Os Protetores Da Mamae Solteira - Tess Chase
Os Protetores Da Mamae Solteira - Tess Chase
TESS CHASE
CONTENTS
1. Mia
2. Damon
3. Mia
4. Zane
5. Mia
6. Asher
7. Mia
8. Damon
9. Mia
10. Mia
11. Zane
12. Mia
13. Asher
14. Mia
15. Damon
16. Mia
17. Mia
18. Asher
19. Mia
20. Damon
21. Mia
22. Zane
23. Asher
24. Mia
25. Damon
26. Mia
27. Zane
28. Mia
29. Damon
30. Mia
31. Asher
EPÍLOGO: MIA
I. Prévia do próximo livro
Meus Bikers Grisalhos
1. Marcy
2. Ryder
1
MIA
DAMON
O
telefone quase escorrega da minha mão quando ouço a voz
dela.
Seis anos. Seis malditos anos.
Procurei por ela durante meses depois que desapareceu,
investiguei todas as pistas possíveis, apenas para não encontrar
nada. E agora, do nada, ela está me ligando, pedindo proteção. A
ironia tem gosto amargo, como mastigar vidro.
— Mia — digo o nome dela, testando-o depois de todo esse
tempo, como uma prece ou talvez uma maldição.
O silêncio do outro lado se estende, carregado com tudo que não
foi dito. Ela me reconhece. Eu sei que sim.
— Damon — ela finalmente sussurra, sua voz suave, mas com
uma ponta de algo que não consigo identificar. Medo, talvez. Ou
arrependimento?
Levo um momento para responder. Ouvi-la agora, tão de
repente, é como um soco no estômago. — É... realmente você?
— Sou eu — ela diz tão baixinho que quase não escuto.
As emoções que enterrei por anos vêm à tona — raiva, confusão,
um lampejo de alívio. Mas eu afasto todas elas. Agora, não importa
por que ela foi embora ou o que esteve escondendo. Ela me ligou
para mim.
— O que está acontecendo, Mia? — pergunto, mantendo minha
voz firme, profissional. — Por que você está ligando para a Mars
Security?
— Eu preciso... a agência é sua? — ela pergunta.
— Sim, sou o proprietário. — Meu coração bate forte no peito.
Ela não ligou para mim; ligou para a Mars Security, o que só pode
significar...
— O que foi? — pergunto, minha voz saindo mais dura do que
pretendia.
Há uma exalação trêmula do outro lado, e posso imaginá-la
mordendo o lábio e colocando o cabelo atrás da orelha como
costumava fazer quando estava nervosa.
— Preciso de ajuda — ela finalmente diz. — É... complicado.
Complicado. Essa é uma forma de descrever a bagunça que ela
deixou para trás.
— Estou ouvindo — digo, recostando-me na cadeira, mas meu
aperto no telefone se intensifica.
— É o Jason — ela admite, sua voz quebrando ao dizer o nome
dele. — Ele nos encontrou. Tem enviado ameaças, aparecendo perto
da creche... Acho que ele está nos observando.
Jason. Só esse nome já faz meu sangue ferver. Lembro-me dos
rumores sobre ele na base. Seu temperamento volátil, o jeito como
circulava Mia como um predador. Eu deveria ter feito mais para
protegê-la naquela época.
— Você está segura agora? — pergunto, já abrindo o programa
de vigilância no meu laptop. Se Jason estiver em qualquer lugar
perto dela, vou encontrá-lo.
— Por enquanto — ela responde, mas sua voz vacila. — Estou
com os gêmeos dentro de casa. As portas estão trancadas.
Os gêmeos. Ela teve filhos com aquele monstro desgraçado? Mas
por mais que eu queira odiá-los, não posso. São crianças inocentes e
são filhos da Mia.
Sei naquele exato momento que os protegerei com tudo que
tenho, até mesmo com minha própria vida.
— Onde você está? — pergunto, minha voz ficando mais baixa.
— Em casa — ela diz. — Mas Damon, eu...
— Você precisa mais do que portas trancadas, Mia — interrompo.
— Se Jason está te observando, ele fará um movimento. Ele não
para até conseguir o que quer.
— Eu sei — ela diz, quase num sussurro.
Há algo em seu tom, um cansaço que não estava lá seis anos
atrás. Posso ouvir o peso que ela tem carregado, o medo que a tem
consumido.
— Mia — digo, mais suave desta vez —, vou ajudar você. Vou
protegê-la. Mas preciso saber tudo, inclusive o que Jason tem feito.
E onde você esteve, por que você partiu. Mas não digo o resto
em voz alta.
Outra pausa. Quando ela fala novamente, sua voz é firme, mas
cautelosa. — Podemos conversar pessoalmente?
Meu peito aperta. Vê-la novamente depois de todo esse tempo...
— Onde e quando? — pergunto.
— Na minha casa. Amanhã à noite.
Concordo com a cabeça, mesmo que ela não possa me ver. —
Mande-me seu endereço. Estarei lá.
Há um momento de silêncio antes que ela diga: — Obrigada,
Damon.
Mas quando a linha fica muda, não me sinto grato. Sinto como se
estivesse à beira de um precipício, encarando uma tempestade que
pensei ter deixado para trás.
Seis anos de dúvidas. Agora, finalmente terei respostas.
E Jason? Ele ainda não sabe, mas seu tempo está se esgotando.
MIA
O
quarto das gêmeas parece impossivelmente pequeno com
Damon nele, sua presença engolindo todo o espaço. Ele está
próximo à porta, com os braços cruzados, seus ombros largos
parecendo capazes de sustentar o batente caso a casa decidisse
desmoronar. Seus olhos cinzentos acompanham as gêmeas, agora
adormecidas na cama.
Mesmo dormindo, Emma e Ella parecem minúsculas perto dele.
Damon não se aproxima mais. Suas mãos estão enfiadas nos
bolsos da jaqueta, seus olhos fixos nas meninas. É a sua imobilidade
que me perturba, o jeito como as observa como se tentasse
entender algo que ainda não compreende.
— Elas são lindas — diz ele baixinho, com a voz suave o
suficiente para não perturbá-las.
Olho para as gêmeas, meu coração apertando no peito. Seus
rostos estão tranquilos no sono, suas bochechas coradas pelo calor
do quarto. Elas não sabem o quão perto o perigo chegou de nos
encontrar novamente. Quero manter as coisas assim pelo maior
tempo possível.
— Obrigada — murmuro, passando por ele para ajustar a ponta
do cobertor de Ella que escorregou do seu ombro.
Seus olhos se demoram tempo demais, especialmente no rosto
de Emma, e meu estômago se revira. Levanto-me e me dirijo a ele,
tentando manter minha voz calma. — Elas estão dormindo. Acho
que é hora de conversarmos sobre os próximos passos.
Quando ele não se move, digo de forma incisiva: — Lá embaixo.
Seu olhar não se desvia. — Elas parecem... familiares.
Congelo, minha garganta se apertando. — As pessoas dizem que
gêmeas se parecem. Sabe, um rosto compartilhado.
Ele finalmente olha para mim, aqueles olhos cinza-aço me
prendendo no lugar. Não há nada hostil em sua expressão, apenas
aquela intensidade perturbadora e investigativa. — Não — ele diz. —
Não é isso que quero dizer.
Antes que eu possa responder, sua atenção volta para as
gêmeas. Seu maxilar se tensiona, uma leve ruga se forma entre suas
sobrancelhas. Vejo seus olhos captarem o nariz de Emma, o formato
do queixo de Ella.
O pânico borbulha em meu peito. — Damon, vamos descer. Não
quero acordar as crianças de novo.
Espero que ele diga não, mas ele acena com a cabeça e me
segue de volta para a sala de estar.
Lá embaixo, a casa parece mais silenciosa do que deveria. O tipo
de silêncio que puxa meus nervos e faz minha pele arrepiar. Damon
senta na beira do sofá, com os antebraços apoiados nos joelhos.
Ele parece o mesmo de quando me lembro. A mesma beleza
rústica, embora os anos o tenham endurecido. Damon é alto, com
cabelo escuro quase preto — a mesma textura espessa e ondulada
que a de Emma e Ella. Seu cabelo escuro tem mechas prateadas nas
têmporas, emoldurando olhos que ecoam o futuro das minhas filhas.
É construído como se fosse feito para o combate, com seus ombros
largos tensionando as costuras de sua camisa preta e seus braços
musculosos tatuados com desenhos que descem até seus
antebraços.
Bonito não é exatamente a palavra. Endurecido, talvez. Lindo, de
um jeito perigoso. O tipo de homem que você não conseguiria
ignorar mesmo se quisesse.
Meu coração não parou de acelerar desde que ele entrou pela
porta. Sua intensidade, a pura força de sua presença, faz algo
comigo que eu não quero nomear.
— Precisamos discutir as implicações de custódia — ele diz. Seu
tom é calmo, mas seus olhos ardem com algo que não consigo
identificar. — Se Jason tentar reivindicar a paternidade...
— Ele não pode. — As palavras escapam de mim antes que eu
possa pensar. — Eu me certifiquei disso. Quando ele... quando ele
tentou forçar a situação, insisti em um teste de paternidade. Ele
recusou, sabendo o que mostraria. O tribunal negou qualquer direito
a ele.
Damon se recosta ligeiramente, seus ombros largos se movendo
como se estivesse processando o peso das minhas palavras. — Mas
Jason não se importa com direitos, não é?
— Não — admito suavemente. — Não se importa.
É a verdade, pura e simples. Jason nunca se importou com a lei
ou limites ou com a autonomia de ninguém. Sua obsessão por
controle sempre foi sobre o que ele acredita que é dele, o que ele
pode pegar e manter.
Os olhos cinzentos de Damon movem-se em direção às escadas,
e meu estômago se contorce. Sei no que ele está pensando. Em
quem ele está pensando.
— Emma e Ella, elas não são dele — repito. — Ele sabe disso. É
por isso que recusou o teste.
Damon acena lentamente, sua expressão indecifrável. — Mas ele
age como se fossem.
Enrijeço, minhas unhas cravando nas palmas das mãos. — Ele
age como se pertencêssemos a ele. Como se fôssemos sua
propriedade. É o que ele faz. É tudo o que ele conhece.
O maxilar de Damon se tensiona, o músculo pulsando enquanto
ele processa o que disse. Posso ver pelo modo como suas mãos se
flexionam contra as coxas, como seus olhos se estreitam — ele está
furioso. Não comigo, mas com Jason. Com a audácia, a ousadia de
alguém como Jason pensar que poderia reivindicar o que não era
dele.
— Você tem lidado com isso sozinha — ele diz, sua voz baixa.
Não é uma pergunta.
Concordo com a cabeça, engolindo o nó na garganta. — Que
escolha eu tinha? Jason é... implacável. E toda vez que confiei em
alguém para ajudar, acabou mal. Ele tem um jeito de... punir
pessoas que atrapalham seu caminho.
Damon solta o ar bruscamente, seu olhar fixando-se no meu. —
Desta vez não.
Eu quero acreditar nele. Meu Deus, quero acreditar que alguém
pode enfrentar Jason e vencer. Mas aprendi a ser cuidadosa com a
esperança. A esperança pode quebrar você mais rápido que o medo.
Ele se inclina para frente. — Se Jason escalar a situação — e ele
vai —, me ligue. Sem hesitação. Entendeu?
— Sim — respondo, embora a palavra pareça frágil
Damon não insiste por mais. Ele não faz a pergunta que posso
sentir pairando no ar.
Elas são minhas?
A imagem está gravada ali: Ella, agarrada ao seu unicórnio de
pelúcia, conversando com ele como se o conhecesse por toda a vida.
Damon não hesitou. Sua mão grande e calejada apoiou as costas
dela com uma suavidade surpreendente, e ele ouviu seu tagarelar
com uma paciência que parecia natural demais, muito certa.
Observando-os juntos, algo dentro de mim se abriu. Um
vislumbre do que poderia ter sido. O tipo de pai que ele poderia ter
sido. Deveria ter sido. Forte, firme, protetor, mas também caloroso,
de um jeito que Jason nunca conseguiria ser.
E Ella tinha percebido, não é? Ela se sentiu segura com ele de
uma maneira que eu não esperava. Não aguento mais.
— Vou trazer um café para você — digo e corro para a cozinha e
me apoio no balcão, tentando me acalmar. Ele não sabe, ele não
sabe.
Começo a preparar o café, colocando o pó na cafeteira. Perdi a
conta de quantas vezes bebo café em um dia. A cafeína me
alimenta, me mantém acordada e alerta para garantir que não perca
nada.
Quando me viro, Damon está lá, encostado no batente da porta.
Seus ombros largos parecem grandes demais para o espaço estreito,
suas tatuagens aparecendo por baixo das mangas dobradas como
segredos implorando para serem revelados. Ele está me observando,
seu olhar firme e inflexível, como se estivesse tentando montar um
quebra-cabeça com muitas peças faltando.
Viro-me de volta para o balcão, concentrando-me na pequena
tarefa de colocar o café no filtro. Qualquer coisa para manter minhas
mãos ocupadas.
— Mia — diz Damon, com voz baixa, cortando o silêncio. Ele não
se aproxima mais, mas não precisa. Sua presença é suficiente para
preencher o espaço, para torná-lo impossível de ignorar.
Engulo em seco, minhas mãos tremendo enquanto despejo água
na cafeteira. — Acho que já te contei tudo o que você precisava
saber. Quer examinar a casa?
Ele não responde imediatamente. Quando fala novamente, seu
tom é mais suave, mas não menos insistente. — Você não precisa
lidar com isso sozinha mais.
As palavras me atingem com mais força do que deveriam. Minha
garganta aperta enquanto o café começa a pingar.
Viro-me para encará-lo, minhas mãos agarradas à borda do
balcão. — Não é tão simples — digo.
Damon dá um passo à frente, apenas um, mas é suficiente para
fazer meu pulso acelerar. — Então me explique.
As palavras saem antes que eu possa detê-las. — Jason nem
sempre foi assim. Ou talvez tenha sido, e eu estava apenas cega
demais para ver. Ele parecia tão estável, confiável. Quando descobri
que estava grávida, estava apavorada, e ele estava lá. Prometeu
cuidar de mim e do bebê. Achei que ele falava sério.
Olho para minhas mãos, os nós dos dedos brancos contra o
balcão. As palavras saem mais rápido agora, como uma represa se
rompendo. Eu não contei tudo para ele... quando estávamos juntos.
— No começo, tudo parecia bem. Ele era solidário, até protetor.
Mas então... pequenas coisas começaram a mudar. Ele se tornou
controlador. Desdenhoso. Depois, irritado. Quando percebi o quão
perigoso ele era, as gêmeas já tinham nascido.
Faço uma pausa, a lembrança me cortando como uma faca. —
Ele disse a todos na base que elas eram dele. Agia como se fossem
propriedade dele. Como se eu fosse propriedade dele.
O maxilar de Damon endurece, suas mãos se fechando em
punhos ao seu lado. Sei o que ele está pensando. Ele estava naquela
base conosco, mas nunca viu os sinais. Mas não o culpo de maneira
alguma. Eu era boa demais no que fazia — escondendo minhas
contusões sob camisetas de manga comprida, passando maquiagem
demais, exibindo sorrisos brilhantes que escondiam a dor. Ninguém
jamais tentou enxergar além disso.
— Jason tem esse jeito de te fazer sentir como se não tivesse
opções — digo. — Como se ele fosse destruir qualquer um que
ficasse em seu caminho.
— Queria que você tivesse me contado — diz Damon. — Queria
ter sabido.
— O que você teria feito de diferente? — pergunto.
Ele olha para mim. — Eu teria matado o desgraçado.
Meu coração falha uma batida. Será que ele teria mesmo? Não
sei. Ele e Jason costumavam ser amigos, ou pelo menos uma
aparência disso, quando ainda estavam no serviço ativo.
— Você deveria ter me contado, Mia — ele diz.
Solto um suspiro trêmulo. — Eu te disse, nada sobre Jason é
simples. A única vez que tentei ir embora, ele descobriu. Nem sei
como, mas descobriu. E as consequências... — paro, engolindo com
dificuldade. — Não podia arriscar. Não de novo.
O ambiente parece pequeno demais, quente demais. Vou até a
pia, agarrando a borda enquanto tento me acalmar.
— Eu não sou ele — diz ele, sua voz calma mas firme. — O que
quer que ele tenha feito antes, quem quer que ele tenha
machucado... ele não vai fazer de novo. Não enquanto eu estiver
aqui. E não vou cometer os mesmos erros.
Suas palavras deveriam me confortar, mas não o fazem. Não
completamente. Porque Damon não entende. Jason não é apenas
um homem. Ele é uma sombra, uma tempestade que nunca
realmente passa.
Viro-me para encará-lo, meu coração na garganta. — Você não
sabe do que ele é capaz, Damon. Você não o entende.
— Você está esquecendo que treinamos juntos por anos — ele
retruca. — Lutamos juntos.
Balanço a cabeça. — Ele é diferente quando se trata de mim.
Seus olhos cinzentos encontram os meus, sem vacilar. — Então
me faça entender.
A cafeteira apita, quebrando o momento, mas nenhum de nós se
move. A mão de Damon repousa no balcão ao lado da minha, quase
perto o suficiente para tocar.
Respiro fundo, me forçando a manter seu olhar. — Ele não é
perigoso apenas pelo que fez. Ele é perigoso porque não para. Não
desiste. E sempre encontra um jeito de contornar as regras quando
está obcecado com algo. Ou alguém.
O maxilar de Damon se tensiona, seus olhos escurecendo com
algo que não consigo nomear. Por um momento, penso que ele vai
dizer alguma coisa, mas não diz. Em vez disso, ele pega a cafeteira,
servindo duas xícaras como se fosse a coisa mais natural do mundo.
Ele me entrega uma, seus dedos roçando nos meus.
— Então não jogamos pelas regras dele.
Damon puxa uma cadeira na pequena mesa da cozinha e senta-
se com sua própria xícara, seu corpo grande fazendo o espaço
modesto parecer ainda menor.
Enquanto me sento do outro lado, a memória se infiltra sem ser
convidada, como uma sombra do passado que se recusa a ficar
enterrada.
O bar não estava lotado, mas também não estava vazio. Estava
apenas barulhento o suficiente para me deixar desaparecer no
ambiente. Eu não tinha planejado parar; só entrei no carro para
fugir. Minha bochecha ainda ardia, a marca da mão de Jason uma
lembrança constante e ardente. Ele nunca havia me batido antes
daquela noite.
Agarrei o volante até meus nós dos dedos ficarem brancos,
dirigindo sem rumo até que o brilho neon de um bar à beira da
estrada chamou minha atenção. Disse a mim mesma que só
precisava de uma bebida, uma distração, mas no fundo, eu sabia
que era outra coisa. Eu queria magoá-lo, recuperar um fragmento do
poder que Jason havia tirado de mim.
Examinei o ambiente, sem saber o que estava procurando, e
então o vi.
Damon.
Ele estava sentado no balcão, saboreando uma bebida. Ombros
largos, maxilar definido, aquela mesma intensidade tranquila que
carregava desde a época da base. Ele parecia deslocado ali, como se
o bar não conseguisse contê-lo.
Não hesitei. Fui até ele, cada passo alimentado por raiva e
desespero. Ele virou a cabeça, seus olhos cinzentos encontrando os
meus com um lampejo de surpresa.
— Mia? — ele disse. — O que você está fazendo aqui?
A pergunta me atingiu mais forte do que eu esperava. O que eu
estava fazendo ali? Engoli o nó na garganta e deslizei para o
banquinho ao lado dele. — Não consegui dormir — menti.
Ele me estudou por um momento, seu olhar descendo
brevemente para minha bochecha. Vi seu maxilar se contrair. Ele não
perguntou, não insistiu. Em vez disso, fez sinal para o barman.
— Duas cervejas — ele disse.
— Obrigada — murmurei, olhando para o balcão.
— Você não está aqui pela cerveja — ele diz após um longo
silêncio. Sua voz é baixa, áspera, mas não indelicada.
Solto uma risada, amarga e sem humor. — O que me entregou?
Seus lábios se contraem, mas não chega a ser um sorriso. —
Você está destroçando esse guardanapo como se ele tivesse
insultado sua mãe.
Olho para o papel despedaçado em minhas mãos e o afasto. —
Acho que sou péssima em conversas triviais.
— Ótimo — ele diz, me surpreendendo. — Também não sou
muito fã delas.
Olho para cima, encontrando seu olhar completamente pela
primeira vez. Não há julgamento ali, nem curiosidade invasiva.
Apenas... compreensão. Isso me pega desprevenida, me faz sentir
vista de um jeito que não me sentia há anos. Não desde antes de
Jason.
— Por que você está aqui, Damon? — pergunto, as palavras
saindo antes que eu pudesse contê-las. — Você não parece o tipo
que bebe sozinho em um bar decadente.
Ele inclina a cabeça, pensativo. — E que tipo eu pareço?
Dou de ombros, os cantos da minha boca se contraindo apesar
de mim mesma. — O tipo que tem a vida sob controle. O tipo que
não precisa se esconder em lugares como este.
Seus olhos se estreitam, não com raiva, mas com algo mais
próximo do reconhecimento. — Ninguém tem a vida sob controle,
Mia. Alguns de nós apenas fingem melhor que os outros.
Algo em suas palavras faz meu peito apertar. — Então, o que
você está fingindo?
Ele se recosta na cadeira, o mais leve sorriso fantasmagórico
passando por seus lábios. — Você gostaria de saber.
Reviro os olhos, mas a tensão nos meus ombros diminui um
pouco. Ele está me dando uma saída, uma chance de desviar a
conversa do campo minado de emoções que ameaçava me engolir
por inteiro.
Mas eu não quero uma saída. Não esta noite.
Hesito, a memória da raiva de Jason lampejando atrás dos meus
olhos. Ainda posso ouvir o estalo de sua mão contra meu rosto,
sentir como seus dedos se cravaram no meu braço enquanto ele
cuspia promessas de piores consequências se eu o envergonhasse
novamente. Balanço a cabeça, afastando a imagem.
— Eu só... precisava sair — digo. — Esquecer.
Os olhos dele escurecem e, por um momento, acho que ele vai
pressionar por mais. Mas em vez disso, ele diz: — Você merece coisa
melhor.
A simplicidade disso me deixa sem ar. Ninguém nunca me disse
isso antes – não de um jeito que parecesse real. Minha garganta se
aperta, e desvio o olhar, piscando para conter as lágrimas.
— Algo melhor não existe para pessoas como eu — murmuro.
A mão dele se move, hesitando apenas por uma fração de
segundo antes de pousar sobre a minha. O toque é quente, sólido,
reconfortante. — Você está errada.
Encontro seu olhar novamente, e algo em sua expressão derruba
as últimas das minhas defesas. Antes que eu possa me conter, me
inclino para frente e o beijo. É impulsivo, desesperado, e quando
seus lábios pressionam os meus, sinto como se estivesse respirando
pela primeira vez em anos.
Seus lábios são quentes, firmes, e quando pressionam os meus,
o mundo se inclina. Não sei o que esperava – talvez hesitação, talvez
surpresa, mas não isso. Não a maneira como ele se inclina para
mim, sua mão deslizando para segurar a parte de trás do meu
pescoço, entrelaçando-se no meu cabelo.
Suspiro suavemente, e é como se uma faísca se acendesse entre
nós. Sua língua roça a minha, hesitante a princípio, depois mais
ousada quando não me afasto.
Minhas mãos agarram a frente da camisa dele, me agarrando a
ele como se fosse a única coisa sólida em um mundo girando fora de
controle. A outra mão dele encontra minha cintura, me puxando
para mais perto até não haver nada entre nós além da pulsação
acelerada do meu coração.
Ele tem gosto de uísque e algo mais profundo, algo que não
consigo nomear, mas quero mais. Sua barba por fazer arranha
minha pele, e eu acolho a sensação, pressionando meu peito contra
o dele, sentindo seu gemido reverberando através de mim. Estou
molhada entre as coxas.
— Mia — ele murmura, sua voz rouca, como se estivesse
contendo algo por muito tempo. — Me diga que não é só o álcool
falando.
— Não é — afirmo, e minha voz nem vacila. — Eu apenas...
preciso disso. Preciso de você.
Pisquei, e estou de volta à minha cozinha novamente.
A lembrança persiste enquanto tomamos nosso café. Damon
ainda está sentado ali, seus olhos cinzentos me observando com a
mesma intensidade que lembro daquela noite. Mas agora, eles
carregam algo mais. Algo mais pesado. Talvez arrependimento.
— Mars Security é a melhor — diz Damon, sua voz
cuidadosamente neutra.
— O hospital está cobrindo as despesas — respondo.
— A única questão é: você quer nossa ajuda? Quer minha ajuda?
O ar na cozinha parece impossivelmente parado. Ele não está
falando apenas sobre segurança. Eu sei disso, e ele também sabe.
Penso em Jason, sobre os hematomas que ele deixou em minha
pele e aqueles que escondi ainda mais profundamente. Sobre como
ele sempre me encontra, não importa o quão cuidadosamente eu
planeje, não importa quão longe eu corra. Sobre como as risadas
inocentes das gêmeas vacilam quando elas sentem meu medo,
mesmo quando tento escondê-lo.
E então penso em Damon, sobre a segurança que senti durante
uma noite fugaz anos atrás. Sobre como ele segurou Ella mais cedo,
como ela não hesitou em confiar nele. A maneira como sua presença
preenche a casa, fazendo-a parecer menos uma fortaleza e mais um
lar.
Eu preciso dele. Mais do que deveria. Mais do que estou disposta
a admitir, até para mim mesma. Mas saber que é egoísmo não me
impede de dizer as palavras.
— Sim — digo, minha voz pouco mais que um sussurro. — Quero
sua ajuda.
— Bom — ele diz, levantando-se. — Voltarei logo para
estabelecer um plano de segurança completo. Não abra a porta para
ninguém exceto para mim ou para minha equipe.
Faço que sim com a cabeça, minha garganta apertada demais
para falar.
Passei anos mantendo as pessoas afastadas, convencendo-me de
que não precisava de ninguém. Mas enquanto a caminhonete de
Damon sai da garagem, um lampejo de algo como esperança agita-
se no fundo do meu peito.
Pela primeira vez em muito tempo, não me sinto completamente
sozinha.
4
ZANE
O
celular descartável vibra no criado-mudo, cortando o zumbido
silencioso do ventilador de teto. Abro um olho, o brilho
vermelho do relógio digital me encarando: 12h07.
A mulher na minha cama se mexe, seu braço roçando no meu.
Qual é o nome dela mesmo? Algo com "L". Lauren? Lila? Não
importa. Ela vai embora antes do amanhecer, como todas as outras.
Pego o telefone, o metal frio me trazendo de volta à realidade. É
a linha privada de Damon. Se ele está ligando para o celular
descartável, não é para jogar conversa fora.
Balanço as pernas para fora da cama, o piso de madeira frio sob
meus pés descalços. A mulher murmura algo durante o sono, seus
cabelos longos espalhados pelo travesseiro. Vou até a janela,
abrindo-a para deixar entrar o ar da noite, denso com o cheiro do
deserto. Meu apartamento é pequeno e simples — um quarto com
um sofá que já viu dias melhores, pesos empilhados no canto e uma
única prateleira com livros que nunca termino de ler. Não é um lar; é
apenas um lugar para descansar entre trabalhos.
Abro o celular e o pressiono contra a orelha. — Zane.
— Preciso que você faça vigilância — a voz de Damon é seca,
direto ao ponto. — O nome dela é Mia Henson.
O nome faz um clique, como uma engrenagem se encaixando.
Sei que não é de experiência pessoal, mas faz meus instintos
ficarem alertas.
— E o homem que a está aterrorizando — Damon continua.
— Jason Whitmore — completo, o nome saindo da minha boca
como veneno. — É ele, não é?
Damon fica quieto por um segundo, e sei que o surpreendi. —
Você o conhece?
A lembrança me atinge como um soco: Kandahar. Os informantes
mortos, os acordos sujos, a expressão no rosto de Whitmore quando
ele foi embora com um acordo de delação enquanto o resto de nós
ficou limpando sua bagunça. O nome do desgraçado tem gosto de
cobre na minha boca.
— Sim — digo, com a voz tensa. — Eu o conheço. Da última vez
que o vi, ele estava fechando um acordo para salvar a própria pele
depois de arruinar uma missão e fazer com que bons homens
morressem. Que diabos ele está fazendo perseguindo uma mulher e
seus filhos?
— Longa história — Damon responde. — Agora, preciso que você
cuide disso. Pode lidar com a situação?
Solto uma risada curta, amarga e fria. — Seis meses atrás,
alguém contratou minha antiga empresa para rastrear sua ex. Não
aceitamos o caso. Mais tarde, descobri que era o Jason fazendo o
pedido.
— É ela — Damon confirma. — Ele tem rondado a Mia, Zane.
Esse cara não desiste.
Passo a mão pelo cabelo. — Eu estava muito absorto na minha
própria merda na época. Bem, deveria ter acompanhado o caso.
Deveria ter feito mais.
— Você fará isso agora — Damon diz. — Chegue lá rápido. Você
tem o endereço.
Meu telefone apita com a mensagem dele, provavelmente o
endereço atual de Mia. Dou uma olhada. Estou no meio do nada no
Arizona, e ela está... longe.
Minha mão aperta o telefone enquanto olho para a noite. —
Estarei lá em algumas horas.
Verifico o endereço antes de voltar minha atenção para Damon.
— Tenha cuidado. Whitmore é um homem perigoso — ele diz. —
Sim — respondo, pegando minha jaqueta e as chaves. — Tenho
contas a acertar.
MIA
E
nquanto guio Zane até a cozinha, o kit de primeiros socorros
treme nas minhas mãos, suas bordas de metal tilintando contra
meus dedos. Cada instinto meu está gritando comigo por deixar
outro homem militar entrar no meu espaço, por permitir que alguém
como ele — grande, imponente e claramente perigoso — se sente à
minha mesa da cozinha. E ele tem que ser um militar se Damon o
enviou para cá.
Nem todos são iguais, penso comigo mesma. Mas a enfermeira
em mim supera o medo. Aqueles cortes precisam ser limpos, e ele
acabou de impedir que Jason atacasse minha casa.
— Você disse alguma coisa? — Zane pergunta, quase como se
pudesse ouvir meus pensamentos.
Rapidamente balanço a cabeça. Ele pensaria que sou louca.
— Posso ver alguma identificação primeiro? — pergunto. Damon
não me disse que estava mandando alguém para minha casa esta
noite. Em defesa desse cara, eu nem deveria saber que ele estaria
fora da minha casa, de olho em mim. Sei que Damon só está
cuidando de mim, mas um calafrio percorre minha espinha.
Zane não protesta. Ele tira sua identificação da carteira. Seu
nome e detalhes estão impressos no crachá da Mars Security.
Solto o ar, devolvendo a identificação para ele. Seu cabelo está
cortado rente ao couro cabeludo, o tipo de corte que grita disciplina.
Ele é tão alto quanto Damon, mas de alguma forma mais largo, seus
ombros preenchendo o espaço como se pertencessem ali. E aquela
cicatriz — meu Deus, a cicatriz — desce irregular pelo seu rosto,
contornando o osso da bochecha e desaparecendo na gola da
camisa.
Tento não encarar, mas não consigo evitar. O que aconteceu ali?
Limpo a garganta, colocando o kit no balcão e gesticulando para
que ele se sente. Ele se abaixa em uma das cadeiras de madeira. Ela
range sob seu peso, mas ele não parece notar.
— Isso pode arder — aviso, pegando um frasco de antisséptico e
algumas gazes.
Me forço a encarar seus olhos. São de um azul penetrante e
afiado, frios como aço e igualmente inflexíveis.
Ele não se encolhe quando pressiono a gaze contra a escoriação
ao longo de sua mandíbula, mas a leve tensão ao redor de seus
olhos o entrega. Continuo trabalhando, concentrando-me no ritmo
de limpar e pressionar, qualquer coisa para manter minhas mãos
firmes.
A maioria das pessoas já teria desviado o olhar a esta altura. A
maioria das pessoas não saberia o que fazer com um homem como
este, sentado em sua cozinha. Mas eu não recuo, e isso parece
pegá-lo desprevenido.
— Você não tem medo de mim. — Não é uma pergunta. Sua voz
é baixa e áspera, cortando o silêncio como uma lâmina.
Faço uma pausa, olhando para ele. — Deveria ter?
Seus lábios se contraem um pouco, como se estivesse debatendo
se sorri ou faz um sorriso irônico. — A maioria das pessoas tem. A
cicatriz geralmente dá conta do recado.
Dou de ombros, mantendo minhas mãos em movimento. — Já vi
piores. — Não é totalmente verdade, mas é próximo o suficiente.
Trabalhar em uma emergência me mostrou mais lesões do que eu
jamais quis ver.
Ele me observa, seu olhar implacável, e me pergunto o que está
procurando. Uma resposta? Uma fraqueza?
— O que aconteceu? — pergunto suavemente, acenando em
direção à cicatriz. A pergunta escapa antes que eu possa impedi-la.
Ele não responde imediatamente, sua expressão indecifrável. —
Risco ocupacional — diz finalmente, seu tom plano como se tivesse
ensaiado aquela frase centenas de vezes.
Não insisto. Aprendi a não pressionar pessoas que não querem
falar, e Zane parece o tipo de homem que não fala a menos que seja
absolutamente necessário. Em vez disso, concentro-me na
escoriação, envolvendo-a cuidadosamente com um curativo limpo.
Sua pele está quente sob meus dedos, sua linha da mandíbula
áspera com a barba por fazer. Trabalho rápida e metodicamente,
fingindo não notar o quão próximos estamos.
O leve aroma de sua colônia chega até mim — uma mistura sutil
de cedro e algo mais sombrio, terroso. Ele me transporta para um
tempo em que eu pensava que a vida ainda poderia conter faíscas
de emoção, de desejo. O calor de sua presença tão próxima à minha
desperta algo profundo dentro de mim, um sentimento que não me
permiti experimentar há anos. Meu coração tropeça em si mesmo,
pulando uma batida, ao perceber quão pouco espaço nos separa.
Zane não se afasta. Sua expressão cautelosa suaviza-se apenas
uma fração, mas é o suficiente para mudar o ar entre nós. Há algo
em seus olhos — curiosidade, talvez, ou talvez o reconhecimento do
mesmo lampejo de atração que estou tentando ignorar. Seja o que
for, parece tangível. Um fio esticado entre nós, ameaçando
arrebentar.
Sinto-me mudar. O olhar dele sobre mim não é exatamente
desconfortável, mas é definitivamente intenso, fazendo minha
barriga esquentar. E a sensação piora quando meu olhar desce para
seus lábios cheios, o piercing na borda de sua boca. Pergunto-me
como seria envolver minha língua ao redor dele.
Merda.
O calor sobe ao meu rosto, e me concentro no kit de primeiros
socorros como se fosse a tarefa mais importante do mundo. Fecho o
kit com mais força que o necessário, dando um passo para trás para
colocar uma distância muito necessária entre nós. Minha garganta
parece seca, mas consigo limpá-la.
— Pronto — digo, recuando. — Tente mantê-lo limpo.
Ele se levanta, pairando sobre mim novamente, e acena com a
cabeça. — Obrigado.
Mesmo tendo terminado, há uma energia inquieta no ar, como se
ele estivesse esperando o momento certo para fazer ou dizer algo.
Movimento-me para guardar o kit de primeiros socorros, mas sua
voz me detém.
— Que tipo de ameaças Jason tem feito? — ele pergunta.
Olho para ele, surpresa. — Você provavelmente conhece o tipo.
Me observando, aparecendo em lugares onde não deveria. As
mensagens são sempre vagas. Apenas o suficiente para garantir que
eu saiba que ele está lá, que não vai a lugar nenhum.
O maxilar de Zane se tensiona. — Perseguição. Intimidação.
— Guerra psicológica — corrijo suavemente, evitando seu olhar
penetrante. — Ele é bom nisso.
— Queria ter feito algo pior com aquele desgraçado — Zane
murmura, sua voz baixa e áspera. Suas palavras carregam uma
dureza afiada, quase demais para alguém que não me conhece, que
não conhece minha vida.
Diferente de Damon, cujo comportamento calmo e calculado
parece mascarar quaisquer emoções que ele mantém trancadas, o
ódio de Zane por Jason parece cru, palpável. Paira na sala como
fumaça, e me faz pausar. Por que ele se importaria tanto? Por que
ele se sentiria tão protetor comigo tão rápido? Ele nem mesmo me
conhece ou conhece minhas meninas ainda. Com Damon, é
diferente, mas para Zane, parece quase tão pessoal quanto.
— Você conhecia o Jason — as palavras escapam antes que eu
possa contê-las.
Zane congela, sua expressão tornando-se pétrea. É o tipo de
reação que já vi antes em mim mesma e em outros que
sobreviveram às suas próprias guerras privadas. Aquela mistura
particular de ódio e culpa - é inconfundível.
— Servimos juntos — ele diz finalmente, sua voz plana e fria. —
Até que ele traiu nossa unidade e fez com que três homens fossem
mortos em Kandahar.
Minhas mãos congelam onde estão alisando a borda do curativo
nos nós dos dedos dele. A sala de repente parece pequena demais,
silenciosa demais.
— Kandahar — repito.
O nome evoca imagens que não quero ver - paisagens
empoeiradas, rostos desesperados, um lugar que só conheço pelas
histórias de Jason. Histórias que agora, percebo, foram mentiras
cuidadosamente elaboradas para pintá-lo como o herói em vez do
vilão.
Jason havia mencionado algo sobre isso para mim, embora
obviamente nada sobre o que ele tinha feito. Ele nunca se exporia,
muito menos admitiria estar errado sobre qualquer coisa. Ele me
convenceu de que faria qualquer coisa por mim, me compraria
qualquer coisa que eu quisesse.
— Aquele filho da puta não estava apenas traficando armas... ele
estava desviando dinheiro. Roubando de cada maldito acordo que
nossa unidade intermediava com empreiteiros locais. Vendendo
informações sobre movimentações de tropas ao maior lance. Ele nos
vendeu para quem pagasse mais.
Duas semanas antes de eu partir, ele tinha me comprado um raro
anel de esmeralda. Nunca o questionei sobre como ele poderia
pagar por isso. Perguntas sempre levavam a ferimentos - um olho
roxo, um dedo quebrado. Eu tinha aprendido a não fazer perguntas
a ele. Mas ele tinha estado em Kandahar por seis meses antes de
voltar à base abruptamente. Isso foi alguns dias antes de eu
descobrir que estava grávida. A esmeralda me deu coragem para
finalmente fugir.
Jason não podia me acusar de roubo, e agora entendo por quê.
Ele sabia que não deveria ter o anel. Eu o vendi para conseguir
dinheiro - muito dinheiro - e finalmente escapar do seu alcance.
Tudo isso parece ter acontecido há uma vida.
Agora finalmente tenho as respostas. Eu deveria ter imaginado
que ele estava envolvido em negócios ilegais.
— Você estava lá — murmuro, juntando as peças. — Quando...
quando tudo aconteceu.
Ele acena uma vez, cerrando a mandíbula. — Eu confiei nele.
Todos nós confiamos. E então ele começou a traficar drogas através
de nossas rotas de suprimento, usando nossas missões como
cobertura. A emboscada... — Sua voz falha por um momento, uma
rachadura em sua armadura antes que se estabilize. — A emboscada
foi obra dele. Quando foi pego, ele fez um acordo para se livrar da
situação, nos deixando encurralados entre inimigos. Três bons
homens morreram por causa dele. Era ele que deveria ter morrido
naquela noite, não eles.
Meus dedos tremem enquanto me afasto dele, meu coração
acelerado. Sempre soube que Jason era perigoso, mas isso... isso é
algo completamente diferente.
Os olhos de Zane se fixam nos meus, e pela primeira vez, vejo
além da cicatriz, além das arestas duras. Há uma dor lá que espelha
a minha, e isso faz meu peito doer.
— Sinto muito — digo, sem saber o que mais dizer.
Ele balança a cabeça. — Não sinta. Não estou te contando isso
para obter simpatia. Eu só... você merece saber do que ele é capaz.
O que ele fez.
Aceno lentamente.
A mandíbula de Zane se contrai enquanto ele olha para a mão
enfaixada. — Mal consegui escapar. Mas agora tenho minha chance
de finalmente me vingar dele.
Há uma crueza em sua voz, uma amargura que parece estar se
acumulando há anos. Minha boca se abre para responder, para dizer
algo sobre como a vingança pode ser destrutiva, como raramente
nos traz o fechamento que esperamos. Mas as palavras ficam presas
na minha garganta enquanto me inclino mais perto dele,
subitamente consciente de seu olhar firme e intenso.
— O homem é mais do que uma ameaça — diz Zane
suavemente, sua voz como uma tempestade silenciosa. — Deixe-nos
ajudar. Deixe-me ajudar.
Quero responder, dizer a ele que venho lutando essa batalha
sozinha por tanto tempo que a ideia de ajuda parece estranha. Mas
antes que eu possa, o suave trovoar de pequenos passos ecoa pela
escada.
— Mamãe? — a vozinha de Emma chega até a sala, e ela
aparece na porta, agarrando seu unicórnio com força. Seus grandes
olhos castanhos - tão parecidos com os da mãe de Damon - se
arregalam quando pousam em Zane.
— Você é um soldado como o Damon? — Emma pergunta.
O silêncio que se segue parece que poderia rachar as paredes. O
olhar agudo de Zane vai para mim, depois para Emma, sua
expressão indecifrável. É como vê-lo montar um quebra-cabeça em
tempo real, um que está quase completo, mas faltando apenas
algumas peças críticas.
— Algo assim, princesa — ele diz finalmente, sua voz áspera
suavizando de um jeito que mexe com algo profundo dentro de
mim. — Eu ajudo a manter as pessoas seguras.
Ella espia por trás da irmã, seus cachos formando uma auréola
selvagem em volta da cabeça. Ambas as meninas olham para Zane
com o tipo de curiosidade inocente que só as crianças conseguem
demonstrar.
Zane não recua sob o olhar delas, mas algo muda nele. As
arestas duras de seu comportamento suavizam, e as linhas de
tensão em seus ombros relaxam ligeiramente.
— O que é isso no seu rosto? — Ella pergunta, apontando para a
cicatriz que desce pela sua bochecha e desaparece na gola de sua
camisa.
— É uma história — Zane diz, agachando-se ao nível delas. —
Uma longa.
— É uma história assustadora? — Emma pergunta, sua voz cheia
de admiração.
— Não para mim — ele responde com um pequeno sorriso,
quase imperceptível. — Mas tem um final feliz.
As meninas trocam um olhar, depois se aproximam, como se
estivessem testando as águas. — Você gosta de unicórnios? —
Emma pergunta, levantando seu bichinho de pelúcia como se fosse a
pergunta mais importante do mundo.
Os lábios de Zane se movem, e por um segundo, acho que ele
pode rir. — Unicórnios são bem legais — ele diz, com um tom tão
sincero que mal posso acreditar que está saindo da boca dele.
Observo enquanto ele responde às perguntas rápidas delas com
uma paciência inesperada, sua voz áspera ficando mais calorosa a
cada resposta. É como assistir a uma fortaleza lentamente
abaixando seus portões. A visão deste homem perigoso e marcado
por cicatrizes se suavizando para minhas filhas quebra algo dentro
de mim.
Ella puxa a manga dele, e Zane não se afasta. Em vez disso, ele
se inclina para que ela possa sussurrar algo em seu ouvido. O que
quer que ela diga o faz rir - um som baixo e retumbante.
Minha garganta se aperta enquanto absorvo tudo isso. É por isso
que tenho lutado: pela segurança das meninas, sua inocência, sua
capacidade de encontrar alegria mesmo em meio ao caos. E agora,
contra todas as expectativas, me vejo confiando nesse estranho para
fazer parte dessa luta.
— Tudo bem — sussurro, mais para mim mesma do que para
qualquer outra pessoa, mas Zane ouve. Sua cabeça se ergue, seus
olhos azuis tempestuosos se fixando nos meus com uma mistura de
surpresa e compreensão.
— Tudo bem? — ele repete, seu tom ilegível.
Faço que sim com a cabeça, engolindo o nó na garganta. — Tudo
bem — digo novamente, mais alto desta vez. — Deixarei que vocês
decidam o que é melhor. Se for vigilância contínua, 24 horas por dia,
que assim seja.
Porque talvez, apenas talvez, deixar outra pessoa carregar o peso
desse fardo por um tempo não seja uma fraqueza. Talvez seja a
única maneira de sairmos dessa intactos.
6
ASHER
A
barra fixa range suavemente enquanto me ergo para uma
última repetição, o suor escorrendo pelas minhas costas no ar
fresco da manhã. O sol ainda nem nasceu completamente, e
banha a academia em tons de cinza suaves.
Meu celular vibra no banco, o número de Zane iluminando a tela.
Me solto da barra, pego uma toalha para secar o rosto enquanto
caminho até o telefone. Zane nunca liga tão cedo a menos que algo
esteja errado. Na segunda vibração, já estou pegando minha
mochila de emergência.
— Zane — atendo, jogando a bolsa sobre o ombro enquanto me
dirijo ao chuveiro. — O que está acontecendo?
— Preciso de alguém para me substituir num novo caso, Ash —
ele diz, com a voz rouca, como se estivesse mastigando o cansaço a
noite toda. — Estou aqui desde ontem à noite. Tivemos um
incidente com o ex da cliente.
— Incidente? — paro no meio do caminho, a tensão formando
um nó no meu peito. — Define "incidente".
— Jason Whitmore — diz Zane, como se o nome por si só fosse
explicação suficiente.
E é. O nó aperta.
— Meu Deus — digo. Foi o último nome que esperava ouvir da
boca dele. — Você encontrou seu demônio do outro lado do mundo.
— Aparentemente — Zane responde secamente.
— Então — digo. — Ele está morto?
Zane suspira. — Infelizmente, ainda não. Interceptei quando ele
tentou jogar uma pedra na janela dela.
— Meu Deus. — Balanço a cabeça, jogando a toalha de lado.
Meus pés se movem mais rápido, me levando escada acima até meu
quarto. — Onde está Damon? Pensei que ele estava cuidando dos
novos clientes.
— O chefe disse que ele tinha que fazer uma pesquisa
aprofundada — responde Zane, seu tom deixando claro que não está
comprando qualquer desculpa que Damon tenha dado. — Ash, tenho
um mau pressentimento sobre esse caso. Ela tem gêmeas, e o ex
dela não é apenas um idiota qualquer. Ele tem treinamento e um
sério rancor. Não posso deixá-la desprotegida, mas também preciso
verificar o local de trabalho dela antes de descansar.
O subtom em sua voz me faz parar no corredor. Há algo mais
aqui, algo que Zane não está dizendo diretamente, mas eu o
conheço há tempo suficiente para ler nas entrelinhas.
— Você gosta dela? — pergunto, meio brincando, meio curioso.
— Não seja idiota — Zane responde bruscamente, mas o fato de
não negar diretamente me diz tudo. — Isso é sobre o trabalho.
— Claro que é — digo, pegando uma arma do cofre ao lado da
minha cama. — Me manda o endereço por mensagem. Eu faço a
avaliação da casa enquanto você cuida do local de trabalho.
— Eu agradeço — murmura Zane, sua gratidão áspera nas
bordas. — Apenas... tenha cuidado. Jason não é uma ameaça
pequena. E há crianças envolvidas.
— Eu cuido disso — garanto a ele, guardando o telefone no bolso
e descendo as escadas.
Enquanto me movimento pela casa, o ar parece mais frio nos
corredores amplos e de teto alto. Cada superfície polida, dos pisos
de mármore aos ornamentados lustres, brilha na luz fraca da manhã
que filtra pelas janelas do chão ao teto. É um lugar projetado para
impressionar, mas para mim, sempre pareceu vazio. Espaço demais,
silêncio demais. O tipo de casa que engole o som e te lembra o quão
sozinho você está.
Olive é o único calor real neste lugar. Ainda assim, ele serve ao
seu propósito, como tudo mais na minha vida. Propósito acima de
preferência — esse é meu lema.
O leve aroma de café vem da cozinha enquanto me aproximo.
Olive, minha cuidadora e a única constante na minha vida desde a
infância, já está atarefada, cantarolando uma velha melodia
enquanto arruma a mesa.
— Trabalho? — ela pergunta, olhando da cafeteira com olhos
conhecedores.
— Sempre — digo, pegando um copo para viagem que ela coloca
sem que eu peça. — Volto mais tarde. Não me espere acordada.
Seus lábios se apertam numa linha fina, preocupação gravada
nas linhas do seu rosto. — Tenha cuidado, Asher.
Dou-lhe um aceno rápido antes de me dirigir à garagem.
Deslizando para o banco do motorista do meu SUV, verifico o
endereço que Zane me enviou. Uma casa modesta nos arredores da
cidade. Gêmeas. Um perseguidor. O aviso de Zane ecoa na minha
cabeça enquanto ligo o motor.
— Jason Whitmore — murmuro para mim mesmo, apertando o
volante. — Vamos ver do que você é realmente feito.
Saio da minha garagem, o sol apenas começando a subir,
pintando o céu com listras de laranja e dourado. Olive acena da
varanda, xícara de café na mão. Ela tem estado à espreita desde a
ligação de Zane no início da manhã, mas não posso culpá-la. Ela
sabe o que significa quando saio assim — mochila pronta, arma no
coldre.
O trajeto para fora do meu bairro é automático, memória
muscular. Ruas largas, gramados bem cuidados e portões que
prometem uma segurança que ninguém pode realmente garantir.
Mal registro as curvas, muito concentrado na voz de Zane ainda
ecoando na minha cabeça — 'Estou com um mau pressentimento,
Ash.'
Mas quando chego à rodovia, tudo muda. A cidade se transforma
ao meu redor, vidro e concreto dando lugar a bairros mais antigos.
Cercas inclinadas, calçadas rachadas. O mundo de Mia não é nada
como o meu.
O bairro é modesto, tranquilo, mas com caráter suficiente para
sugerir as vidas das famílias que ali habitam. Pequenas casas bem
cuidadas alinham a rua estreita, cada uma com sua própria versão
de encanto: cercas de estacas, brinquedos desbotados pelo sol
espalhados nos gramados, canteiros de flores que falam do esforço
de alguém para fazer um lugar parecer um lar. Dirijo devagar,
procurando o endereço que Zane me enviou. Há uma familiaridade
nesses bairros — classe trabalhadora, funcionais, onde a vida é
vivida à plena vista da rua.
Quase perco a casa, o pequeno número na caixa de correio
chamando minha atenção bem a tempo. A casa dela é modesta,
como o resto do bairro. Um pequeno jardim com uma selvageria
parcialmente domesticada fica na frente, como se alguém tivesse
sonhos maiores para ele uma vez, mas agora apenas o mantém
vivo. O jardim contrasta com as câmeras de segurança montadas
discretamente nos cantos. Esta mulher está preparada.
Mia está na borda do jardim. Seu cabelo capta a luz da manhã –
um castanho suave com tons dourados que o fazem parecer vivo,
como se estivesse dançando mesmo quando está parado. Está preso
para trás de forma solta, com algumas mechas escapando para
emoldurar seu rosto. Sua pele é clara e lisa, mas há uma leve fadiga
sob seus olhos amendoados de um castanho profundo. Suas maçãs
do rosto são altas, sua linha da mandíbula delicada mas firme, e
seus lábios – cheios, macios e levemente entreabertos, como se
tivesse sido pega no meio de um pensamento.
Mesmo cansada, ela é impressionante, com uma postura cheia
de determinação feroz. Vejo duas garotinhas agarradas às suas
pernas, e ela as mantém ali com paciência.
Ela é mais alta do que eu esperava, embora ainda seja pequena
ao lado de Zane. Há uma graça natural na forma como ela se porta,
mesmo com duas crianças agarradas às suas pernas. Ela está
usando uma camiseta simples e jeans, mas a forma como as roupas
se ajustam, abraçando curvas que ela provavelmente nem percebe
que tem, torna difícil desviar o olhar. Meu olhar se prende à curva
suave de seu pescoço e ao modo como suas mãos se movem
enquanto seus dedos finos acariciam protetoramente a cabeça de
uma das gêmeas.
Há força na posição de seus ombros, na maneira como ela se
coloca entre suas filhas e o mundo. E ainda assim, há também uma
suavidade – uma vulnerabilidade no modo como seus lábios se
pressionam quando ela olha para Zane, como se estivesse se
preparando para qualquer má notícia que possa vir a seguir.
Sei que estou encarando, mas por um momento, não consigo me
conter. Faz muito tempo que alguém não faz meu peito apertar
assim.
O encanto se quebra quando meus olhos se movem para Zane,
parado um passo mais perto dela do que eu teria esperado. Ele está
machucado, com sangue seco na têmpora. Está ligeiramente
inclinado em direção à rua, seu corpo instintivamente protegendo
Mia e as crianças.
Zane, que nunca baixa a guarda, de alguma forma suavizou, seu
comportamento normalmente afiado como uma navalha substituído
por algo quase gentil enquanto se inclina para falar com as crianças,
que conversam alegremente com ele.
Quase parece que estou intrometendo, mesmo que eles estejam
a céu aberto. E por um momento, me pergunto por que Damon
contatou Zane primeiro em vez de mim. Eu deveria ter chegado
antes dele.
Assovio baixo para chamar a atenção de Zane. Sua cabeça se
ergue, e ele se levanta, procurando o som antes de finalmente me
localizar. Ele se afasta dos três e acena para que eu me aproxime.
— O reforço chegou — Zane anuncia, quebrando o momento. Ele
acena em minha direção, sua voz rouca de exaustão. — Ele vai fazer
a avaliação da casa enquanto eu verifico a segurança do hospital.
Os olhos de Mia encontram os meus, e pela primeira vez, eu os
vejo completamente – escuros, profundos e cautelosos. Há suspeita
ali, sim, mas também algo que parece um teste, como se ela
estivesse me avaliando e decidindo se sou uma ameaça. Seu olhar
não vacila, e eu respeito muito isso.
As crianças, por outro lado, não têm tais reservas. Olhando mais
de perto, percebo que são gêmeas idênticas.
Olho para a mãe delas, que está me observando atentamente.
Espero que ela esconda as filhas atrás de seu corpo, mas ela parece
se conter. Seus olhos, no entanto, a entregam. Ela me avalia de uma
forma que deixa claro que não confia facilmente. Bom. Não deveria
mesmo.
— Senhora — digo, mantendo meu tom neutro. — Asher Rheins.
Damon me enviou para ajudar.
Ela não responde imediatamente, e por um segundo, penso que
ela pode me mandar embora. Então a mais ousada das duas
meninas se adianta, puxando minha manga.
— Você também é um super-herói? Como o Sr. Zane?
Eu me agacho ao nível dela, oferecendo o que espero ser um
sorriso tranquilizador. — Um super-herói, é? — Olho para Zane, cuja
expressão sugere que ele preferiria engolir pregos a entreter essa
ideia. — Bem, posso não ter uma capa, mas faço o meu melhor.
A menina sorri, revelando um espaço onde seu dente da frente
costumava estar. — Qual é o seu nome? — ela pergunta, com o
unicórnio balançando em seu braço.
— Asher — digo a ela. — E qual é o seu?
— Eu sou Emma! — ela declara, estufando o peito como se
tivesse acabado de anunciar sua identidade de super-heroína. — E
esta é a Sparkle. — Ela ergue o unicórnio para dar ênfase.
Atrás dela, a gêmea mais quieta se aproxima um pouco, sua
pequena mão agarrando o jeans da mãe. — Ella — ela sussurra,
quase inaudível.
— É um prazer conhecer vocês duas — digo, mantendo minha
voz suave. — Emma e Ella. Nomes lindos para meninas lindas.
A expressão de Mia suaviza o suficiente para me deixar saber
que ela está ouvindo, mesmo que não esteja pronta para baixar a
guarda. Zane se endireita, esticando os braços acima dele como se a
exaustão finalmente o estivesse alcançando. Posso perceber que ele
não dormiu muito na noite passada. Gostaria que ele tivesse me
ligado mais cedo.
— Estou saindo — ele diz, passando por mim. — Não estrague
isso, Ash.
