Construcionismo Social
Abordagem que propõe estudar os processos e artefatos socias como
"produtos historicamente situados de intercâmbios entre pessoas" (GERGEN,
2009). Isso significa que, em vez de entender tais elementos como naturais
ou mesmo "universais", o construcionismo procura compreendê-los a partir
dos contextos sociais, históricos e culturais aos quais os indivíduos e os
grupos estão inseridos.
Além de fazer parte do campo mais amplo da psicologia social, a perspectiva
construcionista também representa, ou pelo menos almeja ser, uma nova
forma de construir conhecimento (ou metateoria), que se constituiría tendo
como base a investigação social e como método a interpretação linguística.
A pesquisa construcionista social ocupa-se principalmente de explicar os
processos pelos quais as pessoas descrevem, explicam, ou, de alguma
forma, dão conta do mundo em que vivem (incluindo-se a si mesmas).
Busca articular formas compartilhadas de entendimento tal como existem
atualmente, como existiram em períodos históricos anteriores, e como
poderão vir a existir se a atenção criativa se dirigir neste sentido.
O movimento do construcionismo social na psicologia moderna, p.
301.
Antecedentes
As principais influências do construcionismo social são as teorias e ideias que
surgiram da crise da psicologia social na segunda metade do século XX, os
movimentos críticos ao empirismo, e as correntes em que predomina a
influência da linguagem na construção da realidade, como o Giro Linguístico.
Con raíces tanto en la propuesta de los interaccionistas simbólicos y de los
representacionistas sociales acerca de la construcción social de la realidad
por un lado; raíces en el carácter histórico de los materialistas y en la
lectura crítica de la sociedad de los frankfurtianos por otro y, en tercer
lugar, raíces en los hermeneutas y linguistas (particularmente Wittgestein)
surge la propuesta construccionista en nuestra disciplina.
Corrientes teóricas en Psicología Social: desde la psicología
experimental hasta el movimiento construccionista, p. 100.
Superação da perspectiva endogênica exogênica
Os empiristas entendem que o conhecimento constitui uma representação
mental que espelha os contornos do mundo como ele realmente é. Por outro
lado, filósofos como Kant, Spinoza, Nietzsche e os fenomenólogos submetem
o conhecimento aos processos endêmicos ao organismo, como suas
tendências inatas de pensar, categorizar e processar informação, que alteram
como o conhecimento se configura. Esses dois pontos de vista são
denominados perspectiva exogênica e endogênica, respectivamente, e
ambos tiveram profunda influência nas teorias psicológicas.
O behaviorismo é exemplo de uma abordagem que parte de uma perspectiva
exogênica, pois as adaptações do organismo devem refletir adequadamente
o meio ambiente para serem bem sucedidas. Por outro lado, a perspectiva
endogênica é representada por algumas teorias como a Gestalt, a
fenomenologia, a psicologia cognitiva e a psicologia social. A preferência por
perspectivas endogênicas não significam, no entanto, que as teorias que as
utilizam fogem completamente do ponto de vista exogênico. A própria
metateoria que constitui o saber científico depende da perspectiva exogênica,
portanto é difícil, se não impossível, abrir mão da ideia que o ser humano é
capaz de apreender a realidade como ela é, e não apenas como ela é
interpretada.
Contradições da psicologia endogênica; O movimento do
construcionismo social na psicologia moderna, p. 309.
O psicólogo experimental, portanto, propõe-se a usar métodos para
estabelecer um conhecimento objetivo sobre os processo cognitivos. Na
medida em que o pesquisador afirma ter atingido uma representação
acurada do mundo (dando apoio, portanto, à perspectiva exogênica),
contrapõe-se à opinião de que o mundo como é representado é mais
importante do que o mundo em si mesmo. Ao buscar uma verdade
objetiva (o que é verdadeiro independentemente da avaliação subjetiva),
o pesquisador cognitivista denigre a importância dos mesmos processos
que tenta elucidar. A base exogênica da atividade científica mina a
validade das teorias endogênicas que estão sob avaliação.
A proposta do Construcionismo Social é ir além do dualismo tradicional entre
sujeito e objeto, representado pela dicotomia entre indivíduo e mundo. O
primeiro passo para essa superação é negar o conhecimento como
representação mental e transitar para sua concepção como interpretação
linguística. Entendendo o conhecimento como algo que parte da linguagem,
que por definição é uma atividade compartilhada, o foco disloca do indivíduo
e a explicação de seus processos para a comunidade e o discurso social.
