Nussbaum (2003) - Capabilities As Fundamental Entitlements PT
Nussbaum (2003) - Capabilities As Fundamental Entitlements PT
C A P A C ID A D E S COMO FUNDAMENTAIS
E N T I T LEM EN TO S : SEN E JUSTIÇA SOCIAL
Martha C. Nussbaum
RESUMO
Amartya Sen deu um importante contributo para a teoria da justiça social, e da
justiça de género, ao defender que as capacidades são o espaço de comparação
relevante quando se consideram questões relacionadas com a justiça. Este
artigo apoia a ideia de Sen, argumentando que as capacidades fornecem uma
orientação superior à da utilidade e dos recursos (os oponentes conhecidos da
perspetiva), mas também à da tradição do contrato social e, pelo menos, a
algumas concepções de direitos humanos. Mas eu defendo que as capacidades
podem ajudar-nos a construir uma conceção normativa da justiça social, com
potencial crítico para as questões de género, apenas se especificarmos um conjunto
definido de capacidades como as mais importantes a proteger. A "perspetiva de
liberdade" de Sen é demasiado vaga. Algumas liberdades l i m i t a m outras;
algumas liberdades são importantes, outras triviais, algumas boas e outras
positivamente más. Antes de a abordagem poder oferecer uma perspetiva de
género normativa valiosa, temos de assumir compromissos quanto à
substância.
PALAVRAS-CHAVE
Amartya Sen, capacidades, justiça, género, direitos humanos, contrato social
34
AS CA PACI DADE S COMO DIREITOS
F UN D A MEN
saúde, educação, TAI S
mobilidade, participação política e outros. As
preferências actuais das mulheres revelam frequentemente distorções que
são o resultado de condições de fundo injustas. E a capacidade de ação e
a liberdade são objectivos particularmente importantes para as mulheres,
que têm sido frequentemente tratadas como dependentes passivas. Esta
linha de argumentação tem
35
ARTIGOS
36
AS CA PACI DADE S COMO DIREITOS
F UNoDfamoso
para citar A MEN TAI S
exemplo de Sen, uma pessoa numa cadeira de rodas
necessitará de mais recursos relacionados com a mobilidade do que uma
pessoa com mobilidade "normal", se ambas quiserem atingir um nível
semelhante de capacidade de deslocação (Amartya Sen 1980).4 Os
argumentos de Sen sobre a igualdade parecem ter a seguinte relação com as
questões de justiça social e de política pública: na medida em que uma
sociedade valoriza a igualdade das pessoas e a tem como um dos seus
objectivos sociais, a igualdade
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ARTIGOS
38
AS CA PACI DADE S COMO DIREITOS
F UN D
filosófico para A MEN TAIconstitucionais
princípios S básicos.
Tanto Sen como eu relacionamos a abordagem das capacidades com a
ideia de direitos humanos e, em Martha Nussbaum (2001a: Cap. 1), descrevi a
relação entre as duas ideias com algum pormenor (ver também Martha
Nussbaum 1997). A abordagem dos direitos humanos tem sido
frequentemente
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ARTIGOS
criticado pelas feministas por ser centrado nos homens e por não incluir
como direitos fundamentais algumas capacidades e oportunidades que
são fundamentais para as mulheres na sua luta pela igualdade entre os
sexos. Elas propuseram acrescentar aos documentos internacionais de
direitos direitos como o direito à integridade física, o direito de não
sofrer violência em casa e o direito de não sofrer assédio sexual no local
de trabalho. A minha lista de capacidades incorpora explicitamente essa
proposta, e a de Sen parece fazê-lo implicitamente.8 Mas as razões teóricas
para complementar a linguagem dos direitos com a linguagem das
capacidades continuam a exigir comentários.
As capacidades, diria eu, estão intimamente ligadas aos direitos, mas a
linguagem das capacidades dá uma precisão e um complemento
importantes à linguagem dos direitos. A ideia de direitos humanos não é,
de modo algum, uma ideia cristalina. Os direitos têm sido entendidos de
muitas formas diferentes e as questões teóricas difíceis são
frequentemente obscurecidas pela utilização da linguagem dos direitos,
que pode dar a ilusão de acordo quando existe um profundo desacordo
filosófico. As pessoas divergem quanto à base de uma reivindicação de
direitos: a racionalidade, a senciência e a mera vida têm tido os seus
defensores. Também divergem sobre se os direitos são pré-políticos ou
artefactos de leis e instituições. Divergem quanto ao facto de os direitos
pertencerem apenas a pessoas individuais ou também a grupos.
Divergem quanto à questão de saber se os direitos devem ser considerados
como restrições laterais à ação de promoção de objectivos, ou antes como uma
parte do objetivo social que está a ser promovido. Divergem, mais uma
vez, quanto à relação entre direitos e deveres: se A tem direito a S, isso
significa que há sempre alguém que tem o dever de fornecer S, e como
devemos decidir quem é esse alguém? Por último, divergem quanto aos direitos
que devem ser entendidos como direitos a. Serão os direitos humanos,
antes de mais, direitos a serem tratados de determinadas formas? Direitos
a um determinado nível de bem-estar alcançado? Direitos a recursos com
os quais se pode prosseguir o seu projeto de vida? Direitos a certas
oportunidades e capacidades com as quais se pode fazer escolhas sobre o
seu projeto de vida?