— Eu nunca estrago — respondo, observando-o descer a
entrada. Quando me viro para Mia, seus olhos ainda estão em mim,
cautelosos.
As gêmeas tagarelam como pardais enquanto o carro de Zane se
afasta, deixando-me parado no jardim da frente com a mãe delas.
Eu me agacho ao nível delas, encarando seus olhares curiosos de
frente.
— Então você também é amigo soldado do Damon? — Emma
pergunta, seus olhos arregalados brilhando de excitação.
— Mais como um agente secreto. Estou aqui para manter o
homem mau afastado — digo, olhando para Mia enquanto falo. Ela
estremece levemente à menção de "homem mau", então me ajusto.
— Estou aqui para ajudar a garantir que sua fortaleza esteja extra
segura. Mostre-me o caminho, por favor.
— Tudo bem, venha conosco — diz Ella.
— Que tal jogarmos um jogo de Academia de Agentes Super
Secretos? — digo. — Enquanto cobrimos os cômodos, as Agentes
Ella e Emma vão me mostrar cada um. Vamos verificar cada canto.
Lembrem-se, nenhum detalhe é grande ou pequeno demais.
As meninas guincham de alegria, sua timidez anterior
evaporando como orvalho da manhã. — Sim! Sim! — Emma
exclama, praticamente saltitando. — Nós conhecemos a casa de
cabo a rabo. Vamos te ajudar!
Mia cruza os braços, observando-nos com uma mistura de
cautela e diversão. — Se você conseguir fazer com que elas escutem
enquanto verifica a casa, já estará valendo seu pagamento — ela me
diz secamente.
— Desafio aceito — respondo, endireitando-me com seriedade
fingida. — Muito bem, agentes, mostrem o caminho!
As meninas agarram minhas mãos, me arrastando para dentro da
casa. Lá dentro, a casa parece pequena, mas acolhedora, com um
caos organizado que só uma família com crianças poderia ter. As
paredes estão repletas de desenhos feitos à mão, os móveis são
despadronizados, mas funcionais, e há um leve aroma de lavanda e
café no ar. Parece... habitada. Segura, à sua maneira.
Deixo as meninas me guiarem quarto por quarto, transformando
cada verificação de segurança em uma caça ao tesouro. Elas levam
seus papéis a sério, especialmente Emma, que parece ter nascido
para liderar.
— Agente Emma, qual é a regra número um da segurança de
perímetro? — pergunto enquanto entramos na cozinha.
— Verificar todas as janelas! — ela declara com autoridade, indo
até a mais próxima e balançando a fechadura de forma dramática.
Ella a segue de perto, rabiscando com um giz de cera em um
caderno.
— Excelente trabalho — digo, com um pequeno aceno de cabeça.
— Agente Ella, sua vez. Qual é a regra número dois?
— Hã... — Ela hesita, olhando para a irmã.
— Sempre procurar por pontos fracos — sugiro gentilmente.
— Sempre procurar por pontos fracos! — ela repete, sua vozinha
ficando mais confiante.
Percebo Mia encostada no batente da porta da cozinha, com os
braços cruzados, mas com uma expressão mais suave do que antes.
Seus olhos pousam em mim e, quando nossos olhares se encontram,
ela rapidamente desvia o olhar, um leve rubor tingindo suas
bochechas.
Seguimos para o quarto das meninas, um espaço aconchegante
com camas de solteiro e um batalhão de bichos de pelúcia
guardando as paredes. Emma me leva até a janela e aponta
dramaticamente. — Agente Asher, temos uma trava solta aqui!
— Excelente descoberta, Agente Emma — digo, agachando-me
perto da janela. — Agora, o que fazemos quando encontramos uma
trava solta?
— Consertar? — Ella arrisca, espiando por trás da irmã.
— Exatamente — digo. — Venham aqui, vou mostrar como.
Ella avança hesitante enquanto Emma paira por perto,
observando atentamente. Demonstro como apertar a trava. Mia se
aproxima para ajudar, e quando nossos dedos se tocam, é como se
uma corrente elétrica passasse entre nós. Ambos congelamos por
um momento antes de recuarmos rapidamente.
— Entenderam? — pergunto às meninas, minha voz um pouco
mais áspera que antes.
Ella acena solenemente. — Entendemos.
Depois que as meninas me guiam pelo resto da casa,
terminamos no porão. Os degraus rangem enquanto Mia desce na
minha frente, seu corpo esbelto iluminado pela luz fraca da lâmpada
acima. Estou apenas um passo atrás dela, analisando o espaço em
busca de vulnerabilidades potenciais. É uma casa antiga.
Aconchegante, com certeza, mas não exatamente construída
pensando em defesa.
Mia se vira para mim. — Tenha cuidado, está um pouco escuro
aqui.
Estou prestes a sugerir o reforço da entrada dos fundos quando
o pé de Mia se prende na borda de um degrau. O tempo desacelera
enquanto ela tropeça para o lado, um pequeno suspiro escapando
de seus lábios. O instinto toma conta e me movo mais rápido do que
achei que poderia, segurando-a antes que ela caia. Minhas mãos
envolvem seus quadris enquanto a equilibro, seu corpo colado ao
meu.
Por um segundo, o mundo se estreita. As mãos dela estão
apoiadas em meu peito, seu rosto voltado para o meu, e fico
impressionado com o quão próximos estamos. Sua respiração
quente roça meu pescoço, seus olhos arregalados de surpresa... e
algo mais. Algo que eu não deveria estar notando. Meus dedos
apertam instintivamente seus quadris, e sinto as curvas do corpo
dela sob minhas mãos, macias de uma forma que faz meu pulso
acelerar.
Calor me inunda, primordial e imediato. Meu corpo reage antes
que meu cérebro possa acompanhar, e cerro os dentes,
silenciosamente me amaldiçoando. Sou um profissional, droga. Não
me distraio.
Os gritos de deleite das gêmeas do pé da escada quebram o
momento ao meio. — Mamãe, você caiu? — Emma pergunta, rindo.
As bochechas de Mia ficam rosadas enquanto ela se afasta,
rapidamente se ajeitando. — Não, querida — ela diz, sua voz um
pouco ofegante. — Asher me pegou.
Forço minhas mãos a caírem ao lado do corpo, embora isso
pareça um esforço. Enquanto a solto completamente, seu corpo
desliza contra o meu, a fricção não intencional quase desfazendo
minha compostura. Contenho um gemido, rezando para que ela não
perceba minha ereção.
— Cuidado nessas escadas — digo a Mia, minha voz mais áspera
do que eu gostaria. — São mais íngremes do que parecem.
Ela acena com a cabeça, evitando meu olhar enquanto alisa a
camisa. — Obrigada — murmura, seu rubor se aprofundando. Se é
por constrangimento ou outra coisa, não consigo dizer.
As gêmeas, alheias à tensão entre nós, disparam pela sala como
espiãs em missão. Emma aponta para uma pequena janela ao nível
do solo. — Agente Asher! Este é um ponto fraco?
Agacho-me para examiná-la, grato pela distração. — Bom olhar,
Agente Emma. Esta trava está solta. Vamos consertá-la para garantir
que nenhum bandido entre.
— O que podemos fazer para te ajudar, Agente Asher? — diz Ella.
Antes que eu possa responder à pergunta inocente de Ella, meu
telefone apita. Pego-o do bolso e deslizo a tela. A mensagem de
Zane aparece, junto com uma série de fotos anexadas do hospital.
Cada uma destaca uma falha gritante de segurança – corredores
sem monitoramento, entradas desprotegidas. Há vários pontos
cegos.
Não posso me dar ao luxo de ter distrações. Não aqui. Não
agora. Ainda assim, ao guardar o telefone de volta no bolso, dou
uma olhada em Mia. Ela está me observando, seus lábios curvados
no mais tênue sorriso. Algo nisso é desarmante, puxando uma parte
de mim que tenho tentado manter trancada.
As gêmeas continuam a tagarelar, alheias à mudança no meu
humor. Olho ao redor da sala uma última vez, fazendo anotações
mentais sobre o que precisa ser reforçado, mas meus pensamentos
continuam voltando a Mia.
Distância profissional.
Essas palavras passam pela minha mente como um mantra, mas
já está claro que vai ser muito mais difícil do que eu esperava.
7
MIA
A
convocação para o escritório da Sra. Meyers chega através de
uma ligação, em uma instrução seca que faz meu estômago
afundar. É raro ser chamada durante meu turno. Ainda mais
raro encontrar o chefe de TI – usando um crachá que me diz que
seu nome é Randall – e um oficial de segurança do hospital
esperando ao lado da minha supervisora. Suas expressões sérias me
dizem que, seja lá o que for, é ruim.
Entro no escritório, meu coração acelerado, e meu olhar é
imediatamente atraído para a tela do computador. A filmagem
pausada mostra uma figura familiar em preto e branco granulado:
Jason.
—As câmeras de segurança capturaram este homem tentando
acessar sua ala às 3 da manhã — diz Randall lentamente, como se
tentasse não me alarmar. — Ele disse ao pessoal do turno da noite
que estava entregando um jantar que você tinha esquecido.
As palavras me atingem como um soco no estômago. Minha
mente se embaralha, revivendo a noite anterior. Eu estava em casa
com as gêmeas, dormindo.
—Ele interagiu com uma das pacientes. A mulher diz que ele
estava armado e perguntou sobre você. A paciente está aterrorizada.
—Senhor — digo, com a voz trêmula —, não tenho mais nenhum
relacionamento com esse homem. Tudo acabou há seis anos.
Randall e a Sra. Meyer trocam um olhar. —Ela já tem uma
medida protetiva contra esse homem — ela informa.
Randall se vira para mim. —Eu entendo sua situação, senhorita
Henson, mas é impossível sensibilizar cada membro da equipe sobre
seu problema.
Engulo em seco. —Eu entendo. — Jason é um demônio com o
qual tenho que lidar sozinha.
Randall se inclina para frente, clicando para reproduzir o vídeo. A
filmagem mostra Jason rondando perto da estação de enfermagem,
seu rosto quase todo oculto pela aba de um boné, mas a maneira
como ele se move é inconfundível. Predatória. Intencional. Ele
caminha até a sala de medicamentos trancada, tenta abrir a porta e,
ao encontrá-la segura, sai momentos depois.
—Ele não teve acesso aos medicamentos — diz o oficial de
segurança, em tom comedido —, mas sua presença é uma clara
violação.
—Por que não fui notificada antes? — pergunto, com o pânico
invadindo minha voz.
O chefe de TI hesita. —As imagens foram identificadas durante
uma auditoria de rotina esta manhã. O pessoal do turno da noite
não o reconheceu como uma ameaça e não relatou o incidente.
Uma nova onda de raiva e medo surge em mim. Jason, se
esgueirando pelo hospital enquanto eu estava a quilômetros de
distância, sem saber. Ele poderia ter feito qualquer coisa – plantar
algo, adulterar medicamentos. As possibilidades me dão calafrios.
—Vou atualizar a polícia sobre o incidente — digo, forçando
minha voz a permanecer firme, mesmo com minhas mãos tremendo.
O oficial de segurança pigarreia, um som desajeitado e hesitante
que imediatamente me deixa tensa. A Sra. Meyers evita meu olhar,
sua expressão sombria, e sei – bem no fundo – que algo está
errado.
—Mia — diz o oficial de segurança, com a voz cuidadosamente
medida —, não podemos mantê-la trabalhando aqui neste momento.
As palavras me atingem como um tapa, e pisquei para ele,
incapaz de processar.
—O quê? — finalmente consigo dizer, com a voz embargada.
—Randall — diz a Sra. Meyers, virando-se para o oficial que
balança a cabeça.
—Não é culpa sua — ele diz, continuando rapidamente, quase
como se estivesse tentando suavizar o golpe. — Mas a presença de
Jason representa uma séria ameaça. Para você, para nossa equipe,
para os pacientes. Poderíamos ter um sério processo judicial se a
paciente reclamar. Até que essa situação seja resolvida, estamos
colocando você em licença administrativa.
Minhas pernas parecem que vão ceder. —Mas eu preciso
trabalhar. Sou a única que sustenta minhas filhas.
A boca de Randall se aperta em uma linha, e por um momento,
penso que ele possa ceder. —Sinto muito. É uma decisão difícil.
—Mas o hospital está me ajudando.
—Ele cruzou um limite, senhorita Henson. Não podemos tê-lo em
nossas instalações novamente.
Viro-me para a Sra. Meyers depois que Randall sai. —Você tem
que me ajudar — digo a ela.
—Eu sei, Mia. Nunca pensei... — Ela não termina.
—Você prometeu me ajudar.
—Eu sei, sinto muito. Nunca imaginei que chegaria a esse ponto
— ela diz. Isso é porque ela não conhece o Jason.
Mas então ela respira fundo e balança a cabeça. —Se você quiser
solicitar uma licença pessoal remunerada...
—Para quê? — Minha voz se eleva, com o desespero se
infiltrando. — Para cuidar de um problema de saúde? Essa é a única
opção que você está me dando?
A Sra. Meyers hesita. —Vamos dizer... depressão severa. Posso
agilizar isso.
A sala parece pequena demais, sufocante. —Mas algo assim no
meu histórico...
—Sinto muito, Mia. — Seu tom é baixo, quase apologético, mas
isso não ameniza o golpe. — É o melhor que posso fazer. Mas
prometo manter isso discreto.
Sei que ela está tentando ajudar, mas não parece uma ajuda.
Parece que estou sendo punida por algo que não fiz. Pela obsessão
de outra pessoa.
Minha voz vacila quando forço as palavras: —O que eu devo dizer
para as minhas filhas?
A Sra. Meyers olha para sua mesa, incapaz de encontrar meu
olhar. —Tire esse tempo, Mia. Descubra quais serão seus próximos
passos. O hospital estará aqui quando você estiver pronta para
voltar.
Mas será?
E eu voltarei?
—Se houver algo que eu possa fazer para ajudar... — acrescenta
a Sra. Meyers.
Mas ela não pode ajudar. Não realmente. Não nas formas que
importam.
Faço que sim com a cabeça, o movimento mecânico, e me viro
para sair do escritório. O oficial de segurança se afasta, sua
expressão ilegível enquanto abro a porta. Lá fora, as luzes
fluorescentes do corredor parecem mais brilhantes que o normal,
ofuscando minha visão lacrimejante.
Não sei como explicarei isso a Emma e Ella. Não sei como
pagarei o aluguel.
Meu peito está apertado, e fungo com força, tentando conter as
lágrimas que ameaçam cair. Não quero desabar aqui. Não onde
qualquer um possa ver.
Eu quase não o noto ali, apoiado casualmente contra a parede,
até que ele se endireita ao me ver. Asher.
— Mia. Eu estava te procurando — ele diz.
— Eu estava apenas... — O que posso dizer a ele? Que acabei de
ser extraoficialmente demitida do meu emprego? Não quero ver
pena em seus olhos.
Seus olhos se estreitam levemente, me observando como se
estivesse avaliando se há danos.
Meu coração me trai, pulando uma batida ao vê-lo. Mentalmente
me repreendo. Como posso me sentir assim por alguém,
especialmente agora? Minha vida é um caos, meu emprego está
escapando, e minhas meninas...
Asher não diz nada no início. Em vez disso, ele se aproxima, sua
presença me dando um apoio que odeio admitir. Quando sua mão
roça levemente na parte inferior das minhas costas, eu endureço,
assustada. Mas estou abalada demais para me afastar, e ele não a
move.
O maxilar de Asher se contrai, sua mão pressionando muito
levemente, uma garantia que eu não sabia que precisava. — Ele não
vai te machucar — ele diz. — Não enquanto eu estiver aqui.
Quero acreditar nele, mas a dúvida me atormenta. Balanço a
cabeça, desviando o olhar.
— Ele já fez isso — digo amargamente. — Ele está tirando meu
emprego, minha segurança. Quanto tempo até...
— Ele não tira nada que você não permita — Asher interrompe
gentilmente. Há uma calma certeza em sua voz que é difícil ignorar.
— Você não está mais lutando sozinha, Mia.
Abro a boca para responder, mas as palavras ficam presas na
minha garganta. Sua mão permanece nas minhas costas, quente e
sólida, até que finalmente encontro coragem para encarar seu olhar.
— O que você está fazendo aqui? — pergunto, meio que
esperando alguma resposta leviana.
— Devemos estar aqui por você. Proteção 24 horas, lembra? —
Minha risada sai sem humor. — Você não pode fazer nada para me
ajudar.
Ele franze a testa. — Por que você está dizendo isso?
Não respondo, com medo de desmoronar a qualquer segundo.
Meu telefone toca. O número da escola pisca na tela, e meu
coração dispara tão forte que parece parar completamente. Meus
dedos tremem enquanto atendo, o pavor se enrolando apertado em
meu peito.
— Srta. Henson? Lamento ligar a esta hora...
Não ouço o resto. Meu estômago despenca, minha visão se
estreitando até que apenas o pânico permanece. Jason.
Meus joelhos cedem, e Asher está subitamente ali, me
segurando, sua voz afiada e comandante enquanto pega o telefone
da minha mão trêmula.
— Aqui é Asher Rheins — ele diz ao meu telefone. — Fechem a
escola. Estamos a caminho.
Mal registro a cadência firme de suas palavras, a maneira como
ele assume o controle como se fosse natural. Tudo que consigo
pensar é em chegar até Emma e Ella, meus bebês, vulneráveis e ao
alcance de Jason.
A viagem é um borrão. Não me lembro de entrar no carro;
apenas ouço trechos enquanto Asher liga para Zane e pede que ele
vá até a escola. Nem percebo o mundo fora das janelas. Minhas
mãos agarram a maçaneta da porta com tanta força que meus
dedos ficam brancos. Minha respiração é superficial e rápida, uma
tempestade rugindo em meu peito.
— Mia, olhe para mim — diz Asher, sua mão roçando brevemente
a minha antes de voltar ao volante. — Vamos conseguir. Elas estão
seguras agora.
Seguras. Essa palavra parece tão distante, tão impossível. Minha
mente corre com os piores cenários, cada um mais sombrio que o
anterior.
O guincho dos pneus no estacionamento da escola me tira da
névoa. Asher desliga o motor, e saímos do carro antes mesmo que
ele termine de parar.
Zane já está lá, de pé perto da entrada. Sua postura é larga,
examinando a área como um predador procurando uma presa.
No momento em que Asher estaciona em frente à escola, eu saio
correndo, meu coração trovejando em meus ouvidos. Meus bebês.
Minhas meninas.
Mas Zane me intercepta, seu rosto marcado por cicatrizes em
linhas severas. Sua expressão é sombria, seu tom curto e
profissional. — Eu o interceptei antes que pudesse chegar perto da
cerca. Ele me viu e fugiu.
Minha respiração falha, e pressiono uma mão contra meu peito,
tentando fazer meu coração acelerado desacelerar. — Ele se foi? —
pergunto, minha voz mal passando de um sussurro.
— Por enquanto — responde Zane. — Mas ele voltará. Homens
como Jason não se assustam facilmente.
Eu entro para buscar as meninas em sua sala de aula. A
professora delas, Rachel Winging, me lança um olhar preocupado. —
Não se preocupe. Lembro-me das suas instruções. Ninguém além de
você pode levá-las.
— Obrigada — digo, mal me controlando enquanto tiro as
meninas da escola.
As gêmeas saem saltitantes da entrada da escola, seus rostos
iluminados com entusiasmo. Elas não têm consciência da sombra
que paira sobre nós, sua inocência perfurando meu peito como uma
faca.
— Mamãe! Sr. Asher! Sr. Zane! — Emma chilreia, levantando um
desenho a giz de cera. — Olha! Eu fiz uma imagem de um castelo!
Ella puxa minha manga, mostrando seu próprio projeto: uma
colagem cuidadosamente colada com glitter e papel. — O meu tem
um dragão — ela anuncia orgulhosamente. — Ele protege o castelo!
Forço um sorriso, minhas mãos tremendo enquanto pego as
obras de arte. — Estão lindos, meninas.
Emma se vira para Asher, seus olhos arregalados de entusiasmo.
— Você viu os balanços? Eles são tão altos! Eu fui até lá em cima,
assim! — Ela joga as mãos para o ar, seu entusiasmo transbordando.
Asher se agacha, sua expressão suavizando enquanto escuta. —
Até lá em cima, é? Parece que você é mais corajosa que eu.
Ella puxa a manga de Zane em seguida, seus pequenos dedos
agarrando a borda de sua jaqueta. — Sr. Zane, podemos te mostrar
o playground?
Por um momento, vejo o mais leve lampejo de algo nos olhos de
Zane. Surpresa, talvez, ou a sombra de um sorriso. — Hoje não,
pequena — ele diz, sua voz áspera mas não indelicada. — Tenho
trabalho importante a fazer.
Enquanto as meninas continuam a tagarelar e dar risadinhas,
seguro seus projetos artísticos como uma tábua de salvação. Minhas
mãos estão tremendo tanto que tenho que pressioná-las contra
meus lados.
— Mamãe, por que você está tremendo? — Emma pergunta de
repente.
— Estou só um pouco com frio, querida — minto, afastando uma
mecha de cabelo do rosto dela.
— Vamos levar vocês para casa — diz Zane, conduzindo nós três
para o carro. Ele assume o banco do motorista enquanto Asher se
senta na frente.
A viagem de carro para casa parece um breve momento de
normalidade que não mereço. As gêmeas conversam alegremente
no banco de trás, alheias à tensão na frente. Zane abre um raro
sorriso diante da sincera descrição que Ella faz de seu dragão
brilhante, enquanto Asher entra na brincadeira, perguntando a
Emma se seu castelo tem um fosso.
Eu gostaria que Damon estivesse aqui. Ele saberia o que fazer.
Ele sempre sabe. Em vez disso, tenho Zane e Asher. Eles são
capazes, sim, mas não são familiares.
E casa... casa deveria parecer segura. Mas não parece.
No momento em que entramos na casa, sei que algo está errado.
A casa está muito parada, muito silenciosa, e os pelos na minha
nuca se arrepiam. Faço uma pausa na entrada, minha respiração
presa enquanto examino o espaço. As gêmeas passam correndo por
mim, tagarelando sobre o dia delas, alheias à tensão no ar.
— Mia? — A voz de Asher é baixa e cautelosa. Ele também sente
isso.
Entro na sala de estar, e meu coração para. Fotos. Dezenas
delas. Espalhadas pelo sofá, mesa de centro e até pelo chão, como
uma instalação artística distorcida. Minhas pernas parecem gelatina
enquanto me aproximo, pegando uma com dedos trêmulos.
Sou eu no supermercado, empurrando um carrinho. Outra me
mostra no quintal, brincando de pega-pega com as gêmeas. E outra,
levando as meninas para a creche. Cada foto é uma violação, prova
de que Jason tem me observado.
Mas é a última foto que me destrói completamente.
Um close do meu rosto dormindo, tirada no meu quarto.
Meus joelhos quase cedem quando leio a data rabiscada no
canto. A foto foi tirada ontem à noite.
Recuo cambaleando, agarrando a foto como se pudesse me
queimar. — Ele esteve aqui — sussurro, minha voz mal audível. —
No meu quarto. Enquanto dormíamos.
Minha respiração falha.
— Mas o Zane estava aqui. Como diabos...
— Não a noite toda — ele murmura. — Deve ter se infiltrado
quando saí.
Asher está ao meu lado num instante, sua mão no meu braço
para me firmar. Zane já está recolhendo as fotos, seus movimentos
rápidos e metódicos.
— Ele está escalando — diz Zane, em tom cortante. Ele ergue a
foto do meu quarto. — Isso é uma mensagem.
Engulo em seco, minha mente girando. — Como? Como ele
entrou? As fechaduras, as câmeras...
— Provavelmente ele tem suas próprias câmeras — interrompe
Asher, com voz áspera. — E microfones. Este lugar está
comprometido.
Zane encontra seu olhar, assentindo uma vez. — Precisamos tirá-
la daqui. Esta casa não é mais segura.
Balanço a cabeça, minhas mãos agarrando o encosto de uma
cadeira para me apoiar. — Mudar? Não posso simplesmente ir
embora. Esta é nossa casa.
— Não é um lar se ele pode entrar quando quiser — diz Zane
sem rodeios.
Suas palavras atingem como um soco no estômago, e lágrimas
ardem em meus olhos.
— Mia. — Asher lança um olhar para Zane antes de se aproximar.
— O que ele quer dizer é que precisamos mantê-la segura e também
as crianças, e não tenho certeza se podemos fazer isso aqui. Jason
quer que você se sinta encurralada, como se não tivesse controle.
Deixe-nos ajudá-la a recuperar esse controle.
Minhas mãos não param de tremer, e meu peito parece estar
desabando, mas sei que eles estão certos.
— E as meninas? — pergunto, minha voz quebrando. — Elas
ficarão assustadas. Não vão entender...
— Elas vão se adaptar — diz Asher com firmeza. — O que mais
importa é mantê-las seguras. Manter você segura.
Zane se aproxima ainda mais, sua mão roçando a minha. —
Vamos garantir que todas vocês fiquem bem, Mia. Você não está
mais sozinha nisso.
— Tudo bem — digo, e levanto meu olhar para Zane e Asher. —
Vamos embora.
— Arrume o que precisar — diz Zane. — Vou ficar de guarda lá
fora.
Asher assente. — Vou verificar o porão mais uma vez. Certificar-
me de que ele não deixou mais surpresas.
Não discuto. As malas favoritas das gêmeas já estão no armário
do corredor, e eu as pego com mãos trêmulas. Cada nervo grita para
que eu me mova mais rápido, mas meus dedos parecem lentos
enquanto guardo os pijamas das meninas, bichos de pelúcia e livros
de histórias desgastados.
Ella puxa minha manga. — Mamãe, vamos embora?
— Sim, querida — digo, minha voz mais suave do que me sinto.
— Vamos para um lugar seguro.
Seu lábio treme, mas ela assente, agarrando seu cobertor com
mais força. Emma, sempre a mais corajosa, dá tapinhas no braço da
irmã. — Tudo bem, Ella. Somos super-heroínas, lembra?
Meu coração se aperta com suas palavras. Queria poder acreditar
nisso.
Asher volta para o andar de cima, sua expressão sombria. — O
porão está limpo, mas não devemos perder tempo. Vou ligar o carro.
— Zane? — chamo, fechando o zíper das bolsas e jogando uma
sobre meu ombro.
Ele aparece na porta, seu rifle pendurado nas costas. — Tudo
limpo por enquanto. Vamos.
Quando pego o ursinho de pelúcia da Ella, algo parece estranho.
Ele parece... diferente. Aperto-o, e o leve farfalhar de papel me
deixa gelada. Meu pulso dispara quando encontro uma costura
cuidadosamente fechada, quase invisível contra o pelo gasto.
— O que você está esperando? — Asher grita.
— Um segundo — respondo.
Pego uma tesoura da cozinha e corto a linha, tirando um pedaço
de papel dobrado. É outra foto. Meu estômago afunda.
É
É das meninas dormindo no quarto delas.
Minha respiração falha quando a viro, e meu coração se aperta
com as palavras rabiscadas em sua caligrafia familiar e precisa:
"Você não pode escondê-las para sempre."
8
DAMON
O
zumbido da cidade filtra pelas espessas janelas de vidro do
meu escritório. Mesmo no vigésimo andar, o burburinho do
trânsito, buzinas e o ocasional uivo de uma sirene nunca
desaparece completamente.
O espaço está fracamente iluminado, com uma única luminária
de mesa lançando um círculo de luz sobre os papéis espalhados pela
minha mesa. As paredes são forradas de prateleiras, e um quadro
branco gigante ocupa a maior parte do meu espaço pessoal. No
quadro, há fotos de vigilância pregadas com alfinetes, registros
financeiros colados ao lado, e fios vermelhos cruzando-se entre os
pontos. A única conexão comum é Jason Whitmore.
Reclino-me na cadeira, o couro rangendo sob meu peso, e pego
outra pilha de extratos bancários. Contas offshore. Transações
roteadas por empresas fantasma com nomes tão genéricos que
gritam falsidade. Traço a linha até a próxima foto na parede: um
arsenal que descobrimos em Kandahar, ligado à antiga rede de
Jason. Os pagamentos coincidem perfeitamente demais para ser
coincidência.
— Isso não é apenas um ex vagabundo — murmuro, espalhando
os extratos bancários pela mesa. Meus dedos apertam as bordas de
outra foto de Jason, sorrindo como se tivesse ganhado na loteria, ao
lado de um homem que conheço apenas por reputação. Um
traficante de armas. Nível internacional.
A luz fluorescente zumbe levemente, somando-se ao ruído já
estrondoso em minha cabeça. Meu estômago se contrai. Jason
Whitmore não é apenas um perseguidor, nem mesmo um criminoso
comum.
— Quem é esse cara? — murmuro, encarando o rosto na foto. Eu
o conheço no papel. Conheço os arquivos que desenterrei, as
operações que ele estragou, as vidas que arruinou. Mas cada nova
conexão que descubro o faz parecer menos com um homem e mais
com uma maldita hidra. Corte uma cabeça, e duas mais assumem
seu lugar.
Afasto-me da mesa e caminho até a janela. Como não percebi
isso quando trabalhei com ele por quase seis meses? O cara é bom
em manter aparências. Na base, ele nunca foi mais que um
conhecido. Por hábito, eu tentava não fazer amizade com outros
soldados. A perda deles sempre trazia mais dor que qualquer outra
coisa. Mas Jason conseguiu se infiltrar no meu círculo íntimo. Pensei
que ele fosse um sujeito entusiasmado, feliz em agradar as pessoas
ao meu redor. Foi só quando conheci Mia naquele bar, naquela noite
fatídica, que pude imaginar que ele tinha um lado mais sombrio.
Meu telefone vibra na mesa, arrancando-me de meus
pensamentos. Olho para a tela e vejo o nome de Zane acender. Por
um momento, cogito deixar cair na caixa postal. Mas se ele está
ligando, é porque encontrou algo.
— Fala comigo — atendo, reclinando-me na cadeira, meu olhar
passando para a teia na parede. O rosto presunçoso de Jason me
encara de volta em uma foto no canto, e praguejo baixinho. Se isso
não acabar logo, nenhum de nós vai sair limpo.
— Onde você está? — A voz de Zane está seca, com urgência em
cada palavra.
— No escritório, fazendo pesquisa. — Meus olhos passam pela
bagunça de papéis e fotos espalhados pela mesa. — O que está
acontecendo?
— Temos uma situação — diz ele, a tensão em seu tom afiada o
suficiente para cortar vidro. — Whitmore invadiu a casa. Fez uma
É
bagunça. É um aviso de que Mia não está segura. Estou levando-a
para o esconderijo.
Minha mandíbula se aperta. A audácia de Jason nunca deixa de
me surpreender. Para Asher e Zane tomarem uma atitude como
essa, Jason deve ter cruzado outro limite. Um pelo qual garantirei
que ele pague caro.
— Detalhes? — pergunto, já de pé e pegando minha jaqueta.
Ouço Zane exalar, um som duro pela linha. — Fotos. Ele as
deixou por toda parte. Uma delas era do quarto dela, tirada ontem à
noite. Ele esteve dentro da casa, Damon. Observando-as enquanto
dormiam.
Um arrepio me percorre. Não muita coisa me abala mais, mas
isso? Isso é um nível diferente de violação. Jason não é apenas
perigoso. Ele está escalando, jogando um jogo que é pessoal e
calculado.
Forço minha voz a permanecer calma e profissional. — Estou a
caminho.
Há uma pausa, e praticamente posso ouvir Zane pesando suas
palavras. — Talvez você queira se preparar. As gêmeas estavam lá
quando ela encontrou as fotos. Ela está abalada, mas está se
mantendo firme por elas.
— Estarei aí em vinte minutos. — Desligo antes que ele possa
dizer mais alguma coisa, minha mente já acelerada.
Corro para o esconderijo o mais rápido que posso. É uma casa
vitoriana reformada, com o exterior de tijolos desgastados se
misturando à rua tranquila e arborizada. Grandes janelas em bay
window são reforçadas com vidros de segurança discretos, e o
quintal ao redor é cercado por uma grade de ferro forjado com
câmeras sutis no topo.
Por dentro, a casa é igualmente enganosa. O piso de madeira
polida e quente e os tetos altos dão a ela uma sensação acolhedora,
mas com botões de pânico estrategicamente posicionados e portas
reforçadas.
A porta do escritório está entreaberta, e vejo Mia sentada no
sofá, joelhos puxados contra o peito, braços firmemente enrolados
em volta de si mesma. Sua cabeça está baixa, seu cabelo caindo
como uma cortina sobre seu rosto.
Entro, fechando suavemente a porta atrás de mim. — Mia.
Ela olha para cima, seus olhos vermelhos, suas bochechas
coradas. — Não ouvi você entrar — diz ela, sua voz rouca, como se
mal conseguisse se manter inteira.
Aproximo-me, sentando-me na borda da mesa de centro à sua
frente. — Zane me contou o que aconteceu. Você está bem?
Sua risada é amarga, um som que corta fundo. —Eu pareço
bem? Ele esteve na minha casa, Damon. No meu quarto. Eu nem sei
mais como me sentir segura.
Estendo a mão, hesitando por um momento antes de pousá-la
levemente sobre o joelho dela. Ela não se afasta. —Não vou deixar
que ele te machuque. Eu juro.
Seus lábios tremem, e ela desvia o olhar, mordendo-os com força
como se estivesse tentando se impedir de desmoronar. —Você fala
como se pudesse detê-lo. Como se alguém pudesse.
Algo dentro de mim se rompe, uma necessidade feroz de fazê-la
acreditar, de fazê-la sentir algo além do medo. —Eu vou detê-lo,
Mia. Não importa o que seja preciso.
Seu olhar volta rapidamente para o meu. —Por que você está
aqui, Damon? Depois de todos esses anos? Por que agora? Por que
o destino é tão cruel?
Não tenho uma resposta que não torne essa situação pior, então
faço a única coisa que posso. Estendo a mão até ela. Minha mão
acaricia seu rosto, e ela se inclina ao toque, seus olhos se fechando
como se estivesse faminta por conforto. Quando ela me olha
novamente, há uma pergunta em seus olhos. Um pedido silencioso.
Não penso. Me inclino para frente.
Ela ofega suavemente, suas mãos agarrando minha camisa,
puxando-me para mais perto. Não me contenho, aprofundando o
beijo, colocando cada gota de sentimento nele.
Sua boca se abre sob a minha, e aceito o convite, minha língua
deslizando contra a dela. Ela geme baixinho, o som vibrando contra
meus lábios, e é tudo que posso fazer para não perder o controle.
Minhas mãos se movem para sua cintura, puxando-a contra mim,
sentindo o calor de seu corpo através do tecido fino de sua blusa.
—Damon — ela sussurra contra minha boca, sua voz tremendo
com algo que parece tanto medo quanto desejo.
Afasto-me apenas o suficiente para encontrar seu olhar. —Me
diga para parar, Mia. Se não for isso que você quer-
Ela me interrompe com outro beijo, mais feroz desta vez, suas
mãos deslizando para se entrelaçarem em meu cabelo. —Não pare.
Não preciso ouvir duas vezes. Minha boca desce pelo seu maxilar,
encontrando o ponto sensível logo abaixo da orelha. Sua respiração
falha, e suas mãos apertam meu cabelo enquanto desço mais,
beijando ao longo de seu pescoço. Ela inclina a cabeça, dando-me
melhor acesso, e aproveito ao máximo, mordiscando e sugando
suavemente a pele delicada.
Sua blusa desliza pelo ombro, e não me impeço de puxá-la mais
para baixo, revelando a curva de seu seio. Minha boca se move para
lá instintivamente, beijando a pele macia antes de tomar seu mamilo
em minha boca. Ela ofega, suas costas arqueando enquanto giro
minha língua sobre o ápice sensível.
—Damon — ela respira, sua voz entrecortada.
Quero dar tudo a ela, fazê-la esquecer cada momento de medo e
dor que Jason lhe causou. Minhas mãos deslizam pelos seus lados,
agarrando seus quadris enquanto a pressiono contra o sofá. Beijo
seu abdômen, empurrando sua blusa para cima à medida que
prossigo, até me ajoelhar diante dela.
Ela olha para mim, seu peito subindo e descendo rapidamente,
seus lábios entreabertos. Há uma vulnerabilidade em seus olhos,
mas também confiança. Uma confiança que não mereço, mas farei
de tudo para conquistar.
—Você não precisa fazer isso — ela diz suavemente, mas sua voz
vacila, e posso ver a guerra dentro dela.
—Eu quero — digo, com voz baixa e rouca. —Deixe-me cuidar de
você, Mia.
Ela concorda, e deslizo minhas mãos sob o cós de sua calça,
puxando-a lentamente. Sua respiração falha quando pressiono um
beijo na parte interna de sua coxa, depois outro, aproximando-me
de onde ela já está úmida e pronta.
Quando minha boca finalmente a encontra, ela solta um pequeno
grito, suas mãos agarrando o encosto do sofá. Minha língua começa
com um deslizar lento e deliberado sobre ela, provando-a
completamente. Suas mãos apertam meu cabelo, e seus quadris se
movem involuntariamente.
—Fique parada — murmuro contra ela, a vibração fazendo-a
estremecer.
Ela não fica parada, claro. Como poderia? Não quando tomo meu
tempo explorando sua buceta molhada.
Minha. Toda minha.
Concentro-me em seu clitóris, circulando-o com uma lentidão
enlouquecedora antes de provocá-lo com toques leves como penas.
Seu corpo se arqueia, sua respiração vindo em arquejos agudos
enquanto a estimulo, deliberadamente evitando dar-lhe exatamente
o que ela quer por enquanto.
—Damon, por favor... — ela sussurra, sua voz quebrando na
súplica.
Olho para cima, encontrando seu olhar. Suas bochechas estão
coradas, seus lábios entreabertos, e seus olhos escuros de desejo.
Apenas a visão quase me desfaz, mas quero que ela esteja à beira
do abismo. Quero que ela se desmanche completamente.
Inclinando-me novamente, envolvo seus lábios ao redor de seu
clitóris e sugo suavemente, adicionando pressão suficiente para
fazê-la gritar. Meus dedos se juntam ao esforço, deslizando
lentamente para dentro dela, curvando-se para encontrar o ponto
que faz suas pernas tremerem.
—Damon! — Sua voz se eleva, suas coxas se apertando ao redor
da minha cabeça enquanto seu orgasmo a atravessa.
Não paro, prolongando cada último tremor até que ela desaba
contra o sofá, completamente esgotada.
Puxo a blusa de Mia gentilmente sobre sua cabeça, ajeitando o
tecido pelos seus braços. Seus lábios estão inchados pelos beijos.
—Pronto — murmuro, colocando uma mecha solta de cabelo
atrás de sua orelha. Meus dedos permanecem em seu queixo por
um momento mais longo do que deveriam. —Tudo certo.
Ela exala tremulamente.
Quero dizer algo — qualquer coisa — para impedir que este
momento entre nós se dissolva completamente. —Mia, eu- —
começo.
Zane entra a passos largos, sua expressão dura, seus olhos
alternando entre mim e Mia. Sua carranca se aprofunda levemente
enquanto nos observa, e não consigo dizer se é porque ele está
juntando as peças ou se é apenas seu mau humor habitual. De
qualquer forma, isso me deixa tenso. Por um segundo, considero
contar a ele sobre minha história com Mia — sobre a noite que me
assombrou por seis anos — mas me contenho. Não agora. Não
desse jeito.
Zane joga uma pasta sobre a mesa. —Temos um problema.
O rosto de Mia empalidece enquanto ela se senta na borda da
mesa. Abro a pasta, meu estômago se contraindo no momento em
que vejo o rosto arrogante de Jason capturado no meio de uma
conversa com dois homens que eu esperava nunca mais ver. Martin
Stroud e Kyle Travis — nomes que não digo em voz alta há anos.
Homens que sempre associei apenas a problemas.
—Stroud e Travis? — digo entre dentes, folheando as fotos. —
Eles ainda estão ativos?
—Segurança privada — diz Zane, cruzando os braços. —Jason
está pedindo favores. Ele não está mais trabalhando sozinho.
Mia se inclina para mais perto, seus dedos tremendo enquanto
pega uma das fotos. Sua voz está apenas um pouco acima de um
sussurro. — O homem à esquerda... ele estava no hospital ontem.
Pensei que fosse apenas mais um visitante.
Olho para Zane, meu aperto se apertando na pasta. — Isso muda
as coisas.
Zane assente, sua expressão indecifrável. — É. Muda.
9
MIA
O
abrigo seguro é... diferente do que eu esperava. Uma casa
vitoriana de dois andares escondida numa estrada secundária,
com a tinta descascando e janelas altas e estreitas, como se a
casa estivesse nos observando. Zane e Asher estacionam atrás do
veículo de Damon.
— Lar doce lar — murmura Zane, saindo e olhando ao redor
como se já estivesse calculando as linhas de visão.
— Aconchegante — ironiza Asher, seus lábios se contorcendo
como se fosse uma piada particular.
Damon abre o porta-malas, já se movendo para pegar as
mochilas. — É defensável. Múltiplas saídas. Visibilidade de todos os
lados. Vocês estarão seguros aqui.
Eu dou uma risada de escárnio. — Segurança geralmente não
vem com teias de aranha.
Isso arranca uma risada de Asher. — Ah, não critique, Mia. Você
devia ter visto o último lugar que Damon escolheu. Ainda estou
coçando picadas de insetos.
Damon não cai na provocação. — Cumpriu a função.
Zane sorri maliciosamente. — Tenho certeza que os ratos
registraram uma reclamação por barulho.
Fico surpresa quando Damon ri. Isso é novo. Gosto de como os
três trabalham juntos.
Eles carregam as bolsas para dentro, Zane assumindo a
liderança, verificando a casa com facilidade experiente enquanto
Asher acompanha as gêmeas, que ainda estão grudadas em mim.
— Emma, Ella — Asher se agacha, com voz suave. — Querem
me ajudar a procurar passagens secretas?
Emma pisca, olhos arregalados. — Sério?
— Sério — Asher sorri. — É coisa de agente. Classificado.
Zane bufa do outro lado da sala. — Você é a pior influência.
— E você está com ciúmes porque as meninas gostam mais de
mim — Asher responde, sorrindo maliciosamente.
Damon balança a cabeça, mas não há irritação em sua voz. —
Pare de corromper as filhas da cliente, Ash. Você deveria ser o
responsável.
— Tá brincando? — Zane sorri. — Esse sou eu.
Reviro os olhos, mas... estou sorrindo. — Deus me ajude, já me
sinto mais segura.
O rangido das tábuas do assoalho sob meus pés me lembra o
quão antiga é esta casa. É barulhenta demais e cheia de correntes
de ar para o meu gosto, mas quem precisa não pode escolher. Pelo
menos é o que continuo dizendo a mim mesma enquanto ajudo as
meninas a se acomodarem no quarto delas.
— Verifique o armário, Agente Secreto Asher! — declara Emma,
pulando na ponta dos pés enquanto Asher abre a porta
teatralmente, fingindo verificá-lo como se estivesse num filme de
espionagem.
— Quarto seguro, Agente Emma — ele diz com uma piscadela,
seu tom sério arrancando risadinhas das duas.
Zane bate palmas uma vez. — Certo. Quem quer escolher os
quartos primeiro? O perdedor fica com o sofá.
— Topo — Asher sorri.
Damon dá um sorrisinho. — Espero que goste do sofá, Ash.
Ella, sempre a planejadora, tem arrumado seus bichos de pelúcia
em um semicírculo ao redor da cama. — É um perímetro de
segurança — ela explica quando pergunto o que está fazendo. Sua
vozinha imita o tom grave de Zane tão perfeitamente que preciso me
segurar para não rir. As meninas estão lidando com a situação do
jeito delas, transformando este pesadelo em uma aventura.
Mas manter a compostura parece mais difícil do que nunca.
O reflexo de Damon chama minha atenção enquanto ele se
inclina sobre o parapeito da janela, instalando outra fechadura. Seus
movimentos são propositais, protetores. Por um momento, ele
parece pertencer a este lugar, protegendo minhas meninas de um
jeito que ninguém jamais fez. Não sei se ele percebe, mas vejo ele
nelas — no queixinho determinado de Emma, no olhar curioso de
Ella. Eu me pergunto se ele também vê.
E assim, a culpa começa a se insinuar.
Eu deveria estar pensando nas meninas. Na segurança delas, em
nos mantermos à frente de Jason. Mas tudo em que consigo pensar
é no calor da boca de Damon sobre mim mais cedo, na forma como
suas mãos agarraram minhas coxas como se ele não suportasse me
deixar ir. Ele foi o último homem a me tocar, e parece que meu
corpo não esqueceu. Meu cérebro certamente também não.
Deus, no que eu estava pensando? Me deixando perder nele
daquele jeito quando as vidas das minhas filhas estão por um fio?
Eu deveria estar concentrada, deveria estar colocando cada grama
de energia em nos manter seguras. Não cedendo a fantasias
passadas que tive com Damon. Não posso mais mentir para mim
mesma. Foi preciso toda minha força para não entrar em contato
com ele nos últimos seis anos, mas agora que ele me tocou
novamente, essa parte de mim despertou.
Os anos separados não diminuíram meu desejo por ele. É o jeito
como ele me olha, como se estivesse vendo cada parte de mim que
tentei esconder. Como se soubesse exatamente do que preciso e não
pudesse evitar oferecê-lo.
E eu deixei. Deixei que ele me tocasse, deixei que me provasse,
deixei-me dissolver no calor disso tudo. Por um momento, esqueci
de tudo. Esqueci de Jason, esqueci do medo, esqueci dos muros que
tive que erguer apenas para sobreviver.
E foi bom. Bom demais. Agora, sinto-me dividida em duas: uma
mãe assustada e uma mulher desesperada.
— Mamãe? — a voz de Emma me traz de volta ao presente. Ela
está segurando seu unicórnio, cujos olhinhos de conta me encaram
como se conhecessem meus segredos. — Posso dormir com todos
os meus bichinhos hoje?
— Claro, meu amor — digo, afastando seu cabelo e beijando sua
testa.
Asher se move para a porta, gritando algo sobre verificar o
perímetro novamente. Forço um sorriso para as meninas, meu peito
apertado com o conhecimento de que preciso me manter forte por
elas. Mas quando olho para Damon uma última vez, seus ombros
largos silhuetados contra a janela, não consigo evitar a maneira
como meu corpo reage.
Concentre-se, Mia. Concentre-se nelas. Na sobrevivência.
O som vem primeiro, fraco, mas distinto. Um clique metálico,
seguido de um suave farfalhar. É o suficiente para deixar Damon em
alerta, sua cabeça inclinando-se levemente enquanto seu corpo fica
rígido. Eu também percebo, minha respiração prendendo na
garganta enquanto a casa cai em um silêncio anormal. Até mesmo
as meninas pausam as risadinhas.
— O que foi? — pergunto, minha voz alta demais no silêncio.
Damon levanta uma mão, um pedido silencioso para que eu fique
quieta, e inclina a cabeça em direção ao corredor.
— Sensor de movimento — diz ele, com tom seco. Ele se move
em direção à porta, sua mão roçando o lado como se estivesse
pronto para pegar uma arma.
Meu pulso dispara. — Devemos...
— Provavelmente só um gato — ele interrompe, mas a maneira
rígida como se mantém diz que ele não acredita nisso. — Fique aqui
com as meninas.
— Meninas, por que não terminam de montar seu esquadrão de
vigilância? — sugiro.
Emma pausa, seu unicórnio pendurado em uma mão. — Tem
homens maus, mamãe?
— Não, querida — digo rapidamente, forçando um sorriso. — Só
estamos sendo extra cuidadosos.
— Mia, nós vamos manter vocês seguras — diz Damon. — Vou
verificar as câmeras, e conversaremos depois. E — ele gesticula
vagamente em direção à casa, sua voz baixando ainda mais — isso
não pode ser uma solução permanente. Eu prometo que não é assim
que as coisas terminam.
Ele se vai antes que eu possa responder. Esfrego meus braços,
tentando afastar o calafrio. Damon se porta como se soubesse como
tudo isso vai se desenrolar, como se estivesse preparado para todas
as possibilidades.
Eu gostaria de poder pegar emprestado pelo menos uma fração
dessa certeza. As meninas não precisam me ver assim, toda tensa e
questionando tudo. Elas precisam que eu seja forte.
Vou para o meu quarto e sento na cama. Então a voz de Zane
estala pelo rádio. — Um coiote disparou o sensor. Um grande. Falso
alarme.
O alívio me atinge com força. Estamos bem, não há nada com
que se preocupar. Mas isso fez pouco para aliviar o nó em meu
estômago.
Uma vibração do meu telefone me tira da névoa de ansiedade.
Olho para a tela e vejo o nome de Sheila. Sua mensagem diz:
Tudo bem? Você desapareceu do trabalho tão rápido...
Eu exalo. A Sra. Meyers está levando a sério a questão de me
manter segura. Sheila obviamente não tem ideia de onde estou.
Como explico que estou escondida? Que Jason está piorando?
Que todo o meu mundo parece estar equilibrado no fio de uma
navalha?
Meus polegares pairam sobre o teclado.
Estou bem. Tive que sair mais cedo por motivos pessoais, digito
e depois apago. Sheila me conhece bem demais. Uma dispensa vaga
como essa só vai fazer ela se preocupar mais.
Finalmente, decido por: As coisas ficaram complicadas. Vou
explicar em breve. Obrigada por se preocupar.
Envio, esperando que seja o suficiente para mantê-la afastada
por enquanto. A última coisa que quero é que ela cave muito fundo
no que está acontecendo.
Ela não precisa ser arrastada para essa confusão.
10
MIA
N
ão importa o quanto eu tente, acho difícil relaxar depois que as
meninas vão para a cama. Meu estômago ronca. Não jantei
porque não estava com vontade de comer nada, e agora meu
estômago está se rebelando.
Paro ao ver Asher de pé junto ao balcão da cozinha, com as
mangas arregaçadas e uma mancha de farinha no pulso. Uma
bandeja de biscoitos esfria ao lado dele, e outro lote está no forno.
— Você cozinha? — pergunto, me apoiando no batente da porta.
Ele levanta o olhar, sorrindo enquanto raspa a massa de uma
tigela. — O cheiro ajuda as crianças a se sentirem em casa — diz,
então dá de ombros. — Além disso, vigilância é chata sem lanches.
Sorrio apesar de mim mesma, me aproximando do balcão. — À
meia-noite?
— Cozinhar por estresse — ele admite. — Cada um tem seu jeito.
— Então você cozinha quando está estressado. Fofo — digo, sem
conseguir me conter.
— Às vezes eu construo coisas — ele responde. — Mas isso é
mais silencioso, e imaginei que você não quisesse me ouvir
martelando à meia-noite.
Me apoio no balcão, observando-o com um leve fascínio. É
estranho ver alguém como Asher — ombros largos, mãos calejadas,
a intensidade silenciosa que praticamente grita perigoso — fazendo
biscoitos como se estivesse fazendo um teste para um programa de
culinária.
— Você é bom nisso — comento, acenando para a bandeja já
alinhada com massa. — Sua mãe te ensinou?
As mãos dele pausam por um momento. — Não. Foi Olive. Ela
é... bem, ela não é da família por sangue, mas foi quem me criou.
A menção dessa pessoa desperta algo curioso em mim. — Onde
estavam seus pais? — pergunto gentilmente.
Suas mãos retomam o trabalho, e ele não olha para mim. — Eles
morreram quando eu era criança — diz.
Abro a boca para dizer algo — qualquer coisa — mas nenhuma
palavra sai.
— Eu tinha oito anos — ele continua secamente, como se
estivesse explicando a vida de outra pessoa. — Invasão domiciliar.
Eu estava escondido no armário como eles me mandaram. Ouvi
tudo.
Meu estômago se revira. — Asher, eu sinto...
— Não — ele diz, olhando para mim. Sua expressão não é fria,
mas há uma silenciosa finalidade em seu tom. — Faz muito tempo.
Olive garantiu que eu tivesse um lar e a chance de crescer. Isso é
mais do que muitas crianças conseguem.
A imagem de Asher como uma criança assustada escondida em
um armário é difícil de conciliar com o homem confiante e composto
que está na minha frente.
— É por isso que você... — hesito, gesticulando vagamente na
direção dele. — Por que você faz isso? Protege pessoas?
Ele assente uma vez, colocando a assadeira no forno. — Algo
assim. Comecei na inteligência.
— Militar? — pergunto, mesmo já tendo certeza da resposta.
— Ala de inteligência — ele confirma, apoiando-se no balcão. —
Trabalhei em operações, coletando informações, analisando
ameaças. Não foi fácil. Sem cicatrizes físicas, mas vi minha cota de
merda. Digamos que... sei como é ter sua vida despedaçada pelas
escolhas de outra pessoa. Mas isso fica com você. Você aprende a
viver com isso, ou ele te engole por completo.
— Deve ter sido difícil.
— Foi — ele admite baixinho. — Olive fez o melhor que pôde. É
por causa dela que sei me virar na cozinha. Ela dizia que toda
criança deveria saber fazer biscoitos, não importa o que estivesse
acontecendo na vida delas.
Olho para o forno, observando o brilho fraco da luz lá dentro. —
E agora você está aqui, assando biscoitos à meia-noite para duas
menininhas que acabou de conhecer.
Um leve sorriso se forma em seus lábios. — A vida é engraçada
desse jeito.
Caímos em um silêncio amigável, o zumbido do forno
preenchendo a sala. Eu deveria voltar para a cama, tentar dormir
um pouco, mas não me movo.
— Obrigada — digo baixinho, encontrando seu olhar. — Por estar
aqui. Por ajudar.
Ele dá de ombros, mas seu sorriso suaviza. — Foi para isso que
me inscrevi. — Então, com um brilho travesso nos olhos, acrescenta:
— Além disso, alguém tem que garantir que você não incendeie a
casa enquanto cozinha por estresse.
Reviro os olhos, mas agora também há um sorriso em meu rosto.
Asher se inclina contra o balcão, braços cruzados, sua postura
enganosamente relaxada. Mas seus olhos — aqueles olhos afiados e
implacáveis — permanecem fixos em mim. Há algo na maneira como
ele me olha, como se estivesse tentando me decifrar, juntar partes
de mim que eu nem sabia que estavam faltando.
— Você costuma fazer biscoitos com frequência? — pergunto,
desesperada para preencher o silêncio. Minha voz vacila, para meu
constrangimento.
Ele sorri um pouco, dando a mais leve curva de seus lábios, mas
não há humor nisso. — Na verdade não. Só quando preciso de uma
distração.
Engulo em seco, sem saber se ele está falando sobre hoje à noite
ou algo maior.
— As crianças vão adorar os biscoitos — digo.
— Não é só para elas — Asher diz.
Meu coração pula uma batida. Ele está falando de mim?
Dou um pequeno passo para trás, batendo no balcão atrás de
mim. A cozinha de repente parece pequena demais, silenciosa
demais, carregada demais. Os olhos de Asher seguem o movimento,
e minha respiração prende quando ele dá um passo mais perto.
— Você está bem? — ele pergunta, sua voz baixa, quase terna.
— Eu... — Minhas palavras vacilam enquanto ele diminui a
distância entre nós. Ele não está me tocando, ainda não, mas o
espaço entre nós é fino como um fio, prestes a se romper.
— Asher — sussurro, meu coração martelando contra minhas
costelas.
Ele inclina a cabeça ligeiramente, seus olhos perscrutando os
meus. — Mande eu parar.
Eu deveria. Sei que deveria. Mas não consigo. A última vez que
deixei alguém chegar tão perto, acabou em dor e arrependimento.
— Não vou te machucar — ele diz, como se pudesse ler minha
mente.
— Asher — sussurro, mas a forma como seu nome sai soa mais
como um pedido do que um aviso.
— Mia — ele murmura, sua voz áspera, como se estivesse se
contendo.
Minha respiração prende quando sua mão roça meu braço, leve
como um sussurro, antes de pousar em minha cintura. Seu toque é
quente, reconfortante.
Não o impeço quando ele abaixa a cabeça, seus lábios roçando
os meus. É suave no início, hesitante, como se estivesse me dando a
chance de me afastar. Mas não o faço. Em vez disso, inclino a
cabeça, me aproximando mais, e ele entende como permissão. O
beijo se aprofunda, sua outra mão deslizando para segurar meu
rosto, seu polegar acariciando minha bochecha.
