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CHIODI A.D. Dissertacao

A dissertação investiga a presença de valores conservadores e autoritários na juventude brasileira no século XXI, questionando se houve uma mudança significativa nesse padrão. Os resultados indicam que, apesar de não haver grandes transformações nos últimos vinte anos, há um crescimento constante desses valores, associado à desilusão com o sistema político. A pesquisa sugere que a persistência desses valores pode representar riscos ao futuro da democracia no Brasil.

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João Ferreira
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CHIODI A.D. Dissertacao

A dissertação investiga a presença de valores conservadores e autoritários na juventude brasileira no século XXI, questionando se houve uma mudança significativa nesse padrão. Os resultados indicam que, apesar de não haver grandes transformações nos últimos vinte anos, há um crescimento constante desses valores, associado à desilusão com o sistema político. A pesquisa sugere que a persistência desses valores pode representar riscos ao futuro da democracia no Brasil.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


Programa de Pós-Graduação em Ciência Política

VALORES CONSERVADORES E AUTORITÁRIOS NA JUVENTUDE BRASILEIRA

Alexsander Dugno Chiodi

PORTO ALEGRE
2023
ALEXSANDER DUGNO CHIODI

VALORES CONSERVADORES E AUTORITÁRIOS NA JUVENTUDE BRASILEIRA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Ciência Política da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul como requisito
parcial para obtenção do título de Mestre em
Ciência Política.

Orientador:
Prof. Dr. Rodrigo Stumpf González.

PORTO ALEGRE
2023
CIP - Catalogação na Publicação

Dugno Chiodi, Alexsander


Valores conservadores e autoritários na juventude
brasileira / Alexsander Dugno Chiodi. -- 2023.
95 f.
Orientador: Rodrigo Stumpf González.

Dissertação (Mestrado) -- Universidade Federal do


Rio Grande do Sul, Instituto de Filosofia e Ciências
Humanas, Programa de Pós-Graduação em Ciência
Política, Porto Alegre, BR-RS, 2023.
1. Conservadorismo brasileiro. 2. Autoritarismo. 3.
Cultura Política. 4. Juventude. I. Stumpf González,
Rodrigo, orient. II. Título.

Elaborada pelo Sistema de Geração Automática de Ficha Catalográfica da UFRGS com os


dados fornecidos pelo(a) autor(a).
ALEXSANDER DUGNO CHIODI

VALORES CONSERVADORES E AUTORITÁRIOS NA JUVENTUDE BRASILEIRA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade


Federal do Rio Grande do Sul como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em
Ciência Política.

Aprovado em: ______ de _________________ de _________.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________
Prof. Dr. Rodrigo Stumpf González– Orientador

__________________________________________
Profa. Dra. Jennifer Azambuja de Morais (PPGCP-UFRGS)

__________________________________________
Profa. Dra. Rosana Katia Nazzari (UNIOESTE)

__________________________________________
Profa. Dra. Ana Julia Bonzanini Bernardi (PPGCP-UFRGS)
AGRADECIMENTOS

O meu ingresso no curso de Mestrado em Ciência Política da Universidade Federal do


Rio Grande do Sul no início de 2021 foi marcado por uma miríade de incertezas. O cenário
desesperançoso da piora da Pandemia de COVID-19 na época fez com que o último semestre
de graduação, formatura e processo seletivo para o PPG fossem todos à distância. Hoje, dois
anos depois, gostaria de expressar meus sinceros agradecimentos a todas as pessoas que
tornaram possível a realização deste trabalho.
Primeiramente, agradeço à minha família pelo apoio constante e incentivo em todas as
fases da minha vida acadêmica. Sem o amor e o suporte incondicional dos meus pais Gilberto
e Adriana, não seria o primeiro da minha família a concluir graduação e pós-graduação em uma
Universidade Federal, enquanto o irrestrito amor e companheirismo de meu namorado Deivis
me abasteceram de segurança nos momentos de maior aflição, e tornam especiais todos os dias,
daqui e para sempre.
Agradeço a CAPES, que possibilitou a existência desse trabalho ao financiar essa
pesquisa por 24 meses, sendo dezenove deles sob um Governo Federal que tentou sufocar
diariamente o incentivo a pesquisa, a educação pública de qualidade e a existência de um futuro
acadêmico no Brasil. A todos que resistiram a esses ataques, meu agradecimento.
Na UFRGS, agradeço ao Prof. Dr. Rodrigo Stumpf González, por sua orientação
valiosa, críticas construtivas e apoio inestimável durante todo o processo de elaboração tanto
do meu TCC quanto desta dissertação. Sua experiência e conhecimento foram fundamentais
para o desenvolvimento deste trabalho e para a minha formação como cientista político.
Agradeço à Profa. Dra. Ana Júlia Bonzanini Bernardi, pela amizade, confiança, sinceridade e
disposição para me guiar tanto na carreira acadêmica quanto na profissional, e à Profa. Dra.
Jennifer Azambuja de Morais pela genuína confiança, suporte e incentivo.
Agradeço aos meus colegas no NUPESAL pela parceira nesses vários anos (sendo
poucos deles de tranquilidade), em especial a Felipe, camarada nas melhores e piores aulas de
mestrado, e Henrique, pela presença desde a graduação. Agradeço também a Ricardo pela
parceria, vinhos, conversas intermináveis e por ser o melhor amigo que a vida me deu.
Agradeço aos 60.345.999 brasileiros que puseram fim a um governo baseado na
discriminação, ódio, obscurantismo e intolerância, e permitiram ao Brasil trilhar o árduo
caminho da reconstrução, em que a educação tem papel indeclinável e demanda da participação
de todos nós.
A história é um profeta com o olhar voltado para trás:
pelo que foi, e contra o que foi, anuncia o que será.

Eduardo Galeano
RESUMO

Apesar da derrota de Bolsonaro no segundo turno do pleito de 2022, a eleição de deputados


federais representantes de uma nova geração política que reproduzem o conservadorismo
autoritário brasileiro presente no discurso do ex-presidente reforçam que a substituição de
grupos geracionais parece não ser o suficiente para garantir a substituição relevante de valores
na cultura política brasileira. Assim, o problema que guia essa pesquisa é: Houve uma mudança
no padrão de valores políticos resultando no incremento da presença de valores conservadores
e autoritários na juventude brasileira no século XXI? O objetivo geral é verificar se a dinâmica
dos padrões de valores políticos da juventude brasileira aponta para o aumento da presença de
valores conservadores e autoritários no século XXI. Os objetivos específicos são 1. desenvolver
um índice de autoritarismo; 2. averiguar o impacto de fatores explicativos demográficos na
diferença de padrões de valores; 3. compreender se a mudança ou continuidade da dinâmica
dos valores políticos prevalentes na juventude podem representar uma ameaça ao futuro da
democracia no Brasil. Nesse sentido, as hipóteses propostas para esse trabalho são: H1) O
padrão de valores predominantes na juventude brasileira não apresenta grandes transformações
ao longo dos últimos vinte anos, mas o eventual acirramento de valores pré-existentes; H2)
Houve um processo de expansão de valores conservadores e autoritários na juventude brasileira,
principalmente na última década; H3) O incremento da presença de valores conservadores e
autoritários na juventude brasileira no século XXI indica potenciais riscos ao futuro do sistema
democrático no país. A metodologia utilizada é quantitativa por meio do método de pesquisa
tipo survey, com uso de dados de três pesquisas empíricas conduzidas pelo Núcleo de Pesquisa
sobre América Latina (NUPESAL), vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Ciência
Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, aplicadas nas três capitais da região sul
do Brasil com jovens estudantes do ensino médio entre 13 e 24 anos. Os resultados indicam que
o padrão de valores predominantes na juventude brasileira não apresenta grandes
transformações ao longo dos últimos vinte anos, nem a inauguração de um movimento político
novo nem de dinâmicas que não estavam em movimento. Ao mesmo tempo, indica que houve
o crescimento constante dos valores autoritários na juventude, associados à desilusão como o
sistema político, seus atores e suas instituições, o crescimento da negação da política como
ferramenta efetiva para a solução dos problemas sociais e estruturais do país. A tenacidade
desses valores nas novas gerações sugere que a eleição de Bolsonaro pode não ter sido a última
de um candidato que obtenha sucesso em sistematizar os valores autoritários na próxima
conjuntura favorável, e dar cabo das aspirações antidemocráticas que seriam recebidas com a
aprovação de uma parcela considerável dos cidadãos brasileiros.

Palavras-chave: Conservadorismo brasileiro. Autoritarismo. Cultura Política. Juventude.


ABSTRACT

Despite Bolsonaro's defeat in the second turn of the 2022 election, the election of federal
deputies representing a new political generation who reproduce the Brazilian authoritarian
conservatism present in the former president's speech reinforce that the replacement of
generational groups does not seem to be enough to guarantee the relevant substitution of values
in the Brazilian political culture. Thus, the problem that guides this research is: Has there been
a change in the pattern of political values resulting in an increase in the presence of conservative
and authoritarian values in Brazilian youth in the 21st century? The general objective is to verify
whether the dynamics of the patterns of political values of Brazilian youth point to an increase
in the presence of conservative and authoritarian values in the 21st century. The specific
objectives are 1. to develop an authoritarianism index; 2. Investigate the impact of demographic
explanatory factors on the difference in value patterns; 3. Understand whether the change or
continuity of the dynamics of political values prevalent in youth may represent a threat to the
future of democracy in Brazil. In this sense, the hypotheses proposed for this work are: H1) The
pattern of values predominant in Brazilian youth does not present major transformations over
the last twenty years, but the eventual intensification of pre-existing values; H2) There was an
expansion process of conservative and authoritarian values in Brazilian youth, especially in the
last decade; H3) The increase in the presence of conservative and authoritarian values in
Brazilian youth in the 21st century indicates potential risks to the future of the democratic
system in the country. The quantitative methodology is used through the survey research
method using data from three empirical studies conducted by the Núcleo de Pesquisa sobre
América Latina (NUPESAL), related to the Postgraduate Program in Political Science of the
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, applied to the three capitals of the southern
Brazilian region with high school students between 13 and 24 years old in 2001, 2015 and 2019.
The results indicate that the pattern of predominant values in Brazilian youth does not show
major transformations over the last twenty years, neither the inauguration of a new political
movement nor dynamics that were not already in motion. At the same time, there was a constant
growth of authoritarian values, associated with disillusionment with the political system, its
actors and its institutions, the growth of denial of politics as an effective tool for solving the
country's social and structural problems. The tenacity of these values in the new generations
suggests that Bolsonaro's election may not have been the last of a candidate who succeeds in
systematizing authoritarian values in the next favorable conjuncture, and accomplishing the
anti-democratic aspirations that would be received with the approval of a considerable portion
of Brazilian citizens.

Keywords: Brazilian conservatism. Authoritarianism. Political Culture. Youth.


RESUMEN

Pese la derrota de Bolsonaro en la segunda vuelta de las elecciones de 2022, la elección de


diputados federales que representan una nueva generación política que reproduce el
conservadurismo autoritario brasileño presente en el discurso del expresidente refuerzan que la
reposición de grupos generacionales no parece ser suficiente para garantizar la sustitución
relevante de valores en la cultura política brasileña. Así, el problema que guía esta investigación
es: ¿Ha habido un cambio en el patrón de valores políticos que resulte en un aumento de la
presencia de valores conservadores y autoritarios en la juventud brasileña del siglo XXI? El
objetivo general es verificar si la dinámica de los patrones de valores políticos de la juventud
brasileña apunta a un aumento de la presencia de valores conservadores y autoritarios en el
siglo XXI. Los objetivos específicos son 1. desarrollar un índice de autoritarismo; 2. Investigar
el impacto de los factores explicativos demográficos sobre la diferencia en los patrones de
valor; 3. Comprender si el cambio o la continuidad de la dinámica de valores políticos
predominantes en la juventud puede representar una amenaza para el futuro de la democracia
en Brasil. En ese sentido, las hipótesis propuestas para este trabajo son: H1) El patrón de valores
predominante en la juventud brasileña no presenta grandes transformaciones en los últimos
veinte años, pero sí la eventual intensificación de valores preexistentes; H2) Hubo un proceso
de expansión de valores conservadores y autoritarios en la juventud brasileña, especialmente
en la última década; H3) El aumento de la presencia de valores conservadores y autoritarios en
la juventud brasileña del siglo XXI indica riesgos potenciales para el futuro del sistema
democrático en el país. La metodología utilizada es cuantitativa a través del método de
investigación de encuestas, utilizando datos de tres investigaciones empíricas realizado por el
Núcleo de Pesquisa sobre América Latina (NUPESAL), vinculado al Programa de Posgrado en
Ciencias Políticas de la Universidade Federal do Rio Grande do Sul, aplicado en las tres
capitales de la región sur de Brasil con jóvenes estudiantes de secundaria entre 13 y 24 años.
Los resultados indican que el patrón de valores predominantes en la juventud brasileña no
muestra grandes transformaciones en los últimos veinte años, ni la inauguración de un nuevo
movimiento político ni dinámicas que no estaban en marcha. Al mismo tiempo, hubo un
crecimiento constante de los valores autoritarios en la juventud, asociado a la desilusión con el
sistema político, sus actores y sus instituciones, el crecimiento de la negación de la política
como herramienta eficaz para la solución de los problemas sociales y estructurales del país. La
tenacidad de estos valores en las nuevas generaciones sugiere que la elección de Bolsonaro
puede no haber sido la última de un candidato que logra sistematizar los valores autoritarios en
la próxima coyuntura favorable, y realizar las aspiraciones antidemocráticas que serían
recibidas con la aprobación de una parte considerable de los ciudadanos brasileños.

Palabras clave: Conservadurismo brasileño. Autoritarismo. Cultura política. Juventud.


LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Presença de autoritarismo de acordo com o gênero (%) ...................................... 36

Gráfico 2 - Presença de autoritarismo de acordo com o tipo de escola (%) ........................... 38

Gráfico 3 - Presença de autoritarismo de acordo com a religiosidade (%) ............................ 39

Gráfico 4 - Presença de autoritarismo de acordo com a classe social (%) ............................. 41

Gráfico 5 - Presença de autoritarismo de acordo com o interesse por política (%) ................ 43

Gráfico 6 - Presença de autoritarismo de acordo com a desconfiança interpessoal (%) ........ 45

Gráfico 7 - Presença de autoritarismo de acordo com a posição ideológica (%) .................... 46

Gráfico 8 - Presença de autoritarismo de acordo com a percepção da democracia como

melhor regime possível (%)...................................................................................................... 48

Gráfico 9 – Percepção da democracia como melhor regime político no Brasil (2002-2018)

(%) ............................................................................................................................................ 49

Gráfico 10 - Presença de autoritarismo de acordo com o agente de socialização (%) ............ 50

Gráfico 11 - Presença de autoritarismo de acordo com a disposição para debater política com

outras pessoas (%) .................................................................................................................... 52

Gráfico 12 - Presença de autoritarismo de acordo com a disposição para votar se o voto não

fosse obrigatório (%) ................................................................................................................ 53


LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Construção do Índice de Autoritarismo ................................................................. 34

Tabela 2 – Índice de Autoritarismo ........................................................................................ 35

Tabela 3 – Distribuição da religiosidade na juventude porto-alegrense (2001-2019) ............. 40


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 13

2. CULTURA POLÍTICA ................................................................................................................. 19

3. CONCEITOS CENTRAIS: CONSERVADORISMO E AUTORITARISMO ............................................. 23

3.1. CONSERVADORISMO ..................................................................................................................... 23


3.1.1. CONSERVADORISMO NO BRASIL ......................................................................................................... 27
3.2. AUTORITARISMO ........................................................................................................................... 29

4. TRAJETÓRIA DOS VALORES AUTORITÁRIOS NA JUVENTUDE BRASILEIRA: MUDANÇAS E


CONTINUIDADES ........................................................................................................................ 33

4.1. ÍNDICE DE AUTORITARISMO ......................................................................................................... 33


4.2. VARIÁVEIS SOCIOECONÔMICAS ................................................................................................... 36
4.2.1 – GÊNERO ....................................................................................................................................... 36
4.2.2 – TIPO DE ESCOLA ............................................................................................................................. 37
4.2.3 - RELIGIOSIDADE ............................................................................................................................... 39
4.2.4 – CLASSE SOCIAL ............................................................................................................................... 41
4.3 VALORES POLÍTICOS ...................................................................................................................... 42
4.3.1 INTERESSE POR POLÍTICA .................................................................................................................... 42
4.3.2 DESCONFIANÇA INTERPESSOAL ............................................................................................................ 44
4.3.3 POSIÇÃO IDEOLÓGICA ........................................................................................................................ 45
4.3.4 PERCEPÇÃO DA DEMOCRACIA COMO MELHOR REGIME POSSÍVEL ............................................................... 47
4.3.5 SOCIALIZAÇÃO POLÍTICA ..................................................................................................................... 50
4.3.6 DISPOSIÇÃO PARA CONVERSAR SOBRE POLÍTICA ...................................................................................... 52
4.3.7 DISPOSIÇÃO PARA O VOTO .................................................................................................................. 53