A abordagem das capacidades tem a vantagem de tomar posições
claras sobre estas questões controversas, ao mesmo tempo que afirma
claramente quais são as preocupações motivadoras e qual é o objetivo. A
relação entre as duas noções, no entanto, precisa de ser mais bem
analisada, dado o domínio da linguagem dos direitos no feminismo
internacional.
No que respeita aos direitos fundamentais, defendo que a melhor forma de
pensar sobre o que é garanti-los às pessoas é pensar em termos de
capacidades. O direito à participação política, o direito ao livre exercício
da religião, o direito à liberdade de expressão - estes e outros são todos
40
AS CA PACI DADE S COMO DIREITOS
F UN D A MEN
melhor pensados TAI Sgarantidos às pessoas apenas quando as
como
capacidades relevantes para funcionar estão presentes. Por outras
palavras, garantir um direito aos cidadãos nestes domínios é colocá-los
numa posição de capacidade para funcionar nesse domínio. Na medida
em que os direitos são utilizados para definir a justiça social, não devemos
considerar que a sociedade é justa a menos que as capacidades tenham sido
efetivamente alcançadas. É claro que as pessoas podem ter uma
41
ARTIGOS
direito pré-político a um bom tratamento neste domínio que ainda não foi
reconhecido ou implementado; ou pode ser reconhecido formalmente e
ainda não implementado. Mas ao definirmos a garantia dos direitos em termos
de capacidades, tornamos claro que um povo no país C não tem realmente
um direito efetivo à participação política, por exemplo, um direito no
sentido que importa para julgar que a sociedade é justa, simplesmente porque
esta linguagem existe no papel: só lhe foi realmente dado um direito se
houver medidas efectivas para tornar as pessoas verdadeiramente
capazes de exercício político. Em muitos países, as mulheres têm um direito
nominal de participação política sem terem esse direito no sentido de
capacidade: por exemplo, podem ser ameaçadas de violência se saírem
de casa. Em suma, pensar em termos de capacidade dá-nos um ponto de
referência quando pensamos no que é realmente garantir um direito a alguém.
Torna claro que isto implica um apoio material e institucional afirmativo,
e não simplesmente a ausência de impedimento.
Vemos aqui uma grande vantagem da abordagem das capacidades em
relação aos entendimentos dos direitos - muito influentes e generalizados - que
derivam da tradição dentro do liberalismo que é agora chamada "neoliberal",
para a qual a ideia-chave é a da "liberdade negativa". Muitas vezes, os direitos
fundamentais têm sido entendidos como proibições contra a interferência
da ação do Estado e, se o Estado se mantiver afastado, considera-se que
esses direitos estão garantidos; o Estado não tem mais nenhuma tarefa
afirmativa. De facto, a Constituição dos EUA sugere diretamente esta
conceção: predomina a fraseologia negativa relativa à ação do Estado,
como na Primeira Emenda: "O Congresso não fará nenhuma lei que
respeite um estabelecimento de religião, ou que proíba o seu livre
exercício; ou que restrinja a liberdade de expressão ou de imprensa; ou o
direito do povo de se reunir pacificamente e de apresentar petições ao
Governo para a reparação de queixas". Do mesmo modo, as garantias
importantes da Décima Quarta Emenda também são enunciadas em
termos do que o Estado não pode fazer: "Nenhum Estado fará ou aplicará
qualquer lei que restrinja os privilégios ou imunidades dos cidadãos dos
Estados Unidos; nem qualquer Estado privará qualquer pessoa da vida,
liberdade ou propriedade, sem o devido processo legal; nem negará a
qualquer pessoa dentro da sua jurisdição a igual proteção das leis". Esta
fraseologia, que deriva da tradição iluminista da liberdade negativa, deixa
notoriamente indeterminado se os impedimentos fornecidos pelo mercado ou
por actores privados devem ser considerados violações dos direitos
fundamentais dos cidadãos (Martha Nussbaum, no prelo, a).
A Constituição indiana, pelo contrário, especifica tipicamente os direitos
de forma afirmativa.9 Assim, por exemplo: "Todos os cidadãos têm o direito
à liberdade de expressão; de se reunirem pacificamente e sem armas; de
formarem associações ou sindicatos; . . . [. etc.]" (art. 19.º). Estas locuções
têm sido geralmente entendidas como implicando que os impedimentos
42
AS CA PACI DADE S COMO DIREITOS
fornecidos Fpor
UN Dactores
A MEN TAI
nãoS estatais também podem ser considerados como
violadores dos direitos constitucionais. Além disso, a Constituição indiana é
bastante explícita quanto ao facto de os programas de ação afirmativa para
ajudar as castas inferiores e as mulheres não só não serem incompatíveis
com
43
ARTIGOS
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AS CA PACI DADE S COMO DIREITOS
justificadas F UN
e D Aurgentes
MEN TAI S a certos tipos de tratamento urgente,
independentemente do que o mundo à sua volta tenha feito a esse respeito.