Minhas mãos encontram o caminho até o peito dele, os dedos se
enrolando no tecido de sua camisa. Quando sua língua roça a
minha, um som suave escapa de mim, e sinto ele sorrir contra
minha boca. A mão em minha cintura aperta levemente, puxando-
me para mais perto, e eu deixo, derretendo no calor dele.
— Asher — murmuro contra seus lábios, mal percebendo que
disse seu nome até que ele se afasta o suficiente para me olhar.
Seus olhos estão mais escuros agora, cheios de algo que faz minha
respiração falhar.
Eu suspiro quando seus lábios deixam os meus para traçar um
caminho pelo meu maxilar, sua barba por fazer arranhando
deliciosamente contra minha pele. Ele move-se mais para baixo, sua
boca encontrando o ponto sensível logo abaixo da minha orelha, e
não consigo conter o gemido suave que escapa de mim. O calor se
acumula no fundo do meu estômago, espalhando-se por mim como
fogo selvagem.
Suas mãos também se movem, deslizando pelos meus lados e
sobre minha cintura, enviando faíscas correndo pelas minhas veias.
Uma mão roça a barra da minha blusa, e eu estremeço com o
contato, a antecipação de seu toque quase insuportável.
O temporizador do forno dispara, estridente e implacável,
trazendo-nos de volta à realidade.
Nós nos afastamos, ambos respirando com dificuldade, sua testa
apoiada na minha enquanto tentamos recuperar o fôlego.
— Acho que os biscoitos estão prontos — ele diz finalmente, sua
voz rouca, um sorriso irônico puxando seus lábios.
Eu solto uma risada sem fôlego, minhas mãos ainda agarradas à
bancada atrás de mim.
Ele se afasta relutantemente, passando a mão pelos cabelos
enquanto pega as luvas de forno. Aliso minha blusa, tentando me
recompor, mas meus lábios ainda estão formigando, meu corpo
ainda zumbindo com a lembrança do toque dele.
Zane entra a passos largos, suas botas pesadas contra o velho
piso de madeira. Sua expressão é toda profissional enquanto coloca
um pequeno dispositivo no balcão.
Asher e eu trocamos um olhar. É bom que ele não estivesse aqui
há alguns minutos.
— Movimento a dois quarteirões sul — diz Zane, cruzando os
braços. — Provavelmente nada, mas coloquei sensores de
movimento só por precaução.
Asher se endireita de onde está apoiado no balcão. — As
filmagens de segurança do hospital podem nos dizer mais — sugere
Asher. — Se pudermos descobrir com quem Jason tem se
encontrado...
— Não. — Minha voz sai mais trêmula do que eu queria, mas as
palavras são firmes. Os dois homens se viram para me olhar.
Zane franze a testa. — Por que não? Cada pista nos aproxima de
neutralizá-lo.
Eu balanço a cabeça, o nó no meu peito apertando. — Confie em
mim, você não quer cavar muito fundo nisso. Pessoas que fazem
isso... — Minha respiração falha quando as lembranças ameaçam
transbordar. — Elas desaparecem.
Há um momento de silêncio. Zane troca um olhar com Asher, seu
cenho franzindo ainda mais. Posso dizer que eles querem me
pressionar por mais, mas não posso fazer isso. Não agora.
— Mia — diz Asher suavemente, aproximando-se, sua voz em
baixo contraste com o tom mais tático de Zane. — O que você não
está nos contando?
Eu desvio o olhar, abraçando a mim mesma. — Apenas... tenham
cuidado. É só isso que estou dizendo. Jason não está trabalhando
sozinho. E as pessoas com quem ele está envolvido? Elas são
perigosas de maneiras que vocês nem podem imaginar.
Zane se inclina para frente, seu maxilar tenso. — Não somos
exatamente estranhos ao perigo, Mia.
Eu o encaro, meu medo borbulhando em frustração. — Isso não
é apenas perigo, Zane. Essas pessoas não apenas te machucam.
Elas te apagam. Seu nome, sua vida, tudo. E se Jason está se
encontrando com elas, isso significa que ele não está apenas
brincando. Ele está escalando.
— Você está com medo — diz Asher depois de um momento, e
não é uma pergunta. Ele se aproxima, sua voz baixando. — Mas
precisamos saber, Mia. Se há algo que você não está nos contando,
isso pode colocar todos nós em risco.
Eu respiro tremulamente, minhas unhas cravando nas palmas das
mãos. — Estou com medo porque sei do que eles são capazes. E
não quero o sangue de vocês em minhas mãos.
Zane esfrega a mão sobre o maxilar, sua cicatriz captando a luz
fraca. — Nós sabemos nos cuidar, Mia. Mas não podemos proteger
você ou as meninas se estivermos andando às cegas.
— Eu não estou cega — disparo, as palavras mais afiadas do que
pretendia. — Eu sei do que Jason é capaz. E se vocês não tiverem
cuidado, vão descobrir da pior maneira também.
— Tudo bem — Zane finalmente diz, seu tom seco. — Mas se ele
está escalando, nós também estamos.
— Mas... — digo, sentindo uma onda irracional de proteção por
esses homens. Eu os conheço há quanto tempo, três dias?
E posso perceber que a conversa está encerrada.
ZANE
O
frio da manhã morde minha pele enquanto termino a
verificação do perímetro. O bairro silencioso está acordando
lentamente, mas estou hiperatento a cada rangido, cada som
disperso. Meu corpo se move no automático, a rotina enraizada após
anos de serviço.
Um movimento no quintal chama minha atenção, e paro de
repente. Asher está lá fora, fazendo algum tipo de "treino super
secreto de agente" com as gêmeas.
— Cambalhota, Agente Emma! — Asher chama. Ella tenta,
caindo mais de lado do que em seus pés, mas suas risadinhas
ecoam pelo quintal. Emma, enquanto isso, conta as flexões de Asher
com sua intensidade habitual, um pequeno vinco em sua testa como
se essa fosse a missão mais séria de sua vida.
Apesar de mim mesmo, sorrio. A cena é ridícula. Essas meninas
não fazem ideia do perigo que circula o mundo delas, mas
observando-as, você não gostaria de lhes dizer o contrário. Asher,
com todas as suas peculiaridades, sabe como manter o ânimo delas
elevado. É bom para elas — e para Mia. Ela merece um pouco de
alegria em sua vida, mesmo que seja emprestada.
Através da janela da cozinha, vejo relances de Mia e Damon. Ela
está de pé junto ao balcão, braços cruzados, postura tensa. Damon
está falando, sua expressão incomumente gentil. Ele estende um
pequeno objeto. O telefone descartável, eu presumo.
O jeito que Damon a observa quando ela não está olhando... não
é por preocupação profissional. Já vi esse olhar antes. O tipo de
olhar que um homem dá quando está ligado a alguém de forma
mais profunda do que está disposto a admitir.
Uma forte pontada de ciúme me atravessa.
Ciúme? Do que diabos estou com ciúme? Nem sei do que estou
sentindo ciúmes. Damon e eu sempre tivemos uma fronteira clara
entre o trabalho e todo o resto. Ele é meu chefe há anos, e nunca o
questionei. Mas neste momento, observando a forma como ele
interage com Mia, me sinto... estranho.
Quando termino minha varredura do quintal, um movimento
chama minha atenção novamente – desta vez, Asher. Ele não está
mais focado nas gêmeas. Em vez disso, está observando a janela da
cozinha, onde Damon e Mia ainda estão em uma conversa profunda.
Sua expressão é difícil de ler – algo entre curiosidade e outra coisa.
Nem sei o que é.
Estreito os olhos enquanto ele se movimenta, claramente sem
perceber que estou observando-o. Quando finalmente se vira para
as meninas, há um olhar em seu rosto que não reconheço. Não é o
Asher descontraído de sempre, o cara que faz biscoitos quando está
estressado e usa piadas para lidar com situações tensas. Ele está
preocupado.
Que diabos está acontecendo?
Não é difícil ver por que Mia poderia atrair a atenção de todos.
Ela é atraente, claro, mas isto é diferente. Este trabalho não é a
primeira vez que lidamos com um caso de alto risco envolvendo uma
mulher bonita. Mas nenhum de nós jamais esteve tão... distraído. E
é exatamente isso que isto é: uma distração. Uma que nenhum de
nós pode se dar ao luxo.
Olho novamente para a cozinha. Damon ainda está com Mia. Já o
vi lidar com todos os tipos de pessoas antes: diplomatas,
contratantes suspeitos, civis aterrorizados. Ele sabe como falar com
as pessoas, mas isso? Isso é algo completamente diferente. A forma
como ele a observa... é pessoal.
O riso das gêmeas chama minha atenção de volta ao quintal.
Emma está tentando outro rolamento dramático enquanto Ella critica
sua técnica. Asher se ajoelha, encorajando-as, mas percebo o
lampejo de distração em seus olhos. O que quer que tenha visto
naquela cozinha o tirou do jogo.
— Agente Zane! — a voz de Emma ressoa, cheia de empolgação.
Ela está agachada em uma pose de ninja de mentira, suas mãos
fechadas em pequenos punhos. — Vem nos ensinar movimentos
ninja!
Eu deveria dizer não. Deveria manter distância, manter as coisas
profissionais. Mas, em vez disso, me ouço dizendo: — Tudo bem,
mas só por um minuto.
Seu rosto se ilumina como se tivesse acabado de ganhar um
prêmio. Ella olha para cima de seu caderno, sua pequena testa séria
franzida como se estivesse analisando a situação. — Ninjas também
fazem anotações? — ela pergunta, erguendo seu papel rabiscado de
giz de cera.
— Eles com certeza fazem — respondo, agachando-me ao nível
delas. — Como mais eles lembrariam de todas as regras secretas
ninja?
Emma ri e pula na ponta dos pés enquanto Ella acena
cuidadosamente com a cabeça como se eu tivesse acabado de lhe
entregar informações classificadas.
Mostro a elas uma postura defensiva básica, algo útil disfarçado
de brincadeira. — Certo, pés afastados, joelhos levemente dobrados
— instruo, ajustando o posicionamento de Emma. — Mãos
levantadas para proteger o rosto.
Emma solta um dramático "Hi-yah!" e soca o ar. Ella a imita, mas
com mais precisão, seus pequenos punhos firmes na frente dela.
— Vocês são ninjas naturais — digo, recuando. — Mas lembrem-
se, um bom ninja nunca começa uma briga. Regra número um:
fiquem atentas e seguras.
Emma pausa no meio de um chute para sorrir para mim. —
Como você, Agente Zane? Você mantém as pessoas seguras, certo?
Algo sobre sua inocência me acerta em cheio no peito. Limpo a
garganta. — Isso mesmo — consigo dizer, forçando um sorriso. —
Agora, vamos ver se vocês duas conseguem se aproximar
sorrateiramente do Agente Secreto Asher.
Ambas suspiram de alegria e saem correndo pelo quintal,
sussurrando alto o suficiente para espantar pássaros. Asher se vira
bem a tempo de fingir que está assustado, levantando as mãos em
uma rendição simulada enquanto elas o "capturam".
Fico ali parado, observando-as rir e correr uma atrás da outra, e
sinto um nó apertando em meu peito. Eu não deveria ter feito isso.
Deveria ter mantido distância como planejei. Mas quando Emma
olhou para mim daquele jeito, como se eu fosse algum tipo de
herói... como diabos eu poderia dizer não?
MIA
E
u ando de um lado para o outro na pequena biblioteca, o suave
ranger do assoalho ecoando no silêncio. Meus dedos roçam
meus lábios, ainda formigando do beijo de Zane, e praguejo
baixinho. No que diabos eu estava pensando?
Eu sei que isso não é certo. Já vi isso antes — pacientes
confundindo bondade com amor, vítimas se apegando às pessoas
que as salvaram. Vínculo traumático. Psicologia básica. Nada real.
Apenas neurônios disparando em modo de sobrevivência,
procurando algo — alguém — para se agarrar.
Mas pareceu real. Real demais.
Paro em frente à janela, meu reflexo tênue contra a escuridão lá
fora. Meus lábios ainda estão quentes, meu pulso irregular. Seu
toque, sua força, o jeito que ele olhou para mim — tudo isso me
atinge como uma onda da qual não consigo fugir.
— Se controle, Mia — murmuro para mim mesma, agarrando a
borda do parapeito. Meu olhar vaga para fora, examinando o
perímetro como sei que Zane ou Damon fariam. A rua está quieta,
sem sinal de Jason ou suas ameaças espreitando nas sombras. Por
enquanto.
Eu deveria estar focada nisso — em manter as meninas seguras,
em ficar um passo à frente de Jason. Em vez disso, estou aqui,
andando de um lado para outro e relembrando o beijo como uma
adolescente apaixonada.
Meu peito aperta quando a culpa começa a se infiltrar. Como
pude deixar isso acontecer? Damon tem sido nada menos que
solidário, Asher tem sido uma luz no caos, e agora Zane... Penso em
como ele me segurou depois daquele estalo alto, a sensação dos
braços dele ao meu redor, e não posso negar o que isso me fez
sentir. Segura, desejada, viva.
Mas é mentira. Tem que ser.
As meninas merecem mais do que essa bagunça, mais do que
uma mãe que não consegue manter a cabeça no lugar. Prometi a
mim mesma que não deixaria elas se apegarem a mais ninguém,
não deixaria ninguém entrar. Não depois de Jason. Não depois de
tudo pelo que passamos.
Meu telefone vibra na mesa, me tirando dos meus pensamentos
em espiral. É o celular descartável que Damon me deu, vibrando
suavemente contra a madeira. Pego-o, esperando outro aviso ou
atualização da equipe, mas é apenas um alerta de bateria fraca.
Conecto-o para carregar e solto um suspiro trêmulo, meu reflexo me
encarando na tela escura.
A janela em estilo bay window oferece uma vista da rua
silenciosa lá embaixo. Sento-me no assento acolchoado, puxando os
joelhos contra o peito e pressionando minha testa contra o vidro frio.
Estúpida. Tão estúpida. Me envolvendo com alguém que é pago
para me proteger. Alguém que irá embora assim que o trabalho
estiver concluído.
O pensamento se instala como um peso no meu peito, me
arrastando mais fundo para o tipo de espiral de autodesprezo para a
qual não tenho tempo. Mas não consigo me livrar disso.
O que estou fazendo? Isto não é um romance; esta é a minha
vida. A vida das minhas filhas. Não há espaço para—
— Mia! — a voz de Damon interrompe meus pensamentos.
Antes que eu possa me virar, ele já está do outro lado da sala.
Não tenho tempo de reagir antes que ele me derrube do assento da
janela, expulsando o ar dos meus pulmões quando atingimos o
chão. Seu corpo cobre o meu, me protegendo completamente.
— O que você está fazendo? — grito, me contorcendo sob seu
aperto, uma mistura de confusão e indignação ardendo dentro de
mim.
— Droga, Mia. — Sua voz é áspera, seus olhos cinzentos
brilhando enquanto olha para mim. — Não se exponha em uma
janela. É perigoso.
Seu peso me prende, implacável, mas não desconfortável.
— É só uma janela — protesto, embora minha voz saia mais
fraca do que pretendo.
— Não é só uma janela — ele responde bruscamente, seu tom
suavizando apenas levemente. — É uma linha de visão clara para
qualquer um que queira te machucar.
Paro de lutar, a realidade de suas palavras se instalando. Ele está
certo, é claro, mas é mais do que isso.
Minha respiração falha, e de repente estou de volta ao motel à
beira da estrada, anos atrás.
A lembrança vem involuntariamente — o calor das mãos dele na
minha cintura, a pressão dos seus lábios contra os meus, a maneira
como seu gemido baixo enviou arrepios pela minha espinha. Quase
posso sentir agora, o peso do corpo dele exatamente como este, a
intensidade em seus olhos exatamente como esta.
A respiração de Damon falha, e sei que ele também sente isso.
Seu olhar cai para meus lábios, demorando-se, e por um instante, o
mundo se reduz apenas a nós.
— Mia — ele diz suavemente, quase um aviso, sua voz áspera
com contenção.
Não deveríamos estar fazendo isso; ambos sabemos. Mas no
segundo em que encontro seu olhar, estou perdida.
Ele inclina a cabeça, capturando meus lábios em um beijo
ardente. Não é gentil. É fogo e desespero, uma necessidade quase
primitiva que arde através de mim. Meus braços deslizam ao redor
dos seus ombros, me agarrando a ele enquanto ele aprofunda o
beijo, sua língua provocando a minha. Deixo escapar um suave
gemido, meu corpo arqueando involuntariamente, precisando de
mais dele.
Sua mão desliza sob minha camisa, a rudeza cálida de sua palma
fechando-se sobre meu seio. Um suspiro escapa da minha garganta,
e não hesito — meus dedos voam para seu cinto, tateando a fivela.
Parece que tudo está acontecendo ao mesmo tempo. A boca de
Damon se move vorazmente contra a minha, sua mão apertando
meu seio. Minhas próprias mãos puxam o couro para fora da sua
cintura.
Ele interrompe o beijo apenas o tempo suficiente para puxar
minhas calças para baixo. O ar frio atinge minha pele, enviando um
arrepio por mim, mas Damon está ali, seu calor corporal
pressionando contra mim. Meu coração martela, e não consigo
pensar além da necessidade enrolando no meu estômago.
— Damon — sussurro em meio súplica, meio aviso.
Seus lábios colidem com os meus novamente, seus dentes
roçando meu lábio inferior. É possessivo, quase frenético, e não me
importo. Correspondo à sua urgência, minhas unhas cravando em
suas costas enquanto ele muda seu peso.
Seu pau está duro contra meu quadril, a pressão enviando um
choque de excitação para o fundo da minha barriga. Minha
respiração falha quando sua mão desliza entre minhas pernas, seus
dedos encontrando meu clitóris com um toque áspero e ansioso.
Suspiro, quadris rolando instintivamente para encontrá-lo.
Ele pragueja baixinho e, com um movimento rápido, abre minhas
coxas ainda mais. Sinto-o se alinhar, a cabeça úmida do seu membro
roçando minha entrada. Meu coração dispara, e uma onda de
antecipação e culpa me invade. Isso é loucura, imprudência.
— Meu Deus, Mia — ele murmura, com a voz rouca.
Não deveríamos... Meu Deus, não deveríamos... mas não consigo
formular um único argumento coerente para parar isso. O
pensamento de tê-lo é avassalador demais.
Com uma única estocada rápida, ele está dentro de mim, e eu
suspiro, jogando a cabeça para trás. A sensação é uma onda de
calor e pressão que arranca um gemido baixo da minha garganta.
Damon geme, sua testa encostando na minha, olhos apertados
como se estivesse tentando se controlar.
O preenchimento dele é quase demais.
Por um momento, nenhum de nós se move, a intensidade é
opressiva. Meus dedos se enroscam no cabelo dele, e sinto-o tremer,
cada respiração um suspiro rouco contra meus lábios.
Então ele começa a se mover, devagar no início, cada balanço
dos seus quadris enviando uma onda de prazer através de mim.
Agarro-me a ele, perdida na sensação do seu corpo, no sabor dos
seus beijos, na necessidade desesperada e imprudente que está nos
puxando para baixo.
Os movimentos de Damon se tornam mais rápidos, mais
insistentes, cada estocada arrancando um suspiro ou gemido dos
meus lábios. Suas mãos percorrem meu corpo, possessivas e brutas,
como se ele estivesse tentando memorizar cada centímetro de mim.
Uma mão se entrelaça no meu cabelo, inclinando minha cabeça para
trás para que sua boca possa reivindicar a minha novamente, dura e
implacável. A outra desliza sob minha camisa, seu polegar roçando
sobre meu mamilo de uma forma que me faz gritar contra seus
lábios.
Arqueio-me contra ele, meu corpo tremendo com a pura
intensidade de tudo isso. O chão de madeira pressiona contra
minhas costas, mas mal percebo. Tudo que sinto é Damon – seu
calor, a maneira como ele se move dentro de mim como se estivesse
reivindicando posse. Seus lábios descem da minha boca para meu
queixo, depois mais abaixo para meu pescoço, sugando com força
suficiente para deixar uma marca. Meus dedos se afundam em seus
ombros, puxando-o para mais perto, precisando que ele fique ali
comigo.
— Mia — ele geme contra minha pele, sua voz áspera e tensa. O
som disso envia um arrepio pela minha espinha. Ele está perdendo o
controle, e algo sobre isso – sobre ele se entregando por mim – me
faz sentir poderosa. Viva.
Envolvo minhas pernas ao redor dos seus quadris, incentivando-o
a ir mais fundo. Sua mão agarra minha coxa, dedos pressionando
minha pele como se ele não conseguisse o suficiente. Meu nome
escapa de seus lábios novamente, um rosnado baixo que acelera
meu coração.
Agarro-me a ele, minhas unhas arranhando suas costas enquanto
o calor se enrosca cada vez mais apertado no meu estômago. Grito,
unhas cravando em seus ombros, e minha cabeça cai para trás. Ele
se inclina, dentes roçando meu lábio inferior, sua respiração
ofegante. Minhas mãos se movem rapidamente sob sua camisa,
espalmando-se em suas costas, desesperadas para me segurar em
algo sólido.
— Olhe para mim — ele murmura, sua voz crua.
Consigo levantar meu olhar, e a intensidade em seus olhos quase
me desfaz. Há desejo, sim, mas algo mais profundo. Algo que não
estou pronta para nomear. Sua mão se move entre nossos corpos
novamente, polegar circulando meu clitóris o suficiente para me
fazer espiralar.
Gemo seu nome, minhas pernas envolvendo sua cintura,
implorando por mais, com mais força. Cada estocada me balança
contra o chão, a mistura de dor e prazer me empurrando mais perto
do limite. Sua mão agarra meu quadril, me puxando para cada
investida, e sinto meu corpo tenso, uma espiral apertando-se mais a
cada segundo.
Agarro-me a ele, meus lábios se abrindo em um grito silencioso
quando o orgasmo me atinge sem aviso. O prazer atravessa meu
corpo, que se contrai ao redor dele. Minhas unhas arranham suas
omoplatas, e ele geme baixo em sua garganta, seus próprios
movimentos tornando-se erráticos.
— Mia — ele sussurra roucamente, enterrando o rosto contra
meu pescoço.
Um tremor percorre seu corpo enquanto ele investe uma última
vez, enrijecendo antes de se entregar. Sua respiração falha, um som
quebrado de alívio e algo como rendição, seu membro pulsando
dentro de mim.
Por algumas batidas do coração, ficamos assim – entrelaçados no
chão, presos nas consequências de algo que ambos sabemos que
não deveríamos ter feito.
— Está tudo bem aí dentro? — A voz de Asher perfura o silêncio
carregado.
O peso de Damon ainda está pressionado contra mim, minhas
costas planas contra o chão, meu corpo ainda formigando pelo que
acabamos de fazer. A cabeça dele se levanta bruscamente em
direção à porta, seus olhos se estreitando, mas é tarde demais.
Antes que qualquer um de nós possa reagir ou mesmo se mover, a
porta range ao abrir, e Asher entra.
Seu sorriso habitual desaparece no segundo em que ele assimila
a cena. Seu olhar se move entre nós – eu, corada e ofegante sob
Damon, e Damon, sua mão apoiada no chão ao lado da minha
cabeça. Nós dois desalinhados.
Eu me apresso em empurrar Damon para longe, puxando minha
camisa para baixo, meu rosto em chamas. Damon se afasta sobre os
joelhos, ajustando suas calças de uma maneira que é óbvia demais.
Minhas bochechas queimam de vergonha, e não consigo me forçar a
olhar para Asher.
Ele fica ali, boquiaberto por meio segundo, claramente atordoado
pelo que acabou de presenciar. Seus olhos passam de Damon para
mim, observando nossos cabelos desarrumados, nossas roupas
amassadas, o fato muito óbvio de que acabamos de estar—
— Oh — Asher murmura, seu sorriso habitual substituído por
choque de olhos arregalados. — Eu... uh... desculpa... — Ele
gagueja tão terrivelmente que é quase doloroso, seu olhar saltando
pela sala como se não conseguisse encontrar um lugar seguro para
pousar. Então, com uma rotação brusca, ele recua, a porta se
fechando com um clique de finalidade constrangedora.
Assim que ele sai, sinto a realidade desabar sobre mim. Meus
membros ainda estão trêmulos por tudo que Damon e eu acabamos
de fazer, minha mente acelerada de constrangimento. Puxo minhas
calças para cima, mãos tremendo tanto que nem consigo olhar para
Damon.
Ele pigarreia, levantando-se e lutando com seu cinto. — Mia... —
Sua voz é áspera, baixa, mas ele não termina o que pretendia dizer.
Engulo em seco, desejando poder desaparecer. — Isso não foi...
Eu não... — Hesito, o calor inundando minhas bochechas
novamente. Meu Deus, não acredito que Asher acabou de ver isso.
Damon se inclina, oferecendo-me uma mão. Eu a pego, deixando
que ele me puxe para cima. Os últimos ecos de prazer ainda
formigam em meu corpo, mas a humilhação é tão avassaladora que
mal consigo pensar.
— Você está bem? — ele pergunta, sua voz contida, talvez até
um pouco apologética.
Pressiono uma mão trêmula contra minha testa. — Não. Não
estou.
Ele faz um movimento como se fosse me alcançar, mas parece
mudar de ideia. Nós acabamos de fazer... aquilo, mas agora há esse
abismo de constrangimento entre nós. Meu coração ainda bate forte
no peito, e tenho certeza de que meu rosto está da cor de um
tomate.
Olho para a porta, a mortificação girando em meu peito. — Você
acha que ele... ouviu alguma coisa?
Damon resmunga suavemente, embora não haja humor nisso. —
Acho que é seguro dizer que Asher entendeu o quadro.
— Asher... — Fecho os olhos com força. — Não era assim que eu
queria que ele descobrisse. — Ou qualquer pessoa, aliás. — Isso é
um desastre — gemo.
Damon franze a testa com isso. — Por que você está tão
incomodada?
— Você está brincando comigo? — digo. — Seu colega acabou de
nos pegar fazendo sexo no chão!
— Asher sabe manter a boca fechada — diz Damon com
naturalidade, o que quase me deixa louca.
— Você está falando sério? — digo.
— Sim, mas não entendo aonde você quer chegar. — Ele se
aproxima de mim. — Isso não é um erro. Você não é um erro. Ponto
final.
Apesar de mim mesma, meu coração dispara.
— Por que você se importa tanto com o que o Asher pensa? —
diz Damon. — Ele pode e vai cuidar da própria vida.
Ele está certo. Por que eu me importo? É apenas por causa do
beijo que compartilhamos na cozinha enquanto ele preparava
biscoitos para minhas filhas? É porque eu também beijei Zane?
O que estou fazendo? Isso não sou eu.
Passo a mão pelo cabelo. — Eu preciso sair daqui.
Antes que Damon possa dizer mais alguma coisa, saio do quarto.
Encontramos Asher parado no corredor logo fora do quarto, de
costas para nós, olhando pela janela.
— Tudo bem aí dentro? — ele pergunta sem se virar, sua voz um
pouco calma demais, um pouco controlada demais. Suas palavras
ecoam o que ele estava dizendo antes, mas soam diferentes desta
vez. Ele não é mais o alegre de sempre. Em vez disso, suas mãos
estão cerradas firmemente ao seu lado.
Damon limpa a garganta, saindo ao meu lado. — Só ensinando
nossa cliente sobre consciência tática — diz ele.
Asher se vira então, seu olhar passando entre nós, sua expressão
ilegível. — Derrubando-a?
Claro, ele é educado demais para apontar que Damon estava
sem calças lá dentro.
— Já entendi — respondo rispidamente, afastando-me dos dois.
Minhas roupas ainda estão amassadas, e aliso minha camisa,
tentando recuperar algum senso de compostura. — Sou uma idiota
que não consegue nem sentar sem arriscar a própria vida.
Faço menção de sair, mas Asher bloqueia meu caminho, sua mão
gentilmente segurando meu braço. — Ei — diz ele suavemente, seu
tom completamente diferente agora – gentil, quase bondoso. — Só
estamos tentando manter você segura.
A ternura em sua voz faz meu peito doer. Ele está sendo gentil,
apesar de... tudo, e isso só faz a culpa apertar ainda mais meu
estômago.
Liberto meu braço, evitando seus olhos. — Eu sei — murmuro,
pouco acima de um sussurro. Minha voz falha ligeiramente quando
acrescento: — Mas não é apenas a minha segurança que está em
jogo, não é?
Passo por ele, precisando escapar, precisando de ar. Meu coração
dispara enquanto caminho pelo corredor, o som dos meus passos
engolido pelo silêncio espesso. Olho para trás uma vez antes de virar
a esquina.
Asher permanece congelado onde o deixei, observando-me partir,
suas sobrancelhas franzidas como se estivesse tentando juntar as
peças. Damon está logo atrás dele, com o maxilar tenso, sua
expressão indecifrável.
O momento paira pesado no ar, e sei que tornei tudo ainda mais
complicado do que já estava.
Horas depois, estou na cozinha mal iluminada, a única luz vindo
do poste de rua lá fora. A casa está silenciosa exceto pelo leve
zumbido da geladeira e o ocasional ranger da madeira antiga.
Seguro o balcão, olhando para a xícara de chá intocada à minha
frente, tentando acalmar meus pensamentos acelerados.
— Não consegue dormir?
Eu pulo, quase derrubando a xícara. Asher está encostado no
batente da porta.
— Pare de me assustar — disparo, pressionando uma mão contra
o peito enquanto meu coração dispara.
— Risco ocupacional — diz ele com um leve sorriso, entrando na
cozinha. Ele se move em direção à cafeteira. — Quer falar sobre o
que aconteceu com Damon mais cedo?
— Não aconteceu nada — digo rapidamente, rápido demais. As
palavras parecem uma mentira no momento em que saem dos meus
lábios.
— Certo. — Ele se vira, seus olhos azuis me estudando por cima
da borda da caneca enquanto toma um gole lento. — E nada
aconteceu com Zane na varanda também?
O calor invade meu rosto, e sinto o chão se mover sob meus pés.
— Você viu?
— Eu vejo tudo, Mia. É o meu trabalho. — Seu tom é calmo, mas
há uma tensão nele. Ele coloca a caneca no balcão com um baque
suave, o som perturbadoramente alto no silêncio.
Ouço o que ele está dizendo, mas ao mesmo tempo, não ouço.
Minha mente corre, tentando encontrar alguma forma de me
defender, de desviar, mas nada vem. Em vez disso, mexo na barra
da minha camisa, incapaz de encontrar seu olhar.
— Não é... não foi...
— Você não me deve explicações — diz ele, interrompendo-me
gentil mas firmemente. — Nem sobre Zane, nem sobre Damon. Não
estou aqui para bombardeá-la com perguntas. Mas você precisa
descobrir o que está fazendo.
Finalmente olho para ele, minhas mãos apertando o balcão. — O
que isso quer dizer?
— Quer dizer que você está em perigo, Mia — diz ele, sua voz
mais incisiva. — O tipo de perigo onde distrações podem fazer você
– ou suas meninas – se machucarem. — Ele se aproxima, seus olhos
azuis fixos nos meus. — E Damon, Zane, eu – estamos todos
tentando manter você viva. Mas não podemos fazer isso se você
estiver se enrolando em... isso.
— Isso? — repito, minha voz se elevando apesar do nó
apertando em meu peito. — Você acha que eu não sei o quão sério
isso é? Acha que eu não sei o que está em jogo?
— Acho que você está sobrecarregada agora — diz ele
suavemente. — E acho que Jason sabe exatamente como explorar
isso.
A verdade de suas palavras me atinge como um soco no
estômago. Viro-me, agarrando o balcão para me estabilizar.
— Eu não pedi nada disso — digo.
— Ninguém pediu — diz ele, aproximando-se novamente. Sua
presença é quente, estabilizadora, e por um momento, me permito
inclinar nela. — Mas você está aqui agora — ele continua. — E tem
três pessoas que atravessariam o inferno para manter você segura.
Só... não torne isso mais difícil do que já é.
O nó na minha garganta parece que vai me sufocar. Aceno com a
cabeça, incapaz de falar, as palavras presas em algum lugar entre
meu coração e minha boca.
Asher deixa o silêncio pairar por um momento. — Descanse um
pouco — diz ele. Posso sentir seu cheiro, algo doce mas masculino
ao mesmo tempo. — Você é mais forte do que pensa, Mia. Não
deixe que ele faça você esquecer disso.
Olho para ele e aceno. Meu coração falha.
Preciso acabar com isso. Tudo isso.
Mas quando Asher estende a mão, seus dedos afastando uma
mecha de cabelo do meu rosto, me vejo inclinando ao seu toque
como se fosse a coisa mais natural do mundo. Sua mão permanece,
quente e firme, e minha respiração falha.
Isso é errado. Eu sei que é.
— Asher... — começo.
Uma garganta se limpa, cortando o momento como uma lâmina.
Recuo bruscamente, o calor invadindo meu rosto enquanto me
viro para a porta. Zane está lá, braços cruzados, sua expressão
ilegível.
— Meu turno — diz ele secamente. — Vão dormir.
Por um momento, nenhum de nós se move. O olhar de Asher
passa para mim, algo não dito entre nós antes que ele recue com
um aceno.
— Certo — diz Asher. — Boa noite, Mia.
Não confio em mim mesma para falar, então apenas aceno com a
cabeça, minhas mãos agarrando o balcão atrás de mim em busca de
apoio. Asher lança para Zane um olhar que não consigo decifrar
antes de sair da cozinha, seus passos desaparecendo no silêncio da
casa.
Zane não se move da porta.
— Eu... — começo a dizer, mas Zane me interrompe.
— Vá para a cama, Mia. — Sua voz é inexpressiva, seu maxilar
tenso.
Engulo em seco. Sem dizer mais nada, passo por ele, meu pulso
trovejando nos ouvidos enquanto subo as escadas.
Ao chegar ao patamar, olho para trás, apenas por um momento.
Zane ainda está na cozinha, olhando pela janela, seus ombros
tensos.
Fecho a porta do quarto e me apoio nela, meu peito arfando.
Isso não é mais apenas sobre Jason.
O que quer que esteja acontecendo com Asher, com Zane, até
mesmo com Damon, estou em território perigoso.
E não sei como me impedir de cair ainda mais fundo.
13
ASHER
P
ela imagem granulada do monitor de segurança, vejo Zane
agachado no quintal com Emma e Ella. Ele está demonstrando
alguns movimentos básicos de autodefesa, disfarçados como
treinamento ninja. Seu rosto marcado por cicatrizes se suaviza
enquanto mostra a elas como "causar medo nos bandidos". As
meninas riem, seus pequenos punhos socando o ar com grunhidos
exagerados.
Eu deveria estar lá fora. Geralmente é meu trabalho mantê-las
entretidas. Mas depois da noite passada... não consigo fazer isso.
Não depois de ver Mia e Damon daquele jeito no chão. Só de pensar
nisso, as roupas deles empurradas abaixo da cintura, as pernas de
Mia ao redor de Damon enquanto ela se recupera dos últimos
espasmos de prazer, faz meu estômago revirar dolorosamente.
A imagem deles juntos está gravada no meu cérebro. O jeito que
ele olhou para ela, como se ela fosse a única pessoa no mundo.
Como se ela pertencesse a ele.
Ciúmes? É isso que estou sentindo?
Eu não sinto ciúmes. Não sou assim.
Esfrego a nuca, observando a tela enquanto Zane se abaixa para
deixar Emma subir em suas costas. Ela envolve os braços em volta
do pescoço dele, rindo, e por um momento, consigo esboçar um
pequeno sorriso.
Zane é bom com elas. Melhor do que eu imaginava. Talvez bom
demais.
Um movimento rápido em outra tela chama minha atenção — um
carro entrando no quarteirão seguinte, parando por apenas um
segundo a mais antes de ir embora.
Meu maxilar se contrai, o familiar impulso de proteção surgindo.
Mas quando olho de volta para o monitor mostrando Zane e as
meninas, essa proteção se transforma em algo mais.
Não é só o Damon.
O que diabos há de errado comigo?
A porta range ao abrir, e Damon entra na sala, com seu habitual
comportamento tranquilo. Ele acena em direção ao monitor. — Tudo
limpo?
— Sim — digo, mantendo minha voz estável. — Zane está com
as meninas.
Seu olhar passa para a tela, demorando-se em Mia enquanto ela
sai para a varanda para chamar as crianças para o almoço. — Ela
está se saindo bem. Melhor do que eu esperava, dadas as
circunstâncias.
Respondo com um grunhido, não confiando em mim mesmo para
dizer mais.
Damon me olha de relance, franzindo levemente a testa. — Você
está bem, Asher?
— Estou — digo rapidamente, voltando aos monitores. — Só
cansado.
Ele não insiste, o que é um alívio, porque eu não tenho
respostas. Ele sempre foi bom em ler as pessoas — uma das razões
pelas quais é o chefe. Mas mantenho meus olhos fixos nas telas, não
cedendo nem um centímetro.
— Você está quieto esta manhã — observa Damon.
— Só focado no trabalho — Mantenho minha voz uniforme.
Distante. — Como todos nós deveríamos estar — acrescento
baixinho.
O silêncio se estende entre nós. Não preciso olhar para ele para
saber que não está acreditando em mim.
— Certo — ele finalmente diz. O jeito como ele diz, como se
estivesse deixando pra lá, mas não realmente, me irrita mais do que
deveria.
A verdade é que eu estou focado. Estou focado no carro que
passou muito devagar na última ronda. Na possibilidade de que
Jason não esteja agindo sozinho. Em manter Mia e seus filhos
seguros.
O que eu não deveria estar focando é como Damon olhou para
ela ontem à noite. Ou como ela retribuiu o olhar.
Cerro o maxilar, os dedos apertando a borda da mesa. Isso está
saindo do controle. Seja lá o que eu acho que sinto, seja qual for a
tensão que está se intensificando entre todos nós, preciso acabar
com isso.
— Você vai ficar no esconderijo hoje? — pergunto, mudando de
assunto.
— Por enquanto — diz Damon. — Mas preciso investigar mais a
fundo os contatos do Jason. Se não descobrirmos quem está por
trás dele logo, estaremos apenas esperando pelo próximo
movimento.
A mão de Damon está no batente da porta quando ele para, de
costas para mim. Olho para ele pelo canto do olho.
— Eu a conhecia de antes — ele diz, com a voz baixa.
Pisquei para ele. — O quê?
— Quando você perguntou antes se eu conhecia a Mia... Eu
conhecia.
Não me movo, não reajo. Apenas o observo da minha cadeira,
esperando. Ele nunca foi de fazer confissões pessoais, então se está
oferecendo isso agora, é calculado. Controlado.
— Continue — digo, mantendo o tom uniforme.
Damon expira bruscamente, virando-se para me encarar. Sua
expressão é cuidadosamente neutra, mas o conheço bem demais.
Há algo sob a superfície.
— Nos conhecemos na base — ele finalmente diz. — Ela estava
estacionada lá como enfermeira. Eu estava... por perto.
— Por perto — repito, nada impressionado. — Isso é muito vago.
Você não é de ser vago, Damon.
Seu maxilar se contrai, e vejo a batalha interna acontecendo em
tempo real. Finalmente, ele cede.
— Ela estava em uma situação difícil. Eu a ajudei.
— Situação difícil — repito, meus dedos batendo contra a mesa.
— Você quer dizer o Jason.
O silêncio de Damon é toda a confirmação que preciso.
— E agora aqui estamos — digo. — Jason está de volta, e de
repente você é quem a protege novamente. Qual a probabilidade
disso?
Seus ombros ficam tensos. — Eu não planejei isso.
— Mas você também não está se afastando, está?
Seus olhos relampejam. — Você se afastaria?
Não respondo, porque ambos sabemos a verdade.
Expiro, passando a mão pelo cabelo. — Então qual é a verdadeira
história aqui? Vocês dois ficaram juntos naquela época, e agora isso
está voltando para te assombrar?
Algo passa pelo seu rosto, desaparecendo rápido demais para
captar. — É complicado — ele diz.
Dou uma risada baixa. — É, sem dúvida.
Damon esfrega a mão no rosto, a frustração tomando conta. —
Olha, eu me importo em mantê-la segura. Isso é tudo que importa
agora.
— Certo. — Me afasto da mesa, ficando cara a cara com ele. —
Então aquele olhar que você dá a ela? É apenas preocupação
profissional?
Seu olhar fica mais agudo. — Cuidado, Asher.
— Por quê? Porque estou chamando as coisas pelo nome?
Trabalhamos juntos há anos, Damon. Nunca te vi assim. E não me
diga que é só o trabalho.
Ele não responde. Não precisa. O silêncio entre nós diz tudo.
Cruzo os braços. — Você não está me contando a história toda.
Mas tudo bem. Faça do seu jeito. Só não espere que eu finja não ver
o que está acontecendo aqui.
Não menciono o que aconteceu ontem porque seria um golpe
baixo.
— Você não precisa gostar, Asher — diz Damon em voz baixa. —
Mas é melhor manter a cabeça no jogo. Temos problemas maiores
do que o que você acha que está acontecendo entre mim e Mia.
E com isso, ele se vira e sai.
A sala de jantar está impregnada com o cheiro de queijo
grelhado e sopa de tomate, restos do almoço ainda espalhados pela
mesa. A luz do sol filtra através das persianas, projetando linhas
suaves no chão onde as gêmeas estão sentadas de pernas cruzadas,
folheando um livro sobre espiões.
Apoio-me no balcão da cozinha, tomando café preto e tentando
me livrar da sensação desconfortável que tem permanecido no meu
estômago durante toda a manhã.
Zane está lá fora, fazendo uma verificação do perímetro. Damon
está no escritório, provavelmente afundado nas imagens de
segurança. E eu? Deveria estar monitorando as telas, mantendo a
cabeça no jogo. Mas no segundo em que as gêmeas entraram
correndo, exigindo uma "História de Agente Secreto", me vi ficando
ali em vez de dispensá-las.
Emma puxa minha manga, seus olhos arregalados cheios de
travessura. — Poooor favooor, Agente Secreto Asher. Só uma
história.
Ella está ao lado dela com os braços cruzados, sempre a mais
séria. — Uma de verdade desta vez. Não aquela sobre o espião que
virou uma panqueca.
Dou um sorriso irônico. — Ei, aquela era uma ótima história.
Elas não parecem convencidas, e contra meu bom senso, sinto-
me cedendo. Talvez eu devesse dizer não, manter distância, lembrar
a mim mesmo que isto é um trabalho. Mas seus rostinhos ansiosos
tornam isso praticamente impossível.
Estou prestes a ceder quando percebo um movimento na
entrada. Mia.
Ela parece... agitada. Seus lábios estão levemente entreabertos,
as bochechas quentes. Ela está ajeitando a camisa como se tentasse
se recompor.
Meu estômago se contrai.
Então vejo Zane se afastando pelo corredor, sua expressão
indecifrável.
Algo aconteceu.
Não sei o quê, mas meus instintos gritam que perdi alguma
coisa.
Zane não fica agitado. E Mia certamente também não. Não
assim.
Mas isso não faz sentido. Se há alguém com quem ela estaria
envolvida, seria Damon. Isso é óbvio. A maneira como ele a observa
como se ela fosse sua para proteger, sua para consertar, sua para-
Cerro a mandíbula.
Isso é ridículo. Não importa com quem ela está. Não é da minha
conta.
Exceto que, aparentemente, é.
— Você está bem? — pergunto antes que possa me conter.
Mia pisca, como se só agora percebesse que eu estava
observando-a. — O quê? Sim, claro. Por que não estaria?
Ela está mentindo. Eu sei, e ela sabe que eu sei.
Emma puxa minha manga novamente, alheia à tensão entre os
adultos na sala. — História de Agente Secreto, poooor favoooor.
Olho novamente para Mia, que rapidamente desvia o olhar.
As meninas comemoram, pulando no sofá. Começo a falar, mas
meu foco está arruinado.
Forço um sorriso, tentando fazer parecer que não é grande coisa.
— Na verdade, pessoal, tenho coisas de segurança para resolver. Por
que não pedem à sua mãe para contar histórias?
Emma geme, mas é a reação de Ella que me atinge. Ela não
discute, não faz beicinho. Apenas me olha, sua expressão
contemplativa. Desapontada.
Engulo em seco.
Ela é uma criança esperta. Esperta demais. E está tentando
entender por que de repente não quero mais ficar perto delas.
Eu odeio isso.
Mas sei o que tenho que fazer.
Mia me observa, sua expressão indecifrável, mas vejo a
compreensão em seus olhos. Ela sabe por que estou me afastando.
Não vai discutir comigo sobre isso.
Isso torna tudo pior.
Limpo a garganta, faço uma pequena continência para as
gêmeas e me afasto antes que eu mude de ideia.
Antes que eu cometa outro erro.
Pego o turno da noite, me oferecendo para a vigilância do
perímetro em vez do meu habitual dever de história para dormir. É
melhor assim. Mantém minha cabeça limpa. Impede-me de tomar
decisões que não posso desfazer.
A noite está silenciosa, o abrigo envolto em um manto de
quietude. Através das janelas, vislumbro a vida que se desenrola lá
dentro.
Damon está sentado com as gêmeas na sala de estar, Emma
enroscada ao seu lado, Ella inclinando-se enquanto ele lê um livro.
Seu rosto está mais suave do que jamais vi. Nada parecido com o
líder endurecido que segui no passado, o homem que construiu um
império de segurança pela pura força de vontade.
Algo nessa visão me inquieta.
Na cozinha, Mia e Zane estão sentados frente a frente, mãos
envolvendo canecas, sua conversa baixa e descontraída. Eles não
precisam falar para preencher o espaço entre eles. A forma como ela
se inclina ligeiramente na direção dele, a forma como o olhar dele se
demora nela — eles parecem confortáveis juntos. Íntimos.
Exalo, meu aperto apertando o corrimão. Eu queria esta
distância, não é?
Então por que parece que estou sendo excluído de algo que nem
percebi que queria fazer parte?
Meu telefone vibra no bolso, a vibração cortando a noite
silenciosa. Pego-o, já sabendo quem é antes de verificar a tela.
Ei, tenho uma vaga em Dubai. Contrato de seis meses. Detalhe
privado. Alto pagamento, baixo risco. Topa?
Olho fixamente para a mensagem, meu polegar pairando sobre o
teclado.
Lá dentro, Damon se inclina enquanto Ella sussurra algo em seu
ouvido. Ele sorri e desalinha o cabelo dela. Na cozinha, Mia ri
suavemente de algo que Zane diz, balançando a cabeça enquanto
toma seu café.
Uma família improvisada. Uma à qual não pertenço.
Engulo em seco, desviando o olhar. Algumas linhas não foram
feitas para serem cruzadas.
Digito minha resposta.
Estou dentro.
Envio a mensagem. Guardando o telefone no bolso, exalo,
observando as estrelas piscarem no céu. Seis meses em Dubai.
Talvez quando eu voltar, terei a cabeça no lugar.
14
MIA
O
esconderijo parece mais frio com o afastamento de Asher. Não
é algo óbvio – ele ainda faz seu trabalho, ainda monitora as
câmeras de segurança e verifica as fechaduras – mas está
diferente. Conto os dias na minha cabeça. Ele vai embora em cinco
dias. Cinco dias antes de nunca mais vê-lo novamente.
As meninas notam primeiro.
— Por que o Agente Asher não brinca mais com a gente? —
pergunta Emma durante o café da manhã, cutucando sem
entusiasmo seu cereal. — Fizemos algo errado?
Forço um sorriso, alisando os cachos rebeldes de Emma. — Claro
que não, querida. Ele só está ocupado.
Ella franze a testa. — Ele está sempre ocupado agora.
Não tenho resposta para isso.
À noite, Asher assume o turno tardio, voluntariando-se para a
ronda do perímetro em vez de contar histórias na hora de dormir.
Nas refeições, senta-se no lugar mais distante, mal falando. Quando
as meninas puxam sua manga, ele bagunça o cabelo delas, mas não
fica.
Uma noite, Emma o segue até o corredor da entrada, com seus
punhos pequenos cerrados ao lado do corpo. — Você não ama mais
a gente — ela acusa, com o lábio inferior tremendo.
A dor nos olhos de Asher é instantânea, mas ele a disfarça
rapidamente. Ele se agacha, encontrando o olhar dela. — Isso não é
verdade, pequena — diz, com voz gentil.
— Então por que você não brinca mais com a gente? — Emma
exige.
— Estou apenas garantindo que vocês estejam seguras — ele
responde, e não é mentira. Mas também não é toda a verdade.
Emma funga. — Sinto sua falta.
Não aguento. O nó na minha garganta cresce, e preciso sair
antes que eu perca o controle na frente deles.
Fujo para a lavanderia, agarrando a borda do balcão enquanto as
lágrimas ardem em meus olhos. Não entendo por que dói tanto.
Talvez porque estou vendo tudo acontecer de novo. Alguém
entrando na vida das minhas filhas, fazendo-as se sentir seguras, e
depois se afastando.
Não ouço a porta abrir, mas sinto a presença dele atrás de mim.
— Mia.
A voz de Asher é suave, mas não consigo encará-lo agora.
Balanço a cabeça, pressionando as palmas contra meus olhos. —
Não. Apenas... não.
Um longo silêncio se estende entre nós.
Então, baixinho, ele diz — Não quis magoá-las.
Meu peito aperta. — Então por que está?
Mais silêncio.
Viro-me, mas Asher já foi embora. Há algo definitivamente
errado com ele, e preciso descobrir o que é. Sigo-o, eventualmente
rastreando-o até a sala de segurança, onde o brilho dos monitores
projeta sombras nítidas em seu rosto. Suas mãos estão dobradas
sobre o estômago enquanto ele se recosta na cadeira, ilegível,
distante. Mas reconheço a tensão quando a vejo. O tipo que se
enrola dentro de você antes de fazer algo que sabe que vai se
arrepender.
— As meninas sentem sua falta — digo.
— Elas vão se adaptar. — Ele nem sequer me olha, com os olhos
fixos nas telas como se contivessem a única coisa que importa. — É
mais seguro assim.
Mais seguro.
Essa palavra me corrói.
— O que você quer dizer? — Aproximo-me, tentando ver sua
expressão.
Seu maxilar se contrai, como se estivesse segurando algo. —
Mia, você... Damon, você... Zane. — Ele exala bruscamente,
finalmente virando-se para me olhar. — Isso não pode funcionar.
Sua voz está controlada, mas há algo por baixo. Algo se
desfazendo nas bordas.
Meu pulso acelera. — O que você está dizendo?
— Aceitei outro trabalho. — Ele engole em seco. — Vou embora
em uma semana.
Olho fixamente para ele, o peso dessas palavras pressionando
meu peito. — Você está indo embora.
— Eu preciso.
O jeito como ele diz – como se estivesse tentando convencer a si
mesmo, não apenas a mim – faz minhas mãos se fecharem em
punhos. Eu deveria estar com raiva. Deveria dizer que ele é um
covarde por fugir quando as coisas ficam complicadas. Mas vejo
agora – a maneira como ele está recuando, como está se fechando.
Ele acha que está se protegendo. Ou me protegendo.
Balanço a cabeça. — Então é isso? Você simplesmente
desaparece?
Ele solta uma risada sem humor, esfregando a mão no rosto. —
Mia, o que você quer que eu faça? Fique e finja que isso é normal?
Que eu posso apenas... — Ele se interrompe, respirando fundo. —
Eu não lido com complicações. E isso? Isso é complicado.
Um nó se forma na minha garganta, e eu odeio isso. Odeio que
eu me importe. — Você não precisa fazer nada, Asher. — Minha voz
está mais baixa agora, mas mais firme. — Mas não aja como se as
meninas não amassem você. Como se eu... — Mordo a língua antes
de terminar essa frase.
Quero que ele fique, mais do que posso admitir.
— É melhor assim, Mia — ele diz.
Antes que eu possa argumentar, um alarme estridente quebra o
ar, o uivo agudo cortando a casa como uma faca. Meu coração
dispara.
Por um segundo, fico paralisada, com o coração batendo forte
contra as costelas. Então a voz de Zane estala pelo rádio, afiada e
urgente.
"Violação do perímetro, lado leste!"
Tiros quebram a noite.
O comportamento de Asher muda completamente em um
instante, sua hesitação desaparece, tudo agora é profissional. Seu
corpo se contrai como uma mola carregada, sua mão já alcançando
a arma no quadril.
— Vá para a sala de pânico — Asher me ordena. — Agora.
Minha respiração falha. — Mas as gêmeas...
— Elas estarão mais seguras lá do que em qualquer outro lugar.
— Seu tom não deixa espaço para argumentos. — Mexa-se, Mia.
Não discuto. Viro-me e corro pelo corredor, cada instinto de
sobrevivência gritando para que eu alcance minhas filhas.
Meus pés batem contra o piso de madeira enquanto corro em
direção ao quarto das gêmeas. Minhas mãos tremem quando abro a
porta.
Emma e Ella já estão acordadas, agarradas uma à outra, seus
olhos arregalados percorrendo o ambiente em confusão.
— Mamãe? — a voz de Ella treme. — O que está acontecendo?
Pego as duas, um braço em volta de cada uma, beijando seus
cabelos. — Estamos jogando um jogo, querida. Missão Super
Secreta de Agente. Temos que ir para a sala segura, lembra?
Emma assente, mas também está tremendo.
Corro pelo corredor, minha mente acelerada, meu coração
martelando. Os tiros pararam, mas o silêncio parece ainda pior.
Como se algo estivesse por vir.
Estamos na metade da escada quando o som de vidro quebrando
explode pela casa. As gêmeas gritam, agarrando-se a mim, suas
mãozinhas cravando em meus braços. Meu coração é um tambor
selvagem em meus ouvidos.
Então Damon aparece no topo da escada. Ele puxa as meninas
dos meus braços e começa a correr à frente, com as duas seguras
em seus braços.
Não hesito. Agarro o corrimão, praticamente me arrastando pelos
degraus restantes enquanto mais tiros ecoam lá fora. Minha
respiração vem rápida demais, o pânico arranhando meu peito.
Então — um grito de dor.
Zane.
Meu estômago se contorce. O som é inconfundível, cru e
agonizante.
Meus pés vacilam. Começo a voltar, mas Damon late: — Continue
se movendo, Mia. Agora.
Mal consigo pensar, mal consigo respirar, mas me forço a seguir
em frente.
Damon devolve as gêmeas, empurrando-as para meus braços.
Seus rostinhos estão manchados de lágrimas, seus soluços abafados
contra meu peito enquanto as puxo para perto.
— Zane — minha voz falha. — Ele está...
— Vivo — Damon range os dentes. — Mas precisamos garantir
sua segurança antes de voltarmos lá para fora.
As palavras parecem uma facada em minhas costelas, mas sei
que ele está certo. Seguro Emma e Ella com mais força, sussurrando
garantias em que não acredito enquanto Damon digita o código no
painel.
Outra rodada de tiros soa lá fora. Passos invadem o andar de
baixo.
Damon me empurra pela entrada. — Fique aqui. Não abra esta
porta a menos que ouça minha voz.
— Fique com elas — Asher diz a Damon do pé da escada. Sua
voz é seca, concentrada, mas quando seus olhos finalmente
encontram os meus — pela primeira vez em dias — há algo mais ali.
Algo cru.
— Vou buscar o Zane — diz Asher.
Antes que eu possa processar isso, vozes filtram de fora.
"Contato confirmado. Uma ameaça neutralizada. Vamos entrar."
Não reconheço a voz. Não é Damon. Não é Asher. E com certeza
não é Zane.
Asher endurece. — Merda. — Ele começa a avançar.
— Nem pensar que você vai sozinho. — Eu me movo antes que
possa repensar, bloqueando seu caminho. — Sou enfermeira. Se ele
está ferido...
— Não — tanto Damon quanto Asher me cortam. Vozes
diferentes, mas a mesma maldita resposta.
Viro-me para Damon. — Fique com as gêmeas. Elas precisam de
você.
Ele já está balançando a cabeça. — Mia...
— Vou ficar bem — interrompo-o, já me movendo. Não espero
por permissão. Não preciso dela.
