ocorria em primeira instância, ou seja, de
modo quase imediato, agora — no Estado “ampliado” — ela se dá,
digamos assim, em última instância, após uma série de conflitos
e de ajustamentos. Decerto, o novo Estado “ampliado” não deixou
de ser capitalista; mas alterou-se substantivamente o modo
pelo qual ele faz valer prioritariamente os interesses da classe
burguesa dominante.
Agora se tornou possível, em função da correlação de forças,
impor limites à implementação dos interesses burgueses e até
mesmo, em certas condições, impor decisões que contrariem
esses interesses e atendam a demandas das classes subalternas.
Ora, essa nova concepção marxista do Estado me parece
ligada organicamente aos processos de ampliação e construção
da cidadania de que tratamos anteriormente. Foi porque se
desenvolveram os direitos de cidadania, tanto políticos quanto
sociais, que se tornou possível essa nova configuração do
Estado, que o faz permeável à ação e aos interesses das classes
subalternas.
Essa nova configuração do Estado abriu a possibilidade concreta R. Praia Vermelha
próxima página de que a transformação radical da sociedade — a construção Rio de Janeiro

de um ordenamento socialista capaz de realizar plenamente a v.34 n.2


p. 509-529
democracia e a cidadania — se efetue agora não mais através de
referências e notas Jul-Dez/2024
uma revolução violenta, concentrada num curto lapso de tempo,
Notas sobre Cidadania e Modernidade ISSN 1414-9184
Carlos Nelson Coutinho
como era previsto no Manifesto e na reflexão de Lenin, mas sim
526 eISSN 1984-669X
através de um longo processo de reformas, do que Gramsci
chamou de “guerra de posição”. Essa nova estratégia política v.34 n.2 [2024]
início
poderia também ter o nome de “reformismo revolucionário”.
Através da conquista permanente e cumulativa de novos espaços
página anterior no interior da esfera pública, tanto na sociedade civil quanto no
próprio Estado, tornou-se factível inverter progressivamente
a correlação de forças, fazendo com que, no limite, a classe
hegemônica já não seja mais a burguesia e, sim, ao contrário, o
conjunto dos trabalhadores. Nesse novo paradigma de revolução,
o socialismo é concebido não mais como a brusca irrupção do
completamente novo, mas como um processo de radicalização da
democracia e, consequentemente, de realização da cidadania.

4
Portanto, para concluir, eu diria que uma das principais
características da modernidade é a presença nela de um processo
dinâmico e contraditório, mas de certo modo constante, de
aprofundamento e universalização da cidadania, ou, em outras
palavras, de crescente democratização das relações sociais. Esse
processo é contraditório, sujeito a avanços e recuos, porque no
limite, como vimos, há um antagonismo estrutural entre essa
universalização da cidadania e a lógica de funcionamento do
modo de produção capitalista, cuja implantação, consolidação
e expansão foi, decerto, outra das características marcantes da
modernidade.
Mas seria unilateral identificar pura e simplesmente a
modernidade com o capitalismo, como o fazem todos aqueles
que parecem supor que uma sociedade se toma “moderna”
quando está plenamente integrada na lógica da atual
globalização capitalista. Contra essa visão, que continua a
empolgar nossos governantes e muitos de nossos intelectuais,
é preciso conceber a modernidade também pelo ângulo da
ampliação e da universalização da cidadania, ou seja, concebê-
la como uma época histórica marcada pela promessa da plena
emancipação do homem de todas as opressões e alienações
de que tem sido vítima, a maioria das quais produzidas e
reproduzidas precisamente pelo capitalismo. Nesse sentido, R. Praia Vermelha
próxima página podemos dizer que as possibilidades que a modernidade abriu Rio de Janeiro

para a humanidade — as generosas promessas de emancipação v.34 n.2


p. 509-529
que ela criou — ainda não foram realizadas.
referências e notas Jul-Dez/2024
Notas sobre Cidadania e Modernidade Portanto, longe de se ter esgotado (como afirmam os “pós- ISSN 1414-9184
Carlos Nelson Coutinho modernos”), ou de se identificar com o capitalismo (como dizem 527 eISSN 1984-669X
os neoliberais), a modernidade continua a ser para nós uma tarefa:
a tarefa de prosseguir no processo de universalização efetiva da v.34 n.2 [2024]
início
cidadania e, em consequência, na luta pela construção de uma
sociedade radicalmente democrática e socialista, na qual — como
página anterior disseram Marx e Engels no Manifesto do Partido Comunista
— “o livre desenvolvimento de cada um é a condição do livre
desenvolvimento de todos”15 .