Importa a ideia de uma reivindicação urgente baseada na justiça. Isto é
particularmente importante para as mulheres, que podem não ter direitos
políticos. No entanto, a abordagem das capacidades pode tornar isto
45
ARTIGOS
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AS CA PACI DADE S COMO DIREITOS
F UN D A MEN
(Martha Nussbaum TAI S (É claro que alguém pode achar que uma ou
2001b).
mais capacidades da minha lista não devem gozar deste estatuto central, mas
nesse caso estará a divergir comigo sobre o que deve constar da lista e não
sobre o projeto mais geral de utilizar uma lista para definir uma conceção
mínima de justiça social).
47
ARTIGOS
5. Emoções. Ser capaz de ter apegos a coisas e pessoas fora de nós; amar
aqueles que nos amam e cuidam de nós, lamentar a sua ausência; em geral,
amar, lamentar, sentir saudade, gratidão e raiva justificada. Não ter o seu
desenvolvimento emocional afetado pelo medo e pela ansiedade. (Apoiar
esta capacidade significa apoiar formas de associação humana que
podem ser demonstradas como cruciais para o seu desenvolvimento).
7. Filiação.
A. Ser capaz de viver com e para os outros, de reconhecer e de se
48
AS CA PACI DADE S COMO DIREITOS
F UN os
preocupar com D Aoutros
MEN TAI S
seres humanos, de se envolver em várias formas
de interação social; ser capaz de imaginar a situação dos outros.
(Proteger este
49
ARTIGOS
50
AS CA PACI DADE S COMO DIREITOS
introduzidaF UN D A MEN
apenas paraTAI S políticos e sem qualquer fundamento em ideias
fins
metafísicas do tipo que divide as pessoas em função da cultura e da
religião.12 Como diz Rawls: podemos ver esta lista como um " módulo" que
pode ser adotado por
51
ARTIGOS
52
AS CA PACI DADE S COMO DIREITOS
F UN D Humano
Desenvolvimento A MEN TAImostra-o
S claramente a apoiar um grupo de
capacidades relacionadas com a saúde e a educação como a forma
adequada de medir a qualidade de vida nas nações.
53
ARTIGOS
Por outro lado, Sen recusou-se claramente a apoiar qualquer descrição das
capacidades centrais. Assim, os exemplos acima mencionados
permanecem no limbo: são claramente exemplos de algumas coisas que Sen
considera muito importantes, mas não é claro até que ponto está preparado para
as recomendar como objectivos importantes para todas as pessoas do mundo,
objectivos ligados à própria ideia de justiça social. E também não é claro se
existem outras capacidades não mencionadas com tanta frequência que
possam ser igualmente importantes e, em caso afirmativo, quais seriam
essas capacidades. A razão para isto parece ser o seu respeito pela
deliberação democrática.15 Considera que as pessoas devem ser
autorizadas a resolver estas questões por si próprias. É claro que, como disse
acima, eu também penso assim, no sentido da implementação. Mas Sen vai mais
longe, sugerindo que a democracia é inibida pela aprovação de um conjunto
de direitos centrais no debate político internacional, como quando as
feministas insistem em certos requisitos de justiça de género nos
documentos e deliberações internacionais.
Em Desenvolvimento como Liberdade, as coisas tornam-se, creio eu, ainda
mais problemáticas. Com efeito, Sen fala ao longo de toda a obra da
"perspetiva da liberdade" e utiliza u m a linguagem que sugere, uma e outra
vez, que a liberdade é um bem social geral e polivalente, e que as
capacidades devem ser vistas como instâncias deste bem mais geral da
liberdade humana. Esta visão não é incompatível com a classificação de
algumas liberdades à frente de outras para fins políticos, é claro. Mas parece
ir numa direção problemática.
Em primeiro lugar, não é claro se a ideia de promover a liberdade é
sequer um projeto político coerente. Algumas liberdades limitam outras. A
liberdade dos ricos de fazerem grandes donativos para campanhas
políticas limita a igualdade de valor do direito de voto. A liberdade das
empresas de poluírem o ambiente limita a liberdade dos cidadãos de
usufruírem de um ambiente não poluído. A liberdade dos proprietários
de terras de manterem as suas terras limita os projectos de reforma
agrária que podem ser considerados centrais para muitas liberdades dos
pobres. E assim por diante. Obviamente, estas liberdades não estão entre
as que Sen considera, mas ele não diz nada para limitar a conta da
liberdade ou para excluir conflitos deste tipo. De facto, podemos ir mais
longe: qualquer liberdade particular envolve a ideia de constrangimento:
a pessoa P só é livre de realizar a ação A se as outras pessoas não
puderem interferir com A.16
Além disso, mesmo que houvesse um projeto coerente que
considerasse todas as liberdades como objectivos sociais desejáveis, não
é de todo claro que este seja o tipo de projeto que alguém com as visões
políticas e éticas de Sen deva apoiar. Os exemplos que acabo de dar
mostram-nos que qualquer projeto político que pretenda proteger o valor
igual de certas liberdades básicas para os pobres e melhorar as suas
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AS CA PACI DADE S COMO DIREITOS
condições Fde
UNvida
D A MEN
temTAI
deS dizer claramente que algumas liberdades são
fundamentais para fins políticos e outras não. Algumas liberdades
implicam direitos sociais básicos e outras não. Algumas estão no centro
de uma visão de justiça política e outras não. Entre as que não estão no
centro, algumas são simplesmente menos importantes, mas outras podem
ser positivamente más.