Damon pragueja atrás de mim, mas não me segue. Ele não vai
deixar as meninas. Ele não pode.
Caio no passo ao lado de Asher, meu coração martelando no
peito. Não tenho uma arma. Não tenho treinamento. Mas tenho
minhas mãos, meu conhecimento e a pura recusa de deixar Zane
sangrar sozinho.
Asher não discute. Ele apenas pragueja baixinho e coloca um
fone de ouvido reserva na minha mão. — Fique atrás de mim. —
Não é um pedido.
Encaixo-o no lugar enquanto chegamos ao fim do corredor. A
porta da frente está entreaberta. A noite lá fora está densa de
tensão.
Então ouvimos: um gemido de dor.
Zane.
Asher encontra meu olhar por uma fração de segundo antes de
deslizar pela porta. Sigo sem hesitação.
Encontramos Zane encostado no muro do jardim, com uma mão
pressionada no ombro. Sangue escorre entre seus dedos, escuro
contra sua camisa. Meu estômago se revira.
Além da cerca, duas figuras desaparecem na noite. Rápido
demais, suave demais. Eles sabiam o que estavam fazendo.
— Só um arranhão — Zane resmunga, fazendo careta quando me
agacho ao seu lado. — Já tive piores.
Isso não me impede de afastar sua mão com força, verificando o
ferimento eu mesma. A bala só o arranhou, mas o ferimento ainda
está sangrando demais. Meus dedos tremem enquanto aplico
pressão.
— Quem eram eles? — pergunto, tentando manter minha voz
firme.
Zane expira bruscamente. — Não importa. Eles conseguiram o
que queriam.
Um calafrio se instala em minha espinha. Olho para Asher, que
está verificando o perímetro, ainda com a arma na mão. Sua
expressão é sombria.
— Inteligência — murmura Asher. — Estavam testando nosso
tempo de resposta. Nossos padrões.
A realização afunda como uma pedra. Isso não foi apenas um
ataque. Foi um ensaio.
Jason está apenas começando.
Pressiono o ferimento de Zane com mais força do que o
necessário, e ele sibila entre os dentes. — De nada — murmuro.
— Sádica — ele reclama.
— Consegue andar? — Asher pergunta a Zane, parando ao meu
lado.
Zane faz um breve aceno. — Não com elegância, no entanto.
— Vamos. — Asher passa um braço sob o ombro bom de Zane,
ajudando a erguê-lo. Zane aperta os dentes, mas não protesta, o
que é preocupante. Ele é teimoso demais para admitir quando
precisa de ajuda.
Cada nervo do meu corpo permanece tenso, esperando por outro
tiro, outra ameaça. Mas a noite está quieta agora, estranhamente
quieta.
Dentro de casa, Damon nos encontra na porta, ainda com a arma
na mão. Seu olhar passa pelo ombro de Zane, depois para mim. —
Quão ruim?
— Ele vai sobreviver — digo, guiando-os em direção à cozinha. —
Mas preciso de suprimentos.
Damon acena uma vez. — Vou pegar o kit.
— Onde estão as crianças? — pergunto.
— No andar de cima. Elas estão bem, só um pouco abaladas. Dei
a elas um pouco de Dramamine para se acalmarem. Espero que não
se importe.
— Não, tudo bem — digo. — Você fez bem.
Zane exala pesadamente enquanto o colocamos numa cadeira.
Ele inclina a cabeça para trás, fechando os olhos. — Nunca vou
receber pagamento por risco de vida por isso, vou? — murmura.
— Não — diz Asher, sorrindo.
Lanço um olhar para ambos. — Menos conversa, mais ficar
quieto.
Zane sorri para mim, mas há exaustão por trás disso. — Sim,
senhora.
Damon retorna com o kit de primeiros socorros, e eu começo a
trabalhar. O tempo todo, um pensamento martela em minha cabeça
— isso foi apenas um teste. E na próxima vez, Jason não estará
testando. Ele virá para terminar o que começou.
Zane solta uma risada ofegante enquanto pressiono uma gaze
contra seu ferimento. — Você está sempre me consertando.
Olho para cima, confusa, até me lembrar. A noite em que nos
conhecemos, quando limpei os cortes e hematomas que Jason
deixou nele. Quando eu ainda achava que minha vida era
complicada, mas administrável.
— Não estou fazendo um trabalho muito bom — murmuro,
fixando o curativo no lugar. — Você continua se machucando.
— Risco da profissão. — Seu sorriso irônico está fraco, mas ainda
lá. — Além disso, acho que você só gosta de ter uma desculpa para
me tocar.
Reviro os olhos, mas minhas mãos tremem levemente enquanto
guardo o kit. Estou muito consciente de como sua pele está quente
sob meus dedos, da maneira como Asher nos observa do outro lado
da sala. E Damon... Damon não disse uma palavra, mas posso sentir
sua presença atrás de mim como um fio de alta tensão.
Zane deve sentir a tensão porque se ajusta, fazendo careta ao se
mexer na cadeira. — Relaxa, doutora — diz ele. — Não estou
morrendo.
— Não, mas da próxima vez, você pode não ter tanta sorte —
retruco, mais bruscamente do que pretendia.
O sorriso dele desaparece. — Foi para isso que nos inscrevemos,
Mia.
Olho para ele, com frustração e medo se enredando no meu
peito. — Eu não me inscrevi para isso.
Silêncio.
Damon limpa a garganta. — Precisamos reavaliar a segurança.
Isso foi um aviso. Da próxima vez, não será.
Quando me viro para sair, Asher segura meu braço, seu aperto
firme, mas não forçado. No momento em que encontro seu olhar,
algo muda. O distanciamento profissional ao qual ele vinha se
agarrando se quebra, revelando a emoção crua por baixo.
— Não posso recuar — ele sussurra. — Não se isso significa
falhar em te proteger.
Sua voz está rouca e tensa, como se lhe custasse algo admitir
isso. Meu coração se aperta, porque sei o que ele está realmente
dizendo. Isso não é mais apenas sobre o trabalho.
— Então não recue — digo simplesmente.
Seus dedos flexionam ao redor do meu braço, e ele parece que
está prestes a dizer algo. Por um segundo, acho que ele vai me
puxar para mais perto. Que ele poderia me beijar aqui mesmo, na
frente de Zane e Damon.
Dou um passo para trás, com a respiração instável. O espaço
entre nós parece carregado. Perigoso de uma forma que não tem
nada a ver com Jason Whitmore.
Sem mais palavra, começo a me afastar, mas ainda posso sentir
seus olhos em mim.
Asher balança a cabeça, rangendo os dentes. — Tenho mais uma
semana. Vou fazer o que puder durante esse tempo.
As palavras caem como um golpe físico. Uma semana. Ele vai
embora em uma semana. Penso nas minhas filhas e me pergunto
quantas perdas mais elas podem suportar. Quantas mais eu posso
suportar.
— Ele sempre nos encontra — sussurro, mais para mim mesma
do que para qualquer outra pessoa.
— Sim — murmura Zane. — Estranho.
Ele pega o unicórnio de pelúcia de Emma, aquele que Jason
tocou. Algo em sua expressão se aguça. Ele passa os dedos pelas
costuras, sentindo algo. Então, sem hesitação, agarra o rabo e o
arranca.
— Ei! — protesto, estendendo a mão para pegá-lo.
Mas Zane me ignora, deslizando os dedos dentro do tecido
rasgado. Seus olhos escurecem. Um segundo depois, ele puxa um
pequeno dispositivo eletrônico, não maior que uma moeda.
Um rastreador.
O ambiente fica mortalmente silencioso.
Contemplo o dispositivo, minha respiração ficando muito rápida.
Meu estômago se contorce, náusea subindo pela minha garganta.
Todo esse tempo. Ele esteve escutando. Observando. Minhas mãos
se fecham em punhos.
— Vocês não vão destruí-lo? — consigo perguntar, com a voz
tremendo.
Asher balança a cabeça. — Então ele vai saber que o
encontramos. Vamos deixá-lo aqui.
Os olhos de Damon se estreitam. — Chega de ficar na defensiva.
Arrumem as coisas. Não podemos ficar aqui.
15
DAMON
O
novo esconderijo é uma cabana encravada nas profundezas do
bosque, longe da estrada mais próxima, com nada além de
quilômetros de árvores e a extensão cristalina do lago atrás
dela. Fica a sete horas de carro do último lugar e fizemos várias
paradas ao longo do caminho só para garantir que não estávamos
sendo seguidos. O ar tem cheiro limpo, fresco, intocado pela vida
urbana. O lago reflete a alvorada em tons de laranja e rosa,
ondulando suavemente na brisa da manhã. Pássaros se agitam nas
árvores, seus chamados ecoando pela água parada. Deveria ser
pacífico.
Não é.
Observo a equipe de segurança trabalhar, com os braços
cruzados enquanto instalam os novos sensores de movimento e
alarmes de perímetro. A cabana em si é sólida — portas reforçadas,
paredes grossas, janelas pequenas que limitam pontos de entrada.
Isolada. Defensável.
Mas o lago me deixa em alerta. Muitas variáveis. Muitos pontos
cegos. Acesso pela água é um pesadelo de segurança. Alguém
poderia se aproximar de barco, entrar despercebido. Sem cercas,
sem muros. Apenas espaço aberto e água profunda, interminável.
Não gosto disso.
— O lago me dá más vibrações — murmura Zane, se
aproximando de mim. Ele observa a linha das árvores com a mesma
expressão cautelosa que sinto gravada no meu próprio rosto. —
Difícil de defender.
— Exatamente — resmungo.
Ainda assim, é nossa melhor opção. O último lugar foi
comprometido. Precisávamos nos mover rápido, e este lugar estava
preparado e esperando. Terá que servir.
Olho em direção à cabana. Por uma das janelas, vejo Mia lá
dentro, desempacotando suprimentos na cozinha. As garotas não
estão à vista, provavelmente ainda dormindo no andar de cima.
Quando entro, Asher está na central de vigilância, seus dedos
voando sobre o teclado. É uma sala pequena junto à porta dos
fundos, reforçada mas também boa para uma saída rápida em caso
de emergências, e também para manter um olho na propriedade,
especialmente no lago. — Os alarmes de perímetro estão quase
prontos — ele relata casualmente. — E instalei uma boia com sensor
de movimento na água. Não vai impedir alguém de entrar, mas pelo
menos vamos saber se o fizerem.
— Bom. — Giro os ombros, tentando afastar a tensão que se
instalou profundamente nos meus ossos. Uma semana atrás, era um
trabalho simples: manter Mia e suas filhas seguras. Mas depois de
tudo o que aconteceu entre nós, não sei mais que diabos isto é.
Zane vai até a varanda dos fundos, retornando alguns minutos
depois, depois de instalar o último sensor de movimento com um
pouco mais de força do que o necessário.
— Vocês fizeram isso juntos? — pergunto, olhando entre eles.
Asher se vira para me olhar. — Acho que temos tudo sob
controle.
Eles nem se olham, fingindo que está tudo bem. Normalmente,
Asher cantarola enquanto trabalha, ou faz algum comentário sobre
melhorar nosso equipamento. Hoje não. Hoje, ele está em silêncio
total.
Acho que posso apontar o momento exato em que as coisas
deram errado. Foi logo depois que Asher anunciou que estava indo
para Dubai. E não sou exatamente cego. Notei como ele tem sido
frio com as crianças nos últimos dias. Acho que Zane também notou,
porque logo depois, ele disse: "Que bom que você nos informou que
estava saindo em uma semana, seu idiota."
Asher está amargurado, e não é o único. Zane está igual. Eles
trabalham juntos há anos, se entendendo em situações de alta
pressão sem falar. Mas agora, é como se estivessem desafiando um
ao outro a estourar primeiro.
Me apoio na porta da sala de vigilância. — Vocês dois vão
conversar, ou vamos simplesmente aceitar que essa é a vibe agora?
Asher não olha para cima. — Estamos trabalhando.
— Sim. Alguns de nós realmente fazemos isso.
Aí está.
Meu olhar passa entre eles enquanto a irritação cresce em mim.
Este não é o momento para o que quer que seja isso.
— Isso deveria significar alguma coisa? — exijo.
— Nada — murmura Zane, mas seu maxilar treme quando ele
passa por mim para dentro da casa.
Asher exala bruscamente e murmura: — Jesus, cara.
Suspiro, observando Zane sair. — Quer me dizer que diabos foi
isso? — pergunto a Asher.
Seu maxilar se tensiona. — Não.
— Você está se afastando, Zane está se aproximando, e nenhum
de vocês está falando sobre isso. É isso, né?
Asher solta uma risada sem humor. — Você acha que tem tudo
resolvido, não é?
— Acho que sei o que estou vendo — rebato. — Entendo por que
você está agindo diferente, mas qual é a desculpa do Zane? Ele
normalmente não é o tipo que se envolve em problemas que não
são dele.
Isto não é apenas sobre Dubai, e todos nós sabemos disso. O
verdadeiro problema está atualmente no andar de cima.
Asher finalmente olha para mim, algo tremulando em seu olhar.
— Talvez você devesse se fazer a mesma pergunta.
Não reajo, mas as palavras atingem seu alvo. Sinto-as afundarem
como uma queimação lenta.
O interesse de Zane por Mia não é difícil de ver, não para mim. E
Asher? Ele já está com um pé fora da porta, tentando se convencer
de que esta não é a luta dele.
Enquanto isso, estou parado no meio de tudo, assistindo a coisa
toda desmoronar.
Isso está ficando ridículo. Já lidei com negociações de reféns em
zonas de guerra que eram menos tensas que isso. Entro mais fundo
na casa, tentando encontrar Zane. Talvez ele fosse melhor para
conversar do que Asher.
Ele está no balcão da cozinha agora, limpando sua arma com
movimentos lentos e deliberados que gritam não se aproxime. O ar
entre eles é espesso o suficiente para morder.
Eu deveria deixar isso para lá. Deveria deixar que resolvessem o
que diabos está acontecendo.
Mas não deixo.
Em vez disso, limpo a garganta. — Então... eu estava pensando,
talvez devêssemos todos nos sentar mais tarde, tomar uma cerveja,
falar sobre nossos sentimentos.
Dois pares de olhos se voltam para mim, expressões idênticas de
descrença e vago horror.
Asher pisca. — Você está morrendo?
Zane franze a testa. — Pisque duas vezes se o Jason te pegou.
Suspiro, apoiando-me no balcão. —Olha, eu entendo. As tensões
estão altas, e estamos todos um pouco-
—Um pouco? —zomba Asher. —Isso é generoso.
Zane murmura algo sob a respiração que não consigo ouvir, mas
pelo modo como a cabeça de Asher vira em sua direção, não foi
nada amigável.
Aperto a ponte do nariz. —Caso tenham esquecido, devíamos
estar trabalhando como uma equipe.
—Isso é sobre o Asher sair? —digo.
Asher não olha para mim. —Somos todos profissionais aqui, não
somos? Asher está saindo por um salário melhor. Bom para ele.
—Então ele sair não tem nada a ver com o fato de você estar
agindo como um cachorrinho chutado?
Zane termina de montar sua arma com um pouco de força
demais. —Você não sabe do que está falando. E certamente não
sabe o que está acontecendo comigo.
Eu acho que sei, sim. Zane gosta da Mia. Claramente aconteceu
algo entre eles. E o Asher. Jesus, não consigo mais me manter
coerente.
Asher resmunga entrando na cozinha. —Claro, porque você é
todo sobre trabalho em equipe.
—Oh, me desculpe —diz Zane com ironia. —Você queria que eu
assasse cookies e trançasse seu cabelo primeiro? Vamos todos
sentar em círculo e falar sobre nossos sentimentos. Podemos até
pegar o unicórnio de apoio emocional da Emma para nos ajudar.
—Meninos —digo, com minha paciência se esgotando.
Zane gesticula para Asher. —Diga a ele para parar de agir como
se já estivesse com um pé fora da porta.
Asher lança-lhe um olhar. —Diga a ele para cuidar da droga da
vida dele.
Exalo lentamente. —Digo a vocês dois para pararem de agir
como crianças de escola no recreio.
Eles me olham com raiva.
Gesticulo em direção à porta. —Talvez façamos algumas flexões,
gritemos para a floresta... o que quer que ajude vocês dois a se
recalibrarem.
Silêncio.
Zane finalmente solta uma risadinha. —Você é tão ruim nisso.
—Sou excelente nisso —argumento. —Vocês estão sendo difíceis.
Asher balança a cabeça, levantando-se. —É por isso que você
não dá apoio emocional, Damon.
Zane sorri com desdém. —É, isso foi doloroso para todos nós.
Esfrego minhas têmporas. —Certo, ótima conversa. Momento
real de união.
—A verdade é que fomos desleixados. —A voz de Asher é seca,
suas mãos agarrando a borda da mesa. —Todos nós.
Zane não levanta os olhos da arma. —Não comece.
—O quê? Você quer conversar, então vamos conversar —Asher
exala duramente. —Não vamos falar sobre como perdemos um
dispositivo de rastreamento porque estávamos ocupados demais
olhando para ela?
Endireito-me. —Asher, baixe a voz, cara.
Asher solta uma risada amarga, me ignorando. —Acho que sim.
Olhe para nós. A grande equipe de Segurança Mars, desfeita por
uma mulher e suas filhas.
A mão de Zane se fecha em torno de sua faca. —Cuidado.
Asher zomba. —Diga que estou errado.
Eu não digo. Não posso. Porque ele não está.
Estamos distraídos. Cruzando limites. Deixando emoções
atrapalharem.
Mas Mia não é o problema aqui. Nós somos.
—Baixamos a guarda —admito, as palavras afiadas. —Isso é
culpa nossa. Não dela.
Asher se recosta na cadeira, braços cruzados e olhos ardentes. —
Sim? Então qual é o plano, chefe? Continuar fingindo que podemos
fazer esse trabalho com nossas cabeças fodidas de seis maneiras
diferentes?
—Chega. —Minha voz cai para um tom de advertência.
—Então o que você sugere? Abandonamos o trabalho? Deixamos
ela e as crianças aqui sozinhas? —retruca Zane.
Asher desvia o olhar, maxilar tenso.
—Foi o que pensei —murmura Zane.
—Vou verificar os pertences delas. Cada brinquedo, cada peça de
roupa —diz Asher. —Farei o que precisar ser feito.
—Claro —diz Zane. —E pelo amor de Deus, guarde suas opiniões
para si mesmo.
Ambos saem em direções opostas, me deixando parado ali.
Missão: Não cumprida.
MIA
E
ncontro o jardim por acaso.
A casa do lago é construída para defesa - pontos altos de
observação, múltiplas saídas, paredes grossas. Mas o quintal é
surpreendentemente delicado. Flores silvestres aparecem por entre a
grama crescida, o projeto esquecido de alguém deixado para
florescer em desafio ao abandono.
Ajoelho-me, passando os dedos sobre um conjunto de flores
azuis. Alguém deve tê-las plantado um dia. Antes que tudo se
tornasse uma questão de sobrevivência.
— Você deveria estar descansando — a voz de Damon ressoa
atrás de mim.
Não me viro imediatamente. Em vez disso, arranco algumas
ervas daninhas, dando-me um momento. — Eu poderia dizer o
mesmo de você.
Ele não responde de imediato, e quando olho para trás, pego-o
me observando. Não da maneira como um guarda-costas observa
seu cliente, mas algo mais... pessoal. Algo que faz meu estômago se
contorcer.
Desvio o olhar. — Você trouxe outra pessoa aqui antes, não foi?
— Minha voz é cuidadosa, casual. — Outro cliente.
Ele expira, aproximando-se. — Sim.
Espero, meio que achando que ele vai deixar por isso mesmo.
Mas para minha surpresa, ele continua.
— O nome dela era Julia Stokes — diz ele. — Testemunha em um
caso federal de contrabando de armas. Nós a mantivemos aqui por
quatro meses antes do julgamento.
Olho para cima. — O que aconteceu?
A mandíbula de Damon se tensiona. — Ela testemunhou. O cara
foi preso, e ela entrou no programa de proteção a testemunhas. —
As mãos dele se fecham em punhos ao lado do corpo. — Mas eles a
pegaram, de qualquer jeito.
Um arrepio frio percorre meu corpo. — Você quer dizer...?
— Ela desapareceu seis meses depois da relocação. — Sua voz é
monótona. — Oficialmente, sem evidência de crime. Mas eu sei a
verdade.
Sento-me sobre os calcanhares, encarando a terra. Eu não
deveria ter perguntado. Agora o peso da perda dele paira entre nós,
denso e sufocante.
— Não quero que isso aconteça com você — diz Damon baixinho.
Engulo em seco. — Eu também não.
O silêncio se estende. Os únicos sons são o farfalhar das folhas e
o chamado distante de um pássaro sobre o lago.
Então ele se agacha ao meu lado, pegando um pedaço de hera
crescida e girando-o entre os dedos. — Eu odeio esperar, Mia. Odeio
sentir como se fôssemos apenas patos sentados.
— Não somos — digo a ele. — Você está fazendo tudo o que
pode.
Seus olhos cinzentos encontram os meus, ilegíveis. — Não é o
suficiente.
Torço a hera perdida entre meus dedos, fingindo me concentrar
nas raízes emaranhadas no solo. Mas minha mente não está nas
flores.
O solo é áspero, seco. Negligenciado. Meio como esta conversa.
Algo que eu deveria ter cuidado antes, antes que crescesse
selvagem e fora de controle.
— Eu te ouvi no outro dia — digo, com a voz mais baixa do que
pretendia.
Damon não se move. Nem mesmo pisca. — Você vai precisar ser
mais específica. — Mas a tensão em seus ombros é inconfundível.
Uma leve mudança, uma contração de músculos, como se estivesse
se preparando para algo.
Suspiro. — Sobre o jeito que Zane e Asher estão agindo. Sei que
você não disse em voz alta, mas não sou tão lenta. Eu entendo o
que está acontecendo.
— E?
— E — digo, forçando-me a olhar para ele —, você acha que eles
estão envolvidos demais.
Sua mandíbula treme. — Eu sei que estão.
Engulo seco, passando as mãos pelas coxas, de repente nervosa.
Odeio essa sensação: estar insegura, desequilibrada. Mas não há
como voltar atrás agora.
— Eu os beijei — admito.
Desta vez, sua reação é perceptível. Uma inspiração brusca, um
lampejo de algo indecifrável em seus olhos cinzentos. Mas
desaparece tão rápido quanto surgiu.
Não sei o que esperava. Raiva? Frustração? Um sinal de que
realmente importa para ele?
Em vez disso, ele expira longa e lentamente. — E?
Pisca. — E? — repito. — É tudo o que você tem a dizer?
— O que você quer que eu diga, Mia? — Sua voz é equilibrada,
mas há uma tensão nela agora.
— Não sei — admito, de repente me sentindo ridícula. — Que
você se importa? Que está puto? Que você... — paro, balançando a
cabeça. — Deixa pra lá.
Ele me observa, olhos escuros e ilegíveis. Então, finalmente, diz:
— Eu não tenho o luxo do ciúme.
As palavras se acomodam em meu peito como chumbo. Pela
primeira vez, eu vejo - o jeito como ele está se contendo. Não
porque não se importa, mas porque acha que não pode. Porque
Damon Marlow não se permite querer coisas que não pode proteger.
Aproximo-me, vasculhando seu rosto. — E se eu quiser que você
sinta ciúmes?
— Então você está jogando um jogo perigoso, Mia.
Um pequeno sorriso sem humor puxa meus lábios. — Parece ser
um padrão meu.
Meu Deus, o que diabos estou dizendo? O que estou pensando?
— Isso foi um erro — murmuro, balançando a cabeça. —
Esquece o que eu disse...
— Mia — ele diz, meu nome áspero em sua garganta.
Levanto uma mão, desesperada para salvar as aparências. —
Não, sério. Eu... eu não deveria ter...
Seus olhos escurecem, algo mudando em sua postura. — Você
esteve com eles — ele diz.
Minha garganta aperta. — Sim.
Seu olhar cai ligeiramente antes de voltar ao meu. — E agora
você está aqui, me dizendo que não quer escolher.
Engulo com dificuldade, mãos se fechando em punhos. — Eu...
Damon dá um passo à frente, lento e deliberado. — Você quer
todos nós.
A forma como ele diz isso faz meu estômago revirar. Eu abro
minha boca, mas nada sai.
Seus olhos examinam os meus, como se esperando que eu volte
atrás. Que eu negue.
Mas não nego.
Eu não posso.
Damon solta o ar, passando a mão pelo cabelo. Ele desvia o
olhar, maxilar tenso, músculos contraídos.
— Eles sabem? — Damon pergunta.
Balanço a cabeça. — Não.
Algo reluz em seu olhar. — Então conte para eles. — E com isso,
ele se afasta.
MIA
O
uísque queima quente em meu peito, afrouxando os nós de
tensão que venho carregando há dias. A presença sólida de
Zane ao meu lado parece certa, confortável. A cozinha está
fracamente iluminada, o único som sendo o tilintar ocasional do gelo
em meu copo enquanto rodo o líquido âmbar.
Mas algo está faltando.
Damon ainda está perdido em seus próprios pensamentos,
andando pelas bordas do esconderijo como um predador enjaulado.
E Asher, ele está se distanciando cada vez mais. No início, pensei
que fosse apenas sua natureza geralmente descontraída, sua
habilidade de se misturar ao ambiente quando necessário. Mas
agora vejo pelo que realmente é. Ele está recuando. Se afastando.
E não posso deixar isso acontecer.
Dou mais um gole, deixando o calor se acomodar antes de falar.
— Isso parece diferente agora, não é?
Zane não responde imediatamente. Ele se recosta na cadeira,
girando o copo entre as palmas das mãos, o olhar fixo no balcão. —
Sim — diz finalmente. — Parece.
Passos soam no corredor. A porta range levemente quando Asher
aparece na entrada, seu rosto indecifrável. Seu habitual sorrisinho
desapareceu, substituído por algo mais quieto, mais distante.
Pousei meu copo. — Precisamos conversar.
Asher não se move da porta. — É? — Sua voz é suave, mas há
uma tensão nela. — Sobre o quê?
— Você — digo, encontrando seus olhos. — Nós.
Ele dá um bufo e cruza os braços. — Não existe "nós", Mia.
Existe você e Zane, e o Damon ruminando no canto.
Olho para Zane, que não discute. Ele sabe que esta conversa é
minha.
Levanto-me, aproximando-me de Asher, forçando-o a realmente
me ver. — Sei que você está se afastando.
Seu maxilar endurece. — Você acha que sabe.
— Eu sei mesmo — digo com firmeza. — E não quero que você
faça isso.
Algo cintila em seu olhar, mas ele não deixa transparecer.
Balança a cabeça, soltando uma risada áspera. — Mia, você está
realmente complicando as coisas.
— Acho que já está complicado — rebato.
Zane exala. — Você não está exatamente errada.
Asher me encara por um longo momento, algo ilegível em sua
expressão. Então, finalmente, suspira. — Então o que devemos
fazer?
Alcanço sua mão, meus dedos roçando seu pulso. Asher olha
fixamente para minha mão em seu pulso, a tensão em seu corpo
indecifrável. Um músculo se contrai em seu maxilar.
Zane observa de seu assento, quieto mas presente, seus dedos
tamborilando levemente contra o copo de uísque. Ele está me
deixando assumir a liderança, me deixando escolher. Mas esse é o
problema – não quero escolher. Nem entre eles. Nem entre nenhum
deles.
Asher exala, passando a mão pelos cabelos. — Mia — diz
finalmente, com voz áspera. — Isso, seja lá o que for, você tem que
saber o quão confuso vai ficar.
Mantenho seu olhar. — Já está.
Seus lábios se contraem, como se quisesse sorrir ironicamente,
mas não conseguisse completamente. — Justo. — Seus olhos vão
para Zane, depois de volta para mim. — E o Damon?
Engulo em seco, meus dedos apertando seu pulso. — Eu falei
com ele.
Zane solta uma risada seca. — E?
Suspiro. — E ele não exatamente fechou a porta para isso.
Asher solta o ar lentamente, chegando mais perto. — Então o
quê, você acha que podemos simplesmente... o quê? Compartilhar
você? — Há algo sombrio em sua voz, algo que ele está tentando
reprimir.
Ergo o queixo. — Eu não acho nada. Só sei que não quero mais
fingir. Nem com você, nem com Zane, nem com Damon. — Meu
coração dispara enquanto me forço a continuar. — Não sei como
funciona, ou se pode funcionar. Mas sei que sinto algo por todos
vocês. E acho... — Respiro tremulamente. — Acho que vocês
também sentem algo por mim.
Asher me encara, seus olhos azuis escuros e indecifráveis. Zane
se move em seu assento, esfregando o queixo, claramente
mergulhado em pensamentos.
O braço de Asher fica tenso sob meu aperto, seu corpo todo
rígido como se estivesse lutando contra si mesmo. Seu maxilar se
contrai enquanto olha para mim, depois para Zane, depois de volta
para mim.
— Não me diga que vocês nunca fizeram um ménage antes —
digo.
Zane e Asher trocam um olhar. — Esse não é o ponto — diz
Zane.
— Ele está certo. Desta vez é diferente. Você é diferente — diz
Asher. Ele não diz em voz alta, mas posso sentir. Ele se importa
comigo.
— Vou verificar o perímetro — diz Asher, tentando se livrar do
meu aperto.
— Por favor, fique — insisto. — Quero vocês dois, por favor. Ao
menos considere isso.
— Você acha que isso é um jogo, Mia? — A voz de Asher é
áspera, com um tom que não consigo identificar.
Arqueio uma sobrancelha, meus dedos percorrendo o antebraço
de Asher enquanto seguro Zane. — Não, acho que é uma
oportunidade. E acho que vocês dois estão com medo.
Zane solta um suspiro, passando a mão pelo rosto. — Isso não é
sobre medo, Mia.
— Não é? — desafio, chegando mais perto. — Do que vocês têm
medo? De que vão gostar?
As narinas de Asher se dilatam, suas mãos se flexionando dos
lados. — Estou indo embora.
— Exatamente — digo suavemente. — Então o que está te
impedindo de pegar o que quer enquanto ainda está aqui?
Zane exala bruscamente atrás de mim. Asher pragueja baixinho.
— Porra — murmura Asher, balançando a cabeça. — Isso é uma
péssima ideia.
— Talvez. — Pressiono meu corpo contra o de Zane, sentindo seu
calor através das roupas. — Mas você quer mesmo assim.
Os dedos de Zane se contraem em minha cintura. — Mia...
— Fique — sussurro, olhando entre eles. — Fique esta noite.
O pomo de adão de Zane se move. Asher exala pelo nariz, seus
olhos escuros.
— Uma noite — rosna Asher. Ele não se move, mas quando me
viro para encará-lo, suas mãos deslizam pelos meus braços, sobre
meus ombros, finalmente entrelaçando em meu cabelo.
— Espero que você saiba onde está se metendo — murmura.
— Eu sei — digo.
Os lábios de Asher colidem com os meus, e Zane me puxa de
volta contra seu peito. E sei que estou exatamente onde deveria
estar.
A boca de Asher reclama a minha, áspera e exigente, seu aperto
firme enquanto inclina minha cabeça para trás. Sua língua desliza
contra a minha, roubando meu fôlego, incendiando meu corpo.
Antes que eu possa processar, as mãos de Zane deslizam pela minha
cintura, agarrando meus quadris, amassando minha bunda.
Um gemido escapa de mim, engolido pelo beijo de Asher. Os
lábios de Zane encontram a lateral do meu pescoço, arrastando-se
sobre minha pele, seus dentes raspando enquanto sua língua alivia a
ardência. Meu corpo inteiro estremece com a sensação de estar
presa entre eles, o calor deles pressionando-me de ambos os lados.
— Porra — Asher sussurra contra meus lábios. — Você realmente
quer nós dois?
Não consigo nem formar palavras, perdida demais na forma
como a boca de Zane se move contra minha garganta, na maneira
como os dedos de Asher pressionam minhas laterais. Em vez disso,
aceno com a cabeça, ofegando quando Zane morde, forte o
suficiente para me fazer tremer.
— Ela está tremendo — murmura Zane, sua voz mais baixa, mais
áspera do que jamais ouvi. — Tem certeza de que consegue lidar
com isso, querida?
Minha risada sai sem fôlego, necessitada. — Tenta ver.
Asher rosna, agarrando a barra da minha blusa e puxando-a
sobre minha cabeça em um movimento rápido. As mãos de Zane
deslizam pelas minhas costas, seu toque firme, possessivo. Então
seus dedos escorregam para baixo do cós do meu short,
provocando, testando.
— Puta merda — murmura Asher, segurando meu rosto enquanto
me beija novamente, mais devagar desta vez, mas com a mesma
intensidade. Seu polegar acaricia minha maçã do rosto antes de
descer, traçando a curva dos meus lábios antes de deslizar mais
baixo, sobre a coluna da minha garganta, minha clavícula.
As mãos de Zane são mais brutas, mais desesperadas enquanto
aperta minha bunda, apertando, pressionando-me com mais força
contra ele. — Ela já está encharcada — ele diz a Asher, a voz cheia
de diversão sombria. — Parece que ela realmente queria isso.
Asher geme, sua testa pressionando contra a minha por um
momento antes de se afastar o suficiente para olhar nos meus olhos.
— Cama — ele ordena. — Agora.
O calor se acumula no fundo do meu estômago com a dominação
crua em sua voz, com a maneira como os dedos de Zane apertam
meus quadris como se quisesse discutir, querendo me possuir aqui
mesmo contra a parede.
Mas não hesito. Pego as mãos dos dois e os conduzo até o
quarto. A porta do quarto mal se fecha antes que Asher e Zane
estejam em cima de mim novamente, todo calor e desespero.
Asher me empurra contra o colchão. Zane ajoelha-se ao meu
lado, seus dedos já deslizando sob o cós do meu short, tirando-o
centímetro por centímetro, provocando. A antecipação faz minha
pele formigar, e minha respiração vem em suspiros fortes e
irregulares.
— Porra, Mia — murmura Asher, arrastando uma mão pela minha
coxa.
Zane solta uma risada, suas mãos envolvendo minha cintura
enquanto se inclina, beijando meu estômago, sua língua roçando
contra minha pele. — Você deveria ter se visto lá embaixo — ele
murmura. — Sentada entre nós, parecendo pronta para ser
devorada.
Solto uma respiração trêmula, minha cabeça inclinando-se para
trás enquanto Zane puxa minha calcinha para baixo, deixando-me
completamente nua diante deles. O ar está denso de desejo, meu
corpo queimando sob o olhar combinado deles. Asher me observa
com uma intensidade sombria, seus olhos azuis incandescentes
enquanto suas mãos percorrem meus quadris, abrindo minhas
pernas.
— Absolutamente linda — Zane respira, seus dedos deslizando
entre minhas coxas, provocando meu clitóris em círculos lentos e
deliberados. Minhas costas arqueiam, um gemido necessitado
escapando dos meus lábios, mas ele ainda não me dá o que quero.
Asher se inclina, roçando sua boca pela parte interna da minha
coxa, sua respiração quente contra minha pele sensível.
Percebo que ele está realmente quieto, mas suas mãos
percorrendo meu corpo não diminuíram o ritmo.
Zane me inala. — Você já está tremendo — ele murmura, seus
dedos agarrando meus quadris enquanto me arrasta para mais perto
da borda da cama. — Acha que consegue aguentar nós dois,
querida?
Não tenho chance de responder antes que Zane pressione seus
dedos mais profundamente contra meu clitóris, esfregando em
círculos firmes e torturantes. Minhas pernas tremem, um gemido
escapando de meus lábios enquanto o prazer ondula através de
mim.
— Caralho, ela está encharcada — diz Zane, sua voz áspera de
aprovação. — Asher, acho que ela está pronta para sua boca.
Mal tenho tempo de registrar suas palavras antes que a língua de
Asher substitua os dedos de Zane, lambendo meu clitóris com
precisão agonizante. Meus dedos se enredam em seu cabelo
enquanto ele me devora, sua língua movendo-se em golpes lentos e
deliberados, extraindo cada gota de prazer.
Zane beija seu caminho pelo meu corpo, sua boca reivindicando
a minha em um beijo desesperado e faminto. Suas mãos apertam
meus seios, rolando meus mamilos entre seus dedos enquanto a
língua de Asher trabalha em mim. A combinação faz meu corpo
inteiro se contrair, o prazer insuportável.
Gemo contra a boca de Zane, a tensão no meu núcleo se
apertando, minhas coxas tremendo enquanto Asher murmura contra
meu clitóris.
— Goza para nós, Mia — murmura Zane, seu hálito quente contra
meus lábios. — Deixa a gente sentir você.
Asher geme contra mim, sugando meu clitóris em sua boca
enquanto seus dedos deslizam para dentro de mim, curvando-se no
ponto exato. O prazer é cegante, agudo, avassalador. Meu corpo se
contrai, e então estou caindo, o prazer atravessando-me em ondas.
Zane engole meus gritos com outro beijo profundo enquanto
Asher me lambe durante todo o orgasmo, sua língua suavizando
contra meu clitóris hipersensível, extraindo até o último tremor.
Quando finalmente volto a mim, ofegante e trêmula, Asher limpa
a boca com as costas da mão enquanto Zane tem um sorriso
satisfeito no rosto.
— Primeiro round — ele diz, sua voz espessa de divertimento. —
Acha que aguenta mais?
— Sim — respiro, alcançando-os. — Mas acho que vocês
precisam tirar a roupa primeiro. Parece bem injusto aqui.
Zane puxa sua camisa sobre a cabeça em um movimento rápido,
seus músculos flexionando-se na luz fraca enquanto se inclina
novamente, sua boca traçando fogo pelo meu pescoço. Suas mãos
são gananciosas, vagando sobre meu corpo, apertando, reclamando.
Mal tenho tempo de recuperar o fôlego antes que Asher esteja atrás
de mim, puxando-me contra seu peito nu. Seu corpo é sólido e
quente, e suas mãos são ásperas enquanto deslizam sobre minha
pele. Ele não precisa de palavras para mostrar sua intenção.
Zane levanta meu queixo, beijando-me profundamente, sua
língua deslizando contra a minha de uma forma que me deixa tonta.
Atrás de mim, os lábios de Asher roçam meu ombro, sua respiração
quente e medida. Ele não fala, não precisa. A maneira como suas
mãos se espalham sobre minhas costelas, seus dedos deslizando
mais para baixo, me diz tudo.
As mãos de Zane deslizam pelo meu estômago, sobre meus
quadris, abrindo minhas coxas mais. Seus dedos traçam minha
umidade antes de empurrar dois para dentro de mim, curvando-os
perfeitamente. Minha cabeça cai contra o peito de Asher, um suspiro
escapando dos meus lábios.
— Porra, você é apertada — murmura Zane, observando meu
rosto enquanto move seus dedos em golpes lentos e deliberados.
Asher não fala, apenas agarra minhas coxas, mantendo-me
aberta enquanto Zane trabalha em mim. Sua boca desce pelo meu
pescoço, sobre meu ombro, seus dentes roçando minha pele. Minha
respiração falha, um gemido desamparado escapando dos meus
lábios.
— Está gostoso? — Zane pergunta, sua voz escura de
divertimento. Ele pressiona seu polegar contra meu clitóris,
esfregando círculos lentos e provocantes.
Não consigo responder. Mal consigo pensar. A sensação de
ambos me cercando, me consumindo, é demais.
Zane ergue minha perna sobre sua coxa, me abrindo enquanto
lambe uma linha lenta e provocante descendo pelo meu seio. Sua
língua circula meu mamilo antes de sugá-lo para dentro de sua boca,
puxando o suficiente para me fazer arquear contra o peito de Asher.
Um som sufocado escapa da minha garganta enquanto os dedos de
Asher encontram seu caminho entre minhas pernas, deslizando pelo
calor úmido da minha excitação.
— Porra — murmura Zane, observando Asher me acariciar com
movimentos preguiçosos e metódicos. — Tá sentindo isso, Ash?
Asher solta uma exalação áspera, mas ainda não fala. Ele
mantém seus dedos lentos, mal entrando em mim, arrastando até
que eu esteja me contorcendo contra ele.
Zane ri, um som escuro e satisfeito. — Ele está te fazendo
esperar, baby. Ele gosta de te ver assim.
Eu solto um gemido baixo, virando a cabeça levemente para
olhar para Asher, mas seu rosto é ilegível, focado inteiramente na
forma como meu corpo se move sob seu toque.
Zane puxa minha perna mais para cima, me abrindo mais
enquanto se inclina, sua respiração quente contra meu clitóris. —
Aposto que você tem um gosto tão doce — murmura antes de sua
língua passar de leve, apenas um toque sutil sobre o conjunto
sensível de nervos.
Eu suspiro, minhas coxas tremendo enquanto ele toma seu
tempo, me lambendo com movimentos lentos e torturantes. Asher
aperta seu controle em meus quadris, me mantendo parada
enquanto Zane me devora, a pressão crescendo tão
agonizantemente lenta que sinto como se fosse estourar.
Zane suga meu clitóris para sua boca, gemendo enquanto passa
sua língua contra ele, repetidamente, me mantendo na beira, mas
nunca me deixando cair.
— Zane — eu imploro, mal reconhecendo minha própria voz.
Ele murmura contra minha orelha, o som profundo, possessivo.
Seus dedos se retiram, apenas para a cabeça grossa do seu pau
pressionar contra minha entrada. Meu corpo se contrai em
antecipação, o alongamento grosso enquanto ele empurra para
dentro, centímetro por centímetro.
As mãos de Asher apertam minhas coxas, seu controle
possessivo enquanto ele se move atrás de mim. Sua respiração
falha, e sinto a pressão inconfundível do seu pau contra minha
lombar. Ele está se contendo, apenas.
Zane sorri com malícia, notando como meu corpo reage. — Você
quer ele também, não é? — Seus dedos penetram mais fundo,
provocando outro gemido desesperado.
Não preciso responder. Meu corpo faz isso por mim.
Zane se retira e observa enquanto Asher se enterra dentro de
mim, seu maxilar tenso, suas mãos tremendo levemente onde
seguram minhas coxas.
— Ela é tão apertada — Asher finalmente fala, sua voz áspera
com contenção.
Zane geme, seus dedos apertando meus quadris enquanto
observa Asher investir contra mim, lento e profundo, como se
estivesse saboreando cada centímetro.
Não consigo respirar. Cada movimento é dolorosamente lento,
arrastando o prazer até que estou ofegante, desesperada por mais.
Asher agarra minha cintura, me mantendo no lugar enquanto se
retira quase completamente antes de afundar de volta, me
preenchendo com precisão agonizante.
Zane passa seus dedos por minhas dobras molhadas, provocando
meu clitóris enquanto Asher me fode naquele ritmo implacável e
perfeito.
— Olha só para você — murmura Zane, me observando
desmoronar entre eles. — Aguentando tão bem.
Eu me estendo para Zane, agarrando seus ombros enquanto
Asher investe mais profundamente, seu pau atingindo aquele ponto
dentro de mim que faz minha visão ficar branca. Zane me beija,
engolindo meus gemidos enquanto desliza seu polegar sobre meu
clitóris, perfeitamente sincronizado com os movimentos calculados
de Asher.
Um gemido baixo ressoa do peito de Asher, suas mãos
flexionando em meus quadris. Ele ainda não fala, mas o jeito como
me segura, o jeito como seu corpo treme levemente enquanto me
ajusto a ele, diz mais do que palavras jamais poderiam.
Zane se ajoelha na minha frente, observando com olhos escuros
e famintos enquanto eu me movo. Suas mãos deslizam pelas minhas
coxas, meu estômago, antes de se inclinar, tomando meu seio em
sua boca, sugando forte. O prazer me atravessa, agudo e
avassalador.
Asher continua investindo dentro de mim, lento e profundo, seu
aperto marcando meus quadris. Ele está me deixando sentir cada
centímetro, cada pulsação.
Ele rosna meu nome contra minha pele enquanto investe mais
forte, mais profundo, seu orgasmo perseguindo o meu enquanto
Zane observa, seus dedos ainda me acariciando através dos
espasmos.
Mal tenho tempo de recuperar o fôlego antes de Zane me puxar
para ele, me virando em um movimento rápido. Seus olhos estão
escuros, cheios de desejo enquanto afasta minhas pernas.
— Minha vez — ele murmura, pressionando a grossura do seu
pau contra minha entrada ainda sensível.
Zane toma seu tempo, empurrando dentro de mim em um
movimento lento e deliberado, me preenchendo centímetro por
centímetro até que me sinto impossivelmente esticada. Meu corpo
ainda está pulsando de Asher. Estou hipersensível e submissa, mas
Zane não se apressa. Ele me observa, seus olhos escuros e
ininteligíveis, como se estivesse memorizando a forma como reajo a
ele.
— Ainda com a gente, baby? — ele murmura, roçando os nós dos
dedos pela minha bochecha.
Não consigo formar palavras, então apenas aceno fracamente,
meu corpo derretendo no colchão enquanto ele começa a se mover.
Suas investidas são profundas e sem pressa, como se estivesse
saboreando cada segundo dentro de mim. Meu corpo se aperta ao
redor dele, desesperado por mais, mas ele mantém seu ritmo lento,
provocante, arrastando o prazer até que estou tremendo embaixo
dele.
Atrás de mim, Asher não sai. Ele está apoiado em um cotovelo,
seu olhar fixo onde o pau de Zane desaparece dentro de mim. Seus
dedos traçam meu quadril, seu toque leve mas possessivo. Eu tremo
com a intensidade do seu foco, a forma como seu polegar desenha
círculos contra minha pele como se estivesse me mantendo
ancorada.
— Porra, que linda — murmura Asher, sua voz crua.
Zane geme, agarrando meus quadris com mais força. — Tá
sentindo isso, querida? Como você está apertada ao meu redor?
Como se seu corpo fosse feito para isso.
Eu gemo baixinho, arqueando para suas estocadas, minhas
unhas cravando em suas costas. Ele se inclina, capturando meus
lábios em um beijo que é totalmente consumidor - quente, lento,
possessivo. Ele tem gosto de mim, de Asher, de cada coisa
pecaminosa que fizemos esta noite.
Asher se move atrás de mim enquanto Zane me vira para ele, me
deitando de lado para que seu pau atinja um ângulo mais profundo.
Ao mesmo tempo, Asher pressiona uma linha de beijos descendo
pela minha espinha, sua boca demorando-se na curva da minha
lombar. — Mais — eu sussurro, sem saber a quem estou implorando.
Zane ri de forma sombria. — Mais? — Ele se retira quase
completamente, arrastando a cabeça do seu pau sobre meu clitóris
antes de afundar de volta, o alongamento fazendo minha respiração
falhar.
Os dedos de Asher deslizam entre minhas pernas, encontrando
meu clitóris inchado e sensível. Ele o circula lentamente,
provocando, construindo a tensão novamente. Meu corpo está preso
entre os dois - Zane investindo dentro de mim com precisão
calculada, os dedos de Asher implacáveis em seu tormento.
Estou perto de novo, já oscilando na beira. Meu corpo aperta, o
prazer se enrolando de forma aguda e insuportável.
— Goza pra gente — Zane murmura contra meus lábios. — Se
entrega, baby.
Asher pressiona mais forte, uma carícia perfeitamente
sincronizada contra meu clitóris, e eu me despedaço. Meu orgasmo
explode sobre mim, meu corpo se apertando tão forte ao redor de
Zane que ele geme, seu controle escorregando. Ele investe mais
rápido agora, perseguindo seu próprio prazer, seu aperto marcando
meus quadris.
Asher beija meu ombro, sussurrando coisas que nem consigo
processar, perdida no prazer avassalador.
Zane dá uma última estocada, enterrando-se profundamente, um
gemido gutural escapando de sua garganta enquanto goza. O peso
dele me pressiona contra o colchão, sua respiração quente contra
meu pescoço.
Por um longo momento, nenhum de nós se move. Meu corpo
vibra, superestimulado e exausto, preso no calor de ambos.
Zane é o primeiro a se mover, afastando o cabelo úmido da
minha testa, seu toque inesperadamente delicado. Asher observa,
ainda quieto, mas seu olhar está mais suave agora, como se algo
dentro dele finalmente tivesse se acalmado.
Fecho os olhos, exalando tremulamente. Eu deveria me sentir
sobrecarregada. Confusa.
Mas tudo que sinto é... que está certo.
Me sento lentamente, os lençóis se acumulando na minha
cintura, meu corpo ainda pulsando pelo que acabou de acontecer.
Zane se apoia nos cotovelos, me observando com algo ilegível em
seus olhos — intensidade, talvez possessão. Mas Asher... Asher ficou
tenso, encarando o teto como se já estivesse a milhões de
quilômetros de distância.
Uma sensação de afundamento se instala no meu estômago.
Zane passa a mão pelo cabelo, sua respiração ainda irregular, e
quando finalmente fala, sua voz é baixa. — Isso foi... caralho. — Ele
balança a cabeça, lábios se abrindo como se quisesse dizer mais,
mas não o faz.
Me viro para Asher. Ele ainda não olha para mim. A tensão irradia
dele em ondas, seu maxilar tão travado que parece que vai quebrar.
Meu peito aperta. Engulo em seco, enrolando o lençol ao meu
redor como uma armadura. — Se isso foi um erro — digo, com a voz
pouco acima de um sussurro — apenas diga.
O olhar de Zane se volta para mim como se estivesse prestes a
argumentar, mas Asher é quem fala primeiro.
Ele exala bruscamente, seus dedos pressionando as têmporas. —
Não foi... — Ele para, inspira profundamente. — Não deveria ter
acontecido.
As palavras me atravessam como uma faca.
A expressão de Zane escurece. — Que porra isso significa? —
Sua voz é baixa, afiada com algo perigoso.
Asher finalmente encontra meus olhos, e o arrependimento está
estampado em todo o seu rosto. — Estou indo embora — ele diz,
sua voz mais quieta agora. — Isso... complica as coisas.
— Complica as coisas — repito, com a garganta apertada.
Zane se senta completamente agora, raiva brilhando em seu
rosto. — Você acha que se afastar vai facilitar as coisas? Para quem?
Asher não responde. Ele apenas desvia o olhar.
Sinto como se tivesse sido eviscerada. Isso é exatamente do que
eu tinha medo, exatamente por que eu disse a mim mesma que era
uma má ideia. Mas eu queria acreditar nisso, neles. Eu forcei
demais, rápido demais.
Dou uma risada amarga, balançando a cabeça. — Você estava
todo empolgado quando minhas pernas estavam envolvendo você,
Asher.
Seu maxilar se contrai. — Não faça isso.
— Não, você não faça isso. — Minha voz vacila. — Você não pode
fazer isso, me atrair e depois agir como... — Minha respiração falha.
— Como se não significasse nada.
Seus olhos chamejam, e por um segundo, algo ilegível cruza seu
rosto. Mas então ele apenas balança a cabeça, levanta-se e pega
suas roupas.
— Eu deveria ir verificar o perímetro — ele murmura.
Solto uma risada vazia. — Claro. Fuja.
Ele não discute. Apenas veste sua camisa e sai pela porta,
deixando apenas silêncio em seu rastro.
18
ASHER
O
sol da manhã se infiltra pelas persianas, mas não faz nada para
aquecer o gelo alojado no meu peito. Minha cabeça lateja
enquanto encaro os monitores de segurança, as imagens
granuladas repetindo-se sem sentido. Não dormi, não parei de me
movimentar desde que saí daquele quarto.
Desde que deixei eles.
Giro os ombros, tentando me livrar da tensão, mas ela
permanece, pressionando meus ossos como um peso que não
consigo descarregar. Meu turno terminou há horas, mas não o
entreguei. Precisava de algo—qualquer coisa—para evitar pensar
sobre o que aconteceu ontem à noite.
O que eu fiz.
O que eu quero.
O perímetro está seguro. Sem sinal dos homens de Whitmore,
nenhuma nova ameaça, nenhuma desculpa para eu ainda estar aqui,
mas não me movo. Encaro os monitores, observando o nada,
deixando as telas piscantes abafarem os pensamentos que arranham
o fundo da minha mente.
Mas eles se infiltram, mesmo assim.
Mia está sobre mim, todo seu peso sobre meu corpo, mas ela
parece praticamente leve como uma pluma. Seu corpo se
contorcendo, seus suspiros, o modo como ela cedeu tão facilmente,
tão disposta.
Zane, observando. Tocando. Desejando.
Passo a mão pelo maxilar, exalando bruscamente. Puta merda.
Deveria ter sido um erro. Eu deveria sentir arrependimento, mas
não sinto. Não do jeito que deveria.
Penso na maneira como Zane olhou para ela. Como não era
apenas sexo para ele. Como não seria apenas sexo se acontecesse
de novo. Quão fácil seria dizer sim para mais.
Essa é a parte que mais me assusta.
Ouço movimento atrás de mim—alguém entrando na sala—mas
não me viro. Já sei quem é.
Mia.
Ela não diz nada inicialmente, apenas paira perto da porta. Posso
sentir seus olhos em mim, esperando. Não olho para ela.
—Você não dormiu —ela diz.
—Não precisei —murmuro, clicando entre as câmeras de
segurança, embora já saiba que não há nada novo.
Mia não acredita. Ela se aproxima, e sinto um vestígio de seu
perfume—algo suave, algo familiar—e isso me destrói novamente.
Ela suspira. —Asher...
—Não. —Minha voz está áspera, carregada com algo que não
quero nomear. Finalmente olho para ela, e caralho, isso é um erro.
Ela está ali, braços cruzados, sua expressão indecifrável, mas seus
olhos... eles ainda guardam a noite passada neles.
Ela ainda está pensando nisso.
Cerro os punhos, tentando me ancorar a algo sólido, mas é inútil.
Ela está perto demais, me olhando como se esperasse que eu
admitisse algo que não posso.
Então faço o que faço de melhor. Me fecho.
—Mãe, precisamos de você! —Emma chama.
—Você deveria ir —digo, com voz monótona. —Emma está te
chamando.
Os lábios de Mia se comprimem, mas ela não discute. Apenas
assente, sua decepção como algo físico no ar entre nós.
Ela se vira para sair, mas vira-se novamente no último segundo.
—Você as diferencia tão facilmente. As pessoas nunca conseguem
fazer isso, sabia?
Com isso, ela se vai.
Da minha cadeira na sala de segurança, ouço a voz de Emma
vindo da cozinha, aguda e cheia de excitação.
—Damon! —Emma exclama. —Estávamos procurando por você.
—O que foi, pequena? —Damon responde.
Fecho os olhos. Eu estava tão com ciúmes quando o vi com Mia
naquele dia. Pensei que se pudesse tê-la apenas uma vez, isso
poderia fazer essa sensação horrível no meu peito ir embora. Mas
não é a verdade. E isso me dá todas as respostas que preciso ter
sobre ela.
Tenho sentimentos por ela. E o pior? Meu amigo e meu chefe
também têm.
Não posso fazer isso. É insano.
Apesar de mim mesmo, não consigo deixar de sintonizar na
tagarelice de Ella. Ela está contando a Damon uma história
elaborada sobre as aventuras de seu urso de pelúcia—algo sobre ele
ser um urso espião com olhos laser e um jetpack. Damon entra na
brincadeira, sua risada profunda ecoando pela casa como se
pertencesse ali.
Como se ele pertencesse aqui.
Mesmo que não possa vê-los, posso imaginar a intimidade
casual. Ele sentado à mesa com ela, assentindo nos momentos
certos, fingindo estar fascinado pela imaginação de uma criança—
isso faz meu peito doer de um jeito que não gosto de examinar.
Esfrego o rosto com a mão e pego meu telefone. Uma distração.
Algo para me tirar da minha própria cabeça.
A tela acende. Uma notificação da minha caixa de entrada que
diz: "Contrato Dubai—Assinatura Final Necessária".
Encaro as palavras, deixando-as assentar. Cinco dias. Cinco dias
até eu partir.
Deveria ser um alívio. Deveria parecer uma fuga.
Em vez disso, olho de volta para a cozinha, para as risadas e o
calor que se infiltram no espaço que tentei tanto manter frio.
E me pergunto por que diabos não sinto mais vontade de fugir.
De repente, o alerta de segurança soa suavemente, o que só
pode significar uma coisa. Movimento detectado na beira do lago.