5. CONCLUSÃO ........................................................................................................................... 55

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................................................... 60

ANEXOS...................................................................................................................................... 67

ANEXO 1 – QUESTIONÁRIOS 2001, 2015 E 2019.................................................................................. 67


ANEXO 2 – ÍNDICE DE AUTORITARISMO............................................................................................. 93
1. INTRODUÇÃO

O pleito de 2018 trouxe à tona como a popularização das mídias digitais e a admissão
do campo político no ciberespaço1 produziu variações no custo da participação política e no
espectro de atividades políticas (ANDUIZA et al., 2009), bem como os efeitos da erosão de
fronteiras entre gêneros informativos e de entretenimento. Essas novas configurações permitem
que a esfera política possa ser apresentada de maneira informal, menos abalizada do que o
jornalismo tradicional e, portanto, mais suscetível ao público jovem (SANGIRARDI; 2013).
Sob essa ótica, estaria em curso uma alteração significativa no discurso produzido pelas novas
mídias, com potencial de alterar comportamentos, atitudes e percepções dos mais jovens
cidadãos (MORAIS, 2017).
Há divergências, porém, na tradução concreta do potencial de alteração suscitado pela
emergência dessa nova esfera de debate político no comportamento e atitude da juventude. De
um lado, a teoria da mobilização contempla se estaria em andamento um incremento do
engajamento dos jovens, isto é, se estaria a juventude mais interessada, mais participativa,
efetivando a redução de custos proporcionados pelas novas ferramentas para exercer seu direito
de voto e até elegendo jovens candidatos comprometidos com uma plataforma voltada para a
juventude e valores caros às novas gerações (NORRIS, 2000; POLAT, 2005; RECUERO,
2009). Do outro, correntes que não ignoram os potenciais efeitos negativos procuram identificar
como esses instrumentos estariam sendo utilizados para reforçar os valores e atitudes já
existentes, senão promover a desmobilização e apatia política, o isolacionismo e a radicalização
(PUTNAM, 1995; BOULIANNE, 2009; PATTERSON, 2000).
No caso brasileiro, o potencial de fornecer às novas gerações meios que podem se
concretizar tanto na maior participação e representação política quanto na desmobilização e
radicalização está inserido em um ambiente em que a baixa participação dos jovens no processo
eleitoral é preocupante (BAQUERO; GONZÁLEZ, 2011), pois esse momento é compreendido
na literatura como ponto contato do jovem ao sistema político, e momento propício para a
internalização dos valores democráticos através do "processo de incorporação e

1
Interconexão digital entre computadores ligados em rede. É um espaço que existe entre os computadores,
quando há uma conexão entre eles que permite aos usuários trocarem dados (MARTINO, 2014; p. 29). Esse
novo meio tem a vocação de colocar em sinergia e interfacear todos os dispositivos de criação de informação, de
gravação, de comunicação e de simulação (LÉVY, 2000, p. 92-93).
13
institucionalização de crenças que valorizem a mobilização e participação políticas”
(BAQUERO; GONZÁLEZ, 2011, p. 370).
A baixa participação política por parte da juventude brasileira é apontada como aspecto
da cultura política híbrida (BAQUERO, 2018) ou ambivalente (MOISÉS, 1995), em que a
defesa difusa do regime democrático convive com a presença generalizada de valores e atitudes
autoritárias, e da democracia inercial (BAQUERO; GONZÁLEZ, 2011; 2016), incapaz de
traduzir os avanços institucionais desenvolvidos desde a década de 1980 na erradicação das
características autoritárias presentes nas gerações anteriores, que são, portanto, reproduzidas
pelas gerações seguintes.
No contexto estadunidense, Norris e Inglehart (2019) definem “valores” como
orientações basilares formadas pelas experiências adquiridas na infância e adolescência que
tendem a persistir pela vida toda. Nessa ótica, os grupos geracionais e o tamanho relativo que
cada um representa em dada sociedade, à semelhança do processo de substituição de gerações
pelas mais novas, podem resultar em redirecionamentos significativos nos valores dominantes.
No caso brasileiro e devido a suas particularidades, a substituição de grupos geracionais parece
não ser o suficiente para garantir uma substituição relevante de valores (BAQUERO, 2018;
MORAIS, 2017; MOISÉS, 1995). Além disso, o conceito de “cultural backlash” foi cunhado
na intenção de explicar a ascensão de um novo fenômeno político, marcado pelo
conservadorismo populista e autoritário no cenário europeu e estadunidense. Essa formulação
dificulta a compreensão nos casos latino-americanos, especialmente do Brasil (CASTRO;
SANTOS; BEAL, 2022), uma vez que a reprodução de valores através da socialização política
não parece suscitar rupturas, mas sim continuidades, como a permanência do conservadorismo
brasileiro que sempre esteve calcado em valores autoritários (LYNCH, 2017).
O primeiro turno da eleição geral de 2022 no Brasil teve um resultado ambíguo para os
apoiadores do presidente Bolsonaro (PL). Dos dezessete ex-ministros do Governo Bolsonaro
que concorreram a cargos como deputados, senadores e governadores, nove foram eleitos e
outros três seguiram na disputa do segundo turno em seus respectivos estados2. Além disso, o

2
São eles: Marcos Pontes (PL-SP), ex-ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, eleito senador; Sergio Moro
(União Brasil-PR), ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, eleito senador; Damares Alves (Republicanos-DF),
ex-ministra da Mulheres, da Família e dos Direitos Humanos, eleita senadora; Tereza Cristina (PP-MS), ex-
ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, eleita senadora; Eduardo Pazuello (PL-RJ), ex-ministro da
Saúde, eleito deputado federal; Rogério Marinho (PL-RN), ex-ministro do Desenvolvimento Regional, eleito
senador; Ricardo Salles (PL-SP), ex-ministro do Meio Ambiente, eleito deputado federal; Osmar Terra (MDB-
RS), ex-ministro da Cidadania, eleito deputado federal; Marcelo Álvaro Antônio (PL-MG), ex-ministro do
Turismo, eleito deputado federal. No segundo turno: Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), ex-ministro da
Infraestrutura; Onyx Lorenzoni (PL-RS), ex-ministro da Casa Civil, da Cidadania, da Secretaria-Geral da
14
Partido Liberal (PL) que abrigou Bolsonaro e seus principais apoiadores arrematou a maior
bancada da Câmara, com 99 deputados, representando 19% do total da Casa. Mesmo ajudando
a eleger a maioria dos seus ex-ministros que concorreram, e garantido ao partido que o abrigou
a maior bancada da casa, Jair Bolsonaro passou para o segundo turno com 43,2% dos votos,
atrás dos 48,4% de seu rival Lula da Silva (PT).
Dos deputados federais eleitos pelo PL, quatro tinham menos de 30 anos de idade. São
eles André Fernandes (PL-CE) de 24 anos, Icaro De Valmir (PL-SE), 21 anos – deputado mais
jovem a ser eleito nesse pleito, Matheus Noronha (PL-CE), 24 anos e Nikolas Ferreira (PL-
MG) de 26 ano, eleito em 2022 com 1.492.047 votos, tornando-se o deputado federal mais
votado no Brasil. Bem como os demais jovens do PL, a eleição de Nikolas – que conta com
uma robusta base de engajamento digital, e utiliza da retórica conservadora e autoritária para
cativar (e radicalizar) seus seguidores (SIMPSON, 2022; RAMOS, 2021) faz parte da
ampliação de uma bancada conservadora no Congresso Nacional, alinhada aos valores
defendidos por Bolsonaro desde o processo eleitoral de 2018.
Tanto nesse quando naquele pleito, o uso das mídias digitais foi calorosamente
explorado, em especial de forma ilícita, pela disseminação de notícias falsas e teorias da
conspiração (RECUERO, 2020). O uso agressivo e contundente da comunicação pelas redes
sociais como forma de engajamento, convencimento e ação política foi uma marca dos quatro
anos de governo Bolsonaro e de seus aliados (FARIAS; CASARÕES; MAGALHÃES, 2022;
RECUERO et al., 2022).
Apesar da derrota de Bolsonaro no segundo turno do pleito de 2022, a eleição de
deputados federais representantes de uma nova geração política (entre elas a do deputado mais
votado do país) que reproduzem o conservadorismo autoritário brasileiro presente no discurso
do ex-presidente, nomeadamente de não-aceitação da diversidade, da preferência de um líder
forte sem a necessidade do Congresso Nacional ou partidos políticos, da rejeição de valores
como direitos humanos e garantias dos indivíduos, ensejam os questionamentos: houve um
crescimento do conservadorismo na juventude brasileira, ou esses valores sempre estiveram
latentes? A eleição de Bolsonaro em 2018 pode estar acompanhada da inauguração política de
uma nova geração em que predomina o conservadorismo brasileiro, crivado pelos valores
autoritários que podem, no limite, colocar em risco o futuro democrático do país?

Presidência e do Trabalho e Previdência; Braga Netto, ex-ministro da Defesa e ex-ministro-chefe da Casa Civil,
candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro.
15
Visando entender as dinâmicas apresentadas até aqui, o problema que guia essa pesquisa
é: Houve uma mudança no padrão de valores políticos resultando no incremento da presença
de valores conservadores e autoritários na juventude brasileira no século XXI? Dessa forma, o
objetivo geral dessa dissertação é verificar se a dinâmica dos padrões de valores políticos da
juventude brasileira aponta para o aumento da presença de valores conservadores e autoritários
no século XXI. Os objetivos específicos são:
1) Desenvolver um índice de autoritarismo;
2) Averiguar o impacto de fatores explicativos demográficos na diferença de padrões de
valores;
3) Compreender se a mudança ou continuidade da dinâmica dos valores políticos
prevalentes na juventude podem representar uma ameaça ao futuro da democracia no Brasil.
Nesse sentido, as hipóteses propostas para esse trabalho são:
H1) O padrão de valores predominantes na juventude brasileira não mudou ao longo
dos últimos vinte anos, mas representa o acirramento de valores pré-existentes;
(H2) Houve um processo de expansão de valores conservadores e autoritários na
juventude brasileira, principalmente na última década;
(H3) O incremento da presença de valores conservadores e autoritários na juventude
brasileira no século XXI indica potenciais riscos ao futuro do sistema democrático no país.
Partindo do arcabouço teórico da Cultura Política, é utilizado o protocolo quantitativo
através do método survey, fazendo uso de um questionário semiestruturado autoaplicável, em
que é possível identificar valores, crenças e atitudes da população estudada utilizando técnicas
sistemáticas de análise em uma amostra representativa (BABBIE, 1999; BAQUERO, 2009),
além de fornecer um grau de anonimato favorável ao respondente para exteriorizar seus
entendimentos sobre questões éticas ou sensíveis que, de outra forma, seriam expressas com
maior relutância, de forma desvantajosa à pesquisa (MAY, 2004).
Em âmbito nacional, um conjunto de dados coletados sistematicamente em escolas
públicas e privadas com essas características é aquele das pesquisas empíricas “Democracia,
Juventude e Capital Social no Brasil”, aplicada em 2001 (anexo 1), coordenada por Baquero,
“Democracia, mídias e capital social: um estudo comparativo de socialização política dos
jovens no Sul do Brasil”, aplicada em 2015 e “Democracia, valores políticos e capital social:
um estudo comparativo de socialização política dos jovens no Sul do Brasil”, aplicada em 2019
(anexo 1), ambas coordenadas por Baquero e González. As três pesquisas foram aplicadas pelo
Núcleo de Pesquisa sobre América Latina, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em

16
Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. As pesquisas coletaram dados
de 500 jovens entre outubro e novembro de 20013, 2.035 entre março de 2015 e junho de 20164,
e 863 entre agosto e dezembro de 20195.
Para o recorte empírico, será observado como jovens do Ensino Médio desenvolvem
esses valores em três momentos: dois pré-Bolsonaro, um em seu primeiro ano de mandato.
Dessa forma, pretende-se identificar se o padrão de valores autoritários é recente, presentes em
2015 e 2019, mas não em 2002, ou se a emergência de uma juventude conservadora e autoritária
é um fenômeno que poderia ser previsto, com padrão de valores consistentes desde o início do
século. Os questionários aplicados em 2002, 2015 e 2019 cobrem momentos relevantes na
história recente do Brasil, como a inserção das mídias digitais na universalidade do cotidiano,
os protestos de 2013, o impeachment de Dilma Rousseff em 2015, as eleições de 2018 e
primeiro ano de mandato de Jair Bolsonaro.
A análise dos dados coletados será operacionalizada por uso do programa de análise
estatística IBM SPPS, procurando explorar a caracterização da evolução do padrão dominante
de valores, se houve uma mudança de perfil do padrão de conservadorismo autoritário em
relação a cultura política e se trata de um fenômeno mais recente ou histórico, a relação com
fatores explicativos demográficos entre o início dos anos 2000, na metade e final da década de
2010 e como estão relacionados com os potenciais riscos à democracia brasileira, avaliando
frequências e cruzamentos entre o índice de autoritarismo (variável dependente) e as variáveis
socioeconômicas e de valores políticos (variáveis independentes), com teste de qui-quadrado
de Pearson6.
Diferente de países em situações em que há a tradição de realizar surveys em escolas de
forma regular, o Brasil não possui tradição de pesquisa entre jovens, sendo os eleitores a
população foco dos estudos sobre Cultura Política. Dessa forma, enquanto o problema
suscitado é válido pra a totalidade da população jovem brasileira, pela ausência de dados de
amplitude nacional e pelo grau de abrangência amostral e temporal, os dados coletados e
organizados pelo Núcleo de Pesquisa sobre América Latina atendem de forma satisfatória ao
propósito de verificar os elementos pontuados nesse projeto, ou seja, anterior ao primeiro

3
Apenas na cidade de Porto Alegre/RS.
4
Nas cidades de Porto Alegre/RS, Florianópolis/SC e Curitiba/PR.
5 Apenas na cidade de Porto Alegre/RS.
6 “O Qui-Quadrado é um teste de hipóteses que se destina a encontrar um valor da dispersão para duas variáveis
nominais e avaliar a associação existente entre variáveis. Quando seu valor é igual ou menor que 0,05 as
variáveis analisadas apresentam associação, podendo se afirmar que os dados possuem significância” (MORAIS,
2017, p. 32).
17
mandato petista de Luiz Inácio Lula da Silva em 2001, em 2015, no bojo do antipetismo,
desencanto com a politica e o associado crescimento de discurso conservador na politica
anterior à eleição de Bolsonaro, e, por fim, após a eleição de Jair Bolsonaro, com o survey de
2019.
Esta dissertação está dividida em quatro capítulos, além da presente introdução e das
considerações finais.
O capítulo dois contém elementos teóricos acerca da Cultura Política, em que serão
abordados a origem e o desenvolvimento do conceito, assim como exposta a teoria do
desenvolvimento humano e particularidades do contexto brasileiro.
O capítulo três trata sobre os conceitos centrais na discussão proposta: conservadorismo
e autoritarismo. Sobre o conservadorismo, é desenvolvido o esforço para caracterizá-lo
conceitualmente, os atributos ideológicos e práticas de seu desenvolvimento no âmbito anglo-
saxão, além de uma seção que propõe esmiuçar a especificidade do conservadorismo brasileiro,
marcado pela importação de valores autoritários em seu núcleo-duro. Quanto ao autoritarismo,
busca-se contextualizar as tentativas de sistematização do conceito e a distinção de suas
características entre estrutura de sistemas políticos, disposições psicológicas e ideologias
políticas, além de apresentar quais desses aspectos são utilizados pelo conservadorismo
brasileiro.
O capítulo quatro trata da análise de dados propriamente dita, apresentando o
desenvolvimento do índice de autoritarismo e o cruzamento deste com as variáveis de interesse,
nomeadamente aquelas relacionadas com as variáveis socioeconômicas e de valores políticos
por meio de análises descritivas a partir dos bancos de dados do NUPESAL (UFRGS), com o
intuito de testar as hipóteses propostas, fazendo uso dos elementos tratados nos capítulos
anteriores.