55
ARTIGOS
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AS CA PACI DADE S COMO DIREITOS
conduziremF UNsemD Acapacete,
MEN TAI Suma sociedade pode dizer: "Estas liberdades
não são muito importantes; não são nem muito más nem muito boas. Não
estão implícitas na nossa conceção de justiça social, mas também não a
subvertem.
Por outras palavras, todas as sociedades que perseguem uma conceção
política razoavelmente justa têm de avaliar as liberdades humanas, dizendo
que algumas são centrais e outras triviais, algumas boas e outras ativamente
más. Esta avaliação também
57
ARTIGOS
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AS CA PACI DADE S COMO DIREITOS
F UN Dou
justiça básica A MEN
nãoTAI S Se tem uma, temos de saber qual é o seu
tem.
conteúdo e quais as oportunidades e liberdades que considera serem
direitos fundamentais de todos os cidadãos. Não se pode ter uma
conceção de justiça social que diga, simplesmente, "todos os cidadãos
têm direito à liberdade entendida como capacidade". Para além de ser errado e
enganador em
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ARTIGOS
60
AS CA PACI DADE S COMO DIREITOS
deficiências Fna
UNrealidade
D A MEN TAI
deSvárias formas. Toda a carreira de Sen tem sido
dedicada a desenvolver normas de justiça exatamente desta forma e a
confrontá-las com a realidade para produzir críticas valiosas. Parece-me que
o seu empenhamento no pensamento normativo sobre a justiça exige a
aprovação de um conteúdo definido. Não se pode dizer: "Sou a favor da
justiça, mas qualquer conceção de justiça que surja
61
ARTIGOS
não me importo de o fazer". Além disso, é claro que Sen não diz isso. Ele é
um pensador radical, que tomou uma posição definitiva em muitas matérias,
incluindo as questões da igualdade entre os sexos. Nunca teve medo de ser
claro quando a misoginia está em marcha, ou de fornecer uma explicação
bastante clara da razão pela qual muitas sociedades são defeituosas. Por isso, é
um pouco misterioso para mim porque é que ele se moveu recentemente na
direção de apoiar a liberdade como um bem geral. Certamente que não há tal
recuo nas suas políticas práticas relativamente às mulheres. Em escritos
recentes, como "As muitas faces da misoginia", ele é extremamente definido
sobre o que é justo e injusto nas leis e instituições, e pode-se deduzir da sua
crítica uma rica descrição dos direitos humanos fundamentais (Amartya Sen
2001). Mas, nesse caso, parece que ele não pode de facto acreditar que o
conteúdo de uma descrição dos direitos fundamentais deva ser deixado ao
acaso.
Este tipo de abandono é ainda mais perigoso quando estamos a confrontar-
nos com as questões das mulheres. É óbvio que muitas concepções
tradicionais de justiça social e de direitos fundamentais tornaram as
mulheres cidadãs de segunda classe, se é que são de facto cidadãs. As
liberdades, as oportunidades, os direitos de propriedade e os direitos
políticos das mulheres têm sido interpretados como desiguais dos dos
homens, e isto tem sido considerado como uma situação justa. As narrativas
tradicionais de justiça também não têm dado qualquer atenção a questões
que são particularmente urgentes para as mulheres, tais como as questões da
integridade corporal, o assédio sexual e, como a minha próxima secção
descreverá, a questão do apoio público à prestação de cuidados a crianças,
deficientes e idosos.
Alguns apoiantes de uma abordagem das capacidades poderão ter
relutância em aprovar uma lista devido a preocupações com o pluralismo.17
Mas aqui podemos fazer duas observações que dizem respeito
especificamente à norma de respeito pelo pluralismo. Em primeiro lugar, o
próprio valor do respeito pelo pluralismo exige um compromisso com
alguns princípios transculturais como direitos fundamentais. O verdadeiro
respeito pelo pluralismo significa uma proteção forte e inabalável da
liberdade religiosa, da liberdade de associação e da liberdade de expressão.
Se dissermos que somos a favor do pluralismo e, no entanto, nos recusarmos
a comprometermo-nos com a inegociabilidade destes itens como elementos
fundamentais de uma ordem política justa, mostramos que estamos
realmente indiferentes ao pluralismo.