Endireito-me, meu pulso acelerando. Provavelmente apenas um
cervo ou algum outro animal selvagem, mas algo me faz aproximar a
imagem. A névoa paira baixa sobre a água, engolindo a margem em
cinza. Nada se move.
Pego minha arma e me movimento rapidamente pela casa.
Damon e Zane estão ocupados, e Mia subiu com as meninas. Não há
tempo para alertar ninguém. Se há alguém lá fora, preciso saber
como chegaram tão perto.
Ao sair, o ar fresco da manhã não alivia em nada a tensão que
desce pela minha espinha. Minhas botas mal fazem barulho na terra
úmida enquanto me dirijo ao lago, olhos esquadrinhando, ouvidos
atentos.
Mas então eu as vejo. Pegadas de botas. Frescas.
Um arrepio desce pela minha espinha.
Então—um estalo agudo. Uma bala rasga o ar.
Eu me jogo antes que meu cérebro possa processar a trajetória,
rolando para me proteger atrás de um tronco caído. Foi por muito
pouco.
O tiro veio da linha de árvores no lado oeste. Alguém está nos
testando.
Será que Jason nos encontrou novamente? Como? Verificamos se
havia rastreadores. Nos livramos dos telefones.
A raiva se enrola apertada no meu peito. Pressiono-me contra o
tronco, estabilizando minha respiração, apontando minha arma para
a origem do tiro. Quem quer que seja, não vai sair impune disso.
Acabou de cometer seu último erro.
Sigo as pegadas pela vegetação, mantendo-me abaixado, com a
arma pronta. A trilha é recente, a distribuição de peso é profunda.
Quem quer que eu esteja rastreando está se movendo devagar,
provavelmente carregando algo pesado.
Mais um passo, e o farfalhar de galhos à frente.
Ergo minha arma enquanto uma figura emerge das árvores,
mãos levantadas em rendição imediata. Ele é mais velho, vestido
com uma jaqueta camuflada desgastada com um colete laranja por
cima. Um rifle está pendurado em seu ombro e, a seus pés, jaz um
cervo recém-abatido.
—Esta é uma propriedade privada — disparo, mantendo minha
arma apontada para ele.
—Calma, amigo. — A voz do homem é áspera, mas tranquila. —
Não vi nenhuma placa. Só estava rastreando meu cervo. Não quis te
assustar.
Minha adrenalina ainda está alta, mas respiro fundo, forçando-
me a reavaliar. Ele tem a aparência de um caçador comum: grisalho,
com fios brancos nas laterais. Não é militar. Sem equipamento tático,
sem arma secundária visível. Apenas um cara na floresta.
Ainda assim, não abaixo minha arma. —O que você está caçando
com um rifle tão barulhento?
Ele indica o cervo com um movimento do queixo. —Foi uma
morte limpa. Derrubei-a rapidamente. Não esperava encontrar
alguém por aqui. — Ele me observa atentamente. —Você é novo
nessas bandas?
Não respondo.
—Não vou incomodá-lo novamente — diz ele após um momento,
mantendo as mãos erguidas. —Só precisava pegar minha caça.
Hesito e então abaixo minha arma. Meu pulso ainda bate forte
sob minha pele, mas se esse cara estivesse trabalhando para Jason,
teria reagido. E se estivesse procurando informações, não estaria
arrastando um maldito cervo.
—Precisa de ajuda para carregá-lo? — pergunto secamente.
Surpresa reluz em seus olhos, mas ele acena. —Não recusaria.
Coloco parte do peso do cervo no ombro enquanto
transportamos a carcaça até seu caminhão. É um veículo velho e
surrado, coberto por camadas de lama seca. Nenhum equipamento
suspeito na caçamba. Nenhum equipamento de vigilância. Ainda
estou analisando possibilidades, mas nada nele parece estranho.
Aponto para o posto de caça que consigo ver a algumas centenas
de metros de distância. —Aquilo é seu?
Ele dá de ombros. —Este costumava ser um lugar popular para
caçar até que meio que sumiu do mapa. Você vai encontrar muitos
desses por aí. Mas não é meu.
Aceno com a cabeça.
—Gosta de carne de cervo? — pergunta o caçador enquanto
erguemos o cervo. —Ficaria feliz em trazer um pouco na próxima
vez que passar por aqui.
Balanço a cabeça. —Agradeço, mas estamos bem.
Ele acena, tocando a aba do chapéu. —Cuide-se, então.
Quando volto para a cabana, o peso no meu estômago não
diminuiu. A história do caçador faz sentido, mas o momento é
conveniente demais. Precisarei verificar o perímetro novamente,
talvez instalar sensores extras perto da linha de árvores.
Entro pela porta dos fundos, tirando as botas quando ouço Mia
prender a respiração.
—O que aconteceu? — Seus olhos estão fixos na minha camisa,
manchada com listras vermelho-escuras, que tingem o tecido no
meu torso.
—Nada — digo, já me dirigindo para a pia.
—Obviamente, aconteceu algo.
—Não é meu sangue.
—Isso não melhora a situação, Asher.
Abro a torneira, lavando minhas mãos enquanto a água corre
vermelha. —Vou discutir isso com Damon — digo rispidamente. —
Caso contrário, está resolvido.
Mia comprime os lábios, cruzando os braços sobre o peito. —
Claro. Faça isso.
Sua voz está mais fria do que eu esperava, e ela não espera por
uma explicação. Apenas se vira e sai rapidamente da cozinha, seus
passos firmes mas rígidos, como se estivesse contendo palavras que
quer dizer.
Damon entra um segundo depois, seu olhar penetrante
analisando minha camisa. —Isso é seu? — Ele apontou para o
sangue.
—Não.
Sua mandíbula se tensa. —De Jason?
—Não. — Exalo, passando a mão pelo cabelo. —Um caçador
andou pela propriedade, disse que estava rastreando um cervo. Me
certifiquei de que não era uma ameaça.
Damon me observa atentamente. Ele sabe que há mais.
Os passos de Mia se afastam no andar de cima, e olho para a
porta por onde ela desapareceu.
—Ela está puta com você — observa Damon, sem se preocupar
em esconder sua diversão.
Pego um pano limpo e enxugo minhas mãos. —É, percebi.
Damon se apoia no balcão, de braços cruzados. —Vai me dizer
por quê, ou tenho que adivinhar?
Jogo o pano de lado. —Ela não gosta de ser excluída.
Seus lábios se curvam, mas seus olhos continuam penetrantes.
—E você continua a afastá-la.
—Eu a mantenho segura. — Pressiono as palmas das mãos
contra a pia, exalando pelo nariz. —Esse é o trabalho.
Damon dá uma risada de desdém. —O trabalho. — Ele me
examina, seu olhar ilegível. —É por isso que você está indo para
Dubai daqui a alguns dias?
Fico imóvel. —Quem te contou?
—Ninguém precisou. — Seu sorriso desaparece. —Você acha que
não percebo quando um dos meus está se afastando?
Balanço a cabeça, pegando uma camisa limpa das costas de uma
cadeira e vestindo-a rapidamente. —É um bom trabalho. Paga bem.
Damon não parece convencido. —Você acha que colocar um
oceano entre você e Mia vai mudar alguma coisa?
—Não precisa mudar nada — murmuro.
Damon se aproxima, baixando a voz. —Besteira.
Encaro seu olhar, com a mandíbula tensa.
Damon expira bruscamente, passando a mão pelo rosto. —Olha,
o que quer que esteja acontecendo entre você, ela e Zane... — Ele
para, balançando a cabeça. —Não é hora de se autodestruir.
Solto uma risada amarga. —Talvez a hora para isso tenha
passado há muito tempo.
Os olhos de Damon escurecem. —Você sair não vai protegê-la do
Jason.
—Eu sei disso.
—Então por que está fugindo?
Não respondo. Não tenho uma resposta.
Damon pragueja baixinho, balançando a cabeça. —Tudo bem.
Mas pelo menos me ajude a descobrir como Jason continua nos
encontrando antes de você desaparecer.
Aceno com a cabeça, grato pela mudança de assunto. —Já
estava planejando fazer isso.
Mas enquanto sigo Damon até a sala de segurança, minha mente
não está em Jason. Está em Mia. Na maneira como ela me olhou
antes de ir embora.
E como eu poderia me arrepender de deixá-la ir mais do que
qualquer outra coisa.
19
MIA
A
tensão na casa é sufocante.
Sento na beirada da cama, esfregando minhas têmporas
enquanto o cansaço se instala profundamente nos meus ossos.
A casa segura pode estar a quilômetros da civilização, mas não
parece segura. Não realmente. Não quando os homens que me
protegem — que protegem minhas filhas — estão se desfazendo nas
costuras.
Não sei quando me tornei a falha geológica que os está
rachando. Mas posso sentir isso. Na maneira como Asher mal olha
para mim, no modo como Zane mantém distância mesmo depois do
que aconteceu entre nós, na forma como Damon observa, mas não
interfere.
Eles trabalharam juntos por anos. Cuidaram um do outro em
situações piores que esta. E agora estão se despedaçando por minha
causa?
Não parece certo.
Expiro, olhando pela janela para o lago. A água está parada,
intocada, espelhando o céu numa reflexão estranha e perfeita.
Queria que as coisas pudessem voltar a ser como eram antes.
Antes que eu beijasse Asher. Antes que Zane me tocasse como se
quisesse mais do que apenas um trabalho. Antes que Damon me
lembrasse de tudo o que nunca tivemos chance de ser.
Eu deveria ter sido mais esperta. Mais cuidadosa. Em vez disso,
deixei que minhas emoções prevalecessem, e agora os homens que
deveriam ser meus protetores — os homens com quem me importo
— estão uns contra os outros.
Uma porta bate em algum lugar da casa. Passos pesados ecoam
contra o piso de madeira. Meu estômago se contrai.
Não posso deixar isso continuar. Preciso consertar.
Por eles. Pelas gêmeas. Por mim mesma.
Antes que as fraturas entre eles se tornem profundas demais
para serem reparadas.
Não sei por quanto tempo fico sentada ali, olhando para o nada,
meus pensamentos circulando como abutres. A casa parece vazia
apesar de cheia. As paredes pressionam, pesadas com tudo o que
não foi dito. Eu deveria estar verificando as meninas, deveria estar
ajudando a reforçar as medidas de segurança. Deveria estar fazendo
qualquer coisa, menos me afogando na percepção de que estraguei
tudo.
Mas não consigo me mover.
Não até que me dirijo para a sala de segurança, precisando de
algo — respostas, clareza, distração, não sei. Os monitores piscam,
o zumbido silencioso dos equipamentos preenchendo o silêncio, mas
meu olhar se prende na pilha de papéis deixados sobre a mesa.
Curiosa, estendo a mão para pegá-los, virando a página superior.
O nome de Asher me encara de volta em tinta nítida e assinada.
Pisquei. Li novamente.
"Contrato finalizado. Data de deslocamento confirmada."
O ar sai dos meus pulmões num só fôlego. Eu sabia que ele
estava indo embora. Ele me contou. Mas ver isso ali, em preto e
branco, é algo completamente diferente. Ele não está apenas indo
embora. Já se foi em todas as formas que importam.
A percepção me atravessa, inesperada e brutal.
Sento-me pesadamente na cadeira, agarrando os papéis como se
pudessem se desintegrar entre meus dedos.
Ele nunca iria ficar. Não por mim. Não pelas meninas. Não por
qualquer frágil e confusa bagunça que começamos.
Uma dor aguda e vazia se instala no meu peito. Eu deveria ter
sido mais esperta. Nunca deveria ter me permitido esperar, mesmo
que por um segundo, que isto — seja lá o que for isto — pudesse
durar.
Passo a mão nos olhos, furiosa com o ardor que sinto. Isso é
culpa minha. Eu deixei isso acontecer. Deixei-me ficar apegada.
Deixei-me pensar que talvez, apenas talvez, eu pudesse ter algo
além da sobrevivência.
Idiota.
Inspiro bruscamente, empurrando o contrato de volta para a
mesa como se ele tivesse me queimado.
Sento de pernas cruzadas no chão do quarto das gêmeas, seus
bichos de pelúcia espalhados ao meu redor. Meus dedos se movem
automaticamente, verificando costuras, pressionando barrigas
macias cobertas de tecido. Digo a mim mesma que estou apenas
sendo cuidadosa, mas no fundo, conheço a verdade.
Preciso de uma desculpa para ir embora. Porque partir é mais
fácil do que ficar.
Pego o coelhinho da Emma, aquele que ela arrasta para todo
lugar e sem o qual não consegue dormir. Viro-o em minhas mãos,
procurando qualquer coisa estranha sob as costuras. Não há nada.
Claro que não há nada. Não paro.
Já fiz isso antes. Sei o que é preciso para desaparecer.
É a única maneira de mantê-las seguras.
Engulo em seco, olhando para a porta como se alguém pudesse
estar escutando. Mas sei melhor. Eles não estão mais prestando
atenção em mim. Asher já se desligou — com um pé fora da porta,
contrato assinado, passagem praticamente na mão. Zane nem
consegue olhar para mim depois da noite passada, como se me
tocar tivesse sido algum tipo de erro. E Damon... Damon tem estado
distante desde que lhe contei a verdade. Talvez ele já saiba o que
estou planejando. Talvez ele não vá me impedir.
Eu deveria estar aliviada. Em vez disso, parece que meu peito
está desabando.
Pressiono minha testa contra meus joelhos, agarrando o maldito
coelho de pelúcia com tanta força que meus dedos doem. Não
deveria me sentir assim. Não deveria me importar tanto. Mas as
últimas semanas pareciam algo real, como se talvez — apenas talvez
— eu não precisasse fazer isso sozinha nunca mais.
Idiota. Fui idiota em pensar que isso poderia funcionar.
Homens como eles? Eles não ficam. Não por alguém como eu.
Asher está provando isso agora mesmo, correndo para o outro
lado do mundo só para fugir do que existe entre nós. Só tenho três
dias restantes antes que sua semana termine. Damon está se
afogando no trabalho, fingindo que não há uma parte dele que
pertence tanto a Emma e Ella quanto a mim. E Zane... Zane nem se
permite sentir o que quer que esteja sentindo. Ele prefere se afastar
a enfrentar isso.
E talvez eu mereça isso.
Nunca deveria ter acreditado que isso poderia ser algo mais do
que realmente é: temporário.
Forço-me a respirar, a pensar. Se eu sair com as meninas agora
enquanto eles estão distraídos, posso partir antes do amanhecer. Sei
como fazer isso. Sei como desaparecer. Fiz isso quando deixei Jason.
Fiz isso quando recomeçei. Posso fazer de novo.
Eu preciso.
Antes que as meninas se apeguem demais.
Antes que eu me apegue demais.
Antes que eu cometa o erro de pensar que esses homens
lutariam por nós.
Pisco para afastar as lágrimas e me levanto, meus movimentos
mecânicos enquanto pego as pequenas malas das meninas no
armário. Digo a mim mesma que estou apenas me preparando. Que
ainda não tomei a decisão de fato.
Mas no fundo, eu sei. Já me decidi.
Emma e Ella entram no quarto, seus pequenos pés mal fazendo
barulho contra o chão de madeira. Congelo, minhas mãos se
apertando ao redor do zíper de uma das malinhas delas.
— O que você está fazendo, mamãe? — pergunta Emma, seus
olhos sonolentos piscando para a mala meio arrumada ao meu lado.
Tento sorrir, embora meu rosto pareça que vai rachar sob o peso
disso. — Venham aqui, queridas. — Estendo a mão para elas,
puxando-as para o meu colo, pressionando minha bochecha contra
seus cabelos macios. O calor delas penetra em mim, tornando mais
difícil respirar. Mais difícil seguir adiante com o que sei que preciso
fazer.
— Precisamos ir, meu bem — sussurro. — É hora de outra
aventura.
Ella se aconchega mais perto, mas Emma fica tensa. — Vamos
deixar os agentes secretos? — ela pergunta, com voz baixa, incerta.
Seu lábio inferior treme, e meu coração se despedaça em um milhão
de pedaços.
— Sim, querida — digo, minha voz pouco mais que um sussurro.
Acaricio seu cabelo, tentando acalmá-la mesmo sentindo seus
pequenos dedos se agarrando à minha camisa, se apegando a mim
como se pudesse nos manter aqui se apenas segurasse com força
suficiente.
Os braços de Ella envolvem minha cintura, seu rosto pressionado
contra meu peito. — Mas eu gosto deles — ela murmura, e uma
nova culpa se contorce dentro de mim. — Damon. Asher. Zane. Eles
são nossos amigos agora.
— Eu sei, querida — digo, fechando os olhos por um segundo,
tentando encontrar a força que preciso. — Sei que é difícil, mas às
vezes precisamos fazer coisas difíceis para ficarmos seguras.
Os soluços delas começam, me dilacerando, seus pequenos
corpos tremendo contra o meu. Abraço-as mais forte, beijando o
topo de suas cabeças, respirando seu cheiro. Deixo-as em seu
quarto, garantindo que partiremos amanhã e que durmam bem esta
noite.
Não posso fazer isso. Mas tenho que fazer isso.
No meu quarto, forço minhas mãos a se moverem, fechando as
malas, cada som cortando através de mim como uma faca. Minhas
meninas precisam que eu seja forte, que as proteja, que faça o que
for preciso para mantê-las seguras.
Mesmo que isso signifique quebrar todos os nossos corações.
O zíper trava enquanto o fecho, como se até minha mala
soubesse que isso é um erro. Minhas mãos não param de tremer,
mas continuo. Mais uma camisa enfiada dentro. Um último suspiro
antes de ir.
— ...e Asher vai assumir o primeiro turno, então vamos...
A voz de Damon se interrompe. Congelo, ainda de costas para
ele. Não preciso olhar para saber o que ele vê.
O silêncio se estende entre nós antes que ele finalmente fale,
com voz tensa. — O que está acontecendo?
Engulo em seco. — Você sabe que Asher está indo embora?
Um momento de silêncio. — Ele ainda não me contou.
Aceno com a cabeça. Claro que não contou. Pressiono os dedos
contra meus olhos, querendo afastar a ardência. — Talvez seja
melhor eu ir também.
Damon se aproxima. Ouço antes de sentir – o movimento
silencioso de suas botas contra o assoalho. Ele para logo atrás de
mim, perto o suficiente para que seu calor penetre em minha
espinha. — Mia — ele diz baixinho.
— Não quero que as coisas fiquem piores. — Minha voz é fina,
esticada como um fio prestes a se romper. — Deveria ter acabado
com isso no momento em que soube que era você.
Há uma exalação abrupta, então seus dedos roçam meu
cotovelo, o toque mais leve, como se ele temesse que eu me
afastasse.
— Não faça isso — ele murmura.
Solto uma risada sem humor. — Não faça o quê? Encarar a
realidade?
Me viro então, e sua expressão tira o ar dos meus pulmões. Há
frustração, culpa e algo mais profundo que não quero nomear.
— Olhe ao seu redor, Damon. — Faço um gesto vago, minhas
mãos instáveis. — Asher está indo embora. Zane mal olha para mim.
E você...
Seu maxilar se endurece. — O que tem eu?
Minha garganta trabalha, mas nenhum som sai. Porque o que
tem ele? O que tem o jeito como ele me olha quando acha que não
percebo? O que tem o jeito como sua presença me acalma, mesmo
quando não quero que o faça? O que tem o jeito como meu corpo
ainda se lembra de cada centímetro do dele de seis anos atrás?
Balanço a cabeça, quebrando qualquer feitiço em que estamos
presos. — Não importa.
Mas os olhos de Damon dizem o contrário. Importa. Sempre
importou.
— Posso encontrar outra pessoa para cuidar das minhas filhas —
acrescento.
Damon balança a cabeça. — Não vai funcionar. Eles não
conhecem Jason como eu conheço. Como Zane conhece.
— Bem, tenho certeza que vamos nos virar muito bem — digo. —
Só não quero causar mais problemas do que já existem. Ainda
temos algum dinheiro do seguro. Vou abandonar meu emprego, e
simplesmente nos mudaremos para outro estado por um tempo.
Sua voz é baixa quando ele finalmente fala. — Você acha que ir
embora vai consertar isso?
Solto uma respiração trêmula. — Acho que ficar piora as coisas.
Sua mão roça a borda da minha mala, dedos se curvando contra
o tecido. — Para quem?
Odeio não ter uma resposta. Odeio que parte de mim – a parte
que enterrei por anos – queira dizer para mim. Porque não sei como
ficar nesta casa com ele, com eles, e não desejar algo que não
posso ter.
— Tudo está desmoronando — murmuro.
Damon exala bruscamente, seus dedos flexionando novamente
contra minha mala antes de recuar, como se precisasse de distância
antes de dizer algo que não pode retirar.
— Vamos resolver isso — ele diz.
— Como? — Balanço a cabeça. — Porque agora, parece que a
única coisa que estou fazendo é piorar as coisas.
— Você acha que é o problema? — Sua voz é incrédula,
entrelaçada com algo que soa quase como raiva. — Mia, o problema
é que nós...
Ele se interrompe, balançando a cabeça.
— Nós o quê? — pergunto.
Sua garganta trabalha, como se estivesse lutando contra algo
que não quer dizer. Então, finalmente, ele me olha diretamente nos
olhos. — Nós nos importamos com você. Mais do que deveríamos.
Zane e Asher entram no quarto, com idênticas expressões de
desagrado em seus rostos.
Meus dedos agarram a alça da minha mala, nós dos dedos
brancos, mas não me movo. Não posso. Não com três pares de
olhos sobre mim, esperando por uma resposta que não tenho.
— Ouvimos vocês discutindo — diz Zane, franzindo a testa. — O
que está acontecendo?
Permaneço em silêncio, tentando fazer minhas mãos pararem de
tremer.
— Por que você está arrumando as malas? — A voz de Asher é
baixa, cautelosa.
— Se isso é por causa das meninas, Asher pode levá-las para dar
uma volta — oferece Zane. — Sei que elas estão ficando malucas
aqui dentro.
Suas palavras são para ajudar, mas caem mal, se retorcendo
dentro de mim. Solto uma risada amarga.
— Asher deixou claro que não quer nada conosco. — Minha voz
falha, humilhantemente rouca. Limpo a garganta e continuo. — E
você... você disse que entendia o que eu queria.
Zane se encolhe como se eu o tivesse golpeado. — Mia...
Damon se vira para Asher. — Ela está chateada.
— É, não me diga — murmura Asher, passando a mão pelo rosto.
Olho feio para ele, a raiva borbulhando sob a superfície,
alimentando-se da frustração, da confusão, da pura impotência que
tenho sentido desde que tudo saiu do controle.
— Nós realmente precisamos sentar e conversar — diz Asher.
Dou uma risada de escárnio. — Sobre o quê? — disparo. — A
parte em que transamos? Ou a parte em que você não podia fugir
rápido o suficiente quando eu sugeri...
Me contenho antes que as palavras escapem completamente,
minha respiração tremendo.
Damon inspira bruscamente, sua expressão indecifrável. Agora
tudo está às claras.
O silêncio que segue é insuportável.
O maxilar de Zane se tensa. — Você acha que eu não quero isso?
— Sua voz é áspera, marcada com algo próximo ao desespero. —
Você acha que não fico acordado à noite me perguntando como
diabos vou te proteger quando tudo que quero é te segurar nos
meus braços?
Meu coração dispara, mas não posso me permitir ter esperança.
Balanço a cabeça. — Você disse que entendia.
Zane solta uma respiração pesada, andando como um animal
enjaulado. — Eu entendo. Eu realmente entendo, Mia. Mas isso não
significa que seja simples.
Asher, que estava em silêncio por tempo demais, finalmente fala.
— Aceitei o trabalho em Dubai porque achei que era a decisão certa.
Para mim. Para você. Pensei que manter distância tornaria as coisas
mais fáceis. — Sua voz baixa. — Mas não tornou.
Algo se quebra dentro de mim, algo que venho mantendo unido
por pura força de vontade. Pressiono uma mão contra meu peito
como se pudesse fisicamente impedir que se quebrasse.
— Então por que você ainda está indo embora? — pergunto a
ele.
A garganta de Asher trabalha, mas nenhuma palavra sai.
Damon, que esteve nos observando como um homem pronto
para intervir numa briga, finalmente exala. — Todos nós precisamos
parar de fingir que isso não significa algo.
Solto uma risada curta e amarga. — Não sou eu quem está
fingindo.
Asher desvia o olhar enquanto Zane murmura baixinho "Deus me
ajude."
— Você realmente quer dizer isso quando fala? — Damon
finalmente diz, como se estivesse se contendo.
— Sim — respiro.
— Eu quero vocês... — digo, olhando para eles. — Todos vocês.
O olhar de Damon permanece fixo em mim. — Então vamos
parar de fugir disso.
Zane fecha a porta com um clique suave, nos isolando. As
meninas estão seguras no quarto delas. Sem distrações. Sem
escapatória. Engulo em seco, meu pulso acelerando enquanto olho
para eles.
Me viro primeiro para Damon. — Você tem certeza que quer isso?
Com... eles?
Seus olhos cinzentos ardem com uma intensidade que me faz
sentir um arrepio pela espinha. — Sim — ele diz, a palavra firme,
decisiva. Então ele se inclina, e sua boca cobre a minha. Não é
gentil; é uma promessa, quente e exigente de um jeito que faz meus
dedos dos pés se curvarem contra o chão.
Eles se aproximam, como uma força coletiva que faz o ar ao meu
redor vibrar. Três homens — imponentes, musculosos, seus ombros
largos o suficiente para eclipsar o resto do mundo. Me sinto
minúscula sob suas sombras, meu coração martelando em meus
ouvidos.
A presença combinada deles, o calor de seus corpos, é
avassaladora. Minha cabeça gira enquanto Damon me beija, suas
mãos fortes segurando minha cintura, seu aperto inabalável em sua
necessidade. Sinto os outros atrás dele observando, esperando. A
energia na sala crepita.
Damon se afasta, deixando-me sem fôlego. Meu peito arfa, e me
viro para Asher. Alto, de ombros largos, seus braços grossos de
músculos, veias correndo sob a pele bronzeada. Ele encontra meu
olhar, um lampejo de incerteza dando lugar à determinação.
— Sim — murmura Asher, aproximando-se. Sua intensidade
silenciosa envia um arrepio pela minha pele. Então sua boca está na
minha, mais suave que a de Damon, mas não menos envolvente.
Suas mãos deslizam pelas minhas costas, me pressionando mais
perto de seu peito impossivelmente firme. Me sinto minúscula contra
ele, meus quadris se encaixando perfeitamente nos dele, minhas
palmas se achatando sobre músculos espessos que se tensionam ao
meu toque.
Um som baixo arrasta minha atenção, e olho para Zane. Ele é tão
alto, com bíceps esticando contra sua camisa, pernas como pilares.
Seus olhos escuros se fixam nos meus, e há uma fome ali que faz
meu estômago revirar.
Sua voz está mais baixa que o normal, densa de tensão. —
Venha aqui.
Eu vou, saindo do abraço de Asher para os braços à espera de
Zane. Ele segura meu rosto em uma mão grande, inclinando-se, e
me beija de uma maneira que rouba o fôlego diretamente dos meus
pulmões. Seu braço livre envolve minha cintura, me puxando contra
seu corpo poderoso. Meus pés mal tocam o chão, e me agarro aos
seus ombros, coração martelando nos meus ouvidos.
Damon se move atrás de mim, e juro que sinto cada ondulação
de músculo quando seu peito roça minhas costas. Suas mãos
pousam em meus quadris, polegares pressionando.
— Meu Deus — sussurro, dominada pela pura massa deles, sua
força me enjaulando. Meu próprio corpo parece impossivelmente
pequeno, cercado por todos os lados por calor sólido e inflexível.
A boca de Zane percorre meu maxilar, respiração irregular. —
Você queria isso — ele murmura para mim, como se precisasse de
garantias.
— Ainda quero — sussurro, minha voz tremendo de antecipação.
Os dedos de Damon deslizam sob meu queixo, virando meu rosto
para ele. Ele me beija novamente, mais profundamente desta vez, e
a nota possessiva em seu gemido baixo envia calor enrolando pelo
meu ventre. A mão de Asher encontra meu quadril, seu toque firme
enquanto ele se inclina, seus lábios roçando meu pescoço.
Seus aromas se misturam — colônia, sabonete, masculinidade
crua — e meu corpo responde, arqueando, buscando mais contato.
Mais deles.
Os lábios de Asher roçam os meus, quase ternos. Ele é quieto e
intenso — mãos deslizando sob minha camisa, passando pela minha
cintura, subindo para segurar meu seio. Arquejo contra ele, tonta.
O hálito de Zane acaricia meu pescoço. — Ela é tão macia — ele
murmura, apalpando minha bunda com uma mão grande, a outra
deslizando para acariciar minha coxa.
Damon rosna, enganchando um dedo em minha camisa e
puxando-a para cima, expondo meu estômago. Ele abaixa a cabeça,
beija a pele recém-exposta. — Nunca pensei que estaríamos aqui —
ele murmura contra minha carne. — Mas não vou embora.
Uma faísca de desejo pulsa entre minhas pernas com suas
palavras. Meu olhar se volta para Zane, que me ergueu levemente,
suas mãos enormes sustentando minhas coxas enquanto beija meu
ombro. — Eu te protejo — ele sussurra, com voz carregada de
possessão.
Asher puxa a alça do meu sutiã para baixo, seus lábios roçando a
curva do meu seio.
Quando sua língua passa sobre meu mamilo, eu ofego, meus
quadris se contraindo involuntariamente.
O aperto de Zane em mim se intensifica. — Calma — ele
murmura, embora sua própria respiração esteja entrecortada. Seu
membro pressiona mais forte contra minha bunda, e não consigo
evitar o gemido que escapa. Estou presa entre eles, cada toque
alimentando minha excitação até me sentir febril.
Damon desliza uma mão pelo meu cabelo, inclinando minha
cabeça para cima para outro beijo intenso. Meus lábios se abrem sob
a pressão, e sinto a fome nele — a mesma fome que queima através
de todos nós. A boca de Asher desce, suas mãos deslizando pela
minha cintura, prendendo-se no cós da minha calça e puxando-a
para baixo. Zane me desloca para que Damon possa ajudar, e em
questão de segundos, minhas roupas caem no chão.
Estou nua, exceto pelas mãos deles cobrindo meu corpo. Suas
bocas.
Zane me levanta, erguendo-me facilmente, e me agarro aos seus
ombros, impressionada com o quanto me sinto pequena em seus
braços. A boca de Damon encontra meu pescoço, sugando
suavemente a pele sensível, enquanto Asher entrelaça seus dedos
pelo meu cabelo, puxando o suficiente para enviar um arrepio por
mim.
O membro de Zane está duro contra minha barriga, grosso e
exigente, enquanto ele me beija tão ferozmente que esqueço de
respirar. A mão de Damon desliza entre minhas pernas, uma palma
áspera percorrendo minhas dobras úmidas. Eu grito, arqueando ao
seu toque.
— Mia — Asher geme, com a voz apertada de desejo, e essa
única palavra me desarma. Ele me olha nos olhos, e vejo aquela
determinação silenciosa. Então ele se inclina, pressionando um beijo
em minha boca, mais suave desta vez, enquanto sua mão percorre
meu seio, acariciando meu mamilo com o polegar.
O aperto de Damon nas minhas coxas as abre mais, e os lábios
de Zane se curvam num sorriso malicioso. — Ela nos quer — ele diz,
com a voz rouca.
Minha resposta é um gemido ofegante, os quadris se contraindo
sob o firme controle de Damon. Asher se move atrás de mim,
guiando-me para a cama com a ajuda de Zane, deitando-me entre
os lençóis. Sinto-me diminuída pela massa deles enquanto se
aproximam, três conjuntos de ombros largos bloqueando o mundo.
Damon, com os braços grossos apoiados em cada lado de mim,
abaixa a cabeça até meu peito, capturando meu mamilo entre seus
lábios, puxando suavemente até eu ofegar e arquear sob ele.
Um movimento perto dos meus pés chama minha atenção. Zane
desliza mais para baixo, passando as palmas das mãos pelas minhas
panturrilhas, subindo pelas coxas, abrindo-as gentilmente. Meu
corpo se tensa, a antecipação crescendo. Posso sentir o arrasto
faminto do seu olhar sobre cada centímetro de mim, como se
estivesse mapeando a melhor maneira de me desmontar.
— Você está incrível — ele murmura, os dedos roçando o ponto
sensível logo acima do meu joelho. Então ele escorrega mais para
baixo, pressionando beijos suaves na parte interna das minhas
coxas, subindo até eu estar me contorcendo sob ele.
Acontece lentamente no início — o hálito quente de Zane
passando sobre meu núcleo, o mais leve toque de sua língua que
me rouba o fôlego. Deixo escapar um pequeno grito, meus quadris
se contraindo involuntariamente. A sensação é vertiginosa, e estou
apenas vagamente consciente de Damon e Asher se movendo ao
meu redor.
A boca de Damon encontra meu pescoço, seu peito largo me
prendendo suavemente, deixando-me sentir a força enrolada em
seus braços grossos. Uma de suas mãos desliza sobre meu seio,
tocando-o com uma reverência que faz minha cabeça girar.
E então Zane começa a me devorar com vontade — lambidas
longas e deliberadas que me fazem ofegar e agarrar os lençóis.
Faíscas dançam atrás das minhas pálpebras fechadas enquanto ele
lambe meu clitóris, provocando-o com a língua, sugando-o
suavemente até eu estar tremendo, gemidos escapando
involuntariamente dos meus lábios.
Asher envolve seu braço grande ao redor dos meus ombros,
deslizando uma mão sob minha cabeça. Eu me viro, encontrando
sua boca com a minha — sem palavras, apenas um beijo ardente
que rouba o ar dos meus pulmões.
Zane muda o ritmo, concentrando-se no meu clitóris com pressão
intensa. Meus músculos travam, e um som estrangulado escapa da
minha garganta. Mal registro Damon e Asher se movendo sobre mim
até sentir os lábios de Damon se juntarem aos de Zane, o hálito de
Asher quente na parte interna da minha coxa. Meu corpo inteiro se
contrai com a percepção de que os três estão ali, banqueteando-se
comigo como se não pudessem ter o suficiente.
A língua de Damon lambendo de um lado, a de Zane do outro,
enquanto a grande mão de Asher segura meu quadril, mantendo-me
no lugar enquanto ele pressiona um beijo firme na dobra entre
minha coxa e a pélvis.
— Meu Deus — engasgo, com a voz tremendo. Minhas pernas
tremem, presas pela pura força deles. Mãos e bocas vagam, cada
um me levando ao limite antes de recuar, deixando-me descer o
suficiente para começar a subida novamente.
Os dentes de Asher raspam minha pele sensível, e eu grito,
arqueando-me nele. Ele acalma a mordida com uma lambida lenta
enquanto Zane murmura em aprovação, sugando meu clitóris de um
jeito que me faz ver estrelas. Damon se junta, girando sua língua
em conjunto, e minha cabeça cai para trás, um gemido quebrado
rasgando minha garganta.
— Aproveite — Damon rosna. — Aproveite todos nós.
Meu corpo trava, o prazer faiscando como um fio elétrico. Agarro
os ombros de Asher, as unhas cravando no músculo duro, minhas
pernas tremendo sob o aperto de Zane. O orgasmo me atinge com
força total, cada nervo se acendendo, uma onda de êxtase tão
poderosa que não consigo respirar. Eu grito, meus dedos das mãos e
dos pés se curvando, minha mente em branco.
O hálito de Damon passa pelas minhas coxas enquanto ele se
afasta, deixando-me respirar por um segundo antes de Asher
deslizar sua boca, dando um último gosto que me faz estremecer.
Desabo contra os lençóis, o peito arfando, os olhos piscando para
abrir. — Jesus — sussurro, com a voz rouca, enquanto me apoio nos
cotovelos, observando seus membros esticando as cuecas. — Isso
foi...
— Você é tão linda — diz Zane, com a voz áspera enquanto tira a
cueca. Os outros seguem o exemplo. — Mas não posso esperar para
gozar dentro de você.
Ele segura minha coxa, levantando-a para poder se acomodar
entre minhas pernas. Damon se move, dando-lhe espaço, e sinto as
mãos de Asher deslizarem sob minhas costas, levantando-me
ligeiramente.
Zane se move primeiro, pressionando a ponta do seu membro
contra minha entrada molhada. Minha respiração falha com o
alongamento grosso, e me agarro aos braços de Asher, as unhas
cravando em seus bíceps. A mão de Damon vem sob meu queixo,
virando meu rosto para que ele possa me beijar, engolindo o gemido
que escapa quando Zane desliza mais profundo. Ele é grande — tão
grande que não posso evitar choramingar — mas a explosão de
prazer supera qualquer desconforto.
— Deus, ela é tão apertada — geme Zane, começando um ritmo
lento e superficial que me rouba o fôlego.
A palma de Asher desliza sobre meu seio, provocando meu
mamilo no ritmo das estocadas de Zane. Damon toma minha boca
em outro beijo ardente, e o mundo se turva. Só conheço calor,
pressão e uma tensão crescente que me faz contorcer contra todos
eles.
— Mia — murmura Asher, traçando beijos pelo meu pescoço. —
Eu também preciso de você.
Minha resposta é outro gemido entrecortado. Antes que eu possa
processar, Damon se afasta, permitindo que Asher me vire de lado,
com Zane ainda profundamente dentro de mim. A mudança de
ângulo arranca um grito agudo dos meus lábios, o prazer
aumentando quando Zane investe novamente. Asher se acomoda
atrás de mim, seu pau grosso pressionando contra minha bunda.
Meu corpo estremece de antecipação com a ideia dos dois ao
mesmo tempo.
— Caralho — Asher rosna, beijando minha nuca. Um braço
envolve minha cintura, me puxando firmemente contra seu peito
largo, o outro guiando-se contra mim. Zane se inclina para frente,
apoiando as mãos de cada lado da minha cabeça, os olhos fixos nos
meus.
— Tudo bem? — Zane respira, pausando. Posso ver a tensão em
seu rosto, o controle com o qual está lutando para manter.
— Sim — consigo dizer, com a voz trêmula, mas decidida. — Não
pare.
Zane sorri maliciosamente, a tensão diminuindo o suficiente para
ele se inclinar e me beijar — forte, devorando. Então ele começa a
se mover novamente, com movimentos lentos e circulares que me
fazem arquear o corpo sobre o colchão.
Atrás de mim, Asher se aproxima mais, deslizando seu pau entre
minhas nádegas, o líquido do seu pré-gozo facilitando o caminho.
Agarro os ombros de Zane, sobrecarregada pela mistura de
sensações — Zane me preenchendo pela frente, Asher me
provocando por trás, e Damon nos observando com olhos escuros e
famintos.
Sinto a mão de Asher deslizando até meu clitóris, fazendo
círculos apertados que provocam prazer sob as estocadas de Zane.
Minhas unhas se cravam na pele de Zane, e ele geme, baixando a
cabeça para meu ombro enquanto investe em mim com mais força,
mais rápido. Asher acompanha seu ritmo, sua respiração quente
contra minha orelha.
— Aí — Zane sibila, com a voz rouca. — Bem aí, gostosa.
Meu orgasmo vem como uma onda gigante, rasgando através de
mim, meu grito ecoando pelo quarto. Meus músculos se contraem
ao redor de Zane, que xinga e investe uma última vez antes de
gozar dentro de mim, enterrando o rosto no meu pescoço. Os dedos
de Asher continuam trabalhando meu clitóris, extraindo cada pulso
de prazer até que eu esteja tremendo nos braços deles.
Asher beija meu ombro. — Porra — ele murmura, apoiando a
testa nas minhas costas. — Isso foi...
Eu me viro para Damon, que se aproxima, suas mãos fortes me
erguendo. Minhas coxas doem, minha respiração ainda entrecortada,
mas me agarro aos seus ombros. Ele é tão grande, cada músculo
esculpido como pedra, mas seu toque enquanto me levanta é quase
gentil.
— Vem aqui — ele ordena, com a voz espessa.
Eu obedeço. Minhas pernas envolvem a cintura afilada de Damon
enquanto ele se posiciona, seu pau pressionando insistentemente na
minha entrada. Zane e Asher se movem ao nosso redor, seus braços
se roçando enquanto observam. Há um breve momento — contato
visual, compreensão silenciosa — antes de Damon investir. O
alongamento, depois de tudo mais, é quase intenso demais, mas
então o prazer explode, me deixando ofegante.
Os lábios de Damon encontram os meus em um beijo violento
que rouba o resto do meu oxigênio. Ele me fode com estocadas
profundas e calculadas, cada movimento de seus quadris me
sacudindo da melhor maneira possível. Meus dedos se enredam em
seu cabelo escuro, me agarrando enquanto ele me mantém
suspensa em seus braços. Sinto os olhares de Asher e Zane sobre
nós.
Damon rosna, uma mão espalmada contra minhas costas, a
outra segurando minha coxa para me manter no lugar. Meus seios
saltam a cada estocada, e Asher estende a mão, passando a palma
sobre meu mamilo hipersensível. Eu gemo, a sensação beirando o
insuportável.
— Olha só para você — Zane murmura, sua voz ainda rouca de
seu próprio orgasmo. — Recebendo todos nós como uma maldita
deusa.
Eu estremeço, outra onda de prazer se erguendo. A respiração de
Damon falha. Ele enterra o rosto no meu pescoço, gemendo, seus
quadris perdendo o ritmo enquanto se aproxima do limite. A fricção
envia faíscas dançando pela minha pele.
Ele investe uma vez, duas vezes, e então enrijece, seu gemido
gutural vibrando contra minha orelha. Sinto seu gozo me inundando,
e isso desencadeia outro orgasmo tão repentino que não consigo
nem formar palavras — apenas um grito silencioso que sacode meu
corpo.
Desabamos em um emaranhado de membros, Damon me
abaixando cuidadosamente na cama. Pisquei para eles — três
homens enormes, maiores que qualquer coisa que já conheci, e
ainda assim olham para mim como se eu fosse preciosa. Meu
coração se contorce, um momento de emoção desprotegida que não
consigo suprimir.
Eventualmente, percebo que estou flutuando na beira do sono.
Permito-me acreditar, apenas por um instante, que podemos ter isto.
Que pode dar certo.
E se não der... lidarei com isso pela manhã.
20
DAMON
A
luz do sol derrama-se pelas janelas, capturando o vapor que
sobe do café de Mia. Ela está vestindo minha camisa, o tecido
engolindo seu corpo pequeno, as mangas dobradas até os
cotovelos.
A visão faz algo com meu peito, um calor estranho se instalando
ali. Ao lado dela, Emma e Ella discutem sobre quem vai ficar com o
último pedaço de torrada.
Zane está sentado na cabeceira da mesa, reclinado em sua
cadeira, bebericando seu café. Asher está incomumente quieto,
observando Mia com uma expressão pensativa enquanto cutuca seus
ovos. Não sei o que se passa na cabeça dele, mas sei que está
pensando demais. A tensão em seus ombros é difícil de não notar,
embora ele tente disfarçar quando Emma empurra um pedaço de
torrada em sua direção com um sorriso triunfante.
Tomo um gole do meu café, deixando a conversa me envolver. É
estranho, esse sentimento no meu peito. Estou leve, à vontade.
Quando foi a última vez que me senti assim? Como se eu
pertencesse a algo ou alguém? Como se houvesse algo que valesse
a pena segurar?
Mia me pega observando-a e me dá um pequeno sorriso. Não é
nada especial, apenas uma curva rápida em seus lábios antes de
desviar o olhar, mas se instala fundo no meu estômago.
Limpo a garganta, forçando minha atenção de volta ao meu
prato. Eu deveria ser mais cauteloso. Isso – seja lá o que for – não
pode durar. Jason ainda está por aí. O trabalho não está concluído.
Mas por alguns momentos roubados, permito-me desfrutar da
ilusão de normalidade. Porque, caramba, isso é bom.
Mais tarde naquela tarde, estamos perto da linha das árvores,
reforçando o perímetro com sensores de movimento adicionais. A
casa do lago é remota, mas isso não significa que seja impenetrável.
Jason provou isso na última casa segura.
Zane está à minha frente, cravando estacas na terra para montar
as novas câmeras, seus movimentos controlados e eficientes. Asher
está ao meu lado, passando fios para os receptores, mas sua mente
claramente está em outro lugar.
Finalmente quebro o silêncio. — Então, quando você estava
planejando nos contar?
Asher não finge não saber do que estou falando. Ele solta o ar
bruscamente, olhar fixo no equipamento em suas mãos. — Não vi
motivo. Já assinei o contrato.
— Dubai — reconheço. — Isso ainda vai acontecer?
— Sim — diz Asher, desviando o olhar. Mas ele não parece tão
certo agora.
— Você realmente acha que pode se afastar disso? — pergunto.
— Dela?
Seus olhos encontram os meus rapidamente, algo perigoso
escondido sob sua habitual máscara descontraída. — Isso nunca foi
para ser permanente.
Zane ajusta um sensor de movimento, fixando-o no lugar
enquanto Asher verifica o alcance do sinal. Aperto a fiação,
observando os dois com o canto do olho.
— Parece os velhos tempos — comenta Zane.
Asher bufa. — Exceto que, naquela época, não estávamos
fazendo babá de uma mulher teimosa e suas duas mini-clones.
Sorrio com ironia. — E naquela época, tínhamos rações piores.
Zane ri pelo nariz. — Fale por você. Eu preferiria MREs ao café
instantâneo da Mia qualquer dia.
Asher ri, mas não acrescenta nada.
Apoio-me numa árvore, braços cruzados. — Lembra daquela
vigilância de uma semana nos arredores de Cabul? Aquela em que
tivemos que dormir em turnos naquele complexo incendiado?
Zane assente, esticando as costas. — Sim. E as malditas cabras
não paravam de revelar nossa posição.
Asher realmente ri, balançando a cabeça. — Você e Zane
estavam prontos para estrangular aquele fazendeiro.
— Ele estava passando informações para o lado errado — diz
Zane. — Ou só tinha muito azar.
Balanço a cabeça. — Já contei para vocês o que aconteceu
depois que encerramos aquela missão?
Zane arqueia uma sobrancelha. — Ah, isso deve ser bom.
Dou um sorriso malicioso. — De volta à base, peguei Whitmore
tentando subornar um dos contatos locais. Nada grande na época,
apenas pequenas trocas aqui e ali. Um favor por outro. Não pensei
muito nisso.
Zane fica imóvel. — Você nunca mencionou isso.
Dou de ombros. — Não parecia importante na época. Mas
olhando para trás? Aquela foi a primeira rachadura.
O maxilar de Asher se aperta, e vejo a mesma lembrança
passando por seus olhos. Jason sempre foi bom em esconder sua
verdadeira natureza – até não ser mais.
— Aquele cretino sempre soube como jogar o jogo longo —
murmura Asher.
Caímos no silêncio. Alguns fantasmas se recusam a ficar
enterrados.
Após uma longa pausa, Asher limpa a garganta. — Por mais que
eu ame... — Ele se interrompe, desviando o olhar. Seu pomo de
adão sobe e desce enquanto ele engole com dificuldade. — Dubai
ainda vai acontecer — finaliza.
Expiro lentamente. Aí está. O último prego no caixão.
— Mia ficará melhor com vocês dois — acrescenta, com a voz
áspera. — Ela precisa de estabilidade. Não de alguém que já está
com um pé na porta de saída.
Franzido a testa. — Mas pensei que depois de ontem à noite...
— Pensou o quê? Que eu tinha mudado de ideia? Que não vou
embora? — diz Asher. — Que dormir com ela me faria mudar de
ideia? O que estamos fazendo aqui, hein? Jesus, estamos em uma
missão e estamos todos dormindo com nossa cliente. O que teria
acontecido se algo tivesse ocorrido enquanto estávamos todos
distraídos?
Zane e eu não dizemos nada.
— Como eu disse — diz Asher, desviando o olhar. Posso ver como
ele mantém os punhos fechados ao lado do corpo, como se
estivesse se contendo.
Ele tem sentimentos por ela.
Zane recua, limpando as mãos no jeans. — Então isso está
mesmo acontecendo?
Asher não responde imediatamente. Quando o faz, sua voz está
mais baixa. — Sim.
Olho entre eles, o peso disso se instalando fundo no meu peito.
Todos nós estávamos dançando ao redor disso desde o início,
fingindo que poderíamos evitar o inevitável. Mas não posso
continuar fingindo. Não mais.
Asher sente o mesmo que eu sinto por ela. É por isso que ele
acha que isso é a coisa certa a fazer.
— Não posso perdê-la de novo — digo, com voz firme. — E farei
o que for preciso para mantê-la, mesmo que isso signifique manter
vocês dois também.
Isso chama a atenção deles. As sobrancelhas de Zane se juntam,
e Asher finalmente olha para mim, com algo ilegível em seus olhos.
— Damon — começa Asher, mas eu o interrompo.
— Eu não tenho todas as respostas — admito. — Mas sei de uma
coisa com toda certeza: não vou deixá-la ir embora sem lutar. E se
você não puder fazer o mesmo, está livre para ir.
As palavras pairam entre nós, densas como o ar úmido. Asher
não diz nada. Zane exala, balançando a cabeça como se ainda
estivesse processando.
— Acho que é melhor garantirmos que este lugar esteja bem
protegido — Zane finalmente murmura, voltando ao seu trabalho.
Asher demora um segundo a mais, então concorda com a
cabeça. — Sim. Vamos terminar isso. — Ele olha para o telefone. —
Ah, e antes que eu esqueça, recebemos um e-mail daquele trabalho
que agendamos para o próximo mês. O diretor quer nos encontrar.
— Bem, isso não vai mais acontecer — resmunga Zane,
apertando o último parafuso no sensor. — A Mia vem primeiro.
Eu concordo com a cabeça. Houve um tempo em que eu teria
hesitado, quando pensava que podia separar o trabalho da vida
pessoal. Mas agora não. Não depois de tudo.
— Precisamos enviar uma resposta — digo. — Não podemos
simplesmente deixá-los esperando.
— Uma pena, na verdade — murmura Zane. — Seria um bom
dinheiro.
Asher sorri ironicamente. — É mesmo? Você está planejando
fazer isso para sempre? Trabalhos de segurança até ficarmos velhos
e mal-humorados?
Zane resmunga. — Eu já sou mal-humorado.
Balanço a cabeça, com um sorriso irônico nos lábios. O momento
é quase normal. Quase.
— Mas tudo bem — digo. — O que importa mais aqui é cuidar da
Mia.
— É — concorda Zane. — Difícil ir embora quando há mais do
que apenas ela em jogo agora.
Concordo com a cabeça. — Ela tem as meninas para se
preocupar.
Zane solta uma risada curta. — Bem, sim. Suas meninas.
As palavras ficam suspensas no ar.
Meu pulso dispara nos ouvidos. Asher fica imóvel ao meu lado. O
rosto de Zane muda como se ele acabasse de perceber o que diabos
acabou de dizer.
O silêncio se estende entre nós antes que eu encontre minha
voz. — O que você acabou de dizer?
Zane pisca, abrindo e fechando a boca. — Eu... — Ele exala. —
Merda.
Asher bufa. — Você realmente achou que ele sabia? — Ele olha
para mim, balançando a cabeça. — Qual é, cara. Não me diga que
você acabou de descobrir isso.
Meu estômago se retorce e meu maxilar fica tenso. — A Mia
nunca me contou.
Zane exala pelo nariz, esfregando a nuca. — Ela achou que você
sabia. Droga, eu achei que você sabia.
Encaro-o, a verdade desabando de uma só vez. As noites em que
olhei para aquelas meninas e senti algo inabalável no meu interior. O
jeito como os olhos de Emma — os olhos da minha mãe —
observam o mundo como se já estivesse cinco passos à frente.
A realidade disso se instala no fundo do meu peito. — Bem —
digo, com a voz áspera — agora eu sei.
Não estou com raiva da Mia. É o que digo a mim mesmo
enquanto cavo um poste no chão horas depois, reforçando a linha
de segurança ao longo do perímetro leste. Digo a mim mesmo que
não tinha o direito de esperar nada dela. Digo a mim mesmo que
não importa como descobri, desde que eu tenha descoberto.
Mas a verdade é que estou puto.
Não por não saber. Eu sabia, no fundo. No momento em que vi
aquelas meninas, havia algo ali — algo inabalável. A curva do
maxilar de Emma, a intensidade no olhar de Ella. Partes literais de
mim me encarando de volta. Mas saber no meu íntimo e ouvir isso
em voz alta do Zane, de todas as pessoas?
Isso dói.
Mia contou a ele antes de me contar. Por quê? Ela achou que eu
não ia querer saber? Que eu não me importaria?
Cravo o próximo poste na terra com mais força do que o
necessário. O sol está se pondo atrás das árvores quando ouço a
porta da cabana ranger e passos leves se aproximarem. Os dela.
Mantenho minhas costas viradas enquanto Mia se aproxima,
braços cruzados sobre o peito. — Damon?
Não respondo.
Ela exala, mudando de posição. — Podemos conversar?
Passo para o próximo poste, verificando a tensão do arame.
— Damon. — Sua voz é mais suave desta vez, quase hesitante.
Olho para ela brevemente, então volto ao meu trabalho. —
Precisa de alguma coisa?
Ela hesita. — Eu... — Seus dedos apertam as mangas de seu
suéter. — Queria ver se você estava bem.
Solto uma risada curta. Se eu estou bem?
Finalmente me viro, encarando-a. — Sim, estou bem — minto. —
Volte para dentro.
Ela apenas morde os lábios. Tudo o que quero fazer é tomá-la ali
mesmo e beijá-la até perder o juízo. Mas em vez disso, me afasto.
Alguns minutos depois, entro na varanda, esticando os ombros.
As luzes de segurança projetam longas sombras ao longo da
varanda, com o lago atrás da cabana refletindo os últimos raios de
luz do dia. Asher e Zane estão sentados no deck, olhando algo no
laptop.
— Vou encontrar o cliente — digo, quebrando o silêncio.
Zane bufa. — Nem pensar.
Asher levanta os olhos do celular. — Você está simplesmente indo
embora? Hoje à noite?
Afasto-me em direção ao carro e ouço seus passos atrás de mim.
Abro a porta do motorista. — É a algumas cidades daqui.
Asher solta uma risada seca, como se achasse que estou
brincando. — Você está zoando.
— Não estou brincando — digo, puxando minha mochila do
banco da frente e verificando o conteúdo uma última vez. — Estarei
de volta pela manhã.
Zane me olha como se eu tivesse criado duas cabeças. —
Damon, que porra é essa? Por que agora? Por que você está indo
sozinho?
— Porque alguém precisa encontrar o cliente.
— Nós estamos com a cliente! — Zane gesticula em direção à
cabana. — Ou você esqueceu que temos um perseguidor, duas
crianças e uma mulher que você diz se importar lá dentro?
— Vai ficar tudo bem. — Fecho a porta e me viro para eles. —
Vocês dois ficam aqui.
— Ah, sim, isso faz muito sentido — ironiza Zane. — Vamos
deixar o cara com uma vendeta pessoal contra o Jason e o cara que
está com um pé fora em comando enquanto você vai encontrar
algum contato suspeito sozinho.
Exalo pelo nariz. — Zane...
— Não — Zane rebate. — Não, me desculpe, só quero ter certeza
de que entendi. Você está saindo furioso no meio da noite, depois
de termos tido uma violação no perímetro, depois de encontrarmos
um dispositivo de rastreamento nos brinquedos das crianças, por
quê? Você de repente sentiu vontade de fazer uma excursão?
Asher, que tem estado estranhamente quieto, cruza os braços. —
Zane está certo. Isso é uma idiotice.
Cerro os dentes. — Vocês dois vão segurar as pontas. Mia e as
meninas estão seguras aqui. E esta reunião pode nos dar respostas.
Zane ergue as mãos. — Ou pode te matar.
Olho-o nos olhos. — Se isso acontecer, vocês saberão onde
encontrar meu corpo.
Asher pragueja baixinho, passando a mão pelo cabelo. — Então é
isso? Você vai, não importa o que digamos?
— Vou.
Zane balança a cabeça, com o maxilar tenso. — É bom você
voltar, Damon.
Aceno com a cabeça uma vez e então entro na caminhonete,
ligando o motor. Pelo retrovisor, vejo Asher e Zane ainda ali parados,
me observando partir.