18
2. CULTURA POLÍTICA

Essa dissertação faz uso do arcabouço teórico da Cultura Política, desenvolvido no


campo inaugurado por Almond (1956) e Almond e Verba (1963). Até a década de 1960, Castro
(2008) identifica a predominância paradigmática no campo da ciência política em compreender
o surgimento, consolidação e estabilidade da democracia liberal como seus procedimentos
burocráticos, legais ou executivos – no método democrático (SCHUMPETER, 1961). Almond
e Verba (1963) ajustam o olhar científico às orientações de caráter psicológico, cognitivo,
afetivo e avaliativo das sociedades, buscando o entendimento sistemático de comportamentos
e orientações políticas. Todo sistema político estaria “enraizado" em um conjunto de fatores
sociais e culturais, ou seja, não na forma que o sistema político apresenta, mas no conteúdo
daqueles que o compõe, em sua cultura política. Para Baquero e Prá (2007) “a cultura política
se refere ao processo através do qual as atitudes dos cidadãos são estruturadas em relação ao
sistema político” (BAQUERO; PRÁ, 2007, p. 5-6).
Mesmo com as críticas válidas aferidas à obra de Almond e Verba (1963), como o
eurocentrismo e unilateralidade da democracia liberal como resultado ideais dos arranjos
institucionais, The Civic Culture embasou o desenvolvimento de outros trabalhos de rigor
metodológico, com capacidade de analisar valores e crenças de grupos sociais (INGLEHART,
1971, 1988, 2002; PUTNAM, 1995), a teoria do desenvolvimento humano e a emergência de
valores de autoexpressão (INGLEHART; WEZEL, 2005), bem como o desenvolvimento de
valores assertivos (DALTON; WELZEL, 2014).
Inglehart (1971) percebe mudanças fundamentais nos valores 7 presentes em
democracias consolidadas que conflitam com o paradigma apresentado na década de 1960.
Nessas sociedades, as gerações socializadas após a II Guerra Mundial não depositam interesse
e preocupação em necessidades materiais de forma tão imperativa quanto às gerações
anteriores, dispostos a estabelecer freios no crescimento econômico em detrimento às questões
pós-materiais, como o ambientalismo, redução das desigualdades e a melhora nos níveis de
qualidade de vida. Nas sociedades em que necessidades materiais de sobrevivência 8 são
sanadas, há o desenvolvimento de valores pós-materialistas. Estaria em curso então uma

7
“Valores” podem ser compreendidos como o conjunto de orientações fundamentais, formadas por experiências
adquiridas na infância e adolescência que tendem a ser duradouras por toda a vida do indivíduo (NORRIS,
INGLEHART, 2019).
8
acesso à moradia, à educação, à saúde e à segurança.
19
substituição de valores no perfil de cidadão democrático, em que tais sociedades não são mais
compostas por cidadãos leais, mas por cidadãos críticos, enquanto substituem os valores de
sobrevivência por valores de autoexpressão, sendo que esses novos valores afetam as
orientações dos indivíduos em relação à participação política.
Norris e Inglehart (2019) identificam na mudança de atitudes e comportamentos
preconizados pelas novas gerações, fomentando a substituição de valores concomitante com a
substituição geracional, uma contrarreação de conservadores e tradicionalistas das gerações
mais velhas que percebem suas crenças e normas perdendo o status hegemônico,
compreendendo as mudanças demográficas como fator ativo na reconfiguração do mundo que
conhecem. Essa frustração, raiva e ressentimento costumam ser suprimidos em uma espiral de
silêncio até chegar a um "ponto de inflexão". Nesse momento, os sentimentos de ameaça às
normas sociais são explorados por autoritários ou populistas, propiciando um “cultural
backlash”: a criação de resistência ativa frente às mudanças de valores culturais, o acirramento
da polarização, legitimação de movimentos racistas, xenofóbicos e misóginos que, mobilizando
uma considerável parcela da sociedade, pode encontrar seu caminho às urnas e às altas
instâncias de representação e poder.
Nas sociedades em que a democracia como sistema sociopolítico está em processo de
consolidação, a democratização pode estar inserida em um ciclo virtuoso, em que novas
instituições e configurações sociais catalisam novos valores, atitudes e comportamentos
(DIAMOND, 1994), ou em uma sociedade em que os valores não-democráticos persistem,
impedindo a mudança no padrão cultural dominante, mesmo com a estabilidade institucional e
crescimento econômico (INGLEHART, 1988).
Para Castro (2012), o apreço ao sistema democrático é enraizado pelos cidadãos de
países em que a democracia liberal e o capitalismo são desenvolvidos de forma simbiótica pelo
processo de socialização política - algo que não ocorre na América Latina, uma vez que, nesse
continente, o capitalismo desenvolveu-se “sem que existisse uma base social, política,
econômica ou ideológica de cunho liberal” (CASTRO, 2012, p. 83). Nesse sentido, Foa e
Mounk (2016) aponta que cidadãos de democracias aparentemente consolidadas não estão
tornando-se mais exigentes com a qualidade de representação, mas que os níveis de
desconfiança e insatisfação crescem concomitante aos de apatia política e apoio às alternativas
autoritárias.
Também, cidadãos podem apresentar lealdade aos valores democráticos enquanto
rejeitam instituições essenciais à governança democrática (FOA; MOUNK 2016). Para captar

20
concretamente a causa das variações nos níveis de apoio democrático, é necessário perceber
como mudou o próprio conceito de democracia, e que uma crise de legitimidade desse modelo
já não se encontra fora dos limites da realidade.
Na América Latina, a segunda metade do século XX foi marcado pelas ditaduras
militares. Os estudos seminais de cultura política, não imunes às condições políticas de seu
tempo, costumavam descrever as culturas políticas da região como ausentes de valores cívicos,
caracterizadas por suas formas paroquiais ou súditas, (PYE; VERBA, 1965; ALMOND;
COLEMAN, 1960), com valores materialistas de sobrevivência, ainda longe de desenvolver
valores pós-materialistas de autoexpressão. Dalton e Shin (2014) demonstram que, na verdade,
o forte contraste de culturas políticas entre nações em desenvolvimento e democracias pós-
industriais não é constatável. Ao mesmo tempo que as diferenças nos níveis de interesse por
política não são grandes, o modelo de lealdade como concebido originalmente parece
incompatível aos processos político-democráticos contemporâneos.
Em contrapartida, Moisés (2011) verifica que, enquanto nas velhas democracias as
insatisfações processuais possam instigar a participação e a reforma política, em países recém-
democratizados o efeito tende a ser a apatia política, desistência de participação e desconfiança
das instituições, associação de sentimentos negativos acerca da eficácia do sistema político,
constatados na preferência por arranjos democráticos que excluem partidos ou parlamentos.
Fica aparente que a América Latina necessita um conceito de cultura política
operacionalizável que não pode ser puramente importado, mas que considere as
particularidades da nossa formação histórica. Para Castro (2008),

um estudo que vise a ir além da aceitação do modelo de cultura cívica deve partir dos
conceitos conhecidos, dos trabalhos teóricos e empíricos realizados e dos
instrumentos metodológicos disponíveis para procurar construir uma teoria de cultura
política adequada às condições da América Latina. (CASTRO, 2008, p. 23)

No quadro nacional, Baquero (2007, 2017) identifica aquilo que chama de "democracia
inercial", quando a economia e a política, duas dimensões que deveriam ser razoavelmente
simétricas, seguem caminhos incongruentes, desenvolvem-se obstáculos na instalação da
democracia plena e igualitária.
Apesar dos avanços institucionais, a incapacidade de sintonizar demandas populares à
produção de políticas públicas e não-erradicação de vícios de um passado autoritário
contaminam o processo democrático, que permanece a reproduzir desigualdades na forma de
uma cultura política híbrida, em que os cidadãos, simultaneamente, consideram a democracia

21
como melhor forma de governo enquanto apresentam altos índices de insatisfação e
desconfiança às instituições essenciais para o funcionamento do sistema democrático, em que
o repúdio ao autoritarismo formal acompanha ceticismo em relação a eficácia do tipo de
democracia vigente (BAQUERO, 2007; BAQUERO; GONZÁLEZ, 2011). O cenário nacional
seria marcado, portanto, pela

existência de uma cultura política híbrida, que evoluiu em relação ao passado, mas
que mostra contradições presentes em todas as gerações, não sendo previsível que seja
um problema a ser resolvido pela mera recomposição da população, com o ingresso
de novos cidadãos na vida política (BAQUERO; GONZÁLEZ, 2011, p. 395).

González (2015) aponta a necessidade de considerar aspectos referentes à cultura


política nas discussões sobre qualidade democrática, uma vez que a cultura política híbrida de
apoio ao método democrático concomitante à aceitação de soluções autoritárias em momentos
de crise política ou social parece ser válida tanto para o Brasil quanto para outros países latino-
americanos. Com a persistência dessas características,

os golpes civis ou militares na velha tradição do autoritarismo do século XX tendam


a se tornar cada vez mais raros, as novas formas de ruptura, travestidas de respeito aos
mecanismos legais e de manutenção formal da democracia devem continuar a fazer
parte do cenário político da América Latina no século XXI. (GONZÁLEZ, 2015, p.
143)

Essas dicotomias podem ser causadoras e catalisadoras do fortalecimento da


antipolítica, negligência das formas tradicionais de mediação política, como os partidos
políticos e, recentemente, o uso das novas tecnologias de comunicação como mecanismo virtual
de mediação, substituindo "instituições clássicas de mediação da política em uma democracia
liberal" (BAQUERO; CASTRO; RANINSHESKI, 2016, p. 103).
Moisés (2008) aponta que as orientações políticas dos cidadãos em sociedades marcadas
pela herança de traços autoritários na cultura política são fortemente afetadas por essas
contradições nos valores de apoio à democracia, possibilitando a simpatia por soluções às
margens das normas democráticas com o objetivo de resolver os problemas da sociedade,
desconfiando (senão desprezando) de partidos e do congresso, formas tradicionais de mediação
que não conseguem reduzir o grau de incongruência entre sua oferta institucional e a demanda
cultural dos cidadãos, mesmo após décadas realizando eleições regularmente.

22
3. Conceitos centrais: conservadorismo e autoritarismo

Os termos "conservadorismo" e "autoritarismo" podem apresentar certas dificuldades


de conceitualização, em parte pela polissemia dos conceitos e das formas como são utilizadas
na literatura ou no senso comum. De toda forma, não devem ser confundidos, pois apesar da
possibilidade de coexistência de características, não se trata de componentes necessariamente
similares.

3.1. Conservadorismo

O conceito de conservadorismo passa por tentativas de definição como de Mannheim


(1986), Huntington (1957) e Scruton (1980). Bobbio et al (1998) posicionam o
conservadorismo nesse conflito com o progressismo. Seu polo estaria sempre apresentado no
campo da negação, de caráter alternativo; existe só apenas porque há uma posição progressista.
Essa seria a causa da tendência de não-sistematização do pensamento conservador, deixando
aberto seu caráter alternativo a qualquer forma que a conjuntura exigir que este seja. É dessa
forma que se daria a impossibilidade de determinar analiticamente o conteúdo eminentemente
histórico dos termos que a compõem.
De forma geral, essa ideologia é categorizada como uma estrutura mental objetiva,
dinâmica e condicionada historicamente. Trata de um modo de pensar e agir coerente e
reflexivo, organizado de forma mais ou menos consciente na oposição ao movimento
"progressista", ou ao pensamento liberal-burguês, caracterizado como o tradicionalismo
tomado consciente que surge e se desenvolve no cenário da sociedade de classes, marcado pelo
dinamismo das múltiplas e sucessivas transições na organização social da modernidade. É
possível encontrar traços teórico-metodológicos estruturantes do pensamento conservador
derivados do problema central que está em sua origem, na Europa XVIII: a oposição ao
pensamento baseado no direito natural (FERREIRA; BOTELHO, 2010). Consoante a essa
interpretação, González, Baquero e Grohmann (2021) identificam que

o conservadorismo, portanto, pode ter diferentes conteúdos, do ponto de vista político,


como uma ideologia que defende a manutenção de tradições e rejeita mudanças
radicais, mas que pode ser associada ao pluralismo de ideias liberal – sustentado por
regras do jogo, historicamente ligado às origens do Partido Republicano dos EUA ou
aos Tories do Reino Unido no século XX – como, por outro lado, pode ser reacionária
(ROBYN, 2017; HIRSCHMAN, 1992) e incluir características autoritárias
(GONZÁLEZ; BAQUERO; GROHMANN, 2021, p. 14).

23
No esforço de categorizar o conservadorismo como um objeto das ciências sociais ao
desenvolver uma teoria do conservadorismo como ideologia, Huntington (1957) categoriza o
conservadorismo como um sistema de conceitos ativados para justificar qualquer forma de
ordem social vigente contra todo desafio fundamental a sua natureza. Seria, portanto, uma
ideologia marcada por uma estrutura mental objetiva, dinâmica e condicionada historicamente,
ou seja, em que suas posições são condicionadas pelo panorama histórico em que está a reação.
A ação conservadora mostra-se não meramente como uma reação automática aos
movimentos progressistas de cada contexto histórico, mas pressupõe um tipo de condução
política – que pode ser exercida nas mais diversas maneiras, e liderada pelos mais diversos
agentes. Para Mannheim (1986), a ação conservadora pressuporia “uma orientação consciente
ou inconsciente a um modo de pensar e agir, que em seu conteúdo e forma, é sempre
historicamente caracterizado e identificado [...] antes mesmo de chegar ao indivíduo”
(MANNHEIM, 1986, p. 94).
Organizada dessa forma, a ideologia e ação conservadora conformam-se não como a
defesa da ausência de mudança, mas como “resistência teórica sistemática articulada à
mudança” (HUNTINGTON, 1957). Compreendido assim, trata-se de uma posição ideológica
desenvolvida na reação a uma situação social específica, desenvolvida nas necessidades
históricas específicas daquele quadro. Quando essa necessidade retrocede, também recua a
filosofia conservadora, conformando os pensamentos conservadores em uma dinâmica
repetitiva, e não evolucionária.
Devido a esse caráter repetitivo, pontual e reativo ao contexto histórico, o pensamento
conservador apresenta uma dicotomia: “conservatism, the defender of tradition, is itself without
tradition. Conservatism, the appeal to history, is without history” (HUNTINGTON, 1957, p.
460). A ausência de tradição teórica e coerência histórica presente em uma corrente
fundamentada na reação de um aspecto pontual fazem com que, mais do que qualquer outra
ideologia, o pensamento conservador permite ser condensado em um “catálogo de princípios e
conceitos”. Enquanto outras ideologias apresentam ideias básicas como pontos de partida na
interpretação da realidade, no conservadorismo as ideias básicas são a completude de sua
substância teoria, revelando seu caráter estático e limitado.
Não é, portanto, a riqueza teórica, a profundidade do argumento apresentado,
reapresentado e debatido que justifica o engajamento de vozes relevantes às parcelas cada vez
mais consideráveis do eleitorado – seja brasileiro, estadunidense ou europeu, ao pensamento
conservador. Esses agentes são atraídos e aderem ao conservadorismo pelo “shock of events,

24
by the horrible feeling that a society or institution which they have approved or taking for
granted and with which they have been intimately connected may suddenly cease to exist”
(HUNTINGTON, 1957, p. 467). Essa angústia de que a sociedade em que o agente foi
socializado e a forma como interpreta a realidade esteja ruindo pode ser real ou induzida,
causada e resolvida por uma miríade de fatores. De qualquer forma, para Huntington, a
justificativa da primazia moral que obriga aqueles que fazem parte de certa ordem social de
defendê-la, os inimigos internos ou externos que querem destrui-la, e a forma com que devem
ser combatidos apresentam-se como uma resistência teórica sistemática articulada à mudança,
conformada na forma mais coerente de reação àquela determinada conjuntura histórica.
De forma divergente, para Scruton (1984), a realidade do ato política está baseada na
ação, e a ação deriva do pensamento, logo, ações consistentes demandam uma linha de
pensamentos igualmente consistentes. Como essa consistência não é presente no
conservadorismo, surge a ilusão que se trata de uma ideologia sem pensamento, conjunto de
crenças e princípios ou visão geral de sociedade que rege o comportamento conservador, sendo
sua ação nada mais que reação e sua crença a nostalgia.
Na realidade, o conservadorismo como ideologia sistematizada é capaz de produzir
manifestos coerentes quando forçado pela necessidade política, todavia padece na sua tendência
inexorável de evitar abstrações, de ser fundamentalmente inarticulado, relutante e incapaz de
traduzir seus postulados máximas que perdurem em mais do que um contexto histórico
específico.
O agente conservador se identifica com a ideologia quando reconhece o seu
pertencimento como algo que remete a continuidade de uma ordem social pré-existente, assim,
é reforçado o desejo de conservar todo e qualquer arranjo social fundamental à forma com que
está inserido na sua realidade. Apesar disso, o desejo de conservar é compatível com a mudança,
desde que represente a continuidade da ordem vigente.
A visão a-histórica do conservador, alinhada ao comportamento indisposto de
desenvolver a abstração, não permitem que este idealize um futuro utópico que não esteja, de
forma intrínseca e indissociável, vinculada ao presente ou passado. A conformação e
interpretação da realidade deve estar assentada no que é material e concreto, das coisas como
elas são, e a ação humana, fundamentada nas forças motrizes da realidade: autoridade, lealdade
e tradição (SCRUTON, 1984). A autoridade é necessária para organizar a sociedade, e deve
contar com a lealdade num grau de enlace que transcenda os valores objetivos da materialidade,
assim como são os laços familiares, por exemplo. Para existir uma lealdade transcendental dessa