Estou certo de que Sen concordaria com isto. Estou certo, também, de que
ele diria o mesmo sobre outros itens da minha lista, como a saúde e a
educação: se uma nação diz que são para as capacidades humanas, mas se
recusa a dar-lhes proteção especial a todos os cidadãos, invocando razões de
pluralismo cultural ou religioso, Sen dirá certamente que não está a
apresentar um bom argumento, ou a dar uma verdadeira proteção ao
62
AS CA PACI DADE S COMO DIREITOS
pluralismo.F UN
EmD A MEN
vez TAI Sestão, muitas vezes, a negar às pessoas (muitas
disso,
vezes, às mulheres em particular) a oportunidade de descobrirem qual a
cultura e a forma de vida que realmente querem. Por isso, na verdade, estão
a restringir o tipo de pluralismo mais significativo, que requer ter uma vida
própria e algumas escolhas em relação a ela. E esse objetivo exige
certamente um certo nível de saúde e educação básicas.
63
ARTIGOS
Mas, nesse caso, estamos ambos, de facto, a fazer uma lista desses
direitos, e a única questão que se coloca é a de saber o que deve constar
dessa lista e qual a sua extensão. O segundo argumento deriva da ideia
rawlsiana de liberalismo político, e não estou certo de que Sen o
subscreveria. O argumento diz que o liberalismo clássico errou ao apoiar a
liberdade ou a autonomia como um bem geral na vida humana. Tanto os
liberais mais antigos, como John Stuart Mill, como os liberais modernos e
abrangentes, como Joseph Raz, defendem que a autonomia e a liberdade de
escolha são ingredientes essenciais para uma vida humana valiosa e que a
sociedade tem o direito de promover a liberdade em todos os domínios.
Rawls, e eu com ele, defendemos que este apoio geral à liberdade revela um
respeito deficiente pelos cidadãos cujas concepções abrangentes da vida
humana boa não fazem da liberdade e da autonomia valores humanos
centrais. As pessoas que pertencem a uma religião autoritária não podem
concordar com Raz ou Mill em que a autonomia é uma coisa boa em geral.
Mill responde, no Capítulo 3 de On Liberty, denegrindo essas pessoas (ele
entende que os calvinistas são essas pessoas) (John Stuart Mill 1859).
Presumivelmente, o Estado milenar também as denegriria e conceberia a
educação e outras instituições para as desfavorecer, embora as suas
liberdades civis não fossem restringidas. Rawls e eu concordamos que esta
estratégia revela um respeito deficiente por um pluralismo razoável de
diferentes concepções abrangentes da vida boa. Devemos respeitar as
pessoas que preferem uma vida no seio de uma religião (ou relação pessoal)
autoritária, desde que certas
as oportunidades de base e as opções de saída estão firmemente garantidas.
Considero que este respeito pelo pluralismo é fomentado tanto por fazer
da capacidade, e não do funcionamento, o objetivo político adequado,
c o m o por aprovar uma lista relativamente pequena de capacidades essenciais
para fins políticos. Assim, dizemos duas coisas aos cidadãos religiosos.
Dizemos, em primeiro lugar, que a aprovação da lista de capacidades não
exige que eles aprovem o funcionamento associado como um bem nas suas
próprias vidas, um ponto que salientei anteriormente nesta secção. E
dizemos, em segundo lugar, que o próprio facto de ser uma lista curta
mostra que lhes estamos a deixar muita margem para valorizarem outras
coisas ao traçarem o seu plano de vida. Não lhes pedimos que apoiem a
liberdade como um bem geral - como pode parecer que estamos a fazer se
falarmos muito de liberdade mas não fizermos uma lista. Em vez disso,
pedimos-lhes apenas que aprovem esta pequena lista de liberdades (como
capacidades) para fins políticos e como aplicável a todos os cidadãos.
Depois, podem continuar a viver a vida que preferirem. A expetativa é que
um cidadão católico romano, por exemplo, possa subscrever esta pequena
lista de liberdades fundamentais para fins políticos, sem sentir que a sua
visão da autoridade da Igreja e do seu papel decisivo na sua vida está a ser
denegrida. Mesmo um c i d a d ã o Amish, que acredita que toda a
64
AS CA PACI DADE S COMO DIREITOS
F UN
participação naDvida
A MEN TAI S é simplesmente errada, pode continuar a sentir
pública
que n ã o há problema em apoiar a lista de capacidades para fins políticos,
porque nenhum apoio geral à autonomia como um fim lhe diz que a sua vida
tem menos valor do que outras vidas. E, como defendi em Nussbaum
(2000a: Capítulos 1 e 3), mesmo uma mulher que acredite que a reclusão das
mulheres é correcta pode subscrever este pequeno menu de liberdades e
oportunidades para todas as mulheres, embora ela própria use poucas
65
ARTIGOS
e sentirá que a conceção é uma conceção que a respeita, porque não anuncia
que só as vidas autónomas valem a pena. Não tenho a certeza se Sen é, neste
sentido, um liberal abrangente como Raz, ou um liberal político como Rawls
e eu. Mas, na medida em que considera persuasivos os argumentos de Rawls
a este respeito, tem ainda mais uma razão para apoiar uma lista definida e
relativamente circunscrita de capacidades como políticas
objectivos, em vez de enaltecer a liberdade como um bem social geral.
