A Minha Maçonaria não tem de ser a tua
In necessariis unitas, in dubiis libertas, in
omnibus caritas – ( Unidade nas coisas
necessárias, liberdade nas coisas
duvidosas, caridade em todas as coisas)
Cada um de nós chega à Loja com a sua
história, o seu ritmo, a sua própria música
interior. E embora sigamos a mesma pauta,
o Rito, os Landmarks, os símbolos que nos
unem, a forma como cada um vive a
Maçonaria não será, nem deve ser, igual.
E isso, para mim, não é um problema. É
uma riqueza.
É esta riqueza que prova que a Maçonaria
não é uma linha de montagem de homens
iguais, mas uma oficina onde cada um talha
a sua pedra com ferramentas próprias,
marcando no silêncio o compasso da sua
jornada. Essa diversidade de caminhos
ilumina as mesmas verdades a partir de
ângulos diferentes, revelando detalhes que
um olhar único jamais veria. Se todos
pensássemos igual, a Loja seria um eco
oco.
É no encontro das diferenças que
encontramos novas luzes
A minha forma de estar não é mais certa do
que a de qualquer outro irmão, mas também
não é mais errada. É minha e apenas a
minha. Moldada por experiência, erro,
persistência e sonho. Pode ser diferente,
mas não deixa de caber dentro dos mesmos
princípios que nos sustentam.
Vejo a Loja como um templo vivo, onde a
palavra circula, se debate e se aprimora.
Onde a iniciativa é combustível e a crítica
construtiva é maço e cinzel.
E, tal como valorizo o impulso de inovar,
reconheço também que há práticas que,
justamente por terem resistido ao tempo,
são pilares que devemos preservar. O
segredo está no equilíbrio, mudar o que
precisa de mudança, guardar o que merece
ser guardado.
Com o tempo, aprendi que as ideias têm
destinos tão diversos como as pedras no
leito de um rio. Algumas são acolhidas como
chuva que faz florescer o terreno, outras
são lapidadas pelo debate, ganhando forma
e brilho. Mas há também as que se perdem
à margem, não por falta de valor, mas por
seguirem um curso diferente do habitual. O
desconhecido, por vezes, assusta mais do
que o imperfeito.
É natural que nem todos avancem no
mesmo passo, cada um vive a Maçonaria
na medida da sua entrega e disponibilidade.
O que importa é que, quando caminhamos,
o façamos na mesma direcção.
Acredito que, em Loja, ser Oficial não é um
trono, é um banco de trabalho. O próprio
Ritual lembra que “Oficial” é, simplesmente,
quem tem a seu cargo um serviço, não um
título honorífico ou uma posição de
hierarquia militar. Servir a Oficina é facilitar
o trabalho de todos, não controlar cada
golpe de maço.
A pergunta deve apenas ser: “Isto serve a
Loja e a Ordem?”.
Se servir, a Loja deve trabalhar em
uníssono para lhe dar forma.
Se não servir, ainda assim terá
cumprido a sua função: a de nos ensinar
algo no processo.
Não defendo uma Maçonaria sem forma
nem disciplina, sem elas, o templo cai, mas
também não defendo uma Maçonaria que
confunda unidade com uniformidade, ou
prudência com paralisia. Há quem viva à
sombra do que já foi feito, temendo
qualquer risco. Eu creio que a tradição não
é um cofre onde se guarda o passado, mas
uma tocha que se passa para iluminar o
caminho adiante.
No fim, cada um talha a sua pedra. Não
serão todas iguais, nem precisam ser.
Se a minha Maçonaria não tem de ser a tua,
é porque a nossa é suficientemente vasta
para acolher visões diferentes que, juntas,
se elevam num templo maior do que cada
um de nós.
É a aceitação da imperfeição de todas as
pedras que torna o Templo justo e perfeito
João B., M. M. – R. L. Mestre Affonso
Domingues, nº 5 (GLLP / GLRP)
Fonte
Publicado no Blog “A Partir Pedra”
em 13.09.2025
https://www.freemason.pt/?s=A+Minha
+Ma%C3%A7onaria+n%C3%A3o+tem
+de+ser+a+tua
https://www.freemason.pt/a-minha-
maconaria-nao-tem-de-ser-a-tua/