25
magnitude, ela deve estar baseada nas tradições e costumes. Nessa perspectiva, a tradição não
é um elemento estático, mas “the active achievement of continuity; it can be restored, rescued
and amended as grace and opportunity allow” (SCRUTON, 1984, p. 111).
Inglehart (1971) percebe mudanças fundamentais nos valores presentes em democracias
consolidadas que conflitam com o paradigma apresentado na década de 1960. Nessas
sociedades, as gerações socializadas após a II Guerra Mundial não depositam interesse e
preocupação em necessidades materiais de forma tão imperativa quanto às gerações anteriores,
dispostos a estabelecer freios no crescimento econômico em detrimento às questões pós-
materiais, como o ambientalismo, redução das desigualdades e a melhora nos níveis de
qualidade de vida. Nas sociedades em que necessidades materiais de sobrevivência são sanadas,
há o desenvolvimento de valores pós-materialistas. Estaria em curso então uma substituição de
valores no perfil de cidadão democrático, em que tais sociedades não são mais compostas por
cidadãos leais, mas por cidadãos críticos, enquanto substituem os valores de sobrevivência por
valores de autoexpressão, sendo que esses novos valores afetam as orientações dos indivíduos
em relação à participação política. Nesse sentido, “conservador" é aquele contrário à
substituição de valores materialistas pelos pós-materialistas que, quando mobilizado e
organizado politicamente, podem levar a um cultural backlash (NORRIS, INGLEHART,
2019).
Mais do que as convicções desenvolvidas ao longo do convívio político, o conservador
defende a sua ordem social vigente não pela força dos argumentos teóricos, mas porque
conhecê-la tão bem, viver dela e com ela, ver sua própria identidade e lugar no mundo ameaçada
quando algo ou alguém arrisca interferir nas configurações de seu funcionamento. O
conservador é intransigente na defesa da continuidade, e age de forma ativa para garanti-la.
Considerando esses pontos, Ricupero pondera que, enquanto os progressistas tomam o
presente como ponto de partida para o futuro, os conservadores o verão como o mais avançado
estágio alcançado pelo passado. A ideia central não é a de sucessão dos arranjos, normas e
valores com o passar do tempo, mas de coexistência, e a noção de história mais identificada no
campo espacial do que temporal (MANNHEIM, 1986). Não é universalista, mas intrínseco ao
relacionado com a conjuntura histórica que corresponde à dissolução do antigo regime. não é
uma atitude psicológica, tradicionalista, mas uma postura política consciente (MANNHEIM,
1986).

26
3.1.1. Conservadorismo no Brasil

A literatura que abarca o conservadorismo no Brasil e seu papel no desenvolvimento


político nacional abrange seu desempenho como força político-social na sociedade brasileira
nos mais diversos momentos de sua formação. Compreender como essa ideologia política se
desdobra parece fundamental para o entendimento de uma cultura política nacional que
menospreza a monumental desigualdade que marca a sociedade brasileira (BOTELHO;
FERREIRA, 2010).
Essa versão brasileira carrega traços da produção oitocentista, com foco na “valorização
positiva da formação política brasileira sob o regime imperial logo após a independência”
(LYNCH, 2010, p. 40). Esse discurso conservador defende uma organização institucional nas
conformidades do sistema inglês, porém com inusitada concentração de poder na coroa –
singular protetora do bem comum numa esfera degradada pela inconsequente busca do poder e
satisfações pessoais (LYNCH, 2010).
Se por um lado a versão brasileira busca inspiração no ambiente europeu, deve encarar
as raízes do cenário local. A invocação da virtude do passado e a superioridade moral dos
arranjos sociais tradicionais esbarram no atraso civilizatório do contexto brasileiro no século
XIX, e são pontos espinhosos para enquadrar nos moldes do conservadorismo clássico, quando
esse passado e esse arranjo estão embasados na exploração da mão-de-obra escrava e no saque
das américas pelos impérios europeus. O conservadorismo no Brasil (e na América Latina
inteira) se depara com a destituição de um passado aproveitável e a impossibilidade de olhar
politicamente para trás (LYNCH, 2017).
Para Faoro (1973), o processo de formação do Estado brasileiro apresenta a
característica de ser um continuum do modelo colonial político português, marcado pelo poder
do estamento burocrático constituinte do Estado sobre a sociedade. Datada de 1824, nota-se
que a primeira constituição brasileira – fruto de um decreto do Imperador D. Pedro I – antecedeu
em 65 anos a Proclamação da República (posta em prática por meio de um golpe militar).
A preservação do regime monárquico no século XIX foi estabelecida de forma
hegemônica pelas elites locais como forma de garantir a independência política do Brasil sem
renunciar à estrutura socioeconômica marcada pelo latifúndio e escravismo (ABREU, 2012).
A Independência do Brasil em 1822 dificultou a tentativa de aclimatação das teorias
conservadoras de Burke e Smith na nova sociedade nacional, uma vez que o apelo pela tradição
e pelo passado tendiam ao enlace com o antigo regime colonial recém partido (LYNCH, 2017).

27
Para Oliveira Viana (1923), a Proclamação da República em 1889 ocorreu de
sobressalto no Brasil, em um momento em que a nação estaria abalada e fragilizada com a
queda de dois dos seus pilares basilares: a abolição da escravatura e o impacto na ordem
produtiva, e a queda da monarquia. Para o autor, a Proclamação da República e o fim do
escravismo seriam responsáveis pela privação de oferecer à nação “um belo edifício, sólido e
perfeito, construído com a mais pura alvenaria nacional – e nos deram um formidável barracão
federativo, feito de improviso e a martelo, com sarrafos de filosofia positiva e vigamentos de
pinho americano (VIANA, 1939, p. 58)”
O deslocamento do poder das mãos do Imperador para o Parlamento foi encarado com
desprezo e frustração pelos conservadores oitocentistas (ABREU, 2012), que, certos da
inevitabilidade do fracasso desse regime, reverberavam como os partidos políticos não
passavam de emissários dos interesses dos clãs patriarcais, e definiam o parlamento como um
centro de agitações insípidas e desprovida de preocupação com os interesses coletivos. Os
sentimentos de desdém com os rumos políticos da nação foram substituídos pelos de otimismo
e boa vontade com a instalação do Estado Novo, a extinção dos partidos políticos e supressão
dos órgãos legislativos uniam-se em harmonia com os preceitos de Viana, para quem a
concentração do poder político na figura do chefe do executivo era uma imperativo para o
Brasil, que necessitaria do “presidente que não divida com ninguém a sua autoridade; do
presidente em quem ninguém mande; do presidente soberano, exercendo, em suma, o seu poder
em nome da nação, só a ela subordinado e só dela dependente” (VIANA, 1939, p. 202).
Azevedo Amaral, outro expoente da ideologia conservadora no Brasil, também
converge no Poder Executivo o papel essencial ao afirmar que o Estado e a Nação são
indissociáveis entre si, e seria responsabilidade do presidente assumir a responsabilidade de ser
o “eixo da sua organização estrutural e o foco de irradiação do seu dinamismo” (AMARAL,
1938, p. 192). Assim como Oliveira Viana, Amaral concorda que a concentração de poder
político nas mãos de um presidente forte é imperativo para a construção e desenvolvimento da
nação brasileira.
Tendo esses pontos esclarecidos, é possível depreender que apesar da desenvoltura
discursiva miméticas aos moldes anglo-saxônicos, o conservadorismo brasileiro apresenta
como aspectos distintivos e conformadores, de um lado, a inserção em um contexto em que os
valores reacionários esbarram em um passado que dificulta a invocação de atributos virtuosos,
admitindo a necessidade do progresso e de um processo de modernização, e do outro a relação

28
com valores de caráter iliberais e autoritários, calcadas na proposta centralizadora e monárquica
do estado estatista, centralista, interventor (LYNCH, 2015).
Durante o século XX, esse conservadorismo brasileiro foi a ideologia de diversos
Presidentes da República, seja os eleitos, como Marechal Dutra e Jânio Quadros, seja os
militares da ditadura civil-militar instaurada em 1964 (GONZÁLEZ; BAQUERO;
GROHMANN, 2021). Nas duas primeiras décadas do século XXI, entre 2003 e 2016, a
presidência da República ficou a cargo do Partido dos Trabalhadores, com Lula da Silva (2003-
2010) e Dilma Rousseff (2011-2016). Apesar de reeleita em 2014, Dilma Rousseff foi afastada
em um processo de impeachment que resultou na posse de seu vice-presidente Michel Temer
(PMDB-SP), e na respectiva retomada da agenda conservadora (GONZÁLEZ; BAQUERO;
GROHMANN, 2021). A eleição presidencial seguinte, em 2018, foi a primeira no país com a
vitória de um candidato de extrema-direita, Jair Bolsonaro (PSL) – militar, conservador,
moralista, religioso, deputado desde 1988, porém defensor aberto da antipolítica e de medidas
antidemocráticas (MARANHÃO FILHO, COELHO e DIAS, 2018).
No contexto internacional, a eleição de Bolsonaro foi inserida no surgimento de uma
“onda neoconservadora” (NORRIS; INGLEHART, 2019), que difere das guinadas à direita das
décadas de 1980 e 1990 pela presença de traços autoritários que podem representar riscos
(inclusive fatais) para o futuro do sistema democrático (FOA e MOUNK, 2017; LEVITSKY e
ZIBLATT, 2018). Todavia, a exposição aqui desenvolvida indica que o intercâmbio de valores
autoritários no conservadorismo brasileiro não é necessariamente uma inovação em seu escopo,
mas parte basilar e seminal de sua constituição.

3.2. Autoritarismo

Uma das primeiras tentativas de sistematização para medir o autoritarismo como objeto
de pesquisa e fenômeno social foi o desenvolvimento da escala F de fascismo no estudo de
Adorno et al. (1950), ao observar traços psicológicos da população estadunidense, e
posteriormente renovado por Altemeyer (1981), apontando a personalidade autoritária com três
traços distintivos: altos níveis de submissão à autoridade estabelecida, de agressividade em
nome da autoridade e do convencionalismo.
Florestan Fernandes (1979) encontra no autoritarismo um conceito amorfo, ambíguo,
usado em excesso ou de forma equivocada para designar uma miríade de arranjos: enquanto
são atenuadas e dissimuladas as manipulações repressivas de Franco e Salazar sob a égide de
“ditaduras técnicas para a defesa da democracia”, há o esforço de confundir os regimes de

29
transição socialista ao nazi-fascismo, de forma que os regimes autoritários fossem equivalentes
a “democracias fortes”, e regimes soviéticos enquadrados no campo do totalitarismo. Nesse
arranjo, autoritarismo poderia designar qualquer regime senão a democracia liberal burguesa.
Fernandes (1979) critica a forma com que os estudos relacionados a qualidade da
democracia percebem exclusivamente a democracia burguesa, baseada na representação com
base no regime eleitoral, partidos e estado constitucional, apáticos aos efeitos das desigualdades
econômicas, sociais ou culturais. Ao não considerar esses fatores, conceitos como “liberdade”
e “igualdade” tornam-se meramente formais, estabelecendo o elemento autoritário como
estrutural para a preservação, fortalecimento e expansão do sistema democrático capitalista
(FERNANDES, 1979, p. 45).
É assim que as classes possuidoras, revolucionárias na destruição do antigo regime,
veem seu componente autoritário crescer geometricamente após a consolidação da ordem social
capitalista, uma vez que se torna ela a classe contra a qual irá de encontro qualquer novo esforço
revolucionário. A ótica liberal torna-se prisioneira de uma ideologia conservadora e reacionária,
e o conservantismo e a contrarrevolução desembocam na via autoritária.

Do micro ao macro, a sociedade capitalista contém toda uma rede de relações


autoritárias, incorporadas às instituições, estruturas, ideologias e processos sociais,
tendendo exacerbar-se como autodefesa dos interesses econômicos, sociais e políticos
das classes possuidoras e dominantes (FERNANDES, 1979, p. 51-52)

Nessa visão, as novas instituições, a configuração social em cultura de massa, o


monopólio da violência policial-militar, entregam ao capitalismo o poder de autodefesa e de
ataque inéditos na história humana, de modo tão indissociável a defesa da democracia se
confunde com a defesa do próprio sistema capitalista.
Bobbio (1986) distingue o autoritarismo entre estrutura de sistemas políticos,
disposições psicológicas a respeito do poder e ideologias políticas. Quanto a estrutura de
sistemas políticos, caracterizam aqueles regimes que que anteferem a autoridade central,
eclipsando o consenso, centralizam o poder político em um só órgão ou agente político e retiram
o protagonismo das instituições representativas.
Referente às disposições psicológicas a respeito do poder, caracteriza-se aquele tipo de
personalidade cujo traço singular está centrado no acoplamento da obediência aos superiores,
podendo compreender a reverência para quem detêm o poder, à arrogância e desprezo daqueles
que não possuem força ou são seus inferiores na hierarquia social vigente.
Por fim, quanto às ideologias políticas, conformam aquelas que recusam a igualdade
entre os membros de tal sociedade, calcadas na obediência incondicional da hierarquia, exaltam
30
as qualidades naturais e inerentes da forma de organização social, geralmente apresentada como
de função conservadora visto que, sem a mão forte de um líder ou órgão central a sociedade se
degenerará.
No sentido de distinguir as estruturas dos sistemas políticos, as obras de Linz (1964;
1975; 2000) o colocam como um dos principais teóricos do conceito de autoritarismo no campo
da ciência política, contribuindo na tipologia dos regimes partindo da experiência espanhola ao
criticar o modelo de análise vigente, que definia um continuum unidimensional entre o polo
democrático e o polo totalitário, em que todo e qualquer outro sistema político estaria
englobado. O autor separa os regimes em três tipos: os totalitários, autoritários e democráticos,
reconhecendo assim a singularidade dos regimes autoritários como aspectos próprios, ao invés
de ser tipificado como um totalitarismo falho ou incompleto ou um regime modernizador pré-
democrático.
Um regime autoritário seriam, portanto, aqueles

Political systems with limited, not responsible, political pluralism, without


elaborate and guiding ideology, but with distinctive mentalities, without
extensive nor intensive political mobilization, except at some points in their
development, and in which a leader or occasionally a small group exercises
power within formally ill-defined limits but actually quite predictable ones.
(LINZ, 1964, p. 255)

As duas dimensões principais utilizadas na definição de “regime autoritário” são o grau


ou tipo de pluralismo politico limitado, e o grau em que o regime é baseado na apatia politica
e desmobilização da população (ou mobilizações limitadas e controladas), circundando o que
seria um sistema político democrático como aquele que permite a livre formulação de
preferências politicas por meio do exercício das liberdades básicas de associação, informação
e comunicação, na livre competição do “claim to rule” em intervalos regulares e por meios não
violentos, bem como a garantia de liberdades politicas às minorias ( ou grupos estigmatizados)
(LINZ, 2000).
Por fim, o autor tem o cuidado de dedicar parte de seu esforço para o uso do termo
“ditadura” – usado para designar governos legítimos não-democráticos e não-tradicionais
(LINZ, 2000). Para o autor, se há algum motivo para a conservar e empregar cientificamente o
termo, seria para descrever regimes emergenciais que suspendem ou violam temporariamente
as normas constitucionais para o exercício da autoridade. De toda forma, o caminho recorrente
desses arranjos é, com frequência, tornar-se pontes para outras formas de regime autocrático –

31
de autoridades extraordinárias institucionalizadas para a consolidação de formas de governo
autoritário (LINZ, 2000, p. 61-62).
Se o conservador é o individuo que rejeita mudanças no status quo, avesso à substituição
de valores materialistas por pós-materialistas, tende a ser apático em relação à política, mas
pode ser cooptado ou organizado, o autoritário por sua vez parece estar mais relacionado ao
convencionalismo e o culto a personalidade, devoção, desprezo pelo debate e pelos outros
poderes que não o Executivo, bem como a “confusão” da democracia, vista como pouco prática
e muito lenta em relação ao ritmo de mudanças que o autoritário se propõe a realizar.
Percebe-se, porém, que a conformação formativa e ideológica do conservadorismo
brasileiro, mais do que relacionar-se com valores iliberais, está vinculados aos valores
abertamente autoritários. O motor da ação conservadora confunde-se com a retórica,
pensamentos e práticas autoritárias. Desse modo, a persistência e reprodução de valores
conservadores na juventude torna-se uma questão sensível no desenvolvimento – ou
atravancamento – da democracia no Brasil, uma vez que está intrinsecamente ligada à
permanência e reprodução dos valores autoritários ao que está, de forma perene, associada.
Esses elementos postos, a capítulo seguinte propõe dar cabo a análise de dados para
compreender a dinâmica dos valores autoritários na juventude brasileira entre 2001 e 2019.