A questão de como enquadrar uma tal lista, e o que colocar nela, é
certamente uma questão difícil, em muitos aspectos. Mas eu defendi que não
há forma de fazer avançar a abordagem das capacidades, tornando-a
realmente produtiva para o pensamento político sobre a justiça social básica,
sem enfrentar esta questão e dar-lhe a melhor resposta possível.
66
AS CA PACI DADE S COMO DIREITOS
comparandoF UN
asD A MEN TAI S com os bens primários rawlsianos em vários
capacidades
pontos e apoiando a ideia de um consenso sobreposto (Nussbaum 2000a:
Cap. 1). Tanto Sen como eu defendemos que a teoria de Rawls seria mais
capaz de dar uma visão geral da questão das capacidades.
67
ARTIGOS
68
AS CA PACI DADE S COMO DIREITOS
F UN D Aseres
no fundo, somos MEN TAI S
divididos, tanto pessoas racionais como animais
que habitam o mundo da natureza, nunca deixa de influenciar o modo de pensar
de Kant sobre a forma como estas deliberações irão decorrer.
O que é que está errado com a separação? Muitos. Em primeiro lugar,
ignora o facto de a nossa dignidade ser apenas a dignidade de um certo tipo
de animal. É uma dignidade animal, e essa mesma dignidade não poderia ser
possuída por um ser que
69
ARTIGOS
não era mortal e vulnerável, tal como a beleza de uma cerejeira em flor
não podia ser possuída por um diamante. Em segundo lugar, a cisão nega
erradamente que a animalidade possa ter, ela própria, uma dignidade;
assim, leva-nos a negligenciar aspectos da nossa própria vida que têm
valor e a distorcer a nossa relação com os outros animais.22 Em terceiro
lugar, leva-nos a pensar no nosso âmago como autossuficiente, não
necessitando dos dons da fortuna; ao pensarmos assim, distorcemos
grandemente a natureza da nossa própria moralidade e racionalidade, que são
totalmente materiais e animais; aprendemos a ignorar o facto de que a
doença, a velhice e o acidente podem impedir as funções morais e
racionais, tanto quanto as outras funções animais. Em quarto lugar, faz-
nos pensar em nós próprios como a-temporais. Esquecemos que o ciclo
de vida humano habitual comporta períodos de extrema dependência, nos
quais o nosso funcionamento é muito semelhante ao dos deficientes
mentais ou físicos ao longo da vida. O pensamento feminista reconheceu
estes factos sobre a vida humana de forma mais proeminente, p e l o
m e n o s , do que a maioria dos outros pensamentos políticos e morais.
O pensamento político na tradição kantiana do contrato social (para me
cingir à parte da tradição que considero mais profunda e apelativa) sofre
com a conceção da pessoa com que começa. As partes contratantes de Rawls
estão plenamente conscientes da sua necessidade de bens materiais. Neste ponto,
Rawls diverge de Kant, integrando a necessidade nos fundamentos da
teoria. Mas fá-lo apenas até certo ponto: as partes são sempre imaginadas
como adultos contratantes competentes, com necessidades
aproximadamente semelhantes e capazes de um nível de cooperação
social que os torna capazes de celebrar um contrato com outros. Esta
hipótese parece ser exigida pela própria ideia de um contrato para
benefício mútuo.
Ao conceber as pessoas desta forma, Rawls omite explicitamente da
situação de escolha política básica as formas mais extremas de necessidade e
dependência que os seres humanos podem experimentar. O seu próprio
conceito de cooperação social baseia-se na ideia de reciprocidade entre
iguais aproximados, e não tem lugar explícito para relações de dependência
extrema. Assim, por exemplo, Rawls recusa-se a admitir que tenhamos
quaisquer deveres de justiça para com os animais, com base no facto de
estes não serem capazes de reciprocidade (TJ 17, 504 - 5); devem-lhes
"compaixão e humanidade", mas "estão fora do âmbito da teoria da justiça, e
não parece possível alargar a doutrina do contrato de modo a incluí-los de
uma forma natural" (TJ 512). Isto faz uma grande diferença na sua teoria da
distribuição política. Pois a sua descrição dos bens primários, introduzida,
tal como está, como uma descrição das necessidades dos cidadãos que são
caracterizados pelos dois poderes morais e pela capacidade de serem
"totalmente cooperantes", não tem lugar para a necessidade de muitas
pessoas reais do tipo de cuidados que damos às pessoas que não são
70
AS CA PACI DADE S COMO DIREITOS
F UN (ver
independentes D A MEN
EvaTAI S
Kittay 1999).