Eles não entendem. Não sabem que esta é a única maneira de
eu conseguir clarear minha mente.
Ou talvez saibam. E é por isso que estão tão irritados.
MIA
D
ou a volta na esquina da cozinha, esfregando uma mão
cansada no rosto, e quase colido com Asher. Suas mãos mal
roçam meus braços antes de ele recuar, deixando um espaço
entre nós.
— Temos que parar de nos encontrar assim — tento brincar.
Seus lábios se contraem, mas há algo reservado em sua
expressão. — Acho que é a nossa coisa.
A cozinha está escura, o brilho suave das luzes sob o armário a
faz parecer menor do que o normal. Lá fora, o lago está parado,
refletindo o luar numa superfície prateada e ininterrupta.
Vou até o balcão, pego uma caneca e a encho com café ainda
quente. Meus dedos se enrolam ao redor da cerâmica, precisando do
conforto de algo sólido. — O que você está fazendo acordado?
— Poderia te perguntar a mesma coisa — diz Asher, cruzando os
braços enquanto se apoia na geladeira.
Dou de ombros, tomando um gole devagar. — Difícil dormir.
Ele acena como se entendesse. Talvez entenda mesmo. Talvez
seja por isso que ele também está aqui.
Caímos em um silêncio familiar, o tipo que costumava ser fácil,
mas agora contém algo mais. Algo não dito, pressionando de todos
os lados. Odeio isso. Odeio que as coisas pareçam diferentes agora,
como se todos estivéssemos esperando que algo se quebre.
Respiro fundo. — Você ainda vai embora?
É uma pergunta simples. Ele poderia apenas dizer sim, e
seguiríamos em frente. Mas o modo como sua mandíbula se aperta,
como seus dedos se flexionam contra os bíceps como se estivesse se
preparando para o impacto — isso me diz que a resposta não é nada
simples.
— Sim — ele finalmente diz.
A palavra cai mais pesada do que eu esperava. Engulo contra o
nó que se forma na minha garganta e forço um pequeno sorriso.
— Tudo bem — digo. — Então te liberto.
Suas sobrancelhas se juntam. — O quê?
Faço um gesto vago entre nós. — Seja lá o que isso for. Te liberto
disso.
Ele não diz nada.
Solto uma risada curta e sem humor. — É ridículo, de qualquer
forma. O que eu sequer sei sobre você? O que você sabe sobre
mim?
Os olhos de Asher brilham com algo ilegível antes de ele se
endireitar. Sua voz é baixa, mas firme. — Você gosta do seu café
com açúcar demais. Você dorme com a janela entreaberta, mesmo
quando está congelando. Você conta coisas quando está nervosa —
passos, rachaduras na calçada, quantas vezes as gêmeas dizem seu
nome. E você cantarola quando cozinha, mas só quando acha que
ninguém está ouvindo.
Paro de respirar por um segundo.
Seus olhos não deixam os meus. — E eu sei que você quer deixar
as pessoas entrarem, mas não sabe como.
Aperto meu aperto na caneca, o calor mal chegando às pontas
dos meus dedos. — E você? — Minha voz está mais suave agora,
quase hesitante. — Você toma café preto, mas só porque acha que
açúcar é fraqueza. Você carrega aquela maldita moeda no bolso e a
gira sobre os dedos quando está pensando demais em algo. Você
não fala sobre seus pais, mas vejo em seu rosto quando as meninas
fazem algo que te lembra o que você perdeu. E você odeia
despedidas.
A respiração de Asher fica presa. Por um segundo, algo muda
entre nós, se abrindo.
Então, de repente, ele está bem ali, sua testa pressionada contra
a minha, sua exalação quente contra minha pele. Meu pulso falha, o
momento é frágil demais, real demais. Fecho os olhos, deixando o
silêncio se estender entre nós. Deixando-me sentir isso, seja lá o
que for isso.
Não consigo me lembrar da última vez que algo pareceu tão
intenso, tão cru.
Sua respiração aquece meus lábios, e um tremor percorre meu
corpo. Olho para cima, encontrando seus olhos fixos nos meus com
uma fome que faz meu estômago revirar. Não falamos. Não há
necessidade. Ambos sabemos o que estamos prestes a fazer.
Ele inclina a cabeça, a boca roçando na minha em um beijo que
começa lento — gentil, até —, mas a represa se rompe rápido. Meus
dedos agarram a frente de sua camisa, puxando-o para mais perto,
e ele responde com um som baixo que vibra pelo meu peito.
Fico na ponta dos pés, aprofundando o beijo, e ele me levanta
como se eu não pesasse nada, me colocando na borda do balcão da
cozinha.
A superfície fria contrasta com o calor que corre por mim, e eu
suspiro. Minhas pernas se abrem para dar espaço a ele, e seus
braços me envolvem, bíceps fortes flexionando sob minhas palmas.
A proximidade é vertiginosa. Posso sentir cada respiração que ele
toma, cada suave ronronar em seu peito quando ele deixa escapar
um gemido baixo.
— Tem certeza? — ele murmura, voz áspera, olhos semicerrados
de desejo.
Respondo puxando-o para mim, capturando sua boca
novamente. Não há mais hesitação em mim. Meu coração bate tão
alto que tenho certeza de que ele pode ouvi-lo. Suas mãos deslizam
sob minha camisa, pontas dos dedos roçando minha cintura, minhas
costelas. Arqueio-me ao seu toque, faminta por mais, deixando a
tensão e frustração dos últimos dias ferverem em algo feroz e
inegável.
Beijamo-nos como se pudéssemos perder um ao outro amanhã.
Porque talvez percamos.
Ele quebra o beijo apenas o tempo suficiente para arrancar
minha camisa pela cabeça, e eu tremo com a súbita rajada de ar
contra minha pele. Sem esperar, ele agarra meus seios, suas mãos
grandes ásperas contra minha pele sensível. Gemo, deixando minha
cabeça cair para trás enquanto ele se inclina para percorrer meu
pescoço com a boca, sua respiração quente e ofegante.
— Meu Deus — ele murmura, lábios roçando o côncavo da minha
garganta. — Você é tão boa.
Arqueio-me contra ele, um gemido escapando quando seus
polegares passam sobre meus mamilos. A fricção envia uma onda de
prazer para o fundo da minha barriga, e puxo sua camisa, pedindo
que a tire, precisando sentir sua pele nua.
Ele obedece, jogando o tecido de lado. Meus olhos percorrem
seu torso, os planos esculpidos de seu peito e abdômen, as
cicatrizes tênues que contam histórias de um passado que ele
raramente discute. Engulo em seco, excitação e um pouco de medo
rodopiando em minhas veias.
— Me diga se... — ele começa, voz rouca.
Balanço a cabeça. — Eu quero isso — sussurro, alcançando seu
cinto. Meus dedos tremem enquanto o puxo, o tilintar da fivela
estalando.
Asher rosna baixo em sua garganta, puxando-me para outro
beijo feroz. O gosto dele é inebriante — café e algo puramente
masculino. Meu coração dispara loucamente quando ele desabotoa
minha calça, deslizando-a para baixo até que eu consiga chutá-la
para fora.
Estou dolorida, cada nervo em chamas, enquanto ele se
acomoda entre minhas coxas. Seu pau pressiona contra sua cueca,
grosso e insistente. Mordo meu lábio ao ver isso, uma onda de calor
me inundando. Ele tira o resto de suas roupas e, por um momento,
apenas nos olhamos — eu empoleirada no balcão, ele de pé, alto,
poderoso. Sua ereção é a prova de quanto ele deseja isso.
Lentamente, ele desliza a palma para cima pelo interior da minha
coxa, seu olhar nunca deixando o meu. Separo minhas pernas para
ele, o pulso ecoando em meus ouvidos, e no momento em que ele
toca meu centro, um suspiro escapa da minha garganta. Meus dedos
afundam em seus ombros, implorando para que ele se aproxime.
— Por favor — consigo dizer, com a voz trêmula.
Ele me responde inclinando-se, capturando um dos meus seios
em sua boca, sugando suavemente. Gemo, apoiando minhas mãos
no balcão atrás de mim para me sustentar. Eletricidade percorre
minha espinha enquanto sua língua provoca meu mamilo, e sinto
seu pau pressionando contra minha entrada.
— Droga — ele murmura, levantando a cabeça. — Você está tão
molhada.
Não há espaço para constrangimento. Apenas necessidade.
Envolvo minhas pernas ao redor de sua cintura, puxando-o para
dentro. Ele segura minha bunda, levantando-me ligeiramente para
que possa se alinhar. Seu primeiro impulso rouba meu fôlego, e
ambos gememos com o estiramento, com a sensação dele
deslizando para dentro de mim.
Ele dá uma estocada rápida, enterrando-se completamente, e eu
grito, agarrando-me a ele. O prazer me inunda em ondas, cada uma
mais intensa que a anterior. Asher apoia uma mão no balcão ao meu
lado, a outra em meu quadril, guiando-me enquanto começa a se
mover, cada movimento lento e deliberado.
Não consigo formar palavras, apenas gemidos que ele engole
com um beijo profundo. Minhas costas pressionam o balcão
enquanto seu pau entra e sai de mim, meus seios balançando a
cada estocada. Ele se inclina, capturando um mamilo entre seus
lábios novamente, e a sensação de sua boca em meu seio enquanto
está enterrado profundamente dentro de mim quase me desfaz.
— Meu Deus, Mia — ele geme, voz espessa de desejo. Seu ritmo
aumenta, seu aperto mudando para minha coxa para me posicionar
melhor a cada estocada. — Você é... porra.
A fricção cresce, o calor aumentando na base da minha coluna.
Minha cabeça cai para trás, olhos se fechando. Estou vagamente
consciente dos sons que estamos fazendo — nossa respiração
ofegante, meus gemidos, o som de pele batendo em pele. Ele é tão
grande, tão poderoso, e ainda assim, nunca me senti mais segura.
O nó de prazer se aperta mais e mais até que se rompe, e eu
estremeço contra ele, um grito estrangulado escapando enquanto
me contraio ao redor de seu pau. Ele geme meu nome entre dentes
cerrados, seus quadris vacilando enquanto encontra seu próprio
alívio, enterrado tão profundamente que posso praticamente sentir
seu coração batendo dentro de mim.
Ficamos assim pelo que parece uma eternidade — sua testa em
meu ombro, minhas pernas ainda envoltas nele. Nossos peitos
sobem e descem em uníssono irregular, corações martelando.
Lentamente, ele levanta a cabeça, afastando mechas suadas do meu
cabelo do meu rosto, seu olhar perscrutando o meu.
Abro a boca, sem ter certeza do que estou prestes a dizer, mas
ele me beija novamente. Mais suavemente dessa vez, cheio de uma
ternura que me envia uma onda de calor.
Asher fecha o zíper da calça jeans e veste sua camisa, seus
movimentos lentos e quase hesitantes. Puxo minha camiseta de
volta sobre a cabeça, meu corpo ainda vibrando na esteira. A
cozinha está silenciosa, exceto pelo zumbido fraco da geladeira e
nossas respirações instáveis.
Não sei o que dizer. O que isso significa.
Olho para ele, e ele já está me observando, algo cru e
desprotegido em sua expressão. Então ele exala, passando a mão
pelo cabelo antes de deixá-la cair ao lado do corpo.
— Eu te amo, Mia.
As palavras caem como uma onda de choque. Meus dedos
congelam na barra da minha camisa, e minha respiração para.
— O quê?
Seu maxilar se tensiona, mas ele não volta atrás. — Eu te amo —
ele repete, mais certo desta vez. — Não sei quando aconteceu.
Talvez desde o momento em que você me disse que eu não era tão
charmoso quanto pensava. Talvez quando vi você lutando pelas suas
meninas como se nada mais no mundo importasse. Ou talvez
quando percebi que não queria ir embora.
Meu estômago se contorce dolorosamente. — Mas você está indo
embora.
Sua garganta trabalha enquanto ele engole. — Sim. — Sua voz é
grossa, tensa. — Mas isso não muda o que sinto.
Eu o encaro, meu coração martelando. Não sei o que esperava
esta noite, mas não era isso.
— Asher... — começo, mas nem sei como terminar a frase.
Ele balança a cabeça. — Você não precisa dizer nada. — Sua
boca se contrai em algo que não é bem um sorriso. — Eu só
precisava que você soubesse.
Antes que eu possa dizer qualquer coisa, o som suave de
pequenos passos nos alcança. Viro-me assim que Emma aparece na
porta, esfregando os olhos sonolentos.
— Princesa — digo, forçando minha voz a permanecer calma. —
Por que você não está na cama?
Emma boceja, agarrando seu unicórnio de pelúcia. — Eu estava
procurando a Ella.
Algo afiado atravessa meu peito. Endireito-me. — Como assim?
Ela não está na cama?
Emma balança a cabeça. — Não. Ela saiu para procurar o Super
Agente Zane.
O ar é sugado dos meus pulmões. Cada músculo do meu corpo
trava.
Asher enrijece ao meu lado. — Saiu para onde? — ele pergunta à
Emma, já se movendo.
— Não sei. — Emma dá de ombros. — Ela me acordou e disse
que queria ajudar na patrulha, como agentes secretos de verdade.
Meu coração troveja tão alto que abafa tudo mais. Ella. Lá fora.
Sozinha.
Caio de joelhos, segurando os ombros de Emma, tentando
manter meu pânico sob controle. — Querida, há quanto tempo ela
saiu?
Emma dá de ombros novamente, seu lábio inferior tremendo. —
Não sei. Voltei a dormir.
Meu Deus.
Asher já está na porta, pegando sua arma. — Vou sair.
— Vamos com você — digo.
Seus lábios se fecham, mas ele acena. — Provavelmente é uma
boa ideia.
Aceno com a cabeça, pegando Emma nos braços, minhas mãos
tremendo. — Tudo bem, bebê — sussurro. — Vamos encontrá-la
juntos.
Seguro Emma junto a mim enquanto subimos na varanda, meu
pulso ecoando em meus ouvidos. A noite está muito quieta, muito
imóvel. Asher se move à frente, examinando o perímetro com
movimentos rápidos e eficientes.
— Ella! — Minha voz racha, mas a forço novamente, mais alto. —
Ella, querida, onde você está?
Nada.
Asher pragueja baixinho. — Zane já deveria ter voltado.
O peso dessa constatação me atinge. Sem Ella. Sem Zane.
O pavor se enrola em meu estômago. Movimento-me cegamente
para frente, meus pés descalços esmagando a terra fria enquanto
avanço em direção à linha das árvores. — Ella! — Minha garganta
está em carne viva, meus dedos apertando Emma, que se agarra a
mim agora, o medo finalmente se instalando.
Então eu vejo.
Manchas escuras de vermelho espalhadas pelo chão perto da
beira do lago.
Um som estrangulado escapa da minha garganta enquanto meus
joelhos cedem. Sangue. Muito sangue.
— Meu Deus — sussurro, mal conseguindo respirar. — Não. Não.
O aperto de Asher no meu braço se intensifica enquanto ele me
puxa para longe da terra manchada de sangue. — Mia, me escuta —
ele diz, com a voz calma mas urgente. — Isso não é o que você está
pensando. Um caçador abateu um cervo aqui ontem. Eu o encontrei
enquanto verificava o perímetro.
Minha respiração treme ao sair enquanto encaro as manchas
escuras e úmidas na grama. — Um caçador? Tem certeza?
— Sim. — Os olhos de Asher tremulam com algo, talvez
hesitação. — Era apenas um morador local. Ele nem sabia que
estávamos aqui.
O grito da Emma rasga a noite, agudo e aterrorizado, antes dela
disparar para longe de mim.
— Emma! — grito, com o coração batendo contra as costelas
enquanto corro atrás dela.
Ela está correndo às cegas, seus pezinhos levantando terra e
folhas, seus soluços perdidos no sopro do vento. Forço minhas
pernas a correr mais, minha respiração saindo em arfadas
irregulares. Ela não deveria estar vendo isso. Ela não deveria estar
vendo nada disso.
As árvores passam borradas, e mal percebo o terreno irregular
sob meus pés. Não paro de correr até atravessar a fileira de árvores
e alcançar a estrada deserta.
Uma luz cegante atravessa minha visão. Me encolho, erguendo
um braço enquanto faróis inundam a estrada, queimando contra a
escuridão. O ronco de um motor se aproximando envia uma onda
doentia de déjà vu pela minha espinha. Engulo em seco, piscando
contra o brilho.
Damon. Tem que ser o Damon. Ele saiu há horas. Está voltando.
Os pneus rangem contra o cascalho, desacelerando, então
parando completamente. O alívio me inunda por apenas um
segundo—
A porta do motorista se abre.
E Jason sai.
Tudo dentro de mim congela.
Um sorriso lento e tranquilo se espalha pelo rosto dele, seus
olhos brilhando nos faróis. — Ora, ora — ele murmura. — Correndo
por aí na noite assim? Isso não é muito seguro, é, querida?
— Jason — respiro.
Ele aponta para o carro, e vejo o contorno de um homem
segurando algo.
Ella! Minha bebê!
Jason sorri para mim. — Está na hora de ir para casa, querida.
22
ZANE
A
cordo de costas, com a umidade fria da terra penetrando
minhas roupas. Minha cabeça lateja, uma dor lenta e insistente
na base do crânio. Meus membros parecem pesados, lentos,
como se eu tivesse ficado desacordado mais tempo do que deveria.
Me apoio nos cotovelos, gemendo quando uma onda de tontura
me atinge. O mundo gira antes de entrar em foco. O lago se estende
à minha frente, escuro e imóvel. O ar está carregado com o cheiro
de folhas úmidas e algo metálico - sangue.
Meu celular está a alguns metros de distância, com a tela
rachada e o brilho fraco de uma notificação perdida piscando.
Estendo a mão para pegá-lo, estremecendo quando meus dedos
tocam algo molhado perto da minha têmpora. Sangue. Meu sangue.
Vozes chegam através das árvores, urgentes, procurando.
— Mia. Ella! Emma! — Asher grita. — Emma! Ella!
— Asher — digo com dificuldade, minha garganta seca como o
inferno. Tento novamente, um pouco mais alto. — Asher!
Passos cruzam o mato rapidamente. Um feixe de lanterna varre a
área antes de parar em mim. Asher aparece, com a mandíbula
tensa.
— Jesus — ele murmura, agachando-se ao meu lado. — Que
diabos aconteceu com você?
Balanço a cabeça, tentando juntar as peças. — Não tenho
certeza — admito, com a voz rouca. — Num momento eu estava
fazendo a ronda, e no outro... — paro de falar, peneirando memórias
fragmentadas.
Um ruído. Passos atrás de mim. Uma dor aguda na parte de trás
do meu crânio.
Depois, nada.
Asher segura meu ombro, me estabilizando enquanto tento
sentar completamente. Seus olhos passam pelo sangue na minha
cabeça e depois para meu celular quebrado.
— Você foi atacado. — Não é uma pergunta.
Expiro bruscamente. — Parece que sim.
Seu olhar se volta para as árvores, examinando a escuridão. —
Viu quem era?
— Não. — Minha frustração aumenta. — Mas quem quer que
tenha sido, me pegou desprevenido.
Ele xinga baixinho. — As gêmeas e Mia desapareceram.
Tudo dentro de mim fica imóvel. Minha cabeça pode estar
latejando, minha visão um pouco comprometida, mas nada disso
importa mais.
— O que aconteceu? — exijo saber.
Asher faz uma careta. — Acho que a mesma coisa que aconteceu
com você.
— Merda.
Asher expira bruscamente, passando a mão pelo cabelo. —
Consegue ficar de pé?
Faço que sim com a cabeça, mas no segundo em que me
levanto, o mundo vacila. Asher segura meu braço, me mantendo de
pé.
— Não temos tempo para isso — ele murmura, examinando o
bosque escuro. — Emma fugiu. Mia foi atrás dela. E agora...
Um grito corta a noite.
Mia.
Avançamos pelo mato, cada passo alimentado pela adrenalina e
raiva mal contida. Leva alguns minutos para chegarmos à estrada
principal.
A estrada de terra está fresca com marcas de pneus, sulcos
profundos onde alguém saiu em alta velocidade.
Asher xinga baixinho, ajoelhando-se para passar os dedos pelas
marcas deixadas por sua caminhonete.
— Filho da puta — ele murmura. — Eles levaram minha maldita
caminhonete.
Meu estômago se revira. Jason não estava sozinho; isso é claro.
A emboscada foi planejada. Ele queria Mia, e conseguiu o que
queria.
Troco um olhar com ele, meu estômago se retorcendo. — Você
deixa uma chave reserva nela?
Seu maxilar se contrai. — No porta-luvas.
— Filho da puta. — Chuto uma pedra para fora do caminho e
olho para meu telefone. A tela pisca e depois apaga. — O meu está
morto. E o seu?
Asher verifica o dele, balançando a cabeça. — Sem sinal. — Ele
xinga, esfregando a mão sobre a boca.
Chegamos à casa, ofegantes, nossas botas batendo contra a
varanda de madeira. Asher empurra a porta e, no momento em que
entramos, sei que algo está errado. O ar parece denso, carregado
com a ausência das pessoas que deveriam estar aqui. A central de
vigilância deveria estar zumbindo, telas piscando com transmissões
ao vivo, mas quando Asher aciona o interruptor, nada acontece.
Silêncio mortal.
Seguro a borda da mesa, os nós dos dedos brancos. Minha
cabeça ainda está latejando, meu corpo dolorido pelo que quer que
tenha me atingido, mas nada disso importa. Não quando Mia e as
meninas estão lá fora.
Asher move-se para o balcão, pegando um bloco de notas e uma
caneta. — Damon vai voltar para uma cidade fantasma se não
deixarmos algo para trás.
Ele rabisca algo no bloco de notas.
"M e as meninas foram levadas. Comunicações mortas.
Rastreando para o leste."
Ele arranca a página do bloco e a coloca no balcão. — Vamos.
Não preciso que me digam duas vezes. Voltamos para a noite,
cada segundo perdido enquanto Mia e as meninas estão nas mãos
de Jason. E isso é algo com que não posso viver.
Asher xinga e move-se rapidamente para verificar os servidores,
seus dedos voando sobre o teclado. — Tudo está desligado — diz
ele, com a voz tensa. — Eles cortaram a transmissão.
Passo a mão pelo cabelo, com o pulso acelerado. — Isso não é
uma maldita coincidência.
— Não, não é. — O maxilar de Asher se contrai.
Avançamos pela floresta, examinando o chão em busca de
qualquer coisa - um galho quebrado, um pedaço de tecido, pegadas
frescas. Mas a tempestade que se aproxima já começou a enlamear
as trilhas. As folhas úmidas e o vento instável tornam impossível
dizer se alguém passou por aqui recentemente.
É frustrante pra caramba.
Asher mal disse uma palavra desde que saímos da casa, mas sua
tensão é palpável. Ele quer sangue, e não o culpo por isso.
Depois de mais uma busca infrutífera pelos bosques, voltamos à
estrada. As marcas de pneus ainda são visíveis na terra macia, mas
sem uma direção, estamos tateando no escuro. Olho para cima,
examinando a linha das árvores, e é quando vejo.
Uma estrutura, meio escondida pela vegetação densa.
— Ali. — Aponto, e Asher segue meu olhar.
Um posto de caça. Elevado, camuflado. O ponto de observação
perfeito para vigiar a estrada sem ser visto.
Asher exala bruscamente, algo se encaixando em sua mente. —
Merda.
— O quê? — pergunto.
Ele balança a cabeça, já se movendo em direção ao posto. —
Tinha um caçador aqui há alguns dias — diz ele. — Esbarrei com ele
enquanto verificava o perímetro. Afirmou que estava apenas
caçando veados, até me ofereceu um pouco de carne.
Franzo a testa. — E você acreditou nele?
— Não — responde Asher secamente. — Mas eu não tinha
motivo para não acreditar. Não até agora.
Avançamos pelo matagal, abrindo caminho até o posto. Meu
pulso acelera. Se esse suposto caçador tivesse algo a ver com Jason,
se estivesse aqui nos observando... caramba, se estivesse
trabalhando com ele, então já estamos em desvantagem.
Chegamos à base do posto. A escada de madeira é velha, mas
resistente. Asher agarra os degraus e começa a subir enquanto fico
embaixo, examinando a área, com minha arma na mão.
Alguns segundos depois, ouço Asher praguejar. — Filho da puta!
— O quê? — subo atrás dele.
Obtenho minha resposta assim que entro.
— Isso não é um posto de caça — murmuro, entrando. O espaço
é apertado demais para que nós dois nos movamos facilmente, mas
não é isso que me deixa nervoso. É o equipamento. — Que porra é
essa?
Equipamentos de vigilância profissionais estão espremidos na
pequena estrutura. Um laptop, com a tela escura. Um microfone
parabólico com um acessório de longo alcance. Visores de visão
noturna. Um maldito bloqueador de sinal, zumbindo e fazendo
minha cabeça latejar.
— Jesus Cristo — exalo. — Isso não era um caçador qualquer.
Isso é uma maldita operação de vigilância.
O maxilar de Asher está tenso. — E ele estava vigiando a Mia.
Sigo seu olhar até o laptop. Está aberto, mas a tela está em
modo de espera. Asher pressiona uma tecla, e a tela ganha vida.
Uma transmissão ao vivo da casa do lago.
Meu sangue congela. Os ângulos não são das nossas câmeras de
segurança. Estes são diferentes. Alguém havia instalado sua própria
vigilância sobre nós.
Não há imagens do interior da casa, apenas das áreas ao redor
— a varanda, a entrada, o quintal, até as janelas do andar superior.
Tudo estava sendo monitorado remotamente.
— É assim que eles conheciam nossas rotinas — diz Asher, com
voz baixa de raiva. — Eles têm observado o tempo todo.
Uma percepção doentia toma conta de mim. — E nós nunca os
vimos.
Asher não responde. Ele apenas navega pelas imagens, com os
ombros rígidos. Então ele para.
Um quadro pausado de Mia e das meninas, tirado mais cedo
hoje.
Meu estômago se contrai. Quem preparou isso sabia o que
estava fazendo. Estavam esperando uma oportunidade.
E agora, tinham uma.
Asher arranca o disco rígido do laptop, desconectando-o da fonte
de energia. — Vamos levar isso. Talvez eu consiga extrair alguma
coisa dele.
Concordo com a cabeça, mas minha mente já está correndo
adiante. Minha cabeça está girando, meu pulso martelando em
minha garganta. Elas não foram embora. Foram levadas.
Jason as tem. Mia. As meninas.
Agarro a borda da mesa de vigilância com tanta força que meus
dedos ficam dormentes. Meu peito parece vazio, como se alguém
tivesse removido minhas entranhas e as substituído por gelo.
Para onde ele as levou? O que ele planeja fazer?
Não preciso perguntar por quê. Jason é obcecado. Possessivo.
Ele tem jogado esse jogo há muito tempo, esperando o momento
certo para atacar. E agora, ele a pegou. Elas.
Exalo bruscamente, forçando minha mente a se concentrar.
Pense, Zane. Pense.
Jason não é o tipo que simplesmente desaparece sem deixar
rastros. Ele é arrogante. Deixa migalhas pelo caminho, mesmo
quando não tem essa intenção.
Mas aquela sensação doentia em meu estômago diz que ele
planejou isso há muito tempo.
Uma praga baixa de Asher me traz de volta. Ele está andando
agora, girando os ombros como se estivesse pronto para despedaçar
alguém. — Precisamos nos mexer — diz ele, com voz sombria de
frustração. — Cada segundo que perdemos...
— Eu sei. — Minha voz sai áspera. Meus olhos caem sobre o
laptop, com as imagens de Mia e das meninas ainda congeladas na
tela.
Nunca consegui dizer a ela.
Que isso não é apenas atração, mas algo mais. Que ela não é
apenas uma cliente, não apenas mais uma missão.
Deveria ter dito a ela na primeira noite em que me permitiu tocá-
la. Deveria ter dito no momento em que ela começou a me olhar
como se talvez — apenas talvez — ela também sentisse isso.
A raiva atravessa meu corpo como uma bola de demolição. Mia.
As gêmeas. Jason as tem.
Não penso, apenas reajo. Meu punho se choca contra a mesa de
vigilância, e depois novamente. O som quebradiço do plástico
rachando sob meus nós dos dedos mal é registrado. O zumbido do
bloqueador ainda continua, alimentando a estática que nos afoga
desde que este pesadelo começou.
Que se dane isso.
Agarro o dispositivo e o arranco de sua base, jogando-o no chão.
Ele solta faíscas ao impacto, sua carcaça de metal amassando como
lata barata. Não é o bastante. Piso com força, torcendo minha bota
até que os circuitos se esmaguem sob a pressão. O zumbido morre
instantaneamente, e o silêncio que segue é ensurdecedor.
Asher arranca o telefone do bolso, seus polegares voando pela
tela. Um instante depois, as barras de sinal aparecem. Estamos
online novamente.
— Ligue para o Damon — digo.
Asher concorda e disca o número.
— Chefe? — Sua voz é curta, urgente. — Jason tem nos
observado. Mia desapareceu...
Ele para abruptamente, seus olhos captando algo logo fora do
posto de caça. Sigo sua linha de visão, e meu sangue congela.
Um pequeno pedaço de tecido está na lama, emaranhado no
mato. Rosa. Bordas desfiadas. Um pequeno unicórnio bordado no
canto.
A fita de cabelo de Emma. Aquela que ela estava usando no
jantar.
Eu me movo antes que possa pensar, agachando-me para pegá-
la. As manchas de lama mancham meus dedos enquanto a viro,
minha respiração presa no peito. Ela lutou.
Jason pode tê-las levado, mas ela lutou.
Asher ainda está no telefone, relatando detalhes para Damon,
mas mal o ouço por causa do som do meu próprio pulso rugindo em
meus ouvidos.
Dentro de mim, algo se quebra.
Jason quer uma briga? Ele acabou de conseguir uma.
É
respiram como pulmões na brisa. Isto não é um lar. É uma prisão
disfarçada de um.
Emma está encolhida contra meu peito, sua respiração suave
aquecendo minha pele. Ella está bem ao meu lado, seu aperto
nunca afrouxando. Meus dedos tremem enquanto afasto o cabelo de
Ella, procurando qualquer sinal da droga que Jason usou nela.
Sua respiração está regular, suas pupilas normais. Nenhuma
lentidão ou outros efeitos persistentes.
Exalo, a tensão saindo dos meus ombros. Ela está bem.
— Vamos ficar presas aqui para sempre? — A vozinha de Ella
quebra o silêncio.
Aperto as duas com mais força. Não. Não, não vou deixar isso
acontecer.
Mas não posso prometer isso. Ainda não.
Antes que eu possa responder, a voz de Jason corta o ar pesado,
alegre demais. Como se tudo isso fosse perfeitamente normal.
— Fome?
Meu estômago se aperta. Quero recusar, mas a verdade é que as
meninas não comem desde ontem. Seus pequenos corpos precisam
de comida, não importa quem a esteja oferecendo.
Engulo meu orgulho. Minha raiva. O medo gritando dentro de
mim. Primeiro preciso mantê-las vivas. Todo o resto vem depois.
Concordo com a cabeça, guiando-as até a porta.
A área da refeição está tão estranhamente encenada quanto o
resto da casa. A mesma mesa de madeira que me lembro do nosso
antigo lugar. Os mesmos jogos americanos florais. Até mesmo o
cheiro — queijo, amanteigado e quente — me atinge como um soco
no estômago.
Jason está em pé no fogão, usando um maldito avental. Ele
mexe uma panela, cantarolando para si mesmo como um pai
perfeito em um comercial de domingo.
Macarrão com queijo. O preferido das meninas.
Sinto suas mãozinhas apertarem a minha enquanto observam a
cena. Elas sabem. Mesmo com cinco anos, sabem que isso não está
certo.
Jason se vira, todo sorrisos. — Bem na hora! Fiz o favorito de
vocês, meninas.
Emma e Ella não se movem. Suas mãos continuam firmes na
minha, seus corpos rígidos. Meninas espertas.
Forço meus pés a avançarem, guiando-as até a mesa. Os pratos
já estão postos, tigelas de plástico rosa cheias até a borda.
Tudo em seu lugar. Perfeito. Controlado.
As meninas se sentam, mas suas mãos se encontram debaixo da
mesa, apertando-se com força. Eu permaneço de pé por mais um
instante, forçando-me a ocupar o lugar em frente ao Jason.
Emma finalmente fala, sua voz mal passando de um sussurro
enquanto olha para sua tigela.
— O Agente Secreto Damon faz melhor.
O pezinho de Ella acerta a canela de Emma por baixo da mesa.
Emma suspira, olhos arregalados com a traição, mas cerra os lábios
quando vê meu olhar de advertência.
Jason fica imóvel. O suave tilintar da colher contra a cerâmica
para.
Sinto a mudança no ar antes mesmo de ele se virar. A tensão se
estica, tão fina que posso ouvir meu próprio pulso martelando em
meus ouvidos.
Suas costas permanecem voltadas para nós enquanto ele ri, seu
tom baixo, divertido. — Ah, é?
Ella agarra meu braço com tanta força que suas unhas penetram
minha pele.
Jason finalmente se vira para nós, seu sorriso se abrindo um
pouco largo demais. Seus olhos passam para mim, brilhando com
algo perigoso. — Bem. Acho que vou ter que fazer melhor, não é?
O cheiro de molho de queijo artificial enche o ar, grudando na
minha pele como algo podre. As meninas adoram macarrão com
queijo, mas nenhuma delas alcança suas colheres. Suas mãos
permanecem entrelaçadas nas minhas debaixo da mesa, dedos
pequenos e quentes agarrando com força.
Eu aperto de volta. Não sei se estou tranquilizando-as ou
roubando sua força.
Jason coloca a tigela na frente delas com um floreio. — Aqui
está, princesas. Exatamente como a mamãe costumava fazer.
Jason observa as gêmeas comerem como um pai orgulhoso,
como se realmente tivesse feito algo para merecer a confiança delas.
Como se não as tivesse arrancado de casa. Drogado, roubado.
A pior parte é que ele está gostando disso. Do controle. Da
submissão. Do poder.
Eu me forço a dar outra mordida, nem que seja apenas para
evitar que ele perceba como minhas mãos tremem. As meninas me
imitam, erguendo suas colheres em sincronia, seus movimentos
lentos, cuidadosos.
Jason se inclina para frente, apoiando os antebraços na mesa,
seu olhar me fixando. — Você fez um bom trabalho com elas.
Engulo contra a bile subindo em minha garganta.
— Elas são educadas. Obedientes. — Ele inclina a cabeça. —
Você as treinou bem.
Agarro o joelho de Emma debaixo da mesa, impedindo-a de
reagir. Se ela revidar, se mostrar que não é a menina dócil que ele
quer que ela seja, não sei como ele vai reagir.
— Elas são fortes — corrijo, com a voz firme. — Mais fortes do
que você jamais será.
Seu sorriso não vacila, mas algo cintila por trás de seus olhos. —
Veremos.
As meninas se encolhem mais perto de mim.
Jason suspira, balançando a cabeça. — Mia, Mia, Mia... sempre
tão combativa. — Ele gesticula em direção ao meu prato. — Coma
mais. Você vai precisar de suas forças.
Forço mais uma garfada. Não porque quero, mas porque preciso
me manter à frente dele. Se eu lutar contra algo pequeno, ele vai
forçar algo maior.
— Boa menina — ele diz.
Meus dedos se curvam em um punho debaixo da mesa.
Jason alcança sua taça de vinho, tomando um gole lento,
observando-me por cima da borda. — Amanhã, começamos do zero.
Acho que é hora das meninas se acostumarem com sua nova vida,
não acha?
A nova vida delas. Meu coração bate contra minhas costelas. Não
sei o que ele quer dizer com isso, mas sei que não é bom.
Mantenho meu rosto inexpressivo, minha voz neutra. — O que
você quer dizer?
Jason sorri maliciosamente, mas não responde. Em vez disso,
ergue sua taça em um brinde silencioso. — A novos começos.
Emma estremece, e Ella aperta minha mão. Permaneço em
silêncio, garganta queimando com todas as coisas que não posso
dizer.
Amanhã.
Tenho até amanhã.
Não importa o que seja preciso – tenho que tirar minhas filhas
daqui. Antes que seja tarde demais.
Observo Jason. Há algo estranho nele. E é quando percebo o que
é.
O jeito como Jason as observa. O modo como se porta, como
imita a inclinação de cabeça do Damon, a postura vigilante do Zane,
até mesmo o tom brincalhão do Asher quando fala com as meninas.
Ele tem estudado eles. Aprendendo.
Não apenas como substituí-los. Como destruí-los.
Coloco as gêmeas na cama, alisando os cachos da Emma e
dando um beijo na testa da Ella. Elas pararam de perguntar quando
vamos para casa.
E isso é o que mais me aterroriza.
Sussurro suaves palavras de conforto, promessas vazias. Não
posso deixá-las ver quanto minhas mãos tremem enquanto puxo o
cobertor sobre elas. Tenho que mantê-las calmas. Se eu desmoronar,
elas também vão.
Quando entro no corredor, Jason já está lá. Esperando.
— Você deveria me agradecer — ele diz suavemente, bloqueando
meu caminho. — Eu salvei você de fazer papel de tola.
Não respondo.
Ele se inclina. — Três homens, Mia? — Seus lábios se curvam em
um sorriso malicioso. — Sei que você está desesperada por atenção,
mas isso é demais.
Não me encolho. Não deixo que ele veja como suas palavras
arranham algo cru dentro de mim.
— Damon. Zane. Asher. — Ele diz os nomes como uma maldição.
Como se os tivesse provado em sua língua e os achado amargos. —
Eles acham que podem pegar o que é meu e simplesmente ir
embora? — Seus lábios se curvam. — Aposto que eles nem sabem
um do outro.
Engulo em seco.
— Oh, isso é interessante. — Jason inclina a cabeça, lendo como
minha respiração falha. — Eles sabem, não é? — Seu sorriso é
afiado. Cruel. — Isso é ótimo. Uma empresa de segurança inteira
enrolada por sua causa? Isso é inédito.
Cerro os dentes, meu pulso martelando.
— Você sempre gostou de brincar de casinha — ele continua. —
Você fingiu com eles também? Deixou que pensassem que poderiam
te manter? — Sua mão desliza para meu pulso, apertando o
suficiente para me fazer sentir pequena. — Você não pertence a
eles, Mia. — Seus lábios roçam minha têmpora, um toque
fantasmagórico que faz minha pele se arrepiar. — Você pertence a
mim.
Luto contra o arrepio que corre pela minha espinha. — Você não
me possui mais — eu digo.
Jason repreende, estendendo a mão para deslizar um dedo pela
minha bochecha. — Não? — Sua respiração é quente. — Eu possuo
este momento. — Sua mão desliza mais baixo, dedos pressionando
contra meu pulso. — E o próximo. — Seu aperto aperta, apenas o
suficiente para me lembrar que ele pode.
Minha respiração falha, e Jason sorri.
— E cada momento até que eles venham por você. — Seus olhos
brilham com algo sombrio, algo ansioso. — Porque eles virão. E é
com isso que estou contando.
Meu estômago se revira. Finalmente entendo. Isso não é apenas
sobre me punir. Nem é sobre me possuir.
É sobre eles. Jason quer que eles venham. Ele quer vê-los
queimar.
Não posso deixar isso acontecer.
Não vou.
23
ASHER
A
caminhonete de Damon derrapa na entrada, espalhando
cascalho. Ele mal deixa o motor morrer antes de sair,
caminhando em nossa direção com aquela calma letal que
significa que está por um fio para perder o controle.
—O sinal voltou — reporta Zane, sem tirar os olhos dos mapas de
vigilância. —Mas o telefone da Mia está sem bateria.
Damon não reage imediatamente, mas percebo como seus dedos
se flexionam ao lado do corpo. Ele sabe. Todos nós sabemos. Jason
está com elas.
Eu intervenho. —Vasculhamos a floresta. Não há rastros que
levem para longe. Nenhuma marca óbvia de veículo além da
estrada. Ele foi cuidadoso.
Damon exala bruscamente, esfregando a mão no queixo. —Para
onde diabos ele as levou?
Zane olha para mim e depois de volta para Damon. —Esse é o
problema. Não sabemos.
Damon pragueja baixinho, aproximando-se dos monitores,
examinando feeds de câmeras inúteis. O bloqueador pode estar
frito, mas Jason foi metódico. Ele não apenas cortou as
comunicações — apagou o rastro deles.
Mas ele cometeu um erro.
—Ele quer que a gente o persiga — digo, percebendo a
conclusão.
Damon vira-se bruscamente. —O quê?
—Isso não era sobre desaparecer — explico. —Se ele quisesse
sumir com elas, teria levado mais tempo, coberto seus rastros ainda
melhor. Mas deixou o suficiente para nós. Ele quer que vamos atrás
dele.
Zane inclina-se para frente, olhos sombrios. —Sim, mas para
onde?
Passo a mão pelo cabelo, pensando. —Ele não arriscaria ficar por
perto. O primeiro lugar que procuraríamos seria uma propriedade
abandonada, mas Jason não é tão desleixado assim.
Damon cerra os dentes. —Então o quê? Ficamos sentados aqui?
—Não — balanço a cabeça. —Precisamos descobrir onde Jason
acha que nunca procuraríamos.
O silêncio se instala, pesado e tenso. Estamos perdendo alguma
coisa.
Espalho as fotos que encontramos no abrigo de caça, cada uma
fazendo meu estômago revirar. Imagens da casa de diferentes
ângulos, os registros de data e hora provando que ele estava nos
observando há dias. Talvez mais.
—Isso não é trabalho dele — digo, analisando a colocação
meticulosa das câmeras, a forma como a vigilância foi montada. —
Ele não tem as habilidades para isso. Provavelmente contratou
alguém.
Zane exala bruscamente. —Ou usou pessoas da sua rede
criminosa.
Damon estuda as imagens, seus dedos batendo contra a mesa.
Sua expressão é sombria, ilegível. Mas conheço a fúria por baixo.
—Mas como ele continua nos encontrando? — pergunto. —Nos
livramos do rastreador no urso. Trocamos de casa segura. Fomos
cuidadosos.
O maxilar de Damon se contrai. —Não a levamos para longe o
suficiente, e ele espalhou uma ampla rede para nos encontrar.
O pensamento faz meu estômago revirar. Ele sabia que viríamos
para cá. Estava esperando que ficássemos confortáveis.
Damon de repente bate o punho contra a mesa. —Deixando Mia
e as meninas vulneráveis.
O ambiente fica silencioso. Todos sentimos isso — a raiva, o
fracasso, o fato de que Jason nos manipulou.
Zane exala, andando de um lado para o outro pela sala. —Certo.
Vamos pensar. Ele não as pegou aleatoriamente. Planejou isso.
Significa que tem um local em mente. Um lugar onde se sente
seguro.
Damon concorda com um aceno de cabeça, todo profissional
agora. Passo a mão pelo cabelo, o peso de tudo que aconteceu hoje
me esmagando.
Os mapas, as fotos, o silêncio ensurdecedor onde a voz da Mia
deveria estar.
—Vocês acham que é culpa nossa? — pergunto, as palavras
saindo roucas. —Que nos deixamos distrair?
Zane exala bruscamente, cerrando o maxilar. —Não. — Mas há
algo hesitante em sua voz.
Damon balança a cabeça, mãos apoiadas na mesa, mas não
nega diretamente. —Deveríamos ter nos antecipado a ele. Previsto o
próximo movimento. Em vez disso, ficamos confortáveis. — Seus
dedos se curvam em um punho. —O pior é que nunca consegui dizer
a ela. Eu nunca deveria ter saído daquele jeito.
Zane se apoia na parede, braços cruzados. —Acho que está bem
claro que nós três gostamos dela.
Damon não responde imediatamente, mas seu silêncio fala mais
alto que palavras.
Mudo de posição, repentinamente inquieto. —Eu disse a ela —
admito.
Isso chama a atenção deles. Damon se endireita e as
sobrancelhas de Zane se juntam.
—Você o quê? — Zane late.
—Eu disse a ela. — Encaro seus olhares diretamente. —Um
pouco antes de acontecer.
—Jesus, Asher — murmura Damon.
—Não planejei isso — digo asperamente. —Simplesmente...
aconteceu.
Zane solta uma risada sem humor. —E como ela reagiu?
Hesito, lembrando da cozinha, do jeito que ela me olhou como se
tivesse medo de ter esperança. Do jeito que saí antes que pudesse
ouvir o que ela queria dizer em resposta.
—Ela não teve chance de responder — finalmente digo. —Então
Emma entrou, e quando percebi, estávamos na floresta, procurando
por Ella.
Damon passa a mão pelo rosto. —Merda.
Concordo com a cabeça. —É.
Damon me encara, braços cruzados sobre o peito. —Pensei que
você estivesse indo embora?
O contrato de Dubai no meu bolso parece estar queimando um
buraco direto através de mim. Um lembrete de uma escolha que não
parece mais uma escolha.
Eu o puxo para fora, olho para as letras miúdas por um segundo.
Seis meses no exterior, boa remuneração, separação limpa. Deveria
ser fácil. Deveria parecer o movimento certo.
Mas não parece.
Rasgo o contrato ao meio.
Zane observa os pedaços de papel flutuarem até o chão,
levantando levemente as sobrancelhas. Damon exala pelo nariz, algo
ilegível brilhando em seu olhar.
—Não vou a lugar nenhum — digo a eles. Minha voz é áspera,
mas determinada. —Não até recuperarmos nossa família.
Por um longo momento, nenhum de nós fala.
Olho para os mapas, para as fotos, para as evidências da
obsessão de Jason. — Nós as trazemos de volta para casa — digo.
— Depois resolvemos o resto.
Zane e Damon assentem. E assim, estamos na mesma página
novamente.
Damon pega seu telefone, rolando pelos contatos com uma
expressão que significa problemas para qualquer um do outro lado.
— Estou acionando alguns favores — ele diz.
— Que tipo de favores? — pergunto, observando-o atentamente.
— O tipo que resolve as coisas. — Ele aperta o botão de ligação,
levando o telefone ao ouvido. — Um dos motivos pelos quais
comprei esta cabana foi porque o centro de treinamento dos
Rangers do Exército fica por perto e é administrado por um amigo.
Ele está sempre procurando exercícios de treinamento para os
homens.
Zane solta um assobio baixo. — Então vamos transformar isso
numa operação oficial?
— Se isso trouxer Mia e as meninas de volta, não me importo
com o nome que damos a isso — Damon diz, saindo para a varanda
enquanto a chamada conecta.
Troco um olhar com Zane. Se Damon está entrando em contato
com seus antigos conhecidos, a situação está prestes a ficar séria. E
é exatamente disso que precisamos.
Quando Damon termina sua ligação, sentamos ao redor da mesa
de jantar da cabana, armas espalhadas entre nós e produtos de
limpeza ao alcance. Os movimentos rítmicos de desmontar, esfregar,
remontar — é um ritual, algo para manter nossas mãos ocupadas
enquanto esperamos.
— Estava pensando no que você disse mais cedo — Damon me
diz.
— O quê? — respondo defensivamente.
Ele ergue uma sobrancelha. — Mia foi levada porque fiquei com
muito ciúme e saí. E não há outra maneira de dizer isso.
Funcionamos melhor juntos, isso não poderia estar mais claro. Mas o
que estou tentando dizer é... — Ele faz uma pausa. — Por mais não
convencionais que sejam as ideias de Mia, não é um mau caminho a
seguir.
Faço uma pausa, olhando para cima. — O que você quer dizer?
Zane coloca sua Glock recém-limpa sobre a mesa, esfregando o
maxilar. — Tenho certeza que você já sabe o que ele quer dizer.
Damon exala, recostando-se na cadeira. — Estou surpreso com o
quanto quero fazer parte da vida dessas meninas. — Sua voz está
mais áspera que o normal, como se admitir isso lhe custasse algo.
— Sim — diz Zane, sua voz mais baixa que antes. — Sei como é.
Engulo em seco. Não tinha me permitido pensar muito sobre
isso, mas é verdade. Eu estava planejando partir, e agora não
consigo imaginar me afastar delas. De nenhuma delas.
— Concordo — digo. — Pelas meninas, mas por Mia também.
O ar muda entre nós, algo não dito se estabelecendo. Sem
julgamentos. Sem competição. Apenas três homens dispostos a
fazer o que for preciso para trazer sua família de volta para casa.
Todos queremos a mesma coisa.
O telefone de Damon vibra, cortando o silêncio. Ele olha a tela.
— É meu camarada. Vamos ver o que ele tem a dizer.
Todos os pensamentos sobre o futuro desaparecem. Agora, tudo
o que importa é trazer Mia e as meninas de volta.
24
MIA
A
prendi muito com Asher, Zane e Damon. Como identificar uma
saída sem parecer que estou procurando. Como calcular o peso
de uma arma no cinto de alguém. Como respirar através do
medo sem demonstrá-lo.
Jason acha que é o único no controle aqui. Mas estou
observando. Fazendo um inventário. O número de homens lá fora, a
frequência com que trocam de turno. Como a cabana range quando
o vento sopra, onde as tábuas do assoalho estão soltas. Observo
Jason também – como ele se move, quando está distraído, os
momentos em que é descuidado. Porque existem esses momentos.
E eu só preciso de um.
As meninas também estão observando.
Elas interpretam tão bem seus papéis – garotinhas assustadas
que precisam da mãe, que precisam dele. Emma se agarra ao meu
lado, olhos arregalados e trêmulos, enquanto Ella deixa que ele lhe
sirva um copo de leite com mãos trêmulas. Jason adora isso. Ele
sempre amou o controle, e nada alimenta mais esse ego do que se
sentir necessário.
Mas ele não percebe como Emma estuda as portas, como
desloca seu peso como se estivesse medindo a melhor maneira de
correr. Ele não capta os olhares fugazes de Ella para os homens lá
fora, rastreando silenciosamente seus movimentos, contando-os
exatamente como Zane a ensinou.
Elas estão aprendendo. Estão esperando.
Eu também.
Aconchego Emma sob meu braço, acariciando seu cabelo,
sentindo a rápida subida e descida de seu pequeno peito enquanto
respira. Seus dedos agarram minha camisa, agarrando-se a mim
como se eu fosse a única coisa sólida em seu mundo. Jason nos
observa do outro lado da sala, reclinado em sua cadeira como um rei
examinando seu reino.
— Vê, Mia, não é bom? Posso dar a você tudo o que aqueles
homens nunca poderão. Embora transar com eles deve ter sido bom.
Você sempre foi uma garota malcriada.
Meu rosto lateja. — Jason, por favor. Não na frente das crianças.
Ella deixa cair sua colher na tigela de sopa, estremecendo
quando Jason vira o corpo em sua direção.
— Desculpe — ela diz em voz baixa.
Ele suaviza. Maldito bastardo. Ele gosta disso. Gosta de pensar
que elas são fracas, que estão se curvando a ele.
— Tudo bem, querida — diz ele, esticando-se sobre a mesa para
bagunçar o cabelo dela. Ela fica tensa, mas não se afasta.
Seguro Emma com mais força, sentindo como seu pequeno corpo
se enrola como uma mola, pronta para disparar. Ela mantém o rosto
enterrado em meu lado, mas seus olhos se voltam para a janela. Ela
tem rastreado os guardas. Estudando como eles alternam os turnos.
Como um deles sempre acende um cigarro perto da varanda dos
fundos, desaparecendo entre as árvores por alguns minutos.
Ella deixa Jason terminar de alisar seu cabelo e depois volta para
sua sopa. No momento em que a atenção dele se desvia, ela
casualmente afasta sua cadeira alguns centímetros. Testando o
assoalho. Verificando se range.
Um ensaio.
A mão de Emma aperta minha camisa. Seus pequenos dedos
traçam padrões no tecido com movimentos rápidos e sutis.
Dois lá fora. Um à esquerda, um fumando.
Ela nem percebe que está fazendo isso, imitando a maneira como
Zane costumava esboçar rotas na terra com sua faca. Aperto-a
suavemente, deixando-a saber que entendo.
Jason está de pé junto à janela, observando a linha das árvores
como se esperasse que alguém se materializasse das sombras. Seus
dedos batem impacientemente contra sua coxa. Não sei o que ele
está procurando. Talvez seus guardas se apresentando, talvez
apenas a satisfação de saber que ninguém está vindo me buscar.
— Idiotas — murmura ele sob a respiração. Seu olhar se move
rapidamente para o relógio, então ele exala bruscamente e pega sua
arma da mesa.
— Preciso fazer minha ronda — diz ele, alto o suficiente para que
seus homens lá fora ouçam. — Fiquem quietas, meninas.
Comportem-se bem para sua mãe.
Ele bagunça o cabelo de Emma como se ela fosse um animal de
estimação e caminha em direção à porta, parando logo antes de sair.
Seus olhos encontram os meus, presunçosos e frios. — Tente algo
estúpido e você vai se arrepender.
A porta se fecha atrás dele. No segundo em que ouço suas botas
esmagando o cascalho lá fora, meus músculos se soltam.
Meus olhos correm para o balcão, procurando.
Ali.
O celular reserva de Jason está perto da borda, descuidadamente
esquecido, como se ele estivesse tão convencido de seu controle que
nem se preocupa em protegê-lo. Meu pulso ressoa em meus ouvidos
enquanto me movimento, cada som na cabana subitamente
amplificado. O farfalhar de Ella mudando de posição na cadeira, o
raspar do piso de madeira sob meus pés de meia, o murmúrio
distante da voz de Jason enquanto fala com seus homens.
Pego o telefone, coração martelando, e o escondo na manga.
Ella me observa, olhos arregalados mas compreensivos. Ela
alcança sua colher, derrubando seu copo de propósito. A água se
espalha pela mesa, uma distração perfeita. Emma solta um pequeno
grito, saltando de seu assento.
— Shh, está tudo bem — murmuro, movendo-me para limpar,
mas minha mente já está acelerada.
Tenho apenas uma chance nisso.
Tem que ser esta noite.
A névoa se agarra às árvores, densa e abafada, envolvendo a
cabana como um fantasma. É agora ou nunca.
Deslizo para fora da cama, tomando cuidado para não deixar o
velho colchão gemer sob meu peso. A respiração lenta e regular de
Jason preenche o silêncio. Observo-o por um momento, certificando-
me de que está em sono profundo, seu braço descansando sobre o
peito, a arma ao alcance no criado-mudo. Meu estômago se contrai.
Se ele se mover minimamente antes de sairmos por aquela porta,
tudo estará acabado.
Caminhando silenciosamente em direção ao quarto das meninas,
abro a porta e me agacho ao lado da cama, colocando um dedo
sobre meus lábios. Emma desperta primeiro, seus cílios tremulando
enquanto seus olhos sonolentos encontram os meus. Ela não faz
perguntas, não emite um som. Apenas assente.
Ella já está calçando os sapatos quando a cutuco. As meninas
entendem sem palavras, suas mãozinhas se movendo rápida e
eficientemente. Lições aprendidas em silêncio, com homens que
sabiam como sobreviver.
O assoalho range sob meu peso. Engulo em seco. Cada som
parece alto demais. Meu pulso troveja em meus ouvidos enquanto
me aproximo lentamente da porta da frente, minha mão fechando-
se sobre a maçaneta. Expiro devagar, testando a trava.
A porta geme.
Congelo.
Jason se mexe no quarto, e minha respiração fica presa na
garganta. As gêmeas ficam imóveis atrás de mim, quase sem
respirar. Então Emma, rápida como um relâmpago, deixa seu ursinho
de pelúcia cair no chão com um suave tump.
O ruído é suficiente para encobrir o sussurro do movimento da
porta enquanto a abro lentamente, centímetro por doloroso
centímetro. Ella se abaixa, recuperando o urso como se fosse a
missão mais importante de sua vida, cuidadosa, lenta, deliberada.
Distração, exatamente como Asher a ensinou.
Saímos para a neblina. O ar úmido gruda na minha pele, e meu
coração está batendo tão forte que temo que alguém possa ouvi-lo.
Guio as meninas em direção à linha de árvores, cada passo
calculado. A cabana é uma sombra atrás de nós, a floresta se
estendendo como um convite silencioso.
Estamos quase lá.
Então—
Um grito.
— Mia!
A voz de Jason rasga o silêncio como um tiro.