32
4. Trajetória dos valores autoritários na juventude brasileira: mudanças e continuidades

Como descrito no capítulo introdutório, o objetivo central desta dissertação é verificar


se a dinâmica dos padrões de valores políticos da juventude brasileira aponta para o aumento
da presença de valores conservadores e autoritários no século XXI. Para isso, são utilizados
dados de duas pesquisas empíricas realizadas pelo NUPESAL/UFRGS por meio do método de
pesquisa tipo survey: “Democracia, Juventude e Capital Social no Brasil”, aplicada em Porto
Alegre em 2001, coordenada por Baquero, e “Democracia, mídias e capital social: um estudo
comparativo de socialização política dos jovens no Sul do Brasil”.
Para essa pesquisa, serão analisados os dados referentes ao município de Porto Alegre
(RS), por serem os únicos coletados nos três bancos de dados, permitindo identificar se houve
mudanças ou continuidades no padrão de valores políticos da nova geração de jovens em
relação àquela do início do século, no sentido de ampliação de valores autoritários. Dessa
forma, a amostra correspondente aos jovens porto-alegrenses com idades entre 13 e 24 anos são
500 em 2001, 690 em 2015 e 865 em 2019.
A proposta de análise de dados nessa dissertação é direcionada a compreender as
mudanças de valores intergeracionais, uma vez que a substituição geracional do ano de 2001
até 2019 pode estar acompanhada de uma mudança expressiva – ou a contínua manutenção –
de valores (NORRIS; INGLEHART, 2019), ao compreender se houve uma transformação de
valores no sentido de incremento conservador e autoritário em diferentes contextos geracionais.
Para discernir quem são os jovens com valores políticos aderidos ao autoritarismo, essa
dissertação propõe o desenvolvimento de um índice de autoritarismo, capaz de atribuir níveis
de adesão ao autoritarismo na juventude porto-alegrense nas ondas de 2001, 2015 e 2019.

4.1. Índice de autoritarismo

O Índice de autoritarismo é composto por três indicadores: a preferência de um líder


sobre a participação popular para a resolução dos problemas do país; a negação da política, e a
baixa confiança nas instituições democráticas9.
A preferência por um líder sobre a participação popular para a resolução dos problemas
do país está relacionada à obediência aos superiores, reverência aos detentores do poder,
desprezo pelo debate e pelos outros poderes que não o Executivo.

9
A operacionalização do Índice de Autoritarismo está detalhada no anexo 2, página 93 a 95.
33
A negação da política busca captar no índice de autoritarismo a oposição às estruturas
do sistema político, como seus atores e a divisão de poderes, enquanto apresenta simpatia com
aqueles regimes que priorizam a autoridade central e retiram o protagonismo das instituições
representativas.
Por fim, a baixa confiança nas instituições democráticas está vinculada à noção de que
a democracia é desordenada, confusa e ineficiente, um empecilho na realização dos feitos que
o autoritário julga serem necessários para a preservação (ou mudança) da sociedade.
Após a sistematização desses dados, os jovens são categorizados em dois perfis
referentes à adesão aos valores autoritários supracitados: o primeiro compreende os jovens com
baixo e moderado nível de autoritarismo; o segundo, alto nível de autoritarismo. Será realizada
uma análise dicotômica, na qual as categorias "baixo e médio autoritarismo" serão agrupadas
em oposição ao "alto autoritarismo". Isso ocorrerá porque a variável de interesse é o "alto
autoritarismo", e não necessariamente a graduação do nível de autoritarismo. A distribuição
final está sintetizada na tabela 1.

Tabela 1 – Construção do Índice de Autoritarismo10

2001 2015 2019


Baixo e Baixo e Baixo e
Alto * T Alto * T Alto * T
moderado moderado moderado
Preferência
de um líder
sobre a 9,2 81,4 9,4 100 59,6 37,5 2,9 100 68,4 30,6 0,9 100
participação
popular
Negação da
27,2 61,8 11 100 63,5 31,3 5,2 100 62,1 36,1 1,8 100
política
Baixa
confiança nas
61,2 34,8 4 100 42,9 49,9 7,2 100 42,9 54,7 2,4 100
instituições
democráticas
Índice de
Autoritarism 58,8 21,2 20 100 56,8 33,5 9,7 100 59,2 36,6 4,2 100
o
Fonte: Elaboração própria utilizando dados de NUPESAL (2001; 2015; 2019). 2001: n=500; 2015: n=690; 2019:
n=865. * Omisso no sistema.

Os dados da tabela 1 apontam que o número de jovens com alto nível de autoritarismo
está em constante crescimento desde 2001. Naquele ano, 21,2% do total dos jovens da amostra
apresentava um perfil de alto nível de autoritarismo, subindo para 33,5% em 2015 e 36,6% em
2019 – uma média de +0,91% ao ano. Em contrapartida, os jovens com perfil de baixo ou

10
As questões originais podem ser consultadas no anexo 1. A operacionalização dos indicadores pode constar no
anexo 2.
34
moderado autoritarismo oscila de 58,8% em 2001 para 56,8% em 2015 e 59,2% em 2019, uma
variação mínima.
Esse dado revela a importância dos valores nulos: em 2001, 20% dos jovens não
responderam de forma conclusiva questões dos três eixos do indicador de autoritarismo,
impossibilitando a categorização do seu perfil. Em 2019 esse número caiu para 4,2%, mas,
enquanto as taxas de baixo e moderado autoritarismo oscilou em +0,4%, o alto autoritarismo
variou em +15,4%. Esses dados sugerem que há um grande estoque de “autoritarismo
potencial” nesse grupo. Para evitar distorções, a análise de dados considera apenas os valores
válidos, desconsiderando os omissos. À vista disto, os dados utilizados estão de tal modo
distribuídos:

Tabela 2 – Índice de Autoritarismo

Nível de
2001 2015 2019
autoritarismo
Baixo ou
73,5 62,9 61,8
moderado
Alto 26,5 37,1 38,2
T 100 100 100
Fonte: NUPESAL. 2001: n=400; 2015: n=623; 2019: n=829.

A Tabela 2 concentra o Índice de Autoritarismo que será utilizado no cruzamento de


dados dessa dissertação. Percebe-se que houve um aumento significativo na penetração de
valores autoritários na juventude porto-alegrense entre 2001 e 2015, quando o Alto nível de
autoritarismo passa de 26,5% para 37,1%, e a manutenção desse patamar em 2019, em 38%.
Para cumprir os objetivos propostos, o índice de autoritarismo será utilizado no
cruzamento de dados para analisar a proporção de jovens com alto nível de autoritarismo em
cada categoria selecionada, comparando se essa presença de jovens com valores autoritárias
acompanha a trajetória de incremento do nível de autoritarismo entre 2001 e 2019. Dessa forma,
é possível perceber se os valores autoritários são mais evidentes em determinadas variáveis, se
esse incremento está concentrado em algum setor específico ou se trata de um fenômeno
generalizado, bem como se houve a transformação significativa de valores na juventude entre
esses quase vinte anos.
A análise versa sobre três eixos: o primeiro leva em conta o perfil sociodemográfico dos
jovens, considerando o gênero, o tipo de escola em que estuda, a religiosidade e a classe social;
o segundo trata sobre os valores políticos, como o interesse por política, a desconfiança
interpessoal, o posicionamento ideológico e a percepção da democracia como melhor regime

35
possível; e o terceiro apresenta comparações entre as ondas de 2015 e 2019, propondo verificar
se há mudanças relevantes na influência do agente de socialização, a disposição para conversar
sobre política e para exercer o direito do voto.

4.2. Variáveis socioeconômicas

4.2.1 – Gênero

O aprofundamento do modelo democrático representativo está associado à garantia de


acesso ao poder político a todos os segmentos e grupos sociais excluídos. Entretanto, há um
conjunto de fatores que obstruem a participação política de mulheres (MATOS, 2011;
ARAÚJO, 2012), como o processo de socialização política juvenil diferenciada (BICCA,
2016); processo que “assume relevo por referenciar a transmissão dos códigos responsáveis por
situar o segmento feminino em posição secundária na sociedade, moldando percepções e
condutas e reforçando estereótipos de masculino e feminino” (PRÁ; EPPING, 2009, p. 1).
Dessa forma, pode haver distinções importantes na penetração de valores autoritários de acordo
com o gênero dos jovens.

Gráfico 1 – Presença de autoritarismo de acordo com o gênero (%)

70
% de alto autoritarismo em cada

60

50
37,9 40,1
40
variável

27,8
30 36,6 36,2

20 25,1
10

0
2001 2015 2019
Masculino Feminino Autoritarismo na população

Fonte: NUPESAL, 2001; 2015; 2019. 2001= n:400, q:>0.5; 2015= n:618, q:>0.5; 2019= n:818, q:>0.5.

36
A fim de permitir a comparação visual da presença de jovens com alto nível de
autoritarismo em cada uma das variáveis observadas, a linha roxa pontilhada representa a
presença de valores autoritários na população geral, nos valores do Índice de Autoritarismo
(2002 = 26,5%, 2015 = 37,1%, 2019 = 38,2%). Dessa forma, é possível comparar se há uma
concentração de valores autoritários em alguma das variáveis selecionadas.
O gráfico 01 mostra como a presença de valores autoritários entre 2001 e 2019 cresceu
de forma coerente às taxas de gênero. Há a constante manutenção da prevalência de valores
autoritários entre o grupo feminino sobre o masculino (+2,7 em 2001, +1,3% em 2015, +3,9%
em 2019). Essa distribuição pode ser um reflexo do processo de socialização política juvenil
diferenciada, que distancia as pessoas do gênero feminino às questões políticas e a adesão a
valores de defesa da manutenção do sistema. Apesar da consistente prevalência de valores
autoritários entre o gênero feminino, a pequena margem não permite inferir que há prevalência
de valores autoritários de acordo com o gênero.
Visto isso, conclui-se que a presença de valores autoritários é levemente maior entre o
gênero feminino do que masculino, enquanto houve a expansão de valores autoritários limitada
entre o período de 2001 a 2015. Quando colocada em perspectiva a questão do gênero, portanto,
não se verifica grandes alterações no padrão de valores predominantes da juventude entre 2001
e 2019.

4.2.2 – Tipo de Escola

A questão da socialização política e a escola é amplamente trabalhada por autores que


veem esse processo afetado pela desigualdade de recurso entre os estudantes das escolas
públicas e privadas (DAYRELL, 2007; FUKS, 2011; 2013; ZORZI, 2016; BERNARDI, 2017;
BICCA, 2017; MORAIS, 2017; VASCONCELOS, 2019), resultando em taxas superiores de
competência cívica (HOSKINS et al., 2008) e atitudes assertivas (DALTON; WELZEL, 2014)
dos estudantes do sistema privado. Esses pontos considerados, o gráfico 02 apresenta a
correlação entre os valores autoritários e as escolas do sistema público e privado.

37
Gráfico 2 – Presença de autoritarismo de acordo com o tipo de escola (%)

70
% de alto autoritarismo em cada

60

50 43,6 41,4
variável

40
29,2
30
29,8 30
20
19,3
10

0
2001 2015 2019
Pública Privada Autoritarismo na população

Fonte: NUPESAL, 2001; 2015; 2019. 2001= n:400, q:0.28; 2015= n:623, q:0.000; 2019= n:829, q:0.001.

O gráfico 02 expõe como os valores autoritários apresentam maior penetração entre as


escolas públicas do que privadas durante toda a série histórica, mantendo superioridade na
presença de valores autoritários acima da casa dos 10% desde 2001 até 2019. Os dados sobre
autoritarismo e o tipo de escola sugerem que esses valores são mais presentes nas escolas
públicas, o que pode ser compreendido como reflexo da latente desigualdade material e
simbólica de uma estrutura social excludente, como a brasileira, em que as escolas do sistema
privado são “mais bem-servidas por recursos que, além de permitirem acesso à informação
política, estimulam o interesse dos jovens por política” (FUKS, 2011, p. 161)
Desde a década de 1990, há no Brasil um o processo de massificação da escola pública
de ensino médio11 que deságua na diversificação do perfil socioeconômico dos alunos. No curso
da inserção do novo perfil de jovens nas escolas públicas,
ocorreu uma migração significativa dos alunos das camadas altas e médias para a rede
particular de ensino, que experimentou uma expansão significativa na última década,
uma nova face da elitização que consolidou o sistema público de ensino no Brasil
como uma “escola para pobres”, reduzindo e muito o seu poder de pressão e o zelo
pela qualidade. Nesse processo, o próprio sentido do ensino médio veio se
transformando. Antes, significava o caminho natural para quem pretendia continuar
os estudos universitários. Agora, principalmente com a sua incorporação à faixa de
obrigatoriedade do ensino [12], tornou-se também a última etapa da escolaridade

11
Em 1994, havia cerca de cinco milhões de matrículas registradas no ensino médio em nível nacional. O ano de
2000 já registrava mais de oito milhões, um acréscimo de 50% de inscritos em seis anos (ZIBAS, 2005).
12
Emenda Constitucional nº 14, de 12 de setembro de 1996; Emenda Constitucional nº 59, de 11 de novembro de
2009.

38
obrigatória e, para a grande maioria dos jovens, o final do percurso da escolarização.
(DAYRELL, 2007, p. 1116)

Dessa discussão, depreende-se, portanto, que, assim como identificado na variável


“gênero”, há uma expansão de valores autoritários limitada entre o período de 2001 a 2015,
enquanto não se verifica grandes alterações no padrão de valores predominantes da juventude
entre 2001 e 2019. Também nas duas variáveis, a maior presença de valores autoritários está
concentrada naquele grupo em que a sua ação política efetiva encontra empecilhos calcados nas
desigualdades de uma estrutura social excludente.

4.2.3 - Religiosidade

Para Burity (2008), a religiosidade configura um elemento importante na concepção da


cultura política de forma muito peculiar na América Latina, servindo não apenas como base
para a compreensão de mundo dos fiéis, mas também como legitimação de sistemas políticos,
continuidades e eventuais mudanças no tecido social latino-americano – e especialmente,
brasileiro. Sendo assim, o gráfico 3 propõe a análise da interseccionalidade entre religiosidade
e níveis de adesão ao autoritarismo.

Gráfico 3 – Presença de autoritarismo de acordo com a religiosidade (%)

70
% de alto autoritarismo em cada

60
50
39,5 40,2
variável

40
30 39,6
34,1
30
26,7 30,6 28,7
20
16,7
10
0
2001 2015 2019
Católica Evangélica
Sem religião / ateu Autoritarismo na população

Fonte: NUPESAL, 2001; 2015; 2019. 2001= n:400, q:>0.5; 2015= n:623, q:>0.5; 2019= n:826, q:>0.5.

39
O gráfico 03 ilustra a porcentagem de penetração dos valores autoritários em cada
religiosidade. O dado mais chamativo é o incremento dos valores autoritários entre aqueles que
dizem não seguir nenhuma religião, ser agnóstico ou ateu: de 17% em 2001 para 40% em 2019.
Esse valor em 2019 é quase idêntico ao registrado entre os católicos e ao valor captado pelo
Índice de Autoritarismo na amostra geral naquele ano.
Entre os evangélicos, nota-se um leve aumento dos valores autoritários em 2014,
seguido de um decréscimo em 2019 que retoma os valores de 2001. A importância desse grupo
religioso no cenário político latino-americano e brasileiro é acompanhada desde o início do
século, no contexto marcado pela erosão da hegemonia católica e ascensão de grupos
protestantes, pentecostais e neopentecostais (FONSECA, PIERUCCI, 2002, ORO, 2005,
MACHADO, 2006; FRESTON, 1994; DO NASCIMENTO CUNHA, 2020), e com mais
destaque após o papel desse segmento religioso na eleição de Jair Bolsonaro em 2018 (DO
NASCIMENTO CUNHA, 2019 MARIANO, GERARDI, 2019; PRANDI; DOS SANTOS;
BONATO, 2019; SOUSA; VETTORASSI; DE ANDRADE JÚNIOR, 2021).
Nesse cenário, faz-se relevante esmiuçar a dinâmica da segmentação religiosa entre os
jovens porto-alegrenses nos anos de 2001, 2015 e 2019, para assim promover uma análise
completa da interseccionalidade entre religiosidade e valores autoritários.

Tabela 03 – Distribuição da religiosidade na juventude porto-alegrense (2001-2019)


Religiosidade 2001 2015 2019
Católica 73,6 30,7 24,6
Evangélica 2 13,9 11,9
Sem religiosidade
4,8 25,4 32,3
definida / Ateu
Outras
16,2 26,8 11,8
religiosidades
NSNR 3,4 3,2 19,4
T 100 100 100
Fonte: NUPESAL. 2001: n=500; 2015: n=623; 2019: n=865.