É claro que Rawls está perfeitamente consciente de que a sua teoria se
centra nalguns casos e deixa outros de lado. Insiste que, embora a
necessidade de cuidados para pessoas que não são independentes seja "uma
questão prática premente", pode ser razoavelmente adiada para a fase
legislativa, depois de as instituições políticas básicas terem sido concebidas:
71
ARTIGOS
Esta resposta parece-me insuficiente. Cuidar das crianças, dos idosos e dos
deficientes físicos e mentais é uma parte importante do trabalho que tem de
ser feito em qualquer sociedade e, na maioria das sociedades, é uma fonte de
grande injustiça. Qualquer teoria da justiça deve refletir sobre o problema
desde o início, na conceção do nível mais básico das instituições e, em
particular, na sua teoria dos bens primários.23
O que é que se pode fazer, então, para dar ao problema dos cuidados e da
dependência uma importância suficiente numa teoria da justiça? A primeira
coisa que podemos tentar, e que foi sugerida por Eva Kittay no seu excelente
livro, é acrescentar a necessidade de cuidados durante períodos de
dependência extrema e assimétrica à lista rawlsiana de bens primários,
pensando nos cuidados como uma das necessidades básicas dos cidadãos.
Esta sugestão, se a adoptarmos, levar-nos-á a fazer outra modificação: os
cuidados não são um bem, como o rendimento e a riqueza, que se possa
medir pela quantidade que os cidadãos possuem. Como Sen já sugeriu há
muito tempo (ver secção I supra), faríamos bem em entender toda a lista de
bens primários como uma lista - não de coisas, mas de capacidades centrais.
Esta mudança não só nos permitiria lidar melhor com as necessidades das
pessoas em relação a vários tipos de amor e cuidados como elementos da
lista, mas também responderia à questão que Sen tem repetidamente
defendido desde o início sobre a falta de fiabilidade do rendimento e da
riqueza como índices de bem-estar. O bem-estar dos cidadãos passa a ser
medido não pela quantidade de rendimento e riqueza que possuem, mas pelo
grau em que possuem as várias capacidades da lista. Uma mulher pode estar
tão bem como o seu marido em termos de rendimento e riqueza e, no
entanto, ser incapaz de funcionar bem no local de trabalho, devido ao peso
da prestação de cuidados em casa (ver Joan Williams 2000).
Se aceitássemos estas duas alterações, acrescentaríamos certamente uma
72
AS CA PACI DADE S COMO DIREITOS
F UN D Apara
terceira, relevante MEN TAI
as Snossas reflexões sobre a infância e a velhice.
Acrescentaríamos outros itens semelhantes a capacidades à lista de bens
básicos: por exemplo, a base social da saúde, condições de trabalho
adequadas e a base social da imaginação e do bem-estar emocional, itens
que figuram na minha lista (Nussbaum 2000a: C a p . 1).
73
ARTIGOS
74
AS CA PACI DADE S COMO DIREITOS
F UN D A MEN
disponibilidade seráTAI S
a medida do bem-estar. Esta conceção da pessoa, que
inclui o crescimento e o declínio n a trajetória da vida humana, colocar-
nos-á no caminho para pensar bem sobre o que a sociedade deve conceber.
Não t e m o s de contratar aquilo de que necessitamos através da produção;
temos uma reivindicação de apoio na dignidade da nossa necessidade
humana
75
ARTIGOS
própria. Uma vez que não se trata apenas de uma ideia aristotélica, mas sim
de uma ideia que corresponde à experiência humana, há boas razões para
pensar que pode obter um consenso político numa sociedade pluralista. Se
começarmos com esta conceção da pessoa e com uma lista adequada das
capacidades centrais como bens primários, podemos começar a conceber
instituições perguntando o que seria necessário para que os cidadãos
atingissem um nível aceitável em todas estas capacidades. Embora Sen se
abstenha de especificar uma conceção política da pessoa, creio que esta
sugestão está em perfeita sintonia com as suas ideias.
Em Mulheres e Desenvolvimento Humano, proponho que a ideia de
capacidades humanas centrais seja utilizada como análogo dos bens primários
rawlsianos e que a conceção política orientadora da pessoa seja uma
conceção aristotélica/marxiana do ser humano como necessitando de
uma pluralidade rica de actividades de vida, a ser moldada tanto pela
razão prática como pela afiliação (Nussbaum 2000a: cap. 1). Defendo
que estas concepções interligadas podem constituir o núcleo de uma
conceção política que é uma forma de liberalismo político, próxima da de
Rawls em muitos aspectos. O núcleo da conceção política é apoiado apenas
para fins políticos, dando aos cidadãos um grande espaço para
prosseguirem as suas próprias concepções abrangentes de valor, sejam
elas seculares ou religiosas. No entanto, é garantido mais espaço para um
pluralismo razoável nas concepções do bem, insistindo que o objetivo
político adequado é apenas a capacidade: os cidadãos devem ter a opção,
em cada área, de funcionar de acordo com uma determinada capacidade
ou de não funcionar. Para garantir uma capacidade a um cidadão, não
basta criar uma esfera de não interferência: a conceção pública deve
conceber o ambiente material e institucional de modo a que este
proporcione o apoio afirmativo necessário a todas as capacidades
relevantes. Assim, a prestação de cuidados às necessidades de
dependência física e mental entrará na conceção em muitos pontos, como
parte do que é necessário para garantir aos cidadãos uma das capacidades
da lista.