Agarro as mãos das gêmeas e corro.
A névoa nos engole, galhos de árvores arranhando minha pele
enquanto tropeçamos cada vez mais fundo na floresta. Não sei para
onde estamos indo, apenas que precisamos ir. Atrás de nós, passos
pesados batem contra o chão.
Jason está vindo.
— Mamãe... — a voz de Emma vacila, mas ela continua correndo,
suas perninhas bombeando o mais rápido que podem.
— Estou com vocês — digo, sem fôlego. — Só continuem se
movendo, querida.
Um tiro rasga o ar.
Grito, empurrando as meninas à minha frente.
Não podemos parar. Não podemos.
A floresta é densa, a névoa espessa, mas vejo algo à frente —
uma clareira. Se conseguirmos chegar lá, talvez—
Outro tiro.
Uma árvore explode perto de nós, a casca se estilhaçando. Eu
me abaixo, protegendo as meninas com meu corpo. A risada de
Jason ecoa atrás de nós, provocando.
Não há para onde ir.
E ele sabe disso.
A floresta se fecha ao nosso redor, densa com névoa e terra
úmida, engolindo o som dos nossos passos frenéticos. Mal registro
os galhos arranhando meus braços, mal sinto a picada dos espinhos
que se engancham em meu jeans.
As mãozinhas das gêmeas estão escorregadias de suor enquanto
as seguro com mais força, forçando minhas pernas a se moverem
mais rápido, apesar da queimação nos músculos.
Jason está perto. Perto demais.
Emma tropeça, seu pequeno grito abafado pela névoa. Eu a puxo
para cima, segurando-a contra meu quadril enquanto Ella se agarra
à minha outra mão, mal conseguindo acompanhar. Não posso
carregar as duas.
— Mia! — a voz de Jason corta através das árvores, afiada,
furiosa. — Você acha que pode fugir de mim? Acha que vou deixar?
O terror atravessa minhas veias, mas me forço a permanecer
concentrada.
Seus xingamentos cortam através das árvores, ficando mais
altos, se aproximando.
Minha respiração sai em arquejos entrecortados, mas sigo em
frente, empurrando Emma e Ella à minha frente.
— Vão, bebês. Corram!
Ella tropeça mas continua, Emma a puxando.
Chegamos a um declive, o solo inclinando-se sob nossos pés.
Pedras deslizam debaixo de mim, mas uso o impulso para nos
propelir para frente. Minha mente se agarra às lições de Zane, aos
treinamentos de Asher, a cada fragmento de conhecimento de
sobrevivência que eles martelaram em mim.
Jason é maior, mais forte, mas eu tenho mais a perder.
A inclinação fica mais íngreme e, através da névoa, eu vejo: o
lago.
Frio e interminável, estendendo-se como um abismo.
Jason está quase nos alcançando. Ouço sua respiração ofegante,
o estalar de galhos sob suas botas. Meu corpo implora por descanso,
mas não paro. Estamos sem opções.
Paro tão repentinamente que Ella colide com meu lado. Emma se
agarra ao meu pescoço, seu rosto pressionado contra meu ombro.
— M-Mamãe? — a voz de Emma é pequena, incerta.
As botas de Jason golpeiam o chão atrás delas.
Temos segundos.
Giro, meu aperto apertando no pulso de Ella. — Prendam a
respiração — sussurro.
— O quê? — Emma se agarra mais forte.
— Agora!
E então nós pulamos.
O ar passa zunindo, meu estômago se contraindo enquanto
caímos. Emma grita contra meu ombro, e os pequenos dedos de Ella
se cravando em meu pulso. O lago se aproxima rapidamente, escuro
e sem fim.
Por favor, que seja fundo o suficiente. Por favor.
Atingimos a água com uma força que arranca o fôlego dos meus
pulmões.
O mundo se torna frio. O som desaparece. Por um momento, há
apenas escuridão e pressão, o peso de Emma contra meu peito, a
mão de Ella escorregando da minha.
O frio nos atinge como um punho. O lago nos engole por inteiro.
A escuridão se fecha à nossa volta, e a última coisa que ouço é o
rugido furioso de Jason enquanto a água nos arrasta para baixo.
25
DAMON
E
stamos parados no centro de uma tenda de operações pouco
iluminada, com o cheiro de café e óleo de arma impregnado no
ar. O lugar é exatamente como me lembro, com precisão militar
em cada canto. Pilhas de equipamentos alinham as paredes,
equipamentos de comunicação zumbem baixo, um leve murmúrio de
conversas de soldados e instrutores passa pelo ambiente.
Lá fora, além das lonas, o campo de treinamento se estende
amplamente. Há hectares de floresta densa, campos abertos
marcados por obstáculos, o estouro distante dos exercícios de tiro
ecoando pelo ar fresco da manhã. Esta instalação foi construída para
uma coisa – criar fantasmas. Homens que podiam deslizar para
território inimigo despercebidos, atacar com força e desaparecer
mais rápido ainda.
Aperto a mão de Frank Pyzck, seu aperto ainda firme como ferro
apesar dos anos. Ele não mudou muito – ainda largo como uma
parede, sua barba com mais fios grisalhos, mas seus olhos tão
afiados quanto antes.
— Ainda na ativa, hein, velho? — digo.
Frank resmunga. — Achei que deixaria vocês, jovens idiotas,
terem a vez de salvar o mundo. Mas vocês continuam me arrastando
de volta. — Ele se vira para Zane, dando-lhe um longo olhar. — Você
de novo? Iêmen, certo? Quanto tempo faz, dois anos?
Zane acena com a cabeça. — Da última vez, você salvou minha
bunda. Ainda te devo uma bebida.
— Pode apostar que deve. — Frank se vira para Asher, medindo-
o como se estivesse avaliando um novo recruta. — Você é o cérebro,
o brutamontes ou o curinga?
Asher sorri de lado. — Depende do dia.
Frank ri. — Imaginei.
Ele desenrola um detalhado mapa topográfico na mesa, fixando-
o com sua faca de combate.
— Estas são nossas zonas de treinamento ativas — diz ele,
batendo em três seções marcadas com o dedo. — Temos
esquadrões realizando operações de resistência aqui, aqui e aqui.
Mas notamos movimentação incomum neste setor.
Me inclino, seguindo seu dedo enquanto ele circula uma área
remota perto do lago.
Frank continua: — Entregas de suprimentos em horários
estranhos. Veículos indo e vindo em padrões precisos. Rotações de
guarda que não correspondem aos nossos cronogramas de
treinamento. No início, pensamos que eram caçadores ilegais ou
algum maluco vivendo fora da rede. Mas agora?
Asher e eu trocamos olhares.
— Você acha que está acontecendo algo lá? — pergunta Zane.
— Alguém está montando base. Bem silenciosamente.
Meu estômago se aperta. Jason.
Percebo o olhar de Zane e Asher. Eles estão pensando a mesma
coisa.
Zane examina o mapa. — Tudo ao redor é ou campo de
treinamento ativo ou terreno inabitável. Mas esse ponto? É
estratégico. Acesso à água. Cobertura natural. Longe o suficiente
das estradas principais para tornar a busca um pesadelo.
— Exatamente — diz Frank. — Quem estiver lá sabe o que está
fazendo. Nenhum movimento desperdiçado, nenhuma ponta solta.
Estão entrincheirados. Isso não é um caçador ilegal. É uma maldita
fortaleza.
Asher exala, esfregando a nuca. — Esse é o nosso lugar.
Meu pulso martela. Finalmente temos uma pista. Meus dedos se
fecham em punhos enquanto encaro o local marcado. Mia e as
meninas estão lá.
— Vamos agora — digo. — Que recursos você pode fornecer?
Frank nem hesita. — Conseguirei homens, poder de fogo, apoio
aéreo se precisar. Mas se vão entrar, é melhor terem certeza.
Encontro seu olhar. — Nunca tive tanta certeza de nada na minha
vida.
A viagem é longa e silenciosa. Tempo demais para pensar. Meu
rifle repousa no meu colo, familiar, mas inútil até chegarmos lá. A
cada quilômetro, digo a mim mesmo a mesma coisa: Mia e as
meninas estão vivas.
O comboio corta estradas secundárias e trilhas de serviço,
movendo-se rapidamente. A equipe de Frank mantém a formação,
seus veículos levantando nuvens de poeira na escuridão antes do
amanhecer. Asher segura o volante, olhos fixos à frente. Zane está
no banco de trás, verificando e reverificando suas armas – um
hábito que significa que ele mal está se mantendo sob controle.
Conforme nos aproximamos, apagamos os faróis e mudamos
para visão noturna. O lago brilha prateado à distância, calmo e
imperturbado. O tipo de quietude que não combina com o que está
acontecendo dentro daquela cabana. Estacionamos sob as árvores e
seguimos a pé, mantendo-nos abaixados.
A equipe de Frank estabelece vigilância rapidamente, a
transmissão do drone piscando no monitor portátil. A cabana está
situada no fundo do bosque, bem posicionada demais para ser algo
além de planejado.
— Visualizando — murmura Frank, ajustando a tela.
Agacho-me ao lado dele. A disposição é clara: uma varanda,
duas saídas visíveis, uma janela aberta no segundo andar. Sombras
se movem atrás das cortinas fechadas.
Jason está lá dentro. E Mia e as meninas também.
— Entrar às cegas pode matá-las — digo. — Precisamos de um
jeito de atraí-lo para fora.
Zane exala forte. — Encontramos seu ponto fraco e o usamos.
Ele está prestes a dizer mais quando um grito corta o ar entre as
árvores.
Que diabos foi isso?
Antes que eu possa reagir, a voz de Jason ecoa pela floresta,
carregada de diversão e ameaça. — Mia, você pode correr, mas eu
vou te pegar!
Três rádios silenciam, e três armas saem dos coldres em um
movimento sincronizado. Sem necessidade de palavras – treinamos
para isso, vivemos para isso.
Zane se move primeiro, desaparecendo nos arbustos,
flanqueando pela esquerda. Asher toma a direita, seus passos
estranhamente silenciosos para seu tamanho. Eu vou direto pelo
meio, olhos fixos na direção da voz de Jason.
A floresta nos engole por completo, transformando-nos em
sombras. Desta vez, ele é a presa.
Galhos estalando à frente. Passos pesados. Jason não está
sozinho. Há outro conjunto de passos, menores, mais rápidos.
Mia.
Seguro meu rifle com mais força, me forçando a respirar lenta e
controladamente. Um tiro, uma chance. Não vou arriscar acertá-la.
Então, através das árvores, eu os vejo.
Mia corre a toda velocidade, Emma nos braços, Ella segurando
sua mão, lutando para acompanhar. Jason está logo atrás delas,
sorrindo, aproveitando a perseguição. Como se pensasse que já
tivesse vencido.
Aponto minha mira.
Desta vez não, seu bastardo doente.
26
MIA
O
lago está gelado, roubando meu fôlego quando rompo a
superfície, ofegante. Onde elas estão?
— Emma! Ella! — Minha voz está rouca, o pânico subindo
pela minha garganta. A água é vasta, negra, interminável.
Então — um respingo. Um soluço engasgado.
Viro-me em direção ao som. A cabeça de Emma balança a alguns
metros de distância, braços agitando-se freneticamente.
Mas Ella... Ella está afundando.
Mergulho. Minhas mãos cortam a escuridão, agarrando o nada.
Então — tecido. Cabelo. Puxo-a para cima, rompendo a superfície
enquanto ela tosse, ofegando por ar.
Eu as tenho.
Aperto-as contra mim, chutando forte para me manter à tona. —
Eu peguei vocês, meus bebês. Aguentem firme.
Emma soluça no meu ombro. Ella se agarra a mim, tremendo,
tossindo.
Então, a voz de Jason rasga a noite.
— Mia! Você acha que a água pode salvar vocês?
Giro, tentando localizá-lo. Sua voz ecoa pelas árvores, impossível
de identificar a origem.
Emma choraminga. Os dedos de Ella cravam na minha pele.
Precisamos nos mover.
A corrente nos puxa, arrastando-nos para longe da margem.
Examino a linha da água, procurando qualquer coisa. Nunca
chegaremos ao outro lado do lago.
Arrasto as meninas pela água, cada músculo gritando, pulmões
queimando. A margem está próxima. Só mais um pouco.
Emma se agarra ao meu pescoço, pernas apertadas em volta da
minha cintura. O aperto de Ella é como uma morsa no meu braço,
seu corpo tremendo violentamente contra o meu. No momento em
que meus pés encontram o fundo rochoso, arrasto-as para cima,
avançando até desabarmos contra a terra úmida.
Não podemos ficar aqui.
O penhasco se ergue acima de nós, o mesmo de onde saltamos.
Se não podemos ver Jason, há uma boa chance de que ele também
não possa nos ver. Pressiono as meninas nas sombras sob um
aglomerado de pedregulhos, corpos ainda pingando, respiração
ofegante.
Um tiro rasga as árvores. Pássaros explodem em voo para o céu.
Emma abafa um grito contra meu ombro.
— Isso foi um aviso! — Jason grita, sua voz serpenteando pela
escuridão. — O próximo não será.
Os pequenos dedos de Ella se retorcem na minha camisa, sua
respiração quente contra minha orelha. — Mamãe? — ela sussurra.
Seguro a parte de trás da cabeça dela, dando um beijo ali. —
Shh, meu bebê — murmuro. — Fique pequena. Fique quieta.
Meu coração bate forte na garganta enquanto escuto. Jason está
perto. Perto demais.
Arrasto as meninas mais fundo para dentro do barranco, pernas
tremendo de frio e exaustão. O terreno trabalha a nosso favor, com
seu denso matagal, rochas irregulares e os restos emaranhados de
árvores caídas. Está úmido, o cheiro de terra molhada e musgo
enchendo meus pulmões.
As meninas estão exaustas, seus pequenos corpos tremendo em
meus braços.
Procuro por um abrigo. Ali. Uma árvore enorme está
desenraizada, suas raízes retorcidas formando uma cavidade sob o
tronco. Não é muito, mas terá que servir.
Entro rastejando primeiro, certificando-me de que o espaço é
profundo o suficiente, e então guio as meninas suavemente para
dentro.
Emma se agarra à minha manga. — Mamãe, eu não...
Toco seu rosto. — Eu sei, bebê. Eu sei.
O lábio de Ella treme, suas pequenas mãos agarrando minha
camisa.
Não podemos correr. Não juntas.
Envolvo-as com meus braços, dando beijos em seus cabelos
molhados. Isso está me matando. Mas preciso ser forte.
— Estamos jogando um jogo — sussurro. — Como o Agente
Secreto Asher ensinou vocês. Esconde-esconde.
Ella funga. — Mas você sempre nos encontra.
Forço um sorriso, afastando o cabelo do rosto dela. — E sempre
encontrarei. — Seguro suas mãozinhas. — Mas agora, vocês
precisam ser as melhores em se esconder, ok? As melhores do
mundo todo.
Emma limpa o nariz, tentando tanto ser corajosa. — Como
agentes secretas?
Aceno com a cabeça. — Exatamente assim.
Acomodo-as melhor, pressionando-as contra as raízes grossas,
cobrindo-as com folhas e terra exatamente como Asher mostrou em
exercícios práticos.
— Fiquem quietas — murmuro. Minha voz treme, mas continuo.
— Não importa o que aconteça.
O rosto de Ella se contorce, e Emma morde o lábio com tanta
força que fica branco.
Não posso chorar. Não agora.
Movimento-me com cuidado no início, certificando-me de que as
meninas estão completamente escondidas sob o emaranhado de
raízes e folhas. Seus olhos arregalados e aterrorizados são a última
coisa que vejo antes de me virar, engolindo o pânico que arranha
minha garganta.
Agora, preciso afastá-lo daqui.
Torne óbvio. Faça com que ele persiga você.
Começo pelo chão, pisando deliberadamente no solo úmido,
pressionando meus calcanhares com força para aprofundar minhas
pegadas. Quebro pequenos galhos ao passar, dobrando-os em
ângulos acentuados, deixando perturbações claras no matagal.
Pequenos detalhes que ele notará. O tipo de coisa que o fará pensar
que estou em pânico, correndo às cegas.
A alguns metros de distância, pego um galho caído e arrasto-o
pela lama atrás de mim, deixando uma marca longa de derrapagem
no solo, parecendo desesperada. Um sinal de luta, de escorregão, de
fraqueza. Jason vai adorar isso.
O tiro de antes ainda ressoa em meus ouvidos. Não tenho muito
tempo.
Arranco minha jaqueta encharcada e a jogo sobre um galho
baixo, deixando-a pendurada ali como se eu tivesse ficado presa
nela e me libertado. Em seguida, chuto algumas pedras soltas,
enviando-as ribanceira abaixo, barulhentas o suficiente para ecoar
pelo desfiladeiro.
Vamos, vamos. Morda a isca.
Acelero o passo, quebrando galhos sob meus pés, mantendo
uma direção errática, ziguezagueando o suficiente para parecer não
intencional. O suficiente para fazê-lo acreditar que está me caçando.
Então, para o toque final, corro direto para uma clareira – uma
atitude estúpida. Uma verdadeira corredora se manteria escondida,
mas preciso parecer desesperada. Perdida. Vulnerável.
Diminuo o ritmo, apenas o suficiente para que ele me veja.
O som de botas atrás de mim faz meu coração parar. Uma voz
arrepiante segue.
— Aí está você, querida.
O aperto de Jason no meu braço é doloroso enquanto ele me
puxa para perto dele, sua respiração quente contra minha orelha.
Meus pulmões ardem pela corrida, mas me recuso a deixar que ele
ouça meu medo. Mantenho a cabeça erguida, os ombros alinhados,
exatamente como Damon me ensinou. Como Asher martelou em
mim.
— Você sempre complica as coisas, Mia. — Sua voz é suave,
quase divertida, mas seus dedos afundam com mais força na minha
pele. — Sabe, poderíamos ter feito isso do jeito fácil. Você e eu.
Uma família. Do jeito que deveria ser.
Puxo meu braço, tentando me libertar, mas Jason é mais forte,
seu aperto como ferro. Meu pulso martela.
Agora não. Não entre em pânico. Pense. Ganhe tempo.
Jason suspira dramaticamente. — Isso não precisa ser
complicado, Mia. Você se rende agora, e todos ficam seguros.
Voltamos a como as coisas eram. Eu cuido de você, das meninas.
Sem mais fugas. Sem mais homens fingindo que podem proteger
você.
Uma risada fria escapa antes que eu possa contê-la. — Me
proteger? Você quer dizer como você protegeu aqueles informantes
em Kandahar?
O tapa vem rápido. Minha cabeça gira para o lado, estrelas
explodindo na minha visão. O gosto metálico de sangue floresce na
minha boca.
Os homens de Jason gritam mais adentro da floresta. Não vou
conseguir sair daqui. Só espero que não encontrem as meninas.
A cabeça de Jason se vira bruscamente para mim, olhos
selvagens. — Onde estão as meninas?
Não digo nada. Não posso. Meu coração bate tão alto que tenho
certeza que ele pode ouvir.
— Quer fazer isso do jeito difícil? — Sua voz baixa, torna-se
afiada. — Tudo bem. Vou deixá-las aqui para os ursos. Ou coisa pior.
O terror sobe pela minha garganta, e pela primeira vez, minha
determinação vacila. — Você não faria isso — sussurro, odiando
como pareço frágil.
Jason sorri com desdém, saboreando meu medo. — Me teste.
Meu corpo treme enquanto lágrimas embaçam minha visão.
Quero acreditar que ele está blefando, mas conheço Jason. Sua
crueldade é calculada, meticulosa. Se ele achar que isso vai me
quebrar, ele fará. E não posso deixar isso acontecer.
Um tiro ecoa entre as árvores.
Depois outro.
A cabeça de Jason se ergue rapidamente, seu corpo inteiro
ficando rígido. Um segundo depois, tiros de resposta irrompem,
cortando a floresta como uma tempestade.
Alguém está atirando nos homens de Jason.
Os rapazes estão aqui.
Minha respiração falha. A esperança surge no meu peito, quase
me sufocando.
Jason pragueja baixinho, levantando-me pelo braço. Sua
expressão agora é de pura raiva, os lábios contorcendo-se de
frustração. Ele não esperava que eles chegassem tão cedo. Achou
que teria mais tempo.
Ele me puxa para perto, seus dedos cravando dolorosamente na
minha carne. — Parece que seus cavaleiros estão aqui para bancar
os heróis — ele zomba. — Vamos ver como eles lutam quando eu
estiver usando você como escudo.
Ele começa a me arrastar de volta para a cabana. Não. Não
posso deixar que ele me leve para dentro.
O pânico queima em meu peito, mas eu o reprimo. Pense, Mia.
Pense. Cravo os calcanhares na terra, torcendo contra o aperto dele,
mas Jason é maior, mais forte. Ele me empurra para frente,
forçando-me em direção à clareira.
O tiroteio se intensifica. Gritos ecoam pela floresta. Meu nome...
um deles está chamando meu nome.
— Sua vadia desgraçada — ele sibila.
Eu rio, sem fôlego e tremendo. A esperança floresce dentro de
mim
— Você realmente achou que eles não viriam? — sussurro, minha
voz tremendo com algo que se parece muito com vitória.
Jason cospe. — Eu sabia que eles viriam. Pena que não vão sair
daqui vivos. E você vai ser minha isca perfeita.
Os dedos de Jason apertam meu braço enquanto ele grita para
seus homens. — Recuem! Vão para a caminhonete!
Engulo um soluço. Esta é minha chance.
Eu me contorço, chutando com força o joelho de Jason. Ele
tropeça, xingando. Eu disparo.
Tiros explodem ao nosso redor. As árvores ficam embaçadas
enquanto corro, meus pulmões queimando.
Então uma voz familiar, áspera e desesperada.
— Mia!
Damon!
27
ZANE
E
u me movo entre as árvores, a terra úmida abafando meus
passos. O ar está espesso com a névoa da madrugada,
serpenteando entre os troncos como fumaça. Os homens de
Jason estão dispersos, suas silhuetas em movimento mal visíveis
através da bruma. Eles sabem que algo está errado – só não sabem
o quanto.
Meu fone de ouvido estala. — Estou em posição — digo.
Examino a clareira. Jason está a céu aberto, com Mia presa
contra seu peito, sua arma pressionada contra as costelas dela. Ela
está tremendo, mas seu rosto mantém-se firme. Desafiadora.
Levanto meu rifle, mirando nele pela mira telescópica. Um tiro.
Mas Mia se move, seu movimento desviando minha mira. Droga.
— Asher? — murmuro.
— Cordilheira norte. Sem tiro limpo — ele responde, com a voz
tensa.
Exalo pelo nariz, forçando paciência. Jason ainda não sabe, mas
já está morto. Ele continua falando, seu aperto em Mia se
intensificando. Não consigo ouvir as palavras, mas vejo a tensão no
corpo dela, o jeito como ela se mantém rígida.
Uma sombra move-se ao meu lado – Asher, sinalizando. Espere.
Meu sangue ferve. Cada músculo em mim grita para atirar, para
acabar com isso agora.
Mas não faço isso. Temos apenas uma chance de fazer isso, de
garantir que não machuquemos as meninas e Mia no processo.
— Consegue ver as meninas? — a voz de Damon estala pelo fone
de ouvido.
Examino a clareira, meu pulso acelerado. Nenhum sinal delas.
Apenas Jason, apenas Mia. Meu aperto se intensifica ao redor do
rifle. Onde diabos elas estão?
— Não — digo, varrendo a área novamente. — Não as vejo.
O pavor se enrola em minhas entranhas, sufocante. Jason as
pegou? Ele as encontrou antes de chegarmos aqui? O pensamento
faz minha visão se estreitar.
— Elas estão bem, têm que estar — diz Damon, sua respiração
irregular. Cara, isso deve estar matando ele.
— Merda — murmura Asher.
Ajusto minha mira, varrendo o perímetro, procurando por
qualquer coisa – um lampejo de movimento, uma sombra pequena
demais para ser um homem adulto. Nada. Apenas árvores, névoa e
a maldita batida no meu peito.
— Que se dane. — Abandono a cobertura, movendo-me rápido,
mantendo-me abaixado. Damon sibila algo no meu fone de ouvido,
mas não escuto. Mia não deixaria suas meninas. Elas estão por aqui,
em algum lugar.
Tiros estalam através das árvores. Os homens de Jason estão
distraídos, com a atenção voltada para o que quer que Damon e
Asher estejam agitando do outro lado.
Bom. Deixe que fiquem. Tenho minha própria missão.
Examino o chão enquanto me movimento, procurando por sinais,
por qualquer coisa – e então ouço.
Um soluço abafado. Pequeno. Quase imperceptível. Mas sei que
algo está errado.
As meninas.
Giro, seguindo o som, examinando a vegetação rasteira até
avistá-las encolhidas em uma cavidade sob troncos caídos,
exatamente como eu as ensinei. Camuflagem perfeita. Sem linhas
de visão fáceis. Meu peito aperta.
Caramba, elas se saíram bem.
Agacho-me, mantendo meu rifle apontado para a clareira, meu
corpo protegendo-as da vista. Os olhos arregalados de Emma
encontram os meus. A respiração de Ella está trêmula, suas
pequenas mãos segurando as da irmã com força. Apavoradas, mas
se mantendo firmes. Igualzinho à mãe delas.
Inclino-me, voz baixa. — Fiquem aqui. A ajuda está a caminho.
Emma assente, engolindo em seco. Ella pressiona o rosto contra
o ombro da irmã.
Passo a mão pelos cachos de Emma, apenas por um segundo.
Então me levanto, seguro meu rifle e volto para a luta.
Hora de terminar com isso.
Movimento-me para posição, circulando amplamente, mantendo
meus olhos em Mia. Jason a mantém presa contra o peito, arma
pressionada sob o queixo dela. Seus pulsos estão escoriados de
tanto lutar, sua respiração ofegante. Ela está aterrorizada – mas não
derrotada. Não a Mia.
— Saiam logo, rapazes. — A voz de Jason ecoa pelas árvores,
presunçosa como sempre. Como se ele ainda achasse que tem
vantagem. — Vamos acabar com isso.
Observo Damon avançar primeiro, lento e deliberado, sua arma
apontada para Jason.
— Acabou, Jason. — Sua voz é seca, sem espaço para
argumentação.
Jason ri, o cano de sua arma pressionando com mais força sob o
queixo de Mia. O estremecimento dela é quase imperceptível, mas
eu vejo. Eu sinto.
— Nada acabou — rosna Jason. — Ela é minha. As meninas são
minhas.
Um movimento rápido. Asher, flanqueando pela esquerda.
— Não — sua voz corta a tensão como uma lâmina, sombria e
fria. — Elas são nossas.
Jason enrijece. Seu aperto em Mia se intensifica. Sua confiança
vacila por um segundo, mas eu percebo.
Seu plano está desmoronando.
A risada de Jason é cruel, cortando o silêncio da manhã. — Três
contra um? Não é muito esportivo.
Então os arbustos se agitam. Sombras se movem. Os homens de
Jason surgem, rifles erguidos, formando um círculo frouxo ao nosso
redor.
Merda.
— Peguei as crianças — alguém grita. — Elas tentaram fugir, mas
eu as peguei.
Meu sangue congela. Damon urra. — Toque nas minhas filhas e
todo mundo aqui morre.
O olhar de Mia se volta rapidamente para ele. Lágrimas
silenciosas escorrem pelos seus olhos. Ela deve ter esperado por
este momento, para que Damon realmente as reivindicasse, por
anos. E agora aqui está, acontecendo de maneira tão distorcida.
— Suas filhas? — Jason ri. — Essa é boa.
— Eles são meus — diz Damon. — Quando você abandonou sua
esposa todos esses anos atrás, ela encontrou consolo em mim. Eu
dei a ela tudo o que você não pôde.
O maxilar de Jason treme. Ele está tentando desestabilizar o
desgraçado e está funcionando.
— Mentiras — Jason aponta sua arma na frente de Mia. — Chega
de mentiras. Mia e as meninas pertencem a mim, e já que você não
consegue entender isso na sua cabeça estúpida.
— Você é comprovadamente insano — diz Zane.
Jason sorri com desdém, sua confiança voltando ao lugar. —
Talvez, insano o suficiente para fazer isso. — Ele encosta a arma no
pescoço dela. — Se mexer, eu a mato, porque se eu não posso tê-la,
ninguém pode — ele provoca, pressionando o cano com mais força
sob o queixo de Mia. Ela nem sequer estremece.
E então ela fala. — Quatro contra um.
Antes que o significado seja compreendido, ela golpeia para trás
com o cotovelo – exatamente como eu a ensinei.
Sorrio com malícia. Essa é a minha garota.
Um grito agudo escapa de Jason quando ela acerta suas
costelas. O aperto dele afrouxa. Mia se abaixa.
O inferno se instala.
Damon se move primeiro, sua arma erguendo-se rapidamente.
Um único tiro – um dos homens de Jason cai antes que possa
disparar. Asher avança para a briga, um borrão de punhos e
músculos, desarmando um segundo cara antes de jogá-lo
violentamente na terra.
Outra arma dispara, o clarão de um cano iluminando a floresta
escura. Eu giro a tempo de ver Asher avançando em direção ao
homem que mantém Emma e Ella cativas, um borrão de movimento.
Seu punho se conecta com o maxilar do cara, derrubando-o para
trás, a arma deslizando pela terra. As meninas são espertas o
suficiente para se virar e correr para as árvores. O homem se
levanta rapidamente, mas Asher não lhe dá chance. Uma derrubada
brutal – braço torcido, joelho cravado na coluna, então silêncio.
Mal registro a luta nas minhas costas antes que outro homem de
Jason tente agarrar Mia.
Nem fodendo.
Movo-me sem pensar, botas rasgando a terra, fechando o espaço
entre nós em segundos. O homem mal tem um aperto no braço dela
antes que eu crave meu cotovelo em sua garganta. Ele se engasga,
tropeçando, e eu finalizo com uma coronhada no lado de sua
cabeça. Ele desaba na terra.
Tiros rasgam a clareira. Damon se esquiva a tempo, retribuindo
com dois disparos, cada um atingindo o centro da massa. O último
homem de pé cambaleia e cai.
Todos caídos.
Mas Jason ainda está de pé.
Ele recua, ofegante e desorientado, mas ainda está armado. Sua
arma se ergue – em direção a Mia.
Não.
Eu avanço, derrubando-o no chão. Caímos com força, rolando
pela terra. Ele luta como um homem sem nada a perder – sujo,
rápido, desesperado.
Uma cotovelada brutal atinge minhas costelas, outra acerta meu
maxilar, mas não recuo. Vejo flashes de Kandahar, da traição, dos
homens que perdemos por causa dele. A raiva me alimenta,
enquanto a adrenalina surge. Preciso acabar com isso aqui.
Mudo meu peso e enfio um joelho em seu estômago. Jason
ofega, e seu aperto falha – apenas por um segundo. É tudo que
preciso.
Arranco a arma de suas mãos e a lanço na terra.
— Acabou — rosno, empurrando-o de costas. — Você está
liquidado.
Jason solta uma risada rouca e dolorida. — Ainda não.
E então – um clique metálico. Um lampejo de aço.
O desgraçado ainda tem uma faca.
Antes que eu possa reagir, ele balança para cima, a lâmina
mirando direto na minha garganta.
Mal consigo me contorcer a tempo – a lâmina corta meu braço
em vez disso, queimando através do músculo. Ranjo os dentes,
esforçando-me para agarrar seu pulso, para impedi-lo de empurrar
mais fundo.
Então um tiro rasga o caos.
Jason estremece. Uma mancha vermelha se espalha pelo seu
ombro.
Levanto a cabeça rapidamente.
Mia está ali, ambas as mãos segurando uma pistola, seu peito
subindo e descendo em respirações ofegantes.
Pela primeira vez, verdadeiro medo relampeja nos olhos de
Jason.
Jason encara Mia em choque, ofegando por ar, sua mão
apertando o ferimento de bala em seu ombro. Seus dedos tremem
enquanto o sangue escorre entre eles, escuro e úmido. A arma nas
mãos de Mia não vacila, mesmo enquanto seu peito sobe e desce
em respirações agudas e irregulares.
Ninguém se move.
Damon, ainda tenso do último tiro que disparou, abaixa sua arma
ligeiramente, com os olhos fixos na forma caída de Jason. Asher está
a alguns metros de distância, com as mãos fechadas em punhos,
corpo tenso como uma mola, pronto para reagir.
Mas Jason ainda não acabou.
Com um grunhido sufocado, ele se levanta, dentes cerrados
contra a dor. Seus movimentos são lentos, mas seus olhos passam
entre nós, calculando. Há algo doentio em sua expressão, algo
distorcido na maneira como ele sorri apesar do sangue encharcando
sua camisa.
— Eu te disse, Mia. — Sua voz está rouca, mas o veneno ainda
está lá. — Você sempre foi minha.
Mia aperta seu domínio sobre a pistola. — Não — ela diz, sua voz
firme apesar de tudo. — Eu nunca fui sua.
Os olhos dele escurecem, o maxilar enrijecendo. Então seus
dedos tremem.
Eu vejo antes que aconteça. Sua outra mão se arrasta em
direção ao tornozelo – em direção à segunda arma presa ali.
— Arma! — grito, avançando.
Mas Mia é mais rápida.
O segundo tiro divide o ar como um trovão.
Jason estremece, seu corpo inteiro travando antes de cambalear
para trás, seus joelhos cedendo. Ele atinge o chão com força, as
pernas chutando uma, duas vezes, antes de finalmente ficarem
imóveis.
Silêncio.
Ninguém respira.
O cheiro de pólvora permanece no ar, misturando-se com suor,
terra e o gosto metálico de sangue. A floresta está quieta demais.
Sem vento, sem pássaros, como se até a natureza estivesse
esperando.
A arma de Mia agora pende frouxamente em suas mãos. Ela olha
para Jason, seu rosto ilegível.
Asher se move primeiro. Ele se agacha ao lado do corpo de
Jason, pressionando dois dedos em seu pescoço. Uma longa pausa,
então uma exalação brusca. — Ainda respirando.
Mia está acima dele, seu rosto pálido, sua respiração irregular. A
arma pende frouxa em sua mão, o peso do momento se instalando
em seus ossos.
Damon avança, seus olhos frios. Ele se ajoelha ao lado de Jason,
virando-o de costas, verificando o ferimento, pressionando o
suficiente para fazê-lo engasgar com um chiado de dor.
— Ele não vai durar muito — diz Damon sem emoção. Sua voz
não carrega sentimento algum, nem raiva, apenas um fato. Um
soldado avaliando um inimigo agonizante.
Jason tosse fracamente, sangue escorrendo do canto de sua
boca. Seu olhar oscila, desfocado.
Asher cruza os braços. — Poderíamos acabar com isso agora.
Meu estômago se contrai. Não olho para Asher ou Damon; olho
para Mia.
Porque essa decisão não é nossa.
Mia treme enquanto encara Jason, o homem que assombrou sua
vida por anos, o homem que roubou sua segurança, sua paz, que a
aterrorizou e às meninas apenas pelo prazer doentio de controlar.
Este deveria ser o momento. O instante em que ela finalmente
recupera tudo.
Damon entrega a arma a ela. — Faça a escolha.
Mia prende a respiração. Seus dedos se flexionam ao redor do
cabo, o peso da arma pesado em suas mãos.
Ela olha fixamente para Jason — essa patética e ofegante
desculpa de homem. O monstro que manteve sua vida nas mãos por
tanto tempo.
E então ela abaixa a arma.
— Não posso — ela sussurra, balançando a cabeça. — Não vou
ser um monstro como ele.
Damon a observa por um longo momento, então acena com a
cabeça. Ele compreende. Todos nós compreendemos.
Nenhum de nós discute.
Asher exala, esfregando a nuca. — Então o que fazemos com
ele?
Damon olha para Jason, que ainda está lutando para respirar,
seus lábios se abrindo como se quisesse falar.
Eu me agacho ao lado dele, baixando minha voz para um
sussurro gelado. — Você não tem mais direito de falar.
Seu olhar vacila, e pela primeira vez, eu vejo. Medo. Medo real e
visceral.
Jason Whitmore sabe que perdeu.
28
MIA
O
mundo ainda não parou de girar.
Abraço minhas filhas com força, sentindo seus pequenos
corpos trêmulos contra o meu. Suas respirações estão rápidas
e irregulares, seus pequenos suspiros abafados contra minha
jaqueta. Minhas próprias mãos tremem enquanto acaricio seus
cabelos, sussurrando garantias que parecem frágeis como papel.
Ao nosso redor, os Rangers asseguram o local. O latido rítmico de
ordens, o barulho das botas na terra, os cliques metálicos dos rifles
sendo verificados e protegidos – tudo acontece em um borrão. Dois
homens contêm Jason, amarrando suas mãos atrás das costas
mesmo ele estando quase inconsciente. Outra equipe varre o
perímetro, verificando se há retardatários. O ar vibra com eficiência
tensa, mas eu só sinto o calor das minhas filhas, a vida nelas, o fato
de que estão aqui e seguras.
Uma sombra cai sobre nós. Olho para cima e encontro Damon
ajoelhado ao meu lado, seus olhos cinzentos mais suaves do que
jamais vi. Ele não diz nada; não precisa. Sua mão pressiona
gentilmente minhas costas, me dando apoio.
Atrás dele, Asher está de braços cruzados, sua expressão
indecifrável, mas seus nós dos dedos ainda estão brancos de tanto
apertar sua arma. Zane é o mais próximo, agachado para ficar no
nível dos olhos das meninas.
— Você viu? — Emma se manifesta de repente, sua voz ainda
trêmula, mas orgulhosa. — Eu fiquei quietinha como o Agente
Secreto Zane nos ensinou!
Zane dá a ela um pequeno sorriso cansado, passando a mão pelo
cabelo raspado. — Eu vi sim, cervatinha. Você se saiu bem.
— E eu me lembrei do esconderijo — acrescenta Ella, puxando a
manga de Asher, olhando para ele com olhos arregalados. — Como o
Agente Asher disse.
Asher solta um suspiro lento, então se ajoelha, colocando a mão
no pequeno ombro de Ella. — Você fez mais do que lembrar,
baixinha — ele murmura. — Você foi corajosa. Vocês duas foram.
As meninas sorriem, e pela primeira vez desde que esse pesadelo
começou, algo dentro de mim se solta.
Encontro o olhar de Zane sobre as cabeças delas. Há algo cru ali,
algo frágil que ele ainda não sabe bem como nomear. Damon me
observa do jeito que sempre faz, como se já soubesse o que estou
pensando. E Asher... Asher parece que finalmente encontrou seu lar.
Pela primeira vez em semanas, me sinto segura.
Damon alcança as gêmeas e as ergue em seus braços sem dizer
uma palavra. Elas não perguntam – apenas sabem. Envolvendo seus
pequenos braços ao redor dele, elas se seguram firme. Zane e Asher
se aproximam, suas presenças constantes, seus toques
reconfortantes. Não são necessárias palavras enquanto todos se
agrupam, uma força silenciosa de conforto e compreensão.
Meu coração se aperta.
— Eu poderia ter perdido elas. Perdido você por causa da minha
estupidez — diz Damon, finalmente deixando Asher pegar as
meninas. Lágrimas escorrem pelo seu rosto. Ver aquele homem
tatuado de um metro e noventa chorando me deixa impressionada.
Nunca pensei que o veria assim.
Estendo a mão para ele. — Mas não perdeu. Estou aqui agora,
estou bem. As meninas também. O pesadelo acabou.
Como se fosse uma deixa, Jason geme atrás de nós, um som
fraco e ofegante. Ele não vai ser um problema por enquanto.
A luz do paramédico passa pelas minhas pupilas, forte demais
depois de tudo. Pisco contra ela, meu corpo dolorido e minha mente
ainda tentando entender a realidade. As gêmeas estão sentadas de
cada lado de mim, envoltas em cobertores, suas pequenas mãos
agarrando as minhas como se temessem que eu desaparecesse se
me soltassem.
— Alguma tontura? Visão embaçada? — pergunta o paramédico,
inclinando meu queixo levemente para verificar se há inchaço.
— Não — murmuro, minha voz rouca. — Só... cansada.
Ele acena com a cabeça, passando a examinar Ella e Emma. Elas
se sentam obedientemente enquanto ele realiza os procedimentos,
iluminando seus olhos, pedindo que sigam seu dedo. Elas são
corajosas, mas o modo como se agarram a mim revela o quanto
realmente estavam assustadas.
O paramédico me dá um aceno de cabeça, satisfeito com sua
avaliação. — Mesmo assim, você deveria ser examinada em um
hospital — diz ele, mas sua voz é gentil. — O choque pode aparecer
de repente.
Do outro lado da clareira, Jason está amarrado a uma maca, seu
rosto coberto de hematomas, seu braço apertado contra o peito. Ele
está semiconsciente, seus lábios se movendo como se quisesse dizer
algo, mas os Rangers não lhe dão atenção enquanto o colocam na
ambulância que espera. Pela primeira vez desde que esse pesadelo
começou, não sinto sua sombra se estendendo sobre nós.
Uma figura aparece na minha visão periférica. Damon.
Olho para ele e, pela primeira vez, ele parece inseguro de si
mesmo. Suas mãos estão enfiadas nos bolsos, sua confiança
habitual substituída por algo mais. Algo mais suave.
— Como elas estão? — ele pergunta, acenando na direção das
gêmeas.
— Estão bem. — Passo meus dedos pelos cachos úmidos de
Emma, depois pela mãozinha de Ella. — Todas nós estamos.
Damon exala, mudando seu peso como se estivesse tentando
encontrar as palavras certas. Finalmente, ele simplesmente diz: —
Me desculpe.
Inclino a cabeça. — Pelo quê?
Ele suspira, passando a mão pelo queixo. — Por como agi antes.
Por te afastar quando eu deveria ter... simplesmente estado
presente.
Eu o observo, vendo o cansaço em seu rosto, as linhas de
preocupação que se aprofundaram nos últimos dias. — Você estava
com medo.
Seu olhar passa rapidamente para as meninas, que agora estão
enroladas em um cobertor juntas, murmurando uma para outra
naquela linguagem secreta de gêmeas. Pela primeira vez, Damon
não tenta negar.
— É — admite ele, com a voz áspera. — Eu estava.
— Isso é bom.
— Elas se saíram bem hoje — diz ele, olhando para as gêmeas.
— As lições ridículas do Asher valeram a pena — digo eu.
Damon continua olhando para elas, algo indecifrável em seus
olhos. E então, algo muda. O peso levanta de seus ombros e, em
seu lugar, algo mais se instala.
Orgulho.
Eu vejo isso na forma como um sorriso se insinua em seu rosto.
Emma se mexe, o cobertor escorregando de seu ombro. Damon
move-se por instinto, colocando-o de volta. E assim, o último
resquício de distância entre eles desaparece.
Ella o observa cuidadosamente e então sussurra: — Você vai
ficar?
Damon congela.
Eu prendo a respiração.
A mão dele pousa no topo da cabeça dela, os dedos passando
suavemente pelos cachos. — Sim, pequena — diz ele, sua voz mais
baixa agora. — Vou ficar. Estarei sempre aqui para vocês.
DAMON
E
u pego Mia nos meus braços, com uma mão apoiando suas
costas enquanto a outra segura suas pernas. Ela solta um
pequeno grito de surpresa, depois ri baixinho, descansando a
cabeça no meu ombro. Nós atravessamos o corredor do andar de
cima, tentando ser o mais silenciosos possível por causa das
meninas.
Asher e Zane seguem atrás, suas respirações já pesadas mesmo
sem terem tocado em Mia ainda. Esse é o tipo de efeito que ela tem
sobre nós.
A porta do banheiro está aberta, a luz já acesa, lançando um
brilho suave sobre o piso de azulejos. O ar tem um leve cheiro de
sabonete de lavanda, resto de quem usou por último.
Sem dizer palavra, coloco Mia de pé, deixando minhas mãos
demorarem-se em sua cintura. Ela se vira, olhando para Asher e
Zane, que pairam perto da porta.
— Alguém mais a fim de um banho? — ela provoca, arqueando
uma sobrancelha.
O sorriso de Zane é lento e um pouco torto. — Com certeza.
Asher bufa, mas seu olhar está fixo no rosto de Mia como se não
conseguisse desviar. — Pensei que nunca perguntaria.
Nós nos despimos. Eu entro primeiro no chuveiro, testando a
água com minha mão. Está bem quente. Mia se junta a mim, sua
pele nua roçando contra a minha, e um arrepio percorre meu corpo
que não tem nada a ver com a temperatura. A água cai, o vapor
subindo. Atrás dela, Zane e Asher entram, fazendo o espaço
apertado parecer menor. Mas nenhum de nós reclama.
Mia se vira, dando-me um pequeno sorriso que diz que ela está
pronta para isso – sem arrependimentos, sem hesitação. Eu me
inclino, capturando sua boca em um beijo. Seus lábios se abrem com
um suspiro tranquilo, e eu me permito esquecer tudo, exceto a
maneira como ela se sente contra mim.
O ambiente esquenta rapidamente por causa do vapor e do calor
corporal, e a tensão crepita. Tem sido um dia tão longo – porra,
algumas semanas longas. Nós merecemos isso, caralho.
Zane se posiciona atrás dela, suas mãos deslizando pela cintura
dela, enquanto Asher se move para o lado dela, inclinando seu rosto
para cima com dedos gentis. O barulho do chuveiro abafa nossa
respiração, mas ainda posso sentir cada entrada de ar nos pulmões
de Mia. O ronronar baixo de Zane, a exalação silenciosa de Asher –
tudo se funde com a água batendo em nossa pele.
Mia envolve um braço ao redor do meu pescoço, o outro
alcançando Asher. O aperto de Zane em seus quadris se intensifica,
e seu gemido suave reverbera através de mim.
Eu me movo, pressionando minha palma no centro de suas
costas, guiando-a para mais perto. Sua mão encontra o ombro de
Zane, ancorando-se, enquanto Asher inclina seu queixo e a beija de
um jeito que faz seus dedos dos pés se curvarem no azulejo
molhado.
Guio Mia de volta contra a parede úmida de vapor.
A respiração de Mia falha quando deslizo meus braços em torno
de sua cintura, levantando-a um pouco para que Asher possa se
inclinar e tomar um de seus seios em sua boca. Ela geme, sua
cabeça inclinando para trás, cabelo colado aos ombros. Zane está do
outro lado dela, correndo beijos ao longo de seu pescoço,
murmurando algo baixo e reconfortante que não consigo distinguir
por causa da água.
Meu pau pulsa enquanto o pressiono contra sua coxa, a umidade
do vapor e de sua pele fazendo tudo parecer elétrico. Suas mãos me
alcançam, unhas arranhando levemente meu peito. Por um segundo,
eu paro, apenas observando como ela arqueia as costas em direção
aos outros – como sua boca se abre em um suspiro quando Zane dá
uma mordida suave em seu mamilo, como seus olhos tremem
fechados quando Asher arrasta sua língua sobre o outro seio.
Eu me ajoelho, segurando suas coxas para apoiá-la enquanto a
pressiono de volta contra a parede. Há uma risada surpresa em sua
garganta, transformando-se em um gemido quando a posiciono
perfeitamente. Posso ver o rubor em suas bochechas, a maneira
como seu cabelo molhado adere ao pescoço, gotículas traçando
padrões pelo seu corpo.
Zane e Asher se afastam, abrindo espaço. Eles observam,
fascinados, enquanto me inclino e pressiono minha boca em seu
centro, provando-a enquanto o jato do chuveiro cai sobre nós. O
suspiro de Mia se transforma em um grito baixo, seus dedos
entrelaçando em meu cabelo, agarrando-me com força. Suas coxas
ficam tensas ao redor dos meus ombros, os quadris instintivamente
se movendo para encontrar cada lambida da minha língua.
Posso ouvir a respiração baixa de Asher atrás de mim, sentir a
mão de Zane tocando meu ombro enquanto ele segura as pernas
dela, certificando-se de que esteja segura. O barulho do chuveiro
abafa a maioria dos sons, mas capto a respiração ofegante de Mia,
os suspiros entrecortados que escapam quando ela não consegue
contê-los.
Ela geme meu nome, uma mistura de desespero e prazer. Meu
pau dói, mas me concentro nela, no ritmo da minha boca, na
maneira como seu corpo treme sob cada movimento lento. Zane se
aproxima, uma mão deslizando para cima para segurar seu seio,
acariciando o mamilo no mesmo ritmo do meu. Asher esfrega sua
coxa, mantendo-a equilibrada.
A água fica mais fria, mas nenhum de nós se afasta. O corpo de
Mia estremece, e eu a sinto enrijecer, a voz embargada. Ela está
bem ali, tremendo à beira do precipício. Mais um toque com minha
língua, mais uma mordida suave, e sua cabeça cai para trás com um
grito suave. Eu a seguro firme durante o clímax, minha boca ainda
trabalhando, não cedendo até que ela desabe contra a parede com
um tremor de espasmos.
Quando finalmente a solto, meus braços ardem por segurá-la,
mas vale a pena. Zane e Asher são rápidos em ajudar, deslizando
suas mãos pelos lados dela, pressionando beijos ao longo de seu
pescoço e ombros.
Zane e Asher se movem, trocando um olhar que me diz que não
terminamos aqui. Ainda não.
Mia percebe, seu olhar passando entre nós, um leve sorriso
curvando seus lábios. Ela pressiona um beijo no meu ombro, depois
sai do meu abraço, água escorrendo por sua pele.
— Não acham — ela diz suavemente — que vocês três merecem
um pouco de atenção também?
Zane ri baixinho. Asher passa uma mão pelo cabelo úmido, olhos
percorrendo sobre ela em um silencioso sim. Sinto meu próprio
pulso saltar, a necessidade crescendo novamente. Não há tempo
para dúvidas.
Mia escapa do fluxo direto do chuveiro e afunda de joelhos no
azulejo molhado, apoiando uma mão na parede para se equilibrar.
Ela olha para cima, encontrando os olhos de cada um de nós. Não
há hesitação ali, apenas confiança e desejo.
Zane é o primeiro a se mover, aproximando-se, água ainda
pingando de seu corpo. Mia estende a mão, dedos se fechando ao
redor do pau dele com uma confiança que o faz exalar em um som
baixo e áspero. Ela olha por cima do ombro, chamando Asher e eu.
Nos aproximamos, nossos corações batendo em um ritmo
compartilhado.
Ela começa com Zane, sua boca lenta e deliberada, uma mão
apoiada na coxa dele enquanto seus lábios se abrem ao redor dele.
Ele geme, apoiando uma mão contra a parede. Meu próprio corpo se
contrai com a visão—seu cabelo liso molhado, o movimento de seus
ombros enquanto ela o engole mais profundamente.
Asher se move atrás dela, inclinando-se para beijar seu ombro,
os dedos passando levemente pelo seu lado. Afasto uma mecha de
cabelo do rosto dela, meu pulso acelerado. Ela volta sua atenção
para mim em seguida, envolvendo minha perna com um braço para
me puxar mais perto. Minha respiração falha quando ela me
abocanha, a sensação tão repentina e elétrica que preciso me firmar
com uma mão em seu ombro úmido.
A respiração de Zane está ofegante agora, mas ele se afasta,
deixando Asher ter sua vez. Mia não perde o ritmo, movendo-se
para que Asher possa deslizar entre seus lábios. O azulejo molhado
torna cada movimento precário, mas nos viramos, o espaço
apertado nos forçando a ficar mais próximos do que nunca. Meu
próprio pau pulsa com a lembrança da boca dela, a maneira como
ela me olhou enquanto fazia aquilo.
Um por um, perdemos o controle, a tensão do dia e a descarga
de adrenalina alimentando cada segundo. É avassalador: a água
escorrendo, os gemidos baixos ecoando neste banheiro apertado, os
suaves gemidos de Mia enquanto ela nos satisfaz. Cada um de nós
se quebra, a tensão estourando como a corda de um arco—Zane
primeiro, depois eu, depois Asher, xingamentos abafados e
respirações trêmulas se misturando com o último do calor do
chuveiro.
Meu gozo salpica todo o rosto e pescoço dela. Asher e Zane se
juntam até que ela esteja cheia de nós.
Mia se inclina para trás, olhos fechados, o peito subindo e
descendo. E então sua língua desliza para fora enquanto ela lambe
ao redor da boca. Porra, isso é excitante.
Traços da nossa liberação escorrem sob o jato que diminui, e
nenhum de nós fala por um longo momento. Eventualmente, Asher
pega o sabonete, entregando-o a ela com um pequeno sorriso
tímido.
Nós a ajudamos a se limpar, com toques suaves e desculpas
murmuradas onde unhas arranharam ou dentes marcaram. A água
fica fria quando terminamos, e Mia ri tremulamente, deixando que
eu a erga.
Zane desliga o chuveiro, e Asher pega as toalhas. Mantenho um
braço ao redor de Mia, certificando-me de que suas pernas não
cedam.
Carrego Mia para fora do banheiro, a água ainda pingando de
sua pele, sua respiração ofegante pelo calor do chuveiro e tudo o
que veio antes. Zane e Asher nos seguem, toalhas jogadas sobre os
ombros. No momento em que entramos no quarto, os dedos de Mia
se enrolam em meu braço, um sinal silencioso de que ela está
pronta para mais.
Coloco-a na beira da cama, e ela olha para mim, suas bochechas
coradas. Meu peito aperta com a visão dela, gotas de água
espalhadas pela sua pele nua.
Zane se aproxima primeiro, afastando uma mecha de cabelo da
testa dela. — Ainda está tudo bem? — ele murmura. Sua voz é
áspera, os olhos alternando entre ela e eu.
Mia assente, estendendo a mão. — Eu quero isso. Todos vocês.
Suas palavras cortam qualquer hesitação que eu ainda tenha.
Deixo minha toalha cair, e Zane e Asher fazem o mesmo. A lâmpada
ao lado da cama lança uma luz quente sobre nós, sombras dançando
nas paredes. Trocamos um rápido olhar de acordo silencioso antes
de Mia puxar Zane para mais perto, capturando sua boca em um
beijo intenso.
Asher se acomoda ao lado dela no colchão, passando os nós dos
dedos ao longo de sua coxa. A respiração dela falha quando Zane
segura seu seio, o polegar passando pelo mamilo em um movimento
deliberado. Enquanto isso, Asher se inclina, seus lábios percorrendo
o pescoço dela, deixando traços úmidos que a fazem estremecer.
Minha vez. Pressiono contra suas costas, guiando-a para baixo no
colchão. Ela move as pernas, abrindo espaço para mim entre suas
coxas. Zane se afasta, deixando-me reivindicar sua boca em um
beijo cheio de fome crua, seu gosto ainda fresco em meus lábios do
banho. Ela geme nele, uma mão emaranhada em meu cabelo
enquanto Asher e Zane passam as palmas sobre seu corpo,
buscando e certos. Lambo entre o vale de seus seios, até a entrada
de sua boceta, sentindo-a estremecer.
Eventualmente, me afasto e Zane assume primeiro,
posicionando-se sobre ela, seu pau roçando contra a coxa dela. Mia
arqueia, convidando-o a entrar. É uma visão surreal—o foco
cuidadoso de Zane, o suave suspiro de Mia, Asher bem ao lado
deles, e eu do outro lado dela, passando meus dedos pelo seu
cabelo úmido, ancorando-a.
Ele se inclina, apoiando uma mão perto da cabeça dela, a outra
segurando seu peito, o polegar passando pelo mamilo. Mia inclina a
cabeça para trás, olhos semicerrados, um gemido baixo escapando
de sua garganta no momento em que ele entra.
Zane estabelece um ritmo lento primeiro, arrancando suaves
gemidos de Mia, sua boca descendo para beijar o pescoço dela, seu
ombro, seus lábios—qualquer lugar que ele possa alcançar.
Mia arqueia, pressionando seu peito mais perto. Ela envolve as
pernas ao redor da cintura dele, incentivando-o a ir mais fundo.
Zane geme, um som rouco e ofegante que vem do fundo do peito.
Ambos estão perdidos no momento, o ritmo dele acelerando até que
ele esteja ofegante, empurrando com força suficiente para balançar
a cama.
Não demora muito—adrenalina demais, desejo demais—e a voz
de Zane falha no nome dela. Seus quadris vacilam, Mia soltando um
suspiro quando ele goza, enterrando o rosto na curva do ombro
dela.