A tabela 03 apresenta a distribuição da religiosidade na juventude porto-alegrense entre


2001 e 2019, ilustrando a corrosão da hegemonia católica nesses quase vinte anos, quando em
2019 a quantidade de jovens identificados com essa religiosidade era um terço daquela de 2001.
Por outro lado, a quantidade de jovens que se identificavam como ateus, agnósticos ou sem
religiosidade definida saltou de 5% para 32%, tornando-se a maior parcela da juventude.
Quanto aos evangélicos, esse segmento salta de 2% para 14% e 12% em 2001, 2015 e 2019,
respectivamente.

40
A decomposição da distribuição da religiosidade na juventude porto-alegrense
demonstra como houve uma mudança muito significativa no perfil religioso dessa população.
Todavia, a redução de jovens que se identificam católicos e o crescimento dos evangélicos não
alterou o Índice de Autoritarismo desses grupos, enquanto o crescimento dos jovens que não se
identificam com religião alguma alterou a penetração de valores autoritários em sua
composição aos níveis presentes no segmento católico.
Compreende-se, portanto, que a alteração no perfil religioso da juventude porto-
alegrense não se traduziu na redução da presença de valores autoritários nessa população, mas
resultou na manutenção do padrão de valores predominantes. Apesar da transformação do perfil
religioso, o padrão de valores predominantes na juventude brasileira não apresenta grandes
transformações ao longo dos últimos vinte anos senão no grupo de jovens sem religiosidade
definida.
Passadas as variáveis de gênero, tipo de escola e religiosidade, o gráfico 04 propõe uma
visão sobre a relação entre classe social autodeclarada e os valores autoritários.

4.2.4 – Classe social

Gráfico 4 – Presença de autoritarismo de acordo com a classe social (%)

70
% de alto autoritarismo em cada

60
48,7
50 43,7
47
43,8 38,3
variável

40
35,2
32,8
30
27,1 31,2
20 26,4
26,2
13,3
10

0
2001 2015 2019
Baixa Média Alta NSNR Autoritarismo na população

Fonte: NUPESAL, 2001; 2015; 2019. 2001= n:396, q:>0.5; 2015= n:569, q:0.000; 2019= n:809, q:0.022.

O gráfico 04 mostra que a presença de valores autoritários está correlacionada com a


classe social. Em 2001, a proporção de jovens com valores autoritários identificados como
classe baixa e média acompanham os valores gerais do Índice de Autoritarismo, enquanto a
41
classe alta apresenta metade desse valor. Em 2015, a proporção de jovens de classe baixa com
alto nível de autoritarismo chegou a 49% (12% acima do Índice para o ano) e manteve-se com
a maior proporção em 2019 (44%), enquanto aqueles identificados como classe média variaram
para cima, porém ainda abaixo da média geral.
Chama a atenção o movimento da penetração de valores autoritários entre os jovens
identificados como de classe alta. Se em 2001 a quantidade de jovens dessa classe com valores
autoritários representava 13%, em 2015 mais que dobrou, alcançando 35% em 2019. Esses
dados sugerem um aumento na penetração de valores autoritários entre os jovens de classe alta
ao longo da série histórica, porém a classe em que há a maior presença de valores autoritários
segue sendo a classe baixa. Isso pode ser um reflexo da já citada exclusão do sistema
sociopolítico marcadamente desigual no Brasil, que enseja sentimentos de frustração com a
eficácia do sistema democrático em resolver os problemas concretos da existência daqueles que
não possuem acesso viável às instâncias decisórias e de poder, bem como o fomento de
sentimentos de negação aos atores políticos e às instituições fundamentais ao funcionamento
do sistema democrático (BAQUERO, GONZÁLEZ, 2011).
Em resumo, a análise das variáveis relacionadas às características socioeconômicas
indica que a presença de valores autoritários é levemente maior entre o público feminino do
que masculino, reflexo do processo de socialização política juvenil diferenciada que distancia
pessoas do gênero feminino à esfera política. Também refletem desigualdade a concentração
de valores autoritários nas escolas da rede pública de ensino e das classes sociais mais baixas.
Quanto a religiosidade, as profundas mudanças do perfil religioso dos jovens de 2002 para 2019
não se refletiu na mudança da dinâmica de valores já estabelecida.
Concluído isso, a próxima seção busca verificar como a dinâmica dos valores políticos
estão inseridos no contexto de adesão aos valores autoritários.

4.3 Valores políticos

4.3.1 Interesse por política

O grau de interesse por política é uma variável que conta com forte valor descritivo
para assimilar a percepção dos jovens em relação à política e seu poder efetivo de ação, por
ser um elemento da eficácia política, que Easton e Dennis (1967) definem como

sentimento que a ação política individual tem, ou pode ter, um impacto sobre o
processo político, ou seja, que vale a pena exercer seus deveres de cidadão. É o
42
sentimento que mudanças sociais e políticas são possíveis, e que o cidadão individual
pode exercer uma parte em fazer essa mudança acontecer. (DENNIS, 1967, p. 28)

A eficácia política está relacionada com a autopercepção do indivíduo como agente de


ação nas decisões políticas (BAQUERO, 2001; 2008) e ao empoderamento. Cidadãos com
baixa eficácia política, associada ao baixo empoderamento, pode resultar da inação política até
a submissão fácil aos discursos populistas (BAQUERO, 2003). Nessa direção, faz-se
indispensável interpretar a correlação entre o interesse por política e os valores autoritários para
apurar se esses valores estão mais vinculados ao autoritarismo como ativismo político ou se
estão mais associados a apatia política.

Gráfico 5 – Presença de autoritarismo de acordo com o interesse por política (%)

70 69,9
69,3
% de alto autoritarismo em cada

60

50
44,1 37,2 36,7
variável

40

30 25,9

20 18,3 16,6
10 11,9

0
2001 2015 2019
Nenhum Moderado Alto Autoritarismo na população

Fonte: NUPESAL, 2001; 2015; 2019. 2001= n:400, q:0.001; 2015= n:609, q:.000; 2019= n:816, q:0.000.

A análise do gráfico 05 aponta que a penetração de valores autoritários varia de acordo


com o interesse por política, e se consolida na série histórica. Enquanto a presença de valores
autoritários entre aqueles que dizem ter interesse moderado acompanha a média geral, entre os
que não apresentam interesse nenhum passou de 44% em 2001 para 69% em 2015, e manteve-
se em 2019. Dos jovens com alto interesse por política, apenas 18% apresentavam alto nível de
autoritarismo em 2001, reduzindo de forma consistente até os 11% de 2019.
Os dados sugerem, portanto, que, ao longo dos últimos vinte anos, não foi registrada
uma transformação no padrão de valores predominantes na juventude brasileira, mas o
acirramento dos valores pré-existentes entre 2001 e 2015, e a reprodução em 2019. Esse dado
43
está explícito no Índice de Autoritarismo presente nos jovens que não tem interesse algum por
política, estabilizado na casa dos 70% desde 2015, e no decréscimo progressivo desses valores
entre os jovens com alto interesse.
Se apenas 12% dos jovens com alto interesse por política apresentam altos níveis de
autoritarismo, é difícil afirmar que o os valores autoritários na juventude brasileira ensejem o
ativismo e a efetiva participação política, assim como de traduzir o incremento da presença de
valores conservadores e autoritários na juventude no século XXI em potenciais riscos ao futuro
do sistema democrático no país.

4.3.2 Desconfiança interpessoal

Bem como a eficácia política, outro valor político importante no enraizamento de


valores democráticos e fortalecimento desse sistema é a confiança interpessoal, valor
diretamente proporcional com a estabilidade democrática (INGLEHART, 1988), e, junto ao
capital social, bases para o sucesso democrático (PUTNAM, 1995). No contexto europeu e
estadunidense, Norris e Inglehart (2019) detectam um processo de acréscimo ou sustentação da
confiança interpessoal aliado a redução da confiança institucional, e atribuem essa dinâmica ao
aumento de exigências dos cidadãos com o sistema democrático. No cenário latino-americano,
porém, Moisés (2011) aponta que a confiança interpessoal e institucional nunca foi elevada, e,
antes de representar um ampliação do escopo das exigências objetivas e subjetivas, estaria
calcada no fomento da antipolítica, apatia e descontentamento geral com o sistema democrático.
Pelas características descritas, a análise realizada nessa dissertação priorizando a aberta
desconfiança entre pessoas em geral, colegas e professores entre 2001 e 2019 para correlacioná-
la a presença de valores autoritários.

44
Gráfico 6 – Presença de autoritarismo de acordo com a desconfiança interpessoal (%)

70
% de alto autoritarismo em cada

60 60,3
50 48,2 51,2
48,1 41,5
variável

40 40 40,4
33,3
30 32,5

20
10
0
2001 2015 2019
Pessoas em geral* Colegas**
Professores*** Autoritarismo na população

Fonte: NUPESAL, 2001; 2015; 2019. 2001= n:400, q:*=>0.5, **=>0.5, ***=0.016; 2015= n:623, q:*=>0.5,
**=>0.5, ***=0.000; 2019= n:815, q:*=0.015, **=0.000, ***=0.000.

É possível perceber que o grau de presença dos valores autoritários na desconfiança


interpessoal é maior que o índice de Autoritarismo de 2001, 2015 e 2019. Em 2001, a proporção
de jovens com valores autoritários na desconfiança das pessoas em geral e nos colegas de escola
eram similares. Em 2015, essa taxa subiu em ambas as categorias e mantém-se no mesmo nível
em 2019, com taxa maior na desconfiança com colegas. Chama a atenção como a proporção de
valores autoritários está concentrada (e crescendo) na desconfiança como os professores: de
40% para 60% na série histórica.
Em relação a desconfiança interpessoal, o padrão de valores predominantes na
juventude brasileira não apresenta grandes transformações ao longo dos últimos vinte anos, mas
sim o acirramento de valores pré-existentes entre 2001 e 2015 nas três variáveis selecionadas,
e entre 2015 e 2019 na desconfiança com os professores. Tomada em conjunto à desconfiança
com os colegas, denota-se que, ao observar a série histórica, está em curso o acirramento da
desconfiança com o ambiente escolar.

4.3.3 Posição ideológica

Logo nos primeiros anos da década de 2010, o contexto político brasileiro presenciou
um acirramento de um processo de polarização, fortemente relacionado ao antipetismo

45
(GOLDSTEIN, 2020). Essa polarização foi cristalizada na eleição de 2014, potencializada em
2018 e radicalizada nas eleições de 2022 (GOLDSTEIN, 2020; ALKMIM; TERRON, 2022).
A oposição entre esquerda e direita no espectro ideológico parece ter dominado o cenário
político nacional – tanto físico quanto digital, e pode apresentar correlações com o nível de
autoritarismo na juventude. Isso posto, o gráfico 07 apresenta a presença dos valores
autoritários de acordo com a posição ideológica autodeclarada.

Gráfico 7 – Presença de autoritarismo de acordo com a posição ideológica (%)

70
% de alto autoritarismo em cada

60
50 47,5 49,6
40 37,2
variável

28,7
30 31
28,4 28,6 28,6
20 26,4 23,9

10 19,2 13,2

0
2001 2015 2019
Esquerda Centro
Direita NSNR
Autoritarismo na população

Fonte: NUPESAL, 2001; 2015; 2019. 2001= n:400, q:>0.5; 2015= n:623, q:0.000; 2019= n:829, q: 0.000.

O gráfico 07 demonstra como há uma correlação entre os jovens que se autodeclaram


ideologicamente e aqueles que não se identificam com nenhuma posição do espectro político.
Nas três ondas, a posição ideológica que menos apresentou penetração de jovens autoritários
foi a esquerda - 19% em 2001, 13% em 2015 e 24% em 2019. Apesar de ser a posição ideológica
autodeclarada com a menor presença de jovens com valores autoritários, é notável que os
valores de 2001 e 2019 são semelhantes, enquanto 2015 marcou a menor proporção de todas as
categorias analisadas.
A presença de jovens com perfil autoritário na posição ideológica “centro” apresentou
leve aumento na série histórica, de 27% para 31%, todavia permanece com taxa quase 10%
inferior que o Índice de Autoritarismo do período. A direita da escala ideológica apresentou
taxa muito próxima a média histórica entre 2001 e 2015, inclusive regredindo de 37% para 28%

46
em 2019, possivelmente relacionado com o efeito de satisfação com a eleição do seu candidato
de preferência – fenômeno já identificado anteriormente por Baquero e González (2011).
Esse caminho não se repete entre aqueles que não se identificam com nenhuma posição
no espectro ideológico. Em 2001, a proporção de jovens com alto nível de autoritarismo era
similar àquela dos jovens identificados à direita. Em 2015, sobe para 48%, e quase 50% dos
jovens que não se identificam com nenhuma posição no espectro ideológico são aqueles com
nível alto de autoritarismo.
Aliados com a análise da variável sobre interesse por política, a observação da presença
de autoritarismo de acordo com a posição ideológica pode indicar que os altos níveis de
autoritarismo, mais do que organizados ao redor de uma agende política, estão presentes na
negação da política. Em duas décadas, não houve um processo de expansão de valores
conservadores e autoritários em qualquer um dos lados do espectro político que pudesse indicar
potenciais riscos ao futuro do sistema democrático no país.

4.3.4 Percepção da democracia como melhor regime possível

Lopes (2004) aponta que a confiança na democracia como o melhor regime político
possível é elemento central na estabilidade e sustentação do sistema democrático. Enquanto o
conflito de ideias é parte do arranjo de poder, a primazia do pleno funcionamento do regime
deve ser preservada, sob pena de “ameaçar sua estabilidade e diminuir a aceitação voluntária
dos cidadãos para com a política governamental, enquanto o impacto do apoio às autoridades
está confinado ao domínio da atividade eleitoral convencional” (LOPES, 2004, p. 163).
A percepção da democracia como melhor sistema político possível foi captada nas
pesquisas de 2001 e 2019, portanto a análise da adesão irrestrita da democracia se dará com os
dados desses anos, excluindo os dados de 2015.

47
Gráfico 8 – Presença de autoritarismo de acordo com a percepção da democracia como
melhor regime possível (%)

70
% de alto autoritarismo em cada

60
55,1
50
41,5
variável

40
35
30 30,4
23,1
20
21,3
10

0
2001 2019
Concorda Discordo NSNR Autoritarismo na população

Fonte: NUPESAL, 2001; 2015; 2019. 2001= n:400, q:0.044; 2015= n: q: 2019= n:829, q:0.001.

O gráfico 08 demonstra que, em 2001, 23% dos jovens que concordavam com a
afirmação de que a democracia é o melhor regime possível apresentam alto nível de
autoritarismo, enquanto essa taxa era de 23% naqueles que discordavam da afirmação - ambas
abaixo do Índice de Autoritarismo naquela onda. Em 2019, essa proporção era de 30% naqueles
que concordavam e 41,5% nos que discordavam.
Apesar de haver uma correlação entre concordar e discordar dessa afirmação com o
nível de autoritarismo em 2019, novamente o setor que apresenta a maior proporção de jovens
com nível alto de autoritarismo foi o daqueles que não souberam ou não quiseram responder
essa questão - de 35% em 2001 para 55% em 2019, ambas muito acima do Índice de
Autoritarismo do período.
A análise da adesão irrestrita da democracia é recorrente em institutos de pesquisa de
referência na área, como o Latinobarômetro. Considerado isso e na intenção de complementar
a análise com a compreensão do cenário em que se encontra a percepção da democracia como
melhor regime político no Brasil, o gráfico 09 propõe comparar o comportamento dessa
variável com os dados referentes ao Brasil, nos anos de 2002, 2015 e 2018 no levantamento do
Latinobarômetro.

48
Gráfico 9 – Percepção da democracia como melhor regime político no Brasil (2002-2018)
(%)
100 5,8
14,3 9,3
80 15,4 21
37,7
60

40
70,3 69,7
56,4
20

0
2002 2015 2018
BRASIL - LATINOBAROMETRO

Concorda Discorda NSNR

Fonte: LATINOBARÔMETRO, 2001; 2015; 2019. 2001= n:1.000, 2015= n:1.250, 2019= n:1.204.