Embora Sen não tenha comentado explicitamente as questões da
d e f i c i ê n c i a mental e da senilidade, creio que o ponto de vista que acabei de
traçar está em perfeita sintonia com a sua ênfase na liberdade como
objetivo. Vemos, então, mais uma vez, que a abordagem das capacidades
resolve alguns problemas centrais para uma teoria da justiça social que
outras teorias liberais parecem não conseguir resolver bem; a solução
baseada nas capacidades parece ser uma forma atractiva de pensar os direitos
fundamentais.
Mas agora temos de observar que a abordagem das capacidades faz estas
coisas boas apenas em virtude de ter um conteúdo definido. A abordagem
das capacidades fornece-nos uma nova forma de compreender a forma dos
"bens primários", e essa é uma parte do trabalho que faz para fornecer uma
76
AS CA PACI DADE S COMO DIREITOS
teoria mais Fadequada
UN D A MENdos
TAI Scuidados. Mas não bastava acertar na forma:
tínhamos também de acrescentar a necessidade de cuidados em alturas de
grande dependência à lista existente de bens primários.24 E depois,
argumentei, teríamos também de acrescentar outras capacidades à lista, em
áreas como os cuidados de saúde, as condições de trabalho e o bem-estar
emocional. A minha própria lista de capacidades inclui
77
ARTIGOS
Martha C. Nussbaum,
Ernst Freund Distinguished Service Professor of Law and
Ethics, Universidade de Chicago (Direito, Filosofia e
Divindade),
Faculdade de Direito da Universidade de Chicago, 1111 E. 60th Street, Chicago, IL
60637, EUA
correio eletrónico: [email protected]
AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer especialmente a Amartya Sen e aos outros
participantes do workshop de Oxford (11 a 13 de setembro de 2002) sobre a
obra e as ideias de Sen, bem como aos editores convidados desta edição
especial, pelos seus comentários muito úteis.
NOTAS
1 Desenvolvo argumentos semelhantes aos desenvolvidos neste artigo, mas centrados em
questões constitucionais e jurídicas, em Martha Nussbaum (a publicar).
78
AS CA PACI DADE S COMO DIREITOS
2 F UNSen
Ver Amartya D A(1980,
MEN TAI S 1985, 1992, 1999).
1982,
3 Ver, por exemplo, Amartya Sen (1990, 1995, 1999).
4 Embora Sen tenda a tratar este exemplo como um exemplo de diferença física direta,
não deve ser tratado assim, uma vez que as razões pelas quais as pessoas em cadeiras
de rodas não se podem deslocar são profundamente sociais - a ausência de rampas, etc.
(para mais informações, ver Nussbaum 2001a).
79
ARTIGOS
que todas as sociedades têm em conta as deficiências do cidadão comum. Assim, não
temos escadas com degraus tão altos que só os gigantes podem subir.
Um outro problema não mencionado por Sen, mas relevante para a sua crítica a
Rawls: mesmo que a pessoa na cadeira de rodas estivesse igualmente bem no que
respeita ao bem-estar económico, há uma questão distinta de dignidade e respeito
próprio.
5 Obviamente, a defesa desta ideia depende muito da capacidade que estamos a
Décima Quarta Emenda dos EUA, diz o seguinte "O Estado não negará a qualquer
pessoa a igualdade perante a lei ou a igual proteção das leis no território da Índia".
10 É claro que esta descrição de ambos é, em muitos aspectos, demasiado simples;
à lista, porque todos os grupos contêm hierarquia; ver Martha Nussbaum (no
prelo).
15 Foi isto que Sen disse em resposta ao presente documento na conferência sobre o seu
80
AS CA PACI DADE S COMO DIREITOS
19 Para a ideiaFde
UN"consenso
D A MEN TAI S
sobreposto", ver a discussão acima, Secção III: a ideia é que
os valores na conceção política podem ser vistos como um " módulo" que pode ser
81
ARTIGOS
ligados a diferentes concepções abrangentes. A lista de bens primários de Rawls é, na
verdade, heterogénea, incluindo liberdades, oportunidades e poderes a par do
rendimento e da riqueza; recentemente, Rawls acrescentou ainda outros itens
semelhantes a capacidades à lista, como o acesso a cuidados de saúde e a
disponibilidade de tempo de lazer.
20 John Locke (1698: cap. 8).
21 David Gauthier (1986: 18), falando de todas as "pessoas que diminuem o nível médio"
projeto de teoria igualitária que pretenda incluir todas as pessoas no seu âmbito". Para
uma narrativa notável de uma vida particular que mostra exatamente quantas estruturas
sociais desempenham um papel na vida de uma criança com deficiência mental desde o
início, ver Michael Be'rube' (1996).
24 Em termos da lista de capacidades, defendo, no trabalho em curso, que tanto as
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