Notas
1 Transcrição (revista para esta publicação) de conferência
pronunciada na Embratel, com transmissão em rede nacional de
televisão executiva, em 20 de maio de 1994, num ciclo de debates
sobre “Modernidade”. ↑
2 Incluído em T.H. Marshall, Cidadania, classe social e status.
Rio de Janeiro, Zahar, 1967, p.57-114. ↑
3 Cf., sobre isso, a interessante reconstituição histórica de José
Murilo de Carvalho, Desenvolvimiento de la ciudadanéa en Brasil.
México. El Colégio de México — Fondo de Cultura Económica,
1995. ↑
4 Karl Marx, A questão judaica. Rio de Janeiro, Laemmert, 1972. ↑
5 John Locke, Segundo tratado sobre o governo civil
e outros escritos. Petrópolis, Vozes, 1994, p.97 e ss. ↑
6 Claude Lefort, A invenção democrática. Os limites
do totalitarismo. São Paulo, Brasiliense, 1983, p.43 e ss. ↑
7 “Horrorizai-vos [os burgueses] porque queremos abolir a
propriedade privada. Mas, na vossa sociedade, a propriedade
privada está abolida para nove décimos de seus membros. E é
precisamente porque não existe para esses nove décimos que
ela existe para vós. [...l O comunismo não retira de ninguém o
poder de apropriar-se de sua parte dos produtos sociais; apenas
suprime o poder de escravizar o trabalho de outrem por meio
dessa apropriação” (K. Marx e F. Engels, Manifesto do Partido
Comunista, in Id., Obras escolhidas. Rio de Janeiro, Vitória, vol. 1, R. Praia Vermelha
próxima página Rio de Janeiro
1956, p. 38). Também nesse sentido, cf. o sugestivo ensaio de C.B.
v.34 n.2
Macpherson, “Os direitos humanos como direitos de propriedade”,
p. 509-529
in Id., Ascensão e queda da justiça econômica e outros ensaios.
Jul-Dez/2024
Notas sobre Cidadania e Modernidade
São Paulo, Paz e Terra, 1991, p.103-113. ↑ ISSN 1414-9184
Carlos Nelson Coutinho 528 eISSN 1984-669X
8 lmmanuel Kant, La metafísica de las costumbres. Madri,
Tecnos, 1989, p.144-145. ↑ v.34 n.2 [2024]
início
9 Pietro Ingrao, As massas e o poder. Rio de Janeiro, Civilização
Brasileira, 1980, passim. ↑
página anterior
10 Karl Marx, “Manifesto de lançamento da Associação
internacional dos Trabalhadores”, in Marx e Engels, Obras
escolhidas, cit., p.354. ↑
11 Para um eficiente balanço crítico do neoliberalismo, cf.
os textos incluídos em Emir Sader e Pablo Gentili (orgs.), Pós-
neoliberalismo. As políticas sociais e o Estado democrático. Rio
de Janeiro, Paz e Terra, 1995. ↑
12 P. Anderson, “Balanço do neoliberalismo”, in Sader e Gentili
(orgs.), Pós-neoliberalismo, cit., p. 16. ↑
13 Para um mais amplo desenvolvimento dos temas indicados
neste item, bem como para maiores referências bibliográficas,
cf. C.N. Coutinho, Marxismo e política. A dualidade de poderes e
outros ensaios. São Paulo, Cortez, 1996, p.13-69. ↑
14 Nicos Poulantzas, O Estado, o poder, o socialismo.
Rio de Janeiro, Graal, 1980, p. 147. ↑
15 K. Marx e F. Engels, Manifesto, cit., p.43. ↑
Nota dos editores
Texto original conforme publicado em 1997 pela Revista Praia
Vermelha, salvo atualizações: a) de revisão pelo Novo Acordo
Ortográfico da Língua Portuguesa; b) de estilo de grifo —
adotando-se o itálico em vez do negrito — e de capitalização;
e c) da descrição do autor, que constava: “Professor titular do
Departamento de Política Social da ESS/UFRJ. Autor de vários
livros e ensaios, publicou recentemente Marxismo e política. A
dualidade de poderes e outros ensaios (São Paulo, Cortez, 2ª
ed., 1996) e Crítica e utopia em Rousseau (Lua Nova. Revista
de cultura e política, São Paulo, CEDEC, nº38, 1996, pp. 5-30).”. R. Praia Vermelha
Digitalização e preparação do original por Fábio Marinho, Editor Rio de Janeiro
Técnico da Revista Praia Vermelha. v.34 n.2
p. 509-529
Jul-Dez/2024
Notas sobre Cidadania e Modernidade ISSN 1414-9184
Carlos Nelson Coutinho 529 eISSN 1984-669X
Este número da Revista Praia Vermelha
foi diagramado entre janeiro e fevereiro
de 2025 pelo Setor de Publicações e
Coleta de Dados da Escola de Serviço
Social da UFRJ, para difusão online via
Portal de Revistas da UFRJ. Foi utilizada
a fonte Montserrat (Medium 13/17,6pt)
em página de 1366x768pt (1:1,77).

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