O gráfico acima demonstra que a quantidade de brasileiros que concordavam que a


democracia é o melhor regime político permaneceu inalterado entre 2002 e 2015, na casa dos
70%. Em contrapartida, houve um acréscimo naqueles que discordavam, passando de 15% para
21%.
Entretanto, nos três anos entre 2015 e 2018 houve uma erosão de 13% na quantidade de
cidadãos brasileiros que concordavam que a democracia é o melhor regime político no país,
enquanto quase dobrou a quantidade daqueles que discordavam abertamente.
Supondo que a dinâmica dos valores com base nesse questão captados entre 2001 e 2019
com os jovens porto-alegrenses (NUPESAL (2001; 2019) seguiram o mesmo padrão do
identificado com base nos dados do Latinobarômetro (2002; 2015; 2018), depreende-se que
houve um processo de expansão de valores conservadores e autoritários na juventude brasileira,
principalmente na última década, e, ao relativizar a primazia do regime democrático, esse
incremento da presença de valores conservadores e autoritários na juventude brasileira no
século XXI indica potenciais riscos ao futuro do sistema democrático no país.
Dessa forma, a análise das variáveis relacionadas aos valores políticos indica que o
interesse por política dos jovens com alto nível de adesão aos valores autoritários é
consideravelmente inferior aos demais jovens, o que vincula esses valores mais à negação da
política do que a adesão a um projeto político autoritário organizado.

49
Os dados apresentados pelo gráfico 09 destacaram como houve uma corrosão nos
valores entre os anos de 2015 e 2019. Nesse terceiro momento, busca-se apresentar
comparações pontuais entre as ondas de 2015 e 2019, propondo verificar se há mudanças
relevantes de comportamento ou percepção que possa ser associado a conjuntura política
nacional e os eventos ocorridos entre esses quatro anos, como o impeachment de Dilma e a
eleição de Bolsonaro, na influência do agente de socialização, a disposição para conversar sobre
política e para exercer o direito do voto.

4.3.5 Socialização política

Quanto a reprodução de valores, a cultura política de uma sociedade é mantida, cultivada


ou modificada no processo de socialização política, que opera a “interiorização da cultura
política existente em um meio social por parte das novas gerações” (SCHMIDT, 2000, p. 56).
A socialização política se dá por agentes de socialização, sobretudo a família, escola,
instituições religiosas, meios de comunicação e mídias digitais. (BAQUERO; BAQUERO;
MORAIS, 2016). Assim, o gráfico 10 examina a dinâmica dos valores autoritários com os
principais agentes de socialização política.

Gráfico 10 – Presença de autoritarismo de acordo com o agente de socialização (%)

70
% de alto autoritarismo em cada

60

50 44,7 45,2
43
variável

40
37,4
33,8
30
23 30,3
20 21,4
10

0
2015 2019
Familia Internet Escola Outros Autoritarismo na população

Fonte: NUPESAL, 2001; 2015; 2019. 2001= n:400, q:0.000; 2015= n:623, q:0.000; 2019= n:829, q:0.007.

50
É possível denotar na análise do gráfico 10 que o agente de socialização política que
mais concentra os jovens com alto nível de autoritarismo é a família. Enquanto a média de
presença de jovens com alto nível de autoritarismo é de 35% e 38% em 2015 e 2019, no agente
familiar essa taxa está no entorno de 45%. Abaixo do Índice de Autoritarismo para o período,
mas com tendência de crescimento está a socialização pela internet e redes sociais (21% para
30%) e escola (23% para 34%). A penetração de valores autoritários entre os jovens
socializados por outros agentes, como televisão, rádio, jornais e igrejas reduziu de 43% para
37%.
Considerando que o Índice de Autoritarismo é estável entre 2015 e 2019, e penetração
dos valores autoritários na família como agente socializador, a interpretação dos dados indica
que a presença de valores autoritários na internet como agente de socialização política está mais
próxima que os da escola, reforçando a possibilidade de que esteja em curso um processo de
autosocialização política pelas novas gerações (MORAIS, 2017). De toda forma, mesmo que
esses dois agentes apresentem valores autoritários em níveis inferiores ao Índice de
Autoritarismo, houve um aumento de 10% da presença desses valores em ambos os agentes.
Parece haver, portanto, uma tendência de homogeneização dos valores autoritários em todos os
agentes de socialização política.
Após a observação da socialização política, é importante verificar se a disposição em
conversar sobre política com outras pessoas foi alterada após a eleição de 2018.

51
4.3.6 Disposição para conversar sobre política

Gráfico 11 – Presença de autoritarismo de acordo com a disposição para debater


política com outras pessoas (%)

70
% de alto autoritarismo em cada

60
50
variável

40
31 32,6
30 30,3 30,6
27,7 27,6
20
10
0
2015 2019
Familiares Professores
Amigos e colegas Autoritarismo na população

Fonte: NUPESAL, 2001; 2015; 2019. 2001= n:400, q:0.000; 2015= n:623, q:0.000; 2019= n:829, q:0.000.

O gráfico 11 ilustra que a concentração de valores autoritários entre os jovens que tem
disposição para debater politicamente com outras pessoas é muito baixo, inferior ao Índice de
Autoritarismo tanto em 2015 quanto em 2019. Chama a atenção, também, a completa
linearidade de todas as variáveis dispostas no gráfico: Daqueles que tem disposição para debater
sobre política, apenas 30% apresentam alto Índice de Autoritarismo, seja para conversar com
adultos, como familiares e professores, ou outras pessoas de sua idade, como amigos e colegas
de escola.
Essa disposição parece inalterada entre 2015 e 2019, o que reforça a noção de que não
houve um processo de mobilização política no sentido de participação e de concretizar os
valores autoritários em uma agenda política. A eleição e Bolsonaro, portanto, não parece ter
organizado os jovens com altos níveis de adesão aos valores autoritários a ponto de suscitar o
debate político aparelhado, visto que esses jovens seguem conversando menos sobre política
do que os demais. Para complementar essa visão, será observada a disposição para votar
exprimida pelos jovens.

52
4.3.7 Disposição para o voto

Ao questionar a disposição para praticar o voto nas eleições – tido como principal ato
da democracia formal, Baquero e González (2011) constataram o desencanto com os efeitos
obtidos pelo voto, indicando a presença de uma cultura política sujeita (ALMOND E VERBA,
1965), em que os cidadãos podem reconhecer a importância das instituições democráticas, mas
não apresentam disposição para participar politicamente. Esses fatores vinculam os baixos
níveis de mobilização do exercício e de alistamento eleitoral dos eleitores facultativos
(GONZÁLEZ, 2018).

Gráfico 12 – Presença de autoritarismo de acordo com a disposição para votar se o voto


não fosse obrigatório (%)

70
% de alto autoritarismo em cada

60 60,8 60,2

50
variável

40

30 30,8
20 25

10

0
2015 2019
Sim Não Autoritarismo na população

Fonte: NUPESAL, 2015; 2019. 2015= n:617, q:0.000; 2019= n:824, q:0.000.

Percebe-se no gráfico 12 a concentração de jovens com alto Índice de Autoritarismo


respondendo que não votariam caso o voto não fosse obrigatório (60%), muito maior que a
média do Índice de Autoritarismo na população nesse período, reforçando a baixa disposição
para participar politicamente dos jovens com altos níveis de autoritarismo.
Esses dados corroboram com os demais apresentados nessa seção, sugerindo que a
eleição de Bolsonaro pode não ter resultado na organização de um movimento autoritário
atuante na juventude, visto que parece não ter impacto na substituição de agentes socializadores,
não ter organizado os jovens com altos níveis de adesão aos valores autoritários a ponto de

53
incentivá-los a promover o debate político com outras pessoas de seu convívio, uma vez que
esses jovens seguem conversando menos sobre política do que os demais, nem de fomentar o
exercício do voto caso esse fosse facultativo.

54
5. Conclusão

A eleição de Bolsonaro em 2018 foi elencada como um dos casos da nova “onda
neoconservadora” (NORRIS; INGLEHART, 2019) que emergiu na década de 2010, ao lado de
Donald Trump, Viktor Orbán e outros políticos da extrema-direita marcados pelo apreço aos
aspectos conservadores e autoritários que, unidos, poderiam ferir de morte o regime
democrático em uma escala até então impensável (FOA; MOUNK, 2017; LEVITSKY;
ZIBLATT, 2018).
Para Lowy (2015), essa onda neoconservadora está inserida em um contexto de um
levante da extrema-direita sem precedentes deste a década de 1930, tendo como aspectos
aglutinadores o patriotismo chauvinista de oposição à globalização, a orientação reacionária em
uma retórica de apoio ao verdadeiro “povo” e às suas reais necessidades e preferências, o
anticomunismo e o desprezo pelas demandas e reivindicações de valores pós-modernos e pós-
materialistas (LOWY, 2015). O processo de globalização capitalista e neoliberal teria forçado
as diversas sociedades à uma conformação cultural homogeneizante que produz e reproduz
fenômenos de reação, como os identity panics (LOWY, 2015), ou o cultural backlash
(NORRIS; INGLEHART, 2019).
O conceito de cultural backlash foi forjado na esteira dessa novidade ideológica que
articula populismo, conservadorismo e autoritarismo na Europa e nos Estados Unidos,
concomitante ainda à dinâmica de conflitos geracionais de valores, nomeadamente na
emergência de novas gerações em que a predominância de valores pós-materialistas choca com
os valores materialistas das gerações anteriores, provocando assim um conflito.
Apesar da derrota de Bolsonaro no segundo turno do pleito de 2022, diversos
representantes do “bolsonarismo” galgaram seu caminho até o Congresso Nacional – tanto
aqueles que foram Ministros durante o a gestão do governo Bolsonaro quanto um número
considerável de deputados federais representantes de uma nova geração política, na qual se
insere a do deputado mais votado do país, sugerindo que os valores, crenças e atitudes de
Bolsonaro seguirão presentes na política nacional, indicando que apenas a substituição
geracional não é garantia de que haverá a substituição de valores políticos. Esse fenômeno
ocorre uma vez que a defesa difusa do regime democrático convive com a presença
generalizada de valores e atitudes autoritárias, que são reproduzidas nas gerações seguintes pelo
processo de socialização política (BAQUERO; GONZÁLEZ, 2011; 2016).

55
Tendo isso em vista, o problema de pesquisa que guiou este trabalho foi: houve uma
mudança no padrão de valores políticos resultando no incremento da presença de valores
conservadores e autoritários na juventude brasileira no século XXI?
No que tange o escopo dos objetivos apresentados na introdução desta pesquisa, buscou-
se desenvolver um Índice de Autoritarismo (objetivo 1) averiguar o impacto de fatores
explicativos demográficos como renda, classe social, e gênero na diferença de padrões de
valores (objetivo 2); e compreender se a mudança ou continuidade da dinâmica dos valores
políticos prevalentes na juventude podem representar uma ameaça ao futuro da democracia no
Brasil (objetivo 3).

O Índice de Autoritarismo apontou na direção de que houve um aumento significativo


da penetração de valores autoritários na juventude porto-alegrense entre 2001 e 2015, quando
o Alto Nível de Autoritarismo passa de 26,5% para 37,1%, e a manteve-se nesse patamar em
2019, em 38%.
Para dar cabo ao objetivo 2 e 3, o Índice de Autoritarismo foi cruzado com variáveis de
três eixos: o perfil sociodemográfico dos jovens, considerando o gênero, o tipo de escola em
que estuda, a religiosidade e a classe social; valores políticos, como o interesse por política, a
desconfiança interpessoal, o posicionamento ideológico e a percepção da democracia como
melhor regime possível; comparações entre as ondas de 2015 e 2019, propondo verificar se há
mudanças relevantes na influência do agente de socialização, a disposição para conversar sobre
política e para exercer o direito do voto.
Quanto ao objetivo 2, a análise das variáveis relacionadas às peculiaridades
socioeconômicas caracterizam a maior presença de valores autoritários nos grupos sociais
paulatinamente excluídos, marginalizados ou cujo o acesso às condições de exercer seus
direitos políticos são cerceados de forma sistemática, como pessoas do gênero feminino,
estudantes da rede pública de ensino e de classes sociais mais baixas que, ao não possuírem
acesso viável às instâncias decisórias e de poder, dificilmente podem tomar o pleno
funcionamento do sistema democrático à eficaz resolução dos problemas materiais de sua
existência.
Em relação ao objetivo 3, a análise das variáveis relacionadas aos valores políticos
sugere que o interesse por política dos jovens com alto nível de adesão aos valores autoritários
é consideravelmente inferior aos demais jovens, o que vincula esses valores mais à negação da
política do que a adesão a um projeto político autoritário organizado - noção reforçada pela
baixa confiança interpessoal dos jovens autoritários, tanto em números absolutos quanto em

56
comparação aos demais jovens, e pela rejeição em se auto posicionar no espectro da tradicional
escala ideológica esquerda-direita, reforçando que que a presença de valores autoritários está
relacionada à não-identificação com os atores e partidos políticos, bem como a indiferença ou
descontentamento com o arranjo institucional da democracia representativa.
Dessa maneira, a hipótese (H1) apresentada na introdução de que o padrão de valores
predominantes na juventude brasileira não apresenta grandes transformações ao longo dos
últimos vinte anos, mas o eventual acirramento de valores pré-existentes é confirmado. Em
todas as variáveis selecionadas referentes aos valores políticos e a penetração dos valores
autoritários se percebe, antes que uma transformação marcante da dinâmica histórica, o
aumento da presença de valores autoritários. Não houve, dessa forma, a inauguração de um
movimento político novo nem de dinâmicas que não estavam em movimento desde o início do
século.

Quanto a hipótese de que houve um processo de expansão de valores conservadores e


autoritários na juventude brasileira, principalmente na última década (H2), conclui-se que esta
é parcialmente confirmada. Os dados analisados apontam na direção de que houve um processo
de expansão de valores conservadores e autoritários na juventude brasileira, mas esse foi mais
expressivo entre 2002 e 2015 do que entre 2015 e 2019. Constata-se, portanto, um crescimento
lento – porém constante – dos valores autoritários na juventude, associados à desilusão como o
sistema político, seus atores e suas instituições, o crescimento da negação da política como
ferramenta efetiva para a solução dos problemas sociais e estruturais do país.

Por fim, a terceira hipótese (H3) que o incremento da presença de valores conservadores
e autoritários na juventude brasileira no século XXI indica potenciais riscos ao futuro do
sistema democrático no país também é parcialmente confirmada. O aumento da penetração dos
valores conservadores e autoritários é compreendido como uma novidade capaz de minar
democracias consolidadas (NORRIS; INGLEHART, 2019), porém estar associado aos valores
autoritários é a realidade constante do conservadorismo brasileiro desde o século XIX. É
importante ressaltar, de toda forma, que essa trata-se mais de uma hipótese de trabalho do que
uma hipótese a ser efetivamente testada, visto que remete a uma perspectiva de futuro.
Enquanto os dados aqui expostos e esmiuçados indicam que é plausível inferir um risco à
democracia, os ataques às sedes dos Três Poderes do Brasil em oito de janeiro de 2023, por
exemplo, são um indicativo que reforca as inferências dessa hipótese.

Os dados aqui apresentados corroboram com a noção de que a eleição de Bolsonaro não
foi resultado nem resultou em uma organização inédita da mobilização dos valores autoritários
57
na juventude em torno de uma agenda política, mas apontam para a adesão dos valores já
presentes na cultura política brasileira de apatia e negação da política, descrença com as
instituições e presença de valores autoritários que não foram erradicados com os avanços da
democracia formal (BAQUERO; GONZÁLEZ, 2011; 2016).

À guisa de conclusão, infere-se que o conservadorismo brasileiro de caráter fortemente


autoritário parece ser uma característica presente de forma consolidada na cultura política
brasileira, não erradicada mesmo com a realização de eleições contínuas no período mais longo
da experiência democrática no país, assim como não houve o reforço de valores democráticos
nesse meio-tempo (BAQUERO e GONZÁLEZ, 2011). Ainda que as novas gerações não
tenham vivido sob o período da Ditadura Civil-Militar de 1964-1985, ainda persiste nessas
coortes um sentimento de “nostalgia da ditadura” e a reminiscência de um sentimento de
superioridade do passado autoritário sob atual regime político da democracia representativa
(CASTRO, 2014).

A eleição de Bolsonaro em 2018 e o angariamento de 49,10% dos votos no segundo


turno de 2022, bem como a eleição de deputados federais e senadores que replicam seus valores
conservadores-autoritários sob a égide da defesa do legado ditatorial, da supremacia dos valores
militares de hierarquia, ordem e obediência sob os valores políticos democráticos reacendem o
alerta de Lowy (2015), ao indicar que o elemento mais soturno e inquietante da extrema-direita
no Brasil – que não ressoa nas experiências radicais da Europa e dos Estados Unidos, por
exemplo – seria o apelo aos militares, os chamados à intervenção militar e o saudosismo do
período autoritário.

Esses elementos foram mobilizados por meio das mídias digitais – nessa nova esfera de
ação política em que a extrema-direita é altamente eficaz (GRANJEIRO, 2021), antes, durante
e depois dos períodos eleitorais, unindo os já notoriamente mobilizados argumentos
anticomunistas, de resistência aos valores pós-materialistas, e de conservação do status quo
excludente e desigual da sociedade brasileira – elementos que já estavam presentes na cultura
política brasileira há várias gerações.