Implicações para a explicação psicológica
O desafio que o Construcionismo Social coloca à própria natureza do
conhecimento leva a problematização da pesquisa psicológica e dúvidas
quanto ao seu alcance explicativo. As teorias psicológicas deixam de serem
vistas como "fatos sobre a natureza do universo psicológico" e são
localizadas na esfera do discurso social. Dessa forma, questões como a
cognição, percepção, motivação, processamento de informação, gênero,
moralidade, patologia e todos os outros tópicos se tornam conceitos
construídos histórica e culturalmente, valorizados em termos das práticas
sociais nas quais eles funcionam. Desfaz-se a noção de verdade e de
universal, e o conhecimento se torna algo convencionado, sustentado por
processos de comunicação, negociação e conflito que determinam quais
ideias prevalecem na sociedade. As explicações, conceitos e teorias se
tornam elas mesmas uma ação social: passível de análise, diferente entre
culturas, e em constante evolução.
Premissas
Tomás Ibáñez define as principais premissas do Construcionismo Social
como:
Propostas do Construcionismo Social; Corrientes teóricas en
Psicología Social: desde la psicología experimental hasta el
movimiento construccionista, p. 101.
1. El reconocimiento de la naturaleza simbólica de la realidad social:
ello implica que el adjetivo social no puede ser desvinculado del
lenguaje (construcción de significados) y de la cultura. Lo social no
se ubica ni dentro ni fuera de las personas sino entre las personas:
"en el espacio de significados del que participan o que construyen
conjuntamente";
2. El reconocimiento de la natureza histórica de la realidade social: lo
que las prácticas sociales son en un momento dado es indisociable
de la historia de su producción; por outra parte, la propia historicidad
de la realidad le asigna un carácter procesual, por lo que no se
puede separar proceso y producto;
3. Reconocimiento de la importancia que reviste el proceso y el
fenómeno de la 'reflexividad': "es porque el sujeto es capaz de
tomarse a si mismo como objeto de análisis por lo que puede
constituirse un mundo de significados compartidos y un espacio
intersubjetivo sin los cuales la dimensión social no podría
constituirse como tal";
4. Reconocimiento de la 'Agencia' humana: es decir del carácter
intencional de las acciones y de la relativa autodeterminación de las
mismas por el propio agente que las produce;
5. Reconocimiento del carácter dialéctico de la realidade social: ello
implica el carácter relacional y procesual de los fenómenos sociales
y la impossibildad de separar individuo y sociedad, ambos se
constituyen recíprocamente. Los fenómenos sociales no están
constituidos, se encuentra en un proceso de constante devenir;
6. Reconocimiento de la adecuación de la perspectiva construccionista
para dar cuenta de la realidad social: "la asunción del punto de vista
construccionista exige una actitud de duda metódica ante cualquier
atribución de realidade a los fenômenos u objetos cuya existencia
parece estar sólidamente acuñada en nuestro lenguaje".
Críticas
Os postulados do Construcionismo Social implicam em certo relativismo
moral, pois ele não oferece "a verdade através do método", devido a falta
de definições e conceitos objetivos e universais. Se nada realmente
existe fora dos limites inscritos pela linguagem, então a própria
concepção de verdade não passa de uma ferramenta utilizada para
valorizar uma posição em detrimento de outra.
Como outras abordagens com foco na linguística, o Construcionismo
Social não admite a "consciência" como componente da realidade
humana, o que traz questionamentos sobre o que nos torna únicos e se
a subjetividade individual realmente existe.
A negação de um conhecimento objetivo, individualista e a-histórico
desafia todo o trabalho feito pela ciência contemporânea, o que
representa uma realidade difícil de se aceitar para a maioria dos
cientistas.
Referências
Gergen, Kenneth J. (2009). O movimento do construcionismo social na
psicologia moderna. Revista Internacional Interdisciplinar INTERthesis,
6(1), pp. 299-325.
Rodríguez, M.A.B. (1997). Del modernismo al postmodernismo: el
movimiento construccionista. In: Corrientes teóricas en Psicología Social:
desde la psicología experimental hasta el movimiento construccionista.
Caracas: UCV, p. 97-102.