Ele sai, ofegante, pressionando um rápido beijo nos lábios dela.
Então ele se afasta, ainda recuperando o fôlego, e eu me aproximo.
Mia levanta a cabeça, encontrando meu olhar, seus lábios
entreabertos. Ela dá um leve sorriso—me convidando sem hesitação.
Deslizo minha mão sob suas costas, levantando-a ligeiramente,
posicionando-me em sua entrada. Meu pau pulsa, já úmido do
chuveiro e de observá-la com Zane.
Ela segura meu rosto, seus olhos percorrendo minha face. Inclino
minha cabeça para beijar sua palma, então me guio para dentro,
gemendo quando seu calor me envolve. Suas unhas arranham meus
braços, ombros se tensionando, e um gemido quebrado escapa de
sua garganta.
Mantenho o ritmo controlado no início, cada estocada arrancando
um grito baixo de seus lábios. Mas a visão dela—cabeça jogada para
trás, seios subindo enquanto ela respira—me leva a empurrar mais
forte, mais fundo. Ela envolve as pernas ao meu redor, calcanhares
cravando em minhas coxas, e eu perco o último vestígio de
contenção.
O quarto se enche com o som de pele contra pele, pontuado por
seus gemidos altos e ofegantes. Minha visão se concentra na curva
de seu pescoço, no arco de suas costas, na pressão de seu corpo ao
meu redor. Sinto o familiar nó de prazer se formando na base da
minha coluna, crescendo rapidamente. Alcanço para baixo,
segurando seu quadril para não perder o equilíbrio.
Com uma última estocada, me entrego, meu corpo se
tensionando enquanto o orgasmo me atravessa. Mia ofega, braços
travados em meus ombros, unhas marcando minhas costas.
Aproveito até que os tremores diminuam, então saio, pressionando
um beijo ofegante em sua têmpora.
Antes que ela possa recuperar o fôlego, Asher se aproxima,
deslizando uma mão sob seu joelho, a outra em sua cintura. Ele está
quieto, como sempre, mas seus olhos queimam de desejo. Mia
assente, afastando o cabelo úmido do rosto, um sorriso trêmulo
puxando seus lábios.
Asher se encaixa entre as coxas dela, pau alinhado com sua
entrada, e entra com um gemido baixo. A cabeça de Mia se inclina
para trás, olhos se fechando enquanto ela solta um suspiro.
Asher engancha as pernas dela ao redor de sua cintura,
inclinando-se para beijar ao longo de sua mandíbula, sua garganta,
cada pressão de lábios sincronizada com suas estocadas lentas e
controladas.
O corpo dela se agita a cada investida, suas mãos agarrando os
lençóis. Ele sussurra algo perto do ouvido dela—baixo demais para
eu ouvir—mas a expressão no rosto dela diz tudo. Ela está
lentamente atingindo o ápice de um orgasmo.
A cama treme com a força. Ela agarra os bíceps dele,
incentivando-o, sua voz entrecortada enquanto encontra as
estocadas dele no meio do caminho. Asher também não está muito
atrás. Seu maxilar fica tenso, um grunhido estrangulado escapando
dele quando finalmente goza, os quadris sacudindo em golpes curtos
e erráticos. Mia geme, pressionando os lábios contra o pescoço dele,
aproveitando as últimas ondas de prazer com ele.
Quando ele finalmente sai, estamos todos sem fôlego. O ar está
denso com o cheiro de sexo e a leve umidade que sobrou do banho.
Mia está esparramada no centro, com gotas de suor brilhando em
sua pele corada, o cabelo um emaranhado bagunçado.
Nós a ajudamos a sentar, guiando-a suavemente para fora dos
lençóis. Ela estremece, um tremor percorrendo os músculos
cansados. Zane desaparece por um momento, voltando com uma
toalha úmida. Nós a limpamos quase em silêncio, cada um de nós
pressionando beijos suaves e demorados onde encontramos um
hematoma ou marca.
Quando terminamos, Asher joga a toalha de lado, e eu ajudo Mia
a entrar debaixo dos cobertores, com Zane e Asher se acomodando
ao nosso redor. Ela se aninha perto, a exaustão pesando em suas
pálpebras. Meu braço desliza ao redor de sua cintura, puxando-a
para mim enquanto Zane se enrola do outro lado dela, e Asher se
move para acomodar as pernas dela em seu colo.
Nenhum de nós se preocupa com palavras. Respiramos juntos,
corações ainda acelerados, a adrenalina diminuindo. Apesar do caos
que nos trouxe até aqui, este momento parece calmo. Completo.
Eventualmente, os olhos de Mia se fecham, sua respiração se
tornando regular no primeiro descanso verdadeiro que ela teve em
dias. Olho por cima de sua forma adormecida para onde Asher e
Zane encontram meu olhar, um acordo silencioso passando entre
nós. Ela está segura. Ela é nossa.
Nós quatro afundamos nos lençóis, nossa respiração lentamente
voltando ao normal. Mia dorme tranquilamente, seu cabelo
espalhado pelo travesseiro como um halo escuro. Zane se acomoda
de um lado dela, Asher do outro. Eu também me deito ao lado dela,
meu braço sobre sua cintura, roçando contra o de Asher. Meu
coração ainda bate forte pelo que acabamos de compartilhar, pelo
êxtase de estarmos todos juntos.
A cama king-size — feita sob medida e larga o suficiente para um
time de futebol — cede sob nosso peso enquanto nos acomodamos.
E m algum momento nas primeiras horas da manhã, sinto Mia se mexer
em meus braços.
Sua respiração eventualmente se regulariza, e ouço o suspiro
silencioso de Zane do outro lado dela. A mão de Asher repousa na
coxa de Mia, seu polegar acariciando suavemente de um lado para o
outro.
Por um momento, penso que ela ainda está dormindo, mas
então, ela olha para cada um de nós — Zane, Asher, e depois para
mim. Há um lampejo de algo em seu olhar: alívio, felicidade e talvez
um traço de incredulidade que estejamos realmente aqui, juntos,
depois de tudo.
Ela limpa a garganta, sua voz um pouco rouca. — Eu... — Ela
hesita, as bochechas corando. — Eu amo vocês. Todos vocês.
Zane solta uma risada suave, a tensão em seus ombros
desaparecendo. Ele se inclina e pressiona um beijo na têmpora de
Mia. — Eu também te amo, Mia. E... — ele lança um olhar para mim
e para Asher — vocês dois idiotas também. De forma platônica, é
claro.
Reviro os olhos. — Eu entendo. — E então fico rapidamente
sério. — Estamos todos aqui por causa dela, por causa de quanto a
queremos e precisamos dela. Compartilhar parece apenas natural.
Os lábios de Asher se curvam no mais leve sorriso, e ele se
aproxima, descansando a cabeça ao lado da de Mia.
Deslizo meu braço mais firmemente ao redor de Mia. Minha mão
livre se estende para tocar o ombro de Zane e o pulso de Asher. —
Eu amo você — digo simplesmente. As palavras parecem ao mesmo
tempo novas e familiares em minha língua. — Sei que perdi muito
tempo com as meninas...
Mia coloca uma mão sobre meus lábios. — Não peça desculpas.
Eu deveria ter contado para você. Deixei o Jason controlar minha
vida por tanto tempo que esqueci que merecia ser feliz.
— Ele se foi — diz Asher. — E nunca mais será um problema.
— Nunca — promete Zane baixinho.
Mia fecha os olhos novamente, suas bochechas ainda com um
tom rosado. Ela expira lentamente, como se estivesse se livrando de
todos os medos que a sobrecarregaram.
Pela primeira vez em semanas — talvez meses — o silêncio cai
sem tensão. Há apenas o zumbido do abajur, o suave farfalhar dos
lençóis enquanto Mia se move para se enrolar em meu peito, e o
ritmo constante de quatro pessoas que não estão mais sozinhas.
A respiração de Mia se regulariza, a exaustão finalmente
vencendo. Zane e Asher compartilham um pequeno olhar de
compreensão sobre a cabeça dela. Encontro os olhos deles, e me
atinge novamente: isso é real, não importa o quão impossível possa
parecer para todos os outros.
Ajeito o cobertor sobre os ombros de Mia. Asher beija
suavemente seu cabelo úmido. Zane se acomoda, com o braço sobre
Mia e Asher. Fecho os olhos, contente de uma forma que nunca
esperava.
Resolveremos o resto amanhã.
30
MIA
J
á faz uma semana desde que tudo mudou. Uma semana
acordando na minha própria cama sem o pânico que costumava
me receber todas as manhãs. As contusões nos meus braços
desapareceram, as gêmeas não mais se assustam com cada som
inesperado, e pela primeira vez em anos, estou voltando ao hospital
para um turno normal. Sem mais ligações secretas ou saídas
antecipadas para me esconder de Jason.
Ele ainda está no hospital, mal se aguentando depois de tudo
que aconteceu. Não perco mais energia pensando nele. Me
concentro no que está aqui e agora. Damon, Asher e Zane são meu
futuro agora. Um futuro para o qual anseio acordar todos os dias.
Mas algo tem me incomodado. Estamos nos escondendo das
meninas, tentando protegê-las de... nem sei do quê. Sei no meu
coração que os três homens nunca machucariam as meninas. E
mesmo que elas sejam pequenas, merecem entender o que está
acontecendo. Se elas se sentirem desconfortáveis de qualquer
forma, não importa o quão difícil seja para mim, vou deixar tudo
para trás.
As gêmeas riem à mesa do café da manhã enquanto arrumo
tudo, me preparando para o trabalho. É normal, e isso me enche de
um calor que não sabia que poderia sentir novamente.
Visto meu uniforme, prendo meu cabelo em um rabo de cavalo
arrumado, depois olho para o relógio. — Meninas — chamo,
entrando na sala. Emma e Ella estão esparramadas no tapete,
colorindo desenhos de super-heróis de desenho animado.
Elas olham para cima em uníssono, de olhos arregalados. —
Vamos embora de novo? — pergunta Emma, com um traço de medo
em sua voz.
— Não, querida — digo, atravessando a sala para me ajoelhar ao
lado delas. — Estamos em casa de vez agora. Mas preciso contar
algo importante antes de ir trabalhar.
A pequena testa de Ella se franze. — É uma notícia ruim?
Sorrio suavemente, balançando a cabeça. — Não é ruim. Talvez...
inesperada. Mas boa, eu acho.
Ambas me observam atentamente, lápis de cor esquecidos. Meu
coração dispara. Respiro lentamente. — É sobre o Agente Secreto
Damon — digo.
Os olhos de Emma se arregalam, e Ella se senta mais ereta. Elas
adoram Damon quase tanto quanto eu.
Limpo a garganta, de repente nervosa. — Ele é, na verdade, o
pai de vocês.
Silêncio. Minha respiração prende. Preparo-me para confusão ou
lágrimas, mas as gêmeas apenas trocam um olhar como se
estivessem compartilhando um segredo.
Ella inclina a cabeça. — Ah.
— Ah? — Pisquei para elas. — É só isso que vocês têm a dizer?
Emma dá de ombros, balançando as pernas. — Eu meio que
achava.
Encaro-as. — Achava?
Ela acena com a cabeça. — Ele se parece com a gente.
Ella franze a testa. — E ele sempre age meio paizão.
Meus lábios se abrem em choque. Eu tinha passado tanto tempo
preocupada com como contar a elas, imaginando como reagiriam, e
elas já tinham juntado as peças por conta própria.
Emma se inclina em tom confidencial. — Mas você ainda gosta
do Agente Zane e do Agente Asher também, né?
Sinto o rosto queimar, e rio apesar de mim mesma. — Sim,
querida. Gosto.
Ella sorri. — Ok. Então vamos chamar o Agente Secreto Damon
de Pai agora?
— Vocês podem chamá-lo do que se sentirem melhor.
Emma pula animadamente. — Acho que quero chamá-lo de Pai!
Ella concorda. — Eu também.
Minha garganta aperta com a pura doçura disso. — Se vocês
quiserem — sussurro, afastando uma mecha de cabelo dos olhos
dela. — Acho que ele gostaria.
— Mas Zane e Asher não vão se incomodar, né? — diz Ella. —
Não quero que eles se sintam excluídos.
— Acho que podemos inventar outro nome para eles se sentirem
incluídos — digo.
Elas sorriem para mim, e percebo que, pela primeira vez, pude
dar boas notícias. Abraço as duas, segurando um pouco mais que o
normal, depois levanto, pegando minhas chaves e telefone.
— Tudo bem — digo, lutando contra lágrimas de gratidão. —
Tenho que correr para o trabalho. Comportem-se com o Tio Asher e
o Tio Zane, ok?
— Vamos, mamãe — dizem elas, voltando para a pintura. Mas há
um novo brilho em seus olhos, uma excitação agitada. Percebo que
eu não tinha nada com que me preocupar. As meninas amam todos
eles. Os três.
ASHER
O
cheiro de panquecas enche a cozinha enquanto viro mais uma
para o prato. As gêmeas discutem na mesa pelo distintivo
júnior de segurança.
— Emma estava com ele ontem — diz Ella, de braços cruzados.
— Mas eu fiz mais movimentos ninja com o tio Zane! — Emma
rebate.
Zane, recém-saído da patrulha noturna, toma seu café,
claramente sem paciência. — Vocês duas mereceram — ele
resmunga, largando o distintivo na mesa. — Resolvam isso.
Elas agarram o distintivo ao mesmo tempo antes de correrem
para fora, suas risadas ecoando atrás delas.
Me apoio no balcão, observando pela janela. Ainda me pega de
surpresa como isso tudo parece normal. Depois de tudo, acordar
aqui com elas assim não parece real.
Penso em Olive. Sobre semana passada, quando levei as
meninas para conhecê-la. Não foi planejado; eu só precisava de
espaço para pensar. Mas quando Emma e Ella começaram a
perguntar sobre minha família, algo me disse para simplesmente
fazer isso.
Olive olhou para elas e balançou a cabeça, sorrindo. — Você já
decidiu, não é?
E talvez eu tenha decidido mesmo.
Desde que deixei meu antigo apartamento, Olive está morando
em um dos meus apartamentos na cidade, e parece gostar de lá.
Nós nos mudamos para um lugar mais perto do trabalho da Mia. É
grande o suficiente para nós seis, e para quaisquer animais de
estimação que as meninas possam ter no futuro (algo que elas têm
insinuado querer). Mia entra, esfregando o sono dos olhos. Ela
rouba uma panqueca direto do prato e se apoia em mim como se
fosse a coisa mais natural do mundo.
— Se você continuar me alimentando assim, nunca vou me livrar
de você — ela murmura entre uma mordida.
— Você diz isso como se fosse uma opção. — Dou um beijo
rápido em sua têmpora e entrego um prato a ela.
Do outro lado da cozinha, Zane nos observa por cima de seu
café, balançando a cabeça. — Vocês dois são nojentos — ele
murmura.
Mia sorri maliciosamente. — Com ciúmes?
— Nem brinque com isso — Zane adverte.
Eu sorrio ironicamente.
Pela janela, vejo Damon no quintal com as meninas. Nada mais
de jogos de "Agente Secreto" – agora elas estão recebendo
treinamento de verdade. Exercícios. Trabalho de pés. Posições de
defesa. Seus pequenos corpos se movem em sincronia, seguindo as
instruções de Damon com expressões sérias.
Tomo um gole do meu café. — Estamos realmente criando
especialistas juniores em proteção, hein?
Mia, de pé no balcão, apenas assente. Ela não está realmente
prestando atenção, apenas mexe seu chá com um olhar distante.
Algo está estranho.
— Tudo bem? — pergunto.
Ela pisca e sai do transe. — Sim. Só... coisas do trabalho.
Antes que eu possa insistir, ela coloca sua caneca na pia e sobe
as escadas.
Olho para Zane, que está apoiado no balcão, mexendo no celular.
— O que foi isso?
Ele dá de ombros. — Provavelmente o novo emprego.
Certo. O emprego.
Mia mudou de hospital há algumas semanas – melhor salário,
melhores benefícios, mais segurança. Fazia sentido. Mas algo na
maneira como ela saiu agora não me parece certo.
Olho novamente para fora. As meninas riem enquanto Damon
corrige suas posturas, fazendo-as repetir. Alguns meses atrás, elas
estavam brincando de esconde-esconde. Agora, estão aprendendo a
dar um soco adequado. Estou tão orgulhoso delas.
— Escuta, tem algo que preciso falar com você — diz Zane,
mudando o peso do corpo como se estivesse desconfortável. O que
é estranho, porque Zane nunca fica desconfortável.
Ergo uma sobrancelha. — O quê? Não me diga que vai pedir em
casamento.
A piada cai por terra quando vejo sua expressão.
Ah, você só pode estar brincando.
Zane coça o queixo. — É... sobre isso.
Eu gemo. — Não. De jeito nenhum. Eu tinha planejado tudo.
Zane cruza os braços, sorrindo. — Bom, eu odeio como estamos
sincronizados.
— Isso é inacreditável. — Balanço a cabeça. — Como diabos nós
dois vamos propor ao mesmo tempo?
— Damon também — Zane diz casualmente.
Quase engasgo com meu café. — Ah, qual é.
Zane dá de ombros. — Mia merece.
Suspiro, esfregando a mão pelo rosto. Ele não está errado, mas
eu deveria ter esse grande momento, esse plano perfeito. Agora
tenho que compartilhá-lo?
Zane me dá um tapinha no ombro. — Veja pelo lado positivo. Ela
não pode dizer não para nós três.
— Isso não é muito reconfortante — digo, olhando feio para ele.
Balanço a cabeça, ainda tentando processar. — Isso é ridículo.
Zane sorri maliciosamente. — Vai desistir?
— De jeito nenhum — murmuro, já passando mentalmente por
uma lista de verificação. — Mas agora realmente temos que planejar
essa coisa.
Zane se apoia no balcão, braços cruzados. — Damon
provavelmente já tem uma estratégia tática completa.
Bufo. — Claro que tem.
A ideia de Damon sentado em algum lugar com uma expressão
séria, mapeando o pedido perfeito como se fosse uma operação
militar, quase me faz rir. Quase.
Zane tamborila os dedos no balcão. — Então? Vamos fazer isso
juntos?
Eu solto o ar. — Sim. Vamos.
Não é como eu imaginava pedir Mia em casamento, mas talvez
seja esse o ponto. Ela não é uma mulher convencional. Nossa vida
não é convencional. Então por que o pedido deveria ser?
— Ela vai pirar — digo.
Zane sorri. — Essa é a ideia.
O
sol paira baixo sobre o lago, transformando a água em ouro
derretido. A brisa carrega o aroma de pinheiros e flores
silvestres, sussurrando entre a pequena multidão reunida no
deck da nossa casa.
À minha frente, Ella e Emma riem enquanto caminham pela
passarela coberta de pétalas, suas pequenas mãos delicadamente
espalhando mais flores a cada passo. Elas levam o trabalho muito a
sério, andando com cuidado exagerado, tentando não deixar cair
muitas pétalas de uma só vez. A visão delas — com vestidos iguais e
sorrisos idênticos — faz meu peito apertar.
Atrás delas, aninhados nos braços dos pais de Zane, estão as
mais novas adições à nossa família. Nossos gêmeos, Leo e Noah,
ambos vestidos com suspensórios minúsculos que Zane jurou que
não o emocionariam. No entanto, flagro-o enxugando os olhos
enquanto os observa.
A visão dos meus filhos faz minha respiração falhar, e pressiono
uma mão contra meu estômago, ainda me acostumando com o fato
de que não os carrego mais dentro de mim. Ella e Emma os amam,
cuidam deles, leem para eles, fazem gracinhas para eles. Finalmente
tenho a família grande que sempre sonhei.
Devíamos ter nos casado antes da chegada dos gêmeos, mas a
vida tinha outros planos. Tivemos que adiar a data do nosso
primeiro casamento porque entrei em trabalho de parto apenas
alguns dias antes do grande dia. Mas estou feliz que não deu certo.
E agora, um ano depois, isso é tudo que eu poderia ter sonhado.
Do meu lugar logo depois das árvores, respiro fundo, com as
mãos trêmulas enquanto Olive aperta meus dedos. Nos últimos
meses, nos aproximamos bastante. Ela foi uma grande ajuda
durante minha gravidez.
— Você está bem? — ela pergunta, sorrindo.
Olho para o final da passarela onde três homens — meus
homens — estão esperando por mim.
— Mais do que bem — digo enquanto ergo o olhar para meus
futuros maridos, cada um deles injustamente bonito demais em seus
ternos escuros, ombros largos e maxilares fortes. Mas são seus olhos
que me desarmam.
A música muda, e Olive me empurra suavemente para frente
com uma piscadela. — Vai lá pegar eles, querida.
Piso na passarela, meus dedos apertando firmemente o buquê.
A cerimônia é simples, perfeita — exatamente como queríamos.
O celebrante fala, mas mal ouço as palavras, perdida demais no
momento, na maneira como Damon, Zane e Asher me observam
como se eu fosse a única coisa que importa no mundo.
Ella e Emma estão paradas ao lado, radiantes de emoção, seus
vestidos inflados com camadas de tule. De vez em quando, Emma
lança um olhar significativo do tipo viu, eu disse que isso
aconteceria para Ella, que apenas balança a cabeça como se sua
irmã fosse a pessoa mais ridícula do planeta.
Entre os convidados, vejo Sheila, minha antiga colega de
trabalho, enxugando os olhos com um lenço. Ela percebe meu olhar
e sorri, fazendo um sinal de positivo.
Até a Sra. Meyers, minha antiga enfermeira-chefe, está aqui,
parada rigidamente nos fundos, mas com um raro sorriso suave em
seu rosto geralmente austero. Eu não tinha certeza se ela viria, mas
quando me viu mais cedo, apenas balançou a cabeça e murmurou:
"Claro que foram necessários três homens para mantê-la fora de
problemas." Acho que essa foi a maneira dela de me parabenizar.
Damon é o primeiro com os votos.
— Passei anos procurando algo pelo que lutar. E então encontrei
você, e depois te perdi. Quando te encontrei novamente, soube que
nunca mais te deixaria ir. Prometo proteger você, estar ao seu lado,
não importa o que aconteça. Amar você, Mia, sempre.
Zane limpa a garganta. — Não sou bom com palavras bonitas,
mas você sabe como me sinto. Você curou partes de mim que eu
nem sabia que podiam ser curadas. Eu estava ferido muito tempo
depois de voltar para casa, e nunca soube que poderia juntar esses
pedaços novamente. As coisas que vi... — Ele fica com um olhar
assombrado antes de se recompor. — Você me faz querer ser uma
pessoa melhor todos os dias. Você é minha, Mia. E eu sou seu. É
isso. Não importa o que venha pela frente. — Ele aperta meus
dedos, com o maxilar tenso, olhos intensos. — Eu te amo.
Me viro para Asher.
— Você virou meu mundo de cabeça para baixo — ele diz. — Eu
não sabia o quanto de amor eu era capaz de dar até conhecer você
e as meninas. Nunca pensei que teria um relacionamento normal ou
qualquer coisa normal, na verdade, mas então as meninas me
pegaram no primeiro treinamento super secreto delas. — Há uma
onda de risadas dos convidados com isso. — E eu não gostaria que
fosse diferente. Eu te amo, Mia. E não vou a lugar nenhum.
Lágrimas embaçam minha visão, e solto uma risada trêmula. —
Bem, acho que é minha vez. — Respiro fundo. — Nunca pensei que
teria um futuro assim — começo, com a voz um pouco trêmula, mas
continuo. — Passei tanto tempo sobrevivendo, mantendo a cabeça
baixa, garantindo que minhas meninas estivessem seguras. Amor
não era algo que eu achava que teria novamente. E certamente não
assim.
Olho para Ella e Emma, que me observam com olhos arregalados
e esperançosos, suas mãos unidas. — Mas então vocês três
aconteceram. Damon, você era meu passado antes mesmo que eu
soubesse. Você me deu algo lindo sem perceber, e agora você pode
compartilhar isso comigo, com nossas filhas, como pai delas.
O aperto de Damon na minha mão se intensifica, e seu pomo de
adão se move enquanto ele engole em seco.
Me viro para Zane em seguida. — Zane, você entrou na minha
vida como uma força da natureza, me protegendo antes mesmo que
eu entendesse o porquê. Você estava lutando por mim antes mesmo
de nos conhecermos.
— Era meu plano para fazer você me tratar e se apaixonar —
brinca Zane.
Mais risadas dos convidados, e nem eu consigo evitar um sorriso.
— Você me viu não apenas como alguém para defender, mas como
alguém que valia a pena ter ao lado. Você me fez sentir forte
novamente.
Então olho para Asher, o homem que me manteve sorrindo
mesmo quando as coisas estavam desmoronando. — E você — digo
suavemente. — Você me pegou de surpresa. Você me fez rir quando
achei que não conseguiria mais. Você me fez sentir desejada, você
me fez ser vista. Você fez de mim e das minhas filhas seu lar assim
que nos conheceu. Você estava pronto para ir embora para evitar
complicações, fazer o sacrifício final pelo que achava que eu
merecia, mas estou tão feliz que não tenha feito isso.
Asher esfrega a nuca.
Solto um suspiro trêmulo, tentando impedir que a emoção me
domine. — Eu amo vocês. Todos vocês. Vocês me devolveram minha
vida, não por me salvarem, mas por me permitirem salvar a mim
mesma. Vocês abriram espaço para mim, para minhas filhas, para
algo que nunca pensei que mereceria. E agora, não consigo imaginar
uma vida sem vocês nela.
MARCY
E
u deveria saber que meu pai não ia se lembrar do meu vigésimo
terceiro aniversário.
Mas de alguma forma, como uma completa idiota, eu ainda
mantinha a esperança de que talvez – só talvez – ele o
reconhecesse. Que talvez este ano, eu não seria apenas um peão
político, uma extensão de sua vida perfeitamente administrada. Em
vez disso, recebi um olhar frio e irritado quando lembrei que dia era.
— Seu aniversário? E daí? — Ele suspirou, já encerrado a
conversa. — Marcy, você acha que tenho tempo para essas
bobagens agora? A última coisa de que preciso é você tendo algum
ataque infantil porque esqueci de comprar um bolo.
Aquilo doeu, mas mordi a língua. Eu deveria ter ido embora. Mas
então ele realmente cravou a faca.
— Sinceramente, você deveria me agradecer por não lembrar a
todos. Você quer que os repórteres falem do seu peso em vez da
minha campanha? Jesus, Marcy. A câmera já acrescenta dez quilos.
Quantos mais você está tentando dar a ela? — Ele bufou. — E talvez
se você passasse menos tempo emburrada e mais tempo na
academia, não seria tão sensível sobre isso.
Nem lembro de ter saído furiosa depois disso. Tudo é um borrão
de raiva ardente, portas batendo e a pressão esmagadora no meu
peito enquanto eu tentava não desabar na frente dele.
Agora, estou agarrando o volante com tanta força que minhas
mãos estão dormentes, minha visão embaçada pelas lágrimas que
jurei que não derramaria.
A chuva cai com mais força, uma batida implacável contra o
para-brisa, combinando com o ritmo errático da minha pulsação.
Minha respiração falha enquanto arrasto a manga do meu suéter
pelas bochechas molhadas, apertando o volante ainda mais. As
palavras do meu pai ainda me cortam, cruéis e inabaláveis, mas
engulo os soluços que sobem pela minha garganta.
Não vejo o cervo até que seja tarde demais. Um flash marrom na
minha visão periférica.
Meu coração dispara quando o instinto assume. Giro
bruscamente o volante para a direita, meus pneus gritando contra o
asfalto escorregadio.
O mundo inclina. O carro rodopia violentamente, girando fora de
controle, e meu corpo é lançado contra o cinto de segurança
enquanto meu ombro bate na porta. O volante é arrancado das
minhas mãos, e tudo que posso fazer é me preparar.
Os faróis piscam, iluminando a árvore enorme que vem em
minha direção.
— Ah, merda!
Puxo o volante novamente, desesperada para evitar o impacto
inevitável. Os pneus derrapam para fora da estrada, batendo no
acostamento lamacento com um solavanco que estremece os ossos.
O carro pula e sacode, e por um segundo aterrorizante, penso que
vou capotar—
Então, com um estrondo ensurdecedor, as luzes do painel piscam
e se apagam.
O motor falha uma vez. Duas vezes.
E então, silêncio.
Fico sentada, ofegante, mãos tremendo, dedos travados ao redor
do volante inútil. Os únicos sons são a chuva martelando o teto e
minha própria respiração irregular.
O cheiro de borracha queimada e algo acre preenche o interior
do carro.
Tento ligar o carro. Nada.
Tento de novo.
Morto.
Deixo minha cabeça cair para trás contra o banco, fechando os
olhos.
Feliz. Maldito. Aniversário.
Minha campanha é mais importante que seu aniversário.
Pare de ser egoísta. Todos concordamos que minha conquista do
cargo deve ter prioridade.
As palavras se repetem na minha cabeça como um disco
quebrado, cada sílaba cavando mais fundo, gravando-se no meu
crânio. Meu pai nunca me tratou como prioridade. Por que diabos
pensei que este ano seria diferente?
Deixo minha cabeça cair para trás contra o banco, exalando um
suspiro trêmulo enquanto novas lágrimas queimam suas trilhas pelas
minhas bochechas. Lá fora, a chuva golpeia o carro, abafando tudo,
exceto o som da minha própria miséria.
Em um salão de festas elegante do outro lado da cidade, meus
pais estão bajulando seu caminho através de mais uma função
beneficente, desempenhando o papel do casal perfeito e poderoso.
Minha mãe havia me mandado uma mensagem mais cedo,
lembrando-me de "me comportar" e "corresponder às expectativas
do seu pai".
Expectativas. Certo. Porque nada diz "família feliz" como ser
emocionalmente atropelada até a submissão. Ela nem mesmo
perguntou se eu estava bem depois da forma como saí
tempestuosamente do apartamento, ou sequer onde eu estava
agora.
Minha mãe adora manter as aparências. Ela não poderia se
importar menos comigo.
Fecho os olhos, tentando afastar a dor no peito. Só um minuto.
Só um minuto de paz.
Não tenho ideia de quanto tempo fico sentada ali, presa na
minha própria festa de autopiedade, antes de sentir – essa estranha
sensação de formigamento descendo pela minha espinha.
Como se eu estivesse sendo observada.
Meus olhos se abrem de repente.
E – santa mãe de Deus – alguém está me olhando pela janela.
Eu grito tão alto que quase soco meu próprio rosto. Meu corpo
inteiro se contorce e, no meu pânico desordenado, bato o joelho no
painel. A dor sobe pela minha perna enquanto procuro
freneticamente pelo meu telefone – exceto que meu telefone está
morto, porque claro que está.
Viro-me de volta para a janela, preparando-me para soltar o grito
mais alto e arrepiante da minha vida—
E então eu realmente olho para ele.
O homem encharcado de chuva parado lá fora é enorme. Tipo,
ridiculamente enorme. Ombros largos, uma estrutura grossa e
musculosa, e braços que parecem capazes de levantar um
caminhão. Sua jaqueta escura adere ao corpo, completamente
ensopada pela tempestade, e mesmo através da água escorrendo
pelo vidro, consigo distinguir os fios prateados em sua barba e
cabelo.
Ele pisca para mim, nada impressionado.
Eu pisca de volta, horrorizada.
Ele bate uma vez na janela, casual como o inferno, como se não
tivesse acabado de me dar um ataque cardíaco completo. — Tudo
bem aí, princesa? Ou preciso chamar uma ambulância para essa
reação dramática?
Fico boquiaberta. Ele acabou de... ele acabou de ser sarcástico
comigo?!
Ah, não mesmo.
Saio do meu silêncio atordoado, olhando feio para a montanha
de homem parado do lado de fora da minha janela. Quando ele não
dá nenhuma indicação de que vai se mover, relutantemente abaixo o
vidro.
— Reação dramática? — gaguejo, ainda segurando meu pobre
joelho machucado. — Acabei de acordar com um completo estranho
me encarando pela janela do carro como um assassino em série, e
você acha que eu estou sendo dramática?
Ele sorri com desdém. O desgraçado realmente sorri com
desdém.
— Não quis te assustar. Mas, para ser justo, você está
estacionada no meio do nada, num carro morto, durante uma
tempestade. Não é exatamente uma situação de segurança cinco
estrelas. — Ele inclina a cabeça, a chuva pingando dos fios
prateados do seu cabelo. — E, para constar, não sou um assassino
em série. Sou Ryder.
— Claro. Porque todo assassino em série totalmente admitiria
isso — digo monotonamente.
Ryder resmunga, então gesticula em direção ao meu carro. —
Então, qual é o problema? Você está apenas curtindo a vibe de
apocalipse, ou seu carro realmente morreu?
Eu gemo e deixo minha testa cair no volante. — Ele morreu.
Porque é claro que isso aconteceria.
— Bateria?
— O motor explodiu. O painel teve um pequeno show de luzes
antes de tudo ficar escuro.
Ryder solta um assobio baixo. — Caramba.
— Ei, eu salvei a vida de um cervo hoje — digo. — Praticamente
sacrifiquei meu carro.
— É mesmo? — diz Ryder. Há algo nele que faz meu estômago
se contorcer, e não apenas porque ele é atraente. Ele é realmente
tão atraente assim, ou eu estou com uma concussão?
Eu o encaro. — Por que você é assim?
— Sou um encanto, princesa. — Ele se inclina mais perto da
janela, cruzando os braços na borda da minha porta. — Vai ficar
aqui emburrada a noite toda, ou quer uma carona para algum lugar
quente e seco?
Eu hesito. A Marcy racional – aquela que ouve podcasts de crime
e assiste documentários de assassinatos demais – está gritando para
eu não entrar num veículo com um estranho.
Mas a alternativa é ficar sentada aqui num carro morto, no meio
de uma tempestade, até congelar até a morte ou ser comida por um
urso. E agora, ambas parecem opções viáveis.
Observo o homem com cautela. O que ele quer? Ninguém
simplesmente para para ajudar pessoas sem motivo, e não vou ser a
garota burra do filme de terror que pula para o carro de um
estranho sem fazer perguntas.
— Como sei que você não vai me matar? — solto, cruzando os
braços sobre o peito.
Ryder solta uma risada curta, balançando a cabeça. — Se eu
quisesse te matar, já teria feito isso. Você estava praticamente
desmaiada agora há pouco.
Ryder observa meu debate interno, seu sorriso debochado se
transformando em algo mais sério. — Olha, tem um bar não muito
longe daqui. Você pode esperar lá enquanto chamo um guincho para
seu carro. Ou pode ficar aqui e continuar emburrada. — Ele dá de
ombros. — A escolha é sua.
Olho para fora. A tempestade não diminuiu. Se é que é possível,
a chuva está caindo ainda mais forte, transformando a estrada num
rio reluzente.
Meu carro não vai a lugar nenhum. Nem eu.
Eu poderia ficar aqui a noite toda, mergulhada na minha própria
miséria, ou poderia arriscar e ir com esse cara.
Hesito por mais um momento, mas então a realidade se impõe.
Eu realmente quero continuar sentada aqui, tendo um colapso como
uma protagonista trágica de comédia romântica? De jeito nenhum.
Não sou nenhuma chorona indefesa. E, sinceramente? Eu realmente
poderia tomar uma bebida.
— Tudo bem — murmuro, desafivelando meu cinto de segurança.
Ryder não se gaba. Apenas acena com a cabeça uma vez e abre
um guarda-chuva preto enorme enquanto contorna para o lado do
motorista. — Vamos, então.
Respiro fundo e saio. A chuva imediatamente açoita minha pele,
mas Ryder inclina o guarda-chuva sobre nós dois. De perto, ele é
ainda maior – peito largo, braços musculosos, uma presença que de
alguma forma me faz sentir pequena e protegida ao mesmo tempo.
Na luz fraca da rua, finalmente consigo observá-lo bem. Os fios
prateados na barba, as linhas do seu rosto, a forma como sua
jaqueta de couro adere aos ombros largos. Ele tem um ar rústico,
intimidante de um jeito que deveria me fazer repensar toda essa
situação.
Mas então, ele sorri.
É caloroso. Inesperado. O tipo de sorriso que me faz sentir, só
por um segundo, que talvez a noite não seja um desastre total.
Talvez, apenas talvez, as coisas estejam prestes a mudar.
2
RYDER
O
bar está barulhento, enfumaçado e cheio de pessoas que não
aceitam desaforo de ninguém.
Letreiros luminosos de cerveja piscam contra as paredes de
tijolos antigos, lançando um brilho nebuloso sobre a multidão. O
cheiro de couro, suor e uísque paira no ar, misturando-se com o
zumbido baixo de conversas e risadas ocasionais. O rock ressoa nas
caixas de som, uma música clássica do AC/DC que mal dá para ouvir
por cima da conversa.
O emblema do 12 Devils MC está pintado na parede ao fundo
atrás do bar, o design preto e vermelho se destacando na iluminação
fraca. Este lugar é nosso quartel-general.
O comprido balcão de madeira está alinhado com os
frequentadores habituais, homens de coletes cortados bebericando
cervejas enquanto compartilham histórias da estrada. Nos fundos,
alguns caras jogam dardos, e mesas de sinuca estão rodeadas de
espectadores apostando dinheiro.
Aceno com a cabeça para alguns dos meus irmãos enquanto me
dirijo a uma mesa, guiando a garota encharcada comigo. As pessoas
olham, notando nossa presença. Alguns a examinam de cima a
baixo, outros me olham com curiosidade. Mas ninguém diz uma
palavra sequer.
Mal me sentei quando o primeiro cara se aproxima.
— Rockweiler — Denny chama, sorrindo. Ele bate no meu ombro,
seus olhos passando rapidamente para a loira sentada à minha
frente. — Não sabia que você traria companhia hoje à noite.
— Ela quebrou na tempestade — digo secamente. — Achei que
poderia ser legal pela primeira vez.
Denny bufa. — É mesmo? Desde quando?
Mostro o dedo do meio, e ele ri, dando um tapa na parte de trás
da minha cabeça antes de se afastar.
Outro cara aparece, depois mais um. Pequenos reconhecimentos,
apertos de ombro e cumprimentos são lançados na minha direção.
Alguns dos prospectos mais jovens olham com interesse para a
mulher à minha frente, mas um olhar meu os faz seguir em outra
direção.
Ela permanece quieta durante tudo isso, mal tocando em sua
bebida.
Quando ela está na terceira dose, sei que está sentindo o efeito.
Sua postura está mais relaxada, suas pálpebras um pouco mais
pesadas, mas ainda há tensão na maneira como ela se porta, como
se estivesse carregando algo pesado demais para largar.
Me recosto no estofado gasto de couro, observando-a. Ela é
jovem. Muito mais jovem que eu. Meados dos vinte anos, talvez?
Curvas suaves e cheias que ela claramente não percebe o quão
fatais são. Cabelo loiro, um pouco bagunçado pela chuva. Olhos
grandes e redondos que percorrem o ambiente, mas nunca se fixam
em mim por muito tempo. Ela está usando um suéter que adere ao
seu peito e um jeans que abraça suas coxas grossas perfeitamente.
Sim. Ela é linda.
E jovem demais pra mim.
Mas isso não me impede de notar o quanto ela fica bem sentada
na minha frente no meu bar, bebendo meu uísque.
— Você vai me dizer seu nome, ou vou ter que continuar te
chamando de "princesa" a noite toda? — pergunto, tomando um
gole da minha própria bebida.
Ela ergue uma sobrancelha, finalmente encontrando meu olhar.
— Eu pareço uma princesa pra você?
Sorrio de lado. — Não sei. Depende do tipo de princesa que
estamos falando.
Ela solta o ar, balançando a cabeça, mas vejo o menor indício de
diversão em sua expressão.
— Marcy — ela finalmente diz, girando o último pouco do líquido
âmbar em seu copo.
Marcy. Repito o nome na minha cabeça. Combina com ela.
— Parece que todo mundo aqui te conhece — ela comenta.
— É, bem, sou meio que importante — digo com um sorriso,
abrindo os braços.
Ela resmunga, e é a primeira reação real, sem reservas que
recebi dela a noite toda.
É um bom som.
— Convencido — ela murmura.
— Confiante — corrijo, terminando minha bebida.
Ela coloca o copo na mesa, expirando. Posso ver em seus olhos
— o momento em que o álcool começa a afrouxar o peso que ela
carregou a noite toda.
— E você, Marcy? O que faz você beber como se fosse um
trabalho?
Seu maxilar se aperta por um segundo antes de ela forçar um
sorriso. — Sabe, apenas o cenário padrão de aniversário infernal.
Levanto uma sobrancelha. — É seu aniversário?
— Sim. — Ela estende a mão para sua bebida, então se lembra
que está vazia e suspira. — E tem sido uma droga absoluta.
Algo na maneira como ela diz isso — a forma como sua voz
treme levemente — mexe com algo profundo no meu peito.
Não a conheço. Não conheço sua história.
Mas sei reconhecer quando alguém foi derrubado vezes demais.
Chamo uma garçonete e entrego meu copo vazio. — Outra
rodada para a aniversariante.
Marcy pisca. — Você não precisa —
— É seu aniversário — interrompo. — Vamos fazer dele um bom.
Sorrio maliciosamente enquanto coloco a bebida fresca na frente
dela.
— Não me diga que vai trazer um bolo pra mim — ela diz,
revirando os olhos.
Eu rio baixo, tomando um gole lento do meu uísque. — Acho que
tenho algo melhor em mente.
Marcy me lança um olhar cético, mas antes que ela possa
protestar, deslizo para fora do banco e estendo a mão. — Vamos,
aniversariante. Vamos dançar.
Suas sobrancelhas se erguem. — Você dança?
— Só quando estou a fim. — Aceno em direção ao espaço aberto
perto do bar onde algumas pessoas estão se balançando, algumas
esfregando os corpos, outras apenas curtindo a música. — Vamos.
Você parece que precisa de uma distração.
Ela hesita, olhando para minha mão estendida como se pudesse
mordê-la. Mas então, com um suspiro como se estivesse sendo
incomodada — como se isso fosse um grande inconveniente — ela
coloca sua mão na minha.
Mal consigo suprimir o sorriso que puxa meus lábios enquanto a
conduzo até o gasto piso de madeira.
Um ritmo de rock profundo e pulsante vibra através dos alto-
falantes, ressoando em meu peito enquanto me viro para encará-la.
No início, é desajeitado – ela se move inquieta, mantém os braços
rígidos, claramente não acostumada a se soltar. Não forço. Apenas
me movimento com a música, mantendo tudo tranquilo.
— Relaxa, princesa — murmuro, colocando as mãos em seus
quadris. — Só me acompanha.
Ela expira, rola os ombros e se permite mover.
E é então que eu a sinto de verdade.
Curvas suaves e quentes pressionadas contra mim, quadris
balançando perfeitamente enquanto ela pega o ritmo. Deixo minhas
mãos deslizarem pela curva de sua cintura, puxando-a para mais
perto. O cheiro de chuva ainda persiste em sua pele, misturado com
algo sutilmente doce. Baunilha, talvez?
Marcy inclina a cabeça para mim, olhos escuros e ininteligíveis.
Mas agora ela está se inclinando, seu corpo se acomodando no meu,
confiando que eu a guie.
Droga.
Já tive mulheres em meus braços antes – muitas delas – mas
isso... isso é algo diferente.
Deixo meus dedos deslizarem por suas costas, sentindo seu calor
através do suéter. Ela não se afasta. Se é que for possível, ela se
aproxima ainda mais, seu peito roçando contra o meu, sua
respiração quente contra minha garganta.
— Você é bom nisso — ela murmura.
— Em quê?
— Em me distrair.
Dou um sorriso malicioso, inclinando levemente a cabeça. —
Achei que você ia gostar mais disso do que de bolo.
Ela solta uma risada suave, mas eu vejo – o jeito como seus
dedos apertam levemente meus ombros, como sua respiração falha
um pouco quando deslizo minha mão mais para baixo, pousando
logo acima da curva da sua bunda.
Eu não deveria estar tocando-a assim.
Ela é jovem demais. Suave demais. Muito fora dos limites.
Mas agora, neste momento, não estou nem aí.
E pelo jeito que ela está me olhando, ela também não.
Seu corpo se encaixa no meu bem demais. O jeito como ela se
move, como confia em mim para guiá-la – está mexendo com minha
cabeça mais do que deveria.
Não sou o tipo de cara que se deixa levar por momentos como
este. Eu não faço suavidade. Não faço doçura. Mas algo em Marcy é
diferente.
Ela não é a típica garota de bar procurando uma noite rápida
com um motoqueiro. Não está batendo os cílios e se jogando em
cima de mim, tentando provar um pouco da vida do clube.
Ela apenas... está aqui. E é autêntica.
E porra se eu não quiser mais.
Aperto meu agarro em sua cintura, inclinando-me levemente,
perto o suficiente para sentir sua respiração falhar. Mais um
segundo. Só mais um maldito segundo disso—
Um estrondo quebra o momento. Gritos irrompem perto das
mesas de sinuca, seguidos pelo inconfundível som de uma cadeira
arrastando com força contra o chão.
Meu maxilar se contrai. Maldição.
Me afasto, mãos ainda permanecendo na cintura de Marcy,
relutante em soltá-la.
Ela pisca para mim, lábios levemente entreabertos. Ela também
sente isso. Aquela tensão crepitando entre nós como fios elétricos.
— O que houve? — ela pergunta.
Ranjo os dentes, olhando por cima do ombro. — O dever chama.
No extremo do bar, dois caras estão se encarando – um deles um
cliente regular, o outro algum imbecil de fora da cidade que
claramente não sabe onde diabos está. Alguns aspirantes já estão se
movimentando para separar a briga, mas é meu trabalho lidar com
merdas como essa antes que se transforme em uma confusão
completa.
Suspiro, forçando-me a recuar. Os braços de Marcy caem dos
meus ombros, e o ar frio entre nós é instantâneo. Já odeio isso.
— Fique aqui — murmuro, balançando a cabeça em direção ao
bar. — Já volto.
Ela me dá uma continência debochada. — Vai ser um herói,
grandão.
Balanço a cabeça, sorrindo apesar de mim mesmo.
Caminho pelo bar. Os gritos ficam mais altos enquanto me
aproximo, meu corpo já mudando para o modo trabalho.
Tony está com os punhos cerrados, o peito arfando como se
estivesse a dois segundos de dar o primeiro soco. O outro cara, um
magricela atrevido com mais ego do que bom senso, está sorrindo
como se quisesse levar uma surra.
— Tudo bem, parem com essa merda! — grito.
Nenhum deles escuta. Claro que não.
Tony aponta o dedo para o forasteiro. — Esse babaca acha que
pode entrar aqui e falar merda como se fosse dono do lugar!
— Eu sou dono da maldita mesa, seu idiota — o cara zomba,
suas palavras ligeiramente arrastadas. — Paguei pela minha vez, não
paguei?
Tony avança, mas eu me coloco entre eles, empurrando-o com
meu antebraço contra seu peito e forçando-o a recuar um passo. Ele
é um cara grande, mas eu sou maior. Mais forte. Ele sabe que é
melhor não me enfrentar.
— Recua, Tony — aviso, minha voz baixa e firme. — Você
conhece as regras: sem brigas no clube.
Tony range os dentes, mas abaixa os punhos, o peito ainda
subindo e descendo em rajadas bruscas. Ele sabe que é melhor não
me testar.
Viro-me para o outro cara, que tem a audácia de sorrir como se
tivesse acabado de ganhar algo.
Péssima jogada.
— Você. — Dou um passo em sua direção, perto o suficiente para
ver como seu pomo de Adão sobe e desce quando ele percebe o
quão grande eu realmente sou. — Quem diabos é você?
Ele ergue o queixo, tentando bancar o durão. — Não é da sua
maldita conta—
Não o deixo terminar. Agarro a frente de sua jaqueta e o puxo
para frente até que nossos narizes quase se toquem. O sorriso some
instantaneamente.
— Escute com muita atenção — rosno. — Isso é da minha conta.
Tudo neste bar é da minha conta. Você entra aqui, bebe nossa
bebida, joga em nossas mesas, segue nossas regras. E regra
número um? — Bato-o contra a borda da mesa de sinuca, não forte
o suficiente para machucar, mas forte o suficiente para lembrá-lo de
quem está no comando. — Você não começa confusão no meu
clube.
Suas mãos se erguem em rendição. — Tudo bem, tudo bem,
cara, se acalma—
— Terminou?
Ele acena rapidamente, toda a falsa bravata desaparecida.
— Ótimo. — Solto-o, me endireitando. — Termine sua bebida e
dê o fora. E não volte a menos que aprenda a se comportar direito.
Ele não precisa ouvir duas vezes. Cambaleia de volta para o bar,
murmurando baixinho, mas não me importo. Ele não será mais um
problema.
Viro-me de volta para Tony. — Tudo bem?
Tony exala pesadamente, passando a mão pelo rosto. — Sim,
cara. Desculpe. Ele só me tirou do sério.
— É, bem, da próxima vez não deixe que algum babaca te afete.
Você sabe que é melhor que isso.
Tony acena, parecendo envergonhado. — Bebidas por minha
conta mais tarde?
Sorrio com ironia. — É claro que são.
Quando me afasto, a multidão se dispersa, voltando às suas
conversas, às suas bebidas. Apenas mais uma noite no clube.
Limpo as mãos enquanto volto em direção ao bar. Apenas mais
uma noite no 12 Devils. Apenas mais um babaca que precisava ser
lembrado de onde estava.
Eu deveria estar me sentindo satisfeito, mas no segundo em que
vejo Marcy, meu humor dá uma guinada brusca.
Ela está rindo.
Com Hawk.
Diminuo meus passos, observando enquanto ela joga a cabeça
para trás, seus olhos se franzindo com algo que o desgraçado
acabou de dizer. Hawk se inclina, exibindo aquele sorriso fácil e
arrogante, olhos verdes brilhando com malícia.
E puta que pariu, eu não gosto nem um pouco do jeito que ele
está olhando para ela. Meu maxilar se contrai.
Hawk é meu irmão. Meu vice-presidente. Já passamos por coisas
suficientes juntos para que eu leve um tiro por ele sem piscar.
Mas agora, tudo o que quero fazer é interromper seja lá o que
for aquilo antes que eu comece a realmente pensar no que significa.
Então é o que faço.
Caminho a passos largos, colocando uma mão pesada no encosto
da cadeira de Marcy, e me inclino o suficiente para deixar minha
presença bem conhecida.
O sorriso de Hawk se aprofunda quando ele percebe minha
expressão. — Ora, ora — ele arrasta as palavras, bebericando seu
uísque. — Olha quem voltou de fazer papel de juiz.
Marcy olha para mim, diversão ainda dançando em seus olhos. —
Boas notícias – não fui assassinada enquanto você estava fora.
É
Hawk ri. — É, eu só estava fazendo companhia para a sua
garota.
Lanço um olhar para ele.
Ele levanta as mãos. — Relaxa, Rockweiler. Não é minha culpa se
ela tem uma risada boa. Nem toda mulher por aqui te acha tão
charmoso.
Marcy inclina a cabeça. — Rockweiler?
Hawk sorri. — O Ryder aqui tem uma mordida pior que a de um
Rottweiler irritado.
Bufo, balançando a cabeça. — E mesmo assim, por algum
motivo, não ouço ninguém te chamando de "Bullseye" depois
daquela vez que você quase atirou no seu próprio pé.
Marcy se anima com isso, virando-se para Hawk. — Você o quê?
Hawk solta o ar dramaticamente, girando sua bebida. — Primeiro
de tudo, eu não quase atirei no meu pé. Segundo, o Ryder aqui está
convenientemente omitindo a parte em que eu estava derrubando
um cara duas vezes o tamanho dele enquanto também desviava de
tiros. — Ele ergue uma sobrancelha para mim. — Ou você está bravo
porque eu salvei sua bunda naquele dia?
Reviro os olhos, mas Marcy já está com um sorriso malicioso.
— Então o que estou ouvindo é que... você quase atirou em si
mesmo — ela provoca, erguendo seu copo.
Hawk aponta para ela. — Eu gosto de você.
Resmungo. — Não encoraje ele.
Hawk se inclina para trás, ainda me observando com aquele
olhar conhecedor que me dá vontade de socá-lo. Ele está gostando
disso. Gostando do fato de que estou aqui, eriçado como um
bastardo territorial enquanto ele está fazendo Marcy rir.
E pior, ela está adorando.
Eu deveria deixar pra lá. É só o Hawk sendo Hawk.
Mas quando Marcy se mexe, cruzando as pernas, sinto o roçar de
sua coxa contra a minha debaixo da mesa. É breve. Provavelmente
não intencional.
Mas acende algo no meu sangue que eu realmente não preciso
agora.
Hawk percebe. Claro que sim.
Seu sorriso se torna absolutamente maligno. — Então, Marcy... —
Ele prolonga o nome dela como se estivesse testando. — Você já
andou na garupa de uma moto antes?
Marcy ergue uma sobrancelha. — O quê, tipo uma motocicleta?
Hawk inclina a cabeça. — Não, docinho. Uma bicicleta.
Ela bufa, e meus dedos se flexionam contra a cadeira.
Me inclino, voz baixa. — Cuidado, princesa. Diga sim, e ele vai
tentar te colocar na moto dele antes que você possa piscar.
Hawk ri. — Não é minha culpa se as mulheres gostam de um
homem com experiência.
Balanço a cabeça, minha paciência se esgotando a cada
segundo. — Hawk, você não tem algo para fazer? Tipo, sei lá,
qualquer outro lugar para estar?
Ele sorri, claramente se divertindo como nunca. — Na verdade,
tenho. — Ele vira o resto da bebida, então se levanta, se
espreguiçando como se estivesse descansando em uma maldita
cadeira de praia o tempo todo. — Negócios do clube. Vou deixar
vocês pombinhos a sós.
Eu o encaro. — Você é um pé no saco, sabia?
Hawk pisca, batendo no meu ombro ao passar. — Você me ama.
Solto o ar com força, finalmente me voltando para Marcy. Ela
está me observando, cabeça inclinada, lábios ainda curvados nas
extremidades.
Arqueio uma sobrancelha. — O quê?
Ela dá de ombros, tomando um gole lento de sua bebida. —
Nada. Você só é divertido quando está irritado.
Uma batida forte na mesa me faz virar. Um dos caras mais jovens
— não pode ter mais de vinte, mal tem idade suficiente para beber
aqui — se remexendo como se estivesse tentando muito parecer que
pertence ao lugar. Ele é novato, ainda sem patches em seu colete,
ainda se provando.
— CJ quer você — o garoto diz, olhando entre mim e Marcy
como se não tivesse certeza se deveria estar interrompendo.
Suspiro, passando a mão pelo cabelo. — Sim, tudo bem.
CJ não chama pessoas à toa. Se ele está chamando, significa que
tem merda precisando ser resolvida.
Me levanto do assento, mas antes de sair, faço algo que nunca
faço. Abaixo-me, chegando perto o suficiente para roçar meus lábios
contra a curva quente do pescoço de Marcy. Um beijo quase
inexistente, leve e rápido, mas ainda assim arranca uma respiração
abrupta dela.
— Fica para depois — murmuro contra sua pele.
Quando me afasto, seus olhos estão arregalados, lábios
levemente entreabertos.
Sorrio com malícia, tirando meu telefone do bolso e estendendo-
o para ela. — Número.
Ela não hesita.
Ela pega meu telefone, dedos se movendo pela tela enquanto
digita suas informações. Quando me devolve, vejo que ela adicionou
seu nome com um pequeno emoji sorrindo maliciosamente ao lado.
Antes que eu possa guardar o telefone, ela inclina a cabeça. —
Espera. — Ela segura meu pulso, guiando meu telefone de volta
para ela. Então se inclina, perto o suficiente para que eu sinta um
cheiro de baunilha e uísque.
Ela me dá um beijo rápido na bochecha.
— Agora você tem uma foto para o contato — diz ela, olhos
dançando com diversão.
Eu rio, balançando a cabeça enquanto recuo. — Você é
problema, princesa.
Ela sorri. — Acho que você vai descobrir.
Não sei que diabos acabei de começar com ela.
Mas maldição se eu já não quiser mais.
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