A eleição de um candidato de extrema-direita não parece ter resultado em uma


desconsolidação (FOA; MOUNK, 2017) da democracia brasileira, uma vez que esta nunca
alcançou um patamar de consolidação aos moldes propostos por Linz e Stepan (1996), ao
mesmo tempo que não resultou em uma mudança radical do modelo político, uma vez que não
houve a concretização de um golpe de estado após a derrota do então presidente na sua tentativa

58
de reeleição (e não por falta de tentativas para realizá-lo13), nem desaguou na organização ativa
de uma corrente ideológica agregada em torno de um líder que indica a perseverança no cenário
político. Todavia, a tenacidade desses valores nas novas gerações sugere que a eleição de
Bolsonaro pode não ter sido a última de um candidato antidemocrático que obtenha sucesso em
sistematizar os valores autoritários na próxima conjuntura favorável, e dar cabo das aspirações
golpistas que, devido às características da cultura política nacional, seriam recebidas com a
aprovação e apoio de uma parcela considerável dos cidadãos brasileiros.

Esse trabalho se propôs a analisar a trajetória dos valores conservadores-autoritários na


juventude brasileira no século XXI, utilizando dados coletados na capital gaúcha de Porto
Alegre. Para ampliar o escopo dos estudos sobre o autoritarismo e a extrema-direita na
juventude brasileira, novos trabalhos podem ancorar-se no sentido de depreender uma análise
em território nacional, relacionar esses valores com a maior ou menor exposição às novas
mídias digitais, ou, no campo dos estudos legislativos, compreender como os jovens deputados
eleitos sob a égide do “bolsonarismo” movimentam pautas específicas durante seus mandatos.

13
A invasão e depredação da Praça dos Três Poderes em Brasília no dia 08/01/2023 contém indícios de serem
gestadas e organizadas nos acampamentos em frente aos QG’s militares que surgiram em todo o país após a
eleição de Lula (PT) em 30/10/2022. A investigação corre no TSE sob os Inquéritos dos Atos Antidemocráticos
(4917, 4918, 4919, 4923) e os Inquéritos das Fake News (Inquéritos 4781, 4874 e 4879).
59
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66
ANEXOS
Anexo 1 – Questionários 2001, 2015 e 2019

Universidade Federal do Rio Grande do Sul


Núcleo de Pesquisa sobre a América Latina
QUESTIONÁRIO 2001

Questão Variáveis Questão Variáveis


Nº. Questionário Codificação interna 32.Você costuma participar (1) Participa sempre
de: (2) Participa às
vezes
Cód. Entrevistador Codificação interna 32a.Festas dançantes (3) Não participa
Escola Codificação interna 32b.Passeios (88) Não Sabe
Data das entrevistas Codificação interna 32c.Associações desportivas (99) Não respondeu
1.Em primeiro lugar Questão aberta 32d.Associações religiosas
gostaríamos de saber qual a
sua idade?
2.Qual o seu sexo? (1) Masculino 32e.Associações
(2) Feminino tradicionalistas
3.Em que cidade você (1) Capital 32f.Partidos Políticos
nasceu? (2) Interior do
estado
4.Qual a idade do seu pai? Questão aberta 32g.Associações estudantis
5.Qual a idade da sua mãe? Questão aberta 32h.Associações sindicais
6.Qual a sua religião? 1. Católica 32i.Associações
2. Protestante comunitárias
histórica
3. Pentecostal
4. Espírita
5. Afro-brasileira
6. Oriental
7. Judaica
8. Cristã
9. Sem religião
66. Outra
88. Não Sabe
99. Não Respondeu
7.Você é praticante? (1) Sim 32j.Ongs
(2) Não
(88) Não Sabe
(99) Não respondeu
8.Qual o grau de instrução 1. Não tem 33.Você acha que os jovens (1) Sim
do seu pai? instrução atualmente cooperam entre (2) Às vezes
2. 1º grau si? (3) Não
incompleto (88) Não Sabe
3. 1º completo (99) Não respondeu
4. 2º completo
5. 2º completo
6. Universitário
incompleto
7. Universitário
completo
88. Não Sabe
99. Não respondeu

67
9.Qual o grau de instrução 1. Não tem 34.Na sua opinião o que Questão aberta
da sua mãe? instrução deve ser feito para que os
2. 1º grau jovens cooperem entre si?
incompleto
3. 1º completo
4. 2º completo
5. 2º completo
6. Universitário
incompleto
7. Universitário
completo
88. Não Sabe
99. Não respondeu
10.Você participa de alguma (1) Sim 35.Você acredita que se as (1) Sim
associação religiosa? (Cebs, (2) Não pessoas participassem mais (2) Não
pastorais etc.) (88) Não Sabe de atividades associativas (3) Depende
(99) Não respondeu poderia mudar muita coisa (88) Não Sabe
no nosso país? (99) Não respondeu
11.Na sua opinião quais os Questão aberta De quê? Questão aberta
principais problemas
enfrentados pela educação
brasileira hoje?
12.Você costuma discutir os (1) Sim 36.Se fosse convidado a (1) Participaria
problemas de sua escola (2) Às vezes participar de alguma (2) Depende
com colegas? (3) Não atividade, você: (3) Não participaria
(88) Não Sabe (88) Não Sabe
(99) Não respondeu (99) Não respondeu
13.Você acha que os alunos (1) Sim Por quê? Questão aberta
deveriam participar mais das (2) Às vezes
decisões tomadas em sua (3) Não
escola? (88) Não Sabe
(99) Não respondeu
15.A sua escola tem Grêmio (1) Sim 37.Se você assistisse há Questão aberta
Estudantil? (2) Não destruição de alguma
(88) Não Sabe propriedade pública como
(99) Não respondeu um orelhão, abrigo de ônibus
ou placa de sinalização,
como você reagiria?
16.Você participa das (1) Sim 38. Qual a sua opinião sobre (1) Concorda
atividades desenvolvidas por (2) Às vezes a seguinte afirmação: “Todos (2) Concorda em
seu Grêmio Estudantil? (3) Não os políticos são corruptos." parte
(88) Não Sabe (3) Discorda
(99) Não respondeu (88) Não Sabe
17.Além do Grêmio (1) Sim 39. Qual a sua opinião sobre (99) Não respondeu
Estudantil, você participa de (2) Não a seguinte afirmação: "Os
alguma outra associação de (88) Não Sabe assuntos relacionados à
estudantes? (99) Não respondeu política são muito
complicados e que não
despertam o interesse das
pessoas”.
Quais? Questão aberta 40. Qual a sua opinião sobre
a seguinte afirmação: "Os
políticos prometem as coisas
e depois não cumprem”.
18.Você considera (1) Sim 41.Na sua opinião, qual o 1. A crise
importante os estudantes (2) Às vezes principal problema econômica
participarem de (3) Não enfrentado pelo Brasil hoje? 2. O desemprego
organizações estudantis? (88) Não Sabe 3. A corrupção
(99) Não respondeu 4. As incertezas
Por quê? Questão aberta 42.E dos problemas listados com relação ao
na questão anterior, algum futuro
deles afeta a sua família? 5. Todos
66. Outro
88. Não sabe
99. Não respondeu
68
19.Falando um pouco sobre (1) Se interessa por 43. Qual a sua opinião sobre (1) Concorda
política, gostaríamos de política a seguinte afirmação: (2) Discorda
saber se você: (2) Às vezes (88) Não Sabe
procura se informar (99) Não respondeu
a respeito
(3) Não se interessa
por política
(88) Não Sabe
(99) Não respondeu
20. Quando você quer se (1) Sim 43a. Democracia é preferível (1) Concorda
informar sobre política, você (2) Não costuma se a qualquer outra forma de (2) Discorda
costuma utilizar: informar governo (88) Não Sabe
(88) Não Sabe (99) Não respondeu
20a. Jornal (99) Não respondeu 43b. Em algumas (1) Concorda
circunstâncias um governo (2) Discorda
autoritário é preferível a um (88) Não Sabe
governo democrático. (99) Não respondeu
20b. Rádio 43c. Não faz diferença para (1) Concorda
mim se temos um governo (2) Discorda
democrático ou não (88) Não Sabe
(99) Não respondeu
20c. TV 43d. O que o Brasil precisa é (1) Concorda
um político que atue com (2) Discorda
firmeza (88) Não Sabe
(99) Não respondeu
20d. Revistas 43e. O que o país necessita (1) Concorda
é um político que saiba (2) Discorda
dialogar com todos os (88) Não Sabe
setores da população. (99) Não respondeu
20e. Internet 44. Em relação às (1) Confio sempre
instituições e pessoas que (2) Confio às vezes
estão listadas abaixo, você (3) Não confio
confia nelas? (88) Não Sabe
20f. Amigos da Escola 44a. Senadores (99) Não respondeu
20g. Trabalho 44b. Deputados Federais
20h. Todos 44c. Governo Federal
21a. Na sua opinião, 1. Votar 44d. Governo Estadual
democracia significa: 2. Poder criticar (Olívio Dutra)
(Marque somente duas 3. Governar para a
alternativas) maioria
4. Respeitar o
direito de todos
5. Não ter pobreza
6. A competição
entre partidos
7. A igualdade entre
os cidadãos
8. A paz
66. Outro
88. Não Sabe
99. Não respondeu
22.Na sua opinião, o que é Questão aberta 44e. Governo Municipal
um Partido Político?
23.Qual dos partidos 1. PPB 44f. Deputados Estaduais
políticos listados abaixo seu 2. PFL
pai prefere? 3. PL
24.Qual dos partidos 4. PT 44g. Vereadores
políticos listados abaixo sua 5. PSDB
mãe prefere? 6. PCB
25.E voce prefere algum 7. PCdoB 44h. Partidos Políticos
destes partidos? 8. PSTU

69
26.E dos partidos citados 9. PPR 44i. Padres/Irmãos
anteriormente, qual você 10. PTB
menos gosta? 11. PMDB
12. PDT
13. PSB
14. PV
15. PPS
16. PRONA
17. PCO
18. Não tem
preferência
partidária
66. Outro
88. Não sabe
99. Não respondeu

Por quê? Questão aberta 44j. Direção de sua Escola


27a.Você sabe o que é ser Questão aberta 44l. Professores
de direita?
27b.Você sabe o que é ser 44m. Colegas
de esquerda?
27c.Você sabe o que é ser 44n. Pessoas
de centro?
28. Atualmente, fala-se Questão aberta 45.Você acha que a situação (1) Melhorar
muito sobre direita e econômica das pessoas nos (2) Ficar igual
esquerda na política próximos 5 (cinco) anos vai (3) Piorar
brasileira. A escala abaixo o (88) Não Sabe
1 corresponde a extrema (99) Não respondeu
esquerda e o 10 a extrema
direita. Marque um X em
qual posição você se coloca.
29a.De que atividades socio- 1. Comícios 46.Você acha que as (1) Vão Melhorar
políticas listadas abaixo você 2. Manifestações oportunidades para os (2) Vão ficar igual
costuma participar? Marque 3. Discussões do jovens no Brasil: (3) Vão piorar
as duas que você mais centro comunitário (88) Não Sabe
participa. 4. Conselhos (99) Não respondeu
29b.De que atividades socio- escolares 47.Quanto ao seu futuro (1) Otimismo
políticas listadas abaixo você 5. Orçamento você o vê com: (2) Incerteza
costuma participar? Marque participativo (3) Pessimismo
as duas que você mais 6. Grêmio estudantil (88) Não Sabe
participa. 7. Não participa (99) Não respondeu
66. Outro
88. Não sabe
99. Não respondeu
30.Você acha importante (1) Sim 48.Qual profissão você Questão aberta
que os jovens participem da (2) Depende pretende seguir?
política? (3) Não
(88) Não Sabe
(99) Não respondeu
Por quê? Questão aberta 49.Quem decide sobre as (1) Pai
coisas mais importantes na (2) Mãe
sua família? (3) Os dois
(4) Toda a família
(5) Eu mesmo
(88) Não Sabe
(99) Não respondeu
31.Algumas pessoas (1) Concorda 50.Quem é o principal (1) Pai
afirmam que atualmente não (2) Discorda responsável pelo sustento (2) Mãe
há motivação para os jovens (88) Não Sabe de sua família? (3) Ambos
participarem de atividades (99) Não respondeu (4) Você
com outras pessoas. Você: (5) Parentes
(6) Todos
(88) Não Sabe
(99) Não respondeu

70
Por quê? Questão aberta 51. A que classe social você (1) Alta
pertence? (2) Média
(3) Baixa
(4) Outra
(88) Não Sabe
(99) Não respondeu

71
QUESTIONÁRIO 2015

72
73
74
75
76
77
78
79
80
81
82
QUESTIONÁRIO 2019

83
84
85
86
87
88
89
90
91
92
Anexo 2 – Índice de Autoritarismo

2001

1. Preferência de um líder sobre a participação popular

Melhor solução para resolver os problemas <- q43d (O que o Brasil precisa é um político que
atue com firmeza).

preferencia_lider <- 1 = autoritarismo = 1


preferencia_lider <- 2 = autoritarismo = 0
else = sysmis

Negação política <- q38 (Qual a sua opinião sobre a seguinte afirmação: Todos os políticos
são corruptos) + q39 (Os assuntos relacionados à política são muito complicados e não
despertam o interesse das pessoas.) + q40 (Os políticos prometem as coisas e depois não
cumprem)

Concorda = 1
Parcial = .5
Discordo = 0
else = sysmis

negacao_política <- Baixa e moderada negação política = 0 – 1.5 = autoritarismo = 0


negacao_política <- Alta negação política = >=2 = autoritarismo = 1

+
Baixa confiança nas instituições democráticas <- q44.c (Governo Federal) + q44.h. (partidos
políticos)

Confia = 1
Parcial = .5
Não confia = 0

confianca_instituicoes_democraticas <- Baixo = 0 - 1 = autoritarismo = 1


confianca_instituicoes_democraticas <- 1.5> = Alta confiança = Autoritarismo = 0

Índice de Autoritarismo <-


preferencia_lider + negacao_política + confianca_instituicoes_democraticas

Sem presença de valores autoritários= 0


Moderada = 1 – 1.5
Alta presença de valores autoritários = 2-3

93
2015

1. Preferência de um líder sobre a participação popular

Melhor solução para resolver os problemas <- q8 (1. Um líder que coloque as coisas no lugar;
2. A participação da população nas decisões do governo).

preferencia_lider <- 1 = autoritarismo = 1


preferencia_lider <- 2 = autoritarismo = 0
else > sysmis

Negação política <- q25.1 (Todos os políticos são corruptos) + q25.2 (Os políticos prometem
e depois não cumprem) + q27.7 (Assuntos políticos são muito complicados para mim, por
isso não me interessam)

Concorda = 1
Parcial = .5
Discordo = 0

negacao_política <- Baixa e moderada negação política = 0 – 1.5 = autoritarismo = 0


negacao_política <- Alta negação política = >=2 = autoritarismo = 1

Baixa confiança nas instituições democráticas <- q42.c (Governo Federal) + q42.h. (partidos
políticos)

Confia = 1
Parcial = .5
Não confia = 0

confianca_instituicoes_democraticas <- Baixo = 0 - 1.5 = autoritarismo = 1


confianca_instituicoes_democraticas <- 2> = Alta confiança = Autoritarismo = 0

Índice de Autoritarismo <-


preferencia_lider + negacao_política + confianca_instituicoes_democraticas

Sem presença de valores autoritários= 0


Moderada = 1 – 1.5
Alta presença de valores autoritários = 2-3

94
2019

1. Preferência de um líder sobre a participação popular

Melhor solução para resolver os problemas <- q7.

preferencia_lider <- 1 = autoritarismo = 1


preferencia_lider <- 2 = autoritarismo = 0
else = sysmis

Negação política <- q19.1 (Todos os políticos são corruptos) + q19.2 (Os políticos pormeteme
depois não cumprem) + 19.7 (Assuntos políticos são muito complicados para mim, por isso
não me interessam)

Concorda = 1
Parcial = .5
Discordo = 0
else = sysmis

negacao_política <- Baixa e moderada negação política = 0 – 1.5 = autoritarismo = 0


negacao_política <- Alta negação política = 2> = autoritarismo = 1

Baixa confiança nas instituições democráticas <- q39.c (Governo Federal) + q39.h. (partidos
políticos)

Confia = 1
Parcial = .5
Não confia = 0

confianca_instituicoes_democraticas <- Baixo = 0 - 1.5 = autoritarismo = 1


confianca_instituicoes_democraticas <- 2> = Alta confiança = Autoritarismo = 0

Índice de Autoritarismo <-


preferencia_lider + negacao_política + confianca_instituicoes_democraticas

Sem presença de valores autoritários= 0


Moderada = 1 - 1.5
Alta presença de valores autoritários = 2-3

95

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